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CARTA DO GESTOR
Setembro 2015
Prezado investidor,
O grande destaque em setembro foi a depreciação de 9% do Real, acumulando 27% de
queda no terceiro trimestre. A magnitude deste
movimento afetará negativamente os resultados
trimestrais de dezenas de empresas que têm passivos cambiais, mas por outro lado, permitirá que
as contas externas voltem a se equilibrar. Como o
Brasil não tem tido bons resultados em termos de
melhora de produtividade, o ajuste nominal do
câmbio, apesar de seus efeitos inflacionários, é o
mecanismo que sobrou para que as empresas brasileiras voltem a ser competitivas no âmbito externo.
O índice IBOVESPA caiu 3,3% no mês,
fechando o trimestre com queda de pouco mais de
15%. Parece ter havido uma estabilização da atividade econômica, ainda que num nível muito baixo
e com o desemprego crescente. Até quando não
sabemos. Acreditamos que, se a confiança dos
empresários e dos consumidores não for reestabelecida, novos ajustes serão feitos levando o equilíbrio da atividade ainda mais para baixo com suas
consequências negativas. E como interromper este
círculo vicioso? No nosso caso apenas com o fim
desta crise política.
A crise política ganhou dinâmica própria e já não
parece mais tão dependente da agenda econômica. Dentre as poucas coisas em que o PT teve
sucesso, se encontra a divisão da sociedade em
grupos como nordeste x sudeste, ricos x pobres,
nós x eles, patrão x empregados, brancos x negros
entre outros. E sob estas cisões a sociedade está
dividida entre os que ainda defendem este governo
e seus opositores, tratados por “golpistas” pelos
primeiros. É a triste lógica perversa e que infelizmente rege parte de nossa sociedade. Os fins justificariam os meios. Os líderes do PT, encabeçados
pelo ex-presidente Lula, assumiram que cometeram o Crime de Responsabilidade, as tais pedaladas fiscais, mas por um bom motivo: para pagar o
Bolsa-Família, o Minha Casa Minha Vida, o FIES e
para preservar o nível de atividade. Enfim, tudo
isso num ano eleitoral e sem deixar os registros
contábeis destas picardias criativas. Esperamos,
para um futuro minimamente promissor desta nação, que fique bem claro que a Lei vale para todos
e deve ser cumprida, independentemente das motivações que possam ter levado os infratores a cometer seus delitos. Ou alguém acredita que se pratica o crime por esporte?
Dentro deste conturbado período, onde o nível de
preço da Bolsa Brasileira em dólares voltou para o
nível de duas décadas atrás, novamente o governo
perdeu uma boa oportunidade, através de ações
concretas, de tentar reconquistar credibilidade junto aos mercados e investidores estrangeiros para
recuperar, ainda que parcialmente, a governabilidade.
Depois do amadorismo que foi a apresentação de
um déficit orçamentário para que o Congresso o
apreciasse, era difícil acreditar que o Planalto viria
com outra peça rudimentar. Apesar da pressão da
sociedade para que não houvesse elevação da
carga tributária e de que chegara a vez do Governo
cortar na própria carne, a presidente e sua equipe
insistiram nos mesmos erros. Não promoveram os
cortes relevantes nas despesas do Governo e insistiram nas pedaladas, medidas que servem para
empurrar o problema adiante. Anunciaram que o
reajuste dos servidores públicos seria postergado
em seis meses, por exemplo.
E depois, com a economia mais fragilizada ainda?
A recessão se aprofundando e dai as despesas
voltarão a crescer? Outra parte das despesas, como o programa Minha Casa, Minha Vida, foi empurrada para o FGTS. E no ano em que foi anunciado o aumento progressivo da remuneração deste
fundo, de TR + 3% até que atinja a remuneração
das cadernetas de poupança, de TR + 6%, seria
hora de investir o lastro do fundo em ativos de
maior risco e menor retorno? Isso para ficar apenas nos dois cortes mais relevantes e totalizando
R$ 12 bi dos R$ 26 bi anunciados.
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CARTA DO GESTOR
Setembro 2015
Podemos dizer que para gastos da ordem de R$
1,2 trilhões, esses cortes são cosméticos e de péssima qualidade. Do lado das receitas a situação é
ainda mais complicada. Da previsão de elevação
de R$ 45 bilhões, R$ 32 bi viriam da CPMF, apesar
de diversos líderes de partidos terem afirmado que
não aumentariam impostos, principalmente esse
imposto que incide em cascata, tira a competitividade das empresas e desagrada a todos, exceto à
Receita Federal.
O PT ainda não morreu. Encontra-se num avançado processo de necrose. Tecidos mortos predominam em relação àqueles ainda vivos. Mas ainda
não há a certeza da volta à democracia de fato. As
instituições funcionam bem, no papel. Na prática,
entretanto, há um nível de aparelhamento destas
instituições que não nos deixa a certeza que ao
final, a virtude sairá vencedora. E isso gera incerteza e volatilidade.
Em termos de alocação de portfólio, tivemos o desfecho da oferta pública de ações da Providência,
segunda maior posição do fundo, ao preço final a
ser pago em parcela única em torno de 9% acima
do preço anunciado quando a PGI comprou o controle da empresa em janeiro de 2014. Com os recursos provenientes desta venda, aumentamos a
exposição no setor financeiro, principalmente em
ações do Banco Itaú, negociado em torno de 7
vezes seu lucro corrente. O Itaú é o banco mais
bem gerido do país, com retorno de longo prazo
em torno de 20% sobre seu patrimônio líquido e
que distribui em torno de um terço deste resultado
aos seus acionistas. Também iniciamos investimentos em ações da maior rede varejista de bens
duráveis, a Via Varejo. O setor só desacelerou menos que o imobiliário e o de automóveis. As quedas
nas vendas estão em torno de 25% em relação ao
ano passado pela combinação de restrições de
crédito e aumento no desemprego, além da forte
queda na confiança dos consumidores. Acreditamos que a empresa já fez um importante ajuste em
termos de redução de quadros e custos e dentre
todas as empresas desate segmento seria a última
a tombar. Dito de outra forma, acreditamos que
diversos players possam não sobreviver a esta
crise aguda. Mas a crise cedo ou tarde passará. A
empresa que tem uma situação financeira confortável está sendo negociada a menos do que 10%
das vendas correntes e 40% de seu valor patrimonial.
Os sobreviventes ficarão com as batatas!!!!
Atenciosamente,
André Gordon
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