sal da terra - divulgando a doutrina espírita

Transcrição

sal da terra - divulgando a doutrina espírita
Edição Nº 54 | Abril | 2015
S AL DA T ERRA
Fundador: Nacip Gômez
Orgão de divulgação da doutrina Espírita:
Lagoa Santa, Vespasiano, Pedro Leopoldo, São José da Lapa,
Matozinhos, Sete Lagoas, Belo Horizonte, Sabará, Santa Luzia,
Betim e Conceição do Mato Dentro
“DEUS - CRISTO - CARIDADE”
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
Advento do Espírito
da Verdade
reconduzir, crianças perdidas, ao regaço de vosso Pai.
Estou demasiado tocado de compaixão pelas vossas misérias, por vossa imensa fraqueza, para não estender a mão em socorro aos infelizes extraviados que,
vendo o céu, caem nos abismos do erro. Crede, amai,
meditai todas as coisas que vos são reveladas; não misturem o joio ao bom grão, as utopias com as verdades.
Espíritas; amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo. Todas as verdades se encontram no Cristianismo; os erros que nele se enraizaram
são de origem humana; e eis que, de além túmulo, que
acreditáveis vazios, vozes vos clamam: Irmãos! Nada
perece. Jesus Cristo é o vencedor do mal; sede os
vencedores da impiedade!
ESPÍRITO DE VERDADE
Paris, 1860
5 – Venho, como outrora, entre os filhos desgarrados de Israel, trazer a verdade e dissipar as trevas.
Escutai-me. O Espiritismo, como outrora a minha palavra, deve lembrar os incrédulos que acima deles reina a
verdade imutável: o Deus bom, o Deus grande, que faz
germinar as plantas e que levanta as ondas. Eu revelei a
doutrina divina; e, como um segador, liguei em feixes o
bem esparso pela humanidade, e disse: “Vinde a mim,
todos vós que sofreis!”
Mas os homens ingratos se desviaram da estrada larga e reta que conduz ao Reino de meu Pai, perdendo-se
nas ásperas veredas da impiedade. Meu Pai não quer
aniquilar a raça humana. Ele quer que, ajudando-vos uns
aos outros, mortos e vivos, ou seja, mortos segundo a
carne, porque a morte não existe, sejais socorridos, e
que não mais a voz dos profetas e dos apóstolos, mas
a voz dos que se foram, faça-se ouvir para vos gritar:
Crede e orai! Porque a morte é a ressurreição, e a vida
é a prova escolhida, durante a qual vossas virtudes cultivadas devem crescer e desenvolver-se como o cedro.
Homens fracos, que vos limitais às trevas de vossa
inteligência, não afasteis a tocha que a clemência divina
vos coloca nas mãos, para iluminar vossa rota e vos
*
ESPÍRITO DE VERDADE
Paris, 1861
6 – Venho ensinar e consolar os pobres deserdados. Venho dizer-lhes que elevem sua resignação ao
nível de suas provas; que chorem, porque a dor no Jardim das Oliveiras, mas que esperem, porque os anjos
consoladores virão enxugar as suas lágrimas.
Trabalhadores, traçai o vosso sulco. Recomeçai no
dia seguinte a rude jornada da véspera. O trabalho de
vossas mãos fornece o pão terreno aos vossos corpos,
mas vossas almas não estão esquecidas: eu, o divino
jardineiro, as cultivo no silêncio dos vossos pensamentos. Quando soar a hora do repouso, quando a trama
escapar de vossas mãos, e vossos olhos se fecharem
para a luz, sentireis surgir e germinar em vós a minha
preciosa semente. Nada se perde no Reino de nosso Pai. Vossos suores e vossas misérias formam um
tesouro, que vos tornará ricos nas esferas superiores,
onde a luz substitui as trevas, e onde o mais desnudo
entre vós será talvez o mais resplandecente.
Em verdade vos digo: os que carregam seus fardos
e assistem os seus irmãos são os meus bem-amados.
Instrui-vos na preciosa doutrina que dissipa o erro das
revoltas e vos ensina o objetivo sublime da prova hu-
mana. Como o vento varre a poeira, que o sopro dos
Espíritos dissipe a vossa inveja dos ricos do mundo,
que são freqüentemente os mais miseráveis, porque
suas provas são mais perigosas que as vossas. Estou
convosco, e meu apóstolo vos ensina. Bebei na fonte
viva do amor, e preparai-vos, cativos da vida, para vos
lançardes um dia, livres e alegres, no seio daquele que
vos criou fracos para vos tornar perfeitos, e deseja que
modeleis vós mesmos a vossa dócil argila, para serdes
os artífices da vossa imortalidade.
*
ESPÍRITO DE VERDADE
Bordeaux, 1861
7 – Eu sou o grande médico das almas, e venho
trazer-vos o remédio que vos deve curar. Os débeis,
os sofredores e os enfermos são os meus filhos prediletos, e venho salvá-los. Vinde, pois, a mim, todos vós
que sofreis e que estais carregados, e sereis aliviados
e consolados. Não procureis alhures a força e a consolação, porque o mundo é impotente para dá-las. Deus
dirige aos vossos corações um apelo supremo através
do Espiritismo: escutai-o. Que a impiedade, a mentira, o erro, a incredulidade, sejam extirpados de vossas
almas doloridas. São esses os monstros que sugam
o mais puro do vosso sangue, e vos produzem chagas quase sempre mortais. Que no futuro, humildes e
submissos ao Criador, pratiqueis sua divina lei. Amai e
orai. Sede dócil aos Espíritos do Senhor. Invocai-o do
fundo do coração. Então, Ele vos enviará o seu Filho
bem-amado, para vos instruir e vos dizer estas boas
palavras: “Eis-me aqui; venho a vós, porque me chamastes!
*
ESPÍRITO DE VERDADE
Havre, 1863
8 – Deus consola os humildes e dá força aos aflitos que a suplicam. Seu poder cobre a Terra, e por
toda parte, ao lado de cada lágrima, põe o bálsamo
que consola. O devotamento e a abnegação são uma
prece contínua e encerram profundo ensinamento: a
sabedoria humana reside nessas duas palavras. Possam todos os Espíritos sofredores compreender estas
verdades, em vez de reclamar contra as dores, os sofrimentos mortais, que são aqui na Terra o vosso quinhão.
Tomai, pois, por divisa, essas duas palavras: devotamento e abnegação, e sereis fortes, porque elas resumem todos os deveres que a caridade e a humildade
vos impõe. O sentimento do dever cumprido vos dará
a tranqüilidade de espírito e a resignação. O coração
bate melhor, a alma se acalma, e o corpo já não sente desfalecimentos, porque o corpo sofre tanto mais,
quanto mais profundamente abalado estiver o espírito.
Obras Póstumas – “Minha iniciação no Espiritismo”
PRECE DE KARDEC
Senhor!
Se vos dignastes lançar os olhos sobre mim para o cumprimento de vossos desígnios, que seja
feita a vossa vontade. A minha vida está em vossas mãos, disponde do vosso servidor. Em presença de uma tão grande tarefa, reconheço a minha fraqueza; minha boa vontade não faltará, mas, talvez, as minhas forças me trairão. Supre a minha insuficiência; dai-me as forças físicas e morais que
me forem necessárias. Sustentai-me nos momentos difíceis, e com a vossa ajuda, e a de vossos
celestes mensageiros, esforçar-me-ei para corresponder aos vossos objetivos.
Semeando o Bem!
Edição Nº 54 | Abril | 2015
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S AL DA T ERRA
Folha Espírita – Fevereiro - 2015
Uma vida
pela causa
espírita
Quando nos ocupamos com o passado, ele se torna presente, foi o que constatei ao rever meu passado, lembrar a convivência em família e o trabalho desenvolvido com minha irmã, Marlene
Nobre, na seara espírita.
As imagens foram ganhando vida própria em minhas lembranças, que agora vou procurar transmitir em palavras, os acontecimentos que recordamos de sua vida.
Nossos pais, Pedro e Ida, se conheceram na militância espírita, e dedicaram suas vidas à família e à Doutrina Espírita. Tiveram
oito filhos, sendo Marlene a única menina, daí ser paparicada por
todos.
Ela possuía uma vivacidade admirável, e acalentou desde
criança o desejo de ser médica.
Durante a fase estudantil, destacou-se pela inteligência e pela
disciplina.
Como a família não contava com facilidades financeiras, teve
sempre de trabalhar e estudar.
Em 1956 prestou exames na Faculdade de Medicina de Uberaba, obteve promoção, e concluiu o curso em 1962.
Chico Xavier a convidou para trabalhar com ele, quando transferiu residência de Pedro Leopoldo para Uberaba, em 1959.
Nos quatros anos de convivência com o médium, Marlene
tece nele o professor, que deixaria marcas profundas em sua formação espiritual.
Em 1963, de volta à cidade de São Paulo, ela já estava totalmente integrada em nossas atividades espirituais e nosso grupo
espírita ganhou uma dimensão maior.
Marlene adquiriu o sobrenome Nobre depois do casamento, em 1964, com o político Freitas Nobre, um dos expoentes do
MDB autêntico durante o regime militar. O casal teve três filhos:
Marcos, Marcelo, e a filha do coração, Marília.
Foi uma das fundadoras da Associação Médico-Espírita de
São Paulo, do Brasil e Internacional.
Marlene foi uma das principais conferencistas do Movimento
Espírita no Brasil e no mundo, e seus livros são referência para
estudo nas casas espíritas.
Fundou com o esposo, em 1974, a Folha Espírita, e semanalmente divulgava a Doutrina em programas de rádio e televisão.
Possuía uma força de vontade e um ideal contagiantes, e as
pessoas nos perguntavam onde ela encontrava tanta energia.
Era muito procurada para orientar pessoas com problemas, e
sempre atendia todos com atenção.
Ela teve uma trajetória existencial comprometida com os propósitos de servir à causa espírita.
Estão registrados nesta edição os dados de uma vida que
demonstram a sua dedicação extrema ao ideal que abraçou.
Como explicar a sua visão vanguardeira, que abriu muitas
frentes de trabalho, não só nos estudos espíritas, na assistência
social, mas, sobretudo, no Movimento Médico-Espírita, criando
ramificações no Brasil e no mundo?
Diante do trabalho realizado por Marlene Nobre, uma pergunta
nos foi formulada por uma jornalista:
– Qual foi o maior legado que Marlene Nobre deixou?
