Como surgiu o PsyTrance?

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Como surgiu o PsyTrance?
Como surgiu o PsyTrance?
Onde tudo começou:
Os deejays israelenses e europeus viajaram para a Índia. Descobriram a energia das festas de
praia em Goa e fez-se o som
As origens estão em Goa, na Índia. Ex-colônia portuguesa, lugar de tradicional tolerância e
hospitalidade, a região se firmou como destino de mochileiros e hippies nos anos 60. As festas
nas praias se tornaram um costume local. Na virada dos anos 80, a música passou a ser
eletrônica. Aos poucos, deejays e produtores europeus como Goa Gill, Mark Allen e Youth
começaram a desenvolver uma vertente influenciada pelo misticismo indiano, por sons étnicos
e pelo rock psicodélico progressivo. A ênfase não era mais o ritmo, mas sim a "viagem",
proporcionada por uso intenso de efeitos de estúdio e de timbres exóticos. Em meados dos
anos 90, depois de um acordo de vistos entre Índia e Israel, legiões de jovens recém-saídos
dos rígidos anos de serviço militar israelense passaram a se atirar nas raves de Goa. Graças
a essa conexão, Israel se tornou o país onde o psy-trance teve o maior impacto no dia-a-dia.
Lá, psy-trance toca no rádio, e um artista como Skazi é reconhecido por crianças na rua. Hoje,
nomes como Infected Mushroom, Astrix, Analog Pussy e Astral Projection são conhecidos
internacionalmente. O fato de serem alguns dos raros artistas israelenses que conseguiram
isso faz deles um orgulho nacional.
O estilo nasceu nas praias de Goa, na Índia. Os maiores astros vêm de Israel. As festas em
geral acontecem muito longe das grandes metrópoles e duram dias a fio, com a música
tocando sem parar. Ainspiração está em Woodstock. O astral mescla o espírito dos hippies à
tecnologia digital. O resultado dessa mistura excêntrica atende pelo nome de psy-trance, ou
trance psicodélico, ou ainda, na abreviação que está na boca da galera, psy. Opsy é hoje o
estilo de música eletrônica mais popular no Brasil.
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Há dezenas de festas ao ar livre, festivais e noites em clubes pipocando de Manaus a Porto
Alegre. Gigantes do meio, como as raves paulistanas XXXPerience e Tribe, atraem facilmente
de 20 mil a 25 mil pessoas em cada edição. Festivais menores em lugares remotos, como o
Universo Paralelo, realizado em Ituberá, sul da Bahia, ou o Trancedence, em Alto do Paraíso,
Goiás, costumam atrair milhares de jovens de 15 a 25 anos - ou até mais velhos -, vindos de
todo o país. Nada mal para um estilo que praticamente não toca no rádio, é ignorado pelos
meios de comunicação e raramente conta com patrocínio de grandes empresas.
Vários motivos explicam tanto sucesso. Primeiro, o psy quebra a sisudez das festas
embaladas nos últimos 20 anos pelos gêneros eletrônicos, como drum'n'bass ou tecno.
Segundo, a atmosfera das raves evoca os efeitos de um transe lisérgico: é alegre e lúdica e
não esconde o sabor de revival dos anos 60. Terceiro, a música soa mais acessível que a das
raves dos anos 90. Serve de porta de entrada tanto para a moçada como para gente mais
madura, tornando a diversão mais democrática. Finalmente, o ambiente eufórico e informal faz
parte do espetáculo. As festas não acontecem em galpões fechados ou escuros, mas a céu
aberto, em lugares paradisíacos, promovendo o encontro dos participantes com a natureza.
Os eventos costumam contar com superprodução. Os organizadores investem em decoração
e nas fantasias de artistas de circo, como malabaristas ou engolidores de fogo, para animar a
imensa pista ao ar livre. No tecno e na house music, o público gosta de se concentrar na
música. No psy, predominam o visual espalhafatoso, a exibição dos corpos e a variedade
sonora.
