Aula 01 - A Literatura no Período Colonial Brasileiro

Transcrição

Aula 01 - A Literatura no Período Colonial Brasileiro
Aula 01
A Literatura no Período
Colonial Brasileiro
Pero Magalhães Gândavo
Província de Santa Cruz.
–
História
da
Viagem ao Brasil – Jean de Léry
Entre os Tupinambás – Hans Staden
Estudar literatura é, basicamente, ampliar
nossas habilidades de leitura do texto literário.
No Ensino Médio, esse estudo é acrescido da
história literária, que objetiva acompanhar a
evolução cronológica da literatura de
determinado povo e cultura, observando suas
transformações de acordo com o momento
histórico. Por isso, a história da literatura
organiza-a em movimentos, períodos e
gerações.
Quinhentismo (Século XVI)
“Viemos buscar cristão e especiarias”
O Quinhentismo corresponde à época do
descobrimento do Brasil, movimento paralelo
ao Classicismo Português que, por sua vez,
possui ideias relacionadas diretamente ao
Renascimento. A literatura do Quinhentismo
tem como tema central os próprios objetivos
da expansão marítima: a conquista espiritual e
a conquista marítima.
Literatura de Catequese
Ligada à Contrar-reforma a literatura de
catequese tinha como objetivo de ampliar a fé
cristã, através da catequização dos nativos.
Utilizava como recursos o teatro e a
compreensão da língua Tupi, por parte de seus
autores. Dentre os escritores desta literatura,
destacam-se:
O Padre José de Anchieta – que utilizava o
teatro e a poesia como forma de expressão.
Padre Manuel da Nóbrega – conhecido por
“Cartas do Brasil” e “Diálogo sobre a
conversão do gentio”.
Barroco (século XVII)
Principais características:
Literatura Informativa
A literatura informativa se refere aos relatos
dos viajantes, que eram enviados a corte
portuguesa. O conteúdo deste tipo de literatura
descrevia a natureza brasileira, com foco nos
aspectos exóticos, nos nativos e nas riquezas
naturais. Dentre os autores destes relatos,
destacam-se:
Pero Vaz de Caminha – Carta a El-Rei Dom
Manuel;
Fernandes Brandão – Diálogos das Grandezas
do Brasil;
Convivendo com o sensualismo e os prazeres
trazidos pelo Renascimento, os valores
espirituais – tão fortes na Idade Média e
desprezados pelo Renascimento – voltaram a
exercer forte influência sobre a mentalidade
da época. Uma nova onda de religiosidade foi
trazida pela Contra-Reforma e pela fundação
da Companhia de Jesus. Neste sentido, o
homem do século XVII era um homem dividido
entre duas mentalidades, duas formas
diferentes de ver o mundo:
A Cidade da Bahia
Renascimento – influência dos clássicos
(racionalismo, equilíbrio, clareza, linearidade
de contornos), visão antropocêntrica ou
humanista, sensualismo, valorização da vida
corpórea, etc.; Idade Média – teocentrismo,
valorização da vida espiritual, fé, etc.
A Arte Barroca irá expressar esta tensão entre
ideias e sentimentos opostos. Destacam-se
dois autores da literatura barroca no Brasil:
Gregório de Matos Guerra, nascido na Bahia
em 1633, também conhecido como “Boca de
Inferno”, é o primeiro poeta brasileiro e o
maior poeta do Período Colonial. Sua obra
costuma ser dividida em três vertentes
básicas: lírico-amorosa, lírico-religiosa e
satírica.
Abaixo citamos alguns poemas de Gregório de
Matos Guerra:
A Jesus Cristo Nosso Senhor
Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Porque, quanto mais tenho delinqüido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
“A cada canto um grande conselheiro
Que nos quer governar cabana e vinha
Não sabem governar sua cozinha
E podem governar o mundo inteiro
Em cada porta um freqüentado olheiro
Que a vida do vizinho, e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha
Para levar à Praça e ao Terreiro
Muitos mulatos desavergonhados
Trazidos pelos pés os homens nobres
Posta nas palmas toda picardia*
Estupendas usuras nos mercados
Todos os que não furtam, muito pobres
E eis aqui a cidade da Bahia.”
À Mesma Dona Ângela
Anjo no nome, Angélica na cara,
Isso é ser flor, e Anjo juntamente,
Ser Angélica flor, e Anjo florente,
Em quem, senão em vós se uniformara?
Quem veria uma flor, que a não cortara
De verde pé, de rama florescente?
E quem um Anjo vira tão luzente,
Que por seu Deus, o não idolatrara?
Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar- vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se como Anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu custódio, e minha guarda,
Livrara eu de diabólicos azares.
Se uma ovelha perdida e já cobrada,
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na Sacra Historia,
Mas vejo, que tão bela, e tão galharda,
Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.
Eu sou, senhor, a ovelha desgarrada;
Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
Moraliza o poeta nos ocidentes do Sol a
inconstância dos bens do mundo
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
- No Brasil: ocorre em Minas Gerais (ciclo do
ouro);
- Ouro incrementou o início de uma vida
urbana;
- Poetas são ligados ao movimento da
Inconfidência Mineira.
Principais características:
Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se a tristeza.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens da natureza
A firmeza somente na inconstância.
O
Arcadismo,
também
chamado
neoclassicismo, recebeu este nome como uma
referência à Arcádia, região campestre do
Peloponeso, na Grécia antiga, tida como ideal
de inspiração poética. Podemos dividir seus
autores em líricos e épicos.
Padre Antônio Viera (1608 – 1697)
Considerado o maior orador sacro da nossa
história, Vieira escreveu cerca de duzentos
sermões. Foi uma espécie de cronista da
história imediata. Foi também um defensor
dos índios e dos cristãos-novos. Sua obra se
divide em quatro temáticas básicas: a arte de
pregar, a causa do indígena, o problema da
escravização do africano e a questão
holandesa. Em todas elas, evidentemente, são
debatidas questões existenciais e religiosas.
Obra Principal: Sermões
Arcadismo (século XVIII)
Contexto Histórico
- Influência do Iluminismo, representado por
filósofos como Rousseau e Voltaire;
A poesia lírica, no Brasil, tem como principais
autores Tomás Antônio Gonzaga, que escreveu
Cartas Chilenas, uma obra satírica e a
principal obra árcade do país: “Marília de
Dirceu”. Já Cláudio Manuel da Costa é autor de
“Obras poéticas”, com influência da lírica
camoniana, e “Vila Rica”, poema narrativo
sobre Vila Rica, sendo este um poema épico.
Tomás Antônio Gonzaga – foi dos maiores
escritores do Arcadismo brasileiro. Sua obra,
na verdade, vai além das limitações desta
escola,
rodeando
o
pré-romantismo,
principalmente ao referir-se à mulher amada.
Obras:
Marília de Dirceu (1792) - Dividido em 3 partes:
➥Pastor Dirceu declara seu amor e celebra a
beleza de sua pastora, Marília;
brevidade dolorosa do amor e da vida).
Cultuou o soneto de Camões como modelo
para seus poemas.
Obras:
Obras Poéticas (1768)
Vila Rica (1839): poema narrativo sobre a
fundação de Vila Rica.
➥ Traduz estado de espírito do tempo em que
esteve na prisão;
➥ Poemas variados.
Cartas Chilenas (1845) – obra satírica:
➥ Cartas de Critilo para Doroteu
➥Críticas a Fanfarrão Minésio
Na poesia épica do arcadismo brasileiro
iniciou-se a delineação de uma literatura
nacionalista, diferente da europeia por utilizar
como temática a história colonial em meio à
descrição da paisagem tropical do país e a
inserção do índio como personagem.
Entre os autores de poesia épica destaca-se
Santa Rita Durão, que escreveu a obra
“Caramuru”, utilizando o Modelo de Camões
para contar a Lenda do descobrimento, através
dos personagens Diogo, Paraguaçu e Moema.
Outro destaque é Basílio da Gama, autor de “O
Uraguai”, poema épico pré-romântico, que
aborda como tema a tomada das missões,
através dos personagens Lindóia e Sepé
Tiarajú.
Cláudio Manuel da Costa - Utilizando o
pseudônimo
Glauceste
Satúrnio
(musa
inspiradora é Nise, a pastora inacessível), foi
um dos introdutores do Arcadismo no Brasil.
No entanto, é considerado um poeta de
transição (Barroco > Arcadismo) por
apresentar, ainda, uma temática barroca (a
Já rompe, Nise, a matutina aurora
O negro manto, com que a noite escura,
Sufocando do sol a face pura,
Tinha escondido a chama brilhadora.
Que alegre, que suave, que sonora
Aquela fontesinha aqui murmura!
E nestes campos cheios de verdura
Que avultado o prazer tanto melhora!
Só minha alma em fatal melancolia,
Por te não poder ver, Nise adorada,
Não sabe inda, que coisa é alegria;
E a suavidade do prazer trocada,
Tanto mais aborrece a luz do dia,
Quanto a sombra da noite mais lhe agrada.
Que deixa o trato pastoril amado
Pela ingrata, civil correspondência,
Ou desconhece o rosto da violência,
Ou do retiro a paz não tem provado
Que bem é ver nos campos transladado
O gênio do pastor, o da inocência!
E que mal é no trato, e na aparência
Ver sempre o cortesão dissimulado!
Ali respira amor, sinceridade;
Aqui sempre a traição seu rosto encobre;
Um só trata a mentira, outro a verdade:
Ali não há fortuna que soçobre;
Aqui quanto se observa, é variedade:
Oh ventura do rico! Oh bem do pobre.
Exercícios
Instrução: após a leitura do texto abaixo
(extraído da Carta de Caminha), responda à
questão 1.
“Nela até agora não pudemos saber que haja
ouro nem prata, nem nenhuma cousa de
metal, nem de ferro; nem lho vimos. A terra,
porém, em si, é de muito bons ares.”(...)
“Mas o melhor fruto que nela se pode fazer
me parece que será salvar esta gente. E esta
deve ser a principal semente que vossa Alteza
em ela deve lançar. E que não houvesse mais
ter aqui esta pousada para esta navegação de
Calecute, bastaria, quanto mais, disposição
para se nela cumprir e fazer o que Vossa
Alteza tanto deseja, a saber, acrescentando de
nossa santa fé.”
1) A respeito da Carta, de Caminha, podemos
afirmar que
bucólico, sempre povoado de pastoras e
ninfas.
III. A oposição entre Reforma e Contra-Reforma expressa, no plano religioso, os
mesmos dilemas de que o Barroco se ocupa.
Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(B) Apenas II.
(C) Apenas III.
(D) Apenas l e III.
(E) I, II e III.
3) Pode-se reconhecer nos versos abaixo, de
Gregório de Matos,
“Que falta nesta cidade? Verdade”.
Que mais por sua desonra? Honra.
Falta mais que se lhe ponha? Vergonha.
(A) não há preocupação com a conquista
material.
O demo a viver se exponha,
(B) a única preocupação era a catequese dos
índios.
