Comportamento Informacional

Transcrição

Comportamento Informacional
Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Jun. – 2010
Estudo de Comportamento Informacional
COMPORTAMENTO DE
INFORMAÇÃO BUSCA NA
INTERNET: Estudo de Caso (Escola EB1 Monte)
Pequeno estudo do Comportamento das crianças de Escola EB1 Monte, relativamente à
busca de informação na internet.
Patrícia Lopes
Resumo
A proposta deste artigo é fazer um estudo de Comportamento Informacional.
Está em perceber como as crianças de uma escola procuram a informação na internet
(como, onde e porque usam a internet), no caso prático da escola EB1 Monte da Cidade
de Vizela. São apresentados alguns exemplos ilustrativos (numa breve revisão da
literatura), com o objectivo de mostrar algumas teorias de alguns autores. São aqui
apresentados os resultados obtidos, após a recolha dos dados através de inquérito.
Palavras-Chave
Crianças – Busca de Informação – Internet
Índice
Introdução ......................................................................................................................... 5
1
Comportamento de busca da informação .................................................................. 7
2
Campo de comportamento informacional humano ................................................... 8
3
Comportamento informacional de crianças............................................................. 13
4
Busca de informação na Internet ............................................................................. 15
5
Informação e conhecimento na Net/Web ................................................................. 17
6
Caso de estudo ......................................................................................................... 20
7
1.1
Metodologia ................................................................................................. 20
1.1
Contextualização .......................................................................................... 23
6.1.1
Escola EB 1 Monte ................................................................................... 23
6.1.2
Caracterização social, económica e cultural ............................................. 23
Resultados ............................................................................................................... 24
7.1
Acesso à Internet .......................................................................................... 24
7.2
Computador e internet em casa .................................................................... 25
7.3
Frequência de uso da internet em casa ......................................................... 25
7.4
Outros locais de uso da internet ................................................................... 26
7.5
Internet na Escola ......................................................................................... 27
7.6
Modos de uso da internet na escola .............................................................. 28
7.7
Disciplinas em que a internet é usada .......................................................... 29
7.8
Usos da internet ............................................................................................ 31
7.9
Tipos de uso da internet ............................................................................... 32
7.10
Sites visitados ............................................................................................... 33
7.11
Comunicação ................................................................................................ 34
7.12
Medos ........................................................................................................... 35
7.13
Representações sobre a internet ................................................................... 35
Conclusões ...................................................................................................................... 37
Referência Bibliográficas ............................................................................................... 39
Anexo 1 - Caracterização dos elementos materiais da escola (EB 1 Monte): edifício,
equipamento e material didáctico disponível ................................................................. 41
Instalações ............................................................................................................... 41
Número de alunos por ano de escolaridade ............................................................. 41
Anexo 2: Inquérito .......................................................................................................... 42
Anexo 3 Definições segundo o DELTCI........................................................................ 48
Lista de tabelas e Ilustrações
Ilustração 1 Modelo de Wilson....................................................................................... 11
Ilustração 2 Sistema de comunicação cognitiva para a recuperação da informação ...... 12
Ilustração 3 Processo de Busca da Informação .............................................................. 14
Ilustração 4 Dinâmica de investigação inspirada no modelo ......................................... 21
Introdução
A internet tornou-se, ao longo dos últimos anos, um instrumento de uso
quotidiano
para
uma
parcela
significativa
dos
indivíduos
nas
sociedades
contemporâneas. O desenvolvimento acelerado das tecnologias da informação e da
comunicação, em particular dos computadores e da internet, tem constituído, desde
meados dos anos 90, um dos eixos fundamentais sobre os quais se estrutura o
desenvolvimento económico, político, social e cultural das sociedades contemporâneas.
Na base deste argumento está o facto de a revolução ocorrida nas tecnologias da
informação e da comunicação ter possibilitado a crescente articulação entre estas e o
tecido económico e social, tendendo para a constituição de economias e sociedades em
rede. Através deste processo estrutura-se um novo paradigma tecnológico, propulsor de
um novo ciclo longo de desenvolvimento económico, assim que for resolvido o
desajustamento com as configurações institucionais de regulação herdadas do
industrialismo.
A concretização deste cenário teórico passa necessariamente não apenas por um
crescimento alargado do acesso e detenção destes equipamentos e serviços por parte de
cidadãos, empresas e instituições públicas, mas também pela ampliação, diversificação
e intensificação do seu uso em diversos contextos.
O primeiro destes problemas remete para a questão estratégica da desigualdade de
acesso às tecnologias da informação e da comunicação, tema amplamente abordado
pelos trabalhos sobre esta “era digital”.
Tornou-se necessário perceber e estudar as formas como se “age” com esta
informação. O centro da compreensão dos tipos de comportamento informacional
humano tem se tornado conhecido nos últimos 25 anos. De forma simplificada, a
conduta humana na busca de informação é “o estudo da interacção entre pessoas, os
vários formatos de dados, informação, conhecimento e sabedoria, nos diversos
contextos em que interagem”. O campo da conduta informacional humana remete a
conceitos como contextos informacionais das pessoas, necessidades de informação,
comportamentos de busca da informação, modelos de acesso à informação, recuperação
e disseminação, processamento humano e uso da informação. No que respeita à busca
de informação na Internet pelas crianças, muitos trabalhos e têm sido apresentados, e
que apontam que as crianças gostam de pesquisar na Internet e são motivados a usá-la
como ferramenta de comunicação e entretenimento, embora isso muitas vezes ocorra
com barreiras e limitações. Têm, contudo, sido desenvolvidos esforços por parte de
vários investigadores, no sentido de desenvolver modelos de procura e pesquisa de
informação na Web, procurando definir padrões de comportamentos que permitam o
estudo aprofundado de como as pessoas usam a Web para encontrar informação.
No presente estudo, procurar-se-á saber qual o comportamento informacional
face à internet, o que os alunos da escola do Monte, situada em Vizela, distrito de
Braga. E, recorrer-se-á ao inquérito para a obtenção de resultados. Irá recorrer-se ao
Método Quadripolar para metedologia de estudo. E assim, este trabalho será constituído
por uma revisão do estado da arte relativa ao assunto, o que ajuda, claramente, a uma
melhor compreensão do caso em questão. Será também apresentado, numa fase
seguinte, todo o processo e fases de estudo. Será também classificado o contexto em
que se insere este estudo. E numa última fase, serão apresentados os resultados e serão
tiradas conclusões.
Resta, contudo, dizer que o objectivo principal está em perceber qual o
comportamento de busca de informação na internet, da escola mencionada, e perceber
de que forma são ou podem influenciar na vida pessoal e também escolar.
O trabalho foi desenvolvido no âmbito da disciplina Comportamento
Informacional da Licenciatura em Ciência da Informação da Faculdade de Letras da
Universidade do Porto.
1 Comportamento de busca da informação
O campo de pesquisas sobre comportamento informacional (tradução para
information behavior) emergiu a partir de estudos realizados por cientistas, antes
mesmo do termo Ciência da Informação ter sido cunhado. Wilson (1999, p. 250)
apresenta como origem desse campo de pesquisa a Conferência de Informação
Científica da Royal Society, realizada em 1948, ocasião em que muitos estudos sobre
comportamento de busca da informação foram apresentados – embora sem o emprego
do termo comportamento informacional – com reflexões orientadas às necessidades de
informação de usuários, principalmente usuários especializados, como cientistas e
pesquisadores (FERREIRA, 1997) e sobre documentação e uso de bibliotecas
(WILSON, 1999). A partir de então, estudos enfocando como pesquisadores e
estudiosos procedem para obter informações foram numerosos e delinearam diferentes
fases, segundo Ferreira (1997):
Década de 40: os estudos restringiam-se à área de Exatas e objetivavam agilizar e
aperfeiçoar os produtos e serviços oferecidos pelas bibliotecas;
Década de 50: intensificaram-se os estudos sobre o uso da informação entre grupos
específicos de usuários, englobando as Ciências Aplicadas;
Década de 60: nessa época, os estudos passam a contemplar questões relativas ao
comportamento de usuários, como tecnólogos e educadores, surgindo estudos de fluxos
da informação, canais formais e informais. Data desse período o crescimento de estudos
que analisam os diferentes aspectos de busca e uso da informação.
A partir da década de 80, os estudos passaram a enfocar a avaliação de satisfação e
desempenho.
Para Wilson, uma das principais críticas feitas a esses estudos dirigia-se ao fato
dessas pesquisas não terem sido construídas com base em pesquisas prévias, de maneira
a formarem um corpo teórico e de estudos empíricos que poderiam servir como ponto
de partida para pesquisas futuras. Algumas razões para a emergência dessas críticas
seriam a tradição positivista, cuja influência é perceptível nos estudos realizados
inicialmente, que adoptaram métodos quantitativos – inadequados, segundo Wilson –
para estudos do comportamento humano, o que teria gerado pesquisas orientadas para a
quantificação, razão pela qual pouquíssimos estudos dessa natureza conseguiram criar
insights para o desenvolvimento de teorias ou práticas. Em segundo lugar, o fato de
pesquisadores da CI ignorarem trabalhos desenvolvidos em outras áreas do
conhecimento, que poderiam oferecer modelos teóricos mais adequados ao estudo do
comportamento humano e, em terceiro lugar, o fato de estudos voltados a essas questões
terem emergido há apenas quinze anos, aproximadamente, época em que a CI passou a
enfocar a efectividade da comunicação do conhecimento e sua representação entre os
seres humanos; o uso e a necessidade da informação e as tecnologias da informação
(LIMA, 2003, p. 78).
Contudo, nas últimas décadas, esse quadro vem sendo modificado, em
decorrência da aplicação de métodos qualitativos, abundantes principalmente em
estudos britânicos, que possuem grande tradição em estudos de comportamento.
