OCR Document - Sociologando

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1. Cultura, consumo e comunicação de massa
Seis questões para entender a hegemonia
midiática
Por Dênis de Moraes
1. O sistema midiático contemporâneo demonstra
capacidade de fixar sentidos e ideologias,
selecionando o que deve ser visto, lido e ouvido pelo
conjunto do público. Por mais que existam por parte
de leitores, ouvintes e telespectadores expectativas e
respostas diferençadas em relação aos conteúdos
recebidos, são os grupos privados de comunicação
que prescrevem orientações, enfoques e ênfases nos
informativos; quais são os atores sociais que merecem
ser incluídos ou marginalizados; quais as agendas e
pautas que devem ser destacadas ou ignoradas.
Os meios (de comunicação) difundem julgamentos de
valor e sentenças sobre fatos e acontecimentos, como
se estivessem autorizados a funcionar como uma
espécie de tribunal, embora sem nenhuma
legitimidade para isso. Sua intenção, assumida mas
não declarada, é disseminar conteúdos, ideias e
princípios que ajudem a organizar e unificar a opinião
pública em torno de determinadas visões de mundo
(quase sempre conservadoras e sintonizadas com o
status quo).
Os meios elegem os atores sociais, articulistas,
analistas, comentaristas e colunistas que devem ser
prestigiados em seus veículos e programações. Na
maior parte dos casos, como observa (o sociólogo)
Pierre Bourdieu, estes porta-vozes não fazem nada
mais que reforçar o trabalho dos 'think tanks'
neoliberais em favor da mercantilização geral da vida
e da desregulação das economias e dos mercados.
Com efeito, os 'intelectuais midiáticos' ou
'especialistas' dizem tudo aquilo que serve aos
interesses de classes e instituições dominantes,
combatendo e desqualificando ideias progressistas e
alternativas transformadoras.
Os grupos midiáticos mantem também acordos e
relações de interdependência com poderes
econômicos e políticos, em busca de publicidades
pagas, patrocínios, financiamentos, isenções fiscais,
participações acionárias, apoios em campanhas
eleitorais, concessões de canais de radiodifusão, etc.
Não são neutros e isentos, como querem fazer crer;
são parciais, tomam partido, favorecem os interesses
mercantis, defendem posições políticas, combatem
ideologicamente os opositores.
2. Os meios se apropriam de diferentes léxicos para
tentar colocar dentro de si todos os léxicos, a serviço
de seus objetivos particulares. Palavras que
pertenciam tradicionalmente ao léxico da esquerda
foram resignificadas durante a hegemonia do
neoliberalismo nas décadas de 1980, 1990 e parte de
2000. Cito, de imediato, duas palavras: reforma e
inclusão. Da noite para o dia, passaram a ser
incorporadas aos discursos dominantes e midiáticos,
em sintonia com o ideário privatista. Trata-se de
indiscutível apropriação do repertório progressista,
que sempre associou reformas ao imaginário da
emancipação social. As apropriações têm o propósito
de redefinir sentidos e significados, a partir de óticas
interpretativas próprias.
3. Ao celebrar os valores do mercado e do
consumismo, o sistema midiático subordina a
existência ao mantra da rentabilidade. A glorificação
do mercado consiste em apresentá-lo como o âmbito
mais adequado para traduzir desejos, como se só ele
pudesse se converter em instância de organização
societária. Um discurso que não faz mais que realçar e
aprofundar a visão, claramente autoritária, de que o
mercado é a única esfera capaz de regular, por si
mesma, a vida contemporânea. Os projetos
mercadológicos e as ênfases editoriais podem variar,
mas menos em um ponto: as corporações operam,
consensualmente, para reproduzir a ordem do
consumo e conservar hegemonias instituídas.
SOCIOLOGIA - 3º ANO - Apostila nº 1 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 1
4. Os discursos mediáticos estão comprometidos com
o controle seletivo das informações, da opinião e dos
julgamentos de valor que circulam socialmente. Isso
se manifesta nas manipulações dos noticiários e na
interdição (censura, proibição) dos pontos de vista
antagônicos, afetando a compreensão das
circunstâncias em que certos fatos acontecem
(geralmente os que são contrários à lógica econômica
ou às concepções políticas dominantes).
Os meios massivos buscam reduzir ao mínimo o
espaço de circulação de ideias contestatórias – por
mais que estas continuem manifestando-se e
resistindo. A meta é neutralizar análises críticas e
expressões de dissenso. Um exemplo do que acabo de
dizer são os enfoques tendenciosos sobre as
reivindicações de movimentos sociais e comunitários.
São frequentemente subestimadas, quando não
ignoradas, nos principais periódicos e telejornais, sob
o argumento falacioso de que são iniciativas 'radicais',
'populistas', etc. A vida das comunidades subalternas
e pobres está diminuída ou ausente nos noticiários.
5. O sistema midiático rechaça qualquer modificação
legal que ponha em risco sua autonomia e seus lucros.
A qualquer movimento para a regulação da
radiodifusão sob concessão pública, reage com
violentos editoriais e artigos que apresentam os
governantes que se solidarizam com a causa da
democratização da comunicação como 'ditadores' que
querem sufocar a 'liberdade de expressão'. É uma
grosseira mistificação. O que há, na verdade, é o
bloqueio do debate sobre a função e os limites da
atuação social dos meios. As grandes empresas do
setor não têm nenhuma autoridade moral e ética para
falar em 'liberdade de expressão', pois negam
diariamente a diversidade informativa e cultural com
o controle seletivo da informação e da opinião. Se
confundem interesses empresariais e políticos com o
que seria, supostamente, a função de informar e
entreter. Tudo isso acentua a ilegítima pretensão dos
meios hegemônicos de definir regras unilateralmente,
inclusive as de natureza deontológica (relativo a
estudos sobre princípios morais), para se colocar
acima das instituições e os poderes constituídos,
exercendo não a liberdade de expressão, mas a
liberdade de empresa.
6. Os conglomerados detêm a propriedade da maioria
dos meios de difusão, da infraestrutura tecnológica e
das bases logísticas, o que lhes confere domínio dos
processos de produção material e imaterial. A
digitalização favoreceu a multiplicação de bens e
serviços de infoentretenimento; atraiu jogadores
internacionais para negócios em todos os continentes;
intensificou transmissões e fluxos em tempo real; e
agravou a concentração em setores complementários
(imprensa, rádio, televisão, internet, audiovisual,
editorial, telecomunicações, publicidade, marketing,
cinema, jogos eletrônicos, celulares, plataformas
digitais, etc.).
Tudo isso faz sobressair novas formas de mais valia na
economia digital: a tecnologia que possibilita sinergias
e convergências; a repartição e a distribuição de
conteúdos gerados nas mesmas matrizes produtivas e
plataformas; a racionalidade de custos e a planificação
de investimentos.
Se origina daí um sistema multimidiático com
flexibilidade operacional e produtiva, que inclui ampla
variedade de iniciativas e serviços digitais, fluxos
velozes, espaços de visibilidade, esquemas globais de
distribuição, campanhas publicitárias mundiais e
técnicas sofisticadas de conhecimento dos mercados.
A finalidade é garantir o maior domínio possível sobre
as
cadeias
de
fabricação,
processamento,
comercialização e distribuição dos produtos e
serviços, incrementando a rentabilidade e os
dividendos monopólicos.
30 de janeiro 2015
(Publicado originalmente em Alainet)
______________
* Dênis de Moraes es investigador senior del Consejo
Nacional de Desarrollo Científico y Tecnológico (CNPq)
y de la Fundación Carlos Chagas Filho de Amparo a la
Investigación del Estado de Río de Janeiro (FAPERJ),
de Brasil. Autor, entre otros libros, de Medios, poder y
contrapoder, con Ignacio Ramonet y Pascual Serrano
(Biblos, 2013), La cruzada de los medios en América
Latina (Paidós, 2011) y Mutaciones de lo visible:
comunicación y procesos culturales en la era digital
(Paidós, 2010).
SOCIOLOGIA - 3º ANO - Apostila nº 1 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 2
Na telinha da sua casa você é cidadão? – Mídia e cultura no capitalismo globalizado
A partir da II Revolução Industrial no século XIX e da
predominância das regras do mercado capitalista, as
artes, a cultura e a mídia foram submetidas à ideologia
da indústria cultural.
Ou seja, os produtos de criação da cultura dos homens
foram submetidos à ideia de consumo, como produtos
fabricados em série. As obras de arte se transformam em
meras mercadorias, produtos de consumo, onde a
maioria dos bens artísticos não são criados para a
contemplação, para a busca do belo, e, sim, para a
obtenção do lucro.
A indústria cultural massifica a cultura e as artes para o
consumo rápido no mercado da moda e na mídia.
Massificar é banalizar as artes e a produção das ideias e,
também, vulgarizar os conhecimentos.
Marilena Chauí (1995) nos dá um exemplo disso
afirmando:
"A indústria cultural vende cultura. Para vendê-la, deve
seduzir e agradar o consumidor. Para seduzi-lo, não
pode chocá-lo, provocá-lo, fazê-lo pensar. Fazê-lo ter
informações novas que perturbem, mas deve devolverlhe, com nova aparência, o que ele já sabe, já viu, já fez".
Daí surgem as revistas de fofocas, o teclado, o MSN, os
programas de TV sobre futilidades, os comerciais que
tentam vender produtos sem qualidades, mas com
ótima produção de marketing.
O poder da mídia - Expressão máxima da indústria
cultural são os meios de comunicação de massa, ou
mídia escrita ou eletrônica. Aqui vale destacar o poder
da mídia enquanto manipulação, formação de opinião,
infantilização e condicionamento de mentes e
produção cultural do grotesco visando a despolitização.
Essas características da mídia se expressam
particularmente através da TV, rádio, jornais e revistas,
que são de fácil acesso à grande maioria das pessoas.
