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Estratégia de Operações
Sustentáveis
Prof. Dr. Iuri Gavronski
UNISINOS
[email protected]
Desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento
capaz de suprir as necessidades da geração atual,
sem comprometer a capacidade de atender as
necessidades das futuras gerações.
Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento,
1987
O que isto tem a ver conosco, nas empresas?
Parte I: Tendências e Riscos Globais
Anos 1950-1960
A humanidade, antes encantada com suas
descobertas científicas no pós-Guerra...
Anos 2000-2010
Começa a ficar
assustada...
...com as mudanças climáticas:
Nível dos mares
Temperatura da Terra
Fonte: IPCC
De Onde Vêm os Resíduos?
(Hill, 2004)
Consumo de Água
Fonte: Shiklomanov (1996, 1999)
Emissões Atmosféricas (GHG)
15,4% = Combustível fóssil para indústria
22,3% =
Geração de
Energia
11,0% = Transporte
rodoviário
Fonte: Olivier et al. (1996)
11,2% = Residências
O risco estratégico para as empresas é muito alto:
Fonte: IPCC
Parte II: Tendências e Riscos Empresariais
Fonte: Globo Rural, 04/07/2010
Exemplo de Perda para as Empresas:
Observe as margens dos rios: sem mata ciliar.
Exemplos Recentes
•
•
•
•
1996 A rede norte-americana CBS denuncia um fornecedor da
Nike no Vietnã por desrespeito à força de trabalho. Resultado:
boicote à Nike.
2009 Relatório do Greenpeace aponta irregularidades nas
fazendas de gado de corte, fornecedoras de grandes
frigoríficos, como Marfrig, JBS/Friboi e Bertin. Resultados: MP
faz TAC com frigoríficos, fabricantes internacionais cancelam
pedidos.
2010 Foxconn: fornecedora Apple, Dell, HP. Funcionários
cometeram suicídio por causa das condições de trabalho.
Resposta da Foxconn: dobrou os salários, instalou redes de
proteção para evitar mais suicídios.
2011 Zara: subsidiária brasileira contrata empresa que usa
trabalho análogo ao escravo.
Quem de nós será o próximo?
O que fazer para evitar?
Fonte: Canal Rural, 01/06/2009
Risco 1: Ativistas podem atacar nossa empresa...
http://www.greenpeace.org/brasil/Global/brasil/report/2009/6/FARRAweb-alterada.pdf
Fonte: Jornal da Globo, 26/05/2010
Risco 2: Meu fornecedor faz uma mancada
O que você faria, se fosse diretor de RH da Apple?
Fonte: DF TV, 26/06/2010
Risco 3: Os clientes suspeitam dos meus produtos:
O que você faria, se fosse diretor de suprimentos do Wal*Mart?
• Sacolas plásticas são um
problema para o
ambiente.
• Em 2007, uma rede de
supermercados
canadense (Loblaw’s)
criou uma sacola de
compras.
• Custava 0,99 e cada vez
que era usada dava
direito a 0,01 de
desconto.
• (eu tenho as minhas há 5
anos...)
Chegamos no preço certo?
Ou ainda: há um preço certo?
O problema estará no preço dos substitutos?
Sustentável ou engodo?
O que é melhor? Usar toalhas de papel ou consumir energia elétrica?
Parte III: Oportunidades
-
Novos Produtos
Novos Processos
- Gestão
Sustentabilidade
•
As empresas, para competir (ou
manterem-se vivas), começam a buscar
apropriar-se do conceito de
sustentabilidade:
– “Atender às necessidades desta
geração sem prejudicar a capacidade
das gerações futuras em atenderem
às suas”
(WORLD COMMISSION ON ENVIRONMENT AND DEVELOPMENT,
1987)
•
Porém, de que maneira “sustentabilidade”
está ligada ao conceito de empresa (lucro,
vantagem competitiva, incorporação de
externalidades)?
•
Como tornar a estratégia “sustentável” –
no sentido do “Nosso Futuro Comum”?
Revista Exame, 5/5/2009
• Friedman (1970): “A
responsabilidade social de um
negócio é aumentar seus lucros”.