Creio que foi o exemplo do trabalho abnegado e perseverante, desenvolvido nos seus 77 anos de existência, para construir
um mundo melhor, onde nós pudéssemos viver em paz.
Ela nos ensinou que quando colocamos o amor à frente das
dificuldades, dos desafios, nunca nos faltam a força e a coragem
para servir com Jesus.
Agradecemos a Deus pela nossa convivência ao seu lado,
trabalhando juntos, por mais de 60 anos!
Mensagem psicografada por Divaldo P. Franco – 13\11\2010
Transição Planetária por
Bezerra de Menezes
Meus filhos:
Que Jesus nos abençoe.
A sociedade terrena vive, na atualidade, um grave momento mediúnico no qual, de forma inconsciente, dá-se
o intercâmbio entre as duas esferas da vida. Entidades
assinaladas pelo ódio, pelo ressentimento, e tomadas de
amargura cobram daqueles algozes de ontem o pesado
ônus da aflição que lhes tenham proporcionado. Espíritos
nobres, voltados ao ideal de elevação humana sincronizam
com as potências espirituais na edificação de um mundo
melhor. As obsessões campeiam de forma pandêmica,
confundindo-se com os transtornos psicopatológicos que
trazem os processos afligentes e degenerativos.
Sucede que a Terra vivencia, neste período, a grande
transição de mundo de provas e de expiações para mundo de regeneração.
Nunca houve tanta conquista da ciência e da tecnologia, e tanta hediondez do sentimento e das emoções.
As glórias das conquistas do intelecto esmaecem diante
do abismo da crueldade, da dissolução dos costumes,
da perda da ética, e da decadência das conquistas da
civilização e da cultura…
Não seja, pois, de estranhar que a dor, sob vários aspectos, espraia-se no planeta terrestre não apenas como
látego mas, sobretudo, como convite à reflexão, como
análise à transitoriedade do corpo, com o propósito de
convocar as mentes e os corações para o ser espiritual
que todos somos.
Fala-se sobre a tragédia do cotidiano com razão.
As ameaças de natureza sísmica, a cada momento
tornam-se realidade tanto de um lado como de outro do
planeta. O crime campeia a solta e a floração da juventude
entrega-se, com exceções compreensíveis, ao abastardamento do caráter, às licenças morais e à agressividade.
Sucede, meus filhos, que as regiões de sofrimento
profundo estão liberando seus hóspedes que ali ficaram,
em cárcere privado, por muitos séculos e agora, na grande transição, recebem a oportunidade de voltarem-se
para o bem ou de optar pela loucura a que se têm entregado. E esses, que teimosamente permanecem no mal,
a benefício próprio e do planeta, irão ao exílio em orbes
inferiores onde lapidarão a alma auxiliando os seus irmãos
de natureza primitiva, como nos aconteceu no passado.
Por outro lado, os nobres promotores do progresso de
todos os tempos passados também se reencarnam nesta
hora para acelerar as conquistas, não só da inteligência e
da tecnologia de ponta, mas também dos valores morais
e espirituais. Ao lado deles, benfeitores de outra dimensão
emboscam-se na matéria para se tornarem os grandes
líderes e sensibilizarem esses verdugos da sociedade.
Aos médiuns cabe a grande tarefa de ser ponte entre as dores e as consolações. Aos dialogadores cabe
a honrosa tarefa de ser, cada um deles, psicoterapeutas
de desencarnados, contribuindo para a saúde geral. En-
quanto os médiuns se entregam ao benefício caridoso
com os irmãos em agonia, também têm as suas dores
diminuídas, o seu fardo de provas amenizados, as suas
aflições contornadas, porque o amor é o grande mensageiro da misericórdia que dilui todos os impedimentos ao
progresso – é o sol da vida, meus filhos, que dissolve a
névoa da ignorância e que apaga a noite da impiedade.
Reencarnastes para contribuir em favor da Nova Era.
As vossas existências não aconteceram ao acaso, foram programadas.
Antes de mergulhardes na neblina carnal, lestes o
programa que vos dizia respeito e o firmastes, dando o
assentimento para as provas e as glórias estelares.
O Espiritismo é Jesus que volta de braços abertos,
descrucificado, ressurreto e vivo, cantando a sinfonia gloriosa da solidariedade.
Dai-vos as mãos!
Que as diferenças opinativas sejam limadas e os ideais de concordância sejam praticados. Que, quaisquer
pontos de objeção tornem?se secundários diante das
metas a alcançar.
Sabemos das vossas dores, porque também passamos pela Terra e compreendemos que a névoa da matéria empana o discernimento e, muitas vezes, dificulta a
lógica necessária para a ação correta. Mas ficais atentos:
tendes compromissos com Jesus…
Não é a primeira vez que vos comprometestes enganando, enganado-vos. Mas esta é a oportunidade final,
optativa para a glória da imortalidade ou para a anestesia
da ilusão.
Ser espírita é encontrar o tesouro da sabedoria.
Reconhecemos que na luta cotidiana, na disputa social e econômica, financeira e humana do ganha-pão,
esvai-se o entusiasmo, diminui a alegria do serviço, mas
se permanecerdes fiéis, orando com as antenas direcionadas ao Pai Todo-Amor, não vos faltarão a inspiração, o
apoio, as forças morais para vos defenderdes das agressões do mal que muitas vezes vos alcança.
Tende coragem, meus filhos, unidos, porque somos
os trabalhadores da última hora, e o nosso será o salário
igual ao do jornaleiro do primeiro momento.
Cantemos a alegria de servir e, ao sairmos daqui, levemos impresso no relicário da alma tudo aquilo que ocorreu em nossa reunião de santas intenções: as dores mais
variadas, os rebeldes, os ignorantes, os aflitos, os infelizes,
e também a palavra gentil dos amigos que velam por todos nós.
Confiando em nosso Senhor Jesus Cristo, que nos
delegou a honra de falar em Seu nome, e em Seu nome
ensinar, curar, levantar o ânimo e construir um mundo
novo, rogamos a Ele, nosso divino Benfeitor, que a todos
nos abençoe e nos dê a Sua paz.
São os votos do servidor humílimo e paternal de sempre, Bezerra.
EXPEDIENTE
Editor Responsável: Nacip Gomez - www.facebook.com/nacip.gomez
E-mail: [email protected]
Diagramação: Rafael Mendes
Correção Ortográfica: Marina Marinho
O Editor e os colaboradores deste Órgão nada recebem, direta ou indiretamente, uma vez
que o SAL DA TERRA, jornal de distribuição gratuita, tem por finalidade a difusão do Espiritismo e do Evangelho de Jesus, realizada em bases de cooperação fraterna e de amor ao ideal,
características inerentes à própria Doutrina Espírita. Textos e imagens exibidos nesse jornal são
de total responsabilidade do editor.
Edição Nº 54 | Abril | 2015
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Tatuagens e piercings
na visão Espírita
Com autorização ao autor, publicamos abaixo um
importante tema desenvolvido pelo nosso companheiro JORGE HESSEN(*), analisando um modismo que se
intensificou mais ainda nos últimos anos. Tirem as suas
conclusões, divulgue e mande comentários.
“ Alguém nos questionou se se usar uma tatuagem
na pele teria influência sobre o perispírito. Há dirigentes
de casas espíritas advertindo que todas as pessoas que
fizeram ou pensam em gravar tatuagens ou usar piercings, automaticamente estarão em processo de obsessão. Alguns cristãos baseiam-se nas Antigas Escrituras,
onde encontramos advertência aos israelitas de “que
não deveriam marcar o corpo, fazer cicatrizes com açoites como autoflagelo, por nenhum motivo.”.(1)
Referências bibliográficas:
(1) Levítico 19.28; Deuteronômio 14.1-2.
(2) Xavier, Francisco Cândido e Vieira , Waldo. Evolução em dois mundos, ditado pelo Espírito André Luiz,
Rio de Janeiro, Ed. FEB, 1959
(3) Xavier, Francisco Cândido. Nosso Lar, ditado
pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1955 Conhecemos líderes espíritas convictos de que pessoas que tatuam o corpo inteiro ou o enchem de piercings são espíritos primários que ainda carregam lembranças intensas de experiências pretéritas, sobretudo
dos tempos dos bárbaros, quando belicosos e cruéis
serviam-se dessas marcas na pele para se impor ante
os adversários.
Positivamente não identificamos pontos de caráter
prático no uso de tatuagens, especialmente se a lesão
imposta ao próprio corpo for por mero capricho. Isso
sim, refletirá invariavelmente no perispírito, já que, sendo
o corpo físico (templo da alma) um consentimento divino para nossas provas e expiações, devemos mantê-lo
dignamente protegido e saudável. Entretanto, será que
o uso de piercings e tatuagens sobrepujam qualidades
morais? Quem pode penetrar na intimidade do semelhante e saber o que aí ocorre?
Sob a percepção histórica, a tatuagem é uma técnica ancestral que se esvai na memória cultural das civilizações. Antigamente eram aplicadas para marcar o
corpo de um escravo com o símbolo do proprietário.
Gravavam-se os corpos das prostitutas com o emblema
de um reino, governo ou estado. Servia também para
estigmatizar o corpo da mulher adúltera. Ainda hoje é tradição o seu uso no corpo de príncipes de tribos beduínas, africanas e das ilhas do pacífico.
Presentemente, servem para marcar o corpo de
membros de gangues, grupos de atletas esportistas
(surfe, motociclismo), “beatniks” (movimento sociocultural nos anos 50 e princípios dos anos 60 que subscreveram um estilo de vida antimaterialista, na sequência
da 2.ª Guerra Mundial.), hippies, roqueiros e alastrados
principalmente entre jovens comuns dos dias de hoje.
Os que se tatuam devem procurar identificar seus
motivos íntimos. Recordemos que o corpo é o templo
do Espírito e não nos pertence, portanto, é importante
preservá-lo contra agressões que possam mutilar a sua
composição natural. Há os que usam vários brincos,
piercings e outros adereços. Haveria a mutilação espiritual por causa desses apetrechos? Talvez sim, provavelmente não! O certo é que o perispírito é efetivamente
lesado pela defecção moral, desequilíbrio emocional
que leva a suicídios diretos e indiretos; vícios físicos e
mentais, rancores, pessimismos, ambição, vaidade
desmesurada, luxúria.