Muitos estudiosos, jornalistas e políticos costumam dizer
que a mídia - ou meios de comunicação de massa representa um quarto poder (além dos poderes
governamentais do judiciário, do legislativo e do
executivo). Isto porque influencia comportamentos,
opiniões e atitudes de forma constante e permanente.
Vejamos essa passagem do livro Convite à Filosofia, de
Marilena Chauí (1995):
"Vale a pena, também, mencionar dois outros efeitos
que a mídia produz em nossas mentes: a dispersão da
atenção e a infantilização."
"Para atender aos interesses econômicos dos
patrocinadores, a mídia divide a programação em blocos
que duram de sete a dez minutos, cada bloco sendo
interrompido pelos comerciais. Essa divisão do tempo
nos leva a concentrar a atenção durante os sete ou dez
minutos de programa e a desconcentrá-la durante as
pausas para a publicidade."
"Pouco a pouco isso se torna um hábito. Artistas de
teatro afirmam que, durante um espetáculo, sentem o
público ficar desatento a cada sete minutos. Professores
observam que seus alunos perdem a atenção a cada dez
minutos e só voltam a se concentrar após uma pausa
que dão a si mesmos, como se dividissem a aula em
'programa' e 'comercial'."
"Ora, um dos resultados dessa mudança mental
transparece quando criança e jovem tentam ler um livro:
não conseguem ler mais do que sete a dez minutos de
cada vez, não conseguem suportar a ausência de
imagens e ilustrações no texto, não suportam a ideia de
precisar ler 'um livro inteiro'. A atenção e a
concentração, a capacidade de abstração intelectual e
de exercício do pensamento foram destruídas. Como
esperar que possam desejar e interessar-se pelas obras
de artes e de pensamento?"
"Por ser um ramo da indústria cultural e, portanto, por
ser fundamentalmente uma vendedora de cultura que
precisa agradar o consumidor, a mídia infantiliza. Como
isso acontece? Uma pessoa (criança ou não) é infantil
quando não consegue suportar a distância temporal
entre seu desejo e a satisfação dele. A criança é infantil
justamente porque para ela o intervalo entre o desejo e
a satisfação é intolerável (por isso a criança pequena
chora tanto)."
"Ora, o que faz a mídia? Promete e oferece gratificação
instantânea. Como o consegue? Criando em nós os
desejos e oferecendo produtos (publicidade e
programação) para satisfazê-los. O ouvinte que gira o
dial do aparelho de rádio continuamente e o
telespectador que muda continuamente de canal o
fazem porque sabem que, em algum lugar, seu desejo
será imediatamente satisfeito."
Além disso, como a programação se dirige ao que já
sabemos e já gostamos, e como toma a cultura sob a
forma de lazer e entretenimento, a mídia satisfaz,
imediatamente nossos desejos porque não exige de nós
atenção, pensamento, reflexão, crítica, perturbação de
nossa sensibilidade e de nossa fantasia. Em suma, não
nos pede o que as obras de arte e de pensamento nos
pedem: trabalho sensorial e mental para compreendêlas, amá-las, criticá-las, superá-las. A cultura nos satisfaz
se tivermos paciência para compreendê-la e decifrá-la.
Exige maturidade. A mídia nos satisfaz porque nada nos
pede, senão que permaneçamos para sempre infantis."
(Trecho extraído do livro: "Sociologia para jovens do século XXI",
de OLIVEIRA, Luiz F. de & COSTA, Ricardo Cesar R. da)
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Noam Chomsky e as 10 estratégias de manipulação midiática
1. A estratégia da distração. O elemento primordial do controle
social é a estratégia da distração, que consiste em desviar a
atenção do público dos problemas importantes e das mudanças
decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante o uso da
técnica de dilúvio, ou inundação contínua através de distrações e
informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente
indispensável para impedir que o público se interesse pelos
conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da
psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção
do público distraída, distante dos verdadeiros problemas sociais,
aprisionada por temas sem importância real. Manter o público
ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar;
retornando à granja como fazem com outros animais (citado do
texto 'Armas silenciosas para guerras tranqüilas')”.
maior a intenção de enganar o expectador, mais se tende a adotar
um tom infantilizante. Por quê? “Se alguém se dirige a uma
pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então,
devido à sugestionabilidade, ela tenderá, com certa probabilidade,
a responder ou reagir também desprovida de um sentido crítico
como a de uma pessoa de 12 anos ou menos de idade (ver
'Armas silenciosas para guerras tranqüilas')”.
2. Criar problemas e depois oferecer soluções. Este método
também é chamado “problema-reação-solução”. Cria-se um
problema, uma “situação” prevista, para causar certa reação no
público, com o objetivo de que este pareça o mandante das
medidas que se deseja fazer aceitar. Por ejemplo: deixar que se
desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar
atentados sangrentos, a fim de que o público solicite leis de
segurança e políticas austeras que acabem acarretando em perda
de liberdade. Ou ainda: criar uma crise econômica para que se
aceite como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e
o desmantelamento dos serviços públicos.
7. Manter o público na ignorância e na mediocridade. Fazer
com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e
os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. “A
qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser
a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da
ignorância que reina entre as classes inferiores e as classes
sociais superiores seja e permaneça impossíveis de ser alcançada
pelas classes inferiores (ver 'Armas silenciosas para guerras
tranqüilas')”.
3. A estratégia do gradativo. Para fazer com que se aceite uma
medida inaceitável, basta aplicá-la gradualmente, no estilo contagotas, por anos consecutivos. É dessa maneira que condições
socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram
impostas durante as décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo,
privatizações, precarização do trabalho, flexibilidade, desemprego
em massa, defasagem salarial, ou seja, uma série de mudanças
que teriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas
de uma só vez.
4. A estratégia de diferir, retardar. Outra maneira de convencer
de uma decisão impopular é apresentá-la como “dolorosa e
necessária”, obtendo a aceitação pública, no momento, para uma
aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro que um
sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é realizado
imediatamente. E isto porque o público, a massa, tem sempre a
tendência a esperar ingenuamente que “tudo irá melhorar
amanhã” e que o sacrifício exigido poderá, quem sabe, ser
evitado. Isto dá mais tempo ao público para se acostumar com a
idéia da mudança e assim aceitá-la com resignação quando
chegar o momento.
5. Dirigir-se ao público como criaturas de pouca idade. A
maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discursos,
argumentos, personagens e entonações parti-cularmente infantis,
muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse
uma criatura de pouca idade ou um deficiente mental. Quanto
6. Utilizar o aspecto emocional muito mais que a reflexão.
Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para
causar um curto-circuito na análise racional, e finalmente no
sentido crítico dos indivíduos. Por outro lado, a utilização do
registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente
para implantar ou injetar ideias, desejos, medos e temores,
compulsões, ou induzir comportamentos…
8. Estimular o público a ser complacente com a mediocridade.
Promover no público a crença de que é moda o fato de ser
estúpido, vulgar e inculto…
9. Reforçar a autoculpabilidade. Fazer com que o indivíduo
acredite que é somente ele o culpado por sua própria desgraça,
devida à sua insuficiência de inteligência, de capacidade ou de
esforço. Assim, no lugar de revoltar-se contra o sistema
econômico, o indivíduo se autodesvaloriza e se culpa, o que gera
um estado depressivo, cujo efeito, para citar apenas um, é a
inibição de sua ação. E, sem ação, não há revolução!
10. Conhecer os indivíduos melhor do que eles mesmos se
conhecem. No transcurso dos últimos 50 anos, os avanços
acelerados da ciência gerou um crescente abismo entre os
conhecimentos do público e aqueles possuídos e utilizados pelas
elites dominantes. Graças à biología, à neurobiologia e a
psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um
conhecimento avançado do ser humano, tanto no seu aspecto
físico como em seu aspecto psicológico. O sistema tem
conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele se
conhece a si próprio. Isto significa que, na maioria dos casos, o
sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os
indivíduos, superior ao que os próprios indivíduos tem sobre si
mesmos.
(Publicado por Omar Montilla, no Blog Gramscimania)
15/9/2010
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Governos progressistas e transformações comunicacionais
O debate sobre a participação do poder público nos
sistemas de comunicação da América Latina ganhou
ímpeto com o consenso estabelecido entre governos
progressistas quanto à importância de se fortalecer a
pluralidade e facilitar o acesso dos cidadãos à
informação, ao conhecimento e às tecnologias.
Os presidentes Hugo Chávez, Evo Morales, Rafael Correa
e Cristina Kirchner são ostensivos na rejeição ao
monopólio privado da mídia e ao desmedido predomínio
na vida social. “Não se pode aceitar a usurpação de
funções pelos meios de comunicação que funcionam
como partidos políticos e o negam, que operam como
grupos de pressão e o negam, cujas linhas editoriais não
provêm dos que trabalham nelas, isto é, os jornalistas, e
sim de seus donos, uma família ou um grupo
econômico”, declarou Chávez em seu programa
radiofônico Alô Presidente, de 10 de maio de 2009. Na
abertura do V Encontro Mundial de Intelectuais e
Artistas em Defesa da Humanidade, realizado em maio
de 2007 na cidade boliviana de Cochabamba, Morales
criticou a mercantilização da informação e disseque os
governos progressistas devem ajudar a criar “consciência
popular sobre a importância de os meios de
comunicação defenderem os valores da vida, e não os
valores do capital, do egoísmo e do individualismo”.
Correa avalia que, na prática, “mais do que liberdade de
imprensa, há liberdade de empresa, porque muitas
empresas de comunicação não cumprem com sua
missão de informar e querem direcionar a cidadania em
função de seus interesses, e isso não podemos permitir”.
Para Cristina, a mídia assume uma aparente objetividade
diante dos fatos para disfarçar um discurso que é
“diretamente atentatório contra as possibilidades de
mobilidade social, de redistribuição de renda e de
participação democrática”.
