Apresentação do Museu de Arte Sacra da Sé de Évora
Transcrição
Apresentação do Museu de Arte Sacra da Sé de Évora
1 Museu de Arte Sacra da Sé Algumas notas sobre a história deste Museu e também sobre a filosofia que presidiu ao actual projecto museológico Fig.1 – Museu de Arte Sacra de Évora - Exterior 1. Sua história Queria deixar bem claro que o Museu de Arte Sacra da Sé, inaugurado a 22 de Maio de 2009, não é propriamente um novo Museu. Tem atrás de si décadas de história. A antecedê-lo está o Tesouro da Sé, criado por decreto-lei de 24 de Maio de 1930, sinal evidente de existência de uma colecção que se considera de elevado valor, associada à vida da Catedral. Existia colecção mas faltava espaço expositivo adequado. À falta de melhor, instalou-se provisoriamente na Sala Capitular, bonita mas de reduzidas dimensões. Por isso, foi-se sonhando em encontrar instalações mais espaçosas onde se expusessem não só as 15 peças com que se iniciou o Tesouro, mas se pudesse dar a conhecer o vasto e valioso espólio artístico de que o Cabido era possuidor e que assinala o percurso da fé e da cultura que marcou a vida da cidade entre os séc. XIII e os nossos tempos. 2 Esse espaço foi encontrado: a galeria norte da Sé sobre a nave do mesmo lado. Fizeram-se obras de adaptação, mas foram tantos os avanços e recuos que só em 1983, a 22 de Maio, dia da dedicação da Catedral, aí se instalou o Tesouro da Sé. Pensava-se ter encontrado o espaço ideal, mas o decorrer dos tempos e o advento de novos conceitos museológicos e museográficos foram tornando o espaço inadequado, não só pela sua exiguidade, mas sobretudo pela sua difícil acessibilidade, e se foi percebendo que o Tesouro mais parecia um depósito de peças, valiosas é verdade, mas cuja fruição se tornava quase impossível. Ao de cima voltou novamente o velho sonho de melhores instalações. É neste horizonte que no ano de 2000 se pensou no abandonado e avançado estado de degradação Colégio dos Moços do Coro da Sé, também conhecido por Casa do Cabido ou Colégio de Maria do Céu. Havia várias razões para pensar nele. Tinha história, pois está ligado à famosa escola de Música da Sé, porquanto fora mandado construir em 1698 pelo Arcebispo, D. Luis da Silva Teles, e inaugurado pelo seu sucessor D. Simão da Gama, a 8 de Maio de 1708, com a finalidade de alojar os Moços do Coro da Sé, dando continuidade deste modo à Escola de Música da Sé, que espalhara pelo mundo o nome da cidade, nomeadamente entre os séc. XVI e XIX. Teria espaço, um espaço privilegiado, pois está acopulado ao conjunto arquitectónico constituído pela Sé e Claustro e também tinha ligação directa à Sé, através da capela do mesmo e pela porta do Sol. Só era preciso recuperá-lo e adequá-lo a espaço expositivo. As vantagens eram notórias. Ao recuperá-lo, recuperava-se também a memória da Escola de Música que os mentores de meados dos séc. XIX tinham feito desaparecer e revivia-se o espaço e o valor cultural que a música tinha na vida da Igreja. Espera va-se que o edifício recuperado se tornasse um bem cultural digno de ser contemplado como um verdadeiro espaço museológico. Visitá-lo seria como que entrar na vida de quem se dedicava de alma e coração ao serviço de uma nobre missão, que é louvar a Deus nas acções litúrgicas do povo reunido e sentir o quotidiano da Escola de Música da Sé, através dos seus três pisos: piso terra, onde ficava o refeitório , a cozinha e um conjunto de dispensas; no piso1, sala de ensaios, 7 celas, um amplo corredor, com excelente vista panorâmica e a capela; no piso 2, simétrica ao piso 1, 7 celas e um amplo corredor e o coro alto da capela. 3 Conjugadas todas estas boas razões, faltava encontrar projectista para um projecto que à partida contemplasse duas vertentes: a de recuperação do património e a museológica. Foi convidado e assumiu-o o Arquitecto João Luis Carrilho da Graça, que decidiu restituir ao edifício a sua traça original e o preparou para receber o valioso espólio do Tesouro da Sé, agora com novo nome, mas equivalente, em melhores condições de exposição. Com o aproveitamento dos diversos espaços do piso 1 e 2, pretendeu-se dar uma organização às diversas obras de arte e objectos religiosos que nos permitisse uma narração do percurso da igreja, especialmente na cidade de Évora que ressaltasse também o génio artístico dos artistas e artesãos locais e consequentemente também o seu valor cultural, pois em questão estão bens culturais que transmitem valores identitários da nossa matriz enquanto povo. Como Museu, obviamente, atira-nos para o passado, para a nossa memória histórica, cultural e religiosa. Pretende dar a conhecer o passado pelo passado, mas faz-nos encontrar no passado valores que ajudam a construção do nosso presente e perspectivar o futuro. Acreditamos que não há povos com futuro que façam tábua rasa do seu passado. 4 2. Perfil do Museu Quem visitar o Museu de Arte Sacra da Sé logo que se apercebe que há nele uma filosofia particular, ou, se quisermos, uma lógica que o faz diferente do modelo corrente do Museu. Não quer ser mais um Museu, mas sim um Museu que transmita uma linguagem especial. Por isso, conjugou-se a natureza do espólio, ligado todo ele ao sagrado, ao espiritual, com o carácter do edifício, que fora habitação-escola ligado à Música, para criar um clima de interioridade e familiaridade, que envolva o visitante não só na beleza, mas naquilo que a própria beleza tem de transcendente. Elementos como cortinas de tecido vulgar, candeeiros de pé espalhados pelos corredores e as celas devidamente individualizadas, apontam-nos para a intimidade de uma casa, onde nos sentimos acolhidos e desafiados pelos valores de comunhão , de amor e serenidade, representados sobretudo nos bens de carácter mais devocional. Para acentuar esta linguagem, o processo museológico inicia -se preferencialmente na capela da escola, ponto axial da vida da casa, onde actualmente estão representadas as principais verdades da fé e do amor cristão, que depois são desenvolvidas tanto na pintura, como na estatuária, ourivesaria e paramentaria. Percorrem-se depois os corredores e as celas. No 2º piso predomina a pintura no corredor e temas variados nas celas, e no 1º piso predominam os objectos litúrgicos de ourivesaria e objectos devocionais. E termina o percurso museológico no piso 0 na loja e cafetaria que, além dos aspectos de sustentabilidade e de fruição de momentos de conforto do corpo, nos permitem conhecer espaços importantes numa casa, como são a sala de jantar e a cozinha e ficar com uma visão total do Colégio dos Moços do Coro da Sé e do actual Museu de Arte Sacra. 5