Informativo São Vicente - Província Brasileira da Congregação da

Transcrição

Informativo São Vicente - Província Brasileira da Congregação da
Informativo São Vicente
Boletim de circulação interna da
PROVÍNCIA BRASILEIRA DA CONGREGAÇÃO DA MISSÃO
Ano XLII - no. 278
Julho – setembro 2009
E-mail:
[email protected]
m.br ou
[email protected]
www.pbcm.com.br
Equipe
responsável
Informativo São Vicente:
pelo
- Pe. Osmar Rufino Dâmaso
- Diác. Gentil José Soares da Silva
- Ir. Vinícius Augusto R. Teixeira
Correção e Revisão:
- Pe. Lauro Palú
Formatação e Impressão:
- Cristina Vellaco
- Equipe de Mecanografia do
Colégio São Vicente de Paulo
“A caridade na verdade, que Jesus
Cristo testemunhou com a sua vida
terrena e, sobretudo, com a sua
morte e ressurreição, é a força
propulsora principal para o
verdadeiro desenvolvimento de cada
pessoa e da humanidade inteira. O
amor — «caritas» — é uma força
extraordinária, que impele as
pessoas a comprometerem-se, com
coragem e generosidade, no campo
da justiça e da paz. É uma força que
tem a sua origem em Deus, Amor
eterno e Verdade absoluta. Cada um
encontra o bem próprio, aderindo ao
projeto que Deus tem para ele a fim
de o realizar plenamente: com efeito,
é em tal projeto que encontra a
verdade sobre si mesmo e, aderindo a
ela, torna-se livre (cf. Jo 8,22). Por
isso, defender a verdade, propô-la
com humildade e convicção e
testemunhá-la na vida são formas
exigentes e imprescindíveis de
caridade. Esta, de fato, «rejubila com
a verdade» (1Cor 13,6). Todos os
homens sentem o impulso interior
para amar de maneira autêntica:
amor e verdade nunca desaparecem
de todo neles, porque são a vocação
colocada por Deus no coração e na
mente de cada homem”
(Bento XVI. Caritas in Veritate, n. 1).
136
Sumário
Editorial ..........................................................................................................
140
Carta do Superior Geral .................................................................................
Palavra do Visitador . .....................................................................................
142
150
Artigos
Vida Eclesial
Cartas às Irmãs e aos Irmãos das CEBS e a
todo o povo de Deus..........................................
153
Ano Sacerdotal
Faltam Padres?..................................................
José Lisboa Moreira de Oliveira
161
Mês Vocacional
A vida Consagrada Laical do Irmão...................
Frater Henrique Cristiano José Matos, CMM
168
A Vida da Congregação
A caminho da AG – 2010 ..................................
Pe. Getúlio Mota Grossi, C. M.
170
Vida Fraterna
A Vida Fraterna em Comunidades.....................
Pequenas Reflexões III – “Cá dentro”
Pe. Alex Sandro Reis, C. M.
176
Família Vicentina
A Família Vicentina e a mudança de estruturas no
Brasil...............................................................................
Denilson Matias, C. M.
178
Formação dos Nossos
Encontro Interprovincial de Formadores............
182
Animação Vocacional
Estágio Vocacional.............................................
Pe. Osmar Rufino Dâmaso, C. M.
184
Na Missão do Céu
Pe. Dásio Moura Chaves, C. M..........................
Pe. Sebastião Agatão Dias, C. M.......................
Pe. Célio Maria Dell’ Amore, C. M.
187
188
Notícias .....................................................................................................................
189
137
Editorial
No próximo dia 27 de setembro, em todo o mundo,
inauguraremos o Ano Jubilar da Família Vicentina, recordando
os 350 anos da morte de São Vicente de Paulo e de Santa Luísa
de Marillac. Através deles, recebemos um dom precioso, que
levamos na fragilidade de nosso ser, como “em vasos de argila”
(2Cor 4,7), para fazê-lo frutificar na missão junto aos Pobres.
Trata-se de uma maneira toda especial de viver o Evangelho, um
modo específico de seguir Jesus Cristo, impregnando-nos de
seus valores, assimilando suas atitudes e assumindo como nossa
sua paixão pelo Reino, ou seja, esforçando-nos para concretizar
o grande projeto de vida, liberdade e paz que o Pai tem para
todos nós, em profunda comunhão com os “menores dos
irmãos” de Jesus (Mt 25,40).
Todas as congregações, movimentos, grupos e
comunidades que compõem a Família Vicentina são convocados
a celebrar juntos este Ano Jubilar, revitalizando a herança
espiritual e missionária que recebemos de São Vicente e de
Santa Luísa. Algumas motivações podem nos ajudar a viver este
Jubileu como tempo de graça e conversão:
1. A pertença à Família Vicentina é um dom e um compromisso. O Ano Jubilar constitui
uma ocasião privilegiada para celebrar a alegria e renovar o compromisso de pertencer
a esta grande família espiritual e missionária.
2. Somos chamados a seguir Jesus Cristo nas trilhas abertas por São Vicente e Santa
Luísa. Trata-se, então, de redescobrir a experiência espiritual de ambos como
definidoras de nossa espiritualidade, isto é, de nossa maneira própria de nos enraizar
em Deus e de nos relacionar com o mundo.
3. Nosso caminho de santidade está intimamente unido à nossa missão. Somos
chamados a amar a Deus “com a força dos braços e o suor do rosto” (SV XI,40). A
comunhão com os Pobres, expressa no exercício da caridade e na missão de
evangelizar, está no centro de nossa atuação na Igreja e na sociedade.
Para viver intensamente este Ano Jubilar, toda a Família Vicentina é convidada a:
a) Promover celebrações, em níveis local e regional, valorizando, sobretudo, as
Solenidades Litúrgicas de São Vicente (27 de setembro) e de Santa Luísa (15 de
março).
b) Conhecer e aprofundar a vida, a espiritualidade e a obra de São Vicente e de
Santa Luísa, através de retiros, encontros de formação, leituras e estudos.
c) Dar continuidade ao Projeto de Mudança de Estruturas, integrando proximidade,
evangelização e serviço, reconhecendo e estimulando o protagonismo dos Pobres
na transformação da história, a partir de nossas pequenas iniciativas e novos
trabalhos nos lugares em que atuamos.
138
Esta edição do Informativo, em profunda sintonia com a Igreja e a Família Vicentina,
oferece aos seus leitores algumas contribuições que muito poderão nos ajudar no
aprofundamento do significado e do alcance do Ano Jubilar em nossa vida e missão.
Vinícius Augusto R. Teixeira, C. M.
ERRATA
Na última edição do Informativo (maio-junho 2009), foi omitido o nome do autor do artigo
“A vida fraterna em Comunidade. Pequenas Reflexões II”, escrito pelo Padre Alex Sandro
Reis, C. M. Lamentamos profundamente a involuntária distração. Contamos com a
benévola compreensão do autor e dos nossos leitores. A Equipe
Superior Geral
CONGREGAZIONE DELLA MISSIONE
CURIA GENERALIZIA
Via dei Capasso, 30
00164 Roma – Italia
Tel. (39) 06 661 3061
Fax (39) 06 666 3831
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9 de julho de 2009
A todos os membros da Congregação da Missão
Circular do tempo forte (22-27 de junho)
Caríssimos Coirmãos,
A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo encha seus corações agora e sempre!
Temos que começar a viver com sentido de responsabilidade, identificando-nos com
toda a comunidade da terra, assim como com nossas comunidades locais. Somos ao
mesmo tempo cidadãos de nações diferentes e do mesmo mundo em que o local e o
global se unem. Todos participamos da responsabilidade do bem-estar presente e
futuro da família humana e da vida mais ampla do mundo. O espírito de
solidariedade humana e de parentesco com toda a classe de vida vai se reforçando
quando vivemos reverencialmente o mistério do ser, a gratidão pelo dom da vida a e
a humildade ao ver nosso lugar em relação toda classe de vida na natureza.
Carta da terra.
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Gostaria de apresentar para leitura e reflexão de vocês alguns dos assuntos importantes que tratamos em
nossa recente reunião do Tempo Forte.
1. A primeira parte da reunião foi dedicada à nossa formação permanente, dirigida por nosso
Visitador da Eritréia (Província de São Justino de Jacobis), que partilhou conosco as atividades de sua
Província.
2. Depois, dedicamos muito tempo a falar da preparação da Assembleia Geral. A Comissão
Preparatória da Assembleia de 2010 esteve presente na Cúria antes do Tempo Forte e revisou o diretório
da Assembleia e também o calendário que seguiremos durante as três semanas em que trabalharemos
em Paris. Propusemos nomes para a Comissão de Postulados e de Comunicação. Ao mesmo tempo
elegemos 4 apóstolos da Congregação que formem um painel sobre os distintos ministérios: o serviço dos
Pobres, as Missões populares, a formação do Clero e a formação do Laicado. A apresentação desse painel
será precedida por um vídeo sobre distintos ministérios criativos da Congregação neste momento.
Também escolhemos os Coirmãos, um para cada uma das línguas oficiais da Congregação, que cuidarão
de sintetizar os temas durante a Assembleia. Nomeamos um coordenador para a Comissão de Atividades
Recreativas e Sociais e preparamos a lista de possíveis tradutores para a tradução simultânea e a produção
escrita da Assembleia. Divulgaremos os nomes destes Coirmãos mais tarde, logo que tenham aceitado
encarregar-se das distintas atividades.
3. Atualizamos o relatório sobre a celebração dos 350 anos da morte de São Vicente e Santa
Luísa. Entre outras coisas, com relação aos 350 anos, aprovamos uma contribuição de 25.000 dólares
estado-unidenses anuais durante os próximos cinco anos, para formar um fundo com que apoiar o projeto
que a Família Vicentina realizará em Haiti, concedendo créditos de microfinanciamento. Essa é a
quantidade com que nós contribuiremos.
O Secretário Geral, que faz parte da Comissão do Secretariado para os 350 anos, informou-nos
sobre o livreto que se preparou para celebrar esse aniversário, com imagens atualizadas de São Vicente e
santa Luísa, representando todos os membros da Família Vicentina do mundo. Informou-nos também
sobre o trabalho que se fez na "janela" para a Família Vicentina. Animamos cada ramo da Família que não
deixe de conectar-se com essa página nas três línguas oficiais.
4. Recebemos uma comunicação sobre a reconfiguração de três Províncias dos Estados Unidos
que formarão a Província Ocidental. Começando dia 1 de julho, o Pe. Perry Henry (da Província do
Sul/Dallas) e sua equipe se encarregarão de coordenar as tarefas de transição para que, no dia 25 de
janeiro, se torne efetiva a nova Província Ocidental. Nesta etapa, o Superior Geral nomeou o Assistente
Provincial e os membros dos quatro Conselhos; o Assistente é o Pe. Mark Pranaitis (da Província do
Centro-Oeste/Saint Louis) e os membros do Conselho são os Pes. Dick Benson (da Província do Oeste/Los
Angeles), Tom Stehlik (da Província do Sul/Dallas ), Pat McDevitt (da Província do Centro-Oeste/Saint Louis)
e Jim Cormack (da Província do Centro-Oeste/Saint Louis).
5. Recebemos um relatório do Pe. Julio Suescun, Diretor de Vincentiana, sobre a evolução da
revista desde o início até hoje. O Conselho pediu ao Pe. Julio que inclua esse relatório documentado num
dos próximos números de Vincentiana, dado seu interesse e seu valor histórico.
Decidimos manter Vincentiana como uma forma de estimular o carisma vicentina e a reflexão
sobre ele. O diretor preparará números especiais que tratem de temas que afetem toda a Coirmão ou
alguma de suas Conferências de Visitadores. A frequência de Vincentiana mudará de seis para quatro
volumes cada ano. Continuará sendo publicada nas três línguas oficiais. Para isso, mais uma vez,
animamos os Coirmãos para que nos ajudem na tradução dos textos para as línguas oficiais. A maior
dificuldade é a tradução para o francês. Se há algum Coirmão que saiba traduzir para o francês os
documentos que estejam escritos em inglês, espanhol ou alguma outra língua, que faça o favor de
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oferecer-se para os serviços de Vincentiana. Continuaremos colocando Vincentiana na Internet, além de
publicá-la como revista.
6. Recebemos o relatório do Pe. Alfredo Becerra, que foi oficialmente encarregado de
acompanhar os assuntos de Justiça, Paz e Integridade da Criação, uma organização estabelecida pela
União de Superiores Gerais. Para informação de vocês, em 2008 a Congregação da Missão aderiu à
declaração dos direitos da criança, preparada pela Central Católica Internacional da Infância. A
comunicação desta declaração foi enviada ao Conselho de Direitos Humanos e publicada na página oficial
da Alta Comissão das Nações Unidas. Também em 2008 respondemos um questionário sobre ecologia
que visava construir um banco de dados sobre como as comunidades religiosas contribuem para
promover a integridade da criação, em seus países.
Em 2009, com a aprovação do Superior Geral, subscrevemos, como Congregação, a declaração
das organizações de inspiração cristã e de outras crenças em relação ao apelo para a segurança da
alimentação e os desafios da mudança climática. Também em 2008, depois de ter consultado os membros
do Conselho Geral, o Superior Geral autorizou a adesão da Congregação ao chamado pela mobilização
mundial em favor das crianças, recordando o 20º aniversário da decisão das Nações Unidas sobre os
direitos das crianças.
Finalmente, o Superior Geral autorizou o envio de uma série de documentos ao presidente da
Conferência de Visitadores da África e de Madagascar (COVIAM), sobre o instrumentum laboris do Sínodo
para a África. Aproveito esta oportunidade para agradecer ao Pe. Alfredo por ter cumprido essas
responsabilidades, que serviram para manter o Superior Geral e seu Conselho ligados com o mundo da
justiça e da paz e que foram benéficas para a Congregação em nível internacional.
7. Tratamos de vários assuntos financeiros. Fizemos a distribuição do Fundo para as Missões para
2009. Devido à crise financeira pela qual o mundo está passando e que também nos afetou neste ano, não
pudemos distribuir tanto como no ano passado. Houve uma redução de 25% na quantidade disponível
para ser distribuída. Assim mesmo, entretanto, pudemos acudir a todas as Províncias necessitadas, com
certeza não provavelmente na quantia de que precisam, mas sim com uma quantidade significativa que as
ajude a cobrir os custos de seu crescimento, os gastos da formação permanente, da formação inicial e do
cuidado dos Coirmãos idosos, assim como suas necessidades missionárias.
Em relação à economia, revisamos o Estatuto 101, que trata da contribuição das Províncias para a
manutenção da Cúria Geral. Esperamos que na Assembleia Geral possamos dialogar sobre este tema, de
forma que as Províncias aconselhem o Superior Geral.
8. O Pe. Miles Heinen, Diretor da Central de Solidariedade Vicentina (VSO) informou-nos sobre
seu trabalho. Depois de nossa última reunião de Tempo Forte em março, a Central de Solidariedade
Vicentina recebeu nove projetos novos e duas doações para o projeto de microfinanciamento. O Superior
Geral e seu Conselho aprovaram a contratação de um novo membro para a equipe da Central de
Solidariedade Vicentina a partir de setembro deste ano.
9. O Pe. Manuel Ginete, delegado do Superior Geral para Família Vicentina, apresentou seu
relatório ao Superior Geral e seu Conselho. Informou-nos sobre sua viagem para a reunião da Família
Vicentina em Plymouth, Michigan, que tratou das mudanças de estruturas, embora essa não tenha sido
precisamente uma sessão continental para tratar desse assunto. Enfocaram-se as formas de tratar as
distintas necessidades dos Pobres “urbanos”, principalmente como conseqüência da crise econômica.
Muitos dos assuntos tratados foram de economia e sociologia mas orientados a partir de uma visão
vicentina, para responder às necessidades dos Pobres e para ajudar a ver o método da análise de sistemas
de estruturas como o caminho mais efetivo. Participou um total de 123 pessoas, representando 12 ramos
distintos da Família Vicentina.
141
O Pe. Ginete também nos informou sobre a sessão continental para líderes vicentinos e
assessores realizada sobre o tema da mudança de estruturas, de 10 a 14 de junho, no Brasil. Na sua
opinião, esta sessão foi muito boa pelo nível de preparação e pela maneira como foram dirigidos os
trabalhos e pela resposta dos participantes. Foi uma manifestação da vitalidade e do dinamismo da Família
Vicentina em seu conjunto no Brasil e do compromisso dos distintos ramos com o carisma e a missão. No
total participaram 114 congressistas representando 11 ramos da Família Vicentina.
As próximas atividades do Pe. Ginete serão nos Camarões, para assistir ao seminário da
Associação Internacional de Caridades (AIC), para assistir à sessão continental dos líderes da Família
Vicentina na África e para representar o Superior Geral da Conferência de Visitadores na África, depois da
sessão continental.
Muito obrigado aos membros da Comissão para a Promoção de Mudanças de Estruturas que
participaram nestas sessões continentais.
10. O Superior Geral e seu Conselho nomearam oficialmente o Pe. Hugh O’Donnell como
representante da Congregação da Missão no Conselho de Administração da DePaul Internacional. Este
posto foi ocupado até agora pelo anterior vice-Visitador da Vice-Província de São Cirilo e Metódio, o Pe.
Paul Roche. Quero aproveitar esta oportunidade para agradecer ao Pe. Hugh O’Donnell por ter aceitado
esta responsabilidade e ao Pe. Paul Roche por seu serviço generoso durante anos, que contribuiu para
que este ramo da Família Vicentina adquirisse força e vivesse com mais profundidade o carisma de serviço
dos Pobres.
