SBP alerta para os riscos do andador infantil

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SBP alerta para os riscos do andador infantil
SBP alerta para os riscos do andador infantil
Desde 2007, no Canadá, é proibido vender, importar e fazer propaganda do andador para bebês. No
Brasil, as discussões a respeito do banimento ganharam maior intensidade a partir de janeiro de 2013,
quando embasada em estudos que comprovam que o andador é um equipamento perigoso e
desnecessário, a Sociedade Brasileira de Pediatria, por meio do departamento de segurança, em
parceria com a ONG Criança Segura, lançou a Campanha Nacional pela Proibição do Andador.
Para reforçar os riscos a que as crianças estão expostas, um estudo realizado em agosto de 2013, pelo
Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia), analisou dez marcas de andadores infantis disponíveis no
mercado brasileiro. Nenhuma das marcas avaliadas foi aprovada devido à desconformidade com as
normas técnicas de segurança.
Em entrevista ao Portal Unimed, Marislaine Lumena de Mendonça, presidente do departamento de
segurança da Sociedade Brasileira de Pediatria, detalha os prejuízos do andador infantil para as crianças
e qual o papel do pediatra em relação ao tema.
Portal Unimed: Apesar de ainda muito popular no Brasil, quais prejuízos o andador infantil traz ao
desenvolvimento psicomotor da criança?
Marislaine Mendonça: Crianças que utilizam andadores levam mais tempo para ficar de pé e a caminhar
sem apoio. Além disso, engatinham menos, exploram menos livremente o espaço, recebem menos
estímulos de seus pais e têm escores inferiores nos testes de desenvolvimento.
Com o andador a criança faz menos exercício físico, gasta menos energia e aprende a andar de forma
errada, nas pontas dos pés, com as pernas semiflexionadas, o que pode levar a atrofia de grupos
musculares do quadril e das coxas e encurtamento de tendões. Mas nada se compara ao prejuízo maior
que é uma criança perder a vida em decorrência do uso do equipamento. De cada três crianças que
utilizam andador uma sofre traumatismo, e um terço destas lesões são graves, com traumas cranianos
que podem resultar em morte ou em sequelas neurológicas irreversíveis. Os acidentes envolvendo
crianças que usam andadores são muito frequentes, principalmente as quedas, comuns em escadas,
além do risco de afogamentos (a criança pode cair numa piscina ou outra superfície com água),
queimaduras (ao colidir contra o fogão ou alcançar o cabo da panela com alimentos quentes) e
intoxicações (por propiciar maior alcance a produtos químicos).
Portal Unimed: A segurança e independência são dois itens disseminados como “benefícios” que o
andador proporciona à criança. Nesta fase, entre 6 e 15 meses, isso é realmente benéfico?
Marislaine: De forma alguma, pelo contrário, não é nada seguro colocar uma criança de 6 a 15 meses de
idade, que ainda não tem equilíbrio, sustentada em um assento, dentro de um círculo dotado de rodas e
que pode tombar ou se deslocar numa velocidade de até um metro por segundo. Mesmo um adulto
atento pode não conseguir proteger a criança de um acidente.
E é justamente a tal independência que o andador confere a uma criança, que ainda não tem
maturidade, o maior fator de risco para a ocorrência de tantos acidentes.
Portal Unimed: Geralmente o andador é utilizado pelos pais como facilitador nos momentos de
cuidar da criança. Quais outros recursos os pediatras podem indicar para os pais?
Marislaine: Naqueles momentos em que os pais ou cuidadores não podem ficar ao lado da criança, como
por exemplo durante o preparo das refeições, é recomendável colocá-la em cercados seguros com
brinquedos.
Os pais devem propiciar à criança a aquisição da marcha, passando pelos estágios naturais do
desenvolvimento psicomotor: sentar, engatinhar, ficar de pé, andar com apoio até conseguir andar com
desenvoltura e sempre sob supervisão de um adulto.
Portal Unimed: Qual é o papel do pediatra em relação a esse tema?
