Síndrome de burnout ou estafa profissional e os transtornos

Transcrição

Síndrome de burnout ou estafa profissional e os transtornos
Revisão da Literatura
Síndrome de burnout ou estafa profissional
e os transtornos psiquiátricos
Burnout syndrome and psychiatric disorders
Telma Ramos Trigo1, Chei T ung Teng2, Jaime Eduardo Cecílio Hallak3
Médica psiquiatra, mestranda do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP).
1
Médico e doutor em psiquiatria, coordenador do Pronto Atendimento do Instituto de Psiquiatria HC-FMUSP e Supervisor do Ambulatório do Grupo de Interconsultas do Instituto de Psiquiatria do HC-FMUSP.
2
Professor doutor do Departamento de Neurologia, Psiquiatria e Psicologia Médica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP.
3
Recebido: 13/08/2006 – Aceito: 17/01/2007
Resumo
Contexto: A síndrome de burnout é conseqüente a prolongados níveis de estresse no trabalho e compreende exaustão emocional, distanciamento das relações pessoais e diminuição do sentimento de realização pessoal. Objetivo:
O objetivo deste artigo foi realizar uma revisão bibliográfica a respeito da síndrome no Brasil e em outros países,
considerando sua prevalência, possíveis fatores de risco para seu desenvolvimento, sua associação com outros transtornos psiquiátricos e conseqüências para o indivíduo e a organização em que trabalha. Métodos: Realizou-se uma
revisão bibliográfica utilizando-se a base de dados da MedLine, Scielo, American Psychiatry Association, EvidenceBased Mental Health, American College of Physicians, Agency for Healthcare Research and Quality, National Guideline Clearinghouse e da Organização Mundial da Saúde no período compreendido entre 1985 e 2006. Conclusão:
A prevalência da síndrome de burnout ainda é incerta, mas dados sugerem que acomete um número significativo de
indivíduos, variando de aproximadamente 4% a 85,7%, conforme a população estudada. Pode apresentar comorbidade
com alguns transtornos psiquiátricos, como a depressão. Os efeitos do burnout podem prejudicar o profissional em
três níveis: individual (físico, mental, profissional e social), profissional (atendimento negligente e lento ao cliente,
contato impessoal com colegas de trabalho e/ou pacientes/clientes) e organizacional (conflito com os membros da
equipe, rotatividade, absenteísmo, diminuição da qualidade dos serviços). Mais pesquisas devem ser realizadas para
que mudanças positivas nas organizações de trabalho sejam baseadas em evidências científicas.
Trigo, T.R. et al. / Rev. Psiq. Clín 34 (5); 223-233, 2007
Palavras-chave: Estafa profissional, trabalho, estresse, prevalência, transtornos psiquiátricos.
Abstract
Background: Burnout syndrome is consequent of prolonged levels of stress in the work’s environment. Objective:
The aims of this article are to obtain information about the syndrome’s prevalence in Brazil and in other countries,
the risk factors responsible for its development, its association with psychiatric disorders and consequences for the
individual and for the organization. Methods: It was carried out a review using database from MedLine, Scielo,
American Psychiatry Association, Evidence-Based Mental Health, American College of Physicians, Agency for Healthcare Research and Quality, National Guideline Clearinghouse and from World Health Organization, between 1985
and 2006. Conclusion: The prevalence is still uncertain, but data suggest that it could affect a significant number
of individuals, range from aproximately 4% to 85.7% according to the studied population. It could be presented as a
comorbidity with some psychiatric illnesses like depressive disorder. The effects of burnout could interfere negatively
Endereço para correspondência: Telma Ramos Trigo. Av. Ovídio Pires de Campos, 785, 3º andar, Sala 12 – 05403-010 – São Paulo, SP. E-mail: [email protected]
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in the individual level (physical, mental, professional and social); professional level (slow and negligent service to the
patient/customer, impersonal contact with colleagues and/or patient/customers); and organizational level (conflict
with the team’s members, turnover, absenteeism, diminishing of service’s quality). More researches should be carried
out to organizations make positive changes based in scientific evidences.
Trigo, T.R. et al. / Rev. Psiq. Clín 34 (5); 223-233, 2007
Key-words: Burnout, work, stress, prevalence, psychiatry disorders.
Introdução
O trabalho é uma atividade que pode ocupar grande
parcela do tempo de cada indivíduo e do seu convívio
em sociedade. Dejours (1992) afirmava que o trabalho
nem sempre possibilita realização profissional. Pode,
ao contrário, causar problemas desde insatisfação
até exaustão.
Estudos mostram que o desequilíbrio na saúde
do profissional pode levá-lo a se ausentar do trabalho
(absenteísmo), gerando licenças por auxílio-doença e a
necessidade, por parte da organização, de reposição de
funcionários, transferências, novas contratações, novo
treinamento, entre outras despesas. A qualidade dos
serviços prestados e o nível de produção fatalmente são
afetados, assim como a lucratividade (Moreno-Jimenez,
2000; Schaufeli, 1999c).
Freudenberger (1974) criou a expressão staf f
burnout para descrever uma síndrome composta por
exaustão, desilusão e isolamento em trabalhadores da
saúde mental.
Desde essa época, tal síndrome tem sido tema de um
grande número de artigos, de livros; de discussões em
congressos, como o debate sobre o “Burnout entre os
psiquiatras” realizado no Encontro Anual da Associação
Americana de Psiquiatria (Sharkey e Chong, 2006); de
discussões entre profissionais de várias ocupações,
como médicos que se reúnem para buscar soluções para
a síndrome (Gesensway, 2006; Martin, 1999) e enfermeiros que incluem o burnout como um dos causadores da
diminuição da qualidade de seus serviços. Chegou-se
a relatar que próximo a 18% dos pacientes dos Estados
Unidos e Inglaterra e mais de 27% deles no Canadá classificaram sua última internação em relação aos cuidados
da equipe como regular ou limitada. Sugere-se que entre
os fatores causais da diminuição da qualidade dos cuidados está a escassez de enfermeiros, que, por sua vez,
é patrocinada pelo burnout, insatisfação e pela própria
diminuição do número desses profissionais (Aiken et
al., 2002; Grady e Makulowich, 2003).