Chávez, Morales, e mais Raúl Castro, de Cuba, e Daniel
Ortega, da Nicarágua, assinaram o Manifesto do
Bicentenário durante a Cúpula da Aliança Bolivariana das
Américas, realizada em Caracas, em 19 de abril de 2010.
O documento denuncia as aleivosias [NDP: injúrias e
falsificações] da mídia contra seus adversários políticoideológicos:
“Os países da ALBA alertam sobre o perverso papel
desempenhado por importantes meios de difusão de
massa a serviço dos interesses do imperialismo e na
contramão dos interesses e aspirações dos movimentos
sociais e os povos do Terceiro Mundo. Condenam o uso,
por parte destes meios, da mentira, da distorção, da
calúnia e da omissão deliberada, amparados pelo
monopólio dos canais de comunicação e os grandes
recursos financeiros à sua disposição. Recusam a
tendência à hipocrisia rasteira de importantes meios
informativos europeus e norte-americanos, cujas
respectivas políticas editoriais respondem a objetivos
inimigos dos governos revolucionários e progressistas da
América Latina e Caribe e dos povos da região”.
A reação possível e desejável consiste em valorizar a
produção informativa, as artes e o patrimônio cultural
como partes da continuidade identitária que permite a
expressão das diferenças e a participação individual e
coletiva na vida social. Implica questionar e recusar o
monopólio privado da mídia e a concepção neoliberal de
cultura como negócio competitivo e rentável. Tornam-se
essenciais a discussão e a fixação de critérios e
parâmetros de interesse social para a definição das
linhas gerais de programação das empresas
concessionárias de rádio e televisão, bem como a
renovação de marcos regulatórios para as outorgas de
canais; a descentralização dos meios de veiculação; o
fomento
ao
audiovisual
independente;
o
estabelecimento de cotas de produção, distribuição e
exibição de conteúdos nacionais nos cinemas e nas
televisões aberta e paga; e a integração cultural em
bases cooperativas e não mercantis.
O fato alentador é a conversão de algumas dessas
premissas em fontes inspiradoras de políticas públicas.
Há uma série de coincidências nos modos de repensar a
atuação do Estado, a começar pelo entendimento de
que as questões comunicacionais dizem respeito, na
maioria das vezes, aos interesses coletivos. Não podem
cingir-se a vontades particulares ou corporativas, pois
envolvem múltiplos pontos de vista. Cabe ao Estado um
papel regulador, harmonizando anseios e zelando pelos
direitos à informação e à diversidade cultural. Também
existe consenso quanto à importância de se repor o
papel do Estado como articulador e gestor de
plataformas de comunicação e como fomentador de
espaços autônomos de expressão no seio da sociedade
civil, evitando-se que os canais informativos e de
entretenimento fiquem concentrados no setor privado.
Verificaremos, a seguir, as direções tendenciais que se
delineiam nas atuais políticas públicas de comunicação
na América Latina e os desdobramentos alcançados nas
ações dos governos progressistas.
A comunicação estatal contra o bloqueio midiático
Os sistemas estatais de comunicação incluem atividades
e veículos diretamente concebidos, financiados, geridos,
produzidos e difundidos por organismos do Estado, tais
como canais de rádio e televisão, portais informativos na
internet, agências oficiais de notícias e publicações
impressas. Divulgam atos e realizações governamentais,
convertendo-se também em instrumentos ideológicos,
já que eles põem em evidência posicionamentos do
Executivo sobre as conjunturas social, econômica e
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política, frequentemente minimizados, ou mesmo,
ignorados pela mídia comercial.
De maneira geral, os governos progressistas latinoamericanos
herdaram
sistemas
de
difusão
burocratizados e ineficientes, agravando problemas
acumulados desde a época das ditaduras militares, entre
os anos 1960 e 1980. A falta de investimentos provocou
um curto-circuito na comunicação estatal, que se
ressentia das limitações impostas por orçamentos
escassos e infraestrutura tecnológica defasada. Isso tem
a ver não apenas com a obsessão neoliberal de
desmontar o aparelho do Estado, como também com o
desinteresse em reforçar a área oficial de divulgação, em
função do maciço apoio da mídia comercial aos governos
que rezavam pela cartilha do Consenso de Washington.
Em contrapartida à adesão política, os grupos midiáticos
receberam outorgas de licenças de canais de rádio e
televisão, volumosas verbas publicitárias, facilidades de
importação de equipamentos, isenções fiscais para o
papel-imprensa e financiamentos a juros baixos ou
reescalonamento de dívidas em bancos e agências
oficiais.
A reorganização da comunicação estatal decorreu da
necessidade de se contar com meios mais eficientes de
difusão para se contrapor a noticiários negativos da
mídia, sobretudo quando entram em pauta assuntos
relacionados à radiodifusão ou à defesa da soberania
nacional sobre as riquezas naturais. Os governos da
Venezuela, da Bolívia, do Equador e da Argentina, em
particular, tentam reinserir seus meios de divulgação no
território de disputa pela hegemonia simbólica. É uma
disputa desigual porque esses veículos estão longe de
alcançar a penetração social dos grupos midiáticos.
Mesmo assim, existem esforços para alargar os espaços
de comunicação com a sociedade, sem intermediação
midiática. Uma das ações incisivas é a criação de jornais
e canais de televisão estatais, que intentam reverberar
outros modos de compreender, interpretar e refletir o
mundo.
O surgimento de jornais estatais
Hugo Chávez, Evo Morales, Rafael Correa e Fernando
Lugo decidiram lançar jornais impressos, com versões na
internet, para tentar furar o bloqueio à divulgação de
suas ações na mídia impressa. O público-alvo são as
classes de menor poder aquisitivo e acesso mais restrito
à informação. São basicamente, três os objetivos
perseguidos pelas publicações: a) conquistar uma fatia
do público com distribuição dirigida e preços de capa
simbólicos, o que se torna viável porque os custos são
cobertos com recursos públicos (geralmente, anúncios e
patrocínios de empresas estatais); b) abordar fatos e
acontecimentos a partir de lógicas interpretativas afins
com o ideário governamental; c) rebater acusações e
críticas alardeadas pela mídia massiva.
O primeiro jornal estatal foi criado no Equador. El
Ciudadano
(http://www.elciudadano.gov.ec/),
“periódico do governo da revolução cidadã”, chegou às
bancas na segunda quinzena de abril de 2008. Com 16
páginas e tiragem de 60 mil exemplares, circula
quinzenalmente, sendo que, em Quito, também é
distribuído aos usuários nas estações dos trólebus. Sua
diretriz editorial: “El Ciudadano difunde, através de suas
linhas, as informações da atividade governamental sobre
diversos aspectos, para que se conheça de perto a
grande obra que se leva adiante e que outros meios de
comunicação se recusam a divulgar”.
Em setembro de 2010, surgiu outro diário ligado ao
governo equatoriano. PP [Periódico Popular], El
Verdadero, é um tablóide de 16 páginas com impressão
em cores e paginação atraente, matérias curtas, títulos
fortes e muitas fotos, além de suplemento de
variedades. Dispõe-se a divulgar “notícias positivas”:
crônicas sobre a vida cotidiana, prestação de serviços
aos consumidores e orientação aos que desejam abrir
micronegócios. “Todos devem comprá-lo e ajudar a
derrotar as empresas voltadas para o lucro e que dizem
fazer comunicação: na verdade, só defendem os
próprios negócios e interesses", disse Rafael Correa.
Para chegar a leitores de menor poder aquisitivo, o
preço de capa (equivalente a R$ 0,68) é o mais baixo da
imprensa equatoriana. A estratégia de marketing
assemelha-se à de jornais de penetração popular,
incluindo promoções como as raspadinhas premiadas,
nas quais o leitor pode ganhar recargas para celulares ou
dinheiro. Semanalmente dois canais de televisão
realizam sorteios de eletrodomésticos com os números
que saem no PP. Mensalmente, os leitores concorrem a
um carro zero quilômetro. Umas das razões da
orientação mais agressiva do ponto de vista
mercadológico foi a insatisfação de Correa com os rumos
de El Telégrafo. A BBC Mundo divulgou que o governo
equatoriano estava gastando US$ 6 milhões anuais e não
conseguia alcançar mais do que 1% do público, o que
teria levado o presidente a optar por uma
reestruturação editorial de El Telégrafo e pelo
lançamento do PP, a fim de aumentar a penetração em
áreas populares.
Na Bolívia, Evo Morales lançou, em 22 de janeiro de
2009, Cambio (http://www.cambio.bo/). São 16 páginas
em formato tablóide, 5 mil exemplares diários e preço
de capa equivalente a R$ 0,70. “Cansamos das mentiras
difundidas pela mídia. São por demais conhecidas as
agressões de alguns meios de comunicação: ofensas,
humilhações, mentiras atrás de mentiras. Por isso,
decidimos que o Estado terá seu próprio jornal”, afirmou
Morales, completando: “Todos devem ter um espaço
para expressar suas opiniões e fazer suas observações ao
Executivo, mas com a verdade. O nosso diário fará um
jornalismo sem discriminação, sem racismo, sem
exclusões e com igualdade”. Segundo o diretor de
SOCIOLOGIA - 3º ANO - Apostila nº 1 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 6
Cambio, Delfin Arias Vargas, a missão do jornal não é de
ser pró-governamental, e sim estatal: “Estamos
manejando a informação como um bem social ao qual o
povo boliviano tem direito. Aqui não há militantes, há
jornalistas profissionais. Em nenhum momento se
perguntou se eram filiados a algum partido ou
movimento social; o que examinamos foi seu currículo
profissional”. Segundo ele, desde a posse de Evo
Morales, “os meios de comunicação viraram trincheiras;
hoje eles fazem oposição política frontal ao governo,
tratam a informação sem nenhum respeito, tratam-na
como bem comercial, não como bem social”. Vargas
rejeita a agressividade da mídia e da oposição
conservadora contra a criação do novo jornal: “Dizem
que estamos violando a liberdade de expressão. Mas
apesar de se terem cometidos vários abusos, não há
nenhum jornalista preso ou processado aqui. A liberdade
de imprensa é plena na Bolívia. Só não podemos permitir
que ela não seja usada para tratar a informação como
bem social que é”. Morales transmitiu apenas uma
orientação editorial ao diretor de Cambio: “Ele nos disse
que está apoiando o jornal, mas não quer propaganda
do governo. ‘Quero que vocês deem informações
corretas sobre nossa gestão’. ‘Vocês devem dar uma
aula de jornalismo aos meios comerciais’, ele
completou”. Delfin Vargas disse, ainda, ter sido
procurado por dirigentes partidários e de movimentos
sociais que apoiam o governo na semana seguinte ao
lançamento do jornal, cada um com uma receita
editorial própria. “Eu até entendo, porque estão
desesperados para que haja mais meios alternativos no
país. O que nós faremos será simplesmente tratar a
informação como bem social, com manejo plural,
responsável e veraz da informação. Isso nos fará
independentes”, observou o jornalista.