• Carrol (1979): “Definição de
responsabilidade social que
englobe todo o espectro de
obrigações que um negócio tem
com a sociedade”. (grifo meu)
Responsabilidades Totais
Responsabilidade Social
Corporativa
Responsabilidades
Discricionárias
Responsabilidades
Éticas
Responsabilidades
Legais
Responsabilidades
Econômicas
Carrol (1979)
Dimensões da
Sustentabilidade
• Triple Bottom Line (TBL) ou 3P:
– People
– Profit
– Planet
• Quantos profissionais (analistas,
gestores) temos hoje em nossa
empresa com competências TBL?
– Conhecimento
– Habilidade
– Atitude
Oportunidades de Negócios: Produtos Inovadores
• Plástico verde (Braskem/Sundown)
• Cosméticos da biodiversidade
brasileira (Natura Ekos)
• Servicização/Desmaterialização
(aluguel de carpetes – Interface)
Exemplos Recentes
• 2001-2010 Anvisa detecta agrotóxicos
acima dos níveis permitidos. O que se
pode fazer? O Nacional criou em 2002
o Clube do Produtor.
• Em parceria com a Emater, eles
colaboram com os produtores para
melhorar a qualidade dos produtos
(agrotóxicos, qualidade da água, etc.).
• Além da qualidade do produto, o
Clube se preocupa com a qualidade de
vida dos produtores.
Inovações de Processo
Custos Evitados - Exemplos
Solução Sulfocáustica
Reduções:
• 13 % nos sais emitidos no efluente
• 60 % no sódio no efluente
• R$ 35 mil/ano custos
Ganho real:
• R$ 80 mil/ano comercialização do
produto
Fonte: Relatório Ambiental Braskem, 2001
Custos Evitados - Exemplos
Coleta Seletiva de Resíduos
PROGRAMA DE RECICLAGEM DE RESÍDUOS - RELAÇÃO ENTRE OS CUSTOS
DO PROGRAMA E OS CUSTOS E INVESTIMENTOS - EVITADOS COM
DISPOSIÇÃO E TRATAMENTO (mil R$)
1200
1000
m il R$
800
600
737
CUSTOS DO PROGRAMA
444
400
200
CUSTOS EVITADOS
742
196
435
205
102
141
177
244
179
133
1996
1997
1998
1999
2000
2001
0
Fonte: Relatório Ambiental Braskem, 2001
• 18% redução
embalagem
• 50 ton. de papel
siliconado
reciclado
• 90 containers/ano
a menos
• 90% da produção
mundial de BandAid: Brasil
Fonte: Globo News 27/02/2010
Oportunidades de produto e processo: Band-Aid
Parte IV: Operações Sustentáveis
Estratégia de Operações
• “A estratégia de operações de uma organização é o conjunto de decisões
relacionadas às metas, recursos e competências operacionais de uma
organização”
(Hayes et al., 2008, grifo nosso).
Em outras palavras:
É traduzir a estratégia em ação
Estratégia de Operações Sustentáveis
Estratégia
Corporativa e
de Negócios
Capacitações
Capacitações Sustentáveis
Estratégia de Operações
Categorias de Decisão
Responsabilidade
Social Corporativa
Recursos
Capacitações Sustentáveis
Capacitações Ambientais
Reduzir
Remanufaturar
Reciclar
Reusar
Dispor
Capacitações Sociais
Saúde
Segurança
Diversidade
Bem-Estar
Capacitações Econômicas
Custo
Qualidade
Flexibilidade
Entrega
Inovação
Atividades da RVO
P&D
Aquisição
Produção
Distribuição
Serviços
Ferramentas (Recursos)
LCA
DFE
IE
DFD
GS
SRS
RSS
DS
PP
PC
EMS
H&S
RL
GL
BP
BP – riqueza na base da pirâmide; DFD – projeto para desmontagem; DFE – projeto para o ambiente; DS – sistemas de
desmontagem; EMS – sistemas de gestão ambiental; GL – distribuição ambientalmente responsável; GS – aquisição (compras)
ambientalmente responsável; H&S – saúde e segurança ocupacionais; IE – ecologia industrial; LCA – análise do ciclo de vida;
PC – controle da poluição; PP – prevenção da poluição; RL – logística reversa; RSS – sistemas de reconhecimento e triagem;
SRS – aquisição socialmente responsável
Contribuições ao Tema
1.
2.
3.
4.
5.
GAVRONSKI, I. ; PAIVA, E.L. ; FERRER, G. . ISO Certification in Brazil: motivations and
benefits. Journal of Cleaner Production, v. 16, p. 87-94, 2008.
