Aventuras Intergaláticas

Transcrição

Aventuras Intergaláticas
AVENTURAS INTERGALÁCTICAS
Autor
STEVEN CALDWELL
Tradução de
NELSON PUJOL YAMAMOTO
Digitalização
GANDALF01
http://br.groups.yahoo.com/group/digital_source/
Índice
Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
Visitantes do além-espaço. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
Viagem ao desconhecido. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
O primeiro contato. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..12
O planeta da morte. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..19
A rainha guerreira. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 23
O Império Palita. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
A situação se inverte. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
De volta à Terra. . . . , . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
Epílogo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
Créditos das ilustrações
Jim Burns, pp. 8/9, 18/19 & 41; Peter E/son, pp. 5, 6/7, 12/13,
15, 22/23, 28/29, 35, 43>44/45, 46/47, 49 & 59;
Bob Fowkes, pp. 36/37; Fred Gambino, página de rosto & pp.
11 & 57; Colin Hay, pp. 21, 31, 32/33 & 38/39; Robin Hiddon,
capa; Dtivid Jackson,pp. 24/25 & 64; Bob Layzell,
p. 27; Chris Moore, pp. 52/53, 54/55 & 60/61;
Cesare Reggiani, p. 17;, Tony Roberts, pp. 50/51 & 62/63..
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
2
Introducão
No .século XXIII, a Federação
Galáctica já ocupava um espaço
calculado em quase 500 anos-luz de
diâmetro. Dentro de seu raio de
influência encontravam-se, milhares
de planetas; embora a grande maioria
fosse, desabitada, muitos abrigavam
espécies nativas ou transformavam-se
em colônias de exploradores siderais.
Em boa parte de tais astros
desenvolviam-se
atividades
de
processamento industrial de minérios,
via de regra através de métodos
totalmente automatizados: centenas
de milhares de naves, dos mais
variados tipos, cruzavam o espaço
percorrendo as rotas mercantis que
interligavam os quatro cantos da
Federação.
Nos primórdios da história da
Federação, a expansão galáctica
processou-se de maneira relativamente rápida e desenfreada, na medida em
que os exploradores siderais,
motivados tanto por interesses
comerciais como por amor à
aventura, adentravam o desconhecido
em ávida busca de riquezas e terras
virgens.
Porém, quando esses pioneiros
grupos de intrépidos exploradores
começaram a ser dizimados por
trágicos acidentes fatais, a Federação
houve por bem impor leis de
navegação cada vez mais rígidas,
objetivando instituir programas de
expansão planificados.
Logo se fizeram sentir os reflexos
de tais medidas: o índice de expansão
diminuiu acentuadamente, dando-se
maior prioridade à união de esforços
e ao aproveitamento racional dos
recursos existentes.
Todavia, a expansão galáctica não
cessou por completo: naves de
reconhecimento financiadas pelo
governo federativo continuavam a
sondar o infinito, além das fronteiras
oficiais,
em
expedições
de
mapeamento e coleta de dados. Além
disso, procurava-se tomar os planetas
recém-colonizados bases de produção
mais seguras e melhor controladas,
criando-se novas oportunidades de
comércio e navegação interestelar.
Apesar do crescente e bem
planejado progresso da expansão
galáctica, as autoridades jamais
deixaram de estar conscientes de que,
embora a Federação tivesse se
ampliado extraordinariamente - bem
mais do que os homens de duzentos
ou trezentos anos antes jamais
poderiam ter imaginado - o volume
cósmico
por
ela
conquistado
representava apenas uma ínfima
partícula da área total da galáxia.
Tendo-se como base o número de
planetas habitados dentro das
ftonteiras federativas, considerava-se
como certa a existência de centenas,
se não milhares, de outras formas
inteligentes de vida nos incontáveis
sistemas solares do espaço sideral.
Mais dia, menos dia, seria travado
contato com uma espécie, ou grupo
de espécies, que se equipararia em
poder tecnológico às civilizações da
Federação ou, talvez, que as
ultrapassaria
em
nível
de
desenvolvimento.
No entanto, a óbvia vantagem de se
procurarem e identificarem tais
espécies, antes de elas tomarem
iniciativa semelhante, era de pouca
importância devido às dificuldades
econômicas implícitas na procura de
minúsculas agulhas no imenso
palheiro do espaço cósmico, as quais,
por outro lado, poderiam nem mesmo
existir. Desse modo, tais expedições
só seriam justificadas diante de
provas irrefutáveis da existência de
seres alienígenas fora dos limites da
Federação Galáctica.
Tais provas surgiram quando uma
nave da Patrulha de Segurança, em
missão rotineira na região periférica,
detectou a existência de um objeto
voador alienígena de procedência
desconhecida.
Esse breve contato marcou o início
de
uma
fascinante
aventura
expedicionária: a viagem do Venturer
figura entre os mais impressionantes
episódios já registrados nos anais da
navegàção espacial. A bravura de sua
abnegada tripulação face às incertezas
de semelhante missão toma-se ainda
mais notável ante o conhecimento,
por parte de todos os membros da
equipe, de que, devido aos efeitos
temporais relativos acarretados por
permanência
prolongada
no
hiperespaço, alguns dias no cosmos
equivaleriam a um ano em seu
planeta
de
origem.
Quando
regressassem, todos os seus entes
queridos já estariam mortos e os
mundos da Federação apresentar-seiam quase irreconhecíveis.
Eis, então, a sua história.
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
3
CAPÍTULO UM
Visitantes do além-espaço
Registro do diário de bordo: Resumo
retrospectivo.
Oficial de bordo: Comandante Mor
Mikiss.
Modo de propulsão: Sem registro.
Condições
de
acionamento:
Prontidão pré-vôo.
Condições do sistema: Prontidão
pré-vôo.
Condições da equipe: Rotina de
treinamento avançado - Diretriz
n.OSFSM 447.
Nas primeiras décadas do século
XXIII, naves de reconhecimento e
exploração da Federação Galáctica
percorriam o longínquo perímetro
estelar, patrulhando as fronfeiras que
limitavam o espaço oficial. Afora as
castigadas e carcomidas naus
aventureiras que vagavam o espaço
sem destino, as únicas naves que
cruzavam o vácuo desses desertos
confins eram as patrulhas de
reconhecimento e os laboratórios
espaciais do Instituto de Pesquisa
Federativo.
Em alguns dos planetas dessa
região foram fundadas colônias que
não podiam oferecer os mínimos
requisitos de segurança para que
pudessem ser incorporadas à rede
mercantil federativa e participar de
operações comerciais com os
principais centros da galáxia. Seu
único contato com o universo exterior
era feito através das patrulhas
espaciais, em suas periódicas
expedições de inspeção. O espaço
cruzador Arko encontrava-se em uma
dessas missões, quando, subitamente,
seu radar registrou um contato, que
daria início a uma das mais
extraordinárias expedições da história
da navegação espacial.
Momentos após uma mudança de
guarda, o painel de controle começou
a calcular o curso, a velocidade e a
massa de um objeto que cruzava o
cosmos a menos de 2 milhões de
quilômetros de distância. O oficial da
nave, obedecendo aos procedimentos
de praxe, anotou a ocorrência no
diário de bordo e, como se nada de
especial
houvesse
acontecido,
refestelou-se em sua poltrona de
comando: o espaço interestelar
contém inúmeros corpos celestes
errantes, desde partículas de pó a
volumosos asteróides. No entanto,
tais corpos só se movimentam em
linha reta; todo e qualquer desvio de
curso tem como causa a atração
exercida
por
algum
campo
gravitacional.
Assim, quando os computadores
detectaram um deslocamento, o
capitão saltou da poltrona. Visto que
nenhuma nave havia solicitado
licença de navegação para aquela
zona, o oficial, criando imagens de
contrabandistas ou exploradores
ilegais de minérios e vendo ali uma
ótima oportunidade de quebrar a
interminável rotina de uma longa
viagem
interestelar,
acionou
prontamente o alarme. Todavia, no
momento em que a tripulação se
colocava de prontidão, o radar
registrou a imagem de uma
espaçonave que não se assemelhava a
nenhum dos tipos de objetos voadores
armazenados
na
memória
do
computador, obrigando o capitão a
ordenar alerta de combate. À medida
que a nave de patrulha se acercava da
nave alienígena, o oficial procurava
regular o periscópio para sua máxima
ampliação; quando a imagem se
tornou mais nítida, deixou escapar um
grito de surpresa.
A nave alienígena, vista do Arko.
Estampada na tela do periscópio
encontrava-se a imagem de uma das
mais estranhas espaçonaves que
jamais havia visto em todos os seus
anos de serviço.
Enquanto acionava as teclas do
controle do registro de imagem com
gestos bruscos e nervosos, a imensa e
arqueada nave alienígena, qual
gigantesco inseto, diminuía sua
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
velocidade e contornava o flanco de
seu observador. O capitão reduziu
ligeiramente a velocidade de sua nave
e, fazendo um sinal para seu oficial
de telecomunicações, ordenou a
transmissão do código padrão de
identificação galáctica. No entanto,
não se obteve qualquer resposta à
mensagem, nem tampouco aos
demais
sinais
de
emergência
posteriormente emitidos.
Quando a tripulação se encontrava
a poucos quilômetros de distância do
objeto alienígena, sua popa globular
começou a brilhar; segundos mais
tarde, a nave aumentou extraordinariamente sua potência de deslocamento e, a uma velocidade
inacreditável, desapareceu no espaço.
Relegando o contato com os
colonizadores do planeta periférico a
um plano secundário, a nave de
patrulha alterou seu curso e partiu a
toda a velocidade rumo à base.
Minutos após o recebimento da
mensagem de alerta pelo QuartelGeneral
do
Departamento
de
Segurança da Terra, as estações locais
foram instadas a localizar o paradeiro
de todas as naves registradas que se
assemelhassem ao estranho objeto
voador detectado pelo Arko e que
tivessem condições de realizar
incursões no hiperespaço; dois dias
depois, todas as possíveis naves que
se enquadravam naquela descrição se
apresentaram, sem ter, no entanto,
qualquer relação com o estranho
objeto voador. A possibilidade de,
dentro do alcance do domínio
federativo e em algum lugar além das
fronteiras periféricas, existir uma raça
de seres inteligentes, de nível
tecnológico no mínimo semelhante ao
da Federação, parecia ser a única
explicação possível para o fenômeno.
Se tais seres sabiam de antemão da
nossa existência, ou se o contato
ocorreu por mero acaso - e, nesse
caso, quais as intenções dos
alienígenas
eram
dúvidas
eminentemente sérias e de extrema
importância. Convocou-se, então,
uma assembléia do mais alto nível.
Nos dias que sucederam à
convocação, chegaram à Terra
representantes de todos os planetas
membros da Federação, que se
dirigiam prontamente à gigantesca
torre
do
Quartel-General
do
Departamento
de
Segurança,
localizada em um atol do oceano
Pacífico.
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De algum lugar além das fronteiras federativas, surgiu esta estranha nave. Qual o planeta de origem e o
que aconteceria após tomarem conhecimento de nossa existência eram perguntas que não poderiam mais
permanecer sem resposta.
