Revista Torga36 - alperce, serviços web

Transcrição

Revista Torga36 - alperce, serviços web
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2
Nota do Director
“O sucesso não é um fim em si mesmo.” Este juízo moral, ainda que subtilmente
presente nesta afirmação, tem amiúde subjacente a inveja.
Aqueles que o desprezam ou desvalorizam, não percebem ou não querem perceber
que é a ambição que dá um sentido e uma direcção ao tempo. O sucesso, sendo o
corolário da ambição, é a consequência natural do desejo de imortalidade do homem.
Podemos condenar a ideia de sucesso, se imaginarmos Hitler a exaltar a
superioridade da raça ariana perante milhões de alemães que o idolatram, ou se
lermos a revista cor-de-rosa que tem como capa o vencedor do Big Brother. Mas, ao
pensarmos em Da Vinci ou Einstein, constatamos o progresso da humanidade,
naquilo que ela possui de mais nobre e elevado e, se calhar, aqueles que desejam
sem desejar, num momento de franqueza, reconhecerão que o sucesso é um conceito
equívoco e, logo, impossível de classificar num quadro moral absoluto: mau ou bom.
A equipa da TORGA partiu de uma premissa: ele é o reconhecimento do mérito, da
criatividade, da persistência e de uma ambição única. O sucesso discrimina
positivamente e foi isso que quisemos sublinhar nesta edição.
Henrique Amaral Dias
3
Editorial
Não sei bem o que definir por sucesso. Sei que cada um o tem à sua medida, dentro da sua
vida, nas relações pessoais e profissionais.
Basicamente, o nascimento já é um sucesso. Nascer saudável preenche de alegria os
corações dos pais, libertando-os para a avalanche de sucessos que se precipitam - o primeiro
sorriso, o primeiro dente, a primeira palavra. Estas são as premissas para qualquer ser humano
vingar no mundo, mais ou menos colorido, para que está destinado.
Desejar ser bem sucedido é um sentimento legítimo de quem não deixa que a vida passe
ao lado sem ambições, sem projectos, sem metas para atingir.
Deve viver-se essa ambição de preferência dentro dos cânones normais da decência, sem
atropelar os outros, sem ignorar que também eles têm desejos. Esta parte é a mais difícil de
conseguir, a dos valores: ou se têm ou não se têm. Mas, certos estamos- há quem os tenha.
Broadway Boogie Woogie é o título do quadro da capa da Torga. Insere-se na fase posterior
do Neoplasticismo de Piet Mondrian. Caracteriza-se por blocos segmentados de linhas rectas
de cores primárias. Um estilo reducionista que revolucionou a arte, a moda e a publicidade.
Fica-nos, nesta edição, o testemunho de um homem com sucesso, (na nossa acepção,
não na dele), neurocirurgião de profissão, que nos deu uma lição de humildade e de
humanidade pelo modo como se apresenta na actividade profissional e na vida. E citando o
próprio “ Há gente muito mais capaz do que eu. Sou certamente um neurocirurgião competente,
se quiser, muito competente e muito crítico de si próprio, sabendo dos seus limites.” – João
Lobo Antunes.
Convidados de renome, gentilmente, escrevem para a Torga - Miguel Beleza oferece-nos a
sua visão sobre a independência e a legitimidade dos órgãos de poder e Carlos Magno
apresenta um artigo como se de um novelo de lã se tratasse, desfiando a história de Portugal
ao mesmo tempo que nos caracteriza enquanto Pátria.
O sucesso jovem na Torga passa também, pelo reconhecimento daqueles que nasceram
ou trabalham na cidade de Coimbra, Joana Mota, Administradora de Empresas, Matthieu
Garcia, Tenista.
Joana Côrte-Real, Jornalista da RTP e Ricardo Duarte, Jornalista da TSF, dois jovens de
sucesso, destacam-se pela sua passagem no ISMT enquanto alunos do Curso de Ciências
da Informação.
Em Busca de um Sonho é o título da Grande Reportagem realizada sobre o Casino do
Estoril, o espaço mágico onde se perde e ganha o sucesso.
Ana Cristina Abreu
01
FICHA TÉCNICA
Henrique Amaral Dias
Director
Henrique Amaral Dias
02
04
Redacção
Andrea Marques
17
Paginação
C. Damas
Impressão
FIG - Fotocomp. e Ind. Gráficas
Tiragem
3000 exemplares
Propriedade
Instituto Superior Miguel Torga
Coimbra
ISSN 1646-2866
4 Legal 232550/05
Depósito
As opiniões expressas nos artigos publicados
nesta revista são da inteira responsabilidade
dos seus autores.
Aconteceu
Noticias do ISMT
Coordenação de Informação
Ana Cristina Abreu
Design
ID3A
Editorial
Ana Cristina Abreu
Editor
Fernando Teófilo
Fotografia
Filipe Casaleiro
Nota do Director
Succes D’estime
Filipe Nunes Vicente
Capa: Mondrian “Broadway Boggie Woggie”
Sumário
30
46
João Lobo Antunes
Poderes não Eleitos
Grande Entrevista
Miguel Beleza
18
42
Jovens de Sucesso
Mathieu Garcia
Joana Mota
Tiago Monteiro
Ricardo Duarte
Joana Côrte-Real
Redução de Danos e Reinserção
Social
Teresa Nunes Vicente
44
Redes Sociais em Portugal
Vasco Almeida
24
Grande Reportagem
Casino Estoril
57
Temerário
René Tápia
26
Relendo o Sucesso e o Insucesso
pela nossa História
60
Carlos Amaral Dias
40
Psicopátria
Carlos Magno
Absolut
Henrique Amaral Dias
74
AE - ISMT
Notícias / Reportagens
5
Aconteceu
Carlos Amaral Dias, Alberto Costa (Ministro da Justiça) e Luis Marinho
NOTÍCIAS DO ISMT
Construção Europeia e Futuro do
Tratado Constitucional
O Ministro da Justiça, Alberto Costa,
esteve presente no Seminário de
Encerramento do Curso de PósGraduação em Administração Pública.
O evento decorreu nos dias 8 e 9 de
Julho, nas instalações do Instituto Superior Miguel Torga.
“O Alargamento e as Novas Missões
da Comissão Europeia” foi o primeiro
tema a ser lançado para debate.
Fernando Frutuoso de Melo, Chefe de
Gabinete Adjunto da Comissão
Europeia, fez um breve resumo da
votaram “sim” no referendo. As
pessoas mais informadas são as mais
No dia 9, o Ministro da Justiça
apresentou a comunicação “A
história da União Europeia, “A União
Europeia está, pela sua natureza,
favoráveis à Constituição Europeia.”
Em relação ao que as pessoas
Constituição Europeia e o Futuro da
União”. Alberto Costa explicou que a
destinada a crescer. Com o alargamento,
desapareceu o conflito existente entre a
esperam por parte da União Europeia,
Margarida Marques afirmou que “O
mudança de método na realização dos
referendos de ratificação da Constituição
Europa Ocidental e a Europa Oriental
durante os anos da Guerra Fria”.
eurobarómetro mostra que o
desemprego, a exclusão e a pobreza são
Europeia é essencial para não destruir o
projecto.
O orador explicou ainda os critérios de
adesão estabelecidos na Cimeira dos
os principais problemas que as pessoas
querem ver resolvidos pela UE”.
“Este processo deve ser retomado,
no futuro, com melhor método senão
Líderes da União Europeia, realizada em
Junho de 1993, e enunciou as próximas
Acrescentou ainda, que é necessário
criar um espaço público europeu onde
pode ser sepultado”, afirmou. A
solução seria “fazer referendos numa
negociações de adesão à EU.
Margarida Marques, representante
se possam debater estas questões e
deu como exemplo o programa
mesma data para evitar retirar aos
estados seguintes o direito que os
em Portugal da Comissão Europeia,
apresentou a “Constituição Europeia
Erasmus como espaço de análise, “Os
alunos deste programa são os
outros já exerceram”.
O Ministro da Justiça considerou que
na Perspectiva da Comissão Europeia”.
Os referendos sobre a Constituição
principais embaixadores da EU”.
Para concluir, Margarida Marques
a França e a Holanda votaram “não”
por razões internas e referiu que o
Europeia e os resultados negativos da
França e Holanda marcaram o debate.
realçou a importância da Constituição
Europeia que”torna a Europa mais
processo até agora desenvolvido
deveria ter sido “mais europeu e menos
A conferencista começou por afirmar
que “foram as pessoas menos
democrática, mais transparente”.
A última intervenção, “A Constituição
nacional. Não se pode responder a
questões europeias tendo em conta
informadas que votaram contra a
Constituição. O “não” decorre de
Europeia na Perspectiva do Parlamento
Europeu”, ficou a cargo de Paulo
questões nacionais. Fomos vítimas de
vários factores, como do próprio
problemas internos. Em França, os
jovens com estudos, com formação,
Sande, Director do Gabinete em Portugal do Parlamento Europeu.
método que usámos e do alinhamento
que os Estados acabaram por ter. Faria
6 torga
Aconteceu
sentido uma pausa acompanhada de
uma visão de futuro”.
Ibero-americana”. O ISMT torna-se, a
partir deste momento, membro de pleno
Afirmando sempre que as ideias que
defendeu foram apresentadas a título
direito do referido Conselho Iberoamericano. Recordamos que o ISMT há
pessoal, Alberto Costa considera
importante a ratificação da Constituição
muito que trabalha em parceria com
diversas universidades da América do
Europeia.
“As leis europeias, na sua maior parte,
Sul através de protocolos que servem
os nossos alunos das licencia-turas,
não são discutidas em votadas em
público. O que quer dizer que a origem
pós-graduações,
doutoramentos.
legislativa propicia uma crise de
legitimidade, há uma sensação de
distanciamento e obscuridade em relação
à origem da legislação europeia”
considerando “uma pequena revolução”
o facto de a Constituição Europeia
mestrados
e
O Conselho Ibero-americano tem
como missão promover e conduzir os
sistemas educativos à mudança através
da promoção e do intercâmbio de
experiências de êxito, em busca da
“avançar com a ideia de o Conselho
Europeu discutir em público as medidas
qualidade educativa e do reconhecimento.
legislativas”, concluiu o Ministro.
Alberto Costa terminou a sua
Os principais patrocina-dores do
intervenção com um desejo para o
referendo em Portugal, “Oxalá os
portugueses digam sim”.
O Director do ISMT, Carlos Amaral Dias,
terminou a sessão afirmando que “A
Constituição Europeia nunca deveria
ser referenciada”.
Andrea Marques
Excelentísima Diputación Provincial de
León – España; CERADAI – Solidaritat
Informativa de Catalunya – España;
Asociación Latinoamericana de
Integración – Uruguay; MAE –
Multimedios Ambiente Ecologico –
Argentina; Associacao dos Supervisores
de Educacao do Rio Grande do Sul –
Brasil; Universidad Nacional del Callao
– Peru; Universidad Simón Bolivar –
Bolivia; F.C.E. – Universidad Nacional de
Asunción – Paraguay.
Fernando Teófilo
Conselho Ibero-americano são instituições no campo do ensino, em
diversos países: Secretaría de Estado
de Educación de
R e p u b l i c a
Dominicana;
Presidencia de la
República
del
U r u g u a y ;
Universidad
de
Cundinamarca –
C o l o m b i a ;
Secretaria
de
Educación Pública –
Sub-Secretaria de
Instituto Superior Miguel
Torga recebe Certificado
Internacional de
Excelência Educativa
O ISMT acaba de ver reconhecida a
qualidade do seu ensino além fronteiras.
O Conselho Ibero-americano em Honra
da Qualidade Educativa (http://
www.consejoiberoamericano.org/)
atribuiu o Certificado Internacional de
Excelência Educativa ao Instituto
Superior Miguel Torga “pela sua
trajectória ao serviço da Educação
Estudio Superior e
Investigación
Científica, Coordinación General de
Universidades
Tecnológicas – México; CELADE – Centro Latinoameri-cano
de Desarrollo –
Uruguay; Universidad Tecnológica
Nacional – Facultad
Regional Buenos
Aires – Argentina;
torga 7
Aconteceu
BOLSAS - POCI 2010
Estágios de Serviço Social
com Financiamento POCI
2010
2005/2006
O Programa Operacional Ciência e
Inovação 2010 (POCI-2010), integrado
Apresentação da “Nova” Revista
no III QCA, visa assegurar o apoio e
estímulo à mobilidade de recursos
No dia 20 de Julho de 2005, foi apresentada ao público a nova imagem do Boletim
Informativo do Instituto Superior Miguel Torga.
humanos entre o sistema de ensino
superior, o sistema científico e o tecido
Na ocasião, estiveram presentes diversos órgãos de comunicação social, escrita
e falada, a quem queremos agora agradecer a divulgação do evento. Todos
organizacional, no sentido de promover
a empregabilidade.
ajudaram a levar longe a “nova” revista Torga, não só a nível regional, como a
nível nacional, nomeadamente através da entrevista efectuada, em directo, pela
Com o objectivo de apoiar os alunos
finalistas de Serviço Social que irão
Rádio Renascença a Henrique Amaral Dias, Director da revista.
Aqui ficam alguns dos recortes do dia seguinte no Diário de Coimbra e As
realizar um estágio curricular em
contexto de trabalho, o Instituto
Beiras.
Superior Miguel Torga apresentou uma
candidatura ao Programa POCI 2010 –
Fernando Teófilo
Medida IV.7 Mobilidade e Empregabilidade Acção IV.7.1 / Sub-acção IV.7.1.2
– “Estágios” para o ano 2005/2006.
O ISMT já foi formalmente informado
sobre o número de estágios aprovados
para financiamento de Bolsas de
Formação. Serão apoiados 169
estagiários que receberão uma bolsa
no valor do Salário Mínimo Mensal
garantida por lei (s.m.m.) durante seis
meses.
O ISMT foi ainda informado pelo
Gabinete de Sua Excelência o Ministro
da Ciência, Tecnologia e Ensino
Superior e a Direcção Geral do Ensino
Superior, que como o citado concurso
excedeu a programação financeira
prevista para esta acção, foi aplicado
um critério de forma equitativa a todas
as candidaturas de todas as
8 torga
Aconteceu
instituições, um factor de rateio de
aproximadamente 19%. Neste sentido
a aplicação da metodologia de análise
feita à candidatura apresentada pelo
ISMT que envolveu 209 formandos,
teve como resultado o corte de 40
formandos.
A elegibilidade dos Estágios
pressupõe que:
- O aluno terá que estar inscrito no
ISMT e ser aluno finalista;
- Os Estágios só serão elegíveis se
Convenção de Docentes
do ISMT
correspondência entre a nossa oferta
formativa e as reais necessidades do
No dia 21 de Setembro de 2005,
realizou-se a I Convenção de Docentes
mercado.
Após um dia de trabalho, em grupos
do Instituto Superior Miguel Torga.
Subordinada ao tema “Novas Estratégias
de 8 a 10 elementos, os docentes
escolheram os seus porta-vozes e
e Linhas de Desenvolvimento do ISMT”,
a convenção contou, na sessão de
apresentaram à Convenção diversos
caminhos de inovação e desenvolvi-
abertura, com a presença do Prof.
Doutor Carlos Amaral Dias, Director do
mento para o ISMT: novos cursos,
novos eventos, novos processos de
ISMT, que no seu discurso sublinhou a
importância da participação dos
relacionamento interno. Estas foram
algumas das linhas de futuro ouvidas
docentes no futuro da instituição,
lançando a todos o desafio para que no
pela Direcção do ISMT que agradeceu
e valorizou.
final do dia apresentassem propostas
de futuro, com especial ênfase na
Reconhecendo a importância e a
eficácia desta iniciativa, todos
aposta que deve ser feita na preparação
de formação, nomeadamente pós-
propuseram que a Convenção de
Docentes se tornasse a realizar.
graduada, em parceria com outros
agentes da sociedade, de forma a
tornar cada vez mais perfeita a
Fernando Teófilo
forem realizados em contexto de
trabalho em empresas ou serviços
externos ao ISMT, sob a orientação de
um orientador pertencente à empresa/
organização e de um Supervisor
pertencente ao ISMT;
- Os estágios deverão ter uma
duração no mínimo de 6 meses.
Para qualquer informação complementar os interessados deverão
contactar o NUFIC.
Eduardo Marques
(NUFIC)
torga 9
Aconteceu
Psicologia no Futebol
A Psicologia no Futebol foi o tema de
uma conferência promovida pelo
núcleo de Estudantes de Psicologia,
do Instituto Superior Miguel Torga
(ISMT), que decorreu no passado mês
de Junho, nas instalações do Estádio
Cidade de Coimbra.
Victor Silva, aluno do curso de
Psicologia e Carlos Amaral Dias,
Director do ISMT, iniciaram a jornada
enfatizando as questões: “O que é que
a Psicologia pode fazer pelo
desporto? Que papel tem a Psicologia
no desporto?”
No âmbito específico do futebol, o
psicanalista sublinhou que “o discurso
futebolístico está cheio de termos
psicológicos. A capacidade de lidar
com a adversidade, com a frustração,
de manter a confiança e a coesão da
equipa são exemplos disso.”
Jorge Silvério, docente na
Universidade do Minho, realçou a
necessidade de um treino mental para
combater a ansiedade e estimular os
níveis de confiança: “Em alguns
atletas são os joelhos, os ombros ou
as costas, mas o mais negligenciado
seja talvez a cabeça”, sintetizou.
Na perspectiva de José Neto,
docente no Instituto Superior da Maia,
há um dado revelador: “87 % das
lesões mais graves foram de atletas
que tiveram problemas emocionais
anteriores. O treino deve ser uma
simbiose entre o físico e o mental”,
conclui.
O actual treinador da Académica de
Coimbra confessou “vou beber muito
à Psicologia para melhorar o meu
comportamento com os jogadores”.
Pedro Roma, actual pupilo de Nelo
Vingada corroborou desta opinião “a
componente psicológica é uma mais
valia
para
gerir
diferentes
mentalidades, culturas e origens que
10 torga
compõem habitualmente as equipas
de futebol”.
caracteriza os atletas, “eles têm um
grande protagonismo demasiado
Miguel Rocha, ex-jogador da Briosa,
especificou “na equipa da Académica
cedo e não têm as tais competências
de comunicação. É através da
havia três grupos: os coímbrinhas, os
brasileiros e os estrangeiros. Era
comunicação que se consegue
melhorar e optimizar as competências
necessário estreitar laços e promover
o diálogo entre todos com vista a uma
dos atletas”. Jorge Sequeira é
psicólogo e integra a actual equipa
maior unidade do grupo”.
“Sou um treinador do psíquico”. Foi
técnica do Sporting de Braga, que se
tem vindo a afirmar como uma das
assim que José Alves, do Instituto
Politécnico de Santarém, se definiu e
melhores equipas do campeonato
português.
começou a enumerar as diversas
técnicas psicológicas que se
À questão “o que é preciso
para ganhar?”, Jorge Sequeira
empregam no futebol de alto
rendimento “tal como as habili-dades
responde: “competências físicas,
técnicas, tácticas e naturalmente
físicas, o treino das habili-dades psicológicas, de visua-lização mental,
mentais. É a cabeça que comanda o
corpo e não o contrário”, concluiu.
requer uma prática sistemáti-ca para
ser eficaz”, explicou.
Hugo Anes
O Director do jornal A Bola, Victor
Serpa, apontou a vertente psicológica
como uma solução “há que preparar,
treinar os grandes atletas para lidar
com as pressões, com a imprensa,
com o facto de serem figuras
públicas”.
A falta de cultura dos desportistas
referida por Victor Serpa foi também
enunciada por Jorge Sequeira, assim
como, a causa da falta de
competências comunicativas que
Aconteceu
PROTOCOLO DE
COOPERAÇÃO
INSTITUTO DE REINSERÇÃO
SOCIAL E
INSTITUTO SUPERIOR
MIGUEL TORGA
Realizado em Lisboa, a 18 de Janeiro
de 2005, o protocolo visa definir os
princípios da cooperação técnica entre
as duas instituições promovendo,
Informática de Gestão, promovendo a
formação e a prestação de serviços.
científicas e técnicas dos seus docentes
e alunos, bem como a valorização
profissional e a formação contínua dos
seus licenciados, ou de licenciados por
ACORDO DE PARCERIA
CÁRITAS DIOCESANA DE
COIMBRA E
INSTITUTO SUPERIOR
MIGUEL TORGA
outras instituições universitárias.
O protocolo foi assinado em 15 de
As duas instituições assumiram um
PROTOCOLO DE
COOPERAÇÃO
MILCONTEÚDOS FORMAÇÃO PROFISSIONAL
E INFORMÁTICA, LDA E
INSTITUTO SUPERIOR
MIGUEL TORGA
nomeadamente:
-definição de projectos e estudos de
acordo de parceria no qual se
comprometem em dinamizar a
investigação científica na concepção de
instrumentos de avaliação da eficácia da
execução do projecto “ GERAÇÕES
DO PLANALTO”.
intervenção do IRS, no âmbito da
execução de medidas judicias ou de
O acordo foi assinado em Coimbra, em
24 de Maio de 2005.
programas desenvolvidos para esse fim;
-realização de estágios de Serviço
Junho de 2005.
As duas instituições celebraram o
protocolo em 13 de Julho de 2005,
tendo acordado instituir um sistema de
colaboração relativo a estágios e
-definição de processos de formação e
supervisão técnica e científica de
ACORDO DE COOPERAÇÃO
APELO - ASSOCIAÇÃO DO
APOIO À PESSOA EM LUTO
E
INSTITUTO SUPERIOR
MIGUEL TORGA
projectos
e/ou
desenvolvidos pelo IRS;
programas
Foi celebrado um Acordo de
Cooperação entre a APELO e o Instituto
serviços.
-permuta de informação bibliográfica e
/ou sobre projectos em curso, na
Superior Miguel Torga, no dia 8 de
Junho de 2005.
prospecção de áreas científicas
relevantes para a formação contínua
As duas instituições comprometem-se
a promover a recíproca colaboração no
dos profissionais de cada uma das
partes;
que diz respeito à realização de:
-estágios dos cursos de Serviço Social
-publicação de trabalhos das duas
instituições.
e Psicologia;
-cursos, conferências, seminários e
Social (ramo de Justiça e Reinserção
Social);
-actualização científica de profissionais
do IRS;
outros eventos similares;
-formação e prestação de serviços.
PROTOCOLO DE
COOPERAÇÃO
EMPRESA RAMALDA II,
CAMIÕES E AUTOCARROS,
SA E
INSTITUTO SUPERIOR
MIGUEL TORGA
projectos curriculares do curso de
Licenciatura em Informática de Gestão
e também promover a cooperação a
nível da formação e da prestação de
PROTOCOLO DE
COOPERAÇÃO
SUB-REGIÃO DE SAÚDE DE
AVEIRO DA ARS CENTRO E
INSTITUTO SUPERIOR
MIGUEL TORGA
Em 5 de Agosto de 2005, foi celebrado
um protocolo de cooperação, no qual
as duas instituições se comprometem
em promover:
-a organização de um sistema de
cooperação relativamente a visitas de
estudo, visitas de observação
A 16 de Maio de 2005, foi celebrado um
PROTOCOLO DE
COOPERAÇÃO
UNIVERSIDADE MODERNA
DE LISBOA E
INSTITUTO SUPERIOR
MIGUEL TORGA
protocolo de cooperação visando
instituir um sistema de colaboração
As instituições comprometem-se a
promover o intercâmbio académico e a
académica graduada e pós-graduada,
formação profissional e prestação de
relativo a estágios e projectos
curriculares do curso de Licenciatura em
realizar acções conjuntas que visem
potenciar as valências culturais,
serviços de saúde.
prolongada e estágios de estudantes
de cursos de Licenciatura em Serviço
Social;
-a investigação científica, formação
Ana Cristina Abreu
torga 11
Aconteceu
Gabinete de Relações Internacionai
Duplas Licenciaturas
Candidatura à Carta
Universitária Erasmus
PROGRAMA DE MOBILIDADE
ACADÉMICA
O Instituto Superior Miguel Torga vai
O
Relações
O Gabinete de Relações Internacionais
Internacionais do Instituto Superior
Miguel Torga submeteu à aprovação da
informa que a Universidade Federal da
Paraíba (UFP), Instituição Brasileira de
Comissão Europeia, no passado dia
26 de Outubro, a Carta Universitária
Ensino Superior que mantém protocolo
de colaboração com o Instituto Superior
Erasmus (CUE), para o ano lectivo
2006/2007.
Miguel Torga, tem abertas as
candidaturas para alunos estrangeiros
A CUE estabelece os princípios
fundamentais de qualquer actividade
interessados em frequentar o seu
programa de mobilidade académica,
de intercâmbio académico-científico
no quadro do programa Sócrates/
até 31 de Março de 2006.
Assim, todos os alunos de licenciatura
Erasmus e, assim sendo, uma vez
aprovada, autoriza o ISMT a
do ISMT que pretendam inscrever-se
nas disciplinas de uma das licenciaturas
apresentar a candidatura a propostas
de mobilidade de estudantes,
ou bacharelatos da UFP, bem como
alunos interessados em realizar estágio
docentes e funcionários.
Estagiários no Gabinete de
curricular no próximo ano lectivo 20062007, deverão apresentar a sua
Relações Internacionais
No ano lectivo de 2005/2006, o
candidatura à UFP, preenchendo o
Formulário
para
Estudantes
Gabinete de Relações Internacionais
recebe dois estagiários do 3º ano da
Estrangeiros.
O Formulário deverá ser enviado ao
licenciatura em Psicologia do ISMT. A
oportunidade de desenvolver um
cuidado do Dr. Félix Augusto
Rodrigues, Assessor para Assuntos
estágio de observação-acção
proporcionará aos alunos a inserção
Internacionais da UFP, via e-mail para
[email protected].
num contexto real de trabalho
institucional.
Todas as informações sobre a
Universidade Federal da Paraíba e sobre
São objectivos do estágio favorecer a
apreensão das dinâmicas institucionais
os estudos graduados aí existentes
poderão ser consultados através do
implicadas nos processos de
intercâmbio académico e científico
website: www.ufpb.br
Contactos:
internacionais, assim como colaborar
em protocolos de investigação
Felix Augusto Rodrigues
Assessor para Assuntos
psicológica e psicossociológica sobre
algumas dimensões significativas nos
Internacionais
Universidade Federal da Paraíba
processos de relação interpessoal, no
quadro do intercâmbio académico
Prédio da Reitoria, 1º Andar - Sala 14
Cidade Universitária - Campus I
internacional.
Castelo Branco - 58.059-900
João Pessoa - Paraíba – Brasil
Gabinete
de
GRI
Tel.:/Fax: +55 83 3216 7156 ou +55
83 4009 7156
Web site: www.ufpb.br
E-mail: [email protected]
GRI
12 torga
proporcionar aos alunos licenciados
pela instituição, a obtenção de outra
licenciatura ministrada em apenas dois
a três semestres de aulas, consoante
as situações.
Isto só será possível nos cursos onde
se podem estabelecer sinergias. Assim,
a título de exemplo, um licenciado em
Serviço Social poderá, a partir de 2006,
obter a licenciatura em Psicologia, com
apenas mais dois a três semestres de
aulas. Para isso terá que se candidatar
através de um concurso especial.
Estas relações de sinergia podem ser
estabelecidas também nos cursos de
Serviço Social e Psicologia, Ciências
da Informação e Multimédia;
Informática de Gestão e Multimédia.
Para obter mais informações
contacte o ISMT através do telefone:
239 488 030
Andrea Marques
Aconteceu
É um dos objectivos principais da revista Torga ser um espelho do trabalho desenvolvido por aqueles que são a razão de
existência do Instituto Superior Miguel Torga.
É neste contexto que se inserem os textos seguintes da autoria de duas alunas da licenciatura em Ciências da Informação
(4º Ano), um sobre o jornal A Cabra e outro sobre a comemoração do Dia Mundial da Criança.
Aproveitamos a oportunidade para, mais uma vez, renovarmos o convite à participação de todos os alunos através da
publicação de textos, reportagens, entrevistas e outras sugestões.
A Cabra
Já se tornou um hábito. De quinze em
quinze dias, os estudantes da
Universidade de Coimbra contam
com o seu jornal.
Por trás das 24 páginas que são o
corpo do jornal A CABRA, está uma
equipa de futuros profissionais que
dão tudo por tudo para superar as
expectativas de cada leitor.
Joana Matias
Inserido na secção de jornalismo da
Associação Académica de Coimbra
(AAC), o jornal A CABRA surgiu em
Janeiro de 1991, com o objectivo de
servir os membros da Academia de
Coimbra.
O corpo do Jornal é constituído pelo
Director, Chefe e Secretária de
Redacção, Colaboradores, Redactores
e Fotógrafos. Está dividido em vários
editoriais, Ensino Superior, Cidade,
Nacional e Internacional, Ciência,
Cultura, Desporto e Fotografia.
Sendo um órgão de comunicação
social académico, A CABRA reconhece
como seu público alvo os membros
da Academia de Coimbra.
Qualquer estudante, de qualquer
licenciatura pode escrever para A
CABRA. Existe sempre à disposição
de todos os colaboradores uma
formação garantida por profissionais
da área da comunicação social.
Mas, sem dúvida,
que os alunos de
Jornalismo são os
mais favorecidos.
Com
cursos
bastante teóricos, é
na redacção d’ A
CABRA que todos
têm a oportunidade
de pôr em prática o
que aprendem nas
aulas.
“É aqui que tenho
a oportunidade de
conhecer a prática
jornalística e de
trabalhar
num
jornal”, explica João Campos, aluno
do 2º ano de Jornalismo e editor de
Cidade do jornal.
Para além da preparação que a
experiência de ser colaborador d’ A
CABRA
proporciona a nível
profissional, o convívio e as amizades
que se criam saltam à vista de qualquer
um que entre na Redacção. Para que
tudo corra bem é necessária a
disponibilidade e a dedicação de
todos.
Há sempre alturas mais complicadas,
fases da vida académica mais
preenchidas, restando assim menos
tempo para colaborar, mas sempre se
conse-guem superar as dificuldades.
“É fácil conciliar os estudos com A
CABRA, na época de exames alivia-se
um pouco o tra-balho”, desabafa João
Campos.
Geralmente, o jornal é composto por
24 páginas, nas épocas de exames são
torga 13
Aconteceu
reduzidas para 20 e os artigos são
mais simples “para se evitar passar
tanto tempo na redacção”.
O funcionamento da Redacção
De quinze em quinze dias, à TerçaFeira, é feita uma reunião de editores
onde são propostos os temas da
próxima edição e é estabelecido o
contacto com os redactores.
No dia seguinte, é dia de plenário,
isto é, em reunião, os editores revelam
os temas da próxima edição e os
redactores oferecem-se para fazer os
artigos. Cada redactor tem uma
semana e dois dias para fazer o
trabalho que lhe foi destinado, pois
Sexta-Feira é a entrega dos artigos.
Nessa altura, “nada pode falhar, pois
há prazos a cumprir”, explica Margarida
Matos, Editora da secção de Ensino
Superior do jornal. Apenas a secção de
Desporto pode entregar os traba-lhos
mais tarde, uma vez que “os jogos da
Académica, geralmente, são ao fim-desemana.”