Marislaine: O pediatra encontra-se numa posição privilegiada na promoção da segurança das crianças
junto às famílias e à sociedade, e tem um papel fundamental ao desempenhar as seguintes ações:
- Orientar as famílias sobre prevenção de acidentes e contraindicar enfaticamente o uso do andador
desde as primeiras consultas de puericultura e por ocasião de outros atendimentos.
- Recomendar aos pais e cuidadores o texto “Andador: perigoso e desnecessário”, disponível no site
“Conversando com o Pediatra” [clique aqui]. O texto pode ser impresso para distribuição ou enviado por
meios de acesso à internet.
- Conscientizar a população dos riscos de acidentes relacionados ao uso do andador em todas as
oportunidades (consultórios, hospitais, escolas, creches, mídia, etc.)
- Envolver-se em atividades interdisciplinares e multissetoriais pelo banimento dos andadores.
- Aconselhar as famílias a eliminar os andadores infantis existentes, evitando-se assim
reaproveitamentos.
- Informar ao departamento de Segurança da SPB os acidentes relacionados ao uso de andadores
infantis.
- Incentivar os pais e cuidadores a notificar como acidentes de consumo, através do site do INMETRO.
Acidente de consumo - Relate o seu caso [clique aqui]
- Notificar aos órgãos competentes os estabelecimentos e sites que ainda comercializam andadores,
infringindo a lei.
- Contribuir para a elaboração e aprovação de leis que visam o banimento dos andadores.
Portal Unimed: De que forma a SBP tem motivado os pediatras brasileiros a se engajarem na
campanha contra os andadores?
Marislaine: - Divulgando os prejuízos e riscos relacionados ao uso do andador e propondo ações aos
pediatras. Por ocasião do lançamento da Campanha, em 2013, várias matérias foram direcionadas aos
pediatras como o texto “Andador: perigoso e desnecessário”, com o posicionamento da SBP. Em 2014,
por meio do departamento de segurança, a SBP publicou pela Editora Manole, o livro “Crianças e
Adolescentes em Segurança” [clique aqui], de linguagem acessível, que aborda entre vários temas
relevantes para a promoção da segurança, os riscos do uso do andador. O livro tem sido recomendado
aos pediatras, pais, cuidadores, jornalistas e para quem mais se interessar pela saúde da criança.
- Atualizando informações sobre a Campanha “Pela proibição do andador” no site da SBP [clique aqui].
Reforçando a importância do engajamento dos pediatras na Campanha em todas as oportunidades:
congressos, cursos, entrevistas, publicações, etc. E apoiando ações multissetoriais pelo banimento dos
andadores.
- Sabendo que as medidas educativas, que demandam conscientização e mudanças de comportamento,
são insuficientes, esforços têm sido feitos para a aprovação de leis para proibir a produção, a
importação, a distribuição, a comercialização e a doação de andador infantil.
Para exemplificar a importância do engajamento dos pediatras, vale lembrar que foi a partir da
iniciativa de um pediatra da cidade de Passo Fundo (RS), sensibilizado com o óbito de uma criança em
decorrência do uso do andador, em 2009, que uma série de ações resultou numa Ação Civil Pública (nº
1.13.0024301-7), que proíbe a comercialização de andadores infantis no Brasil. Infelizmente, por falta
de fiscalização efetiva muitos estabelecimentos e sites ainda têm comercializado o produto, colocando
em risco as crianças.
- Somando parcerias, em dezembro de 2013, uma Nota Pública contra a Fabricação e Venda de Andador
Infantil foi entregue ao Ministério Público Federal (MPF), pela ONG Criança Segura, assinada por várias
entidades, entre elas a SBP, tornando público o posicionamento do grupo contra os andadores. Mesmo
sendo da competência do MPF decidir pelo recolhimento e banimento dos andadores, na ocasião
algumas regionais da SBP também entraram com a ação nos seus respectivos ministérios públicos
estaduais.
Autor: Rafaela Fusieger.

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