O burnout foi reconhecido como um risco ocupacional para profissões que envolvem cuidados com
saúde, educação e serviços humanos (Golembiewski,
1999; Maslach, 1998; Murofuse et al., 2005). No Brasil,
o Decreto no 3.048, de 6 de maio de 1999, aprovou o
Regulamento da Previdência Social e, em seu Anexo II,
trata dos Agentes Patogênicos causadores de Doenças
Profissionais. O item XII da tabela de Transtornos Mentais e do Comportamento Relacionados com o Trabalho
(Grupo V da Classificação Internacional das Doenças –
CID-10) cita a “Sensação de Estar Acabado” (“Síndrome
de Burnout”, “Síndrome do Esgotamento Profissional”)
como sinônimos do burnout, que, na CID-10, recebe o
código Z73.0.
O burnout pode ser considerado um grande problema no mundo profissional da atualidade (World Health
Organization, 1998).
Objetivo
Este artigo tem como finalidade apresentar uma revisão sobre alguns aspectos da síndrome de burnout.
Objetiva levantar informações a respeito da prevalência
da síndrome tanto no Brasil como em outros países,
assim como os fatores considerados de risco para seu
desenvolvimento, sua associação com outros transtornos psiquiátricos e conseqüências para o indivíduo
e a organização.
Materiais e métodos
Realizou-se revisão bibliográfica utilizando-se a base
de dados MedLine, Scielo, American Psychiatr y
Association, Evidence-Based Mental Health, American
College of Physicians, Agency for Healthcare Research
and Quality, National Guideline Clearinghouse e da
Organização Mundial da Saúde (OMS).
Utilizaram-se os unitermos: burnout syndrome,
psychiatry, prevalence, risk factors, depressive disorder,
anxiety disorder, suicidal behavior, dissociative disorder,
dissociation, alcohol, drug abuse, psychosomatic disorders, psychotic disorders, personality disorders, dementia,
mental retardation, cognitive disorders, stress, work,
clinical symptoms.
A busca foi feita para o período compreendido entre
1985 e 2006, cruzando-se o unitermo burnout com os
outros citados e selecionando-se artigos publicados nas
línguas portuguesa, espanhola, alemã e inglesa.
Após a seleção dos artigos, fez-se busca ativa entre as
citações bibliográficas para identificar artigos de relevância
que não tivessem aparecido no primeiro levantamento.
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Selecionaram-se artigos empíricos, epidemiológicos,
conceituais e de revisão que relacionassem o burnout,
seus aspectos conceituais e comorbidades aos trabalhadores da área da saúde. Alguns estudos em educadores
foram considerados quando relacionados ao burnout e às
doenças psiquiátricas, assim como burnout e prevalência
no Brasil em razão do menor número de publicações
sobre tais temas.
Foram excluídos artigos que abordaram outras categorias profissionais com exceção às que preencheram
os critérios citados.
Aspectos conceituais
O termo burnout é definido, segundo um jargão inglês,
como aquilo que deixou de funcionar por absoluta falta
de energia. Metaforicamente é aquilo, ou aquele, que
chegou ao seu limite, com grande prejuízo em seu desempenho físico ou mental.
A síndrome de burnout é um processo iniciado com
excessivos e prolongados níveis de estresse (tensão) no
trabalho. Para o diagnóstico, existem quatro concepções
teóricas baseadas na possível etiologia da síndrome:
clínica, sociopsicológica, organizacional, sociohistórica
(Murofuse et al., 2005). A mais utilizada nos estudos
atuais é a concepção sociopsicológica. Nela, as características individuais associadas às do ambiente e às
do trabalho propiciariam o aparecimento dos fatores
multidimensionais da síndrome: exaustão emocional
(EE), distanciamento afetivo (despersonalização – DE),
baixa realização profissional (RP) (Cherniss, 1980b;
World Health Organization, 1998).
A exaustão emocional abrange sentimentos de
desesperança, solidão, depressão, raiva, impaciência,
irritabilidade, tensão, diminuição de empatia; sensação
de baixa energia, fraqueza, preocupação; aumento
da suscetibilidade para doenças, cefaléias, náuseas,
tensão muscular, dor lombar ou cervical, distúrbios
do sono (Cherniss, 1980a; World Health Organization,
1998). O distanciamento afetivo provoca a sensação
de alienação em relação aos outros, sendo a presença
destes muitas vezes desagradável e não desejada
(Cherniss, 1980a; World Health Organization, 1998).
Já a baixa realização profissional ou baixa satisfação
com o trabalho pode ser descrita como uma sensação
de que muito pouco tem sido alcançado e o que é rea­
lizado não tem valor (Cherniss, 1980a; World Health
Organization, 1998).
Em revisão sistemática e meta-análise de 485
estudos com uma amostra de 267.995 indivíduos,
avaliaram-se evidências que relacionavam satisfação
com o trabalho a bem-estar físico e mental. Houve
intensa associação entre baixos níveis de satisfação
com o trabalho e problemas mentais e psicológicos
como burnout, auto-estima, depressão e ansiedade
(Faragher et al., 2005).
Aspectos epidemiológicos
Prevalência
Como o burnout é conseqüente a um processo crônico
de estresse, cabe relatar que, na Europa, o estresse aparece como um dos fatores mais importantes em relação
à diminuição da qualidade da saúde na década de 1990
(European Foundation for the Improvement of Living
and Working Conditions, 1995/6).