GAVRONSKI, I ; KLASSEN, RD ; VACHON, S ; NASCIMENTO, LFM. A resource-based
view of green supply management. Transportation Research. Part E, Logistics and
Transportation Review, p. 872-885, 2011.
GAVRONSKI, I ; KLASSEN, RD ; VACHON, S ; NASCIMENTO, LFM. A learning and
knowledge approach to sustainable operations. International Journal of Production
Economics, v. 1, p. 1-10, 2012.
HAJMOHAMMAD, S; VACHON, S; KLASSEN, RD ; GAVRONSKI, I. Lean management
and supply management: Their role in green practices and performance. Journal of
Cleaner Production, 2013. (no prelo)
GAVRONSKI, I. ; PAIVA, E.L. ; TEIXEIRA, R. ; de ANDRADE, MCF. ISO 14001 certified
plants in Brazil taxonomy and practices. Journal of Cleaner Production, 2013.
ISO 14001 in Brazil (JCLP, 2008)
• Framework teórico:
• As motivações à
certificação selecionam o
conjunto de capacitações a
serem desenvolvidas em
um SGA (sistema de
gestão ambiental).
• Assim, as motivações
podem ser utilizadas para
prever os benefícios que
uma empresa obtém com
o SGA.
Motivações
Benefícios
Legais
Financeiros
Internas
Produção
Reativas
Ambiente
Imediato
Proativas
Ambiente
Macro
Resultados
• O modelo que melhor se
adequou aos dados
previa mais de um nível
de motivações.
• As motivações internas
estavam relacionadas
com benefício para a
produção.
.31
• Não parecer haver
indícios de uma
“estratégia” de produção
por trás da certificação
(“vamos nos precaver da
lei”)
Business
Macro-Environment
Benefits
.31
.26
.22
Legal
Motivations
Internal
Motivations
Proactive
Motivations
.51
-.48
Business
Immediate Environment
Benefits
.37
.34
Reactive
Motivations
.75
Financial
Benefits
.45
Production
Benefits
Como este artigo mudou minha pesquisa:
• 70% das empresas certificadas eram multinacionais.
• 70% das empresas certificadas vendiam para multinacionais.
• Nas entrevistas preliminares, vários gestores afirmaram que agiam para
garantir aos clientes e à matriz internacional que não teriam problemas
futuros.
• Pensei: “é uma questão de difusão da prática” e ataquei dois temas:
– Aprendizagem
– Gestão de suprimentos.
Operações Sustentáveis e Aprendizagem (IJPE, 2012)
Recursos da
Aprendizagem
Organizacional
•Base de
conhecimento dos
gestores
•Base de
conhecimento dos
trabalhadores
•Clima Social
Processos da
Aprendizagem
Organizacional
Tecnologias
Ambientais
•Troca de
conhecimento interna
•Prevenção da
poluição
•Troca de
conhecimento externa
•Controle da poluição
•Sistemas de Gestão
Ambiental
Resultados (IJPE, 2012)
Recursos da
Aprendizagem
Organizacional
•Base de
conhecimento dos
gestores
•Base de
conhecimento dos
trabalhadores
•Clima Social
Processos da
Aprendizagem
Organizacional
 •Troca de
conhecimento interna
•Troca de
conhecimento externa
Tecnologias
Ambientais
•Prevenção da
poluição
•Controle da poluição
•Sistemas de Gestão
Ambiental
Base de empresas canadenses.
Discussão (IJPE, 2012)
Achados:
1) Os recursos de aprendizagem estão relacionados aos processos de
aprendizagem.
2) Controle da poluição não parece ser explicado pelos processos de
aprendizagem (legislação?)
3) SGA depende de troca interna de conhecimento
4) Prevenção da poluição e troca interna de conhecimento se
contradizem: melhor buscar fora de casa? O pessoal interno barra o
“double-loop”?
Moral da história: conhecimento e aprendizagem influenciam tecnologias “soft”
Gestão Ambiental de Fornecedores (TRE, 2011)
Recursos
Troca interna de
conhecimento
Troca externa de
conhecimento
Comprometimento da
alta administração
Investimentos
ambientais
Capacitações
Ambientais de
Produção
H1
_
H2
+
H3
+
H4
+
Gestão Ambiental
de Fornecedores
H5
+
Gestão de
Processos
H6
+
H7
+
Seleção de
Fornecedores
Monitoramento
de fornecedores
Colaboração
com
fornecedores
Base de empresas canadenses.