Numa cidade onde falta
(C) é representativa do Barroco brasileiro.
(D) apresenta tanto preocupação material
quanto espiritual.
(E) não cita, em momento algum, os nativos
brasileiros.
2) Considere as seguintes afirmações sobre o
Barroco brasileiro.
I.A arte barroca caracteriza-se por apresentar
dualidades, conflitos, paradoxos e contrastes,
que convivem tensamente na unidade da obra.
II. O conceptismo e o cultismo, expressões da
poesia barroca, apresentam um imaginário
Por mais que a fama a exalta,
Verdade, honra, vergonha."
(A) o caráter de jogo verbal próprio do estilo
barroco, a serviço de uma crítica, em tom de
sátira, do perfil moral da cidade da Bahia.
(B) o caráter de jogo verbal próprio da poesia
religiosa do século XVI, sustentando piedosa
lamentação pela falta de fé do gentio.
(C) o estilo pedagógico da poesia neoclássica,
por meio da qual o poeta se investe das
funções de um autêntico moralizador.
(D) o caráter de jogo verbal próprio do estilo
barroco, a serviço da expressão lírica do
arrependimento do poeta pecador.
(E) o estilo pedagógico da poesia neoclássica,
sustentando em tom lírico as reflexões do
poeta sobre o perfil moral da cidade da Bahia.
4) Quanto ao período barroco
representantes
na
literatura
brasileira, é correto afirmar que
e seus
colonial
Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(B) Apenas III.
(A) os sermões de Antônio Vieira apresentam
uma retórica complexa pela exuberância de
imagens e pelos postulados morais e
religiosos.
(C) Apenas I e II.
(D) Apenas II e III.
(E) I, II e III.
(B) a obra de Gregório de Matos se distingue
pela sua unidade temática, expressa por um
tom satírico.
(C) a poesia irreverente de Gregório de Matos
satiriza diferentes tipos sociais, exceção feita
aos representantes da Igreja.
(D) o predomínio dos valores transcendentais,
motivados pela Reforma, marca o estilo
barroco da obra de Vieira.
(E) Gregório de Matos se ateve ao uso da língua
culta da Metrópole, ao contrário de Vieira, que
utilizou termos indígenas, africanos e
populares.
5) Leia as afirmações
Arcadismo brasileiro.
abaixo
sobre
o
I. Os poetas árcades colocavam-se como
pastores para realizarem, dessa forma, o ideal
de uma vida simples em contato com a
natureza.
II. O Arcadismo brasileiro, embora tenha
reproduzido muito dos modelos europeus,
apresentou características próprias, como a
incorporação do elemento indígena e a sátira
política.
III. O tema do Carpe diem, em que o poeta
expressa o desejo de aproveitar intensamente
o momento presente, fugaz e passageiro, foi
ignorado
pelos
árcades
brasileiros,
excessivamente racionalistas.
Gabarito
1–D
2–D
3–A
4–A
5–C
Aula 02
ROMANTISMO – Século XIX
O ROMANTISMO NO BRASIL
O
romantismo
brasileiro
nasce
das
possibilidades
que
surgiram
com
a
Independência Política (1822). Os artistas e
intelectuais são tomados por um sentimento
patriótico e nacionalista que vai se manifestar
através do:
•Indianismo
•Regionalismo
•Natureza Local
O movimento romântico pretendia, no início,
suplantar a concepção clássica da arte. A
imitação dos clássicos não fazia sentido num
tempo (fins do séc. XVIII) que havia produzido o
liberalismo e a Revolução Francesa.
Características no Brasil:
A Revolução Francesa significa, entre outras
coisas, o fim do absolutismo político (no plano
artístico, o fim da beleza única e absoluta) e a
ascensão
da
burguesia
como
classe
dominante.
A burguesia, culturalmente pouco afeita às
artes, exigia dos escritores um novo tipo e
nível de comunicação. Privilégio de uma classe
– a aristocracia – a cultura tinha que se
adaptar aos novos tempos. Surge, então, um
gênero literário que vinha se pronunciando há
mais tempo e que se constituirá no reflexo e
na crítica da sociedade burguesa: o romance.
No Brasil, o romantismo vai ser o movimento
identificado com a Independência Política.
Características:
1-Individualismo e subjetivismo
2-Sentimentalismo
3-O Culto da Natureza
4-Idealização (Imaginação, Fantasia)
5-Valorização do Passado
6-Liberdade Artística
Poesia Romântica
Canção do Exílio
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida
Nossa vida mais amores ( ... )
Gonçalves de Magalhães – introdutor do
movimento. Publicou a primeira obra
romântica brasileira – Suspiros Poéticos e
Saudades - (1836)
Gonçalves Dias – consolidou o romantismo
com uma produção poética de qualidade. Os
principais temas de sua poesia são:
• Índio: I – Juca Pirama
• Natureza / a pátria: Canção do Exílio
• Amor: Ainda uma vez Adeus Cara
Obras:
Primeiros Cantos (1846)
Segundos Cantos (1848)
Sextilhas de Frei Antão (1848)
I – Juca Pirama
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo tupi.
Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci;
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi. ( ... )
Álvares de Azevedo - considerado o "Byron
brasileiro", foi o maior representante nacional
do ultra-romantismo.
Temas Principais:
•Tédio: Desejo de Morte
•Amor: Medo, Mulher Inatingível
•Humor, cotidiano
Obras:
Lira dos Vinte Anos (poemas – 1853)
Noite na Taverna (contos – 1855)
O Conde Lopo (poema – 1886)
Macário (teatro – 1855)
Soneto
Pálida, a luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!
Era a virgem do mar! Na escuma fria
Pela maré das águas embalada...
– Era um anjo entre nuvens da alvorada
que em sonhos se banhava e se esquecia!
Era mais bela! O seio palpitando...
Negros olhos, as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...
Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti – as noites eu velei chorando,
Por ti – nos sonhos morrerei sorrindo!
Se eu morresse amanhã
Se eu morresse amanha, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!
(...)
Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!
Idéias Íntimas
(...)
Oh! ter vinte anos sem gozar de leve
A ventura de uma alma de donzela!
Na suave atração de um róseo corpo
Meus olhos turvos se fechar de gozo!
Casimiro de Abreu – poesia marcada pela
ingenuidade e pela musicalidade.
Temas Principais:
•Saudade – infância e pátria
•Amor e medo
Obras:
Primaveras (poemas, 1850)
Meus oito anos
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Amor e medo
Quando eu te fujo e me desvio cauto
Da luz de fogo que te cerca, oh! bela,
Contigo dizes, suspirando amores:
– Meu Deus! Que gelo, que frieza aquela!
Como te enganas! Meu amor é chama
Que se alimenta no voraz segredo,
E se te fujo é que te adoro louco...
És bela – eu moço; tens amor – eu medo!...
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
Adormecida
Uma noite eu me lembro... Ela dormia
Numa rede encostada molemente...
Quase aberto o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.
Castro Alves – além da temática social,
inovou ao tratar do amor em sua dimensão
carnal.
Temas Principais:
•Poesia
social:
humanitárias
causas
libertárias
e
•Poesia Amorosa: erotismo e sensualidade
Boa Noite
Boa-noite, Maria! Eu vou-me embora.
A lua nas janelas bate em cheio.
Boa-noite, Maria! É tarde... é tarde...
Não me apertes assim contra teu seio.
Boa-noite!... E tu dizes — Boa-noite.
Mas não digas assim por entre beijos...
Mas não mo digas descobrindo o peito
— Mar de amor onde vagam meus desejos.
Obras:
Espumas Flutuantes (1870)
A Cachoeira de Paulo Afonso (1876)
Os Escravos (1883)
Navio Negreiro
(...)
Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
(...)
Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é
esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Exercícios:
1. Leia o trecho abaixo, extraído do poema
Adormecida, de Espumas Flutuantes, de
Castro Alves.
“Uma noite, eu me lembro... Ela dormia
Numa rede encostada molemente...
Quase aberto o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente. (...)
De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras,
Iam na face trêmulos – beijá-la.
Era um quadro celeste!... A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia...
Quando ela serenava... a flor beijava-a...
Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia... (...)”
Vocabulário: rudos = rudes
Considere as afirmações abaixo, referentes ao
poema.
I. Trata-se de um poema que apresenta um
erotismo sutil e delicado, no qual uma mulher
dormindo com o roupão quase aberto é
acariciada por galhos e flores.
II. A imagem da mulher dormindo é comum ao
longo de todo o Romantismo, e, mesmo nos
poemas de poetas pertencentes a outras
gerações que não a de Castro Alves, é muito
comum que tal mulher surja envolta em uma
aura de sensualismo.
III. O poema é composto por estrofes de quatro
versos decassílabos dos quais o segundo e o
quarto verso de cada estrofe rimam entre si.
Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(B) Apenas II.
(C) Apenas III.
(D) Apenas I e III.
(E) I, II e III.
2. Leia com atenção o fragmento abaixo
extraído de “I-Juca Pirama”.
No meio das tabas de amenos verdores,
Cercadas de troncos – cobertos de flores,
Alteiam-se os tetos d’altiva nação;
São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,
Temíveis na guerra que em densas coortes
Assombram das matas a imensa extensão.
São rudos*, severos, sedentos de glória,
Já prélios incitam, já cantam vitória,
Já meigos atendem à voz do cantor:
São todos Timbiras, guerreiros valentes!
Seu nome lá voa na boca das gentes,
Condão de prodígios, de glória e terror!
Sobre as tendências da poesia romântica
indianista, assinale a alternativa incorreta em
relação à visão idealizada do poeta ao retratar
o indígena brasileiro.
(A) O índio de Gonçalves Dias ganhou o tom dos
valorosos cavaleiros medievais e reafirmou o
sentimento
nacionalista
de
nosso
Romantismo.
(B) O poema gonçalvino enalteceu e preservou
as
tradições
indígenas
brasileiras,
incorporando-as ao orgulho nacional.
(C) O poeta romântico transformou o silvícola
em um dos símbolos da autonomia cultural e
da superioridade da nação brasileira.
(D) A poesia romântica indianista resgatou o
passado histórico do Brasil e valorizou a
bravura de seus habitantes naturais.
(E) “I-Juca Pirama” expressa o nacionalismo
de seu autor, que, ao idealizar a coragem e o
heroísmo do índio brasileiro, atribuiu-lhe
também alguns distúrbios de personalidade.
3. Leia o texto que segue atentamente.
Quando te fujo e me desvio cauto
Da luz de fogo que te cerca, oh! bela,
Contigo dizes, suspirando amores:
- Meu Deus! Que gelo, que frieza aquela!
Como te enganas! Meu amor é chama
Que se alimenta no voraz segredo,
E se te fujo é que te adoro louco...
És bela – eu moço; tens amor – eu medo!...
(Casimiro de Abreu)
Sobre o trecho e a totalidade da obra desse
poeta, são feitas as seguintes afirmações:
I – a temática comum na obra de Casimiro – a
figura feminina apenas vislumbrada entre o
amor e o medo – evidencia-se no excerto
acima.
