Diagnóstico - Terceira Via
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Diagnóstico - Terceira Via
Diagnóstico Agroecologia e Sistemas Agroflorestais Projeto: Formação de multiplicadores para produtos da sociobiodiversidade na preservação de recursos hídricos. Município de Joanópolis - SP Diagnóstico local e de trabalhos realizados e em andamento no município e região, experiências e modelos referenciais, áreas potenciais, oportunidades e ameaças. 0 Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................................................................................... 2 1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 8 2. PERFIL DO MUNICÍPIO DE JOANÓPOLIS ................................................................................................. 10 2.1 2.2 2.3 3. HISTÓRICO .............................................................................................................................................. 10 CARACTERIZAÇÃO DE JOANÓPOLIS ............................................................................................................... 12 TRABALHOS OCORRIDOS E EM ANDAMENTO EM JOANÓPOLIS ............................................................................ 29 DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL .......................................................................................................... 31 3.1 PERFIL AMBIENTAL ................................................................................................................................... 31 3.1.1 Poluição das águas ......................................................................................................................... 35 3.2 PERFIL SOCIAL.......................................................................................................................................... 40 3.2.1. Educação e Saúde .............................................................................................................................. 45 3.3 PERFIL CULTURAL ..................................................................................................................................... 54 3.4 PERFIL ECONÔMICO.................................................................................................................................. 61 3.4.1 Agropecuária .................................................................................................................................. 66 3.4.2 Dados de produção ......................................................................................................................... 73 3.4.3 Turismo ........................................................................................................................................... 78 3.4.4 Sociobiodiversidade e seus produtos .............................................................................................. 89 4. SISTEMATIZAÇÃO DE EXPERIÊNCIAS ...................................................................................................... 95 4.1 SISTEMATIZAÇÃO DE EXPERIÊNCIAS - JOANÓPOLIS ........................................................................................... 95 4.2 SISTEMATIZAÇÃO DE EXPERIÊNCIAS - SÃO PAULO E MINAS GERAIS .................................................................... 95 4.2.1 Associação Yamaguishi ....................................................................................................................... 95 4.2.2 Agricultura Familiar –Transição para Agroecologia – Cunha – SP .................................................... 114 4.2.3 Fazenda Santo Antônio da Água Limpa– Mococa – SP ....................................................................... 97 4.2.4 SÍTIO OLHO D’ÁGUA – MOGI DAS CRUZES – SP. ................................................................................. 99 .......................................................................................................................................................................... 99 4.3 MODELOS REFERENCIAIS .......................................................................................................................... 114 5. ÁREAS POTENCIAIS PARA A IMPLANTAÇÃO DO PROJETO.................................................................... 132 6. OPORTUNIDADES E AMEAÇAS ............................................................................................................. 132 6.1 ANÁLISE DOS RESULTADOS ....................................................................................................................... 132 6.1.1 Pontos fortes / oportunidades ...................................................................................................... 132 7. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..................................................................................................................... 132 1 “FORMAÇÃO DE MULTIPLICADORES PARA SOCIOBIODIVERSIDADE NA PRESERVAÇÃO DE RECURSOS HÍDRICOS NO MUNICÍPIO DE JOANÓPOLIS” APRESENTAÇÃO Dentre as práticas de uso do solo utilizadas no meio rural, raramente se encontra nas diferentes atividades agropecuárias e florestais exploradas pelos agricultores, técnicas adequadas de uso e manejo. As intervenções nas áreas de APP, geralmente negativas, desmatamentos, queimadas, explorações agrícolas, pecuária, uso intensivo de maquinários e insumos químicos utilizados na agricultura convencional, resultam em processos de erosão e diminuição, ou mesmo a extinção, das matas nativas, principalmente em faixas ciliares desprotegendo as margens dos rios. Um bom exemplo são as monoculturas de eucalipto entre outras atividades exploradas inadequadamente. Áreas antes restauradas são substituídas por explorações econômicas de baixo rendimento, sem fiscalização e sem controle, áreas essas que poderiam ser preservadas por meio de alternativas econômicas mais adequadas, como a implantação de sistemas agroflorestais. Experiências demostram a viabilidade econômica da exploração de produtos da sociobiodiversidade, como exemplos temos: a juçara (polpa, palmito, sementes e mudas), mel silvestre, fibras naturais e cipós nativos (imbé, bananeira, taboa, etc), plantas medicinais, condimentares e aromáticas nativas, erva mate oriunda de SAF ou manejo de floresta nativa, guanandi (madeira e óleo) e outras oleaginosas, plantas ornamentais, entre outros. Esse tipo de exploração resulta na preservação dos recursos naturais e hídricos, vale ressaltar ainda que o Brasil é considerado um dos principais centros de diversidade genética de espécies frutíferas pouco estudadas. O potencial de exploração comercial de algumas dessas espécies frutíferas nativas tem sido identificado nos últimos anos à medida que são desvendados atributos de qualidade de seus frutos sob o ponto de vista de apreciação e propriedades nutracêuticas (WESTON, 2010). 2 Em nosso País há diferentes climas e nos diferentes biomas podem ocorrer espécies nativas, mais adaptadas aos climas temperado, tropical ou subtropical, o que viabiliza seu cultivo em diversas regiões. Para citar alguns exemplos, nos biomas Floresta Amazônica, Caatinga, Cerrados e parte da Mata Atlântica, espécies tropicais são mais comuns, enquanto nos biomas Pantanal, boa parte da Mata Atlântica e Campos, espécies de frutas subtropicais ocorrem, algumas até passíveis de cultivo em regiões de clima mais frio. Essa gama de possibilidades torna viável seu cultivo em todo o País, dependendo da escolha de espécies mais adaptadas. No Sul/Sudeste, muitas espécies de mirtáceas, dos gêneros Eugenia, Campomanesia, Psidium e Myrciaria, poderiam ser melhor aproveitadas (Luiz Carlos Donadio, UNESP, Jaboticabal, SP). Da família das Mirtáceas provêm algumas das mais brasileiras e saborosas entre todas as frutas: Jabuticaba Cambuci Pitanga Goiaba 3 Jambo Grumixama Araçá Cambucá Gabirobas, Cambuís, Guabijus, Uvaias, entre tantas outras. A variedade de biomas reflete a enorme riqueza da flora e da fauna brasileira e uma rica sociobiodiversidade, representada por mais de 200 povos indígenas e por diversos povos e comunidades tradicionais que reúnem um inestimável acervo de conhecimentos sobre a conservação e uso da biodiversidade. No que se refere as plantas medicinais a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 80% da população mundial depende da medicina tradicional para suas necessidades básicas de saúde, e que quase 85% da medicina tradicional envolve o uso de plantas medicinais, seus extratos vegetais e seus princípios ativos (União Internacional para a Conservação da Natureza - IUCN, 1993). 4 Apesar do extenso conhecimento que possa existir sobre o uso das plantas medicinais do Brasil, pouco se sabe sobre quais são as espécies medicinais nativas que são objeto de uso e comércio significativos, tanto em nível local como internacional e sobre o impacto que a atividade comercial está causando sobre estes recursos naturais e, finalmente, sobre a população humana (Informa Economics FNP - consultoria em Agronegócio no Brasil). Iniciativas como esta da Associação Terceira Via aqui apresentada poderá contribuir com a exploração controlada e manejo de plantas medicinais em Joanópolis - SP através de um programa educacional dirigido a expandir o conhecimento dos recursos das plantas que podem ser exploradas exitosamente, com perspectivas ecológicas e econômicas pela comunidade local. Todos os interessados no tema cultivo e comércio de plantas medicinais que buscam cooperação e fortalecimento de relações para trabalhar conjuntamente não devem desaproveitar essa iniciativa para fomentar uma maior integração e reunir esforços em um tema de interesse comum e de vital importância. Atualmente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária vem trabalhando na análise dos processos para o registro de medicamentos fitoterápicos, realizando as exigências cabíveis conforme a legislação vigente e se observa um maior empenho das indústrias para obterem a concessão do registro visando o comércio de seus produtos. A discussão sobre o tema vem crescendo não somente pelo aspecto científico já comprovado em muitos estudos, da eficácia terapêutica de medicamentos fitoterápicos, mas também pelo potencial econômico proveniente e como alternativa de geração de trabalho e renda de forma sustentável. Sitiantes que ocupam a áreas rurais de Joanópolis convivem com a grande diversidade do ambiente de parte da floresta e desenvolvem, cada qual à sua maneira, formas de explorá-las para sua sobrevivência. De seu repertório cultural, destaca-se o conhecimento sobre o uso de plantas para fins medicinais. As práticas relacionadas ao uso popular de plantas medicinais são o que muitas comunidades têm como alternativa para o tratamento de doenças ou manutenção da saúde fazendo uso de grupo diversificado de plantas, presentes ao redor de suas casas. 5 O investimento em Agroecologia resultaria na preservação dos recursos naturais e hídricos sendo possível de serem exploradas na região da Sub-Bacia do Cantareira ações como: coleta de sementes para produção de mudas regionais e comercialização; extrativismo orientado para a produção de ervas e produtos naturais; a prestação de serviços relacionados ao turismo com visitações e trilhas ecológicas entre outras alternativas que possibilitem ganhos econômicos pela preservação dos recursos naturais; e incentivos de políticas públicas, como o Pagamento por Serviços Ambientais e projetos de mitigação de gases de efeito estufa. Mesmo as experiências por serviços ambientais enquanto estratégia de conservação dos recursos naturais somente se asseguraria em longo prazo se o valor remunerado ao proprietário for compensatório em relação às outras atividades econômicas que possam ser exploradas nestas áreas. Do contrário, não estariam sendo computados nos custos de remuneração os custos de oportunidades destas áreas quando exploradas economicamente, evidenciando riscos a manutenção da floresta, de modo que o pagamento ao produtor poderia ser mais bem aplicado como auxílio para transição para formas de exploração sustentável. Portanto, pretende-se com este projeto difundir alternativas para o uso sustentável da floresta através de sistemas agroecológicos objetivando a introdução de atividades econômicas baseadas no atendimento ao mercado proveniente da sociobiodiversidade, por meio da formação de multiplicadores do conhecimento e da elaboração do Plano de Manejo. Com essas ações valorizam-se os recursos ambientais como um bem econômico e que deve ser preservado para sustentar a qualidade de vida da população incluindo os ganhos econômicos e interferindo profundamente na cultura regional, inovando padrões de consciência ambiental e o resgate do valor cultural para uma sociedade mais sustentável. O município de Joanópolis está localizado no centro da região das “Cabeceiras do PCJ” que produz água para o Sistema Cantareira de abastecimento público e para grande parte das regiões metropolitanas de São Paulo e Campinas. Está identificada como área de elevada prioridade no Plano Diretor de Florestas dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí – PCJ por possuir geografia montanhosa, entre 1.000 a 1.600 metros de altitude, remanescentes de florestas Semideciduais da Mata Atlântica e um importante complexo hídrico, que tem sofrido muitos impactos ambientais negativos. 6 No entanto, todo potencial ambiental considerado de importância estratégica no fornecimento de água para os polos econômicos do país, como as Regiões Metropolitanas de Campinas e São Paulo, nos últimos anos, tem perdido sua qualidade gradativamente. Isto ocorre devido às elevadas cargas difusas provenientes principalmente do meio rural, que chegam a ser três vezes maior que as emissões provenientes do sistema público de coleta e tratamento do esgoto, que atendem apenas o meio urbano. Os poluentes emitidos pelo meio rural são oriundos de sistemas individuais de esgotamento doméstico, loteamentos irregulares, práticas agropecuárias intensivas em agroquímicos, monoculturas de eucalipto e a criação de animais em áreas de APP. E ainda há a problemática do Sistema Cantareira, no final de março (2014), o Cantareira estava com apenas 13.4% da sua capacidade – o menor nível já registrado na história para a época de chuvas. Em 2003, o sistema chegou a operar com menos água, com pouco mais de 3% da capacidade, mas era novembro, antes das tempestades de janeiro. Quando os temporais chegaram, o sistema se recuperou. O que deixa a situação absolutamente preocupante, hoje, é que as represas estão secas justamente na época em que deveriam estar cheias. E isso que acende o alerta amarelo. Dia após dia, o sistema Cantareira bate recordes negativos de armazenamento e torna-se extremamente importante a preservação de corpos d’água e nascentes da região. Por isso, este projeto procurará entender e promover atividades que contribuam para mudança deste cenário de degradação ambiental, considerando a dificuldade para o trabalhador rural em encontrar outra atividade que possa lhe gerar sustento, ainda que mais competitiva e socialmente justa, permita a introdução de uma economia ecológica fazendo elevar a consciência ambiental da sociedade como um todo, a partir da ótica comercial. Portanto, o projeto busca trabalhar a introdução de sistemas agroecológicos no município de Joanópolis resultando na garantia da qualidade dos recursos hídricos e sua manutenção, uma vez que os sistemas agroecológicos adotam conceitos de interação entre o homem e a natureza, contribuindo para a geração de serviços ambientais/ecossistêmicos. O cultivo de plantas medicinais é uma alternativa de sustentabilidade agroecológica viável neste sentido, pois tem mercado comprador e a qualidade deste produto está diretamente ligada à produção orgânica, além de possibilidades de usos sustentáveis dos recursos naturais como forma de complementar a renda familiar. 7 Entre outras oportunidades identificadas, as plantas medicinais se apresentam como uma cultura norteadora para o projeto e que deverá ser implantada conjuntamente com demais atividades agropecuárias existentes. O presente estudo procura compreender, portanto, as variáveis que interferem no ambiente socioeconômico e cultural do município, pela avaliação das relações estabelecidas durante os levantamentos, trabalhos de campo, identificação do cenário ambiental e produtivo predominante e ainda com a viabilidade técnica e econômica a serem mostradas e discutidas pela comunidade, parceiros, pessoas chave e demais interessados no desenvolvimento sustentável no município de Joanópolis e região. 1. INTRODUÇÃO A construção do Sistema Cantareira de abastecimento público para as RMSP – Região Metropolitana de São Paulo e RMC - Região Metropolitana de Campinas e duplicação das Rodovias Fernão Dias e D. Pedro I proporcionaram diversos impactos socioambientais no município de Joanópolis, como o êxodo rural, aumento da especulação imobiliária, a ampliação das atividades turísticas e a ocupação desordenada da agricultura e do turismo em áreas de preservação ambiental. Estes problemas refletem sobre as questões ambientais e se aprofundam para questões mais delicadas, decorrentes da perda de identidade e valores das comunidades rurais tradicionais. Joanópolis está totalmente inserida nas APAs Cantareira e Juqueri Mirim, por ter grande importância no que diz respeito á abundância de recursos hídricos e conservação da biodiversidade. A soma dos fragmentos de vegetação nativa do município chega a 7.901 hectares, com fundamental importância para a manutenção e garantia da produção e qualidade de água para o Sistema Cantareira. Além disso, o território do município está inserido no corredor Cantareira – Mantiqueira (Cod. Ma224) de importância para a garantia de preservação das espécies da Mata Atlântica. O meio rural de Joanópolis é constituído predominantemente por agricultores familiares e comunidades tradicionais, que mantém suas características culturais ligadas à biodiversidade local, servindo-se dos bens e serviços gerados para as finalidades alimentícias, econômicas, religiosas, de saúde, entre outras necessidades básicas. 8 Esta relação de identidade entre a sociedade humana e a biodiversidade vem sendo conhecida pelo termo “sociobiodiversidade”, e a valorização e preservação destes laços culturais é reconhecido por diversas políticas públicas, como estratégicas para as melhorias sociais, econômicas e ambientais, com destaque para a conservação da vegetação nativa e de suas espécies. As plantas medicinais e aromáticas tem importante papel como produtos da sociobiodiversidade, considerando as oportunidades de negócios aliados á sabedoria popular e a vocação da região. O Município tem grande potencial para a produção de plantas medicinais. Nos fragmentos de vegetação nativa remanescente, e até em áreas de regeneração natural em estágios iniciais, podem ser encontradas uma grande diversidade de espécies medicinais nativas, como o Alecrim-bravo (Hypericum brasiliense Choisy), Verbasco (Buddleja stachyoides), Oficial-de-sala (Asclepias curassavica L.), Cipó-suma (Anchietia salutaris), Erva-de-bicho (Polygonum persicaria), Rubim (Leonurus sibiricus L.), Lantana (Lantana camara L.), Pariparoba (Piper umbellatum), Tintureira (Phytolacca americana), entre outras, utilizadas pela população no atendimento da saúde primária. O município possui clima, temperatura e demais características naturais que favorecem a produção de princípios ativos. A proximidade com os grandes centros compradores de São Paulo e Campinas também são encarados como oportunidades para o escoamento dessa produção. Por se tratar de uma atividade de baixo impacto ambiental e alto valor social, a legislação entende o extrativismo e o agroextrativismo sustentável dos produtos da sociobiodiversidade como estratégia para a recuperação das Áreas de Preservação Permanente - APPs. De certo, mediante a autorização dos órgãos competentes (IBAMA – Federal CBRN e Agências Ambientais da CETESB – Estado de São Paulo), conforme os critérios definidos na resolução CONAMA n° 369, de 28 de março de 2006. Entende-se por extrativismo sustentável a atividade de coleta de materiais vegetais, minerais e animais, respeitando um plano de manejo adequado que garanta a conservação das espécies nativas. O Agroextrativismo se apresenta como complemento da atividade extrativista, em que são priorizadas as espécies de valor econômico. 9 Considerando que as Áreas de Preservação Permanente representam grandes parcelas dos estabelecimentos rurais familiares de Joanópolis, a exploração dos produtos da sociobiodiversidade vem ao encontro do aproveitamento integrado e sustentável das propriedades rurais, incentivando a produção diversificada sazonal, a agroecologia, o turismo ecológico e a conservação das áreas ripárias. Estudos realizados para a região de Joanópolis apontam esta forma de ocupação como forma de promover a conservação dos recursos naturais às questões produtivas da propriedade, além de contribuir para o aumento da biodiversidade e incrementar a renda familiar, tornando-se mais apropriado que a restauração convencional, que não permite a utilização direta destes espaços. Dessa forma, o projeto “Formação de multiplicadores para sociobiodiversidade na preservação de recursos hídricos no município de Joanópolis” tem por objetivo trazer melhorias na produção e qualidade de água para o Município e ao Sistema Cantareira de abastecimento público, a partir do resgate da sabedoria popular e o melhor aproveitamento sustentável dos recursos naturais, do solo, da água e da biodiversidade. Além destas vantagens, as oportunidades de negócios, localização estratégica e aptidão regional para a produção sustentável são fatores que trazem garantia para a melhoria no rendimento familiar dos estabelecimentos rurais de Joanópolis. 2. PERFIL DO MUNICÍPIO DE JOANÓPOLIS 2.1 Histórico Joanópolis está situada na Serra da Mantiqueira (Mantiqueira em tupi-guarani significa “Lugar onde nascem as águas”, batizada assim pelos indígenas pelo fato de possuir grande quantidade de nascentes). A cidade é considerada manancial de águas, possuindo importantes nascentes e a represa1 do sistema Cantareira com espelho d'água de aproximadamente 50 Km², além disso, mantem uma das maiores reservas de mata nativa do Estado, possui clima ameno com temperatura média anual em torno dos 16ºC. A Represa Jaguari-Jacareí, juntamente com as represas de Piracaia e Atibainha, faz parte do Sistema Cantareira que abastece a zona norte da Capital de São Paulo e algumas cidades próximas. 1 10 Cercada pelas montanhas da Serra do Lopo2 – incluindo o chamado Gigante Adormecido, montanha que fica a 1.725 m de altitude e oferece um dos mais belos visuais da região. Figuras 9 e 10 – Gigante Adormecido. Fonte: Décio Badari. Alterna-se entre vales e morros por onde correm seus riachos formando exuberantes cachoeiras, entre elas a Cachoeira dos Pretos com mais de 150 metros de queda. A história deste município tem origem nas antigas rotas de bandeirantes e de desbravadores que se dirigiam as Minas Gerais, existindo menção desta região já em 1749. No entanto, a fundação oficial aconteceria em 1878 quando no pequeno bairro intitulado Curralinho, situado no município de Santo Antonio da Cachoeira realizou-se uma Festa para São João Batista (24 de junho) e nesta festa resolveram edificar uma capela ao santo do dia e elegeram o mesmo como padroeiro da nova cidade que pretendiam construir. Assim recebeu o nome de São João do Curralinho (São João por seu padroeiro e Curralinho por situar-se em uma colina rodeada de montanhas como se fosse um curral de montanhas). Antigo povoado de São João do Curralinho, Joanópolis foi fundada no ano de 1878, em território pertencente ao então município de Santo Antônio da Cachoeira, atual Piracaia. O município deve sua fundação a um grupo de habitantes que costumeiramente se reunia junto ao cruzeiro, localizado onde hoje se encontra a igreja matriz, para festejar, em 24 de junho, o transcurso do dia de São João Batista (FUNDAÇÃO SEADE, 2011). O denominativo Serra do Lopo, vem de Lupus (Lobo em latim) e se refere a grande quantidade de lobos que habitavam a região. 2 11 Figura 9 - Igreja Matriz. Em 1878, durante as comemorações, ficou resolvido pelos moradores que nomeariam pessoas responsáveis pelas comemorações dos anos vindouros, e para melhor sediar estas comemorações resolveram erguer uma capela ao referido santo, adotando-o como padroeiro (UNICIDADES, 2011). Com a construção da Capela começaram a serem construídas, ao seu redor, casas que deram origem ao pequeno Povoado. Este povoado foi elevado à categoria de Distrito de Paz em 1891 e, em 17 de Agosto de 1895, foi elevado a categoria de Município, instalado em 20 de Agosto de 1896. O pequeno Povoado, agora Município, teve seu nome mudado de São João do Curralinho para Joanópolis (“cidade de João”) em 18 de Dezembro de 1917. E no dia 23 de janeiro de 2001, o Município de Joanópolis foi elevado à categoria de Estância Turística, através da Lei Estadual nº 10.759 (UNICIDADES, 2011). 