2 Campo de comportamento informacional humano
Actualmente, tem sido dado grande reparo ao comportamento humano de busca
e uso da informação. O centro da compreensão dos tipos de comportamento
informacional humano tem se tornado conhecido nos últimos 25 anos. De forma
abreviada, a conduta humana na busca de informação é “o estudo da interacção entre
pessoas, os vários formatos de dados, informação, conhecimento e sabedoria, nos
diversos contextos em que interagem”. O campo da conduta informacional humana
remete a conceitos como contextos informacionais, necessidades de informação,
comportamentos de busca da informação, modelos de acesso à informação, recuperação
e disseminação, processamento humano e uso da informação. O seu desenvolvimento
está baseado em: “a informação é essencial ao funcionamento e interacção dos
indivíduos, grupos sociais, organizações e sociedades e para melhorar a qualidade de
vida. O que o fundamenta é a crença de que a informação tem o potencial para mudar o
que as pessoas já conhecem e moldar suas decisões e acções” (TODD, 2003).
A mudança de um paradigma orientado para o sistema em vez de orientado para
o usuário, no âmbito da recuperação da informação, teve grande influência no campo do
comportamento informacional. As principais questões da ciência da informação1 passam
a colocar o enfoque no usuário, nas suas necessidades e usos de informação.
1
“ a Ciência da Informação é uma ciência social que investiga os problemas, temas e casos relacionados com o fenómeno info-
comunicacional perceptível e cognoscível através da confirmação ou não das propriedades inerentes à génese do fluxo,
organização e comportamento informacionais (origem, colecta, organização, armazenamento, recuperação, interpretação,
transmissão, transformação e utilização da informação). Ela é trans e interdisciplinar, o que significa estar dotada de um corpo
teórico-metodológico próprio construído, dentro do PARADIGMA EMERGENTE PÓS-CUSTODIAL, INFORMACIONAL E
CIENTÍFICO…” in DELTCI. Dicionário Electrónico de Terminologia em Ciência da Informação. Disponível em:
http://www.ccje.ufes.br/arquivologia/deltci/dic.asp?let=c, , Consultado em: 07 de Junho de 2010.
No entanto, Dervin e Nilan (1986), numa importante revisão da literatura sobre os
estudos de usuários produzidos na ciência da informação entre os anos 1975 e 1985,
notaram que a maioria deles permanecia reduzida pelas necessidades do sistema, seu
desempenho e eficiência.
O
paradigma
orientado
para
o
usuário
concentra-se
nos
aspectos
subjectivos/individuais e não no sistema, a informação é o conhecimento interno ou
sensitivo que cada pessoa constrói para satisfazer as suas necessidades informacionais;
há a existência de produção de sentido, as pessoas constroem suas necessidades fora das
situações que surgem em seus contextos2; a visão da experiência do usuário é uma visão
holística, com foco no conjunto das interacções sociais e nos aspectos cognitivos e
psicológicos em que predomina o uso de abordagens qualitativas nas pesquisas, tais
como entrevistas, grupos focais, estudos de caso, brainstorming, incidente crítico, etc.
Este conjunto de hipóteses centradas no usuário e colocadas por Dervin e Nilan (1986)
tem orientado a pesquisa e as actividades profissionais da ciência da informação. Ele
tem se propagado, talvez, por indicar múltiplos caminhos de pesquisa que têm
2
“Termo comum a várias línguas (português, espanhol, francês, italiano, inglês, etc) dicionarizado como a inter-
relação de cicunstâncias que acompanham um facto lou uma situação ou como a composição e o que envolve e
condiciona um elemento que aí se destaca, mas com raízes no campo literário e linguístico: encadeamento das ideias
de um escrito ou ainda o que constitui um texto no seu conjunto. Em CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, mais
precisamente nos estudos de comportamento informacional, é um conceito operatório oportuno a par de meio
ambiente, embora possa ser dispensado por quem use de forma extensiva e intensiva a teoria sistémica. Há, porém,
óbvias vantagens de usá-lo estritamente no âmbito das atitudes humanas e sociais emergentes do fenómeno infocomunicacional. Neste sentido, define-se como uma unidade agregadora de elementos materiais (um edíficio, um ou
mais aposentos quaisquer que constitui cenário para a acção info-comunicacional), tecnológicos (mobiliário,
material de escritório, computadores com ou sem ligação à Internet, etc.) e simbólicos (o estatuto e os papéis
desempenhados pelas pessoas ou actores sociais) que envolvem o(s) sujeito(s) de acção info-comunicacional através
de momentos circunstanciais delimitados cronologicamente (situação). Engloba dois tipos essenciais: orgânico e
efémero. O CONTEXTO orgânico pode ainda ser institucional (em que a unidade agregadora é determinada
estruturalmente por uma instituição pública ou privada, mas com aparelho político-administrativo) e informal (em
que a unidade agregadora é determinada estruturalmente por entidades individuais e colectivas, sem ou com
reduzido aparato burocrático e de génese e extinção rápidas). O contexto efémero possui uma variedade de graus
que vão do mais acidental e volátil, como é o caso de um grupo de pessoas conhecidas que se encontram na rua a
conversar (emitir e receber informação), o caso dos comícios, das manifestações espontâneas e organizadas, etc.,
pondendo confundir-se com situação, até ao mais perene e regulado, como é o caso das tertúlias de amigos que se
reúnem periodicamente. Este tipo concreto de contexto efémero pode converter-se em contexto orgânico informal. A
linha divisória é ténue, mas existe. Quando os contextos se cruzam, sobrepõem ou coexistem estamos perante uma
relação contextual de complexidade variável” in DELTCI. Dicionário Electrónico de Terminologia em Ciência da
Informação. Disponível em: http://www.ccje.ufes.br/arquivologia/deltci/dic.asp?let=c, , Consultado em: 07 de Junho de 2010.
procurado identificar e compreender as dimensões comportamentais, ao identificar
habilidades necessárias para o uso eficaz da informação e a maneira de a informação e o
conhecimento poderem contribuir para melhorar a qualidade de vida das pessoas. O
diálogo entre a ciência da informação e a ciência cognitiva pode ser observado em
pesquisas que visam a compreender os processos cognitivos envolvidos no
comportamento dos usuários da informação (comportamento informacional) e nas
actividades de tratamento e recuperação da informação, análise de documentos.
A emergência de uma perspectiva cognitiva da área tem fornecido uma visão do
usuário como alguém que busca e interpreta a informação, em que as estruturas de
conhecimento das pessoas, que se encontram em suas mentes, constituem-se o principal
objecto de análise. A essência da abordagem cognitiva na ciência da informação é “a
ideia de percepção humana, cognição e estruturas de conhecimento”.
Para Belkin (1990), os autores mais representativos da cognição na ciência da
informação são Bertram C. Brookes, Robert S. Taylor, Gernot Wersig e Brenda Dervin.
Brookes é considerado o precursor da abordagem cognitiva na ciência da informação;
sua obra se tornou clássica, pois foi ele quem lançou os fundamentos dessa abordagem
na área. A essência do pensamento de Brookes (1980) pode ser compreendida por meio
de sua “Equação Fundamental da Ciência da Informação”, expressa na fórmula K[S] + r
I = K[S + r S], na qual K[S] representa as estruturas de conhecimento, r I a interação
com a informação e o conhecimento, K[S + r S] a nova estrutura modificada e r S o
efeito da modificação. Nessa equação, informação e conhecimento (r I) têm o mesmo
significado. Segundo este, a assimilação da informação é um processo de interacção
entre o indivíduo e determinada estrutura de informação que gera modificação no seu
estado cognitivo. O conhecimento dá-se quando a informação é percebida e aceite.
Conhecimento é toda alteração provocada no stock mental do indivíduo, oriunda da
interacção com estruturas de informação, portanto, quando não há alteração desse stock
de saber, não houve assimilação da informação.
E assim, alguns modelos importantes sobre o comportamento informacional
humano têm sido construídos, conforme demonstrado por Todd (2003). A maior parte
deles destaca-se que o ponto principal do comportamento informacional é o conceito de
necessidade de informação, o contexto ou situação. Um dos modelos mais importantes é
o do cientista da informação Tom Wilson, representado na figura a seguir.
Ilustração 1 Modelo de Wilson
Fonte: TOOD, 2003
O modelo de Wilson (1996) dita que algumas variáveis activas e intervenientes,
configuram o percurso de busca da informação. Uma simples questão de informação
pode ser, uma complexa necessidade. Assim, Wilson, sugere que as seguintes variáveis
intervêm no comportamento de busca de informação: características pessoais, variáveis
emocionais, educacionais, demográficas, sociais, ambientais e económicas.
Brenda Dervin, da Universidade do Estado de Ohio nos EUA, tem desenvolvido
uma importante teoria na qual afirma que a busca de informação é um processo
dinâmico de construção de sentido, formado por contínuas modificações dos quadros
internos da realidade, por meio de estáveis construções e reconstruções. As
necessidades e experiências quotidianas das pessoas fornecem o contexto para a busca
de informação, situações que surgem onde as pessoas percebem que sua compreensão
de muitas coisas está incompleta ou bloqueada. Começam a elaborar questões e
formular ideias, reunindo informações formais e informais que forneçam respostas,
ajudando-as a construir sentido. Assim, surge o processo de construção de pontes sobre
as lacunas ou descontinuidades, por meio de busca e uso da informação. Fornece
subsídios proveitosos para a compreensão do comportamento de busca e uso de
informação de crianças: a compreensão de sua situação, as suas necessidades, as suas
percepções de auxílio e uso da informação, bem como a construção de sentido e de novo
conhecimento. Os serviços de informação, podem fazer intervenções mais eficazes no
processo de busca e uso da informação, auxiliando os alunos a desenvolver habilidades
relevantes que os ajudem a solucionar suas questões.
Também a Teoria do Estado Anómalo do Conhecimento (ASK), de Belkin, é útil
para ampliar o entendimento do comportamento informacional humano, já que também
abarca a dimensão cognitiva e as perspectivas sociais dos usuários. Belkin, coloca o
modelo ASK como uma estrutura para melhorar um sistema de informação ou a
performance dos serviços de informação no conjunto das necessidades dos usuários,
como representa o modelo a seguir:
Ilustração 2 Sistema de comunicação cognitiva para a recuperação da informação
Fonte: TOOD, 2003
Belkin sustenta que o foco sobre os estados do conhecimento do usuário e os
seus problemas, objectivos e intenções oferece soluções estratégicas para o design de
sistemas de recuperação da informação.
Os padrões teóricos apresentados discutem situações dos usuários e indicam que
o comportamento informacional é um processo complexo, por absorver elementos
internos (sentimentos, percepções e estados mentais), e elementos externos (ambientais,
demográficos, económicos e sociais).