11. Nos relatórios da equipe do Centro Internacional de Formação (CIF), revisamos uma série de
datas para 2010. Haverá uma sessão para os Irmãos de 9 de abril a 4 de junho. Mais adiante daremos mais
informação sobre esta promoção. A sessão ordinária do CIF será 3 de setembro a 27 de novembro. Em
2011, teremos a sessão de Herança Vicentina de 29 de abril a 28 de maio e a sessão ordinária, de 2 de
setembro a 26 de novembro.
A equipe do CIF espera organizar outra sessão sobre liderança em 2011, provavelmente em
junho ou julho. Será dirigida principalmente para membros das equipes dos seminários.
12. O relatório seguinte apresentado pelo Superior Geral foi o do nosso representante como
Organização Não-Governamental (ONG ) nas Nações Unidas. O Pe. Joseph Foley enviou informações
sobre as atividades de dois dos Comitês das ONGs: o grupo de trabalho ecumênico e o comitê sobre
imigração. Ao mesmo tempo mandou-nos algumas informações sobre a forma como as Nações Unidas
estão enfrentando a crise financeira global. Também falamos de uma de suas sugestões sobre a melhor
forma de cooperação entre nós como ONG e a Família Vicentina, particularmente com as Filhas da
Caridade.
No dia 5 de junho, as Nações Unidas celebraram o dia do ambiente global. O tema deste ano foi:
seu planeta precisa de vocês: unam-se para combater a mudança climática. O tema reflete a urgência de
que os países se ponham de acordo sobre o que fazer em relação à mudança do clima para a reunião de
dezembro em Copenhagen.
A Comissão de Justiça e Paz e Integridade da Criação, da União de Superiores Gerais em Roma,
apresentou um serviço de oração e uma publicação, sugerindo ações concretas por ocasião da reunião de
Copenhagen. O desenvolvimento do mundo é alarmante, pois os padrões de economia de consumo estão
conduzindo ao colapso das fontes naturais.
Uma nota adicional: o livro “Sementes de Esperança” (Seeds of Hope), preparado pela Comissão
para a Promoção de Mudanças de Estruturas, pode ser adquirido não só em inglês e em espanhol mas
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também em francês, graças à generosidade das Filhas da Caridade. O livro pode ser conseguido em
francês, entrando-se em contato com a Rue du Bac ou com a Comissão para a Mudança de Estruturas.
13. O Conselho reviu o relatório do Pe. John Freund, encarregado da página “web” da Família
Vicentina. Seu relatório focalizou sobretudo a página cmglobal.org da Congregação da Missão,
acrescentando que as informações básicas e os documentos sobre a Congregação da Missão já estão nas
três "janelas". O Conselho Geral pediu ao Pe. Freund que continue pondo Vincentiana na página “web”
para facilitar o acesso a ela pelos distintos visitantes de Internet. Ao mesmo tempo, em seu relatório, o Pe.
Freund falou de possíveis atividades durante a Assembleia Geral de 2010. O Conselho Geral pediu a
presença do Pe. Julio Suescun e do Irmão Adam na Assembleia Geral em Paris, para se encarregarem
desta página na Internet e lhes pediu que permaneçam em contato constante com o Pe. Freund nos
Estados Unidos, para promoverem a Assembleia Geral inclusive antes de seu início em junho.
14. Em seguida, o Conselho estudou as notas e os relatórios das diferentes Conferências de
Visitadores, e, ao mesmo tempo, anunciou que os presidentes das Conferências de Visitadores e de
Províncias tiveram uma reunião com o Superior Geral e seu Conselho no dia 29 de junho. Cada uma das
Conferências falou de seus pontos fortes e fracos e também de suas principais preocupações no campo da
reconfiguração de Províncias e sobre os distintos projetos de colaboração. Também foram revistos os
diversos compromissos que as Conferências assumiram na Assembleia Geral de 2004. Houve intercâmbio
sobre as propostas da Comissão de Estatutos para o tema das Conferências de Visitadores e falamos dos
distintos escritórios da Cúria Geral que estão a serviço da Congregação da Missão.
15. Depois, estudamos os relatórios das missões internacionais. O Pe. José María Nieto informounos sobre sua visita à Bolívia de 2 a 12 de maio. Comprometemo-nos a permanecer na Bolívia, embora
tenhamos que modificar o trabalho na missão de El Alto, devido à redução de pessoal. Decidimos que um
dos voluntários que responderam ao apelo pelas missões começará seu trabalho em El Alto, na Bolívia, em
setembro de 2009. É o Pe. Aiden Rooney, Coirmão da Província do Leste/ Filadélfia nos Estados Unidos.
16. Pelo relatório de nossa missão em Papua-Nova Guiné, soubemos que o Pe. Rolly Santos,
Superior da missão, foi eleito unanimemente como secretário geral da Conferência dos Bispos de PapuaNova Guiné e Ilhas Salomão. O Pe. Justin Eke, da Nigéria, também está nessa missão, trabalhando na
equipe do seminário e ensina a teologia no Instituto Teológico em Port Moresby. O Pe. Vladimir, último
membro chegado para a equipe, trabalha no território missionário de Woitape e o Pe. Homero é o pároco
da paróquia de Bomana. Estes missionários pedem que tornemos a animar a participação em missões
internacionais principalmente para o seminário e a estação missionária da área de Papua-Nova Guiné.
17. Recebemos bastante correspondência do Superior da missão internacional das Ilhas Salomão,
Pe. Greg Walsh. O mais importante foram as atas do encontro em que se falou de sua visão da
Congregação da Missão naquelas Ilhas, incluindo o futuro dos candidatos que estão pedindo para entrar
na Congregação da Missão. Trata-se principalmente da estabilidade da missão e da atenção à finalidade
original de nos encarregarmos do seminário maior e das atividades ligadas a esse trabalho, a formação do
laicado e as atividades paroquiais. Eles também pedem voluntários para ajudar na equipe do seminário e
nas atividades pastorais que a missão requer. Atualmente há seis Coirmãos nas Ilhas Salomão: os Pes.
Victor Bieler, Ivica Gregurec, Flaviano Caintic, Joeli Nabogi, Emanuel Prasetyono e Greg Walsh. Na
metade do ano, esperam que retornem os Pes. Augustinus Marsup e Antonius Abimantrono, da
Indonésia. No próximo semestre, irão para lá o Pe. Drago Ocvirk, da Província da Eslovênia, e um Coirmão
das Filipinas.
18. Estudamos o oferecimento de um voluntário. O Superior Geral lhe escreverá sobre os
distintos pontos sobre que devemos pensar para ir a uma missão “ad gentes”.
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19. Terminamos com um repasse geral em nosso calendário até junho de 2010. Quanto às visitas
canônicas, ficam a da Áustria, que farão o Superior Geral e o Secretário Geral em setembro de 2009; a do
Chile, que fará o Pe. José María Nieto em outubro e novembro de 2009; a de Turim, que fará o Pe.
Kapuściak em outubro e novembro de 2009. O Pe. Gérard Du acompanhará o Pe. Gregory em sua visita ao
Vietnã em outubro e fará a visita canônica da Província da Alemanha.
O próximo Tempo Forte será de 5 a 9 de outubro de 2009.
Seu irmão em São Vicente,
G. Gregory Gay, C. M.,
Superior Geral
Estimado Coirmão e prezado(a) Leitor(a),
Com a circular de 8 de setembro do ano passado
declarei aberto na Província Brasileira da Congregação da
Missão o período de preparação para a 41ª Assembleia Geral.
Segundo as Constituições da Congregação da Missão “As
Assembleias, que têm papel de proteger e promover a espiritualidade e a vitalidade apostólica
da Congregação, são três: a Geral, a Provincial e a Doméstica” (Constituições, 135). Na mesma
circular escrevi “os períodos de preparação e realização das Assembleias e o tempo que se
segue a elas devem ser vivenciados como verdadeiros momentos kairológicos, isto é,
momentos da presença de Deus que vem ao nosso encontro e se revela a nós. Que possamos
fazer deste tempo, que nos é oferecido pela graça de Deus, um tempo de profunda
espiritualidade, verdadeira formação permanente e apaixonado exercício da coresponsabilidade na busca da fidelidade pessoal, comunitária, provincial e congregacional à
vocação e missão da pequena Companhia.”
As Assembleias Domésticas realizadas durante o primeiro semestre deste ano levaram
entusiasmo e proporcionaram vida nova às Comunidades locais. Dos relatórios enviados à
Comissão Preparatória para a Assembléia Provincial (CPAP) foi elaborado o Instrumento de
Trabalho para a Assembleia Provincial que tivemos a graça de celebrar de 24 a 28 de agosto.
Convido a todos para continuarmos unidos em oração para que as Assembleias se tornem, de
fato, importantes acontecimentos em nossas vidas, na vida da Congregação, da Província e dos
Pobres. Relembro que o lema de nossa Assembléia Geral é “Fidelidade Criativa à Missão” e o
tema: “(...) tendo em vista o Evangelho e sempre atenta aos sinais dos tempos (...) a
Congregação da Missão procurará abrir caminhos novos e empregar meios adequados [às
circunstâncias dos tempos e dos lugares] (...) de modo a permanecer em estado de
renovação contínua” (cf. Const. 2).
144
Outro importante acontecimento que desejo relembrar é a abertura oficial do Ano
Jubilar em que celebraremos, como Família Vicentina, o aniversário da morte e ressurreição de
São Vicente de Paulo e Santa Luísa de Marillac. O lema escolhido é “Caridade e Missão”. Assim
nos escreveu o Pe. Gregory G. Gay na circular de 13/5/2009 “A missão é o enfoque que
desejamos dar a este ano de celebrações que começará no dia 27 de setembro de 2009 e irá
até 27 de setembro de 2010. Nossa missão, evangelizar e servir os Pobres, é motivada como
sempre pelo amor a Deus que se concretiza em atos de caridade em contato direto com os
Pobres e por amor a eles (...) queremos ter presente a colaboração que existiu entre São
Vicente e Santa Luísa e muitos outros no exercício de sua missão.”
E ao falar em colaboração, tenho presente a quarta das oito características da
Província que queremos construir, segundo o Planejamento Provincial (2008-2010):
“Uma Província articulada, em unidade e colaboração com a Família Vicentina (p. ex., na
Campanha pela Mudança de Estruturas), com a Conferência dos Religiosos do Brasil e com
outras instituições e movimentos e em eventos em favor dos mais pobres.”
Neste sentido, percebemos que há esforços e grande e louvável empenho em unir-nos
com toda a Família Vicentina, em participar das atividades promovidas pela CRB e por outras
organizações. A articulação com a Família Vicentina tem sido uma das mais alvissareiras
atividades que poderão ajudar-nos a realizar plenamente o nosso carisma. Alegramo-nos com
os Coirmãos e Comunidades locais que têm realizado trabalhos em conjunto, com grande
enriquecimento, na medida em que tem crescido o trabalho de assessoria e de animação de
grupos da FV (AIC, FC, SSVP, JMV, MISEVI, AMM, Missões Populares). Tem aumentado, em
vários núcleos, o número de missionários leigos que recebem nossa assessoria na organização
e na reflexão sobre a vocação, a identidade, a espiritualidade e a missão vicentina. Destacamos
como força de crescimento o grande número de voluntários da Família Vicentina e de nossas
obras, em especial do Colégio São Vicente, comprometidos com os projetos sociais
organizados e patrocinados pela Província.
Ao mesmo tempo, percebe-se que ainda constitui um desafio o envolvimento maior
das Comunidades e dos Coirmãos, devido a resistências que levam a ignorar a importância e a
validade dessa articulação em favor dos Pobres. Nota-se pouca audácia e pouca criatividade
em assumir projetos mais ousados, pouca experiência de articulação e colaboração, a falta de
maior divulgação das realizações e de uma presença maior em eventos, movimentos e
organizações em favor dos Pobres.
Caríssimo Coirmão e prezado(a) Leitor(a), os desafios e a complexidade da realidade de
pobreza, bem como a concretude do sofrimento e dos clamores dos Pobres não nos permitem
acomodar-nos ou isolar-nos em nossas estruturas ou nossos projetos particulares,
comunitários ou provinciais. Sendo globalizada a realidade da pobreza, penso que as ações de
cada um dos ramos da Família Vicentina precisam ser encaminhadas rumo à inserção em um
grande projeto cuja única meta sejam os Pobres que sonham com Vida e Dignidade, têm
direito a elas e lutam por elas. Isto é o que importa! E não a identificação dos projetos ou
ações como sendo da autoria desta ou daquela Associação, Movimento, Província ou Grupo.
Pe. Agnaldo Aparecido de Paula, C. M.,
Visitador Provincial
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Vida Eclesial
CARTA ÀS IRMÃS E AOS IRMÃOS DAS CEBS E A TODO O POVO DE DEUS
“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu;
... Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados...” (Mt 5, 3.6)
1. Nós, participantes do XII Intereclesial das CEBs, daqui
das margens do Rio Madeira, no coração da Amazônia,
saudamos com afeto as irmãs e irmãos de todos os
cantos do Brasil e dos demais países do continente, que
sonham conosco com novos céus e nova terra, num
jeito novo de ser igreja, de atuar em sociedade e de
cuidar respeitosa e amorosamente de toda a criação!
2. Fomos convocados de 21 a 25 de julho de 2009, pelo
Espírito e pela Igreja irmã de Porto Velho/RO, para nos
debruçar sobre o tema que nos guiou por toda a
preparação do Intereclesial em nossas comunidades e
regionais:
“CEBs: Ecologia e Missão – Do ventre da terra, o grito que vem da Amazônia”.
Acolhendo as delegações e celebrando os povos da Amazônia
3. Encheu-nos de entusiasmo ver chegando, depois de dois, três e até cinco dias de viagem, os
delegados, em sua maioria de ônibus fretados, ou ainda em barcos e aviões. Em muitos ônibus, vieram
acompanhados de seus bispos e encontraram, ao longo do caminho, acolhida festiva e refrigério em
paradas nas dioceses de Rondonópolis, Cuiabá e Cáceres no Mato Grosso, Jataí em Goiás, Uberlândia
em Minas Gerais e, entrando em Rondônia, nas comunidades de Vilhena, Pimenta Bueno, Cacoal,
Presidente Médici, Ji-Paraná, Ouro Preto e Jaru. Apresentamos carinhoso agradecimento pela fraterna e
generosa acolhida de todas as delegações pelas famílias, comunidades e paróquias de Porto Velho, o
infatigável trabalho e dedicação do Secretariado e das equipes de serviço, em que se destacaram tantos
jovens.
4. Somos 3.010 delegados, aos quais se somam convidados, equipes de serviço, imprensa e famílias que
acolhem os participantes, ultrapassando cinco mil pessoas envolvidas neste Intereclesial. Dos delegados
de quase todas as 272 dioceses do Brasil, 2.174 são leigos, sendo 1.234 mulheres e 940 homens; 197
religiosas, 41 religiosos irmãos, 331 presbíteros e 56 bispos, dentre os quais um da Igreja Episcopal
Anglicana do Brasil, além de pastores, pastoras e fiéis dessa Igreja, da Igreja Metodista, da Igreja
Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e da Igreja Unida de Cristo do Japão. O caráter pluriétnico,
pluricultural e plurilinguístico de nossa Assembléia encontra-se espelhado no rosto das 38 nações
indígenas aqui presentes e no de irmãos e irmãs de nove países da América Latina e do Caribe, de cinco
da Europa, de um da África, de outro da Ásia e da América do Norte. Queremos ressaltar a presença
marcante da juventude de todo o Brasil por meio de suas várias organizações.
5. “Sejam benvindos/as nesta terra de muitos rios, igarapés e de muitas matas, onde está a Arquidiocese
de Porto Velho, que se faz hoje a Casa das Comunidades Eclesiais de Base”. Assim, fomos recebidos, na
celebração de abertura pela equipe da celebração e por Dom Moacyr Grechi, com muita música e
canto, ao cair da noite, ao lado dos trilhos da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré que lembra, para os
trabalhadores que a construíram e para os indígenas e migrantes nordestinos, o sofrido ciclo da
146
borracha na Amazônia. Foram evocadas ali e, seguidamente nos dias seguintes, as palavras sábias do
provérbio africano:
“Gente simples, fazendo coisas pequenas, em lugares pouco importantes,consegue mudanças
extraordinárias”.
6. Pelas mãos de representantes dos povos indígenas, dos quilombolas, seringueiros, ribeirinhos,
posseiros e migrantes do campo e da cidade foram plantadas, ao lado do altar, três grandes tochas.
Nelas, foram acesas milhares de velas dos participantes, cujas luzes se espalharam pelos degraus da
esplanada, enquanto ouvíamos o canto do Cristo dos Seringais:
“Na densa floresta vai um caminheiro
Cristo seringueiro a seringa a cortar... “,
Os versos eram entrecortados pelo refrão:
“E vem a esperança que surja a bonança,
Não seja explorado o suor na balança.
E vem a esperança que surja a mudança
E o homem refaça com Deus a aliança”.
Ouvindo os gritos das comunidades da Amazônia
e comungando com seus sonhos
7. Com o apito da sirene da Madeira-Mamoré, o trem das CEBs retomou sua caminhada, reunindo-se
no dia seguinte, na grande plenária do PORTO, aclamado pela Assembléia, “PORTO DOM HELDER
CAMARA”, pelo centenário do seu nascimento (1909-2009) e em resgate de sua profética atuação.
Iniciamos esse primeiro dia, dedicado ao VER, partindo do grito profético da terra e dos povos da
Amazônia, símbolos da humanidade, na sua rica diversidade, deixando-nos guiar na celebração pelo
som dos maracás, tambores e flautas e pela dança de louvor a Deus de nossos irmãos e irmãs indígenas.