2.2 Caracterização de Joanópolis Joanópolis situa-se na porção Sudeste do Estado de São Paulo, pertence à região administrativa de Campinas e sub-região administrativa de Bragança Paulista, fazendo divisa com o Estado de Minas Gerais através dos Municípios de Extrema, Camanducaia e Monte 12 Verde, e com os Municípios Paulistas de São José dos Campos (distrito de S. Francisco Xavier), Piracaia e Vargem. Figura 2 – Malha hídrica de Joanópolis Figura 3. Localização de Joanópolis (sub-região administrativa). A área do município ocupa 37.740 há e sua sede situa-se entre as coordenadas geográficas: 22º55’45” de Latitude Sul e 46º16’24” de Longitude Oeste, em altitude de 930m do nível do mar (PIVA ET. AL, 2008). Inserida nos contrafortes da Serra da Mantiqueira, predomina o bioma da Mata Atlântica, constituída pela Floresta Ombrófila Densa e Floresta Ombrófila Mista (Mata de Araucária). A cidade está localizada na região das “Cabeceiras dos rios PCJ”, na Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos UGRHI-05, concentrando grande parte das nascentes que produzem água ao Sistema Cantareira de abastecimento público das regiões metropolitanas de São Paulo e Campinas. O referido sistema está entre os maiores sistemas de abastecimento do mundo, produzindo metade da água consumida pelos 19 milhões de habitantes, produzindo 33 mil litros de água por segundo. As águas desse sistema são provenientes, em sua maioria, da bacia do Rio Piracicaba (31 mil litros por segundo) e transpostas para a região da bacia do Alto Tietê, onde se localiza a grande São Paulo (WHATELY & CUNHA, 2007). 13 A construção do Sistema Cantareira de abastecimento gerou diversos conflitos socioambientais que refletem, até os dias atuais, nas diferentes percepções e interesses, com relação ao uso dos recursos naturais e distintas formas de apropriação da paisagem (Rodrigues, 1999). Conforme mencionado por HOEFFEL & VIANA (1996) e WHATELY & CUNHA (2007), a construção dos reservatórios ocorreu durante o período do governo militar, não havendo qualquer envolvimento ou sensibilização da população local, gerando diversas transformações socioambientais para a região. As áreas inundadas foram as várzeas e as baixadas, consideradas como terras mais férteis da região. Apesar de indenizados, aqueles que eram donos de terras migraram para os centros urbanos, principalmente de Atibaia, Bragança Paulista e Guarulhos. Figura 4 Sistema Cantareira. Com a duplicação das Rodovias D. Pedro I e Fernão Dias, na década de 90, o acesso para esta região foi facilitado contribuindo para a expansão dos centros urbanos e dando um novo impulso econômico para a região que, consequentemente, tornou a área de interesse para a expansão das atividades industriais, turísticas e de especulação imobiliárias (HOEFFEL ET AL., 2008). Devido à proximidade com os centros metropolitanos, a 112 km da capital paulista, e da abundância de recursos naturais, Joanópolis sofreu acelerado crescimento, trazendo sérios problemas sobre a questão da ocupação desordenada, 14 principalmente em áreas de APP. Isso porque o município não possui Lei que regulamente o crescimento municipal e nem define orientações para preservação ambiental, senão aquelas previstas por Lei Estadual e Federal, as quais ainda são infringidas. O aumento da pressão imobiliária tem favorecido o parcelamento das terras na região para a implantação de silviculturas de eucalipto, produção agropecuária e construção de casas de campo e de segunda moradia. As áreas próximas aos reservatórios sofreram forte pressão imobiliária, usufruindo do potencial turístico e propaganda de melhoria da qualidade de vida como incentivo à construção de condomínios, pousadas, áreas de lazer e estradas para o acesso, entre outras formas de ocupações que colocam em risco a disponibilidade e qualidade da água. Dessa forma, pode ser observado um grande contrassenso, já que essa ocupação deve estar centrada na conservação dos recursos hídricos, áreas de nascentes e de preservação dos remanescentes significativos de Mata Atlântica. Quanto aos impactos ambientais, os autores DA SILVA & DUARTE (2010) lembram que os problemas são exportados para a população urbana através do abastecimento público de água, influência nas enchentes urbanas e prejuízos relacionados ao turismo. Para os proprietários rurais, esses impactos provocam a baixa produtividade agrícola, aumento da pobreza rural, deterioração da qualidade de vida e impactos no custo da terra, transferindo os custos para toda a sociedade através do aumento e oscilação no preço dos alimentos, aumento na taxa de fornecimento de água potável, desastres naturais, êxodo rural e aumento dos impostos. As preocupações com a qualidade dos recursos hídricos da região levaram os governos do Estado de São Paulo e Minas Gerais a designarem Áreas de Proteção Ambiental na região. Apesar desta medida ter propósitos altamente justificáveis do ponto de vista da conservação, para as comunidades locais determinou restrições econômicas significativas em relação ao uso da terra e de determinadas práticas agrícolas, que se tornaram desafios a serem resolvidos. Alternativas de renda sustentáveis têm sido analisadas, mas apenas algumas iniciativas independentes têm sido implementadas por Figura 5 – Reservatório Jacareí. indivíduos, Instituições Públicas ou Organizações Não Fonte: Projeto “De Olho nos Mananciais” (2012). Disponível Governamentais - ONGs locais (HOEFFEL et al, 2008). em: http://www.espaco.org.br 15 Importantes estudos, em todo o mundo, apontam como as maiores ameaças à água a expansão urbana, industrial e agrícola, as intervenções nos cursos d’água (canalizações, transposição de bacias, barragens e desvios), a perda de áreas úmidas e o desmatamento, além do aumento do consumo de água e da poluição hídrica. Trazendo esses fatores para as regiões analisadas, é inevitável reconhecer que não apenas eles se aplicam completamente, como são considerados sinônimo de desenvolvimento. Esses elementos ameaçadores da água, como a expansão industrial, agrícola e urbana superam os níveis de crescimento populacional e suas demandas essenciais e de pendem de expressivos investimentos públicos e Figura 6 – Sistema Cantareira. privados. Os interesses nos seus resultados vão além das Fonte: Projeto “De Olho nos Mananciais” (2014). Disponível ambições políticas de determinados grupos e se originam em: http://www.espaco.org.br/ nos maiores beneficiários das grandes obras, da especulação imobiliária, financeira e da produção de veículos, entre outros protagonistas da formação desse espaço, cada vez mais amplo, vulnerável e degradado. As Áreas de Proteção Ambiental do Sistema Cantareira (APA Cantareira), localizada no Estado de São Paulo e instituída pela Lei Estadual nº 10.111/1998, abrange a totalidade dos municípios de Mairiporã, Atibaia, Nazaré Paulista, Piracaia, Joanópolis, Vargem e Bragança Paulista (WHATELY; CUNHA, 2007). A APA Piracicaba/Juqueri-Mirim – Área II criada pelo Decreto Estadual n° 26.882 de março de 1987, com o objetivo de proteger os remanescentes florestais e fauna silvestre existentes na região, sobrepõe 1.388,5 km² das áreas contidas na APA Cantareira, abrangendo os municípios Mineiros de Camanducaia, Extrema, Gonçalves, Itapeva, Sapucaí-Mirim e Toledo, e parte dos municípios de Brazópolis e Paraisópolis e municípios paulistas de Campinas, Nazaré Paulista, Piracaia, Amparo, Bragança Paulista, Holambra, Jaguariúna, Joanópolis, Monte Alegre do Sul, Morungaba, Pedra Bela, Pedreira, Pinhalzinho, Serra Negra, Socorro, Santo Antônio da Posse, Tuiuti e Vargem Paulista. (PORTARIA FUNDAÇÃO FLORESTAL 020/2011). 16 Figura 6 - Mapa de localização da APA do Sistema Cantareira Fonte: www.ambiente.sp.gov.br, 2009. Os estudos realizados pela Associação Terceira Via e Instituto Socioambiental – ISA, através do Projeto Cantareira em rede (2011) que se referem às classes do uso e ocupação do território da Sub bacia Cantareira, compreendido nas áreas de sobreposição entre as APAs Cantareira, Juquerí Mirim, Fernão Dias e Bairro da Usina, em um comparativo entre os anos de 1989 e 2010, revelam que as áreas de espelho d’água (reservatórios) estão majoritariamente em Piracaia, Nazaré, Vargem, Joanópolis e Bragança Paulista e, cerca de 60% dos usos antrópicos neste território estão entre Atibaia, Bragança Paulista, Camanducaia, Joanópolis e Piracaia. A paisagem da região é marcada por grandes áreas de campo antrópico, que vão sendo ocupadas por outros usos com o passar do tempo. Figura 7 – Região Sub-bacia Cantareira Fonte: Associação Terceira Via. 17 A Sub-bacia Cantareira possui cerca de 3.697,0 km² e Joanópolis representa 10,2% de sua área total e compreende cerca de 10,8% de seus usos antrópicos, apenas 2,1 % dos usos urbanos, 9,5% da vegetação nativa e 15,1% da água superficial que compõe a Sub bacia Cantareira, de acordo com a tabela de distribuição das classes de uso pelos municípios da Sub bacia Cantareira. Tabela 1 - DISTRIBUIÇÃO DAS CLASSES DE USO PELOS MUNICÍPIOS DA SUBBACIA CANTAREIRA (%) Município Usos Usos Vegetação Água Antrópicos Urbanos Natural Atibaia 12,2 26,4 12,7 3,0 Bom Jesus dos Perdões 2,2 3,0 5,6 0,2 Bragança Paulista 15,0 24,9 7,6 12,1 Caieiras 0,2 1,4 1,2 0,1 Camanducaia 15,3 4,3 11,5 0,2 Extrema 7,4 3,7 5,3 0,1 Franco da Rocha 0,1 00 0,5 1,2 Itapeva 5,8 2,0 2,9 0,1 Joanópolis 10,8 2,1 9,5 15,1 Mairiporã 5,7 18,9 15,6 4,6 Nazaré Paulista 7,9 6,0 11,0 22,6 Piracaia 11,2 5,1 8,0 25,2 Sapucaí-Mirim 2,1 0,2 5,8 00 Vargem 4,0 2,0 2,9 15,3 Total 100% 100% 100% 100% De acordo com as autoras WHATELY & CUNHA (2007), Joanópolis possui sua área de 37.740 há totalmente inserida na área do Sistema Cantareira, tendo entre os municípios paulistas, a maior participação relativa em sua área total, que corresponde a 16,3%. Os autores HOEFFEL et al. (2005) fazem a reflexão de que, apesar destas APA’s serem criadas com o intuito de conservar a natureza e promover a qualidade de vida da população, seu maior desafio, é compatibilizar seus objetivos com as atividades econômicas do local, o que tem levado a diversos conflitos pelo uso do solo e da terra. Segundo a legislação anterior - Lei n° 4771, de 15 de setembro de 1965- (BRASIL, 1965), não era permitido o cultivo de quaisquer sistemas de produção em Áreas de proteção Permanente - APP’s e Reserva Legal - RL’s, sendo permitido apenas o manejo agroflorestal sustentável em RL de pequenas propriedades rurais, o que restringia significativamente o perímetro agricultável de tais propriedades. 18 Para IAMAMOTO et al. (2006) as normas para recuperação de áreas de preservação permanente (APP) vigentes até o início do ano de 2012 não eram coniventes com a realidade dos pequenos produtores rurais quando consideramos a conservação dos recursos naturais, aliada a viabilidade econômica e produtiva da propriedade. A privação do uso dessas áreas diminui os recursos das pequenas propriedades, dificultando a obtenção de renda por parte desses agricultores. A partir de 25 de maio de 2012, com a publicação da Lei n° 12.651, de 25 de maio de 2012, que institui o novo Código Florestal (BRASIL, 2012), essas definições mudaram. Ficou definido que pequenas propriedades rurais podem utilizar plantios de sistemas agroflorestais em suas APP’s e RL’s, desde que esses sistemas sejam submetidos a planos de manejo sustentáveis aprovados pelo órgão estadual do meio ambiente responsável. No caso de Joanópolis, o uso de SAFs nas APPs das pequenas propriedades como forma de promover a conservação dos recursos naturais e as questões produtivas da propriedade, além de contribuir para o aumento da biodiversidade ainda incrementa a renda familiar, tornando-se mais apropriado que a restauração convencional, que não permite a utilização direta destes espaços (IAMAMOTO et al., 2006) O autor DA SILVA (2010) nota que a distribuição florestal na região de Joanópolis não segue um padrão uniforme, este fato deve-se provavelmente à ocupação humana e à fragmentação dos maciços florestais. Nas cabeceiras e nascentes dos corpos hídricos, por se tratar de uma área de topografia acentuada e altitude elevada, se concentram as coberturas florestais em forma de fragmentos, já as áreas de preservação permanente encontram-se bastante alteradas e ocupadas. Os fragmentos de vegetação natural do município somam 7.901 ha, colocando Joanópolis na 3° posição em porcentagem do território coberto por áreas de vegetação nativa da região bragantina, atrás de Bom Jesus dos Perdões e Nazaré Paulista (Da silva, 2010). Uma enorme biodiversidade pode ser encontrada nos fragmentos de matas nativas do município, abrigando muitas espécies da Mata Atlântica que se encontram em extinção. Por isso, a região compõe o corredor Cantareira – Mantiqueira (Código Ma224), identificado pelo Governo do Estado de São Paulo em outubro de 2007, como área prioritária para a criação de corredores ecológicos (INSTITUTO OIKOS, 2011). 19 Figura 8 – Uso e ocupação de Joanópolis (2010). Fonte: Cantareira em Rede (2011). Figura 9 - Mapa de Incidência em áreas consideradas prioritárias para a conservação da biodiversidade. Fonte: Da Silva (2010a). 20 Na região são detectadas diversas espécies vegetais com frutificação (situação que cria condições para alimentação e sobrevivência de espécies da fauna) como o Jaracatiá, Abacateiro do Mato, Embaúba, Jabuticaba, Palmeiras, Araucária e Jatobá. O sub-bosque é composto por árvores menores, como a Pariparoba, e abriga numerosas epífitas, gravatás, bromélias, orquídeas, musgos e líquens, briófitas, pteridófitas (samambaias e avencas), begônias e lírios de várias espécies. Estudando as espécies existentes nos fragmentos florestais da região, SAAD et al. (2008) apud DA SILVA (2010d) detectaram a presença das seguintes espécies: Araucaria augustifolia, Vochysia tucanorum (pau-de-tucano), Alchornea triplinervia (Pau-óleo, Tanheiro) , Joannesia princeps (Andá-assu), Fruta de cutia ou (cutieira), Cariniana estrellensis (jequitibá), Galesia integrifólia (pau-d’alho), Cedrella fissilis (cedro brasileiro), canelas dos gêneros Ocotea, Nectandra, além de vários membros das famílias Myrtaceae (por exemplo Miconia), Melastomataceae, e fetos arborescentes ao gênero Cyathea, Alsophila e Dicksonia (xaxim). Nas áreas elevadas da floresta destacam-se várias bromeliáceas dos gêneros Vriesia, Aechmea, Nidularium, Alcantarea imperialis e o conhecido “bambuzinho de altitude”, Chrisquea mimosa, da família Poaceae (Gramineae), além de arbustos da família Ericaceae. O relevo montanhoso produz condições de altitude e de clima responsáveis por uma grande biodiversidade e importante banco genético. Um exemplo é que nas áreas de floresta densa há a ocorrência de felinos, como a onça suçuarana ou parda (Puma concolor), sendo que a presença da espécie pode ser comprovada através de trabalhos de campo em fragmentos florestais da bacia do Rio Jacareí em Joanópolis/SP e por meio do registro de pegadas e rastros. PEGAR FOTO COM CLOVIS DA PATA DE SUÇUARANA NA PROPRIEDADE DA JOSE EM JOANÓPOLIS figura 10 Sobre os aspectos geomorfológicos, Joanópolis se encontra na Bacia Sedimentar do Paraná, sob os domínios geológicos de rochas metamórficas e rochas graníticas, pertencentes ao embasamento cristalino (Período Pré-Cambriano) e são caracterizadas por sua resistência e pela presença de estruturas orientadas, tanto xistosas como migmatíticas e gnáissicas (DA SILVA, 2009A). 21 A região possui relevo montanhoso, contido no afloramento de rochas cristalinas do complexo de Amparo, caracterizado pelas vertentes abruptas e vales profundos, cujas formações montanhosas estão entre 1000 a 1600 metros de altitude, alcançando altitudes superiores a 2.000 metros na divisa com outros municípios, como é o caso do Morro do Selado, entre Joanópolis-SP e Camanducaia-MG (SOLHA, 2003). Esta região tem sido alvo de grande número de trabalhos a respeito da estabilidade regional e zoneamento sísmico, devido ao número elevado de abalos registrados. Os pequenos sismos que ocorrem em Joanópolis são influenciados pelas zonas sismogênicas de Pinhal e Cunha, além dos sismos induzidos por preenchimento de barragens. Na zona sismogênica do Pinhal que ocorreu o evento sísmico mais intenso do Estado de São Paulo. Registrado em 27/01/1922, os tremores de terra tiveram magnitude de 5,1 na escala Richter, atingindo uma área de 250.000 km², inclusive o Município de Joanópolis (DA SILVA, 2010b). Os solos do município são classificados como argissolos vermelho-amarelos distróficos (sigla PVAd) e álicos (sigla PVAa), com texturas argilosas, médias, arenosa e siltosa (CETEC, 2000 apud Da Silva, 2011a). Esse solo apresenta baixas concentrações de minerais primários, são predominantemente ácidos e constantemente lavados pelo alto volume de precipitações. Sua litologia está relacionada ao período Pré-Cambriano, possuindo rochas metamórficas, notadamente gnaisses e granitos, com algumas ocorrências de básicas, metabásicas e também sedimentos recentes, nas planícies de alguns rios (DA SILVA, 2009a). O município de Joanópolis/SP é uma região com pouco estudo científico ligado ao conhecimento climatológico, segundo ESTUDO CLIMATOLÓGICO DO MUNICÍPIO DE JOANÓPOLIS, ESTADO DE SÃO PAULO, E SUAS VARIAÇÕES TOPOCLIMÁTICAS (Diego de Toledo Lima da Silva, 2012) e o CEPAGRI-UNICAMP que disponibiliza em sua página na internet (www.cpa.unicamp.br/outras-informacoes/clima-dos-municipios-paulistas.html) informações sobre os diferentes climas dos municípios paulistas, pela Classificação Climática de Köppen, baseada em dados mensais pluviométricos e termométricos o estado de São Paulo abrange sete tipos climáticos distintos, a maioria correspondente a clima úmido. 22 No caso do município de Joanópolis, este levantamento o classifica no tipo climático Cwa – Clima tropical de altitude, com chuvas no verão e seca no inverno e com a temperatura média do mês mais quente superior a 22ºC (Gráficos 1 e 3). Um detalhe importante é que neste levantamento o município foi classificado em suas áreas baixas (área urbana), pelas seguintes coordenadas geográficas: - Latitude: 22º 32’ S Longitude: 46º 09’W Altitude: 930 m. Segundo o CEPAGRI-UNICAMP, a temperatura média anual do município é 19,2ºC e o volume médio de precipitação anual é 1.510,1 mm (Gráfico 2). Gráfico 1 – Temperatura Média Mensal do município de Joanópolis. Fonte: CEPAGRI-UNICAMP. Gráfico 2 – Volume de Chuva Mensal do município de Joanópolis. Fonte: CEPAGRI-UNICAMP. 23 Gráfico 3 – Gráfico climatológico do município de Joanópolis. Fonte: CEPAGRI-UNICAMP. SIGRH-SP disponibiliza em sua página na internet (www.sigrh.sp.gov.br) um Banco de Dados Hidrometeorológicos do Estado de São Paulo, proveniente da compilação dos dados das estações e postos do DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica) para o município de Joanópolis são encontrados dois postos pluviométricos: Prefixo D3-019, Posto Fazenda Bonfim, Altitude 1.150 m, Latitude 22º 58’ e Longitude 46º 06’, Bacia do rio Cachoeira; Prefixo D3-054, Posto Joanópolis, Altitude 955 m, Latitude 22º 56’ e Longitude 46º 16’, Bacia do rio Jacareí. Utilizou-se aqui o segundo posto (Prefixo D3-054, Altitude 955 m), a série histórica abrange o período compreendido entre os anos de 1952-2006 (DAEE) mais o intervalo 20092011. Esse posto consta de uma série de dados mais consistentes, devido ao posto estar localizado na atual Estação de Tratamento de Água (ETA) da SABESP e dentro do perímetro urbano, o posto apresenta uma série histórica de 58 anos analisados (Gráfico 4). 24 Gráfico 4 – Volume de Chuva Mensal do Posto D3-054 – Altitude 955 m, área urbana do município de Joanópolis/SP. Fonte: SIGRH-SP – Sistema de Informações para o Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo. Informações Posto D3-054 – 955 m. A empresa responsável pelo abastecimento e tratamento da água de Joanópolis é a Sabesp, captando água dos córregos das Águas Claras e Bocaina, onde é formado o rio Jacareí, e do Ribeirão da Correnteza. Segundo a FUNDAÇÃO SEADE (2011) o sistema de abastecimento de água do município ficou restrito ao centro urbano, atendo 66% da população. 25 Conforme o Plano 2010-2020 dos CBH – PCJ, a demanda per capita de água em Joanópolis é de 596 l/hab.dia, média muito mais elevada que a média ponderada para a região das Bacias PCJ, que é de 346 l/hab.dia. As causas dessa diferença podem ser pelo alto índice de perdas na rede de distribuição e a população flutuante, que ocorre devido a economia do município estar voltada ao turismo (IRRIGART, 2007). A população da zona rural que não é atendida pela rede de abastecimento, faz sua captação de água através de poços ou nascentes, sendo uma minoria dos estabelecimentos que captam água de nascentes, os que se preocupam em construir caixas de proteção. O restante dessa população faz a captação direta nas nascentes, permitindo a contaminação da água logo em seu afloramento. A hidrografia do município é bastante extensa, tendo como principais corpos hídricos os rios Jacareí (que corta o município, bacia de grande importância local e estadual) e Cachoeira, os ribeirões da Correnteza, da Vargem Escura, do Cancã, dos Pires e do Sabiaúna, e os Córregos das Águas Claras, do Bocaina, do Azevedo e dos Pintos (DA SILVA, 2009a). As principais Bacias Hidrográficas compreendidas em Joanópolis são dos rios Jacareí e Cachoeira, cuja participação do município, referente da área total dessas bacias, corresponde respectivamente a 55,9% e 64,8%. A bacia do Jaguarí também está inserida na área do município, porém com uma ocupação bastante reduzida de apenas 400 ha (um porcento) (WHATELY & CUNHA, 2007). Gráfico 5 - Distribuição das Bacias Hidrográficas no Município. Fonte: WHATELY & CUNHA (2007). 26 A bacia hidrográfica do rio Jacareí abrange uma área de 20.290,7 hectares, sendo 11.347 ha inseridos no município de Joanópolis, onde se encontra a maioria de suas nascentes. O rio Jacareí, após represado, dá origem ao reservatório Jacareí, que por sua vez, é interligado através de um canal à represa Jaguari, fazendo com que sejam operados como um único reservatório. A jusante da represa, o rio Jacareí junta-se aos outros formadores da Bacia Hidrográfica do rio Piracicaba (WHATELY & CUNHA, 2007). No reservatório do Jaguari, situado entre os municípios de Extrema (MG) e Joanópolis (SP), a água possui boas condições de potabilidade e dispõe de uma Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) de qualidade ótima, embora na região de Extrema a água já comece a dar sinais de perda de qualidade (SOUZA, 2007). A Bacia Hidrográfica do rio Cachoeira abrange uma área de 39.167,3 hectares, onde 25.387,5 ha estão inseridos em Joanópolis. Este rio é considerado de domínio Federal e abastece o Reservatório Cachoeira, além de sua contribuição para a Bacia do rio Piracicaba. O reservatório do Cachoeira, no município de Piracaia, também apresenta a qualidade da água de uma DBO ótima. Porém, ao atingir o município de Bom Jesus dos Perdões, acaba perdendo sua qualidade, até receber água do terceiro reservatório da região (SOUZA, 2007). A mata ciliar é responsável pela manutenção dos recursos hídricos e o tamanho dos fragmentos que definem sua eficiência. Dentro dos limites do município, o rio Cachoeira possui suas margens mais conservadas e protegidas em seu curso por grandes fragmentos de vegetação nativa, garantindo dessa forma, uma melhor qualidade da água e redução nos picos de distribuição ao longo do ano, comparado ao rio Jacareí. O rio Jacareí por sua vez, tem sua mata ciliar composta por menores fragmentos e recebe poluentes difusos e pontuais desde Minas Gerais. Segundo a CETESB (2008), as principais fontes de poluição dos recursos hídricos no Estado de São Paulo são os lançamentos de efluentes líquidos domésticos e industriais, assim com a carga difusa de origem urbana e agrícola. A Associação Mata Ciliar vem atuando na região Bragantina em parceria com a CATI e apoiado pelo Programa Petrobras Ambiental, no Projeto “Águas do Piracicaba” com a meta de distribuir na região bragantina, 300 fossas sépticas e 1000 barraginhas. A carga orgânica dispersa nos rios Cachoeira e Jacareí 278,86 DBO/dia, carga três vezes maior que a lançada pela área urbana, coberta pela rede de coleta e tratamento de esgoto. 27 A maioria dos estabelecimentos rurais utiliza fossas negras ou sumidouros, que com o tempo, contaminam a água armazenada no solo, nascentes e rios. Além da possibilidade de contaminação por microrganismos patogênicos da água de poço freático, usado no abastecimento da propriedade. Este fato se agrava com a atividade do turismo, que aumenta a população flutuante aos finais de semana, aumentando a produção de efluentes. O uso intensivo do solo pela atividade da agropecuária acentua os processos de erosão, carregando partículas de matéria orgânica, fertilizantes agrícolas e agrotóxicos para o leito dos rios. A substituição da vegetação ripária por monoculturas intensificam o risco ambiental, expondo as nascentes e cursos d’água à contaminação. Considerando a importância da região das nascentes, no que diz respeito à garantia da produção de água com qualidade para o abastecimento público associado à sua fragilidade natural e biodiversidade, a região se tornou foco de diversas iniciativas socioambientais que visam à conservação dos recursos naturais, entre as quais abaixo relacionadas. As áreas ocupadas pelo município de Joanópolis são identificadas pelo Plano Diretor de Florestas – PCJ (2005), como áreas de prioridade alta e muito alta para a recomposição florestal e outras ações que visem o controle das erosões e poluição difusa no meio Rural. Figura 11 - Grau de prioridade para a recomposição florestal nas bacias hidrográficas dos rios PCJ. Fonte: Plano Diretor de Florestas – CBH PCJ (2005). 