Esfola-se o corpo espiritual todas as vezes que se
prejudica o semelhante através da maledicência, da
agressividade, da violência de todos os níveis, da perfídia. Destarte, analisado por esse prisma, os adereços
afetam menos o corpo perispirítico. Principalmente porque na atualidade muitos desses adornos que ferem o
corpo físico podem ser revertidos, já na atual encanação,
e naturalmente não repercutirá no tecido perispiritual
André Luiz elucida que o perispírito não é reflexo do
corpo físico; este é que reflete a alma. “As lesões do corpo físico só terão, pois, repercussão no corpo espiritual
se houver fixação mental do indivíduo diante do acontecido ou se o ato praticado estiver em desacordo com as
leis que regem a vida.”.(2) As tatuagens e as pequenas
mutilações que alguns indivíduos elaboram como forma
de demonstrar amor a exemplo de alguém que grava o
nome do pai ou da mãe no corpo de modo discreto não
trariam, logicamente, os mesmos efeitos que ocorreriam
com aqueles que se tatuam de modo resoluto, movimentados por anseios mais grosseiros.
Curiosamente, muitas pessoas, retornando ao plano espiritual, podem optar pelo uso dos adornos aqui
discutidos. Segundo o autor do livro Nosso Lar, “os desencarnados podem, sob o ponto de vista fluídico, moldar mentalmente e de maneira automática, no mundo
dos Espíritos, roupas e objetos de uso e gosto pessoal.
Destarte, é perfeitamente possível, embora lamentemos,
que um ser no além-túmulo permaneça condicionado
aos vícios, modismos e tantas outras coisas frívolas da
sociedade terrena.”.(3)
No que concerne às tatuagens especificamente, por
ser um tipo de insígnia permanente, pode, sem dúvida,
ocasionar conflitos mentais. A começar na atual encarnação, quando chega a ocasião em que o tatuado se
arrepende, após ter mudado de idéia, em relação à finalidade da tatuagem. Concebamos que seja o apelido,
sobrenome, o desenho ou algum emblema de alguma
pessoa que já não estima, não ama ou qualquer outra
silueta que já não aceita em seu corpo. Então, o que era
um mero enfeite, culmina cansando a estética e torna-se
um problema particular de complexa solução.
Então, por que a pessoa se permite tatuar? Nas culturas primitivas se usavam tatuagens com finalidades
mágicas, para evocar a interferência de divindades, para
o bem ou o mal. Hoje é, para muitos indivíduos, uma
espécie de ritual de passagem, envolvendo a integração
num grupo. Pode ser também de identificação. Pela tatuagem a pessoa está dizendo algo de si mesma.
Nas estruturas dos códigos espíritas não há espaços
para proibições. Não obstante, a Doutrina dos Espíritos
oferece-nos subsídios para ponderação a fim de que
decidamos racionalmente sobre o que, como, quando,
onde fazer ou deixar de fazer (livre-arbítrio). Evidentemente que não é o uso de tatuagens que retratará a índole
e o caráter de alguém. Todavia, não podemos perder
de vista que alguns modelos de tatuagens, com pretextos sinistros, podem ser classificados (sem anátemas)
como censuráveis e inadequados para um cristão de
qualquer linhagem.
Nesse contexto, é importante compreender a pessoa de forma integral. As características anunciadas no
corpo são resultados de seus estados mentais, reflexos
das experiências culturais, aprendizados e interpretação
de mundo. Como dissemos, o Espiritismo não proíbe
nada e fornece-nos as explicações para os fenômenos
psíquicos. Assim sendo, as recomendações doutriná-
rias não combatem, porém conscientizam! Não são indiferentes aos dramas existenciais e demonstram como
edificar e marchar no mais acautelado caminho.
Dissemos que o uso piercings e outros adereços e da
própria tatuagem por si só não caracteriza alguém com
ou sem moralidade. Investiguemos porém as causas
dessas atitudes. Quais sãos os anseios, os sonhos, as
crenças dos que cobrem seus corpos com tais marcas?
Tatuagens, piercings, são estágios transitórios. Importa alcançar, porém, se tais indivíduos estão mutilados psíquica, emocional e espiritualmente. O que os conduz muitas
vezes a despedaçar a barreira da ponderação e do juízo?
Por que atentam contra si submetendo-se a dores e sofrimentos incompreensíveis? Para uns o motivo é o modismo. Outros, todavia, ainda se acham atrelados a costumes de outras existências físicas e trafegam do mundo
inconsciente para o consciente, derivando na transfiguração do corpo biológico.
Perante questões controversas, as mensagens kardecianas buscam na intimidade do ser o seu real problema.
Convidam-nos ao autoconhecimento e ao estágio do
auto-aprimoramento. Sugere-nos sensatez, autoestima,
altivez, comedimento e a busca incessante de Deus, o
Exclusivo Ente, que facultara-nos completar de contentamento e paz de consciência.”
Jorge Hessen - nascido no Rio de Janeiro a 18/08/1951,
aposentado, residente em Brasília desde 1972. Formado
em Estudos Sociais com ênfase em Geografia e Bacharel
e Licenciado em História pela UnB. Escritor livros publicados: Luz na Mente publicada pela Edicel, Praeiro, um
Peregrino nas Terras do Pantanal publicado pela Ed do
Jornal Diário de Cuiabá/MT, Anuário Histórico Espírita 2002,
uma coletânea de diversos autores e trabalhos históricos
de todo o Brasil, coordenado pelo Centro de Documentação Histórica da União das Sociedades Espíritas de São
Paulo - USE. Articulista com textos publicados na Revista
Reformador da FEB, O Espírita de Brasília, O Imortal, Revista Internacional do Espiritismo, O Médium de Juiz de
Fora, Brasília Espírita, Mato Grosso Espírita, Jornal União
da Federação Espírita do DF. Artigos publicados na WEB
da Federação Espírita Espanhola, l’Encyclopédie Spirite.
Revista eletrônica O Consolador, da Espiritismogi.com.br,
Panorama Espírita, Garanhuns Espírita e outros portais.
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S AL DA T ERRA
PSICOGRAFIA: alda maria
Rodrigo Ferretti - Portanto, se alguém está em Cristo, nova criatura é.2 Coríntios 5: 17
E O VOSSO
OLHAR?
CRIATIVIDADE EM UM MUNDO
DE POSSIBILIDADES
Livro: o perfume da rosa
Quando se fala em criatividade, pensamos logo naqueles que se colocaram como gênios em suas áreas
de atuação, pessoas que se destacaram muito da média
das pessoas.
Seja no futebol, como aquele que faz passes e dribles
que ninguém imagina, ou na ciência e nas artes, como
aqueles que descobriram meios de melhorar a qualidade
de vida das pessoas, ou mesmo de embelezá-la através
da estética, são meios variados que encontramos, de se
aplicar a criatividade.
Mas o que é ser criativo? Todos podem ser? Será que
já somos?
Se buscarmos nos dicionários, encontraremos de forma geral, as seguintes definições:
Criar – Dar existência a; tirar do nada. Dar origem a;
gerar, formar. Dar princípio a, produzir, inventar, imaginar.
Criador – Inventivo, fecundo.
Criatividade – Qualidade do criador.
Para que haja criatividade, é necessário também que
haja um sujeito criador, alguém capaz de ser inventivo,
que seja fecundo naquilo que se propõe a realizar.
Quando Jesus nos ensinou que éramos deuses, nos
lembrava desta potencialidade que temos de forma inata,
mas que talvez, ainda seja pouco explorada e vivida na
maioria das vezes, já que muitos ainda vivem presos aos
automatismos da vida, sem muita reflexão, logo criando
muito pouco de novo em suas vidas.
Quantos de nós, estamos repetindo diariamente
comportamentos, caminhos, escolhas e respostas, sem
se dar conta, de que existe uma infinidade de possibilidades diferentes daquelas que temos optado?
Ora, a maioria de nós, talvez não tenha a habilidade
de um Pelé no futebol, a de um Einstein na ciência, ou
de um Magrite nas artes. Mas todos nós podemos ser
criativos no nosso espaço vivencial, fazendo do ambiente
onde transitamos, um lugar melhor.
Fomos criados, não para repetir, mas para nos tornar-
PERQUIRI A VOSSA INTIMIDADE E ANALISAI
COM FIDELIDADE
A MENSAGEM ASSIMILADA PELO VOSSO
OLHAR!
O OLHAR É A EXPRESSÃO PROFUNDA DA ALMA
QUE AMA OU ODEIA, QUE VALORIZA OU DEPRECIA, QUE ENALTECE OU REPUDIA...
E O VOSSO OLHAR? ESPELHO DE SENTIMENTOS INTRÍNSECOS, O OLHAR EXTERIORIZA VERDADES. POR ONDE PASSEAIS O VOSSO OLHAR,
BUSCANDO ALIMENTO PARA VOSSAS EMOÇÕES?
CRISTO CUROU COM SEU OLHAR MEIGO E
FRATERNO. MAS QÃO POUCOS SÃO ASSIM! MUITAS SÃO AS EXPRESSÕES QUE FEREM, MAGOAM.
BUSCAI NA VOSSA INTIMIDADE VOSSA VERDADEIRA IDENTIDADE E, IDENTIFICANDO-A, ORAI,
ORAI POR VOSSA ILUMINAÇÃO, VIGIANDO A BUSCA NO MUNDO PELO ALIMENTO, PARA QUE ESTE
SEJA SAUDÁVEL, NA MAIS PURA EXPRESSÃO DA
MANIFESTAÇÃO DO BEM!
QUE O VOSSO OLHAR RETRATE A PRESENÇA
DO MESTRE EM VOSSO CORAÇÃO!
espírito sheila
mos melhores e mais criativos, co-criando na busca do
melhor, tornando a vida melhor, através de um jeito melhor
de ser e de um sentir mais maduro.
Todos nós que estabelecemos laços com a Doutrina
Espírita, já fomos agraciados por um conhecimento nobre, que é o da vivencia moral das Leis Divinas.
Mas por que ainda assim, com a capacidade de reflexões, muitas vezes belas e elaboradas, sobre temas
evangélicos e doutrinários, quando nos chegam no dia-a-dia, as situações-limite, de estresse, aquelas que nos
põe o aprendizado à prova, muitas vezes continuamos
agindo como se não conhecêssemos essas novas alternativas?
Será que não compreendemos verdadeiramente o
conteúdo? Será que não queremos realmente mudar?
