EMAÚS - QuererCrer
Transcrição
EMAÚS - QuererCrer
Nas pegadas de Jesus… (Enviado por: Rosa Andrade) EMAÚS “Não nos ardia o coração quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?” (Lc 24, 32) No Novo Testamento, a Ressurreição de Jesus é apresentada com base em duas afirmações: o túmulo vazio e as aparições de Jesus Ressuscitado aos seus discípulos. Das aparições, cada evangelista escolhe um exemplo em função da sua teologia: João deu ênfase às aparições de Jesus a Maria Madalena, a Tomé e aos discípulos que pescavam no Mar da Galileia; Mateus realçou as aparições às mulheres e a todos os discípulos numa montanha da Galileia; Lucas, porém, concentra a sua atenção no que acontecera naquela primeira Páscoa em Jerusalém e região circundante: a aparição de Emaús, seguida do regresso a Jerusalém, onde Jesus aparece a Pedro e depois aos discípulos, na sala de cima. O Evangelho de Lucas termina – intencionalmente – com Jesus a resumir a Boa-Nova aos discípulos, em Jerusalém. O segundo livro de Lucas, os Actos dos Apóstolos, começa com a Boa-Nova a sair de Jerusalém “para todas as nações.” A história do caminho de Emaús é um dos episódios mais citados dos Evangelhos: Cleófas e o seu companheiro (possivelmente seria um outro discípulo) tinham saído da cidade em direcção a Emaús – uma aldeia que ficava, segundo Lucas, a cerca de 11 km de Jerusalém. Seguiam profundamente tristes com o que tinha sucedido no fimde-semana, relembrando os acontecimentos que tinham levado à execução de Jesus. E, então, apareceu uma figura misteriosa. Pondo-se a caminho com eles, pediu que lhe contassem a sua história; e, depois, a pouco e pouco, ele começou a reconstruir o seu mundo e a restituir-lhes as suas esperanças. Foi-lhes falando das Escrituras, passando pelas palavras dos Profetas, e eles começaram a ver como o antigo Testamento tinha apontado para um Messias que iria sofrer e “entrar na sua glória” (Lc 24, 26). Mas, naquele momento, depois de tanto sofrimento, eles ainda não podiam imaginar o que significava aquela “glória”. E depois, tudo se tornou claro: os discípulos convidaram-no para a sua casa, e viram-no repetir os gestos: primeiro, Ele pronunciou a bênção e depois partiu o pão. Naquele instante, “os seus olhos abriram-se”. Eles tinham estado todo aquele tempo a falar com o próprio Jesus Ressuscitado. Sem hesitarem, apesar de ser tarde, apressaram-se a regressar a Jerusalém. Simplesmente não conseguiam guardar só para si aquela tão grande notícia. O Senhor com os discípulos, O Senhor é reconhecido no a caminho de Emaús partir do pão (Via Lucis, de São Calisto, segundo o Evangelho de Lucas) O Senhor aparece aos discípulos, em Jerusalém Lucas narra a história do caminho de Emaús detalhadamente e enriquece-a com pormenores pitorescos, não descurando as emoções que ela suscita. Como tal, as pessoas encontraram, desde sempre, nesta passagem, algo poderoso a que se ligam de imediato: há o tema das esperanças desfeitas, transformadas em alegria; há o tema de Jesus caminhando com os seus seguidores, na estrada da vida. Lucas resume esta história em quatro temas-chave: A verdade da Ressurreição: o Corpo de Jesus tinha, de facto, ressuscitado – fisicamente – do túmulo. A imagem de Jesus a caminhar ao longo da estrada não foi criada com a intenção de criar um ponto imaginário, sentimental, em torno desta “presença contínua”. Não; Lucas está a dar ao leitor algo bem mais real que isso. Assim o prova o episódio seguinte, na sala de cima, quando Jesus mostra as feridas das mãos e dos pés e, deliberadamente, come um pedaço de peixe assado diante deles. Os discípulos, dominados pelo espanto e pelo