II – a abordagem do tema do medo provocado
pelo sentimento amoroso desenvolve-se de
forma marcada pela sensibilidade e pelas
pulsões eróticas de um jovem eu-lírico.
III – bastante popular, Casimiro oferece uma
obra acessível, musical, sem maiores
complexidades.
Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(B) Apenas II.
(C) Apenas III.
(C) lirismo romântico de tema político-social,
exprimindo o anseio do homem pela liberdade.
(D) epopeia romântica da corrente indianista.
(E) Romantismo nacionalista, repassado da
saudade que atormenta o poeta no exílio.
5. Leia o poema Canção do exílio, de Gonçalves
Dias.
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
(D) Apenas I e II.
(E) I, II e III.
Instrução: o excerto que segue refere-se à
questão 04.
Deus! Ó Deus! Onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu’estrelas tu t’escondes?
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?
4. Essa é a primeira estrofe de um poema que
é exemplo de
Em cismar - sozinho, à noite Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá."
(A) lirismo subjetivo, marcado pelo desespero
do pecador arrependido.
Considere as afirmações que seguem.
(B) lirismo religioso, exprimindo anseio da
alma humana em procura da divindade.
I- O poema trabalha com a oposição entre aqui
e lá; Brasil e Portugal, respectivamente.
II- O cuidado formal pode ser percebido na
regularidade métrica e no emprego constante
de rimas.
III- A utilização de formas pronominais da
primeira pessoa do plural na segunda estrofe
demonstra a preocupação do poeta em
reforçar o sentimento coletivo de patriotismo.
Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(B) Apenas I e II.
(C) Apenas II e III
(D) Apenas III.
(E) I, II e III.
Gabarito:
1–D
2–E
3–E
4–C
5–C
Aula 03
Joaquim
Prosa Romântica
Manuel
de
Macedo:
sentimental, adaptou o romance europeu às
necessidades
nacionais.
Mostrou
superficialmente a vida da burguesia urbana
da época.
• Brasil pós-Independência;
• Romance = instrumento de redescoberta do
país e de busca de identidade nacional;
• A Moreninha (1844): amor entre Augusto e
Carolina.
• Reconhecimento dos espaços nacionais: a
selva, o campo e a cidade.
José de Alencar:
Características gerais:
• Impasse amoroso com final feliz ou trágico;
• Amor como redenção;
• Idealização do herói;
• Idealização da mulher;
• Personagens planas;
• Flash-back narrativo;
• Linguagem metafórica.
Principais Autores e Obras:
elaborou um projeto
literário comprometido com a construção de
uma cultura brasileira, além de se preocupar
com a língua nacional. Suas obras de
abrangência social, histórica e geográfica
procuraram abarcar a multiplicidade dos
aspectos brasileiros, no mais das vezes,
idealizados.
• Romances Indianistas: Iracema, O Guarani e
Ubirajara
• Romances Históricos: A Guerra dos
Mascates, As Minas de Prata e Alfarrábios.
• Romances Regionalistas: O Gaúcho, O
Sertanejo, O Tronco do Ipê, ...
• Romances Urbanos: Lucíola, Diva, A Pata da
Gazela, Senhora, Sonhos d’Ouro, ...
Obras em destaque:
Iracema: relato de caráter lendário do Ceará,
por meio do romance entre Iracema, a virgem
dos lábios de mel, e Martim, o colonizador
branco, cujo filho, Moacir (o filho da dor),
simboliza a submissão do índio ao homem
branco.
Lucíola: em cartas a Sra. G.M., Paulo conta
sua história de amor vivida com a cortesã
Lúcia no Rio de Janeiro imperial. Apesar das
diferenças sociais, eles se apaixonam e Lúcia,
para provar seu verdadeiro amor, abdica da
vida de devassidão a que foi obrigada para
salvar a família vitimada pela febre amarela e
assume seu verdadeiro nome – Maria da Glória
- . Fica grávida, mas sofre um abordo e morre
nos braços de seu amado.
Senhora: narra a história de amor e vingança
entre Aurélia Camargo e Fernando Seixas
abordando a influência do dinheiro nas
relações amorosas e nos casamentos da
época. O romance divide-se em quatro partes,
que correspondem às etapas de uma
transação comercial: preço, quitação, posse e
resgate.
• Linguagem coloquial
• Enfoque nas classes populares
• Leonardo e Luizinha
• Major Vidigal = Lei e Ordem
Realismo
1857 – Madame Bovary, Gustave Flaubert
1881 – Memórias Póstumas de Brás Cubas,
Machado de Assis
Manuel Antônio de Almeida: escritor
de uma só obra, antecipou o Realismo com
Memórias de um Sargento de Milícias.
• Narrativa de costumes
Corte de D. João VI
» Contexto histórico trouxe o fim do Idealismo
Romântico e a necessidade de uma nova arte:
Realismo.
• Narrador: 3ª pessoa
• Predomínio do humor
No Brasil:
• Precursor do Realismo
Crítica social
Anti-herói (1º malandro da literatura
brasileira)
Na década de 1880, o Brasil ainda era uma
nação agrária, monarquista e escravocrata.
Apesar dos movimentos liberais, só nos
últimos anos dessa década, ocorreram a
Abolição (1888) e a Proclamação da República
(1889). Entre os fatos históricos que marcaram
o Brasil de 1880 a 1900, destacam-se a
aprovação da Lei Áurea, a Proclamação da
República, a promulgação da primeira
Constituição Republicana brasileira e a criação
da Academia Brasileira de Letras.
2ª Fase: Realista
• Análise crítica da burguesia
• Desprezo pelas Instituições
• Análise Psicológica
• Ironia
• Humor melancólico
• Pessimismo
Características Gerais:
• Objetividade e racionalismo;
• Verossimilhança;
• Contemporaneidade;
• Anti-herói e mulher não idealizada
(desmistificação dos heróis românticos);
• Crítica aos valores burgueses;
• Análise psicológica;
•Narração lenta.
Contos:
O Alienista, Missa do Galo, A
Cartomante, Conto de Escola, O Caso da Vara,
Pai contra Mãe, etc.
Temáticas:
Romances:
• Descrença na estrutura familiar e no
casamento;
• Parasitismo social;
• Fracasso permeando a vida dos indivíduos;
• Adultério, egoísmo, vaidade, hipocrisia,
interesse;
• Limite entre loucura e razão;
• Ambiguidade nas ações e nos personagens;
• Crítica ao clero, à Monarquia e ao
preconceito racial.
Principal Autor e Obras: MACHADO DE ASSIS
1ª Fase: Romântica
• Convencionalismo
• Conformismo
• Personagens Planas
Romances: A mão e a Luva, Helena, Iaiá Garcia
Memórias Póstumas de Brás
Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e
Jacó e Memorial de Aires.
Memórias Póstumas de Brás Cubas: esse
romance é uma revolução em termos de
estrutura e linguagem. O público do romance
romântico estava acostumado ao episódio, aos
incidentes circunstanciais das personagens.
Machado de Assis escreve um romance que se
caracteriza pela lentidão, pela análise
exaustiva. O enfoque central não é a vida social
ou a descrição da paisagem, mas a maneira
como as personagens veem e sentem as
circunstâncias em que vivem. É narrado em
primeira pessoa por um defunto, Brás Cubas,
que está preocupado em reexaminar, de modo
irônico, mas radical, os principais momentos
de sua vida. As lembranças não aparecem
linearmente, dependem das oscilações da
memória. O personagem mostra seus mais
secretos desejos e anomalias e também as
hipocrisias de uma sociedade que estrutura
sua vida sobre falsos valores. Brás Cubas
conta seus amores por Marcela, paixão
desenfreada de sua juventude, seus ideais
para vencer na vida, sempre equivocados, e
sua relação amorosa com Virgília, esposa do
seu amigo Lobo Neves. No livro, o autor
analisa a teoria do Humanitismo, do seu amigo
filósofo Quincas Borba. A análise individual e
social é sarcástica, impiedosa, até corrosiva, e
o romance está impregnado de amargura
cruel e niilista, que encontramos nas palavras
de Brás Cubas: “ Ao chegar a este outro lado
do mistério, achei-me com um pequeno saldo,
que é a derradeira negativa deste capítulo de
negativas: - Não tive filhos, não transmito a
nenhuma criatura o legado de nossa miséria.”
Quincas Borba: narrado em 3ª pessoa, o
romance conta a história do modesto
professor Rubião que recebe a grande herança
do falecido filósofo Quincas Borba, com a
condição de cuidar de seu cachorro, também
chamado Quincas Borba. Rubião abandona a
pequena cidade do interior, mudando-se para
o Rio de Janeiro, onde é enganado e explorado
por um bando de parasitas sociais,
especificamente pelo casal Cristiano Palha e
Sofia. Sofia percebe a paixão do professor por
ela e se diverte com sua ingenuidade. Tais
reveses, além do amor frustrado por Sofia
acabam levando o professor à demência. Ele
retorna acidade natal – Barbacena - , onde
morre abandonado e ridicularizado por quase
todos. Ao seu lado, apenas o cão, que também
vem a falecer.
Dom Casmurro: o romance se vale de uma
situação cheia de incertezas para sugerir
quase tudo e revelar muito pouco. Já
envelhecido, Bentinho, apelidado de Dom
Casmurro devido a sua amarga solidão,
resolve “atar as duas pontas da vida” através
da reconstituição dos principais fatos de sua
existência. Assim, em retrospectiva, técnica
que lhe dá chances para um aprofundado
estudo psicológico, o autor faz Bentinho contar
de seu amor por Capitu, sua experiência no
seminário, sua amizade com Escobar e
finalmente o casamento com sua amada –
Capitu. Transtornado pelo ciúme e pela dúvida
sobre a traição de Capitu e Escobar, Bentinho
separa-se da mulher e do filho ficando cada
vez mais solitário e casmurro.
Esaú e Jacó: narrado em 3ª pessoa, a história
criada pelo Conselheiro Aires, também
personagem do romance, gira em torno dos
irmãos gêmeos, Pedro e Paulo. Adversários na
infância, na juventude e na maturidade; vão se
opor em tudo. Um será conservador, o outro
liberal. Só num aspecto coincidem, além da
semelhança física: a paixão por Flora, jovem
indecisa entre o amor de ambos. Flora termina
morrendo sem conseguir optar por nenhum
dos gêmeos, que continuam cada vez mais
desunidos. Vale lembrar que a inimizade dos
irmãos, além de remeter à disputa entre os
personagens bíblicos Esaú e Jacó, é também
uma alegoria política do Brasil da época que
viva o processo de transição entre a monarquia
e a república.
