O Lixo do Pan 2007
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O Lixo do Pan 2007
O lixo do Pan 2007: o problema dos resíduos sólidos nas cidades turísticas e megaeventos. 1 Danielle Julião 2 Resumo: Sinalização, Limpeza Pública e Segurança são apontadas como quesitos insatisfatórios por turistas internacionais e nacionais. A estratégia receptiva e a imagem comercializada extrapolam a percepção do turista e remetem a urgência de soluções práticas. Principalmente durante períodos de alta temporada quando há maior demanda turística ou na ocorrência de mega-eventos, a precária gestão dos resíduos sólidos ressalta-se a todos; moradores e visitantes, que freqüentemente têm a qualidade de vida e a experiência turística prejudicadas. A partir desta concepção foram analisados os resultados do projeto “Green Goal” 2006 comparativamente as ações propostas aos Jogos Pan-americanos de 2007. Palavras –chaves: Resíduos sólidos, cidades turísticas, mega-eventos. INTRODUÇÃO No Brasil, facilmente observam-se cidades sujas com precária destinação do lixo. Especialmente as cidades turísticas, as quais sofrem com a ausência de uma política adequada e eficiente de resíduos sólidos a cada fluxo de visitantes e turistas. Esta situação é um gargalo a ser enfrentado, que pode inviabilizar um destino turístico tornando-o insustentável inclusive para os seus cidadãos. Sinalização, Limpeza Pública e Segurança são conhecidas deficiências de muitas cidades brasileiras e estão documentadas em pesquisas realizadas com turistas nacionais e internacionais no período entre os anos de 1998 e 2003. Porém, ao contrário do que poderíamos esperar, para os turistas estrangeiros o tema da segurança não foi apontado como o de maior desagrado. Segundo o Plano Aquarela 3 , as maiores críticas dos turistas em relação à infra-estrutura básica e turística 1 Texto elaborado como quesito parcial para aprovação da disciplina “Lixo: aspectos históricos, operacionais e culturais” ministrada pelo professor Emílio Eigenheer na Pós-graduação em Ciência Ambiental da Universidade Federal Fluminense. 2 Danielle P. Julião [[email protected]] é Mestranda do PGCA/UFF e tem como foco de pesquisa a inclusão de pessoas com deficiência em áreas naturais públicas. 3 O Plano Aquarela – Marketing Turístico Internacional do Brasil define as bases para todas as ações de divulgação do país no exterior. Três pesquisas com mais de 6 mil pessoas em 18 países serviram de base para formulação do 1 das cidades onde eles permaneceram mais tempo concentraram - se nas deficiências de sinalização turística (10,3%), limpeza pública (10,1%) e segurança pública (9,3%). (Plano Aquarela, 2005, P.21). Ao analisarmos a evolução histórica da avaliação turística sobre o quesito limpeza pública, entre os anos de 2001 e 2003, perceberemos um decréscimo no índice de insatisfação ao longo do período, porém a questão de limpeza urbana ainda é considerada um fator preocupante principalmente, durante os períodos de alta temporada ou da realização de grandes eventos, como indicado no Plano Nacional do Turismo 2003/2007 4 . Este documento reconhece que as cidades turísticas necessitam essencialmente de água, energia, transporte público, segurança, coleta e destino de lixo, tratamento de esgoto, comunicação, vias públicas e facilidades nos acessos. No entanto, a conclusão da pesquisa “Caracterização e Dimensionamento do Turismo Internacional no Brasil - 2004-2005”, realizada pelo segundo ano consecutivo para o Ministério do Turismo e a Embratur pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), da Universidade de São Paulo e com resultados emitidos no último dia 27 de Julho, demonstra que os turistas fizeram boa avaliação da infra-estrutura de nosso país em relação aos itens como limpeza pública, segurança, serviços de táxi, transporte urbano, telefonia e internet e sinalização turística, pois o somatório dos conceitos excelente e bom para cada item atingiu sempre índices superiores a 50%. Vale ressaltar que foram feitas grandes mudanças metodológicas e quantitativas em relação aos estudos realizados antes de 2004, o que não invalida o teor analítico e comparativo da