Na
Venezuela,
Correo
del
Orinoco
(http://www.correodelorinoco.gob.ve/)
chegou
às
bancas em 30 de agosto de 2009 com 32 páginas e 50
mil exemplares diários. O título é idêntico ao jornal que
circulou de 27 de junho de 1818 a 23 de março de 1822,
durante a guerra de independência da Venezuela. Foi
criado por Simón Bolívar para contrabalançar a
influência da Gazeta de Caracas, que se pôs ao lado da
Coroa Espanhola. Hugo Chávez afirmou que o jornal foi
concebido para reforçar o enfrentamento com o
“terrorismo midiático”:
“Um jornalismo da verdade e para a verdade, que
sempre é e será revolucionária: isso é o que se propõe
nosso Correo del Orinoco, ainda mais nestes momentos
quando novamente os interesses imperiais pretendem
impedir a liberdade e unidade de nossos povos. A tarefa
do Correo del Orinoco, criado por nosso libertador faz
191 anos, não terminou, e ainda temos o enorme
compromisso de atingir nossa definitiva independência,
de todo domínio, de todo o colonialismo, de todo
império. É a hora de fortalecer a luta no campo das
ideias. É a hora de vencer...”
Correo del Orinoco faz sobressair as intervenções de
Chávez (discursos, artigos, entrevistas), ilustradas com
fotos ou vídeos de atos e eventos de que participa.
Embora haja variedade temática (política, economia,
educação, energia, saúde, comunicação e cultura, meio
ambiente, ecologia, ciência e tecnologia, esportes,
segurança pública, direitos humanos, internacional,
regiões do país), a maioria das notícias reflete o ponto
de
vista
governamental,
seja
através
dos
esclarecimentos de autoridades, seja pela ênfase com
que são destacadas as realizações presidenciais, ou
ainda na seleção de articulistas alinhados politicamente
com o Palácio Miraflores.
Em fins de 2010, Fernando Lugo lançou o primeiro
semanário governamental...
{Trecho interrompido pelo professor: O presidente
paraguaio Fernando Lugo foi deposto por um golpe
parlamentar orquestrado pela Monsanto, a CIA e os EUA
em 25/06/12}.
A mídia dos quatro países recriminou Chávez, Morales,
Correa e Lugo por supostos desperdício do dinheiro
público com propaganda oficial, “proselitismo político” e
“falta de isenção e neutralidade” dos jornais estatais.
A alegação de falta de isenção e de neutralidade não
resiste a um exame aprofundado da própria práxis
jornalística. Em primeiro lugar, o jornalismo baseia-se
nos acontecimentos do mundo e na vida cotidiana,
assumindo critérios de valor nas escolhas temáticas, nas
linhas de abordagem e nas estratégias de veiculação.
Está longe de ser uma atividade contemplativa, muito
menos dissociadas do jogo de forças e das disputas de
sentido e poder que se manifesta na sociedade. Se a
atualidade histórico-social, em si mesma, é repleta de
contradições, antagonismos e dissonâncias, o que
significa exatamente ser objetivo e imparcial diante
dela? Abster-se, alienar-se, evadir-se? E como exigir
“isenção e neutralidade” frente a conflitos de classes, de
greves, de escândalos de corrupção, rixas políticas,
interesses econômicos e temas que dividem opiniões e
pressupõem alinhamentos ou recusas?
Em segundo lugar, omite-se que a chamada grande
imprensa é a primeira a faltar com isenção e
neutralidade quando intenta orientar ideologicamente
os leitores, em editoriais e artigos; quando adota juízos
particulares para selecionar, tratar e hierarquizar as
informações; quando exerce controle sobre o que vai ser
difundido, restringindo, silenciando ou amplificando
questões e pontos de vista; quando nos diz quais são os
escândalos, as crises, os banhos de sangue e as tragédias
que devem ser conhecidos, discutidos, aceitos,
rejeitados ou tolerados; quando espetaculariza situações
e até guerras e atentados, ora para despertar comoção e
SOCIOLOGIA - 3º ANO - Apostila nº 1 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 7
adesão, ora para infundir ódio e preconceito, ora para
naturalizar desigualdades; quando descontextualiza e
isola as notícias de suas causas e consequências
históricas, políticas e culturais; quando incentiva
modismos e ondas consumistas, acentuando ganhos,
lugares de mando, estratificações e subalternidades.
(...) Seja como for, as impugnações da mídia comercial
contra os meios estatais visam impedir que o Estado
disponha de veículos próprios para esclarecimento e
convencimento da opinião pública a partir de seus
pressupostos de compreensão da realidade, com os
comprometimentos daí resultantes. Em última análise, a
mídia quer conter, sem nunca assumir tal intenção
publicamente, a pluralidade na produção de sentido e a
emergência de oponentes nos embates pela hegemonia,
sobretudo aqueles que questionam a concentração
monopólica e se confrontam com o pensamento único
neoliberal.
Exemplos de canais de televisão financiados
por verbas públicas:
- TELESUR: http://www.telesurtv.net/ – Com o slogan
“Nosso norte é o sul”, a Telesur está no ar desde 2005.
Sediada em Caracas, é financiada pelos governos de
Venezuela (51% das cotas), Cuba, Argentina, Bolívia,
Equador e Nicarágua.
- ECUADOR TV – Equador: http://www.ecuadortv.ec/
- ENCUENTRO – Argentina: http://www.encuentro.gob.ar
- EBC – Brasil: http://www.ebc.com.br/
Fonte: MORAES, Dênis de. “Vozes abertas da América
Latina: Estado, políticas públicas e democratização da
comunicação”. Rio de Janeiro: Mauad X: Faperj, 2011. P.
61-90 (trechos)
...PARA TREINAR O ESPANHOL >>>
Nuevo libro revela efectos nocivos
del Internet
21 febrero 2015
Los pioneros de la web esperaban que las ventajas que
esta ofrecía transformaran la sociedad, ampliara el
conocimiento humano. Un nuevo libro, lleno de
escepticismo al respecto, revela de qué manera Internet
nos está matando y está llevando el mundo a la ruina.
“Es fácil olvidar las intenciones batalladoras con las que
la revolución de Internet comenzó”, dice el escritor
británico Andrew Keen. “Pero luego el paquete pasó de
los magos técnicos y visionarios a los hombres de
negocios. Internet perdió el sentido de una causa
común, una decencia general y quizás perdió su alma. El
dinero sustituyó todas esas cosas”.
El autor, citado por el periódico ‘Daily Mail’ propone
echar un vistazo a la aplicación de fotos Instagram, que
permite a cualquiera compartir sus instantáneas para
que otros puedan verlas. Cuando el equipo que la
mantenía la vendió a Facebook por mil millones de
dólares en 2012, solo tenía 13 empleados a jornada
completa. Pero debido en parte a la aparición de esta
aplicación, Kodak cerró 13 fábricas y 130 laboratorios de
fotografías y despidió a 47.000 trabajadores.
“El impacto en el empleo es enorme”, subraya Keen en
referencia a todo el sector del comercio por Internet.
Mientras las cadenas minoristas emplean a 47 personas
por cada 100 millones de dólares en ventas, Amazon
emplea solo a 14. Por este motivo, dice, se le puede
considerar un “asesino de trabajo más que un creador
de empleo”.
La vida personal de tres mil millones de internautas ha
sido transformada por las increíbles ventajas del correo
electrónico, los medios sociales, el comercio electrónico
y las aplicaciones para móviles, recuerda el escritor. “En
lugar de propiciar un renacimiento intelectual, Internet
ha creado una cultura del voyerismo y narcisismo
centrada en los ‘selfies’”.
A esto se suma el problema de la pornografía,
omnipresente en Internet. Con unas herramientas de
control de acceso inadecuadas, los niños están en cada
vez más expuestos. Y la lógica del uso de Internet, según
Keen, se reduce a una opción cerrada: o buscas en la
web a otra gente en cueros o te buscas a ti mismo.
(Con información de RT)
SOCIOLOGIA - 3º ANO - Apostila nº 1 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 8
Uma agenda de curto prazo para o Ministério das Comunicações
30/01/2015 - Nesta quarta-feira (28), o ministro das
Comunicações Ricardo Berzoini recebeu a executiva do
Fórum Nacional pela Democratização das Comunicações
(FNDC), que reúne os principais movimentos e
organizações que defendem a liberdade de expressão e
o direito à comunicação no país. O Intervozes esteve
presente. Na pauta, necessariamente, o debate sobre
como Berzoini pretende conduzir as discussões públicas
sobre a elaboração de um novo marco regulatório para o
setor no Brasil. O ministro reafirmou as declarações já
feitas na imprensa: esta gestão Dilma quer enfrentar o
tema, “desmistificando conceitos e compartilhando
informações”, como explicou.
