desenvolvimento sustentàvel na indústria têxtil - NDS

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desenvolvimento sustentàvel na indústria têxtil - NDS
XXII Congresso Nacional de Técnicos Têxteis – VIII Fenatêxtil
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÀVEL NA INDÚSTRIA TÊXTIL: ESTUDO DE PROPRIEDADES E
CARACTERÍSTICAS DE MALHAS PRODUZIDAS COM FIBRAS BIODEGRADÁVEIS
Gabriela Jobim da Silva Alves
Mestre em Design e Marketing, Doutoranda Engenharia Têxtil
Universidade do Minho, Departamento de Engenharia Têxtil, Guimarães, Portugal
E-mail: [email protected]
Nathália Raphaelli
Aluna Núcleo Design de Superfície – NDS – UFRGS
Intercâmbio UFRGS/Universidade do Minho
E-mail: [email protected]
Prof. Dr. Raul Fangueiro
Professor Auxiliar
Universidade do Minho, Departamento de Engenharia Têxtil, Guimarães, Portugal
E-mail: [email protected]
Resumo
Actualmente a preocupação com o meio ambiente é cada vez mais um factor de qualidade de vida,
sendo a concepção de artigos de malha com material biodegradável uma aposta em desenvolvimento
sustentável na Indústria Têxtil. Este artigo apresenta o trabalho que está sendo feito na Universidade de
Minho a respeito do estudo de propriedades e características de malhas produzidas com fibras
biodegradáveis. As malhas foram produzidas com diferentes tipos de fibras. Seis tipos de malhas foram
produzidos mantendo constante a estrutura (debuxo), a massa linear dos fios (tex) aproximados, e a
mesma afinação na máquina do comprimento de laçada (Np). Os tipos das fibras têxteis usadas foram
de 100% Algodão, 100% Algodão Orgânico, 100% Soja, mistura de 50% Soja com 50% Algodão, 100%
Bambu e 100% Cupro. A tecnologia electrónica rectilínea Stoll para malha de trama foi utilizada no
fabrico das amostras. As propriedades analisadas nesta pesquisa sobre as malhas foram as
propriedades dimensionais, permeabilidade ao ar, resistência à tracção, e o pilling. Neste trabalho, os
resultados das propriedades e características das malhas estudadas, são apresentadas e avaliadas.
Palavras-chave: Tecidos Inteligentes – Ecologia – Desenvolvimento
SUSTAINABLE DEVELOPMENT IN THE TEXTILE INDUSTRY: STUDY OF PROPERTIES AND
CHARACTERISTICS OF WEFT-KNITTED FABRICS PRODUCED WITH
BIODEGRADABLE STAPLE FIBRES
Abstract
Currently concerns with environmental issues are being a quality of life factor. The development of WeftKnitted fabrics based on biodegradable fibres is an important factor for the sustainable development of
the Textile Industry. This paper presents the work that is being done at University of Minho concerning
the study of properties and characteristics of weft-knitted fabrics produced with biodegradable staple
fibres. The weft-knitted fabrics have been produced with different types of staple fibres, keeping constant
the structure and the dimensional properties. The types of staple fibres used have been: 100% Cotton,
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100% Organic Cotton, 100% Soy, blend of 50% Soy with 50% Cotton, 100% Bamboo and 100% Cupro.
The properties of these yarns have been evaluated, including, regularity, twist level, friction and tensile
strength. An electronic flat knitting machine has been used for the production of weft-knitted samples.
Weft-knitted fabrics thus produced have been evaluated. The properties analyzed in this research
include, dimensional properties, air permeability, tensile strength and pilling. The results obtained are
presented and discussed.
Word-key: Intelligent fabrics - Ecology - Development
Introdução
A crescente preocupação com a qualidade ambiental tem resultado em sérios questionamentos nos
diversos setores da atividade humana. Os questionamentos e preocupações têm surgido principalmente
nos setores cujo produto final pode provocar impactos diretos no equilíbrio dos ecossistemas. Dentre
estes setores está a Indústria Têxtil e do Vestuário, que desde tempos muito remotos tem sido uma das
actividades económicas mais importantes, contribuindo para o progresso e evolução das civilizações.
Esta atividade requer a canalização de grandes recursos, e para que a indústria se mantenha activa,
precisa reduzir custos, ganhar produtividade, apostar em novas tecnologias, qualidade e design. Apesar
de, nem sempre estes fatores estarem associados a preservação do meio ambiente, a preocupação com
questões ambientais, tem se tornado um factor relevante para o desenvolvimento sustentável e
economicamente viável do processo de concepção de artigos têxteis.