temor, julgam ver um “espírito”, mas Jesus diz-lhes: “um espírito não tem carne nem ossos, como verificais que Eu tenho.” (Lc 24, 37-39) Evidentemente, a perplexidade mantém-se na história: por exemplo, como é que Jesus fez a viagem de volta para Jerusalém?... Lucas não esconde o mistério nem a estranheza, mas espera, ao transmitir como as dúvidas e a confusão dos discípulos se transformaram numa nova convicção, levar os leitores a percorrerem o mesmo caminho. De facto, um dos temas fortes da narrativa de Lucas é, precisamente, a ideia de que a Ressurreição foi totalmente inesperada. Primeiro, ainda que Cleófas soubesse que o túmulo tinha sido encontrado vazio, não encarou isso como um motivo de esperança, mas como motivo para se sentir ainda mais desanimado. Depois, mesmo com Jesus Ressuscitado caminhando com eles e falando sobre a “glória” do Messias, eles não O reconheceram nem perceberam o significado das suas palavras. Mais tarde, na sala de cima, “na sua alegria, não queriam acreditar, de tão assombrados que estavam”. Simplesmente não havia expectativa de que Jesus ressuscitasse. A morte de Jesus: ao narrar a Crucificação, Lucas limitara-se à descrição dos acontecimentos, com poucos comentários sobre o seu significado profundo. Agora, da boca do próprio Jesus, vem o relato sobre o que realmente aconteceu. A morte de Jesus, como ficamos a saber, não foi um acidente: foi uma necessidade, pois “não tinha o Messias de sofrer estas coisas para entrar na sua glória?” (Lc 24, 26). Sim, Jesus foi condenado à morte por um conspiração entre autoridades judias e romanas. Mas a causa mais profunda da sua morte era o misterioso desígnio de Deus, apontado pelos profetas do Antigo Testamento, de que através do sofrimento do Messias o “perdão dos pecados” poderia ser anunciado ao mundo. Portanto, havia um propósito na morte de Jesus, trazendo algo vital para os outros, abençoando “todas as nações”. As Escrituras: depois de uma tão vital experiência com Jesus Ressuscitado, seria de supor que os discípulos já não precisariam da orientação da Bíblia. Porém, tanto no caminho de Emaús como na sala de cima, Jesus deu prioridade às Escrituras: “E começando por Moisés e seguindo por todos os Profetas, explicou-lhes, em todas as Escrituras, tudo o que lhe dizia respeito” (Lc 24, 27). Jesus fez isto porque queria que os discípulos vissem que tanto a sua morte como a sua Ressurreição estavam de acordo com as Escrituras e que, de facto, eram a consumação de toda a história bíblica. O “partir do pão”: o momento preciso em que os discípulos de Emaús reconheceram Jesus. Semanas mais tarde, os discípulos estariam a “partir o pão” nas suas casas, uma das respostas deles ao seu Mestre (Act 2, 42). E desde então, esta passou a ser uma das principais maneiras de lembrar Jesus – partilhando a refeição conhecida como a “Ceia do Senhor” – ou a “Eucaristia”. È um indício, então, sobre o que depois viria a ser referido como o “sacramento”. O que Lucas parece querer dizer é que, assim como os discípulos de Emaús encontraram Jesus no momento da “fracção do pão”, também nós o podemos encontrar num momento semelhante. As Escrituras são importantes, mas o Sacramento também o é e ambos têm como cenário os dois grandes acontecimentos do Evangelho – a Crucificação e a Ressurreição. Sem estes dois acontecimentos é impossível encontrar Cristo ou conhecer o seu perdão. Mas, uma vez que ambos encontrem caminho aberto para o nosso coração, sentir-nos-emos conduzidos tanto às Escrituras como ao Sacramento – ansiosos por saber mais sobre Cristo. Emaús na actualidade Para quem procura identificação simples e directa dos locais bíblicos, Emaús