O Fecho
A maior dificuldade é no fecho,
estamos cá todo o fim-de-semana
pela noite dentro”, refere João
Campos, Editor da secção Cidade d’
A Cabra.
A distribuição
imaginativo na sua permanente
comunicação com os leitores.
O jornal chega entre Segunda-Feira à
noite e Terça-Feira de manhã e saem 4
A CABRA estabelece as suas opções
mil cópias.
Terça-Feira, logo depois das nove da
editoriais sem hierarquias prévias entre
os diversos sectores de actividade,
manhã, é distribuído gratuitamente por
vários pontos estratégicos da cidade,
numa constante disponibilidade para
o estímulo dos acontecimentos e
zona da Alta, pólos, Faculdade de
Economia, cantinas, AAC e cafés.
situações que quinzenalmente, são
noticiados e comentados.
É nesta altura que os “jornalistas”
A CABRA considera que a existência
sentem o verdadeiro orgulho do
trabalho, do esforço e da dedicação a
de uma opinião pública informada,
activa e interveniente é condição
mais uma edição do jornal. O
sentimento de missão cumprida é
fundamental da democracia e da
dinâmica de uma sociedade aberta,
geral, mas não dura muito, há que
preparar agora o próximo número d’ A
que não fixa fronteiras regionais,
nacionais e culturais aos movimentos
CABRA.
de comunicação e opinião.
A CABRA participa no debate das
Estatuto editorial
grandes questões que se colocam à
sociedade portuguesa, não só através
A CABRA é um jornal quinzenal de
grande informação, orientado por
da sua vertente informativa, mas
também mediante os seus editoriais e
critérios de rigor e criatividade editorial,
sem qualquer dependência de ordem
artigos de opinião.
ideológica, política e económica ou de
qualquer outra espécie.
A CABRA é responsável apenas
perante os leitores, numa relação
A CABRA é um órgão de comunicação
rigorosa e transparente, autónoma do
poder político e independente de
social académico e, desse modo,
reconhece como seu público-alvo os
poderes particulares.
membros da Academia de Coimbra.
A CABRA reconhece como seu único
limite o espaço privado dos cidadãos
Entre Sexta e Domingo, é feita a
paginação e escolhem-se as melhores
fotografias, Domingo à noite, o
resultado desta equipa de estudantes,
é entregue à gráfica que fica em
Oliveira de Azeméis.
É no fecho do jornal que é dado o
tudo por tudo. Os textos são lidos e
A CABRA inscreve-se numa tradição de
jornalismo exigente e de qualidade,
e tem como limiar de existência a sua
credibilidade pública.
recusando o sensacionalismo e a
exploração mercantil da matéria
Aprovado em 2002
relidos para que nada falhe.
“É obvio que não é com o mesmo
variados campos de actividade e
correspondendo às motivações e
stress de um jornal profissional, mas
já nos dá bastante experiência e
interesses de um público plural.
bastante bagagem”, desabafa João.
Geralmente, o fecho termina por volta
A CABRA entende que as novas
realidades sociais implicam um
das quatro/ cinco da manhã.
jornalismo rigoroso, eficaz, atractivo e
14 torga
informativa.
A CABRA aposta numa informação
diversificada abrangendo os mais
Aconteceu
O Teatro e as Crianças
Dia Mundial Da Criança
“ Hoje é o meu dia, o nosso dia”
Mais do que um dia de receber
prendas, o Dia Mundial da Criança
serve para pensar naquelas crianças
que tanto precisam de ajuda.
Crianças que são vítimas de
exploração infantil, de maus-tratos,
de abusos sexuais, chegando
mesmo a existir crianças que não
comem durante dias e nunca foram
à escola porque os pais não deixam.
Este é um quadro negro sobre a
situação das crianças no mundo,
incluindo o nosso país.
Sabrina Couceiro
uma história cujos factos foram
narrados há muito tempo.
Eram três da tarde, do dia um de Junho
de 2005, o Teatro Académico Gil
As Crianças na Comunidade
Vicente estava repleto de crianças
cheias de sonhos. Meninos e meninas
As crianças da Comunidade Juvenil S.
da Comunidade de S. Francisco de
Assis, uma casa, em Coimbra, que
Francisco de Assis são exemplo de
meninos que muito precisam de ajuda.
recebe crianças sem pais, ou de
famílias em risco.
Estes vivem na Comunidade pelos mais
variados motivos, tais como, a falta de
Faltavam poucos minutos para o
teatro começar quando as luzes da sala
condições financeiras por parte dos
pais; problemas de alcoolismo, droga,
se apagaram, ficando apenas as de
presença que permitiam ver o cenário.
entre outros.
São crianças e jovens habituados a
No palco, uma casa de banho
aguardava a entrada em cena da peça
lutar pelo que querem sozinhos, sem
o apoio dos pais, podendo apenas
“Vinte Mil Léguas Submarinas”.
contar com o apoio de psicólogas e
assistentes sociais. Lutam pela
“Vinte Mil Léguas Submarinas”
sobrevivência na nossa sociedade.
Desde de cedo são preparados para o
Conta-se a história de duas crianças
que, numa casa de banho, brincam
mundo que os espera.
A Comunidade Juvenil S. Francisco
com uma lâmpada e que acreditam na
magia da electricidade. Ao mesmo
de Assis é composta por inúmeras
casinhas, nas quais vivem cerca de seis
tempo que acreditam nesta magia,
imaginam, também, estar no
crianças e jovens. E são os mais velhos
que “tomam conta dos mais novos”, no
submarino Nautilus, que fora inventado
pelo capitão Nemo. E, num rápido
sentido em que os orientam em alguns
aspectos, “Temos o papel de
apagar e acender de luzes, as crianças
entram na história criada por Júlio
orientadores”, disse o André ( 18 anos),
nome fictício.
Verne. Encontram o capitão Nemo
desesperado, pois queria mudar o final
Ao contrário dos mais pequenos,
alguns dos mais velhos não gostam de
trágico da história.
É, precisamente,
Algumas das Crianças que esperavam para entrar no teatro
este final trágico que
a sociedade pretende
mudar, no que diz
respeito à vida das
crianças em risco.
Percebendo
a
vontade que o capitão
tinha em mudar a
história, as crianças
querem ajudá-lo, mas
vêem-se incapacitadas de o fazer, porque
era impossível mudar
torga 15
Aconteceu
viver na Comunidade, não pela
Comunidade em si, mas por estarem
“Ana,” nome fictício, foi logo trocar de
roupa, “ A Ana foi trocar de roupa
mas também pelos sonhos que
flutuavam naquelas pequenas
afastados dos pais e porque aspiram
a uma vida melhor.
porque estava mal vestida para ir ao
teatro”, justificou a “Rita”.
cabecinhas que ao mesmo tempo
aspiravam a um futuro mais risonho.
O “André “ é um dos jovens que não
gosta de viver naquele local e que
A alegria de “Rita” contrastava com
a tristeza de um outro amigo, o
deseja uma vida melhor, “ Sábado voume embora daqui, vou para a tropa,
“António”. Este quando soube do
teatro, não se mostrou muito contente,
quero ser paraquedista”, afirmou
durante o pequeno diálogo que
pois preferia ficar na Comunidade.
Dentro dos vários meninos que
consegui estabelecer com ele.
Apesar de estarem longe de casa,
estavam na Comunidade, a “Rita” foi a
que mais se evidenciou, devido à sua
alguns destes jovens e crianças
mantêm contacto com os pais. Durante
vivacidade e ao carinho que nutria
pelas outras crianças.
o fim-de-semana, as crianças podem
ficar em casa dos pais e quando os pais
A Caminho do teatro
não podem ficar com eles, passam na
Comunidade a visitá-los.
Depois do Animador Social ter
A Comunidade Juvenil S. Francisco
verificado se todas as crianças estavam
presentes, seguiram rumo ao teatro. O
de Assis
percurso foi feito de muitas perguntas
e risadas.
No dia Mundial da Criança, a
Comunidade Juvenil S. Francisco de
O momento tão esperado estava
prestes a acontecer.
Assis estava rodeada de alegria e
entusiasmo por parte dos mais
Apesar da agitação do momento
entraram ordeiramente na sala e
pequenos. Sentimentos que eram
visíveis na cara de cada uma das
esperaram pelo início da peça.
Assim que a peça subiu ao palco, fez-
crianças, num dia que, sabiam, lhes era
dedicado.
se silêncio que durou uma hora, o
tempo da representação. No final da
Após o almoço, o Animador Social
estabeleceu o programa da tarde, uma
peça, todos os actores do elenco
subiram ao palco, para deixar umas
ida ao Teatro. Depressa a alegria se
misturou com ansiedade. Para muitos
palavras de agradecimento às crianças
e para lhes dizerem que na entrada
o teatro, o palco, os actores eram uma
realidade distante, pois nunca tinham
esperavam por eles CD‘S com as
músicas da peça. Assim que o núcleo
assistido, ao vivo, a nenhuma peça.
do teatro termina de falar, a agitação e
a correria começam de novo, mas
Dia 1 de Junho é o meu dia, o
nosso dia”
desta vez para não perderem os
presentes.
Foi assim que “Rita”, de oito anos,
O olhar com que saíram era mais
brilhante do que quando entraram, até
nome fictício de uma das meninas que
vive na Comunidade, radiante,
o olhar de “António”, que ao início não
queria ir.
descreveu o dia da Criança. Assim que
soube que ia ao teatro apressou-se a
O pano desceu, o silêncio que durou
algum tempo, transformou-se numa
chamar as suas amigas, porque não
se podiam atrasar. Uma das amigas, a
imensa correria e a sala voltou a estar
iluminada, não apenas pelas luzes,
16 torga
Aconteceu
COMEMORAÇÕES DOS 70
ANOS DO EDIFÍCIO DA
ESCOLA JOSÉ FALCÃO/
LICEU D. JOÃO III
Ao longo da sua reconhecida e
prestigiosa actividade que já decorre
por 3 séculos, vários edifícios serviram
de casa ao Liceu de Coimbra, ao Liceu
José Falcão, ao Liceu Júlio Henriques,
ao Liceu Normal D. João III e à Escola
Secundária José Falcão.
Qualquer que seja a designação,
cabe agora a todos os actuais actores
lembrar que o edifício da Avenida Dom
Afonso Henriques serve de instalação
a esta instituição desde 1936, e
portanto, em 2006, completará 70 anos.
Os órgãos de gestão e a
administração da Escola Secundária
José Falcão tomaram a decisão de
comemorar esta data. A Escola Sec.
José Falcão, sucessora do Liceu D.
João III, substituiu em Setembro de
1936,os anteriores liceus Júlio
Henriques e José Falcão, entretanto
extintos pelo Estado Novo.
A
primeira
iniciativa
das
comemorações ocorreu no passado
dia 30 de Setembro, com a presença
do Dr. António Almeida Santos, Ex.
Presidente da Assembleia da República
e antigo aluno do Liceu D. João III,
onde concluiu o curso complementar
dos liceus em 1945, com brilhante
classificação, tendo sido considerado
o melhor aluno do Liceu. O ilustre
antigo aluno aceitou o convite para se
integrar nas comemorações e proferiu
decorrer durante todo o presente ano
lectivo e terá o seu apogeu em Outubro
uma brilhante conferência subordinada
ao tema “ ESCOLA, LIBERDADE E
do 2006.
Entre as iniciativas a concretizar, irão
VALORES” que entusiasmou alunos,
funcionários e professores que lotaram
realizar-se palestras, exposições
organizadas pelos diferentes grupos
a capacidade do Auditório da Escola.
A comissão responsável pelo evento
disciplinares, conferências temáticas,
edição de um volume comemorativo e
está a preparar o programa das
comemorações, estando previsto um
outras actividades especialmente
preparadas para aglutinar actuais e
antigos alunos,
professores.
funcionários
e
Jorge Carvalho
Coordenador da Comissão
das Comemorações dos 70 anos
do Edifício do Liceu D. João III/
Esc. Sec. José Falcão.
conjunto de iniciativas que irão
torga 17
18 torga
Sucesso
SUCCÈS D’ESTIME:
O título deste texto era uma expressão corrente na Inglaterra do século XIX, usada
para descrever a recepção, mais cordial do que entusiástica, dada a uma obra
literária. Julgo que as linhas que se seguem não merecem uma coisa, nem são a
outra.
É deveras interessante ser convidado para escrever sobre algo que desconheço
em absoluto. O sucesso como expressão civilizacional é-me totalmente estranho. Já
o sucesso literal – succedere – ou seja, “o que vem depois”, é outra história. No
primeiro caso, o sucesso é admiração pública e riqueza. Julgo ser difícil conseguir
ambas as coisas sem atropelar a lei e enganar a consciência, no caso de se possuir
uma, naturalmente. Para virmos a ostentar uma inimaginável riqueza ou conhecemos
de cor os oráculos de Ântio, onde Fortuna fala, ou roubamos alguém. Dir-me-ão que
exagero: pois claro, ou não falasse eu de uma riqueza inimaginável.
A admiração pública, que Herberto Hélder tanto despreza em vida mas terá em
morte, é um assunto algo diferente. Não se trata tanto de saber como alcançá-la,
mas porquê. Provavelmente, quem a persegue nunca se sentiu verdadeiramente
amado. Isso aconteceu a Ájax, está escrito há muito tempo. Por ironia da Fortuna
(novamente ela), o homem ou mulher verdadeiramente famosos preocupam-se com
outras coisas. A Fama, literalmente, fala, rumor, é decerto perseguida por aqueles
que adoram o sucesso. Talvez distraídos com os seus feitos, se esqueçam por vezes
que a fama, sendo apenas palavra, leva-a o vento. Assim, este excurso se despede
do sucesso contemporâneo.
O outro sucesso, o que sucede, já me diz qualquer coisa. Julgo que ninguém
ainda conseguiu fazer melhor que Horácio: despede-te do dia que passou e não
esperes nada do dia de amanhã.
Um pouco antes do bom do Horácio escrever as suas Odes, do outro lado do
mundo os taoístas alinhavam pela mesma bitola. Significa isto, tão só, que a nossa
vida se mede em unidades destacadas, tanto quanto a noite sucede ao dia.
O meu sucesso, hoje, no dia em que escrevo estas linhas, será aprender mais
qualquer coisa, ter sido justo, beijar os meus filhos e deitar-me sossegado. É pouco,
dirão vocês. Talvez seja, para quem espera tudo do dia de amanhã. Não é o meu
caso.
Filipe Nunes Vicente
torga 19
Sucesso
duas lesões e ao aceitar este emprego
tive que deixar de fazer fisioterapia.”
Embora já não treinasse há um mês
foi ainda disputar o Campeonato
Nacional pela Nazaré. “Fomos
campeões nacionais por equipas, mas
o corpo já não reage da mesma
maneira. A classificação que eu tenho
neste momento, é dos torneios que eu
fiz no ano passado, ou seja, apesar de
estar a estagiar e a trabalhar, foi dos
anos que me correram melhor. Talvez
por satisfação profissional…”
• Campeão Regional Absoluto de
Coimbra por 6 vezes: 1996, 1998,
1999, 2002, 2003 e 2004
• Campeão Nacional de Inter-clubes
“O meu objectivo foi sempre atingir o máximo”
Matthieu Garcia começou aos 8 anos a jogar ténis. Tem hoje 24, é número 7 no
ranking nacional. Licenciou-se em Ciências do Desporto e Educação Física com
média de 16 valores.
Seniores da 3ª Divisão em 2001 (T.C.
Figueira da Foz) em Vale do Lobo
• 2º Classificado no Campeonato
Nacional de Inter-clubes Seniores da
2ª Divisão em 2002 (T.C. Figueira da
Foz), na Figueira da Foz
• 3º Classificado no Campeonato
Nacional de Inter-clubes Seniores da
1ª Divisão em 2003 (T.C. Figueira da
Foz), no Jamor.
“Nunca achei complicado conciliar o
estudo com o ténis. Acho que com força
Durante o tempo que esteve a estudar
não teve dificuldades em conciliar o
de vontade se consegue tudo.” Foi com
esta determinação que Matthieu se
estudo e a carreira desportiva. O mesmo
já não se passa agora com o trabalho,
Melhores classificações Nacionais
Seniores na variante de singulares
entregou, desde sempre, ao ténis.
Considerado um desporto de elite “é
as exigências são outras. Matthieu está
colocado como professor de Educação
também um desporto muito individual
e com muito poucos apoios. Gasta-se
Física no Instituto Educativo de
Souselas. “Neste momento, nem sequer
muito dinheiro e não há o devido
retorno. O meu pai foi o meu principal
estou a jogar. Infelizmente, em Portugal,
não dá para viver do ténis. Tive que
• 12º • 10º • 12º • 8º • 7º -
patrocinador”.
A falta de patrocínios é um dos
optar pelo trabalho. Estou a trabalhar e
a dar treinos ao mesmo tempo, o que
maiores entraves na sua carreira
desportiva. “Mesmo sendo o 7º nacional
me deixa com tempo nulo para mim e
para competir. A carreira desportiva,
não se ganha quase nada. Gasta-se
mais do que aquilo que se ganha. É
agora, está em stand by. Não gosto da
palavra desistir.”
mais por amor à camisola. O meu
objectivo foi sempre atingir o máximo
Matthieu não prevê que no próximo
ano possa competir nem que tão cedo
das minhas potencialidades. Acho que
apesar de ter feito muito, o máximo não
melhore a sua classificação. “É muito
difícil. É preciso treinar, sobretudo estar
pude atingir porque também não houve
dinheiro para isso. Para atingir o máximo
dedicado a isso e eu, neste momento,
não estou. Também não estou nas
teria que ir jogar lá fora…”
melhores condições físicas. Estava com
20 torga
1999
2000
2003
2004
2005
Andrea Marques
Sucesso
actualmente na posição em que estou.
Sinto-me realizada”.
Quando se fala em sucesso sente
alguma dificuldade em defini-lo. “Essa
expressão tem muito de pessoal. Eu
considero-me uma pessoa de sorte e
de sucesso na medida em que faço
aquilo que gosto e tenho algum
reconhecimento nisso.”
Confessou ser ambiciosa e um dos
seus sonhos é “um dia poder gerir um
grande hospital. Se conseguir conciliar
tudo isso com a advocacia então serei
100 por cento realizada. Estou a
trabalhar para isso.”
Tem como projectos a curto prazo,
“Sinto-me realizada”
por exemplo a especialização na área
de Gestão. A longo prazo “tenho
Em criança sonhava ser bailarina ou artista de televisão. Hoje, é uma Advogada
e Administradora de sucesso. Joana Mota tem 28 anos, é determinada e a sua
maior ambição é um dia poder gerir um grande hospital.
Aos 7 anos começou a ter aulas de
te teórico e muito trabalhoso. Ao longo
piano, praticava natação e equitação. O
gosto pela leitura surgiu aos 11. A
do curso aprendi a apaixonar-me por
ele.” No entanto, e apesar dos estudos
música e a pintura são também duas
paixões. “Eu não era nada reguila. Era
lhe ocuparem muito tempo conseguiu
sempre “compatibilizar as exigências
uma miúda muito introvertida. Era
considerada pelos professores como
que o meu curso tinha para comigo e
nunca descurar a vertente lúdica da
«bem comportada». Não era nenhum
génio, mas era boa aluna. Nunca tive
passagem pela Universidade, que é
fascinante. Criei laços de amizade
dificuldades.”
Sempre se imaginou na área de
profundíssimos que perduram hoje em
dia.”
Humanidades “eu tinha muito mais
apetência para Letras, gostava muito de
Licenciou-se em 2001 e, neste
momento, assume vários cargos:
ler e escrever”. No Secundário,
Jornalismo e Inglês-Alemão eram duas
Directora Jurídica/ Administradora
Executiva/Advogada na Sanfil – Casa de
áreas que, na altura, pensava seguir. A
decisão de cursar Direito só a tomou no
Saúde de Santa Filomena, S.A;
Advogada na Sociedade de Avogados
12º ano. “O meu pai teve muita
influência na minha escolha”, confessa.
António Arnaut e Associados e Gerente/
Advogada na Si Vales – Saúde e Vida
Nunca se sentiu pressionada mas
“aconselharam-me a tentar encontrar
SGPS; Ld.ª. O segredo é simples “eu
penso que a minha determinação, a
um equilíbrio entre aquilo que seria a
minha profissão um dia mais tarde, o
vontade de fazer sempre mais, ser
sempre melhor e também uma pontinha
meu gosto por ela e poder executá-la
na prática, ter emprego…”
de sorte pesou na minha situação actual
e nas perspectivas que eu tenho. Foram
Entrou para Direito em 1995 um curso,
como Joana Mota afirma “extremamen-
factores imprescindíveis para eu estar
também uma vontade oculta, digamos
assim, de poder seguir uma carreira
académica. Dar aulas, fazer um
mestrado, doutoramento. Tenho esse
projecto, ainda que, neste momento,
esteja um pouco latente porque tenho
outras prioridades. Gostava de
sedimentar mais os meus conhecimentos e a aplicação deles a nível prático e,
então, um dia mais tarde, seguir a fundo
a carreira académica”.
Livro – A Morgadinha dos Canaviais –
Júlio Dinis
Música – Smiths
Filme – Closer
Viagem – Marcou-me muito uma
viagem que fiz com os meus pais e
o meu irmão a Nova Iorque e
Orlando, em 1997. E, adorava ir ao
Egipto.
Ópera – Aida, da primeira vez que
esteve em Portugal
Figura que admira – Paula Rego
Sonho – Olhar para trás e sentir-me
realizada por ter conseguido
compatibilizar o trabalho com o
papel de mãe. É um receio que
tenho: um dia vir a constituir
família e não ser capaz de
cumprir o meu papel de mãe.
Andrea Marques
Filipe Casaleiro (Foto)
torga 21
Sucesso
T – Qual (ou quem) é o seu modelo
de sucesso?
TM – Modelos de sucesso no
automobilismo tenho vários, o Ayrton
Senna, Alain Prost, e claro, M.
Schumacher que também vai deixar
sua marca.
T – O que pensa sobre poder estar a
ser um “modelo” de sucesso para
muitos jovens?
TM
–
É
uma
enorme
responsabilidade. Apesar de não estar
certo de ser um modelo de sucesso.
Acho que para alguns sou uma
referência apenas. E isso não me
desagrada de todo, pois olho para o
meu passado e o meu presente e
Tiago Monteiro - Sucesso a alta velocidade
apesar de também ser uma pessoa que
tem defeitos, acho que o meu percurso
Quando começámos a pensar em jovens portugueses que pudéssemos associar
e a minha atitude profissional são
bastante positivas.
a exemplos de sucesso, o nome de Tiago Monteiro veio imediatamente no topo
da memória.
Para a maior parte dos portugueses este era, até há um ano atrás, um nome
completamente desconhecido.
Hoje, faz parte do imaginário de muitos jovens que sonham vencer num tabuleiro
mundial com grande visibilidade mediática.
Ainda antes de terminar o campeonato de F1, enviámos um e-mail a Tiago
Monteiro com 6 perguntas. Em menos de 6 dias vieram as respostas que se
seguem.
T – O que sentiu quando subiu ao
podium?
TM – Foi uma sensação única. Era
algo que não esperava que pudesse
acontecer no meu ano de estreia na F1.
Tenho consciência que aquele pódio
foi conseguido em condições
especiais. Mas, para mim, foi uma
corrida normal, pois em pista estavam
os meus mais directos adversários.
Torga (T) – O que é o sucesso para
um corredor de F1? A vitória? O
TM – Existem várias etapas, depende
um pouco por onde se começa. Há
vencimento? A fama?
Tiago Monteiro (TM) – A vitória com
pilotos que começam muito novos no
karting, o que não foi o meu caso.
T – Como reage ao insucesso?
TM – Sei lidar muito bem com os
certeza.
Para mim, inicialmente, o meu
Comecei com 20 anos, na Porsche
Francesa. Passei por vários
períodos menos bons. Procuro sempre
tirar deles o melhor ensinamento
sucesso era poder constar da lista de
20 pilotos que fazem parte deste
campeonatos, entre a F3, a F3000, a
Champ Car, a World Series by Nissan.
possível e procurar corrigir algo que
não tenha feito bem e procurar
restrito mundo. Depois, era conseguir
terminar corridas, mais tarde foi
Em todos, procurei sempre aprender
ao máximo, ser o mais profissional
melhorar. Não dou grande importância
a críticas sem fundamento e procuro
pontuar e, neste momento, o meu
sucesso será um dia vencer! É para
possível, ser dedicado ao meu
trabalho, ser humilde e lutar sempre
ser sempre o mais humilde possível.
isso que luto e trabalho.
pelo melhor resultado. A F1 foi
consequência disso tudo. Há sempre
T – Que etapas se tem de percorrer
para chegar até à Formula 1?
um longo caminho a percorrer. Não
podemos achar que tudo é fácil.
22 torga
Fernando Teófilo
Sucesso
“Tudo o que se passa… passa na TSF”,
então passou a ser um sonho trabalhar
na TSF.
T – Como foi o percurso na escola?
RD – Foi um percurso muito regular.
Sinceramente, até chegar ao Ensino
Superior nunca me preocupei muito
com a escola.
Fazia o estritamente essencial para
conseguir
obter
resultados
“aceitáveis”, nunca tirei negativas, era
um aluno de 14... sobretudo, pouco
esforçado.
Sempre vivi um dia de cada vez e não
me preocupava muito com o futuro. Os
meus pais é que não gostavam muito
dessa atitude... Sempre lhes disse que
quando fosse preciso trabalhar a sério
o faria. O tempo acabou por dar-me
razão... Mas admito que podia ter sido
diferente.
Na faculdade as coisas mudaram
muito, ir às aulas era um prazer,
“Quero chegar o mais alto que puder”
Licenciou-se em Ciências da Informação no Instituto Superior Miguel Torga. Tem
apenas 23 anos e é Jornalista na TSF.
Ricardo Duarte admite estar a viver um sonho, e afirma que a licenciatura foi
decisiva para o seu sucesso.
Torga (T) - Como surgiu a paixão
interesse pelo jornalismo. Conseguiu
pelo Jornalismo? Sonho de infância?
Ricardo Duarte (RD) – Não posso
despertar em mim a paixão por esta
profissão.
dizer que sempre sonhei ser jornalista...
O que gostava era de ouvir e ler
O Joaquim era Jornalista na RTP e
eu durante algum tempo já só sonhava
histórias. Se pensarmos que o
jornalista é um contador de histórias,
em ir para a televisão mas depois, no
último ano, surgiu outra pessoa
então esse aspecto é algo que desde
muito cedo me cativou. Agora, o
decisiva no meu percurso, o Artur
Carvalho (Jornalista da TSF).
Jornalismo, a sério, ou a hipótese de
ser jornalista, foi algo que só surgiu
Foi meu professor de Jornalismo
Radiofónico e exerceu sobre mim uma
muito mais tarde, já durante a
licenciatura. O principal “culpado” pelo
influência incrível. Foi através dele que
comecei a descobrir a Rádio. Sempre
despertar dessa paixão foi o Joaquim
Fernandes. Ele foi meu professor de
ouvi muito a TSF, mas desde que o tive
como professor... passei a “devorar” a
Teorias e Técnicas de Produção
Informativa e foi decisivo para o meu
Rádio! Queria saber tudo, perceber
como é que tudo se passava, ora, se
gostava daquilo que estudava, adorava
a relação com os professores, falar com
eles, saber sempre mais...
T – Qual é a sua definição de
sucesso?
RD – Atingirmos algo que
ambicionamos
muito,
sermos
reconhecidos pelo nosso trabalho e
sentir todos os dias que estamos a viver
um sonho... Isso é ter sucesso!
T – A licenciatura contribuiu para
esse sucesso?
RD – De forma decisiva. Muitas
vezes, as pessoas são um pouco
injustas para com o ISMT. A minha
opinião é que apesar de as condições
físicas não serem as melhores, em
termos humanos as razões de queixa
são muito poucas. Claro que não é
perfeito, como tudo, há professores
melhores e piores, mas, no geral, a
qualidade é muito boa e isso é
torga 23
Sucesso
fundamental para a formação de bons
jornalistas.
Jornalismo, hoje podemos ir entrevistar
o Figo e amanhã o José Sócrates. Há
No meu caso, a licenciatura veio
abrir-me portas que de outra forma
sempre um grau de imprevisibilidade
muito grande, é uma das coisas que
ainda hoje estariam fechadas.
adoro na profissão.
T – Quando e como começou a
trabalhar na TSF? Logo após a
T – Qual é a sua maior ambição?
RD – Ser sempre melhor, em tudo!
licenciatura?
RD – Tinha terminado o curso em
T – E, projectos para o futuro?
Julho, tirei umas férias, que depois
acabaram por ser mais prolongadas do
RD – Alguém disse um dia que “o
futuro não existe sem o passado”, por
que gostaria.
Um dia, no fim de Novembro, o João
isso, espero continuar na TSF por
muito tempo, a construir um bom
Paulo Meneses, director da TSF no
Porto, ligou-me a perguntar se queria
passado para poder ter um futuro
promissor.
vir fazer um estágio pós-curricular. Era
só por um mês e não ia receber nada
Não escondo que sou ambicioso e,
como tal, quero chegar o mais alto que
mas disse logo que sim. Acabei por
ficar mais 15 dias, depois acabou.
puder.
Surgiu então um convite para outra
rádio, em Lisboa, e fui. Passado um
mês o José Fragoso, director da TSF,
ligou-me a propor um estágio de 2
meses, de novo no Porto e eu, mais
uma vez aceitei. As coisas correram
bem e desde esse dia que estou na
TSF.
T – Como está correr o trabalho na
TSF?
RD – Pode parecer um pouco
exagerado, mas, todos os dias me
apetece dar um beliscão a mim próprio
para me certificar de que não estou a
sonhar.
Adoro o que faço e todas as pessoas
têm sido fantásticas comigo.
Incentivam-me, corrigem-me, ajudamme a crescer enquanto profissional. O
ambiente é único.
Neste momento, não estou ligado a
nenhuma editoria em particular, tanto
faço reportagem de pista nos relatos
de futebol, como estou numa equipa
de edição, faço directos ou
reportagens, tudo o que é preciso. A
versatilidade é muito importante no
24 torga
Andrea Marques
“Aprendi muito no ISMT”
Joana Côrte-Real licenciou-se em
Ciências da Informação no Instituto
Superior Miguel Torga. Tem 26 anos e
é jornalista na RTP. Esteve ligada ao
programa 2010,do canal 2.
Neste momento, está de partida para
Cabo Verde para abraçar um novo
projecto da RTP África.
Torga (T) - Como surgiu a paixão pelo
Jornalismo? Sonho de infância?
Joana Corte-Real (JCR) - Sonho de
infância? Não. Nunca pensei em ser
jornalista. Quando era pequena,
sonhava talvez ser cabeleireira ou
professora... Acho que todas as
crianças sonham ser alguma coisa que
nada tem a ver com o que realmente
escolhem no futuro. Mas desde sempre
tive a mania que a razão está do meu
lado. Não será isto que todos os
jornalistas pensam?
T – Como foi o seu percurso na
escola? Foi sempre boa aluna?
JCR – Não, nunca fui boa aluna.
Sempre fui preguiçosa e nunca tive
muita vontade de estudar. Sempre “fui
fazendo”! Os meus pais bem que me
alertavam, mas para mim bastavam
notas médias para passar de ano. Na
faculdade só estudava o que realmente
me interessava e isso reflectia-se, como
é óbvio, nas notas. Aliás, em tudo na
minha vida só “agarro” o que me dá
motivação, e aí dedico-me a sério.