pesquisa da Fipe, considerada pelo Ministério do Turismo a mais representativa desse universo. Porém, as modificações efetuadas não nos permite comparar as porcentagens de todos os anos e nem somar as categorias dos motivos de viagens que ficaram divididos em 3 grupos tais como: “Lazer”, “Negócios, Eventos e Convenções” e “Outros motivos”. Entre as viagens de Lazer o quesito limpeza somou 81,4% de satisfação em 2004 e 83,2% em 2005 ficando em 4º lugar na satisfação do turista seguido da segurança e da telefonia e Plano Aquarela desenvolvido pelo Ministério do Turismo, por meio da EMBRATUR – Instituto Brasileiro de Turismo, e sob coordenação da empresa de consultoria internacional em turismo Chias Marketing. 4 O Plano Nacional do Turismo 2003/2007 é uma ferramenta governamental importante para o crescimento sustentado da atividade e para estabelecimento de estratégias para redução de características sazonais e para melhor integração com as demais atividades econômicas. 2 Internet nos dois anos. Já na avaliação positiva da infra-estrutura do principal destino visitado como “Negócios, Eventos e Convenções” a limpeza publica tanto em 2004 quanto em 2005 também ficou em 4º lugar em satisfação, mas apresentaram respectivamente 72,8% e 76,5%. Indicando uma percepção negativa sobre a Limpeza Pública superior aos turistas da categoria Lazer. Já o destino “Outro motivos” permanece em 4º lugar, mas os valores são ainda menores do que nas categorias anteriores, somando 68,8% e 73,1% para 2004 e 2005 respectivamente. Confirmando que apesar da pesquisa demonstrar um alto índice de satisfação, ainda é relevante o índice de insatisfação para o quesito limpeza pública, ficando o somatório dos conceitos ruim e muito ruim do ano de 2005 em 16,8% para “Lazer”; 23,4% “Negócios, Eventos e Convenções” e 26,8% para categoria “Outros Motivos”. Já o quesito segurança pública apresentou para o ano de 2005 14,4%, 29,0% e 30,8% para as categorias citadas na ordem acima. Uma gestão eficiente dos resíduos sólidos para uma cidade turística é tão importante que em o Plano Aquarela - Marketing Turístico Internacional do Brasil – detectou que, apesar da cidade do Rio de Janeiro ser confirmada como ícone do turismo internacional brasileiro, a limpeza urbana (lixo nas ruas, praias, calçadas etc.) foi apontada como um grande problema, mesmo diante de tanta violência urbana noticiada nos telejornais e periódicos do mundo todo. Portanto, se cruzarmos os quesitos limpeza e segurança com as categorias motivacionais por destinos mais procurados, a Região Sudeste apresenta porcentagens entre 50% e 40% a mais do que as demais regiões em relação às categorias “Negócios, Eventos e Convenções” e “Outros Motivos” respectivamente, o que justificaria o aumento do índice de insatisfação em relação a esses quesitos. Considerando que São Paulo apresenta-se como portal do turismo internacional e o Rio de Janeiro historicamente se configura como principal destino de turistas internacionais podemos encontrar nesta caracterização a ratificação da insatisfação internacional simplesmente como uma extensão das pesquisas de gestão de resíduos sólidos e das condições sanitárias também já apresentadas por outras áreas de estudo nas principais capitais. Na obra Reciclagem: Mito ou Realidade? Os autores analisaram a situação do destino final dos resíduos sólidos no Estado do Rio de Janeiro e concluíram que o quadro está bem critico e acrescentam que um dos fatores determinantes para a formação deste cenário é a criação de consecutivas políticas equivocadas que retardam a cultura de aterros sanitários, solução considerada mais adequada pelo autor e por outros especialistas. Nesta mesma análise constatou-se que entre os poucos municípios que dispõem de Aterros Sanitários, apenas três 3 destes possuem Licença de Operação. (EIGENHEER, EM.; FERREIRA, JA & ADLER, RR,2005) Não obstante, a destinação final do lixo não se encontre entre as preocupações prioritárias dos gestores turísticos municipais, pois a exposição da sujeira e o odor fétido das regiões e atrativos turísticos são geralmente os efeitos emergenciais combatidos; a ausência de um modelo