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
5
Depois de localizar a nave alienígena, o Arko regressou à base a toda velocidade para divulgar a notícia de que existia
uma desconhecida e avançada civilização no além-espaço.
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
6
De imediato, todos os membros da
assembléia foram unânimes em
concordar com a urgência de se
determinar o significado da aparição
da nave alienígena, bem como seu
lugar de origem; no entanto, discutiuse horas a fio sobre a melhor atitude a
ser tomada frente ao problema.
Finalmente, o plenário chegou a um
consenso. A única maneira de se
investigar a origem do objeto
alienígena seria explorar a área
espacial localizada além dos Mundos
Periféricos. Dever-se-ia formar uma
equipe, escolhida a dedo, que
estivesse disposta a partir em uma
viagem rumo ao desconhecido, talvez
para nunca mais voltar.
Deu-se início, pois, à tarefa de se
formar tal equipe. Os computadores
de todas as subdivisões do sistema
federativo vasculharam as memórias
de arquiv até compilarem uma lista de
possíveis elementos para a missão e
enviarem-na ao alto comando para a
etapa de seleção.
Indivíduos de todos os recantos da
Federação viram-se misteriosamente
convocados para se submeterem a
inexplicáveis e exaustivos testes;
finalmente, reuniu-se um grupo de
homens e mulheres, a quem foram
comunicados a natureza e os
objetivos da viagem. O passo
seguinte foi selecionar, a partir dos
elementos que se apresentaram como
voluntários, um pequeno grupo que,
embora recebesse os mais completos
treinamentos, teria que contar apenas
com seu espírito empreendedor e
talento profissional para sobreviver
no espaço, longe de tudo e de todos.
Depois que as notícias sobre a nave alienígena chegaram à Federação, representantes de todos os seus planetas
membros se reuniram no Quartel-General de Segurança para decidir a melhor medida a ser adotada.
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
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CAPÍTULO DOIS
Viagem ao desconhecido
Registro do diário de bordo: Estágio
da programação de pré-vôo 03626.
Oficial de bordo: Comandante Mor
Mikiss.
Condições de acionamento: A1.
Prontidão operacional.
Condições do sistema: A 1.
Prontidão operacional.
Condições da equipe: Prontidão
operacional. Moral alto.
Por ocasião da escolha definitiva
dos voluntários que haviam concluído
com êxito todas, as etapas do rigoroso
exame de seleção, nenhum deles
nutria qualquer dúvida a respeito dos
verdadeiros objetivos da missão que
haveriam
de
realizar;
todos
aguardavam
o
momento
da
especificação preliminar dos fatos
com um misto de excitação e
ansiedade. O rigor dos testes a que
foram submetidos havia demonstrado
com bastante clareza que apenas os
que possuíssem dons e qualidades
excepcionais sobreviveriam à missão;
assim, foi com certa dose de
apreensão que os doze tripulantes da
nave pioneira atenderam ao chamado
da primeira reunião de trabalho, que
seria efetuada em uma sala secreta do
Quartel-General do Departamento de
Segurança.
Ao se reunirem, houve o
reconhecimento entre os companheiros de viagem de muitos rostos
familiares; depois que todos se
concentraram na arena central, uma
porta se abriu com suavidade, para
dar passagem às mais. importantes
personalidades civis e militares da
Federação. Dentre estas destacava-se
a importante figura de Mor Mikiss,
um dos legendários membros da
Patrulha do Espaço, cuja reputação
como oficial de operações militares
não possuía paralelo em nenhuma
parte da Federação.
Assim
que
os
voluntários
acomodaram-se em seus lugares e um
respeitoso silêncio fez-se impor no
recinto, todos puderam sentir o frio
olhar com que o futuro comandante
da expedição percorria lentamente os
semblantes carregados de expectativa
dos presentes. Nisso, todas as
atenções se voltaram para o diretorgeral do Comando Galáctico de
Segurança, que se levantava e
desejava boas-vindas a todos os
reunidos. Feito isso, procedeu às
apresentações através de concisos
resumos das qualidades profissionais
e individuais de cada voluntário e
sobre os papéis que estes desempenhariam na equipe.À medida que o
diretor-geral expunha tais informações, uma imensa vídeo-tela exibia
imagens dos rostos e breves
currículos de cada tripulante:
Richard Pontine, oficial-chefe de
navegação espacial, especialista em
orientação de vôo no espaço exterior
e em análise espectral do hiperespaço.
Dor Hewett, engenheiro de
sistemas, técnico em computação e
inventor do Sistema de Entrada de
Dados Intuitivo.
Dick Frost, engenheiro espaçonáutico
e
responsável
pelo
aperfeiçoamento do sistema AETAC
(Acelerador Espaço-Temporal de
Atenuação de Campo), processo
intensificador do efeito de hiperpropulsão, hoje utilizado como
método padrão em quase todas as
espaçonaves federativas.
Graham Frankeve, astrofísico e
perito em espaço paralelo.
Mas Rahzell, oficial de telecomunicações e especialista em remissão
codificada subespacial.
Lorac Reab, nutricionista e perito
em hidroponia, responsável pelo
isolamento do composto protéico
hidroxissiriteína B.
Nibor Max, biólogo ambiental,
célebre por pesquisas de campo nos
Mundos Periféricos.
Mary Mogab, psicóloga especializada em tensão claustrofóbica.
Jancis Joh, psicóloga cultural e
antropóloga
com
considerável
experiência em contatos com espécies
alienígenas.
Tik Rednop, especialista em
lingüística e um dos responsáveis
pelo aperfeiçoamento de programas
interpretativos para computadores
multifuncionais.
Coral Dee, estrategista prática e
analista de funções.
Art West, oficial das Forças
Armadas e estrategista destacado do
Centro de Treinamento de Ação
Bélica da Força de Segurança
Galáctica.
Em seguida, o diretor-geral
descreveu o contato travado com a
nave alienígena pelo Arko , e
salientou a urgência de se investigar a
origem daquele estranho objeto
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
voador. Não houve a mínima
necessidade
de
se
tecerem
comentários sobre as dificuldades e
riscos envolvidos em uma viagem aos
desconhecidos confins do espaço
exterior, pois todos os experientes
espaçonautas ali presentes tinham
plena consciência dos perigos que os
aguardavam. Havendo explanado em
linhas gerais o objetivo da missão, o
diretor-geral passou a palavra ao
oficial técnico responsável pela
equipagem da tripulação, o qual
procedeu imediatamente a uma rápida
apresentação das diversas peças que
comporiam o instrumental de bordo.
Apagaram-se as luzes da sala e o
oficial técnico aproximou-se do
painel de controle. Segundos após,
enquanto surgia no centro do plenário
a imagem holográfica tridimensional
de uma espaçonave bélica Venturer
em miniatura, o conferencista iniciava. sua exposição sobre o porquê da
escolha da nave e suas especificações
técnicas. Embora as naus Venturer
fossem obsoletas em muitos aspectos,
suas incontestáveis robustez e
durabilidade as tornavam elementoschave nas linhas de frente militares.
Evidentemente, deveriam ser efetuadas várias modificações técnicas para
tornar o Venturer uma nave mais
adequada para viagens hiperespaciais
prolongadas; no entanto, sua estrutura
básica se equiparava em eficiência a
qualquer outra nau de construção.
mais recente além de suas especificações militares garantirem uma
margem adicional de segurança.
A espaçonave bélica Venturer foi
escolhida para a missão.
Após um período reservado à livre
troca de idéias entre os participantes
da reunião, o grupo foi dissolvido
para que se desse início ao
treinamento específico de cada
tripulante, atividade que consumiu
vários dias. Posteriormente, todos
foram conduzi-dos ao local de
lançamento da espaçonave, que se
encontrava
em
processo
de
readaptação instrumental. Os dias
seguintes foram consumidos em uma
interminável seqüência de sessões de
8
O legendário Comandante Mor Mikiss, um dos mais experientes e respeitados oficiais estrategistas do Serviço de
Segurança, foi escolhido por unanimidade para a chefia da equipe pioneira.
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
9
Após várias semanas de treinamento intensivo, finalmente chegou o dia em que os
módulos de traslado levariam a tripulação ao espaçoporto, de onde partiriam rumo à épica
expedição.
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
10
treinamento e convivência, tão
desgastante que, a seu final, toda a
tripulação estava à beira da estafa e o
projeto principiava a adquirir traços
de irrealidade.
Finalmente, o Venturer foi liberado
para os testes iniciais e a tripulação
pôde realizar o primeiro de uma série
de vôos experimentais rumo ao
Perímetro Galáctico. Como já se
previa, não foram poucos os
obstáculos enfrentados. No entanto,
todos os membros tornavam-se
progressivamente mais familiarizados
com sua função. Em um dado
momento, porém, parecia se apoderar
do grupo uma crescente sensação de
impaciência.
As
sessões
de
treinamento
tornaram-se repetitivas e tediosas,
enquanto se esperava a data definitiva
para o início da viagem. Visto que,
após o prolongado período de testes,
o Venturer ainda necessitava passar
por alguns retoques de última hora, e
dado que o programa de treinamento
havia chegado ao seu término,
concederam-se alguns dias de licença
aos tripulantes, a fim de poderem
descansar e se despedir de seus
amigos e familiares antes de serem
conduzidos à Estação Orbital.
Três semanas mais tarde, todos os
membros do grupo foram convocados
para comparecer ao Quartel-General
do Departamento de Segurança.
Nessa oportunidade, foram efetuados
os últimos exames médicos e as
formalidades de despedida com a
equipe do centro de treinamento. O
diretor-geral e outras altas patentes
civis e militares da Federação já se
encontravam na estação, quando os
treze tripulantes do Venturer homens e mulheres que, talvez,
passassem o restante de suas vidas
juntos - entraram no módulo de
traslado que .os levaria à nave
estacionada
no
costado
do
espaçoporto circular.
Os discursos foram breves e
informais, isentos da publicidade que
um acontecimento daquela grandeza
normalmente
poderia
despertar.
Minutos mais tarde, a tripulação
embarcava na imensa nave carmesim,
empenhando-se de imediato nas
atividades preliminares de praxe.
Assim que todos os relatórios
técnicos foram recebidos pelo
Comandante Mikiss, as unidades de
propulsão foram colocadas em linha;
nesse instante, o tradicional sinal
luminoso de boa viagem era emitido
da estação.
Escoltado, Pelas naves
interceptadoras, o Venturer,
com as suas cores
características, carmesim e
preto, partia para .o
primeiro trecho de sua
longa jornada ao
desconhecido.
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
11
CAPÍTULO TRÊS
O Primeiro Contato
Registro do diário de bordo: Ret.
1272. Imediações de Épsilon do Cão
Maior.
Oficial de bordo: ComandanteOficial Mas Rahzell .
Modo de propulsão: Primário.
Condições de acionamento: A1.
Condições do sistema: A1. Variações
de somenos importância no gerador
secundário. Potência de saída
monitorada.