HERO (Health Enhancement Research Organization),
ao avaliar 46 mil funcionários nos setores público e privado, relatou resultados de uma análise retrospectiva sobre
queixas médicas, riscos para a saúde e os custos adicionais
em razão desses fatores (Goetzel et al., 1998). A tabela 1
mostra a relação entre os fatores de risco para aumento
dos custos médicos e os valores desses custos.
Tabela 1. Relação entre fatores de risco para aumento dos
custos médicos e valores desses custos
Fator de risco responsável pelo aumento
dos custos médicos
Aumento dos custos
médicos (%)
Primeiro lugar entre todos: depressão
70%
Estresse elevado associado à
incapacidade por parte do funcionário em
lidar com esse estado
46%
Associação de a + b
147%
Adaptado de Goetzel et al. (1998).
Nos Estados Unidos, o estresse e problemas relacionados, como é o burnout, provocam um custo calculado
de mais de $150 bilhões anualmente para as organizações
(Donatelle e Hawkins, 1989). As implicações financeiras
específicas do burnout merecem ser avaliadas diante da insatisfação, absenteísmo, rotatividade e aposentadoria precoce causados pela síndrome (World Health Organization,
2003). No Canadá, estudo evidenciou que enfermeiros
possuíam uma das taxas mais altas de licenças médicas entre todos os trabalhadores, o que se devia, principalmente,
ao burnout, ao estresse induzido pelo trabalho e às lesões
musculoesqueléticas(Shamian et al., 2003).
Em estudo de equipe pertencente à OMS, considerou-se o burnout como uma das principais doenças
dos europeus e americanos, ao lado do diabetes e das
doenças cardiovasculares (Akerstedt, 2004; Weber e
Jaekel-Reinhard, 2000). A OMS convocou um grupo internacional de conhecedores no assunto como Cherniss
(EUA), Cooper (Reino Unido), entre outros, a fim de
elaborar medidas para a sua prevenção (World Health
Organization, 1998).
Em relação à população geral, pouco se sabe sobre
a prevalência do burnout.
Um levantamento alemão estimou que 4,2% de sua
população de trabalhadores era acometida pela síndrome (Houtman et al., 1998).
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Uma proporção relevante das pesquisas avaliou
trabalhadores da área de saúde, obtendo dados muitas
vezes semelhantes.
Um estudo sugeriu que a síndrome poderia afetar
mais de 40% dos médicos em um nível suficiente para
comprometer o bem-estar pessoal ou o desempenho
profissional destes (Henderson, 1984).
Em relação às equipes de saúde européias, apesar de
não se citarem dados estatísticos, há grande preocupação com o aumento do número de profissionais médicos
acometidos pela síndrome tanto pelo comprometimento
da saúde desses trabalhadores e da qualidade dos cuidados com os pacientes quanto pelos prejuízos financeiros
que causa (World Health Organization, 2003).
Sintomas de estresse, burnout e pensamentos suicidas foram avaliados em uma população de 2.671 médicos
finlandeses (Olkinuora et al., 1990). Os que apresentaram maiores índices de elevado burnout pertenciam à
clínica médica, medicina do trabalho, psiquiatria, inclusive a infantil, medicina interna, oncologia, dermatologia, infectologia, radiologia, neurologia e pneumologia.
Os não-especialistas pontuaram um nível mais elevado
de burnout comparados aos especialistas. Já os médicos
de postos de saúde municipais tinham os mais elevados
níveis da síndrome. Os que trabalhavam no setor particular, universidades e institutos de pesquisa foram os
que apresentaram os menores níveis.
Já em 1.840 médicos americanos, os maiores índices
de elevado burnout foram detectados no serviço privado
(55%), seguido pelos médicos do setor público (39%) e
do acadêmico (37%) (Deckard et al., 1992).
Dependendo da especialidade médica ou região dos
Estados Unidos, estudos documentaram uma variação
de acometimento de médicos pelo burnout de 40% a
70% (Creagan, 1993; Creagan, 1998; Gundersen, 2001;
Spickard et al., 2002). Os grupos de alto risco eram os envolvidos em departamentos de emergência, de doenças
infecciosas, de oncologia e de medicina geral (Creagan,
1998). Em residentes de medicina interna, o índice de
burnout era de 76%, o que se relacionou à prática intensa
dos cuidados oferecidos (Shanafelt et al., 2002).
Estudo longitudinal realizado em Nova York, Chicago
e Wisconsin obteve, de um total de 422 médicos, uma
porcentagem de 27% apresentando sintomas de burnout.
Também se sugeriu que insatisfação, estresse e burnout
em médicos estavam associados a pacientes insatisfeitos
e que pouco aderiam aos tratamentos prescritos (Linzer
et al., 2002).
Um estudo mexicano evidenciou prevalência de
aproximadamente 47,16% em profissionais da atenção
primária (AP) e atenção especializada (AE) acometidos
por burnout (Martinez, 1997).
Na Espanha, um estudo transversal em médicos da
AP e AE evidenciou burnout em 85,7% dos médicos de
AP e 69,1% nos de AE (Munoz et al., 2003). Afirmou-se
que a síndrome está emergindo como um problema de
saúde pública neste país entre os profissionais de saúde
(Siguero et al., 2003).
No Brasil, a literatura encontrada nos bancos de
dados utilizados não é vasta em relação ao burnout e
sua prevalência.
No Rio Grande do Norte, um estudo realizado com
205 profissionais de três hospitais universitários constatou que 93% dos participantes de um dos hospitais
apresentavam burnout de níveis moderado e elevado
(Borges et al., 2002).