28 2.3 Trabalhos ocorridos e em andamento em Joanópolis Projeto Semeando Água A retirada das florestas é a principal causa da perda de muitos serviços biodiversidade. ecossistêmicos, As medidas como para a qualidade controlar este da água e problema redução passam da pelo reflorestamento no entorno de rios e nascentes e pela conservação do solo nas áreas com uso agropecuário. Para reverter esse processo, o IPÊ, com o patrocínio da Petrobras, realiza o projeto “Semeando Água”, que acontece nos estados de São Paulo e Minas Gerais, com pequenos proprietários em áreas rurais dos municípios de Mairiporã, Nazaré Paulista, Joanópolis, Piracaia, Vargem, Itapeva, Extrema e Camanducaia. Nestas cidades, as propriedades parceiras têm sido selecionadas de forma estratégica, a fim de conservar os corpos d´água e a biodiversidade ali existentes. Tais localidades, além de concentrarem nascentes, possuem áreas florestais que abrigam espécies ameaçadas de extinção e que formam um corredor florestal entre as Serras da Cantareira e Mantiqueira. Junto com os proprietários, o projeto “Semeando Água” busca influenciar melhores práticas de uso do solo que contribuam para a conservação dos recursos hídricos (restauração florestal e manejo de uso de solo). Além disso, realiza atividades de sensibilização ambiental junto às comunidades locais onde as atividades técnicas de campo são realizadas com palestras, fóruns e reuniões que informam as comunidades sobre a importância ecológica dos municípios e sobre como é possível conservar os remanescentes ambientais (www.ipe.org.br/semeandoagua). WWF BRASIL – Programa Água Brasil: “Implantação de Unidades Demonstrativas da Iniciativa Água Brasil nas microbacias do Cancã e Moinho, no Estado de São Paulo”, visando fortalecer e disseminar boas práticas produtivas aliadas à conservação ambiental envolvendo eventos de capacitação, planejamento técnico; Instituto de Conservação Ambiental The Nature Conservancy – TNC do Brasil: projetos executivos de pagamento por serviços ambientais (PSA) a proprietários rurais no âmbito do Projeto Produtor de Água no PCJ e gestão de atividades do monitoramento hidrológico nas microbacias do Cancã e Moinho. 29 Experiência da proposta de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) - O projeto é uma iniciativa conjunta da Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (SMA), por meio do Projeto de Recuperação de Matas Ciliares (PRMC), da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (SAA), por meio de sua Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), da própria organização não governamental (ONG) The Nature Conservancy (TNC), da Agência Nacional de Águas (ANA), da Prefeitura de Extrema (MG), e dos Comitês das Bacias Hidrográficas (CBH) dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ).2 Essas entidades gerenciam conjuntamente o projeto por meio da Unidade de Gerenciamento do Projeto (UGP). Em 2012 foram agregadas como parceiras ao projeto a Prefeitura s de Nazaré Paulista (SP) e de Joanópolis (SP) e a ONG Associação Mata Ciliar; Programa de Microbacias Hidrográficas I e II proposto pela Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo (SAA); Plano de Microbacias Hidrográficas da Secretaria Municipal de Agricultura, realizado para as microbacias do Cancã e Cachoeira dos Pretos; Projeto de Recuperação de Matas Ciliares (PRMC), da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (SMA); Projeto “Experimentação em Agrossilvicultura e Participação Social: Um estudo de caso em Joanópolis/SP”, da Esalq/USP; Projeto Básico de Preservação e Recuperação de Nascentes de Joanópolis – SHS; Preservação e Recuperação das Nascentes – CBH-PCJ; Plano Diretor de Recomposição Florestal– CBH-PCJ; Cantareira em rede, 2011– OSCIP Terceira Via; Águas de Piracicaba, 2012 – Associação Mata Ciliar; Novo Modelo de Preservação e Recuperação dos Recursos Hídricos, 2012 – OSCIP Terceira Via (em execução); Sustentabilidade Agroecológica na Agricultura de Joanópolis, 2012 – OSCIP Terceira Via (em execução). 30 VERIFICAR PROJETOS DA PREFEITURA PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO E RESÍDUOS SÓLIDOS A Prefeitura de Joanópolis iniciou no início deste ano o Plano de Mobilização Social para elaboração do Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB) e do Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS) do Município. Fundamentada pela Fundação Agência das Bacias PCJ, com o apoio da empresa B&B Engenharia Ltda., e fomentadas por gestores das Secretarias Municipais de Agricultura, Abastecimento e Meio Ambiente e de Obras e Projetos. Em breve a Prefeitura divulgará os próximos passos deste trabalho. 3. DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL 3.1 Perfil Ambiental A reversão de 33 m³/s de água das bacias do PCJ, principalmente da bacia do rio Piracicaba, para o atendimento da Região Metropolitana de São Paulo vem se mostrando insustentável. Alguns municípios localizados nessas bacias já sofrem com a falta d’água e racionamentos intensos nas épocas de estiagem, como é o caso de Americana, Sumaré e Hortolândia e Paulínia, além de dificultar a produção de álcool nas regiões de Piracicaba e Ribeirão Preto (CARDOZO & DEMANBORO, 2010). Também a situação do Sistema Cantareira é muito grave e tratando-se segundo especialista3 do Instituto Socioambiental – ISA, de um problema de gestão, pois já se sabia a uma década que era preciso diminuir a dependência desse sistema e em 2009 um estudo apontou que ele tinha déficits importantes. Ficando clara a importância de investimento em uma melhor gestão e em produção de água como a criação de condições favoráveis para que o ciclo vital da água se realize de forma mais intensa. Para isso é preciso recuperar e preservar áreas de nascentes e proteger os cursos d’água com a ampliação da cobertura florestal em suas margens o máximo possível. Outra questão importante é entender que parte da “função social” da terra é preservar os serviços ambientais por ela prestados. 3 Consultora especializada em serviços ambientais Marussia Whately do Instituto Socioambiental – ISA. 31 Assim, os proprietários e produtores rurais devem fazer parte de uma grande rede de produtores de água, capacitados, com tecnologia, assistência técnica e os recursos necessários para a identificação de nascentes e cursos d’água eventualmente secos pela derrubada da mata e implantação de plantios ou pastagens, e a realização das ações necessárias para a recuperação e preservação dessas fontes de água. Ainda segundo o estudo sobre a disponibilidade de água nas Bacias Hidrográficas dos rios PCJ (GOULART JUNIOR ET AL., 2011), a partir do ano de 2.035 há uma tendência para a escassez de água com conflitos entre os usos múltiplos deste recurso, caso mantenham-se as metas de aumento do consumo hídrico sem incentivos ao racionamento e reuso pelos usuários das Bacias PCJ. De acordo com SOUZA (2007), um dos fatores responsáveis pelo colapso no abastecimento de água na região de Campinas, Piracicaba e Jundiaí foi o rápido crescimento populacional desta região, que segundo a FUNDAÇÃO SEADE (2011), chegam à ordem de 20 % na última década. O grande aumento populacional aumenta a demanda pela água, aumentando também os lançamentos de esgotos domésticos nos cursos d’água, podendo gerar nos próximos anos uma grave crise no abastecimento público destas regiões. Este quadro revela a importância das regiões de cabeceira dos rios PCJ na garantia do abastecimento de água para as populações das regiões metropolitanas. Destaca-se o papel das matas ciliares para a manutenção da água sobre os aspectos de quantidade, qualidade e boa distribuição ao longo do ano, já que o relevo desta região é caracterizado por possuir grande declividade, favorecendo os processos erosivos, assoreamento e contaminação por resíduos orgânicos e tóxicos provenientes das atividades Agrossilvopastoril e ocupações irregulares nestas áreas. A vegetação no entorno dos mananciais é composta por fragmentos de mata secundária, áreas de pastagem e capoeira. Segundo o Projeto Cantareira em Rede (2011) realizado pela Associação Terceira Via, os fragmentos florestais de Joanópolis somam 7.901ha, que corresponde a 21% da área total do município. No levantamento realizado pelos autores SEMIS (2006) e BARBOSA & VARALLO (2006), foram observados rebaixamento do lençol freático e o desaparecimento de algumas nascentes, ocasionando a redução da produção e disponibilidade de água. Este fato esteve associado principalmente às ocupações irregulares da agropecuária nas áreas de APP. 32 Analisando as médias das taxas pluviométricas de Joanópolis entre os períodos de 1986 a 2005, PEREIRA & FILHO (2009) não constataram redução no volume anual precipitado. No entanto, as vazões na entrada do reservatório Cachoeira, apresentaram redução de 70% do volume de água aos 75 dias de estiagem, acompanhando proporcionalmente a velocidade da ocorrência de desmatamentos para implantação de pastagens e silviculturas de eucalipto. Já no início de 2013, segundo Relatório de Monitoramento do Sistema Cantareira – Janeiro de 2013, no mesmo Reservatório Cachoeira (o menor do Sistema Equivalente) houve uma elevação da vazão média natural afluente, variando de 4,95 m³/s em dezembro para 9,56 m³/s neste último mês, explicada pelos índices de chuva na região e, principalmente, na cabeceira da bacia (em Joanópolis/SP e Camanducaia/MG). A vazão média liberada a jusante do reservatório para as Bacias PCJ foi de 0,30 m³/s (70,76% inferior à média registrada durante o mês de dezembro). Houve uma diminuição no volume acumulado no reservatório de 10,32 hm³ (milhões de metros cúbicos) durante o mês de janeiro. Neste último mês, a média do volume transferido pelo Túnel 6 para o Reservatório Atibainha foi de 20,12 m³/s 9,59 % superior a média registrada no mês de dezembro (2012). O volume total acumulado no reservatório foi de 74,12 hm³ no dia 31/01, tendo um volume útil acumulado de 27,20 hm³. O volume operacional do reservatório, registrado nesta data, foi de 39,05%. Avaliando os dados do ponto de monitoramento do Rio Cachoeira, localizado na captação para abastecimento do município de Piracaia, dia 14 de Fevereiro de 2013, às 09:00 hs, o ponto apresentava uma vazão de 0,96 m³/s. A altura do nível da água no ponto era de 1,03 metro, sendo que 3,00 metros é a cota de extravasamento. Quanto ao volume de precipitação sobre o Sistema Cantareira (jan. 2013) apresentou um total de chuvas de 146,8 mm, volume este 43,52% inferior à média histórica para o período (259,9 mm). Dos 31 dias do mês de janeiro 2013, em 6 deles ocorreram episódios de precipitação significativa (acima de 9 mm). Deve-se esclarecer que além do aumento da vazão dos cursos d’água durante o evento pluviométrico, dias após a chuva, a vazão dos cursos d’água permanece elevada, pois as águas da chuva infiltram no solo abastecendo o lençol subterrâneo, responsável pela recarga das nascentes e dos cursos d’água nos dias de estiagem (escoamento de base). 33 A elevação instantânea do volume de vazão dos cursos d’água deve-se também aos diversos tipos de solos existentes na região, à formação geológica, ao relevo, à cobertura vegetal e o tipo de ocupação do solo (urbana e rural). Ressaltamos que, com as chuvas constantes, o solo fica saturado, diminuindo sua capacidade de infiltração, aumentando o escoamento superficial, com o deflúvio alcançando rapidamente os cursos d’água. Este fenômeno também é comum com as precipitações convectivas (as pancadas de chuva de verão). Os volumes de chuva nas cabeceiras dos cursos d’água são elevados, devido à altitude, ao relevo e ao caráter super úmido destas áreas. Devido à velocidade, o volume dessas águas, as características físicas da área e da rede de drenagem, a vazão escoada atinge rapidamente as áreas baixas das bacias hidrográficas e os reservatórios formadores do sistema. Figura 12 – Reservatórios do Sistema Cantareira. Fonte: Boletim de Monitoramento dos Reservatórios do Sistema Cantareira - ANA. As práticas agrícolas tornam-se muito impactantes na medida em que ocupam as áreas de vegetação natural que protegem os mananciais. O uso intensivo do solo promove a ocorrência do escoamento superficial das águas da chuva, impedindo a recarga dos lençóis freáticos, interferindo na distribuição da água das nascentes ao longo do ano. Devido a este fato, no período das águas é comum a ocorrência de erosões, assoreamentos e enchentes. 34 Enquanto no período de estiagem as plantações sofrem com a redução no nível da água armazenada no solo, havendo consequente redução na produção de água pelas nascentes, reduzindo ainda a diluição dos poluentes, o que aumenta os riscos de contaminações. No trabalho de PIVA et al. (2008), foram levantadas as percepções da população rural sobre as questões da água. Todos os moradores entrevistados notaram que este recurso diminuiu consideravelmente nos últimos anos. Eles reconhecem que os motivos que levaram a tais alterações estão relacionados às mudanças climáticas, ao aumento das culturas de eucalipto, desmatamentos e a falta de cuidado com as nascentes. 3.1.1 Poluição das águas O sistema de esgotamento sanitário do município atende apenas 56% da população, centralizado na área urbana. Nas regiões carentes de rede de coleta de esgoto é comum o uso de mecanismos de saneamento in situ, ou seja, a instalação de sistemas locais de fossas sépticas ou negras para o tratamento primário do esgoto doméstico. O uso destes mecanismos, além de trazer risco à saúde pública, contribuem com a contaminação das águas subterrâneas (CBH - PCJ, 2011). Figura 13 - Contaminação dos cursos d’água. Fonte: Lucas Peranovichi e Lima. 35 Diagnóstico do sistema de coleta e tratamento de esgotos em Joanópolis. 11.953 habitantes População Total (a) (SEADE 2012) Rede de Esgoto (b) 56% da população total População atendida pela rede de esgoto (a * b) 6.694 habitantes (c) Tratamento de esgoto sobre o total coletado (d) 95% População com tratamento de esgoto (c * d) 6.359 habitantes (e) População com rede coletora, mas sem tratamento de 335 habitantes (f) esgoto (c – e) Carga Orgânica Potencial do esgoto coletado (0,054 * c) 361,5 kg DBO/dia (g) Carga Orgânica levada a tratamento (0,054 * e) 343.38 kg DBO/dia (h) Carga Orgânica removida pelo tratamento – Eficiência de 267,84 kg DBO/dia (i) 78% (h * 78%) Carga Orgânica remanescente do tratamento (h – i) 75.53 kg DBO/dia (j) Carga Orgânica despejada in natura (f * 0,054) 18,09 kg DBO/dia (k) Carga Orgânica total despejada no corpo hídrico 93,62 kg DBO/dia (k) proveniente da rede coletora de esgoto (j + k) Carga Orgânica Dispersa da população sem rede coletora 283,98 kg DBO/dia de esgoto, provenientes de fossas e outros tipos de disposição ((a – c) * 0,054) Fonte: DA SILVA & DUARTE (2010) adaptado com as informações de SEAD (2011). Figura 14 - Contaminação dos cursos d'água e ausência de proteção ciliar. Fonte: Lucas Peranovichi e Lima. 36 Figura 25 - Parcelamento de terras às margens de cursos d’água. Fonte: Lucas Peranovichi e Lima. Da SILVA & DUARTE (2010) mostram que a maior parte da Carga Orgânica que chega aos corpos hídricos diariamente é proveniente de fontes dispersas, ou seja, da população sem rede coletora de esgoto, que trata o esgoto em fossas sépticas, fossas negras, sumidouros e outros tipos de disposição. Joanópolis despeja diariamente no Rio Jacareí, 93,62 kg de carga orgânica proveniente do esgoto coletado, parte sem tratamento e parte residual do tratamento. O acúmulo de nutrientes na água, principalmente na forma de fosfatos e nitratos, diretamente despejados ou percolados pelos processos de erosão do solo, lixiviação de fertilizantes agrícolas e emissão de dejetos domésticos podem provocar efeitos conhecido por Eutrofização. O excesso destes nutrientes acelera a proliferação de algas que, que por sua vez, provocam o desenvolvimento dos consumidores primários, tornando a água turva e reduzindo a taxa de oxigênio dissolvido, desencadeando a morte e consequente decomposição de muitos organismos, o que diminui a qualidade da água e traz eventualmente, alterações profundas no ecossistema. O decréscimo da vazão nos mananciais pode agravar esta situação, pois reduzem a diluição dos poluentes na água. 37 Estudos realizados nos corpos d’água da região bragantina destacam que os principais agentes biológicos encontrados nas águas contaminadas são bactérias patogênicas, vírus e parasitas. As bactérias patogênicas encontradas na água constituem uma das principais fontes de morbidade em nosso meio e são as responsáveis pelos numerosos casos de enterites, diarreias infantis e doenças epidêmicas, como a cólera e a febre tifoide, com resultados frequentemente letais. As enchentes são fatores que agravam esta situação, aumentando a disseminação de doenças como a leptospirose, febre tifoide e cólera (SOUZA, 2010). A contaminação, principalmente no perímetro urbano de Joanópolis, tem gerado reflexos negativos para a agropecuária. Segundo Sr. Helder Ximenes (entrevista realizada pela Associação Terceira Via com o representante da Vigilância Sanitária de Joanópolis, Sr. Helder Ximenes, 2011) as unidades agropecuárias localizadas a montante do perímetro urbano tem constante ocorrência da Brucelose, doença respiratória cuja contaminação não está relacionada com a água. Porém, as unidades agropecuárias situadas a jusante do perímetro urbano, que sofrem com o maior acúmulo dos resíduos urbanos e rurais, que favorecem a proliferação de microrganismos patogênicos aos humanos e animais. Devido a esta situação, foi constatado que além da doença Brucelose, cerca de 10% de bovinos apresentaram tuberculose bovina, cuja contaminação está relacionada com a qualidade da água e requer tratamentos mais severos, como isolamento de áreas e sacrifício dos animais. Durante as entrevistas realizadas pela Associação Terceira Via em outubro e novembro de 2011 nos estabelecimentos rurais de Joanópolis, houve um relato em que o morador, que depende de um córrego para seu abastecimento, se encontrava sem poder utilizar esta água, pois constantemente encontrava animais domésticos, inclusive gado, mortos e lançados no pequeno curso d’água. Neste caso, o referido manancial encontra-se em área de nascentes de grande importância para a formação do ribeirão do Cancã. A contaminação agrícola por agrotóxicos provêm das práticas, muitas vezes desnecessárias ou intensivas, ou mesmo a partir do descaso com as embalagens vazias, através dos fungicidas, inseticidas, herbicidas, entre outras substâncias que são carregadas pelas chuvas até os cursos d’água, ou se infiltrando no solo contaminando o lençol freático e chegando aos cursos d’água pelas nascentes. 38 Figura 16 - Monoculturas de Eucalipto em Áreas Declivosas. Fonte: Edwaldo Luiz de Oliveira Os moradores dos bairros rurais de Joanópolis observaram que na ocorrência de chuvas, nas áreas de cultivo de batatas, há o carregamento de grande quantidade de agrotóxicos para água, matando diversos peixes (PIVA et al. 2008). Além disso, muitos agricultores não utilizam Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) corretamente, entrando em contato direto e crônico com estas substâncias. A exposição a agrotóxicos podem trazer graves danos à saúde humana, como intoxicações agudas, problemas no sistema nervoso e respiratório, podendo levar a morte. De acordo com Sr. Helder Ximenes (entrevista realizada pela Associação Terceira Via com o representante da Vigilância Sanitária de Joanópolis, 2011), periodicamente são realizados exames de acetilcolinesterase entre os agricultores. O nível de enzima colinesterase no sangue é um indicador de exposição e intoxicação por agrotóxicos. Segundo o representante da vigilância sanitária, cerca de 25% dos agricultores que fazem esse exame passam por períodos de observação e 10% por tratamentos para os problemas causados por intoxicações crônicas destes produtos. É comum no município a ocorrência de surtos de diarreia e intoxicação alimentar em famílias inteiras, devido a utilização da água contaminada para o consumo ou irrigação de produtos que são consumidos sem os devidos cuidados. Uma das maneiras de prevenir estas doenças é a cloração da água. 39 O cloro é doado nos postos de saúde de Joanópolis e ainda assim, poucas as famílias tratam a água que abastece seus estabelecimentos (entrevista realizada pela Associação Terceira Via com o representante da Vigilância Sanitária de Joanópolis, Sr. Helder Ximenes, 2011). Para a água de um rio ser considerada de boa qualidade deve apresentar menos de mil coliformes fecais e menos de dez microrganismos patogênicos por litro (causadores de verminoses, cólera, esquistossomose, febre tifoide, hepatite, leptospirose, poliomielite, meningite, etc.). Portanto, para a água se manter nessas condições, deve-se evitar sua contaminação por resíduos, sejam eles agrícolas (de natureza química ou orgânica), esgotos, resíduos industriais, lixo ou sedimentos vindos da erosão (SOUZA, 2010). O abastecimento público das regiões metropolitanas de São Paulo e Campinas foi implantado sob este modelo caótico baseado na transposição das águas da bacia dos rios PCJ, se tornando impossível de ser alterado. Dessa forma, deve haver incentivos que garantam a sustentabilidade para este sistema, focando principalmente nas regiões de cabeceira das bacias alimentadoras, como única forma de garantir a qualidade da água. Entre as principais medidas que devem ser tomadas nas áreas de entorno de nascentes, cursos d’água e reservatórios, estão a abolição do uso de fertilizantes químicos e defensivos agrícolas, utilização de fossas sépticas biodigestoras e recomposição das matas ciliares e uso de práticas conservacionistas do solo e da água. 3.2 Perfil social Reiterando, atualmente a região das nascentes dos rios PCJ vem sofrendo com o rápido crescimento populacional, decorrente da proximidade com as Regiões Metropolitanas de São Paulo e Campinas, do avanço das indústrias e intensa especulação imobiliária, que se utiliza dos recursos naturais como propaganda de melhoria da qualidade de vida. No que se refere a população, de acordo com a FUNDAÇÃO SEADE (2012), Joanópolis tem cerca de 11.953 habitantes e população estimada em 2013 , 12.492 (IBGE). 40 Estatísticas da População. População - 2012 Joanópolis Região Estado - Bragantina SP População 11.953 550.663 41.939.997 Densidade Demográfica (Habitantes/km2) 31,91 134,84 168,97 1,38 1,09 Taxa Geométrica de Crescimento Anual da 1,25 População - 2000/2010 (% a.a.) Índice de Envelhecimento (%) 78,76 72,38 58,88 População com Menos de 15 Anos (%) 19,26 19,72 20,71 População com 60 Anos ou Mais (%) 15,17 14,27 12,20 97,73 94,79 Número de homens para cada 100 mulheres 101,23 da população Fonte: FUNDAÇÃO SEADE (2012). A área rural do município é caracterizada por pequenas propriedades a título de posse. Objetivando a regularização fundiária e favorecendo a especulação imobiliária, por meio de Lei Municipal, Joanópolis tornou todo seu território área de Expansão Urbana. Dessa forma o parcelamento do solo foi incentivado, permitindo a regularização de propriedades menores do que o permitido para que sejam regularizadas pelo INCRA (20.000m²). Esta situação obriga a Prefeitura Municipal ao atendimento dos serviços básicos, como rede de coleta de esgotos, abastecimento e tratamento da água para o consumo, energia, estradas de acesso, entre outros serviços, que nem sempre chegam a população rural. A ocupação da área efetivamente rural do município soma 37.261 ha, abrigando cerca de um terço da população joanopolense, distribuídos entre os 33 bairros: Bonifácio, Salto dos Pretos, Pretos, Cancã, Maria Alferes, Retiro, Mosquito, Paiol Grande, Paiol Queimado, Carvalhos, Mosquito, Sabiaúna, Vargem Grande, Vargem Escura, Terra Preta, Azevedo, Pintos, Barrocão, Souza, Sertãozinho, Pinhalzinho, Alves, Limas, Lagoa, Pico, Moenda, Pires, Dúvida, Pitangueira, Correnteza, Bonfim, Pedra do Carmo, Cunhas. Segundo PIVA, et al. (2008), os moradores que vivem no centro urbano, geralmente realizam atividades econômicas relacionadas ao setor da Indústria, comércio e serviços. 41 A população urbana conta com infraestrutura básica como escolas, centro de saúde, assistência social, saneamento básico, centro de esportes e lazer, transporte e um comércio local bem desenvolvido. Já a população dos bairros mais afastados não possui a mesma infraestrutura quanto ao saneamento básico, coleta de esgotos, transporte, comércio e atividades de lazer e cultura, ainda dependendo do centro urbano para sanar algumas de suas necessidades básicas. As atividades predominantes nos bairros mais afastados do centro comercial são a agropecuária e o turismo no meio rural. Os baixos rendimentos das atividades agropecuárias, intensa especulação imobiliária e a falta de perspectivas para a população efetivamente rural, têm feito a população se mudar para o centro comercial da cidade, em busca de condições mais promissoras. Os autores PIVA, et al. (2008) observam que o êxodo rural acontece principalmente nas populações mais jovens, que são desestimulados pelos próprios pais para o trabalho no campo, com a ideia de que trabalha-se muito para obter pouco retorno. Este evento vem reduzindo a mão de obra disponível nas áreas rurais, dificultando ainda mais, a adaptação e a permanência da agricultura familiar no local. Também está relacionado ao aumento da população urbana, sobrecarregando os serviços públicos. A densidade demográfica do município teve um aumento de 58,01% durante as duas últimas décadas, alcançando em 2012 a média de 31,91 habitantes/km² (WHATELY & CUNHA, 2007 & FUNDAÇÃO SEAD, 2012). Apesar do aumento na densidade demográfica de Joanópolis nos últimos anos, o município ainda apresenta baixos índices quando comparado aos municípios vizinhos, inseridos na Sub-Bacia do Cantareira. Isso porque estes municípios sofreram intenso crescimento urbano e industrial, ocorrendo com menor expressividade em Joanópolis devido às suas limitações naturais. 