Condições da equipe: Moral alto.
A transição para o modo de
propulsão hiperveloz quase não foi
sentida pela tripulação do Venturer,
que se preparava para o longo período
de hibernação criogênica em plena
arrancada
rumo
aos
Mundos
Periféricos
planetas
que
demarcavam as fronteiras do espaço
federativo. Todos os membros da
equipe permaneceriam congelados
durante a primeira etapa da viagem,
só despertando de seu sono hibernal
quando ultrapassassem as regiões
siderais já exploradas por sondas nãotripuladas, ou quando fossem
reavivados pelos sistemas automáticos que conduziam a nave pelo
caleidoscópico vácuo subespacial.
Semanas mais tarde - ou segundos,
em termos de tempo corporal relativo
- os mecanismos automáticos do
Venturer identificaram a nave à
última baliza espacial da Federação e
registraram sua entrada em locais
nunca dantes visitados pelo homem.
No vácuo, o fantástico jogo de cores e
luzes do hiperespaço brilhava em
tremeluzente inquietude. Na nave, por
outro lado, havia apenas o
contrastante e o quase inaudível zunir
dos monitores de bordo e dos
instrumentos que guardavam vigília
aos tripulantes, suspensos no tempo
em suas cabines de hibernação.
Nenhum dos membros da equipe
sabia o quanto duraria aquela longa
noite sem sonhos, nem tampouco o
que poderia acontecer quando
despertassem e se instalassem nas
vazias e ressoantes salas de controle.
Na oportunidade em que o
misterioso objeto voador alienígena
havia desaparecido das vistas da
tripulação do Arko, sua rota acusava
como destino a constelação do Cão
Maior. O Venturer encontrava-se a
caminho de Gama do Cão Maior, a
estrela mais próxima, que se situava a
325 anos-luz da Terra, bem além das
fronteiras federativas. Assim que a
nave começou a se aproximar daquela
alva estrela de hélio, acenderam-se as
luzes dos desertos corredores e salas
de controle, elevou-se a temperatura
ambiente
e
os
respiradouros
começaram a introduzir ar nos
compartimentos: o Venturer voltava à
vida. À medida que seus corpos
reagiam aos estímulos dos circuitos
revitalizadores, os espaçonautas
despertavam de seu profundo sono
hibernal e começavam a se remexer
em suas cabines.
decidindo-se pela desnecessidade de
um novo período de hibernação, dada
a relativa brevidade da viagem,
suspendeu temporariamente suas
atividades e tratou de ocupar da
maneira mais agradável as semanas
que se seguiram. Quase todos os
integrantes do grupo dormiam quando
os radares registraram a proximidade
de uma estrela Bl supergigante.
Enquanto todos se atropelavam na
sala de controle, Mor Mikiss já
realizava a transferência do Venturer
para o espaço real. Embora a nave
ainda estivesse a mais de 4 bilhões de
quilômetros da estrela, a imagem do
alvo e brilhante corpo celeste tomava
por inteiro as telas do radar.
Os tripulantes, colocados a postos
para o reconhecimento da área,
puderam verificar que o Venturer já
havia penetrado em um sistema
planetário, encontrando-se dentro da
órbita do quinto e último satélite de
um dos astros que giravam ao redor
de Adara.
A constelação do Cão Maior.
Momentos mais tarde, a tripulação
se encontrava em plena atividade;
enquanto uns se reuniam na sala de
controle principal, outros verificavam
as leituras do computador central, que
já registrava e analisava os primeiros
dados sobre o sistema solar que se
avizinhava. Mor Mikiss e seus
suboficiais de bordo procederam à
transferência da nave para o espaço
real; poucos segundos depois, o
Venturer recuperava sua forma sólida
e, imóvel, captava em suas telas a
brilhante luminosidade de Gamado
Cão Maior. Toda a equipe se
mobilizou para efetuar os trabalhos
rotineiros de programação dos
sofisticados equipamentos de bordo,
de modo a poderem conduzir uma
primeira viagem de reconhecimento
às imediações da estrela; contudo,
logo se descobriu que não havia
quaisquer planetas em órbita ao redor
daquele sol solitário. Portanto, foi
realizada uma reunião para que se
decidisse a etapa seguinte da missão.
A estrela mais próxima do ponto
onde se encontravam era Épsilon do
Cão Maior, ou Adara, localizada a
470 anos-luz da Terra. A tripulação,
havendo programado a rota do
Venturer na direção desse astro e
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
Os três planetas centrais de Adara.
Deu-se início, então, à difícil tarefa
de se analisar individualmente cada
corpo celeste daquele sistema; logo se
chegou à conclusão de que apenas um
planeta
apresentava
condições
mínimas para abrigar formas de vida.
À medida que o Venturer se acercava
lentamente do pequeno astro rodeado
por seu séquito de cinco satélites, os
radares analisavam sua massa,
espectro e albedo e traçavam seu
perfil estrutural. Foram identificadas
de imediato pequenas concentrações
urbanas e áreas de cultivo, embora as
leituras em infravermelho não
houvessem
conseguido
isolar
nenhuma
região
que
pudesse
caracterizar a existência de uma
tecnologia industrial, quanto menos
espaçonáutica.
12
Decidiu-se que Nibor Max, Jancis
Joh e Tik Rednop fariam uma
cautelosa tentativa de travar contato
com os habitantes do planeta.
O Venturer se aproxima de Adara III.
Os três emissários passaram toda
uma semana trocando informações
com os habitantes humanóides do
planeta, que ainda se encontravam em
um estágio de desenvolvimento quase
medieval. Os diversos mitos e lendas
dessa sociedade agrária e humilde
simplificaram em muito a tarefa
analítica dos pesquisadores, que logo
concluíram pela impossibilidade de a
nave alienígena haver partido daquele
lugar. No entanto, assim que se
preparavam para voltar ao Venturer,
aconteceu um funesto imprevisto:
Jancis Joh não retomara de sua última
expedição aos pequenos vilarejos
existentes nos arrabaldes da cidade.
Seus dois companheiros rumaram
imediatamente para o último local
onde Joh fora vista, e descobriram
que ela havia sido seqüestrada por
membros de uma das misteriosas
tribos do norte e levada por esses
temíveis guerreiros em um carro a
vela - veículo que se movia através
dos cabos teleféricos espalhados por
toda a superfície do planeta. A
ingênua simplicidade do povo da
cidade imbuíra os emissários de uma
falsa sensação de segurança, a ponto
de, indefesos, não mais portarem
qualquer tipo de arma. Como se não
bastasse, foi descoberto o sinalizador
de localização da Dra. Joh nas
proximidades da plataforma de
embarque do teleférico, o que tornaria
muito mais difícil os trabalhos de
resgate.
Os métodos de investigação
utilizados por um detetive pareciam
ser a única solução possível para o
descobrimento de seu paradeiro. A
primeira pista foi dada pelos próprios
aldeães; segundo eles, os atacantes
procediam de uma sinistra cidadecastelo localizada em um dos
brumosos lagos do extremo norte do
planeta.
Nibor Max e Tik Rednop
regressaram ao Venturer para discutir
a situação com seus companheiros.
Um ataque em massa ao forte estava
totalmente fora de cogitação, pois tal
medida colocaria em perigo a vida de
Joh; assim, a única saída seria
interceptar os seqüestradores antes de
estes chegarem ao seu destino.
Permanecendo na nave apenas o
número indispensável de tripulantes;
os demais se dividiram em equipes e,
utilizando
todos
os
módulos
disponíveis do Venturer, partiram
rumo à superfície do planeta. Lá
chegando, as unidades de vôo
procederam à investigação dos
teleféricos que serviam as regiões
setentrionais; em dado momento, uma
das equipes identificou um barco a
vela em um dos oceanos do planeta.
A embarcação dirigia-se para os
bancos de neblina dos mares polares,
região em que, de acordo com os
exames
de
reconhecimento
realizados, inexistiam locais de
pouso. A equipe, composta por
Richard Pontine e Dor Hewett,
manobrou o módulo de vôo até que
este se encontrasse diretamente acima
do barco, fora do alcance de
visão de seus tripulantes. Naquele
momento, o grande problema
consistia em saber como resgatar a
Dra. Joh sem colocar em risco sua
vida. O módulo não estava equipado
com as unidades de resistência à
gravidade Berger, adaptadas às naves
especialmente
projetadas
para
freqüentes incursões atmosféricas.
Assim, Pontine e Hewett podiam
contar apenas com propulsores de
empuxo convencionais para permanecerem suspensos no espaço, com as
reservas de combustível se esgotando
rapidamente. Em um dado instante,
sua atenção foi desviada para um
gigantesco vulto escuro, que, logo
abaixo da superfície do mar, se
aproximava célere do barco de
madeira.
Em questão de segundos, as duas
massas colidiram, provocando a
virada de querena da nau. De repente,
elevou-se do mar uma gigantesca
serpente marinha, cujas duas cabeças,
ameaçadoras, projetaram-se por sobre
o convés. O pânico parecia tomar
conta de toda a tripulação: do
módulo, os dois espaçonautas podiam
distinguir minúsculas figuras lutando
desesperadamente para fugir do
alcance da imensa criatura, enquanto
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
outras se precipitavam no mar. Nisso,
a serpente principiou a desferir
terríveis golpes contra o frágil casco
do navio.
Pontine e Hewett, temendo que
Jancis Joh também estivesse a bordo
do barco, partiram velozmente para o
local onde o temível e horrendo
monstro estava destruindo tudo. Lá
chegando, puseram-se a procurar
alucinadamente por sua companheira
em meio ao caótico pandemônio em
que se transformara o convés da
soçobrante embarcação. Finalmente,
conseguiram localizá-la no mar, onde,
nadando com todas as suas forças,
procurava
fugir
do
diabólico
espetáculo;
entrementes,
seus
seqüestradores lutavam para salvar o
barco e afugentar a serpente com
lanças e flechas. Enquanto Pontine
pilotava o módulo em direção ao mar,
Hewett esmiuçava o almoxarifado em
busca de apetrechos de salvamento, já
que lhes seria impossível pousar a
nave na água. Foi encontrado, em um
dos compartimentos desse depósito,
um pequeno módulo para vôos
rasantes, que Hewett arrastou até uma
das comportas de saída. Embora essa
minúscula nave se destinasse apenas a
operações em terra, sua cabine,
hermeticamente fechada, possuía
tanques de oxigênio e uma unidade de
empuxo atmosférico por ondas.
Aos berros, Hewett deu algumas
instruções a Pontine pelo interfone de
bordo e, assim que acomporta se
abriu, fez um último esforço para
jogar no oceano o pequeno módulo,
que afundou para logo assomar à
superfície. A Dra. Joh nadou
incontinenti para o objeto flutuante,
ao passo que a nave se afastava para
livrar a área de detritos de empuxo.
Tão logo ela conseguiu subir no
módulo, sua primeira atitude foi
entrar em contato radiofônico com
seus companheiros, que decidiram se
dirigir para a costa, onde todos se
encontrariam mais tarde.