Ainda em relação aos profissionais da saúde, 136
membros da Sociedade Brasileira de Cancerologia
responderam a três questionários, um deles para avaliar
o burnout. Observou-se essa síndrome em níveis moderados ou graves em 15,7% dos médicos. Na subescala de
EE, 55,8% dos indivíduos pontuaram níveis moderado ou
grave; na subescala de DE, a pontuação correspondente
a esses níveis foi atingida por 96,1% e na subescala de
RP, 23,4% (Tucunduva et al., 2006).
Outra população-alvo de estudos sobre o burnout é
a dos educadores. Investigações (Codo, 1999) sobre a
saúde mental dos professores de 1o e 2o graus em todo
o país, abrangendo 1.440 escolas e 30 mil professores,
revelaram que 26% da amostra estudada apresentava
exaustão emocional. Essa proporção variou de 17% em
Minas Gerais e no Ceará a 39% no Rio Grande do Sul.
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (URFJ),
para ilustrar o grau de estresse inerente ao conflito entre
aumento da competição no meio científico e diminuição
dos recursos empregados, realizou entrevistas abertas
e semi-estruturadas com estudantes de graduação,
pós-doutorandos e professores do Departamento de
Bioquímica da URFJ, respeitado na tradição em pesquisa. Concluiu-se que a escassez de recursos promove
burnout, competição, estresse no trabalho e sofrimento
mental (Meis et al., 2003a).
Fatores de risco para o desenvolvimento da
síndrome de burnout
Para a enumeração dos fatores de risco para o desenvolvimento do burnout, são levadas em consideração quatro
dimensões: a organização, o indivíduo, o trabalho e a
sociedade (World Health Organization, 1998).
Organização
Em relação aos fatores relacionados à organização
que influenciam o desenvolvimento do burnout, alguns
itens são mencionados na tabela 2.
Indivíduo
Acredita-se que características próprias do indivíduo
podem estar associadas a maiores ou menores índices
de burnout (Tabelas 3 e 4).
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Tabela 2. Fatores organizacionais associados a índices superiores da síndrome de burnout e suas possíveis conseqüências
Fator
Burocracia (excesso de normas)
Falta de autonomia (impossibilidade de tomar decisões sem ter de
consultar ou obter autorização de outrem)
Normas institucionais rígidas
Mudanças organizacionais freqüentes (alterações freqüentes de regras
e normas)
Falta de confiança, respeito e consideração entre os membros de uma equipe
Comunicação ineficiente
Impossibilidade de ascender na carreira, de melhorar sua remuneração,
de reconhecimento de seu trabalho, entre outras
O ambiente físico e seus riscos, incluindo calor, frio e ruídos excessivos
ou iluminação insuficiente, pouca higiene, alto risco tóxico e até de vida
Outros fatores: acúmulo de tarefas por um mesmo indivíduo; convívio com
colegas afetados pela síndrome (Schaufeli, 1999c)
Possíveis conseqüências
Impede a autonomia, a participação criativa e, portanto, a tomada de
decisões. As atividades são realizadas lentamente, demandando muito tempo
e muita energia por parte da equipe e/ou indivíduo na sua manutenção.
Exemplo: tempo gasto no preenchimento de formulários, relatórios,
participação em reuniões administrativas (Maslach e Leiter, 1997; Vega, 1997)
Impossibilita a liberdade de ação e independência profissionais (Maslach e
Leiter, 1997; Vega, 1997; Gil-Monte, 1997; Kurowski, 1999; Schaufeli, 1999a)
Impedem que o trabalhador atinja a autonomia e o sentir-se no controle
de suas tarefas (Maslach e Leiter, 1997; Vega, 1997; Carlotto, 2001)
Provocam insegurança, predispondo o funcionário a erros (Maslach e
Leiter, 1997; Carlotto, 2001)
Provoca um clima social prejudicial (Maslach e Leiter, 1997; Vega, 1997;
Gil-Monte, 1997; Schaufeli, 1999c)
Provoca distorções e lentificação na disseminação da informação
(Maslach e Leiter, 1997; Vega, 1997; Gil-Monte, 1997; Schaufeli, 1999a)
Pode provocar grande desestímulo no trabalhador (Maslach e Leiter, 1997;
Kurowski, 1999)
Geram sentimentos de ansiedade, medo e impotência (Maslach e Leiter,
1997; Veja, 1997; Kurowski, 1999)
Tabela 3. Fatores individuais (características de personalidade) associados a índices inferiores da síndrome de burnout
Fator
Tipo de personalidade com características resistentes ao estresse ou
hardness (Maslach et al., 2001; Schaufeli e Enzmann, 1998)
Lócus de controle interno
Características
Envolvem-se em tudo o que fazem; acreditam possuir domínio da situação;
encaram as situações adversas com otimismo e como oportunidade de
aprendizagem (Antonovsky, 1987; Kobasa, 1979; Mendes, 1999; MorenoJiménez, 1999; Sörderfeldt et al., 2000)