O tema deste trabalho de Investigação está relacionado com a avaliação das características e
propriedades de malhas produzidas a partir de fibras têxteis biodegradáveis, em especial a fibra de
Algodão 100%, Algodão Orgânico 100%, Soja 100%, Soja 50% com Algodão 50%, Bambu 100% e
Cupro 100%, e possíveis aplicações deste material em produtos têxteis.
O projecto tem um carácter demonstrador da possível aplicabilidade de fibras têxteis biodegradáveis,
numa escala industrial, podendo apoiar a indústria de malhas que aposta em inovação e design no
desenvolvimento de produtos mais eficientes e com maior competitividade no mercado.
O desenvolvimento desta pesquisa, não tem por finalidade a aplicação dos seus resultados num produto
específico. A ideia é sugerir possíveis aplicações destas malhas em diversos produtos têxteis como
artigos de vestuário, têxtil lar, decoração, mobiliário, têxteis técnicos, entre outros, a partir das
características e propriedades de cada material.
Materiais e Métodos
O cuidado com a qualidade do meio ambiente no sector têxtil tem levado as empresas a desenvolverem
programas de preservação e redução de impactos ambientais. O maior enfoque tem sido dado aos
materiais e às técnicas utilizadas durante o processo produtivo. Diante desta realidade a produção e
processamento de artigos têxteis têm impulsionado o resgate de fibras naturais, e de fibras amigas do
ambiente. Estas fibras podem ser cultivadas com técnicas da agricultura orgânica, naturalmente
coloridas, ou regeneradas.
Para SOUZA (1998), “Os produtos têxteis ecológicos podem ser definidos como aqueles que empregam
pelo menos uma destas iniciativas de redução de impacto ambiental, seja na produção agrícola, seja na
etapa de acabamento, com o uso de alternativas como o uso de corantes naturais ou de fibras
naturalmente coloridas. Entretanto, foi apenas no final dessa década que a visão integrada dos
diferentes segmentos da indústria têxtil deu origem aos têxteis orgânicos, que são produzidos
considerando o impacto ambiental tanto da produção da matéria-prima como do processamento
industrial”.
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Algodão
O algodão é uma fibra natural, de origem vegetal, e, por não apresentar grandes exigências em relação
ao clima ou ao solo, pode ser produzido em praticamente todos os continentes. No entanto, é uma
planta de cultura delicada e muito sujeita a pragas, sendo grande consumidora de herbicidas e
fungicidas.
O Algodão é usado como fibra têxtil há mais de 7000 anos, podendo dizer-se que está ligado à origem
mais remota do vestuário e á evolução dos artigos têxteis. As fibras do algodão se desenvolvem a partir
da epiderme da planta do algodoeiro, designada por “gossypium”. É a mais conhecida e económica das
fibras naturais.
Segundo OLIVEIRA (1995), “Atualmente, o algodão responde por aproximadamente 80% das fibras
utilizadas nas fiações brasileiras: na tecelagem, 65% dos tecidos são produzidos a partir de fios de
algodão, enquanto na Europa gira em torno de 50%. Cabe destacar que estes percentuais, que são
bastante elevados, têm apresentado um ligeiro decréscimo nos últimos anos, face ao aumento da
participação das fibras artificiais e sintéticas na produção de tecidos".
As principais vantagens comparativas do algodão em relação às fibras artificiais e sintéticas decorrem
principalmente do conforto referente ao toque agradável e frescura, absorção de água, resistência ao
uso, e também dos aspectos ecológicos, por ser biodegradável. Porém, o cultivo de algodão implica em
enormes perdas para o ar, água e solo do nosso planeta, afectando significativamente a saúde dos
habitantes das áreas onde ele é plantado. Ainda, é muito poluente a etapa de acabamento, devido às
substâncias tóxicas empregadas para alvejar e tingir produtos têxteis.
Algodão Orgânico
A adopção do algodão orgânico por grandes retalhistas tem aumentado cada vez mais, seja através de
artigos 100% produzida a partir deste material, ou pela mistura com fibras convencionais. Para que o
algodão seja considerado orgânico é necessário que seja certificado.