Os outros emissários regressaram
minutos mais tarde; após darem as
boas-vindas à Dra. Joh, todos se
reuniram para discutir o andamento
da missão na sala de controle central.
Adara III certamente não era o lugar
de origem da nave alienígena;
portanto, fazia-se necessário decidir
qual a próxima região sideral a ser
investigada.
13
Os três emissários do Venturer partiram céleres para travar o primeiro
contato com a atrasada civilização de Adara III.
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
14
Quando se encontrava em viagem de estudos a um vilarejo, a Dra. Jancis Joh foi capturada por membros de uma das
ferozes tribos guerreiras do norte, sendo levada para longe de seus companheiros através dos fantásticos teleféricos que
cruzavam a superfície do planeta.
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
15
Elevando-se sobre as rasas e brumosas águas do mar do Norte, achava-se o forte dos sinistros guerreiros que
costumavam atacar as comunidades agrícolas do interior do planeta.
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
16
Durante o rastreamento do barco que conduzia a Dra. Joh, uma horrenda criatura irrompeu do mar e se elevou,
ameaçadora, sobre a frágil embarcação.
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
17
Haveria tempo de sobra para
repouso, já que logo todos partiriam
para uma nova e longa viagem. Os
radares de longo alcance registraram
a existência de uma diminuta estrela
G5 a 130 anos-luz do local onde a
nave se encontrava. Chegou-se à
conclusão de que o Venturer deveria
ser imediatamente programado para
tal destino.
A considerável quantidade de dados
acumulada no decorrer da breve
estadia do Venturer em Gama do Cão
Maior deixaria a tripulação ocupada
durante toda a etapa seguinte da
missão. Enquanto isso, a pequena
estrela amarela tornava-se cada vez
maior nas telas do radar, até o
momento em que o sinal de
proximidade deu o alerta ao
comandante, indicando a necessidade
de nova transferência em direção ao
espaço real.
Com suas reservas de combustível quase esgotadas, o módulo alçou vôo à potência máxima, levando consigo, sãos e
salvos, todos os seus tripulantes.
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
18
CAPÍTULO QUATRO
O Planeta da Morte
Registro do diário de bordo: Ref.
1403. Proximidade de estrela não
identificada, código VenX.
Oficial de bordo: Oficial-Biólogo
Nibor Max.
Modo de propulsão: Velocidade total
paralela.
Condições de acionamento: A1.
Condições do sistema: A2. Oscilação
no gerador secundário. Mecanismo
de
alimentação
de
potência
substituído.
Condições da equipe: Moral alto.
Tão logo o Venturer se transferiu
para o espaço real, os radares e
coletores de dados principiaram a
acumular informações sobre a estrela
G5 e seu minúsculo sistema solar.
Havia uma imensa quantidade de
corpos celestes que descreviam órbita
ao redor do pequeno sol, embora
apenas dois pudessem ser classificados como planetas. Os demais
eram asteróides dos mais variados
tamanhos, ainda que um dos planetas
não passasse de uma esfera rochosa
pouco maior que o satélite da Terra.
O outro planeta, todavia, parecia
habitável; sua atmosfera era rica em
oxigênio e seu campo gravitacional
apresentava uma força ligeiramente
superior à da Terra. Possuía uma
superfície líquida proporcional à
sólida e acusava uma variação de
temperatura que, embora bastante
baixa, mantinha-se dentro dos níveis
de tolerância humana. Após pormenorizado estudo do espaço local, o
Venturer deslocou-se para a posição
de órbita estática alta e iniciou os
trabalhos de investigação da superfície. Logo. tomou-se patente a
existência de imensas estruturas
artificiais espalhadas pela quase
totalidade da área sólida do planeta,
coberta de descampados e vegetação
rala. Embora a maior parte desses
complexos estruturais sugerisse a
presença de atividades industriais, os
mapas em infravermelho indicativos
de geração de calor não acusaram
quaisquer concentrações de energia
ergométrica. Não obstante, o feio
planeta parecia envolto por uma aura
de mistério, levando o Comandante
Mikiss a conduzir cautelosamente a
nave para uma vistoria geral de seu
aspecto antes de proceder a uma
abordagem mais minuciosa.
Alguns segundos mais tarde, o
oficial de telecomunicações captou
débeis sinais provenientes de uma
região próxima ao círculo de
iluminação do planeta, a um nível
orbital ligeiramente mais baixo que o
do Venturer. A tripulação colocou-se
em posição de alerta, ao mesmo
tempo que se projetavam ondas de luz
sensoriais entre a superfície e a
ionosfera. A intervalos regulares, as
pulsações de luz de alta freqüência
cruzavam a ionosfera . até serem
interceptadas por um feixe luminoso
receptor em uma cortina de pontos de
luz ao redor da curva orbital. Uma
interrupção ocorrida nesse padrão
indicou a presença de um objeto
metálico localizado pouco abaixo do
nível do feixe de luz receptor; Art
West, o oficial de armamentos,
programou
no
computador
o
acionamento das telas de absorção de
energia e os sistemas de controle de
armas. Segundos após, reluziu nos
visores a imagem de uma nave
alienígena, levando o oficial de bordo
a ordenar a parada do Venturer.
Passaram-se vários minutos sem que
se observasse qualquer reação
daquele objeto voador à presença dos
exploradores; assim, foi enviado um
sinal de multifreqüência à silenciosa
espaçonave, embora tal medida não
surtisse qualquer efeito. Depois de se
haver tentado emitir, também sem
êxito, sinais de raio laser, o Venturer
transferiu-se para uma órbita paralela
e principiou a se aproximar do
costado da estranha espaçonave. Logo
tomou-se patente que aquele objeto
estivera à deriva no espaço por muito
tempo, encontrando-se em processo
de gradativa descida em espiral rumo
à superfície do planeta. Suas paredes
laterais, além de esburacadas,
acusavam diversas e minúsculas
marcas indicativas de colisões com
partículas menos contundentes. A
inexistência de vida em seu interior
era confirmada por um rombo perto
de sua comporta principal, onde
diversos fragmentos flutuavam no
vácuo. De qualquer modo, essa
sentinela espacial errante só serviu
para aumentar a tensão que
principiava a se apoderar do
Venturer, que alterou seu curso de
modo a proceder a uma investigação
mais atenta do planeta. Muito embora
aquele objeto fosse fruto de uma
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
tecnologia bastante avançada, não se
detectaram quaisquer sinais de vida
durante a aproximação do Venturer
das nebulosas camadas atmosféricas
do planeta. Foram formadas duas
equipes de emissários, todos vestidos
com macacões anti-radiação, devido
às áreas de alta periculosidade
radioativa identificadas na superfície
daquele astro. Os grupos de
exploração se dividiram, embarcaram
em dois módulos e partiram da
plataforma de lançamento adotando a
técnica de cobertura de vôo.
Havendo sido escolhido como local
de pouso um determinado complexo
industrial, um dos módulos procurava
descer ao nível do solo enquanto o
outro sobrevoava a área cobrindo sua
posição; todavia, logo ficou claro que
tais precauções eram desnecessárias.
Os radares registravam, em todas as
direções, imagens de devastação e
ruína. Após verificarem as condições
ambientais do local e concluírem quê
os níveis de radiação, embora altos,
encontravam-se dentro dos limites de
tolerância garantidos pelos trajes de
proteção, três elementos da equipe
desceram de sua nave e pisaram no
arenoso e estéril solo do planeta,
caminhando entre destroços até um
monotrilho carcomido e enferrujado
que jazia logo adiante. O absoluto e
enervante silêncio que reinava no
lugar era insuportável; após uma
ligeira
inspeção
do
veículo
abandonado, todos retomaram ao
módulo
visivelmente
aliviados.
Inspeções posteriores confirmaram as
suspeitas de que toda aquela região
estava há muito abandonada; assim,
decidiu-se que o passo seguinte seria
investigar uma das áreas de
radioatividade vizinhas. Quanto mais
se aproximavam do foco de radiação,
mais carcomidos e escassos se
tornavam os destroços e mais duro e
liso se apresentasa o solo, a ponto de
adquirir um aspecto quase vítreo.
Finalmente, uma imensa cratera
acabou por ratificar outra suspeita dos
emissários:
aquele
complexo
industrial fora destruído por uma
violenta catástrofe nuclear.
As
demais expedições a outras partes
daquele
mundo
em
ruínas
comprovaram que ele sofrera um
holocausto, provavelmente provocado
por forças externas. A tragédia havia
se abatido sobre toda a extensão do
planeta, tornando-o completamente
estéril.
19
Esta nave abandonada, em perpétua órbita, foi o primeiro indício do estado em que se encontrava o triste planeta.
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
20
Explorando os destroços, a equipe de reconhecimento pôde imaginar a terrível tragédia que se abatera sobre o planeta. Por
todos os lados observavam.se as desertas ruínas de uma avançada tecnologia.
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
21
Apesar da milagrosa sobrevivência de
formas rudimentares de vegetação, a
possibilidade de se encontrar
qualquer espécie de vida inteligente
foi considerada nula. Naquele
momento, a grande dúvida consistia
em saber se o planeta em ruínas
poderia ter sido o lugar de origem dos
insidiosos visitantes alienígenas. Em
caso de resposta afirmativa, era
bastante improvável que tais criaturas
constituíssem uma ameaça, na medida
em que representariam apenas
perplexos fugitivos de uma secular e
colossal guerra nuclear. Contudo, o
fato de o objeto voador alienígena
não apresentar quaisquer sinais de
desgaste condizente com sua idade
contrariava frontalmente tal hipótese.
Ademais, tudo levava a crer que o
inclemente holocausto que se abatera
sobre o planeta inspecionado fora
absoluto e fulminante, embora a
maior parte dos conflitos interplane-
tários, não importa quão intensos ou
catastróficos, geralmente poupasse
alguns sobreviventes.
O agressor devia ser proveniente de
algum outro ponto do espaço,
podendo, inclusive, ser a espécie que
construiu
a
nave
alienígena
identificada nas imediações dos
Mundos Periféricos. Se essa conjetura
se provasse correta, a missão do
Venturer se revestiria de importância
ainda maior para o futuro tanto da
Federação Galáctica como também de
seus planetas membros. Concluiu-se,
então, que o povo responsável pelo
aniquilamento do planeta provávelmente habitava um mundo localizado
naquela mesma região da galáxia, a
menos que a destruição tivesse sido
causada por um ataque fortuito.
Assim, a tripulação do Venturer pôsse a deliberar sobre a rota a seguir. A
estrela mais próxima do planeta da
morte era Delta do CãoMaior, tam-
bém denominada Wezen, situada a
mais de 500 anos-luz de distância.
Determinado o curso, a tripulação
acomodou-se, a contragosto, nas
cabines de hibernação, preparando-se
para enfrentar o mais longo trecho de
sua viagem.
Um fragmento da civilização
desaparecida encontrado pela
tripulação.