Dali, partimos para os locais dos mini-plenários de 250 participantes, nas paróquias e escolas. Eles
levavam os nomes de doze RIOS da bacia amazônica: Madeira, Juruá, Purus, Oiapoque, Guamá,
Tocantins, Tapajós, Itacaiunas, Guaporé, Gurupi, Araguaia e Jari.
8. Divididos nos Rios em 12 CANOAS, com duas dezenas de participantes cada uma, partilhamos as
experiências, gritos e lutas das comunidades em relação à nossa Casa comum, a partir do bioma
amazônico e dos outros biomas do Brasil (cerrado, caatinga, pantanal, pampas, mata atlântica e
manguezais da zona costeira), da América Latina e do Caribe. Vimos nossa Casa ameaçada pelo
desmatamento, com o avanço da pecuária, das plantações de soja, cana, eucalipto e outras
monoculturas, sobre áreas de florestas; pela ação predatória de madeireiras, pelas queimadas, poluição
e envenenamento das águas, peixes e humanos pelo mercúrio dos garimpos, pelos rejeitos das
mineradoras e pelo lixo nas cidades. Encontra-se ameaçada também pelo crescente tráfico de drogas,
de mulheres e crianças e pelo extermínio de jovens provocado pela violência urbana.
9. Somamos nosso grito ao das populações locais, para que a Amazônia não seja tratada como colônia,
de onde se retiram suas riquezas e amazonidades, em favor de interesses alheios, mas que seja vista em
pé de igualdade, no concerto das grandes regiões irmãs, com sua contribuição específica em favor da
vida dos povos, em especial de seus 23 milhões de habitantes, para que tenham o suficiente para viver
com dignidade.
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10. Fazemos um apelo para que os governantes sejam sensíveis ao grito que brota do ventre da Terra e,
pautados por uma ética do cuidado, adotem uma política de contenção de projetos que agridem a
Amazônia e seus povos da floresta, quilombolas, ribeirinhos, migrantes do campo e da cidade, numa
perspectiva que efetivamente inclua os amazônidas, como colaboradores verdadeiros na definição dos
rumos da Amazônia.
11. Tomamos consciência também de nossas responsabilidades em relação ao reto uso da água, da
terra, do solo urbano e à superação do consumismo, respondendo ao apelo, para que todos vivamos do
necessário, para que ninguém passe necessidade.
12. Constatamos, com alegria, a multiplicação de iniciativas em favor do meio ambiente, como a de
humildes catadores de material reciclável, no meio urbano, tornando-se profetas da ecologia e as de
economia solidária, agricultura orgânica e ecológica. Saudamos os muitos sinais de uma “Terra sem
males”, fazendo-nos crescer na esperança de que “outro mundo é possível, necessário e urgente”.
13. De tarde, realizamos a Caminhada dos Mártires, em direção ao local onde o rio Madeira foi desviado
e em cujo leito seco, ao som dos estampidos das rochas dinamitadas, está sendo concretada a
barragem da hidroelétrica. Celebrou-se ali Ato Penitencial por todas as agressões contra a natureza e a
vida humana. Defronte às pedreiras que acolhiam as águas das cachoeiras de Santo Antônio, agora
totalmente secas, ao lado da primeira capela construída na região, foram proclamadas as Bemaventuranças evangélicas (Mt 5, 1-12), sinal da teimosa esperança dos pequenos, os preferidos de Deus.
14. No segundo dia, prosseguimos com o VER, com uma pincelada sobre a conjuntura atual na esfera
sócio-política e econômica, apresentada por Pedro Ribeiro de Oliveira; na perspectiva das mulheres,
por Julieta Amaral da Costa, e do ponto de vista ecológico, por Leonardo Boff. Atendendo ao convite de
Jesus: “Vinde e vede” (Jo, 1, 39), após a pergunta dos discípulos, “Mestre, onde moras?” (Jo 1, 38),
partimos em grupos, em visita às muitas realidades locais: populações indígenas, comunidades afrodescendentes, ribeirinhas, extrativistas, grupos vivendo em assentamentos rurais ou em áreas de
ocupação urbana; bairros da periferia; hospitais, prisões, casas de recuperação de pessoas com
dependência química e ainda a trabalhos com menores ou pessoas com deficiência. O retorno foi rico
na partilha de experiências, nas quais descobrimos sinais de vida nova. Reiteramos que os projetos dos
grandes, principalmente as barragens das usinas hidroelétricas, as usinas nucleares geradoras de lixo
atômico que põe em risco a população local, são projetos do capital transnacional que não favorecem
os pequenos. Apoiados na sabedoria milenar dos povos indígenas, nos sentimos animados a repetir
com eles: “Nunca deixaremos de ser o que somos”. Nós, como CEBs no meio dos simples e pequenos,
reafirmamos nossa teimosa opção pelos pobres e pelos jovens, proclamada há trinta anos em Puebla,
resistindo e lutando para superar nossas dificuldades, sustentados pela fé no Deus que se revelou a nós
como Trindade, a melhor comunidade.
15. No terceiro dia, as celebrações da manhã aconteceram nos rios, resgatando memórias da
espiritualidade dos povos da região e das experiências colhidas no caminho missionário percorrido no
dia anterior, nas visitas às muitas realidades eclesiais e sociais de Rondônia. A oração foi alentada pela
promessa do Êxodo: “Decidi vos libertar... vos farei subir dessa terra para uma terra fértil e espaçosa,
terra onde corre leite e mel” (Ex. 3, 8). Em cada canoa, os relatos iam revelando uma igreja preocupada
com a justiça social e a defesa da vida nos testemunhos de gente simples em todos aqueles lugares
visitados. Esses relatos aqueceram nosso coração e nos desafiaram a perseverar na caminhada das
CEBs.
16. À tarde, fomos tocados por vários testemunhos. Em primeiro lugar, pela sentida oração dos Xerente
do Tocantins que celebraram seu ritual pelos mortos, homenageando o amigo e missionário, Pe. Gunter
Kroemer. Dom José Maria Pires, arcebispo emérito da Paraíba, retomou em sua história a trajetória dos
negros no Brasil, suas dores, resistências e esperanças de um mundo melhor, nos seus Quilombos da
liberdade. Marina Silva, senadora pelo Acre e ex-ministra do Meio Ambiente, contou sua caminhada de
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menina analfabeta do seringal para a cidade de Rio Branco e de lá para São Paulo, mas principalmente
sua incessante busca, a partir da fé herdada de sua avó, alimentada pela experiência das CEBs, da leitura
da Palavra de Deus e pelo exemplo de Chico Mendes, de bem viver e de colocar-se publicamente a
serviço, em favor do povo amazônida. Por fim, depois da apresentação de Dom Tomás Balduíno, em
que ressaltou o papel de Dom Pedro Casaldáliga da Prelazia de São Félix do Araguaia na fundação, junto
com outros, do CIMI, da CPT e de Pastorais Sociais, acompanhamos pelo vídeo seu testemunho e nos
emocionamos com suas palavras de esperança e confiança em Jesus e na utopia do seu Reinado.
17. Neste dia, ocorreu também o encontro da Pastoral da Juventude de todo o Brasil e outro também
muito significativo entre bispos, assessores e Ampliada Nacional das CEBs. Momento fecundo do
estreitamento de laços e abertura a novos passos em nossa caminhada, em que foi expressa a alegria e
alento trazidos pela presença significativa de tantos bispos. Desse encontro, os bispos presentes
resolveram enviar sua palavra às comunidades:
Palavras dos Bispos às CEBs
18. “Os 56 bispos participantes do Intereclesial, reunidos na sexta-feira à noite com os assessores e os
membros da Ampliada Nacional das CEBs, avaliaram muito positivamente o Intereclesial, destacando
especialmente a seriedade e o empenho dos participantes no debate da temática do encontro, a
espiritualidade expressa nas bonitas celebrações diárias nos “rios”, o clima sereno e fraterno e o grande
envolvimento das comunidades das dioceses do regional Noroeste da CNBB na organização e realização
do encontro.
A presença de 331 padres que participam do Intereclesial, levou os bispos a exprimirem o desejo de
que, neste ano sacerdotal, todos os padres do Brasil renovem o compromisso de acompanhar as CEBs,
empenhadas em testemunhar os valores do Reino, como discípulas e missionárias.
Constatando que, a partir da Conferência de Aparecida, as CEBs ganharam reconhecimento e novo
alento em todo o continente, os bispos tiveram também palavras de apoio e incentivo para a
continuação da caminhada das comunidades no Brasil, reforçadas pelo presidente da CNBB, Dom
Geraldo Lyrio Rocha.
Diante da agressão continuada da Amazônia, juntamente com todos os participantes do encontro,
manifestam sua preocupação com a construção da barragem de Santo Antônio e Jirau no Rio Madeira,
os projetos de outras barragens no Xingu, Tapajós, Araguaia e noutros rios e a continuada devastação
da floresta pelo avanço da pecuária, das plantações de soja e cana, e da extração ilegal de madeira”.
Nas diferenças, o mesmo Deus que nos convoca para a Justiça e a Paz
19. Na manhã do último dia, fomos guiados pelo texto do Apocalipse: “O anjo mostrou para mim um rio
de água viva... O rio brotava do trono de Deus e do cordeiro...; de cada lado do rio estão plantadas árvores
da vida... suas folhas servem para curar as nações” (Ap 22, 1-2). Bebemos no manancial da fé que nos une
a todos e todas, na única família humana, como filhos e filhas da mesma Mãe-Terra, a Pacha-Mama dos
povos andinos, a Terra sem Males dos Povos Guarani, na busca, sonho e construção do Reino de Deus
anunciado por Jesus.
20. Juntos, representantes das Religiões Indígenas e dos Cultos Afro-brasileiros, de Judeus, Cristãos
Ortodoxos, Católicos e Evangélicos, Muçulmanos, de mulheres e homens de boa vontade e de todas as
crenças, no diálogo e respeito à diversidade da teia da vida, acolhemos os gritos da Amazônia e de todos
os biomas e reafirmamos nossa solidariedade e compromisso com a justiça geradora da paz.
21. Caminhamos como povo de Deus que conquista a Terra Prometida e a torna espaço de fartura e
fraternura, acolhendo todas as expressões da vida.
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Nossos Compromissos
22. Comprometemo-nos a fortalecer as lutas dos movimentos sociais populares: as dos povos
indígenas, pela demarcação e homologação de suas terras e pelo respeito por suas culturas; as dos afrodescendentes, pelo reconhecimento e demarcação das terras quilombolas; as das mulheres, por sua
dignidade e igualdade e pelo avanço em suas articulações locais, nacionais e internacionais; as dos
ribeirinhos pela legalização de suas posses; as dos atingidos pelas barragens, pelo direito à terra
equivalente, pela restituição de seus meios de sobrevivência perdidos e pela indenização por suas
benfeitorias; as dos sem terra, apoiando-os em suas ocupações e em sua e nossa luta pela reforma
agrária, contra o latifúndio e os grileiros; as dos Movimentos Ecológicos, contra a devastação da
natureza, pela defesa das águas e dos animais.
23. Queremos defender e apoiar o movimento FLORESTANIA, no respeito à agrobiodiversidade e aos
valores culturais, sociais e ambientais da Amazônia.
24. Assumimos também o compromisso de respaldar modelos econômicos alternativos na agricultura,
na produção de energias limpas e ambientalmente amigáveis; de participar na luta sindical, reforçando
a ação dos sindicatos do campo e da cidade, com suas associações e cooperativas e sua luta contra o
desemprego, com especial atenção à juventude.
25. Convocamos a todos nós para o trabalho político de base, para a militância em movimentos sociais e
partidos ligados às lutas populares; para participar nas lutas por políticas públicas ligadas à educação,
saúde, moradia, transporte, saneamento básico, emprego, reforma agrária e para tomar parte nos
conselhos de cidadania, nas pastorais sociais, no movimento pela não redução da maioridade penal, no
Grito dos Excluídos, nas iniciativas do 1º. de Maio e das Semanas Sociais.
26. Comprometemo-nos ainda a fortalecer e multiplicar nossas Comunidades Eclesiais de Base, criando
comunidades eclesiais e ecológicas de base nos bairros das cidades e na zona rural, promovendo a
educação ambiental em todos os espaços de nossa atuação; a intensificar a formação bíblica; a incentivar
uma Igreja toda ela ministerial, com ministérios diversificados confiados a leigas e leigos, assumindo seu
protagonismo, como sujeitos privilegiados da missão; a fortalecer o diálogo ecumênico e inter-religioso,
superando a intolerância religiosa e os preconceitos.
27. Queremos, a partir das CEBs, repensar a pastoral urbana, como um dos grandes desafios eclesiais;
assumir o testemunho e a memória dos nossos mártires e empenhar-nos na Missão Continental proposta
pela V Conferência do Episcopado Latino-americano e Caribenho, em Aparecida.
Rumo ao XIII Intereclesial no Ceará
28. Acompanhados pelas comunidades e famílias que nos receberam e caravanas de todo o Regional,
celebramos a Eucaristia, presença sempre viva do Crucificado/Ressuscitado, comprometendo-nos com
todos os crucificados de nossa sociedade, com suas lutas por libertação, para construirmos outro mundo
possível, como testemunhas da Páscoa do Senhor, acompanhados pela proteção e bênção da Mãe de
Deus, celebrada no Círio de Nazaré e invocada na região amazônica, com outros tantos nomes; no Brasil,
com o título de Aparecida, e na nossa América, com o de Virgem de Guadalupe.
29. Escolhida a Igreja do Crato, que irá acolher, nas terras do Padim Pe. Cícero, o XIII Intereclesial,
recolocamos nos trilhos o trem das CEBs, rumo ao Ceará, enviando a vocês, irmãos e irmãs das
comunidades, nosso abraço fraterno, e cheio de revigorada esperança.
AMÉM! AXÉ! AWÍRI! ALELUIA!
150
Ano Sacerdotal
Faltam Padres?
José Lisboa Moreira de Oliveira*
Lendo, alguns anos atrás, a revista "Rogate" (nº
216 - outubro de 2003 - p. 8-15), encontrei algumas
estatísticas da Igreja Católica. A revista cita como fonte o
jornal L'Osservatore
Romano (edição em português, nº 29,
19/07/03, p. 6-8), órgão oficial do Vaticano. Fiquei
surpreso com os dados sobre o número de padres
que existe atualmente no mundo. Diante do quadro
apresentado, resolvi fazer estas reflexões, esperando
assim contribuir para a revisão de algumas situações,
especialmente para uma melhor redistribuição dos
presbíteros e para a retomada da consciência
missionária.
1. O número de padres no mundo
De acordo com a estatística acima mencionada, em 2001 existiam 405.067 presbíteros em
todo o mundo. Isso significa a média de 1 (um) padre para cada 15.139 habitantes do planeta. Se
considerarmos apenas o número de católicos, temos 1 (um) padre para cada 2.619 fiéis. Relacionando o
número de padres com o número de bispos existentes, teríamos para cada bispo uma média de 87,10
presbíteros. Tendo presente o fato de que não mais de 10% dos católicos são praticantes, podemos
concluir que existe 1 (um) padre para cada 261,9 católicos praticantes.
Vemos então que o número de padres não é assim tão pequeno como se costuma alardear por
aí, especialmente naquele tipo de atividade vocacional da Igreja identificado exclusivamente com a
promoção da vocação do presbítero e no qual o Serviço de Animação Vocacional é confundido com
"Obra das Vocações Sacerdotais" (OVS). A média mundial se apresenta bastante equilibrada. Não
existem razões para desespero e nem para tanta obsessão.O que estaria acontecendo então? Acredito
que o problema não está na falta de padres, mas na falta de espírito missionário. Esta falta de espírito
missionário se encontra não apenas nos padres, mas principalmente nos bispos, os quais não preparam
os seus presbitérios para o serviço ministerial, lá onde há mais urgência e mais necessidade. Isso leva à
concentração de presbíteros em algumas regiões, especialmente nas mais ricas, deixando outras áreas,
particularmente as mais pobres, desprovidas da presença de ministros ordenados.
*
José Lisboa Moreira de Oliveira, licenciado em Filosofia pela Universidade Católica de Brasília, graduado em
Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma, Mestre em Teologia pela Pontifícia Faculdade Teológica da Itália
Meridional (Nápoles – Itália), Doutor em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma. Autor de 13 livros e
dezenas de artigos sobre o tema da vocação e da animação vocacional. Foi assessor do Setor Vocações e Ministérios
da CNBB (1999-2003) e Presidente do Instituto de Pastoral Vocacional (2002-2006). Atualmente é gestor do Centro
de Reflexão sobre Ética e Antropologia da Religião (CREAR) da Universidade Católica de Brasília, onde também é
professor de Antropologia da Religião e Ética.
151
Os números fornecidos pela própria direção da Igreja Católica colocam em evidência essa
realidade. Eles provam que não é suficiente apenas incentivar e promover a vocação do padre. É
preciso, com muita urgência, criar nos presbíteros e nos seminaristas a sensibilidade para o serviço
missionário. Se não fizermos isso, poderemos até chegar a um número bem maior de padres, mas
regiões inteiras continuarão abandonadas e centenas de milhares de comunidades católicas
permanecerão privadas da presença de um ministro ordenado.