A certificação é um instrumento que garante que o algodão orgânico foi cultivado dentro de um conjunto
mínimo de normas. Para que o produto final seja considerado como orgânico, é preciso que seja
inspeccionada e certificada como orgânica em todas a cadeia de produção. Isso significa que além das
condições de cultivo obedecerem práticas orgânicas, as etapas seguintes, como o beneficamente, fiação
e tecelagem, também devem ser certificadas como orgânicas.
Na Europa, para ser certificado como ecológico por um dos numerosos rótulos independentes existentes
(como o Imo e o BioRe na Suíça e o Skal na Holanda) e segundo as normas definidas pela Comunidade
Europeia, o algodão deve provir de uma cultura que não utilize adubos nem pesticidas. Ao contrário do
algodão tradicional, que consome 25% do volume anual de pesticidas.
Segundo artigo publicado pelo Jornal Têxtil, “Por cada T-shirt fabricada a partir de algodão 100%
orgânico são poupados vários quilos de fertilizantes e outros produtos químicos. Mudar do algodão
industrialmente produzido para o algodão orgânico constitui assim um passo positivo, mas que não
resolve completamente os problemas ecológicos, pois mesmo este tipo de algodão consome uma
grande quantidade de água, além de esgotar consideravelmente os recursos do solo”.
Primeiramente, as preocupações com o impacto ambiental da produção de têxteis de algodão focalizavam
somente a etapa de acabamento dos tecidos. Porém, a partir da década de 60, integrantes de movimentos
ambientalistas começaram a motivar a produção e o uso de artigos têxteis fabricados com algodão cru, não
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alvejados. Foi em 1980 que começa a preocupação com a matéria-prima, através da realização das primeiras
iniciativas e pesquisas de produção orgânica do algodão. Apartir de 1990 surgem os primeiros artigos têxteis no
vestuário produzidos dentro do conceito de moda ecológica.
Atualmente, a produção mundial de algodão biológico está concentrada nos EUA e na Turquia, que
representam 60% da produção anual (em média 6 mil toneladas).
Soja
A fibra de soja é uma fibra proteica regenerada a partir da semente de soja. Assim, não deve ser
considerada uma fibra de origem vegetal natural mas sim artificial. A fibra de soja apresenta um toque e
um brilho muito próximos da seda, assim como boas propriedades de alongamento e de gestão da
humidade.
A fibra da proteína da soja é um avanço nos têxteis. É feita do bolo da soja após olear, pelas novas
tecnologias da bioengenharia. Primeiramente, a proteína esférica é destilada do bolo da soja e refinada.
Depois, sob o funcionamento do agente auxiliar e da enzima biológica, a estrutura do espaço da
proteína esférica muda, e então o líquido giratório da proteína é confeccionado adicionando polímeros
elevados, e então, depois que o líquido é cozinhado, a fibra é estabilizada, e finalmente é cortada por
pequenos grampos após ondular e tomar forma.
A fibra da proteína da soja é elogiada como a fibra da saúde, a fibra confortável e a fibra verde do novo
século. A proteína da soja, é maciça na quantidade e baratos no preço. Usá-la não causará o
desenvolvimento predatório nos recursos, é útil à recuperação e ao re-desenvolvimento dos recursos.
A fibra de soja foi descoberta na China, em 1999, por Li Guanqi. Li Guanqi, desde criança costumava
alimentar os porcos com subprodutos de soja colhida pela sua família. Passados 50 anos, Li deu aos
restos de soja um uso completamente diferente e inovador, utilizou os restos de soja para produzir roupa
interior. Actualmente, milhares de chineses estão a fabricar roupa interior macia e sedosa, fabricada com
uma fibra de soja que Li Guanqi inventou. O tecido obtido através da soja, elegido como mais barato e
mais ecológico que a caxemira, já chegou a muitas partes do mundo.
“A China já é um dos maiores fabricantes de têxteis do mundo, com um quarto do mercado mundial da
exportação. Ao mesmo tempo, o envolvimento da China no comércio de têxteis orgânicos deverá fazer
baixar os preços destes produtos especiais a nível global e ajudar a torná-los um produto de consumo
corrente”, segundo artigo publicado no Jornal de Notícias de 27 de Dezembro de 2004.
A produção da fibra da proteína da soja evita a poluição ao ambiente, porque o acessório e o agente
auxiliar usado não são venenosos, ainda, o resíduo da proteína extraída pode ser usada como a
alimentação. A fibra da proteína da soja tem não somente as qualidades das fibras naturais mas também
as propriedades físicas das fibras sintéticas. A fibra da proteína da soja é confortável e de cuidado fácil.