Memorial de Aires: a obra não tem
propriamente um enredo: estrutura-se em
forma de um diário escrito pelo Conselheiro
Aires (personagem que já aparecera em Esaú
o Jacó), onde o narrador relata, miudamente,
sua vida de diplomata aposentado no Rio de
Janeiro de 1888 e 1889. Sucedem-se, nas
anotações
do
conselheiro,
episódios
envolvendo pessoas de suas relações, leituras
do seu tempo de diplomata e reflexões quanto
aos acontecimentos políticos, sociais e
culturais. Destaca-se, dando uma certa
unidade aos fragmentos de que o livro é
composto, a história de Tristão e Fidália. Ela,
viúva moça e bonita, é grande amiga do casal
Aguiar, uma espécie de filha postiça de D.
Carmo. Tristão, afilhado do mesmo casal,
viajara para a Europa, em menino, com os pais.
Visitando, agora, o Rio de Janeiro, dá muita
alegria aos velhos padrinhos. Tristão e Fidélia
acabam por apaixonar-se e, depois de
casados, seguem para a Europa, deixando a
saudade e a solidão como companheiros dos
velhos Aguiar e D. Carmo.
O Naturalismo, assim como o Realismo, se
volta para a realidade. Entretanto, observa-a,
analisa-a,
disseca-a
sob
uma
ótica
rigorosamente científica. Os escritores
naturalistas, valendo-se de temas inovadores,
mostram a decadência das instituições,
denunciam a hipocrisia, caracterizam as lutas
sociais, com espírito participativo e reformista.
Características:
Características do Realismo
Racionalismo / Objetivismo
Verossimilhança
Denúncia Social
Homem reduzido à condição animal
determinado pelos instintos
Predomínio do coletivo sobre
individual
Personagens patológicas
Enfoque nas classes populares
Descritivismo fotográfico
Autor Principal e Obras: Aluísio de Azevedo
o
O Mulato – 1ª obra do naturalismo brasileiro
• tragédia de Raimundo
• racismo em São Luís, MA
Casa de Pensão
• narração em 3ª pessoa
• Influência do ambiente no indivíduo
científico da época, surgindo no século XIX em
oposição ao romantismo. Diferentemente do
Realismo e do Naturalismo, que se voltavam
para o exame da realidade, o Parnasianismo
representou na poesia o retorno à orientação
clássica, ao princípio do belo na arte, à busca
do equilíbrio e da perfeição formal. Os
parnasianos acreditavam que o sentido maior
da arte residia nela mesma, em sua perfeição,
e não no mundo exterior.
• Amâncio, João Coqueiro, Mme. Brizard
CARACTERÍSTICAS:
O Cortiço
1. Objetividade / Racionalismo
• Principal obra do naturalismo brasileiro
2. Arte pela Arte > sem sentido utilitário,
desvinculada das questões sociais, vale pela
Beleza
• Painel do subúrbio do RJ
• Denúncia contra a discriminação e a miséria
• Influência do meio no comportamento
•Taras sexuais e anomalias psicológicas
» Cortiço = personagem principal
» João Romão / Bertoleza
3. Culto à Forma > Métrica Rigorosa, Rimas
Ricas, Formas Fixas
4. Temática greco-romana
5. Descritivismo > natureza, objetos, cenas,
corpo feminino, etc.
» Miranda / Estela / Zulmira
» Jerônimo / Rita Baiana
AUTORES:
OLAVO BILAC (1865 – 1918): foi o mais
Movimento literário de origem francesa, que
representou na poesia o espírito positivista e
popular dos poetas parnasianos brasileiros,
sendo eleito em 1913 o primeiro "Príncipe dos
Poetas Brasileiros". Seus poemas foram
decorados e declamados por toda parte, tanto
nas ruas como em saraus e salões literários.
Temas Principais:
• Questionamento da própria poesia (o fazer
poético);
• Amor > Sensualidade e platonismo
alternam-se em seus poemas líricos;
• Natureza;
• Pátria;
Via láctea – XIII
Ora (direi) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso! E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas pálido de espanto ...
E conversamos toda a noite, enquanto
A Via-Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
• Antiguidade greco-romana.
Direi agora: “Tresloucado amigo !
Que conversas com ela? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”
Obras: Via láctea, Sarças de Fogo, O caçador
de Esmeraldas (tentativa épica).
E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e entender as estrelas.”
Profissão de fé
Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.
(...)
Assim procedo. Minha pena
Segue esta norma,
Por te servir, Deusa serena,
Serena Forma!
A um poeta
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!
Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica mas sóbria, como um templo grego.
Satânia
Nua , de pé, solto o cabelo às costas,
Sorri. Na alcova perfumada e quente,
Pela janela, como um rio enorme
Profusamente a luz do meio-dia
Entra e se espalha, palpitante e viva.
Como uma vaga preguiçosa e lenta
Vem lhe beijar a pequenina ponta
Do pequenino pé macio e branco
Sobe... Cinge-lhe a perna longamente;
Sobe... e que volta sensual descreve
Para abranger todo o quadril! – prossegue
Lambe-lhe o ventre, abraça-lhe a cintura
Morde-lhe os bicos túmidos dos seios
Corre-lhe a espádua, espia-lhe o recôncavo
Da axila, acende-lhe o coral da boca.
E aos mornos beijos, às carícias ternas
Da luz, cerrando levemente os cílios
Satânia... abre um curto sorriso de volúpia.
ALBERTO DE OLIVEIRA
considerado
parnasianos.
o
mais
(1857 – 1937):
parnasiano
dos
Temas: natureza, objetos e temática Grecolatina.
Poemas mais conhecidos: “Vaso Grego”, “Vaso
Chinês”, “A Estátua”
RAIMUNDO CORREIA (1859 – 1911): sua
poesia possui tom filosófico e melancólico,
quase pessimista.
Poemas mais conhecidos: “As Pombas” e “Mal
secreto”
CARACTERÍSTICAS:
1. Subjetivismo – descoberta do inconsciente e
do subconsciente;
2. Irracionalismo – há um mergulho no
irracional, fuga do mundo proposto pelo
racionalismo. A ciência explica o mundo, o
poeta deve comunicar o irracional, o mundo
interior. Há um clima de mistério, situações
vagas, obscuras, presença do inconsciente e
do subconsciente;
3. Misticismo, religiosidade;
4. Sugestão – imagens, metáforas, símbolos,
sinestesias, etc. A poesia não deve dizer nada,
apenas sugerir;
5. Musicalidade – na tentativa de sugerir
infinitas sensações, os simbolistas aproximam
a poesia da música através do ritmo, das
combinações estranhas de rimas, repetição de
palavras e versos, aliterações, assonâncias,...
6. A linguagem é simbólica e musical;
7. Desejo de transcendência, de integração
cósmica;
No final do século XIX, ao mesmo tempo em
que ainda vigorava a onda cientificista e
materialista que deu origem ao Realismo e ao
Naturalismo, já surgia um grupo de artistas e
pensadores que punha em dúvida a capacidade
absoluta da ciência de explicar todos os
fenômenos relacionados ao homem. A
literatura que representou essa nova forma de
ver o mundo, mais voltada para o subjetivo,
para o inconsciente, para o místico, foi o
Simbolismo.
8. Interesse pelo noturno, pelo mistério e pela
morte.
AUTORES
CRUZ E SOUSA (1863 – 1898) – considerado
o mais importante poeta simbolista brasileiro,
inaugura o movimento com as obras “Missal” e
“Broquéis” (1893). Manteve em sua obra a
estrutura formal típica do Parnasianismo (uso
de sonetos, rimas ricas, etc.), mas em um tom
mais musical, rítmico, com uma variedade de
efeitos sonoros, uma riqueza de vocabulários,
e um precioso jogo de correspondências
(sinestesias) e contrastes (antíteses).
Violões que Choram
Ah! Plangentes violões dormentes, mornos
Soluços ao luar, choros ao vento...
Tristes perfis, os mais vagos contornos,
Bocas murmurejantes de lamento
( ... )
Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.
Temas Principais:
• Morte;
•Sofrimento da condição humana, conflito
entre matéria e espírito;
• Espiritualização e religiosidade;
• Sublimação dos desejos carnais;
• Obsessão pela cor branca
Obras: Missal (prosa), Broquéis (versos),
Faróis (versos), Evocações (prosa) e Últimos
sonetos.
ALPHONSUS DE GUIMARAENS (1870 –
1921): Marcado pela morte da prima
Constança – a quem amava e que tinha apenas
17 anos – sua poesia, marcada por uma
profunda suavidade e lirismo, com uma
linguagem simples e um ritmo bem musical,
cheio de aliterações e sinestesias, é toda
voltada ao tema da morte da mulher amada.
Temas:
• Amor
• Morte
Antífona
• Atmosfera mística e litúrgica
Ó formas alvas, brancas, Formas claras
• Loucura
De luares, de neves, de neblinas! ...
Ó formas vagas fluidas, cristalinas ...
Obras: Dona Mística, Kiriale, Câmara Ardente
Incensos dos turíbulos das aras ...
(...)
Infinitos espíritos dispersos,
Inefáveis, edênicos, aéreos,
Fecundai o Mistério destes versos
Com a chama ideal de todos os mistérios ...
Ismália
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar ...
Viu uma lua no céu,
Viu uma lua no mar.
(...)
E como um anjo pendeu
As asas para voar ...
Queria a lua do céu
Queria a lua do mar ...
E as asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par ...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar ...
Exercícios
1. A vinda da família real portuguesa para o
Brasil, em 1808, fomentou econômica, política
e, principalmente, culturalmente o cenário
local. A prosa romântica brasileira foi
beneficiária direta da presença da corte de D.
João VI no Rio de Janeiro, já que a criação dos
jornais diários possibilitou o sucesso do
romance estruturado em folhetins. Sobre este
tipo de estrutura romanesca e sua utilização
no Romantismo brasileiro somente NÃO se
pode afirmar que:
(A) Apresenta enredos baseados nos
acontecimentos narrados, de modo a produzir
uma trama cheia de peripécias cuja finalidade
é contrapor-se ao desejo do par romântico de
realizar seu amor.
(B) Sempre apresentam um final feliz através
da união do par romântico, que consegue
vencer todas as dificuldades que se
apresentam a seu mútuo amor, consumando
seus sentimentos.
(C) Tal como nas fábulas, suas personagens
desempenham papéis preconcebidos nas
narrativas, simbolizando a sociedade de modo
maniqueísta e cristalizado.
(D) São construídas mediante tramas
superficiais, onde as personagens, no mais das
vezes bastante moralistas, apresentam-se
como criaturas rasas do ponto de vista
psicológico.
(E) Não visava à análise crítica da sociedade,
uma vez que a descrevia através de extrema
idealização, primando pelo entretenimento de
um público leitor que pouco exigia da
Literatura além de um simples modo de
diversão.
2. Preencha as lacunas com V (verdadeira) ou
F (falsa), com base no romance Memórias de
um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de
Almeida. Após assinale a alternativa que
apresenta a sequencia correta, de cima para
baixo.
(_) O romance retrata a elite e as classes
abastadas do Rio de Janeiro, na época de D.
Pedro II, anterior à abolição.
(_) Leonardo Pataca é "o primeiro grande
malandro que entra na novelística brasileira".