O imenso e compacto edifício representado nesta ilustração era uma das poucas estruturas que ainda se encontravam
relativamente intactas. Parte de um enorme complexo industrial, sua construção monolítica fora incapaz de abrigar
quaisquer sobreviventes da terrível catástrofe.
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
22
CAPÍTULO CINCO
A Rainha Guerreira
Registro do diário de bordo: Ref.
1843. Proximidade de estrela nãoidentificada, código VenX2.
Oficial de bordo: Oficial de
armamentos Art West.
Modo de propulsão: Velocidade
paralela.
Condições de acionamento: A1.
Condições do sistema: A1.
Condições
da
equipe:
Sete
passageiros adicionais.
Os dias transcorriam na monotonia
de uma longa viagem através do
universo paralelo do hiperespaço.
Quando a meta da expedição, a
estrela Delta do Cão Maior, já se
encontrava relativamente próxima, os
mecanismos de identificação de longo
alcance detectaram a presença de uma
imensa massa nebulosa de minúsculas
partículas de poeira e fragmentos de
matéria. Os equipamentos sensoriais
passaram então a coletar dados sobre
aquela vasta névoa interestelar,
sondando e analisando suas características; em um dado momento, os
computadores determinaram que tal
formação cósmica escondia sob seu
manto uma misteriosa estrela.
Embora Delta do Cão Maior ainda
estivesse a cerca de 180 anos-luz de
distância, o Sistema de Coleta de
Dados Intuitivo de Dor Hewett
decidiu despertar a tripulação
imediatamente. Assim que todos os
membros da equipe se reuniram na
sala de controle central, o Venturer
foi transferido do
subespaço,
permanecendo imóvel no vácuo e
acusando em suas telas a imagem do
pequeno sol. O grupo iniciou
prontamente os trabalhos de inspeção
rotineiros, chegando à conclusão de
que aquele sistema solar possuía
apenas dois planetas, dos quais um
oferecia condições para o desenvolvimento de formas de vida. Pouco
tempo depois, descobriu-se que o
planeta era habitado, apresentando
grande número de núcleos urbanos e
áreas industriais; todavia, não se
obteve qualquer indício sobre a
existência de uma tecnologia espacial
avançada.
Parecia
bastante
improvável que aquele fosse o lugar
procurado, mas, mesmo assim, a
tripulação decidiu investigar mais
atentamente a região, de modo a não
deixar margem a dúvidas. Havendo
escolhido como local de inspeção um
dos centros industriais de maior porte,
uma equipe de reconhecimento
desceu à superfície do planeta em um
módnlo de vôo. Lá chegando, todos
permaneceram a bordo, aguardando
as primeiras reações do povo nativo.
Nas imediações do local de pouso,
podiam se divisar ferragens retorcidas
de um aparelho bastame semelhante a
uma espaçonave de consideráveis
dimensões.
Depois de três monótonas horas de
espera, Nibor Max decidiu se
aventurar. Sob o vigilante olhar de
seus companheiros, caminhou até os
destroços, quase tropeçando em um
estranho esqueleto semi-enterrado no
arenoso solo local. Observando que
junto aos ossos havia um objeto
parecido com uma clava, abaixou-se
para
apanhá-lo.
Subitamente,
enquanto examinava aquela arma
primitiva, um bando de seres
montados sobre estranhas criaturas
eqüinas irrompeu a galope por trás
dos destroços, emitindo estridentes e
horripilantes ruídos. Max, valendo-se
de seu interfone, deu rápidas
instruções aos tripulantes do módulo,
que prontamente acionaram os raios
aceleradores de partículas, transformando em gás o espaço que se
interpunha entre seu companheiro e
os agressores. Estes, assustados,
deram meia-volta e se retiraram.
Max voltou correndo ao módulo,
cujas portas se fecharam atrás de si.
Ansiosa por presenciar o que
ocorreria em seguida, a equipe
decidiu, por votação, permanecer no
planeta. A curiosidade foi logo
satisfeita pela ressabiada chegada de
outro grupo de criaturas humanóides,
desta vez acompanhadas por uma
estranha charrete que, puxada por
uma espécie de tigre, parecia
coriduzir um líder. Os cavaleiros
formaram duas filas, uma de cada
lado do coche, desceram de suas
montarias e depuseram suas armas no
chão. Tudo levava a crer que os
nativos agora desejavam um contato
amigável; assim, dois elementos da
tripulação saíram da nave, com as
mãos estendidas em sinal de amizade.
Após prolongado entreato de gestos e
mímicas,
um
dos
guerreiros
condescendeu, hesitante, em ser
ligado aos terminais do equipamento
lingüístico de Tik Rednop; em menos
de
uma
hora,
conseguiu-se
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
estabelecer um vocabulário básico de
intercomunicação. Soube-se então
que os cavaleiros da patrulha,
testemunhas da exibição de força dos
emissários da Federação, haviam
retornado a sua base e comunicado a
ocorrência. Seu relatório incitou a
"rainha" – a mulher da charrete - a vir
pessoalmente solicitar a ajuda dos
misteriosos visitantes em uma guerra
que estava sendo travada com uma
nação vizinha. Segundo ela, o tráfego
aéreo era bastante intenso em seu
planeta, embora nenhuma nave
pudesse se comparar em velocidade,
ou em potencial bélico, ao objeto
voador dos visitantes.
Em represália à relutância dos
"homens do céu" em se envolverem
no conflito, a rainha se recusava a
responder às perguntas formuladas
pela tripulação; cada vez mais
impaciente, comportava-se como se
estivesse imaginando um meio de
tomar de assalto a tão cobiçada nave.
Após discutirem a situação com Mor
Mikiss, que se encontrava no
Venturer, os tripulantes do módulo
decidiram tomar a única atitude
possível naquele momento: enquanto
Art West neutralizava a guarda com
sua pistola de raios entorpecedores,
os demais capturavam a rainha e
levaram-na para o módulo, que,
minutos mais. tarde; partia em
direção ao Venturer.
A medida provocou o efeito
desejado: a aterrorizante experiência
de ver seu planeta diminuir de
tamanho e de se encontrar ela própria.
em pleno espaço sideral levou a
rainha a desistir de suas primeiras
intenções e a se colocar à disposição
dos tripulantes do Venturer para
ajuda-los como pudesse. Assim, os
tripulantes passaram a interrogá-la
cautelosamente :-embora com certa
dose de insistência -, para obter
informações que o auxiliassem na
procura da nave alienígena. Logo
surgiram as primeiras pistas. A rainha
confessou ser de seu conhecimento
que espaçonaves dotadas de estranhos
e temíveis poderes haviam chegado
de muito longe e descido em seu
planeta. Sentada junto a uma das
imensas janelas panorâmicas do
Venturer e presenciando a imagem de
seu mundo sendo engolido pela
escuridão do cosmos, a soberana
despejava informações no aparelho de
tradução a uma velocidade cada vez
maior.
23
A ingênua excursão de Nibor Max em território nativo por pouco não terminou em tragédia, visto que
um bando de guerreiros do misterioso planeta irrompeu em súbito ataque.
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
24
Atraída pelo potencial militar do módulo, a impetuosa rainha de uma nação em guerra só se disporia a
prestar informações em troca de auxílio. Uma viagem forçada até o espaço orbital fê-la mudar de idéia e
fornecer a seus captores uma importante pista.
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
25
A história que contava surtia estranho
efeito sobre o grupo reunido ao seu
redor, tornando-o pensativo e
preocupado.
As espaçonaves haviam surgido em
meio a uma feérica explosão de calor
e chamas, cerca de dez meses antes
(treze meses terráqueos), ocasião em
que ofereceram auxílio e armas à.
rainha, cujo povo encontrava-se em
guerra com um país vizinho. Quando
o conflito estava em seu apogeu, os
visitantes partiram, deixando no
planeta um de seus companheiros,
que passaria a ser o mentor bélico da
nação. Era esse indivíduo quem,
naquele exato momento, ocupava o
cargo de chefe do Conselho de
Guerra e dirigia as estratégias
marciais
dos
quartéis-generais
militares. Em troca do auxílio, a
rainha concordara em ermitir a
posse, pelos visitantes, das terras
pertencentes ao povo adversário,
embora não pudesse compreender o
que os alienígenas desejariam fazer
em seu planeta, uma vez que a guerra
já tivesse terminado. Posteriormente,
com a chegada do módulo do
Venturer, os visitantes da Federação
foram tomados por novos emissários
daquela poderosa civilização.
Explicou-se à rainha que todos
estavam muito desejosos de conhecer
o indivíduo que dirigia as operações
de guerra de sua nação; assim, uma
brigada de combate acompanhou-a
até módulo que os levaria de volta à
superfície do planeta. Minutos após o
pouso, dois guerreiros surgiram no
horizonte, para logo desaparecerem,
dirigindo-se para o núcleo urbano de
onde provinham. Quando a brigada se
preparava para escoltar a rainha até o
quartel-general, uma nuvem de poeira
ao longe alertou a tripulação para a
vinda de um destacamento militar de
grande porte; preocupados com as
intenções daquele grupo de recepção,
todos decidiram permanecer no
interior do módulo. Os guerreiros,
havendo vencido o último declive que
os separava da nave federativa,
estacaram. À medida que o pó
levantado por sua cavalgada assentava; abriam caminho para dar
passagem a uma pequena criatura que
pilotava uma espécie de veículo
flutuante. O estranho ser aproximouse lentamente do módulo, detendo-se
a uns 50 metros de sua comporta de
acesso.Descendo de sua viatura, ali
permaneceu com as mãos apoiadas
contra as têmporas de sua descomunal
cabeça, olhando fixamente o objeto
voador.
Decorreram alguns minutos, de
total silêncio e imobilidade; súbitamente, a rainha indicou com grande
alvoroço a bizarra criatura, dando a
entender que aquele era o ser a quem
aludira. Sua voz quebrara o encantamento que parecia ter tomado conta
de tudo e de todos. A tripulação abriu
a comporta de acesso e desceu do
módulo juntamente com a rainha; no
entanto, tão logo o grupo pisou em
terra firme, o ser alienígena,
estampando no rosto um esgar de
agonia, ajoelhou-se bruscamente,
ainda mantendo as mãos comprimidas
contra a cabeça. A criatura
permaneceu imóvel durante um longo
período; em um dado momento, todos
os que o rodeavam começaram a se
agitar, tornando-se apreensivos e
inquietos. Os tripulantes do módulo
acercaram-se, perplexos, da figura
ajoelhada, embora não conseguissem
fazer com que a criatura esboçasse
qualquer reação à sua proxlmidade,
tal o estado de transe em que parecia
se encontrar.
Por outro lado, os habitantes
nativos fitavam o céu como se
esperassem algo vindo do infinito. De
repente, começou a se avolumar sobre
a linha do horizonte o sombrio
contorno de uma imensa nave
abobadada, de onde saíram quatro
jatos que, a toda a velocidade,
rumavam para o ponto de encontro.
Nesse ínterim, a criatura levantou-se
e pôs-se a fitar com indiferença a
tripulação do módulo. Enquanto a
gigantesca nave permanecia suspensa
no espaço, os jatos pousavam em
meio a uma cortina de poeira, deles
desembarcando
vários
seres
semelhantes ao líder bélico da nação.