3 Comportamento informacional de crianças
A primeira linha de pesquisa, que relaciona as bibliotecas escolares e o
aprendizado dos estudantes, busca compreender mais precisa e especificamente como
determinados grupos de estudantes atravessam a trajectória escolar, de que forma a os
serviços de informação contribuem para o aprendizado dos estudantes e como isso é
percebido por eles. Isto é analisada sob um forte papel educacional e é parte
fundamental para o desenvolvimento da competência informacional no contexto escolar,
ou seja, desenvolvimento de habilidades nos estudantes que os capacitem à busca e uso
mais efectivos da informação. Como eles podem ser mais bem capacitados, os efeitos
específicos do crescimento ascendente da informação e a extensão das dimensões
comportamentais, afectivas e cognitivas que configuram os comportamentos
informacionais dos estudantes são discutidos.
A pesquisa de Kuhlthau (2004, 1991) está entre os trabalhos mais citados
internamente no campo do comportamento informacional humano e tem tomado parte
importante na configuração da pesquisa, pois, além de explorar as atitudes dos
estudantes, avança na compreensão das dimensões cognitivas e afectivas das crianças no
processo de busca e uso da informação. Para essa autora, a actividade de pesquisa é
muito mais do que uma actividade intelectual, é um misto de acções, sentimentos e
pensamentos que atravessam cada uma das fases da pesquisa. Com uma visão
construtivista, a sua teoria, denominada Processo de Busca da Informação, representa
importante contribuição para o campo. Está fundamentada nos seguintes estágios:
iniciação, selecção, exploração, formulação, colecta, apresentação e avaliação. No
estágio inicial os estudantes são convidados a se ajustarem numa questão de pesquisa.
Um elemento essencial nesse estágio é a presença de uma necessidade de informação
que os convide ao processo de construção de sentido. Durante o segundo estágio, os
estudantes escolhem o que buscar em resposta à questão inicial, considerando o que eles
já conhecem, o que querem e necessitam descobrir. A questão do interesse pessoal tem
se tornado um factor decisivo nesta fase do processo.
Ilustração 3 Processo de Busca da Informação
Fonte: TOOD, 2003
No terceiro estágio, os estudantes exploram a questão inicial e desenvolvem as próprias
questões, que surgem quando eles começam a aprender sobre o assunto. Comummente,
eles encontram informação inconsistente e incompatível com o que já conhecem e com
suas expectativas. No quarto estágio, os estudantes mentalizam-se das diversas
dimensões e ramificações da questão inicial e começam a formar as suas próprias
perspectivas focadas no assunto anteriormente estudado. O que os encaminha para a
fase seguinte, a de recolha de informação. A recolha de informação é o estágio
posterior, no qual os estudantes reúnem informações que definem, ampliam e dão
suporte ao foco que haviam formado; normalmente, o interesse e a confiança aumentam,
enquanto eles ganham um senso de propriedade e perícia no assunto. A pesquisa tem
revelado que os estágios de exploração, formulação e recolha não são dissociados, mas
acontecem de forma intercalada. No estágio da apresentação, os estudantes preparam se
para compartilhar o que foi aprendido com a comunidade.
Muitos estudos têm sido feitos sobre comportamento informacional de crianças e
nas últimas décadas. De entre eles, pode-se citar a pesquisa substancial desenvolvida
por Baughman (2000), no estado de Massachusetts (EUA). Preocupado com a qualidade
da educação pública, o autor fez amplo estudo em todo o estado, medido por testes
estatísticos e a sua relação directa com as bibliotecas escolares. Foram enviados 1.818
questionários para as escolas públicas (ensino fundamental e médio), com retorno de
519 questionários. O estudo aponta que, no estado de Massachusetts, 92% das escolas
públicas possuem bibliotecas escolares, e ficou comprovado que as notas dos estudantes
são mais elevadas onde há escolas com programas de bibliotecas, onde as bibliotecas
possuem maior número de livros por estudante, onde são usadas mais intensamente,
onde permitem maior flexibilidade de horários, onde existem programas institucionais e
onde há maior investimento.
O trabalho empreendido por Lance (2001) tem consubstanciado estudos
importantes nos Estados Unidos, nos estados do Colorado, Alaska e Pensilvânia.
O trabalho relaciona os programas de biblioteca escolar e seus efeitos sobre as
actividades dos estudantes.
Na Austrália, Lonsdale (2003) preparou um relatório importante sobre o assunto,
publicado pelo Conselho Australiano para Pesquisa Educacional. Nesta revisão,
empreendida pela Associação Australiana de Biblioteca Escolar (ASLA), o enfoque
principal é dado ao relacionamento entre os serviços de informação e as actividades
estudantis, realçando o papel educacional da mesma. São analisados vários estudos
sobre o tema desde 1990,
4 Busca de informação na Internet
No que respeita à busca de informação na Internet pelas crianças, muitos
trabalhos e têm sido apresentados, e que apontam que as crianças gostam de pesquisar
na Internet e são motivados a usá-la como ferramenta de comunicação e entretenimento,
embora isso muitas vezes ocorra com barreiras e limitações.
O estudo de Akin (1998) a respeito da sobrecarga informacional, com 265
crianças do ensino público elementar do Texas, nos Estados Unidos. Utilizando como
instrumento de recolha de dados, o questionário, aponta que as crianças têm
experimentado a sobrecarga informacional da rede, e 80% delas indicou essa situação.
Elas disseram que experimentam sentimentos de confusão, frustração, irritação, fúria,
stress, tensão e pânico, além de sintomas físicos, como dor de cabeça, cansaço,
depressão, fadiga e doenças. Para minimizar essa condição, as crianças utilizam
estratégias de filtragem, omissão e eliminação de determinados tipos de materiais. O
estudo recomenda a importância do conhecimento das situações vivenciadas pelas
crianças para que se possa actuar de forma a minimizar os impactos negativos da
sobrecarga informacional da rede.
Um estudo de Bilal e Kirby (2002) indica as diferenças e similaridades de busca de
informação na Web por estudantes do ensino elementar, ao pesquisarem no Yahoo
kids3!. Procura analisar o comportamento cognitivo, afectivo e físico de ambos os
grupos quando procuram uma resposta para as suas questões, bem como os seus
movimentos na rede, as suas formas de deslocamento e quanto tempo necessitam para
completar a resposta. Dentro da mesma perspectiva, o estudo de Lazonder, Biemans e
Wopereis (2000) também procurou analisar as diferenças entre usuários novatos e mais
experientes na busca de informação na Web, tanto no que diz respeito à localização de
sites, quanto à localização de informação nos mesmos. Para tal, participaram da
pesquisa 25 estudantes pré-universitários de duas escolas holandesas, com idade média
de 15 anos. As notas dos estudantes mais experientes foram mais elevadas do que as dos
usuários mais novos, em todas as performances de localização de sites da Web.
Marcante estudo também foi desenvolvido por Fidel et al. Em 1999, com
estudantes de ensino médio da West Seattle High School, em Seattle, ao analisar o
comportamento de busca informacional na Web em actividades extra escolares dos
alunos. Os métodos utilizados foram observação e entrevistas, que incluíram o professor
e o bibliotecário. O estudo aponta que o potencial da Web como uma ferramenta de
reunião de informações e aprendizado é enorme, e muito dele ainda não tem sido
previsto.
O trabalho de Hirsh (1997) reveste-se de fundamental importância, ao questionar
como as crianças encontram informação para diferentes tipos de questões por meio do
uso do Science Library Catalog. O acesso à informação electrónica por parte de crianças
tem crescido muito, seja por meio de catálogos, CD-Roms, serviços on-line e Internet.
Usar essas ferramentas para encontrar a informação desejada pode ser desafiador, como
a pesquisa tem mostrado com pesquisadores adultos de catálogos e bases de dados.
Pesquisar nessas fontes de informação electrónica requer um conjunto diferenciado de
estratégias de pesquisa e habilidades, mais do que quando se pesquisa nas fontes
impressas, e está relacionado ao tipo de informação que é desejada. Este artigo examina
como as crianças do ensino fundamental encontram informação sobre diferentes tipos
de actividades de pesquisa a partir de sistemas de recuperação da informação, focando3
Yahoo! Kids é um portal Web disponibilizado pelo Yahoo! Compreendendo um "navegável, directório de sites de
busca da Internet para as crianças", cujo conteúdo foi seleccionado manualmente por educadores para o consumo por
crianças de 7-12. O portal era conhecido anteriormente como Yahooligans.
se sobre o uso que elas fazem do Science Library Catalog. O trabalho mostrou que a
complexidade da tarefa e o grau de conhecimento das crianças influenciam o sucesso na
localização da informação no Science Library Catalog.
5 Informação e conhecimento na Net/Web
*(Definições de informação e conhecimento em CI apresentadas em anexo)
Têm sido desenvolvidos esforços por parte de vários investigadores, no sentido
de desenvolver modelos de procura e pesquisa de informação na Web, procurando
definir padrões de comportamentos que permitam o estudo aprofundado de como as
pessoas usam a Web para encontrar informação.
Encontramos na literatura especializada alguns modelos de procura e pesquisa de
informação, dos quais se destacam o modelo de Ellis (1989) e o modelo integrador
desenvolvido por Choo, Detlor & Turnbull (1998). O primeiro é composto por seis
categorias: iniciação, ligação, pesquisa, diferenciação, monitorização e extracção. Ellis
afirmou que estas actividades eram aplicáveis a ambientes de hipertexto (no qual se
encontra a World Wide Web). Em estudos posteriores, Ellis (1991) acrescentou mais
duas características ao seu modelo: verificação, onde a exactidão de informação é
verificada; finalização, que tipifica a conclusão do processo de procura de informação,
tal como a construção de um sumário final e organização de notas.
Posteriormente Ellis (1997) alterou de algum modo as características do seu
modelo, actualizando a iniciação para estudo. A diferenciação foi alterada para
distinção, com base na classificação das fontes de informação. Esta alteração inclui
também a anotação do canal de onde a informação é originária.