O processo de construção e aprovação de um novo
marco regulatório, entretanto, levará tempo e
encontrará obstáculos não apenas junto ao
empresariado, mas também no Congresso Nacional.
Como o quadro atual do sistema midiático brasileiro
requer ações urgentes, bastando para isso vontade
política e uma mudança de postura do Ministério das
Comunicações, o FNDC apresentou a Berzoini questões
que podem ser tratadas no curto prazo,
independentemente da aprovação de uma nova lei geral
para o setor. Isso porque o marco normativo atualmente
em vigor no Brasil já garante os elementos necessários
para que tais desafios sejam finalmente enfrentados por
essa gestão do governo federal. É só querer.
Compartilhamos abaixo algumas delas, na expectativa
de que o novo ministro efetivamente cumpra o que tem
anunciado: fazer diferente.
1. Proibição de outorgas para deputados e senadores
O artigo 54 da Constituição aponta, em seus dois
primeiros parágrafos, como fundamento da República,
que deputados e senadores não podem firmar ou
manter contrato com pessoa jurídica de direito público,
autarquia, empresa pública, sociedade de economia
mista ou empresa concessionária de serviço público. O
artigo 38 do Código Brasileiro de Telecomunicações
também determina, em seu parágrafo primeiro, que não
pode exercer a função de diretor ou gerente de
concessionária, permissionária ou autorizada de serviço
de radiodifusão quem esteja no gozo de imunidade
parlamentar ou de foro especial. No entanto, há 40
deputados federais e senadores, da legislatura que
termina neste domingo (1), que controlam diretamente
pelo menos uma emissora de rádio ou televisão em seu
estado de origem.
2. Combate aos arrendamentos/subconcessões
Levantamento de arrendamentos na grade de
programação da TV aberta, feito pelo Intervozes, aponta
que algumas emissoras chegam a ter 92% do seu tempo
vendido para terceiros, como a Rede 21, do Grupo
Bandeirantes. Há casos também de emissoras maiores,
como a RedeTV, que cresceu, nos últimos quatro anos,
de 32% para 50% o percentual de sua grade arrendada.
As igrejas cristãs são as responsáveis pela parte mais
significativa dessas compras. A Igreja Universal do Reino
de Deus, proprietária da Record e da TV Universal, por
exemplo, paga cerca de 12 milhões por mês para o Canal
21 e para a CNT. Recentemente, o Ministério Público
Federal de São Paulo entrou com três ações contra
arrendamentos ilegais. Foram acionados na Justiça o
grupo de TV CNT e o Canal 21 do grupo Bandeirantes
pelo arrendamento ilegal de 22 horas diárias das suas
programações para a Igreja Universal do Reino de Deus.
O Ministério das Comunicações é réu nas ações, pois o
MPF considera que o órgão deveria impedir a prática, e
não o faz.
Segundo o MPF, a subconcessão é inconstitucional pois
(i) viola o princípio da licitação e a regra da isonomia, e
(ii) a concessão possui caráter personalíssimo. Ainda que
se admita a legalidade da subconcessão, seriam
necessárias (i) a previsão no edital de licitação inicial da
outorga, (ii) a permissão contratual, (iii) a prévia
autorização do Poder Executivo e (iv) a realização de
concorrência pública. Na venda de programação, nada
disso é feito. Já se for considerado o aspecto
mercadológico do negócio, a legislação brasileira
também está sendo desrespeitada, visto que o art. 124
Código Brasileiro de Telecomunicações e o art. 28, §12,
“d”, do Decreto Presidencial nº 52.795/63 determinam
que o tempo destinado à publicidade comercial não
poderá exceder 25% da programação. O Código
Brasileiro de Telecomunicações (CBT) determina fim do
direito à outorga se a concessionária ou permissionária
descumprir o contrato de concessão ou permissão, ou as
exigências legais e regulamentares (art. 67). Mas o
Ministério das Comunicações e o Congresso nacional
nunca fizeram isso.
3. Enfrentamento ao livre mercado de compra e venda
de outorgas de rádio e TV
A radiodifusão, além de ser um serviço público, utiliza
um bem público: o espectro eletromagnético. Apesar
disso, muitos concessionários utilizam a outorga obtida
junto à União como uma mercadoria por meio das
vendas declaradas ou das negociações não públicas
conhecidas como "contratos de gaveta". Ao mesmo
tempo, transferências diretas e indiretas de outorgas
também revelam a apropriação privada de recursos
públicos. Previstas em lei, desde que autorizadas pelo
Poder Executivo, as transferências de outorgas já são
consideradas inconstitucionais – há jurisprudência nesse
sentido e uma ação da Procuradoria Geral da República
questiona um dispositivo análogo na lei de concessões.
SOCIOLOGIA - 3º ANO - Apostila nº 1 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 9
Além disso, uma série de transferências ocorrem sem a
anuência do Poder Executivo.
4. Garantia do respeito aos limites à concentração de
propriedade já existentes
A legislação brasileira veda que um mesmo ente possua
mais de cinco emissoras em VHF ou mais de 10 em UHF
no território nacional, bem como duas outorgas do
mesmo serviço na mesma localidade. No entanto, esses
limites são burlados cotidianamente no país. Um
primeiro problema é o uso de estruturas societárias
diferentes dentro de um mesmo grupo comercial. Um
segundo problema é a afiliação em rede, cuja ausência
de regramento permite, além da concentração de
veículos por poucos grupos econômicos, contratos com
obrigações excessivas para as afiliadas e a verticalização
da produção audiovisual brasileira. Normas infralegais
poderiam constituir mecanismos que identificassem os
grupos comerciais, aplicando os limites à concentração
de propriedade já existentes para estes.
5. Responsabilização das emissoras por violações de
direitos humanos na programação
Em busca de audiência, canais multiplicam violações
com a profusão de programas policialescos e conteúdos
baseados na estigmatização e humilhação. Denúncias
crescentes nas Procuradorias dos Direitos do Cidadão
comprovam uma questão sistemática. No processo de
fiscalização das obrigações de conteúdo, além de não
realizar um acompanhamento sistemático do que é
veiculado, o MiniCom trabalha e orienta a Anatel a
considerar apenas as normas dispostas no CBT e no
regulamento do serviço de radiodifusão. O Código
afirma que constitui abuso no exercício da radiodifusão
o emprego dos meios de comunicação para a promoção
de campanha discriminatória de classe, cor, raça ou
religião. Já o Decreto Presidencial 52.795/63 proíbe as
concessionárias de “transmitir programas que atentem
contra o sentimento público, expondo pessoas a
situações que, de alguma forma, redundem em
constrangimento, ainda que seu objetivo seja
jornalístico” (Art.28, item 12).
Além de ser complexo enquadrar determinada
programação na definição de campanha discriminatória,
o MiniCom não considera as demais leis e tratados
internacionais ratificados pelo Brasil que tratam do
tema, como o Estatuto da Igualdade Racial, que prevê,
por exemplo, que o poder público deve garantir medidas
para “coibir a utilização dos meios de comunicação
social para a difusão de proposições, imagens ou
abordagens que exponham pessoa ou grupo ao ódio ou
ao desprezo por motivos fundados na religiosidade de
matrizes africanas”(Art. 26). Em relação às eventuais
sanções aplicadas, apesar de serem gradativas, elas não
podem ser consideradas cumulativas em casos de
reincidência. Assim, mesmo que uma emissora tenha
como prática sistemática a difusão de conteúdos
atentatórios contra os direitos humanos, ela nunca
chegará a perder sua licença por este motivo. O valor
aplicado também não é dissuasivo. Em 2013, as multas
tinham como teto R$ 76.155,21, sendo que, por apenas
30 segundos de inserção publicitária, as emissoras
cobram o valor médio de R$ 15 mil.
6. Fim da criminalização às rádios comunitárias
É urgente promover uma mudança institucional no
sentido de barrar a criminalização histórica das rádios
comunitárias. Principal veículo de exercício da liberdade
de expressão de milhares de comunidades em todo o
país, essas rádios sofrem a frequente repressão por
parte da Anatel, movida na maior parte dos casos por
denúncias de rádios comerciais concorrentes. Ações de
fechamento e lacração de emissoras tem levado, sem
qualquer justificativa, além da detenção de líderes
comunitários, à apreensão de equipamentos preciosos
para a população e à cobrança de multas que colocam as
associações em situação mais precária do que a em que
já se encontram. A anistia dessas multas e a devolução
dos equipamentos confiscados é uma medida urgente
para a sobrevida deste movimento. A desburocratização
dos processos de autorização (há casos de espera de
quase 10 anos) e a criação de um mecanismo de
financiamento para as rádios comunitárias, que seja
compatível com a lei 9612/98, também são estratégicos
para a sustentabilidade dos canais.
7. Universalização do acesso à banda larga
O Programa Nacional de Banda Larga foi lançado em
maio de 2010 com objetivo de ampliar os acessos à
Internet de alta velocidade no país. Embora os acessos
tenham crescido desde então, mais da metade dos
domicílios brasileiros permanece desconectada, o que se
soma a uma considerável desigualdade regional e um
profundo fosso entre áreas urbanas e rurais. O cenário
atual é reflexo de uma das falhas mais graves do
Programa – a não consideração do serviço de banda
larga como essencial e a crença de que meros incentivos
ao mercado são capazes de superar desigualdades e
garantir direitos. O plano de banda larga popular e as
metas destinadas à área rural são também retratos
dessa insuficiência e precisam ser revistos. A Presidenta
Dilma tratou esse tema com prioridade em sua
campanha e se comprometeu com a universalização do
acesso à banda larga. Contudo, isso deve ser feito de
acordo com a legislação brasileira, com a sua prestação
também em regime público, conferindo ao poder
público instrumentos regulatórios suficientes para exigir
obrigações das empresas. Deve ser feito também com
investimentos em redes de fibra ótica e fortalecimento
da Telebras. Por fim, a concepção e implementação de
uma nova fase do PNBL deve ter a participação social
como um de seus pilares, assim como ocorreu com o
Marco Civil da Internet.