completo, eficiente e ambientalmente adequado para a destinação de resíduos sólidos não passa despercebido pelos turistas, mesmo com todo cuidado e esforço dos órgãos de Turismo em criar uma imagem limpa e organizada. Ao contrário das cidades brasileiras, algumas cidades européias como a Alemanha são tradicionalmente tomadas como exemplo de eficiência na gestão dos resíduos sólidos e em outras questões ambientais de um modo geral. Esta característica foi reforçada mais uma vez, ao final da Copa do Mundo de Futebol do ano de 2006 na Alemanha e com o anúncio dos resultados do Projeto Ecológico “Green Goal”. A Alemanha, como Estado e como sociedade, tem forte relação com uma concepção de meio ambiente compreendido através da educação e pelo esforço em desenvolver tecnologias limpas. (Ibidem) A 18º Copa do Mundo de Futebol realizada durante os meses de junho e julho não poderia deixar de jogar com a questão ambiental. A Fifa, o Pnuma - Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas e o governo alemão fizeram uma parceria para planejar e implantar o Programa “Gol Verde” ou “Objetivo Verde” que objetivava tornar a Copa do Mundo de Futebol na Alemanha a primeira Copa ecológica. Para gerenciar esta empreitada foi escolhido Klaus Toepfer, ex-diretor do Pnuma. Tendo como principal ponto de partida, a Proteção do clima para as gerações futuras, o comitê elegeu os cincos principais impactos ambientais provocados e frequentemente percebidos em grandes eventos para centralizar as ações. Venceram a competição: o aumento no volume de tráfego de carros nas cidades, a necessidade de alto suprimento de energia e água para os estádios e áreas de imprensa, a quantidade de lixo gerada e o conseqüente aumento de emissão de gás carbônico na atmosfera. Para que tudo pudesse sair o mais ambientalmente correto possível, todos os doze estádios que sediariam os jogos e treinos deveriam participar do projeto. A estimativa era de que se alcançasse 20% de redução de energia e água gastas dentro dos estádios, 20% de redução na produção de lixo e 0% de emissões de gás carbônico durante todo o período da Copa. (FIFA, 2006). 4 Após a previsão de que aproximadamente 100.000 toneladas de gases de efeito estufa seriam emitidos durante a Copa Mundial da FIFA 2006, principalmente pelo aumento do fluxo de automóveis na Alemanha, estabeleceu-se que era insuficiente a redução de emissões de gases apenas localmente, por isso, em contrapartida, paises mais pobres receberiam recursos financeiros para projetos que combinassem a redução das emissões de gases de efeito estufa, o impacto no clima e, simultaneamente, promovessem o desenvolvimento social 5 .³ Então, com o lema “O Mundo entre amigos” (português); “A time to make friends™” (inglés); “Die Welt zu Gast bei Freunden™” (alemán) y “Le rendez-vous de l’amitié” (francés), a Copa Mundial da FIFA - Alemanha 2006 iniciou a sua campanha ambiental e indicou as condições para que os projetos fossem contemplados, entre eles, a rejeição de projetos de reflorestamento devido ao risco elevado de desapropriação de populações locais e assim, de fornecer somente um resultado provisório na redução das emissões. Os projetos ficaram concentrados em cidades Indianas e também na África do Sul, este último, país sede da próxima Copa do Mundo de Futebol. No entanto, como os organizadores conseguiram tornar reais os “Objetivos Verdes” nesta Copa do Mundo? Como os estádios, as cidades e os patrocinadores contribuíram? Entre outras ações efetuadas dentro dos cincos macro programas principais, apenas a questão dos resíduos sólidos será abordado pela intenção de comparação com as ações ambientais realizadas para o Pan 2007 no Rio de Janeiro. As estratégias para a redução do lixo foram planejadas através de estudo realizado em um dos principais estádios da Alemanha (Bundesliga), o qual posteriormente serviria como uma das arenas para a Copa. Os estudos demonstraram que o invólucro do alimento e da bebida são as causas preliminares do lixo durante os jogos. E, dentro de uma concepção espacial e comportamental, especialmente do lado de fora do estádio, o lixo era freqüentemente lançado simplesmente no chão. Foi detectado que durante os jogos o lixo produzido era principalmente constituído de Plásticos para empacotar o alimento, a bebida e artigos promocionais; Papel, cartão e caixas derivados de serviço de bufê ou de panfletos de estabelecimentos de entrega de deliveries; Vidro 5 Este princípio encontra-se no coração do mecanismo limpo de desenvolvimento (CDM) formulado no protocolo de Kyoto e assinado por muitas nações industriais a partir de 1997. 