Responsabilizam-se pelos sucessos de sua própria vida, sendo estes
encarados como conseqüentes às suas habilidades e seus esforços (Maslach
et al., 2001; Schaufeli e Enzmann, 1998; Antonovsky, 1987; Kobasa, 1979;
Mendes, 1999; Moreno-Jiménez, 1999; Sörderfeldt et al., 2000)
Auto-estima, autoconfiança, auto-eficácia (Maslach et al., 2001;
Schaufeli e Enzmann, 1998; Gil-Monte, 1997; Codo, 1999)
Tabela 4. Fatores individuais (características de personalidade) associados a índices superiores da síndrome de burnout
Fator
Padrão de personalidade
Lócus de controle externo
Superenvolvimento
Características
Indivíduos competitivos, esforçados, impacientes, com excessiva necessidade de controle das situações, dificuldade
em tolerar frustração (Antonovsky, 1987; Kobasa, 1979; Kurowski, 1999; Maslach et al., 2001; Mendes, 1999; MorenoJiménez et al., 1999; Nagy e Davis, 1985; Schaufeli e Enzmann, 1998; Sörderfeldt et al., 2000)
Consideram que suas possibilidades e acontecimentos de vida são conseqüentes à capacidade de outros, à sorte ou
ao destino (Antonovsky, 1987; Kobasa, 1979; Kurowski, 1999; Maslach et al., 2001; Mendes, 1999; Moreno-Jiménez et al.,
1999; Schaufeli e Enzmann, 1998; Sörderfeldt et al., 2000)
Sujeitos empáticos, sensíveis, humanos, com dedicação profissional, altruístas, obsessivos, entusiastas, suscetíveis a
se identificarem com os demais (Gil-Monte, 1997; Meis et al., 2003b)
Indivíduos pessimistas
Costumam destacar os aspectos negativos, prevêem insucesso, sofrendo por antecipação (Antonovsky, 1987; Kobasa,
1979; Mendes, 1999; Moreno-Jiménez et al., 1999; Sörderfeldt et al., 2000; Kirk, 1995)
Indivíduos perfeccionistas
São bastante exigentes consigo mesmos e com os outros, não tolerando erros e dificilmente se satisfazendo com
os resultados das tarefas realizadas (Antonovsky, 1987; Kobasa, 1979; Mendes, 1999; Moreno-Jiménez et al., 1999;
Sörderfeldt et al., 2000)
Podem deixar de ser realistas, tendo grandes chances de se decepcionarem. Se associado ao otimismo, pode levar a
baixos índices de burnout (Antonovsky, 1987; Kobasa, 1979; Maslach et al., 2001; Mendes, 1999; Moreno-Jiménez et al., 1999;
Schaufeli e Enzmann, 1998; Sörderfeldt et al., 2000; Kirk, 1995; Carlotto, 2001; Codo, 1999; Meis et al., 2003b)
São inseguros, preocupam-se excessivamente, têm dificuldade em delegar tarefas e em trabalhar em grupo (Firth, 1985)
Mantêm-se na defensiva e tendem à evitação diante das dificuldades (Antonovsky, 1987; Kobasa, 1979; Maslach et al.,
2001; Mendes, 1999; Moreno-Jiménez et al., 1999; Schaufeli e Enzmann, 1998; Sörderfeldt et al., 2000)
Indivíduos com grande
expectativa e idealismo em
relação à profissão
Indivíduos controladores
Indivíduos passivos
Gênero
Nível educacional
Estado civil
As mulheres apresentam maior pontuação em exaustão emocional; e os homens, em despersonalização (Burke, 1989)
Indivíduos com nível mais elevado (Maslach et al., 2001)
Maior risco em solteiros, viúvos ou divorciados (Maslach et al., 2001; Nagy e Davis, 1985; Raquepaw, 1989) ou o oposto
(Ross e Russel, 1989; Schaufeli, 1999a)
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Trabalho
Em relação aos fatores relacionados ao trabalho, alguns associados à síndrome de burnout são citados
na tabela 5.
Sociedade
Os fatores sociais associados à síndrome de burnout são
apresentados na tabela 6.
Associação com transtornos psiquiátricos
Burnout e depressão
Dúvidas sobre a definição diagnóstica da síndrome de
burnout, suas diferenças e correlações com a depressão
ainda estão em estudo.
Testou-se a validade discriminativa da síndrome de
burnout em contraste com transtorno depressivo em
professors pré-escolares, médicos-assistentes e familiares. Os resultados indicaram validade para o burnout,
diferenciando-o da depressão (Reime e Steiner, 2001).
Em outro estudo, os índices de burnout e a sintomatologia depressiva mostraram significativa associação
entre essas patologias. A sobreposição à exaustão
emocional é digna de nota (aproximadamente 20%). Já
a baixa associação entre o Inventário de Depressão de
Beck e as dimensões RP e DE não dá suporte à idéia de
que o burnout é uma forma de depressão relacionada
ao trabalho (Glass e McKnight, 1996).
Alguns autores acreditam que a depressão seguiria
o burnout e que altos níveis de exigência psicológica,
baixos níveis de liberdade de decisão, baixos níveis de
apoio social no trabalho e estresse devido a trabalho inadequado são preditores significantes para subseqüente
depressão. Sugere-se também que os indivíduos jovens
com burnout têm maior porcentagem de depressão leve
do que ausência de depressão (Iacovides et al., 2003).