42 Gráfico 6 - Densidade demográfica (Habitantes/km²) 180 160 140 168,97 120 134,84 100 80 60 40 20 31,91 0 Joanópolis R. Bragantina Estado - SP FUNDAÇÃO SEADE 2012. Mesmo com uma baixa densidade populacional, Joanópolis possui uma média superior ao do Estado de São Paulo, porém, ainda com uma expressividade menor que de sua sub-região administrativa. Gráfico 7 - Taxa Crescimento Anual 2000/2010 1,4 1,2 1 1,25 1,38 0,8 1,09 0,6 0,4 0,2 0 Joanópolis R. Bragantina Estado - SP FUNDAÇÃO SEADE 2012 43 O índice de envelhecimento é a proporção de pessoas de 60 anos ou mais, por cada 100 indivíduos com menos de 15 anos. O índice do município é relativamente alto devido à maior população idosa, enquanto a população infantil se encontra levemente reduzida. Gráfico 8 - Índice de envelhecimento da população (%) 80 60 78,76 72,38 58,88 40 20 0 Joanópolis R. Bragantina Estado - SP FUNDAÇÃO SEADE 2012 A proporção entre os sexos da população de Joanópolis está equilibrada, sendo a população de homens 1,2% maior que a de mulheres. Diferentemente da proporção existente na população da região Bragantina e no Estado de São Paulo, onde a população feminina é maioria. Gráfico 9 - Razão entre os sexos (2012) 104 102 101,23 100 100 100 100 97,73 98 Homens 96 94,79 Mulheres 94 92 90 Joanópolis R. Bragantina Estado - SP FUNDAÇÃO SEADE 2012. 44 Sobre as condições de vida, o município foi classificado no ano de 2006, sob os critérios do Índice Paulista de Responsabilidade Social – IPRS, estando no grupo 5 (cinco), entre os municípios mais desfavorecidos do Estado, tanto em riqueza como nos indicadores sociais (FUNDAÇÃO SEAD 2012). Levando em consideração a riqueza em recursos naturais que a região dispõe, destaca-se a preocupação com a qualidade de vida da sua população, lembrando que este fator está relacionado com as formas de uso e ocupação das terras. 3.2.1. Educação e Saúde Educação Joanópolis possui 24 unidades de ensino. E segundo o IBGE a população residente alfabetizada é de 10.158 pessoas. Em 2012 atuaram 214 docentes nas escolas públicas e privadas existentes no município somando em torno de 2.283 matrículas, isso nas escolas públicas. Número de Docentes - Escolas de Joanópolis, dados 2012. Docentes - Ensino fundamental - 2012 (1) 75 Docentes Docentes - Ensino fundamental - escola pública municipal - 2012 (1) 65 Docentes Docentes - Ensino fundamental - escola privada - 2012 (1) 10 Docentes Docentes - Ensino médio - 2012 (1) 18 Docentes Docentes - Ensino médio - escola pública estadual - 2012 (1) 18 Docentes Docentes - Ensino pré-escolar - 2012 (1) 14 Docentes Docentes - Ensino pré-escolar - escola pública municipal - 2012 (1) 10 Docentes 4 Docentes Docentes - Ensino pré-escolar - escola privada - 2012 (1) Fonte: Ministério da Educação, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais - INEP - Censo Educacional 2012. Número de Escolas no Município de Joanópolis – dados 2012. Escolas - Ensino fundamental - 2012 Escolas - Ensino fundamental - escola pública municipal - 2012 Escolas - Ensino fundamental - escola privada - 2012 Escolas - Ensino médio - 2012 Escolas - Ensino médio - escola pública estadual - 2012 Escolas - Ensino pré-escolar - 2012 Escolas - Ensino pré-escolar - escola pública municipal - 2012 Escolas - Ensino pré-escolar - escola privada - 2012 8 7 1 1 1 3 1 2 Escolas Escolas Escolas Escolas Escolas Escolas Escolas Escolas Fonte: Ministério da Educação, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais - INEP - Censo Educacional 2012. 45 Matrícula inicial Ensino Regular Município Educação Infantil Creche EJA Ensino Fundamental Pré- escola Anos Iniciais EJA Presencial Médio Anos Finais Fundamental Médio Parcial Integral Parcial Integral Parcial Integral Parcial Integral Parcial Integral Parcial Integral Parcial Integral Estadual Urbana Estadual Rural Municipal Urbana 0 0 0 0 0 0 0 0 351 0 0 0 63 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 155 261 0 767 0 633 0 0 0 0 0 0 0 Municipal Rural Estadual e Municipal 0 0 0 0 53 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 155 261 0 820 0 633 0 351 0 0 0 63 0 JOANOPOLIS Número de Matriculas nas escolas públicas em 2013. Fonte: Brasil. Ministério da educação. Disponível no site acesso no dia 23/07/2014. Ainda referente à educação há no município o "Projeto Acolher" uma Organização Não Governamental – ONG, que desde o ano de 2006, realiza um trabalho pioneiro no Município e região. O projeto presta atendimento e acompanhamento especializado para as crianças e jovens portadoras de necessidades especiais. A ONG sobrevive de doações e conta com o voluntariado. São inúmeros os casos acompanhados e alunos especiais inseridos no sistema público de educação, pelos profissionais desse projeto. Com a colaboração da Prefeitura de Joanópolis e de uma rede de sócios contribuintes o Projeto Acolher continua prestando assistência às crianças e adolescentes com deficiências e dificuldades múltiplas (física, de aprendizagem e comportamental) de Joanópolis. A organização não governamental conta com uma ampla e responsável equipe, duas vezes por semana são feitos grupos multidisciplinares, orientados por fisioterapeutas, fonoaudióloga e psicóloga. Todas as crianças passam por acompanhamento médico e laboratorial pelo Sistema Único de Saúde (SUS) de Joanópolis e por renomadas instituições como AACD, Centro infantil Boldrini e UNICAMP. Para ajudar a manter o projeto, a instituição possui um bazar de roupas e objetos doados. 46 Figura 17 – Projeto Acolher. Fonte: Prefeitura de Joanópolis. Segundo a Secretaria de Educação e Cultura (dados de 2013) a Rede Municipal de Ensino atende cerca de 1967 alunos da Educação Infantil ao Ensino Fundamental II, não havendo índice de evasão escolar. Para atingir a meta foi necessária uma equipe comprometida com a educação e alguns investimentos: Ampliação dos atendimentos as creches municipais, com jornada parcial, atendendo todas as crianças que estavam na lista de espera; Formação continuada de Professores Alfabetizadores - Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, realizado através do SIMEC, é um compromisso formal assumido pelos governos federal, do Distrito Federal, dos estados e municípios que tem como principal objetivo alfabetizar os estudantes das escolas públicas rurais e urbanas até os oito anos de idade, ao final do 3º ano do ensino fundamental; Cursos semanais de capacitação para todos os Coordenadores Escolares para os mesmos serem multiplicadores junto aos professores; Curso de aperfeiçoamento de Boas Práticas de Manipulação de Alimentos e Alimentação Saudável para as colaboradoras das cozinhas das escolas; 47 Intervenção individual de um professor aos alunos portadores necessidades especiais; Parceria com o Projeto Acolher, com atendimentos com Fonoaudiólogo, Fisioterapeuta e Psicólogo, fornecendo o transporte às crianças e adolescentes, auxílio na alimentação e na contratação do corpo de profissionais; Transporte escolar gratuito a todos da Rede Municipal que necessitem; Auxílio Transporte no valor 50% dos custos a aproximadamente 180 alunos que estudam em outros municípios, cursando ensino superior e técnico profissionalizante; Fornecimento de material escolar e uniforme a todos os alunos carentes da rede municipal de ensino; Aquisição de brinquedos pedagógicos para serem utilizados durante as aulas com as crianças do ensino infantil (Creches e Pré-escola); Alimentação escolar com cardápio equilibrado, elaborado por uma nutricionista, levando em consideração a faixa etária das crianças, adolescentes, safra dos alimentos, a regionalidade, os princípios de uma alimentação saudável. Em parceria com a Secretaria da Agricultura e visando fomentar a agricultura local foram adquiridos para a merenda escolar mais de 20 itens produzidos em Joanópolis, sendo 4 deles oriundos da agricultura orgânica. Em relação ao sistema de saúde o município conta com o programa de saúde preventiva – “Saúde em Foco”, da Secretaria Municipal de Saúde e parceiros, a ONG GAPC (Grupo de Apoio de Prevenção ao Câncer) de São José dos Campos colabora com a estrutura para que dentistas, enfermeiros e médico da Secretaria realizem exames de câncer bucal, de mama e colo do útero. Um ônibus da GAPC visita a área rural e a população urbana, para a realização de exames. Também no programa funcionários da UBS verificam a pressão e glicemia da população, com o objetivo de identificar casos de hipertensão arterial e diabetes. Também são realizadas palestras para a conscientização da população de Joanópolis sobre assuntos recorrentes na saúde, de maneira descontraída e interativa. 48 Desenvolvidas pelo quarto ano seguido por alunos de graduação do curso de Farmácia da USP, este ano, os temas abordados são envelhecimento, doenças crônicas, álcool e drogas. Figura 18 – Folheto informativo do programa Saúde em Foco. Fonte: Prefeitura de Joanópolis. Também estão sendo montadas novas equipes de Agentes Comunitários de Saúde no setor de Recursos Humanos da Prefeitura visando desenvolver ações para integração da equipe de saúde à população, atuando diretamente com as famílias com base geográfica definida, a micro área, desenvolvendo ações educativas, visando à promoção da saúde e prevenção de doenças; cadastrar as pessoas e manter os cadastros atualizados, orientar as famílias quanto a utilização dos serviços de saúde disponíveis, visitas domiciliares e cumprir 49 com as atribuições atualmente definidas para o ACS em prevenção de Malária e da dengue, conforme Portaria nº 44/GSM, de 03 de janeiro de 2002. Atribuições Típicas: Exercício de atividades de prevenção de doenças e promoção da saúde, mediante ações domiciliares ou comunitárias, individuais ou coletivas, desenvolvidas em conformidade com as diretrizes do SUS e sob supervisão do gestor municipal. Utilização de instrumentos para diagnósticos demográficos e sociocultural da comunidade; promoção de ações de educação para saúde individual e coletiva; O registro, para fins exclusivos de controle e planejamento das ações de saúde, de nascimentos, óbitos, doenças e outros agravos à saúde; O estímulo à participação da comunidade nas políticas públicas voltadas para a área da saúde; A realização de visitas domiciliares periódicas para monitoramento de situações de risco à família; Participação em ações que fortaleçam os elos entre o setor de saúde e outras políticas que promovam a qualidade de vida. Em maio de 2014 a Secretaria Municipal de Saúde em parceria com a Santa Casa de Misericórdia de Joanópolis, realizou a Primeira Semana de Enfermagem da Cidade, o intuito foi promover educação continuada e atualização dos colaboradores da saúde para que cada vez mais eles prestem um atendimento de excelência à população. O evento contou com as palestras de profissionais da Secretaria de Saúde, Santa Casa e Lar Vicente de Paula: Acidentes com animais peçonhentos e DST/AIDS - Ministrada pelo Médico Drº Américo Etto; 50 Acolhimento e classificação de risco - Ministrada pela secretária de Saúde e Enfermeira Grazielle Bertolini; Suporte Básico de Vida - Ministrado pelo Coordenador Geral de Enfermagem do SAMU Regional Bragança Enfº Daniel Felix - Cuidados com o recém nascido (Shantala e Ofurô) - Ministrado pela professora de Enfermagem da USF e Enfermeira Elis Regina. Segundo o IBGE Joanópolis possui 4 estabelecimentos de saúde privados e 1 público, no caso, municipal. Estabelecimentos de saúde Variável Joanópolis São Paulo Brasil Federais 0 29 950 Estaduais 0 181 1.318 Municipais 1 5.640 49.753 Privados 4 8.365 42.049 Gráfico 10 – Número de estabelecimentos de saúde. Fonte: IBGE, Assistência Médica Sanitária 2009. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. 51 Quanto ao número de doentes que vão a óbito após o ingresso no hospital seguem dados a seguir: Morbidade hospitalar Variável Joanópolis São Paulo Brasil Homens 10 60.597 228.311 Mulheres 12 50.071 192.206 Gráfico 11 – Morbidade hospitalar Fontes: Ministério da Saúde, Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde DATASUS 2012. Estatísticas Vitais e de Saúde 2011/2012. Estatísticas Vitais e Saúde Taxa de Natalidade (Por mil habitantes) Taxa de Fecundidade Geral (Por mil mulheres entre 15 e 49 anos) Ano Município Região de Governo Estado (Bragança Paulista) 2012 12,47 13,42 14,71 2011 42,04 48,46 51,6 52 Taxa de Mortalidade Infantil (Por mil nascidos vivos) 2012 33,56 11,23 11,48 Taxa de Mortalidade na Infância (Por mil nascidos vivos) Taxa de Mortalidade da População entre 15 e 34 Anos (Por cem mil habitantes nessa faixa etária) Taxa de Mortalidade da População de 60 Anos e Mais (Por cem mil habitantes nessa faixa etária) Mães Adolescentes (com menos de 18 anos) (Em %) 2011 7,52 12,65 13,35 2011 180,27 121,7 119,61 2011 3.640,50 3.837,14 3.611,03 2011 10,53 7,22 6,88 Mães que Tiveram Sete e Mais Consultas de PréNatal (Em %) 2011 84,96 75,77 78,33 Partos Cesáreos (Em %) 2011 64,66 68,06 59,99 Nascimentos de Baixo Peso (menos de 2,5kg) (Em %) 2011 8,27 9,34 9,26 Gestações PréTermo (Em %) 2011 11,28 9,1 8,98 Fonte: FUNDAÇÃO SEADE (2014) – Dados estatísticos vitais de Joanópolis (2011/2012). O sistema de saúde do município melhorou em pequenas proporções, principalmente no que diz respeito ao atendimento de gestantes e maternidade. Houve pequena redução no número de mães adolescentes, mas que ainda é superior aos índices regional e estadual. Segundo SIMÕES (2003), pesquisadores e profissionais da área da saúde associam este evento à pobreza, baixa escolaridade e piores resultados pré-natais. Mesmo assim, é possível notar que houve melhorias nos índices de atendimento a consultas pré-natais e que foi capaz de reduzir as taxa de filhos com baixo peso ao nascer e mortalidades neonatal e infantil. 53 No ano de 2012, Joanópolis aderiu ao “Programa Rede Cegonha” do Ministério da Saúde, atuando em um conjunto de ações que garantem a total assistência às mães brasileiras. Através do Sistema Único de Saúde (SUS). O atendimento fornece tratamento adequado e seguro desde a confirmação da gravidez, passando pelo pré-natal, parto, pós-parto e assistência até os dois primeiros anos de vida dos bebês. O Município possui uma unidade do Centro de Referência a Assistência Social – CRAS, que se dedica ao trabalho voltado as famílias e projetos sociais, assistido pelo governo do Estado de São Paulo. As famílias são contempladas pelos programas Bolsa Família, Renda Cidadã, Ação Jovem, Benefício de Prestação Continuada (BPC) e cursos individuais que capacitam os cidadãos melhorando o rendimento familiar. Em Joanópolis o CRAS atende cerca de 250 famílias e conta com o apoio do SENAC, SENAI e Prefeitura Municipal para a realização de suas atividades. Em seu primeiro ano de atuação (2010) formou 64 costureiras, 18 maquiadoras profissionais, 16 pedreiros, 34 garçons, entre outros cursos e atividades oferecidos periodicamente, o judô (80 crianças), aulas de artesanatos e dança. Em torno de 32 crianças são assistidas e participam diariamente de atividades na sede do Centro de Referência, onde são realizadas brincadeiras, atividades educativas e refeições, com o intuito de mantê-las em um ambiente saudável e protegido de qualquer tipo de violência. Os processos sociais de penas alternativas de jovens e adultos no município também são assistidos pelo CRAS, sendo cerca de um terço do total dos processos relacionados aos menores de 18 anos que, geralmente, estão envolvidos com drogas. 3.3 Perfil Cultural Uma característica expressiva na identidade cultural de Joanópolis é a religiosidade, que está vinculada a um catolicismo popular da sociedade caipira. A cidade se desenvolveu em torno de um cruzeiro, que posteriormente foi substituído pela Igreja Matriz. Desde os tempos do Cruzeiro, até os dias atuais, se comemora a festa do santo padroeiro, São João Batista (MOURA & NERI, 2010). 54 Figura 19: Igreja Matriz. Fonte: Associação Terceira Via. Há no município um grande apelo ao folclore e às tradições caipiras, o mito do lobisomem e tudo aquilo que era algo corriqueiro na vida dos moradores e tornou-se grande atrativo turístico. A região esta cercada de simbologias, manifestações do imaginário caipira que respondem às dúvidas e dificuldades inexplicáveis que habitam o inconsciente rural. Através da tradição oral essa história, livro escrito sobre o assunto e diversas reportagens nas grandes emissoras de televisão, o município recebeu o título de “Capital do lobisomem”. (MOURA & NERI, 2010). A cultura joanopolense também é representada pelas danças tradicionais, como as quadrilhas da festa junina; culinária, como o feijão tropeiro e a “Comidinha do lobisomem” (Galinhada); artesanatos e utensílios rústicos e o modo de vida típico do interior, caracterizado pelo ruralismo da região (Terceira Via - Entrevista Sra Neide Rodrigues Gomes, presidente da ONG Ponto de Cultura “Ora Viva S. Gonçalo” em 05/10/2011). A valorização da identidade cultural da população favorece as atividades turísticas no município, gerando diversas oportunidades de negócios e contribuindo para melhorias na atratividade turística local, além de envolver as comunidades tradicionais e agricultores familiares no processo de melhoria da qualidade de vida. 55 Destaca-se a importância da relação entre biodiversidade local e outros recursos naturais com a manifestação cultura tradicional, que por um longo período, a natureza foi a base para todas as atividades e serviços realizados no meio rural e para o atendimento das necessidades básicas dessas comunidades, gerando ao longo das gerações, uma diversificada coletânea de saberes. Para HOEFFEL et al. (2011) é através da transmissão deste conhecimento e de sua socialização, que visões de mundo e identidades culturais são construídas, as instituições sociais perpetuadas, costumes são estabelecidos e regras são definidas. Neste sentido, o conhecimento popular sobre as formas de aproveitamento dos recursos naturais torna-se indissociável dos traços culturais das comunidades tradicionais, reforçando a importância em preservar comunidades, para preservar a biodiversidade local e o conhecimento de tecnologias aplicadas ao seu manejo e aproveitamento. Esta relação entre bens e serviços, gerados a partir de recursos naturais e do conhecimento tradicional, é representada pelo termo sociobiodiversidade. Os autores HOEFFEL et al. (2011b) observam que na região de sobreposição das APAs que concentra Joanópolis, tem relevantes traços culturais ligados ao uso de plantas medicinais. Isto, por haver nessa região um grande remanescente de vegetação nativa, que possuem enorme diversidade de espécies conhecidas pela população mais antiga, aliado ao clima propício para a produção de diversas espécies nativas e exóticas. CASTELLS (1999) interpreta o uso de plantas medicinais na região de Joanópolis, como uma “identidade de resistência”, que leva os moradores rurais a manterem determinadas práticas tradicionais, mesmo que de uma forma superficial, uma vez que esta traz uma conotação positiva e possibilita uma identidade compartilhada, engajando-os em atividades coletivas. Observa-se assim que o conhecimento local sobre recursos naturais, incluindo as plantas medicinais, é um recurso cultural importante que orienta e sustenta a manutenção e continuidade de diversos sistemas de manejo (DIEGUES; ARRUDA, 2001). Segundo o mesmo estudo, o uso de plantas medicinais na região é realizado pelas pessoas mais idosas, em sua maioria acima de 55 anos de idade, e muitos daqueles que foram considerados grandes conhecedores das plantas medicinais já faleceram. Os relatos demonstram que estes conhecimentos foram adquiridos na maioria das vezes com parentes e, em alguns casos, com amigos e conhecidos, e sua transmissão é realizada oralmente entre gerações. 56 O desinteresse pelos mais jovens sobre o uso de plantas medicinais está mais relacionado á facilidade para o acesso aos hospitais e remédios industrializados, além de obter os resultados com maior rapidez. Há no município, algumas associações que fomentam a cultura e o folclore tradicional, bem como oferecem cursos de capacitação, música, esportes, artesanato, dança, além da atuação em projetos de desenvolvimento socioambiental, nas áreas de educação ambiental e saúde, promovendo o resgate do conhecimento tradicional em benefício da população, gerando oportunidades de melhoria da qualidade de vida e favorecendo a manutenção da cultura local. Espaços e Ações Culturais Casa da Cultura – Associação Para o Desenvolvimento Social de Joanópolis - PRÓ-JOÁ Figura 20 – Logomarca Pró-Joá A “Pró-Joá" é uma ONG que tem por fins promover, realizar ou apoiar ações benéficas ao desenvolvimento e projeção do município de Joanópolis e à melhoria das condições de vida de sua população. Tem por objetivos o desenvolvimento do turismo, com vistas à geração de emprego e renda; a promoção da cultura; a preservação, a recuperação e a melhoria do meio ambiente e o estímulo ao voluntariado. A ONG executa diversos projetos e pesquisas na área ambiental, monitorando as condições pluviométricas em pontos estratégicos, assim como as condições das margens, 57 leito e nascentes dos principais cursos d’água que abastecem o município e o sistema Cantareira. A Casa da Cultura é outra iniciativa do Pró Joá, em que são oferecidas diversas atividades, como biscuit, capoeira, judô, kendo, violão, fotografia, pintura entre outros. A Associação atende semanalmente, cerca de 200 pessoas que participam das atividades. Além de atividades relacionadas a educação ambiental “Semana do Meio Ambiente” e coleta seletiva de lixo, envolvendo em média de 1000 pessoas por atividade. Os trabalhos da ONG Pró- Joá podem ser acompanhados nos endereços eletrônicos: http://www.pro-joa.blogspot.com/ http://casadacultura-joanopolis.blogspot.com// Ponto de Cultura – “Ora viva S. Gonçalo” Figura 21 - Divineiros de Joanópolis – Ponto de Cultura “Ora Viva São Gonçalo”. Fonte: Ponto de Cultura. A ONG foi idealizada pela Profª. Neide Rodrigues Gomes, pesquisadora do Folclore Tradicional Brasileiro que atua há décadas no município de Joanópolis, buscando dar oportunidade a todos os interessados em obter conhecimentos sobre a cultura tradicional brasileira através de aulas e oficinas. Com o apoio da Comissão Paulista de Folclore, o Ponto de Cultura “Ora viva S. Gonçalo” atende cerca de 300 alunos, entre todas as faixas etárias que participam de corais, grupos de viola, aulas de violão, curso de folclore brasileiro destinado a professores da região entre outras atividades. 58 Destaca-se que grande parte dos alunos/participantes não é natural de Joanópolis e poucas pessoas que vivem no centro urbano, próximo a sede desse Ponto de Cultura, se interessam pelas atividades oferecidas. Segundo a professora, o meio rural é fundamental para a manutenção das tradições culturais da população. Dentre os motivos estão o modo de vida, tradicionalidade da família rural e limitação geográfica, fazendo que a cultura ainda faça parte do dia a dia dessas pessoas. E a valorização da identidade cultural da população, favorece as atividades turísticas no município. Associação Casa do Artesão de Joanópolis Figura 22 – Casa do Artesão Fonte: Prefeitura de Joanópolis. A “Casa do Artesão” é uma associação que tem como objetivo principal, o incentivo ao trabalho de artesanatos e difusão do folclore brasileiro e cultura tradicional do interior paulista. A “Casa do Artesão” foi fundada em 1996 e conta com 18 associados, que reúnem suas peças para a exposição e comercialização na sede da associação. Esse espaço é reservado para a troca de técnicas entre os artesãos, cursos de artesanatos e também à recepção de turistas, devido sua localização estratégia, em frente a igreja da matriz. Os associados ainda participam de feiras culturais, como o projeto Revelando São Paulo, assim divulgando os trabalhos da região. Segundo o Presidente da associação, Sr. Valter Cassalho, em entrevista realizada no dia 29/10/2011, diversos produtos artesanais são produzidos em Joanópolis, como o crochê, esculturas em madeira, barro, cipó e palhas, imagens religiosas, doces tradicionais, baixeiros, tapetes, brinquedos antigos, souvenires, entre outros. 59 Alguns artesãos chegam a receber uma média de R$ 800,00 por mês, a partir da venda de suas peças na “Casa do Artesão”. Associação dos Criadores de Lobisomem A Associação dos Criadores de Lobisomem – ACL atua no chamado “Turismo imaginário”, considerando o lúdico, sensações da infância e o sobrenatural, para atrair visitantes e difundir o mito, a cultura e belezas naturais de Joanópolis. O lobisomem teve suas histórias aguçadas em 1983, quando a folclorista Maria do Rosário de Souza Figura 23 – Lobisomem. Tavares de Lima defendeu sua tese para a Escola do Fonte: Prefeitura de Joanópolis. Folclore de São Paulo, tendo como tema o Lobisomem e como local de pesquisa nossa cidade, lançando o livro: "Lobisomem: assombração e realidade" (CASSALHO, 2011). A ACL foi fundada no ano de 1998 e conta com mais de 30 associados, cujo atual presidente e idealizador desta iniciativa é o Historiador Valter Cassalho. Segundo o presidente, a figura do Lobisomem já teve diversas interpretações ao longo da história e hoje é representado no município por uma figura simpática e familiar, que se tornou o carro-chefe do turismo e uma simbologia para o artesanato local. Humanifesto Evento cultural organizado e realizado por Araucária e Equipe Humanifesto, com apoio cultural da Prefeitura de Joanópolis e do Busca Vida, o evento está na sua 14ª edição em Joanópolis. O evento abrange diversas manifestações culturais que são expostas, feiras, ateliês, esculturas, varal de arte, sala de leituras, danças e bandas, atrações artísticas em torno do coreto, poesias, músicas, cinema, performance, esculturas, fotografias, "humanifestações" livres e oficinas. 60 Figura 24 a 26 – Humanifesto. Fonte: Prefeitura de Joanópolis. 3.4 Perfil Econômico O Produto Interno Bruto – PIB, total dos bens e serviços produzidos pelas unidades produtoras, ou seja, a soma dos valores adicionados acrescida dos impostos, que foi gerado em Joanópolis no ano de 2011 foi de 145,59 milhões de reais, cuja média per capta foi de R$ 12.281,64 (2011). Estes valores são apresentados na tabela a seguir e podem ser divididos pelos setores econômicos de maior importância para o município, abrangendo o comércio no setor de serviços. 