2. A raiz do problema
O problema da falta de pastores é tão antigo como a própria Igreja. O próprio Jesus já tinha
percebido isso quando, olhando para as multidões, ficou tomado de compaixão porque viu que elas
"estavam exaustas e prostradas como ovelhas sem pastor" (Mt 9,36). Por essa razão, deixou a seguinte
recomendação: "A messe é abundante, mas os operários, pouco numerosos; pedi, pois, ao dono da
messe que mande operários para a sua messe" (Mt 9,37-38). Certamente, os operários aos quais Jesus
se refere não são apenas os padres, mas todos os evangelizadores e todas as evangelizadoras dos quais
a Igreja necessita para fazer chegar a toda a humanidade a Boa Notícia, o Evangelho. Mas os padres
também estão incluídos nesta lista e, enquanto ministros que presidem e animam as comunidades,
possuem uma missão sumamente importante.
Uma análise mais criteriosa desse texto e do paralelo encontrado em Lucas (Lc 10,1-20) nos
mostra com clareza que para Jesus o problema não está na falta de pastores, mas na falta de operários,
ou seja, de gente que queira ir pelas cidades e povoados, pelas aldeias e demais localidades. No tempo
de Jesus, a Palestina estava infestada de sacerdotes, levitas, escribas, fariseus, doutores da lei, mas
faltava quem tivesse compaixão do povo e quem fosse ao encontro dele para "curar as suas doenças e
enfermidades" (Mt 10,1). Aliás, voltando um pouco mais no tempo, podemos constatar que os profetas
da Primeira Aliança já denunciaram uma situação semelhante. Eles acusavam os pastores que
"apascentavam a si mesmos" (Jr 34,2) e não cuidavam da comunidade, especialmente das pessoas mais
sofridas. O oráculo de Ezequiel é dirigido aos governantes do povo, mas tinha também como
destinatários os chefes religiosos, mesmo porque era praticamente impossível, para a mentalidade
judaica da época, pensar as duas coisas de forma separada.
Na Igreja, o problema apareceu muito cedo. No século VI, o Papa São Gregório Magno já
lamentava a falta de operários para a messe. Mas dizia igualmente que o problema não estava na falta
de ministros ordenados, mas no pouco espírito missionário dos mesmos. Havia muitos padres, sim, mas
poucos dedicados e doados pela causa do Reino. Em uma de suas homilias, São Gregório advertia:
"Para grande messe, poucos operários, coisa que não sem imensa tristeza podemos repetir; pois embora
haja quem escute as palavras boas, falta quem as diga. Eis que o mundo está cheio de sacerdotes,
todavia, raramente se vê um operário na messe de Deus; porque aceitamos, sim, o ofício sacerdotal,
mas não cumprimos o dever do ofício".
A questão, pois, é muito antiga. Não faltam padres, mas, como nos lembra são Gregório falta
paixão pelo Reino. O ministério é visto apenas como status, privilégio, meio de fazer carreira e de
resolver situações pessoais, como profissão rentável. Por isso, muitos aceitam ser ordenados, mas
somente um número pequeno se dispõe a "cumprir o dever do ofício", ou seja, a servir o Povo de Deus
lá onde realmente ele precisa.
3. Alguns exemplos ilustrativos
Quem acompanha de perto a vida da nossa Igreja conhece situações em que é bem visível essa
realidade e começa a entender que o problema não está na falta de padres, mas na falta de espírito
missionário dos presbíteros. Uma primeira constatação pode ser feita a partir do Anuário da Igreja
152
Católica no Brasil. Ali é possível verificar a grande concentração de padres nas grandes cidades,
especialmente nas capitais, de modo particular aquelas litorâneas. O interior do país, sobretudo as
pequenas cidades, os lugares mais afastados e pobres, ficam completamente esquecidos. Se olharmos
atentamente as próprias capitais, vamos notar que a maioria dos padres está no centro das cidades, ou
seja, nos bairros mais abastados, onde a vida é mais fácil. As periferias, mesmo com população mais
numerosa, dispõem de um número menor de padres.
Conheço o caso de algumas dioceses que não sabem o que fazer com os seus padres. O
número de presbíteros já é maior do que o número de paróquias. Os padres não aceitam trabalhar
juntos numa mesma paróquia. Querem que o bispo crie paróquias novas para que cada um tenha o seu
"feudo" e com todos os "acessórios indispensáveis": casa, carro, telefone, telefone celular, computador,
Internet, salário, funcionários e assim por diante. Quando é feita a proposta de uma paróquia na
periferia, mas sem todas essas mordomias, a recusa é imediata.
Em certas arquidioceses, as paróquias de periferia estão completamente abandonadas. Em
algumas delas, os párocos não moram no local, mas em bairros mais "chiques", porque não fica bem o
padre morar nesses lugares! O povo vê a cara do pároco somente nos finais de semana e em algumas
ocasiões especiais. Em outras, há missa somente de vez em quando, pois não há padres para celebrar
nelas. Enquanto isso, nas paróquias do centro, onde as pessoas têm seus carros e podem se locomover
com mais facilidade, são celebradas até cinco ou seis missas no domingo.
Em nível mundial, todos conhecemos a corrida dos padres dos países pobres para os países
mais ricos, situados no norte do planeta. Muitos padres do hemisfério sul, particularmente da Ásia e da
África, sonham ir para a Europa Ocidental e para a América do Norte. Lá chegando, não querem voltar
mais para os seus países de origem. A situação estava ficando tão grave que, em 2002, a própria Santa
Sé teve que intervir, proibindo os bispos dos países ricos de receberem padres dos países pobres sem
prévio entendimento com o bispo da diocese de origem dos presbíteros.
Muitos bispos, especialmente das dioceses mais abastadas, são poucos sensíveis às
necessidades das Igrejas mais pobres. Ficam fazendo as contas, reclamando a falta de padres. Não são
capazes de despertar a consciência missionária em seus presbitérios. Lembro-me do caso de um bispo
de uma diocese pobre do Nordeste, que, sentindo a escassez de presbíteros de sua Igreja, dirigiu-se a
um seu colega de uma diocese do Sul do país, bem servida de padres. Diante do pedido do seu irmão
nordestino, o bispo sulista recitou uma longa ladainha de lamentos, tentando provar que não tinha
como oferecer um padre para a outra diocese irmã. O bispo do Nordeste concluiu sua conversa com o
seguinte desabafo, ainda que revestido de santa ironia: "Fiquei com tanta pena do coitadinho que quase
lhe oferecia um padre da minha pobre diocese para ajudar a resolver a sua penúria!".
Se dermos uma olhada na vida consagrada, percebemos que há também alguma coisa errada.
A pesquisa da CRB, feita em 1997 e publicada em 1998, traz alguns dados que são bastante
significativos. Ela mostra, por exemplo, que há mais religiosas e mais religiosos nascidos no Nordeste
morando no Sudeste do que no próprio Nordeste. O levantamento da CRB diz que 14,6% dos religiosos
e 11,6% das religiosas afirmam ter nascido no Nordeste. Mas somente 10,6% dos religiosos e 8,9% das
religiosas declararam que viviam naquela ocasião no Nordeste. Isso fica mais evidente quando
tomamos os dados do próprio Sudeste. Cerca de 35,2% dos religiosos e 32,8% das religiosas afirmavam
ter nascido no Sudeste. No entanto, 44,2% dos religiosos e 39,4% das religiosas disseram que estavam
morando no Sudeste. Porém, o Sul se apresentou como uma região com bastante consciência
missionária. De fato, 45,5% dos religiosos e 47,9% das religiosas declaram ter nascido nesta região. Mas
somente 23,3% dos religiosos e 39,0% das religiosas dizem estar morando na região Sul do Brasil.
Todavia, sabe-se que as vocações ali estão em declínio e é bem provável que daqui a alguns anos, o Sul
esteja povoado de religiosos e religiosas vindos de regiões mais pobres do país.
153
4. Retomar a proposta do Vaticano II
Durante o Concílio Vaticano II esta questão foi, por diversas vezes, levantada e debatida. No
final do Concílio, ficaram algumas propostas bastante significativas. Elas, porém, parece que foram
completamente esquecidas, salvo honrosas e beneméritas exceções. Por esta razão, considero urgente
retomar alguns desses elementos. O Vaticano II insistiu sobre a necessidade de uma melhor distribuição
dos padres. Pediu que os presbíteros cultivassem uma solicitude por todas as Igrejas. Sugeriu que as
dioceses com maior número de padres oferecessem, com prazer, presbíteros para as regiões mais
carentes de ministros ordenados. Nesta iniciativa o bispo não só deve permitir, mas encorajar os padres
para a missão. Para tanto, pedia o Concílio, devem-se rever as normas de incardinação, de modo que
elas correspondam às necessidades da Igreja do nosso tempo e favoreçam uma adequada distribuição
dos presbíteros (cf. PO, 10).
Recordando que os presbíteros devem buscar servir ao bem de toda a Igreja, evitando a
dispersão de forças (cf. LG, 28), o Vaticano II insistiu muito sobre o dever missionário dos presbíteros. O
serviço da missão não é um acessório na vida do padre, mas elemento fundamental do seu ministério.
Por isso, tanto nos seminários como nas faculdades de teologia, será necessário fomentar a consciência
missionária (cf. AG, 39). Os bispos, por sua vez, são chamados a preparar e enviar presbíteros para as
regiões mais carentes, para que ali eles exerçam o ministério de forma definitiva ou ao menos por um
tempo determinado. Eles devem considerar não só as necessidades de sua diocese, mas também as das
outras Igrejas particulares, pois estas são expressão da mesma e única Igreja de Jesus. Para tanto,
devem buscar aliviar ao máximo os sofrimentos das dioceses mais carentes de presbíteros (cf. CD, 6).
No que diz respeito à vida consagrada, o Concílio foi bastante preciso. Essa, de fato, precisa ter "um
espírito e trabalho realmente católico" (cf. AG, 40). Não deve voltar-se apenas para os interesses do
próprio grupo. Com determinação o Vaticano II convidou a vida consagrada a se interrogar com
sinceridade, diante de Deus, sobre a possibilidade de deixar algumas atividades para se comprometer
com o serviço nos lugares de missão, com novas atividades missionárias. A vida consagrada precisa
avaliar se realmente está participando com todas as forças da atividade missionária da Igreja. No âmbito
da Igreja latino-americana, a Conferência de Puebla (1979) convidava as Igrejas locais a se projetarem
além de suas próprias fronteiras, dando da própria pobreza (P, 368). Na atividade vocacional, devem-se
despertar, promover e orientar vocações missionárias (P, 891).
Conclusão
São Francisco Xavier, grande missionário jesuíta do século XVI, considerando a realidade da sua
época, lançou então um grande desafio. Escrevendo a Santo Inácio de Loyola, ele manifestava o seu
desejo de sacudir as consciências daqueles que "têm mais ciência do que caridade". Queria sair pelas
academias da Europa, gritando como um louco e mostrando a responsabilidade que aquela gente
acomodada tinha diante das carências da evangelização.Hoje, continuamos a sentir a ausência de
profetas que denunciem a omissão e a acomodação de determinadas Igrejas, de certos bispos e de
muitos padres. Precisamos gritar bem alto que não basta fazer propaganda vocacional e insistir
obsessivamente na falta de padres. Precisamos ter a coragem de dizer que em muitos lugares eles já
sobram. O que falta mesmo é o ardor missionário, a paixão pelo Reino e o carinho pelos mais pobres.
Faltam em muitos padres o espírito de serviço e o zelo do Bom Pastor, daquele que dá a vida pelas
pessoas.Precisamos denunciar um certo tipo de propaganda vocacional que apresenta o ministério do
padre como status e privilégio. Temos que combater aquele tipo de propaganda vocacional que se
baseia na apresentação de vantagens. Aquela que apresenta o campo de futebol, a churrasqueira, a
piscina, o grande seminário, o quarto bem mobiliado, o microônibus para conduzir o pessoal, a
promessa de estudar em Roma, de ser ordenado pelo papa... Este tipo de marketing vocacional só atrai
pessoas acomodadas e não gente disposta a ser enviada em missão.
154
Se este material vocacional continuar sendo elaborado e divulgado, se esta mentalidade
continuar prevalecendo, vamos ter, sim, um mundo "cheio de padres", mas raramente vamos ver "um
operário na messe de Deus". Tudo como no tempo de São Gregório Magno. O povo vai continuar sem
pastores!
O folder vocacional - se é que ele tem que existir - deveria conter apenas uma coisa: a imagem
das multidões abandonadas, pobres, sem ninguém para olhar por elas. Nele deveria aparecer somente
a figura daquele que veio para servir e não para ser servido (cf. Mc 10,45). O lema deveria ser o
seguinte: "Vamos para outros lugares, às aldeias da redondeza. Devo pregar também ali, pois foi para
isso que eu vim" (Mc 1,38). Este tipo de propaganda vocacional afastaria de imediato os que querem se
instalar e se acomodar. Não abriria espaço para os "consumidores" de privilégios e status sacerdotais e
nem para os aproveitadores. Mas certamente atrairia gente mais corajosa e mais disposta a seguir
Jesus, o "andante" (Mc 1,39) e peregrino do Pai, que caminhava sempre na direção dos excluídos e
excluídas.
Mês Vocacional
A VIDA CONSAGRADA LAICAL DO IRMÃO
Frater Henrique Cristiano José Matos, cmm
Ser filho de Deus pela consagração batismal é
o título de honra de um cristão. Por esta consagração
fundamental, somos feitos partícipes da vida divina da
Trindade Santa e constituídos membros vivos do Povode-Deus. A consagração batismal nos coloca numa
mesma dignidade e é a base da igualdade de
todos/as na Comunidade de Jesus, que é a Igreja.
Pertencer ao “laos” (ser “leigo”) é a condição básica
de todo batizado. Formamos juntos o Povo-deDeus que, guiado por Jesus e vivificado pelo
Espírito, caminha rumo ao Pai, princípio e término
da vida, da vida plena e definitiva. No meio deste Povo, que marcha rumo à Casa do Pai, ou
seja, dentro da Igreja peregrinante nas estradas do mundo, o Senhor chama livremente
alguns/algumas batizados/as a expressarem mais explicitamente a vida nova que há neles,
consagrando-os de forma específica. A resposta da pessoa—agraciada com este “dom de
Deus” — toma forma concreta num estilo-de-vida que se inspira diretamente no seguimento
de Jesus de Nazaré, o Jesus histórico.
Na sua origem, esta consagração específica tem nitidamente um caráter laical. É
exatamente no meio dos batizados que Deus chama (convoca) homens e mulheres para
abraçar uma vida mais cristiforme, tendo em vista uma identificação com o Filho de Deus
encarnado (histórico), a fim de poder abraçar mais radicalmente sua missão essencial que é a
causa do Reino. A Vida Consagrada procura expressar assim uma dupla paixão (vivenciada
cabalmente por Jesus de Nazaré): a do Pai — com quem Jesus vive em comunhão íntima,
155
plenamente sintonizado com sua Vontade salvífica — e a do Reino — o grande projeto de vida
e vida plena para todos, tendo o amor como sua inspiração e sentido derradeiro. Sintetizando:
Vida Consagrada é ter paixão por Jesus, assumindo plenamente sua missão que coincide com a
pregação e instauração do Reino. Tudo isso pode, à primeira vista, parecer bastante teórico.
Mas, na realidade, se trata de uma experiência de vida que dificilmente se deixa enclausurar
em palavras e raciocínios. Olhando a História da Vida Consagrada, vemos como este ideal
evangélico toma forma concreta e cativante em homens e mulheres de carne e osso, entre os
quais encontramos nossos próprios Fundadores. A Igreja necessita, sempre de novo, deste
testemunho de vida evangélica para recordar-lhe daquilo que é constitutivo na sua própria
vida e missão. Ao mesmo tempo a Vida Consagrada aponta pelo seu próprio ser ao “único
necessário”, às realidades definitivas, à vida “que não passa”. Esta dimensão escatológica
adquire em nossos dias uma importância excepcional no contexto de uma cultura do
“descartável”.
O específico do Irmão-religioso é que ele encara sua consagração como “plena em
si”. Entende sua opção (resposta existencial ao chamado divino) como uma realização cabal do
seu ser-cristão. Não vê necessidade de “completar” ou “aperfeiçoar” sua vocação com o
ministério ordenado (diácono ou presbítero). Prefere sua condição de “leigo (seu estar no
meio do Povo-de-Deus) — embora de forma específica, configurada pela profissão religiosa
dos três votos — servindo, em nome de Cristo, nos mais diversos setores da vida social, para
que neles o Reino se visualize e Deus seja conhecido e amado como sentido último da
existência. Uma nota característica do Irmão (“frater laikos”) é que não procura ter “status” na
Igreja ou na sociedade, evitando cuidadosamente o “fazer carreira”. Quer expressamente
ocupar um lugar de humilde serviço, inspirando-se diretamente no seu Mestre que disse de si
mesmo: “Não vim para ser servido mas para servir e dar minha vida em resgate de muitos” (Mt
20,28).
156
Vida da Congregação
A Caminho da AG – 2010
– Algumas interpelações –
Padre Getúlio Mota Grossi, C. M.
Esta reflexão é de importância capital, como se verá.
Estão em jogo nosso carisma, nossa identidade, nossa fidelidade
aos pobres, hoje: “Peço a Deus, todos os dias, duas ou três vezes
ao dia, que nos aniquile, se não formos úteis para sua glória”
(XI,2). A utilidade, vê-se pelo contexto, é a fidelidade aos pobres.
Na impossibilidade de um estudo mais amplo, anunciamos três
pontos importantes, mas trataremos mais especificamente do
segundo.
I - Situando o assunto do artigo
Atenho-me a algumas reflexões que julgo urgentes e
essenciais.