Devemos sempre lembrar que, conhecer o mapa é
bem diferente de trilhar pelo território que foi visto! Conhecer os caminhos que levam a determinado lugar, é sempre diferente de ir até ele.
Mas vamos lá!
É tarefa para cada um de nós, usar da sua criatividade
e inteligência, na busca da aplicação dos conceitos tão
valiosos que nos tem sido oferecidos pelo Mestre Jesus,
e pelos benfeitores maiores, através de tantas obras mediúnicas.
O ato cri-ativo como o próprio nome diz, é um ato ativo.
Criar é fazer o novo. Permanecer nos condicionamentos antigos, é uma possibilidade passiva, repetindo causas, com consequências que já conhecemos.
Por que então, não buscar o novo, de forma consciente, ativa e dinâmica?
Deus nos deu a vida e nos oferece diariamente um
laboratório com todos os ingredientes, de que necessitamos para que possamos criar uma nova vida e nos
tornarmos melhores.
A receita? Ora, a receita é essa, que na vida, tudo é
uma questão de escolha!
Carlos Cristini
A família na visão espírita
Então, um doutor da lei, tendo se levantado, disselhe para o tentar: Mestre, o que é preciso que eu faça
para possuir a vida eterna? Jesus lhe respondeu: Que
é o que está escrito na lei? Que ledes nela? Ele lhe
respondeu: Amareis o Senhor vosso Deus de todo o
vosso coração, de toda vossa alma, de todas as vossas forças e de todo o vosso espírito, e vosso próximo
como a vós mesmos. Jesus lhe disse: Respondestes
muito bem; fazei isso e vivereis (E.S.E. , cap. XV – ítem
2) Ainda hoje encontramos dificuldades para compreender as palavras de Jesus. Buscamos respostas distantes, quando na realidade a misericórdia Divina nos
permite o exercício do amor e da caridade, no próprio
convívio familiar, junto daqueles que nos cercam. Somente a Doutrina dos Espíritos consegue nos explicar
as verdadeiras necessidades de aprendizado que fazem parte da nossa bagagem espiritual, e que, pela
reencarnação, nos é permitido esse exercício através
do relacionamento familiar. Quantas reencarnações
teriam sido melhor aproveitadas por nós, pelo simples
cumprimento do planejamento que acreditávamos poder realizar enquanto encarnados. Se ainda habitamos
um mundo de Provas e Expiações, é porque grandes
são as nossas dificuldades de trabalharmos as nossas relações com os nossos desafetos; pendências
muitas vezes seculares, que somente próximos e no
meio familiar, poderemos avançar no nosso aprendizado. Somente o exercício do amor e da caridade, em
substituição ao ódio, ao orgulho, poderá fazer de nós,
criaturas melhores. De extrema importância e responsabilidade a presença dos pais na educação dos filhos,
espíritos que dependem da qualidade dos ensinamentos recebidos desde seus “nascimentos”, para que as
virtudes recebidas, possam transformar as dificuldades
por eles trazidas. Infelizmente nem sempre isso ocorre. Dificuldades recíprocas entre familiares impedem
muitas vezes que um equilíbrio seja mantido no relacionamento, quando não temos forças suficientes para
controle e domínio do mal que ainda trazemos em nós.
Nesses casos, não conseguimos compreender que
a dificuldade que “o outro” apresenta, na realidade,
é a ferramenta que “precisamos” para corrigir nossas
próprias imperfeições e fraquezas. Nossos benfeitores espirituais aguardam de nós aquele “sinal verde”
que permite recebermos as inspirações e os eflúvios
benéficos que nos auxiliariam nos momentos difíceis,
mas nada conseguem se mantivermos uma “muralha”
em nossos corações. Somos seres milenares e ainda
vivenciaremos muitas outras encarnações nessa jornada redentora para a nossa transformação moral. Mas
alguns poderão perguntar: de quantas encarnações
ainda precisaremos? A resposta se encontra em cada
um de nós, pois somos os únicos responsáveis pelos
nossos próprios atos e pensamentos, definindo dessa
forma a velocidade da nossa trajetória de crescimento
espiritual. Para os que perseveram no erro, a dor e o sofrimento são os antídotos que recebemos para a cura
do mal gerado. Deus jamais abandona nenhuma de
Suas criaturas pois, Sua obra é perfeita, e, por maiores
que possam ser as nossas dificuldades, um dia nos
tornaremos espíritos puros; quanto ao tempo, ele é irrelevante, pois somos imortais e temos toda a eternidade
disponível. Paz e muita luz a todos!
Edição Nº 54 | Abril | 2015
S AL DA T ERRA
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Folha Espírita – Edição de Abril
EDITORIAL
Desencarnaremos somente no momento certo
O acidente aéreo com o Airbus A320 da Germanwings, que fazia a rota entre Barcelona e Düsseldorf e caiu,
no mês passado, cerca de 45 minutos após a decolagem, quando sobrevoava os Alpes franceses, causou
forte comoção mundial. Como era de se esperar, vários
questionamentos surgiram sobre a razão dessa catástrofe.
Na Doutrina Espírita encontramos explicações sobre
os resgates coletivos de um determinado grupo de espíritos que, comprometidos com um mesmo débito ou até
mesmo semelhante, em outras experiências terrenas, se
unem na espiritualidade e programam um resgate coletivo. Benfeitores espirituais auxiliam para que esses reajustes com a Contabilidade Divina possam ser quitados
com todos os personagens envolvidos.
Em um episódio como esse imediatamente surgem
os relatos daqueles que escaparam do evento trágico,
aqueles que estavam com passagens compradas e na
última hora perderam o voo. Não há dúvida que nesses
casos também há o trabalho da espiritualidade para que
esses passageiros não embarquem.
Sabemos que não cai uma folha de uma árvore sem
que o Pai não saiba. Dessa forma, não podemos creditar ao acaso as questões de mortes coletivas. André
Luiz, no livro Ação e Reação, afirma esses fatos: “Nós
mesmos é que criamos o carma e este gera o determinismo.” Essa afirmação fica muito clara na descrição do
capítulo 18, no qual o atendimento aos desencarnados
de acidente aéreo remonta a um compromisso coletivo de espíritos que, em outra época, se compraziam
jogando pessoas do topo de torres altíssimas, ou que
cometeram crimes hediondos atirando ao mar vidas
preciosas, ou ainda suicidas que também ceifaram suas
existências lançando-se do alto de arranha-céus.
Com essa e tantas outras referências já citadas na
literatura espírita, não seria difícil consolar-nos com mais
uma expressão da perfeição da Lei de Causa e Efeito
atuando sobre nossa trajetória na eternidade, na qual é
preciso reaver-nos com a Justiça Divina. Entretanto, dois
dias depois do trágico acidente, as notícias haveriam de
chocar ainda mais a opinião pública mundial: o Ministério Público de Düsseldorf confirmou que um dos pilotos
do Airbus A320 da Germanwings estava fora do cockpit
quando a aeronave começou a perder altitude. De acordo com especialistas em Aeronáutica, há três hipóteses
para explicar por que o piloto auxiliar que ficou na cabine
não tentou impedir a queda do avião. Ele poderia estar
inconsciente, morto ou queria se suicidar. Os especialistas falam com cautela, mas não é possível excluir a
hipótese de atentado suicida.
A terceira hipótese ganha força quando também
aparecem informações sobre a saúde mental do piloto
auxiliar Andreas Lubitz e sua incapacidade para conduzir
aeronaves. Certamente, essa instabilidade psíquica poderia ter sido a causa de sua atitude contra a própria vida,
levando também à morte outras 150 pessoas.
Esse ingrediente do copiloto suicida intensifica ainda
mais a comoção geral, e os questionamentos sobre a
possibilidade do resgate coletivo ficam em cheque diante de um ato deliberado capaz de ceifar a vida de tantos
outros. Seria Andreas Lubitz um instrumento da espiritualidade para promover a desencarnação coletiva? Se
assim pensarmos, podemos então dizer que ele teria renascido com o compromisso de praticar tal ato para que
fosse possível o reajuste dessas almas errantes? Teria ele
renascido para cometer o homicídio daquelas pessoas?
As dúvidas aumentam e, por alguns instantes,
parece que realmente poderíamos acreditar que estamos entregues ao descaso de toda ordem sem que
atuassem sobre nós as leis imutáveis do Pai.
A questão 853 de O Livro dos Espíritos nos ensina
que nós morreremos somente no momento certo, exceto quando a causa da morte for o suicídio, como o caso
da hipótese levantada para Andreas Lubitz, que teria
derrubado de forma deliberada o avião da Germanwings
nos Alpes franceses com esse fim. Não há desencarnação casual, produzida por falha de terceiros ou mau uso
do livre-arbítrio alheio. Ou seja, mesmo o mau uso do
livre-arbítrio do copiloto não teria causado a desencarnação prematura de 150 inocentes.
Nossa reflexão sobre uma morte violenta, no caso
dos passageiros e tripulantes, deve estar pautada em
que ela é fruto de uma expiação, na qual as vítimas atuais
foram outrora autoras de violências que lesaram outros
espíritos, e como ainda não haviam se libertado desse
comprometimento através de outras sanções regeneradoras como o amor, sofrem as consequências na atual
existência.
Por isso, podemos dizer que quando reencarnamos
com o compromisso de um resgate por meio de morte
violenta, não contamos com algozes que também reencarnem para ser instrumento de nosso resgate. No entanto, é preciso lembrar que em nosso orbe contamos
com diversos espíritos atrasados, que, ao deixar eclodir
suas inferioridades (violência e até mesmo imprudência),
ceifarão vidas das vítimas que necessitam dos resgates
traumáticos. Todavia, não podemos esquecer que tal feito jamais os isentará das consequências de seus atos.
Assim, podemos dizer que o copiloto jamais estaria
predestinado a agir como cobrador das dívidas pretéritas dos passageiros e sua escolha poderia ter sido
outra, mas, agora, ele deverá responder pelas escolhas
que fez, inclusive por tirar a própria vida. Quanto aos
passageiros, esses retornam à Pátria do Espírito com
a quitação de uma etapa nefasta de suas existências e
caminham para novos aprendizados e oportunidades
regeneradoras. Oremos para que a Providência Divina
possa amparar todos os envolvidos nesse doloroso, porém necessário, resgate coletivo.