Extraído
de:
“http://www.alainet.org/active/80495”.
SOCIOLOGIA - 3º ANO - Apostila nº 1 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 10
O PRISM e a ascensão de um novo fascismo
por John Pilger
No seu livro, Propaganda, publicado em 1928,
Edward Bernays escreveu: "A manipulação consciente
e inteligente dos hábitos organizados e das opiniões
das massas é um elemento importante na sociedade
democrática. Aqueles que manipulam este
mecanismo que não se vê da sociedade constituem
um governo invisível, o qual é o verdadeiro poder
dominante no nosso país".
Bernays, o sobrinho americano de Sigmund Freud,
inventou a expressão "relações públicas" como um
eufemismo para propaganda de estado. Ele advertiu
que seria uma ameaça permanente ao governo
invisível aqueles que dizem a verdade e um público
esclarecido.
Em 1971, Daniel Ellsberg trouxe a público os arquivos
do governo estadunidense conhecidos como "The
Pentagon Papers", revelando que a invasão do Vietnã
fora baseada numa mentira sistemática. Quatro anos
depois, Frank Church dirigiu audiências sensacionais
no Senado dos EUA: um dos últimos lampejos da
democracia americana. Estas puseram a nu a plena
extensão do governo invisível: a espionagem e
subversão internas e a provocação de guerra pelas
agências de inteligência e "segurança", bem como o
apoio que recebiam do big business e dos media,
tanto conservadores como liberais.
Ao referir-se à Agência de Segurança Nacional (NSA,
na sigla em inglês), o senador Church afirmou: "Sei da
capacidade que há para instaurar tirania na América e
devemos verificar que esta agência e todas as
agências que possuem esta tecnologia operem dentro
da lei... de modo a que nunca cruzemos esse abismo.
Trata-se do abismo do qual não há retorno".
Em 11 de Junho de 2013, seguindo no Guardian as
revelações de Edward Snowden, contratado pela NSA,
Daniel Ellsberg escreveu que os EUA agora caíram
dentro "daquele abismo".
A revelação de Snowden, de que Washington utilizou
a Google, o Facebook, a Apple e outros gigantes da
tecnologia para espionar quase toda a gente, é uma
nova evidência da forma moderna de fascismo – esse
é o "abismo". Tendo alimentado fascistas tradicionais
por todo o mundo – desde a América Latina à África e
à Indonésia – o gênio libertou-se e voltou para casa.
Entender isto é tão importante quanto entender o
abuso criminoso da tecnologia.
Fred Branfman, que revelou a destruição "secreta" do
pequeno Laos pela US Air Force nas décadas de 1960
e 70, proporciona uma resposta àqueles que ainda se
admiram como um presidente afro-americano, um
professor de direito constitucional, pode comandar
tamanha ilegalidade. "Sob o sr. Obama", escreveu ele,
"nenhum presidente fez mais para criar a
infraestrutura para um possível futuro estado
policial". Por que? Porque Obama, tal como George
W. Bush, entende que o seu papel não é satisfazer
aqueles que nele votaram, mas sim expandir "a mais
poderosa instituição da história do mundo, uma
instituição que matou, feriu ou privou de lar bem mais
de 20 milhões de seres humanos, principalmente civis,
desde 1962".
No novo ciber-poder americano, só as portas
giratórias mudaram. O diretor da Google Ideas, Jared
Cohen, era conselheiro de Condaleeza Rice, a antiga
secretária de Estado na administração Bush que
mentiu quando disse que Saddam Hussein podia
atacar os EUA com armas nucleares. Cohen e o
presidente executivo da Google, Eric Schmidt – eles
encontraram-se nas ruínas do Iraque – escreveram
um livro em coautoria, "The New Digital Age",
apresentado como visionário pelo antigo diretor da
CIA Michael Hayden e pelos criminosos de guerra
Henry Kissinger e Tony Blair. Os autores não
mencionam o programa de espionagem "Prism",
revelado por Edward Snowden, que proporciona à
NSA acesso a todos nós que utilizamos o Google.
Controle e domínio são as duas palavras que dão o
sentido disto. São exercidos através de planos
políticos, econômicos e militares, entre os quais a
vigilância em massa é uma parte essencial, mas
também pela propaganda insinuante na consciência
pública. Este era o ponto de Edward Bernay. As suas
duas campanhas de RP com mais êxito foram
SOCIOLOGIA - 3º ANO - Apostila nº 1 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 11
convencer os americanos que deveriam ir à guerra em
1917 e persuadir as mulheres a fumarem em público;
os cigarros eram "archotes da liberdade" que
acelerariam a libertação da mulher.
É na cultura popular que o "ideal" fraudulento da
América como moralmente superior, como "líder do
mundo livre", tem sido mais eficaz. Mas, mesmo
durante os períodos mais patrioteiros de Hollywood
houve filmes excepcionais, como aqueles de Stanley
Kubrick no exílio e audaciosos filmes europeus que
encontravam distribuidores nos EUA. Nestes dias, não
há Kubrick, nem Strangelove e o mercado
estadunidense está quase fechado a filmes
estrangeiros.
atrocidade como "linda". Mas, num sentido vital, eles
não escaparam sem punição; somos agora
testemunhas e o que resta é para nos tramar.
20/Junho/2013
O original encontra-se em New Statesman e em
www.counterpunch.org/2013/06/21/prism-and-therise-of-a-new-fascism/
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
Quando apresentei meu filme, "A guerra à
democracia" ("The War on Democracy"), a um grande
distribuidor dos EUA de mentalidade liberal, recebi
uma lista de mudanças exigidas para "assegurar que o
filme fosse aceitável". A sua inesquecível cedência
para mim foi: "OK, talvez pudéssemos deixar Sean
Penn como narrador. Isso o satisfaria?" Ultimamente,
o filme de apologia da tortura "Zero Dark Thirty", de
Katherine Bigelow, e "We Steal Secrets", um trabalho
de machadinha contra Julian Assange, foram feitos
com o apoio generoso da Universal Studios, cuja
companhia-mãe até recentemente era a General
Electric. A GE fabrica armas, componentes para
aviões-caça e tecnologia avançada de vigilância. A
companhia também tem interesses lucrativos no
Iraque "libertado".
O poder dos que contam verdades, como Bradley
Manning, Julian Assange e Edward Snowden, é que
eles refutam toda uma mitologia construída
cuidadosamente pelo cinema corporativo, pela
academia corporativa e pela mídia corporativa. A
WikiLeaks é especialmente perigosa porque
proporciona aos que contam a verdade um meio para
a por cá fora. Isto foi conseguido em "Collateral
Murder", o vídeo filmado a partir da cabine de um
helicóptero Apache dos EUA que alegadamente foi
revelado por Bradley Manning. O impacto deste único
vídeo marcou Manning e Assange para a vingança do
Estado. Ali estavam pilotos dos EUA a assassinar
jornalistas e mutilar crianças numa rua de Bagdad, a
divertirem-se claramente com isso e a descrever a sua
SOCIOLOGIA - 3º ANO - Apostila nº 1 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 12
O Panóptico ou a casa de inspeção
algum outro, ele o será apenas na medida em que esse outro
possa dele se aproximar.
Jeremy Bentham
Carta I
A idéia do princípio da inspeção
Crecheff, Rússia Branca, 1787
Caro ***, vi, outro dia, em um de seus jornais ingleses, que se
falava, em um anúncio, de uma Casa de Correção, planejada
para *****. Ocorreu-me que o plano de um edifício concebido
por meu irmão que, sob o nome de Casa de inspeção ou
Elaboratório, ele está para construir aqui, para propósitos, sob
alguns aspectos, similares aos daquela casa, pode
proporcionar algumas sugestões para o estabelecimento acima
mencionado. Em consequência, obtive alguns desenhos
relativos a esse plano, os quais anexo a esta carta. Com efeito,
por razões que você logo perceberá, eu o vejo como capaz de
aplicações da mais ampla natureza.
Para dizer tudo em uma palavra, ver-se-á que ele é aplicável,
penso eu, sem exceção, a todos e quaisquer estabelecimentos,
nos quais, num espaço não demasiadamente grande para que
possa ser controlado ou dirigido a partir de edifícios, queira-se
manter sob inspeção um certo número de pessoas. Não
importa quão diferentes, ou até mesmo quão opostos, sejam os
propósitos: seja o de punir o incorrigível, encerrar o insano,
reformar o viciado, confinar o suspeito, empregar o
desocupado, manter o desassistido, curar o doente, instruir os
que estejam dispostos em qualquer ramo da indústria, ou
treinar a raça em ascensão no caminho da educação, em uma
palavra, seja ele aplicado aos propósitos das prisões perpétuas
na câmara da morte, ou prisões de confinamento antes do
julgamento, ou casas penitenciárias, ou casas de correção, ou
casas de trabalho, ou manufaturas, ou hospícios, ou hospitais,
ou escolas.
É óbvio que, em todos esses casos, quanto mais
constantemente as pessoas a serem inspecionadas estiverem
sob a vista das pessoas que devem inspecioná-las, mais
perfeitamente o propósito do estabelecimento terá sido
alcançado. A perfeição ideal, se esse fosse o objetivo, exigiria
que cada pessoa estivesse realmente nessa condição, durante
cada momento do tempo. Sendo isso impossível, a próxima
coisa a ser desejada é que, em todo momento, ao ver razão
para acreditar nisso e ao não ver a possibilidade contrária, ele
deveria pensar que está nessa condição. Esse aspecto, como
você pode imediatamente ver, é completamente assegurado
pelo plano de meu irmão; e, penso eu, parecerá igualmente
evidente que não pode ser abrangido por nenhum outro ou,
para falar mais apropriadamente, que se for abrangido por
Para abreviar o assunto tanto quanto possível, considerarei,
imediatamente, suas aplicações para aqueles propósitos que,
por serem os mais complexos, servirão para exemplificar o
poder e a força máxima do dispositivo preventivo, isto é,
aqueles que são sugeridos pela ideia de casas penitenciárias,
nas quais os objetos da custódia segura, do confinamento, da
solidão, do trabalho forçado e da instrução, devem, todos eles,
ser considerados. Se todos esses objetivos podem ser
alcançados em conjunto, naturalmente o serão – com, no
mínimo, igual certeza e facilidade – em qualquer número menor
deles.