Na carta de 14 de abril de 2008 a todos os membros da Congregação, onde convoca a
próxima Assembléia Geral, nosso caro Superior Geral lembra o lema escolhido: “Mesmo depois de
350 anos – a Missão continua”. E acrescenta o tema: “Tendo em vista o Evangelho e sempre atenta
aos sinais dos tempos... a Congregação da Missão procurará abrir caminhos novos e empregar meios
adequados... de modo a permanecer em estado de renovação contínua” (CC, 2).
Este artigo das nossas Constituições é como um farol a iluminar nossas buscas. E a busca
fundamental, na linha do convite do Concílio Vaticano II que convoca a Vida Consagrada a uma sadia
volta às fontes (PC 2) vem expressa para nós, no parágrafo da carta do Padre Gregory, logo após o
anúncio do tema da Assembléia: “Nosso desejo é aprofundar-nos cada vez mais em nossa identidade,
à luz de nosso carisma que se expressa na Missão e através dela”.
Indica em seguida que o trabalho das Assembléias Domésticas “incluirá: uma avaliação de
nossa vivência do Documento Final da Assembléia de 2004, uma reflexão profunda sobre a
importância da formação inicial e permanente, como meio para bem definir nossa identidade; o
estudo continuado de nossos Estatutos”.
Nosso estudo se fixará, sobretudo, na reforma de nossos Estatutos, primeiro assunto
anunciado quando se falou da próxima Assembléia Geral. Mas as reflexões que tentaremos tecer
estarão intimamente ligadas e repercutem de modo direto e fundamental na questão da formação
inicial e permanente e, sobretudo, na fidelidade à nossa identidade e carisma.
II – Levantando alguns poucos artigos dos Estatutos e das Constituições com
incidência direta na meta da reforma dos Estatutos e nos outros itens acima citados.
Procuraremos ser bastante simples e diretos.
1- Partimos do primeiro artigo dos Estatutos: “Os trabalhos de atividade apostólica que, tudo
bem pesado, não mais parecem corresponder no presente à vocação da Congregação sejam pouco a
pouco abandonados”.
157
Olhando com atenção e consciência crítica para este artigo, parece que não podemos fugir às
seguintes constatações:
a) Na Assembléia de 1984,(sic), aconteceu na CM o despertar da consciência de que algumas
obras (“trabalhos de atividade apostólica”) não mais pareciam corresponder à nossa vocação,
portanto, à nossa identidade e carisma. De outra forma, não haveria razão para este artigo – por
sinal, o primeiro.
b) Há um convite ao abandono de tais obras, com prudência, mas com coragem e
generosidade, em vista da fidelidade.
c) Este artigo está em sintonia estreita com o artigo das Constituições, aduzido como tema da
Assembléia de 2010. Assinalamos neste último as idéias de “caminhos novos” e “estado de renovação
contínua”. E isto “em razão do seu fim”, “tendo em vista o Evangelho” e “atenta aos sinais dos
tempos”.
2- Alguns gargalos ou ambigüidades e aparentes contradições
a) O primeiro gargalo está no artigo 10, dos próprios Estatutos: o reconhecimento das
paróquias como “atividades apostólicas da Congregação”. Não há dúvida de que a Assembléia
esbarrou aqui com a situação ou o contexto concreto da Companhia em quase todo o mundo. Mais
tarde, o senhor Padre Mc Cullen, Superior Geral, traduzindo, cremos, a inquietação de muitos
coirmãos, levantou a estatística do número de paróquias da CM no mundo. Em Belo Horizonte, na
Paróquia São José do Calafate, ouvi dele a razão desta preocupação: “O ministério paroquial é um
trabalho pastoral muito válido e bonito, mas não nos dá fisionomia, não caracteriza nosso rosto
próprio de missionários vicentinos”. Padre Gregory tem expressado a mesma preocupação.
É verdade que o artigo tenta salvaguardar a nossa fidelidade, acrescentado algumas
condições: “apostolado exercido... concorde com o fim e a natureza do nosso instituto”, “paróquias
em grande parte constituídas realmente de pobres”. No terceiro ponto, quando trataremos dos
referenciais norteadores, voltaremos a isto com algumas reflexões visando esclarecer o que
chamamos de gargalo, ambigüidades e aparentes contradições.
b) O segundo gargalo está no número 11 dos Estatutos. Aqui entra tudo: “escolas de todo
gênero” (§ 2), “onde convivem jovens e adultos” (§ 2), “Escolas, Colégios, Universidades” (§ 3).
Aqui também aparecem algumas reservas, “tranqüilizantes” de consciência: “onde isto for
requerido para atingir o fim da Congregação”, essas instituições “recebam os pobres” (!), “conforme a
circunstâncias dos lugares” (!!!), “com o objetivo de os promover”, “e inspirar nos alunos o sentido do
pobre” – o que diríamos hoje: “formar agentes de transformação social”.
c) O terceiro gargalo, o mais importante e fundamental, a nosso ver, raiz de toda
ambigüidade e equívocos ou outros gargalos e incoerências, está no próprio artigo 1º das
Constituições, no parágrafo 3. Entre as atividades que realizam o fim da Congregação da Missão –
“Seguir Cristo evangelizador dos pobres” – se enumera a ajuda “aos clérigos e leigos na sua própria
formação e os levam a participar mais plenamente na evangelização dos pobres”.
Fica assim definido que o nosso fim se realiza também na formação dos leigos para a
evangelização dos pobres.
O artigo não especifica a que tipo de leigos se destina nossa atividade evangelizadora e
formadora, capaz de realizar o fim da Congregação: “Eu vim para anunciar o Evangelho aos pobres”.
Trata-se de leigos dos bairros nobres? De leigos das grandes paróquias centrais? De leigos da classe
rica ou média confortada? De leigos nas instituições de ensino, dos colégios “ricos”, aos quais aludia
São Vicente falando às Irmãs?
Como entender leigos neste parágrafo, para não burlar nossa vocação específica? Não
seriam leigos da classe pobre, do meio pobre, dos campos, do interior carente, das favelas e periferias
das cidades, no sentido de levá-los à consciência de que são cidadãos do Reino (Ef 2, 19), agentes de
sua própria libertação, atores na transformação social, participantes ativos e senhores de sua história
religiosa, espiritual, social e todas mais?
158
Os leigos das classes altas têm também direito ao anúncio do Reino, ao Evangelho. Mas há
quem o faça, que podem e devem fazê-lo, a quem Deus deu graça para isso (clero secular, outras
Congregações ou Ordens religiosas). Quanto a nós, a graça é a da evangelização dos pobres,
diretamente, na leitura que São Vicente fez para nós do projeto de Jesus: “Somos somente para os
pobres”1. O lugar de nossas atividades como comunidade, de nossas casas ou estabelecimentos, de
nossas obras, de nossa presença institucional (o que não exclui o trabalho e assessoria de algum
coirmão dotado junto à ONG(s) ou organismos onde se jogam os interesses e a causa dos pobres)
tem endereço próprio, tem lugar, tem clientes próprios, os pobres, nossa “herança”, “nossa partilha”
(VIII, 310)2.
Quem lê as cartas e conferências do Santo fundador não pode duvidar deste endereço, não
pode esquivar-se sem infidelidade ao nosso carisma, à nossa identidade original.
Fica evidente, cremos nós, a necessidade de um acréscimo esclarecedor ao termo leigo, no
primeiro artigo, parágrafo 3º, de nossas Constituições.
Tentemos, no último ponto de nossas reflexões, deixar algumas pistas de aprofundamento
da nossa reflexão, na linha de uma maior clareza em nossas opções de obras e trabalhos.
III – Três referências inspiradoras de nossa fidelidade criativa
Acreditamos que nossa fidelidade criativa ao carisma original e a nossa identidade se define
e se ilumina com três referenciais ou faróis para nossas opções de trabalho, que expressamos em três
interrogações latinas: “UBI sumus? QUOMODO sumus? UT QUID sumus?”, que traduzimos: ONDE
estamos? COMO estamos? PARA QUE FIM estamos?
Interessa-nos desenvolver, embora resumidamente, a primeira pergunta, porque é
fundamental, é essencial para nós, sem tirar o valor das outras. A resposta é o caminho para
desatar os nós, para desfazer os gargalos de nossas próprias Constituições e Estatutos, os
equívocos possíveis a partir da falta de maior precisão dos textos constitutivos.
Onde estamos?
O que já comentamos a respeito dos artigos das CC e EE pertinentes a este assunto já
nos fornece pistas seguras e orientadoras.
É vão qualquer esforço de fidelidade ao carisma, é ilusória qualquer procura de
identidade vicentina, sem enfrentar, em primeiro lugar, com sinceridade e verdade, esta
pergunta.
a) Estamos nas áreas realmente pobres, carentes de clero, de presença evangelizadora
e missionária, nos campos, no interior pobre, nas periferias da cidade?
Evidentemente, não se trata forçosamente de presença física e geográfica, embora
esta seja de um valor evangélico inestimável. Trata-se da presença apostólica e missionária,
não somente eventual, mas com caráter oficial, jurídico, institucional. Os primeiros
missionários, no tempo do Santo fundador, não moravam geralmente nos campos, mas em
São Lázaro ou em outros estabelecimentos nas cidades. Mas o lugar de trabalho, os clientes,
eram, é preciso frisar, institucionalmente, os pobres do campo. Não há, nos tempos de São
Vicente, história de casa ou estabelecimento com finalidade de trabalho e presença
missionária institucional nas cidades (VII, 215). Eram lugares de descanso, após os trabalhos,
pontos de partida para as missões nos campos: “Saí, missionários, saí. Como? Estais ainda
aqui? Eis os pobres que vos esperam!” (XI, 134).
Qual seria o motivo hoje, para mudar nosso lugar e nossos clientes?
1
Cf. GROSSI, Getúlio Mota. Um místico da Missão, Vicente de Paulo. Contagem: Santa Clara, 2001. p.
65, n. 4.4.3.
2
Cf. GROSSI. Um místico da Missão, Vicente de Paulo, p. 65-72.
159
b) Uma questão de nome pouco relevante: onde estivermos, por mais pobre que seja a
região, o lugar, o território missionário, nossos pastores certamente farão questão de uma
referência paroquial: Paróquia São José de Carinhanha, Paróquia São José Operário da Serra do
Ramalho, Paróquia N. Sra da Conceição de Badaró, Paróquia do Pai Misericordioso, etc. No
caso aqui, o nome é pouco relevante. O importante é o lugar desta “Paróquia”, a área
ocupada, a carência espiritual e material, a carência de clero local disponível e disposto ao tipo
de trabalho missionário: atividade, por definição, centrífuga, exógena, “exótica” (de êxodo,
inspirado no êxodo de Jesus – “Saí do Pai e vim ao mundo” (cf. Jo 16,28; 17,8; 16,30; 13,3). São
Vicente intuiu e assumiu esse êxodo de Jesus para nós, como já citamos acima: “Saí,
missionários”.
c) É nesses lugares, junto a esses clientes, que temos graça para o intenso trabalho de
evangelização, de anúncio e denúncia proféticos, de formação da consciência crítica, de ajuda
ao pobre para aceder à autoestima, como agente de sua própria história, para se sentirem,
repetimos, não como “estrangeiros e hóspedes”, mas como cidadãos atores e cidadãos do
Reino, primeiros protagonistas de sua própria libertação, agentes de transformação social,
econômica e política. Tratar-se-á então de uma Missão-paróquia, mais do que simples e
tradicional paróquia, mais do que Paróquia-missão (que distância das “matrizes” absorventes e
centralizadoras, dos movimentos centrípetos ou de busca de salvação apenas individual, das
desobrigas ocasionais, num determinado ponto, para desencargo pastoral e mera
sacramentalização!).
d) Que tal igualmente nossa colaboração no ensino, na direção espiritual ou mesmo na
direção administrativa e jurídica, se a isto formos convidados, de Seminários Maiores no meio
rural ou nas periferias, como, por exemplo, o Seminário de Araçuaí, formando padres
humildes, mas competentes, não para o asfalto das grandes cidades, mas para as humildes
paróquias do meio rural ou para as áreas pobres das periferias. Infelizmente, não nos sobra
tempo para desenvolver o “Como estamos” e o “Para que fim estamos”. O primeiro
certamente decorre do que foi meditado em nosso retiro, o segundo já está embutido nas
reflexões anteriores.
Conclusão
A responsabilidade de todos nesta hora crucial, a sensibilidade vicentina no coração de
cada um corrija, complete e aprimore a reflexão anterior, alinhavada sob pressão da urgência,
interrompendo nossos trabalhos, também urgentes, em vista da publicação de alguns volumes
dos escritos de nosso Santo Pai nos 350 anos do seu nascimento para o céu.
160
Vida Fraterna
A Vida Fraterna em Comunidades
Pequenas Reflexões – III
“Cá Dentro”
Pe. Alex Sandro Reis, C. M.
O então Superior Geral, Robert Maloney, ao refletir
sobre a Vida em Comunidade, apontou algumas pistas que,
bem vivenciadas, fariam da vida comunitária a realização do
desejo de São Vicente de Paulo: “Todos bem unidos... pela
caridade de Jesus Cristo”.
Refletindo sobre as mudanças que chegam dentro da
nossa casa, queria fazer uma pequena contribuição a partir
dos “cinco momentos da comunidade”, escritos pelo nosso
coirmão, Pe. Maloney.
Eis aí algumas curiosidades:
 As refeições – Espera-se que em torno da mesa e diante de comidas saborosas, sejam
entremeadas por conversas descontraídas, aliviando o peso cotidiano do apostolado e
aproximando Coirmãos pelas partilhas, simplicidade e gratuidade. Mas nem sempre é assim.
Há casos de Coirmãos, com propósito de vida em comum, que não conseguem sentar-se
juntos em torno da mesa. Vários são os “motivos”: divergências, a correria das atividades
diárias, o mau humor, compromissos paralelos e por aí vai. Há situações, também, que o clima
em torno das refeições, que deveria de congraçamento, mais parece um velório anunciado,
pois o ambiente é pesado, os diálogos são travados.
 A oração – Infelizmente, não é uma surpresa perceber que o mundo vai perdendo o gosto pela
oração. Esse esquecimento vai chegando “cá dentro”. Às vezes, elas se tornam mecânicas,
quase que obrigatórias. Parece que o apostolado vem em primeiro plano.
 O descanso/ lazer – se, até pouco tempo, o descanso era movido por saborosas conversas,
hoje se percebe que, em alguns lugares, há um deslocamento. Enquanto coletivo, a
comunidade reúne-se, muitas vezes, em torno de uma televisão. As conversas brotam de um
intervalo e outro. São conversas rápidas, até iniciar o programa. Uma curiosidade que não se
pode deixar de lado é um elemento potente nas mãos erradas: o controle remoto. Mal usado,
o controlador acessa canais em fração de segundo. Uma atividade que seria coletiva perde a
essência. Um grupo de pessoas que assistem a programas que o controlador quer. Há outra
forma de descanso/ lazer: o acesso à internet. Com o advento da internet, já está caindo em
desuso a roda de amigos que se querem bem. Se, por um lado, a internet, acessada de forma
exarcebada, leva a uma individualização, minando a possibilidade de atividades recreativas em
comum, por outro lado, há um enfraquecimento dentro da vida comunitária. O internauta
isola-se de um todo para buscar a sua satisfação pessoal.

As reuniões – Pressupõe que as reuniões deveriam ser bem aprofundadas, pois para o coletivo
chegar a um ponto comum e a uma decisão comum, além de não ser uma tarefa fácil, torna-se
um processo longo e desgastante. Um desgaste, que bem trabalhado, leva a decisões
acertadas, por um lado; e, por outro, a comunidade amadurece a sua vocação. Percebe-se
muitas vezes, que as reuniões além de serem rápidas, perdem em conteúdo e debates. Para
161
não perder tempo, elas são feitas durante o café, o almoço e o jantar. Os grandes temas,
enquanto Congregação, e fora (sociais, teológicos, morais), vão perdendo o vigor. As chamadas
“bandeiras” ou “grandes debates” vão ficando guardados no tempo.
 O apostolado – Percebe-se que há uma individualização crescente neste ponto. Se não há
reuniões mais aprofundadas, não haverá partilhas, nem colaborações coletivas. Muitas vezes,
coirmãos tem que adivinhar o que pensa aquele que está à frente da obra. A obra se torna um
trabalho pessoal de um Coirmão e não de uma equipe.
Dentre essas e outras “curiosidades” vem uma instigante pergunta: O que fazer?
Família Vicentina
A Família Vicentina e a Mudança de Estruturas no Brasil
Denilson Matias, C. M.
Aconteceu, entre 10 e 14 de junho, em
Brasília (DF), o XI Encontro Nacional da Família
Vicentina, cujo tema foi: “A Família Vicentina e a
Mudança Sistêmica no Brasil”. Este encontro, realizado
em nível nacional, foi uma “quase repetição” do
Encontro Latino-Americano da Família Vicentina
(FAVILA), que aconteceu no México, em janeiro de 2009, e que contou com uma
representação brasileira: Ada Ferreira, Nelson e Christian, da Sociedade de São Vicente de
Paulo, Irmã Heloísia, F. C., e Padre Mizaél Pugioli, C. M..
Por que um encontro só para o Brasil? Visto que, para o México, os países latinoamericanos deveriam enviar representações, devido ao espaço pequeno e ao grande número
de participantes da América Latina, e que o Brasil é um país muito extenso, foi pensado
realizar um encontro sobre a Mudança de Estruturas em nível nacional, para que o conteúdo
do encontro fosse bem difundido em solo brasileiro.