(_) A vida de Leonardo transita entre a "ordem
constituída" (Major Vidigal) e a "desordem
tolerada" (Maria Regalada), para proveito da
personagem principal.
(_) O narrador da obra, embora se mantenha
distanciado do texto narrado, revela uma
atitude crítica em face das convenções sociais
da época.
(_) Enquadrada no período Romântico, a obra
foi considerada precursora do Realismo e
rotulada, por Mário de Andrade, como
"romance picaresco".
(_) Apesar de malandro, Leonardo encarna o
típico herói romântico, capaz de desafiar o mal
e lutar pela pureza do seu amor até tornar-se
um sargento de milícias.
(_) Irreverência e esperteza marcam a vida de
Leonardo Pataca, despreocupado com os
valores sociais, exceto quando estes
funcionam a seu favor, instaurando a ideologia
da malandragem.
(D) pairar acima das fraquezas humanas,
analisando-as com rigor ético e severidade
moral.
(E) satirizar as tendências românticas e
espiritualistas da época, submetendo-as a
uma visão cientificista da História.
(A) V – V – V – F – V – F – V.
(B) F – V – F – F – V – F – V.
(C) F – F – F – V – F – V – F.
(D) F – V – V – F – V – F – V.
(E) V – F – V – V – F – V – F.
3. Leia atentamente o trecho que segue.
“Algum tempo hesitei se devia abrir estas
memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se
poria em primeiro lugar o meu nascimento ou
a minha morte. Suposto o uso vulgar seja
começar pelo nascimento, duas considerações
me levaram a adotar diferente método: a
primeira é que não sou propriamente um autor
defunto, mas um defunto autor, para quem a
campa foi outro berço; a segunda é que o
escrito ficaria assim mais galante e mais
novo.”
A condição na qual anteriormente se
apresenta o narrador das Memórias Póstumas
de Brás Cubas, de Machado de Assis, permitiulhe
(A) isentar-se de qualquer compromisso com a
realidade objetiva, permanecendo no plano do
imaginário e do fantástico.
(B) reconstruir caprichosamente a totalidade
da própria história, com humor crítico e
discreta melancolia.
(C) manter um frio julgamento de sua própria
história, dispensando as marcas subjetivas da
ironia e do humor.
4. As seguintes afirmações referem-se à obra
de Machado de Assis.
I. Em Esaú e Jacó, uma das interpretações
para o conflito que se estabelece entre os dois
irmãos gêmeos é que ele pode simbolizar o
momento histórico em que se passa a
narrativa, na transição política do Império para
a República.
II. Em Dom Casmurro, Bentinho, o narrador,
retoma a história de sua vida e reflete sobre a
infidelidade conjugal e sobre o sentido da
existência.
III. Machado de Assis altera o foco do romance
brasileiro romântico, quando deixa de enfatizar
a descrição da natureza para centrar-se nas
atitudes e psicologia das personagens.
Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(B) Apenas II.
(C) Apenas III.
(D) Apenas I e III.
(E) I, II e III.
5. Considere as seguintes afirmações.
I. Os romances do Naturalismo sustentam-se
nas teorias deterministas da época; por isso os
personagens
geralmente
apresentam
características patológicas.
II. Aluísio Azevedo seguiu rigidamente os
pressupostos teóricos do Naturalismo e, no
romance O Cortiço, apresentou um painel das
relações sociais do Rio de Janeiro no final do
século XIX.
III. Nos textos naturalistas, a subjetividade do
narrador contrasta com o rigor científico que
permeia a construção do enredo.
Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(B) Apenas II.
(C) Apenas I e II.
(D) Apenas I e III.
(E) I, II e III.
Gabarito
1–B
2–D
3–B
4–E
5–C
Aula 04
Autores e Obras:
A literatura brasileira atravessa um período de
transição nas primeiras décadas do século XX.
De um lado, ainda há a influência das
tendências artísticas da Segunda metade do
século XIX; de outro, já começa a ser
preparada a grande renovação modernista,
que se inicia em 1922, com a Semana de Arte
Moderna. A esse período de transição, que não
chegou a constituir um movimento literário,
chamou-se de Pré-modernismo.
Obra máxima: Os Sertões (1902)
- Ensaio sociológico e histórico – rigor
científico
- Influência do cientificismo sobre Canudos e
sobre a guerra movida pelas forças do governo
contra Antônio Conselheiro e SUS seguidores.
- Determinismo geográfico, racial, histórico.
- A estrutura do livro é justificada pela teoria
determinista:
A Terra: análise
geográfico do sertão.
do
condicionamento
O Homem: análise da miscigenação, das
crenças, dos hábitos geradores do fatalismo
messiânico; costumes do sertanejo.
A Luta: narra o conflito entre o primitivismo
interiorano e a civilização urbana; quatro
expedições contra Canudos e sua extinção.
- Nacionalista:
progressista;
ideal
de
país
moderno,
- Desinteressado pela renovação literária;
valorização do “realismo tradicional”.
- Mulato e pobre;
- Temática do preconceito;
- Análise da vida suburbana carioca,
especialmente do funcionário público.
Obra Principal: Triste Fim de Policarpo
Quaresma
- Tema: Pátria = Construção, enfrentamento
da realidade, não sonho ou idealismo.
- Narrado em 3ª pessoa.
- Policarpo (Quixote) Quaresma
Funcionário
Público,
Nacionalista ufanista.
- Projetos de Brasilidade: Cultural, Agrícola e
Político.
- Revolta da Armada.
- “Paranoia ou Mistificação” (1917): artigo
polêmico em que critica a exposição de pintura
expressionista de Anita Malfati.
Obras (contos):
- Urupês (1918) – onde cria a figura do caipira
Jeca Tatu, exemplo típico do caboclo paulista
marginalizado pelo progresso.
- Cidades Mortas (1919)
- Negrinha (1920)
Obra: Eu (1912) – poemas
- Obra única (sucesso popular, ignorado pela
crítica);
- Vocabulário cientificista, às vezes agressivo,
apesar do tom coloquial;
- Visão pessimista;
- Materialismo, angústia, falta de esperança;
- Predomínio do soneto.
Vês, Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te a lama que te espera!
O homem, que nesta terra miserável,
Psicologia de um Vencido
Mora, entre feras, sente a inevitável
Necessidade de também ser fera.
Eu, filho do carbono e do amoníaco
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
Monstro de escuridão e rutilância,
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
A influência má dos signos do Zodíaco.
Se alguém causa ainda pena a tua chaga,
Profundissimamente hipocondríaco,
Apedreja essa mão vil que te afaga
Este ambiente me causa repugnância...
Escarra nessa boca que te beija!
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme, este operário das ruínas
Que o sangue podre das carnificinas
SIMÕES LOPES NETO (1865 – 1916)
Come, e à vida em geral declara guerra.
- Considerado o criador do regionalismo sulrio-grandense;
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
- Fotografia social > valores, costumes,
tipologia,...
E há de deixar-me apenas os cabelos,
- Oralidade e regionalismos da linguagem.
Na frieldade inorgânica da terra!
Obras:
- Cancioneiro Guasca (1910) " série de poemas
populares;
- Contos Gauchescos (1912) " 19 contos
narrados por “Blau Nunes” que retomam
elementos do regionalismo e transformam-os
em instrumento de reflexão sobre a realidade
gaúcha;
- Lendas do Sul (1913) "série de lendas do
folclore popular”;
- Casos do Romualdo (1952) "brincalhão e
mentiroso, representa a desmistificação do
gaúcho”.
Exercícios
opção por apenas uma ou outra definição
implicaria reducionismo estético.
III. A obra Triste fim de Policarpo Quaresma
tem como personagem principal um major
nacionalista que, entre outros excessos, chega
a propor a adoção do tupi como língua oficial
brasileira. A personagem é internada em um
hospício, fato também ocorrido com o autor.
Quais estão corretas?
(A) Apenas II.
1. Assinale a alternativa que se refere à(s)
correta(s) afirmativa(s) acerca de Triste fim de
Policarpo Quaresma, de seu autor Lima
Barreto e do Pré-Modernismo brasileiro.
I. Lima Barreto viveu no Rio de Janeiro entre o
final do século XIX e início do século XX, de tal
sorte que presenciou o desenrolar de
acontecimentos históricos marcantes no
cenário nacional, como a abolição dos
escravos e a proclamação da república. Foi um
dos maiores cronistas do universo carioca de
sua época e um dos escritores mais críticos e
severos da incipiente República, por ele
considerada preconceituosa e profundamente
hipócrita.
II. O prefixo “pré”, no caso do Pré-Modernismo
brasileiro, pode ser lido de duas maneiras:
como um período de preparação ao
Modernismo que irá ter como marco inicial a
Semana da Arte Moderna, de 1922 e, portanto,
encarado como um período que já apresenta
os primeiros indícios modernistas; ou, como
um
período
que
apenas
antecede
cronologicamente o Modernismo e que ainda
apresentava várias produções literárias
filiadas a estéticas anteriores. Dessa forma, a
(B) Apenas III.
(C) Apenas I e III.
(D) Apenas II e III.
(E) I, II e III.
2. Considere as seguintes afirmações sobre Os
Sertões, de Euclides da Cunha.
I. Na prosa grandiloquente do livro, a
linguagem recebe um tratamento artístico
todo especial, num trabalho semelhante ao de
um escultor.
II. Na primeira parte do livro, Euclides
descreve as características geológicas e
topográficas do sertão, particularmente da
região de Canudos.
III. O sertão de Canudos é descrito
romanticamente por Euclides da Cunha, uma
vez que ele recria um espaço idealizado, onde
há uma perfeita harmonia entre o homem e a
natureza.
IV. O material fornecido pelo episódio de
Canudos foi trabalhado por Euclides da Cunha
em Os Sertões com base no cientificismo que a
cultura do século XIX lhe propiciou.
A sequência correta de preenchimento dos
parênteses, de cima pra baixo, é
(A) V-F-V-F-F
(B) V-V-V-F-F
Quais estão corretas?
(C) F-F-V-V-F
(A) Apenas I e III.
(D) F-V-F-F-V
(B) Apenas II e IV.
(E) V-V-F-F-F
(C) Apenas I, II e III.
(D) Apenas I, II e IV.
(E) Apenas II, III e IV.
3. Assinale com V (Verdadeiro) ou F (Falso) as
afirmações abaixo sobre a obra Os Sertões, de
Euclides da Cunha.
(__) No texto de Euclides da Cunha, misturamse o requinte da linguagem, a intenção
científica e o propósito jornalístico.
(__) A obra euclideana insere-se numa
tradição da literatura brasileira que tematiza o
povoamento do sertão, iniciada ainda no
Romantismo com Bernardo Guimarães.
(__) Euclides da Cunha escreveu Os Sertões
com base nas reportagens que realizou como
correspondente do jornal O Estado de São
Paulo.
4. Considere as seguintes afirmações sobre
obras de Monteiro Lobato.
I. Em Urupês, Cidades Mortas e Negrinha, ele
produz
uma
literatura
comprometida
predominantemente com os problemas
socioeconômicos do Brasil.