Por sua vez Choo, Detlor & Turnbull (1998) apoiando-se em Aguilar (1967)
consideram que os modos de rastreio propostos por este autor (visionamento indirecto,
visionamento condicionado, procura informal e procura formal) e os comportamentos
de pesquisa de Ellis podem ser combinados e apresentados num novo modelo
comportamental de pesquisa de informação na Web. No modo de visionamento
indirecto na Web, encontramos muitos exemplos de iniciação e encadeamento ou
ligação. A iniciação ocorre quando os “navegadores” iniciam o uso da Net/Web com
páginas pré-seleccionadas, ou quando visitam uma página ou o seu site preferido para
iniciar o visionamento (tais como notícias, jornais, ou sites de revistas). A ligação
ocorre quando as pessoas reparam em tópicos de interesse (frequentemente por acaso), e
depois seguem ligações de hipertexto a mais informação relacionada com esses itens.
No modo de visionamento condicionado da Web a pesquisa, a diferenciação e a
monitorização são comuns. A diferenciação ocorre quando o utilizador selecciona um
site ou páginas da Web que espera forneça informação relevante. Os sites podem ser
diferenciados com base em prioridades dadas a visitas pessoais, ou recomendações
dadas por outros: oralmente ou em críticas publicitadas. Durante a procura informal na
Web supomos que a diferenciação, extracção e monitorização sejam típicas. A procura
informal é provavelmente mais ensaida num pequeno número de sites da Web que
foram diferenciados pelo indivíduo atendendo: ao seu conhecimento dos mesmos, à
relevância da informação neles contida, bem como à sua qualidade, ligação e
dependência em relação a outros sites. A extracção é relativamente “informal” no
sentido em que a procura seria restringida à procura de informação dentro do(s) site(s)
seleccionado(s). No decorrer da procura formal na Net/Web desenvolvem-se as
operações de extracção com alguma actividade complementar de monitorização. A
procura formal serve-se de motores de procura que fazem uma cobertura da Net/Web
relativamente vasta e que fornecem um poderoso conjunto de características de pesquisa
que podem focar e extrair informação. O objectivo é recolher sistematicamente
informação relevante para o assunto em estudo, processo de decisão, projecto ou
desenvolver o curso de uma acção. Na procura formal são preferidas fontes que são
percebidas como sedes de conhecimento utilizável, ou de serviços de informação que se
esforçam por assegurar a qualidade e precisão dos dados (cfr. Navarro-Prieto, Scaife e
Rogers, 1999; Hölscher e Strube, 2000). Por outro lado, Choo et al. (2000) dividem as
actividades de pesquisa da informação em três processos: sentimento de necessidade de
informação, pesquisa de informação e uso da informação. Cada um dos processos
compreende factores afectivos, cognitivos e situacionais. As necessidades de
informação teriam origem nas lacunas cognitivas existentes entre um problema e a
necessidade de o resolver, devido às próprias lacunas do conhecimento e à sua relativa
incoerência. Para além disso, as necessidades cognitivas também são transformadas em
respostas afectivas de acordo com o modo de pensar de cada um: «As respostas
afectivas influenciam e são influenciadas pela habilidade do indivíduo em construir
conhecimento, focar a informação, gerir humores e expectativas e aprofundar o
interesse pessoal na procura» (Choo et al., 2000, p.5). Ao nível situacional, as
necessidades de informação surgem dos problemas, incertezas e ambiguidades
encontradas nos contextos e nas experiências. Tais situações e experiências são
compostas por um elevado número de elementos que relacionados estão ou não de
acordo com o assunto principal, mas também com as condições da situação, com a
clarificação do objectivo e o consenso, amplitude do risco, quantidade e locus de
controle (cfr. Azoh, 1995; Jesus, 1996), normas profissionais e sociais, tempo e
constrangimento de recursos, etc.. As necessidades de informação conduzem a projectos
de procura de informação, que se assemelham a um processo de resolução de problemas
ou de tomada de decisão. O indivíduo identifica possíveis recursos e diferencia-os de
acordo com a sua percepção da qualidade e da acessibilidade desses mesmos recursos,
do esforço (físico, psíquico e psicológico) e tempo necessários para o contacto e a
extracção, relacionando-os com a utilidade antecipada da informação que pode obter.
Ao mesmo tempo, esta avaliação de custos/benefícios é modulada pelo interesse pessoal
do indivíduo e pela sua motivação (cfr. Nuttin, 1996; Simon, 1989, 2000; Michel, s/d).
O resultado da procura de informação, envolve um jogo de observação na selecção da
informação, que é uma pequena parte do total da informação que é recebida. Como esta
informação é processada e posta em uso, depende do estilo cognitivo e das preferências
de cada um, das suas respostas emocionais que acompanham o processamento da
informação e do contexto social e cultural onde a mesma vai ser usada. O resultado final
do uso da informação é o de uma mudança no estado de conhecimento do indivíduo,
permitindo-lhe compreender ou resolver um problema ou situação ou ainda desencadear
uma acção. Isto gera novas experiências e novas necessidades de informação, de modo
que o ciclo de procura de informação é contínuo.
Quanto à problemática da qualidade da informação disponível via Internet, o conceito é
frequentemente significado em referência a fontes que contêm um conteúdo original,
que são exactas e de confiança.
.
6
Caso de estudo
Para realizar este estudo foi escolhida a Escola EB1 Monte, situada na cidade de
Vizela, na freguesia de Santa Eulália, nomeadamente as turmas do 3º e 4º ano de
escolaridade. O principal objectivo está em perceber o comportamento no acesso e uso
da internet, tentando perceber a influência que esta (internet) tem no quotidiano das
crianças dessa escola, percebendo fundamentalmente o quanto, como e porque usam a
internet, e a informação que obtêm, tanto em casa como na escola. No fundo está em
perceber qual o comportamento informacional dessas crianças face ao usa da internet.
1.1
Metodologia
As metodologias de investigação qualitativa, significando quer o tipo de dados
que uma investigação produz, quer o modo de actuação que lhe são dependentes (Silva,
2000) e as suas diversas abordagens parecem, perante esta realidade complexa, aquelas
capazes de reflectir, de forma intensa e constante, o “todo” de investigação que se
impõe para uma boa compreensão do fenómeno/processo social e informação,
enquadrado no estudo em causa.
Nesta análise dados de cariz quantitativo, incluir-se-ão reflexões de maior amplitude
sobre as populações estudadas. Portanto este estudo, de investigação propõe-se, partir
de uma base teórica sustentada e aberta às inevitáveis transformações que um contexto
extremamente dinâmico, integrar as metodologias de análise social existentes de forma
a conseguir abordar resultados capazes de reflectir as tensões que, ancoradas no
fenómeno social informação, emergem do indivíduo nas suas relações com os meios
sociais.
Propomo-nos uma prática metodológica baseada no modelo de compreensão da
prática científica proposto por P. De Bruyne, J. Herman e M. de Schouteete (1975), que
concebem a prática metodológica como um espaço quadripolar, constituído num dado
campo do conhecimento, incluindo nesse espaço o pólo epistemólógico “motor de
pesquisa do investigador” (De Bruyne et al., 1975), o pólo teórico “onde as hipóteses
se organizam e em que os conceitos se definem” (Lessard-Hebert, 1994), o pólo
morfológico, relacionado com a estruturação do objecto científico onde se inclui a
objectivação, a organização e apresentação dos resultados e a redacção do relatório de
investigação e o pólo técnico, que corresponde às operações técnicas de recolha de
dados. Estes pólos, longe de isolados ou separados, são um ciclo dinâmico que
reciprocamente se recomeça e sustenta, tal como explica ou demonstra a figura a seguir:
Pólo Epistemológico
Pólo Teórico
Método
Quadripolar
Pólo Morfológico
Pólo Técnico
Ilustração 4 Dinâmica de investigação inspirada no modelo
Assim, o modo de investigação proposto é o da pesquisa em contexto real de
como as crianças de uma escola usam a internet. Traçando primeiramente, uma
panorâmica dos diversos estudos (muitos) que procuram perceber o estudo em causa,
através de uma breve revisão da literatura. A etapa seguinte, envolveu a escolha da
amostra e a elaboração de um roteiro para o estudo (baseado no ponto anterior). Depois
propôs-se várias unidades de análise, que permitissem perceber e “encontrar o
pretendido com o estudo.
A técnicas proposta, o instrumento usado para a recolha de dados qualitativos,
foi o inquérito4.
Da escola, os alunos participantes serão os alunos do terceiro e quarto ano de
escolaridade, portanto alunos com idades compreendidas entre os sete e dez anos. Como
já foi mencionado no terceiro ano, estão inscritos 23 alunos e no quarto ano 21 alunos, o
que perfaz um total de 44 alunos participantes. Foi-lhes proposto responder a um
inquérito simples, de fácil compreensão. O inquérito seria auxiliado por entrevista, pois,
foi dada a possibilidade de falar com cada um dos alunos em particular, o que ajudou a
completar as questões do inquérito, com dados que pareceram pertinentes na altura.
“O Inquérito pode ser definido como uma interrogação particular acerca de uma
situação englobando indivíduos, com o objectivo de generalizar.” (Ghiglione &
Matalon, 2001, p.7 e 8); “ … é um instrumento para recolha de dados constituido por
4
Inquérito apresentado em Anexo (Anexo 2)
um conjunto mais ou menos amplo de perguntas e questões que se consideram
relevantes de acordo com as características e dimensão do que se deseja observar.”
(Hoz, 1985:58), e “… tornou-se num dos mais usados e abusados instrumentos de
recolha de informação. Se bem construído, permite a recolha de dados fiáveis e
razoavelmente válidos de forma simples, barata e atempadamente. (Anderson, 1998:
170).
O seu grande problema é a validade, uma vez que a sua medição é indirecta e
esta pode não corresponder à realidade, porque o inquirido pode: desconhecer o tema;
pretender esconder informações; não interpretar as perguntas de forma adequada.
Contudo, parece que este problema, estaria um pouco controlado, na medida, em que
aqui, foi permitido, explicara e acompanhar as respostas dos inquiridos, e se tratando de
crianças, ajudando a perceberem, por vezes o próprio vocabulário ou mesmo a intenção
das questões. Para o conseguir, propõe-se o seguinte percurso metodológico:
[POLO EPISTEMOLÓGICO]
I.
Análise bibliográfica. Análise de Paradigmas e conceitos, tendo sido
aprofundados os seguintes pontos: Comportamento Informacional Humano;
Comportamento Informacional das Crianças; Busca de informação na
internet; Informação e conhecimento na Internet; Comportamento de busca
de informação.