O Encontro Nacional da FV do Brasil contou com a assessoria dos seguintes
integrantes da Comissão para a Promoção da Mudança de Estruturas: Patrícia Nava (AIC), do
México; Uca Gonzáles (AIC), espanhola residente nos E.U.A.; Pe. Manuel Ginete, C. M.,
representante do Superior Geral junto à FV Internacional; e Pe. Pedro Opeka, C. M., argentino,
descendente de eslovenos e, há mais de quarenta anos, missionário em Madagascar, onde
desenvolve um projeto de Mudança de Estruturas chamado Akamasoa.
O Encontro tratou do tema Mudança Sistêmica que, para alguns, pode ser termo
novo. Mudança Sistêmica é mais que uma mudança de estruturas, pois as estruturas (que têm
seus sistemas de condução) fazem parte de um sistema maior que as engloba. Um sistema (do
grego σύστημα) é um conjunto de elementos interconectados, de modo a formar um todo
162
organizado. Todo sistema possui um objetivo geral a ser atingido. O sistema é um conjunto de
órgãos funcionais, componentes, entidades, partes ou elementos. A boa integração dos
elementos componentes do sistema determina que as transformações ocorridas em uma das
partes influenciem todas as outras. Estrutura é uma noção fundamental e, às vezes, intangível,
cobrindo o reconhecimento, observação, natureza e estabilidade de padrões e
relacionamentos de entidades. O conceito de estrutura é uma fundação essencial de
praticamente todos os modos de inquisição e descoberta na ciência, filosofia, e arte3. Uma
estrutura define de que um sistema é feito. É uma configuração de itens. É uma coleção de
componentes ou serviços inter-relacionados. A estrutura pode ser uma hierarquia (uma
cascata de relacionamentos um-para-vários) ou uma rede contendo relacionamentos váriospara-vários. Por isso, a Mudança de um Sistema é mais ampla que uma mudança de uma
estrutura, pois a estrutura é parte do sisteNa. [nota do Revisor: No Brasil, estamos usando as
expressões Mudança de todo um sistema de estruturas, Mudanças de Estruturas ou Mudanças
Estruturais. Não é mudança de uma única estrutura].
Através de dinâmicas, palestras e testemunhos de projetos de Mudança de
Estruturas, a Comissão Internacional contou com o apoio da Equipe Nacional da Família
Vicentina para dar a conhecer o projeto e fazê-lo compreensível e acessível no que se diz
respeito à sua possível execução no Brasil. Ao final do Encontro, penso que tenha ficado claro,
pelo menos para a maioria, o que significa a Mudança de todo um Sistema de Estruturas.
Esta mudança significa uma nova forma de compreender e viver a atenção ao
necessitado. Modificar, mudar, transformar o sistema (nosso sistema de pensamento e o
sistema social), nossa maneira de ver, compreender e apoiar as pessoas que se encontram em
situações de pobreza. Mudar ou transformar não é o mesmo que se modernizar; não é estar
mais de acordo com as novas de filosofia, sociologia(s)
ou com os meios de comunicação a que temos acesso
hoje. Trata-se de uma mudança que parte do
Evangelho e da tradição vicentina e a eles regressam.
É voltar ao núcleo essencial da mensagem de Jesus
Cristo, compreendida por São Vicente de Paulo, e
reconfigurar o nosso programa, nosso modo de ação e
práxis evangélica. A Mudança Estrutural começa no
indivíduo, é algo que nasce dentro de cada um. A partir do momento em que começarmos
este processo de transformação, de conversão pessoal e radical, certamente teremos
condições de influenciar o sistema em que nos toca viver, pastoralmente, e olhá-lo com os
olhos de Jesus Cristo. Nossas instituições devem deixar-se tocar pelo amor misericordioso e
compassivo de Jesus Cristo evangelizador dos Pobres para que possamos ir além dos muros de
nossas casas e escritórios, para que a mudança seja possível e aconteça nos sistemas de morte
e opressão tão conhecidos por nós.
Já não podemos apoiar os Pobres somente com atos de assistencialismo social, já
não podemos sustentar a idéia de que somente com obras de evangelização (de puras
palavras) realizaremos o projeto de Cristo. Devemos criar laços, aproveitar as possibilidades de
trabalho em conjunto, inclusive por fora da Igreja, e ir além de pequenos projetos de
3
Cf. Pullan, Wendy. Structure. Cambridge.
163
promoção social (que muitas vezes favorecem a poucos) para construir projetos de vida nova
para comunidades que vivem em vias de morte, fome, falta de trabalho, enfermidades, drogas,
alcoolismo, prostituição, falta de acesso a meios educativos, etc.
Enfim, a Família Vicentina do Brasil,
representada por diversos ramos de muitas partes
do país, se reuniu para compreender que: a
Mudança
é
possível!
Podemos
levantar
comunidades caídas e fazer que as pessoas sejam
capazes de mudar, transformar o seu lugar de
origem. Os pobres são os responsáveis pela
mudança, os personagens principais, nosso papel é estar com eles, dar-lhes assessoria,
conseguir-lhes meios para que eles sejam capazes de realizar o projeto de Mudanças
Estruturais. O princípio, podemos dar o peixe e, quando estejam alimentados, ensinamos a
pescar. Por detrás de tudo isso, não se pode perder o ponto místico de nosso trabalho, o que
fazemos é apostolado, não uma obra pela obra. O que fazemos deve ter princípios evangélicos
e as Mudança Estruturais são algo evangélico, isto é, consistem em apresentar a Palavra como
fonte de vida (no seu aspecto mais concreto e prático) para aqueles que não têm mais utopias
e esperanças em meio à falta de opções para sua realização pessoal e humana.
Os que se interessem por conhecer mais a fundo o projeto de Mudança dos Sistemas
de Estruturas no Brasil entrem em contato com a Equipe Nacional da FV ou de seu regional e
fiquem atentos aos encontros que serão realizados por núcleos para transmissão do projeto.
Vale a pena inovar, vale a pena abrir-se ao novo e acreditar que a Mudança de Estruturas é
possível.
Formação dos Nossos
Encontro Interprovincial de Formadores
De 6 a 10 de julho de 2009, na esteira do projeto
da Conferência Latino-Americana de Províncias Vicentinas
(CLAPVI), realizou-se o Encontro Interprovincial de
Formadores, no Seminário Nossa Senhora das Graças
(Curitiba-PR), reunindo dez coirmãos das Províncias de
Curitiba e do Rio de Janeiro. De nossa Província,
participaram: Pe. Juarez Carlos Soares, Pe. Luiz Roberto
Lemos do Prado, Ir. Luís Carlos do Vale Fundão e Ir.
Vinícius Augusto Ribeiro Teixeira. A assessoria esteve a
cargo do Prof. Dr. José Lisboa Moreira de Oliveira, da Universidade Católica de Brasília, que discorreu
magistralmente sobre o tema: A Dimensão Antropológica do Processo Formativo.
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Inicialmente, houve um sucinto levantamento das expectativas dos participantes, sintetizadas nos
seguintes eixos: a) confronto entre os valores trazidos por cada formando e os valores objetivos da Vida
Consagrada; b) relação entre o permanente e o transitório no processo formativo; c) maturidade afetivosexual; d) conciliação entre determinadas particularidades antropológicas e as exigências constitutivas da
vocação específica; e) acolhimento respeitoso e atento da história de cada vocacionado; f) eficácia da
formação para a missão; g) critérios para o discernimento vocacional. Depois, o assessor apresentou alguns
desafios atuais para a formação, dividindo-os em cinco categorias: cultural, antropológica, teológica, espiritual
e eclesiológica. O segundo dia foi dedicado à reflexão sobre a visão cristã de pessoa humana, definida por
sua abertura em relação a Deus, às outras pessoas e ao mundo. Toda pessoa é chamada a integrar todas as
suas dimensões e potencialidades em vista do desenvolvimento de sua liberdade e de sua realização no
amor. Em seguida, foram consideradas as etapas do gradual desenvolvimento humano. Com efeito, no
processo formativo, uma visão psicológica da personalidade humana é sumamente importante para um
sadio equilíbrio daqueles que um dia terão a responsabilidade de animar o Povo de Deus. No terceiro dia,
foram trazidos à baila os conteúdos do “eu”. Na perspectiva da antropologia cristã, a autenticidade
vocacional corresponde aos valores, necessidades e atitudes cultivados pela pessoa que se reconhece
chamada. O desafio que se impõe aos formadores consiste em ajudar os jovens a orientar todas essas
dimensões no horizonte da opção vocacional. A estrutura psicológica da vocação foi apresentada no quarto
dia, alertando-nos para a existência de predisposições que podem favorecer ou não um progressivo
discernimento e amadurecimento vocacional. O último tema abordado foi a maturidade humana,
entendida como condição de possibilidade de uma adequada correspondência ao dom da vocação. Trata-se,
portanto, de um processo, no qual o ser humano desenvolve suas habilidades, integra as dimensões
constitutivas da sua personalidade, tornando-se uma “pessoa perfectível”.
Das temáticas apresentadas, resultam muitas esperanças, inquietações e desafios, dentre os quais: a)
uma visão integral do ser humano que compreenda corpo, alma, espírito e fragilidade, já que, na formação,
uma visão dualista e maniqueísta, que separa e despreza, não tem nenhum fundamento teológico; b) a
antropologia vocacional precisa cuidar de cada pessoa como “história encarnada”, reconhecendo que o
crescimento e a integração requeridos pelo processo precisam de “tempo justo”; apressar ou congelar esse
tempo pode ser problemático; c) a dimensão antropológica da vocação, como as demais, é delicada: exige
muito discernimento e cuidado; ela tem, como as demais, um aspecto ético, podendo apresentar efeitos
positivos ou negativos, ou seja, desestruturar a pessoa ou ajudá-la na sua integração; d) cuidado com a
“dimensão política” da formação, de tal maneira que ela não seja refúgio, mas libertação para pessoas
adultas; e) a antropologia vocacional é essencial para a formação de homens maduros, livres e generosos no
serviço pastoral; f) necessidade de uma autêntica espiritualidade cristã, pautada no seguimento de Jesus,
como pressuposto indispensável de uma opção madura por uma determinada vocação específica; g)
salvaguardando o respeito à legítima diversidade de interpretações, há que se manter um consenso mínimo
entre todos aqueles que têm a missão de acompanhar de perto o processo formativo, sobretudo no que diz
respeito ao essencial da experiência cristã, da Vida Consagrada e da identidade da Congregação.
Os últimos momentos do Encontro foram reservados à avaliação. Os participantes reconheceram
unanimemente a notável relevância do tema abordado, a incontestável competência do assessor e o
empenho dos Coirmãos encarregados da preparação. Lamentamos profundamente a ausência da Província
de Fortaleza. O próximo encontro está previsto para os dias 5 a 9 de julho de 2010, na Província do Rio de
Janeiro, tendo como horizonte a Dimensão Espiritual, numa perspectiva cristã e vicentina.
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Animação Vocacional
ESTÁGIO VOCACIONAL
“Se é verdade que somos chamados a levar para longe e perto o amor de Deus, se
devemos com ele inflamar as nações, se temos a vocação de ir acender este fogo divino pelo
mundo afora, quanto mais devo eu mesmo arder neste fogo divino”
São Vicente de Paulo
Caríssimo Coirmão, saudações vicentinas!
A Igreja propõe-nos uma belíssima
caminhada espiritual nos próximos três meses.
Rezaremos o CHAMADO, a PALAVRA e a MISSÃO. O
Deus da Vida e Senhor da História chama-nos (mês
de agosto), de modo especial e em sua bondade, à
existência. E pela nossa vida somos convocados ao
serviço a todos os nossos irmãos e irmãs. Por ele nos
chamar, vai nos falar (mês de setembro – Palavra de Deus). E, ao caminharmos na vontade e
Palavra do Senhor, somos enviados em missão para construir seu reinado (mês de outubro –
missão).
Pelo nosso batismo (respondendo ao chamado cristão), recebemos a tarefa de
anunciar a Boa Nova do Senhor. Tornamos-nos homens e mulheres da Palavra. Com nosso
crescimento humano e espiritual, podemos abraçar, na vida adulta, com responsabilidade e
felicidade, a nossa vocação, consagrando tudo o que somos ao serviço da Igreja e do povo de
Deus. O que deve ficar forte em nosso íntimo, independente do estado de vida, é a consciência
que a nossa missão é a missão do próprio Filho de Deus;
por isso somos chamados. Em sua oração, Jesus fala:
“Consagra-os com a verdade: a verdade é a tua Palavra.
Assim como tu me enviaste ao mundo, eu também os
envio ao mundo. Em favor deles eu me consagro, a fim de
que eles sejam consagrados com a verdade” (Jo 17,11-19).
Constantemente, em nossa realidade, Deus está nos
chamando e nos enviando.
Para ajudar a responder ao apelo do Senhor, de modo especial os jovens, tivemos a
presença de quinze vocacionados em nosso primeiro Estágio Vocacional. Por ser o primeiro,
este encontro tem mais o aspecto da formação humana, ajudando a dar passos maduros na
opção de vida. Continuaremos no próximo semestre, agora já conhecendo melhor cada
pessoa, o discernimento vocacional. Somente no último encontro o jovem é convidado, com a
ajuda da equipe do SAVV, a dar uma resposta de vida. O estágio foi marcado por uma
profunda espiritualidade vicentina, alegria e disposição dos jovens, um bom entrosamento da
equipe do SAVV, uma calorosa acolhida do Instituto São Vicente de Paulo e por uma mística
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significativa do chamado do Senhor. Mística esta que faz com que vocacionados e animadores
vocacionais se sintam reforçados e animados na intimidade do chamado do Senhor da Messe.
O que pretendemos com o nosso trabalho? E para colaborar no processo vocacional,
para que convidamos, de modo especial, a cada Coirmão? Caríssimos missionários vicentinos,
em sua obra/missão vocês são convidados a “cuidar do surgimento, discernimento e
acompanhamento das vocações. Ação vital de cada comunidade cristã em favor das vocações,
para que a Igreja seja edificada segundo a plenitude de Cristo e conforme a variedade dos
carismas do seu Espírito. Partilhar e divulgar o carisma de São Vicente de Paulo, através das
atividades do Serviço de Animação Vocacional, da mútua colaboração entre as Irmãs (Filhas da
Caridade), Padres e Irmãos (Congregação da Missão) e outros ramos da Família Vicentina.
Promover as vocações de especial consagração como Padre ou Irmão Vicentino, investindo em
atividades que diretamente convidam – chamam – apelam a todos, mas de modo particular
aos jovens, para uma entrega generosa a Deus no serviço aos Pobres, segundo o carisma
vicentino” (Planejamento do SAVV). De modo geral, trabalhamos para que nossos jovens
sejam felizes e tenham uma verdadeira realização humana dentro do serviço ao Reino do
Senhor. Possam, com coragem e autenticidade, levar a alegria e o entusiasmo da mensagem
da Boa Nova.
Jovem, “venha e veja”!
Seja um Missionário Vicentino.
SERVIÇO DE ANIMAÇÃO VOCACIONAL VICENTINA
Caixa Postal 508 Cep.: 30161-970 BH/MG
Tel.: (31) 3491-8037 / 9142-8997
e-mail: [email protected]
Deixo meu abraço fraterno,
Pe. Osmar Rufino Dâmaso, C. M.,
Coordenador Vocacional
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Na Missão do Céu
1. Pe. Dásio Moura Chaves, C. M.
Aos 95 anos de idade, com 77 anos de Vida Consagrada e 68 anos de sacerdócio, foi
chamado para a Casa do Pai.
Pe. Dásio nasceu em Campina Verde – MG, em 01/09/1914. Filho de Antônio José de Moura
e Maria Cândida de Freitas Chaves. Saiu de sua terra para estudar no célebre Colégio do Caraça - MG.
Uma paisagem bem diversa das planícies do Triângulo Mineiro. Sentia-se, no início da carreira
seminarística, sufocado pelas altas montanhas do coração de ferro das Gerais, onde estava
incrustado o nobre Santuário, de onde já saíra seu tio, Bispo de Joinvile - SC. Passou momentos de
angústia, mas venceu todo aquele empecilho. Concluído o curso de Humanidades, foi para Petrópolis
- RJ, onde fez o Noviciado e os estudos de Filosofia e Teologia de 1932 a 1940, sendo ordenado
sacerdote por Dom José Pereira Alves. Seu primeiro campo de atividades foi a Escola Apostólica de
Irati - PR – professor de várias matérias. No início de 1949 é colocado no Santuário São Vicente de
Paulo, em Moinho Velho de Ipiranga – SP. No meio do ano é mandado para Diamantina – MG, como
missionário de 1949 a 1953. Transferido para o Calafate – MG em 1953-1958. Retorna a Diamantina
até 1960, quando regressa ao Calafate como Pároco e Superior da Casa de 1961 a 1967. Nomeado
Capelão do Santuário do Matoso – RJ, auxilia a Paróquia de Paraguaçu Paulista – SP em 1970, retorna
ao Santuário do Rio. Passa 1971 no Calafate - MG. Compõem o grupo missionário do Triângulo
Mineiro com sede em Campina Verde percorrendo Limeira do Oeste - MG, Carneirinho – MG,
Iturama - MG, Campina Verde - MG. Em 2007, já carregado de anos e méritos, vem para a Casa Dom
Viçoso – BH, para cuidar da saúde, até ser chamado pelo Pai em 05/08/2009. Era uma bela figura.
Vigoroso, alegre e jocoso. Com voz de trovão e de fácil acolhimento, retrato perfeito do Missionário
popular. Piedoso e devoto do terço da Virgem Maria, rezava o rosário cada dia e outros tantos
terços, pois não conseguia ler o breviário, mas fazia questão de acompanhar as preces da
comunidade. Enchia a Casa com seu modo afável e alegre de viver e ser.