Sucesso
oportunidade de fazer este Magazine
de Ciência e Tecnologia. Ao princípio,
Suely Costa, Joana Côrte-Real e Vasco Matos Trigo
fiquei assustadíssima porque não
percebia nada do assunto. Fazer
jornalismo científico não é nada fácil,
os temas são complexos e as pessoas
que entrevistamos são de um grau
académico elevado. Mas tudo se
aprende, há que ser humilde! Por
outras palavras, quando vou fazer
alguma reportagem cujo tema não é
muito acessível, peço para explicarem
como se fosse para uma criança, assim
torna-se mais fácil a explicação. Para
além desta “estratégia”, a equipa que
trabalha no 2010 ajuda-me em tudo o
que preciso...afinal, ninguém nasce
ensinado, nem mesmo os jornalistas...
T – Disse-me que vai para Cabo
T – A licenciatura contribuiu para o
seu sucesso?
frente e muita coisa para aprender.
Daqui a uns anos....falamos!
JCR – Sim, sem dúvida. Quando fui
estagiar para a TVI pensava que não
T – Quando e como começou a
tinha prática nenhuma, mas o que é
certo é que aprendi o essencial. Graças
trabalhar em televisão? Logo após a
licenciatura?
a alguns professores, colegas e claro
ao Sr. Filipe Casaleiro (responsável
JCR – Eu fui estagiar no quinto ano
para a TVI , em Lisboa. Foi fantástico!
pelo estúdio de televisão e de rádio),
cheguei à estação de televisão de
Aprendi imenso. Tive sorte de ter
encontrado pessoas que me ajudaram
Queluz e sabia como é que as coisas
se faziam. Em conversas que tive com
a conhecer melhor o mundo da
televisão, pessoas que fazem
alguns estagiários, que encontrei
durante este período, cheguei à
jornalismo com paixão. Ao contrário do
que dizem desta estação de TV, há
conclusão que aprendi muito no ISMT.
Era das poucas que tinha alguma
muito bons profissionais a fazer BOM
jornalismo. Durante o meu estágio fiz
prática em televisão e, por isso, saí em
reportagem ao fim de uma semana de
de tudo. Trabalhei para todos os
telejornais e realizei reportagens de
lá estar. Morri de medo, mas correu
tudo muito bem.
toda a espécie. Foi uma mais- valia para
a minha realização profissional.
T – Qual é a sua definição de
Sucesso?
T – Como está correr a sua vida
JCR – Sucesso? Acho que ainda não
cheguei lá! Para mim o SUCESSO só
profissional? Qual a sua função no
programa 2010?
se atinge com EXPERIÊNCIA. É
necessário viver, trabalhar e aprender
JCR – Depois de ter a certeza que
era jornalismo que queria seguir,
e eu ainda tenho muitos anos pela
nomeadamente em televisão, tive a
Verde. Como surgiu esse convite?
JCR – Não sei muito bem. Surgiu o
projecto e convidaram-me. Talvez
gostem do meu trabalho...?!
T – Em que consiste o trabalho que
vai fazer em Cabo Verde?
JCR – Vamos iniciar um programa
semanal para a RTP África e para a
estação de televisão caboverdiana. Eu
vou fazer reportagens para esses
programas sobre a cultura, o povo e
as tradições. Ainda está tudo muito
“verde”, quando chegar lá, é que vou
saber realmente mais pormenores, pois
para além da nossa equipa vamos
trabalhar também com pessoas de lá.
T – Qual é a sua maior ambição?
JCR – Ter SUCESSO em tudo o que
faço...e ser (re) compensada por isso.
T – Projectos para o futuro?
JCR – Essa é uma boa pergunta.
Projectos para o futuro...?...a
“PRÓXIMA” reportagem.
Andrea Marques
torga 25
Sucesso
GRANDE
REPORTAGEM
Em busca de um sonho
A passadeira vermelha, à entrada, é o
passaporte para o mundo mágico do
Casino do Estoril, apenas comparável
ao ambiente dos grandes casinos de
Las Vegas. O tilintar das fichas, as luzes
coloridas, os ecrãs multimédia e a
música ambiente fundem-se com as
emoções que só ali se vivem.
A Torga fez uma viagem ao interior
do maior casino da Europa e descobriu
um ambiente único.
“O casino está sempre associado ao
sonho, a um golpe de sorte que pode
mudar a nossa vida”, afirmou Manuel
Anok – Director do Serviço de Jogos do
Casino do Estoril.
A maior parte das vezes, quem entra
num casino procura, consciente ou
inconscientemente, ser bafejado pela
sorte. Nem sempre isso acontece, mas
há histórias surpreendentes. É o caso
de um frequentador de 91 anos que
ganhou o maior Jackpot de sempre no
Casino do Estoril. “Foi em Agosto de
2001. Ganhou um milhão de euros, uma
enormidade de dinheiro para uma
pessoa de 91 anos, que era viúvo.
Alterou a sua vida toda. Posteriormente,
viemos a saber que se casou com a
pessoa com quem estava a viver nos
últimos 20 anos”, contou Manuel Anok.
Os casinos têm esta magia, quando
menos se espera o som da trombeta
anuncia mais um milionário.
Situado a 18 kms do centro de Lisboa,
o Casino do Estoril é o maior e mais
diversificado complexo de animação e
lazer de Portugal.
A Sala de Jogos Tradicionais está
equipada com sistemas informáticos
26 torga
que mantêm o jogador a par da
evolução de cada mesa de jogo. O Pano
prémio”, explicou o Director do Serviço
de Jogos.
Verde é um ex-libris do Casino do Estoril.
É neste salão que se disputa a sorte e
Hoje em dia, entrar num casino
somente para jogar não é uma ideia real.
exercita a estratégia. Há uma
diversificada oferta de jogos
A democratização do jogo e a
diversificação da oferta convidam a uma
tradicionais: Ponto e Banca, Bancas
Francesas (mesa de jogo que só existe
visita para desfrutar de espaços
requintados, onde se passam
em Portugal), Roleta Americana, Black
Jack e Caribbean Stud Poker.
momentos agradáveis de convívio e
lazer.
A Sala das Máquinas é o maior
espaço de máquinas automáticas da
O Salão Preto e Prata é considerado
a verdadeira “catedral do espectáculo”
Europa. Cerca de 1200 slot machines
que compõe um ambiente único bem
em Portugal. Tem 1200 lugares e está
equipado com tecnologias de som,
ao estilo de Las Vegas.
Na Sala Mista há uma interactividade
iluminação e efeitos especiais. É o palco
de grandes galas com regular
entre os jogos bancados e centenas de
máquinas automáticas. Integra várias
periodicidade e que contam com os
maiores nomes do music-hall
mesas onde se pode jogar Caribbean
Stud Poker, Black Jack, Roletas
internacional. Por ali já passaram Liza
Minelli, Ray Charles, Júlio Iglésias,
Americanas. Noutro piso, perto da
Galeria de Arte, situa-se uma outra zona,
Natalie Cole, B.B.King, Dionne Warwick,
James Taylor, Chris de Burgh,
com um ambiente mais tranquilo, o
Casablanca – Piano Bar, com 97 slot
Manhattan Transfer, Art Garfunkel,
Shirley Bassey e os maiores nomes do
machines.
“Os casinos estão sempre associados
panorama musical português.
O Du Arte Garden é um local
ao desejo de passar uma noite de sonho
e, eventualmente, ganhar um grande
privilegiado no centro do Casino do
Estoril. Diariamente, os visitantes podem
Sucesso
desfrutar de música ao vivo, ao mesmo
tempo tomar uma bebida e passar umas
Gentes
fashion ou com uma blusa mais in.
Mesmo que venham de um dia de
horas de descontração.
Na diversidade de espaços, destaca-
A sensação já não é a mesma. Dissipouse no ar aquele toque solene da sala
trabalho, sempre podem relaxar um
pouco nos jardins interiores e tomar um
se a Galeria de Arte que é, neste
momento, uma das mais repre-
de jogo onde damas e cavalheiros se
passeavam nos vestidos de festa.
café.
Para os mais “glamorosos”, a Noite
sentativas no nosso país, expondo o
melhor que se faz em Portugal.
Ontem, a luz baça dos lustres
desfigurava as cores das faces. O jogo
continua a ser o prémio, o espectáculo
da vida. Vestem-se a rigor numa
Neste centro polivalente de
entretenimento e lazer há, também, um
era só para alguns endinheirados que
podiam fazer da riqueza o que lhes
passerelle de gente mais e menos
conhecida.
Teatro Auditório com 400 lugares que
apresenta, regularmente, peças de
desse na real gana.
Havia quem apostasse tudo na Roleta
O casino é o centro de cultura e lazer
onde o jogo já não é mero pretexto para
teatro, designadamente, a chamada
stand-up comedy, além de recitais,
e nada ganhasse. Havia, também os
que sabiam jogar e a sorte os
um momento bem passado.
Sente-se ainda a presença de Gente
espectáculos de ballet e de magia.
É um mundo à parte onde se vivem
acompanhava sempre. Não entrava no
casino quem não dominava os círculos
solitária a deambular pelas salas, na
observação silenciosa de uma caçada.
emoções únicas, se passam noites
inesquecíveis, se desfruta do melhor
da Society.
As belas
exibiam
Gente que pressente a hora do fascínio
embrulhada nas histórias dos outros
que a cultura pode oferecer. É um
convite ao sonho, ao desejo de mudar
esmeraldas nos peitos ilustres, faziam
do jogo a ambição máxima das suas
bafejados pelo Sucesso.
O tilintar das moedas a cair das
a vida quando se coloca uma moeda
numa slot machine.
pequenas vidas. Os seus maridos
mecânicos, perplexos com as posses
máquinas invade o ambiente que se vive.
Olhares ávidos cruzam o ar, no desejo
Andrea Marques
dos adversários apressavam-se
desvairados a arriscar tudo. Alguns
de que um golpe de Sorte mude as
suas vidas para sempre. A esperança
conseguiam.
Hoje, eles convivem em perfeita
dança agarrada ao Vício. Ama-se o
dinheiro fácil que venha recuperar
harmonia com o espaço do Casino. Os
jeans até ficam bem com uns sapatos
outras perdas.
Muitos jogam por prazer, saudavel-
madonas
mente cientes das suas capacidades de
Aposta. A ansiedade que poderá existir
nestes corações que lançam a sorte é
tão dissimulada que quase leva a crer
que não existe. Jogam porque jogam,
não esperam nem mais nem menos do
que eu espero, ao colocar uma moeda
na caixa reluzente.
Pode ser um hábito, um desejo, mas
a consequência deste gesto, na maioria
das vezes, é ver, no ecrã, uma
sequência de ícones diferentes da qual
não resulta Prémio.
Os jogos do pano verde reúnem
grandes grupos que, acomodando-se
em bancos ou simplesmente de pé, vão
confundindo os Sonhos com os dados.
A sorte agarra-se ali e perde-se
também.
Ana Cristina Abreu
torga 27
Sucesso
assi era comuu a todos. Porem dello me
nom curava, mês tanto me carregou,
que filhei por grande pena nom poder
no coraçom sentir alguu dereito
sentimento de boa folgança.
E com esto tristeza me começou de
crecer, nom com certo fundamento, mês
de qual quer cousa que aazo se desse,
ou d’alguas fantezias sem razom. E,
quanto mais cuidados me dava, tanto
com maiores sentidos me seguia, nom
podendo entender que dalli me viinha,
RELENDO O SUCESSO E O INSUCESSO
PELA NOSSA HISTÓRIA
Carlos Amaral Dias
por que eu trabalhava em aquelles
carregos por as razões suso dictas tam
de boa mente, que nom podia pensar
que mal me vehesse por obrar no que
me prazia e tam contente era de o fazer.
Em aquesta pena vivi acerca de dez
Iniciemos o nosso texto, com uma longa
citação da obra Leal Conselheiro de D.
carregos, aos quaaes me pus assi fora
de boa descliçom, que na primeira
meses, a tempos e mais, e menos. E
por que o dicto Rei, meu senhor, se veo
Duarte. Rei de Portugal, terceiro filho de
D. João I, nascido em Viseu em 31 de
Quaresma, que logo veeo, fazia tal vida:
Os mais dos dias bem cedo era
acerca da cidade de Lixboa, onde tal
pestellença era de poucos dias
Outubro de 1391.
levantado, e, missas ouvidas, era na
rollaçom atta meo dia, ou acerca, e
passavam que me nom fallassem em
pessoas conhecidas que de tramas
“Quando eu era de XXII, Elrei, meu
senhor e padre, comprido de muitas
viinha comer. E, sobre mesa dava
odiencias per boo spaço. E retraía-me
adoeciam e morriam, por esto a tristeza,
que de tanto tempo em mim se criava,
virtudes, cuja alma deos aja,
despoendo-se pêra filhar a cidade de
aa camera e logo aas duas pós meo dia
os do conselho e veedores da fazenda
mais se dobrou. E huu dia me deu
grande sentimento em hua perna e me
Cepta, mando-me que tevesse carrego
do conselho, justiça e da fazenda que
erom com migo. E aturava com elles
ataa IX oras da noite. E, dês que partiom,
fez tal door com queetura, que me pos
em grande alteraçom. E fui logo
em sa sorte se trautava, por que tanto
haveria de traba-lhar nos feitos que
com os oficiaaes de minha casa estava
ataa XI oras. Monte, caça, mui pouco
remediado, que per graça de nosso
senhor em breve spaço recobrei saúde,
perteenciam pêra sua hida, que doutros
sem grande necessidade se nom
husava. E o paaço do dicto senhor
vesitava poucas vezes, e aquellas por
mas filhei huu tão rijo pensamento com
receo de morte, que nom soomente temi
entendia curar.
Eu, nom consiirando minha nova
veer o que el fazia e de mim lhe dar
conta.
aquella, mês a que todos scusar nom
podemos, pensandoi na breveza da
hidade e pouco saber, com dereita
odediencia, como per mercee de deos
Esta vida continuei atta páscoa,
quebrando tanto minha vontade, que já
vida presente.
E aquel pensamento entrou em meu
sempre em todo lhe guardei, e dês i por
grande voontade que avia de se
nom sentia alguu prazer me chegar ao
coraçom daquelle sentido que ante
coraçom, que per seis meses huu
pequeno spaço nunca o del pude
proceder per o dicto-feito, recebi sem
outro reguardo de todollos dictos
fazia. E pensava que aquello da
mudança da hidade me viinha, e que
afastar, tirando-me todo prazer e
acrescentando-me a maior tristeza,
28 torga
Sucesso
segundo meu juíza, que aver podia. Este
me trazia tantas novas penas, qe seria
Este texto constitui pois a descrição
pelo próprio Rei de uma neurose de
ella, leixei de sentir a mim…”
O que faz então o insucesso, de D.
largo descrever, e comparar nom as
poderia, por que todallas doores pêra
insucesso. Contra a descrição de Júlio
Dantas (1914), que pensava de D.
Duarte, ou de qualquer outro:
• O temor ao êxito
esta me pareceria saúde, da qual nom
avia sperança de guarecer. E, se com
Duarte, ser este um retrato de “um
descalabro nervoso”, concordamos
•
fe e conciencia me queria confortar, per
o demudamento corpo me derribava. E
com Rodrigues Lafra (1934), que “a
soberania da razão” fracassou no
• Uma “malformação” na passagem
por tal temor se pode bem dizer o dicto
do Gatom: ‘Quem teme a morte perde
monarca, mas não lhe
“sagacidade introspectiva”.
retirou
O sentimento inconsciente de
culpa
do mundo infantil ao mundo
adulto.
E o sucesso?
quanto vive’. E em outro logar: ‘Quem
teme a morte, perde o prazer da vida’.
Mas o que faz um Rei deprimir-se,
• O não ter medo do desejo, já que
este remete-nos sempre para o
E de feito nom ouvera conselho,
remédio nem esforço que vallera,
quando, “seu senhor e pai”, lhe confia
o destino de um país, de um Povo?
medo, a culpa, e a interdição.
A reconciliação com a infância,
segundo o entendo, por que com
físicos, confessores e amigos fallava e
Passando por cima de algumas
controvérsias científicas, é justamente
com o amor de infância, através
do adulto. Como D. Duarte afirma
nom prestava cousa. Ca dos remedios,
das curas, nom sentia vantagem. E
a dificuldade da relação com o sucesso
que marca a depressão de D. Duarte.
“porque sentindo ella, leixei de
sentir a mim”
confortos recebia tam poucos como
aquel que, per enfermidade mortal dos
Obsessivo, rigoroso, metódico, como se
vê no seu próprio texto, falta-lhe o
físicos desperados, recebe das
pallavras que lhe dizem, ou que per
espelho onde se poderia rever
narcisicamente. Mas porquê? Porque,
Espírito que o próprio Freud
afirmava ter, por uma razão
justiça he julgado que logo moira, ca
nom menos aquel temor, segundo
como de sabe desde Fenichel (1945),
“certas experiências que para uma
simples. Não precisava de
conquistar o amor da Mãe, estava
entendia, era pêra mim sempre
lembrado e sentido (…).
pessoa normal significariam um
aumento da auto-estima, podem
garantido desde a infância. O resto
do seu tempo de vida, foi dedicado
Em esta grande doença durei o tempo
suso scripto, callando-me com ella, por
precipitar uma depressão se o doente
teme o êxito, como uma ameaça de
ao sucesso da escrita de uma
obra, da fama que a sua
que a poucos e pessoas certas
d’outoridade fallava. E de fora, em toda
castigo ou represália”.
genialidade merecia. Ou seja,
garantindo o amor de infância, a
minha maneira de viver, fazia pequena
mudança, nem mostramento do que
Mas substituir o Pai como Regente,
sugere no fantasma da culpa
vida, pode ser prenhe de
acontecimentos fantásticos.
sentia. E, estanto em tal estado, a mui
virtuosa Rainha, minha senhora e
inconsciente, substitui-lo. Em termos
psicanalíticos ocupar o Pai, junto da Mãe.
madre, que deos aja, de pestellencia se
finou, do que eu filhei assim grande
D. Duarte, como é sabido “cura-se”.
Quando
e
como?
Quando
sentimento, que perdi todo receo – a ella
em as infirmidades sempre me cheguei
significativamente, sua mãe, o recebe no
leito de morte. Na época, o Rei, preso
e a servi sem alguu empacho, como se
tal door nom sentisse. E aquesto foi
de temores fóbicos e hipocondríacos,
é capaz de se aproximar dela.
começo de minha cura, por que,
sentindo ella, leixei de sentir a mim (…)”.
Ingenuamente afirma: “E aquesto foi
começo da minha cura, porque sentido
•
•
Finalmente, o espírito do
“descobridor”, do “conquistador”.
torga 29
Sucesso
O Sucesso nos cartoons
Espelho dos valores da sociedade em que vivemos e da crítica social dos
seus autores, o “cartoonismo” é terreno fértil para a observação do conceito
de sucesso.
Uma breve pesquisa pela Internet revelou diversos artistas que dedicaram
a sua ironia a este tema. Pelo caminho directo que estabelece com a nossa
temática, decidimos destacar o caso de Randy Glasbergen
(www.glasbergen.com) que, com uma alusão directa ao preço a pagar pelo
sucesso, nomeadamente através da indumentária, nos coloca um sorriso
nos lábios.
Fernando Teófilo
30 torga
CANDIDATURAS ABERTAS
31
32
JOÃO LOBO ANTUNES
GRANDE ENTREVISTA
Licenciou-se em Medicina em 1967, com a média mais elevada registada nos
anais da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
Ganhou o Prémio Pfizer, prémio para a investigação médica de maior prestígio
entre nós, com a sua tese de licenciatura.
Em 1971, parte para os Estados Unidos, como bolseiro Fulbright, onde se
especializa.
Regressa a Portugal, em 1984, como Professor Catedrático da Faculdade de
Medicina de Lisboa e Director do Serviço de Neurocirurgia do Hospital de Santa
Maria.
Publicou três livros: Um Modo de Ser, Numa Cidade Feliz, Memória de Nova Iorque
e Outros Ensaios. Em 1996, é-lhe reconhecido o mérito e foi agraciado com o
Prémio Pessoa.
Em entrevista à Torga, João Lobo Antunes fala da sua vida, dos seus interesses
e das suas paixões.
33
Grande Entrevista
“O Sucesso é um juízo que não faço de mim próprio”
Torga - Nasceu em Lisboa no seio de
uma família tradicional portuguesa.
que era um liceu onde era imposta uma
disciplina muito férrea. Mas, olhando
Torga – Todos os seus irmãos são
pessoas bem sucedidas. Havia
Como foi a sua infância?
João Lobo Antunes (J.L.A.) – Nós
retrospectivamente, foi, de facto, um
excelente liceu. Tivemos muito bons
competição nos estudos?
J.L.A. – Não. Isso não houve. De facto,
vivíamos em Benfica. Naquela altura,
Benfica era uma das áreas mais
professores. Não que todos o fossem
mas, em educação basta por vezes
é verdade que todos nós, em áreas
diferentes, em escalas diferentes,
periféricas da cidade de Lisboa. Era
uma das entradas na cidade e por isso
duas ou três figuras que nos marcam.
Acho que nos deu uma preparação
atingimos posições de certa
notoriedade. De alguma forma fizemos
aí havia as chamadas Portas de
Benfica. Era uma família burguesa,
sólida. Depois, entrei para a Faculdade
de Medicina de Lisboa, uma decisão de
render os talentos que herdámos.
Nunca houve competição entre nós.
tradicional. O meu pai era médico
neurologista, foi também Professor da
última hora que surpreendeu muitos.
Nós somos muito diferentes, embora,
sob certos aspectos, sejamos muito
Faculdade de Medicina. Nós éramos
seis rapazes, os quatro primeiros muito
Torga – É verdade que em criança
trocava os brinquedos por livros?
parecidos. Havia, de facto, um que era
um aluno muito premiado, que era eu,
chegados em idade. Ainda hoje,
continuamos muito próximos no
J.L.A. – Isso foi uma expressão que eu
encontrei. Há de facto um grande
provavelmente porque estudava mais.
Mas nunca houve o sentimento de
convívio. A vantagem de viver em
Benfica, para todos nós, foi o
contraste com o que nós vemos hoje
em dia; basta comparar o que nós
competição entre nós e nem hoje em
dia há. Acho que é uma coisa que não
isolamento em relação ao grande
turbilhão que era a vida citadina.
tínhamos e o que têm os meus netos.
Nós tínhamos, no escritório do meu pai,
existe.
Estávamos muito periféricos, o que
fazia com que nos tivéssemos que
um espaço no armário dele que,
certamente, não era maior do que uma
Torga – O seu irmão António já
andava na Universidade quando
entreter com coisas que, provavelmente não atraíam quem vivia no
grande caixa de cartão, onde estavam
todos os brinquedos. Mas havia muito
entrou, no entanto, as coisas não lhe
estavam a correr muito bem…
centro da cidade. Vivíamos numa
moradia que ainda lá está, e onde
mais imaginação. Hoje a imaginação
não está nas crianças mas, nas
J.L.A. – É verdade. O meu irmão
António é dotado, entre outros talentos,
ainda vive a minha mãe. É certamente
uma das casas mais antigas de
pessoas que fabricam os brinquedos.
Há um desvio da imaginação. O que
de uma, memória excepcional. E, de
facto, eu acho que se pode dizer que a
Benfica. Tinha um pequeno jardim, mas
dava para jogar vólei. Era uma vida
eu quis dizer nessa altura, e mantenho
hoje em dia, é que muito do nosso
Medicina não era propriamente do
interesse dele. Ele depois acabou por
muito pacata. Nós fomos para um
colégio local, o Externato D. João da
entretenimento passava pela leitura.
Não havia televisão, aliás a televisão
se refugiar na Psiquiatria e fez muito
bem. Foi uma óptima escolha para
Câmara. Não era uma escola modelar
e certamente não era como nenhum
entrou em casa dos meus pais já eu
estava no fim da faculdade, e na altura
aquilo que era a personalidade dele e
as suas aptidões. Eu tinha uma maneira
daqueles colégios burgueses...
Depois, frequentámos o Liceu Camões
do célebre campeonato do mundo de
futebol em Inglaterra.
de estudar muito particular, ou seja, lia
tudo. Tinha uma preparação muito
34 torga
Grande Entrevista
estruturada, depois punha tudo em
forma de escrita. Eu estudava através
de “pequenos tratados” que eu próprio
elaborava, tirava uma coisa de um lado,
uma coisa de outro, seleccionava
informação, constituindo um corpo de
informação muito sólido. Acabei por
passar um ano à frente do António, e
ele tinha agora ao dispor um “tratado
personalizado”. Ele limitava-se então a
ler aquilo que eu preparara, a
memorizar muito bem o que lá estava
e, a partir daí, nunca mais chumbou a
nenhuma cadeira, fazia todas as
cadeiras na primeira época, e navegou
rápida e calmamente o resto do curso.
Torga – Ainda antes de entrar na
Universidade, aos 15 anos foi
apresentador de televisão. Como foi
essa experiência?
J.L .A. – Comecei a trabalhar em
televisão aos 15 anos, mas não
gostava, porque sou fundamentalmente um tímido. Estou muito mais à
vontade a falar para uma audiência
grande ou para uma ou duas pessoas.
Ainda hoje não vou a programas de
televisão em que haja três ou quatro
pessoas a falar. Não gosto, não é o meu
estilo. Esse trabalho deu-me, foi de
facto, um treino muito importante na
capacidade de improvisar, de falar em
público, porque naquela altura os
programas eram em directo, não havia
gravação. A luz vermelha acendia e
começávamos a falar. Às vezes
tínhamos que resolver no ar situações,
todas elas imprevistas e algumas
difíceis. Portanto deu-me uma
capacidade de, como dizem os
americanos, “to think on your feet”, ou
seja, “pensar de pé”, o que foi muito
importante. Muitos dos meus exames
orais na faculdade eram quase
controlados por mim próprio, ou seja,
eu como que induzia as perguntas que
me iam fazer a seguir, por um treino
que tinha adquirido.
“Fui um seguidor de oportunidades.”
torga 35
Grande Entrevista
Prémio Pessoa 96: “Foi um sentimento de uma desconfortável humildade.”
Torga – Era um programa de que
para Engenharia Física Nuclear, área
como médico. Gostava certamente de
género?
J.L.A. – Era um programa para jovens.
que naquela altura tinha um grande
prestígio. Depois, à última hora, para
ir para uma área das Humanidades, da
Filosofia ou da Literatura.
Chamava-se “Programa Juvenil”. Eu
embirrava com o título, e ainda hoje
surpresa de todos, começando pelo
meu próprio pai, inscrevi-me em
Torga – Logo que entra para a
embirro com a expressão “jovem”.
Enfim, alguma coisa tinha que se
Medicina.
faculdade torna-se um brilhante
aluno. Adaptou-se bem aos métodos
chamar àquele grupo do qual eu
também fazia parte. Era um programa
Torga – Houve alguma influência
familiar na sua escolha?
de estudo…
J.L.A. – Eu acho que descobri o
composto, tinha pequenos documentários, concursos, coisas pedagógicas
J.L.A. – Houve com toda a certeza. Aliás
no meu próximo livro que vai sair,
“verdadeiro método de estudar” para
mim próprio. Havia uma coisa que me
como aeromodelismo, como construir
papagaios, como jogar xadrez…
espero que em Novembro, tenho um
pequeno ensaio sobre isso, sobre quais
afligia então e que ainda hoje me
persegue, que não é uma virtude, mas
Torga – Disse há pouco que a decisão
foram as influências paternas e, de um
modo geral, as influências da escolha
uma maldição, que era o desejo quase
compulsivo de saber tudo (isto tem que
de entrar para Medicina foi tardia…
J.L.A. – Foi uma decisão no final do 7º
de uma profissão, e sobre o modo como
a profissão é exercida. Mas, de facto,
ser tomado com um grão de sal). Isto
mantém-se até hoje, pois continuo a ler
ano do liceu, que agora é o 12º ano.
Aparentemente toda a gente pensava
retrospectivamente, acho que foi uma
boa escolha. Foi a escolha certa para
muito sobre Medicina, particularmente
na minha área.
que eu iria para a área de engenharia
porque eu tinha algum talento, ou pelo
as minhas capacidades emocionais e
intelectuais. Foi a opção correcta. Se
Torga – Não seria também uma
menos alguma inclinação para as
ciências exactas, Física, Química,
vivesse outra vida, sendo eu próprio,
provavelmente gostaria de ser outra
obsessão pela perfeição?
J.L.A. – Isso era, certamente um factor.
Matemática. Eu próprio dizia que ia
coisa usando a experiência que ganhei
Os psiquiatras e os psicanalistas terão
36 torga
Grande Entrevista
em definir sucesso. Em segundo lugar,
na especialidade que eu escolhi, o
e ele disse-me: “Você não quer ir
comigo para Nova Iorque?” e eu fui.
sucesso é muito ilusório, quer dizer,
nós fazemos intervenções tecnica-
Torga – Esse doente não era por
mente bem executadas, bem planeadas
e os resultados são desoladores.
acaso o Dr. Salazar?
J.L .A. – Não. Era o embaixador
Portanto,
Teotónio Pereira.
são
constantemente
Sou fundamentalmente um tímido
uma explicação mais razoável. Mas
teve repercussões em mim próprio, e
nunca me libertei disso até hoje.
Torga – Licenciou-se em 1967 com a
média mais alta registada nos anais
da Faculdade de Medicina até hoje…
J.L.A. – Foi o que me disse o chefe da
secretaria…
Torga – Ganhou o Prémio Pfizer de
investigação médica…
J.L.A. – O Prémio Pfizer era um prémio
que ainda hoje tem um grande
prestígio, o maior na Medicina
Científica. Eu concorri a esse prémio e
ganhei-o com o trabalho que tinha feito
como a tese de licenciatura.
Torga – Nesta altura já previa uma
vida recheada de sucesso?
J.L.A. – Não. Isso foi uma coisa que
nunca me preocupou. Em primeiro
lugar, tenho uma enorme dificuldade
despejados em cima de nós baldes de
humildade. O sucesso é um juízo que
Torga – A sua ida para Nova Iorque
não teve também uma ligação com o
não faço de mim próprio.
médico que veio ver o Dr. Salazar?
J.L.A. – Isso foi outra história, foi
Torga – Não entende o sucesso como
realização profissional?
depois. O neurologista que veio cá ver
o Dr. Salazar, Houston Merritt,
J.L.A. – Nesse sentido é verdade, ou
seja, o sucesso no sentido da
trabalhava no Instituto Neurológico de
Nova Iorque para onde fui e tornou-se
harmonização entre aquilo daquilo que
planeei e o que consegui, embora eu
um amigo e um protector para mim. O
médico que me convidou para ir para
nunca planeie muitas as coisas. Fui
muito mais um cumpridor de
Nova Iorque era discípulo do Dr. Merritt,
era o Dr. Melvin Yahr. Era um homem
oportunidades do que um planeador.