61 Economia PIB Região de Governo (Bragança Paulista) Ano Município Estado 2011 145,59 11.658,62 1.349.465,14 2011 12.281,64 21.392,44 32.454,91 2011 0,010788 0,86 100 (Em milhões de reais correntes) PIB per Capita (Em reais correntes) Participação no PIB do Estado (Em %) Fonte: FUNDAÇÃO SEADE (2014). Comparando o valor do PIB arrecadado no município de Joanópolis nos principais setores econômicos do ano de 2011 pode-se observar que o município acompanhou o desenvolvimento da sub-região administrativa e Estado no qual se insere. Este fato mostra de que se trata de melhorias na conjuntura econômica do Estado de São Paulo, não se tratando de uma melhoria no município em particular. Economia Participação da Agropecuária no Região de Governo Ano Município 2011 10,3 4,5 2,11 2011 20,4 33,36 27,43 2011 69,29 62,14 70,46 2012 - 0,585559 100 (Bragança Paulista) Estado Total do Valor Adicionado (Em %) Participação da Indústria no Total do Valor Adicionado (Em %) Participação dos Serviços no Total do Valor Adicionado (Em %) Participação nas Exportações do Estado (Em %) Fonte: FUNDAÇÃO SEADE (2014). 62 Quanto a distribuição do valor do PIB pelos principais setores econômicos, observoua maior participação nos setores de industriais e de serviços, sendo o da agropecuária de menor participação, porém maior que a participação da região de governo. O que pode Indicar a ocorrência do desenvolvimento econômico do município e do fortalecimento do setor de serviços e industrial, assim como certo desenvolvimento da agricultura. A distribuição do PIB nos principais setores econômicos do município, comparado à sub-região e ao Estado no qual está inserido, é possível notar que a participação do PIB joanopolense no setor agropecuário é maior que na sub-região de Bragança Paulista, que por sua vez, é maior que no Estado de SP. Quanto a participação relativa do PIB no setor industrial, Joanópolis tem a menor participação, que pode ser explicada pelas limitações ambientais do município, que se encontra em área de sobreposição entre duas APAs. Já a sub-região administrativa de Bragança Paulista mostrou possuir uma forte atuação neste setor, superando a media estadual. Este dado pode ser explicado pela proximidade da região Bragantina com as Regiões Metropolitanas de São Paulo e Campinas que, após a duplicação das rodovias D. Pedro e Fernão Dias em que foi facilitado o acesso e transporte de mercadorias e produtos, favorecendo uma grande expansão no setor industrial. Quanto a distribuição relativa do PIB no setor de serviços, cuja classe engloba as atividades comerciais, serviços turísticos, administrativos e outras modalidades, Joanópolis possui grande destaque, superando as médias da região Bragantina, porém, se mantendo abaixo da média obtida para o Estado de São Paulo, mas em apenas 1,17 %. Em relação ao rendimento médio dos empregos formais de Joanópolis, a tabela a seguir demonstra que, comparado às médias de sua Região de Governo e Estado (SP), os resultados de rendimento do município está abaixo em todos os setores. Este fato pode ser explicado pelo baixo nível de qualificação técnica dos trabalhadores e baixa tecnologia utilizada nas diferentes cadeias produtivas empregadas na região, além das limitações naturais e legislação pertinente á ocupação nas áreas das APAs. 63 Emprego e rendimento – Rendimento médio em reais. Ano Município Rendimento Médio dos Empregos Formais da Agricultura, Pecuária, Produção Florestal, Pesca e Aquicultura (Em reais correntes) 2012 881,23 Região de Governo (Bragança Paulista) 1.116,40 Rendimento Médio dos Empregos Formais da Indústria (Em reais correntes) 2012 1.023,25 1.982,04 2.754,07 Rendimento Médio dos Empregos Formais da Construção (Em reais correntes) 2012 x 1.574,12 2.028,78 Rendimento Médio dos Empregos Formais do Comércio Atacadista e Varejista e do Comércio e Reparação de Veículos Automotores e Motocicletas (Em reais correntes) 2012 978,84 1.272,03 1.766,79 Rendimento Médio dos Empregos Formais dos Serviços (Em reais correntes) 2012 1.502,82 1.666,87 2.449,21 Rendimento Médio do Total de Empregos Formais (Em reais correntes) 2012 1.171,20 1.650,31 2.329,86 Emprego e Rendimento Estado 1.412,49 Fonte: FUNDAÇÃO SEADE (2014). O setor de serviços é responsável pela maior participação no PIB do município, agregando os bens das atividades do turismo e administração pública. O setor também é o que mais gera vínculos empregatícios, tanto no município, quanto em sua região e Estado. Emprego e rendimento – Participação dos empregos (%). Ano Município Participação dos Empregos Formais da Agricultura, Pecuária, Produção Florestal, Pesca e Aquicultura no Total de Empregos Formais (Em %) 2012 7,59 Região de Governo (Bragança Paulista) 5,18 Participação dos Empregos Formais da Indústria no Total de Empregos Formais (Em %) 2012 27,49 32,23 20,3 Participação dos Empregos Formais da Construção no Total de Empregos Formais (Em %) 2012 0,37 2,83 5,23 Participação dos Empregos Formais do Comércio Atacadista e Varejista e do Comércio e Reparação de Veículos Automotores e Motocicletas no Total de Empregos Formais (Em %) 2012 29,46 21,81 19,46 Participação dos Empregos Formais dos Serviços no Total de Empregos Formais (Em %) 2012 35,08 37,95 52,47 Emprego e Rendimento Estado 2,54 Fonte: FUNDAÇÃO SEADE (2014). 64 A média de empregos no setor de comércio do município é superior as médias de seu Estado e região de Governo. WHATELY & CUNHA (2007) afirmam que o aumento de estabelecimentos comerciais e empregos neste setor refletem um processo de expansão urbana e populacional que vem se consolidando na região determinando uma maior procura por bens de consumo, relacionando-se também, com o incremento das atividades turísticas na região. O setor industrial tem seu desenvolvimento limitado em função da fragilidade natural da região que compõe as APAs Cantareira e Juquerí-Mirim, inviabilizando a instalação de indústrias de grande porte. Dessa forma, o setor industrial é caracterizado por pequenas indústrias têxteis, fábricas de bolachas e biscoitos, doces, laticínios, materiais para construção civil, serrarias etc. Em geral, essas pequenas indústrias possuem baixa tecnologia e elevada demanda por mão de obra. A Associação Comercial e Industrial de Joanópolis (ACIJ) é a organização que representa estes setores. Atualmente conta com 78 associados que buscam coletivamente apoio junto às autoridades na luta pelos seus direitos. A ACIJ é responsável pela organização de cursos de capacitação, com parceria do SEBRAE, promovem festas, promoções, ações ecológicas, como é o caso da campanha para a abolição das sacolinhas plásticas no comercio do município, e ainda cobram e acompanham ações da prefeitura como, por exemplo, Segurança Pública no centro da cidade. Em entrevista realizada pela Associação Terceira Via no dia 25/10/2011, com o Senhor Presidente da Associação Jideval Santos, foi comentado sobre a dificuldade em obter maior número de associados. Segundo Sr. Jideval, são cerca de 200 comércios no município, sendo apenas 44 associados e no setor industrial, em torno de 300 pequenas indústrias existentes no município e, entre estas, apenas 34 estão associadas. O presidente da associação explica que muitos estabelecimentos, principalmente os do meio rural, que executam atividades turísticas e agroindústrias, se encontram na informalidade e por isso não estão associados. Mesmo assim, estes estabelecimentos são atendidos nos cursos, palestras e atendimento individual do SEBRAE promovidos pela associação. Os setores do comércio e indústria de Joanópolis se encontram em intenso desenvolvimento, trazendo empresários investidores de outras regiões e consequente mudanças políticas. 65 Um dos maiores gargalos para o desenvolvimento desses setores ainda está na falta de mão de obra no município, principalmente para os cargos que exigem maior qualificação profissional. Para o presidente da ACIJ, o desenvolvimento da indústria e do comércio não aumenta os riscos ao meio ambiente, já que a fiscalização da prefeitura aos estabelecimentos tem sido cada vez mais rigorosa sobre os critérios ambientais. O site da ACIJ está disponível no endereço eletrônico: http://www.acijoanopolis.com.br/index.php?act=40000&mod=2&id=4012 3.4.1 Agropecuária No passado, o município era grande produtor de café, caracterizado pela utilização de tração animal e consórcio com outras culturas de maior importância para a subsistência, como feijão, banana, milho e abóbora. A partir da década de 60 foi iniciada uma forte campanha de órgãos do governo, para a modernização da agricultura utilizando maquinários, adubos químicos e incentivando o trabalho com a pecuária leiteira na região. A partir de então, Joanópolis se tornou grande produtora de leite, expandindo as áreas de pastagens e suprimindo vegetação natural, reduzindo também os plantios para a subsistência. Este fato causou maior dependência dos recursos financeiros advindos da produção do leite para a sobrevivência no campo (PIVA, et al. 2008). A atividade da pecuária leiteira ainda está entre as atividades mais praticadas no município, porém os custos de produção e o valor pago pelo leite têm inviabilizado a atividade na agricultura familiar, obrigando os produtores a buscarem alternativas de mercado para a sobrevivência no local. Atualmente, o turismo, a produção de eucalipto e sementes em estufas, são as atividades consideradas mais viáveis pelos moradores da região. Apesar de reconhecerem não ser a melhor opção para o ambiente (PIVA, et al. 2008). As pastagens de Braquiária é a cultura mais explorada nas Unidades de Produção Agropecuária. Segundo o Instituto de Economia Agrícola (IEA, 2011), ocuparam em 2010, 24.000 hectares, totalizando 21.100 cabeças de gado, sendo 12.100 destinado a bovinocultura leiteira e 9.000 a bovinocultura mista (corte e leite). 66 A capacidade de suporte das pastagens é variável em função do solo, clima, estação do ano e espécie ou cultivar forrageira. A média de lotação das áreas de pastagens em Joanópolis é de 0,88 U.A./ha. Ano. Segundo Souza (2003), a adoção de tecnologias como a correção e adubação dos solos e rotação das pastagens permite alcançar um aumento na lotação animal que varia de 25 a 100%, devido basicamente ao aumento da eficiência da colheita da forragem pelos animais e à uniformidade do pastejo. Diante da crise enfrentada pelos produtores de leite e ao fato de que grande parte das áreas de APP estão ocupadas por pastagens, técnicas alternativas no manejo foram testadas no projeto Recuperação de Matas Ciliares (2006), com o intuito de melhorar a qualidade da forragem e diminuir o impacto negativo sobre os recursos hídricos. O Pastejo Rotacionado Voisin se mostrou eficiente na região, reduzindo os gastos com rações, adubos e outros insumos, na medida em que permite o bom desenvolvimento das gramíneas. Mesmo apresentando bons resultados, são poucos os pecuaristas que utilizam este sistema devido à resistência cultural e receio em fazer investimentos. A segunda cultura mais explorada no território do município é o eucalipto, ocupando 6.420 hectares (IEA, 2011). O cultivo de eucalipto tem sido visto com bons olhos pelos produtores rurais em virtude do retorno econômico associado ao baixo investimento em termos de tempo e de mão de obra, dada a situação financeira frágil na qual se encontram estes agricultores (PIVA, et al. 2008). De acordo com o estudo realizado pela Associação Terceira Via através do projeto Cantareira em Rede (OSCIP TERCEIRA VIA, 2011), a silvicultura de eucalipto chega a ocupar cerca de 15% sobre as formas de uso e ocupação do solo da região. A expansão da atividade compromete a manutenção dos fragmentos de vegetação natural, além dos problemas relacionados aos processos erosivos, devido ao plantio em terrenos íngremes, empobrecimento da fertilidade dos solos e redução da biodiversidade local. A cultura da batata já teve grande importância na economia do município, trazendo problemas irreparáveis, com uso excessivo de agrotóxicos e outros insumos químicos, como o desaparecimento da fauna silvestre, contaminação ambiental e inúmeros casos de intoxicação de trabalhadores. Em entrevistas realizadas pela Associação Terceira Via no período de outubro a novembro de 2011, com alguns agricultores do município de Joanópolis, houveram relatos de que o cultivo da batata vem perdendo espaço para a 67 produção de eucalipto, devido aos baixos preços da batata e maior demanda por mão de obra. Outro relato importante é sobre o uso de EPIs, pois diferentemente dos envolvidos com o cultivo de sementes e eucalipto, a maioria dos produtores são carentes de assistência técnica e nem sempre possuem a quantidade suficiente de Equipamentos de Proteção Individual para todos os trabalhadores. Considerando a distância das unidades produtivas rurais em relação ao centro comercial de Joanópolis, os agricultores tem a necessidade em ter Equipamentos reserva, evitando comprometer a realização da atividade e a segurança dos trabalhadores, o que geralmente não ocorre, seja por descuido, falta de informação ou de recursos financeiros. Joanópolis também se destaca como município produtor de sementes de hortaliças em estufas com a parceria da empresa Agroflora Sakata. A atividade merece bastante atenção pelo fato de envolver grande parte dos trabalhadores do campo e utilizarem agrotóxicos e fertilizantes químicos. Mesmo com o cultivo protegido pelas estufas, os efeitos destes produtos afetam o ambiente, contaminando os lençóis freáticos e cursos d’água. De acordo com Helder Antônio Ximenes Duarte, Médico Veterinário de Saúde Pública, em entrevista ocorrida no dia 17/11/2011, cerca de 250 famílias estão envolvidas com esta atividade, que já trouxe preocupações para o município devido ao risco de contaminação dos recursos naturais e saúde dos trabalhadores. Afirma ainda que, por incentivo da empresa Agroflora Sakata e iniciativa dos próprios produtores, a produção de sementes vem adotando uma postura de menor impacto ao meio ambiente, reduzindo a frequência e o volume de agrotóxicos aplicados, já pensando em uma possível produção de linhas de sementes orgânicas. Em entrevistas realizadas no meio rural de Joanópolis, um dos entrevistados, que trabalha diretamente com a produção de sementes, afirma haver grande incentivo e assistência técnica por parte da empresa parceira, quanto a utilização de EPIs e aplicação mínima de defensivos agrícolas. Sobre o total das áreas que pertencem à zona rural (37.261ha), a agricultura familiar tem participação em 38%, ficando responsável por 48,7% do valor bruto da produção. Enquanto estabelecimentos agrícolas patronais ocupam 61,5% das áreas rurais e são responsáveis por 51,3% do valor bruto de produção (INCRA, 2007 apud PIVA, et al. 2008). 68 Estes valores mostram a importância da agricultura familiar sobre a produção municipal, considerando o maior rendimento sobre as áreas utilizadas, quando comparado ás unidades produtivas patronais. Entretanto, o modelo agrícola predominante em Joanópolis possui, em geral, um baixo rendimento decorrente da baixa tecnologia utilizada e pela falta de mão obra qualificada. O gráfico apresenta o rendimento médio obtido nos empregos formais no setor agropecuário no ano de 2012, mostrando que o município possui rendimento muito abaixo da média geral, quando comparado à região Bragantina e ao Estado de São Paulo. Gráfico 12 – Rendimento Médio dos Empregos Formais da Agricultura, Pecuária, Produção Florestal, Pesca e Aquicultura (Em reais correntes) – 2012. 1600 1400 1200 1000 800 1.412,49 600 400 1.116,40 881,23 200 0 Joanópolis Bragança Paulista São Paulo Fonte: SEADE, 2014. De acordo com DA SILVA (2009c), as melhorias tecnológicas necessárias para melhorar o rendimento agropecuário do município não se refere apenas ao uso de máquinas, tratores e implementos agrícolas, mas também as ações que preservem o meio ambiente e a saúde de todos os envolvidos, como o plantio na época correta, irrigação e drenagem correta, realização da análise do solo para que a adubação seja a ideal, implementação de práticas conservacionistas do solo e da água, plantio utilizando sementes 69 e mudas de qualidade, implantação de sistemas Agroflorestais – SAFs e a utilização de técnicas agroecológicas. O estudo do uso e ocupação das Áreas de Preservação Permanente – APP hídricas realizado pela Associação Terceira Via, no âmbito do projeto “Novo Modelo de Preservação e Recuperação dos Recursos Hídricos”, para a Microbacia Hidrográfica da Cachoeira dos Pretos, inserida no meio rural de Joanópolis, servem de amostragem para o entendimento sobre o uso e ocupação nas APPs no território do município. Esta microbacia hidrográfica representa 7,5% da área total do município e possui antigo histórico de ocupação destas terras, havendo menção desde o ano de 1749 (CASSALHO, 2009). Figura 27 – Classes de uso e ocupação da MBH Cachoeira dos Pretos – Joanópolis. Fonte: OSCIP TERCEIRA VIA (2012). 70 Figura 28 – Classes de uso e ocupação em APPs na MBH Cachoeira dos Pretos – Joanópolis. Fonte: OSCIP TERCEIRA VIA (2012). De acordo com as cartografias produzidas neste estudo é possível observar que o uso e ocupação do solo nas áreas de preservação compreendidas na microbacia hidrográfica amostrada é predominantemente agropecuário, cuja principal classe de uso encontrada são as pastagens, ocupando cerca de 70 % das áreas ripárias. Apenas 15% das áreas de mata ciliares estão protegidas por vegetação nativa, sendo estas áreas em sua maioria dedicada a proteção de nascentes, em regiões cujo relevo é mais íngreme e de baixo potencial para a produção. Mesmo assim, a expansão da silvicultura na região, que ocupa em geral as áreas mais declivosas, vem pressionando os fragmentos de vegetação nativa à cada novo plantio. 71 O gráfico de distribuição das classes de uso e ocupação em áreas de mata ciliar da Microbacia da Cachoeira dos Pretos é apresentado abaixo: Gráfico 13 - Ocupação das áreas ripárias da Microbacia da Cachoeira dos Pretos. 0% 1% 14% 15% Vegetação Nativa Pastagens Culturas anuais Lazer Eucalipto 70% Fonte: OSCIP TERCEIRA VIA (2012). O meio rural se organiza através de associações e cooperativas para adquirir benefícios comuns, como cursos, oficinas e visitação a outras propriedades modelos, representação junto às autoridades, comercialização da produção e aquisição conjunta de insumos. As principais associações e cooperativas de produtores rurais de Joanópolis são citadas abaixo: ASSOCIAÇÕES E COOPERATIVAS DOS PRODUTORES RURAIS DE JOANÓPOLIS Associação/Cooperativa de Produtores Ano de N° de Rurais de Joanópolis fundação Associados e Atividades envolvidas Cooperados AJOAN - Associação Joanopolense de 2009 29 Agropecuária Produtores e Processadores de Produtos Orgânicos 72 Associação de Amigos da Cachoeira dos Pretos 2000 84 Desenvolvimento da comunidade local Associação de Amigos das Bacias do Rio Cancã e Correnteza 2009 24 Desenvolvimento da comunidade local Cooperativa de Produtores Rurais entre Serras e Águas 2007 84 Agropecuária Fonte: Pesquisa de Campo CATI (2011). Joanópolis possui um CMDR – Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural – formado por representantes de diversos setores ligados ao meio rural, com o objetivo de cobrar ações do poder público e acompanhar as ações em andamento. 3.4.2 Dados de produção A Produção agropecuária da Região Bragantina para o ano de 2011, segundo o Instituto de Economia Agrícola (http://www.iea.sp.gov.br/out/index.php#), compreendendo os valores de produção de todos os municípios que pertencem a esta sub-região administrativa. Produção da região bragantina PRODUTO VALOR DA PREÇO PRODUÇÃO UNIDADE 330 12 t 3.960,00 SORGO 16,88 525 sc.60 kg 8.862,00 MELANCIA 0,39 30.000,00 kg 11.700,00 TOMATE INDUSTRIA 0,16 105.000,00 kg 16.800,00 MANDIOCA INDUSTRIA 234,91 250 t 58.727,50 BETERRABA 15,07 4.206,00 cx.21 kg 63.380,20 ARROZ EM CASCA 28,58 2.475,00 sc.60 kg 70.721,21 ABOBORA 0,68 306.000,00 kg 208.080,00 FIGO PARA MESA 8,01 26.880,00 3 cx 1,50 kg 215.308,88 BATATA DOCE 14,54 17.488,00 cx.K 22 kg 254.265,05 GOIABA INDÚSTRIA PRODUÇÃO 73 CENOURA 0,98 526.000,00 kg 515.480,00 LIMAO 13,05 46.825,00 cx.22 kg 611.066,25 REPOLHO 6,63 95.856,00 sc.25 kg 635.525,28 MANDIOCA MESA 11,18 56.985,00 23 kg 637.094,54 MEL 5,35 122.042,00 kg 652.924,70 PIMENTAO 11,4 84.328,00 cx.11 kg 961.330,89 MARACUJÁ 21,65 52.501,00 cx.13 kg 1.136.660,95 ABOBRINHA 17,51 70.980,00 cx.20 kg 1.242.859,80 GOIABA DE MESA 6,79 197.720,00 cxta.3 kg 1.342.518,80 BANANA 11,41 125.227,00 cx.20 kg 1.428.821,83 ALFACE 10,18 178.656,00 engr.10 kg 1.818.718,08 CAQUI 1,51 1.362.270,00 kg 2.057.027,70 MANGA 1,41 1.864.500,00 kg 2.628.945,00 FEIJAO 96,11 30.369,00 sc.60 kg 2.918.764,59 ABACATE 24,43 122.828,00 cx.K 22 kg 3.000.688,04 LARANJA DE MESA 16,13 205.515,00 cx.40,8 kg 3.314.946,64 UVA DE MESA 2,15 2.211.802,00 kg 4.755.374,30 PÊSSEGO DE MESA 4,41 1.895.444,00 cxta.1,8 kg 8.358.908,08 TOMATE DE MESA 30,37 282.340,00 25 kg 8.574.665,80 LARANJA INDUSTRIA 11,99 1.003.393,00 cx.40,8 kg 12.030.689,75 MORANGO 8,85 1.456.500,00 cxta.1,6 kg 12.890.025,00 CANA-DE-ACUCAR 64,87 213.360,00 t 13.840.663,20 BATATA 24,57 702.307,00 sc.50 kg 17.255.682,99 TANGERINA 18,51 1.130.771,00 cx.26 kg 20.930.592,86 LEITE C 0,78 31.892.420,00 litro 24.876.087,60 LEITE B 0,88 31.867.260,00 litro 28.043.188,80 MILHO 25,99 1.287.825,00 sc.60 kg 33.470.571,75 CARNE SUINA 49,77 676.965,00 15 kg 33.692.548,05 OVO 44,13 917.677,00 cx.30 dz 40.497.066,61 CARNE BOVINA 98,71 1.010.760,00 15 kg 99.772.119,60 CAFE BENEFICIADO 477,35 275.215,00 sc.60 kg 131.374.166,66 CARNE DE FRANGO 1,92 120.675.099,00 kg 231.696.190,08 VALOR TOTAL DA PRODUÇÃO NA REGIÃO BRAGANTINA R$ 747.873.719,06 74 Produção das Associações e Cooperativas da região - Olerícola 2010, em kg. Associações e Município cooperativas Abrangência Convencional Orgânicos Soma Serras e Aguas Bragança Pta Regional 193.500 104.700 298.200 AJOAN Joanópolis Municipal 0 83.800 83.800 AMJA Socorro Regional 96.000 0 96.000 ASSERBELA Pedra Bela Regional 500.000 0 500.000 CHAVE Socorro Municipal 201.600 0 201.600 Cachoeira Atib Atibaia Municipal 1.102.500 0 1.102.500 Guaraiúva Vargem Municipal 0 0 0 Rib meio Socorro Municipal 0 216.000 216.000 Perdões B. J. Perdões Municipal 40.000 0 40.000 APRORT Tuiuti Municipal 5.941.749 0 5.941.749 Tanque Atibaia Regional 100.000 0 100.000 Hort Jarinu Regional 4.100.000 0 4.100.000 VITI Atibaia Regional 3.300 0 3.300 COOPCHAM Amparo Regional 546.375 0 546.375 Total 12.825.024 404.500 13.229.524 Produtores envolvidos 280 85 365 Fonte: Cadastro das associações 2009-2011 /EDR CATI Bragança Paulista Produção Olerícola 2010, em kg. Associações e Município Abrangência Convencional Orgânico Soma Serras e águas Bragança Pta Regional 193.500 104.700 298.200 AJOAN Joanópolis Municipal 0 83.800 83.800 193.500 188.500 382.000 cooperativas Total Produtores envolvidos 79 73 152 Fonte: Cadastro das associações 2009-2011 /EDR CATI Bragança Paulista 75 Produção Olerícola 2010, em kg. Sistema Produção Produção Produtores envolvidos / Produto//e Olerícolas Kg/Produtor Região % Joanópolis % Região P Joanópolis Kg/Pr Convencional 12.825.024 97% 193.500 1,51% 280 Kg/Pr 79 691 Orgânico 404.500 3% 188.500 46,60% 85 2.449 73 4.759 Total 13.229.524 100% 382.000 48,11% P 365 2.582 152 Fonte: Cadastro das associações 2009-2011 /EDR CATI Bragança Paulista Gráfico 14 - Produção Olerícola - EDR CATI Bragança Paulista. Kg 14.000.000 12.825.024 Produção Olerícolas EDR CATI BRAGANÇA PTA 13.229.524 12.000.000 10.000.000 8.000.000 6.000.000 100% 97% 4.000.000 404.500 2.000.000 3% 0 Convencional Orgânico Total Fonte: CATI/IEA 76 Produção Agrosilvapostorial e Pecuária Regional 2000 A 2010 / Agronegócio. AGROPECUÁRIA REGIÃO EDR CATI BRAGANÇA PTA. ATIVIDADE / MÉDIA ANO SETOR HISTÓRICA ANO 2010 ATIVIDADES QTDE QTDE 104.058.610 ANO 2010 JOANÓPOLIS MÉDIA ANO ANO HISTÓRICA 2010 ANO 2010 VALOR, R$ QTDE QTDE VALOR, R$ 144.785.681 569.651.639,46 1.276.485 54.000 576.180,00 99.567.104 73.978.463 72.742.346,00 3.358.819 24.430 2.640,00 17.648.378 22.879.390 32.031.146,00 36.364 - - 81.716.182 50.889.000 40.711.200,00 3.302.755 3.300 2.640,00 326 433 - 28 30 - 202.219 209.640 - 19.672 21.100 - 178.173.051 148.246.654 579.352.263,68 5.119.506 55.834 185.001,49 254.463 262.111 365.658.870,00 26.947 31.520 8.800.000,00 352.316.887 441.916.907 441.916.907,00 3.619.948 4.430 4.430,00 734.370.115 809.189.816 2.029.322.026 13.401.705 170.214 9.568.251 ECONÔMICA Produção de carne Produtos de origem animal ovos leite e derivados apicultura bovino Produtos de origem vegetal Florestas e pastagens Outras não classificadas TOTAL Fonte: EDR CATI Bragança Paulista. 77 Agronegócio. AGRUPAMENTOS ECONÔMICOS / AGRONEGÓCIO ATIVIDADES QTDE QTDE VALOR, R$ QTDE QTDE VALOR, R$ Horticultura 55.600.314 58.456.274 - 364 - - Produção animal 79.278.428 120.247.623 362.214.061,00 20.316 21.330 211.920,00 Culturas anuais 1.008.541 977.000 284.100,00 - - - Silvicultura 84.553 86.996 354.056.400,00 10.017 7.520 5.700.000,00 Forrageiras 352.043.529 441.230.115 17.652.706.870,00 3.635.494 28.200 1.608.000,00 Fruticultura 106.928.204 94.174.198 151.316.083,20 2.665.527 33.167 78.119,97 Fungicultura 124.991 629.700 4.093.050,00 - - - Produção Grãos 66.817.774 82.667.214 96.414.988,68 552.729 6.800 4.667,81 Origem Animal 124.350.728 98.520.233 282.511.076,20 4.615.268 57.330 578.886,00 TOTAL 730.636.747 838.533.079 18.903.596.629 11.499.350 154.348 8.181.594 ECONÔMICAS Fonte: EIA / Cadastro das Associações EDR CATI BRANGANÇA PAULISTA. 