Descansa em paz – na sepultura do Bonfim – BH – Campa da Congregação da Missão.
Repouso eterno pelo bem que espalhou.
Pe. Célio Maria Dell’Amore, C. M.
2. Pe. Sebastião Agatão Dias, C. M.
Piedosamente, faleceu no Hospital Madre Teresa, em Belo Horizonte. No dia 13/08/09.
Nascido no Serro – MG, em 10/01/1922. Filho de Francisco Bento Dias e Mariana Evangelista de Souza.
Feito o curso primário em sua terra natal, matriculou-se no Seminário de Diamantina - MG em 1935.
Transferiu-se para o Caraça, onde completou o curso de Humanidades de 1936 a 1940. Concluída esta
etapa, ingressou no Noviciado da Congregação da Missão, em Petrópolis – RJ de 1941 a 1948, quando
foi ordenado Padre por Dom Manuel Pedro Cunha Cintra em 26/09/1948, sua primeira turma de
ordenação.
Sua primeira colocação foi no Seminário da Prainha – Fortaleza – CE, de 1949 a 1957. No início
de 1957 foi colocado em Petrópolis como Prefeito de Estudos e Professor de Sagrada Escritura. Em
1958, foi trabalhar em Diamantina – MG. Retorna a Petrópolis como Superior e professor em 1959. Em
1963 volta para Prainha – Fortaleza como Superior e Professor. Em 1964, foi professor no Colégio São
Vicente.
Já em 1967 vamos encontrá-lo em Munique – Alemanha, num curso de especialização bíblica.
De 1968 a 1970, foi superior do Seminário São Vicente de Paulo em Petrópolis. De 1971-1977 é o
diretor das Filhas de Caridade de São Vicente de Paulo em Recife – PE. Volta para o Rio de Janeiro, em
1977 e é eleito Vice-Provincial e nomeado Superior da Casa Central. Em 1980 está em Brasília. Veio em
1984 para o Calafate – BH como Vigário Paroquial, dando generosa, assistência a três Comunidades,
Maravilhosas, Araçai e Alvorada de Minas, com zelo apostólico e pontualidades admiráveis.
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Como bom mestre em Sagrada Escritura, dominava ele as línguas: hebraica, grega, latina além
de alemã, francesa, italiana e espanhola. Era exímio mestre de português. Quem via aquela figura frágil
e com forte deficiência visual pouco poderia aquilatar o real tesouro de cultura que vinha escondido em
tão simples figura.
Em 2008, já bastante debilitado, recolhe-se em tratamento na Casa Dom Viçoso para cuidar da
saúde. As forças mínguam. Hospitalizado no Madre Teresa, reconfortado com todos os sacramentos e
muito bem assistido pelos Coirmãos e pelo Corpo Hospitalar, volta para o seio do Pai, carregado de 87
anos e muitas e admiráveis boas obras, como servo fiel e prudente. Repousa na Campa da
Congregação da Missão no Cemitério do Bonfim.
Requiescat in Pace!
Pe. Célio Maria Dell’Amore, C. M.
NOTÍCIAS
ORDENAÇÃO PRESBITERAL
O último 27 de junho foi um dia muito
especial para toda a Província Brasileira da
Congregação da Missão e para a Comunidade
Paroquial São José de Carinhanha. O encerramento
do Ano Paulino e o lançamento do Ano Sacerdotal,
pelo Santo Padre o Papa Bento XVI, abrilhantaram
ainda mais o acontecimento: a Ordenação
Presbiteral do Diácono Deoclides Magalhães
Rodrigues, C. M. A celebração foi presidida por
nosso caríssimo bispo, Dom José Valmor César
Teixeira, SDB, e contou com a presença do Visitador, Padre Agnaldo de Paula, de vários
Coirmãos e sacerdotes da Diocese de Bom Jesus da Lapa e de outros lugares. Desde cedo,
houve grande movimentação na paróquia, com a celebração do tríduo vocacional em todas as
comunidades, promovido pela Equipe de Animação Vocacional da PBCM, com o auxílio dos
Coirmãos, equipes, pastorais e movimentos envolvidos neste grande evento de puro dom e
generosidade de Deus para com a sua Igreja e a Congregação da Missão.
Nas comunidades rurais, houve uma intensa e fervorosa oração dos simples e
humildes fiéis camponeses. Muitos irmãos e irmãs vindos de várias cidades, como Belo
Horizonte e Brasília, tornaram a celebração mais bela e fecunda com seu entusiasmo e
participação.
Foi uma belíssima celebração, animada pelo coral composto de três grupos da Matriz:
Ministério de Música Ágape da RCC, Coral Sagrado Coração de Jesus e Jasfa, e acompanhada
por uma multidão entre amigos e familiares de Deoclides, vindos de várias cidades e de
diferentes estados. Participaram da Santa Missa de forma espetacular, respeitando cada rito,
cada gesto e o silêncio próprio da liturgia. Há tempo, não se via uma participação tão
harmoniosa, sem ruídos litúrgicos e, mais ainda, uma consonância entre o presidente da
celebração, coral e assembléia. Foi uma verdadeira “Jerusalém Celeste” antecipada.
Após a celebração, um jantar de confraternização foi oferecido, no qual este humilde e
querido “bom baiano”, Padre Deoclides, pôde receber os abraços de amigos, familiares,
169
coirmãos e autoridades civis e religiosas. Dessa forma, encerrou-se esta noite tão brilhante,
festiva e especial para o Padre Deoclides, neo-sacerdote da Igreja de Nosso Senhor Jesus
Cristo.
Por fim, sob a intercessão de nossos “Pais-Fundadores”, São Vicente de Paulo e Santa
Luísa de Marillac, e sob o olhar materno e amoroso de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa,
mãe singular da Congregação da Missão, pedimos as bênçãos abundantes para que o Padre
Deoclides permaneça fiel ao seguimento de Nosso Senhor Jesus Cristo e ao carisma vicentino
e, como discípulo missionário, “despojado de si mesmo, de suas comodidades e dos bens
terrenos”, ponha-se sempre em missão, para evangelizar e servir os pobres, nossos “patrões e
senhores”, porque no coração dos pobres está “o silêncio de Deus”.
Portanto, na mesma fé, na esperança que não nos decepciona nunca e na caridade
libertadora, a PBCM, a Comunidade Missionária de Carinhanha e toda a Paróquia São José se
alegram com tão precioso dom de Deus: a vida do Padre Deoclides Magalhães Rodrigues.
Roguemos, pois, a Deus, neste tempo propício em que o Papa Bento XVI lança o Ano
Sacerdotal, cujo tema é “Fidelidade de Cristo, fidelidade do Sacerdote”, que o Senhor envie
bons operários à nossa Igreja, à nossa “Pequena Companhia”, “não importa se em pequeno
número, contanto que sejam bons” e fiéis ao carisma vicentino, pois “Nosso Senhor pede que
evangelizemos os pobres; é o que Ele fez e quer continuar fazendo por meio de nós” (SV XII,80).
Paulo Velozo (2º ano Propedêutico – Carinhanha-BA)
PARTICIPAÇÃO EM EVENTOS ECLESIAIS
a) Assembleia Nacional de Presbíteros, Bispos e Diáconos Negros
Desde 1988, vem sendo organizado o IMA (Instituto Mariama), organismo que articula
as Assembleias dos Bispos, Presbíteros e Diáconos Negros no Brasil, que se reúnem a cada
ano, alternadamente, em alguma cidade do país. Neste ano de 2009, a cidade de Registro – SP
sediou a XXI Assembleia do IMA, nos dias 27 a 31 de julho, sob a temática dos Quilombolas:
“QUILOMBOS, TERRA DE DEUS”. O Pe. Luiz Roberto marcou presença em nome da PBCM. Tal
região foi escolhida por sediar 67 quilombos dentro da área da Diocese de Registro, sendo que
a concentração dos mesmos fica na área denominada “Vale do Ribeira”. Esta assembleia foi
também eletiva, constituindo uma nova Diretoria para o IMA para os próximos 2 anos. Desta
Assembleia, participaram por volta de 50 ministros ordenados. A próxima Assembléia do IMA
será sediada em Mariana – MG, no final do mês de julho de 2010. A XXI Assembleia do IMA
produziu dois documentos importantes: A Mensagem Final do Encontro e uma Carta aos
Quilombolas do Brasil.
Mensagem Final da XXI Assembleia da Associação dos Bispos,
Presbíteros e Diáconos negros do Brasil
Nós, Bispos, Presbíteros e Diáconos negros, reunidos em Assembléia
anual, na cidade de Registro, São Paulo, de 27 a 31 de Julho de 2009, refletimos
o tema: “Quilombos, Terra de Deus!” (Cf. Dt. 26,5-9). Iniciamos nosso encontro
com uma fraternal celebração eucarística, presidida pelo Bispo de Bagé, D. Gílio
Felício. No dia seguinte, sob a assessoria de Dora Lúcia de Lima Bertúlio, da
Fundação Palmares, fizemos uma reflexão a respeito das Leis brasileiras em
relação ao povo negro do Império até os dias atuais. Constatamos que houve
170
pouca alteração na situação do povo negro no Brasil, frente às leis e
oportunidades sociais. No Brasil se encontram ainda muitas terras de quilombos,
sem o devido reconhecimento. Na Diocese de Registro, por exemplo, existem
hoje 67 comunidades quilombolas, sendo que 6 são reconhecidas e tituladas; 10
comunidades já reconhecidas como quilombos, mas que aguardam o titulo da
terra; 13 comunidades que estão na fase final de reconhecimento; 28
comunidades apenas estão Identificadas; 9 Comunidades para serem
identificadas; um número significativo de comunidades de Terras de Quilombos
que ao longo de muitos anos vem lutando pela titulação e reconhecimento destas
terras. Em seguida, representantes do Centro de Articulação de Populações
Marginalizadas (CEAP) comunicaram-nos a respeito de um movimento pela
liberdade religiosa, que ocorrerá na cidade do Rio de Janeiro no dia 20 de
Setembro de 2009, com a participação de várias denominações religiosas, cujo
lema é: “Eu tenho fé”. Ainda neste dia o quilombola e vereador de Eldorado, José
Rodrigues, falou-nos da realidade do quilombo Ivaporunduva do Município de
Eldorado-SP e da luta em defesa de suas terras e dos direitos jurídicos e humanos
dos quilombolas que ali moram.
Dentre os momentos alegres destes dias, tivemos também um período de
retiro orientado por D. Antonio Wagner da Silva, bispo diocesano de
Guarapuava-PR, com o tema: “O Ano Sacerdotal na perspectiva do presbítero
negro”. Em sua colocação disse que é necessário termos mais convicção de que
somos presbíteros negros e chamados a evangelizar com simplicidade e
consciência dentro e fora da Igreja.
Os demais dias da Assembléia serviram para encaminhamento de ordem
interna do Instituto, entre elas a eleição da nova diretoria. Foram eleitos, para o
período de 2009-2011: Presidente: Padre Guanair da Silva Santos, VicePresidente: Dom Antonio Wagner da Silva, 1º. Secretário: Padre Jurandyr
Azevedo Araujo, 2º. Secretário: José Luiz Reis Luiz, 1º. Tesoureiro: Lázaro
Gabriel Lourenço e 2º. Tesoureiro: Padre Fidele Katsan.
Diversas celebrações destacando elementos da cultura afro marcaram
nosso encontro. Agradecemos a presença do bispo diocesano de Registro, D. José
Luiz Bertanha, do bispo referencial para Pastoral Afro-brasileira, D. João Alves
dos Santos, bispo de Paranaguá–PR, do Padre Francisco dos Santos,
representando a Comissão Nacional dos Presbíteros (CNP), do Padre Brasílio
Alves de Assis, que nos acolheu com muito carinho na Diocese e do povo das
diversas comunidades que colaboraram conosco.
Sob a proteção de São Francisco Xavier, padroeiro diocesano, dos Santos
negros, dos nossos Ancestrais e da negra Mariama, agradecemos as graças
abundantes recebidas na convivência fraterna destes dias e nos comprometemos a
ser discípulos missionários empenhados em resgatar as raízes culturais do povo
negro. Axé!
b) XII Encontro Intereclesial das CEB’s
A Arquidiocese de Porto Velho (RO) sediou em 2009, nos dias 21 a 25 de julho, o XII
Encontro Intereclesial das CEB’s, que acontece a cada 4 anos em alguma Diocese do Brasil.
Deste importante evento eclesial, participaram, em nome da PBCM, três estudantes de
Teologia: Heber Francisco, Vanderlei Alves e Odinei Magalhães. Os três fizeram seu Estágio
Pastoral com os ribeirinhos desta Arquidiocese desde o dia 3 de julho, concluindo tal
experiência com o Intereclesial. Na verdade, foi um aprendizado que supera qualquer
faculdade acadêmica e isso alimenta positivamente nosso carisma vicentino. Como em cada
171
Encontro deste teor, também neste foi produzido um Documento Final endereçado às Igrejas
no mundo inteiro, a partir de nossas Comunidades Eclesiais.
c) Romaria das Águas e da Terra de Minas Gerais
Aconteceu na cidade de Itinga, norte de Minas, na região da Diocese de Araçuaí, a XIII
Romaria das Águas e da Terra do Estado de Minas Gerais, nos dias 1 e 2 de agosto do corrente
ano. Tal Romaria foi precedida de uma Missão Popular com duração de uma semana nas
comunidades que compõem a Paróquia de Itinga.
Desta Missão Popular, participaram dois estudantes da Comunidade São Justino de
Jacóbis: Hélio Correia e João Paulino, os quais estavam desde o início do mês de julho, fazendo
seu Estágio Pastoral na Missão de Francisco Badaró, atualmente coordenada por uma Equipe
de Missionários Vicentinos.
Também nesta Romaria, especificamente, marcou presença o Pe. Luiz Roberto,
fazendo companhia aos dois estudantes já citados e aos membros da Equipe Missionária de
Francisco Badaró, somados aos milhares de militantes de Comunidades de Base de todo o
Estado que fizeram com que a XIII Romaria da Terra e das Águas fosse um sucesso.
Como registro de tão significativa experiência eclesial, no intuito de fazer chegar a
tantos cristãos que não puderam marcar presença conosco, foi produzido um Documento para
ser distribuído Brasil afora, intitulado: CARTA DA 13ª. ROMARIA DAS ÁGUAS E DA TERRA DE
MG.
Pe. Luiz Roberto Lemos do Prado, C. M.
CELEBRAÇÕES SERTANEJAS
Como tem acontecido nos últimos anos,
tanto na Paróquia Pai Misericordioso (Paulo VI) como
na Paróquia Nossa Senhora de Fátima (Contagem),
foram realizadas duas Celebrações Sertanejas,
consecutivamente: no dia 25 de julho, dia Nacional
do Lavrador e da Lavradora, às 19 horas, na
Comunidade São Judas Tadeu (Paulo VI), e no dia 27
de julho, na Matriz da Paróquia Nossa Senhora de
Fátima, também às 19 horas. Ambas as celebrações
focalizaram os valores dos camponeses e das
camponesas na luta por reforma agrária no Brasil e na América Latina, tiveram uma excelente
participação de todas as comunidades de fé que compõem as duas paróquias, bem como nos
ajudaram a reviver nossas boas lembranças da vida no interior.
A
presidência
destas
ficou sob a responsabilidade do Pe.
concelebradas por Coirmãos nas duas
Firmamos a convicção de que tais
contribuem
positivamente
na
celebrações
Luiz Roberto,
paróquias.
celebrações
formação da
172
consciência crítica dos fiéis em torno da causa profética da terra partilhada para quem dela
necessita tirar o pão de cada dia.
Que Nossa Senhora da Terra seja nossa guia nesta árdua luta! Amém!
Pe. Luiz Roberto Lemos do Prado, C. M.
ABERTURA DO SEMESTRE NAS CASAS DE FORMAÇÃO
Na diversidade de nossas culturas – vindos de todas as partes do Brasil –, somos
chamados a encontrar, na espiritualidade vicentina, o elã que nos congrega em torno do
carisma da evangelização e do serviço aos Pobres.
Considerando as perspectivas promissoras da formação
vicentina, em celebração eucarística presidida pelo Visitador Provincial,
Padre Agnaldo Aparecido de Paula, e concelebrada pelos coirmãos:
Padre Luiz Roberto, Padre Juarez, Padre Osmar e Padre Vandeir,
celebramos, como de costume, a abertura do segundo semestre entre
as duas Casas de Formação da PBCM.
Na acolhedora capela do Seminário São Justino
de Jacobis, na fraternidade do reencontro e aquecidos pelo
calor humano dos Coirmãos, com os seminaristas do
Instituto São Vicente de Paulo, amigos da faculdade e da
pastoral, rezamos, em comunhão com toda Província, a grata satisfação de mais um semestre,
buscando na Eucaristia a fonte de nossa Comunhão e Missão neste segundo semestre que se inicia.
Procuraremos, à luz de nossas
Constituições
e Estatutos e da Ratio, orientar nossa
caminhada
formativa, iluminados e encorajados
pela Palavra
de Deus, atendendo ao que se pede
nas Diretrizes
Básicas para a Formação Vicentina em
suas diversas
dimensões.
Que a Mãe de Jesus, discípula
e missionária
primeira do Senhor, ensine-nos, neste
segundo
semestre, “a amar o que São Vicente
amou e a
praticar o que ele ensinou”, servindo espiritual e corporalmente aos mais pobres!
Edney Almeida Costa, C. M. (3º ano de Filosofia)
DELIBERAÇÕES DO CONSELHO PROVINCIAL
1.