Acho que quase tudo o que me
muito influente na Neurologia
americana. Ele convenceu-se sempre
aconteceu na minha vida profissional
resultou de coincidências, foram coisas
que eu não iria para neurocirurgia, que
iria converter-me à neurologia. Essa
que me aconteceram por acaso e que
eu agarrei. Houve uma adequação
conversão não se deu.
entre o meu desejo de procurar a
perfeição inatingível e aquilo que
Torga – Em 1971 parte para os
Estados Unidos como bolseiro
realmente consegui. Nesse sentido, eu
diria que tive algum sucesso, pelo
Fulbright. Era muito novo, como
imaginava que iria ser a sua vida em
menos alguma tranquilidade e, se o
sucesso é tranquilidade (e a
Nova Iorque?
J.L.A. – Eu não tinha ideia nenhuma.
tranquilidade é um estado de espírito
muito precário), acho que fui bem
Devo dizer que fui para os Estados
Unidos com aquela inocência com que
sucedido.
nos entregamos às paixões. Eu sempre
tivera o ideal de ir para os Estados
Torga – Falando no acaso, no seu
livro Memória de Nova Iorque e
Unidos. Era o “el Dorado”, para mim.
Para mim os E.U.A. são uma nação
outros ensaios conta que a sua ida
para Nova Iorque foi um acaso para
admirável. Fui recebido como são
recebidos os emigrantes, com uma
o qual a sorte o preparava. Como foi
esse encontro com a sorte?
enorme abertura. Depois, à medida
que as minhas capacidades de alguma
J.L.A. – O acaso foi eu ter conhecido
um eminente neurologista americano,
forma se iam expondo, eu comecei a
ser tratado como um deles. Comecei
através de um doente que nós
tratávamos, ele nos Estados Unidos e
devagarinho, que acho que é uma boa
maneira de começar nos Estados
eu em Portugal. Eu era muito novinho
Unidos. Eles julgam-nos pelas provas,
torga 37
Grande Entrevista
julgam-nos por aquilo que fazemos. Lá
ninguém me conhecia, não tinha nome.
urbano. A própria Lisboa de hoje não
tem nada a ver com Lisboa de há cinco
começou a acompanhar este
estudo?
Naquela altura, quer o meu tio-avô,
Pedro Almeida Lima que era professor
anos atrás, muito menos há dez anos
ou há trinta, quando eu parti. Mas em
J.L.A. – Eu comecei a trabalhar nisso
porque o projecto estava instalado na
de Neurologia e foi o primeiro
neurocirurgião português, quer meu
Nova Iorque sente-se um pulsar que eu
não conheço em mais nenhuma cidade
minha Universidade. Eram precisos
dois neurocirurgiões que fizessem o
pai eram figuras reconhecidas da
Neurologia nacional. Mas eu fiz a minha
Torga – Porque é que decidiu voltar
procedimento e foi a partir daí que eu
participei.
carreira toda fora da órbita destas duas
personalidades. Fui para lá e não foi
para Portugal?
J.L.A. – Porque era a altura de voltar.
Torga – Foi um dos primeiros
fácil. Quando as pessoas dizem, acerca
de mim e de outros, “eles tiveram a
Uma combinação de circunstâncias,
umas de ordem pessoal e familiar,
médicos do mundo a fazer esse
implante. Como se sentiu ao
sorte de ter ido para os Estados
Unidos”, eu respondo que é preciso ter
outras de ordem profissional. Eu podia
ter lá ficado. Se circunstâncias da minha
devolver a um invisual
oportunidade de voltar a ver?
coragem, porque é uma competição
muito feroz, muito rigorosa e depois é
vida pessoal tivessem sido ligeiramente
diferentes, eu provavelmente já não
J.L.A. – Éramos três médicos. Eu fui
um deles. Aquilo tem que ser tomado
preciso trabalhar muito.
voltava. Naquela altura a Medicina
americana estava a sofrer uma viragem
com uma grande reserva. Não é ainda
a solução para a cegueira. Tivemos
Torga – Nesses anos dedicou-se
inteiramente à investigação?
em que, pessoalmente, não me fazia
resultados iniciais excelentes mas
J.L.A. – Dediquei-me à investigação e
à clínica. Estive dois anos e meio em
“full time” no laboratório. Aprendi o meu
ofício. Depois, nos últimos 5/6 anos tive
a
Em Nova Iorque sente-se o pulsar que eu não conheço
em mais nenhuma cidade
uma clínica privada, já muito boa em
Nova Iorque.
muito confortável. Se eu sou americano
em muitas coisas, sou também muito
depois começaram a declinar. Há
ainda muita investigação a fazer
Torga – Foram anos importantes na
europeu noutras. A medicina do risco,
dos processos judiciais, e este termo
sobretudo na área dos biomateriais,
ou seja, na compatibilização do
sua carreira…
J.L.A. – Foram decisivos. Mudaram
tem de ser entendido com alguma
reserva e com alguma circunspecção,
sistema nervoso com o material. Há
muitas questões para resolver mas,
muitos aspectos do que sou do ponto
de vista profissional, técnico, e ético.
o “negócio” da medicina eram
realidades agudas.
nós pensamos que aquela é a via,
aquele é o modelo.
Torga – No seu livro cita Corbusier
Torga – Está a falar de ética?
Torga
para definir Nova Iorque como uma
cidade inconcluída…
J.L.A. – Sim. Da ética do negócio
próprio que é a medicina. Um negócio
começamos a chegar ao princípio do
J.L.A. – É de facto uma cidade que se
está constantemente a reconstruir-se,
que tem que ser entendido com alguma
cautela porque o termo, à primeira vista,
J.L.A. – Não me parece.
constantemente a modificar-se. Há uma
enorme plasticidade e a plasticidade de
parece repugnante. Há hoje uma
economia da medicina que é muito
Nova Iorque é conferida sobretudo
pelas pessoas. É uma cidade de gente
complexa. As coisas estavam a mudar
de uma forma que eu pessoalmente não
nova, com uma enorme mistura étnica.
Chamaram-lhe o melting pot, o caldeirão
me sentia confortável.
em que tudo é fundido, digamos assim.
Oportunidades que aparecem e que
Torga – Ainda em Nova Iorque
conheceu Dobelle, a pessoa
morrem… Há um fervilhar… Não se vê
conclusão em praticamente nada. Em
responsável pela pesquisa e
investigação do, vulgarmente
de facto, não é correcta. O nosso
todas as cidades há um renovamento
chamado, olho electrónico. Como
autonomização das pessoas.
38 torga
–
Pode
dizer-se
que
fim da cegueira?
Torga – As pessoas que nascem
invisuais não podem fazer o
implante?
J.L.A. – Provavelmente não. É preciso
que o cérebro visual esteja a funcionar,
portanto, há aí uma limitação. A ideia
que se restitui a visão é uma ideia que,
objectivo passa sobretudo pela
Grande Entrevista
Torga – Ou seja, as pessoas começam
a ver sombras...
manuscrito antecipadamente. Quando
me pedem os tópicos eu não dou. Acho
J.L.A. – Sombras, superfícies. Hoje em
dia há muitas tecnologias de leitura.
que é muito importante o efeito
surpresa. A maior parte das coisas que
Torga – Neste momento como estão
escrevo é para serem ditas ou lidas
perante audiências muito diversas,
a decorrer esses implantes?
JLA – Nós fizemos o último implante há
umas mais especializadas do que
outras. Também escrevo por achar que
cerca de dois anos, creio eu. Neste
momento, há um processo de análise.
devo. Por exemplo, o que escrevi sobre
conflitos de interesses ou sobre o erro
Entretanto, o fundador morreu e isso
criou algumas dificuldades que estamos
foram coisas sobre que me apeteceu
escrever. Quando começo a escrever,
a tentar ultrapassar.
sou, de um modo geral, muito metódico.
Reconstruo o manuscrito na minha
Torga – Publicou três livros. Em 1996
ganhou o Prémio Pessoa. Como foi
cabeça, muitas vezes, vou aperfeiçoando-o mentalmente, e depois quase que
recebido esse prémio?
J.L.A. – Publiquei três livros e em breve
o escrevo num jacto. Depois entro num
processo de revisão dos manuscritos,
sairá o próximo. Esse prémio deixoume muito perplexo. Em primeiro lugar
o que está a ser cada vez mais penoso
e, tento disfarçar a minha “mortalidade
porque não contava e, em segundo
lugar porque me obrigou a questionar
literária” e corrigir os erros gramaticais
e, sobretudo, a pontuação, porque eu
o meu próprio mérito. Foi um sentimento
de uma desconfortável humildade. A
ponho vírgulas como quem põe sal na
comida. É uma vergonha.
única coisa que depois me deixou mais
tranquilo, foi pensar que ele fora
Torga – Os livros e a escrita são uma
atribuído por um júri de pessoas muito
ilustres, pessoas que eu respeitava
paixão? Disse-me há pouco que se
vivesse outra vida…
muito e que de alguma forma acharam
que eu tinha o mérito necessário para
J.L.A. – Com certeza que são. É, de
facto, aquilo que me ocupa mais o
receber o prémio... Eu hoje faço parte
dos juízes, naquela altura fui julgado.
tempo. A escrita ocupa-me até o tempo
que eu não tenho.
“É preciso fabricar médicos.”
Torga – O que é que o leva a escrever?
Torga – Actualmente é reconhecido
doentes e a tristeza quando as coisas
É um impulso?
J.L.A. – O meu irmão António, disse
pela comunidade científica como um
dos melhores neurocirurgiões do
não correm bem, estão ainda mais vivas
que quando eu era novo. No dia em que
uma vez numa entrevista, em que lhe
perguntaram porque é que escrevia:
mundo, senão o melhor…
J.L.A. – Isso não sou com certeza. Nem
eu não me preocupar com o meu
doente, deixo de ter o direito de ser
“Escrevo porque não sei dançar como
o Fred Astaire”. Eu escrevo,
pensar. Nem vale a pena escrever isso.
médico.
basicamente, porque me apetece. É
preciso definir este apetite. A maior parte
Torga – Não será um bocadinho de
modéstia?
Torga – A medicina é isso mesmo…
J.L.A. – A medicina é isso mesmo mas,
das coisas que eu escrevo, quase todas,
é por solicitação. Eu recebo muitos
J.L.A. – Não. Há gente muito mais
capaz do que eu. Sou certamente um
de facto, viver com uma nuvem negra é
quase insuportável. Há pessoas que são
pedidos para falar, e a maior parte deles
não posso aceitar. Mas quando me
neurocirurgião competente, se quiser,
competente e crítico de si próprio,
capazes de metabolizar isto de uma
forma diferente. Eu não sou. Isto não é
pedem para falar e eu aceito, escolho
aquilo que quero falar a forma de o fazer.
sabendo dos seus limites. Ainda há
tempos, eu dizia à minha mulher, que a
mérito, não tem valor nenhum moral
intrínseco, é apenas a maneira como
Recuso-me sempre a dar o meu
preocupação que eu tenho com os
somos feitos.
torga 39
Grande Entrevista
Torga – Ainda lhe falta fazer alguma
coisa na sua carreira?
Torga – Há realmente diferenças
entre o cérebro masculino e o
tempo de guerra fabricavam-se
tanques ou aviões, agora é tempo de
J.L.A. – Que eu saiba não. Quer dizer,
se me pergunta se há qualquer coisa
cérebro feminino?
J.L.A. – Há diferenças morfológicas
guerra e é preciso fabricar médicos.
Seria muito mais fácil ensinar cem
mais que eu gostaria de fazer, com toda
a verdade, não há mais nada que me
com certeza. São certamente mais
subtis do que julgamos. Eu estive há
alunos, como já foi há dez anos atrás,
do que trezentos como são agora. Isto
faça correr.
anos num doutoramento na
Universidade do Porto, onde uma
traz dificuldades. Está bem, mas os
tempos são muito difíceis.
Torga – Mas, continua a achar que
nunca se deve perder a oportunidade
investigadora brilhante falou sobre as
diferenças sexuais em vários animais
Torga – Como é que os recém-
de ver mais um doente?
J.L.A. – Se aparecer alguma coisa em
e eu acabei a argumentação dizendo
a famosa frase francesa vive la
licenciados se têm inserido no
mercado de trabalho?
relação à qual eu possa ser útil, ou que
eu sinta que possa ser útil, que é um
diference. Acho que uma das nossas
preocupações deve ser reconhecer as
J.L.A. – Eu fui Presidente do Conselho
da Faculdade durante muitos anos e
desafio, que é uma coisa nova,
diferenças, estimular as diferenças e ao
os nossos estudantes que, no âmbito
do Programa Erasmus, foram para
hospitais estrangeiros, ficaram
altamente classificados. O ensino tem
No dia em que eu não me preocupar com o meu doente,
deixo de ter o direito de ser médico
harmonizar
as
doente desde o início… Eu acho que
eles saem razoavelmente bem
provavelmente pensaria duas vezes
mesmo
antes de dizer não.
diferenças. Do ponto de vista
psicológico há diferenças que eu acho
preparados.
Torga – O cérebro humano ainda é um
mistério?
fundamentais e têm repercussões
muito interessantes, como por exemplo
Torga – Falando no nosso país. Pensa
vir a ter alguma participação política
J.L.A. – Eu acho que é um mistério e,
se Deus quiser, será sempre. Espero
as que se referem ao facto de a
Medicina ser hoje cada vez mais uma
no futuro?
J.L.A. – Desde há muitos anos que
que Deus queira porque seria uma
enorme maçada chegar ao fim sabendo
profissão feminina.
colaborado nas áreas da ciência, da
educação, da saúde. Colaborei
tudo. O problema da consciência,
provavelmente, não poderá ser
Torga – Como está o ensino da
Medicina em Portugal?
indiferentemente com qualquer
governo, sempre no espírito de uma
resolvido. Poder-se-á cercar através da
Biologia, ou através de ramos
J.L.A. – Eu acho que o ensino da
Medicina em Portugal está bem. Isto é
grande abertura cívica. Já fui
convidado para ser membro de um
particulares da Filosofia, da
Neurofilosofia… Na minha perspectiva
uma afirmação, provavelmente,
discutível e injustificadamente
governo, nas áreas que me diziam
respeito e, naquela altura não aceitei
de um utilizador das neurociências, o
que nós temos é instrumentos que são
optimista. Quando digo que está bem
significa apenas que a Medicina
porque seria o meu fim como médico.
Tive alguma pena. Não me estou a ver
cada vez mais rigorosos. Temos armas
cada vez mais aperfeiçoadas. Do ponto
reflecte sobre o seu próprio modo de
ensinar e tento aperfeiçoar o modo
numa intervenção de outra natureza, ou
através de um partido político. Eu sou
de vista operativo são extremamente
úteis, permitem-nos definir os
como se ensina e mais ainda, para usar
a linguagem dos pedagogos que eu
um independente e, como dizia no
outro dia o Prof. Marçal Grilo “Sou
caminhos que queremos seguir com
muito mais rigor. Eu acabei o meu
não aprecio particularmente, como se
aprende. É claro, nada será perfeito,
independente mas não sou neutro”.
Portanto, eu escolho na altura aquilo
treino como especialista antes de haver
TAC e, agora veja o que se passou nos
como compete a qualquer processo
educativo. Há, neste momento, a
que me parece ser a forma mais
adequada de colaboração. Sou
últimos anos… as ressonâncias
magnéticas, as técnicas de imagem
necessidade de fornecer ao país uma
produção maciça de médicos, eu diria
perfeitamente livre.
cada vez mais aperfeiçoadas…
quase uma produção de guerra. No
40 torga
tempo
hoje um sentido mais prático, mais
aplicado, e uma envolvente com o
Andrea Marques / Filipe Casaleiro (Fotos)
41
Reflexão
poetas são os filósofos deste país com
um passado maior que o seu futuro.
Somos assim nesta Psicopatria de
brandos costumes e duras passagens
das Tormentas à Boa Esperança.
Há um cabo onde passamos do
Bojador além da dor e sofremos sempre
de saudade. Só, Só saudade, Só diria
o Nobre António que se escrevesse
«apenas» seria talvez um pouco plebeu.
Nobre Povo diz o hino dos heróis do
mar, mesmo quando a Nação fica ainda
mais valente e o seu humor mortal. Nem
Camilo com o amor de perdição foi
capaz de se livrar do final trágicomarítimo. A Teresa do romance fica em
terra, fechada a morrer no convento de
Monchique, mas Mariana vai ao fundo
quando os marinheiros atiram aos
peixes o corpo de Simão Botelho.
PSICOPÁTRIA
Vale, por isso sempre a pena
perguntar para que longes terras
Carlos Magno
Portugal é um paradoxo porque os
portugueses fizeram da Pátria o seu
telejornais e chegou mesmo a deixar
Egas Moniz pendurado na corda. Tinha
próprio lugar de exílio.
Ficar ou partir, eis a eterna questão
pecados que o próprio Papa não lhe
queria perdoar, mas a verdade é que
deste País que teve um rei que nunca
mais voltou e outro que se armou a si
tudo isto é fado (eu sei que tudo isto é
triste) mas foi assim que Portugal
próprio cavaleiro. Cavaleiro King Sise,
diz a lenda do Desejado Encoberto que
nasceu freudianamente contra a mãe.
Este País nunca matou o pai, mas ficou
trouxe Ninguém como figura central de
uma peça de teatro que termina quando
com a marquesa de psicanalista neste
jardim à beira mágoa e fez-se ao mar
se lhe pergunta: «Quem és tu, Romeiro?
Quem és tu, afinal?»
para fugir da única fronteira que haveria
de lhe fazer das Tordesilhas o primeiro
Sente-se sempre o nevoeiro da
tragédia, tanto na saga do deserto de
tratado global.
Tanto mar, salgado, a nos separar,
«Alcácer Que Há-de Vir» como na
história dos fidalgos fundadores que
sem lágrimas da Inês que só depois de
morta foi rainha. Mas antes disso já
entre Douro e Minho souberam bem
cavalgar toda a sela.
Leonor, descalça, ia para fonte formosa
e não segura. Isabel essa dizia são rosas
Era uma vez um país que se lembrou
de nascer. Dom Afonso o príncipe
senhor são rosas enquanto Dinis que
fez tudo quanto quis, plantava no pinhal
primeiro que ainda não era perfeito nem
tinha psicanalista foi um português
de Leiria as naus a haver. «Ai flores, ai
flores do verde pinho, se sabedes novas
pouco suave e sem filtro a fazer
fronteiras ao sul. Conquistou Lisboa
do meu amigo…» Ela foi santa, a rainha
e ele lavrador, o rei. Grande poeta é o
porque nesse tempo não havia
povo, diz-se, mas a verdade é que
42 torga
levaram a Menina e Moça de Bernardim
que apesar de andarilho nunca foi tão
criativo como Fernão Mentes? Pinto.
Não minto mas pinto a manta porque
longa é a Peregrinação diria o velho de
Montemor entre a China e o Japão. De
qualquer forma, estamos sempre a
regressar ao Restelo do velho que
profetizou todas as desgraças da
selecção nacional. Abra-se aqui um
parêntesis para dizer que muito pior do
que os velhos são os novos do Restelo.
Somos hoje grandes descobridores
do caminho marítimo para casa
sobretudo quando a Índia tira o Vasco
da cama e o achamento do Brasil vira
telenovela para o jantar da família. Elas
tão lindas com suas vergonhas à
mostra, as tais vergonhas que Pêro Vaz
dizia encher de vergonha as nossas se
ousassem compará-las com as suas
numa altura em que não existia pecado
do lado de baixo do equador. Agora
«aqui na terra estão jogando futebol, há
muito samba, muito choro e rock and
roll». Voltámos aos reality shows com
Reflexão
conselheiros Acácio travestidos de
colunistas sociais no parque Eduardo
pela alma. Mas prognósticos só no fim
para lembrar finalmente a célebre frase
e sem saber ocidentar-se.
Pergunto o que é esta pátria de
VII. Ai que saudades dos versos de
O‘Neill, «Alexandre, meu projecto,
de Churchil antes do fim da guerra,
sempre citado, abusivamente, por João
paradoxos parada na história. Se uma
jangada de pedra perdida no tempo ou
moreno português, cabelo asa de
corvo», o O‘Neil do País Relativo,
Pinto antes do fim do jogo.
Fico, por isso, neste canto da
uma Nau Catrineta já sem muito mais
que contar.
«Portugal, questão que eu tenho comigo
mesmo», País por conhecer, por ler. País
Península a ver a primeira geração
global de portugueses que é a vossa. A
Pergunto, finalmente: Será Portugal
solúvel nos portugueses. Ponto de
do medo que vai ter tudo. «País tunante
que diz que passa a vida a meter entre
geração que viveu Timor
independência massacrante
na
da
Interrogação. E de espantação como
diria o O‘Neill que um dia me citou
parêntesis a cedilha». O tal «País
engravatado todo o ano a assoar-se á
iniciação à juventude contemporânea
quando Portugal se descolonizava da
Carlos Drumond de Andrade para
lembrar que «escrever é cortar
gravata por engano».
Desculpem ter trocado tudo. Portugal
sua própria história numa espécie de
adolescência tardia. Lembro-me de ter
palavras». Aqui me corto, por isso. E
aqui deixo este aviso como
tem hoje um Zé Povinho de telemóvel
em punho e um galo de Barcelos
visto, de fugida, numa manifestação
contra a Indonésia uma jovem
recomendação de escrita porque ler é
sobretudo somar letras e falar é quase
congelado à espera do milagre da
rainha que já foi santa ou da outra que
lindíssima com um tshirt branca onde
ela própria tinha escrito com a sua
sempre fazer uma linha recta com
palavras que gostam de dar umas
era feia mas levou o chá para Inglaterra
e deu nome ao chique bairro de Queens
própria mão em letra de sangue uma
palavra nova: «Timor-te». Assim mesmo.
curvas.
Vou, finalmente, directo ao assunto;
em Nova York.
Agora que já vejo praias de Espanha
Timor tracinho te. Num neologismo
reflexo de amor e morte.
Digam-me se Portugal se reflecte neste
texto. Espelho meu, haverá País mais
percebo o que foi feito das areias de
Portugal. Caiu a ponte de Entre os Rios,
Por isso eu importo-me sempre no
regresso ao meu Porto de partida e
bipolar que eu? E, já agora, expliquemme porque é que os portugueses ficam
ruiu a euforia da Expo Barra 98 e
percebeu-se que tínhamos uma casa
exportugalo-me quando é preciso olhar
cá para dentro com aquela acidez lúcida
eufóricos por tudo e deprimidos por
nada.
pouco Pia. Mas o hino pede que
levantemos hoje de novo o esplendor
da mais amarga paixão. Lembro-me de
o professor Agostinho da Silva me dizer
de Portugal. Foi o esplendor da relva
em 2004 com Fé Futebol e Fado vadio
quando estávamos a entrar na então
CEE: «Pois é, Carlos, temos que aderir
quando se julgou que bastava chamarlhe um figo para marchar contra o
à Europa porque a Europa foi o único
sítio do Mundo onde nós, os
canhões e chutar contra a crise, chutar,
chutar…
portugueses, nunca estivemos. Foi o
mesmo velho sábio que me ensinou,
Scolari é mais argentino do que
Brasileiro e julga-se Peron querendo
aliás, o significado da palavra ocidentar
precisamente para fazer agora o que
fazer passar o guarda-redes pela sua
Evita. Nem parece que estamos na
antigamente se chamava orientar-se. E
lembro-me também de ele me dizer que
Europa ao misturar o candomblé com
a senhora de Caravagio. Mas pergunto:
há muito Norte a sul do equador que
nos passa pela cabeça.
Quem era afinal mais arrogante no ano
do Euro embandeirado pela pátria de
Reencontrado assim o rumo,
pergunto para que servem as capas
chuteiras no asfalto e o patriotismo todo
à flor da relva, Mourinho ou Scolari? Nós
negras da fita da queima das propinas
quando passamos de bestiais a bestas
que importamos Scolaris e exportamos
Mourinhos merecemos este saldo.
ou da euforia à depressão. Pergunto ao
vento que passa o que será Portugal
Talvez, como diria Abrunhosa, porque
não temos calma e trocamos o corpo
sem cafeína, pedaço de terra sem sal,
ao sol, sem sul, nem norte, desorientado
torga 43
Reflexão
na família e no trabalho, para uma
sociedade de exclusão de mudança e
de divisão, mais caótica, com processos
de desagregação quer a nível social,
quer a nível do trabalho, em que
coexistem e se confrontam diferentes
lógicas (do indivíduo, dos grupos de
pertença e das instituições). O aumento
do individualismo, com a criação da
própria identidade e a transformação
dos mercados de trabalho emergentes
no post – Fordismo, são responsáveis
por este processo.
Coexistem níveis de aspiração
individuais muito elevados e
precariedade do mercado de trabalho,
com aumento do desemprego de longa
duração. Consequentemente, o
Redução de Danos e Reinserção Social
Teresa Nunes Vicente
O tratamento do abuso e da
dependência de substâncias já não se
A actividade em Redução de Danos
e Reinserção, embora visando
encontra limitado ao setting clínico
clássico do ambulatório e do
objectivos diferentes, tem em comum a
intervenção centrada no sujeito,
internamento, devido à necessidade de
implementação de respostas mais
procurando
a
aquisição
de
competências pessoais e sociais
adequadas e eficazes.
Foram assim desenvolvidas as
adequadas que facilitem o contacto com
os sistemas e instituições sociais. Para
políticas de Redução de Danos e de
Reinserção Social, cujo registo de
a prossecução deste propósito, os
técnicos promovem a articulação com
intervenção integra, mas ultrapassa o
setting clássico referido, em direcção
outras organizações sociais, de molde
a facilitar a captação do sujeito nas
aos indivíduos e às instituições sociais
numa orientação pro-activa.
redes de sociabilidade primária.
O constructo teórico-prático, de uma
Esta mudança exige uma reflexão
ética e sociológica, para além do
intervenção nas áreas consideradas,
deve ter em conta o processo de
enquadramento jurídico e administrativo
que a suportou, a fim de disponibilizar
mudança das instituições da
modernidade, em direcção a um novo
aos técnicos um conjunto de normas e
procedimentos baseados numa
tipo de ordem social.
Para J. Young (1), nos anos 80 e 90,
perspectiva compreensiva. Propomonos analisar alguns conceitos e
assiste-se a um movimento de uma
sociedade de inclusão, caracterizada
contribuições que auxiliem a um melhor
entendimento.
pela homogeneidade e estabilidade
com interiorização de valores centrados
44 torga
indivíduo é estimulado a consumir mas
encontra dificuldade em se incluir no
mercado de trabalho. A pobreza e a
revolta conduzem ao desvio e ao crime,
gera a intolerância dos que têm uma
melhor situação e temem a
precariedade desta. Emerge “o
paradoxo do novo individualismo” com
pluralidade de estilos de vida, opções
políticas, religiosas e culturais mas que
também acabam por se limitarem,
muitas vezes, mutuamente. No universo
caótico do consumo e da multiplicidade
de escolhas, o indivíduo constrói a sua
identidade cada vez mais num registo
desviante, devido à frustração e
privação da segurança económica.
Para Giddens (2), o que caracteriza o
dinamismo da modernidade é a
“descontextualização
(ou
“desinserção”) das relações sociais dos
contextos locais de interacção” (família,
local), operando descontinuidades por
um reordenamento através de sistemas
abstractos, como as garantias
simbólicas e os sistemas periciais. Os
primeiros consistem nos meios que
circulam independentemente dos
indivíduos ou grupos, como por
Reflexão
exemplo o dinheiro. Os segundos
consistem nos sistemas de realização
pode ser qualquer um dado que “as
culturas não são apenas plurais como
técnica ou pericialidade profissional.
As pessoas confiam nestes sistemas
se esbatem, sobrepõem e se cruzam”
Young (1). Por outro lado, o sentimento
abstractos,
(na correcção dos
princípios que ignoram, fornecimento
de
identidade
pessoal
é
permanentemente ameaçado pela
de energia, sistema bancário), no
registo da fé, por um compromisso não
rarefacção da continuidade biográfica,
devido ao relativismo dos valores e à
presencial. O próprio dinamismo da
modernidade conduz à fixação das
pluralidade de escolhas e mundos
alternativos, fazendo bascular a
relações sociais descontextualizadas, a
condições de espaço e de tempo, ainda
capacidade de confiança.
O uso de substâncias psicotrópicas
que parcial e transitoriamente, num
compromisso presencial pautado pela
contribui para “fabricar o indivíduo,”
para usar a expressão de Alan
confiança no agente ou perito do ponto
de acesso.
Ehrenberg, citada por Alain Morel (3),
porque acentua a exclusão social e
O técnico de Redução de Danos ou
de Reinserção é o representante dum
torna mais precária a capacidade de
relação.
sistema pericial abstracto que
estabelece um compromisso presencial
Coloca-se, neste contexto, a
legitimidade de uma intervenção: como
com o sujeito consumidor de drogas.
Este compromisso é baseado na
intervir face a um utilizador de drogas
sem manipular o sentimento de
confiança pessoal e terá de ser
construído com envolvimento de ambas
identidade pessoal ou mecanizar os
comportamentos para o tornar uma
as partes. A contradição com a
confiança que se estabelece nos
pessoa menos ameaçadora para a
sociedade exclusiva cada vez mais
sistemas abstractos, que apenas produz
segurança sem reciprocidade, é,
intolerante, apesar de qualquer um ser
um “potencial desviante” (Richard
somente, aparente, na medida em que
na modernidade “ a vida pessoal e os
Senhet, citado por Young (1)).
Phillippe Lecorps (4) admite que “se
laços sociais que ela envolve, estão
profundamente entrosados com os
pode pensar na autonomia do sujeito
numa sociedade pluralista como a
mais extensos dos sistemas abstractos”
Giddens (2). Por esta razão, os agentes
procura ética da negociação de
conflitos”, ou seja “encontrar uma
que estão nos pontos de acesso ao
sistema pericial “se esforçam imenso
alternativa ao conflito que não seja a
força nem a persuasão manipuladora”.
para mostrar que são de confiança”... e
“eles garantem a ligação entre a
No trabalho em Redução de Danos,
esta postura é fundamental na medida
confiança pessoal e a confiança no
sistema”.
em que se visa reduzir o prejuízo
causado
pelas
substâncias
Os técnicos deparam-se, no
momento actual, com dificuldades
psicotrópicas sem um compromisso de
abstinência. A postura ética exige “uma
acrescidas no seu trabalho de
estabelecimento de confiança pessoal
presença, um acto, um compromisso
para assumir o risco do encontro com
e identificação do seu público- alvo. Por
um lado, como consequência da
o outro” P. Lecorps (4).
Bibliografia
1 – Young, Jack – “The
Exclusive Society”
1999
Sage Publications Ltd,
London
2 – Giddens, Anthony – “The
Consequences of
Modernity”
1990
Board of Trustees of the
Leland Stanford Junior
University
3 – Morel, Alain et al –
“Cuidados ao
Toxicodependente”
1997
Dunod, Paris
4 – Lecorps, Philippe –
“Ethique et Politique de
Prévention”
Comunicação no
Séminaire Européen, 26
de Setembro de 2002 Copenhague
sociedade de exclusão, o desviante
torga 45
Reflexão
e económico. Por sua vez, o capital
social diz respeito ao conjunto de
normas, valores e relacionamentos
compartilhados que permitem a
cooperação dentro ou entre diferentes
grupos sociais. As principais
características do capital social são a
confiança mútua, a reciprocidade e um
senso partilhado de futuro. Como o
capital social pressupõe a existência de
interacções entre os indivíduos, tornase claro que tem que haver uma
estrutura de redes sociais por detrás
do capital social. Entende-se, assim, a
relação entre os dois conceitos.