5 dos restaurantes e das áreas VIP; além de desperdício de biodegradáveis, principalmente de gêneros alimentícios das áreas com serviço de bufê entre outros desperdícios variados. Calculou-se que o volume de resíduos produzidos em média em uma competição, realizada em Bundesliga, com 40.000 espectadores, gerava ao redor de cinco a dez toneladas de lixo. Cabe salientar, que o desperdício e o lixo gerado no entorno do espaço do evento, nos estacionamentos, paradas de ônibus e ou nos trajetos que conduzem dos estacionamentos às áreas internas do estádio não foram incluídos neste valor. Entretanto, uma competição esportiva em Bundesliga ou mesmo uma competição internacional não podem ser comparadas a um jogo da Copa do Mundo da FIFA. Sendo assim, deveriam ser considerados também os reflexos importantes no volume de lixo produzido, em conseqüência de um fluxo maior de pessoas e pelo fato dos espectadores chegarem freqüentemente mais cedo, consumindo e gastando por muito mais tempo nos estádios. Além de serem distribuídos um número superior de material promocional e propagandas, ação impulsionada pelo aumento de patrocinadores e de atividades, os canais de informação e transmissão, os voluntários, os patrocinadores e seus convidados também requerem alimento e bebida em uma escala maior do que o normal. Agrega-se a isto, o fato de que os grandes eventos exigem uma equipe muito maior de apoio, como os serviços de bufê, cerimonial. E ainda, a parte alimentar e promocional ficam situadas em torno das áreas do estádio. Estimava-se que haveria mais de 3.2 milhões de espectadores da Alemanha e vindos do exterior, durante os 64 jogos da Copa do Mundo de Futebol de 2006 FIFA, junto com aproximadamente 15.000 (quinze mil) jornalistas, em torno de 1.500 (mil e quinhentos) oficiais e convidados da FIFA e aproximadamente 12.000 (doze mil) voluntários, com esta multidão seria impraticável manter a mesma estratégia de coleta e destinação para o lixo de eventos esportivos nacionais. Uma das medidas práticas tomadas foi lançar a campanha do copo reutilizável. Por exemplo, o espectador comprava um refrigerante à $4,00 (quatro euros) sendo que $1,00 (um euro) seria reembolsável no ato da devolução do copo ou nas próximas compras, o espectador só pagaria $3,00 (três euros) para encher o copo usado. Com relação aos papéis, ficou proibida a entrega de panfletos promocionais nas proximidades dos estádios. Os recipientes reutilizáveis e o mínimo de exercício de empacotar podem significativamente contribuir para redução dos volumes de resíduos e ajudar a manter os estádios e as cidades mais limpas e saudáveis. 6 Uma outra questão identificada após a coleta do resíduo durante o estudo foi que o lixo não era produzido exclusivamente durante a competição, o desperdício derivava-se também de outras fontes, incluindo escritórios que durante as comemorações jogavam papeis picados antes e depois dos jogos. Além disto, freqüentemente os cidadãos queixavam-se e os residentes emitiam protestos durante os trajetos e estradas após muitos eventos esportivos e musicais de grande porte, pois facilmente encontravam-se embalagens de comida, garrafas e papeis que não eram dispostos corretamente nos recipientes de lixo. Então, concluiu-se que a estratégia prioritária seria evitar ou minimizar tão quanto fosse possível o volume de resíduos. Os resíduos inevitáveis deveriam ser reciclados de uma forma ambientalmente adequada ou amigável e quando impossível reciclálo, ele deveria ser disposto corretamente. Ficaram estabelecidos que os operadores do estádio teriam a responsabilidade de examinar e separar o lixo, mas cada individuo poderia ativamente contribuir com o objetivo verde, separando