3.4.3 Turismo Entre modelos e estratégias que possam efetivamente conservar a diversidade biológica e ainda gerar renda para a agricultura familiar, destaca-se a potencialidade das atividades referentes ao turismo. O turismo no meio rural tem valorizado territórios e grupos sociais, de tal forma que a comunidade pode ser beneficiada, pois acaba compartilhando dos benefícios gerados, como demanda por novos postos de trabalho, melhoria de infraestrutura e serviços públicos. Os gestores familiares desses empreendimentos continuam a executar suas atividades agrícolas com maior ou menor prioridade econômica, já que a presença dos turistas contribui com a agregação de valor aos produtos locais, como artesanatos, culinária, entre outros. Joanópolis está entre as 29 Estâncias Turísticas do Estado de São Paulo devido sua riqueza em atrativos naturais. 78 São as diversas paisagens da Serra da Mantiqueira que atraem turistas de todos os lugares, principalmente da região Metropolitana de São Paulo, devido à facilidade de acesso que viabiliza o turismo aos finais de semana e a ocorrência de residências secundárias. Figura 30 - Mapa da localização de Joanópolis. No setor de serviços, mais da metade dos estabelecimentos atuam em atividades relacionadas ao turismo. SOLHA (2003) observou que o principal polo emissor de visitantes ao município é a capital de São Paulo, representando mais da metade (52,10%) da demanda turística real de Joanópolis. Visitantes de Guarulhos e do Grande ABC representaram em média 12,13% do fluxo total. Encontrou-se em menor parcela, visitantes de cidades vizinhas a Joanópolis, como é o caso de Bragança Paulista, Piracaia e Extrema, representando 13,28% do total. Para melhor compreensão das características do fluxo turístico na região, SOLHA (2003) segmentou a atividade em três principais grupos que merecem destaque, no que se refere ao planejamento do turismo no município, sendo eles: visitantes que possuem segunda residência (41,52%), turistas que se hospedam em hotéis e pousadas (26,96%) e grupo de excursionistas, que não utilizam hospedagem (31,52%). 79 O município atrai turistas dos mais variados perfis, que buscam experiências e sensações diferenciadas dos grandes centros urbanos. Existem diversas opções para o lazer, como um banho de cachoeira, praticar esportes radicais, caminhar por trilhas, fazer pescarias, participar de eventos culturais, saborear a culinária tradicional ou apenas desfrutar do clima e da tranquilidade do interior. O mapa turístico aponta os principais atrativos do município: Figura 31 - Mapa Turístico de Joanópolis. Fonte: Prefeitura de Joanópolis (2011). Disponível em <http://joanopolis.sp.gov.br/informacoes_geograficas.php> acessado em 15/10/2011. 80 ATRATIVOS TURÍSTICOS DE JOANÓPOLIS A Estância Turística de Joanópolis está localizada sobre a Serra da Mantiqueira, próximo às grandes regiões metropolitanas de São Paulo e Campinas, fazendo divisa com os municípios do Estado de Minas Gerais. A região possui grande riqueza natural, com destaque para o clima característico das montanhas e abundância em água, na forma de cachoeiras, rios e represa. É possível praticar atividades de aventura e ecoturismo, como realizar passeios de lanchas e chalanas, boia-cross, rapel, passeios de jipe, trilhas e meditação. Outro fator que engrandece o município é a ruralidade que sustenta a cultura tradicional de sua população através da agricultura, pecuária, religião, arquitetura e folclore, mexendo com o imaginário de visitantes de qualquer idade, principalmente através da figura carismática do Lobisomem. Os estabelecimentos rurais de Joanópolis tem o prazer em abrirem suas porteiras para o atendimento aos visitantes que procuram uma boa refeição, tranquilidade, conforto, entre outros serviços. CACHOEIRA DOS PRETOS Localizado a 18 km do centro de Joanópolis, a Cachoeira dos Pretos é uma das mais imponentes do Estado de São Paulo, apresentando uma queda d’água de 154 metros. Em seu deságue formando dois riachos de leito pedregoso, onde foi construído artificialmente um tanque destinado ao banho para crianças. Sua área de lazer conta com toda infraestrutura de estacionamento, banheiros, restaurantes, venda de artesanatos, boiacross, passeios ecológicos, passeios a cavalo, esportes, aventuras. 81 Figuras 32 e 33 – Balneário da Cachoeira dos Pretos - Joanópolis IGREJA MATRIZ DO PADROEIRO DE JOANÓPOLIS - SÃO JOÃO BATISTA Em 1878, moradores da região compreendida entre o alto curso dos rios Jaguari e Cachoeira, antigo Bairro do Curralinho, motivados pela fé, construíram uma cruz para festejar São João Batista no dia 24 de junho de cada ano. Em 1914 foi iniciada a construção da igreja, que somente foi concluída no ano de 1949. A Igreja Matriz possui imagens que vieram da Espanha, além de pinturas em seu interior. Ao redor da igreja há uma esplendorosa praça arborizada e o coreto da cidade. A praça da matriz é palco de diversas festividades religiosas que atraem visitantes de todas as regiões do país, como a festa de São João Batista, padroeiro da cidade. Figuras 34 e 35 – Igreja da Matriz - Joanópolis 82 BIODIVERSIDADE A biodiversidade local também pode ser encarada como um atrativo turístico para o município. A Araucária é um dos mais importantes símbolos de Joanópolis, representando a riquíssima biodiversidade encontrada na região. A vegetação nativa de Joanópolis soma aproximadamente 7.901 hectares, abrigando uma enorme diversidade de espécies da fauna e flora brasileira, muitas delas consideradas em Figura 36 - Araucária risco de extinção. Tal riqueza somente é possível devido ao clima e relevo característicos da Serra da Mantiqueira, aliado ao trabalho de toda a população em função da preservação ambiental. PEDRA DO LOPO A Pedra do Lopo encontra-se na divisa de municípios entre Joanópolis e ExtremaMG, a 9 km do centro de Joanópolis, cujo acesso pode ser feito através de estradas não pavimentadas e trilhas. Está a 1.727 metros de altitude, apresentando formações rochosas e mirantes com vista encantadora para a represa. A Pedra do Lopo é um atrativo bastante conhecido por abrigar o Figura 37 – Pedra do Lopo. “Gigante Adormecido”, uma formação rochosa que lembra a figura humana. O Gigante faz parte do folclore da região e guarda muitas histórias e lendas. 83 CULINÁRIA CAIPIRA A culinária típica da cultura caipira pode ser saboreada nos bares e restaurantes do município. O centro de Joanópolis restaurantes dispõe e de opções lanchonetes para de o atendimento a todos os gostos. No meio rural, muitos estabelecimentos oferecem café da manhã e refeições típicas da culinária caipira. Em alguns casos, é possível conhecer os sistemas produtivos, Figura 38 – Culinária caipira bem como as atividades do campo, em que priorizam os alimentos orgânicos, bem estar animal, higiene e o equilíbrio ecológico. PICO DO SELADO Na divisa entre Joanópolis e Monte Verde a 40 km do centro do município paulista, se encontra o Pico do Selado, o ponto mais alto de Joanópolis com cerca de 2070 metros de altitude. Chegar ao seu pico é um grande desafio devido à declividade acentuada. Para aqueles que ousarem chegar ao topo, tomem cuidado com as assombrações do Corpo-Seco, mais um mito do folclore local. Figura 39 – Pico do Selado 84 REPRESA DE JOANÓPOLIS O reservatório de água Jacareí faz parte do Sistema Cantareira de abastecimento de água para as regiões metropolitanas de São Paulo e Campinas, abrangendo uma área de 20.291 hectares na divisa de municípios entre Joanópolis e Piracaia. Desde a conclusão de sua obra, no início da década Figura 40 – Represa Jacareí de 80, a represa tornou-se um atrativo para aqueles que se interessam por passeios e esportes aquáticos, além das belas paisagens e o espelho d’água. O turismo rural tem grande destaque no turismo de Joanópolis. Este tipo de atuação pode ser entendido como segmento do turismo desenvolvido em áreas rurais produtivas e que atuam na hospedagem dos visitantes, permitindo-os participarem das diferentes atividades agropecuárias desenvolvidas neste espaço, quer como lazer ou como aprendizado. E, é preciso lembrar que essa atividade prioriza a produção orgânica pela presença de um público cada vez maior e mais exigente por alimentos saudáveis. O turismo ecológico ou ecoturismo é definido pela EMBRATUR (1994) como sendo outra modalidade da atividade turística, voltada à consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, em que o patrimônio natural é utilizado de forma sustentável, por diversas atividades de aventura e contemplação da paisagem, animais selvagens, entre outras, incentivando sua conservação. SOUZA (2007) lembra que, embora o trânsito de pessoas e veículos possa ser agressivo ao estado natural dos ecossistemas, os defensores de sua prática argumentam que, o ecoturismo contribui para a preservação dos mesmos, pois é um dos principais meios de se propor educação ambiental e permite a integração e o desenvolvimento econômico das comunidades locais. O autor SOUZA (2007) afirma ainda que essa atividade somente pode ser implementada caso haja um processo eficiente de fiscalização, orientação e disciplina do uso e ocupação do solo nesta região, com controle da expansão urbana nas áreas desejadas e desestímulo nas áreas não recomendáveis. 85 Deve se conscientizar que os recursos hídricos da região não são infinitos e que o tratamento dispensado na atualidade já indica que num futuro breve, boa parte da população enfrentará problemas maiores de escassez de água e doenças transmitidas pelas vias hídricas. Considerando a importância da conservação dos recursos naturais em Joanópolis, região totalmente inserida nas Áreas de Preservação Ambiental – APAs e predominantemente agroturística, é necessário estabelecer um modelo de ocupação voltado à recuperação e preservação dos recursos hídricos, a fim de promover a adequação ambiental dos estabelecimentos rurais, empregando um conjunto de boas práticas aplicadas à agropecuária e atentando aos danos ambientais provocados pelo fluxo de visitantes aos finais de semana e feriados, pois consequentemente aumentam a pressão de ocupação sobre a região. O excesso de carga humana sobre as áreas de lazer, principalmente aquelas que se inserem nas áreas de APP, tornam estas áreas passíveis de degradação. O aumento da população flutuante é preocupante, principalmente no que diz respeito à qualidade dos recursos hídricos. Isso porque, com o aumento do número de pessoas que usufruem de uma região, aumenta-se também a carga orgânica produzida nessa localidade. São muitos os estabelecimentos localizados no meio rural de Joanópolis que ainda utilizam as fossas negras como sistema individual para o saneamento dos efluentes domésticos. Este sistema não é protegido, permitindo a infiltração de substâncias poluentes e microorganismos patogênicos que atingem os lençóis freáticos e se misturam a água que aflora nas nascentes. Obviamente, esta situação pode trazer graves problemas de saúde pública, bem como implicar negativamente sobre o aproveitamento dos recursos naturais, principalmente hídricos. Nesse contexto, recomenda-se entre as práticas de conservação voltadas ao uso das terras, ações não agrícolas, mas que possuem grande importância sobre a qualidade da água produzida, como o uso de fossas sépticas biodigestoras e proteção das nascentes, principalmente aquelas utilizadas para o abastecimento dos estabelecimentos. Em 2011, durante as entrevistas com os produtores rurais de Joanópolis e instituições públicas municipais e estaduais que atuam na região, a Associação Terceira Via identificou que o turismo rural, principalmente o aluguel de casas de campo, chalés e pousadas vem se tornando uma atividade comum nas propriedades rurais de Joanópolis, 86 contudo, ainda se comportando como atividades secundárias na maioria desses estabelecimentos. De acordo com SOLHA (2003), a maior parte das hospedagens está localizada entre o raio de 5 a 15 km do centro urbano, podendo chegar a 26 km, cujo acesso normalmente é feito por estradas vicinais não pavimentadas. A falta de infraestrutura tem prejudicado o acesso do turista ao meio rural devido a falta de placas de sinalização e informações turísticas e a má condição das estradas, principalmente no verão em que ocorrem as chuvas. Algumas oportunidades e adversidades foram citadas durante o Diagnóstico Participativo realizado junto aos moradores da microbacia da cachoeira dos pretos, realizado pela Associação Terceira Via durante a execução do projeto “Novo modelo de preservação e recuperação dos recursos hídricos”, conforme a tabela apresentada abaixo: Oportunidades e ameaças para o Turismo de Joanópolis PONTOS FORTES PONTOS FRACOS Clima Administração do Governo Ruralidade Falta de Parcerias governamentais Proximidade RMSP e Campinas Segurança Cultura Saúde Localização Geográfica Identidade Rios Mão de Obra Cachoeiras Receptividade Montanhas Política voltada ao turismo Florestas Falta de restaurantes para jantar Agricultura Falta posto de informações ao turista Fauna Silvestre Estradas mal conservadas Recursos Naturais Constante falta de energia no campo Festa do Santo Sinalização Carnaval Prefeitura Municipal Empreendedorismo Hospedagem urbana 87 Histórico do município Infraestrutura urbana Festas comemorativas União da população Preservação de edificações antigas Lixo Número de habitantes Falta atendimento turístico durante a semana Hospitalidade Preparo para o turismo ecológico Distância entre pontos Política ambiental Pessoas com vontade de trabalhar Atividades noturnas Cachoeira dos Pretos Falta de festivais culturais Represa Plano diretor Oportunidade para esportes náuticos Falta de conscientização para preservação das faixadas Criação de cabras Queijarias Cachoeira dos Pires Trilha do gigante Rampa Asa-delta Trilha revolução de 32 Limpeza dos rios Trilhas nas matas Lobisomem Acesso fácil População Proximidade com S. Francisco Xavier e Monte Verde Estrada do Retiro Cancan Pedra do Selado Fonte: OSCIP TERCEIRA VIA (2012). Foi observado no trabalho de PIVA, et al. (2008) que a opinião dos moradores dos bairros rurais sobre o desenvolvimento do turismo está dividida em pessoas que acreditam que esta atividade venha a gerar empregos e desenvolvimento ao município e outras que se preocupam com o aumento da violência na zona rural, temendo que a atividade exponha a comunidade à brigas, drogas e assaltos. 88 Por iniciativa da Secretaria Municipal do Turismo e parcerias com o SENAR, o setor do Turismo está se organizando e capacitando os profissionais da área através de cursos, oficinas e visitação a outras propriedades. O programa de turismo rural das Secretarias de Agricultura e Turismo do município realizou sua 4ª edição em 2012, capacitando ao todo cerca de 60 pessoas que atuam nesta atividade. Seu principal objetivo é fomentar o turismo rural em Joanópolis fornecendo ferramentas que identifiquem os recursos encontrados no meio e implantem negócios de acordo com a vocação do produtor agregando assim valor à propriedade de maneira lucrativa e sustentável. Além das instituições públicas, a OSCIP Terceira Via, através do Projeto “Novo Modelo de Preservação e Recuperação dos Recursos Hídricos” realizado em parceria da CATI- Casa da Agricultura de Joanópolis e apoiado pelo Fundo Estadual de Recursos Hídricos – FEHIDRO promoveu em 2012 a articulação dos produtores rurais de Joanópolis e demais envolvidos com o turismo rural da região, oferecendo curso de capacitação com o objetivo de explorar mais o turismo sustentável, do ecoturismo, lazer e aventura, de forma alternativa ao turismo de massa, que teve grande aumento nos últimos anos em Joanópolis. Juntamente ao curso de capacitação, foi realizado e apresentado o planejamento da microbacia hidrográfica da Cachoeira dos Pretos para a exploração sustentável dos recursos naturais, com foco no uso conservacionista do solo e da água. Joanópolis possui um COMTUR – Conselho Municipal de Turismo – formado por representantes de diversos setores da cidade, com o objetivo de cobrar ações do poder público e acompanhar o andamento das ações em desenvolvimento. A Secretaria Municipal do Turismo junto ao COMTUR criaram em 2010, o Fundo Municipal do Turismo (FUMTUR), que através de arrecadações em eventos e cobranças da entrada de ônibus de excursões nos pontos turísticos. Este fundo garante autonomia para que haja pequenos investimentos nesse setor. 3.4.4 Sociobiodiversidade e seus produtos Um total de 186 espécies foi citado pelos entrevistados, sendo que 93 são nativas (Tabela 1), 80 exóticas (Tabela 2) e 13 espécies não foram identificadas. 89 Algumas espécies foram mencionadas em ambos os municípios, das 114 espécies listadas para Nazaré Paulista 58 são nativas, 49 são exóticas e 07 não foram identificadas (barba-de-camarão, cipó-cruz, erva-de-raposa, flor-de-maria-marisco, mircinária, rebarba, rosário) e em Camanducaia, das 138 espécies catalogadas, 76 são nativas, 56 são exóticas e 06 não foram identificadas (cipó-de-São-Domingos, embira, folha-de-conta, japecanga-semespinho, morcego, serralha-gigante). Tabela 1 – Plantas medicinais nativas utilizadas na área de estudo Família Nome científico Nome Popular Acanthaceae Justicia pectoralis Anador/Erva-de-Santo-Antonio Alismataceae Echinodorus grandiflorus Chapéu-de-Couro Amaranthaceae Alternanthera brasiliana (L.) O. Kuntze Perpétua Amaranthaceae Alternanthera dentata (Moench) Stuchlik Terramicina Amaranthaceae Chenopodium ambrosioides L. Erva-de-Santa-Maria Amaranthaceae Gomphrena celosioides Mart. Perpétua Amaranthaceae Pfaffia paniculata (Mart.) Kuntze Para-tudo Anacardiaceae Schinus terebinthifolia Raddi Aroeira Angiospermae – Hypoxidaceae Hypoxis decumbens L. Cebolinha-do-Mato/Tiririca Angiospermae – Trigoniaceae Trigonia nívea Cipó-Prata Annonaceae Annona sp. Araticum Mirim Aquifoliaceae Ilex paraguariensis A. St.- Hill Erva-mate Araceae Taccarum ulei Jararaca Araucariaceae Araucária angustifolia Nó-de-pinho Aristolochiaceae Aristolochia triangularis Mart. & Zucc. Cipó-mil-homens Asclepiadaceae Asclepias curassavica L. Oficial-de-sala Berberidaceae Berberis laurina Braço-forte/calafate Bignoniaceae Dolichandra unguis cati Unha-de-gato Bignoniaceae Handroanthus impetiginosus Ipe-roxo Bignoniaceae Jacarandá mimosaefolia Caroba, Carobinha do Campo Bignoniaceae Pyrostegia venusta Cipó-de-São-João Bromeliaceae Ananas sp. Abacaxi Caprifoliaceae Sambucus australis Sabugueiro Cecropiaceae Cecropia pachystachya Trécul Embaúba-branca Celastraceae Maytenus aquifolium Espinheira-santa Commelinaceae Tradescantia elongata Trapoeraba Compositae- Asteraceae Acanthospermum australe (Loeft.) Kuntze Carrapicho-de-carneiro Compositae - Asteraceae Achyrocline satureioides / alata Macelinha/Macela Compositae – Asteraceae Ageratum conyzoides L. Erva-de-São-João 90 Compositae – Asteraceae Artemisia alba Canfora Compositae – Asteraceae Baccharis dracunculifolia DC. Alecrim-do-campo Compositae – Asteraceae Baccharis trimera Carqueja Compositae – Asteraceae Bidens pilosa Picão Compositae - Asteraceae Chaptalia nutans (L.) Pohl Lingua-de-vaca Compositae - Asteraceae Egletes viscosa (L.) Less Marcela-galega Compositae - Asteraceae Elephantopus mollis Kunth Pata-de-elefante Compositae - Asteraceae Mikania glomerata Spreng Guaco/Cipó-sete-sangrias Compositae - Asteraceae Mikania hirsutissima Cipó-cabeludo Compositae - Asteraceae Solidago chilensis Arnica Compositae- Asteraceae Vernonia polyanthes Assa-peixe-branco Compositae Vernonia glabrata Less Assa-peixe-roxo Cruciferae - Brassicaceae Coronopus didymus Mentruz Curcubitaceae Cayaponia podantha Taiuiá Dioscoraceae Dioscorea sp. Cará Erythroxylaceae Erythroxylum deciduum Catuaba, Fruta de pomba Euphorbiaceae Croton urucurana Capixingui Euphorbiaceae Euphorbia hirta Erva-andorinha Euphorbiaceae Phyllanthus niruri Quebra-pedra Fabaceae - Mimosoideae Anadenanthera colubrina Angico-branco Fabaceae – Mimosoideae Stryphnodendron adstringens Barbatimão Ganodermaceae Ganoderma sp. Cogumelo serpente Guttiferae - Clusiaceae Hypericum brasiliense Choisy Alecrim-bravo Icacinaceae Villaresia congonha Chá-de-Bugre Labiatae – Lamiaceae Hyptis mutabilis Alfavaca-brava Labiatae - Lamiaceae Peltodon radicans Pohl Rabo-de-cachorro Lauraceae Ocotea odorífera Sassafrás Leguminosae - Caesalpinioideae Bauhinia forficata Pata-de-vaca (árvore) Leguminosae Erythrina mulungu Mulungu Loranthaceae Phoradendron rubrum Erva-de-passarinho Lycopodiaceae Lycopodium sp. Licopodium Lythraceae Cuphea carthagenensis Sete-sangrias-do campo Malvaceae Sida rhombifolia L. Guanxuma Meliaceae Cedrela odorata L. Cedro-rosa Menispermáceas Cissampelos parreira / Cissampelos glaberrima Abutua Moraceae Dorstenia asaroides Caiapiá Myrtaceae Eugenia uniflora Pitanga Myrtaceae Psidium guajava Goiabeira Passifloraceae Passiflora sp. Maracujá Phytolaccaceae Phytolacca americana Tintureira 91 Piperaceae Piper aduncum L. Pimenta-brava Piperaceae Piper umbellatum Pariparoba Plantaginaceae Plantago australis Transagem Polygalaceae Polygala paniculata Barba-de-São-João Pteridaceae Pteris aquilina Varabi Rosaceae Rubus sellowii Amoreira, Amoreira-brava Rubiaceae Richardia brasiliensis Ipecacuanha Scrophulariaceae Buddleja stachyoides Verbasco, Calção-de-Velho Scrophulariaceae Scoparia dulcis L. Vassourinha Simarubaceae Simarouba amara Quassia / Quina Siparunaceae Siparuna brasiliensis Limão-bravo Smilacaceae Smilax japecanga Japecanga/ Salsaparrilha Solanaceae Physalis angulata L. Joa/Juapoca Solanaceae Solanum cernuum Vell. Bolsa-de-pastor anaceae Solanum erianthum Guavetinga Solanaceae Solanum paniculatum L. Jurubeba Solanaceae Solanum viarum Juá-bravo – Solanum Umbeliferae – Apiaceae Hydrocotyle bonariensis Lam. Erva-capitão Verbenaceae Lantana camara L. Lantana/Cambará Verbenaceae Lippia alba Erva-cidreira Verbenaceae Stachytarpheta cayennensis (Rich.) Vahl Verbena/Gervão-verdadeiro Violaceae Anchietia salutaris Cipó-suma Vitaceae Cissus verticillata Insulina em folha Winteriaceae Drimys winteri Casca d'anta Tabela 2 – Plantas medicinais exóticas utilizadas na área de estudo Família Nome científico Nome Popular Anacardiaceae Mangifera indica Manga Angiospermae - Compositae - Asteraceae Soliva anthemifolia (Juss.) Sweet Cuspe-de-caipira Angiospermae – Gramineae (Poaceae) Melinis minutiflora Capim-gordura Araceae Colocasia antiquorum Taioba Boraginaceae Borago officinalis L.* Borragem Boraginaceae Symphytum officinale L. Confrei Caricaceae Carica papaya Mamoeiro Compositae Taraxacum officinale Weber Dente-de-leão Compositae – Asteraceae Achillea millefolium Novalgina/Mil-folhas Compositae – Asteraceae Artemisia absinthium L. Losna Compositae - Asteraceae Artemisia vulgaris Artemisia Compositae - Asteraceae Arctium minus (Hill) Bernh Bardana 92 Compositae - Asteraceae Chamomilla recutita Camomila Compositae - Asteraceae Emilia fosbergii Serralhinha Compositae - Asteraceae Lactuca sativa Alface Compositae - Asteraceae Silybum marianum Cardo-Mariano Compositae - Asteraceae Sonchus oleraceus Serralha Compositae - Tanacetum vulgare Catinga-de-mulata Compositae - Asteraceae Vernonia condensata Baker Boldo Crassulaceae Sedum dendroideum Bálsamo Cruciferae – Brassicaceae Brassica rapa Mostarda Cruciferae – Brassicaceae Nasturtium officinale Agrião Curcubitaceae Sechium edule (Jacq.) Sw. Chuchu Equisetaceae Equisetum hyemale Caninha-do-brejo, Cavalinha, bambuzinho Euphorbiaceae Ricinus communis Mamona Geraniaceae Geranium nepalense Nogui Gramineae – Poaceae Cymbopogon citratus Erva-cidreira-capim Gramineae - Poaceae Zea mays Milho Hamamelidaceae Hamamelis virginiana* Hamamelis Juglandaceae Carya illinoenses (Wang) K. Pecã (noz) Labiatae Nepeta glechoma Hera-terrestre Labiatae – Lamiaceae Lavandula angustifólia Alfazema Labiatae – Lamiaceae Leonotis nepetaefolia (L.) R. Br. Rubi/Rubim Labiatae - Lamiaceae Leonurus sibiricus L. Rubi/Rubim, Mato-chimango Labiatae - Lamiaceae Melissa officinalis Melissa Labiatae - Lamiaceae Mentha pulegium Poejo Labiatae - Lamiaceae Mentha sp. Hortelã Labiatae - Lamiaceae Mentha sp. Levante, alevante, elevante Labiatae - Lamiaceae Ocimum basillicum L. Manjericão Labiatae - Lamiaceae Ocimum gratissimum Alfavaca/Alfavacão Labiatae - Lamiaceae Origanum vulgare Manjerona Labiatae - Lamiaceae Plectranthus barbatus Boldo Labiatae - Lamiaceae Plectranthus neochilus Boldozinho Labiatae - Lamiaceae Rosmarinus officinalis Alecrim Lamiaceae Tetradenia riparia Incenso/Mirra Lauraceae Persea americana Abacateiro Leguminosae Mucuna pruriens Pó-de-mico Leguminosae – Papilionoideae Piscidia erythrina Timbó-de-pelota/ Timbó Liliaceae Aloe arborescens Babosa Liliaceae Allium sativum Alho Asteraceae 93 Malvaceae Malva sylvestris Malva Moraceae Morus alba Amora-de-árvore Myrtaceae Eucaliptus globulus Eucalipto branco Olaraceae Brassica sp. Couve Oxalidaceae Oxalis sp. Trevo-azedo Poaceae Saccharum officinarum L. Cana Polygonaceae Polygonum persicaria Erva-de-bicho Polygonaceae Rumex crispus Lingua-de-vaca Primulaceae Primula officinalis Primula Pteridaceae Adiantum capillus Avenca Punicaceae Punica granatum L. Romã Rosaceae Fragaria vesca Fragaria, Morango silvestre europeu Rosaceae Malus pumila Macieira Rosaceae Rosa alba Rosa-branca Rutaceae Citrus sinensis Laranjeira Rutaceae Citrus sp. Limeira Rutaceae Citrus sp. Limoeiro Rutaceae Ruta graveolens Arruda Scrophulariaceae Digitalis purpurea Dedaleira Tiliaceae Tilia sp. * Tilia Umbelíferas Angelica archangelica* Angélica Umbelliferae – Apiaceae Centella asiatica (L.) Urban Centela/Pata-de-cavalo Umbelliferae - Apiaceae Foeniculum vulgare Erva-doce Urticaceae Parietaria officinalis Parietária Urticaceae Urtica dióica Urtiga Urticaceae Urtica urens Urtiga Valerianaceae Valeriana officinalis* Valeriana Zingiberaceae Alpinia zerumbet Pacova Zingiberaceae Curcuma longa Açafrão Zingiberaceae Zingiber officinale Gengibre http://www.uff.br/revistavitas/images/artigos/HOEFFEL%20et%20al.