Tabela 5. Fatores laborais (características do trabalho) associados a índices superiores da síndrome de burnout
Fator
Características
Sobrecarga
Quantidade ou qualidade excessiva de demandas que ultrapassam a capacidade de
desempenho, por insuficiência técnica, de tempo ou de infra-estrutura organizacional
(Kurowski, 1999; Maslach et al., 2001; Schaufeli, 1999a; Schaufeli e Enzmann, 1998;
Vega, 1997)
Pressão no trabalho propicia, principalmente, o aparecimento de exaustão emocional
(Maslach et al., 2001; Vega, 1997; Carlotto, 2001)
Baixo nível de controle das atividades ou acontecimentos
no próprio trabalho; baixa participação nas decisões
sobre mudanças organizacionais
Expectativas profissionais
Provocam pouca ou nenhuma satisfação do trabalhador pelo seu trabalho (Kurowski, 1999;
Maslach et al., 2001; Schaufeli, 1999a; Vega, 1997; Gil-Monte, 1997)
Sentimentos de injustiça e de iniqüidade
nas relações laborais
Podem ser conseqüentes a carga de trabalho, salários desiguais para o mesmo cargo,
ascensão de colega sem merecimento (Maslach et al., 2001; Peiró, 1999; Maslach e Leiter, 1997)
Trabalho por turnos ou noturno
Chega a afetar cerca de 20% dos trabalhadores, acarretando transtornos físicos e
psicológicos (Peiró, 1999)
Mais propensos: os que precisam efetuar mudanças em períodos de tempo a cada 2 ou 3
dias, passando alternadamente do período diurno para o noturno e vice-versa (Peiró, 1999)
Precário suporte organizacional e relacionamento
conflituoso entre colegas
Provocam pensamentos de não poder contar com ninguém; sentem-se desamparados,
carentes de orientação, desrespeitados
Quadro piora na presença de indivíduos competitivos, distantes, excessivamente críticos
ou preguiçosos (Kurowski, 1999; Maslach et al., 2001; Schaufeli, 1999a; Schaufeli e
Enzmann, 1998; Vega, 1997; Carlotto, 2001; Gil-Monte, 1997; Maslach e Leiter, 1997)
Tipo de ocupação
É maior em relação aos cuidadores em geral (Veja, 1997; Maslach e Jackson, 1999)
Relação muito próxima e intensa do trabalhador com as
pessoas a que deve atender; responsabilidade sobre a
vida de outrem
Conflitos de papel
Exemplos: cuidadores de deficientes mentais, Aids, Alzheimer (Vega, 1997; Peiró, 1999;
Maslach e Jackson, 1999)
Ambigüidade de papel
Indivíduos com discrepâncias entre suas expectativas de desenvolvimento profissional e aspectos
reais de seu trabalho (Vega, 1997; Carlotto, 2001; Peiró, 1999)
Papel: conjunto de funções, expectativas e condutas que uma pessoa deve desempenhar
em seu trabalho
Conflito de papel: embate entre informações e expectativas do trabalhador sobre seu
desempenho em um determinado cargo ou função na instituição (Kurowski, 1999; Maslach et
al., 2001; Schaufeli, 1999a; Vega, 1997; Gil-Monte, 1997)
Ambigüidade de papel: normas, direitos, métodos e objetivos pouco delimitados ou claros
por parte da organização (Kurowski, 1999; Maslach et al., 2001; Schaufeli, 1999a; Vega,
1997; Gil-Monte, 1997)
Trigo, T.R. et al. / Rev. Psiq. Clín 34 (5); 223-233, 2007
229
Tabela 6. Fatores sociais associados a índices superiores da síndrome de burnout
Fator
Características
Falta de suportes social e familiar
Impede o indivíduo de contar com colegas, amigos de confiança e familiares
(Constable e Russell, 1986; Maslach e Leiter, 1997; Maslach et al., 2001)
Manutenção do prestígio social em oposição à baixa salarial
que envolve determinada profissão
O indivíduo busca vários empregos, surgindo sobrecarga de trabalho e,
conseqüentemente, pouco tempo para descanso e lazer, para atualização profissional,
levando-o à insatisfação e à insegurança nas atividades desempenhadas (Constable e
Russell, 1986; Maslach e Leiter, 1997; Maslach et al., 2001)
Valores e normas culturais
Podem incrementar ou não o impacto dos agentes estressores no desencadeamento
do burnout (Constable e Russell, 1986; Maslach e Leiter, 1997; Maslach et al., 2001)
Examinou-se a relação entre variáveis ocupacionais
(predisponentes à síndrome de burnout) e os transtornos
depressivos. Constatou-se que indivíduos que trabalham
em condições de muitas demandas psicológicas associadas
a baixo poder de decisão têm maior prevalência de depressão quando comparados aos trabalhadores não expostos a
essas condições (Mausner-Dorsch e Eaton, 2001).
Diante da hipótese de que a suscetibilidade para
depressão associa-se ao aumento de risco para o desenvolvimento de burnout, avaliaram-se os índices pessoais
e história familiar de depressão e sintomas de burnout,
confirmando tal hipótese (Nyklicek e Pop, 2005).
Outro estudo avaliou a associação entre transtornos
psiquiátricos e nível do cargo ocupado em oficiais do
governo japonês para detecção de estresse, transtornos
psiquiátricos e síndrome de burnout. Como resultados,
encontraram-se várias correlações. Primeira: quanto
maior o nível de estresse associado a limitado apoio da
organização ao funcionário, maior a probabilidade de
desenvolver síndrome de burnout. Segunda: quanto mais
forte for o suporte da organização, menor a tendência
em se desenvolver depressão. Constatou-se que oficiais
ocupando cargos de alto nível recebiam menor apoio
organizacional e estavam mais severamente deprimidos
quando comparados a oficiais em cargos hierarquicamente mais baixos (Nadaoka et al., 1997).
Burnout e transtornos ansiosos
Não se encontraram estudos que avaliassem a associação de transtornos ansiosos específicos (transtorno do
pânico, fobia social, ansiedade generalizada, transtorno
obsessivo-compulsivo, transtorno do estresse póstraumático) e burnout.
Estudo realizado em Sidney, Austrália, avaliou 110
estudantes do primeiro ano do programa de graduação
médica a fim de determinar a prevalência de desordens
psiquiátricas e burnout no último ano de Medicina.
Constatou-se que o número de participantes que preen­
chiam critérios tanto para desordens psiquiátricas
(como transtornos de ansiedade) quanto para o burnout
cresceu ao longo do período do estudo (Willcock et
al., 2004).
Em Chicago (EUA), constatou-se que dentistas se
deparam com numerosas fontes de estresse profissional, iniciadas já na faculdade. Afirmou-se que estão
propensos a burnout, transtornos ansiosos e depressivos
em razão da natureza da prática clínica e dos traços de
personalidade comuns aos que decidem pela carreira
odontológica (Rada e Johnson-Leong, 2004).