II. Em Urupês, ele atribui a culpa pelo atraso
do Brasil ao caboclo, por ele ser acomodado e
inadaptável às mudanças necessárias ao
desenvolvimento.
III. O título Cidades Mortas alude às
cidadezinhas do interior de São Paulo, que
perderam a sua importância econômica face à
Capital.
Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(__) Antônio Conselheiro é uma personagem
fictícia criada pelo imaginário do autor.
(B) Apenas II.
(__) O episódio de Canudos, retratado no texto
de Euclides da Cunha, faz parte dos
movimentos de protesto surgidos logo após a
proclamação da Independência do Brasil.
(D) Apenas I e II.
(C) Apenas III.
(E) I, II e III.
5. É correto afirmar que Augusto dos Anjos foi
o poeta do
(A) pessimismo aliado à ciência que acusava a
degradação humana mediante associações e
comparações com processos químicos e
biológicos.
(B) cientificismo triunfante que, aliado à ideia
de progresso, marcou boa parte da lírica
contemporânea aos primeiros anos da
República.
(C) pessimismo acusatório que denunciou o
latifúndio e a política oligárquica, reproduzindo
na poesia as preocupações e temas de Lima
Barreto.
(D) esteticismo que depurava a forma de seus
sonetos à perfeição, sem jamais fazer
concessões a temas considerados prosaicos
ou de mau gosto.
(E) cientificismo militante disposto a abranger
temas como o cálculo algébrico, a crítica
literária e arquitetura para retirar o caráter
subjetivo da poesia.
Gabarito
1–E
2–D
3–B
4–E
5–A
Aula 05
Autores:
> Principal figura teórica do movimento;
> Temas:
- O progresso de São Paulo;
- Família burguesa paulistana;
- Nacionalismo Crítico;
- Antropofagia.
Poesia:
>
Paulicéia
Desvairada
Interessantíssimo)
–
(Prefácio
> Losango Cáqui
> Clã do Jabuti
> Lira Paulistana
Ode ao Burguês
Eu insulto o burguês! O burguês níquel,
O burguês-burguês!
A digestão bem feita de São Paulo!
O homem curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro,
italiano,
É sempre um cauteloso pouco-a-pouco! (...)
Romance:
Amar, Verbo Intransitivo
- Fräulein Elza é contratada oficialmente para
ensinar alemão e piano aos filhos do casal
Souza Costa. Sua função de fato, no entanto,
era fazer a iniciação sexual d Carlinhos, filho
adolescente do casal.
- Crítica aos valores da família burguesa
paulistana.
Rapsódia:
Macunaíma - “O herói sem nenhum caráter.”
- Mistura contos populares, anedotas,
narrativas míticas, lendárias e folclóricas
- Narrado em 3ª pessoa
- Tempo / Espaço: Míticos
- Humor, ironia
- Intertextualidade
- Síntese cultural brasileira
- Anti-herói, malandro
> Irrequieto e ousado;
> Ligado aos movimentos Pau-Brasil e
Antropofagia;
> Renovação da Linguagem Literária:
fragmentação,
paródias,
neologismos,
subversão sintática, etc.
Poesia:
Pau-Brasil (poesia de exportação)
> História e Cultura Brasileira (tema)
- visão crítica e irônica
> Técnicas de Vanguarda (linguagem)
- paródias, deboche, fragmentação
O Capoeira
- Qué apanhá sordado?
- O quê?
- Qué apanhá?
Pernas e cabeças na calçada.
Instrução: para responder à questão 02, leia os
textos a seguir.
Canto de Regresso à Pátria
Minha terra tem palmares
I
Onde gorjeia o mar
Pedro apenas trabalhou.
Os passarinhos daqui
Ganhou mais, foi subindinho,
Não cantam como os de lá
Um pão de terra comprou.
Um pão apenas, três quartos
Romance:
> Memórias Sentimentais de João Miramar
> Serafim Ponte Grande
E cozinha num subúrbio
Que tudo dificultou.
II
Exercícios
A cidade progredia
Em roda de minha casa
01. Música de
modernista por
Manivela
é
tipicamente
(A) reelaborar, com linguagem direta, um
elemento da vida urbana moderna.
(B) unir o arcaico e o moderno, o rural com
traços coloniais e o urbano voltado para o
futuro e a velocidade.
(C) citar a retórica bacharelesca e pomposa
para criticá-la logo a seguir.
(D) retomar a tradição cultural do negro e do
índio para questionar os valores patriarcais.
(E) denunciar a exploração capitalista e seus
efeitos sobre a saúde dos trabalhadores.
Que os anos não trazem mais
Debaixo da bananeira
Sem nenhum laranjais.
02.
Tanto no texto I, de Mário de Andrade,
quanto no texto II, de Oswald de Andrade,
encontram-se exemplos de uma das propostas
dos modernistas de 1922. Assinale a
alternativa em que essa proposta se explicita.
(A) Os nossos poetas de hoje, possuindo um
sentimento igual, e às vezes superior ao dos
poetas antigos, sobre eles excedem pelo
cuidado que dão à pureza da linguagem e pela
habilidade com que variam e aperfeiçoam a
métrica.
(B) A língua sem arcaísmos. Sem erudição.
Natural e neológica. A contribuição milionária
de todos os erros.
(C) Os tempos em que vivemos são outros,
tempos de técnica e comunicação maciça,
tempos em que outra é a percepção da
realidade (...); logo, tempos em que já não faria
sentido o uso da unidade de verso linear, nem
o da frase.
(D) A literatura exaltou até hoje a imobilidade
pensativa, o êxtase, o sono. Nós queremos
exaltar o movimento agressivo, a insônia febril,
o passo de corrida, o salto mortal, o bofetão e
o soco.
Com relação a eles, é correto afirmar que
(A) Em ambos, é estabelecida uma
intertextualidade com a carta de Pero Vaz de
Caminha, com o propósito de desconstruí-la, a
partir da confrontação de duas realidades
brasileiras que, embora distantes no tempo,
permanecem similares em sua quintessência.
(E) O filho dos trópicos deve escrever numa
linguagem propriamente sua, lânguida como
ele, quente como o sol que a abrasa, grande e
misteriosa como as suas matas seculares.
(B) Nos dois poemas, percebemos referência
do autor a uma realidade que até então
(Semana de Arte Moderna) não era retratada
pela literatura brasileira, o que o colocou em
rota de colisão com o movimento literário do
qual participava.
03. Entre os muitos textos conhecidos do poeta
modernista Oswald de Andrade, selecionamos
os que seguem.
(C) A oposição “melhor/mio”, no primeiro
poema, conota a forte estratificação social
vigente na realidade brasileira da época,
reforçada pelo tom depreciativo da poesia de
Oswald ao falar popular brasileiro.
Vicio na Fala
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mio
Para pior pio
Para telha teia
Para telhado teiado
E vão fazendo telhados
As Meninas da Gare
Eram três ou quatro moças bem moças e bem
gentis
(D) O último verso do primeiro poema pode
referir-se tanto às ocupações operárias da
camada da população que se vale da
linguagem
não-padrão
quanto
ao
distanciamento social entre os estratos
populacionais, agravando a diferença no modo
de falar.
(E) A referência à ausência de vergonha,
confessada pelo eu-lírico, remete a uma
conhecida passagem da carta de Pero Vaz de
Caminha, com o firme propósito de satirizar as
mazelas sociais brasileiras, conforme o
preconizado pelo Manifesto Antropofágico.
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha
(ANDRADE, Oswald de. Poesias Reunidas, RJ:
Civilização Brasileira, 1978)
04. Assinale a alternativa incorreta.
(A) Oswald de Andrade, autor do Manifesto
Antropófago, de 1928, compôs também o
Manifesto Pau-Brasil, que discute concepções
sobre a linguagem poética, a modernização e a
cor local.
(B) Mário de Andrade dedicou-se à renovação
da ficção e da poesia, escrevendo também
manifestos, prefácios e livros sobre o Brasil, a
respeito dos mais variados assuntos.
(C) As propostas do Modernismo, receptivas às
diferentes linguagens artísticas, pretendem
discutir os padrões estéticos e culturais
brasileiros.
(D) O Modernismo, embora aberto à linguagem
coloquial, não se opôs aos padrões poéticos e
narrativos
já
consagrados
desde
o
Romantismo.
(E) Os poetas das diferentes tendências do
Modernismo contribuíram para a inovação
formal e temática da poesia brasileira, que
posteriormente se aproximou da canção
popular.
Textos para a questão 05:
Texto I
O Canto do Guerreiro
Quem golpes daria
Fatais, como eu dou?
- Guerreiros, ouvi-me;
- Quem há, como eu sou?
(Gonçalves Dias)
Texto II
Macunaíma (Epílogo)
Acabou-se a história e morreu a vitória.
Não havia mais ninguém lá. Dera tangolomangolo na tribo Tapanhumas e os filhos dela
se acabaram de um em um. Não havia mais
ninguém lá. Aqueles lugares aqueles campos
furos puxadouros arrastadouros meiosbarrancos, aqueles matos misteriosos, tudo
era a solidão do deserto... Um silêncio imenso
dormia a beira-rio do Uraricoera.
Nenhum conhecido sobre a terra não sabia
nem falar na falta da tribo nem contar aqueles
casos tão pançudos. Quem que podia saber do
herói? (Mário de Andrade)
Aqui na floresta
Dos ventos batida,
Façanhas de bravos
Não geram escravos,
Que estimem a vida
Sem guerra e lidar.
- Ouvi-me, Guerreiros.
- Ouvi meu cantar.
Valente na guerra
Quem há, como eu sou?
Quem vibra o tacape
Com mais valentia?
05. A leitura comparativa dos dois textos acima
indica que
(A) ambos têm como tema a figura do indígena
brasileiro apresentada de forma realista e
heroica,
como
símbolo
máximo
do
nacionalismo romântico.
(B) a abordagem da temática adotada no texto
escrito em versos é discriminatória em relação
aos povos indígenas do Brasil.
(C) as perguntas “- Quem há, como eu sou?”
(1º texto) e “Quem podia saber do herói?” (2º
texto) expressam diferentes visões da
realidade indígena brasileira.
(D) o texto romântico, assim como o
modernista, aborda o extermínio dos povos
indígenas como resultado do processo de
colonização no Brasil.
(E) os versos em primeira pessoa revelam que
os
indígenas
podiam
expressar-se
poeticamente, mas foram silenciados pela
colonização, como demonstra a presença do
narrador, segundo o texto.
Gabarito
1–A
2–B
3–D
4–D
5–C
Aula 06
Obras principais:
- Libertinagem
- Estrela da Vida Inteira
Testamento
O que não tenho e desejo
É o que melhor me enriquece
Tive uns dinheiros – perdi-os...
Mas no maior desespero
Rezei: ganhei essa prece.
Vi terras da minha terra
Pro outras terras andei
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei.
(...)
Criou-me desde eu menino
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saúde ...
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!