%20CONHECIMENTO%20TRADI CIONAL%20E%20USO%20DE%20PLANTAS%20MEDICINAIS.pdf 94 4. Sistematização de Experiências 4.1 Sistematização de experiências - Joanópolis A Embrapa, através do Grupo de Agroecologia da região Leste Paulista, buscou por iniciativas agroecológicas na região de Joanópolis, as quais foram indicadas pela Associação Terceira Via nove estabelecimentos rurais e selecionadas quatro para visitação. As propriedades selecionadas foram: 4.2 Sistematização de Experiências - São Paulo e Minas Gerais 4.2.1 Associação Yamaguishi Em 1953 foi lançada no Japão por um agricultor chamado Miyozo Yamaguishi, a ideia e o plano de realização de uma sociedade ideal. Essa Sociedade tem como base a harmonia da Natureza com a ação humana. Deu-se então início ao que se chamou de Movimento Yamaguishismo e, através das pessoas que se reuniram concordando e apoiando esse movimento, foi fundada a Associação Yamaguishi Associação Felicidade. Através dos seus pensamentos foram criadas ao redor do mundo diversas vilas agrícolas, denominadas Vilas Yamaguishi. Podemos encontrar dessas vilas no Brasil, Suíça, Alemanha, EUA, Coréia, Tailândia, Austrália e em mais de 40 locais no Japão. Aqui no Brasil ela está localizada na região do município de Jaguariúna, Interior de São Paulo. Figura 41: Rod. SP - 340, Km138 - Jaguariúna - SP – Brasil Fonte: Google Earth. 95 Nas Vilas Yamaguishi são produzidas verduras e frutas de alta qualidade. Os galpões arejados, cômodos e bem estruturados são os locais onde se criam pintinhos desde seu nascimento. Estes desenvolvem desde cedo a capacidade de absorver o máximo dos nutrientes de sua alimentação, tornando-se aves fortes e vigorosas que vivem em ambiente confortável sem stress e de maneira natural. Na Agricultura Yamaguishi, vastas áreas agrícolas são preparadas para serem compatíveis com a criação de animais, desta maneira pode-se adquirir capim para o ano todo, independente do clima. A Associação Yamaguishi é fruto de um coletivo de trabalho onde predomina uma gestão participativa, ou seja, todas as decisões são tomadas em instâncias coletivas. As pessoas que desenvolvem o trabalho na Vila Agrícola contam com um forte processo de capacitação técnica e gerencial, fortalecendo o conhecimento do método desenvolvido pela Associação. Todas as atividades exercidas diariamente fazem parte de um processo de divisão de tarefas e trabalho. Há formalização de contrato de relação de trabalho entre produtores e o empreendimento sendo a forma de contratação pela CLT. Além desses colaboradores a Associação conta também com o trabalho de voluntários, que querem usufruir de todo o processo a fim de obterem conhecimento e aprender um pouco mais sobre o Sistema de Agroflorestas e tudo que envolve esta forma de vida agregada a valores que ultimamente estão esquecidos. Sua atuação no mercado de orgânicos já está muito bem consolidada, possuindo também certificação da ANC – Associação de Agricultura Natural de Campinas e Região, certificado este que garante que os produtos oferecidos seguem as normais internacionais para produtos orgânicos segundo a legislação oficial. Os produtos oferecidos são de uma grande variedade: VERDURAS E FOLHAS, LEGUMES, TUBÉRCULOS E RAÍZES OVOS E FRUTAS Os produtos produzidos pela Associação Yamaguishi são oferecidos em feiras, estabelecimentos estáveis e até mesmo por pedidos feitos on-line, onde o comprador pode escolher em retirar o pedido na Vila Yamaguishi, ou se ele morar na região e suas proximidades recebê-los em sua residência. 96 4.2.2 Fazenda Santo Antônio da Água Limpa– Mococa – SP A Fazenda Santo Antônio da Água Limpa esta localizada no município de Mococa - SP uma cidade situada ao nordeste do estado de São Paulo, entre as bacias dos rios Pardo e Canoas. Ela está a uma altitude de 640 m em relação ao nível do mar e o seu clima é temperado. A precipitação pluviométrica média anual é de 1.560,2 mm. Sua população hoje é de 75 mil habitantes e as principais atividades econômicas são a agropecuária, o comércio, a indústria e o turismo. Figura 42: Localização da Fazendo Santo Antonio da Água Limpa. Fonte: http://fazendasantoantoniodaagualimpa.com. O Sr. João Pereira Lima que é o proprietário e herdeiro da fazenda nos dias de hoje, A partir de 1990 deixou de usar qualquer tipo de veneno utilizando somente adubo orgânico e em 1996, extinguiu de vez o uso de todo e qualquer tipo de adubo, partindo para agricultura natural. A partir daí ressurge a ideia da produção em meio natural, com toda a diversidade que a própria natureza oferece, utilizando-se dos valores antes esquecidos no plantio convencional. 97 Assim, foi criada a nova missão para a Fazenda Santo Antônio da Água Limpa, a instalação de uma floresta, retornando as condições semelhantes as de 1822, floresta esta que proporciona excelentes moradias para os microrganismos, para os vegetais (nativos e exóticos) e todos os animais silvestres e domésticos que tiverem aptidão para ali viverem. Indicadores do sucesso ou não desse modelo são bem simples e por outro lado, raros de encontrar hoje em dia: o sabor diferenciado das colheitas, um solo cada dia mais fértil, o retorno da vida em nascentes de água e por consequência a água mais limpa, e o ar mais puro, para todos trazendo à tona o conceito de Agroflorestas. A principal forma de se atingir um plantio de forma natural acabou sendo um conceito simples da ecologia, o EQUILÍBRIO. Desta forma alguns problemas que existiam desde o tempo da agricultura convencional, começaram a serem resolvidos com práticas oferecidas pela própria natureza, por exemplo, do crescimento do capim que foi resolvido com a introdução do gado, cavalos, porcos e outros animais que ali pudessem viver de forma harmoniosa, para isso só foi necessário o cercamento da propriedade. Além disso, foram plantadas diversas árvores de espécies variadas, outro diferencial muito grande dos moldes já conhecidos, que acabam cortando árvores existentes para darem lugar a área de plantio em forma de monocultura. Essas árvores foram e são de extrema importância nesse processo, através delas foram surgindo pequenas matas, que por si só se desenvolveu, criando habitats para o surgimento de muitas outras espécies de plantas, árvores e arbustos germinados também pelo retorno da fauna da região à Fazenda. A Agrofloresta criada na Fazenda Santo Antônio das Água Limpa, é nada além de, se tentar viver em harmonia com a natureza, além dos já citados caminhos para se chegar a esse equilíbrio também foram plantadas na Fazenda novas árvores de café e exemplares de manga, abacate, jabuticaba, mamão, goiaba, limão, laranja, banana, amora, tangerina, caqui, palmeiras, jequitibá, peroba, juçara, mandioca, milho, feijão, pimentas, serralha, orapro-nobis, beldroega, urtiga, shitake, etc. Estas condições proporcionam uma moradia perfeita para toda fauna e flora, onde tudo isso cria um ambiente farto e acolhedor, onde se pôde cumprir a missão dos proprietários da fazenda com sustentabilidade e saborosas colheitas. 98 E o curioso é que acaba se obtendo colheita o ano todo, de janeiro a janeiro, e não tem nada mais gratificante para o agricultor que este momento - o da colheita. 4.2.3 Sítio Olho D’água – Mogi das Cruzes – SP O Sítio Olho D’Agua está localizado na zona rural de Mogi das Cruzes - SP, Rod. Dom Paulo Rolim Loureiro km 67,5, situada na região leste da Grande São Paulo, no Alto Tietê e a uma altitude média de 780 metros. Seu ponto mais alto é o pico do Urubu com 1.160 metros, localizado na serra do Itapety. O município é cortado por duas serras: a Serra do Mar e a Serra do Itapety e ainda pelo Rio Tietê. Em seu território se encontram duas represas que fazem parte do Sistema Produtor do Alto Tietê, os reservatórios de Taiaçupeba e do rio Jundiaí. O clima do município, como em toda a Região Metropolitana de São Paulo, é o subtropical. O verão é pouco quente e chuvoso; o inverno, ameno e subseco. A média de temperatura anual gira em torno dos 20°C, sendo o mês mais frio julho (média de 15°C) e o mais quente fevereiro (média de 27°C). O Índice pluviométrico anual fica em torno de 1.300 mm. Figura 43: Localização do Sítio Olho D’Água. Fonte: Google earth. 99 As atividades no sítio se iniciaram em 2007, com um pequeno grupo de estudos de permacultura, do qual o antigo proprietário era integrante e sendo assim ofereceu a sua propriedade para que acontecessem esses encontros e práticas. Desses encontros, os primeiros projetos concluídos foram à implementação de um sistema de tratamento de esgoto de uma das casas e um banheiro seco. Com esses encontros acontecendo cada vez mais, teve-se a ideia de trazer professores, facilitadores para oferecerem cursos sobre a temática, onde os participantes do grupo de estudos e outros participantes tivessem a possibilidade de obter novos conhecimentos e trocarem informações. Em 2010 o grupo começou a se desfazer naturalmente e cada participante foi tomando seu rumo, e neste momento o dono da propriedade vendeu o sítio para Rafael Bueno, um dos seus colegas do grupo de estudo, que em 2011 fez do sítio sua moradia e de sua família. O novo proprietário foi retomando as antigas atividades, sempre pensando em atividades voltadas para o desenvolvimento humano em geral, como grupos de yoga, práticas de meditação, de dança, de música. Ao decidirem viver no campo pensaram em alcançar a autonomia na produção de alimentos. O trabalho evoluiu havendo a necessidade de ampliar a mão de obra, assim está se formando uma cooperativa, foi o sistema escolhido por Rafael, fora dos padrões convencionais de trabalho, criando outro jeito de se relacionar, onde as pessoas trabalharão com o que gostam e se sentem bem trabalhando no formato de autogestão, onde cada um soma com o que sabe, e onde tudo será dividido inclusive as sobras de alimento. O sítio também tem caráter educacional, o espaço já recebe voluntários, programa este que funciona faz um ano, inclusive estrangeiros, estes estão sempre à procura de novos conhecimentos, além de ajudar em todo o processo que envolve a propriedade, havendo uma grande troca de informação. Ainda se pretende criar uma fundação, associação, caminho este que já esta sendo formatado. Outro programa que já está em andamento também é o de estágio, algo de caráter técnico/científico e ainda com direito ao certificado, um dos estudos em andamento é o 100 projeto de um novo sistema de irrigação para o espaço, buscando moldes eficientes fora dos convencionais, sempre colocando os recursos naturais em primeiro plano. Hoje a produção agroecológica é uma fonte de renda, a produção já paga os custos do sítio e há um funcionário registrado. A intenção é diversificar a produção, com isso hoje a família quase não entra no supermercado e o contato com outros produtores e outros fornecedores favorece a aquisição de frutas, arroz, farinha e outros produtos. E ainda estão dando entrada no sistema participativo de garantia – SPG4. 4.2.4 SÍTIO ÁLBERI – ATIBAIA -SP O sítio Álberi está localizado no município de Atibaia, situada a sudeste do Estado de São Paulo, Atibaia abrange uma área de aproximadamente 490 km², sendo 57% zona rural e 43% zona urbana. Atualmente, a população gira em torno de 140.603 mil habitantes (IBGE). O clima de Atibaia é Tropical de altitude, tendo invernos relativamente frios e secos e verão quente e chuvoso. Figura 44: Bairro de localização da propriedade. Fonte: Google Earth. 4 Os Sistemas Participativos de Garantia – SPG caracterizam-se pela responsabilidade coletiva de seus membros, que podem ser produtores, consumidores, técnicos e quem mais se interesse em fortalecer esses sistemas. Os métodos de geração de credibilidade são adequados a diferentes realidades sociais, culturais, políticas, territoriais, institucionais, organizacionais e econômicas. O SPG tem que possuir um Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade – OPAC, legalmente constituído e credenciado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, cuja responsabilidade é avaliar a conformidade orgânica dos produtos, incluir os produtores orgânicos no Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos e autorizá-los a utilizar o selo do SISORG, permitindo assim que os produtos sejam reconhecidos em todo o território nacional igualmente à certificação por auditoria. 101 Desde 2008 o Sítio Álberi, voltado para produção de alimentos orgânicos, tem por princípio o desenvolvimento da agricultura organizada localmente e baseada em recursos renováveis. Toda atividade está voltada a ações que promovam o consumo responsável e a prática do comércio justo para a oferta de produtos saudáveis e isentos de agrotóxicos. Figura 45: Sítio Álberi. Fonte: Ting Ação Ambiental. O sítio possui 27 hectares de terra, sendo que 12 hectares é uma APP – Área de Preservação Permanente, que representa cerca de 40% da propriedade, o restante - 15 hectares é utilizado para o plantio. O cultivo respeita sempre o tempo de descanso da terra havendo a rotatividade de seu uso. Figura 46: Tempo de descanso da terra – Sítio Álberi. Fonte: Ting Ação Ambiental. 102 A comercialização dos produtos cultivados no sítio se iniciou em 2011, primeiramente com a montagem de cestas com produtos orgânicos. Ampliaram seus serviços com a venda delivery e a participação em feiras de orgânicos como na da cidade de Guarulhos, já citada nesta edição. A partir deste ano devido ao serviço delivery ter se tornado inviável surgiu a ideia de se buscar parceiros para a venda no atacado. O número de culturas foi reduzido para dar direcionamento a produção e objetivando se atingir uma maior escala. Segundo técnicos envolvidos no plantio e comercialização de produtos embora se ganhe menos por cada produção, o período de venda é bem maior, sendo assim, uma ótima saída para o produtor e para o distribuidor. Figura 47: Produção orgânica. Fonte: Ting Ação Ambiental. Hoje, nesta nova estrutura, são produzidos; tomate, cenoura, beterraba, abobrinha italiana, rabanete e estão focados nestes produtos para o plantio de verão. Isso até abril não será modificado, a partir de maio estarão concentrados no plano inverno podendo ser inseridos outros produtos. 103 4.2.5 FAZENDA ATALANTA – EXTREMA - MG A Fazenda Atalanta está localizada no município de Extrema, município brasileiro do Estado de Minas Gerais. Sua população estimada era de 31.693 habitantes, em 2013 (IBGE). Situa-se a 492 km da Capital do Estado de Minas Gerais. Apresenta uma área de 243,099 Km², está a 973 m de altitude e apresenta clima tropical de altitude. . Figura 48: Município de Extrema – MG. Fonte: Google Earth. A Fazenda Atalanta é um Centro de Referência em preservação ambiental, agricultura e sustentabilidade. É uma estrutura educadora que tem como principal atividade a disseminação do conhecimento e a troca de saberes relativos à: agricultura biodinâmica e orgânica, agroecologia, permacultura, alimentação saudável, ritmos astronômicos, práticas harmônicas de convivência, cura, arte e desenvolvimento humano, proporcionando bemestar integral. Sua Missão é trabalhar pela reconexão do ser humano com a natureza interior e exterior, contribuindo com o despertar de uma consciência mais observadora, sensível, amorosa e integrada. 104 Figura 49: Fazenda Atalanta, Extrema – MG. Fonte: Ting Ação Ambiental. Os trabalhos na Fazenda foram ativados em 2010 e desde então se iniciaram os plantios, o trabalho com grupos através de cursos, voluntariados, mutirões e vivências. Estes abordam diversos temas desde agricultura, tratamento de água, permacultura, alimentação saudável, ervas medicinais, astronomia, bioconstrução, avaliação e impactos ambientais, plano de manejo entre outros. Para o ano de 2014 planejam já para o mês de janeiro um programa de voluntariado onde trabalharão com diversas atividades. Os mutirões e voluntariados realizados na Fazenda têm como objetivo o processo participativo de aprendizagem, onde se aprende praticando, participando e experiênciando. Com esta iniciativa todos ganham, pois há uma completa troca de experiências na construção de algo concreto ou na realização de atividades que beneficiem o Planeta. Para 2014 também planejam fortalecer os cursos, abrir a Fazenda para receber escolas e implantar um sistema modelo de Agrofloresta. Trabalham com metodologias que beneficiam a Terra e as pessoas, entre estas metodologias estão a agroecologia e a permacultura. Como um Centro de Referência trabalha com técnicas que possam ser replicadas. Procuram utilizar materiais acessíveis e ter na Fazenda modelos e estruturas construídas através de mutirões, voluntariados e cursos como forma de criar ensinando, trocando e compartilhando conhecimento. Assim, todas as pessoas que participam das atividades da Fazenda podem replicar e reproduzir os aprendizados adquiridos. 105 Figura 50 e 51: Compostagem e Zona de raízes para o tratamento de esgoto. Fonte: Ting Ação Ambiental. Atualmente a renda vem de cursos e vivências ministradas na Fazenda e da venda dos excedentes da produção agroecológica. A maior parte da produção é para consumo próprio, abastecimento das atividades (curso e vivências) e fornecimento de cestas para as pessoas que visitam a Fazenda. Figuras 52 e 53: Flores comestíveis e Produção Agroecológica. Fonte: Ting Ação Ambiental. 106 4.2.6 SÍTIO DUAS CACHOEIRAS – SDC – AMPARO – SP. O Sítio Duas Cachoeiras possui 29,7 ha, está localizado na cidade de Amparo, interior do Estado de São Paulo, mais precisamente na Serra da Mantiqueira. A cidade possui em torno de 65.800 habitantes de acordo com a última contagem do IBGE em 2010, sendo que em sua grande maioria tem como principal atividade de renda a agricultura. Figuras 54 e 55: Área urbana da cidade de Amparo. Fonte: Google Earth. Na propriedade são desenvolvidos trabalhos de cultivos agroecológicos e orgânico, criação de animais, conservação e recuperação (solo, água e das florestas nativas). Associado a este ritmo diário, o SDC vem atuando como Centro de Educação Ambiental e Centro de Pesquisas em Agroecologia e Reservas Ambientais, estimulando a conscientização destas atividades, com adultos e crianças de todas as idades. São estudos inseridos dentro do contexto e do ritmo do sítio, dedicados a difundir formas de aplicação de métodos de trabalho agrícola que proporcionam maior harmonia com o Reino Mineral, Vegetal e Animal. 107 Figuras 56 e 57: Sítio Duas Cachoeiras. Fonte: Ting Ação Ambiental. Figuras 58: Criação de ovelhas. Fonte: Ting Ação Ambiental. Por volta de 1990 houve uma nova ordenação das atividades agrícolas (agrofloresta), ampliando-se as áreas de reserva natural e de preservação permanente. Em 2005 um incêndio devastou as áreas recuperadas do sítio (uns 14 hectares) e foi necessário recomeçar, o incêndio destruiu um trabalho de 20 anos. Neste reinício foram instalados os sistemas agroflorestais, com a utilização de adubação verde, ampliaram-se também as áreas de cultivo orgânico e a criação de ovelhas para a produção de lã utilizada na tecelagem artesanal do Sítio. A tecelagem envolve o tosquiamento de ovelhas, a lã passa por uma lavagem na cachoeira e depois é tingida, fiada e tecida na oficina de tecelagem. 108 O tingimento da lã é feito com corantes naturais, apresentamos a seguir alguns exemplos de corantes obtidos através de vegetais: PLANTAS COR PROCESSO Anileira azul e tons fermentação Sangra-d'agua vermelho e tons cozimento Sabugueiro preto e cinza cozimento Jenipapo preto e cinza cozimento Casca de cebola marrom claro e tons cozimento Giesta amarelo cozimento Musgos verde e tons cozimento Confrei verde e tons cozimento Pinhas de pinheiro marrons e tons cozimento Argilas/barro diversas cores maceração Ferro velho cor ferrugem maceração maceração Folhas de goiabeira fixador/mordente cozimento Umbigo de bananeira fixador/mordente cozimento Casca de barbatimão efixador/mordente cozimento Lingua-de-vaca/planta fixador/mordente cozimento Casca de nozes cozimento marrom + fixador Fonte: http://www.sitioduascachoeiras.com.br/ 109 Figuras 59: Casa de tecelagem. Fonte: Ting Ação Ambiental. As atividades do sitio são de produção e, além disso, existem as práticas educativas. Foram anos de esforço concentrado na difusão dos conceitos e práticas de agricultura alternativa – agroecologia. Já nos dias de hoje, a propriedade é quase irreconhecível em relação ao que era lá nos anos 70, a preocupação em relação à conservação e preservação está presente a todo o momento, na revitalização da área. E ainda, cursos, capacitações e pesquisas têm acontecido com muita frequência no SDC. Figura 60: Imagem antiga e atual do entorno da cachoeira. Fonte: Ting Ação Ambiental. 110 Atualmente são desenvolvidos projetos como: Educação Ambiental Educação Interdisciplinar e transdisciplinar Implantação de sistemas de cultivo Agroflorestais Ampliação de áreas de cultivos agroecológicos Desenvolvimento de cursos de capacitação em educação e agricultura Ampliação de áreas de preservação e aumento da biodiversidade Coleta de sementes Desenvolvimento e produção de material didático em educação ambiental e agricultura. Figura 61: Vivências realizadas no SDC. Fonte: Ting Ação Ambiental. Figura 62: Estoque de sementes. Fonte: Ting Ação Ambiental. 111 Segundo Guaraci Diniz, desde que chegou ao sítio, muitas mudanças foram feitas para que se houvesse essa transição, a começar pelos pastos que foram locados para baixo das nascentes para evitar contaminação da sua água. As opções para a nova ocupação do solo seguiram aspectos básicos, onde as áreas em torno de nascentes, rios e com grandes declividades foram preservadas e destinadas a recuperação florestal. As áreas mais planas foram destinadas ao plantio nas formas agroecológicas para uma melhor conservação do solo, como: rotação de culturas, plantio em nível, adubação verde, compostagem, cobertura morta, sistema de consórcio entre outros. Vale ressaltar que em nenhum momento se utilizou de insumos externos e sintéticos como adubos químicos e agrotóxicos. Figura 63: Área de produção agroecológica. Fonte: Ting Ação Ambiental. O consorciamento e rotação de culturas foram realizados conforme as condições do solo, do microclima, acompanhando ainda os diferentes estágios de recuperação do solo e as necessidades de suprir a alimentação familiar. Para isso, foi utilizado inicialmente, um coquetel de adubação verde com sementes de feijão-de-porco, crotalária, feijão guandú, mamona, milho verde e abóboras, alternando com a rotação de culturas anuais consorciadas, como: milho com girassol, abóbora e feijão; arroz com calopogônio e sorgo vassoreiro; mandioca com batata-doce e feijão de porco; cana com guandú e mandioca. A criação de animais passou a ser integrada com o sistema de produção de alimentos, gerando adubo orgânico para todas as áreas de plantio. 112 O manejo das áreas de pastagens foi realizado de maneira rotativa. Conforme o aprendizado foi se desenvolvendo, as interações com o ecossistema local, e várias outras frentes de trabalho foram sendo aproveitadas, como: apiário, medicamentos extraídos das áreas de mata, o uso de energias renováveis, como a solar para a conservação de alimentos (secador solar), a reciclagem da matéria orgânica doméstica para a produção de composto orgânico como adubo e o uso de biomassa para integração da produção vegetal e animal, como: cobertura morta de capim roçado nos campos de cultivo; capim picado para cobertura de canteiros e árvores dos pomares; capim picado com esterco da cama animal, compostado, para ser usado nas áreas de culturas anuais. Figura 64: Compostagem. Fonte: Ting Ação Ambiental. Figuras 65 e 66: Áreas de plantio – sistema agroecológico. Fonte: Ting Ação Ambiental. 113 Ainda há no SDC, 22 hectares destinados a preservação e recuperação florestal. Também 16 hectares estão sendo reflorestados e manejados com sistemas agroflorestais e com a formação de um banco de sementes de árvores nativas. Outra área mais antiga com 6 hectares é hoje uma Unidade de Conservação, ou uma RPPN – Reserva Particular do Patrimônio Natural. Esta área faz parte do SISNUC – Sistema Nacional de Unidade de Conservação. Figura 67: Áreas de plantio e preservadas – sistema agroecológico. Fonte: Ting Ação Ambiental. 4.3 Modelos referenciais 4.3.1 Agricultura Familiar –Transição para Agroecologia – Cunha – SP O Município de Cunha ocupa 1.410 km² de colinas e montanhas entre as serras da Quebra-Cangalha, da Bocaina e do Mar. A cidade conta com 21.866 habitantes sendo 12.167 moradores da área urbana e 9.699 de áreas rurais. Dentro de toda esta extensão conta-se com o Parque Estadual da Serra do Mar e o Parque Nacional da Serra da Bocaina, área esta de importante preservação devido a sua grande extensão de Mata Atlântica e as Bacias Hidrográficas dos Rios Paraitinga e Paraibuna. 114 A altitude varia muito em toda a extensão do município. As áreas mais baixas localizadas nas várzeas do Rio Paraitinga, na divisa com o município de Lagoinha, possuem uma altitude de 760 metros enquanto o ponto culminante, a Pedra da Macela, no alto da Serra do Mar, na divisa com o estado do Rio de Janeiro, possui uma altitude de 1.840 metros. A sede do município está a cerca de 950 metros de altitude e a Vila de Campos de Cunha está a cerca de 1.010 metros de altitude. A região é marcada pelo clima Tropical de Altitude. Figura 68: Região central de Cunha Fonte: Google Earth. A Estratégia para a transição do cultivo convencional para a agroecologia, no município de Cunha, Estado de São Paulo, processo iniciado em 2009, através do trabalho conjunto das famílias agricultoras, da Associação SerrAcima e entidades apoiadoras e parceiras se deu por conta de diversas preocupações ambientais e o crescimento da agricultura convencional em toda extensão do território brasileiro. A Associação SerrAcima OSCIP fundada em 1999, cujo desafio principal é apoiar o desenvolvimento rural sustentável, resolveu utilizar dos métodos agroecológicos para revitalizar áreas degradadas, preservar e conservar o meio ambiente, mas principalmente trazer de volta a importância da agricultura familiar utilizando-se de todo conhecimento popular e de técnicas agroecológicas que envolvem uma comunidade no processo, incluindo o plantio, consumo e a comercialização. 