Carta II
Plano para uma casa de inspeção penitenciária
Antes de ver o plano, tenha, em palavras, uma ideia geral dele.
O edifício é circular.
Os apartamentos dos prisioneiros ocupam a circunferência.
Você pode chamá-los, se quiser, de celas.
Essas celas são separadas entre si e os prisioneiros, dessa
forma, impedidos de qualquer comunicação entre eles, por
partições, na forma de raios que saem da circunferência em
direção ao centro, estendendo-se por tantos pés quantos forem
necessários para se obter uma cela maior.
O apartamento do inspetor ocupa o centro; você pode chamalo, se quiser, de alojamento do inspetor.
Será conveniente, na maioria dos casos, se não em todos, terse uma área ou um espaço vazio em toda volta, entre esse
centro e essa circunferência. Você pode chamá-lo, se quiser,
de área intermediária ou anular.
Cerca do equivalente da largura de uma cela será suficiente
para uma passagem que vai do exterior do edifício ao
alojamento.
Cada cela tem, na circunferência que dá para o exterior, uma
janela, suficientemente larga não apenas para iluminar a cela,
mas para, através dela, permitir luz suficiente para a parte
correspondente do alojamento.
A circunferência interior da cela é formada por uma grade de
ferro suficientemente fina para não subtrair qualquer parte da
cela da visão do inspetor.
SOCIOLOGIA - 3º ANO - Apostila nº 1 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 13
Uma parte suficientemente grande dessa grade abre-se, na
forma de uma porta, para admitir o prisioneiro em sua primeira
entrada; e para permitir a entrada, a qualquer momento, do
inspetor ou qualquer de seus assistentes.
Para impedir que cada prisioneiro veja os outros, as partições
devem se estender por alguns pés além da grade, até a área
intermediária: eu chamo essas partes protetoras de partições
prolongadas.
Pensa-se que a luz, vindo dessa maneira através das celas e,
assim, passando pela área intermediária, será suficiente para o
alojamento do inspetor. Mas para esse propósito, ambas as
janelas nas celas e aquelas que lhes correspondem no
alojamento deverão ser tão largas quanto o permita a
resistência do edifício e o que se possa considerar como uma
necessária atenção à economia.
As janelas do alojamento devem ter venezianas tão altas
quanto possa alcançar os olhos dos prisioneiros – por
quaisquer meios que possam utilizar – em suas celas.
Para impedir uma luz plena, pela qual, não obstante as
venezianas, os prisioneiros pudessem ver, a partir das celas,
se há ou não uma pessoa no alojamento, o apartamento é
dividido em quatro partes, por partições formadas por dois
diâmetros do círculo, cruzando-se em ângulos retos. Para
essas partições podem servir os materiais mais finos; e elas
devem ser feitas de forma que possam ser removidas quando
se queira; sua altura deve ser o suficiente para impedir que os
prisioneiros se vejam mutuamente a partir das celas. As portas
dessas partições, se deixadas abertas em qualquer momento,
podem produzir uma luz plena. Para impedir isso, divida cada
partição em duas, em qualquer parte que for preciso, fazendo
com que a distância entre elas seja igual à metade da abertura
de uma porta.
Essas janelas do alojamento do inspetor abrem-se para uma
área intermediária, na forma de portas, em tantos lugares
quanto se julgarem necessários para que ele possa se
comunicar prontamente com qualquer das celas.
Lâmpadas pequenas, no exterior de cada janela do alojamento,
tendo por trás um refletor para lançar luz nas celas
correspondentes, estenderão à noite a segurança do dia.
Com respeito à instrução, nos casos em que ela não possa ser
devidamente ministrada sem que o instrutor esteja próximo ao
trabalho, ou sem que ele possa colocar sua mão nele, como
exemplo, diante do rosto do aprendiz, o instrutor deve, aqui,
como, na verdade, em outros casos, mudar seu lugar tão
frequentemente quanto for possível para atender diferentes
trabalhadores; a menos que ele convoque os trabalhadores
para que cheguem até ele, o que, em alguns dos casos em que
esse tipo de edifício é aplicável, tal como o de indivíduos
aprisionados, não pode ser feito assim tão facilmente. Mas em
todos os casos em que instruções, dadas verbalmente ou a
distância, são suficientes, esses tubos poderão ser
considerados úteis. Eles evitarão, por um lado, o esforço de
voz que seria necessário, por parte do instrutor, para ministrar
instrução aos trabalhadores sem deixar seu posto central no
alojamento; e, por outro, a confusão que se seguiria se
diferentes instrutores ou diferentes pessoas no alojamento
estivessem falando com as celas ao mesmo tempo. E, no caso
de hospitais, o silêncio que pode ser assegurado por esse
pequeno dispositivo, por menos importante que possa parecer
à primeira vista, propicia uma vantagem adicional.
Um sino, destinado exclusivamente aos propósitos de alarme,
ficará suspenso em um campanário com o qual se coroa o
edifício, comunicando-se por meio de uma corda com o
alojamento do inspetor.
A forma mais econômica, e talvez a mais conveniente, de
aquecer as celas e a área, seria por tubos em torno delas, com
base no princípio dos existentes nos viveiros. Uma
necessidade total de – por todos os meios – produzir calor
artificial poderia, em um clima como o que temos, algumas
vezes, na Inglaterra, ser fatal às vidas dos prisioneiros; em
qualquer hipótese, seria, com frequência, totalmente
incompatível com seu trabalho em qualquer atividade
sedentária. Os tubos, entretanto, e as fornalhas
correspondentes, em vez de ficarem no exterior, como nos
viveiros, deverão ficar no interior. Por esse meio, não haverá
nenhum desperdício de calor, e a corrente de ar que correria
em todos os lados através das celas, para fornecer as chamas
feitas pelo fogo, atenderia, até aqui, ao propósito da ventilação.
Mas mais sobre isso será dito no capítulo dos Hospitais.
(Trecho do livro O Panóptico, de Jeremy Bentham. Belo
Horizonte, Autêntica, 2008. Org.: Tomaz Tadeu).
Para poupar o esforço problemático de voz que poderia, de
outro modo, ser necessário, e para impedir que um prisioneiro
saiba que o inspetor está ocupado, a distância, com outro
prisioneiro, um pequeno tubo de metal deve ir de uma cela ao
alojamento do inspetor, passando através da área, indo, assim,
até o lado da janela correspondente do alojamento. Por meio
desse implemento, o menor murmúrio de um pode ser ouvido
pelo outro, especialmente se ele for orientado a aplicar seu
ouvido ao tubo.
SOCIOLOGIA - 3º ANO - Apostila nº 1 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 14
A 27 de Janeiro de 1945
Soviéticos libertaram «Fábrica da
Morte»
Assinala-se amanhã 67 anos sobre a
libertação de Auschwitz pelo Exército
Vermelho, o mais conhecido dos campos de
extermínio
construídos
pelos
nazis.
Horrorizados com o cenário que encontraram,
os soviéticos denominaram o complexo de
«Fábrica da Morte».
homossexuais, ciganos, deficientes, testemunhas
de Jeová, doentes psiquiátricos e indivíduos com
comportamentos que fugissem ao ideal-tipo do
homem ariano, eram todos inimigos do regime
criminoso liderado por Adolf Hitler. Dachau,
Sachenhausen ou Buchenwald foram dos
primeiros campos construídos pela canalha nazi.
No início de 1942, começou a funcionar
Auschwitz
II
(Auschwitz-Birkenau),
uma
ampliação do primeiro campo. Em Outubro de
1942 entrou em funcionamento o Auschwitz III,
que mais tarde seria renomeado de Monowitz.
Este último campo era vocacionado para a
exploração extrema da mão-de-obra escrava.
«Solução final»
Estrategicamente colocado no centro da Europa,
Aschwitz-Birkenau foi o campo que mais
prisioneiros exterminou, sobretudo judeus (quase
um milhão num total de 2,7 milhões de semitas
mortos em todos os campos de extermínio, e
num total de seis milhões liquidados pelos nazis).
A libertação de Auschwitz pelos soviéticos vindos
da frente ucraniana ocorreu na tarde do dia 27 de
Janeiro de 1945. Sete a oito mil prisioneiros
permaneciam no campo, os últimos de um total
de pelo menos um milhão e trezentos mil que,
entre 1940 e 1945, ali foram assassinados.
Escassos foram os que sobreviveram às câmaras
de gás, aos fornos crematórios, ao trabalho
escravo, às torturas, ao arbítrio sádico dos biltres,
à inanição, ao frio, às doenças, às experiências
macrabas nas quais seres humanos eram usados
como cobaias.
Sendo o maior entre uma extensa rede de
campos espalhados pela Europa, Auschwitz era
um complexo de três campos.
No início da campanha militar destinada a impor
uma nova ordem mundial que perdurasse mil
anos, as autoridades do III Reich mandaram
construir Auschwitz I com o objectivo de
encarcerar opositores políticos. Os primeiros
ocupantes, em Maio de 1940, foram alemães e
polacos
transferidos
dos
campos
de
concentração de Sachsenhausen, na Alemanha,
e de Lodz, na Polónia.