Embora os habitantes desse planeta isolado não possuíssem uma tecnologia avançada, seu arsenal bélico era
desenvolvido o bastante para provocar destruição em grande escala, como se podia constatar nas frentes de batalha.
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
26
De repente, a criatura alienígena ajoelhou.se e, com as mãos comprimidas contra as têmporas de sua descomunal
cabeça, entrou em transe telepático. Logo após, surgia no horizonte um enorme objeto voador, do qual saíram
quatro turbonaves rumo ao módulo do Venturer. Fora feito o primeiro contato com os falitas.
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
27
Aproximando-se dos emissários,
uma das criaturas alienígenas lhes
exibiu um dispositivo lingüístico de
formato côncavo. Jancis Joh, a
antropóloga, começou então a
entabular um diálogo com as
criaturas; ao lhes perguntar quem
eram, um dos seres deteve-se diante
de outro aparelho e proferiu algumas
palavras. Com voz neutra e
cavernosa, explicou que eram falitas,
os novos donos daquele planeta; em
seguida, perguntou quem eram os
tripulantes do Venturer. A equipe fe-
derativa apresentou o motivo de sua
presença naquele lugar e convidou os
falitas a visitarem sua nave. Como
estes concordaram imediatamente
com a proposta, comunicou-se o fato
ao Venturer, e todos partiram para o
encontro. Lá, após longa troca de
idéias, os falitas fizeram questão de
escoltar o Venturer até seu mundo
nativo, no sistema estelar de Delta do
Cão Maior. Além de os alienígenas
darem a entender que a tripulação
federativa não tinha outra escolha,
parecia não haver motivos para recu-
sar tal oportunidade, já que o objetivo
da missão era localizar e coletar
dados sobre o planeta de origem dos
visitantes de além-espaço.
Quando as duas naves iniciaram a
viagem para a longínqua estrela,
permaneceram no Venturer alguns
falitas, que, todavia, se recusaram a
emitir quaisquer informações durante
todo o trajeto. Duas semanas mais
tarde, os computadores transferiram o
Venturer para o espaço real,
deixando-o no vácuo ante a
amarelada luminosidade de Wezen.
O aparelho de tradução utilizado
pelos alienígenas
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
28
CAPÍTULO SEIS
O ImpérioFalita
Registro do diário de bordo: Ref.
2215. Imediações de Wezen.
Oficial
de
bordo:
Oficial
espaçonáutico Richard Pontine.
Modo de propulsão: Sem registro.
Condições de acionamento: Sem
registro.
Condições do sistema: Sem registro.
Condições da equipe: Moral regular.
Toda a tripulação transferida do
Venturer. Fim do diário de bordo.
Tão logo as naves chegaram ao
sistema solar de Wezen, os
alienígenas, que até aquele momento
haviam sido confinados à sala de
controle central, apesar de toda a sua
curiosidade em conhecer o restante do
Venturer, aproximaram-se do painel
de navegação e analisaram o mapa
sideral reproduzido na tela de
comando. Passados alguns minutos,
indicaram um dos planetas de maior
porte representados no mapa e
asseguraram ser aquele o lugar onde a
nave deveria entrar em órbita. À
medida que se aproximavam do
volumoso planeta, tomava-se cada
vez mais evidente o avançado grau
tecnológico de seu povo, visto o
ininterrupto fluxo de naves que
entravam e saíam de sua atmosfera.
Aos olhos da tripulação do Venturer,
era como se estivessem chegando ao
coração de um movimentado centro
mercantil interplanetário, talvez tão
grande quanto o da própria
Federação, e perfeitamente capaz de
estender seu raio de influência até a
região periférica desta.
No
instante
em
que
os
computadores do Venturer se
empenhavam
freneticamente
na
difícil tarefa de calcular as rotas das
diversas naves que deixavam o
planeta, de modo a determinar seus
destinos, os falitas manifestaram sua
intenção de pousar o Venturer na
superfície do seu mundo. A tripulação
protestou, indesejosa de ver sua nave
em um ambiente desconhecido; como
desculpa, alegou-se a impossibilidade
de. uma nave tão grande como aquela
pousar sob aquelas condições
gravitacionais.
Surpreendentemente, um dos falitas
dirigiu-se incontinenti ao painel de
controle do sistema de resistência
gravitacional Berger e apontou-o.
Mor Mikiss encolheu os ombros,
dando-se por vencido, e a tripulação
colocou-se a postos para a entrada na
atmosfera, sentindo-se cada vez mais
inquieta à medida que os vastos
complexos industriais espalhados pela
superfície do planeta começavam a se
projetar em toda a sua magnitude nas
telas do radar.
Lá chegando, uma série de
pequenos
veículos
flutuantes
conduziu toda a tripulação até um
terminal de tubos expressos, de onde
partiram a grande velocidade até um
imenso
e
imponente
edifício
localizado no coração da maior
metrópole do planeta. Ali, foram
transferidos para um amplo recinto,
provavelmente
um
centro
de
operações, cujas paredes encontravam-se repletas de gráficos e mapas
estelares. Sentados ao longo de uma
plataforma suspensa estavam vinte
falitas, cuja aparência e comportamento indicavam sua importância
como figuras públicas. O grupo do
Venturer foi então convidado a se
acomodar em poltronas individuais,
todas equipadas com dispositivos de
tradução. Subitamente, surgiu do
nada um tremeluzente campo de
força, aprisionando a tripulação em
um casulo energético, do qual era
impossível qualquer tentativa de fuga.
Teve início, então, um longo e
exaustivo interrogatório, em que os
emissários
federativos
viram-se
instados a responder sobre a
procedência do Venturer, o objetivo
de sua viagem e se havia outras naves
a caminho. Eles confessaram apenas
sua condição de representantes de
uma grande associação de planetas e
raças, que haviam cruzado sozinhos a
imensidão do espaço intergaláctico à
procura do lugar de origem de uma
estranha nave surgida na região
periférica de sua Federação. Disseram
ainda que sua rota estava sob o
controle da base e que muitas naves,
federativas encontravam-se de pronti-
dão para agir em qualquer
emergência. Em troca, começaram a
interpelar os falitas a respeito da
identidade da nave invasora e de seus
objetivos ao se empenhar, sozinha,
em tão longa viagem; contudo, não
conseguiram qualquer resposta de
seus interrogadores.
Os falitas pareciam indecisos
quanto à maneira como deveriam
tratar a tripulação do Venturer,
pondo-se a debater o assunto entre si.
Finalmente, chegaram a uma
conclusão. O campo de força
desapareceu repentinamente, com a
equipe
da
Federação
sendo
transferida para outra sala, aparelhada
com sofás e murais holográficos,
onde receberam instruções para ali
permanecerem. A porta cerrada e a
total ausência de controles internos
dentro do recinto eram nítidos
indícios de que não havia qualquer
possibilidade de uma fuga bemsucedida. Assim, o grupo se reuniu e
pôs-se a analisar sua delicada
situação.
O fato de os falitas estarem
empenhados em algum tipo de
atividade militar, era ponto pacífico.
Todos os alienígenas portavam armas
e vestiam trajes padronizados, cujas
variações
pareciam
designar
diferentes
cargos
hierárquicos.
Ademais, ficou bastante claro que
grande parcela das naves observadas
não possuía fins comerciais; por outro
lado, os objetos voadores semelhantes
a
espaçonaves
cargueiras
se
deslocavam em grupos, indicando que
um considerável volume de provisões
ou equipamentos estava sendo
transportado.
Tais
constatações,
juntamente com as impressões
colhidas sobre a cidade durante a
viagem através daquele complexo
industrial de baixa densidade
demográfica, levaram os tripulantes a
concluir que foram feitos prisioneiros
de um povo envolvido em uma guerra
de grandes proporções.
Um interceptador falita, parte de seu impressionante arsenal de guerra.
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
29
A primeira imagem do mundo falita captada pela tripulação não deixava margem a dúvidas: eles eram,
contra sua vontade, hóspedes de uma civilização tão avançada quanto a própria Federação Galáctica.
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
30
Das inúmeras naves em ação observadas nas imediações do planeta, a grande maioria se destinava a fins
estritamente militares. Logo ficou claro que a tripulação do Venturer estava nas mãos de um mundo em guerra.
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
31
Uma turbonave cruzou velozmente a metrópole falita para levar a equipe federativa ao sinistro quartel-general de
seus captores. Todos tinham a impressão de que haviam deixado o Venturer para nunca mais vê-lo.
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
32
Os falitas, tendo-se mostrado
indiferentes às perguntas da equipe
federativa sobre a nave invasora, não
acusando a mínima curiosidade pelo
fato, praticamente confirmaram a
suspeita de que aquele objeto voador
efetivamente provinha de seu planeta.
Portanto, os reais objetivos daquela
nave teriam que ser descobertos sem
demora; se sua finalidade fosse
contrária aos interesses da Federação,
a Força de Segurança Galáctica.
deveria ser informada o mais cedo
possível. De qualquer modo, o
conhecimento da existência dos
falitas pelas bases federativas era
questão de vital importância, embora
a transmissão dessa notícia fosse
tarefa das mais difíceis. Os
movimentos da tripulação estavam
sendo estreitamente vigiados, e sua
nave estava nas mãos de seus
captores; assim, tudo o que lhes
restava fazer era dar tempo ao tempo
e esperar pelo surgimento de uma boa
oportunidade de fuga, pois, ao que
parecia, os falitas mostravam-se
relutantes em executá-los.
Após várias horas de espera, a porta
da prisão abriu-se e um grupo de
nativos adentrou o recinto, fazendolhes sinal para acompanhá-los pelos
luzidios corredores do edifício.
Atravessando uma comporta, viramse numa pequena plataforma próxima
a uma turbonave. Depois de subirem
a bordo, foram presos com cintos de
segurança em uma fila dupla de
assentos, juntamente com suas
escoltas. Acionados os motores; a
nave partiu a toda a velocidade rumo
aos arredores da cidade. Passado
algum tempo, a imagem da periferia
urbana deu lugar a uma paisagem de
luxuriante vegetação, logo interrompida pela visão de um imenso
espaçoporto.
Minutos mais tarde, a turbonave
desceu rapidamente em direção a uma
das plataformas de pouso e, com um
solavanco, quedou-se imóvel. Os
falitas ordenaram aos tripulantes que
saíssem da nave e os acompanhassem
até um enorme objeto voador
prateado suspenso no ar, de cuja
fuselagem surgiu uma rampa rolante
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
de acesso. Depois de subirem na
esteira e serem transportados para o
interior da nave, todos foram
conduzidos para uma espaçosa cabine
equipada com poltronas neutralizadoras de choque, onde receberam
instruções para se acomodarem e
apertarem os cintos de segurança.