com cuidado o lixo no momento de sua eliminação dentro dos respectivos recipientes fornecidos. A Alemanha tem sido considerada por muito tempo como um exemplo europeu e do mundo no campo de gestão de resíduos. Um pacote de atitudes ecológicas como separar e reciclar o lixo vêm sendo testados, algo em torno de 15 anos. A coleta seletiva de vidro, papel e de pacotes biodegradáveis transformou-se em uma norma socialmente aceita, permitindo a produção de produtos tão variados quanto fertilizantes, frascos, papel e plásticos reciclados, poupando matéria prima no processo de fabricação. Embora, este país apresente desde 1972 “uma lei ampla sobre a questão de resíduos sólidos, como parte de um vasto e abrangente programa direcionado para o meio ambiente” (EIGENHEER, 2003, p.73), não exime a responsabilidade e consciência de cada cidadão e visitante para a manutenção da limpeza urbana. A Copa de Futebol de 2006 terminou e os resultados do Projeto “Green Goal” repercutiram nos jornais de todo o mundo. O impacto no ambiente foi inevitável, mas as medidas executadas em torno dos estádios serviram de exemplo de como minimizar os efeitos imediatos e de como estabelecer estruturas ambientalmente benéficas para longo prazo, nos remetendo a reflexão das reais ações em prol de uma atividade sustentável durante Pan- Americano 2007, seguindo a perspectiva do impacto ambiental ocasionado pelos grandes eventos esportivos nas cidades. 7 É inegável a condição do Rio de Janeiro como uma cidade repleta de belezas cênicas artificiais e naturais, com patrimônio cultural e histórico a perder de vista, e que a TurisRio e a RioTur realizem um excelente trabalho de captação de turistas internacionais e nacionais, promovendo a diversificação dos produtos turísticos e diminuindo a pressão nos tradicionais destinos de “sol e mar”. Mas a estratégia receptiva foge a percepção do turista que enxerga além da paisagem. Logo, a precária gestão dos resíduos fica ressaltada a todos; moradores e visitantes, principalmente no verão, período de maior demanda turística. Tantas outras cidades turísticas possuem o mesmo dilema em alta temporada, sem uma solução definitiva e adequada para destinação do lixo, sem uma capacidade de varrição das ruas que acompanhem o fluxo de visitantes, ou consciência ambiental dos ambulantes e freqüentadores que deveriam recolher seu dejetos, traduzindo negativamente o desenvolvimento do turismo, agravados por problemas sociais, econômicas, ambientais e políticos de toda ordem. O Pan 2007 será realizado em uma época de média sazonalidade devido ás férias escolares e pelo Rio ser uma cidade com sol durante quase todo ano, mas o fluxo de pessoas circulando na cidade além de ser expressivo, será concentrado. Aumentando o impacto ambiental e os problemas de gestão, como noticiado pelo Comitê Olímpico, apenas ele terá uma demanda de cerca de 10 mil leitos. Rubem Medina, secretário especial de Turismo do Rio de Janeiro em entrevista ao jornal do Rio Conventions Visitors Bureau, afirmou que a COMLURB está ciente do importante papel a desempenhar e está aprimorando os seus serviços. Porém, após pesquisa aos órgãos responsáveis pela organização e pelas ações de apoio, relacionadas com a questão da limpeza pública durante o Pan-Americano de 2007, não foram encontradas medidas que demonstrassem um planejamento de como o volume de lixo gerado será coletado. Infelizmente, apenas foram encontradas notícias confirmando que os garis, assim como a guarda civil, estão em treinamento para melhor informar aos turistas. Esta medida aparenta uma antiga medida baseada na filosofia das Centrais de Entretenimento das Corporações Disney que acreditam que os mais freqüentes contatos dos turistas e visitantes são estabelecidos com o pessoal da limpeza, apoio e segurança. Ou seja, um bom treinamento melhoraria a qualidade do serviço receptivo e, no caso do Rio de Janeiro, amenizaria a insatisfação dos turistas devida à inexistência de sinalização turística adequada. Embora, o treinamento seja benéfico e tenha um efeito que poderá perdurar mesmo depois dos Jogos, não implica em um programa direcionado para a questão dos resíduos. 