Há, no entanto, uma aspecto
multidimensional no capital social que,
até há pouco tempo, tem sido
O Lado Perverso do Capital Social
Vasco Almeida (Docente do ISMT)
No último número da Torga, num
interessante artigo intitulado “Redes
discussões
académicas
que
envolveram várias disciplinas na área
Sociais e Actividade Económica”,
Henrique Amaral Dias chamava a
das ciências sociais. Como se irá ver,
o conceito de capital social não deverá
atenção para um paradoxo evidente na
sociedade portuguesa. Se, no nosso
ser visto como substituto do conceito
de “rede social”, mas sim como o seu
país, existe uma rede social densa e
coesa, como explicar “uma perversão
suplemento. O uso moderno do termo
está associado a autores como Jane
tão grosseira dos princípios que gera
um free-riding transversal e maciço,
Jacobs, Pierre Bourdieu e James
Coleman, entre outros. Nos últimos
uma cultura generalizada de corrupção
(…) uma reduzida mobilidade social e
anos da década de 90, o termo entra
definitivamente na moda com o Banco
profissional e uma baixa produtividade?”. Sem pretender dar uma
Mundial a dedicar-lhe um programa de
investigação e um site na Internet. No
resposta completa à questão lançada
por HAD, gostaria, no entanto, de
entanto, foi com a obra Bowling Alone,
de Robert Putnam1, cientista político de
acrescentar alguns elementos de
reflexão que talvez possam lançar
Harvard, que o conceito alcança o
domínio público.
alguma luz sobre o assunto.
Entre outras razões, o interesse pelo
O capital social não pode ser
confundido com o capital humano.
estudo das redes sociais está
associado ao crescente número de
Este refere-se às habilidades e
conhecimentos
dos
agentes
investigações sobre o conceito de
capital social que, nas duas últimas
económicos que, combinados com o
dispêndio de energia, permitem
décadas, deu origem a uma série de
aumentar o bem-estar individual, social
46 torga
ignorado, mas que é crucial para
percebermos que os seus efeitos nem
sempre podem ser positivos. Por
exemplo, Putnam, em Bowling Alone,
distingue o capital social de ligação
(bonding social capital) e o capital
social de ponte (bridging social capital).
O capital social de ligação resulta
dos valores embutidos nas redes
sociais entre grupos homogéneos,
nomeadamente, entre amigos e
parentes. Porém, o processo de
intensificação deste tipo de capital
tende, muitas vezes, a reforçar
situações de exclusividade, criando
aquilo que os economistas designam
por externalidades negativas ou, no
dizer de alguns sociólogos, sociedades
fragmentadas. São exemplos extremos
deste tipo de capital o Ku Klux Klan nos
Estados Unidos ou a Máfia no sul de
Itália.
O capital social de ponte emerge das
redes sociais compostas por grupos
heterogéneos. Atravessando as
clivagens sociais entre os grupos, este
tipo de capital é inclusivo e gera efeitos
positivos na comunidade. É o caso de
algumas Associações Recreativas e
Culturais, em Portugal, ou os clubes de
Reflexão
bowling nos Estados Unidos que
Putnam lamenta estarem em declínio.
bens, serviços e demais “favores” fazse em circuito fechado e, assim sendo,
Daí o título escolhido para a sua obra.
O capital social de ponte pode actuar
as redes, embora densas, não
permitem uma conexão com os mais
como um lubrificador para a
cooperação
entre
indivíduos,
diversos grupos sociais criando nichos
de favoritismo e, por consequência,
aumentado a confiança e diminuindo
os custos de transacção. Assim, as
processos de exclusão.
Isto é muito evidente ao nível dos
comunidades baseadas em práticas de
associativismo e de envolvimento
aparelhos de poder central e local,
onde os conluios e a troca de favores
cívico com normas transparentes e
redes horizontais de solidariedade
levam a situações extremas, como os
mais variados casos de corrupção que
tendem a conhecer níveis mais
elevados de democracia, boas
recentemente têm vindo a público e
que, parecem situar-se, quase sempre,
perfomances
económicas
e,
consequentemente, maior estabilidade
acima da justiça. Tudo isto contribui
para um mal estar generalizado, para
social2.
O problema económico coloca-se
um aumento do descrédito e
desconfiança no funcionamento das
quando o equilíbrio óptimo entre
capital social de ligação e capital social
instituições públicas. As reservas de
capital social de ponte vão sendo
de ponte é afectado por um excesso
do primeiro. Espalhando-se como um
destruídas pelo próprio Estado e pelos
circuitos de poder que se movem à sua
cancro, o capital social de ligação
começa a destruir os stocks do capital
volta, quando o seu papel deveria ser
precisamente o contrário. Na verdade,
social de ponte com evidentes efeitos
no aumento da desconfiança, na
estudos recentes mostram que a
existência de uma estrutura política
subida dos custos de transacção e na
perca de bem estar económico e
descentralizada e de uma elite capaz
de levar por diante as reformas
social.
Assim, uma primeira explicação para
necessárias com políticas definidas
através de normas transparentes e
o paradoxo apresentado por HAD é
que, em Portugal, há um excesso de
rigorosas, podem constituir um terreno
fértil para um maior envolvimento
capital social de ligação e um défice
de capital social de ponte. De facto,
cívico, para níveis mais elevados de
confiança e, por consequência, para a
num país com tradições corporativistas, como é o caso do nosso, o
criação de capital social, no sentido
inclusivo do termo.
estabelecimento de redes sociais fazse
sobretudo
entre
grupos
homogéneos que, acima de tudo,
visam defender os seus interesses,
1
Putnam, Robert (2000).
Bowling Alone, New York:
Simon Schuester.
2
Há um evidente paralelismo
entre os tipos de capital que
Putnam distingue e os laços
fortes e fracos de que fala
Granovetter e que HAD refere
no seu artigo. Os laços fortes
ocorrem dentro de redes
familiares, formando grupos
exclusivos à semelhança do
capital social de ligação
. Os laços fracos que
ocorrem, por exemplo, entre
parentes mais afastados ou
amigos distantes possibilitam
o estabelecimento de
ligações entre grupos
exclusivos, tal como o capital
social de ponte.
muitas vezes, em prejuízo dos
interesses de outros. Podem-se referir,
como exemplos, os sindicatos, as
confederações patronais, os clubes de
futebol, os meios religiosos, os partidos
políticos e, não menos importante, o
próprio Estado. De uma forma geral, a
circulação de informação, a troca de
torga 47
Reflexão
Sector Energético (ERSE) e a
Autoridade Nacional de Comunicações
(ANACOM), e até certo ponto a
Autoridade da Concorrência, são
exemplos bem vindos. É pena que o
Governo pareça, para já no caso da
ERSE,
querer
recuar
e
regovernamentalizar decisões que
ficavam melhor entregues ao regulador
independente.
Foi a reflexão sobre a independência
dos Bancos Centrais, e em particular
sobre o estatuto do Banco Central
Europeu, que me levou a ousar escrever
estas linhas. Uma discussão profunda,
rigorosa e imparcial do tema da
independência e legitimidade de orgãos
soberanos não eleitos não está de todo
ao meu alcance. O meu objectivo é mais
Poderes não Eleitos*
modesto, e a minha metodologia assaz
pedestre. Vou procurar identificar os
Luís Miguel Beleza
O tema da independência e da
legitimidade, ou, mais precisamente, da
existe, dentro do quadro da democracia
representativa, um número limitado de
legitimidade da independência de
orgãos com poder soberano não eleitos
orgãos que não estão sujeitos ao
calendário eleitoral normal e que não
é uma questão de princípio fundamental
numa sociedade democrática moderna.
obstante são indiscutivelmente
soberanos. O exemplo mais frequente
O termo “poder soberano” não se refere
neste contexto apenas aos poderes
são os Tribunais, claro. Nas últimas
décadas, e em particular nos países da
exercidos pelos tradicionalmente
denominados orgãos de soberania.
União Europeia, os Bancos Centrais têm
vindo a ser dotados de autonomia em
Com o adjectivo “soberano”, que utilizo
por não ter encontrado outro melhor ou
matéria de política monetária, em
termos tais que cabem no conceito de
mais preciso, quero significar que, além
de não subordinado a outro, se trata de
orgão soberano que enunciei. Há,
evidentemente, muitos países democrá-
um poder que afecta potencialmente e
de modo significativo a generalidade
ticos, onde os direitos, liberdades e
garantias são respeitados e em que o
dos cidadãos. Por exemplo, o poder de
criar moeda é nesta acepção um poder
poder de criar moeda não é prerrogativa
do Banco Central, mas antes do
soberano.
Governo. Mas há também casos de
países com idênticas credenciais em
A única fonte de legitimidade da
soberania numa sociedade democrática
que existem juízes eleitos. Por exemplo,
os Estados Unidos. No passado recente
é a vontade dos cidadãos, em regra
manifestada através de eleições
foram, e bem, criados orgãos com
poderes soberanos na acepção que
regulares. Como excepção a esta regra
aqui utilizo. A Entidade Reguladora do
48 torga
pontos daquela reflexão que mais me
impressionaram, à luz do que juristas
meus amigos me procuraram ensinar.
O meu ponto de partida é, creio, uma
evidência, ou melhor, um axioma. Os
banqueiros centrais - tenho obrigação
de o saber por experiência - não são
infalíveis, nem são ungidos com
nenhuma substância especial que lhes
dê direito à independência. Da mesma
forma, penso que a independência dos
magistrados não resulta do Direito
Natural. A excepção à regra de sujeição
a eleições regulares só é justificada, em
meu entender, por razões de eficiência.
Ou, atrevo-me a dizê-lo, por razões de
ordem pragmática. O poder soberano
que os Tribunais alguns Bancos
Centrais e os chamados reguladores
exercem é-lhes delegado porque os
(representantes dos) cidadãos
entendem, correctamente do meu ponto
de vista, que é a melhor maneira de
exercerem as suas funções. Ou seja,
porque se entende que os seus
Reflexão
objectivos - a Justiça, na minha opinião
a estabilidade monetária, preços
merecedor de uma parte substancial do
crédito pela prosperidade alemã do pós
Isto é, os cidadãos devem poder avaliar,
devem poder julgar se o exercício desse
correctos da electricidade e das
telecomunicações- serão atingidos com
guerra. Como exemplo oposto, recordo
a destituição da Presidente do Supremo
poder que delegaram corresponde de
facto aos seus interesses essenciais.
mais elevada probabilidade se aqueles
orgãos não estiverem sujeitos ao ciclo
Tribunal (Chief Justice) do Estado da
Califórnia, Rose Bird, há cerca de trinta
Esse julgamento é mais fácil no caso
de orgãos eleitos de acordo com o
e ao calendário político-eleitoral
normais.
anos, através de um referendo suscitado
por uma petição da iniciativa de um
calendário normal. É mais complexo
quando exercido por titulares com
É seguramente inútil e pretencioso
grupo de cidadãos eleitores. A razão
invocada foi a sua oposição à pena de
mandatos mais longos, e em particular,
claro, se o mandato não tiver duração
elaborar neste forum sobre as razões
porque os Tribunais devem ser
morte, prevista na lei do Estado da
Califórnia mas a que a Chief Justice se
definida. Penso que daqui se retira que
a regra deve ser a existência de
independentes e os juízes não devem
estar sujeitos a eleições como, por
opunha (correctamente, penso) contra
a grande maioria da opinião pública.
mandatos efectivamente limitados no
tempo (oito anos, dez anos, no
exemplo, os membros do Parlamento
ou os membros do Governo. Peço aos
Em poucas palavras, e na minha
máximo?). Acrescento eu próprio uma
excepção importante. O pouco que
leitores que admitam como hipótese de
trabalho a minha interpretação de que
opinião, a independência de um orgão
requer um mandato longo - em regra
penso saber sobre a carreira de
magistrado faz-me acreditar que o
a análise económica moderna, teórica
e empírica, aconselha a que um estatuto
mais longo do que consta do calendário
eleitoral normal - para os seus titulares,
regime previsto na Lei portuguesa não
deve ser alterado neste domínio
semelhante, e por razões semelhantes,
seja concedido aos Bancos Centrais.
requer que não se trate de uma
hierarquia - os vogais do Conselho de
particular. Não defendo juízes
temporários como regra, o que poderá
Isto é, os seus responsáveis devem
exercer uma espécie de magistratura
Governadores do Banco Central
Europeu não são subordinados do seu
tornar mais complexa mas não menos
necessária a responsabilização
monetária, e não devem estar sujeitos
ao calendário eleitoral normal.
Presidente, nem os Juízes de Primeira
Instância o são dos Tribunais Superiores
democrática a que me refiro.
Um orgão soberano não eleito exerce
- e requer o que em tempos aprendi
denominar-se a “irresponsabilidade dos
O Banco Central Europeu foi dotado
de total independência. O seu Conselho
o poder de acordo com a consciência
dos seus titulares, naturalmente à luz da
juízes”. Este último requisito conduz,
inter alia, à impossibilidade de um titular
de Governadores não pode solicitar
nem receber ordens ou instruções de
interpretação que faz do que são os
interesses mais profundos dos cidadãos
ver o seu mandato interrompido excepto
em
circunstâncias
graves
e
qualquer autoridade nacional ou
comunitária. Os membros do seu
que nele delegam o poder. Para além
de um princípio indiscutível, a
excepcionais bem definidas. Em
particular, e por exemplo, o Conselho
Conselho são os Governadores dos
Bancos Centrais - independentes - dos
consonância com os interesses mais
profundos dos cidadãos é também uma
de Administração do Banco de Portugal
não pode ser afastado pelo Governo por
países que integram a União Económica
e Monetária, e uma Comissão Executiva
necessidade prática. Numa sociedade
moderna nenhum orgão soberano, por
discordância sobre decisões de política
monetária. Creio que o termo
cujos titulares têm um mandato de oito
anos, não renovável. A responsa-
mais formal e solene que seja a sua
independência, consegue exercer o
“irresponsabilidade” é infeliz. De facto,
a questão mais interessante e
bilização democrática é procurada
através da definição de objectivos muito
poder contra o sentimento profundo dos
cidadãos. O Banco Central alemão, o
seguramente uma das mais importantes
nesta matéria é como conciliar a
claros e limitados para o banco estatutariamente, a estabilidade de
Bundesbank, era justamente considerado um paradigma de Banco
independência com a responsabilização de orgãos soberanos não eleitos.
preços - e do estabelecimento de regras
de transparência e informação.
Central independente. Este estatuto,
para além da letra da lei, foi-lhe
O poder é exercido em nome e por
delegação
dos
cidadãos.
A
Nomeada-mente, o Banco deve prestar
contas perante o Parlamento Europeu,
concedido pelos cidadãos alemães que,
justamente, creio, o consideram
independência deve ser acompanhada
pela responsabilização democrática.
deve publicar relatórios pelo menos
trimestrais sobre a sua actividade e, de
torga 49
Reflexão
um modo geral, deve publicar e explicar
detalhadamente todas as suas decisões
recorrendo a um processo formal que
responsabiliza solenemente o
em matéria de política monetária. Na
sua curta existência o Banco Central
Governo.
Europeu tem procurado ir além das suas
obrigações estatutárias. O Conselho de
O tempo dirá se o Banco Central
Europeu será capaz de conquistar a
Governadores deliberou concretizar o
objectivo da estabilidade de preços da
confiança e a independência junto dos
cidadãos
europeus.
Seria,
maneira mais precisa possível - inflação
não superior a 2 por cento por ano
evidentemente, ridículo da minha parte
pretender apontar os neófitos
segundo o denominado Índice de
Preços no Consumidor Harmonizado -
magistrados monetários europeus
como exemplo. É óbvio que algumas
e os próprios indicadores em que são
baseadas as suas decisões foram
das suas práticas não são
transponíveis. Mas ouso pensar que a
tornados públicos de forma explícita.
Além disso, o Banco comprometeu-se
indispensável e profunda reflexão que
está em curso sobre a Justiça em
a publicar um relatório mensal
pormenorizado,
a
explicar
Portugal poderia ser enriquecida com
alguma
reflexão
de
alguns
detalhadamente todas as suas decisões
de política monetária e o seu Presidente
economistas.
assumiu o compromisso de se
submeter a uma conferência de
imprensa pelo menos uma vez por mês.
O Parlamento Europeu tem, felizmente,
considerado adequado ouvir o
Presidente com frequência, e além disso
os membros da Comissão Executiva
têm multiplicado as intervenções
públicas
em
que
explicam
detalhadamente a actuação do Banco
Central Europeu. Por outro lado, e em
sentido contrário, não são publicadas
as actas das reunião do Conselho.
Admito que sobretudo numa fase inicial
de consolidação do Banco seja esta a
opção correcta. Uma alternativa que
parece funcionar bem é a seguida nos
Estados Unidos e no Reino Unido, em
que
as
actas
dos
orgãos
correspondentes são publicadas
algumas semanas depois das reuniões
a que dizem respeito. Não está previsto
nos estatutos do Banco Central Europeu
nenhum mecanismo de suspensão ou
revogação das suas decisões. Em
alguns Bancos Centrais considerados
independentes,
50 torga
tal
é
possível
* Baseado num artigo
com o mesmo nome
publicado no Boletim da
Ordem dos Advogados
em Março de 1999.
51
Entrevista
“Os nossos accionistas são os pobres”
Ainda enquanto provedora da Santa
Casa da Misericórdia de Lisboa, Maria
ou da solidariedade social estamos a
falar de políticas públicas, por um lado
Os
jogos
sociais
nascem
exactamente porque “o jogo é
José Nogueira Pinto concedeu uma
entrevista à Torga, que agora
e, de parceiros privados que,
juntamente com o Estado, prosseguem
considerado uma actividade ilícita.
Uma actividade má que, se existe, é
concluímos. Os temas de conversa
foram: a política de parcerias e de
essas políticas públicas do combate à
exclusão e à pobreza.”
melhor que seja permitida de forma a
que não seja aditiva e que as suas
abertura da Santa Casa ao exterior, o
sucesso dos jogos sociais, e
A ex-provedora defende um sistema
se Segurança Social que não seja
receitas tenham uma finalidade social
que, de alguma forma, lave ou purifique
finalmente, os problemas relacionados
com os menores e a adopção.
assistencialista, “não interessa dar
dinheiro às pessoas, interessa dar
o acto de
entrevistada.
“Durante 30 anos tivemos políticas
serviços, acesso à formação
profissional e a centros de certificação
Pela primeira vez na história da
Misericórdia de Lisboa foi feita uma
sociais muito erráticas”
de validação de competências, para
que as pessoas se possam tornar
campanha de imagem dos jogos
sociais. “A primeira campanha de
A abertura ao exterior e a política de
parcerias foram dois aspectos que
autónomas.”
Maria José Nogueira Pinto faz uma
imagem que nós fizemos dos jogos
cobriu o país todo. Uma campanha
Maria José Nogueira Pinto, enquanto
Provedora da Santa Casa, defendeu
apreciação negativa das políticas
aplicadas no sistema social, bem como
muito falada porque foi muito
inovadora. Associou claramente o acto
acerrimamente. É importante que “as
competências e os saberes se tornem
da cultura da imagem que está, cada
vez mais, presente na nossa
de jogar aos seus resultados. A
segunda campanha foi dirigida a quem
transversais”, explicou. A ex-provedora
criticou
as
políticas
sociais
sociedade.
“São outra forma de analfabetismo,
jogou e ganhou, a quem jogou e não
ganhou mas ajudou, e a quem foi
prosseguidas nos últimos anos e
afirmou que foram a consequência do
de iliteracia num mundo moderno. (…)
As pessoas vivem hoje de imagens, os
ajudado para ter a ideia de que foi bom,
foi positivo.” Passaram a chamar-se
actual estado do país. “O problema é
que durante 30 anos tivemos políticas
novos analfabetos das imagens...
Nesse sentido, eu acho que a classe
Jogos Santa Casa. Os resultados
líquidos são distribuídos por diferentes
sociais muito erráticas que foram sendo
abandonadas,
retomadas,
política, também se tornou bastante
analfabeta porque a agenda política é
beneficiários. A Misericórdia tem cerca
de 24%, mas os outros 76% vão para a
modificadas. Eu acho que essa
segmentação e esse percurso errático
muito marcada pela agenda mediática.
E, a agenda mediática é, por definição,
Segurança Social, outras Misericórdias,
Sida, IPSS, Desporto Escolar, entre
têm grandes consequências no estado
em que está o país, nomeadamente,
efémera. Portanto, as políticas
efémeras não conduzem a nada”,
outros.
Antes de Maria José Nogueira Pinto
no que diz respeito ao combate à
pobreza e à exclusão que não foi tão
concluiu.
chegar à Misericórdia de Lisboa os
jogos da Santa Casa representavam
bem sucedido como poderia ter sido.”
Maria José Nogueira Pinto refere
“Vender jogo social é como vender
outra coisa qualquer”
menos de 1/3 do jogo em Portugal, a
ex-provedora explica porquê: “Os
também a confusão que existe na
definição de solidariedade “as pessoas
Os jogos, em Portugal, dividem-se
jogos estavam mal por uma razão
muito simples: marketing não existia.
confundem a solidariedade social, tal
como nós estamos a falar dela, com
em jogos sociais e jogos de fortuna e
azar. Os primeiros são jogos com
Vender jogo social é como vender outra
coisa qualquer. Sendo esta Casa,
gestos espontâneos de fraternidade,
solidariedade, caridade, como lhe
características especiais, são jogos não
aditivos e cuja receita é afecta a fins
talvez, a mais importante instituição de
Economia Social, ela tem que se
queira chamar. Não é nada disso.
Quando nós falamos do sector social
sociais. A Misericórdia de Lisboa é a
concessionária única dos jogos sociais
habituar a viver com duas mãos: uma
mão que faz dinheiro, que tem que ser
desde a Rainha D. Maria.
52 torga
jogar”,
explicou
a
Entrevista
muito competitiva a fazer dinheiro
porque os nossos accionistas são os
que os casais querem uma coisa que
nós não temos não estou a culpabilizar
que tenho». Há muitos casais com
filhos que vêm adoptar. É uma
pobres; e uma mão que cria a despesa
virtuosa. A receita nesta Casa é
os casais. Estes casais querem aquilo
para que se sentem preparados e é
paternidade e uma maternidade, não
é uma boa acção. As boas acções
instrumental. A despesa é o fim em si
mesma. Nós estamos aqui para criar
isso que nós aqui aconselhamos.
Ninguém deve fazer um esforço. O
todas fora da adopção.”
despesa virtuosa, mas não podemos
alavancá-la sem receita. Portanto, a
casal que vem adoptar não é um casal
bonzinho, não é um casal que vem aqui
receita é o meu instrumento principal.”
fazer uma boa acção. Se vem aqui com
o espírito de fazer uma boa acção então
“As boas acções todas fora da
adopção”
que seja voluntário. O casal que vem
adoptar é um casal que diz: «eu vou
A adopção foi também tema de
ser pai e mãe de uma criança como do
meu filho natural, se o tivesse tido, ou
Andrea Marques / Henrique Amaral Dias
Filipe Casaleiro (Fotos)
conversa com Maria José Nogueira
Pinto que é peremptória em relação a
este assunto. “O interesse da criança
é a única coisa que deve nortear todas
as pessoas aqui dentro, não é o casal.
O que nós temos que encontrar é o
casal mais adequado para aquela
criança, e não a criança mais adequada
para aquele casal. A perspectiva é esta
e tem que ser dita aos casais com
clareza.”
Existem muitas crianças com
problemas de saúde que simplesmente
não são adoptadas em Portugal. São
levadas para o estrangeiro. Maria José
Nogueira Pinto explica porquê: “Muitas
dessas crianças são levadas para a
adopção internacional porque nos
outros países há apoios. A criança que
é adoptada por um casal francês,
dinamarquês ou luxemburguês chega
ao seu país e tem uma rede de apoios
estruturada. Por exemplo, a mãe pode
ficar em casa só para tomar conta
dessa criança. Há centros de dia,
fisioterapia, saúde mental e a criança
pode usufruir de tudo isso. Portugal é
um país sem apoios. Portanto, estas
crianças não são adoptadas e isto não
é culpa dos casais. Eu quando digo
torga 53
Foreign Affairs
O Brasil é, sem dúvida, uma das potências económicas emergentes.
O estudo da Goldman Sachs, que projecta a evolução das economias
nos próximos 50 anos, coloca-o entre as quatro novas potências
mundiais, atrás dos EUA, os BRIC (Brasil, Rússia, China e Índia).
Essa simulação tem como base dados de partida objectivos e reais.
Adicionalmente, o Brasil tem demonstrado uma vontade política firme
ao assumir-se como país central no concerto das nações,
designadamente ao reclamar um assento no Conselho de Segurança
da ONU.
Os números impressionam:
• 8,5 milhões de Km2
• 8.000 Km de costa atlântica
• 174 milhões de habitantes
• 3º construtor mundial de aeronaves
• 17% das reservas aquíferas mundiais
• 2º património mundial de floresta
• 1ª jazida mundial de ferro
• PIB de 452.387 milhões de $
Apesar do crescente protagonismo do Brasil nos palcos diplomático e
financeiro internacionais, persiste ainda uma coleira estranguladora
do seu crescimento económico: 50-55 milhões de brasileiros passam
fome, 20% sofrem de mal-nutrição e 10% da população detém 47,5%
da riqueza. As desigualdades profundas manifestam-se também a nível
territorial: no sul do país estão concentrados 76% do PIB, mais de 70%
do VAB (Valor Acrescentado Bruto) da indústria e 57% da população,
em apenas 18% do território nacional, enquanto no nordeste, 20
milhões de pessoas situam-se abaixo do limiar de pobreza, vivendo
sem água potável e electricidade.
Se o desenvolvimento económico se tornar demográfica e
geograficamente transversal, então o crescimento será explosivo e
sustentável, a taxas anuais superiores a 6%, e o Brasil será então por
direito próprio um actor mundial.
Neste contexto, a estratégia de internacionalização da economia
portuguesa deve continuar a apostar no mercado interno brasileiro,
sobretudo, e por antecipação, nos estados que a médio prazo poderão
exibir taxas de crescimento económico mais elevadas. Ora, estes são
aqueles que actualmente se encontram num patamar relativamente
inferior de desenvolvimento, pelo que as empresas portuguesas devem
expandir-se para além do triângulo industrial, onde pontificam São
Paulo e Rio de Janeiro, se desejarem aumentar a sua quota de mercado
neste país.
Henrique Amaral Dias
54 torga
Alma Nostra
Como já aconteceu nas duas edições anteriores, a revista Torga faz questão
de destacar o programa ALMA NOSTRA transmitido aos sábados, pelas 11h00,
na Antena 1.
Para além de ser um programa realizado e apresentado por uma dupla que
o país há muito se habituou a escutar e que dizem muito ao Instituto Superior
Miguel Torga, o Prof. Carlos Amaral Dias, Director do ISMT, e o Dr. Carlos
Magno, docente no curso de Ciências da Informação, é um dos programas
semanais com maior audiência em Portugal.
Para esta edição, destacamos as frases e ideias que ficaram no ouvido ao
escutarmos o programa emitido a 22 de Outubro de 2005.
Fernando Teófilo
ESPANHA PORTUGAL
“O ditado «De Espanha nem bons
entrevistados diziam. Por exemplo, no
caso da gripe das aves e no caso de
PRESIDENCIAIS
“Não marques o segundo golo antes do
ventos nem bons casamentos» vem de
um ditado espanhol que diz « De Madrid
um estudo apresentado pelo Prof.
Sobrinho Simões sobre o impacto do
primeiro.”- Carlos Magno
nem bons ventos nem bons
casamentos.»” – Carlos Magno
sal na probabilidade de cancro do
cólon. Esta tendência para exagerar e
“A escolha do Grémio Literário foi
notável para o almoço com Cavaco.”-
semear o pânico pode vir a colher
tempestades”. - Carlos Amaral Dias
Carlos Amaral Dias
“No nome de Miguel Torga, o Miguel,
podemos entender como sendo
hispânico, imperial, e o Torga como
LONGO ALCANCE
CASO RONALDO
“Uma menina de 18 anos que aceita ir
sendo português, inferior ou rasteiro
como a urze.” - Carlos Amaral Dias
“Somos ouvidos em Espanha.” - Carlos
Magno
à noite para um hotel com um rapaz,
vai fazer o quê? Jogar Dominó?” -
“Sabia que somos ouvidos em Princeton
e Oxford?” - Carlos Amaral Dias
Carlos Amaral Dias
A PROPÓSITO DE PANDEMIAS
“Os Media têm uma tendência para a
tragédia, para a catástrofe.” – Carlos
FUTEBOL
“Ronaldo é um mártir dos media. Na
Idade Média, mártir queria dizer
Magno
“O jogador de futebol é parecido com
um gato. Os gatos são individualistas,
testemunho de amor. Agora é um
testemunho da voragem e da inveja
“A simplificação é um dos problemas
graves do jornalismo actual.” – Carlos
não se pastoreiam, às vezes são vadios,
fora e dentro do campo. Os gatos não
colectiva inconsciente em relação
àqueles que atingiram a distinção.” -
Magno
se pastoreiam, têm de ser liderados e
a liderança não depende da idade.”-
Carlos Amaral Dias
“Devia haver um controle de qualidade
nos jornais.” – Carlos Magno
Carlos Amaral Dias
AINDA AS AUTÁRQUICAS
“Estas
eleições
autárquicas
“Vi recentemente vários exemplos, na
“ Disse-me um amigo do F. C. Porto que
os jogos ganham-se ao ataque, os
demonstraram que a democracia existe
para além dos partidos.” – Carlos
televisão e na imprensa, de notícias que
não transmitiam o que os próprios
campeonatos ganham-se à defesa.” Carlos Magno
Amaral Dias.
torga 55
Lance Livre
flickr
Neste espaço, a revista Torga pretende
Chama-se Flickr e já se tornou num
da licença Creative Commons, muitas
dar a conhecer aos seus leitores,
nomeadamente a alunos e professores,
caso sério de popularidade mundial.
Obra de dois fundadores visionários,
existem também com permissões mais
restritas.
produtos e serviços que, sendo
gratuitos, não deixam de ser uma
o Flickr é o local onde pode colocar as
suas fotos, para partilhar com os
A popularidade de Flickr atraiu uma
das maiores empresas da Internet, a
opção de qualidade para certos
trabalhos.
outros, e naturalmente para encontrar
uma foto para ilustrar algum trabalho
YAHOO! que adquiriu o site, mantendo
o seu carácter gratuito.
que necessite de uma imagem.
Depois de, na edição anterior, termos
Queremos, com este “lance livre”,
destacado as licenças “Creative
Commons”, que trouxeram para a
O nível de qualidade varia, podendo
encontrar desde as fotos mais tremidas
despertar a sua atenção e sugerir uma
visita para melhor verificar como o site
Internet um grande número de
conteúdos prontos a serem copiados
às imagens mais espectaculares
colocadas por verdadeiros profissionais
lhe pode ser útil.
livremente, porque já têm a prévia
autorização do seu autor, vimos hoje
da fotografia mais altruístas.