Logo após, a tripulação viu-se
violentamente arremetida contra as
almofadas amortecedoras, enquanto a
possante nave estremecia e alçava
vôo. Naquele instante, o Venturer
encontrava-se mais inacessível do que
nunca, o que provocou em seus
desgarrados tripulantes a súbita
sensação de que jamais o veriam
novamente. O único consolo era saber
que os falitas dificilmente se dariam a
tanto trabalho só para matá-los. Na
pior das hipóteses, poderiam tentar
descobrir para onde estavam sendo
levados, e por quê.
33
CAPÍTULO SETE
A Situacão se Inverte
Registro no diário de bordo: Registro
4. Imediações de Xi Puppis.
Oficial de bordo: Comandante Mor
Mikiss.
Condições da equipe: Regulares.
Moral variável.
Estágio
da
missão:
Objetivo
alcançado. Situação, perigosa, mas
sob controle no momento.
Depois de passar uma hora na
cabine, os prisioneiros receberam
permissão para entrar em um dos
setores vivenciais secundários, a fim
de poderem esticar suas pernas.
Richard Pontine, o oficial de
navegação, aproximou-se de um dos
visores e fitou a estranha imagem
reproduzida na tela. Tanto quanto lhe
era dado conhecer, a nave se dirigia
para a estrela Xi Puppis, também
conhecida como Azmidiske, situada a
1100 anos-luz da Terra. Enquanto
contemplavam o espaço, a paisagem
começou a tremeluzir e a se dissolver
nas velhas e conhecidas cores
mutantes do hiperespaço. Isto
significava que os falitas eram
capazes de acionar a transferência
com a nave em movimento, ao passo
que as naus federativas eram
obrigadas a parar antes de adentrar o
espaço/tempo paralelo.
Segundo os cálculos da tripulação,
haviam transcorrido três dias de
viagem quando a nave adotou o modo
de .propulsão normal e principiou a
descrever órbitas baixas ao redor de
um sombrio e lúgubre planeta. Assim
que puderam vê-lo mais de perto,
observaram que sua superfície,
marcada por crateras e fendas,
apresentava trechos sendo destruídos
por um grande número .de incêndios.
Sem sombra de dúvida, estavam
presenciando o desenlace de um
devastador ataque bélico, semelhante
ao que se abatera sobre o mundo em
ruínas encontrado na primeira etapa
da viagem do Venturer. Logo abaixo,
podiam se divisar naves falitas
cruzando a atmosfera; nas imediações
do círculo de iluminação, clarões e
cogumelos nucleares indicavam que a
batalha ainda não havia terminado, e
que os falitas eram os agressores
nesse terrível conflito interplanetário.
Momentos mais tarde, a nave
pairou sobre as ruínas de uma cidade
destruída pela guerra. Uma pequena
turbonave encouraçada atravessou
velozmente a cortina de fumaça e
neblina que emanava dos destroços e
dirigiu-se para a nau prateada;
logo.ouviu-se o ruído de sua entrada
em uma das comportas da parte
inferior do veículo. Segundos depois,
a nave deslocou-se para as camadas
limítrofes da atmosfera e penetrou
novamente na escuridão do infinito.
A essa altura, Mor Mikiss e sua
equipe já podiam definitivamente se
considerar prisioneiros, e não
hóspedes, dos temíveis falitas. Tudo o
que haviam observado até aquele
momento demonstrava que o povo de
Wezen defendia uma política de
expansão por meio de conquistas
militares, estando preparado para
destruir literalmente todo e qualquer
planeta que contrariasse suas
intepções. Se o visitante alienígena
identificado nos Mundos Periféricos
realmente pertencesse à esquadra
falita, era bastante provável que seus
estrategistas passassem a considerar a
Federação como um adversário em
potencial, decidindo atacá-la antes
que pudessem ser tomadas medidas
defensivas. A notícia da. existência
dessa perigosa civilização deveria ser
levada a qualquer custo ao
conhecimento do Conselho de
Segurança. O Venturer estava bem
longe, no coração do Império Falita.
A única saída de sua tripulação era
capturar outra nave capaz de realizar
a viagem de regresso.
Enquanto a equipe analisava essa
desesperada linha de ação, as telas
escureceram, devido a uma nova
transferência para o espaço real, para
nelas logo.surgir a imagem de um
estranho aglomerado de minúsculos
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
planetas e satélites.
Enquanto eram efetuadas as
manobras de pouso, um destacamento
de falitas entrou na cabine e conduziu
os prisioneiros de volta às poltronas
amortecedoras. Nesse instante, a nave
alterou seu modo de propulsão e
começou a descer sobre a superfície
do maior planeta daquele sistema
estelar. Um baque anunciou o pouso
da nave; assim que os tripulantes se
levantaram das poltronas, seus
captores entraram novamente no
recinto e os levaram até uma
comporta de saída, de onde foram
transferidos, por meio de uma esteira
rolante, para o veículo que os
aguardava.
Depois de todos se acomodarem em
seus respectivos lugares, os sistemas
energéticos da viatura blindada
produziram um estridente ruído e
deram partida, levando-os até um
longínquo conjunto de edifícios. Lá
chegando, os prisioneiros foram
escoltados através de uma série de
corredores até uma ampla sala
secreta, onde os guardas os
dispuseram em fila ante um pódio e
uma imensa tela. O silêncio tomou
conta de toda a equipe quando uma
forma irrompeu subitamente do nada.
A imagem de uma enorme cabeça
metálica os fitou, impassível, durante
vários segundos; nisso, a indefinida
inflexão de voz de um sintetizador de
línguas fez-se ouvir do tablado. As
perguntas, em sua maioria sobre o
potencial militar da Federação, eram
as mesmas que lhes foram formuladas
inúmeras vezes desde sua captura.
Novamente, nenhuma resposta foi
dada. Por fim, a voz calou-se, para
logo dirigir algumas palavras no
idioma falita às sentinelas.
Uma poderosa nave de caça falita.
34
Uma turbonave blindada falita partiu velozmente do planeta em ruínas e. entrou em contato com a
nave que transportava os prisioneiros. Haviam chegado os guias da etapa seguinte da viagem.
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
35
A nave transferiu-se do hiperespaço para surgir em meio a um fantástico conglomerado de pequenos planetas e
satélites; dirigindo-se para a superfície do astro de maior porte,
fez-se anunciar a um detetor-sentinela suspenso no espaço.
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
36
Dando um solavanco, a nave falita desceu lentamente até a rochosa superficie do planeta. Momentos mais tarde,
uma viatura conduzia os tripulantes a uma base avançada de comando.
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
37
O intocável líder dos falitas instruiu os guardas a adotarem técnicas de interrogatório mais severas.
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
38
Os guardas mudaram imediatamente
de atitude, tornando-se visivelmente
mais agressivos ao conduzirem os
prisioneiros de volta à viatura. Podiase deduzir que os falitas passariam a
adotar métodos mais drásticos para
arrancar
dos
tripulantes
as
informações desejadas. Assim, a
equipe
deveria
preparar
seu
contragolpe o mais rápido possível.
Aproveitando
a
ausência
de
equipamentos lingüísticos, todos
começaram a sussurrar entre si
palpites
de
fuga
enquanto
caminhavam até o veículo de
translado.
Havia dez falitas escoltando-os; no
momento em que saíam do edifício e
se dirigiam para o pequeno
interceptador militar estacionado ao
lado da viatura que os havia
transportado até aquele lugar, os
prisioneiros
aproximaram-se
sorrateiramente dos guardas. Dick
Frost, o engenheiro-chefe, examinou
atentamente a nave e chegou à
conclusão de que seu propulsor
principal constituía um sistema
padrão de empuxo que poderia ser
acionado com relativa facilidade
desde que os controles fossem
identificados.
Tudo
de
que
precisavam era tempo bastante para
analisar, juntamente com Dor Hewett,
o oficial de sistemas, os códigos do
computador e o diagrama de
conexões. O veículo de traslado
encontrava-se bem à frente da tropa;
após nova troca de idéias, todos se
colocaram a postos. A um sinal de
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
cabeça de Mor Mikiss, o grupo pôs-se
em ação, investindo violentamente
contra os pequeninos guardas;
enquanto Mor, que estivera sentado
perto do piloto da viatura durante a
viagem e havia observado todos os
seus movimentos, corria para a nave,
Frost e Hewett disparavam rumo ao
robusto interceptador.
Viatura utilizada
tripulação
na
fuga
da
39
CAPÍTULO OITO
De Volta à Terra
Registro no diário de bordo: Registro
5. Imediações de Xi Puppis.
Oficial de bordo: Comandante Mor
Mikiss.
Condições da equipe: Boas. Moral
estável.
Estágio da missão: Situação boa.
Regresso com escolta.
Os guardas foram pegos totalmente
desprevenidos pela drástica mudança
no comportamento dos pacíficos
prisioneiros; em um piscar de olhos,
todos, com exceção de duas
sentinelas, jaziam inconscientes ou
mortos sobre a lisa superfície da área
de pouso, com suas armas em poder
da equipe federativa. Mor Mikiss, que
já se encontrava na cabine da viatura
blindada, inspecionou rapidamente o
simples painel de controle e colocou
o veículo em movimento. Regulando
o reostato para sua potência máxima,
atirou-se para fora da nave antes de
esta arremeter velozmente na direção
do edifício principal e dos diversos
veículos ali estacionados. A uma
onda de choques contundentes
seguiu-se
um
ensurdecedor
estampido: a nave se arremessara
contra o costado de uma pequena nau
cargueira e explodira violentamente.
Chamas irromperam das ferragens
retorcidas dos destroços, atingindo a
viatura mais próxima, enquanto uma
densa cortina de fumaça cobria toda a
região.
Levantando-se do chão, Mikiss
correu para o local onde seus
companheiros arrastavam os dois
prisioneiros para o interceptador,
onde os oficiais técnicos tentavam
desesperadamente
identificar
os
sistemas de direção. Enquanto Dor
Hewett
compunha
às
pressas
programas básicos de resposta e
entrada
de
dados
para
os
computadores de controle principais,
Dick Frost improvisava sistemas de
desvio manuais para as funções
primárias. Quando os demais
tripulantes finalmente conseguiram
subir a bordo, os dois perplexos e
alquebrados falitas foram facilmente
forçados a auxiliar a equipe na
interpretação de alguns dos sistemas
especializados e suas conexões com o
painel principal. Em poucos minutos,
Hewett havia ligado quase todos os
computadores, tornando bem mais
rápida a tarefa de acionamento dos
controles.
Um dos tripulantes deu um grito de
alerta quando percebeu que legiões de
falitas começavam a sair dos edifícios
ao longe. Coral Dee e Art West
desceram à superfície pela comporta
de saída, cada qual carregando uma
das armas capturadas dos guardas
falitas. Embora se assemelhassem a
emissores de ondas de laser
miniaturizados, eram de fácil manejo;
assim, ambos começaram a disparar
contra o inimigo enquanto corriam
para a beira da plataforma, na
tentativa de manter o máximo de
distância de seus perseguidores.No
momento em que alcançavam o
terreno rochoso que demarcava o fim
da pista, era acionado o último dos
controles
de
emergência
do
interceptador. Enquanto Mor Mikiss
esgueirava-se para trás do painel
principal, os demais tripulantes
procuravam se proteger da melhor
forma possível.