Edição Nº 54 | Abril | 2015
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S AL DA T ERRA
Richard Simonetti - [email protected]
Salva pelo filho
Joseana estava gravemente enferma, pro­blema nos
rins. Os médicos davam-lhe poucos meses. Espírita
convicta, participava ativamente de um Centro Espírita,
dedicando-se par­ticularmente aos trabalhos de evangelização infan­til. Adorava crianças.
A doença impusera-lhe o afastamento da ta­refa.
Sentia-se deprimida, desanimada, quase acei­tando o
fato de que, em breve, partiria para o Além, não obstante sua ânsia por viver. Afinal, tinha três filhos para criar
e um abençoado compromisso de orientação à alma
infantil.
Então, começaram os sonhos. Via-se em hospitais
onde a submetiam a cuidadoso tratamen­to, com a utilização de aparelhagem desconhecida, que funcionava,
aparentemente, em bases de mag­netismo. Eram lembranças fragmentárias. Pouco registrava. Um detalhe,
porém, fixou-se em sua memória: diziam-lhe que seria
curada por seu filho Mauro.
Os resultados não demoraram. Joseana animou-se com aqueles sonhos. A fraqueza diminuiu sensivel­
mente. Voltou o apetite, favorecendo nova disposi­ção.
Retomou a tarefa no Centro. Em alguns meses, recuperou-se totalmente.
Ficaram apenas as recordações de uma ex­periência
difícil e da curiosa revelação onírica: o filho fora o agente da recuperação. Por quê? Mauro não era nenhum
médico ou taumaturgo. Apenas um filho muito que­rido
de seis anos, assim como Júnior, da mesma idade, e
Magali, de cinco. Os meninos não eram gêmeos, nem
chegavam a ter a mesma idade. Havia uma diferença
de três meses entre ambos, prodígio facilmente explicável: Mauro fora adotado. Criança abandonada, viera
ter em seu lar quando Joseana estava no sexto mês
de uma gestação complicada, marca­da por dores e
constantes ameaças de aborto. Não obstante, tomara-se de amores pelo bebê. O mari­do, homem generoso
e sensível, também se emo­cionou com o enjeitadinho.
Assim, em poucos me­ses, o lar fora enriquecido com
dois garotões.
Desejando definir o que tinha Mauro a ver com sua
cura, Joseana aproveitou o ensejo de uma conversa
com Juvêncio, mentor espiritual do gru­po de trabalhos
mediúnicos que frequentava, e perguntou-lhe a respeito do assunto. Ele a ouviu atentamente e respondeu,
carinho­so:
– Realmente, minha filha, foi graças ao me­nino que
você curou-se. Fazia parte de suas provações um retorno mais cedo à Espiritualidade, com a frustração de
seus sonhos e ideais relacionados com a jornada terrestre. Ocorre que, ao acolhê-lo com carinho, embora
enfrentando gravidez difícil, nossa irmã “queimou” parte
de seu carma, beneficiando-se com a dilação de algumas décadas no seu progra­ma reencarnatório. Terá,
portanto, a ventura de ver seus filhos criados e encaminhados na Vida, além de muito serviço pela frente,
no abençoado ideal da evangelização infantil. Ante a
emoção da jovem senhora, que cho­rava discretamente, Juvêncio concluiu, sorrindo:
– Rejubile-se! Muita gente retorna ao Pla­no Espiritual
antes do tempo, após comprometer irremediavelmente a vestimenta carnal com indisci­plinas mentais e intemperanças físicas. Você é dessas raras criaturas cuja
permanência na Terra situa-se por investimento promissor de Deus.
Então, Joseana compreendeu que, amparan­
do
uma criança, na verdade ajudara a si mesma.
As experiências cármicas não obedecem a cego
determinismo, nem é o sofrimento o único re­curso de
resgate de nossas dívidas do pretérito. Podemos melhorar consideravelmente nos­sas chances de felicidade
no Mundo, amenizando os rigores da Lei de Causa e
Efeito com o exercício do Bem, até mesmo em favor de
uma existência mais longa e produtiva.
Isso não é novidade. Simão Pedro, interpre­tando o
pensamento de Jesus, proclama, na sua primeira epístola à comunidade cristã, que o Amor cobre uma multidão dos pecados.
Edição Nº 54 | Abril | 2015
S AL DA T ERRA
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Eduardo Ohana
Espiritualidade dos animais
Matéria de capa da edição de Dezembro/2014 do
Jornal ‘CORREIO ESPÍRITA’, o jornal espírita de maior
circulação do Rio de Janeiro:
Acreditamos que bastaria o reconhecimento de que
os animais SOFREM, aliado à INFORMAÇÃO de que
comer animais é algo totalmente DESNECESSÁRIO à
nossa nutrição, para que cada um de nós deixasse de
enxergar nossos irmãos animais como comida, e assim
parássemos de gerar sofrimentos desnecessários.
Não bastasse isso, muito embora esse assunto infelizmente ainda seja ignorado na maioria das Casas Espíritas, a Doutrina Espírita tem uma orientação bem clara
quanto ao assunto, conforme muito bem nos esclarece
o artigo a seguir, o qual convidamos todos a lerem:
------------------------“ATÉ QUANDO EXISTIRÃO MATADOUROS E FRIGORÍFICOS NA TERRA?
A cada dia que passa, recebemos mais notícias a
respeito de movimentos em defesa dos animais. Muitos, inclusive, contrários ao antigo hábito da humanidade de fazer uso deles na alimentação, como o Vegetarianismo, e também às demais formas de sua utilização
por nós, como o Veganismo.
O Vegetarianismo é uma prática alimentar que faz
uso, exclusivamente, de alimentos de origem vegetal,
sem incluir os de origem animal.
O Veganismo é uma ideologia cuja base é a convicção de que os animais, como os humanos, têm direitos
fundamentais e que, devido a isso, nenhum deles deve
ser vítima de exploração por parte da humanidade. Baseado nesse modo de pensar, o vegano evita produtos e
atividades em que os animais são explorados e/ou mortos. Sendo assim, ele adota, como regime alimentar, o
Vegetarianismo estrito (sem nada que venha de animais,
nem mesmo leite e ovos), não usa roupas de origem
animal, se abstém de produtos que foram testados em
animais - no limite de suas possibilidades - e também
boicota circos com animais, rodeios, zoológicos, etc.
O crescimento desses movimentos sociais nos leva
às seguintes curiosidades: o que nos ensina o Espiritismo a respeito de como devemos nos relacionar com os
animais? É correto nos alimentarmos deles?
Para respondermos a essas perguntas, vamos começar pelas primeiras orientações dos Espíritos sobre
esse tema, seguindo uma ordem cronológica, que - veremos - será importante para compreendê-las adequadamente:
Em 1857, “O Livro dos Espíritos” dizia, na questão
723, que “a carne nutre a carne, do contrário o homem
perece” e, na 734, que “o homem tem direito de destruição sobre os animais, porém limitado e regulado pela
necessidade de prover à sua alimentação e segurança”.
Na questão 888 do mesmo livro, recebemos a seguinte recomendação: “sede dóceis e benevolentes
para com todos (...), assim como em relação aos seres
mais ínfimos da Criação, e tereis obedecido à Lei de
Deus”. Na 963, nos é comunicado: “Deus se ocupa de
todos os seres que criou, por menores que sejam; nada
é demasiado pequeno para a sua bondade”.
Percebemos, assim, já pelos ensinamentos do “Livro dos Espíritos” (1857), que devemos ser afáveis e
bondosos com os animais, e fazer uso deles como alimento apenas quando realmente necessário.
Mas, desde a publicação deste livro, a Ciência da
Nutrição evoluiu muito e, como Allan Kardec havia esclarecido que “o Espiritismo é uma revelação progressiva,
que assimila as descobertas da Ciência” (“A Gênese”,
cap. I, ítem 55), o conteúdo das mensagens espirituais
foi se desenvolvendo, de acordo com a capacidade da
humanidade de recebê-lo, acompanhem:
O benfeitor Emmanuel, mentor espiritual de Chico
Xavier, nos diz em 1938: “Os animais têm a sua linguagem, os seus afetos, a sua inteligência rudimentar, com
atributos inumeráveis. São eles os irmãos mais próximos
do homem, merecendo, por isso, a sua proteção e amparo.” (...) “Recebei como obrigação sagrada o dever
de amparar os animais. (...) Estendei até eles a vossa
concepção de solidariedade e o vosso coração compreenderá, mais profundamente, os grandes segredos
da evolução, entendendo os maravilhosos e doces mistérios da vida.” (Livro “Emmanuel”, psicografia de Chico
Xavier, cap. XVII: “Sobre os animais”).
Emmanuel, ainda, quando questionado se é um erro
nos alimentarmos com a carne dos animais, responde,
em 1941: “É um erro de enormes consequências. (...) É
de lastimar semelhante situação, mesmo porque, se o
estado de materialidade da criatura exige a cooperação
de determinadas vitaminas, esses valores nutritivos podem ser encontrados nos produtos de origem vegetal,
sem a necessidade absoluta de matadouros e frigoríficos.” (Livro “O Consolador”, psicografia de Chico Xavier,
resposta à pergunta 129).
Aniceto, instrutor de André Luiz, orienta-nos contra a
matança de animais, em 1944: “Cooperemos no despertar dos homens, nossos irmãos, relativamente ao
nosso débito para com a Natureza maternal. (...) Ajudemo-los a compreender, para que se organize uma era
nova. Auxiliemo-los a amar a terra, antes de explorá-la
no sentido inferior; a valer-se da cooperação dos animais, sem os recursos do extermínio! Nessa época, o
matadouro será convertido em local de cooperação...”
(Livro “Os Mensageiros”, psicografia de Chico Xavier,
cap. 42: “Evangelho no Ambiente Rural”).
Outro instrutor de André Luiz que nos adverte quanto
ao equívoco de nos alimentarmos de animais é Alexandre. Ele, em 1945, chama a atenção para nossa capacidade de encontrar nutrientes para nossos corpos sem
recorrer às “indústrias da morte”, vejam: “A pretexto de
buscar recursos proteicos, exterminávamos frangos e
carneiros, leitões e cabritos incontáveis. (...) Encarecíamos, com toda a responsabilidade da Ciência, a necessidade de proteínas e gorduras diversas, mas esquecíamos de que a nossa inteligência, tão fértil na descoberta
de comodidade e conforto, teria recursos de encontrar
novos elementos e meios de incentivar os suprimentos
proteicos ao organismo, sem recorrer às indústrias da
morte.” (...) “Tempos virão, para a humanidade terrestre,
em que o estábulo, como o lar, será também sagrado.”