Pedidos para receber o sacramento da Ordem. O Visitador Provincial, após análise dos pareceres
enviados pelos Coirmãos consultados e, com o consentimento do seu Conselho (cf. CC 125, § 9º)
aprovou o pedido do Diác. Gentil José Soares da Silva para ser ordenado Presbítero. Aprovou,
também, os pedidos dos Irmãos Luis Carlos do Vale Fundão e Vinícius Augusto Ribeiro Teixeira
para serem ordenados Diáconos. O Sacerdócio ministerial é um Dom de Deus a serviço do
sacerdócio comum dos fiéis, pela unção do Espírito e por sua especial união com Cristo (cf. DA,
193). O Sacerdócio como fruto do encontro pessoal com o Senhor é motivo de alegria que
transborda na oferenda de si mesmo a serviço da vida, do amor, da justiça e do bem de todos. De
173
fato, quem se encontrou com o Senhor não pode ter um coração triste, mas deve se esforçar por
irradiar a presença em si daquele que o encontrou, o amou e o escolheu. Que Deus continue
derramando abundantes bênçãos sobre os nossos irmãos Vinícius e Luis Carlos.
2.
Propedeuta no Calafate. O Conselho Provincial aprovou o pedido do jovem Tiago de França da
Silva para experiência vocacional em vista do ingresso no processo de formação inicial na PBCM.
Neste segundo semestre de 2009, Tiago contará com o acompanhamento vocacional do Pe.
Onésio Moreira Gonçalves, residirá na Comunidade São José do Calafate e continuará seus estudos
no 2º ano de filosofia.
3.
Biblioteca do Caraça e Fundação Biblioteca Nacional. O Conselho Provincial aprovou em maio
proposta da Fundação Biblioteca Nacional apresentada pela bibliotecária Vera Lúcia Garcia para
cadastramento institucional em vista da inclusão da Biblioteca da PBCM-Caraça no Catálogo
Coletivo do Patrimônio Bibliográfico Nacional de obras do século XV ao século XIX (livros e
periódicos).
4.
Nomeações do visitador e/ou indicações para nomeação aos senhores bispos.
A. O Visitador Provincial, atendendo a solicitações e com o parecer favorável dos membros do seu
Conselho nomeia:
a. Os Padres Antônio Gomes Pereira e Dejair Roberto De Rossi para a Comissão de Formação
Provincial.
b. Ir. Vinícius Augusto Ribeiro Teixeira para representar a Congregação da Missão na
Coordenação da Família Vicentina, regional de Belo Horizonte.
B. Indicação e solicitação de nomeação a Dom Walmor Oliveira de Azevedo:
a. Pe. Alexandre Nahass Franco para o ofício de pároco na Paróquia Pai Misericordioso, Paulo
VI, Belo Horizonte (MG).
b. Pe. Francisco Ermelindo Gomes para o ofício de vigário paroquial, na Paróquia Pai
Misericordioso, Paulo VI, Belo Horizonte (MG).
c. Pe. Wilson Alzate García para o ofício de vigário paroquial na Paróquia N. Sra. de Fátima, em
Contagem - MG.
d. Pe. José Debórtoli renovação do mandato de pároco na Paróquia São José do Calafate, em
Belo Horizonte (MG).
e. Pe. Célio Maria Dell’Amore para o ofício de vigário paroquial na Paróquia São José do
Calafate e assistente Espiritual do Conselho Metropolitano da Sociedade de São Vicente de
Paulo em Belo Horizonte (MG).
C. Indicação e solicitação de nomeação a Dom José Valmor César Teixeira:
a. Pe. Evilásio Amaral Júnior para o ofício de pároco na Paróquia São José, em Carinhanha
(BA).
5.
Projeto “Caraça: sua Biblioteca nas escolas: incentivo à leitura e educação ambiental”. O projeto,
elaborado pela Biblioteca da PBCM-Caraça sob a coordenação da Vera Garcia, foi aprovado pela
Direção Provincial. O Projeto tem como objetivo geral: Incentivar com a Biblioteca Itinerante o
interesse e o hábito pela leitura dos alunos do ensino fundamental dos municípios de Catas Altas,
Santa Bárbara e Barão de Cocais (municípios localizados no entorno do Caraça) através do acesso
ao acervo da Biblioteca do Caraça. Os objetivos específicos são: 1) Proporcionar aos alunos do
ensino fundamental a consulta aos livros de literatura infanto-juvenil, educação ambiental, jogos e
brinquedos educativos; 2) Sensibilizar e capacitar os profissionais de educação para utilização do
acervo da biblioteca itinerante, bem como sobre a importância da leitura para a aprendizagem dos
alunos. 3)Incentivar a troca de experiências entre os profissionais de educação das escolas
participantes do projeto.
174
CIF para os Irmãos em 2010. Assim nos escreveram o Pe. Marcelo V. Manintim e Pe. José
Carlos Fonsatti, em circular do dia 22/06/2009: “A sessão especial é fruto do interesse que a
Congregação inteira tem para com os Irmãos. Em outubro de 2007, os Irmãos da América
Latina realizaram sua primeira reunião em Santo Domingo. O Superior Geral nos apresentou a
sugestão de uma sessão especial do CIF exclusivamente para os Irmãos de toda a Congregação
da Missão. Uma reunião já foi realizada entre a equipe do CIF e os três representantes dos
Irmãos (Irmãos Francisco Berbegal, de Barcelona; Philippe Maronnier, de Paris; e Henry Escurel,
das Filipinas). O resultado é um programa de formação do CIF adaptado às necessidades e aos
interesses dos irmãos.” A sessão especial do CIF para os Irmãos acontecerá no Centro
Internacional de Formação (CIF) da Congregação da Missão, em Paris, de 9 de abril a 4 de
junho de 2010. Para representar os Irmãos da PBCM neste importante e histórico evento o
Conselho Provincial convidou os Irmãos Adriano Ferreira Silva, Edmar Roque Teixeira e Admar
Francisco de Freitas.
Nova configuração das Casas de Formação para 2010. O Conselho Provincial em reunião
realizada nos dias 7-8/6/2009 aprovou proposta da Comissão de Formação que “entende ser
necessário distinguir as etapas da formação, sem separá-las, torná-las guetos”. “A formação é
um processo contínuo, dinâmico, progressivo, gradual e integral de amadurecimento e
desenvolvimento pessoal e comunitário, que se realiza dentro de um contexto histórico, à luz
da fé e do compromisso batismal, mediante a ajuda de pessoas, instituições, ambientes e
atividades. Enquanto processo, a formação estimula a sentir, cada dia mais exigente, a opção
pro Deus, em resposta a seus apelos. Em cada ato, Cristo nos chama à Ressurreição” (...)
“Nosso processo de formação é dialético: não separa, mas integra, harmoniosamente, oração e
ação, fé e vida, assim como as várias etapas, conteúdos, instâncias e agentes, num movimento
de interação e complementaridade cada vez mais fecundo e enriquecedor” (DBF-PBCM, 1-3).
A partir do ano de 2010 as etapas do processo de formação inicial funcionarão nos
seguintes locais:
a) Propedêutico – Seminário São Justino de Jacobis, bairro Santa Cruz
b) Filosofia – Instituto São Vicente de Paulo – “Trevo”
c) Teologia – Seminário São Gabriel Perboyre – bairro Nazaré
d) Seminário Interno – aguarda definição.
OUTRAS NOTÍCIAS DA COMISSÃO DE FORMAÇÃO:
a)
Organização do Propedêutico. A Comissão de Formação entende que é necessário um
maior tempo de preparação tanto intelectual quanto espiritual para aqueles que
ingressam em nossos seminários. Os membros da Comissão recomendam que o
Propedêutico se configure em 2 anos. Os membros do Conselho Provincial aprovam a
proposta de 2 anos e solicita que os membros da Comissão procurem conhecer
experiências que já são realizadas por outras congregações. Proposta para a estruturação
e conteúdo deverá ser enviada pela Comissão ao Conselho Provincial para análise.
b)
Propeutas em situação especial. O envio de propedeutas em situação especial para um
período de experiência em nossas missões e paróquias encontra-se em fase de avaliação.
Diante dos desafios apresentados pelos “novos” vocacionados que se apresentam à vida
consagrada e religiosa torna-se necessária redobrada atenção aos sinais dos tempos,
175
melhor capacitação dos animadores vocacionais e formadores, além de maior criatividade
e ousadia na busca de respostas que possam atender à nova demanda.
c)
Programa progressivo de estudos na Formação Inicial. A Comissão consituiu uma equipe
formada pelos Padres Juarez Carlos Soares, Luiz Roberto Lemos do Prado, Eduardo
Raimundo dos Santos e Vandeir Barbosa de Olvieira para revisão do Programa Progressivo
de Estudos da Formação Inicial. O atual programa encontra-se em vigor há mais de 15
anos e ainda não foi revisto e atualizado a partir das Diretrizes Básicas da Formação na
PBCM aprovadas em agosto de 2007.
d)
Estudos de Filosofia no ISTA. A Comissão de Formação entende que o Instituto Santo
Tomás de Aquino desenvolve uma proposta de formação e reflexão mais condizente com
a Vocação e Missão da Vida Consagrada e Religiosa, chamada a ser uma presença
profética e “carismática” na Igreja e na Sociedade. O Instituto Santo Tomás de Aquino
desenvolve, também, um modelo pedagógico mais adequando ao perfil atual dos
estudantes da PBCM.
O Conselho Provincial aprovou a proposta da Comissão de
Formação de transferência dos nossos estudantes de filosofia da Faculdade Jesuíta (FAJE)
para o ISTA a partir do segundo semestre de 2009.
Reunião dos Orientadores Espirituais. No dia 8/8/2009, na Casa Dom Viçoso, em Belo
Horizonte realizou-se a segunda reunião dos Orientadores Espirituais dos formandos da
Província Brasileira da Congregação da Missão. Estas reuniões têm como finalidade: o diálogo,
a troca de experiências, a entreajuda fraterna, o estudo e a apresentação de propostas para
melhor capacitação e/ou aperfeiçoamento para o exercício do ministério de Orientador
Espiritual dos seminaristas. Nesta reunião foram estudados alguns capítulos do livro “A
pedagogia da Direção Espiritual”, de autoria do Frei Patrício Sciadini, OCD. O estudo continuará
na próxima reunião, marcada para o dia 14 de novembro/2009.
Projetos Sociais no “Galpão do Trevo”. Tendo em vista ajudar na promoção dos moradores
das Comunidades do entorno do Instituto São Vicente de Paulo e Casa Dom Viçoso, em Belo
Horizonte, foi realizada no dia 15 de junho na Capela da Comunidade Santa Rosa de Lima
reunião com a participação de membros da PBCM e da Comunidade Local. Depois de narrarem
os acontecimentos e o histórico da Comunidade Santa Rosa, as lideranças locais apresentaram
propostas de projetos que poderiam vir a ser desenvolvidos com a parceria da PBCM no
“Galpão do Trevo”, agora batizado de “Centro Social Pe. Raimundo Gonçalves”, nome
aprovado pela Assembleia Provincial no dia 28/08/2009. A próxima reunião para
encaminhamento das propostas de projetos está agendada para o dia 16/09/2009 na Capela
da Comunidade Santa Rosa.
Além dos Projetos Sociais funcionarão no “Centro Social Pe. Raimundo Gonçalves”:
Capela da Casa Dom Viçoso (já em funcionamento); Curso de Formação Missionária Vicentina
e extensão da Biblioteca da PBCM-Caraça. Esta extensão da Biblioteca deverá ser especializada
nas áreas do vicentinismo, missiologia, filosofia e teologia. Também terá reservada uma área
especial para atender às crianças, adolescentes, jovens e adultos das Comunidades do entorno
que cursam o ensino fundamental e médio.
Campanha da Família Vicentina pela Mudança de Estruturas. “Ser cristão e ver sofrendo um
irmão, sem chorar com ele e sem sentir-se mal com isto! Isso é não ter caridade; é ser cristão só
de nome; é carecer de humanidade; é ser pior que os animais” (Coste ES, 561). “Porque a
ninguém é licito permanecer indiferente ante a sorte de seus irmãos que ainda jazem na
miséria, presos na ignorância ou vítimas da insegurança. Que o coração de cada cristão,
176
imitando o Coração de Cristo, ante tantas misérias, se comova de compaixão e exclame com o
Senhor: Tenho pena desta multidão'” (Populorum Progressio, 74).
Diante de nossas pesadas e complexas estruturas sociais, políticas, eclesiais,
congregacionais, provinciais e locais;
Diante de tantos conflitos, da intolerância, da falta de aceitação e abertura às
diferenças em nossas comunidades;
Diante de tudo o que estamos fazendo;
Fica uma questão que não pode deixar de nos visitar com certa freqüência...
“Temos dedicado o melhor de nós mesmos, do nosso tempo, de nossas energias, de
nossos trabalhos, de nossos ideais, naquilo que, de fato, É O MAIS IMPORTANTE?
Pensemos:
Em que a Campanha pela MUDANÇA DE ESTRUTURAS, promovida por toda a FAMÍLIA
VICENTINA pode nos ajudar a viver com maior amor, alegria, encantamento, disponibilidade e
fidelidade a vocação e missão vicentina que abraçamos?
SSVP – Circular do presidente Internacional. O confrade José Ramón Díaz Torremocha, XIV
presidente geral da Sociedade de São Vicente de Paulo enviou cara-circular datada de
30/06/2009 a todos os confrades e consócias. No início da circular o cfd. Torremocha fala da
gravíssima situação de incerteza econômica e financeira que o mundo atravessa e suas
desastrosas consequências para os mais pobres. Assim se expressa: “A avareza de uns, a falta
de ética nos negócios e a procura de benefício rápido passando por cima de qualquer outra
consideração moral, o pecado em si próprio e também através das estruturas do pecado, levou
o desespero e o sofrimento a milhões de pessoas em todo o mundo (...) aumentaram os
números da pobreza e o sofrimento de grande número de pessoas que, apenas há uns meses,
eram capazes de governar a sua vida econômica com certo desafogo e que, inclusive, eram
capazes de destinar uma parte das suas receitas para ajudar outros que tivessem necessidade
no seu próprio país ou em outras zonas mais pobres do mundo.” O presidente geral da SSVP
demonstra particular preocupação com a diminuição e até mesmo suspensão das ajudas dos
países desenvolvidos aos países pobres e em desenvolvimento. Segundo ele “os pobres estão
hoje mais pobres e o seu sofrimento está aumentando, lá onde se encontram. O desafio
assumido há alguns anos, por diferentes organismos internacionais, de conseguir a diminuição
da pobreza, apresenta-se hoje cada dia mais distante.” Além da ajuda emergencial o
presidente geral insiste na luta contra as causas da pobreza a partir dos pobres. De fato, sem o
comprometimento dos pobres não se conseguirá verdadeira transformação da realidade e
mudança de estruturas. “É certo que possuímos forças limitadas. Mas as que temos devem ser
utilizadas sem reservas, ao serviço da libertação do homem que sofre. Na realidade, só assim
seremos seguidores autênticos do Cristo que sofre no homem, no qual se reflete.” Ponto alto da
circular se encontra no seguinte parágrafo “Como exemplo e atuação concreta: Quantas
Conferências e Conselhos têm guardado umas reservas financeiras, iludidos por um pretenso
serviço futuro aos mais pobres que, em tantas ocasiões, nunca se concretiza? Aqueles que as
possuem desprendam-se delas agora! Ponham-nas, na realidade, ao serviço real e direto dos
pobres e criam com elas pequenas soluções para quem delas possa necessitar.” “As
177
Conferências e os Conselhos que guardam hoje as suas capacidades financeiras, sejam quais
forem, e que não lutam por mudar a situação dos pobres estarão vivendo, não tenho a menor
dúvida, uma situação de pecado da qual o Bom Deus há de pedir-nos rígida conta.” Eis um
forte e provocador convite para que todos os ramos da Família Vicentina façam uma profunda
e autêntica revisão de suas obras e práticas a partir da Campanha pela Mudança de Estruturas!
Assembleias Regionais da Conferência dos Religiosos do Brasil. Neste ano de 2009 acontecem
nas 20 secções regionais da CRB as Assembleias Gerais Eletivas. Para esta realidade, a CRB
lançou o subsídio “Eis-me aqui para fazer tua vontade”, de Frei Carlos Mesters. É desejo da
Direção Provincial que a PBCM se faça representar nas assembleias regionais onde atuam os
seus membros. Representará a PBCM na Assembleia da CRB, regional de Brasília, de 25-27 de
setembro, o Pe. Deoclides Magalhães Rodrigues e na Assembleia da CRB, regional de Belo
Horizonte, nos dias 26 e 27 de setembro, o Pe. Luiz Roberto Lemos do Prado.
A PBCM se fez representar através do Pe. Agnaldo Aparecido de Paula na XLIVª
Assembleia da CRB, regional do Rio de Janeiro, realizada de 18 a 20 de agosto. Com o tema
“Por uma Vida Religiosa místico-profética”, a CRB-RJ convidava a refletir sobre a realidade
atual, os novos cenários e os sujeitos emergentes; sobre as relações comunitárias, propondo
novos relacionamentos; sobre a centralidade da Palavra de Deus e sobre o desafio de
construirmos uma Vida Religiosa Místico-Profética que seja, como diz o Documento de
Aparecida: “Uma vida religiosa discipular, apaixonada por Jesus-caminho ao Pai
misericordioso... missionária, apaixonada pelo anúncio de Jesus-verdade do Pai, por isso
mesmo radicalmente profética... e servidora do mundo, apaixonada por Jesus-Vida do Pai, que
se faz presente nos mais pequeninos e nos últimos” (D.A. 220).
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