Dirigindo uma prece aos céus, Mor
ativou os controles e empurrou a
alavanca de ligação. Com um
tonitruante estrépito, o sistema
nuclear foi detonado e a nave, dando
uma guinada, alçou vôo e ganhou
velocidade, cruzando como um raio a
pista de pouso. O comandante,
sentindo dificuldades em manejar os
controles, tentava. Descrever uma
curva de reconhecimento até as
formações rochosas onde estavam
entrincheirados os dois membros
restantes da equipe; porém, antes que
pudesse trazer o interceptador ao
nível do solo, uma pequena nave
riscou o espaço e pousou ao lado de
Coral Dee e Art West. Nisso, sua
comporta frontal se abriu, dela saindo
uma esguia criatura; aproximando-se
dos fugitivos, agarrau-os pelos braços
e puxou-os para seu veículo. Havia
algo no modo de ser daquele
humanóide que os fez entrar na nave
sem hesitação alguma, observando-o
fechar o anteparo transparente e dar a
partida. A criatura manobrou
habilmente seu minúsculo veículo em
direção às escotilhas do interceptador
e, fazendo sinal para que Mor Mikiss
a
acompanhasse,
acelerou
e
distanciou-se rapidamente.
Mikiss lutava para manter sob
controle a: rota de sua nave, que
estava em veloz arrancada rumo ao
vácuo do infinito. Em dado momento,
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
observaram o longínquo reluzir de
uma enorme nave suspensa no
espaço, para onde se dirigia o módulo
com os tripulantes resgatados.
Aproximando-se da comporta onde a
pequena viatura havia entrado, o
interceptador viu-se unido, através de
suas comportas, a um tubo de
baldeação que se projetara da
fuselagem da nave alienígena. Um
dos membros do grupo federativo
abriu
a
porta
interna
do
compartimento de acesso e, depois de
vacilar por alguns momentos, entrou
na câmara de ligação, para logo
depois regressar com a notícia de que
os
demais
deviam
segui-lo
imediatamente. Todos obedeceram a
suas instruções e, uma vez a bordo,
foram recepcionados por Coral Dee,
Art West e sua salvadora e
conduzidos à sala de comando
central. Nesse momento, a nave
desligou-se do interceptador vazio e
prosseguiu
viagem.
Alarmantes
trilhas de luz deixadas pelas naves de
perseguição falitas cruzavam a
camada nebulosa do planeta, quando
a imagem do cosmos tremeluziu e foi
substituída
pelos
bruxuleantes
matizes do subespaço. Estavam todos
a salvo, pelo menos até que se
transferissem para o espaço real.
A tripulação voltou-se então para
seus resgatadores, que naquele
momento se encontravam reunidos ao
seu redor . Uma das esguias criaturas
indicou uma poltrona equipada com
impressionante
parafernália
de
instrumentos, fazendo sinal para que
um dos humanos lá se sentasse.
Reconhecendo no aparelho uma
espécie de unidade interpretativa, Tik
Rednop, o lingüista, apresentou-se
como voluntário. Enquanto se
acomodava no resiliente assento, os
alienígenas adaptavam a sua cabeça
uma série de eletrodos, com bastante
delicadeza. Decorreram quase três
horas antes que se estabelecesse um
vocabulário básico e as duas espécies
pudessem trocar informações. À
medida que os fatos iam sendo
expostos, principiava a tomar forma
um inquietante quadro dos falitas e
suas atividades. Os salvadores da
tripulação do Venturer eram membros
da raça que um dia habitara o planeta
de onde se dera a fuga. Seu mundo
fazia parte de uma associação de livre
comércio interplanetário que, através
da
cooperação
mútua,
havia
desenvolvido uma tecnologia tão
40
sofisticada quanto a dos falitas.
Embora essa aliança houvesse
dirigido seus esforços para fins
pacíficos, os falitas incrementavam
seu potencial militar visando a
conquistar todos os planetas vizinhos
e seus recursos. Após a primeira
investida falita, o povo atacado
levantou uma tela orbital para
proteger seu mundo de bombardeios
espaciais. Originalmente concebida
para desviar névoas incandescentes e
meteoros, a tela necessitava de
constantes reparos, o que acabaria por
esgotar todos os recursos minerais do
planeta. Durante a etapa inicial do
cerco militar, a civilização ameaçada,
reconhecendo a difícil situação em
que se encontrava, enviou secretamente ao espaço seis de suas naves,
sua missão era vasculhar o cosmos
em busca de um abrigo para seu
povo. O objeto voador que,
transferido do hiperespaço, havia
aparecido nas imediações dos
Mundos Periféricos da Federação
Galáctica era uma dessas naves. Tão
logo detectara a existência de vida
naquela região, sua tripulação
penetrou novamente no espaço
paralelo para a viagem de regresso, na
esperança de encontrar sobreviventes
do holocausto provocado pelos
ataques bélicos falitas. Quando a nave
exploradora retomou, já se haviam
passado duzentos anos em seu planeta
de origem. A tela orbital fora
irremediá-velmente destruída pelos
falitas e a maior parte da população
havia sido exterminada em quatro
sucessivos ataques em massa; os
poucos sobreviventes embarcaram
nas naves restantes e fugiram para as
profundezas do espaço. Felizmente,
as notícias sobre a Federação lhes
chegaram bem a tempo: naquele
exato momento, várias naves de fuga
para lá rumavam em busca de
segurança. Um dos veículos que
permaneceram na retaguarda para
recolher fugitivos extraviados detectou o Venturer e monitorou seu
trajeto, evitando travar contato até
que seus objetivos estivessem mais
definidos. Tendo certeza que não
havia mais sobreviventes de sua raça
para serem recolhidos, os alienígenas
ofereceram-se para levar os humanos
de volta à Federação, em troca de
refúgio.
Enquanto
dois
membros
de
sua
equipe fugiam da
plataforma de pouso
destruída, Mor Mikiss
fazia o impossível para
manter sob controle o
interceptador falita em
sua desesperada fuga.
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
41
Os últimos sobreviventes de uma civilização arrasada pela ofensiva falita forneceram à tripulação do Venturer os
meios de fuga. O pequeno módulo que recolheu os emissários deixados no planeta em ruínas conduziu-os a um lugar
seguro e lhes ofereceu transporte para a Federação.
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
42
Embora completamente despreparado para o ataque falita, o povo ameaçado lutou com indômita bravura para
defender sua civilização. Aqui, uma nave bélica falita estremece ante o impacto de tiros certeiros disparados por
uma das poucas naves de guerra que lhes ofereciam resistência.
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
43
A rota em curva estabelecida para a viagem de regresso contornava os limites da galáxia, na tentativa de despistar
qualquer perseguição falita.
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
44
Epílogo
A viagem de regresso à Federação
foi realizada através de uma rota em
curva, de modo a frustrar qualquer
tentativa falita de detectar seu rumo e
destino. O trajeto descrevia uma
curva a grande distância do Perímetro
Galáctico, a qual se dobrava na borda
exterior do braço em espiral em que
se definia. Embora os tripulantes do
desditoso
Venturer
houvessem
envelhecido menos de um ano
durante sua épica viagem, todos
sabiam que haveria pouca coisa
familiar a eles nos planetas da
Federação, pois haveriam decorrido
centenas de anos de tempo real. A
única esperança era que seus novos
governantes se lembrassem deles e do
objetivo de sua missão. Assim, foi
com grande apreensão que a equipe
se reuniu na sala de controle
principal, enquanto os monitores da
nave detectavam alguns débeis sinais
de uma baliza federativa na região
limítrofe do perímetro.
Observando
em
silêncio
a
transferência para o espaço real, todos
remoíam a certeza da morte de seus
entes queridos e a total mudança por
que passaram seus mundos nativos,
naquele momento tão estranhos
quanto os planetas que haviam
visitado, em sua viagem pelo espaço
desconhecido. Uma vez concluída a
transferência, Mor Mikiss e Mas
Rahzell, o oficial de telecomunicações, apresentaram ao comandante
da nave de fuga o código padrão de
identificação federativa. O sinal foi
logo emitido em difusão aleatória:
"Emissor não registrado - Favor
fornecer código tráfego -, Destino
Terra - Responder código Venturer
Dois - Esperar liberação". Os sinais
continuaram
a
ser
emitidos
ininterruptamente por quase uma
hora; em dado instante, ouviram-se
estalidos nos receptores anunciando a
resposta: "Venturer Dois - Seu código
UBX 9443in - Sua referência baliza
reentrada PC 114 - Fornecer ETA e
aguardar confirmação - Favor referir
objetivo e local de origem - Nossos
registros incompletos".
Mor Mikiss comunicou o tempo
previsto de chegada da nave à baliza
de Próxima do Centauro e informou
quem eram e o porquê de sua não-
inclusão nos registros de tráfego
correntes. A resposta veio logo em
seguida: "Para UBX 9443in –
Liberado para trânsito interno
Venturer Dois - Bem-vindos".
Quando chegaram à baliza, havia
uma nave de escolta e uma frota de
aparelhos civis à espera. Após as
comemorações e o período de
repouso e readaptação, teve início a
exposição dos fatos. Havia muito para
ser contado e ainda mais para ser
apreendido nos dias que se seguiriam.
Visto os primeiros refugiados do
imperialismo falita terem começado a
chegar à Federação algum tempo
antes, boa parte da história já era de
conhecimento das autoridades, tendose
estabelecido
planos
de
contingência para a eventualidade de
os falitas obterem êxito em sua
perseguição às naves fugitivas. A
maioria dos alienígenas sem lar
encontrara a oportunidade de começar
nova vida em um dos planetas recémcolonizados do perímetro; os
salvadores da tripulação ficaram
muito entusiasmados com a notícia, e
mostravam-se bastante ansiosos para
unirem-se a seus semelhantes.
Após a conclusão da exposição de
fatos, alguns dos tripulantes do
Venturer decidiram-se por continuar a
serviço da Força de Segurança,
enquanto outros optaram entre o
exercício civil de sua profissão e a
prestação de serviços nas novas
colônias do perímetro. Todavia, todos
se sentiam unidos por um elo comum:
durante muito tempo, nenhum de seus
compatriotas haveria de se aproximar
dos confins do espaço, onde os
tripulantes do Venturer um dia
haviam estado, e de onde não tinham
trazido boas recordações.
Embora os falitas dificilmente
empreendessem a longa viagem à
Federação,
redobraram-se
os
cuidados de defesa no perímetro, com
periódicos vôos de patrulhamento.
CÍRCULO DO LIVRO S.A.
Caixa postal 7413
São Paulo, Brasil
Edição integral
Título do original: ''Star Quest"
Copyright @ 1979 Intercontinental Book Productions
Tradução: Nelson Pujol Yamamoto
Layout da capa: Yae Takeda
Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell
Licença editorial para o Círculo do Livro
por cortesia da Intercontinental Book Productions
Composto pela Linoart Ltda.
Impresso pela Impres
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