Apesar de estar ainda, oficialmente,
numa versão beta do seu
apresentar um dos locais onde pode
aceder a milhares de fotos com essas
Antes de descarregar e copiar
alguma imagem, verifique o tipo de
desenvolvimento (versão que antecede
a versão final), vai verificar que se trata
características.
licença que foi atribuída para a foto em
questão. Apesar de a grande maioria
de uma plataforma já muito robusta
com milhões de utilizadores.
ser colocada para uso livre, ao abrigo
Fernando Teófilo
Adicionar aos favoritos:
http://www.flickr.com/
56 torga
Publicações
DESTAQUE
O autor analisa alguns dos artigos que considera fundamentais para o estudo
da psicanálise: “nunca é demais analisar a obra de Freud que nos primórdios
de um novo paradigma revolucionou toda a visão do homem, graças à
inclusão de um novo vértice – o vértice do inconsciente e do negativo. Se
ele é assim considerado por muitos dos grandes contemporâneos, creio
que nós, psicanalistas, deveríamos, ser os primeiros e os principais a
aprofundar as questões que ele suscitou ainda que num momento histórico
inicial dos actuais paradigmas.” Ao longo desta obra, o leitor terá acesso a
um outro “olhar e ver”, simultaneamente amplo e profundo, quer sobre Freud,
quer sobre psicanálise, quer sobre os conhecimentos científicos actuais,
quer sobre a humanidade.
DIAS, Carlos Amaral
Freud Para Além de
Freud II
Climepsi
14.40 euros
Michio Kaku
Nas palavras de Brian Greene, autor de O Universo Elegante, «O Cosmos de
O Cosmos de Einstein
14,00 euros
Einstein conduz-nos numa visita guiada e quase fotográfica ao impressionante
legado de Einstein [...] com uma prosa de mestre e uma clareza irresistível».
Gradiva
Uma obra fundamental para perceber como a visão de Einstein transformou a
nossa concepção do espaço e do tempo.
George Gamow e Russell
Depois de inspirar, conquistar e ensinar várias gerações em “As Aventuras do Sr.
Tompkins”, editado pela Gradiva, o Sr. Tompkins está de volta para encantar
Stannard
O Novo Mundo do Sr.
Tompkins
Gradiva
novos leitores através dos caminhos da Física do Século XXI. O novo texto é
revisto, actualizado e ampliado por Russell Stannard.
16,50 euros
Luis Bigotte de Almeida
Do Cérebro de Lenine à
Proteína Suicida
Heróis e vilões
sistema nervoso
Gradiva
17,00 euros
do
A evolução das Neurociências confunde-se com a história das preocupações
essenciais do Homem. Esta é uma história breve de vários séculos e de centenas
de heróis que ao longo de gerações foram investigando os meandros do sistema
nervoso, até conseguirem desmascarar as suas entidades patológicas, como se
de verdadeiros vilões se tratassem.
Ana Cristina Abreu
torga 57
Publicações
Algumas das publicações que deram entrada na Biblioteca do ISMT
“Nos últimos anos, a imigração tem ocupado um lugar central no debate
político nas sociedades ocidentais. Esta situação é o resultado de vários
factores, entre os quais podemos assinalar o aumento da pressão imigratória e
o aumento do período de permanência dos imigrantes nos países de
acolhimento. […] O objectivo deste trabalho é examinar o modo como as
medidas adoptadas em Portugal, em matéria de política de imigração, se
reflectiram no estatuto dos imigrantes e as mudanças que implicaram no
conceito de cidadania.”
COSTA, Paulo
Manuel
Políticas de
Imigração e as
Novas Dinâmicas da
Cidadania em
Portugal
Instituto Piaget,
2004
“ Esta muito actual nova edição também apresenta melhoramentos de carácter
pedagógico (objectivos dos capítulos, questionários de revisão, entre outros) e
discussões actualizadas e alargadas sobre tratamento de dados, wizards
reguladores de bases de dados, apoio à decisão, recuperação de informação,
segurança na Internet, bases de dados específicas, processamento de
transferências e gestão de dados XML. A cobertura dos assuntos foi revista e
alargada em todos os sectores de modo a reflectir o novo padrão SQL:1999.”
RAMAKRISHNAN,
Raghu
GEHRKE, Johannes
Database
Management
Systems
3rd. ed.
McGraw-Hill, 2003
“ Esta segunda edição revela os próximos tempos da Segurança Social
capitalista como sistema e mostra como o Serviço Social convencional falhou
na resposta aos problemas sociais sistémicos. Mullaly apresenta uma teoria
coerente e consistente para um serviço social progressivo, centrado na
opressão, e examina elementos da sua prática política. Mostra-se como esta
prática é exercida nos agentes sociais, fora deles, e nas vidas pessoais de
assistentes sociais estruturais. A nova edição foi amplamente revista e
actualizada, e inclui um capítulo novo sobre a opressão e a justiça social.”
MULLALY, Bob
Structural Social
work: ideology,
theory, and practice
2nd ed.
Oxford University
Press, 1997
58 torga
Ana Cristina Abreu
Conto
TEMERÁRIO
René Tápia
“Se eu pudesse, um dia voltava à
Europa e estudava Sociologia”, diz
com o prestígio de anos como dirigente
sindical, fora eleito para presidente da
de 73. Ele estava no estrangeiro quando
o seu pai fora detido, graças a um erro
Pedro a Carlos, enquanto aguar-davam,
contando o tempo ao segundo, que
câmara nas municipais de Abril de 71.
Se os partidários do presidente Allende
de segurança e desaparecera.
Passaram dez anos. Ele voltou da sua
aparecesse o próximo guarda que
patrulhava a estação retransmissora do
obtiveram quase metade dos votos a
nível nacional, o seu pai ultrapassara os
preparação militar e criou a facção dos
“autónomos”. “Os velhos não sabem
canal de televisão. “Gostava de
compreender o que é que se passa,
90 por cento.
Uma dor silenciosa acompanhava
nada”, dizia-lhe a sua irmã que dirigia
um movimento para o esclarecimento
porque se passou isto e não aquilo. Não
sei, ler Lenine talvez”.
ainda Pedro, nos seus olhos negros e
tristes, no seu humor de sorrisos curtos.
sobre os “desapareci-dos”, “Continuam
na mesma”. “Como tu”, respondeu,
“Eu quero estudar Psicologia”,
respondeu Carlos. “Sim!”, acres-
A lembrança do papagaio de papel nas
mãos distantes do seu pai, “Puxa agora,
voltando as costas e saindo para não
regressar.
centou, perante a cara surpresa de
Pedro. “E escrevia uma tese sobre Marx
filho!”, e ele a segurar o fio, que se
esticava com a brisa marinha, acordava-
A ideia fora inspirada na acção de
Lagos. “Tem tomates!”, diziam os seus
e Freud, podia ser aqui, até na Católica,
os curas são bons, os jesuítas”.
o ainda, para encontrar, não as cores
do papagaio, mas a escuridão de um
camaradas, ao desaparecer do ecrã a
figura de quem denunciou um quarto
E a conversa ficou por ali por motivos
de segurança porque ambos
quarto vazio, em que a insónia e a
solidão conviviam.
de século antes a concentração do
poder económico no Chile e agora vinha
compreendiam que começavam a
acordar os fantasmas.
Carlos era de Santiago. Tinha vivido
na capital toda a sua vida. O seu pai era
levantar um dedo acusador na televisão
e desafiava, alto e bom som: “Você,
Pedro tinha oito anos quando foi
levado, junto com muitos outros
funcionário do Comité Central e passou
a dirigir o partido na clandestinidade,
General Pinochet, tem que responder”.
“Essa é velha”, respondeu Carlos,
moradores da vila, a presenciar o
fuzilamento do seu pai. A vila era dos
quando o anterior caiu nas mãos dos
serviços de inteligência de Pinochet, no
“Vem dos tempos de Lincoln, usou-a
Alessandri”.
mineiros do carvão, no Sul, e o seu pai,
início do golpe de Estado, em Setembro
torga 59
Conto
“Já estás tu armado em ultra”,
retorquiram os outros. “Uma coisa é um
autóctones de criação popular,
regressaram do exílio e ofereceram um
súbito, descendo, iluminando e
disparando contra o grupo que ficara
papel colado numa parede, e outra é
chamar as coisas pelo seu nome
“Recital Pelo Não”, no Parque
Cousinho.
à espera de Carlos verificando o carro.
Separados pela metralha, Carlos e o
sabendo que podes desaparecer”.
Carlos encolheu os ombros, “Vamos é
Carlos conhecia-os, desde a
adolescência, como estudantes numa
seu companheiro encostaram-se ao
muro, enquanto procuravam as suas
ao nosso”.
Pedro tinha experiência neste tipo de
pacata cidade de província, onde ele
passara férias.
armas.
Nesse momento, da esquina da
operações e já colocara os engenhos
explosivos na antena transmissora da
Originalmente um conjunto de rock,
os “High and Bass”, apelidados de
transversal surgiu, em marcha lenta,
um Volvo azul escuro de vidros
rádio nacional numa celebração do
Onze. Mas agora, tratava-se de dar a
“meninos bem”, tinham aderido à
investigação e elaboração de folclore,
fumados, acelerando ao mesmo tempo
que descia o vidro traseiro, para deixar
conhecer o movimento ao país pela
televisão.
acomodando foneticamente o nome,
deturpado pelos chilenismos.
sair o cano curto de um Smith &
Wesson que disparou oito vezes, com
A acção teve o impacto desejado.
Ninguém pôde deixar de conhecer a
Bonitão, gozando de um certo
charme entre as meninas, Carlos
precisão e rapidez, deixando os corpos
de Carlos e do seu acompanhante
existência do “Movimento Manuel
Rodrigues”, mas, que fossem
preparou-se para ir ao muito esperado
concerto.
estendidos junto ao muro de tábuas,
enquanto a mãe, atónita, ficava colada
autónomos, poucos se aperceberam.
Aliás, como os jornais não podiam
Saiu de sua casa, numa rua tranquila,
dum calmo bairro de classe média, na
ao chão da porta que acabava de abrir
ao seu filho.
deixar de informar ou comentar o facto,
a maioria, controlada pela ditadura,
popular Ñuñoa, entre as avenidas de
Macul e da Grécia, rodeado pelos seus
omitiu esse pormenor, manipulando a
confusão do retorno do comunismo
quatro guarda-costas, enquanto outros
dois preparavam o carro. Mas este não
aos velhos métodos do tresloucado
“Plano Z”.
funcionou. Olharam-se rápida e
significativamente e Carlos, de
Do mesmo modo, quase todo o país
viu o rosto barbado de Carlos, que,
reacções rápidas, disse: “Vejam com
cuidado do que se trata, talvez seja só
num acto verdadeiramente autónomo,
imprevisível e imprevisto, tirou, no
o carburador, estes Toyotas montados
no México vêm com falhas eléctricas.
último minuto, a máscara que lhe
ocultava a verdadeira identidade.
Eu vou pedir o carro à minha mãe”.
Esta vivia separada apenas por três
“Temerário!”, disseram-lhe os seus
camaradas, ainda que poucos
casas, num desses chalets construídos
nos anos cinquenta, com jardim à
explicitassem a crítica que a palavra
encerrava, pois ocultava um misto de
entrada e cercas de madeira junto ao
passeio. Um dos guarda-costas
admiração e sã inveja. Carlos sentiu
orgulho de si próprio e pensou “Ah, se
acompanhou-o a dois metros de
distância. Era a hora do lusco-fusco, o
o Velho estivesse a ver!”
O plebiscito à recondução de
concerto seria pelas dez da noite outro acontecimento importante da
Pinochet como presidente do país
obrigou o ditador a uma certa abertura.
“abertura”, sem recolher obrigatório.
Três helicópteros patrulhavam as
Foi assim que “Os Jaibas”, como tantos
outros conjuntos musicais que tinham
ruas da populosa cidade. Quando
Carlos estava junto da porta da casa
recuperado as variadas formas
da sua mãe, um deles apareceu de
60 torga
CANDIDATURAS ABERTAS
61
Conto
ABSOLUT
Henrique Amaral Dias
O QUARTO
contudo, falhara rotundamente. Não
porque tivesse tentado, dominado que
nele irradiavam. Lembrava-se sobretudo
de uma, cuja voz rouca assolara os seus
O dia anunciava-se solarengo. H.
permanecera no seu quarto?
fora por uma absoluta e total inacção.
No sonho, brincava com despreocu-
tímpanos. Conhecera-a em final de
festa.
Da janela vislumbrava-se uma ínfima
parte da cidade: uns quantos prédios,
pação com os filhos desse homem,
divertia-se em sua casa. No final,
E ela fora ele?
Amara-a numa casa rosa, pontuada
uns quantos carros... Alguém descia as
escadas e abriria a porta com estrondo.
apercebeu-se de que ele tinha um filho
bastardo.
somente por um divã de camurça. Sem
janelas, o desejo eclodia: reverberando,
O calor da cama, num enroscar de pés,
fazia-o temer o tempo em que dela teria
Alguém que ele jamais reconhecera?
Tremendo, acordou e olhou para o
preso entre os muros e os corpos
entrelaçados. Ocasionalmente um
de sair, num parto doloroso. Alguém
decerto viria chamá-lo, perguntando-lhe
espelho... O martelar incessante dos
seus remorsos, a culpa que o
cigarro pálido iluminava-os.
E essa reflexão fora um fim
se queria tomar o pequeno-almoço. Ele
aguardaria o instante para bater asas
atordoava, espreitavam. Por ora,
deixaria as horas escoarem-se, num
anunciado?
Mas ainda que as memórias de um
dali e instalar-se no sofá, onde
encontraria refúgio para os restos da
desespero silente. Sem se mexer,
latejava suavemente no colchão: uma
passado perturbassem esse torpor, o
velho medo se instalasse, barafus-
manhã. Mas, mesmo esse acto, nesse
dia particular, seria adiado: enrodilhado
prazenteira onda envolvia-o, desmanchando-se pela mão direita, que
tassem ruidosamente, a sombra da luz
toldasse o seu olhar, não sairia daquela
em lençóis tépidos, raiados pela luz que
se escapava, mau grado a sua
desnudada e tímida procurava acolhêla. Massajando o ventre, permitia que
cama.
Soubera bem de um mundo repleto
preguiçosa vontade, mortificava-se.
Deles nunca se apartara?
um prazer feminino descentrado o
dissolvesse. Já tolhido, via perante si as
de dias perdidos, de almas perdidas?
Estar vivo era agora por vezes uma
Sonhou que enganara o Director de
Informações Pessoais: tivera de
pequenas odaliscas que um dia
cortejara, em soturnos bares e
maçada. Uma rotina que se lhe
impunha. Um correr biológico
executar uma missão delicada e,
discotecas. Esses vasos de prazer ainda
inoportuno. A previsibilidade, até ao
62
torga
Conto
momento em que nada mais importaria.
Até lá, teria de fazer coisas, fazer coisas,
se se teria cometido algum erro grave.
Por via das dúvidas, verificou de forma
seriam apenas para executar
futuramente ou se calhar nunca. Afinal,
como um rio que se lança para a foz.
Sem pressentir que se perdera no
sistemática os últimos dossiês: nada de
errado, portanto... Num assomo de
o trabalho era insolúvel. Tomou
finalmente a decisão de escrever ao
mar?
No dia seguinte teria de visitar o
inspiração, escrutinou o cartão de
ponto, tendo concluído que tinha dado
Director, pedindo esclarecimentos:
“Venho por este meio solicitar a V. Exª.
escritório. Como sempre, encontraria
memórias, cobrindo a secretária. Há
no último mês duas horas a mais.
Passou a mão pelo rosto e constatou
que se digne a especificar a ordem n.º
(...). Afirmando o meu total
anos que era assim. A sua profissão
consistia em solucionar. Mas, como
um barbeado impecável. Finalmente,
olhou para o vinco recto de suas calças
empenhamento em cumprir esta
missão. Com os meus melhores
sempre, sabia de antemão que se
limitaria diligentemente a arquivar
com satisfação. Contudo, algo tinha
corrido mal. Alguém tinha invadido o
cumprimentos.” Menos aborrecido e
ainda obsequioso, olhou de soslaio
esses processos.
Fora um amanuense disfarçado, um
mundo de páginas dactilografadas
com precisão, essa ordem que lhe
para o relógio, tendo compreendido
que a hora de almoço estava perdida.
inventariador?
parecera desde sempre estabelecida:
com que objectivo? Ter-se-ia limitado
Mesmo assim, retirou da pasta uma
lancheira: nela acomodadas estavam
O ESCRITÓRIO
essa pessoa a deixar esse envelope ou
remexido nos seus casos perdidos?
uma maçã cozida e uma malga de sopa
de feijão. Principiava a comer
Às nove horas subiu as escadas
esconsas que o levariam ao seu
A sua atenção derivou lentamente
para o conteúdo da missiva.
apressadamente, quando o telefone
tocou. Era a primeira vez que tal
gabinete, iluminadas apenas pelas
luzes de emergência, em verde e
Sentou-se e esperou pacientemente
que o coração abrandasse. Inspirou
sucedia. Estarrecido, hesitou um
momento em levantar o auscultador. O
branco, que reclamavam saída. Na
antecâmara do seu local de trabalho,
fundo. Concentrou-se e leu a carta.
Eram apenas novas directivas: teria daí
som do telefone ecoava naquele
espaço lúgubre. Mastigando alguns
reparou, como sempre o fizera, nas
estantes compridas de arquivos, que
em diante de organizar os ficheiros por
um critério distinto do anterior. Mas a
pedaços de feijão, que teimavam em
encher-lhe os molares, atendeu.
se esborrachavam contra o pilar. Esse
acordeão monótono, que todos os dias
despedida era sombria: “Entretanto
somos”, depois uma assinatura ilegível
— Sr. H.? — inquiriu formalmente
uma voz metálica e distante — Daqui
tocava uma melodia de silêncio a preto
e branco, embalou-o.
e, em baixo, O Director de Informações
Pessoais. Seria aquele remate uma
fala o Director de Informações
Pessoais. Queira comparecer nos
Sentou-se e esperou pacientemente
que a campainha zunisse. Abriu a porta
ameaça velada? Releu com zelo a
carta, mas o texto afigurava-se-lhe
serviços centrais pelas 15h00 de hoje.
— De que se trata, Sr. Director?
e encontrou, como sempre tinha
encontrado, um caixote. Lá dentro, os
agora menos claro: “Informamos o
funcionário H. que terá de organizar em
— Algo de insólito ocorreu —
informou gravemente.
ficheiros dispostos de forma caótica,
aguardavam-no. Arrumou-os cuida-
tempo útil os ficheiros de acordo com
a nova ordem estabelecida.” O que
H. ficou apreensivo. Nem sequer se
dosamente por ordem alfabética, ao
longo das prateleiras que fabricavam
significaria “em tempo útil”? Teria de
organizar todos os ficheiros ou só
recordava já onde se localizavam.
Apenas lá tinha ido uma vez, para
nomes e códigos. Sentou-se uma vez
mais e reparou que em cima do tampo
aqueles que passaria a receber?
Permaneceu sentado até à hora de
cumprir aspectos burocráticos. No
entanto, estava a par da gravidade da
de secretária jazia um sobrescrito que
tinha o seu nome impresso. Perante
almoço, estático, deixando apenas que
entredentes se escapasse ininterrupta-
convocatória. Os jornais relatavam com
destaque
este
género
de
essa súbita visão, inquietou-se. Alguém
tinha entrado no seu escritório. Era a
mente uma ladainha ora enfurecida,
ora dubitativa. Não era possível
acontecimentos e, com frequência, os
resultados revelavam-se pouco
primeira vez que tal sucedia de modo
tão ostensivo. Um calafrio percorreu-
organizar os ficheiros antigos, estes
apenas tinham uma etiqueta com o
animadores: “Lamentamos reportar que
o Sr. (...) ficou retido na secção (...), para
lhe a espinha. Sentiu-se observado.
Ergueu-se e deambulando, perguntou-
nome do sujeito em causa, mesmo os
daquele dia. Pensou que as instruções
futuras averiguações.” ou “Cumpre-nos
informar o público que é vital conhecer
torga 63
Conto
pormenores sobre (...), pelo que este
indivíduo ficará detido preventiva-
O pórtico de entrada era gigantesco,
com uma grade de ferro forjado,
e você é o único inspector que gere
estes assuntos.
mente.” Raramente vinham notícias a
lume sobre processos em curso,
encimada por uma inscrição: “Aqui jaz
Ícaro”.
— Que informações temos acerca
deste homem?
apenas um lacónico e vago anúncio:
“As autoridades continuam a investigar
Um porteiro perguntou-lhe:
— É o Sr. H.? — numa voz esganiçada
— Tem à sua disposição este ficheiro.
Analise-o e inicie a investigação. Ela é
— Queira deslocar-se à Ala D, ao
departamento número FA-124 581.
prioritária sobre todas as outras
obrigações decorrentes da sua função.
— Onde fica isso?
— É espantoso... Um cidadão e não
Tem uma semana para o capturar, caso
contrário um processo será aberto
A hora aproximava-se. H. vestiu o
sabe onde fica? Por acaso não lê os
jornais? Sabe que horas são? Sabe que
contra si.
— Mas... Sr. Director, que fiz eu de
casaco de tweed puído e saiu. Antes de
prosseguir, tinha ainda tempo de tomar
horas são?!
— Três menos dez — respondeu H.
errado? Sempre cumpri as minhas
obrigações.
um café e consultar um mapa da cidade:
os serviços centrais ocupavam um
ansioso — Estou a perder tempo
consigo. Diga-me por favor onde fica
— Quantos casos resolveu? Que fez
durante toda a manhã? Começou a
décimo de todo o espaço urbano, eram
o centro de uma circunferência, que lhe
a Ala D.
Como se o homem não respondesse
cumprir as novas directivas? Ao longo
de vinte anos, tolerámo-lo porque não
pareceu uma fronteira geográfica
natural. Estudou o mapa com atenção
de imediato, H. olhou outra vez para o
relógio. Com surpresa, este tinha
dispúnhamos de mais ninguém para o
seu lugar. A verdade é que não temos
e concluiu que estava afinal a algumas
centenas de metros do local. Bastar-lhe-
parado de funcionar: o ponteiro dos
segundos fixo, encarava-o com ironia.
ninguém disposto a ocupar-se com tão
pobres e inúteis tarefas. Aqueles que
ia percorrer três quarteirões, cinco
minutos a pé no máximo.
— Três menos dez! São três e meia.
Por acaso não ouviu os sinos? Bem,
desaparecem, devem permanecer
desaparecidos. Por alguma razão
As ruas àquela hora eram
calcorreadas apenas por domésticas
acompanhe-me, o Director espera-o...
Entrou num imenso espaço
desapareceram... Poder-se-á perguntar:
Então por que motivo criámos uma
atarefadas, com rebentos ao colo ou
em carrinhos. A meio do percurso
envidraçado. No centro, o Director,
sentado numa ampla mesa oval de
secção de desaparecidos, com um
inspector adstrito? A resposta é simples,
começou a chuviscar. A princípio mal
notou, para logo de seguida abrir um
reuniões.
— Queira sentar-se — ordenou numa
terá de existir sempre uma, para quem
se interrogue, e note que tal nunca
guarda-chuva que providencialmente
trazia consigo. Infelizmente, a chuva
voz melíflua.
— Sr. Director, é com imenso agrado
ocorreu: o nosso inspector H. está a
investigar diligentemente o caso. A
caía agora abundantemente, luzindo os
passeios e o vento errático vergastava-
que aqui estou. Espero que perdoe o
atraso, mas o meu relógio parou...
verdade é que não existe verdade. E
você sabe-lo há vinte anos. Há vinte
o com lâminas finas de água.
Resmungando, a humilhação das
— A verdade é que o Sr. H. se atrasa
com frequência: parou para tomar um
anos que todos os dias se limita a
arrumar papéis, sem nunca ter saído do
roupas molhadas e do ar desalinhado
foi crescendo, até que a chuva oxidou
café, onde esteve durante meia hora
sem trabalhar, não verificou se a sua
seu gabinete para investigar o que quer
que fosse.
o seu relógio falso.
Os edifícios iam
adquirindo
cebola funcionava, não sabia onde era
a Ala D. Mas, também é verdade que
— Devo protestar, Sr. Director: os
ficheiros são classificados como
contornos mais definidos, tornando-se
esguios e angulosos. Cor de cimento,
ocorreu algo de bizarro: hoje de
manhã, desapareceu oficialmente um
irresolúveis. Devo portanto presumi-lo.
Que diriam de mim se contestasse essa
entremeados de aço, afunilavam a
avenida, até esta se perder, numa
funcionário do Departamento de
Estado. Esse indivíduo é um traidor e
ilação? Estaria a desconfiar de um
processo aberto e levado a cabo pelo
amálgama de construções concêntricas, quase que provindas de um lego
levou consigo documentos comprometedores da segurança do nosso
Estado. Quem sou eu para o fazer?
Você bem que afirmou “Aqueles que
infantil, contudo insolentemente
ordenado.
espaço. Trata-se de um caso que
pertence à jurisdição deste organismo
desaparecem, devem permanecer
desaparecidos.” — retorquiu H.
os eventos ocorridos.”
A REUNIÃO
64 torga
Conto
— Você tem um problema: deixa-se
levar pela aparência da substância em
abandonando uma a uma as causas
que a tinham celebrizado. Na realidade,
A noite estava então só. O televisor
propagava-se pela sala de estar. H.
detrimento da forma. O nosso Estado
rege-se por esta última. O que
H. retivera apenas que a grande causa
era a ausência de causas. Um niilismo
saboreava um charuto, enquanto a
língua túrgida explorava o interior da
realmente interessa é o decorrer das
investigações, não o seu fim último.
feroz era a seiva desta outrora anátema.
Na universidade, não tinha feito M.
boca, absorvendo uns derradeiros
resquícios do seu conhaque favorito. Há
Você, como alguns, poucos, está
imbuído de uma lógica, sempre à
parte desta organização? Não tinha esta
preconizado a destruição do estado,
muito que o comprara no mercado
negro, numa estação de comboios em
espreita de uma síntese. Esse
arremedo de raciocínio ser-lhe-á fatal.
denunciando-o como uma entidade
vazia e absurdamente servil? H.
ruínas: um écran gigante anunciava um
jovem, abandonando uma superfície
A verdade é que nunca existiu um fim,
apenas um simulacro, um jogo de
lembrava-se de facto de uns panfletos
a picarem a cidade. Na altura, os media
comercial num descapotável vermelho,
rumando ao deserto; uma figura
sombras... nada mais.
entraram
em
pânico.
Houve
investigações: os membros desta
indistinta, especada junto às portas
envidraçadas, acenava nostalgica-
organização desconheciam-se e mais
tarde veio mesmo a apurar-se que
mente, enquanto a poeira se tornava
nuvem e o carro nada mais era do que
H. regressou ao exíguo apartamento.
nunca existiram contactos entre eles.
Este fenómeno provocou uma reacção
ela. Homens carregavam colchões e
computadores, num ziguezague
Levava consigo um invulgarmente
sintético dossiê sobre M.: “M. 44 anos.
dura do regime, embora a
desorientação fosse visível: uma
constante entre mesinhas e sofás.
Clientes aglomeravam-se em torno das
Solteiro. Licenciado em Ciências
Políticas. Doutorado em História
organização anárquica no seu estado
puro — como era possível?
bancas e um pregador clamava
“Pechincha!”. Junto ao muro, uma
Contemporânea. Professor Auxiliar e
funcionário do Departamento de
H. começou no seu caderno preto a
tomar notas sobre os passos a seguir:
mulher vendia o corpo sorrateiro, quase
tão gasto como as planícies de cromos
Estado, na secção de estratégia e
geopolítica. Nascido na Ala Z,
vistoriar a residência de M.; recolher
todas as informações jornalísticas sobre
em
segunda
mão.
Crianças
despencavam-se dos saiotes, caindo
departamento número MB-14 546.
Promovido há dois meses a Director de
a sua actividade; interrogar os seus
familiares, amigos, os colegas de
com os narizes enfiados em sorvetes.
Tudo girava e no meio dessa algazarra,
Estudos Geo-Estratégicos. Notas:
residia
na
altura
do
seu
profissão e, com reserva, os políticos
com quem tinha contracenado.
um carrossel mágico, pregado com
unicórnios, centrifugava o dia em
desaparecimento no local onde nasceu.
Esperava-se que ascendesse ao
Jantou tarde, já passava das dez. Na
pequena mesa da cozinha, deglutiu um
algodão doce. Num canto abrigado por
tendas de índios, homens ébrios
Conselho Nacional, nas próximas
eleições. Político brilhante, dado todavia
arroz de tomate com sardinhas em lata,
acompanhando a refeição com um
empunhavam garrafas como ramos de
flores, numa dança circense,
a leituras heterodoxas. Socialmente
saudável, com conhecimentos nas
copo de vinho tinto. Langorosamente
sentou-se frente ao televisor e bocejou.
aspergindo o ar à sua volta: cascos de
carvalho fumado, cheiros aveludados,
diversas áreas políticas.”
H. reconheceu as fotografias deste
As notícias da meia-noite saltitavam
entre o desporto e as curiosidades
frutos exóticos e malte. Um sacerdote
seminu encabeçava a cerimónia,
homem. Era de facto alguém em
vertiginosa ascensão. Aparecia
bizarras, quando o apresentador relatou
maquinalmente que M., cidadão
montando um touro embalsamado. Os
olhos vítreos do animal vigiavam os fiéis
regularmente nos jornais e nas
televisões, de aspecto sensato e
prestigiado, tinha desaparecido: “Esta
tarde a agência de notícias
e sua cauda erecta chicoteava-os.
Impelido para a multidão, H. avistou um
moderado e voz pausada. M. tinha
promovido nos bastidores a última
governamental enviou um telex que
comunicava o desaparecimento de M.
machado de guerra, goteando sangue,
que ao esbracejar freneticamente,
coligação partidária com os radicais.
Esta facção, em tempos de extrema
44 anos. Solteiro...” H. ficou boquiaberto, o conteúdo da notícia coincidia
exclamava conhaque Henessy X.O.
Diabos o levassem se não iria comprá-
violência, progredira contranatura para
o centro do espectro político,
palavra a palavra com o do dossiê. Que
sentido faria tudo isto?
lo! Um sobretudo pelo de camelo,
encimado por um chapéu de coco
A NOITE
torga 65
Conto
preto, roubou-lhe o objecto cobiçado.
H. descontrolado decidiu perseguir o
sabia que ela não voltaria a insurgir-se
contra a televisão ou contra ele – tinha
sobressalto, uma leve suspeita de
desejo, uma antecipação consciente de
inimigo fantástico. Por entre ruas
estreitas, engarrafadas em muralhas de
desistido.
Após o desaparecimento dela, teve de
um acto trágico de conhecimento.
Foi até à cozinha, acendeu um cigarro
casas geminadas e pontuadas de
mulheres lânguidas, que lhe estendiam
construir o seu mundo, impenetrável,
alheio aos outros, abrigado na
para a cidade feérica: “A cidade à noite
está em festa, árvores de Natal distantes,
as mãos ávidas de réplica, farejou o
rasto almiscarado de sua presa:
intimidade de um silêncio inviolado.
Quase nada recordava desses anos de
miragens do outro. Onde estás tu,
minha feiticeira?” Da janela da cozinha,
gemidos em águas-furtadas, dejectos
folclóricos e pernas ebúrneas
matrimónio. Sofrera com certeza uma
amnésia traumática parcial, pelo menos
numa noite de Inverno, está-se
verdadeiramente. Desse ponto de
baloiçantes semeavam o caminho. O sol
crepuscular incendiava as fachadas. H.
fora esse o diagnóstico do médico.