poderá parecer confuso e desencorajador. Foram identificados pelo menos quatro lugares como a aldeia de Emaús referida no Evangelho. É quase certo, contudo, que a autêntica Emaús bíblica pode ser (hoje) identificada com as ruínas da aldeia árabe abandonada de Qoloniya (sobranceira á moderna vila de Motza, sinalizada como saída numa curva apertada da estrada principal que liga Jerusalém a Telavive). Qoloniya ficava no topo duma colina rochosa acima de Motza e ficou a dever o seu nome à “Colónia” romana, uma colónia de veteranos aqui estabelecida por Vespasiano, depois da Primeira Grande Revolta Judaica, em 70. Mas Colónia era um re-baptismo; de acordo com o historiador Flávio Josefo, o lugar era originalmente chamado “Emaús”. Escavações recentes revelaram alguns edifícios do séc. I, mas o local ainda não foi elaborado relatório oficial sobre as descobertas na área. Esta mudança de nomes trouxe dificuldades aos cristãos que procuravam identificar a Emaús do Evangelho de Lucas, pois a pequena vila desaparecera do mapa. Não muito longe dali, uma cidade muito maior foi descoberta e que, a principio, também se identificou (erradamente) como a Emaús do tempo de Jesus. No inicio do séc. III, esta cidade foi renomeada como Nicópolis, mas a lembrança do seu primeiro nome permaneceu no período de ocupação muçulmana. Assim, Eusébio de Cesareia, ao compilar a sua lista de lugares bíblicos, no final do séc. III, identificou a Emaús do Evangelho de Lucas com esta Emaús alternativa. Esta tradição, depois, firmou-se durante o período bizantino e, em consequência, uma grande igreja foi ali construída. Neste local é possível explorar as ruínas da cidade, no parque Aiyalon. Também se pode celebrar Eucaristia entre as ruínas abertas da Igreja Cruzada, construída sobre o espaço da igreja bizantina, que era maior. Quando os Cruzados chegaram, a confusão aumentou. Emaús/Nicópolis tinha sido dizimada pela peste, no séc. VII, e, pegando nos textos bíblicos, foram em busca dum lugar que coincidisse com a descrição - optaram por Qiriat-Iarim. Era uma pequena aldeia com uma ligação importante ao Antigo Testamento: era o lugar onde a Arca da Aliança fora guardada durante 20 anos, depois de ter sido devolvida pelos Filisteus e antes de ser levada para Jerusalém pelo rei David. Mais tarde, no séc. XIX a aldeia recebeu o nome de Abu Ghosh, nome de um chefe local. Aqui há um mosteiro Beneditino e uma igreja Cruzada - os seus frescos bizantinos estão algo degradados, mas ainda apresentam as inscrições em latim. Os Cruzados, contudo, foram rapidamente derrotados e a “sua Emaús” esquecida. Por volta de 1500, os Franciscanos fizeram a sua própria identificação da aldeia em Qubeiba, onde havia algumas antigas construções Cruzadas com fins militares e agrícolas. Qubeiba tem uma igreja, construída em 1902, que na Segunda-feira de Páscoa se enche de Católicos. Emaús será realmente um lugar adequado à conclusão do Evangelho de Lucas, mas também a uma (nossa) primeira etapa nas pegadas de Jesus. Lucas explica que, através da Ressurreição, esta história de Jesus tem a capacidade de saltar dos livros para o presente e que Jesus deseja caminhar ao nosso lado nas nossas próprias viagens. Da mesma forma que “Jesus se dirigiu resolutamente para Jerusalém” (Lc 9, 51), também nós encontramos algumas rochas do Gólgota pelo caminho. Mas nesse caminho – uma estrada de Emaús universal – haverá muitas oportunidades para ouvir Jesus através das Escrituras e muitos lugares de descanso onde encontrá-LO na fracção do pão. (adaptado do livro “Nas Pegadas de Jesus”, de Peter Walker)
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