Continuando com suas sábias palavras, Alexandre
nos mostra a incoerência de rogarmos proteção aos
superiores benevolentes e, ao mesmo tempo, permanecermos infringindo a lei divina de auxílios mútuos: “Se
não protegemos, nem educamos, aqueles que o Pai
nos confiou, como gérmens frágeis de racionalidade
nos pesados vasos do instinto; se abusamos largamente de sua incapacidade de defesa e conservação,
como exigir o amparo de superiores benevolentes e sábios, cujas instruções mais simples são para nós difíceis
de suportar, pela nossa lastimável condição de infratores da lei de auxílios mútuos?” (...) “Devemos prosseguir
no trabalho educativo, acordando os companheiros encarnados, mais experientes e esclarecidos.” (...) “Sem
amor para com nossos inferiores, não podemos aguar-
dar a proteção dos superiores.” (Livro “Missionários da
Luz”, psicografia de Chico Xavier, cap. 4: “Vampirismo”).
Podemos encontrar ainda, entre as obras psicografadas por Chico Xavier, este alerta, em 1958, do Espírito
Humberto de Campos (o Irmão X): “Os homens que se
julgam distantes da harmonia orgânica sem o sacrifício
de animais, são defrontados por gênios invisíveis que
se acreditam incapazes de viver sem o concurso deles. (...) Quem devora os animais, incorporando-lhes as
propriedades ao patrimônio orgânico, deve ser apetitosa presa dos seres que se animalizam. Os semelhantes
procuram os semelhantes. Esta é a Lei.” (Livro “Contos
e Apólogos”, psicografia de Chico Xavier, cap. 15: “O
Enigma da Obsessão”).
Neste trecho de outra obra, Humberto de Campos
também nos estimula à renovação dos hábitos alimentares, em 1967: “Comece a renovação de seus costumes pelo prato de cada dia. Diminua, gradativamente,
a volúpia de comer a carne dos animais. O cemitério
na barriga é um tormento depois da grande transição.
O lombo de porco ou o bife de vitela, temperados com
sal e pimenta, não nos situam muito longe dos nossos
antepassados, os tamoios e os caiapós, que se devoravam uns aos outros.” (Livro “Cartas e Crônicas”, psicografia de Chico Xavier, cap. 4: “Treino para a Morte”).
Hoje, a Ciência já constatou que os nutrientes contidos nas carnes, e mesmo no leite ou em ovos, podem
ser substituídos pelos de origem vegetal. Esta é a declaração, sobre o tema, da principal organização científica
mundial especializada em Nutrição - a Academy of Nutrition and Dietetics: “Dietas vegetarianas apropriadamente planejadas - incluindo dietas vegetarianas estritas ou
veganas - são saudáveis, nutricionalmente adequadas
e podem prover benefícios à saúde, na prevenção e tratamento de certas doenças. São apropriadas para indivíduos durante todos os estágios da vida, incluindo gravidez, lactação, infância e adolescência, e para atletas.”
Diante destas tão claras manifestações de nobres
espíritos, por meio da confiável mediunidade de Chico
Xavier, e da evolução da Ciência da Nutrição, cabe o
questionamento: por que nós, espíritas, não iniciamos
essa nova era a que se referem os mentores? Não é
hora de modificarmos nossos hábitos diários para que
deixemos de causar sofrimentos desnecessários aos
nossos irmãos animais?
As informações sobre como substituir os alimentos vindos de animais pelos de origem vegetal já estão
disponíveis para todos, seja em livros, revistas especializadas, internet ou com nutricionistas e nutrólogos
atualizados. Compete a cada um de nós assumirmos
a responsabilidade que temos perante nossos irmãos
de outras espécies, nos informarmos e modificarmos
essas práticas que já não condizem com os conhecimentos adquiridos. Só assim os matadouros e frigoríficos poderão se tornar “página virada” na história da
humanidade.”
Edição Nº 54 | Abril | 2015
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S AL DA T ERRA
Marina M.J.Guimarães
POR QUE AS PESSOAS SE REUNEM
EM NOME DO CRISTO
E PRATICAM A MALDADE?
VIEMOS de longos e obscuros caminhos.
HOJE, sob os holofotes dos ensinamentos espíritas, sabemos que nossas raízes se assentam no
pântano de sombrias experiências. Volvendo os olhos
da consciência, que o avanço da intelectualidade
nos acrescenta a acuidade, percebemos, boquiabertos, os horrendos arquétipos da maldade repontando
aqui e ali em contingências sociais e culturais distribuídas por todo o globo. Semelham lições valiosas,
embora encobertas por tanta dor, com que os diferentes níveis de maturidade espiritual dos homens
produzem e assimilam aprendizagens imprescindíveis
ao progresso de todos os internos deste imenso e
abençoado educandário terreno.
AS DIVERSAS escolas religiosas receberam, organizaram e velam pelos tesouros dos ensinos divinos
de todas as épocas. E a elas se achegam as multidões instintivamente atraídas por difusos ideais de
felicidade, cuja plenitude se sobreponha às velhas
chagas do sofrimento.
AS LUZES espirituais estão acesas sobre os
altares do sacrifício de tantos mártires, líderes e missionários; a palavra humana, dinamizada pelo calor
de verdades imorredouras, esparge forças e bendita
renovação, buscando elevar os corações e revestí-los com as armaduras da fé e da esperança.
CONTUDO, as batalhas interiores, únicas ações
produtivas de real aprimoramento, parecem, para
quase a maioria, impossíveis empreitadas despo-
jadas de valor. Não há porfia nos procedimentos
suaves nascidos da verdadeira reverência a Jesus.
COMO acomodar a doçura do sacrifício com a
impetuosidade do orgulho e a rigidez do egoísmo?
Parecemos tão estranhos em qualquer grupo, quando reclinamos a cabeça, pontuando nosso proceder
pelos ditames da humildade!
MESMO nos redutos religiosos, o desalento de
nos reconhecermos sozinhos, faz-nos lento e pesado o caminhar pelas sendas da caridade!
AS CONTINUADAS horas de doação no trabalho
e serviço ao próximo, frio e indiferente, apontam
para um longo espaço, no tempo, sem o calor do
acolhimento e da gratidão, estes nutrientes indeclináveis de todo e qualquer idealismo transformador,
pautado, ainda, por nossa fragilidade humana.
E sentimo-nos, então, inclinados ao desvio da
perseverança no bem. E nos envolvemos com a
venenosa atitude maledicente, abrigando a crítica intolerante, destruindo preciosos brotos da fraternidade
e do fortalecimento do trabalho de equipe.
TOLERÂNCIA, perdão? Simplesmente, perdemos o foco....
ESQUECENDO-NOS do revigorante da prece,
que faz luzir em nossas mentes a vigilância preconizada por Jesus, nosso Divino Mestre, acolhemo-nos, inadvertidamente, aos conselhos perniciosos
do melindre, que nos coloca, de improviso, diante
do artifício infeliz da calúnia e de todo o seu séquito
de maldades.
AH, COMO retornar deste emaranhado em que
a maldade recolhe-nos numa cuidadosa teia, senão
com o auxílio do tempo em numerosos ciclos de
dores renovadas? Só então divisaremos uma estreita
senda de retorno ao equilíbrio da vivência no Bem!
SIM, é preciso nos reclinarmos sobre o Evangelho de Jesus e desde os primeiros passos desta
aceitação, oferecermos ao Divino Condutor, a simplicidade de uma proposta em que nos dispomos
a pequenos e firmes movimentos de mudança,
exercitando o Bem em nosso próprio ambiente de
formação espiritual, nossas casas religiosas, nossos
lares.
NÃO SENDO assim, sob a inspiração da
boa vontade e da humildade, que nos compele a
reconhecer-nos frágeis crianças espirituais, teremos
que arrostar com os amargos frutos do fracasso,
porque “a semeadura é livre, mas a colheita é
obrigatória”.
NÃO NOS desviemos do dever inconteste
de reconhecermos em nosso(a) companheiro(a)
de ideal religioso, um coração que palpita junto ao nosso para ensinar-nos, ainda por imensa
concessão do Altíssimo, que estendendo sobre
ele a bênção do respeito, do carinho, da afeição
despojada, da caridade dissimulada pela cortesia,
iluminamos, naturalmente, nossos caminhos do
presente e do futuro.
Segundo Kardec e os Espíritos
O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de
observação e uma doutrina filosófica. Como ciência
prática ele consiste nas relações que se estabelecem
entre nós e os Espíritos; como filosofia, compreende
todas as consequências morais que decorrem dessas
mesmas relações.
Podemos defini-lo assim: O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal. (Allan Kardec, O que é o Espiritismo, Preâmbulo.)
***
O Espiritismo é, sem dúvida, uma ciência de observação, mas é, talvez mais ainda, uma ciência de
raciocínio, e o raciocínio é o único meio de fazê-lo progredir e triunfar de certas resistências. Este fato só é
contestado porque não é compreendido. A explicação
lhe tira todo o caráter maravilhoso, fazendo-o entrar nas
leis gerais da Natureza. Eis por que vemos diariamente
criaturas que nada viram e creem, apenas porque compreendem, enquanto outras viram e não creem, porque
não compreendem. Fazendo entrar o Espiritismo na trilha do raciocínio, tornamo-lo aceitável para aqueles que
querem conhecer o porquê e o como de todas as coisas, e o número deles é grande neste século, porque
a crença cega já não está mais nos nossos costumes.
Ora, se tivéssemos apenas indicado a rota, teríamos
a consciência de haver contribuído para o progresso
desta Ciência nova, objeto de nossos estudos constantes. (Allan Kardec, Revista Espírita, agosto de 1859,
Mobiliário de Além-túmulo).
***
O Espiritismo é uma doutrina moral que fortifica os
sentimentos religiosos em geral e se aplica a todas as
religiões. Ele é de todas, e não é de nenhuma em particular. Por isso não diz a ninguém que a troque. Deixa
a cada um a liberdade de adorar Deus à sua maneira e
de observar as práticas ditadas pela consciência, pois
Deus leva mais em conta a intenção do que o fato. Ide,
pois, cada um ao templo do vosso culto, e assim provai
que vos caluniam, quando vos taxam de impiedade.
(Allan Kardec, Revista Espírita, janeiro de 1862, Resposta à mensagem de Ano Novo dos Espíritas lioneses.)