Judeus, militantes comunistas, sindicalistas e
antifascistas,
democratas
e
intelectuais,
O assassínio nas câmaras de gás foi instituído no
final de 1941. Os testes com Zyklon-B, usado
para combater pragas, foram efectuados com
sucesso em soviéticos e polacos. A partir de
então, em Auschwitz-Birkenau e noutros campos
semelhantes, aquele era o principal instrumento
de extermínio.
Em Janeiro de 1942, durante a Conferência de
Wannsee, os líderes nazis discutiram em detalhe
a «Operação Reinhardt» ou «solução final» da
questão judaica, como diziam. Adolf Eichmann
administrou o holocausto organizado com
minúcia. Reinhardt Heydrich respondia pela
coordenação geral.
A Auschwitz-Birkenau chegava uma linha de
comboio cuja circulação era ininterrupta. Vagões
apinhados descarregavam vítimas a toda a hora
e de todos os pontos da Europa ocupada e das
ramificações nazis nos regimes vassalos e
aliados. Na Croácia fascista funcionava um outro
campo de extermínio, em Jasenovac.
Entre a chegada a Auschwitz-Birkenau e a
entrada nas câmaras de gás, após selecção dos
aptos e inaptos para o trabalho escravo, podiam
passar apenas duas horas.
A «Fábrica da Morte» chegou a aniquilar seis mil
seres humanos por dia. Quando os fornos
crematórios não carbonizavam os milhares de
cadáveres com celeridade, os corpos eram
empilhados e queimados ao ar livre.
SOCIOLOGIA - 3º ANO - Apostila nº 1 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 15
Horror multiplicado
Nos últimos meses de 1944, face ao imparável
avanço do Exército Vermelho, os nazis
mandaram destruir as câmaras de gás e
crematórios de Auschwitz-Birkenau. A ocultação
das provas dos crimes cometidos não conheceu
limites, e em Janeiro de 1945 tudo servia para
matar prisioneiros.
A 17 desse mesmo mês foi dada ordem de
evacuação dos três campos de Auschwitz. Mais
de 60 mil prisioneiros foram obrigados a marchar
dia e noite. Milhares sucumbiram pelo caminho
ou foram abatidos. Noutros campos de
concentração, trabalho e extermínio evacuados
antes da chegada das tropas aliadas, centenas
de milhares de prisioneiros foram igualmente
obrigados a percorrer quilómetros nas famosas
«Marchas da Morte».
Para além de Auschwitz-Birkenau, a Alemanha
nazi instalou outros seis campos dedicados
quase exclusivamente ou definitivamente ao
genocídio. Em Chelmo, Maly Trostenets,
Majdanek, Treblinka, Bełżec ou Sobibór
executou-se milhões de inimigos do III Reich.
Experiências cruéis e bizarras
Tal como noutros campos de concentração e
extermínio, também em Auschwitz-Birkenau o
poder nazi ordenou experiências cruéis e bizarras
em seres humanos. No Bloco 10 do campo,
Joseph Mengele, responsável pela triagem dos
prisioneiros enviados para extermínio ou para
trabalho escravo, ficou conhecido como o «anjo
da morte».
Usando seres humanos como cobaias, Mengele
testou a esterilização em mulheres, injectou
substâncias para mudar a cor dos olhos a
crianças e bebés, amputou e feriu para apurar
métodos de estancamento de hemorragias,
coleccionou milhares de órgãos após cirurgias
violentas e vivissecações, uniu gémeos para
tentar criar siameses, injectou substâncias várias
para «tratar» o nanismo, o síndroma de Down ou
a homosexualidade.
Nos campos de Dachau, Sachsenhausen e
Buchenwald, homens eram mergulhados em
tanques de água para testar os efeitos da
hipotermia ou sujeitos a compressão e
descompressão, agonizando enquanto os
carrascos tiravam notas. Eram infectados com
tifo, peste, lepra, cólera, ou sujeitos a inalação de
produtos tóxicos.
As práticas não eram marginais ou iniciativa de
um punhado de sádicos, mas financiadas e
acompanhadas com interesse e fascínio pelos
máximos responsáveis do III Reich. Foram
publicados artigos e criados institutos. As
ossadas de judeus, ciganos, mestiços ou
deficientes eram enviadas para Berlim para
demonstração da superioridade da raça ariana.
Empresas sustentáculo do poder nazi, como a IG
Farben (Bayer), compravam seres humanos para
os usar nos laboratórios.
Grande capital lucrou
No complexo de Auschwitz, o campo de
Monowitz funcionava fundamentalmente como
pólo de trabalho forçado. Deutsche- AusrüstungsWerk – DAW (empresa de armamento das SS),
IG Farben-Bayer (que era também a fornecedora
do gás Ziklon-B) ou Krupp foram algumas das
empresas
que
ali
instalaram
unidades
alimentadas pela mão-de-obra escrava. A
abundância colmatava a exclusão semanal dos
inaptos e doentes, imediatamente sentenciados à
morte. A esperança média de vida dos
prisioneiros sujeitos a jornadas brutais em
condições inumanas rondava os três meses.
Em Auschwitz-Birkenau foram fundados quase
40 subcampos onde milhares de pessoas
produziam produtos agrícolas e industriais; eram
enviados para a extracção de carvão ou pedra.
Em Dachau, que administrava mais de 30 outros
grandes campos de trabalho, em Buchenwald,
que administrava mais de 80 estruturas, ou em
Sachsenhausen, donde eram geridos 60 campos
de trabalho espalhados por toda a Alemanha, a
consigna era igualmente fazer lucrar o capital à
custa da escravatura.
Nos latifúndios germânicos e nas casas dos
senhores do III Reich e militantes nazis, milhares
de eslavos foram explorados até à exaustão.
Quando
morriam,
compravam-se
outros
escravos.
Cúmplices na impunidade
Derrotada a besta, muitos dos criminosos foram
capturados, julgados e sentenciados. Muitos mais
furtaram-se à justiça. Não poucos escaparam
porque, aniquilado o imperialismo alemão, o alvo
voltava a ser a URSS.
Contra o primeiro Estado de operários e
camponeses, a reacção mundial havia atiçado as
SOCIOLOGIA - 3º ANO - Apostila nº 1 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 16
hordas nazi-fascistas, que foram derrotadas e
empurradas até ao seu covil, em Berlim, pelos
heróicos soviéticos que sabiam estar a defender
a pátria de todo o proletariado.
Logo após a capitulação do regime hitleriano, os
EUA, através da «Operação Paperclip»,
empenharam-se na caça dos especialistas nazis,
particularmente os envolvidos na máquina militar
e de inteligência.
O responsável pelo programa de foguetes da
Alemanha hitleriana e membro do Partido Nazi,
Wernher von Braun, é um dos quase dois mil
cientistas e técnicos resgatados. A posterior
carreira de sucesso de von Braun no programa
espacial norte-americano não é caso isolado.
Um dos casos de resistência e revolta passou-se
no campo de Buchenwald e chegou até nós
escrito por Bruno Apitz, comunista alemão que
transpôs no romance «Nu entre Lobos», editado
recentemente pela Avante!, a experiência vivida
por si e por muitos dos seus camaradas.
Em
Buchenwald
foi
assassinado
Ernst
Thaelmann, presidente do Partido Comunista
Alemão, revolucionário tenaz que os nazis nunca
conseguiram quebrar durante os 11 anos
passados nos cárceres do III Reich, a exemplo
de milhares de outros que resistiram à barbárie
nas condições mais extremas e perante os
maiores obstáculos, conservando a centelha de
vida e esperança donde germina o futuro.
Tarrafal
No rol de colaboradores das fugas de criminosos
nazis, destaca-se ainda a neutral Suíça, a
Argentina e o Vaticano do papa Pio XII (que
enquanto cardeal obrigou os bispos católicos
alemães a jurar fidelidade a Hitler).
Através de um complexo processo de recriação
de identidades e emissão de passaportes,
centenas de nazis deram o salto para as pampas
sul-americanas do fascista Juan Perón, e daí
para outros territórios da América Latina. Joseph
Mengele, o «anjo da morte de Auschwitz» foi um
deles.
Revoltas e resistência
Em Auschwitz, à semelhança do que acontecia
noutros campos de concentração e de
extermínio, funcionavam orquestras compostas
por prisioneiros, cuja finalidade era não deixar
entediar os algozes e pacificar as multidões que
chegavam nos comboios com terminal na morte
ou os prisioneiros enviados em cacho para o
trabalho escravo.
Identificando-se com os métodos, partilhando a
ideologia e servindo os mesmos interesses de
classe do regime nazi, a ditadura fascista de
Salazar criou o Campo de Concentração do
Tarrafal. A 29 de Outubro de 1936 chegaram ao
«Campo da Morte Lenta», inspirado nos
congéneres nazis, os primeiros 152 de um total
de 340 antifascistas que ao longo dos anos para
lá foram deportados (comunistas, sobretudo).
No total, os presos do Tarrafal cumpriram mais
de dois mil anos de pena, a maioria sem ter
comparecido a qualquer julgamento.
Tal como nos campos nazis, também no Tarrafal
quem chegava vinha «para morrer», como dizia o
seu director, Manuel dos Reis. 32 morreram
mesmo, sucumbindo aos maus-tratos, aos
trabalhos forçados, à biliosa, entre os quais o
secretário-geral do PCP, Bento Golçalves.
Mas face ao horror nazi, não havia pacificação
possível, e apesar da brutal repressão e da morte
certa, e não raras vezes, eclodiram revoltas nos
campos.
Em Auschwitz centenas de prisioneiros ter-se-ão
rebelado em 1944. Mataram guardas e fizeram
explodir um dos edifícios onde funcionavam as
câmaras de gás e os fornos crematórios, usando
granadas trazidas de uma fábrica de armamento
onde trabalhavam.
Calcula-se que cerca de 700 prisioneiros tenham
tentado fugir de Auschwitz. Menos de metade
terão tido êxito.
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