É um potencial material na indústria têxtil para artigos destinadas à classe média e elevada. Porém, as
diferenças de preço podem mesmo diminuir ao ponto que estes produtos deixarem de constituir um
nicho de mercado e passarem a se tornar um produto usual.
Em finais de 2004, foi patenteado e publicado por três chineses, Fengqin Deng, Xinwu Li, Yuxian Huang,
representantes da JIAXIN TEXTILE CO, LTDA, uma inovação referente a fibra de soja. Esta inovação
trata-se da mistura da fibra de soja com fio colorido e ainda com outros materiais têxteis, patentearam
ainda o método de fabrico. Este fio colorido é fabricado com fibra da proteína de soja combinado e
tecido com outro materiais, como algodão, lã, seda, viscose, e outros. A vantagem desta inovação esta
na elevada uniformidade da cor, na simples preparação do processo e na primorosa aparência estética.
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Os tecidos fabricados com a fibra de soja têm a sensação da caxemira, o tecido feita da fibra da proteína
de soja é macio, liso, e com luminosidade. Possuem aparência luxuosa, como o lustre brilhante da seda,
com perfeito drapejar elegante. Cor boa e forte: a cor original da fibra da proteína de soja é marfim como
a cor da seda tussah. Seu anti-ultravioleta é superior à fibra do algodão, muito mais superior que a
viscose e a seda.
Soja/Algodão
As propriedades exclusivas e excelentes da fibra da proteína de soja são emergentes não somente na
sua própria aplicação, mas também na exploração da sua capacidade para ser utilizada como
componente de uma mistura, melhorando as propriedades de outros tecidos.
Os tecidos de soja misturado com algodão quando comparados com tecidos 100% algodão apresentam
um toque mais macio, absorve melhor a humidade e a ventilação, resiste melhor às bactérias, e possui
mais conforto.
Bambu
A fibra de bambu é um tipo da fibra regenerada da celulose, obtida a partir da polpa de bambu, à
semelhança da viscose, e ao contrário das fibras naturais vegetais obtidas da semente (algodão) ou do
caule (linho e cânhamo). É obtida a partir de uma planta cuja renovação é quase imediata para o bem da
natureza. É uma fibra eco-amigável obtida sem nenhum aditivo químico. A invenção da fibra de bambu é
a contribuição da humanidade à protecção de minerais raros naturais, à protecção dos recursos, ao
cuidado do ambiente e à consideração do contrapeso global.
A fibra de bambu tem funções particulares e naturais anti-bacterianas. Esta função é validada pela
associação da inspecção de têxteis do Japão sendo que, após cinquenta lavagens, o tecido da fibra de
bambu ainda mantém esta funcionalidade.
As propriedades do Bambu são impressionantes. Renováveis e 100% biodegradável, é um bactericida
natural, bacteriostático, inibidor de odores, hipoalergênico, muito absorvente e de secagem rápida.
Também é extremamente macio, com toque de seda, o que faz com que seja um tecido muito
confortável.
A fibra de bambu é mais macia do que o algodão, tem um brilho natural à superfície e sente-o similar à
seda ou à caxemira. Ao contrário de outras telas anti-microbial, que requerem um tratamento químico, a
roupa da fibra de bambu é naturalmente anti-microbial e não requer nenhum produto químico prejudicial.
Contem um agente, "o kun de bambu", que impede que as bactérias cultivem nele.
O bambu natural existe em todo o mundo e cresce rapidamente, leva aproximadamente 4 anos para
alcançar a maturidade, comparados aos 25 a 70 anos para espécies típicas comerciais da árvore nos
E.U.A. Embora a maioria de povos estão geralmente familiarizados com esta planta bonita e graciosa, a
maioria das pessoas desconhece que há mais de 1000 usos documentados do bambu.
Cupro
O nome desta fibra é Cupramônio, porém é chamado com o nome abreviado. O Cupro é uma fibra
artificial de origem celulósica, que é produzido partindo de uma celulose regenerada do algodão ou
pasta de madeira. É uma fibra biodegradável.
Os tecidos em Cupro são especialmente confortáveis, já que estão associados às propriedades típicas
das fibras vegetais e das fibras artificiais: transpiração, maciez, absorção e também o brilho, o aspecto e
o tacto da seda. A boa solidez das cores permite ter tonalidades brilhantes e vivas.