Resultados (TRE, 2011)
Recursos
Capacitações
Ambientais de
Produção
Troca interna de
conhecimento
Troca externa de
conhecimento
Comprometimento da
alta administração
Investimentos
ambientais
H2
+
H3
+
H4
+
Gestão Ambiental
de Fornecedores
H5
+
Gestão de
Processos
H6
+
H7
+
Seleção de
Fornecedores
Monitoramento
de fornecedores
Colaboração
com
fornecedores
Moral da história: fazer primeiro o dever de casa, depois brincar com os vizinhos!
Gestão Enxuta, Suprimentos e Desempenho (JCLP, 201?)
Gestão Enxuta
Práticas
Ambientais
Desempenho
Ambiental
Gestão de Suprimentos
Base de empresas canadenses.
Resultados (JCLP, 201?)
Gestão Enxuta
Práticas
Ambientais
Gestão de Suprimentos
Desempenho
Ambiental
Moral da história: “boas práticas” de gestão não
melhoram o desempenho ambiental sozinhas.
Precisa ter práticas específicas de gestão ambiental!
Motivações de recursos (internas)
Taxonomia das fábricas ISO14001 (JCLP, 2013)
Três estratégias ambientais:
- Foco interno
- Foco externo
- Holística (interno + externo)
Motivações institucionais (externas)
Base de empresas brasileiras.
Resultados (JCLP, 201?)
Indicador
Uso eficiente de matérias-primas
Conhecimento dos riscos ambientais
Trabalha com fornecedores
Coopera com centros de pesquisa
Reuso de materiais
Foco externo Foco interno Holísticos
-
+
+
[NS]
+
+
+
+
+
Moral da história: as empresas de foco externo certificam “para inglês ver”. Foco
interno não colabora e olha apenas para o próprio umbigo.
Grande resumo
• Olhamos para dentro das empresas, relacionando práticas tradicionais de
gestão com práticas ambientais: boas práticas ajudam a implantar práticas
ambientais, mas sozinhas não garantem melhora do desempenho
ambiental.
• Olhamos as motivações das empresas: motivações internas (recursos) e
externas (institucionais). Quem faz gestão ambiental só para agradar seus
públicos externos não parece fazer bem para o meio ambiente (nem para
o bolso dos acionistas).
• Olhamos para a gestão dos fornecedores: 3 tipos de práticas – seleção,
monitoramento e colaboração. As práticas internas de gestão ambiental
ajudam na implantação das práticas de gestão ambiental de fornecedores.
Agenda de Pesquisa
• Replicação da pesquisa no Brasil (em fase de
publicação dos resultados – diferenças
significativas BR-CA)
• Sustentabilidade em operações globais
• Expandir para outras dimensões da
sustentabilidade (esp. questões sociais)
• Comportamento do comprador
organizacional (sensibilidade a questões
ambientais e sociais)
• Sustentabilidade em cadeias agroindustriais
Obrigado!
Iuri Gavronski
[email protected]
Referências
•
•
•
•
•
•
CARROLL, A. B. A Three-Dimensional Conceptual Model of Corporate Performance. Academy
of Management Review, v. 4, n. 4, p. 497-505. Oct., 1979.
HILL, M. K. Understanding Environmental Pollution. 2nd ed. New York: Cambridge University
Press, 2004.
OLIVIER, J. G. J. et al. Description of EDGAR Version 2.0. A set of global emission inventories
of greenhouse gases and ozone-depleting substances for all anthropogenic and most natural
sources on a per country base and on 1ºx1º grid. Bilthoven: National Institute of Public
Health and the Environment (RIVM), 1996.
PORTER, M. E.; KRAMER, M. R. Strategy and society: the link between competitive advantage
and corporate social responsibility. Harvard Business Review, v. 84, n. 12, p. 78-92. 2006.
SHIKLOMANOV, I. A. World Water Resources And Their Use. UNESCO, 1999. Disponível em:
<http://webworld.unesco.org/water/ihp/db/shiklomanov/>. Últ. acesso em: July 20 2008
WORLD COMMISSION ON ENVIRONMENT AND DEVELOPMENT. Our common future. New
York: Oxford University Press, 1987.
Sites das Empresas
•
•
•
•
•
•
Interface – www.interfaceglobal.com
Braskem – www.braskem.com.br
Natura – www.natura.net
Loblaws – www.loblaws.ca
Wal*Mart – www.walmartbrasil.com.br
IPCC – www.ipcc.ch