Todavia, blocos de episódios
observação clivado do quotidiano, do
ramerrão dos dias curtos e apressados,
perlado de suor marcava um ritmo
apressado. Os pulmões mirrados, as
desconexos piscavam na sua mente,
rompendo-lhe amiúde a concentração.
para onde as gentes anémicas
confluem, curvadas perante as trevas
cãibras descompassadas e uma dor
aguda no fígado começavam a minar a
Em contraste, o epílogo da sua
infância: onde tudo aparecia nítido, o
entrecortados de pontos luminosos,
quebrando noite após noite o feitiço dos
sua resolução. Prestes a desistir,
turbilhonando entre esquinas e guarda-
sol brilhava, tisnando a pele da face
virgem, libertando-a para um sorriso
tempos.
Com as mãos escancaradas, alinhou
sóis de esplanadas atravancadas,
desembocou
num
armazém
fácil, um passo de humor ágil, de
imaginação vivida: com os vizinhos
o cabelo para trás, reclinou-se e
adormeceu.
abandonado e, finalmente, encurralouo. Lutando, prevaleceu sobre essa cheia
brincava aos super-heróis, “Eu sou o
HomemAranha, tu és o Super-Homem
fluvial. Meteu-a no cós das calças e
triunfante, regressou a casa. Mais tarde,
e tu, tu és uma feiticeira.” Sim ela foi a
primeira: de olhos negros, lábios
A DOMÉSTICA
no quarto, sentado na cama, sentado à
beira da cama, quase escorraçado,
apoiados num flexível fio de saliva, a
beijaram-se clandestinamente, encos-
Apartamento de M. Nove horas da
manhã. H. perplexo. Quatro
quase vencido pelo sono, desrolhou a
garrafa. Um corpo mole em cambalho-
tados a um pneu de um carro branco
enferrujado, à sombra de um prédio em
assoalhadas assépticas: não há
vestígios de que aquele espaço tenha
tas desajeitadas empurrava-o para uma
extremidade angulosa, para fora de um
construção, por debaixo de uns velhos
cedros da rua onde moravam, no quarto
alguma vez sido habitado. H. tenta em
vão obter impressões digitais, um rasto
mundo que fora talvez só dela e dele. A
televisão zombava, reflectia vagamente
dela, no calor da tarde, sem que a
impetuosidade da paixão os obrigasse
orgânico. Metodicamente explora
paredes, tectos e chão em busca de
a sua imagem: olhos semicerrados,
testa franzida, imersa num qualquer
a esperar um futuro, um compromisso,
uma leve ideia sequer das regras do
esconderijos, batendo com os nódulos
dos dedos em toda a área. Nada. A
programa de variedades. “Põe o som
mais baixo! Não consigo dormir”. Que
jogo. O fim desse feitiço não teve fim,
porque o que nunca se começa nunca
sensação de desconforto acentua-se.
De repente, lembra-se de um tapete
queria ela? Quando tinha chegado ao
quarto, a primeira coisa que fez foi pegar
o tem? Livre de qualquer noção de
princípio, ele não concebia, não
verde plástico na soleira da porta de
entrada. Levanta-o e, por debaixo dele,
no comando e diminuir o volume do
som. Como era então possível que ela
reflectia, não criticava. Os seus beijos
não perderam o sabor morno de uma
acha um papel queimado. Guarda-o na
algibeira. Decide inquirir os vizinhos:
agora se queixasse? As mulheres, por
vezes, eram pintadas assim: seres que
chiclete de morango, nem as mãos
delicadas da feiticeira esgotaram o jeito
quer obter respostas para a situação
desconcertante com que se depara,
a custo o admitiam no seu mundo,
cobrando palavras zangadas e
táctil com que o envolviam, nem o olhar
desmesurado as áleas de sombra
mas ninguém responde.
Meio-dia. Por fim, uma mulher entra.
incompreensíveis, obrigando-o a
mendigar espaço e afectos.
húmida que sobre ele lançava.
Simplesmente deixaram de se ver. A
Traz um balde, uma esfregona e um
detergente lava tudo.
Concentrava-se no programa de
variedades, já mais confortável, pois
vida continuou imperturbável: a escola,
os colegas, as traquinices... nem um
— Boa tarde. Sou o inspector H. do
Departamento de Informações Pessoais
66 torga
Conto
e desejava fazer-lhe umas perguntas
— H. exibe o crachá perante a mulher.
faltou um botão. Nem um! — enquanto
mirava H. de alto a abaixo — Bem, o Sr.
Ligou a telefonia. Era Schöenberg:
vozes tenebrosas clamavam por
A princípio estupefacta, para que logo
um esgar de terror deforme os músculos
Inspector sabe, eu tenho horas fixas.
Não posso responder por tudo o que
alguém, órfãos imersos no sangue de
seus pais suplicavam piedade e uma
faciais — Conhece o Professor M.?
— Sim... Embora muito raramente o
aqui se passou. Hoje em dia há muitos
sem-vergonha. É vê-los por aí, a
saraivada de tambores anunciava a
morte. De repente, o silêncio e do
tenha visto.
— Notou algo de estranho nas últimas
pavonearem-se. As aparências
enganam. Não que o professor fosse
silêncio, uma voz surgia, meiga e triste,
de uma mulher de ventre vazio,
semanas?
— Eh... Não. Quero dizer, talvez. Penso
desse género. Não gostava era daquela
barba, escondia-lhe o rosto. Tão
começando a secar. Nela a tristeza era.
Um piano errático ia esvoaçando o
que o Professor M. deixou de cá vir.
— Como sabe?
comprida... e vinha até cá cima, aos
olhos. Depois aqueles óculos grossos
poema que a mulher entoava. Depois
um violino angustiado, partido por um
— Era o único morador e tinha o
hábito que denunciei há seis meses ao
feios. Sinceramente, parecia um
mascarado. E olhe, até me lembrava
baixo persecutório, e o violino a fugir,
saltitando por entre pequenas pausas,
seu Director de nunca fechar a porta da
rua. Há cerca de três semanas que ela
aquele actor. Sabe aquele... que era o
mau da fita — a mulher olhou
cada vez mais curtas: ora correndo, ora
descansando à sombra de uma
está
sempre
fechada,
mais
precisamente há vinte dias — afirmou
expectante H. — Aquilo é que era um
regalo. Não perdia um episódio. O meu
esquina, olhando para trás.
H. saiu abrupto. Lá fora uma neblina
com um certo autocontentamento a
mulher.
marido ficava todo zangado e até dizia
“Oh mulher! Deixa de ver isso. Faz-te
cinzenta envolvia a cidade e os
transeuntes caminhavam esquematica-
— Alguma vez o viu acompanhado?
Sentiu a presença de outros indivíduos
mal à vista.” Eu queria lá saber disso. A
vida já é tão dura.
mente para os seus destinos,
perfurando a neblina como pontos
no seu apartamento?
— Não. Era um homem muito
Empanturrado, H. despediu-se com
um aceno. Era óbvio que essa mulher
pretos a emergir da pele de um velho
rabi. Um som eléctrico penetrava-lhe os
sossegado, caseiro. O único barulho
que se ouvia era o ranger do pavimento.
não faria avançar a investigação. Em
passo estugado, dirigiu-se para o
tímpanos e todo ele começou a girar
naquele deserto de gelo sujo.
Muito irritante. Sabe, isto é antigo. As
novas casas têm outro isolamento. É
escritório.
Deambulou por aquelas ruas
encobertas, a gorgolejar a música
outra loiça.
— Há quanto tempo trabalha?
A TRANSFORMAÇÃO
daquele fim de manhã. De súbito, fora
algemado e, no meio da multidão que
— Aqui? Há oito meses. No início
estava convencida que havia outros
Iluminado pela forte luz branca do seu
rapidamente o tinha cercado, ria
javardamente a sopeira, enquanto ao pé
inquilinos... Tanto trabalho, para uma só
pessoa. Francamente! — a mulher de
candeeiro de secretária, desdobrou o
papel recolhido. No canto superior
de si, o Director esfregava as mãos,
como um padre satisfeito após a
seguida desata numa algaraviada —
Não veja isto como desagrado da minha
direito, leu uns números garatujados:
87415673. Telefonou para as
prédica.
parte. Mas francamente, um prédio
destes: enorme, 36 apartamentos, 18
informações, pois poder-se-ia tratar de
um número de telefone. Mas não, não
lances de escadas. Além do mais, o
professor quase nunca cá estava. Era
existia nenhum atribuído. Desalentado,
principiou a construir fórmulas
vê-lo na televisão. Um homem
importante... sem dúvida! Muito mal
absurdas: os primeiros quatro números
somavam vinte, dividindo o total pelo
vestido, o coitado. Sem uma mulher,
nada... Um homem assim não se orienta
quinto, obtinha-se quatro, somando
com o sexto dava dez, que com dez, a
nesta vida. Claro que o meu nunca por
aí andou maltrapilho. Mesmo as meias,
soma dos dois últimos dígitos, perfazia
vinte. Há vinte anos que trabalhava
bem cosidas, e reforçadas nos
calcanhares. Às camisas nunca lhes
como inspector e há vinte dias que M.
teria desaparecido. Coincidências...
Não queria mais voltar, era agora M.
torga 67
Mestrados
CONCLUÍDOS
DEPRESSÃO NA ADOLESCÊNCIA E O
SUCESSO E INSUCESSO ESCOLAR
Em 18 de Maio de 2005, Sofia Margarida
Pinto da Cunha Neto Pereira concluiu
o Mestrado em Aconselhamento
Dinâmico. O Júri, constituído pelos
Professores Doutores António Proença
da Cunha (ISMT), Rui Aragão Oliveira
(ISPA), Susana Ramos (ISMT), Carlos
Amaral Dias (ISMT) e pelo Mestre José
Mário Horta (ISMT), classificou a prova
com Bom.
DOENTES
HEMODIALISADOS
SANTOMENSES
Em 6 de Junho de 2005, Maria Alice
Marques da Silva Violante concluiu o
Mestrado em Serviço Social. O Júri,
constituído pelos Professores Doutores
René Tápia Ormazabal (ISMT), Maria
Carmelita Yasbek (PUC -São Paulo) e
Fernanda Rodrigues (ISSSP), classificou
a prova com Bom.
DAS MÃOS À MÁQUINA: ESTUDO
HISTORIOGRÁFICO
DE
UMA
EMPRESA FAMILIAR
Em 3 de Junho de 2005, António José
da Silva Alves concluiu o Mestrado em
Família e Sistemas Sociais. O Júri,
constituído pelos Professores Doutores
René Tápia Ormazabal (ISMT), Fernando
de Almeida Cavaco (U. Lusófona) e José
Henriques Dias (ISMT), classificou a
prova com Muito Bom.
UMA TRAJECTÓRIA: DA FAMÍLIA AOS
SISTEMAS SOCIAIS
Em 27 de Julho de 2005, Ana Maria
Franco Marques Lito concluiu o
Mestrado em Família e Sistemas Sociais.
O Júri, constituído pelos Professores
Doutores René Tápia Ormazabal (ISMT),
Ana Maria Neto (ESEP) e Carlos Amaral
Dias (ISMT), classificou a prova com
Muito Bom.
O CUIDAR DO DOENTE COM
PERTURBAÇÕES
MENTAIS:
EXPERIÊNCIAS EMOCIONAIS DOS
ESTUDANTES DE ENFERMAGEM
Em 25 de Junho de 2005, Maria Emília
Sousa Ferreira concluiu o Mestrado em
Família e Sistemas Sociais. O Júri,
constituído pelos Professores Doutores
António Proença da Cunha (ISMT), Maria
de Fátima Dias (ESEBB) e José Henrique
Dias (ISMT), classificou a prova com
Muito Bom.
PRÁTICA CLÍNICA E PRÁTICA
EPISTEMOLÓGICA NA
CARDIOPNEUMOLOGIA
HOSPITALAR
Em 1 de Julho de 2005, João Paulo
Figueiredo concluiu o Mestrado em
Sociopsicologia da Saúde. O Júri,
constituído pelos Professores Doutores
Maria João Costa Pereira (ISCE), Susana
Vicente Ramos (ISMT), Carlos Alberto
Afonso (ISMT) e Jorge dos Santos
(ESTSC), classificou a prova com Bom.
UNIÃO DE FACTO: EXPECTATIVAS
DIFERENCIADAS SEGUNDO O
GÉNERO
Em 30 de Junho de 2005, Susana
Baptista de Oliveira concluiu o
Mestrado em Família e Sistemas Sociais.
O Júri, constituído pelos Professores
Doutores Antónia Silva (U. Paraíba) e
Maria João Costa Pereira (ISMT), René
Tápia Ormazabal (ISMT) classificou a
prova com Muito Bom.
BURNOUT, VULNERABILIDADE DO
STRESSE E HOSTILIDADE NAS
ALTERAÇÕES CARDIOVASCULARES
– ESTUDO EM BANCÁRIOS
Em 21 de Junho de 2005, Joaquim
Alberto Ferreira concluiu o Mestrado em
Sociopsicologia da Saúde. O Júri,
constituído pelos Professores Doutores
René Tápia Ormazabal (ISMT), Adriano
Vaz Serra (UC) e Pedro Zany Cadeira (U.
Lusíada), classificou a prova com Muito
Bom.
OS CUIDADOS INFORMAIS DE
DOENTES
COM
ACIDENTE
VASCULAR CEREBRAL
Em 27 de Julho de 2005, Sónia Catarina
Lopes Marques concluiu o Mestrado em
Sociopsicologia da Saúde. O Júri,
constituído pelos Professores Doutores
Águeda Marques (ESEAF), Susana
Vicente Ramos (ISMT), René Tápia
Ormazabal (ISMT), Carlos Amaral Dias
(ISMT) e Sandra Oliveira (ISMT),
classificou a prova com Muito Bom.
EXPRESSÃO DA DOR ONCOLÓGICA
Em 27 de Julho de 2005, Carolina
Miguel Graça Henriques concluiu o
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde.
O Júri, constituído pelos Professores
Doutores Dulce Galvão (ESEBB), Susana
Vicente Ramos (ISMT), René Tápia
Ormazabal (ISMT), Carlos
Amaral Dias (ISMT) e Sandra Oliveira
(ISMT), classificou a prova com Muito
Bom.
SATISFAÇÃO E DESEMPENHO DO
DOCENTE EM ENFERMAGEM
Em 15 de Junho de 2005, Maria Justina
Calixto de Almeida concluiu o Mestrado
em Sociopsicologia da Saúde. O Júri,
constituído pelos Professores Doutores
António Proença da Cunha (ISMT),
Susana Vicente Ramos (ISMT), Eurico de
Figueiredo (ISMT), Carlos Amaral Dias
(ISMT) e Mestre Margarida Pocinho
(ISMT), classificou a prova com Bom.
O SENTIMENTO DE CULPA E AS
SUAS IMPLICAÇÕES NO
PROCESSO PSICOTERAPÊUTICO
Em 13 de Julho de 2005, Liliana Filipa
Gonçalves Moreira Pinto concluiu o
Mestrado em Aconselhamento
Dinâmico. O Júri, constituído pelos
Professores Doutores René Tápia
Ormazabal (ISMT), Rui Aragão Oliveira
(ISPA) e Carlos Farate (ISMT),
classificou a prova com Muito Bom.
Ana Cristina Abreu
68 torga
CANDIDATURAS ABERTAS
69
Mestrados
EM PREPARAÇÃO
continuidades, interrupções, revisões
e previsões).
Coping em Famílias com Crianças
Autistas”.
Mestrado em Toxicodependência e
Patologias Psicossociais, de Sandra La
Salete Campos Abrantes, intitulado
“(Tóxico) Dependência: à descoberta do
impacto da heroínodependência no
stress parental”.
Mestrado em Toxicodependência e
Patologias Psicossociais, de Paula
Monteiro Nunes, versando sobre o tema
da prevenção da gravidez na
adolescência no distrito da Guarda.
Mestrado em Família e Sistemas Sociais,
de Ana Cristina da Silva Costa, versando
sobre o tema da relação entre a
hiperactividade e a (im)possibiblidade de
brincar.
Mestrado em Toxicodependência e
Patologias Psicossociais, de Tânia
Ribeiro, versando sobre o tema da rede
social dos agentes da PSP.
Mestrado em Família e Sistemas Sociais,
de Ana Luísa E. C. Nogueira dos Santos,
versando sobre o tema da prestação de
cuidados a crianças: diferenciação
segundo o género do progenitor.
Mestrado em Toxicodependência e
Patologias Psicossociais, de Maria Telma
da Cruz Duarte, versando sobre o tema
do stress ocupacional e estilo de vida dos
enfermeiros.
Mestrado em Toxicodependência e
Patologias Psicossociais, de Rui Filipe
Lopes Gonçalves, versando sobre o
tema do investimento corporal em
doentes com paramiloidose.
Mestrado em Toxicodependência e
Patologias Psicossociais, de Carlos
Lopes Cardoso, versando sobre o tema
da imagem corporal e depressão na
infância e o contributo para a validação
de uma escala de avaliação da imagem.
Mestrado em Toxicodependência e
Patologias Psicossociais, de António
Manuel dos Santos Pereira, versando
sobre o tema da qualidade de vida do
doente deprimido.
Mestrado em Toxicodependência e
Patologias Psicossociais, de Cristóvão
Margarido, versando sobre o tema da
reinserção sócio-profissional de
toxicodependentes e auto-conceito.
Mestrado em Toxicodependência e
Patologias Psicossociais, de Ana Cristina
Almeida Santos, versando sobre o tema
do arquivo morte social e idosos
institucionalizados.
Mestrado em Toxicodependência e
Patologias Psicossociais, de Lúcia
Nunes Dias, versando sobre o tema da
política das drogas em Portugal 1970/
2004 (perspectiva histórica global, suas
70 torga
Mestrado
em
Aconselhamento
Dinâmico, de Paula Sofia Coelho Paiva,
intitulado “Dificuldades de Aprendizagem e o Período de Latência”.
Mestrado
em
Aconselhamento
Dinâmico, de Anabela Ponces Ferret de
Almeida Correia, intitulado “Avaliação do
Serviço do Centro de Atendimento a
Jovens de Coimbra – CAJ”.
Mestrado
em
Aconselhamento
Dinâmico, de Ana Sofia Noronha,
versando sobre o tema da baixa
satisfação profissional ao burnout em
trabalhadores autárquicos.
Mestrado em Família e Sistemas Sociais,
de Maria do Céu Ferreira dos Santos,
versando sobre o tema da educação de
adultos / ensino recorrente (um
subsistema do nosso sistema educativo).
Mestrado em Família e Sistemas Sociais,
de Generosa Augusta Morais, versando
sobre o tema da violênica e
institucionalização (trajectos e
resocialização).
Mestrado em Família e Sistemas Sociais,
de Teresa Pechincha, versando sobre o
tema dos emigrantes de Leste e a
percepção do apoio social em Portugal.
Mestrado em Acompanhamento
Dinâmico, de Cláudia Maria de Jesus
Margaça, versando sobre o tema do
impacto das situações de doença
grave, crónica e incapacitante nos
profissionais de saúde.
Mestrado em Família e Sistemas Sociais,
de Ana Cristina da Silva Costa, versando
sobre o tema da relação entre a
hiperactividade e a (im)possibiblidade de
brincar.
Mestrado em Acompanhamento
Dinâmico, de Natália Alves Pestana,
versando sobre o tema da ansiedade
face à morte.
Mestrado em Família e Sistemas Sociais,
de Lília Matias, versando sobre o tema
da violência entre pares de adolescentesBulling.
Mestrado em Acompanhamento
Dinâmico, de Elisabete de Jesus
Ramos, versando sobre o tema da
simbolização e espaço potencial na
prova projectiva de Zulliger.
Mestrado em Família e Sistemas Sociais,
de Anabela Silveira, versando sobre o
tema das patologias sazonais.
Mestrado em Família e Sistemas Sociais,
de Cristina Maria Rodrigues Silva
Ventura, intitulado “Estratégias de
Mestrado em Família e Sistemas Sociais,
de Carla Borges, versando sobre o tema
da análise comparativa entre a primeira
e segunda gravidez na adolescência.
Mestrados
Mestrado em Família e Sistemas Sociais,
de Paulo Maranhão, versando sobre
o tema da actividade turística na praia
de Mira e perspectivas de
desenvolvimento.
Mestrado em Família e Sistemas
Sociais, de Marta Ferreira, versando
sobre o tema das famílias migrantes
(os pais que vão e os filhos que ficam
e as implicações ao nível da
organização e estrutura familiar).
Mestrado em Família e Sistemas
Sociais, de Susana de Oliveira,
versando sobre o tema da união de
facto e expectativas diferenciadas
segundo o género.
Mestrado em Família e Sistemas
Sociais, de Paulo Peralta, versando
sobre o tema da rede escolar (uma
construção dinâmica).
Mestrado em Família e Sistemas
Sociais, de Ana Catarina Fernandes,
versando sobre o tema da qualidade
conjugal no casal homossexual.
Mestrado em Família e Sistemas
Sociais, de Ana Cristina Góis,
versando sobre o tema das
representações sociais de pobreza.
Mestrado em Família e Sistemas
Sociais, de Susana Aleixo, versando
sobre o tema da reabilitação e
amputação
(impor-tância
da
intervenção do serviço social
hospitalar).
Mestrado em Família e Sistemas
Sociais, de Cláudia Pereira da Silva,
versando sobre o tema da adopção e
a construção da identidade parental
nas famílias adoptivas.
Mestrado em Família e Sistemas
Sociais, de Miguel Pratas, versando
sobre o tema da institucionalização de
crianças e jovens e representações
das famílias.
Mestrado em Família e Sistemas
Sociais, de Berta Pereira Jacinto,
versando sobre o tema das
representações sociais dos alunos
surdos do ensino básico de Leiria
Mestrado em Família e Sistemas
Sociais, de Brito Largo, versando
sobre o tema do impacto das
construções pessoais na intervenção
clínica dos profissionais que lidam
com doenças neurológicas.
Mestrado em Sociopsicologia da
Saúde, de Helena Maria Abrantes
Mendes Belo, intitulado “Competências
maternas auto-percebidas no cuidar do
recém-nascido de termo”.
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Sara Cunha, versando sobre o tema
da resiliência familiar e as vivências dos
familiares de doentes oncológicos em
fase terminal de vida.
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Maria Manuela António, intitulado
“Vivência da mãe toxicodependente no
período de privação do bebé durante o
internamento na Unidade de Cuidados
Intensivos”.
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Ana Paula Favas, versando sobre o
tema da contracepção e adolescência.
Mestrado em Sociopsicologia da
Saúde, de Fernanda Maria Lucas dos
Santos, versando sobre o tema da
“check-list” no processo de cuidados
em bloco operatório de neurocirurgia.
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Margarida Santos, versando sobre o
tema da enfermagem de família (análise
sistémica construtivista de necessidades
de famílias com insuficiência cardíaca).
Mestrado em Sociopsicologia da
Saúde, de Helena Maria Martins
Norinha Gomes Sobral, versando
sobre o tema do sofrimento do doente
oncológico.
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Cecília Pinto, versando sobre o tema
da violência de género e psicopatologia
em jovens adultos.
Mestrado em Sociopsicologia da
Saúde, de Susana Romão, versando
sobre o tema das representações
sociais da toxicodependência.
Mestrado em Família e Sistemas
Sociais, de Paula Sofia Carvalho,
versando sobre o tema do apoio social
e o stress dos enfermeiros.
Mestrado em Sociopsicologia da
Saúde, de Ricardo Jorge de Oliveira
Ferreira, versando sobre o tema das
vivências da amputação do membro
inferior por etiologia vascular em
homens na idade adulta: abordagem
fenomenológica da corporeidade.
Mestrado em Família e Sistemas
Sociais, de Maria de Fátima Fonseca,
versando sobre o tema do
Rendimento Social de Inserção.
Mestrado em Sociopsicologia da
Saúde, de Ana Isabel Casca Jesus
Carlos Ferreira, versando sobre o tema
da paramiloidose.
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Hélder Simões, versando sobre o
tema da cultura e clima organizacional
em escolas pro-fissionais.
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Marta Albuquerque, versando sobre
o tema da vulnerabilidade ao stress dos
cuidadores da pessoa portadora de
deficiência mental.
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Rita Pelote, versando sobre o tema
das representações sociais dos
politraumatizados condutores de
ciclomotores, vítimas de acidentes de
viação.
torga 71
Mestrados
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Teresa Tinoco Duro, versando sobre
o tema da qualidade de vida na
hemodiálise versus diálise peritoneal.
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Cláudia Oliveira, versando sobre o
tema do nível de ansiedade da mulher
grávida em relação ao parto no pré-parto
imediato.
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Maria Otília Queirós, versando sobre
o tema da implantação de endopróteses
metálicas por via cutânea (estudo
rectrospectivo do tratamento de oclusões
das vias bibliares).
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Paula Cristina Parente, versando
sobre o tema do burnout em
enfermagem.
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Cláudia Alves Cardoso, versando
sobre o tema do síndrome de burnout
em enfermeiros.
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Tânia Leite, versando sobre o tema
do acompanhamento da família ao
hemodializado.
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Pedro Miguel Dias Sequeira, intitulado
“Educação Para a Saúde da Família do
Doente com AVC”.
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Isabel Fernandes, versando sobre o
tema dos factores influenciadores da
percepção do comportamento de cuidar
na enfermagem.
Mestrado em Serviço Social, de Paula
Manuela Almeida Marques Henriques,
versando sobre o tema do Serviço Social
nos municípios do distrito de Viseu.
Ana Cristina Abreu
72 torga
MESTRADO EM TOXICODEPENDÊNCIA E PATOLOGIAS PSICOSSOCIAIS
NOME: Eugénia Maria Fonseca Ribeiro
IDADE: 28 anos
FORMAÇÃO ACADÉMICA: Licenciatura em Serviço Social pelo ISMT (2002)
PROFISSÃO / FUNÇÕES: Assistente Social a exercer funções de Técnica Superior
de Serviço Social no Centro Social Bonitos de Amorim, em Póvoa de Varzim
Torga – Qual a razão que a levou a
escolher este Mestrado?
Eugénia Ribeiro (E.R.) – Escolhi este
mestrado porque ao longo de toda a
minha formação tentei diversificar os
meus conhecimentos, e também por
existir lacunas nesta área.
Torga – A que se deve a escolha da
temática “Ocupação / Espaço /
Tempo, do Idoso em Contexto Rural
e Urbano” para a Tese?
E.R. – A escolha desta temática baseiase, essencialmente, na minha
experiência profissional, visto que parte
do meu dia-a-dia é passado com
idosos e com todos os problemas que
com eles se relacionam. Tentei
encontrar uma área que me elucidasse
sobre as diferentes dúvidas que me
surgem. A principal questão da minha
tese tenta responder ao seguinte: como
é que o idoso não institucionalizado,
de duas realidades distintas (rural e
urbana), no concelho de Coimbra,
ocupa o seu tempo.
Torga – Qual o impacto do Mestrado
na sua carreira profissional?
E.R. – A curto prazo não espero
grandes mudanças a nível profissional,
no entanto, creio que este esforço será
recompensado de qualquer modo. Não
tomo este trabalho em vão porque o
meu principal intuito ao frequentar o
Mestrado foi sentir vontade de construir
um documento que me ajude a crescer
enquanto técnica e enquanto ser
humano que se preocupa com a
qualidade de vida dos idosos.
Ana Cristina Abreu
Andrea Marques (Fotos)
CANDIDATURAS ABERTAS
73
Viagem
O Estoril é uma sui generis cidade banhada pelo Atlântico. Com clima
mediterrânico de doces temperaturas todo o ano, constitui um lugar
aprazível de grande procura turística.
Quem tem preferências culturais pode deliciar-se a visitar vários
espaços arquitectónicos de muito valor.
Entre os monumentos de maior interesse contam-se o Palácio dos
Marqueses de Pombal do século XVII, situado no centro histórico.
O Museu Municipal (Palácio dos Condes Castro Guimarães) vale a
pena ser visitado não apenas pela sua arquitectura, mas também pela
sua riqueza artística e arqueológica.
Ao longo das salas, pode-se desfrutar de obras de artistas nacionais
e internacionais, louça indo-portuguesa e peças pré-históricas.
A biblioteca contém mais de 2.500 livros, muitos deles do século XVII.
A não perder, no exterior, os jardins do Palácio decorados com bonitos
azulejos e onde também se poderá ver um pequeno Zoo.
No Museu do Mar, o visitante é levado a conhecer diversas áreas
ESTORIL COAST
desde a etnologia de Cascais, a arqueologia subaquática, histórias de
naufrágios e uma biblioteca especializada em assuntos do mar.
O oceano e a praia são um convite forte ao lazer. A bicicleta é o
veículo ideal para passeios refrescantes ao longo dos 5 km que dista
de Cascais até ao Guincho.
A praia do Guincho oferece uma beleza natural, ladeada pelas suas
grandes dunas de areia que o vento teima em despentear.
Com a Serra de Sintra ao fundo, sente-se para almoçar num dos
vários restaurantes à beira-mar, desfrutando um saboroso prato de peixe
ou de marisco.
A oferta hoteleira é rica e para todos os gostos. Um dos hotéis de
eleição será o FarolDesignHotel pela sua peculiar organização dos
espaços, tendo sido cada quarto decorado por estilistas portugueses,
destacando-se Ana Salazar, José António Tenente e Fátima Lopes. Ali,
pode respirar-se um ambiente sedutor e relaxante e assistir ao incrível
pôr-do-sol, na companhia de uma onda azul.
Ana Cristina Abreu
74
CANDIDATURAS ABERTAS
75
AE
MENSAGEM DE BOAS VINDAS DO PRESIDENTE DA DIRECÇÃO
DA AEISMT
Caros colegas, professores e funcionários,
Quero saudar-vos a todos, neste regresso para mais um ano lectivo, que espero,
cheio de conquistas e sucessos.
De uma forma especial, quero felicitar os caloiros que iniciam esta nova etapa com
a entrada no Ensino Superior e neste Instituto.
Cabe-me a mim, em nome da equipa que forma a Associação de Estudantes, abrirvos a porta da Associação e dizer que nós queremos auxiliar-vos nos problemas que
vos poderão surgir ou na realização dos vossos projectos.
Queremos que a Associação seja o vosso espaço. Queremos que participem, que
decidam, que nos ajudem a melhorar as nossas actuações. Queremos ouvir a vossa
voz, porque depositamos em vós toda a confiança. Este é o nosso compromisso para
convosco.
Como “slogan”, para início deste ano lectivo a AEISMT escolheu a frase “Uma
Associação em Movimento” e pretendemo-lo ser de facto. Queremos ser dinâmicos,
criativos, originais e acima de tudo mostrar trabalho.
Devem saber que uma associação não é só constituída pelos elementos que foram
eleitos, estes são uma pequena parte que só se torna completa convosco.
Espero que este ano vos corra como desejam e que no fim do ano lectivo possam
olhar para trás e alegrarem-se com o vosso trabalho.
Para os momentos menos bons, deixo-vos uma frase de Miguel Torga: “ Que nem
o céu nem a terra te domem, nem nenhuma dor te impeça de viver”.