[POLO TEÓRICO/MORFOLÓGICO]
II.
Caracterização dos objectos em estudo. A escola EB1 Monte, Vizela –
caracterização social, cultural e económica.
III.
Definição de Metodologia de Investigação. Aprofundamento e análise
metodológica. Análise de critérios de investigação. Definição de modo de
investigação, de técnicas e de recolha de dados.
[POLO TÉCNICO]
IV.
Recolha de dados quantitativos/Inquérito: Construção de Inquérito;
Aplicação teste do Inquérito em população alvo; Aplicação Recolha de
dados métricos; Análise de resultados
V.
Análise e extracção de resultados globais. Discussão de sugestões teóricopráticas passíveis de generalização. Verificação, voltar ao início.
VI.
Escrita do trabalho
1.1
Contextualização
6.1.1
Escola EB 1 Monte
A Escola (de ensino básico – 1º, 2º, 3º e 4º anos de escolaridade) situada, na
freguesia de Santa Eulália5 do Concelho de Vizela, distrito de Braga, insere-se no
Agrupamento de Escolas de Vizela, competente de, designadamente, e de acordo com a
lei: favorecer um percurso sequencial e articulado dos alunos abrangidos pela
escolaridade obrigatória; superar situações de isolamento de estabelecimentos e prevenir
a exclusão social; reforçar a capacidade pedagógica dos estabelecimentos que o
integram e o aproveitamento racional dos recursos. Tem um total de 97 alunos, sendo
23 do 3º ano e 21 do 4º ano de escolaridade.
6.1.2
Caracterização social, económica e cultural
Vizela é uma cidade pequena e recente, gente que se conhece e se mistura,
empresários, comerciantes, operários. O desemprego tem sido o grande inimigo destas
gentes nos últimos tempos, pois a crise que tem afectado o sector empresarial não passa
despercebida nesta zona e o desemprego tem alastrado muito nos últimos anos trazendo
consigo uma grande instabilidade económica e emocional nas famílias que se reflecte
em desequilíbrio e problemas por vezes graves nas crianças, que condicionam o seu
normal desenvolvimento global e se reflectem no aproveitamento escolar, dificultando a
missão da escola e obrigando a um enorme esforço para superar dificuldades de vária
ordem.
Um meio relativamente simpático, em que ainda se vai acumulando o «tear»
com a horta, o que permite complementar e camuflar algumas situações de menor
desafogo económico. Gente pobre, mas que tem, muitas vezes, casa, carro e que
ganhando, por vezes, tão pouco, consegue fazer com que outros que mais têm, se
espantem com a sua aparente «riqueza».
A grande oferta de emprego que se verificou durante algumas décadas atrás
contribuiu para o baixo nível cultural das pessoas, uma vez que ingressavam no mundo
5
Santa Eulália é uma freguesia portuguesa do concelho de Vizela, com 5,45 km² de área
e 5 200 habitantes (2001). Densidade: 954,1 hab/km².
do trabalho logo que concluíam a escolaridade obrigatória e muitos até antes de a
terminarem.
Alguns encarregados de educação têm habilitações inferiores ao 4º ano, a
esmagadora maioria têm apenas o 4º ano e são poucos os que possuem o 12º ano ou
níveis superiores. Sendo os mais jovens os que apresentam níveis culturais mais
elevados.
7 Resultados
Os resultados serão aqui apresentados essencialmente em forma de quadro,
sendo que apenas nos pontos que se consideram mais importantes se apresentarão os
resultados também em forma de quadro e ainda com um gráfico. Por forma, a se
tornarem mais claros os recados.
7.1
Acesso à Internet
A internet tornou-se, ao longo dos últimos anos, um instrumento de uso
quotidiano
para
uma
parcela
significativa
dos
indivíduos
nas
sociedades
contemporâneas. Dos estudos europeus publicados sobre o assunto, sabe-se que esse
crescimento recente tem sido, por um lado, muito significativo. Por outro lado, que as
taxas mais elevadas de utilização registam-se entre os mais jovens. E como mostra os
quadros a seguir todos os alunos da escola em questão, afirmam já ter utilizado a
internet, sendo que 73% deles afirmam já usarem a internet de entre um a dois anos.
Q. Alguma vez utilizaste a Internet?
Sim
não
Nº
44
0
%
100
-----
Q. Há quanto tempo usas a internet?
Menos de 1 ano
Entre 1 e 2 anos
Entre 3 e 4 anos
Nº
12
32
0
%
27
73
-----
7.2
Computador e internet em casa
A detenção de computador e acesso à internet em casa mostram-se variáveis
essenciais para compreender a utilização da internet pelas crianças, uma vez que têm
impactos acentuados na frequência e tipo de uso da internet que é feito. Segundo dados
do Instituto Nacional de Estatística referentes a 2008 (Inquérito à Utilização de
Tecnologias de Informação e Comunicação pelas Famílias – 2008), 49,7% dos
agregados domésticos privados no Continente detinham computador.
Neste estudo, 81% dos inquiridos tem computador em casa, mas apenas 63%
afirmam ter internet em casa. Importa aqui mencionar, que os restantes 36% (os que não
tem internet) ou os 16% (os que não tem computador em casa), quando questionados
acerca
da
razão
para
tal
situação,
maioritariamente
afirmam
tratar-se
de
indisponibilidade económica do agregado.
Q. Tens computador em tua casa?
sim
não
Nº
36
8
%
81
18
Q. Tens internet em casa?
sim
não
7.3
Nº
28
16
%
63
36
Frequência de uso da internet em casa
A frequência de utilização da internet em casa é outra variável a ter em conta, na
medida em que pode ter um efeito diferenciador no seio da população infantil e um
impacto sobre os usos que as crianças dela fazem.
Q. Quando estás em casa, quantas horas usas a Internet por dia?
Menos de 1 hora
1 hora
2 ou mais horas
Nº
4
19
5
%
14
68
18
Para além do peso horário das aulas e dos trabalhos escolares (realizados em
casa, ou nas explicações), a prática frequente de actividades extra-escolares (desporto,
aprendizagem de línguas, música, etc.) e a imposição de mecanismos de controlo dos
tempos de utilização por parte dos pais, 68% das crianças inquiridas afirmam passar
pelo menos uma hora na internet por dia.
Veja-se o gráfico a seguir:
Tempo de uso da internet em casa
80%
70%
60%
50%
40%
Tempo de uso da internet em
casa
30%
20%
10%
0%
Menos de 1h
7.4
1h
2h ou mais
Outros locais de uso da internet
Para além do acesso à internet em casa e na escola, as crianças podem ainda
frequentar outros espaços onde o mesmo é disponibilizado de forma gratuita - casa de
amigos ou familiares, bibliotecas públicas, espaços internet municipais, colectividades,
ATL ou centro de estudos. E como mostra o quadro a seguir o acesso à internet em
espaços públicos gratuitos tende a ser significativamente frequente.
Q. Com que frequência te ligas à Internet nos seguintes lugares:
%
Todos os dias
ou quase
Muitas
vezes
Às vezes
Nunca
Em casa de um
amigo ou familiar
Numa biblioteca
4
22
58
16
1
1
9
6
48
17
42
74
0
2
12
85
0
3
4
4
16
16
78
77
Num espaço
internet da
Câmara
Numa associação
ou
colectividade
Num cibercafé
No ATL ou centro
de estudos
7.5
Internet na Escola
Os computadores e a internet são, hoje em dia, considerados como ferramentas
fundamentais para o estudo, o desempenho de uma profissão e mesmo para o exercício
da cidadania nas sociedades contemporâneas.
Conscientes desta necessidade estratégica, os governos europeus têm vindo a
dotar a escola dos equipamentos e serviços necessários à integração das tecnologias da
informação e da comunicação no ensino, sendo o volume da disponibilidade destes fruto
dos recursos disponíveis ou do lugar da educação nas prioridades de investimento
nacional. Na literatura, tem-se discutido o impacto desta inovação, especialmente a
internet, nas práticas educativas na escola. Parece estabelecer-se um consenso de certos
autores em torno de duas ideias principais. Só por si, a internet não constitui um factor
de mudança dos processos de ensino - aprendizagem, mas um instrumento necessário às
transformações em curso actualmente na escola, à medida que esta se adapta a novas
expectativas e necessidades sociais. A chave da resposta àquela pergunta não está nem
na tecnologia nem na pedagogia, mas sim no “uso pedagógico da tecnologia”. Contudo,
neste estudo, mostra-se que esta escola a prática de uso das tecnologias da informação, é
escassa. Sendo usado apenas algumas vezes. Para isso, muito contribuirá o facto da
escola não possuir meios físicos (computadores e salas) para que se possa utilizar o
computador e a internet com mais frequência na escola.
Q. Na escola, com que frequência usas a Internet?
Nas aulas
Fora das aulas
Nº
%
Nº
%
Nunca
32
73
0
0
Às vezes
12
27
0
0
Muitas vezes
0
-----------
-----------
-----------
Todos os dias ou quase
0
-----------
------------- -----------
Veja-se o gráfico a seguir:
80%
70%
60%
50%
40%
Frequência de uso da internet na
escola Nas aulas
30%
Frequência de uso da internet na
escola Fora das aulas
20%
10%
0%
Nunca
7.6
As vezes
Muitas vezes
Modos de uso da internet na escola
Como acima visto, um dos eixos da política tecnológica educativa tem sido
diminuir a ratio de alunos por computadores nas aulas. A escola em causa possui apenas
de 2 computadores, para uso de professores, e eventualmente de alunos. Sendo portanto,
quase necessário, quando os alunos usam o computador terem de o partilhar. Sendo
também importante frisar que, isso acontece muitas poucas vezes, desde logo mostra o
quadro anterior. Como já foi mencionado no ponto anterior, devido à falta de meios, a
prática de consulta de internet é pouca e quando acontece, é notário a necessidade de
colocar mais do que um aluno no computador.