Burnout e suicídio
Estudaram-se ideação suicida, tentativa de suicídio e os
aspectos relacionados ao ambiente de trabalho. Quatro
fatores foram relacionados: propensão ao suicídio,
qualidade do trabalho, ambiente de trabalho negativo
e burnout/depressão. A correlação entre esses fatores
sugeriu que o ambiente de trabalho, quando negativo,
estava associado a burnout/depressão, que, por sua
vez, estavam relacionados a maior probabilidade de
ideação suicida e tentativa de suicídio (Samuelsson et
al., 1997).
Burnout e dissociação
O levantamento realizado mostrou um estudo cujas
evidências sugeriram que trabalho próximo e prolongado a vítimas de trauma e de abuso sexual pode causar
conseqüências psicológicas para os profissionais que
lidam com essas situações, como o burnout. Entre as
possíveis conseqüências, tem-se o desenvolvimento de
episódios dissociativos, ansiedade, depressão, pensamentos intrusivos, paranóia, hipervigilância e relações
pessoais interrompidas (Juntunen et al., 1988).
Burnout e abuso/dependência ao álcool e outras
substâncias ilícitas
O estresse causado nos médicos pelo seu trabalho pode
levar ao burnout e à dependência química (Juntunen et
al., 1988; Schifferdecker et al., 1996a; 1996b).
Estudou-se o consumo de álcool em 2.671 médicos finlandeses como parte de uma pesquisa sobre
estresse e burnout. O aumento do consumo de álcool
estava associado, entre outros, a tabagismo, uso de
230
Trigo, T.R. et al. / Rev. Psiq. Clín 34 (5); 223-233, 2007
benzodiazepínicos, estresse e burnout, pensamentos
de morte, insatisfação geral. Hábitos de beber eram
mais pesados entre médicos trabalhando nos centros
comunitários de saúde, entre os que tinham licença
prolongada devido à doença, jovens médicos desapontados com suas profissões ou com o ambiente de
trabalho, e médicos mais experientes, imersos em suas
tarefas diárias. Sugeriu-se que o uso pesado de bebida
alcoólica poderia estar associado a estresse e burnout
(Blair e Ramones, 1996).
Avaliou-se a extensão de burnout entre 306 médicos
generalistas franceses. Verificou-se elevado nível de
burnout em 5% da população avaliada. De cada 3 médicos, 1 pensava em se submeter a novo treinamento,
5,5% declararam estar bebendo em excesso, 30% usavam
psicotrópicos e 13% pensavam em suicídio. A qualidade
de vida dos que sofrem com burnout foi considerada
deteriorada, também levando a conseqüências deletérias
no que se refere aos cuidados prestados aos pacientes
(Cathebras et al., 2004).
Burnout e transtornos psicossomáticos
Há muitas indicações de que situações estressantes de
origens familiar e laboral são fatores de risco para o desenvolvimento de desordens relacionadas ao estresse.
Segundo evidencia o estudo, diagnósticos como síndrome de burnout, síndrome da fadiga crônica e fibromialgia
representam modos diferentes de reagir a uma situação
opressiva. O limite entre essas doenças e, de outro lado,
depressão, doenças cardíacas, é freqüentemente impreciso; esses diagnósticos podem delinear os estágios
preliminares de doenças como angina pectoris e infarto
do miocárdio. Essas circunstâncias refletem sofrimento
considerável dos indivíduos e um fardo econômico significativo para a sociedade (Anderberg, 2001).
Em estudo realizado em Roma, avaliaram-se controladores de tráfego aéreo (CTA) e profissionais de serviços de
saúde (PSS) usando-se o Rome burnout inventory (RBI).
Os indivíduos que relatavam estar deprimidos, ansiosos
ou com impulso descontrolado preenchiam critérios para
burnout. Os maiores níveis de doenças psicossomáticas
foram encontrados nos CTA que também tiveram maior
pontuação em exaustão emocional (Venturi et al., 1994).
Burnout e demência, retardo mental, transtornos
psicóticos e de personalidade
A literatura evidencia que a síndrome de burnout pode
ocorrer em indivíduos que trabalham como cuidadores de
pacientes portadores de quadros demenciais e de retardo
mental (Duran et al., 2004; Hastings et al., 2004).
Não se evidenciou relação de causa-efeito entre burnout e demência, retardo mental, transtornos psicóticos
nem de personalidade.
Conseqüências do burnout
Muitos pontos permanecem não esclarecidos, mas os
autores, de forma geral, concordam que o burnout interfere nos níveis institucional, social e pessoal.
Para a organização
A instituição tem um aumento em seus gastos (tempo,
dinheiro) com a conseqüente rotatividade de funcionários
acometidos pelo burnout, assim como com o absenteísmo
destes (Gil-Monte, 1997; Maslach e Leiter, 1997; Maslach
et al., 2001; World Health Organization, 1998).
Há estudo afirmando que o burnout enfraquece o
interesse de alguns membros da equipe de saúde por
práticas inovadoras, contribuindo como fator impeditivo
na disseminação de condutas baseadas em evidência
(Corrigan et al., 2003; Gil-Monte, 1997; Maslach e Leiter,
1997; Maslach et al., 2001).
Segundo Maslach e Leiter (1997):
“[...] os indivíduos que estão neste processo de desgaste
estão sujeitos a largar o emprego, tanto psicológica quanto
fisicamente. Eles investem menos tempo e energia no trabalho, fazendo somente o que é absolutamente necessário
e faltam com mais freqüência. Além de trabalharem menos,
não trabalham tão bem. Trabalho de alta qualidade requer
tempo e esforço, compromisso e criatividade, mas o indivíduo desgastado já não está disposto a oferecer isso espontaneamente. A queda na qualidade e na quantidade de trabalho
produzido é o resultado profissional do desgaste”.