Saudações Académicas.
Bruno Cordeiro
76 torga
AE
RECEPÇÃO AO CALOIRO 2005
Foi num grande espírito de festa e alegria que decorreu a
Recepção Ao Caloiro 2005, entre os dias 26 de Setembro e 4
de Outubro, organizada pela AEISMT, pelo ISMT e pelo
Conselho de Veteranos do ISMT.
Tentámos ser muito originais e criativos e, pelo feedback
que obtivemos, o resultado foi muito positivo.
Procurou-se, igualmente, que esta recepção não ficasse
unicamente marcada pela diversão, mas também por um
contacto directo dos caloiros com os elementos que
constituem os corpos directivos da AEISMT e do ISMT, tendo
havido neste sentido uma apresentação formal aos caloiros.
De todas as iniciativas, gostávamos de destacar as
seguintes: o acolhimento, onde foram realizados muitos jogos
e brincadeiras; o já famoso Peddy Tascas, onde os caloiros e
doutores puderam percorrer as tascas de Coimbra, em busca
do “tão precioso elixir”, à medida que tinham uma série de
pistas e jogos por desvendar; o porco no espeto oferecido
pela AEISMT, que consistiu num momento de convívio entre
discentes, docentes e funcionários; a Missa do Caloiro; a
eleição da Miss e do Mister Caloiro, que se tornou bastante
disputada e renhida, cujos vencedores foram a Patrícia, de
Psicologia, e o Aurélio, de Multimédia.
O momento alto do evento foi o Mega Jantar na Liga dos
Combatentes, onde estiveram presentes 300 alunos, trajados
a rigor, tendo a festa terminado já de madrugada.
Para o ano há mais.
torga 77
AE
SUBSÍDIO ORDINÁRIO DO IPJ
• Realizar projectos de cariz social;
• Apelar à cooperação, solidariedade
Voluntariado, informações concretas
sobre as mesmas.
A Direcção da AEISMT candidatou-se
e responsabilização de todos os
actores sociais;
Para que todos estes projectos
possam ser concretizados, o GIVS
ao Subsídio Anual Ordinário 2005
designado pelo Ministério da Ciência,
•
Tecnologia e Ensino Superior e foi-lhe
atribuída a quantia de 16.500 euros.
Combater a exclusão social e a
pobreza;
necessita da colaboração de todos os
alunos, professores e funcionários
•
Desenvolver metodologias de
pesquisa-acção;
deste Instituto.
Apelamos em especial aos novos
• Racionalizar os recursos existentes;
• Promover a participação e criar
alunos que se dirijam à Associação de
Estudantes e se informem sobre os
Este subsídio foi bem acolhido pela
Associação, uma vez que já não era
recebido desde o ano lectivo 2002/2003.
Para além de permitir que a
Associação de Estudantes possa
respirar um pouco financeiramente, vai
possibilitar investir em projectos,
actividades e equipamentos que
possam apoiar os alunos do ISMT e
dignificar a Instituição da qual
orgulhosamente fazemos parte.
Creio que devemos, todos sem
excepção, ficar muito contentes com
esta notícia, pois a candidatura que
fizemos, com muito empenho e
trabalho, foi assim reconhecida.
parcerias com instituições de
Solidariedade Social;
• Representar a AEISMT e o ISMT,
Gisa Barata
e colaborar com os mesmos em
projectos e campanhas.
Os Estatutos deste Grupo foram
lidos, discutidos e aprovados na
Reunião Geral de Alunos no dia, 26 de
Setembro de 2005.
O GIVS já calendarizou o plano de
actividades que desenvolverá ao longo
do corrente ano lectivo. Este será:
1) Parceria com as Instituições de
Solidariedade de Coimbra que
desenvolvem acções com os Semabrigo, que culminará em campanhas
Formação do GIVS
para colmatar as necessidades
sentidas por essas instituições;
O antigo Núcleo de Projectos e
2) Seminário abordando a temática
das Doenças e Infecções Sexualmente
Voluntariado Social formou uma
organização interna à Associação de
Transmissíveis, com os objectivos de
prevenção, alerta e sensibilização do
Estudantes do Instituto Superior Miguel
Torga, denominada de Grupo de
cidadão estudante;
3) Animação infanto-juvenil em
Intervenção e Voluntariado Social
(GIVS), de modo a dar continuidade ao
instituições de solidariedade;
4) Publicação “Limiar da indiferença”
trabalho realizado até então, do qual
são exemplos: a Marcha em prol das
que se prende com a realidade
multifacetada da exclusão e
vítimas dos maremotos da Ásia, através
da qual se angariou 1001 €, em três
preconceito social;
5) Contactos directos/ entrevistas
horas de caminhada e recolha pela
cidade de Coimbra, e o Seminário
entre os membros do GIVS e os
representantes das várias associações
“Para lá da inocência” que abordou a
temática dos maus-tratos infantis,
e instituições de Coimbra, com a
finalidade de se conhecer a sua prática
especificamente tipologias, formas de
intervenção e visões multidisciplinares.
e as suas necessidades, tentar
colmatar, se possível, algumas dessas
São objectivos do GIVS:
• Promover e incentivar a cidadania;
necessidades e fornecer aos alunos do
ISMT, para efeitos de Estágio ou
78 torga
nossos projectos.
Contamos convosco!
CONSELHO VETERANOS
É com enorme alegria que a AEISMT
tem seguido e apoiado o trabalho do
CV do ISMT.
O CV já criou o Código da Praxe do
ISMT, o qual já se encontra disponível
na home page do Conselho de
Veteranos
(www.durapraxismt.com.sapo.pt).
Brevemente, estará disponível em livro,
para que possa ser uma mais valia na
vivência e no respeito pela vida
académica de Coimbra e em especial
do ISMT.
AE
CARTÃO DA AEISMT
A AEISMT criou, a pensar em ti, um
cartão que te permitirá usufruir de
descontos em várias instituições.
Este cartão tem um valor único de 2
€ e pode ser adquirido nas nossas
instalações, sendo a sua validade
comprovada pelo Cartão de Estudante.
Para consultares os descontos a que
tens direito, deves visitar a nossa
página on-line (www.aeismt.com).
Neste momento, já elaborámos
diversos protocolos, partindo do
princípio que te serão muito úteis, no
entanto, estamos abertos às tuas
sugestões para fazermos muitos mais.
AQUISIÇÃO DE MATERIAL
INFORMÁTICO
REUNIÃO GERAL DE ALUNOS
A AEISMT investiu 3000 € em material
informático para fazer face às
Decorreu, no dia 26 de Outubro de
2005, uma Reunião Geral de Alunos
Esta reunião revelou-se ainda um
importante espaço de discussão e
necessidades e aos pedidos dos alunos
para a concretização dos seus projectos.
que teve como ordem de trabalhos:
1. Informações;
debate, ficando no final um grande
grupo de sugestões e críticas
Este material consiste numa
impressora A3, três computadores novos
2. Esclarecimentos de dúvidas da
última RGA;
construtivas as quais vão ser
apresentadas aos órgãos do ISMT para
e reparação e formatação de dois
computadores.
3. Estatutos do GIVS;
4. Estatutos da Tuna;
serem atendidas.
Queremos ainda dizer a todos os
O investimento permite disponibilizar
equipamentos mais rápidos e mais
5. Apresentação do Conselho de
Veteranos;
alunos que não precisam de esperar
por uma RGA, para sugerir, discutir
actualizados.
Neste momento, a AEISMT dispõe de
6. Aprovação do Código de Praxe do
ISMT ;
assuntos, dar ideias e fazer críticas,
pois a AEISMT está todos os dias
sete computadores e uma impressora,
para que os alunos possam realizar os
7. Outros assuntos.
É de referir que tanto os Estatutos da
aberta e todos os dias estamos
disponíveis para aquilo que nos
seus trabalhos e fazer as suas pesquisas
na Internet, nas instalações da
Tuna Real Torga, como do Grupo de
Intervenção e Voluntariado Social,
Associação.
foram aprovados por unanimidade.
queiram dizer.
torga 79
AE
AEISMT ON-LINE
A Associação de Estudantes do Instituto
Superior Miguel Torga cumpriu uma
promessa que tinha para com os alunos
do ISMT ao lançar a sua página on-line,
que pretende ser um importante elo de
ligação entre todos os estudantes do
ISMT e a AEISMT.
Aqui poderão saber quem somos, o
que queremos fazer, o que fizemos, ter
sempre as notícias actualizadas das
nossas actividades e uma galeria das
melhores fotos.
Criámos, igualmente, um blog para
que nos possam fazer as vossas sugestões.
É ainda de referir que tudo isto foi
feito gratuitamente por um aluno do 1º
ano de Multimédia do ISMT, o João
Proença Simões.
Aqui ficam os nossos contactos para
que possam chegar até nós quando e
onde quiserem.
Associação de Estudantes do
Instituto Superior
sendo o montante distribuído,
consoante o caso de cada um, após
análise por parte dos corpos sociais da
AEISMT.
Para os alunos usufruírem desta
Este guia pretende ser um veículo
informativo e de consulta, junto dos
alunos do ISMT e de uma forma especial
junto dos caloiros, sendo para eles,
também uma ajuda e integração na vida
verba, só terão de se deslocar às nossas
instalações para nos porem ao corrente
académica e social.
Este Guia foi dividido em quatro
da sua situação.
A AEISMT vai ainda colaborar com a
partes distintas: Coimbra (Universidade,
Alta da Cidade, Baixa da Cidade, uma
Direcção do ISMT, para em conjunto, dar
respostas às necessidades apresen-
nova urbe, história); AEISMT (história,
projectos, órgãos, núcleos, Praxe,
tadas.
Para além da ajuda financeira,
Tuna); ISMT (história, Miguel Torga,
licenciaturas, publicações, centros e
também pretendemos apoiar os
discentes a nível logístico/material,
serviços, órgãos de gestão); Informações úteis (calendário escolar, horário,
fazendo uso dos protocolos da AE.
A AE garante e assegura o anonimato
dicas, contactos úteis).
Para poderes adquirir este guia, tens
de todos aqueles que o desejarem.
A Direcção da AEISMT disponibilizou,
de te dirigir à tua Associação de
Estudantes, mas não te atrases muito
para o ano 2005/2006, a quantia de 1000
€ para auxiliar os alunos mais
porque a edição é limitada a 300
exemplares.
Largo da Cruz de Celas, N.º 1
3000-132 Coimbra
Telefone: 239 483116
Fax: 239 488031
Home page: www.aeismt.com
Blog: http://aeismt.blogs.sapo.pt
E-mail: [email protected]
[email protected]
APOIO AOS ALUNOS
carenciados do ISMT.
Temos consciência que este montante
é baixo, contudo é uma ajuda que a
Associação quer dar aos que tenham
GUIA DO CALOIRO
AEISMT´05
maiores dificuldades económicas.
O dinheiro será distribuído pelos
A AEISMT retomou a criação o Guia do
Caloiro, dado que já não se fazia desde
alunos que provem a sua necessidade,
o ano lectivo 2000/2001.
80 torga
AE
I BAILE DE GALA DA AEISMT
Realizou-se, no dia 15 de Junho de
2005, no camarote presidencial do
Estádio Cidade de Coimbra o Primeiro
Baile de Gala do Instituto Superior
Miguel Torga.
Este Baile já vinha há muito tempo a
ser pedido pelo Director e pelos alunos
do ISMT. Neste sentido, a AEISMT criou
um núcleo de apoio à organização do
Baile de Gala, ao qual se juntaram a
Dra. Cristina Quintas, o Dr. João Filipe
Machado e o Sr. Olímpio Carreiras que,
em conjunto com outros elementos da
AE, tornou este sonho uma realidade.
É de referir a excelente coordenação
entre a AEISMT, o ISMT e a BReventos
na organização do Baile, em tempo
recorde.
O evento foi preparado minuciosamente para que tudo estivesse a um
nível bastante elevado, como se
constatou na decoração do espaço e
Para finalizar a entrega de prémios,
foi distinguida a Tuna Real Torga,
com o Prémio de Mérito, pelo seu
percurso.
Bruno Cordeiro, Carlos Amaral Dias e Henrique Fernandes
O Baile prosseguiu com a Actuação
da Tuna Real Torga à qual se seguiu
um Grupo de Baile, e quando já era
noite dentro, o NevituxDJ.
Ao longo de toda a noite, houve a
preocupação de saber junto dos
presentes como estava a correr a festa
e foi com muita satisfação que se
verificou que todos estavam a gostar.
O que parecia impossível tornou-se
num desejo realizado. O que parecia
ser um acontecimento de “só para o
ano” aconteceu, de facto, no ano de
2005.
Esperemos que a iniciativa se
transforme numa tradição e que a
tradição se transforme numa bela
recordação académica do ISMT.
Bruno Cordeiro
no requinte do jantar que deu início à
noite de gala.
Depois do jantar, houve uma entrega
de prémios, onde foram agraciadas as
pessoas que mais se distinguiram no
ano lectivo 2004/2005 no ISMT. Foi
entregue igualmente o Prémio
Personalidade, que pretendia distinguir
uma individualidade da nossa
sociedade e o Prémio Melhor
Instituição, que pretendia distinguir
uma instituição colaboradora do ISMT.
Premiados:
Funcionário do ano: Dª Cristina
Fernandes
Docente do ano: Dr. Vasco Almeida
Aluno do ano: Bruno Cordeiro
Caloiro do ano: João Pinto
Melhor Núcleo da AEISMT: Núcleo
de Projectos e Voluntariado
Instituição do ano: BCP
Personalidade do ano: Dr.
Fernanda Umbelino, Bruno Cordeiro, Andreia Rigueiro e João Pinto
Henrique Fernandes
torga 81
Música
Uma das grandes tendências musicais
da primeira metade do século XX está
Barba-Azul recusa porque há lugares
presente no método de composição de
Béla Bartók: a utilização de elementos
privados, onde ninguém pode penetrar.
Ela insiste e, finalmente, Barba-Azul
das linguagens populares nacionais. De
facto, Bartók inspirou-se em inúmeras
acede ao seu pedido.
canções do folclore húngaro, romeno,
servo-croata, entre outros, tratando
A primeira revela uma câmara de
tortura, manchada de sangue.
frequentemente o piano como um
instrumento de percussão ao ignorá-lo
como um meio de melodias cantabile e
acordes harpejados. A música de Bartók
A quarta, um jardim secreto de
inexcedível beleza.
é essencialmente tonal, embora possa
ser disfarçada por períodos relativamen-
A quinta, uma janela para o vasto
reino de Barba-Azul.
te longos por meios modais, cromáticos
ou ambos. A harmonia da sua música
O CASTELO DO BARBA-AZUL
Béla Bartók (1881-1945)
Por fim algo verdadeiramente novo.
2
No conto original, a chave mágica que
1
quase provoca a morte da mulher de
Barba-Azul simboliza a traição e a perda
da virgindade irreparável.
A sexta, um lago de lágrimas.
E depois, vem a sétima.
é, secundariamente, um efeito do
movimento contrapontístico, i.e. as sua
Barba-Azul resiste, mas Judite
inabalável vence a disputa. No interior
melodias tanto se baseiam em escalas
pentatónicas, de tons inteiros, modais
estão as suas três anteriores esposas,
que ela julgava mortas, mas afinal estão
ou irregulares – músicas populares,
como nas escalas regulares, diatónica
somente enclausuradas. Judite fundese com elas e segue o mesmo destino.
e cromática..
A ópera em um acto O Castelo do
A ópera termina na mais absoluta
Barba-Azul composta em 1911 é
marcada pela politonalidade e
escuridão.
As duas primeiras e as duas últimas
dissonância, fundindo as influências
díspares do folclore húngaro e da
portas simbolizam simetricamente os
aspectos negativos do self, enquanto as
música erudita ocidental, numa nova e
prometedora linguagem musical.
centrais são demonstrativas das facetas
positivas da alma humana, embora se
“Endlich etwas wirklich neues. 1” –
Ferruccio Busoni
encontrem também maculadas pelo
sangue.
O cenário é um castelo enorme,
dominado por um ambiente lúgubre,
O interior das portas é o de Barba-
onde estão dispostas sete portas
trancadas. Judite, a mulher de Barba-
Azul, os recessos da sua mente, capaz
de realizar o mais belo, mas também o
Azul, exige a abertura de todas elas,
para que a luz entre e ilumine o interior.
que há de mais horrível. Barba-Azul
anuncia o trilho da humanidade ao
(Todavia, o que a move é a
curiosidade sobre Barba-Azul. Quem é
longo do século XX, a sua filogénese
matricial: Eros e Thanatos.
ele? O que tem dentro dele? Deste
modo, coloca-se desde o início a
A ópera é profética: Judite não podia
descoberta do outro. Mas a que custo?
Julgo também poder interpretar-se este
senão seguir o seu terrível destino, uma
vez aberta a caixa de Pandora, a última
desejo como a revelação da
sexualidade do novo casal que se
porta...
constrói com a intimidade a um metanível: as chaves que abrem as portas
do outro2.)
82 torga
A segunda, um arsenal bélico.
A terceira, riquezas incontáveis.
Henrique Amaral Dias
Livro
Ler Steiner é reter impressões
fatalmente mas gloriosamente
humanas. É recordar uma melodia
esquecida da nossa infância ou uma
É como se a Europa tivesse intuído
que um dia ruiria sob o peso paradoxal
aula grata no liceu ou na universidade.
Há algo de profundamente musical na
dos seus feitos e da riqueza e
complexidade sem par da sua História.
sua prosa que nos e(n)leva, de
verdadeiro que nos comove e faz
A IDEIA DE EUROPA
George Steiner
1
Por que será que cada vez mais ouço
essa expressão lamentável “isso para
mim é grego”? Nunca a suportei: “A
quem faltar a capacidade de colocar
antolhos a si mesmo (...) de se
convencer de que o destino da sua alma
depende da correcção ou não da sua
interpretação de determinada passagem de um manuscrito, será sempre um
estranho à ciência e ao estudo.”
2
“Só somos originais, porque não sabemos nada.”
Shelley: “somos todos gregos.1”
Com
que
direito
deveríamos
pensar, de exemplarmente justo nas
suas metáforas que nos inspira:
sobreviver à nossa própria humanidade
suicida?
Com o fascismo da vulgaridade o
conhecimento cultural e a reflexão
A Europa esquece-se de si própria
filosófico-cultural estão a desaparecer.
O confronto entre a corrupção
quando se esquece de que nasceu da
ideia da razão e do espírito da filosofia.
intelectual e uma ética melhor: convidar
os outros para o significado.
O perigo é um grande cansaço.
Desenhe-se o mapa das cafetarias e
A dignidade do homo sapiens é a
percepção da sabedoria, a demanda do
obter-se-á um dos marcadores
essenciais da ideia de Europa.
conhecimento desinteressado, a
criação de beleza.
Ninguém
escreve
tomos
fenomenológicos num bar americano.
Fazer dinheiro e inundar as nossas
A Europa foi percorrida a pé e os
vidas de bens materiais cada vez mais
trivializados é uma paixão profun-
homens percorrem a pé os seus mapas.
Os componentes integrais do
damente vulgar e inane.
pensamento e da sensibilidade
europeus são, no sentido radical da
Não é a censura política que mata: é
o despotismo do mercado de massas e
palavra, pedestres.
as recompensas
comercializado.
do
estrelato
Amiúde, a placa toponímica não
regista apenas o nome ilustre ou
Regressar à convicção de que a vida
especializado, mas também as datas
relevantes e uma descrição sumária.
não reflectida não é efectivamente digna
de ser vivida.
A Europa como lieu de la mémoire.
É impossível escrever o que quer que
Ser europeu é tentar negociar,
moralmente, intelectualmente e
seja sobre este livro. Reproduzir o que
de mais memorável em nós se inscreveu
existencialmente, os ideais, afirmações,
praxis rivais da cidade de Sócrates e da
é já uma audácia:
“Wir sind nur Original, weil wir nichts
cidade de Isaías.
wissen.2” – Hölderlin
A ideia de Europa é um conto de duas
cidades.
Henrique Amaral Dias
Este mamífero desgraçado e perigoso
gerou três ocupações: a música, a
matemática e o pensamento especulativo.
torga 83
Teatro
Nove seres humanos e um alienígena:
um Polícia, um Talhante, um Galã, um
pensar está dominado e já não
sabemos amar.”
Soldado, um Professor, a Mulher de um
Soldado Morto, uma Rapariga, um
Esta peça é agridoce. Vemos a
Modelo, uma Amante e Phoebe
Zeitgeist.
miséria, a dor e a incapacidade de nos
entregarmos sem reservas. Vemos a
Entra um estranho num mundo
morte que está presente sem estar e o
mistério que aguardamos que um dia
normal, habitado por pessoas normais,
tentando, em vão, entender e emular a
se nos revele, quando afinal a solução
sempre esteve lá, tão simples e banal,
sua linguagem.
no meio de nós.
A estrangeira, apesar do esforços
infrutíferos, não desiste e papagueia
Lembro-me do filme A Palavra de Carl
Dreyer. Nele a palavra é a fé, a fé no
frases desconexas como: “A tua mãe é
uma cabra.” Os outros entreolham-se
outro, a fé no amor do outro, o amor
da fé no amor do outro. Só essa palavra
e não percebem. Finalmente, torna-se
vampiro e mordendo, suga o sangue a
ressuscita os mortos, só essa palavra
nos ressuscita.
SANGUE NO PESCOÇO DO
GATO
cada um deles. Eles morrem(?) e
Phoebe Zeitgeist permanece fora
Rainer Werner Fassbinder
desse mundo, sem nada captar,
erigindo perante nós um discurso
Teatro da Cornucópia
Encenação de Luís Miguel Cintra
abstracto sobre o que é a compreensão
da comunicação humana.
As personagens funcionam como
espelho do público. São humanas?
Demasiado humanas? Estarão
verdadeiramente vivas ou aguardam
apenas que o sangue se escoe?
O que estrutura a humanidade é a
palavra. É ela que define em grandes
traços as nossas relações e a vida. Mas
uma palavra vazia corresponderá à
nossa morte?
Tenho para mim que os protagonistas
já tinham morrido: encontravam-se
suspensos no Céu, aguardando uma
morte formal, o beijo frio e vampiresco
de Phoebe.
Como afirma Luís Miguel Cintra: “a
própria linguagem está contaminada
(...) porque o nosso viver, em vez de a
inventar, a torna regra, que a linguagem
é a nossa maneira de pensar, e o nosso
84 torga
Henrique Amaral Dias
Cinema
Uma história linear: um homem
desterrado e sem escrúpulos chega a
referências são afastadas e o que resta
é apenas a etiqueta do preço, símbolo
Miami, vindo de Cuba. Matando,
traindo e manipulando, passa de lava-
de um status que todos podem
alcançar pela amoralidade sem
pratos a barão da droga. Nada de
especial, portanto...
tergiversações.
Um filme kitsch: espelhos e mais
Scarface de Brian de Palma é, sem
dúvida, pós-moderno, convocando
espelhos, néons em rosa e azul,
mármores negros, câmaras vídeo
Lyotard, Guattari, Deleuze e
Baudrillard, para uma sinfonia num
omnipresentes e paranóicas e um
crepúsculo que é tanto real num
ensemble de diversas escalas
ancoradas numa estética comum.
billboard, como numa t-shirt ou na linha
do horizonte de Miami. Este último
aspecto é aliás uma das características
mais interessantes de Scarface: não
SCARFACE
Brian de Palma
Henrique Amaral Dias
sabemos se a realidade está mais nos
objectos que a representam ou na
realidade em si. Em pano de fundo, a
música pop dos anos 80, Push it to the
Limit de Giorgio Moroder.
Um sistema de poder, ganância,
violência, capital e cocaína: cocaína é
capital e capital é cocaína. Ambos
apresentam-se-nos sempre plenos de
poder, consumo, prazer e desejo
insaciável. Tony (Al Pacino) expressa o
seu desejo “for the world and
everything in it”: “first you got to get
Notas:
a)
Como é que uma senhora de 71
anos e um jovem de 29 se
the money; when you get the money,
you get the power; then when you get
dispunham a estar acordados até
às cinco da madrugada para o
the power, you get the women.”
visionar? Não pude resistir a este
mistério e fui a correr alugá-lo ao
“Nothing exceeds like excess”: a
afirmação é de Elvira (Michelle Pfeiffer),
a mulher de Tony, e traduz a diluição
absoluta do conceito de classe social,
b)
o fato, o carro ou a jóia ou a quantidade
de cocaína que se snifa. Todas as
me
senti
o pó aos livros e, insidiosamente,
a poeira entrar-nos nas narinas e
diferenciadores.
De
facto,
independentemente das raízes sociais
poder e dinheiro. Ao fim e ao cabo,
apenas importa quanto dinheiro custou
clube de vídeo;
Depois sempre
incomodado. Há uma decadência
viscosa nesta obra. É como limpar
eliminado a educação e a nobilitas
literaria
como
elementos
ou da educação que tiveram, todos
partilham de um desejo conspícuo de
Vi pela primeira vez este filme há
dez anos. Fi-lo deliberadamente.
c)
começarmos a espirrar;
O final: Tony Montana crivado de
balas no cimo das escadas e no
hall da mansão uma mensagem
piscando “The World is Yours.”
torga 85
Página Literária
Num período de pouca confiança no
futuro que sentem os portugueses,
porque não ir beber a inspiração, o
louvor, a fama, o estímulo e o sucesso
ao grande poeta Camões, o maior
“cantador” dos feitos de Portugal e dos
portugueses, e com ele alimentar o
nosso ego para nos sentirmos mais
donos do mundo e mais donos de nós
mesmos.
O Autor
As armas e os barões assinalados
Luís Vaz de Camões nasceu,
provavelmente, em Lisboa em 1524 ou
Que, da Ocidental praia Lusitana
Por mares nunca de antes navegados
1525. Iria para Coimbra e lá estudaria
as culturas e as línguas clássicas.
Passaram ainda além da Taprobana,
E em perigos e guerras esforçados
Sendo cavaleiro-fidalgo teve de trocar
a vida da Corte pelo serviço militar no
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Norte de África onde, lutando perdeu
um olho. Anos mais tarde, iria para a
Novo Reino que tanto sublimaram;
Canto I, est. 1
Índia desembarcando em 1553.
Continuou a viajar pela Ásia até
E também as memórias gloriosas
regressar a Lisboa
completamente pobre.
Daqueles reis que foram dilatando
A fé, o Império, e as terras viciosas
em
1570,
Dois anos mais tarde, após
consentimento do censor Fr.
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Bartolomeu Ferreira, publicou Os
Lusíadas.
Se vão da lei da Morte libertando:
Cantando espalharei por toda a parte,
Morreu a 10 de Junho de 1580, em
Lisboa.
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
Canto I, est. 2
A Obra
Inserção temporal - Século XVI
Época literária - Renascimento
Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizerem;
(Maneirismo)
Género literário - Epopeia
Cale-se de Alexandre e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Os Cantos apresentam o elogio da
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram.
história dos portugueses, dos seus
feitos, da sua coragem e do seu espírito
Cesse tudo que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.
empreendedor.
Canto I,est. 3
Ana Cristina Abreu
86 torga
Agenda
COIMBRA
FIGUEIRA DA FOZ
LISBOA
PASSEIOS DE COIMBRA NAS FRE-
Centro de Artes e Espectáculos
CONFERÊNCIA IASL 2006
LER, SABER, FAZER: AS
MÚLTIPLAS FACES DA LITERACIA
International Association of School
Librarianship
Gabinete da Rede de Bibliotecas
Escolares
3 a 7 de Julho
GUESIAS
Postos municipais de turismo
de Janeiro a Dezembro no 4º Domingo
de cada mês
EXPOSIÇÃO DA FUNDAÇÃO DE
SERRALVES
“O PLANO ATRAVESSADO”
Até 15 de Janeiro
BASÓFIAS - PASSEIOS DE BARCO
NO RIO MONDEGO
Aberto todo o ano
H2O- FOTOBIOGRAFIA DA ÁGUA
Fotografia de Paulo Magalhães
Até 2 de Janeiro
FUN(TASTIC)ª COIMBRA
Viagem panorâmica
Aberto todo o ano
CAMINHOS DO ALGARVE ROMANO
Exposição permanente
TEATRO
CASTELO BRANCO É SAUDADE
Pelo Teatro Nacional S. João
Teatro Municipal da Guarda
24 de Fevereiro
ORQUESTRA CASINO ESTORIL
COM PEDRO MALAGUETA
Todas as noites
Casa Museu João Soares
SÉCULO XX PORTUGUÊS: OS
CAMINHOS DA DEMOCRACIA JOÃO
Museu Municipal de Faro
ESPELHO DA IDENTIDADE CULTU-
DANÇA COM LETRAS - UM ESPECTÁCULO DE A a Z
Salão Preto e Prata
GUARDA
FARO
Casino do Estoril
LEIRIA
SOARES/MÁRIO SOARES
Exposição Permanente
RAL: USOS E COSTUMES
Exposição permanente
Museu Regional do Algarve
6º CONGRESSO NACIONAL DE PSICOLOGIA
“Saúde, Bem-Estar e Qualidade de
Vida”
Universidade do Algarve
2 a 4 de Fevereiro 2006
EXPOSIÇÃO “HABITANTES E
HABITATS:
PRÉ E PROTO-HISTÓRIA NA BACIA
DO LIS
Castelo de Leiria
Até Março de 2006
CICLO DE CONFERÊNCIAS EM
EVOLUÇÃO HUMANA
“ O NEANDERTAL”
Janeiro
Centro Cultural de Belém
EXPOSIÇÃO CÂMARA DE ECOS
Adriana Varejão
Galeria 1
Até 15 de Janeiro
www.sp.ps.com
torga 87
Agenda
MADEIRA
VIANA DO CASTELO
CONCERTO
PARA MOZART/DON GIOVANI
Centro de Congressos da Madeira
27 de Janeiro
EXPOSIÇÃO PERMANENTE “A LÃ E O
LINHO NO TRAJE DO ALTO MINHO”
Museu do Traje
FEIRA
DE
ANTIGUIDADES
E
VELHARIAS
Jardim D. Fernando
PORTO
Todos os meses, no 1º sábado
EXPOSIÇÃO DE PINTURA
De Rui Anahory
DOMINGOS GASTRONÓMICOS
(Bacalhau à Gil Eanes e Meias
Luas)
12 e 13 de Fevereiro
Esteta 7
Até 7 de Janeiro
EXPOSIÇÃO DE PINTURA “TEMPORAL-PE”
Galeria Por Amor à Arte
Até 6 de Janeiro
VI LETHES- FESTIVAL
INTERNACIONAL DE TUNAS
16 de Abril
X FESTEIXO- FESTIVAL DE TEATRO
DO EIXO ATLÂNTICO
27 de Maio a 10 de Junho
Fundação de Serralves
EXPOSIÇÃO TABLEAUX VIVANTS
Até 31 de Janeiro
ESPAÇO PRÁTICA CRIATIVA
Até 30 de Junho
LABORATÓRIO DAS ARTES
Até 1 de Julho
EXPOSIÇÃO “FORA!”
De Rui Chafes e Pedro Costa
Até 15 de Janeiro
EXPOSIÇÃO “RINGBAHN”
De Filipa César
Até 15 de Janeiro
88 torga
Ana Cristina Abreu
89
90

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