TALENTO
O deejay Rica Amaral é o brasileiro mais requisitado para tocar no novo estilo
O deejay Rica Amaral é o brasileiro mais bem-sucedido na onda psy. "O trance pegou por
causa das festas ao ar livre. Elas trouxeram muita gente ä para a música eletrônica e
acabaram na mão do pessoal do trance", diz ele. Rica, um ex-dentista, também é um dos
pioneiros do psy-trance no país. No fim de 1996, fez uma festa com amigos que reuniu 700
pessoas num sítio. Chamava-se Rave XXXPerience. Atualmente, essa é a maior marca do
psy-trance. Já promoveu mais de 80 festas por todo o Brasil e lançou dois DVDs, que, juntos,
venderam cerca de 10 mil cópias. Outro nome que tem feito sucesso no psy brasileiro também
é sócio da festa: o deejay Feio, que antes desenhava roupas de surfe. "As festas ao ar livre
fazem as pessoas sair da vida urbana e conectar-se com a natureza", diz ele. Rica e Feio têm
agenda cheia no Brasil e se apresentam no exterior com regularidade.
Na Europa, o trance psicodélico surgiu como uma manifestação de contracultura, uma espécie
de vertente neo-hippie dentro da música eletrônica. Até hoje, o caráter lá fora permanece
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alternativo. As festas são freqüentadas por legiões que vivem em trailers e ganham a vida
vendendo roupas e acessórios nos eventos. No Brasil, o sucesso do trance já alcançou outro
patamar. Há comerciais de festas na TV e os eventos atraem jovens de classe média que
moram com os pais e têm carro importado. O deejay Rica Amaral chegou a aparecer em um
episódio do Big Brother Brasil no ano passado. Outro sinal do sucesso será a tenda própria
dedicada ao psy-trance no festival Skol Beats em São Paulo, a cargo da equipe da Tribe.
#Q:Já dançou trance? - continuação:#
As festas chegam a abrigar 25 mil pessoas em cidades do interior e a durar sete dias sem
parar
Apesar de tudo, o êxito galopante não agrada a todos. De acordo com o deejay Marcelo VOR,
um dos mais conceituados na cena trance, "existem duas linhas de artistas: a dos que vão
para o lado farofa e a outra, séria". Entre estes últimos, Marcelo inclui nomes como Audio-X e
Wrecked Machines. Na categoria "farofa" estaria, segundo ele, Skazi, deejay e produtor
israelense que hoje garante festa cheia em qualquer canto do Brasil. O apelo de Skazi é exibir
atitudes de roqueiro e produzir versões psy para faixas do estilo heavy metal. Ele não fala em
valores neo-hippies, muito menos em transcendência ou psicodelismo. Prefere se
autodenominar o "Axl Rose do trance".
Muitos enfatizam, porém, a opção pelos valores originais da tradição psicodélica, como amor,
paz e respeito. É o caso do festival Universo Paralelo, realizado pelos irmãos Dario e Juarez
Petrillo (o deejay Swarup), de Brasília. A última edição levou 5 mil pessoas por oito dias para
o sul da Bahia, onde foi montada uma minicidade com cibercafé, apresentações de música
regional, teatro, cinema e até mesmo uma unidade de reciclagem de lixo. "Em oito dias, não
tivemos nenhuma ocorrência de violência, não aconteceu uma briga," afirma Dario.
Gabriel, deejay do Wrecked Machines, já ganhou fama mundial
Mesmo assim, o psy é visto com reservas pelos fãs de outros gêneros de música eletrônica. A
história do psy quase sempre esteve descolada do restante. Ao contrário do que acontece com
o house ou o tecno, os deejays de psy-trance nunca foram apegados ao disco de vinil. A
música deles não tem conexão com um passado de som negro e baseado no ritmo. As
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referências mais ecléticas talvez levem os praticantes a renunciar à criatividade e à
improvisação ao vivo, traços essenciais nas festas eletrônicas do passado.
O formato digital sempre foi o preferido pelos praticantes do psy. No início, os deejays
tocavam com DATs (fitas de áudio digital, normalmente usadas por estúdios). Atualmente,
quase todos usam o CD. Também há um intenso intercâmbio de músicas entre deejays e
produtores de todo o mundo, e uma fome constante por música nova. O deejay Marcelo VOR
afirma que hackers já entraram em seu computador e roubaram produções suas exclusivas.
Mas, no meio das massas dançantes, ninguém parece ligar muito para esses problemas. Com
a combinação de pistas lotadas, filosofia neo-hippie, violência zero e lugares ecologicamente
encantadores, o psy-trance segue animando centenas de milhares de fãs brasileiros.
Modismo ou não, tem força e popularidade para durar anos. Afinal, esse gênero emergente
inclui qualquer tipo de música e atinge todas as tribos. Melhor de tudo, a pista de dança é feita
de terra e
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