8 Este fato agrava-se com a constatação do Senhor Paulo Carvalho Filho, Presidente da Comlurb, quando declara que no Rio de Janeiro “existe mais de 50 mil lixeiras, mais de 9 mil garis e as ruas só ficam limpas no momento imediato a passada do varredor”. (CARVALHO FILHO, 2006). Além disto, “a Comlurb trabalha num gigantesco esforço para que a população não conviva com o lixo, fazendo a coleta noturna e aumentando a freqüência das variações, mas ainda se vê lixo - quase um terço (2,4 mil t /dia) é retirado das áreas públicas”. (Ibidem) Por outro lado, os parâmetros utilizados durante o projeto “Green Goal” permitiram medir e avaliar concretamente o sucesso do projeto ambiental posto em prática. No entanto, os quatro anos precedentes a Copa do Mundo foram necessários para planejar as estratégias que permitiram os resultados positivos desta Copa Ecológica. Principalmente, porque os organizadores desejavam que as ações perdurassem além do evento esportivo e não apenas fosse um fenômeno de passagem e sim uma contribuição real para a situação ambiental. Em um país onde o seu chefe de Estado, em nosso caso o Presidente Lula é flagrado por diversas vezes jogando lixo no chão; onde a Baia de Guanabara, palco dos esportes náuticos encontra-se ainda em estado deplorável de poluição, mesmo após o investimento de milhões de reais; onde a SERLA - Superintendência Estadual de Rios e Lagoas – corre com o processo de dragagem da Lagoa Rodrigo de Freitas de modo a conseguir entregar até o próximo 06 de outubro a lagoa livre de 90 mil metros cúbicos de sedimentos e lixo para realização de evento pré-teste para as competições de remo, o cenário que se apresenta é desolador. Salvo se houver uma excelente estratégia da Comlurb, que por ventura ainda não tenha sido divulgada, além de outros esforços dos demais órgãos responsáveis pela limpeza e saneamento público, a cidade poderá ter grandes problemas com os resíduos gerados durante o período do Pan-Anamericano programado para o período de 13 a 29 de julho e para o Para-PanAmericano, a ser realizado de 12 a 19 de agosto. Por conseguinte, não serão somente os atletas da vela impedidos de realizar suas regatas por causa do lixo, fato com o qual com certeza se indignarão, mas como conseqüência outros atletas também se revoltarão, seja pela sujeira nos estádios, na Vila Olímpica ou em suas imediações. Bem como com relação à impressão dos turistas (espectadores), os quais já possuem sua insatisfação em relação à limpeza pública, cientificamente quantificada, o que poder vir a transformar o sonho do Pan 2007 em um pesadelo. 9 A Prefeitura do Rio de Janeiro e o Comitê Olímpico Brasileiro poderiam aproveitar a oportunidade dos Jogos Pan-americanos para organizar uma campanha de conscientização como do “Green Goal” na Alemanha, que envolvesse toda comunidade de espectadores e turistas, sem se esquivar de suas obrigacionais institucionais e que apresentasse parâmetros possíveis de serem avaliados e medidos concretamente. Incitando a população desde o verão 2006/2007 como pré-teste para o evento, na busca por uma melhor qualidade de vida para a população carioca e para uma melhor experiência turística para os visitantes. Ressaltando que a prática esportiva favorece as relações entre os povos e é um do mais fortes instrumentos para fortalecer a cidadania e o desenvolvimento sustentável, a realização do Pan e do Para-Panamericano 2007 poderá além de ser uma grande oportunidade de negócios para o trade turístico, tornar-se uma conveniente janela para exibição da capacidade de gestão ambiental da cidade que sediou a RioEco 92. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAPODAGLI, Bill; JACKSON, Lynn. O Estilo Disney. Makron Books: 2000. p.176 CARACTERIZAÇÃO E DIMENSIONAMENTO DO TURISMO INTERNACIONAL NO BRASIL. 2004-2005. Metodologia e Resultados do Receptivo. Ministério do Turismo. Brasília, 27 de julho de 2006. 41p CARVALHO FILHO, Paulo POR QUE SE SUJAM AS RUAS? 21/3/2006. Disponível em: http://www.rio.rj.gov.br/comlurb/ Acessado em: 29 de julho de 2006. COMPANHIA MUNICIPAL DE LIMPEZA URBANA – Comlurb. 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