Para o indivíduo
O indivíduo pode apresentar fadiga constante e progressiva; dores musculares ou osteomusculares (na nuca
e ombros; na região das colunas cervical e lombar);
distúrbios do sono; cefaléias, enxaquecas; perturbações
gastrointestinais (gastrites até úlceras); imunodeficiência com resfriados ou gripes constantes, com afecções
na pele (pruridos, alergias, queda de cabelo, aumento
de cabelos brancos); transtornos cardiovasculares (hipertensão arterial, infartos, entre outros); distúrbios
do sistema respiratório (suspiros profundos, bronquite,
asma); disfunções sexuais (diminuição do desejo sexual,
dispareunia/anorgasmia em mulheres, ejaculação precoce ou impotência nos homens); alterações menstruais
nas mulheres (Araújo et al., 1998; Cherniss, 1980b; Dejours, 1992; Donatelle e Hawkins, 1989; Freudenberger,
1974; Goetzel et al., 1998; Lerman et al., 1999; Melamed
et al., 1999; Nakamura et al., 1999; Pruessner et al., 1999;
Silvany et al., 2000; World Health Organization, 1998).
Em relação ao psiquismo, pode apresentar: falta de
concentração; alterações de memória (evocativa e de
fixação); lentificação do pensamento; sentimento de solidão; impaciência; sentimento de impotência; labilidade
emocional; baixa auto-estima; desânimo (Araújo et al.,
1998; Benevides-Pereira, 2001; Donatelle e Hawkins,
Trigo, T.R. et al. / Rev. Psiq. Clín 34 (5); 223-233, 2007
1989; Freudenberger, 1974; Goetzel et al., 1998; Goetzel
et al., 2002; Silvany et al., 2000).
Pode ocorrer o surgimento de agressividade, dificuldade para relaxar e aceitar mudanças; perda de
iniciativa; consumo de substâncias (álcool, café, fumo,
tranqüilizantes, substâncias ilícitas); comportamento de
alto risco até suicídio (Araújo et al., 1998; Benevides-Pereira, 2001; Donatelle e Hawkins, 1989; Freudenberger,
1974; Goetzel et al., 1998; 2002; Murofuse et al., 2005;
Silvany, 2000).
Para o trabalho
Ocorre diminuição na qualidade do trabalho por mau
atendimento, procedimentos equivocados, negligência
e imprudência (Dejours, 1992; Freudenberger, 1974;
Gil-Monte, 1997; Maslach e Leiter, 1997; Murofuse et
al., 2005). A predisposição a acidentes aumenta devido
a faltas de atenção e concentração (Gil-Monte, 1997;
Maslach e Leiter, 1997).
O abandono psicológico e físico do trabalho pelo indivíduo acometido por burnout leva a prejuízos de tempo e
dinheiro para o próprio indivíduo e para a instituição que
tem sua produção comprometida (Constable e Russell,
1986; Gil-Monte, 1997; Maslach e Leiter, 1997; Maslach
et al., 2001; Ross e Russel, 1989; Schaufeli, 1999c). Para
que seja possível, por exemplo, o estabelecimento de
relações terapêuticas entre o profissional e o paciente,
a prevenção ao estresse e burnout está entre as principais recomendações feitas pelo National Guideline
Clearinghouse às organizações (National Guideline
Clearinghouse, 2006; Registered Nurses Association of
Ontario (RNAO), 2002; Registered Nurses Association
of Ontario (RNAO), 2006).
Para a sociedade
O indivíduo acometido por burnout pode provocar distanciamento dos familiares, até filhos e cônjuge (Constable
e Russell, 1986; Dejours, 1992; Ross Russel, 1989). Já os
clientes mal atendidos arcam com prejuízos emocionais,
físicos e financeiros que podem se estender aos seus
familiares e até ao seu ambiente de trabalho (Dejours,
1992; Maslach e Leiter, 1997).
Conclusão
A prevalência do burnout nos vários países ainda é incerta, mas dados apontam acometimento significativo
que justifica mais estudos a respeito dessa patologia
com fatores de risco multifatoriais (indivíduo, trabalho,
organização).
Pode-se apresentar em comorbidade com algumas
doenças psiquiátricas ou até desencadeá-las, como burnout seguido por transtorno depressivo. Entretanto, não
se encontraram estudos que avaliassem, por entrevistas
231
estruturadas, as taxas de comorbidade entre essas duas
condições e possíveis relações causais.
As conseqüências do burnout têm efeitos negativos
para a organização, para o indivíduo e sua profissão
(Goetzel et al., 2002; Moreno-Jimenez, 2000; Murofuse
et al., 2005; Schaufeli, 1999b).
Considerações
As pressões na saúde mental mundial estão se intensificando. De acordo com as Nações Unidas, o mundo
será mais velho, mais populoso e mais pobre aproximadamente em 2050. Como as condições ao seu redor
criam tensão (estresse) e ansiedade, mais pessoas serão
suscetíveis a transtornos mentais.
Segundo a OMS, “nossa saúde mental tem um impacto opressivo em nossas habilidades para funcionar
e participar na sociedade. Temos de começar a colocar
mais de nossos recursos a favor da saúde mental”.
Para mudanças positivas, as decisões nas instituições
têm de ser baseadas em evidências científicas sobre a
abordagem e o tratamento que mantenham a saúde mental para, só assim, alterarem as políticas de benefícios e
os recursos humanos direcionados (Moreno-Jimenez,
2000). Mais pesquisas sobre a síndrome de burnout
devem ser realizadas.
Agradecimentos
Os autores agradecem a cuidadosa revisão e as valiosas
sugestões realizadas pelo Prof. Dr. Antonio Waldo Zuardi
para a elaboração deste manuscrito.
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