*(a partir daqui só passam a ser contabilizados 12 alunos, dado que apenas esse numero
afirma utilizar internet na escola)
Q. Como costumas usar a Internet durante as aulas?
Tenho um computador só para mim
Partilho um computador com 1 ou 2
colegas
Partilho o computador com 3 ou mais
colegas
7.7
Nº
2
7
%
17
58
3
25
Disciplinas em que a internet é usada
A análise das disciplinas em que, segundo as crianças, a internet é mais usada é
crucial para compreender se as tecnologias de informação e comunicação são
efectivamente utilizadas na escola como uma ferramenta de aprendizagem de conteúdos
lectivos ou apenas como mais uma matéria curricular, sendo que neste caso, como já foi
referido nos pontos anteriores, parece não ser muito utilizado. Mas, as disciplinas, em
que mesmo pouco, são mais utilizadas são as relacionadas com música e estudo do
meio. E que dos 12 alunos que afirmam ter utilizado a internet na escola, usam-na
essencialmente para fazer trabalhos com os colegas de turma e para procurar
informação, tal como mostram os quadros e os gráficos a seguir.
Q. Qual a disciplina em que costumas usar mais a internet na escola?
Nº
%
Estudo do Meio/história de Portugal/ciências
5
42
Matemática
0
----
Língua Portuguesa
Musica
8
1
6
50
Disciplina em que mais se usa internet na escola
60%
50%
40%
30%
20%
Disciplina em que mais se usa
internet na escola
10%
0%
Q. Indica o que é que costumas fazer com a Internet durante as aulas:
Fazer trabalhos em colaboração com
colegas da turma
Procurar informação, gráficos,
fotografias, vídeos ou música de que
preciso para os meus trabalhos da escola
Fazer exercícios
Publicar trabalhos e outras actividades na
página Web da Escola
Publicar num blog, numa página Web ou
numa revista electrónica os
trabalhos que fiz em alguma ou várias
disciplinas
Fazer trabalhos em colaboração com
colegas de outras turmas ou de outras
escolas
Enviar mensagens ou perguntas ao
professor e receber respostas
Nº
12
%
100
10
83
8
0
67
-----
0
-----
0
------
0
------
o que faço na internet durante as aulas
Enviar mensagens ou…
Fazer trabalhos em…
Publicar num blog, numa…
Publicar trabalhos e outras…
o que faço na internet durante as
aulas
Fazer exercícios
Procurar informação, gráficos,…
Fazer trabalhos em…
0% 20% 40% 60% 80% 100% 120%
7.8
Usos da internet
De forma a compreender o modo como as crianças usam a internet, foi-lhes
perguntado como tinham aprendido a manusear este instrumento. Com quem, e como
aprenderam. A maior parte dos alunos afirmam ter aprendido sozinhos ou com os pais.
Poucos alunos, apenas 9% afirmam ter aprendido num curso de informática, e um dos
factores para tal situação será certamente a falta de disponibilidade económica, mais
uma vez. Maioritariamente afirma procurar por páginas nos motores de busca como
Google e Sapo, ou então e páginas sugeridas pelos amigos, tal como explicam os
quadros a seguir.
*(os alunos contáveis voltam aqui a ser 44 no total)
Q. Como é que aprendeste a utilizar a Internet?
Aprendi sozinho
Com os meus pais
Com os meus irmãos
Com os meus amigos
Com os meus professores
Num curso de informática
Nº
27
8
3
1
1
4
%
61
18
7
2
2
9
Q. Como é que costumas navegar na Internet?
Procuro páginas nos motores de busca
(Google, sapo)
Vou a páginas sugeridas pelos meus
amigos
Vou a páginas sugeridas pelos meus
professores
Vou a páginas sugeridas pelos meus
irmãos
Vou a páginas sugeridas pelos meus pais
Vou às páginas que tenho nos Favoritos
(bookmarks)
Vou a endereços que vejo nos jornais,
revistas ou televisão
7.9
Nº
38
%
86
14
32
9
20
0
-----
7
0
16
----
5
11
Tipos de uso da internet
Para compreender a relação das crianças com a internet é importante conferir
que tipos de usos concretos são mais frequentemente, que tipos de internet (sites) são
mais usados. E como mostram os quadros a seguir, as crianças desta escola usam a
internet procurar informação para os trabalhos da escola, para usarem programas de
mensagens instantâneas, ou então para jogar online.
Q. Indica o que é que costumas fazer com a Internet:
Procurar informação de que preciso para
os meus trabalhos da escola
Procurar informação sobre temas que me
interessam
Fazer trabalhos em colaboração com
colegas
Enviar e receber emails
Usar um programa de mensagens
instantâneas (Messenger, Skype, etc)
Descarregar música, filmes, jogos ou
outros programas
Pôr textos, imagens, música ou vídeos
num blogue ou página pessoal
(Hi5, Myspace, Facebook)
Jogar online com amigos
Fazer chamadas de voz (Messenger,
Skype, etc)
Participar em chats
Comprar coisas (músicas, livros, bilhetes
de cinema, relógios, etc.)
Nº
40
%
91
35
76
15
34
28
42
64
95
32
73
0
-----
41
21
93
48
16
0
36
-----
o que fazes na internet
Comprar coisas (músicas, livros, …
Participar em chats
Fazer chamadas de voz…
Jogar online com amigos
Pôr textos, imagens, música ou…
Descarregar música, filmes, jogos…
Usar um programa de mensagens …
Enviar e receber emails
Fazer trabalhos em colaboração …
Procurar informação sobre temas …
Procurar informação de que…
0%
o que fazes na internet
20%
40%
60%
80%
100%
7.10 Sites visitados
A caracterização do uso da internet pelas crianças requer uma análise dos sites
visitados. Foi pedido aos inquiridos que perante uma lista de tipos de páginas Web
indicassem quais as que costumavam visitar. E neste estudo a site de vídeos como
youtube, os sites te vídeos jogos e sites de redes sociais como Hi5 e Facebook, parecem
estar na preferência dos inquiridos.
Veja-se o quadro e gráfico a seguir:
Q. Que tipo de páginas Web é que costumas visitar?
Vídeos (Youtube, canais de televisão, etc.)
Videojogos
Blogs e Redes sociais (Hi5, Myspace,
Facebook, etc.)
Desporto (clubes, futebol, ténis,
automobilismo)
Educação (enciclopédias, dicionários)
Artes e espectáculos (sobre cinema, tv,
telenovelas, artistas)
Notícias (jornais e revistas, canais de tv)
Informática (computadores, software)
Serviços (horários de transportes, cartaz
de cinemas, etc)
Nº
44
42
39
%
100
95
89
29
66
27
2
61
6
0
0
0
-------------
Tipos de páginas web mais visitadas
Serviços (horários de transportes, …
Informática (computadores,…
Notícias (jornais e revistas, canais…
Artes e espectáculos (sobre…
Educação (enciclopédias, …
Tipos de páginas web mais
visitadas
Desporto (clubes, futebol, ténis, …
Blogs e Redes sociais (Hi5,…
Videojogos
Vídeos
0%
20% 40% 60% 80% 100% 120%
Q. Indica os teus três sites preferidos:
Os três sites mais mencionados num total de 122 sites foram:
1º
2º
3º
www.youtube.com
www.google.com
www.hi5.com
7.11 Comunicação
Para além de uma ferramenta de pesquisa de informação, a internet funciona
também como um veículo de comunicação entre indivíduos, através do correio
electrónico, das mensagens instantâneas, das chamadas de voz e imagem. O uso destes
dispositivos é uma das utilizações mais frequentes da internet, sobretudo entre os
jovens. Tentou-se analisar de que forma as crianças mantêm contactos, à distância ou de
proximidade, através desta tecnologia, perguntando-lhes com quem comunicam através
da internet, e grande parte dos alunos da escola deste estudo, afirmam que é com amigos
ou colegas da escola.
Q. Com quem é que costumas comunicar através da Internet (email, messenger, skype):
Amigos
Colegas da escola
Família
Pessoas que conheci na net
Nº
44
43
23
19
%
100
98
52
43
7.12 Medos
A internet é muitas vezes retratada como uma fonte de riscos para as crianças:
pedofilia, cyber-bullying, roubo de identidade, exposição a pornografia e a violência,
etc. Considerou-se relevante averiguar que medos têm as crianças ao utilizarem a
internet. E, como mostram os quadros a seguir os inquiridos não parecem ter medo da
internet, embora haja uma percentagem considerável que diga que alguma vêz já o tenha
sentido, e afirmam que sentem medo sobretudo dos vírus e problemas técnicos e do
medo de estranhos (pessoas estranhas).
Q 4.3.1 Alguma vez sentis-te medo ao usar a internet?
Nº
%
sim
12
27
não
32
73
Q. Que medos:
(os alunos contáveis são apenas 12, os que afirmam terem sentido medo da internet)
Medo de outros, de estranhos
Vírus e problemas técnicos
Ver coisas proibidas, horríveis
Infringir as regras da casa
Nº
9
12
6
4
%
75
100
50
33
7.13 Representações sobre a internet
Tentou-se captar as representações sobre a internet detidas pelas crianças,
apresentando-lhes uma lista de frases sobe as quais teriam de exprimir a sua
concordância ou discordância.
Com este estudo ficou a perceber-se que as crianças desta escola, consideram na
internet quase sempre encontram tudo o que procuram e precisam, e que os ajuda muito
nos trabalhos de casa, e que também tem melhores notas. E, mostram ter grande
consciência de que nem tudo o que lá se encontra é de confiança e é credível.
Q. Concordas ou não ...
Concordo
Na Internet quase sempre consigo
encontrar a informação de que preciso
Usar a Internet é muito fácil
Com a Internet falo mais com os meus
amigos e amigas
Não se pode confiar em toda a informação
que se encontra na Internet
Saber usar bem a Internet e os
computadores é indispensável para no
futuro encontrar um bom emprego
Os meus pais acham que é muito
importante que eu aprenda a usar a
Internet
Com a Internet é mais fácil fazer os
trabalhos de casa
Desde que uso a internet leio menos livros
Desde que uso a Internet consigo ter
melhores notas
Desde que há Internet fala-se menos uns
com os outros em minha casa
Nº
44
%
100
Não
Não sei
Concordo
Nº
%
Nº
%
0
----- 0
-----
44
42
100
95
0
2
---6
0
0
-------
43
98
0
----
1
2
12
27
0
----
32
73
11
25
0
----
33
75
44
100
0
----
0
----
33
41
75
93
11
0
25
----
0
3
---7
19
43
24
55
1
2
Desde que há Internet fala-se…
Desde que uso a Internet consigo…
Desde que uso a internet leio menos …
Com a Internet é mais fácil fazer os …
Os meus pais acham que é muito…
Não sei
Saber usar bem a Internet e os …
Não Concordo
Não se pode confiar em toda a …
Concordo
Com a Internet falo mais com os…
Usar a Internet é muito fácil
Na Internet quase sempre consigo…
0%
20% 40% 60% 80% 100% 120%
Conclusões
Sendo a internet a grande fonte de informação na actualidade, sobretudo entre os
mais jovens, que desde cedo mostram aptidões para as tecnologias da informação e
comunicação, perceber como as crianças e jovens procuram, como são influenciadas,
porque procuram e em que circunstâncias procuram na internet, o que precisam, tornase fundamental.