115 A estratégia é a utilização da AGROECOLOGIA como suporte técnico e ideológico e criação de uma visão integrada das propriedades rurais enquanto locais de produção para subsistência e comercialização do excedente, além de recuperação ambiental, convivência social e manifestação cultural. O resultado disso é a redução até a não utilização de insumos de síntese química e consequente minimização dos custos, impacto ambiental positivo e alimentação saudável não só para os produtores rurais como para consumidores. Pensando na melhoria de qualidade de vida da população de Cunha, a SerrAcima executou esse projeto criando ambientes para a geração de trabalho e renda no município de Cunha–SP, patrocinada pelo Programa Petrobras Desenvolvimento & Cidadania oferecendo cursos de Agroecologia e Comercialização. No total foram quatro cursos aplicados resultando em 116 formandos (de 2009 a 2013). O curso consistiu em aulas práticas e teóricas, cujos conteúdos abordados foram comercialização de alimentos agroecológicos; lavouras e hortas agroecológicas; produção de leite orgânico, criação de pequenos animais no sistema agroecológico; recuperação florestal – manejo de araucária e saneamento e tratamento de lixo. A ferramenta utilizada no curso para dar esse incentivo de mudança, foi o de escola/comunidade. Durante o curso, cada família foi instruída a tirar documentação necessária para se titular como agricultura familiar, por exemplo, ter o bloco de nota de produtor rural e a DAP - uma declaração do PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, justamente para o produtor ter acesso ao PNAE. Além dos cursos de capacitação oferecidos, a instituição se preocupou em deixar todos os participantes por dentro dos principais acontecimentos envolvendo agroecologia e todas as novidades que cercam a temática, além de oferecer diversas oficinas e vivências em diferentes áreas, sempre com a preocupação da preservação e conservação, utilizando todos os princípios da sustentabilidade como elemento principal para o desenvolvimento. A partir destas turmas dois grupos de agricultores se constituíram, o Grupo de Agricultores Familiares Agroecológicos de Cunha e o Grupo de Agricultores Familiares em transição para a Agroecologia de Campos de Cunha. Para atingir o mercado local foram traçadas duas formas: Programa de alimentação escolar (PNAE); 116 Criação da feira Agroecológica de Cunha e da feira dos Agricultores Familiares de Campos de Cunha (venda direta). As feiras livres acontecem semanalmente e nelas são comercializados produtos saudáveis, frescos e livres de qualquer tipo de agrotóxico, fazendo com que este acontecimento seja aguardado por muitos moradores da cidade. A FEIRA AGROECOLÓGICA DE CUNHA comercializa ao longo de um ano 100 variedades diferentes de produtos. Alguns são de inverno, outros de verão. Porém, são ofertadas regularmente 60 variedades ao longo do ano todo. Com a merenda escolar para as escolas municipais e estaduais da região o fornecimento também é feito semanalmente, contribuindo em muito para o crescimento saudável das crianças e jovens da região. Foram comercializadas 35 TONELADAS de alimentos no Programa Municipal de Alimentação Escolar no período de 2009 a 2012. Com patrocínio do Programa Petrobras – Desenvolvimento & Cidadania e em parceria com as famílias agricultoras agroecológicas de Cunha, foi iniciada a terceira fase do projeto (término do contrato 10/2015), com o objetivo de desenvolver a capacidade empreendedora de agricultoras e agricultores familiares em situação de vulnerabilidade social no Vale do Paraíba, através de iniciativas que promovam soberania e segurança alimentar e gerem renda e oportunidade de trabalho para 100 famílias, beneficiando diretamente cerca de 300 pessoas. A organização comunitária e a conquista de novos mercados ampliou a renda e levou o Grupo de Agricultores Agroecológicos de Cunha, acompanhado pela SerrAcima, a ser reconhecido e cadastrado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento como Organização de Controle Social (OCS), responsável pela garantia da qualidade e pela venda direta ao consumidor de produtos orgânicos, sem intermediários. Hoje, 15 das famílias parceiras de SerrAcima comercializam seus produtos na Feira Agroecológica de Cunha e Campos Novos. Mais de 80 toneladas de alimentos sem agrotóxicos ou insumos químicos foram comercializadas na feira e destinadas à alimentação escolar do município de Cunha (via PNAE), desde o início do projeto. 117 Entre os resultados da fase anterior do projeto destaca-se também a construção de uma cozinha agroindustrial, aonde se espera qualificar, através de boas práticas, o manuseio e o beneficiamento dos alimentos. Figura 69: Feira Agroecológica de Cunha. Fonte: ONG SerrAcima. Figura 70: Oficina sobre a produção de banana chips / Local: agroindústria SerrAcima Fonte: SerrAcima. Figura 71: Oficina sobre montagem e manuseio de aparelhos: multiprocessador / Local: agroindústria SerrAcima. Fonte: SerrAcima. 118 Figura 72: Oficina de boas práticas de higiene para manipulação de alimentos / Local: agroindústria SerrAcima Fonte: SerrAcima. Figura 73: Oficina sobre bem estar animal (gado) / Local: UPF de Dona Geralda e Sr. Benedito, bairro Paiol, Cunha- SP. Fonte: SerrAcima. A produção agroecológica de alimentos, através da ação coletiva das famílias agricultoras envolvidas em quatro anos de andamento, começa a desenhar uma nova perspectiva para o desenvolvimento rural sustentável no município de Cunha – SP. Muitas famílias vêm somando a este processo e, a partir das realidades específicas de cada bairro, de cada propriedade e de suas próprias vidas conduzem o caminhar desta transição. Hoje 26 famílias estão efetivamente no processo de transição para a Agroecologia, produzindo e comercializando seus produtos nos canais diretos de comercialização constituídos. Pelo menos, 20 práticas agroecológicas foram incorporadas como inovações tecnológicas: uso de adubação orgânica, biofertilizantes, compostagem, minhocário, adubos verdes de verão e inverno, uso de palhada; produção de mudas; plantio direto; inseticidas naturais; fungicidas naturais; controle biológico de cupim, formigueiros e carrapatos; piqueteamento de pastagens; viveiros caseiros; podas; irrigação de baixo impacto, proteção de fontes, biofossas, etc. Foram implantados 11 campos de produção de sementes de adubação verde com variedades de adubos de verão e inverno, foram também implantados campos para a multiplicação de grãos como milho, feijão, linhaça e ervilha. A renda monetária das famílias que compõem o Grupo de Agricultores Agroecológicos de Cunha vem crescendo a cada ano: comparando-se os resultados de 2011 em relação a 2010, o crescimento foi 34,79%; e, 2012 em relação a 2011, cresceu mais 27,05%. 119 O faturamento médio de uma família que vende na feira e no Programa Municipal de Alimentação Escolar é de R$ 950,00. Hoje são 26 famílias envolvidas no projeto. Parte das 26 famílias comercializam somente no programa de merenda escolar (que é a maioria) e na feira participam 9 famílias. Essas famílias são resultados da Fase 1 – incluindo criação da feira e início da entrega à merenda escolar, no período de 2011 até 2013 - Fase II do projeto, foram fornecidas à merenda escolar 80 toneladas de alimento, também nesta fase foi instalada a cozinha industrial com foco na agroindústria familiar e criada uma cooperativa. Já na fase 3 (2013 a 2015) se iniciou a produção na agroindústria. A inovação da fase 3 está sendo então o processamento de alimentos incluindo hortaliças como couve ralada, repolho ralado e ainda produtos a vácuo, abóbora, mandioca, inhame para fornecimento tanto na feira como na alimentação escolar. AQUI 4.3.2 REDE AGROFLORESTAL DO VALE DO PARAÍBA - SISTEMAS AGROFLORESTAIS – SAFS A Rede dissemina que os Sistemas Agroflorestais (SAFs) podem se tornar uma das formas mais sustentáveis de se restaurar a Floresta Atlântica, convertendo o ecossistema degradado em outro, tornando-o produtivo com baixo uso de recursos externos e capital. Os Sistemas Agroflorestais (SAF’s) são reconhecidamente modelos de exploração de solos que mais se aproximam ecologicamente da floresta natural e, por isso, considerados como importante alternativa de uso sustentado do ecossistema. Ainda os SAF’s podem se tornar um dos vetores de ligação entre fragmentos florestais remanescentes, ligando a Serra do Mar à Mantiqueira, melhorando o fluxo de animais silvestres, beneficiando, também, a diversidade biológica. De 2011 até o momento em vários encontros ocorridos na região o tema SAFs passou a ser discutido e a partir daí foram realizados cinco mutirões Agroflorestais com a participação de mais de 300 pessoas. Inicialmente as atividades foram realizadas na APTA 120 – Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (http://www.apta.sp.gov.br/), órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Polo Regional do Vale do Paraíba em Pindamonhangaba. Participam desses mutirões: produtores rurais, assentados de reforma agrária, pesquisadores, educadores, estudantes de nível médio, técnicos agropecuários e universitários, gestores ambientais de unidades de conservação, empresários e representantes de ONGs – Organizações não Governamentais. No início de 2012, um evento marcou a parceria da CATI (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral - http://www.cati.sp.gov.br/new/edr.php?cod_edr=29), por meio do EDR Escritório de Desenvolvimento Rural de Pindamonhangaba e da APTA - Polo Regional do Vale do Paraíba, ambos vinculados à Secretaria do Governo do Estado; com o propósito de incentivar a adoção dos SAFs por meio da ação integrada dos novos assistentes agropecuários, que identificariam iniciativas locais em 21 municípios vinculados a EDR. Já em 2013 por meio da parceria da APTA - Polo Regional do Vale do Paraíba com a ONG Pátio das Artes, foi realizado o IV Mutirão Agroflorestal do Vale do Paraíba em Pindamonhangaba, originando um Grupo Gestor de articulação da REDE AGROFLORESTAL DO VALE DO PARAÍBA (http://redeagroflorestalvaledoparaiba.blogspot.com.br/). São objetivos básicos da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba: promover a circulação da informação sobre os SAFs, desenvolver a pesquisa participativa, fomentar projetos em conjunto, estabelecer parcerias para ampliar a atuação e fomentar o mercado justo e solidário. MUTIRÃO AGROFLORESTAL NOS ASSENTAMENTO DO VALE DO PARAÍBA ASSENTAMENTO NOVA ESPERANÇA I, SÃO JOSÉ DOS CAMPOS - SP A propriedade de Valdir e Regiane Martins situada no Assentamento Nova Esperança está em fase de transição do convencional para o agroecológico, segundo Valdir é necessário mudar todo o conceito, toda a forma de trabalhar a terra, de ver a terra, não somente exclusão do agrotóxico. “Não se faz uma transição dessas e uma produção orgânica sem pensar no reflorestamento do entorno das áreas, então nos temos trabalhado nessa mudança, no processo de transição, a gente acredita que em 4, 5 anos a gente estará com a propriedade certificada com esse produto no 121 mercado, as folhosas, como as espécies frutíferas nativas para a gente poder comercializar um produto mais saudável e um produto que não vai carregar o pacote de veneno que a gente sabe que existe no mercado, nós aqui estamos trabalhando para isso” Atualmente na propriedade rural de Valdir são produzidas variedades de verduras, legumes e frutas, tudo de forma orgânica: Ora-pro-nobis, joão gomes, serralha, almeirão, peixinho, figo, caqui, limão, laranja pocan, laranja, quiabo, milho, feijão de corda, abóbora Também está sendo introduzido o café orgânico, pois acredita que em São José dos Campos há um excelente mercado para esse produto. Com a venda de sua produção na feira a renda mensal da família hoje é de R$ 2.000,00 e com a participação na Merenda Escolar no próximo ano passará para R$ 4.000,00. Hoje no assentamento de produtor orgânico há um grupo de 20 famílias em fase de transição. No dia 28/11/2013 na propriedade da família Martins foi realizado um mutirão para instalar e manejar um SAF (Sistema Agroflorestal) em área determinada pelos agricultores na intenção de se combater os incêndios em pastagens e proteger o único recurso hídrico da propriedade (nascente). Houve a participação de 32 pessoas e o SAF foi implantado em uma área de 800m². 122 Algumas espécies plantadas: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 Banana BRS Conquista Graviola Pinha Araruta açafrão Inhame (taro) Milho Mandioca IAC 6-01 Feijão Guandu Feijão de Porco Crotalária Margaridão Cana Guanandi Ingá Guapuruvú Ipê rosa Ipê branco Ipê amarelo cascudo Nim Cedro do campo Imbirussú Aldrago Aroeira Dedaleiro Anjico Jatobá Condessa Araçá Uvaia Pitanga Grumixama Cambucá Juçara Tamarindo Cará Peixinho da Horta 123 MUTIRÃO AGROFLORESTAL NO ASSENTAMENTO DE REFORMA AGRÁRIA OLGA BENÁRIO, TREMEMBÉ - SP Há 10 anos a família do Valdirzão produz muda de árvores, em 2001 vivia no Mato Grosso do Sul e lá conheceu três pessoas que transformaram a suas vidas: 1ª dizia para Valdir e Carmem (sua esposa) que todos deveriam plantar árvores frutíferas na beira das estradas, não interessa se comeriam ou não, com certeza não, pois precisam muitos anos para crescer, mas alguém passará com fome e comerá e pensará em 124 quem a plantou; 2ª outro Senhor que tinha um bosque em outro assentamento que morou. Esse senhor sempre colocava uma plaquinha com o nome da pessoa que o presenteava com uma muda, ele dizia que eternizava as amizades; 3ª e um terceiro que tinha uma mangueira e durante 35 anos ele distribuiu mudas e sementes dessa mangueira por todo lugar que andava, inclusive na propriedade de Valdirzão há uma mangueira cuja semente foi recebida deste senhor. A partir daí surgiu a vontade de praticar a agroecologia e se iniciou a sua busca, foi quando conheceu a rede agroflorestal, os participantes o ajudaram a adquirir os conhecimentos técnicos que não tinha. Diz que com a instalação da agrofloresta o seu espaço além de seu lar ficar mais bonito do ponto de vista estético, do ponto de vista econômico essa forma de cultivo é mais viável porque terão muito mais produtos em curto espaço de tempo e ainda que não tenha alta lucratividade, ganhará com o que deixará de comprar para se alimentar, o que se pode considerar como renda, e também é a sua parcela de contribuição para os seus familiares (filhos, netos, bisnetos...). Valdirzão e Carmem sua esposa em sua propriedade Em 12/11/2013 no Assentamento Olga Benário, lote do Valdirzão e Carmem, aconteceu um mutirão com 42 participantes que consistiu do plantio de 3.000 m de área. O mutirão teve como objetivo preparar agricultores familiares, profissionais de assistência técnica, ensino, pesquisa e extensão rural para instalar e manejar sistemas agroflorestais (SAFs) adotando a metodologia participativa de mutirão agroflorestal. 125 Parcerias: Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba (Fazenda Coruputuba, APTA – Polo Vale do Paraíba, Sítio Terra de Santa Cruz, Faculdade Cantareira), INCRA e Instituto Biossistêmico. No local foram plantadas mudas das espécies listadas na tabela: 1 Banana BRS Conquista 2 Banana IAC 2001 3 Banana Ouro 4 Mandioca IAC6-01 (mesa) 5 Mandioca IAC90 (farinha) 6 Taro (Inhame) 7 Araruta 8 Açafrão 9 Mangarito 10 Mamona Preta 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 Cajueiro Tamarindo Aroeira Quaresma Ingá Jambolão Santa bárbara Grevílea Jacarandá de espinho Anjico 126 11Feijão de Porco 12 Feijão Guandu 13Tefrósia 14 Fruta do conde 15 Uvaia 16 Pitanga 17 Cambucá 18 Cereja-Preta 19 Grumixama 20 Goiaba Roxa 21 Araçá-boi 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 Jatobá Chapéu-de-sol Abricó Ipê Guanandi Cedro do campo Imbirussú Cana caiana Cana Peixinho da horta Bertalha Ora pro nóbis GESTÃO AMBIENTAL DE SISTEMAS AGROFLORESTAIS DA EXPERIÊNCIA FAZENDA CORUPUTUBA – PINDAMONHANGABA - VALE DO PARAÍBA - SP O Cone Leste paulista situa-se no eixo Rio-São Paulo (região Sudeste), maior polo consumidor de madeiras nativas do país e cuja extensão da produção de Eucalyptus para papel e celulose já atingiu níveis críticos. O crescente desmatamento das florestas tropicais e a diminuição da oferta dos produtos florestais demandam estratégias para suprir a demanda de madeiras nobres, bem como promover a conservação e o incremento do que ainda resta de Mata Atlântica, bioma de maior diversidade do planeta e o mais ameaçado pelas agressões nas florestas. Na fazenda Coruputuba propriedade de Patrick Ayrivie de Assumpção o plantio era convencional, silvicultura, produção de madeira e como em todo Brasil com o plantio de Eucalipto, como há muita várzea no local também se produzia arroz, mas como o comercialmente falando é uma comodite quem o produz fica a mercê do mercado, o proprietário desistiu de investir no produto. Em 2006 Patrick iniciou uma busca, a partir de pesquisas, de outras variedades de madeiras diferentes do eucalipto e nessa busca encontrou o guanandi espécie resistente a solos encharcados e a acácia uma espécie exótica. Tolerante ao alagamento, o Guanandi produz uma madeira fina resistente e a acácia é uma árvore leguminosa exótica da Austrália reconhecida pela capacidade de restaurar solos degradados e múltiplos usos: madeira fina, energia,lenha, celulose e resina. Em 2007 em uma área de 11 hectares realizou o plantio de mudas da espécie, seguindo as mesmas recomendações do plantio de eucalipto, utilização de herbicidas, adubação química, Patrick pouco conhecia sobre agroecologia e pouco se interessava pelo assunto. Em 2010, através do site http://www.guanandicp4.com.br/ o pesquisador Antonio Carlos Pries Devide - APTA Polo Regional do Vale do Paraíba se interessou em conhecer a fazenda Coruputuba, onde havia o plantio do Guanandi uma árvore de madeira nobre, nativa, brasileira. Realizou uma visita ao local e depois de um ano de muita conversa com o proprietário, acabaram fazendo um contrato de assessoria técnica entre a APTA, FUNDAG – Fundação de Amparo ao Agricultor (que faz a mediação entre um órgão público e uma instituição privada), a FAZENDA e o Curso de Pós-Graduação em Fitotecnia/IA da UFRuralRJ; visando a conversão agroflorestal baseada em experimentos seguindo os princípios Agroecológicos. O acordo firmado ainda definiu que todo resultado das pesquisas realizadas na CORUPUTUBA (por contrato) seria de domínio público. Como resultado desta negociação surgiu o projeto BIODIVERSIDADE E TRANSFORMAÇÃO DE MONOCULTORA DE GUANANDI PARA SISTEMAS AGROFLORESTAIS. Foram plantadas a partir de 2011 parcelas de agrofloresta no local e neste experimento foram realizados plantios de guanandi de 4 e 5 anos de idade contendo o guanandi solteiro e consorciado com culturas anuais e SAFs (Sistemas Agroflorestais), introduzindo espécies consortes adaptadas a cada ambiente, tendo em comum: bananeira BRS Conquista e palmeira juçara (Euterpe edulis) e diversidade arbustiva com leguminosas adaptadas - sesbânia (Sesbania virgata), paquinha (Aeschynomene rudis), flemíngia (Flemingia macrophylla), guandu (Cajanus cajan) - culturas anuais - taro (Colocasia esculenta), mandioca “ouro‟ IAC 6-01 (Manihot 127 esculenta), araruta (Marantha arundinaceae) – e espécies florestais adaptadas aos dois ambientes: sangra d‟água (Croton urucurana), aroeira (Schinus terebinthifolius), mamica-de-porca (Zantoxylum rhoifolium), ingá (Inga uruguensis), embirussú (Pseudobombax grandiflorum), suinã (Erythrina verna), ipê-amarelo-do-brejo (Tabebuia serratifolia), anjico preto (Anadenanthera colubrina), pinha-do-brejo (Talauma ovata), cutieira (Joannesia princeps), urucum (Bixa oleraceae) e guapuruvú (Schiozolobium parahyba). A importância das culturas anuais está na geração de renda em um ciclo curto. A mandioca e araruta, também, pelo resgate histórico, pois a euforbiácea foi substituída nos anos 1980 pela cultura do eucalipto, e a araruta que foi praticamente extinta no Vale do Paraíba. Patrick já replicou a experiência em outras áreas da fazenda fora desse estudo. O proprietário identificou a partir daí alguns benefícios da transição: não utiliza herbicida desde 2011, substituição do mato, braquiária 2 que é complicado, por leguminosas rasteiras, há áreas em que não existe mais a braquiária. 128 Braquiária entorno da plantação. (2) Nativa da África, foi introduzida no Brasil como forrageira e transformou-se em uma espécie invasora de diversos ecossistemas brasileiros, como o cerrado. Como invasora, ela impede o desenvolvimento das gramíneas nativas e sufoca o desenvolvimento dos campos nativos. Planejamento do uso do solo na Fazenda Coruputuba – Pindamonhangaba – SP. Ainda nesse processo foram realizados vários estudos científicos, um deles foi à aplicação do Sistema APOIANovoRural de avaliação de impacto ambiental do manejo agroflorestal na Fz. Coruputuba. O objetivo foi registrar as modificações que ocorreram desde então para balizar a gestão ambiental e possibilitar a disseminação dos sistemas agroflorestais na região do Vale do Paraíba, gerando renda, segurança alimentar, preservando habitats naturais e incremento no que ainda resta de Mata Atlântica. O sistema APOIA foi desenvolvido no Laboratório de Gestão Ambiental da Embrapa Meio Ambiente. Foram analisadas as condições do manejo das 129 atividades produtivas na escala do estabelecimento rural abrangendo indicadores relativos aos aspectos ecológicos, econômicos, socioculturais e de manejo, facilitando a detecção de pontos críticos para a correção de manejo. O sistema englobou 62 indicadores ambientais para análise de múltiplos atributos, segundo as cinco dimensões de sustentabilidade: ecologia da paisagem, qualidade ambiental (atmosfera, água e solo), valores socioculturais e econômicos, gestão e administração. Segundo o método APOIA-NovoRural, a Fazenda Coruputuba se destacou entre os cinco mais elevados índices de sustentabilidade, relativo ao conjunto de 178 estudos de caso comprovando o excelente padrão de desempenho ambiental focado nos sistemas agroflorestais. A conversão agroflorestal e a diversificação dos cultivos e atividades produtivas em regime de parceria geraram segurança alimentar, econômica, social e ambiental da Fazenda Coruputuba. PANCS (PLANTAS ALIMENTÍCIAS NÃO CONVENCIONAIS) Com a instalação desses SAF’s, hoje Patrick esta no mercado não só com a madeira, mas também, com os produtos cultivados na agrofloresta, inclusive somente com os produtos que produz, ele diz que não consegue abastecer o ano inteiro 10 restaurantes, somente dois ou três, restaurantes, porém a procura é grande. Produtos produzidos na Fazenda – feijão guandu, mandioca de mesa, banana. 130 Quanto as Pancs (Plantas Alimentícias Não Convencionais), desconhecidas por boa parte da população, Patrick informou que em conversas com Alex Atala e Helena Rizzo, que são chefs renomados, formadores de opinião, envolvendo ainda o instituto ATÁ planejam realizar um trabalho global, algo maior, incluindo o trabalho realizado com os mutirões nos assentamentos, a fazenda e outros produtores da região com o mesmo perfil, pensam na a criação de uma espécie de cooperativa para se organizar na questão venda e entrega (em São Paulo – capital) das chamadas Pancs3 , espécies estas na mira desses chefs e também de pesquisadores, que as olham como uma possibilidade de inovação gastronômica. (3) Exemplos de Pancs (Plantas Alimentícias Não Convencionais): lírio-do-brejo, bacupari, ora-pro-nóbis, vinagreira, capuchinha, taioba, entre outras. Segundo a revista Menu de setembro de 2013, a chef Helena Rizzo é uma das profissionais que mantêm contato próximo com pesquisadores e agricultores para enriquecer seu receituário. Com frequência, ela e Fernanda Valdivia vão até o Sítio São José, no sertão de Itaquari (Paraty, RJ), visitar o sistema agroflorestal praticado por José Ferreira (já citado no artigo 11), onde diferentes cultivos convivem simultaneamente. Em uma das visitas, a dupla se apaixonou pela geleia de bacupari preparada pelo “seu Zé” e virou protagonista da sobremesa de Fernanda no jantar de agosto idealizado pelo C5 — Centro de Cultura Culinária – Câmara Cascudo, entidade composta por chefs e pesquisadores de culinária e alimentação. Patrick Assumpção, da Fazenda Coruputuba, em Pindamonhangaba (SP) também recebeu a visita de Helena Rizzo e foi um dos “fornecedores” das plantas não convencionais para o jantar. Um dos ingredientes, o feijão guandu, usado no prato do chef Rodrigo Oliveira, tem tudo para deixar de ser uma Panc: hoje é comercializado pela Retratos do Gosto, marca idealizada por Alex Atala e pela MIE Brasil, que incentiva o pequeno produtor. Atala também presenteou Patrick com uma variedade de milho pequeno, de grãos avermelhados, de doçura notável, proveniente de uma tribo indígena de Mato Grosso. PANCs – Capuchinha, peixinho. “Hoje já tenho seis variedades de sementes de milho, que são trocadas em feiras para agricultores familiares”, conta Assumpção. 131 Patrick Assumpção proprietário da Fazenda Coruputuba. A Agroecologia fornece diretrizes científicas para padrões de desenvolvimento rural viáveis economicamente, justos socialmente e sustentáveis ecologicamente. Evidências empíricas se multiplicam em todo o mundo comprovando que os sistemas agroecológicos oferecem respostas consistentes à crise socioambiental das sociedades contemporâneas (PETERSEN et al., 2009). 5. ÁREAS POTENCIAIS PARA A IMPLANTAÇÃO DO PROJETO LISTAGEM E DESCRIÇÃO DAS ÁREAS (8 PROPRIEDDES ESCOLHIDAS) 6. OPORTUNIDADES E AMEAÇAS 6.1 Análise dos resultados 6.1.1 Pontos fortes / oportunidades 7. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 132