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Métodos Experimentais
Inicialmente ocorreu o desenvolvimento de amostras de malhas das fibras ecológicas citadas
anteriormente, produzidas em tecnologia de ponta, para avaliar as propriedades referentes as
propriedades dimensionais das malhas, permeabilidade ao ar das malhas, resistência à tracção das
malhas e pilling das malhas.
Para o desenvolvimento das amostras em malha, foi utilizada a tecnologia de malha de trama Stoll,
disponível na Unidade de Prototipagem de Materiais Fibrosos da Universidade do Minho. No programa
do Sistema Cad que acompanha a máquina foi desenvolvido o debuxo com estrutura Jersey para todos
os tipos de matérias-primas. Todas as malhas foram produzidas na máquina para a mesma afinação do
comprimento de laçada (Np = 9,2). Todos os ensaios foram realizados segundo normas específicas.
Na realização de todos os tipos de ensaios para avaliar as propriedades dos materiais foram utilizados
tecnologias disponíveis na Universidade do Minho. Dentre estas tecnologias podem salientar-se o
Dinamómetro utilizado para medir a resistência à tracção nas malhas, o Permeabilímetro, utilizado para
medir a permeabilidade ao ar nas malhas, e o Pilling Box, instrumento utilizado para medir o grau de
pilling nas malhas.
Ensaios das Propriedades Dimensionais das Malhas: O comprimento do fio na célula estrutural do ponto
(lu) e o estado de relaxação em que a malha se encontra são fundamentais para as propriedades
dimensionais das malhas de trama. Para medir estas propriedades foi necessário retirar o fio das
amostras de malhas por desfiamento. Estes fios são medidos num dispositivo apropriado, e
seguidamente pesados em balança de precisão, de acordo com a normalização ASTM: D 1059 – 76.
A massa (peso) de um “tecido” pode ser designada em termos de massa por unidade de superfície ou
em termos de massa por unidade de comprimento. Onde é necessário pesar uma área conhecida e
dividir o peso pela área. Para isso, torna-se necessário considerar a amostragem, o corte, a precisão da
pesagem e da medição bem como o teor de humidade do provete. Estes ensaios foram efectuados de
acordo com a norma NP 1701.
Permeabilidade ao Ar das Malhas: “Devido ao modo como os fios e os “tecidos” são constituídos, uma
grande proporção do volume total ocupado pelo “tecido” é efectivamente ar. A distribuição dos espaços
ou bolsas de ar influenciam um elevado número de propriedades dos “tecidos” tais como o isolamento
térmico e a protecção contra o vento e a chuva em vestuário, bem como a eficiência de filtragem em
“tecidos” industriais. Um exemplo deste último aspecto pode ser observado com o saco dos aspiradores
domésticos, cujo “tecido” deve permitir que o ar passe ao mesmo tempo que deve evitar a passagem de
poeiras e sujidades” (ARAÚJO, 1987).
Este teste foi realizado obedecendo à Norma NP EN ISSO 92371997. O aparelho utilizado para a
realização dos ensaios foi o Permeabilímetro. A Permeabilidade ao Ar foi medida de fora para dentro do
provete. As unidades de medidas são l/m2/s. Para cada tipo de matéria-prima foram realizados 10
ensaios.
Resistência à Tracção das Malhas: A resistência à tracção depende primeiramente da carga à rotura de
um tecido quer no sentido das colunas, quer no sentido das fileiras. Foram realizados 5 ensaios no
sentido das colunas e no sentido das fileiras em cada tipo de fibra. Cada amostra foi devidamente
numerada e classificada. Para a realização das amostras foi desenvolvido um molde obedecendo às
medidas da Norma Portuguesa NP EN ISSO 13934-2 Têxteis – Propriedade de Tracção dos Tecidos,
Parte 2: Determinação da força máxima pelo método grab (ISSO 13934-2:1999). O método utilizado
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para a medição de resistência à tracção foi o método grab. Neste método parte da largura da amostra é
fixado nas maxilas.
Os aspectos de maior importância que foram inseridos no programa para a obtenção dos ensaios e
resultados são: a distância entre as maxilas ou o comprimento efectivo da amostra a ensaiar, a
velocidade do ensaio e a pré-tensão. Para estes aspectos atribuiu-se valores iguais a todas as amostras,
estes valores são: Distância entre as maxilas ou o comprimento efectivo da amostra a ensaiar = 75 mm;
Velocidade do ensaio = 50 mm/min; Pré-tensão = 5 N.