Este estudo, na escola EB1 do Monte, mostrou-se contudo, um pouco
inconclusivo, embora se possam de facto retirar algumas ilações. E apesar de algumas
incoerências pontuais (que tecnicamente foram resolvidas), parece ter-se conseguido,
pelo menos o pretendido.
Após realizado e analisados os resultados do inquérito pode afirmar-se que a
grande maioria dos alunos possuem computador em casa, sendo um pouco menos os
que já dispõem de internet, facto que parece dever-se a algumas dificuldades
económicas dos agregados familiares.
Outra verdade conclusiva é o facto de na escola em causa existirem poucos
recursos (poucos computadores), o que de facto também não ajuda a que se possa usar a
internet e as novas tecnologias como pratica no quotidiano escolar, para que possa ser
utilizada como complemento ou enriquecimento de tarefas e de trabalhos escolares. Na
escola, na sala de aula, a navegação na internet é praticamente nula, sendo que só
acontece ocasionalmente e essencialmente para as disciplinas que permitam, ou que
tenham um carácter mais de pesquisa, como o caso do Estudo do Meio e da Música.
Fora do âmbito da escola, as crianças procuram essencialmente na internet sites
muito direccionados para, os vídeos, jogos ou então para as redes sociais, como
youtube, facebook e hi5.
Uma grande maioria dos inquiridos admite que a pesquisa na internet os ajuda a
fazer os trabalhos de casa e também afirmam, que com o acesso à internet as notas
subiram, afirmando mesmo que há mais facilidade no estudo.
Também é facto que estas crianças utilizam a internet, não só numa componente
escolar e educativa, mas também para comunicar, “brincar” e descobrir o desconhecido.
O que pode trazer coisas de bom e de mau. Alguns inquiridos, embora poucos, não
hesitaram em confessar que já sentiram medo na internet (nomeadamente porque
foram abordados por desconhecidos ou viram imagens chocantes, por recearem
encontrar pessoas estranhas que tentassem fazer-lhes mal), embora digam que o medo
dos vírus e falhas técnicas seja maior.
Sendo estas as principais conclusões a tirar-se, deve dizer-se que se percebeu
algumas falhas. Primeiro, que seria mais desejável uma amostra muito maior, e com
idades superiores (alunos do 2º ciclo e não de 1º, como foi o caso), por terem uma
maior consciência, e com certeza um maior uso da internet, e com diferentes objectivos.
E, assim percebeu-se que de facto o uso da internet, nesta escola é já uma
constante, mas de facto na escola, por falta de recursos, a pesquisa virtual praticamente
nunca acontece, sendo verdade que estas crianças, maioritariamente, usam
essencialmente a internet, quando lhes é solicitado um trabalho na escola, ou então
para ajuda nos trabalhos de casa, e para fins lúdicos (jogos e redes sociais).
Referência Bibliográficas
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família
e
a
escola.
2008.
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http://www.crinternet.ics.ul.pt/icscriancas/content/documents/relat_cr_int.pdf,
consultado em: 12 de Junho de 2010.
ANTÃO, Manuel [et al.] - A nova reforma e a formação de professores – a internet
como factor de aprendizagem e inovação no ensino secundário. Disponível em:
http://www.esev.ipv.pt/3siie/actas/actas/doc20.pdf, consultado em: 12 de Junho de
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BELKIN, N. Anomalous state of knowledge as a basis for information retrieval.
Canadian Journal of Information Science, n. 5, p. 133-143, 1980
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ESPSTEIN, Isaac. Teoria da Informação. São Paulo: Principios, 1988
LE COADIC, Yves-François. A Ciência da Informação. São Paulo: Briquet de Lemos
Livros, cop.1994.
RIBEIRO, Fernanda. Para o estudo do paradigma patrimonialista e custodial: a
inspecção das bibliotecas e arquivos e o contributo de António Ferrão (1887-1965).
Porto: Cetac.Media; Edições Afrontamento, 2008.
ROBREDO, Jaime. Ciência da Informação Revisitada aos Sistemas Humanos de
Informação. Brasília DF, 2003
SILVA, Armando Malheiro da; RIBEIRO, Fernanda. Das "ciências" documentais à
ciência da informação: ensaio epistemológico para um novo modelo curricular. Porto:
Afrontamento, 2002.
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SILVA, Armando Malheiro [et al.] – Arquivística: teoria e prática de uma ciência da
informação. Porto: Edições Afrontamento, cop. 1998. (Biblioteca das Ciências do
Homem. Plural; 2). ISBN 972-36-0483-3. vol. 1.
SILVA, Armando Malheiro da; RIBEIRO, Fernanda. Recursos de Informação: serviços
e utilizadores. Lisboa: Universidade Aberta, 2010. ISBN 978-674-672-0
FIALHO, Janaina Ferreira; ANDRADE, Maria Eugênia Albino. Comportamento
informacional de crianças e adolescentes: uma revisão da literatura estrangeira, Ciência
da
Informação, Vol.
36,
No
1
(2007).
Disponível
em:
http://revista.ibict.br/index.php/ciinf/article/viewArticle/872/696, Consultado em: 12 de
Junho de 2010
Anexo 1 - Caracterização dos elementos materiais da escola (EB 1
Monte): edifício, equipamento e material didáctico disponível
Instalações
Escola
Sala
NÚMERO
Sala de
Sala
Básica 1º
Gabinete Poliv. Bibliot. Refeit. Cozinha de Sanitas Lavat.
DE
Aula/Act. Prolong.
Ciclo
prof.
TURMAS
Lagoas
2
0
0
0
0
0
0
0
4
4
2
Devesinha
8
0
0
0
0
1
1
1
11
7
12
Enxertos
7
0
1
1
1
0
0
1
10
6
8
4
0
1
1
0
1
1
1
8
17
4
4
0
0
0
0
0
0
0
6
2
6
4
0
1
0
0
1 b)
0
0
7
4
4
Joaq.
Pinto
Maria de
Lurdes
Monte
Tabela 1 Quadro ilustrativo das instalações das escolas do Ensino Básico do Agrupamento de Escolas de Vizela,
com especial ênfase para a Escola EB 1 Monte
(Retirado de: http://www.eb23-caldas vizela.rcts.pt/documentos/proj_educativo_ficheiros/alinea_a.htm
Número de alunos por ano de escolaridade
EB 1
Alunos
1.º Ano
2.º Ano
3.º Ano
4.º Ano
Total
N.º
Professores
Lagoas
9
9
5
9
32
2
Devesinha
61
64
52
60
237
12
Enxertos
31
50
35
40
156
10
Joaq. Pinto
18
13
26
26
83
4
M. Lurdes S.
Melo
22
29
33
27
111
7
Monte
25
28
23
21
97
4
Tabela 2 Quadro ilustrativo do número de alunos das escolas pertencentes ao Agrupamento de Escolas de Vizela,
com especial ênfase para a EB1 Monte, nomeadamente alunos do 3º e 4º ano de escolaridade, alunos abrangidos
neste estudo
(Retirado de: http://www.eb23-caldas vizela.rcts.pt/documentos/proj_educativo_ficheiros/alinea_a.htm)
Anexo 2: Inquérito
Faculdade de Letras da Universidade do Porto
Comportamento Informacional
2009/2010
Estudo de Comportamento Informacional:
Inquérito
Idade___
Sexo___
Ano de escolaridade _____
------------------------------------------------------------------------------------------1. Alguma vez utilizaste a Internet?
sim
não
2. Há quanto tempo usas a internet?
Menos de 1 ano
Entre 1 e 2 anos
Entre 3 e 4 anos
3. Tens computador em tua casa?
sim
não
4. Tens internet em casa?
sim
não
5. Quando estás em casa, quantas horas usas a Internet por dia?
Menos de 1 hora
1 hora
2 ou mais horas
6. Com que frequência te ligas à Internet nos seguintes lugares: (coloca um X no
local a que correspondente)
Todos os dias
ou quase
Muitas
vezes
Às vezes
Nunca
Em casa de um
amigo ou familiar
Numa biblioteca
Num espaço
internet da
Câmara
Numa associação
ou
colectividade
Num cibercafé
No ATL ou centro
de estudos
7. Na escola, com que frequência usas a Internet?
Nas aulas
Fora das aulas
Nunca
Às vezes
Muitas vezes
Todos os dias ou quase
8. Como costumas usar a Internet durante as aulas?
Sim
Não
Tenho um computador só para mim
Partilho um computador com 1 ou 2
colegas
Partilho o computador com 3 ou mais
colegas
9. Qual a disciplina em que costumas usar mais a internet na escola?
Disciplina
Estudo do Meio/história de
Portugal/ciências
Matemática
Língua Portuguesa
Musica
10. Indica o que é que costumas fazer com a Internet durante as aulas:
Fazer trabalhos em colaboração com
colegas da turma
Procurar informação, gráficos,
fotografias, vídeos ou música de que
preciso para os meus trabalhos da escola
Fazer exercícios
Publicar trabalhos e outras actividades na
página Web da Escola
Publicar num blog, numa página Web ou
numa revista electrónica os
trabalhos que fiz em alguma ou várias
disciplinas
Fazer trabalhos em colaboração com
colegas de outras turmas ou de outras
escolas
Enviar mensagens ou perguntas ao
professor e receber respostas
11. Como é que aprendeste a utilizar a Internet?
Aprendi sozinho
Com os meus pais
Com os meus irmãos
Com os meus amigos
Com os meus professores
Num curso de informática
12. Como é que costumas navegar na Internet?
Procuro páginas nos motores de busca
(Google, sapo)
Vou a páginas sugeridas pelos meus
amigos
Vou a páginas sugeridas pelos meus
professores
Vou a páginas sugeridas pelos meus
irmãos
Vou a páginas sugeridas pelos meus pais
Vou às páginas que tenho nos Favoritos
(bookmarks)
Vou a endereços que vejo nos jornais,
revistas ou televisão
Vou seguindo links nas páginas
13. Indica o que é que costumas fazer com a Internet:
Procurar informação de que preciso para
os meus trabalhos da escola
Procurar informação sobre temas que me
interessam
Fazer trabalhos em colaboração com
colegas
Enviar e receber emails
Usar um programa de mensagens
instantâneas (Messenger, Skype, etc)
Descarregar música, filmes, jogos ou
outros programas
Pôr textos, imagens, música ou vídeos
num blogue ou página pessoal
(Hi5, Myspace, Facebook)
Jogar online com amigos
Fazer chamadas de voz (Messenger,
Skype, etc)
Participar em chats
Comprar coisas (músicas, livros, bilhetes
de cinema, relógios, etc.)