Pneumotórax
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturno.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico
- Diga trinta e três.
- Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
Pra me contar as histórias
- Respire
Que no tempo de eu menino
- O senhor tem uma escavação no pulmão
esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
Rosa vinha me contar
- Então, doutor, não é possível tentar o
pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango
argentino.
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
Vou-me Embora pra Pasárgada
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Vou-me embora pra Pasárgada
Tem alcalóide à vontade
Lá sou amigo do rei
Tem prostitutas bonitas
Lá tenho a mulher que eu quero
Para a gente namorar
Na cama que escolherei
E quando eu estiver mais triste
Vou-me embora pra Pasárgada
Mas triste de não ter jeito
Vou-me embora pra Pasárgada
Quando de noite me der
Aqui eu não sou feliz
Vontade de me matar
Lá a existência é uma aventura
— Lá sou amigo do rei —
De tal modo inconsequente
Terei a mulher que eu quero
Que Joana a Louca de Espanha
Na cama que escolherei
Rainha e falsa demente
Vou-me embora pra Pasárgada.
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Procura da Poesia
Poemas das Sete Faces
Não faças versos sobre acontecimentos
Quando nasci, um anjo torto
Não há criação nem morte perante a poesia
desses que vivem na sombra
Diante dela, a vida é um sol estático,
disse: Vai Carlos! ser gauche na vida.
Não aquece nem ilumina.
(...)
As afinidades, os aniversários, os incidentes
pessoais não contam.
Mundo mundo vasto mundo,
se eu chamaste Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Não faças versos com o corpo, esse excelente
e confortável
Mundo mundo vasto mundo,
Corpo, tão intenso à efusão lírica
Mais vasto é meu coração.
Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor
no escuro
São indiferentes.
Mãos dadas
Nem me reveles teus sentimentos
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Que se prevalecem do equívoco e tentam a
longa viagem.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia
Estão taciturnos
esperanças.
( ... )
mas
nutrem
grandes
Chega mais perto e contempla as palavras
Entre eles, considero a enorme realidade.
Cada uma
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Tem mil faces secretas sob a face neutra (...)
Não nos afastemos muito, vamos de mãos
dadas.
(...)
Confidência do itabirano
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Pó isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade
e comunicação
Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
Soneto de Fidelidade
– não sei, não sei. Não sei se fico
De tudo ao meu amor serei atento
ou passo.
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Sei que canto. E a canção é tudo.
Que mesmo em face do maior encanto
Tem sangue eterno a asa ritmada.
Dele se encante mais meu pensamento.
E um dia sei que estarei mudo:
mais nada.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
A rosa de Hiroxima
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Exercícios
01. Leia as estrofes abaixo, de Vinícius de
Moraes, e a afirmação que as segue.
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
01. "Uma lua no céu apareceu
A rosa hereditária
02. cheia e branca; foi quando, emocionada
A rosa radioativa
03. a mulher a meu lado estremeceu
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
04. e se entregou sem que eu dissesse nada.
A anti-rosa atômica
05. Larguei-as pela jovem madrugada
Sem cor sem perfume
06. ambas cheias e brancas e sem véu
Sem rosa sem nada.
07. perdida uma, a outra abandonada
08. uma nua na terra, outra no céu."
Soneto De Separação
De repente do riso fez-se o pranto
E das mãos espalmadas fez-se o espanto
Por meio de versos ....... em que é a perceptível
um lirismo ........ , típico de sua poesia, Vinícius
de Moraes aproxima a mulher e a lua,
fundindo-as, em alguns momentos, como
acontece no verso de número .... .
De repente da calma fez-se o vento
Assinale
a
alternativa
que
corretamente as lacunas acima.
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama
(A) octassílabos - amoroso – 06
(B) heptassílabos - social – 07
De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
(C) decassílabos - moralizante – 08
(D) octassílabos - despojado – 07
(E) decassílabos - sensual - 06
Fez-se do amigo próximo, distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente
preenche
02. Leia o poema abaixo, “Valsa”, de Cecília
Meireles.
“Fez tanto luar que eu pensei nos teus olhos
antigos e nas tuas antigas palavras.
O vento trouxe de longe tantos lugares em que
estivemos,
Que tornei a viver contigo enquanto o vento
passava.
Houve uma noite que cintilou sobre o teu rosto
e modelou tua voz entre as algas.
Eu moro, desde então, nas pedras frias que o
céu protege e estudo apenas o ar e as águas.
Coitado de quem pôs sua esperança nas praias
fora do mundo...
- Os ares fogem, viram-se as águas mesmo as
pedras, com o tempo, mudam.”
Em relação ao poema, considere as seguintes
afirmações.
I. As imagens são construídas sobre três
constantes cecilianas: oceano, espaço, solidão.
II. Os elementos da natureza simbolizam a
fugacidade da existência, cuja culminância se
expressa no último verso.
03. O primeiro quadro, a seguir, apresenta
quatro fragmentos de poemas da obra de
Manuel Bandeira; o segundo, comentários
sobre três desses fragmentos. Associe
corretamente o primeiro ao segundo quadro.
1- Vi ontem um bicho / Na imundície do pátio /
Catando comida entre os detritos /[...] O bicho,
meu Deus, era um homem.
2- Em ronco que aterra / berra o sapo boi: / -“ Meu
pai foi à guerra!” / - “Não foi!” / - “Foi!” – “Não
foi!”
3- Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha
do horizonte? – O que eu vejo é o beco.
4- Bão balalão, / Senhor Capitão, / Tirai este peso /
Do meu coração.
(_) A busca por uma poética da simplicidade é
evidenciada na presença de formas e
composições populares.
(_) O poeta aproxima a subjetividade e a
experiência social.
(_) O eu lírico debocha do excesso de
formalismo dos poetas parnasianos.
(A) 3 – 1 – 4.
(B) 4 – 1 – 2.
(C) 4 – 3 – 1.
(D) 3 – 4 – 2.
III. O vento reconstitui o amor do passado, as
pedras frias simbolizam a solidão do presente.
(E) 2 – 3 – 1.
Quais estão corretas?
Instrução: leia o poema abaixo para responder
à questão 04.
(A) Apenas I.
(B) Apenas II.
(C) Apenas III.
(D) Apenas II e III.
(E) I, II e III.
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é
porosidade e comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o
trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem
mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora
te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo
Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da
sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
(C) evidencia uma tensão histórica entre o “eu”
e sua comunidade, por intermédio de imagens
que representam a forma como o sociedade e
o mundo colaboram para a constituição do
indivíduo.
(D) critica, por meio de um discurso irônico, a
posição de inutilidade do poeta e da poesia em
comparação com as prendas resgatadas de
Itabira.
(E) apresenta influências românticas, uma vez
que trata da individualidade, da saudade da
infância e do amor pela terra natal, por meio
de recursos retóricos pomposos.
05. Todas as alternativas contêm trechos do
ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA, de Cecília
Meireles, que tematizam a importância da
palavra como estruturadora da realidade,
EXCETO:
(Andrade, C. D. Poesia Completa. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 1983)
(A) Ai, palavras, ai, palavras,
04. Carlos Drummond de Andrade é um dos
expoentes
do
movimento
modernista
brasileiro. Com seus poemas, penetrou fundo
na alma do Brasil e trabalhou poeticamente as
inquietações e os dilemas humanos. Sua
poesia é feita de uma relação tensa entre o
universal e o particular, como se percebe
claramente na construção do texto literário e
as concepções artísticas modernistas. Nesse
sentido, conclui-se que o poema acima
(A) representa a fase heroica do modernismo,
devido ao tom contestatório e à utilização de
expressões e usos linguísticos típicos da
oralidade.
(B) apresenta uma característica importante
do gênero lírico, que é a apresentação objetiva
de fatos e dados históricos.
que estranha potência, a vossa!
Todo o sentido da vida
principia à vossa porta;
o mel do amor cristaliza
seu perfume em vossa rosa;
sois o sonho e sois a audácia,
calúnia, fúria, derrota...
(B) Como pavões presunçosos,
suas letras se perfilam.
Cada recurvo penacho
é um erro de ortografia.
Pena que assim se retorce
deixa a verdade torcida.
(C) Liberdade - essa palavra
que o sonho humano alimenta:
que não há ninguém que explique,
e ninguém que não entenda!
(D) Morre a tinta das sentenças
e o sangue dos enforcados...
- liras, espadas e cruzes
pura cinza agora são.
Na mesma cova, as palavras,
o secreto pensamento,
as coroas e os machados
mentira e verdade estão.
(E) Pelas gretas das janelas,
pelas frestas das esteiras,
agudas setas atiram
a inveja e a maledicência.
Palavras conjeturadas
oscilam no ar de surpresas,
como peludas aranhas
na gosma das teias densas,
rápidas e envenenadas,
engenhosas, sorrateiras.
Gabarito
1–E
2–E
3–B
4–C
5–C
Aula 07
Romances
do ciclo da
cana-de-açúcar
PRINCIPAIS AUTORES
Enredo
Menino de Engenho
Carlos de Melo; infância no
engenho do avô, Coronel Zé
Paulino; engenho Santa Rosa.
Doidinho
Carlinhos no internato;
Bangüê
Usina
Moleque Ricardo
Fogo Morto
Carlos forma-se em Direito;
volta ao Engenho; decadência do
Engenho; doença e morte do avô.
Carlos é obrigado a vender o
engenho; Dr. Juca o transforma
na Usina Bom Jesus.
Ricardo simboliza o negro
escravo do engenho; fuga para
Recife; torna-se líder grevista;
prisão e exílio em Fernando de
Noronha.
História do Engenho Santa Fé;
obra dividida em três partes: 1ª
Mestre José Amaro; 2ª O Coronel
Lula de Holanda Chacon; 3ª
Capitão Vitorino.
Angústia
Romance urbano; Luís da Silva,
homem solitário e retraído; Marina
seduzida
por
Julião
Tavares
(representante
da
burguesia
aproveitadora);
Luís
vinga-se
assassinando Julião.
Infância
Obra de cunho autobiográfico – sua
infância, encontro com a violência, a
injustiça e a morte.
Memórias do
Cárcere
Livro de memórias; sua prisão
durante o Estado Novo; as injustiças e
arbitrariedades da ditadura.
Romances
Romances
São Bernardo
Vidas Secas
Cacau
Drama dos trabalhadores das roças de
cacau, explorados pelos grandes
senhores.
Suor
Na ladeira do pelourinho, a miséria
dos
marginalizados:
mendigos,
militantes políticos, prostitutas, etc.
(lembra “O Cortiço”).
Jubiabá
Antônio Balduíno, protegido pelo paide-santo Jubiabá, leva uma vida
marginal até perder sue amor,
Lindinalva. A partir daí, torna-se líder
político.
Capitães de
Areia
Drama de menores abandonados do
porto de Salvador. Pedro Bala lidera os
“Capitães de Areia”, grupo de crianças
miseráveis e desamparadas que se
revoltam
contra
a
sociedade
insensível.