Pilling das Malhas: O defeito na superfície do “tecido” caracterizado pelo aparecimento de borbotos
(pills) ou pequenas bolas de fibras emaranhadas, ancoradas à superfície do “tecido” e dando ao “tecido”
uma má aparência, é chamado de “Pilling. Os borbotos são formados quando utilizados e lavados por
emaranhamento de fibras livres que aparecem na superfície do “tecido”. Estas fibras livres aglomeramse quando friccionadas e formam assim pequenas esferas ligadas ao “tecido” por algumas fibras que
não se libertaram ou que partiram.
Segundo Araújo (1987, p. 1456), “Os borbotos forma-se devido à migração de fibras dos fios
constituintes do “tecido”, pelo que a redução ou prevenção da formação de borbotos pode ser afectada
reduzindo esta tendência migratória. Os métodos utilizados incluem a utilização de fios com um
coeficiente de torção mais elevado, a perchagem ou cardação da superfície do “tecido” e ainda
particularmente tratamentos químicos. Qualquer que seja o método de prevenção da formação de
borbotos utilizado, o “tecido” não pode perder outras qualidades, tais como o toque”.
Para medir a formação de borbotos em “tecidos”, existe uma grande variedade de instrumentos e
métodos. Este ensaio foi realizado com a utilização do aparelho Pilling Box. Foram testados 4 amostras
de cada matéria-prima, segundo a norma ASTM: D 1375-72.
O “pilling” de um provete pode ser avaliado numericamente, após a fricção debaixo de condições
controladas, contando o número de borbotos formados, ou alternativamente, a aparência do provete
ensaiado é comparada com padrões e classificada. Cada amostra é comparada com fotografias
classificadas por grau 1 à 5, para malha Jersey, sendo o maior valor (grau 5) com menos formação de
borbotos.
Resultados
Permeabilidade ao Ar das Malhas: A Permeabilidade ao Ar nas malhas analisadas é maior na malha de
Bambu e menor na malha de Algodão Orgânico. A passagem de ar é referente ao espaço das fibras e o
espaço das malhas a ser analisado.
Resistência à Tracção das Malhas: Segundo os resultados obtidos nos ensaios, a malha que possui
maior resistência à tracção no sentido das colunas é a malha de Soja, e a de menor resistência é a
malha de Algodão Orgânico. Segundo os resultados obtidos nos ensaios, a malha que possui maior
resistência à tracção no sentido das fileiras é a malha da mistura de Soja/CO, e a de menor resistência é
a malha de Algodão Orgânico.
Pilling das Malhas: O grau de Pilling nas malhas analisadas é maior na malha de Bambu (Grau 1), e
menor na malha de Algodão (Grau 4).
Conclusões
Em relação às conclusões técnicas, pode afirmar-se que dentre as características e propriedades das
malhas analisadas, a malha produzida com a fibra de Soja 100%, e a malha produzida com a mistura de
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Soja /CO, foram as que obtiveram maior desempenho quanto a resistência. A malha produzida com a
fibra de Bambu possui maior permeabilidade ao ar, sendo a passagem de ar referente ao espaço das
fibras e ao espaço das malhas a ser analisado.
Todos os materiais analisados têm características próprias e adaptáveis ao uso em determinados artigos
têxteis. Todos os resultados obtidos estão dentro dos padrões aceites para a indústria têxtil.
A maior parte dos consumidores que se preocupam com o ambiente, também têm especial atenção à
qualidade dos produtos, e as fibras biodegradáveis aqui investigadas oferecem a oportunidade de
promover a diferenciação nos mercados, em particular entre as empresas que possuem uma forte
imagem de marca.
Os dados recolhidos na investigação teórica e os resultados dos testes/ensaios nas malhas dão-nos a
oportunidade de sugerir possíveis aplicações em diferentes áreas da indústria têxtil. Facilitando assim a
escolha do material a ser utilizado quando da concepção de um determinado artigo têxtil que tenha
como valor acrescentado o design sustentável.
As necessidades do homem moderno podem ser aliadas ao uso de artigos têxteis menos agressores ao
meio ambiente, e que produtos ecológicos, mais do que um conceito ou produto de marketing, é um
importante agente de cidadania.
Referências Bibliográficas
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FERREIRA NEVES, José de Sousa Machado. Tecnologia Têxtil: Matérias-primas Têxteis. Porto: 1982.
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