***
O Espiritismo é a ciência nova que vem revelar aos
homens, por meio de provas irrecusáveis, a existência e
a natureza do mundo espiritual e as suas relações com
o mundo corpóreo. Ele no-lo mostra, não mais como
coisa sobrenatural, porém, ao contrário, como uma das
forças vivas e sem cessar atuantes da Natureza, como
a fonte de uma imensidade de fenômenos até hoje incompreendidos e, por isso, relegados para o domínio
do fantástico e do maravilhoso. É a essas relações que
o Cristo alude em muitas circunstâncias e daí vem que
muito do que ele disse permaneceu ininteligível ou falsamente interpretado. O Espiritismo é a chave com o
auxílio da qual tudo se explica de modo fácil. (Allan Kardec, O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. I, item
5.)
***
O Espiritismo está chamado a esclarecer o mundo,
mas ne­cessita de um certo tempo para progredir. Existiu
desde a Cria­ção, mas só era reconhecido por algumas
pessoas, porque, em geral, a massa pouco se ocupa
em meditar sobre questões espíritas. Hoje, com o auxílio desta pura doutrina, haverá uma luz nova. Deus, que
não quer deixar a criatura na ignorância, permite que os
Espíritos mais elevados nos venham em auxílio, para
contrabalançarem o Espírito das trevas, que tende a envolver o mundo. O orgulho humano obscurece a razão
e a faz cometer muitos erros. São necessários Espíritos
simples e dóceis, para comunicarem a luz e atenuarem
todos os males. Coragem! Per­sisti nesta obra, que é
agradável a Deus, porque ela é útil para a sua maior
glória, e dela resultarão grandes bens para a salva­ção
das almas. (Francisco de Sales, Revista Espírita, abril
de 1860.)
Edição Nº 54 | Abril | 2015
S AL DA T ERRA
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José Mauro Progiante
Esperanto e comunicação mundial
A intenção de Zanenhof era criar uma língua de fácil
aprendizado que servisse como língua franca internacional. (Foto:Divulgação)
ESPERANTO E ESPIRITISMO
Como língua internacional neutra, o Esperanto
não é patrimônio exclusivo de ninguém. Pelo contrário, é patrimônio comum da humanidade, sendo utilizado
como meio de propagação de muitas filosofias, religiões
e ideologias políticas.
Grande afinidade encontram no Esperanto as idéias
de caráter universalista, como a Doutrina Espírita. Dezenas de obras espíritas já estão vertidas para o Esperanto,
entre elas as Obras Básicas da Codificação e muitos
dos livros psicografados por Chico Xavier. Através do
Esperanto essas obras têm chegado a países cujas línguas nacionais nos são totalmente estranhas e incompreensíveis.
Na literatura espírita deparamo-nos frequentemente
com referências ao Esperanto. Em Memórias de um Suicida, o autor espiritual fala da existência de uma universidade de Esperanto no além; Bezerra de Menezes narra,
em A Tragédia de Santa Maria, a história de uma jovem e
de um rapaz que se conheceram através do Esperanto;
e nas páginas de Esperanto Como Revelação (Esperanto Kiel Revelacio) nos émostrada a outra face da língua
internacional e do seu criador, ainda desconhecida da
maioria dos homens. Nesse livro, Francisco Valdomiro
Lorenz, o notável poliglota e espiritualista, nos fala, através da mediunidade de Chico Xavier, das origens do
Esperanto ainda na pátria espiritual, da missão de Zamenhof, seu genial criador, e do futuro glorioso destinado,
na história da humanidade, àlíngua “dos que esperam”.
A Sociedade Espírita Bezerra de Menezes – Sebem –
Lagoa Santa mantém cursos permanentes de Esperanto aos sábados ( rua Allan Kardec – 500 – Santa Cecília)
Richard Simonetti - [email protected]
OS PRÍNCIPES E AS POTESTADES
1 – Qual o significado do título Contra os Príncipes e
as Potestades, de seu romance que está sendo lançado?
Ele nos remete a uma observação de Paulo, na
epístola aos Efésios (6:12), advertindo os cristãos de
que deveriam enfrentar forças poderosas do mundo físico e do mundo espiritual, devotadas ao mal.
2 – O Espiritismo também enfrenta essas forças?
Qualquer movimento social ou religioso voltado para
o Bem enfrentará sempre pressões dessa natureza, da
parte de Espíritos que se comprazem em estabelecer
domínio sobre os homens.
3 – Não são filhos de Deus os Espíritos voltados ao mal?
Somos todos filhos de Deus. Espíritos dessa natureza, que a teologia tradicional situa como seres demoníacos, são apenas filhos transviados de Deus, que
mais cedo ou mais tarde retornarão aos roteiros do
Bem, porquanto essa é a vontade do Criador, que não
falha jamais em seus objetivos.
4 – Por que na Terra parecem prevalecer os maus?
É mera impressão. Multidões, não obstante suas
fraquezas, estão cuidando de suas vidas, respeitando as leis e a ordem. Uma minoria, por imaturidade,
vincula-se ao mal. Faz barulho, chama atenção, como
músicos desafinados de uma orquestra.
5 – O livro descreve os processos usados por esses Espíritos para perturbar os movimentos religiosos?
Exatamente. O romance reporta-se a um grupo que
quer acabar com uma reunião mediúnica, num Centro
Espírita, considerando que ela contraria seus interesses. Ressalte-se, porém, que essa temática interessa a
qualquer pessoa que deseja compreender como atuam os “demônios”, mais exatamente, nossos irmãos
comprometidos com o mal.
6 – Essas entidades movem agressões e desajustes perturbadores?
Isso é ação para entidades de pouca habilidade na
arte de perseguir as criaturas humanas. Espíritos que
desejam afastar os servidores do Bem simplesmente
os analisam durante meses, identificam seus pontos
fracos e literalmente “dão o bote”. Fica difícil resistir.
7 – Poderia dar um exemplo?
É muito comum que nos círculos religiosos ocorram envolvimentos passionais entre participantes com
compromissos familiares. Incorrem em adultério, comprometem-se moralmente e perdem a condição para
continuar atendendo aos ideais religiosos. Há sempre
um dedinho de Espíritos perturbadores, estimulando
fantasias nos envolvidos. Casos graves envolvem até
mesmo líderes religiosos, em casos graves de pedofilia, como se têm observado.
8 – Podemos considerar, assim sendo, que qualquer pessoa, de qualquer religião, que busque uma
conduta reta e digna, estará sujeita a essa influência?
Sim e não é novidade. Desde as culturas mais antigas temos notícia de seres demoníacos buscando
perturbar e transviar as criaturas humanas.
09 – Contra os Príncipes e as Potestades seria, portanto, um livro de caráter universal, capaz de interessar
ao adepto de qualquer religião?
Sem dúvida, considerando que somos rodeados
por uma nuvem de testemunhas, como dizia o apóstolo Paulo, reportando-se a multidões de Espíritos que
convivem conosco no plano físico, em grande maioria
interessados em nos perturbar e dominar.
10 – Como evitar essas influências?
Aprendemos com o Espiritismo que praticando o
Bem e confiando em Deus estaremos seguros, afastando entidades mal intencionadas e fazendo por merecer a proteção dos Espíritos bons, ou dos anjos da
guarda, como muitos os denominam.
SERVIÇO:
O romance Contra os Príncipes e as Potestades é
publicação da
CEAC Editora, de Bauru, fone 14 3227 0618
Loja virtual: www.ceac.org.br/editora/loja
E-mail [email protected]
Edição Nº 54 | Abril | 2015
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S AL DA T ERRA
O sinal do profeta Jonas, por José Márcio de Almeida.
O sinal do profeta Jonas
Nínive, capital da antiga Assíria, situada à margem rio
Tigre, era uma cidade muito importante, na qual vivia mais
de 120 mil habitantes.
No livro do profeta Jonas é descrita como uma cidade
excessivamente grande. Era uma junção importante para
as rotas comerciais que cruzavam o rio Tigre. Ocupando
uma posição central na grande estrada entre o mar Mediterrâneo e o oceano Índico, assim unindo o oriente e
o ocidente, recebia a riqueza que fluía de várias fontes,
tornando-se logo uma das maiores cidades da região
àquela época.
Társis foi uma cidade cuja localização não é bem determinada. É provável que se situasse numa região do sul da
Espanha e que se tratasse de um porto fenício avançado.
O Livro de Jonas é um pequeno livro do Antigo Testamento, onde o profeta narra sua própria história. É um
livro simbólico, mas de grande profundidade pelos ensinamentos que traz.
Neste livro, Jonas recebe do Pai a missão de tomar um
navio e ir a Nínive converter todo o seu povo que se encontrava perdido, cheio de injustiças e totalmente descrente.
Se esquivando da incumbência, Jonas toma um caminho
contrário e opta por ir a Társis. Durante a viagem de navio
a Társis, ocorre grande tempestade no mar enquanto o
profeta escolhe ir dormir no porão da embarcação. Em
meio à fúria das águas, o capitão pede que todos orem
a seus deuses e vai ao encontro de Jonas sacudindo-o
e se indignando, com sua atitude omissa. Ordena que o
profeta se levante e responda a vários questionamentos
como: quem é? qual sua profissão? qual a sua gente? Ao que Jonas responde ser judeu (de passagem, peregrino), e estar fugindo da presença do Senhor. Todos entendem que Jonas deve ser lançado ao mar para aplacar a
ira divina, assim sendo feito. O mesmo é engolido por um
peixe bem grande, ficando em seu ventre por três dias
e três noites, quando na solidão, dirige a Deus belíssima
prece de fé, esperança e louvor, sendo depois vomitado
pelo peixe em terra firme, próximo a Nínive, onde consegue cumprir sua missão.
O nome Jonas vem de Iona, que significa pomba das
asas aparadas, e representa toda a humanidade coberta
de seres que sabem voar, mas ficam a ciscar no chão. É
o arquétipo do que renasce com uma missão e escolhe
errado. Nem sempre a tarefa do Senhor é um passeio e
um deleite em festas e ações que não exigem esforço. O
navio é nossa travessia e só os ratos ficam em seu porão.
Jonas era uma consciência adormecida nos porões do
navio, até que o capitão (cabeça; consciência) o acorda.