14. Que tipo de páginas Web é que costumas visitar?
Vídeos (Youtube, canais de televisão, etc.)
Videojogos
Blogs e Redes sociais (Hi5, Myspace,
Facebook, etc.)
Desporto (clubes, futebol, ténis,
automobilismo)
Educação (enciclopédias, dicionários)
Artes e espectáculos (sobre cinema, tv,
telenovelas, artistas)
Notícias (jornais e revistas, canais de tv)
Informática (computadores, software)
Serviços (horários de transportes, cartaz
de cinemas, etc)
15. Indica os teus três sites preferidos:
- _________________________________________________________
- _________________________________________________________
- _________________________________________________________
16. Com quem é que costumas comunicar através da Internet (email, messenger,
skype):
Amigos
Colegas da escola
família
Pessoas que conheci na net
17. Alguma vez sentiste medo ao usar a internet?
sim
não
18. Que medos:
Medo de outros, de estranhos
Vírus e problemas técnicos
Ver coisas proibidas, horríveis
Infringir as regras da casa
Insegurança
19. Concordas ou não ...
Na Internet quase sempre consigo
encontrar a informação de que preciso
Concordo
Não
Concordo
Não sei
Usar a Internet é muito fácil
Com a Internet falo mais com os meus
amigos e amigas
Não se pode confiar em toda a informação
que se encontra na Internet
Saber usar bem a Internet e os
computadores é indispensável para no
futuro encontrar um bom emprego
Os meus pais acham que é muito
importante que eu aprenda a usar a
Internet
Com a Internet é mais fácil fazer os
trabalhos de casa
Desde que uso a internet leio menos livros
Desde que uso a Internet consigo ter
melhores notas
Desde que há Internet fala-se menos uns
com os outros em minha casa
Patrícia Lopes
Anexo 3 Definições segundo o DELTCI
Informação
No âmbito da Ciência da Informação trans e interdisciplinar que propomos e
defendemos tem uma dupla funcionalidade semântica. Refere um fenómeno humano e
social que compreende tanto o dar forma a ideias e a emoções (informar), como a troca,
a efectiva interacção dessas ideias e emoções entre seres humanos (comunicar). E
identifica um objecto científico, a saber: conjunto estruturado de representações mentais
e emocionais codificadas (signos e símbolos) e modeladas com/pela interacção social,
passíveis de serem registadas num qualquer suporte material (papel, filme, banda
magnética, disco compacto, etc.) e, portanto, comunicadas de forma assíncrona e multidireccionada. Um objecto científico assim concebido demarca-se claramente da
tendência que se foi generalizando, a partir de meados de novecentos, de espalhar o
conceito da imprensa à biologia e das definições que se multiplicaram sob a égide da
teoria matemática da transmissão de sinais, genérica e abusivamente conhecida por
teoria da informação, de Shannon e Weaver, não obstante todo um esforço feito para
aplicá-la com proveito no campo das Ciências Sociais e mais especificamente nas
CIÊNCIA DA COMUNICAÇÃO. Mas, como advertiu, implicitamente, Anthony
Wilden a dimensão simbólica e humana do conceito Informação não é redutível à
dimensão física e quantitativa, à qual se refere a teoria de Shannon. Relacionar a
existência de informação com a redução da incerteza não permite captar a complexidade
introduzida pelas ambiguidades do sentido e da interpretação que estão no âmago do
fenómeno info-comunicacional.
Comportamento informacional
“Define-se comportamento, em Psicologia, como o modo de ser ou de reagir de uma
pessoa, quer na vida corrente, quer perante circunstâncias particulares. Em Psicologia
social e Sociologia o comportamento social ou colectivo é por sua vez simultaneamente
a maneira de ser e os modos de agir deste ou daquele conjunto social (classe, grupo,
meio, idade, sexo, etc.). Acresce a isto dois aspectos significativos: O comportamento
social ter certa homogeneidade e certa constância em todos os indivíduos pertencentes
a determinado conjunto. Há comportamento social quando os mesmos modelos de
conduta, os mesmos esquemas, provocam entre os indivíduos maneiras de ser e atitudes
similares, baseadas em motivações semelhantes ou aproximadas (BIROU, 1982: 74).
Aspectos que não podem ser negligenciados quando falamos de comportamento
informacional, versão em português do information behaviour surgido há cerca de duas
décadas nos Estados Unidos da América. Surgiu em resposta ao intuito de superar a
estreiteza dos Estudos de Utilizador ou Usuário, implementados após a II Guerra
Mundial por bibliotecários e, sobretudo, documentalistas em suas Bibliotecas
Especializadas e CENTROS DE DOCUMENTAÇÃO a fim de determinarem melhor os
interesses de pesquisa de seus utilizadores e quais as publicações em que importava
mais investir. Podemos, pois, definir comportamento informacional como o modo de ser
ou de reagir de uma pessoa ou de um grupo numa determinada situação e contexto,
impelido por necessidades induzidas ou espontâneas, no que toca esclusivamente à
produção/emissão,
recepção,
memorização/guarda,
reprodução
e
difusão
de
INFORMAÇÃO. Neste sentido é uma das três áreas axiais de estudo e de intervenção
da Ciência da Informação. As outras duas são: a GESTÃO DA INFORMAÇÃO e a
ORGANIZAÇÃO E REPRESENTAÇÃO DA INFORMAÇÃO”.
Conhecimento
“Em Filosofia e desde os gregos, os problemas do conhecimento ganharam relevo e
acuidade, mas só a partir de Kant é que se admitiu que o estudo do conhecimento fosse
capaz de dar impulso a uma “disciplina filosófica especial" através da constituição e
consagração progressiva da “teoria do conhecimento". À luz da teorização acumulada é
possível identificar vários núcleos essenciais, a saber: a fenomenologia do
conhecimento ou a descrição do fenómeno do conhecimento; a questão da possibilidade
do conhecimento; a questão do fundamento do conhecimento; e a questão das formas do
conhecimento. Destes núcleos o primeiro é que parece estimular mais a generalizada e
simplificada distinção entre conhecimento e INFORMAÇÃO, criando um fosso
intransponível entre ambos, mas permite, também, que alguns, ainda muito poucos,
ousem ressignificar informação de maneira a torná-la sinónimo de conhecimento válido
e falso. Sendo um mentefacto a informação mescla-se com a capacidade humana de
conhecer (descobrir, compreender, dar forma a racioníos, impressões, interrogações,
etc) através do conceito crucial de representação mental e emocional. À Ciência da
Informação não interessa especialmente o debate sobre as condições do conhecimento
verdadeiro, mas sim uma dupla e decisiva análise: sobre a produção de
conhecimento/informação mental e emocionalmente elaborados, antes mesmo de se
externalizar e materializar fora do sujeito cognoscente, ou seja, antes de se tornar
documento (no sentido comum e reducionista, que exclui o corpo humano da condição
básica de primeiro e fundamental suporte ao pensar, ao reflectir, ao conhecer, ao
informar humanos); e sobre o êxito ou o insucesso da recepção do conteúdo registado
em ou através de qualquer SUPORTE. É por este ponto, com múltiplas e complexas
pontas, que adquire relevância a distinção entre conhecimento (ou informação) e
documento, considerada um turning point crucial para a Ciência da Informação que
defendemos e propomos com interessantes implicações. Uma delas é a revisão crítica da
célebre afirmação de George Steiner: Nunca como agora, tivemos tanta informação e
tão pouco conhecimento. Talvez um outro aforismo seja mais apropriado e exacto:
Nunca como agora, tanta documentação correspondeu, inversamente, a tão pouca
informação nova e melhorada. Com efeito, multiplica-se por força, entre outros factores,
do mimetismo psicossocial e do stress concorrencial dos média, a reprodução do
conteúdo (informação) registado nos suportes sem pausas, nem crítica capazes de
provocarem a separação do conteúdo do continente e a maturação interna com vista a
uma (re)criação informacional fecundadora. Não se chega a assimilar e a transformar
essa informação/conhecimento veiculado pelo documento, caindo-se, assim, numa
disfunção grave que designaremos de documentopatia, disfunção já não confinada ao
papel, mas patente noutras técnicas de registo e difusão, como a radiofonia, a televisão e
a impactante e actualíssima Internet.”
Meio Ambiente
Expressão usada em modelos de comportamento informacional para significar a
realidade política, económica, social e cultural que condiciona e envolve os contextos e
situações comportamentais relativas ao fluxo e ao uso/reprodução de INFORMAÇÃO.
Situação
Em comportamento informacional identifica o estado circunstancial, temporário,
de duração mais ou menos reduzida e contínua, que dá historicidade à acção
informacional propriamente dita. Definida, assim, leva vantagem sobre o sentido
ambíguo e demasiado abrangente usado na “teoria das situações" adoptada e divulgada
por Keith Devlin (DEVLIN, 2000: 60). Quando um contexto é demasiado efémero
confunde-se com situação, mas, em geral, cada contexto orgânico compreende um
número ilimitado de situações e é dentro destas que se desenrolam as atitudes e as
necessidades comportamentais dos sujeitos face à informação.

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