No momento da tomada de consciência perguntamos quem somos nós? a que viemos? e entramos em
crise existencial. Todos somos peregrinos e estamos de
passagem nesta Terra, mas a sacudida da consciência
nos lança às consequências da falta de nosso comprometimento e a “mergulhar na barriga de um grande peixe”,
num mar profundo (nosso mergulho dentro de nós mesmos), onde na solidão e na escuridão nos conectamos
ao Criador, oramos e pedimos misericórdia. Neste momento perdemos os mapas de nossas vidas, mas não a
bússola, que é a centelha de Deus em todos nós.
A alegoria de Jonas é um convite especial para este
momento planetário e, sendo os discípulos mais jovens
de Jesus, não devemos fugir de nossas missões e deixarmos lacunas no Universo.
É assim que Jesus, quando procurado por um grupo
de fariseus, que lhe pediram um sinal dos céus, para que
vissem e acreditassem, enfaticamente responde: “Maligna é esta geração; ela pede um sinal e não lhe será dado
outro sinal senão o de Jonas” (Lucas, 11: 29). E, peremp-
toriamente, diz: “Nenhum sinal será dado a esta geração
maligna e infiel” (Lucas, 11: 29). O Mestre assim os responde ante a incompreensão e a dureza dos corações
humanos, que simplesmente ignoravam todos os sinais
que Ele já houvera dado: curara os leprosos, restaurara
a visão dos cegos, levantara os paralíticos e anunciara a
boa nova.
Quando asseverou que nenhum sinal seria dado
àquela geração adúltera senão o sinal de Jonas, Ele queria dizer que, se o povo fosse mais dócil, mais humilde,
mais razoável, teria recebido e acatado as suas advertências, assim como fizera o povo de Nínive.
O fato é que os fariseus não aceitavam os sinais de
Jonas e tampouco os de Jesus, conforme se depreende
no Evangelho de João: “E, ainda que tinha feito tantos sinais diante deles, não criam nele; Para que se cumprisse
a palavra do profeta Isaías, que diz: Senhor, quem creu
na nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do
Senhor? (João, 12: 37-38). O pedido dos fariseus para
que Jesus lhes desse um “sinal miraculoso dos céus”,
desprezando todos os demais que Ele já os havia dado,
representa o desejo de permanecermos em nossa zona
de conforto, adiando, sempre que possível e com argumentos inconsistentes, o mergulho em nós mesmos para
processarmos a reforma íntima necessária e fazer prevalecer as verdades espirituais sobre a matéria.
Jesus, nos leva a melhor compreender a misericórdia
divina. O Pai está sempre à espera de nossa “tomada de
consciência”, quando decidimos trocar nossos equívocos
por acertos, optando pela “porta estreita” ao abraçarmos
com coragem e persistência nossas missões e arcarmos
com as consequências de nossos erros.
Acreditemos, pois, nos sinais e ensinamentos transmitidos por Jesus, o Divino Mestre e Amigo.
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S AL DA T ERRA
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Histórico do Espiritismo
Por volta de 1848, chamou-se a atenção, nos Estados
Unidos da América, para diversos fenômenos estranhos
que consistiam em ruídos, batidas e movimento de objetos sem causa conhecida. Esses fenômenos aconteciam
com freqüência, espontaneamente, com uma intensidade e persistência singulares; mas notou-se também que
ocorriam particularmente sob a influência de certas pessoas, às quais se deu o nome de médiuns, que podiam de
certa forma provocá-los à vontade, o que permitiu repetir
as experiências. Para isso, usaram-se sobretudo mesas;
não que este objeto seja mais favorável que um outro, mas
somente porque ele é móvel é mais cômodo, e porque é
mais fácil e natural sentar-se em volta de uma mesa que
de qualquer outro móvel. Obteve-se dessa forma a rotação da mesa, depois movimentos em todos os sentidos,
saltos, reversões, flutuações, golpes dados com violência,
etc. O fenômeno foi designado, a princípio, com o nome
de mesas girantes ou dança das mesas.
Até então, o fenômeno podia explicar-se perfeitamente
por uma corrente elétrica ou magnética, ou pela ação de
um fluído desconhecido, e esta foi aliás a primeira opinião
formada. Mas não se demorou a reconhecer, nesses fenômenos, efeitos inteligentes; assim, o movimento obedecia
à vontade; a mesa ia para a direita ou para a esquerda,
em direção a uma pessoa designada, ficava sobre um ou
dois pés sob comando, batia no chão o número de vezes
pedido, batia regularmente, etc. Ficou então evidente que
a causa não era puramente física e, a partir do axioma:
Se todo efeito tem uma causa, todo efeito inteligente deve
ter uma causa inteligente, concluiu-se que a causa desse
fenômeno devia ser uma inteligência.
Qual era a natureza dessa inteligência? Essa era a
questão. A primeira idéia foi que podia ser um reflexo da
inteligência do médium ou dos assistentes, mas a experiência demonstrou logo a impossibilidade disso, porque
se obtiveram coisas completamente fora do pensamento e dos conhecimentos das pessoas presentes, e até
em contradição com suas idéias, vontade e desejo; ela
só podia, então, pertencer a um ser invisível. O meio de
certificar-se era bem simples: bastava iniciar uma conversa com essa entidade, o que foi feito por meio de um
número convencional de batidas significando sim ou não,
ou designando as letras do alfabeto; obtiveram-se, dessa
forma, respostas para as diversas questões que se lhe dirigiam. O fenômeno foi designado pelo nome de mesas
falantes. Todos os seres que se comunicaram dessa for-
ma, interrogados sobre sua natureza, declararam ser Espíritos e pertencer ao mundo invisível. Como se tratava de
efeitos produzidos em um grande número de localidades,
pela intervenção de pessoas diferentes, e observados por
homens muito sérios e esclarecidos, não era possível que
fossem joguete de uma ilusão.
Da América, esse fenômeno passou para a França e
o resto da Europa onde, durante alguns anos, as mesas
girantes e falantes foram a moda e se tornaram o divertimento dos salões; depois, quando as pessoas se cansaram, deixaram-nas de lado para passar a outra distração.
O fenômeno não tardou a se apresentar sob um novo
aspecto, que o fez sair do domínio da simples curiosidade. Os limites deste resumo, não nos permitindo segui-lo
em todas as suas fases; nós passamos, sem transição,
ao que ele oferece de mais característico, ao que fixa sobretudo a atenção das pessoas sérias.
Dizemos, inicialmente, que a realidade do fenômeno
encontrou numerosos contraditores; uns, sem levar em
conta o desinteresse e a honradez dos experimentadores,
não viram mais que hábil jogo de escamoteação. Os que
não admitem nada fora da matéria, que só acreditam no
mundo visível, que acham que tudo morre com o corpo,
os materialistas, em uma palavra; os que se qualificam de
espíritos fortes, rejeitaram a existência dos Espíritos invisíveis para o campo das fábulas absurdas; tacharam de
loucos os que levavam a coisa a sério, e os cumularam
de sarcasmos e zombarias. Outros, não podendo negar
os fatos, e sob o império de certas idéias, atribuíram esses
fenômenos à influência exclusiva do diabo e procuraram,
por esse meio, assustar os tímidos. Mas hoje o medo do
diabo perdeu singularmente seu prestígio; falaram tanto dele, pintaram-no de tantos modos, que as pessoas
se familiarizaram com essa idéia e muitos acharam que
era preciso aproveitar a ocasião para ver o que ele é realmente. Resultou que, à parte um pequeno número de
mulheres timoratas, o anúncio da chegada do verdadeiro
diabo tinha algo de picante para aqueles que só o tinham
visto em quadros ou no teatro; ele foi para muita gente
um poderoso estimulante, de modo que os que quiseram levantar, por esse meio, uma barreira às novas idéias,
agiram contra seu próprio objetivo e tornaram-se, sem o
querer, agentes propagadores tanto mais eficazes quanto
mais forte gritavam. Os outros críticos não tiveram sucesso maior porque, aos fatos constatados, com raciocínios
categóricos, só puderam opor denegações. Lede o que
eles publicaram e em toda parte encontrareis prova de ignorância e de falta de observação séria dos fatos, e em
nenhuma parte uma demonstração peremptória de sua
impossibilidade. Toda a sua argumentação resume-se
assim: “Eu não acredito, então não existe; todos os que
acreditam são loucos e somente nós temos o privilégio
da razão e do bom senso.” O número dos adeptos feitos
pela crítica séria ou burlesca é incalculável, porque em todas elas apenas se encontram opiniões pessoais, vazias
de provas contrárias. Continuemos nossa exposição.
As comunicações por batidas eram lentas e incompletas; reconheceu-se que adaptando um lápis a um objeto móvel: cesta, prancheta ou um outro, sobre os quais
se colocavam os dedos, esse objeto se colocava em movimento e traçava caracteres. Mais tarde reconheceu-se
que esses objetos eram tão-somente acessórios que podiam ser dispensados; a experiência demonstrou que o
Espírito, que agia sobre um corpo inerte dirigindo-o à vontade, podia agir da mesma forma sobre o braço ou a mão,
para conduzir o lápis. Tivemos então médiuns escritores,
ou seja, pessoas que escreviam de modo involuntário,
sob a impulsão dos Espíritos, dos quais poderiam ser
instrumentos e intérpretes. A partir daí, as comunicações
não tiveram mais limites, e a troca de pensamentos pode-se fazer com tanta rapidez e desenvolvimento quanto
entre os vivos. Era um vasto campo aberto à exploração,
a descoberta de um mundo novo: o mundo dos invisíveis,
como o microscópio havia feito descobrir o mundo dos
infinitamente pequenos.
Que são esses Espíritos? Que papel desempenham
no universo? Com que objetivo se comunicam com os
mortais? Tais as primeiras questões que se teria a resolver. Soube-se logo, por eles mesmos, que não são seres à parte na criação, mas as próprias almas daqueles
que viveram na terra ou em outros mundos; que essas
almas, depois de terem despojado de seu envoltório corporal, povoam e percorrem o espaço. Não houve mais
possibilidade de dúvidas quando se reconheceram, entre
eles, parentes e amigos, com os quais se pôde conversar; quando estes vieram dar prova de sua existência, demonstrar que a morte para eles foi somente a do corpo,
que sua alma ou Espírito continua a viver, que estão ali junto de nós, vendo-nos e observando-nos como quando
eram vivos, cercando de solicitude aqueles que amaram,
e cuja lembrança é para eles uma doce satisfação. (A.K.,
O Espiritismo em sua mais simples expressão)
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