Enredo
Luta de Paulo Honório pela posse da
São Bernardo; modernização da
fazenda; casamento com Madalena;
ciúme e incompatibilidade; suicídio de
Madalena; decadência de Paulo
Honório – Narração em 1ª pessoa (Ter
X Ser).
Vida dos retirantes da seca do interior
nordestino; Fabiano, Sinhá Vitória, a
cachorra Baleia e os dois meninos –
Narração em 3ª p.
Enredo
Romances
Enredo
Terras do
Sem Fim
Drama de tom épico que narra o
conflito entre as famílias Silveira e
Badaró nos cacauais da Bahia.
Horácio
da
Silveira,
homem
inescrupuloso e prepotente, vence a
disputas pela posse de Sequeiro
Grande (latifúndio muito fértil para o
plantio de cacau)
Gabriela
Cravo e
Canela
Mostra ainda a luta pelas terras e
pelo poder político, enfocando duas
tendências:
a
proposta
de
modernização, de Mundinho Falcão,
e o conservadorismo de Ramiro
Bastos. Porém Jorge Amado, agora,
privilegia os costumes de Ilhéus,
fazendo uma sátira da burguesia
local, dos seus casos picantes e
escandalosos e dos amores de
Nacib e Gabriela. ( Inaugura uma
nova fase na obra do autor)
Dona Flor e
seus dois
Maridos
Dona
Florípedes
casa-se,
contrariando a família, com Vadinho,
vagabundo e boêmio, que vem a
morrer num domingo de carnaval.
D. Flor casa-se, então, com o
farmacêutico Teodoro, um homem
sério e correto. Um ano depois,
Vadinho retorna ao mundo dos vivos,
aparecendo
só
para
ela,
satisfazendo os seus desejos
íntimos
e
dando-lhe
plena
felicidade.
Exercícios
1. Assinale a alternativa correta sobre o
Romance de 30.
(A) Na tentativa de apontar a crise das
estruturas sociais vigentes nos anos 30, o
romance
adotou
um
experimentalismo
linguístico que o afastou do público leitor.
(B) Ao fugir da verossimilhança e ao privilegiar
a indagação existencial, o Romance de 30
reafirmou a sua ligação com a narrativa de
cunho naturalista.
(C) Os romances de José Lins do Rego e de
Erico Veríssimo, mesmo localizados em
espaços geográficos diferentes, representam
estruturas socioeconômicas similares.
(D) Faltou ao Romance de 30 visão crítica em
relação à vida social, política e econômica do
país, visão essa que caracterizara a fase
revolucionária do Modernismo.
(E) Os romances que compõem o ciclo seguem,
de modo geral, a tradição real-naturalista
europeia, em que são mais frequentes a
representação
da
realidade
e
o
desenvolvimento linear das ações.
2. Considere as seguintes afirmações:
I. Na trilogia inicial do “ciclo da cana-deaçúcar”, José Lins do Rego, o personagemnarrador , por meio do caráter nostálgico de
suas reminiscências, manifesta o mal-estar
gerado
pela
decadência
social;
posteriormente, em Fogo Morto, o autor
transcende essa visão de mundo criando
expressões maduras dos conflitos humanos.
II. A interação entre os seres humanos e o
ambiente em que vivem é um dos aspectos
principais de Vidas Secas e pode ser observada
na quase incomunicabilidade das personagens
principais,
III. Em Incidente em Antares e O senhor
Embaixador, romances de cunho político, Erico
Veríssimo faz uma reflexão sobre a realidade
brasileira
e
latino-americana,
respectivamente, e revela uma visão de mundo
norteada pela crítica aos regimes totalitários.
Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(B) Apenas II.
(C) Apenas I e II.
(D) Apenas I e III.
Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(B) Apenas II.
(C) Apenas III.
(D) Apenas I e II.
(E) I, II e III.
4. Assinale a alternativa incorreta em relação
ao romance O Continente, de Érico Veríssimo.
(A) A ação do romance se inicia em 1895 com o
cerco ao Sobrado, durante a Revolução
Federalista entre maragatos e chimangos.
(B) Um dos episódios históricos focalizados é a
guerra das Missões dos Sete Povos do
Uruguai, em meados do século XVIII.
(E) I, II e III.
(C) A personagem Bibiana, uma das matriarcas
do romance de Érico, é filha de Pedro e
Arminda Terra.
3. Considere as afirmações seguintes sobre
Gabriela, Cravo e Canela, romance de Jorge
Amado.
(D) No duelo entre os dois pretendentes à mão
de Bibiana – Bento Amaral e Rodrigo Cambará
– o último leva a melhor, graças ao uso de uma
arma de fogo que levava escondida.
I. O romance, de 1958, inscreve o amor de
Gabriela e Nacib no contexto baiano
relacionado à economia cacaueira.
II. O autor de O País do Carnaval, Capitães de
Areia e Tenda dos Milagres, em Gabriela,
Cravo e Canela realiza uma crônica de
costumes da cidade de Ilhéus, envolvida, na
época, em transformações urbanísticas.
III. Gabriela, ao lado de Dona Flor e de Tereza
Batista, celebrizou-se como figura de mulher
brasileira, exportando sua sensualidade para
outros continentes.
(E) Licurgo Cambará, mesmo com a mulher
Alice prestes a dar à luz, recusa-se a pedir
trégua aos inimigos que sitiavam o Sobrado.
5. A leitura de romances como Vidas Secas,
São Bernardo ou Angústia permite afirmar
sobre Graciliano Ramos que:
(A) sua grande capacidade fabuladora e o tom
lírico de sua linguagem servem a uma obra
dominada pelo impulso, em que se mesclam
romantismo e realismo, poesia e documento.
(B) sua obra transcende as limitações do
regional ao evoluir para uma perspectiva
universal, ao mesmo tempo que sua expressão
parte para o experimentalismo e para as
invenções vocabulares inovadoras.
(C) sua obra, preocupada em fixar os costumes
e as falas locais do meio rural e da cidade, é
um registro fiel da realidade nordestina, quase
um documentário transfigurado em ficção.
(D) sua obra, toda condicionada pela realidade
humana e social de uma árida região de
coronéis e cangaceiros, apresenta uma
narrativa
linear,
mas
de
linguagem
exuberante, própria dos grandes contadores
de histórias.
(E) tanto o enfoque trágico do destino do
homem ligado às raízes regionais quanto a
análise dos conflitos existenciais do homem
urbano conferem uma dimensão universal à
sua obra.
Gabarito
1–E
2–E
3–E
4–D
5–E
Aula 08
Psicologia da Composição
Não a forma encontrada
como uma concha, perdida
nos frouxos areais
como cabelos;
Características
> Pesquisa estética, cuidado formal;
> Renovação das formas de expressão
literária – tanto na prosa quanto na poesia;
> Temática humana universal; poder de
significação da palavra e do texto.
AUTORES
não a forma obtida
em lance santo ou raro,
tiro nas lebres de vidro
do invisível;
mas a forma atingida
como a ponta do novelo
que a atenção, lenta,
desenrola,
aranha; como o mais extremo
desse fio frágil, que se rompe
ao peso, sempre, das mãos
enormes. (...)
Morte e Vida Severina
O meu nome é Severino,
não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
(...)
Mas isso ainda diz pouco:
Como então dizer quem fala
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da serra da Costela,
limites da Paraíba.
Mas isso ainda diz pouco:
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte Severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte Severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
> Laços de Família – contos (1960)
- Treze contos que, por meio do fluxo de
consciência, traduzem o universo íntimo das
personagens; personagens flagradas no
momento em que, a partir do cotidiano banal,
alcançam o lado misterioso da existência
humana (epifanias).
> A Hora da Estrela (1977)
- Narração em dois planos: narrador Rodrigo
S. M. decide escrever uma novela sobre uma
jovem
migrante
nordestina,
Macabéa.
Questiona-se sobre seu estilo narrativo e sua
capacidade de compreensão da personagem
principal (metanarrativa). No segundo plano,
acompanhamos a trajetória medíocre de
Macabéa, uma jovem alagoana que migrou
para o Rio de Janeiro. A inexistência da
identidade
da
protagonista
e
sua
incompreensão dos valores que regem a
cidade grande marcam sua vida. Após uma
consulta a uma cartomante, Macabéa é
atropelada, vindo a falecer e a ter seu
momento de fama, sua “hora da estrela”.
> Trecho de “Paixão Segundo G. H.”
"É difícil perder-se. É tão difícil que
provavelmente arrumarei depressa um modo
de me achar, mesmo que achar-me seja de
novo a mentira de que vivo. Se tiver coragem,
eu me deixarei continuar perdida. Mas tenho
medo do que é novo e tenho medo de viver o
que não entendo. Perder-se significa ir
achando e nem saber o que fazer do que se for
achando. Não sei o que fazer da aterradora
liberdade que pode me destruir.
(...)
Perdi alguma coisa que me era essencial, e
que já não me é mais. Não me é necessária,
assim como se eu tivesse perdido uma terceira
perna que até então me impossibilitava de
andar, mas que fazia de mim um tripé estável.
Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser
uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que
nunca tive: apenas as duas pernas. Sei que
somente com duas pernas é que posso
caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me
faz falta e me assusta, era ela que fazia de
mim uma coisa encontrável por mim mesma, e
sem sequer precisar me procurar".
> Primeiras Estórias (Contos; 1962)
- Livro de contos nos quais predominam o
insólito e o ilógico.
> Corpo de Baile (Novelas; 1956):
novelas de forte e impressionante lirismo.
Aqui, a confluência entre prosa e poesia é
bastante notada; o processo de criação e o
experimentalismo da linguagem atingem
grande momento.
- Manuelzão e Miguilim: constam “Campo
Geral” e “Uma história de amor”.
- No Urubuquaquá, no Pinhém: se encontram
“Lélio e Lina”, “O recado do morro” e “Cara de
bronze”.
- Noites do Sertão: composta por “Dão-lalalão”
e “Buriti”.
qualquer porta. Macabéa simplesmente não
era técnica, ela era só ela. (...) Mas Macabéa de
um modo geral não se preocupava com o
próprio futuro: ter futuro era luxo.
> Grande Sertão: Veredas (Romance;
1956)
Sobre A Hora da Estrela, de Clarice Lispector,
é correto afirmar que
- Relato oral de Riobaldo (memória + reflexes)
(A) Macabéa é uma nordestina retirante, e o
desfecho de sua história é semelhante ao de
Fabiano e Sinhá Vitória, personagens de
Graciliano Ramos.
- Interlocutor oculto
- Joca Ramiro X Hermógenes
- Pacto com o Diabo
- Riobaldo ♥ Diadorim
Exercícios
01. Leia o texto abaixo.
A Hora da Estrela (Clarice Lispector)
A moça tinha ombros curvos como os de
uma cerzideira. Aprendera em pequena a
cerzir. Ela se realizaria muito mais se se desse
ao delicado labor de restaurar fios, quem sabe
se de seda. Ou de luxo: cetim bem brilhoso, um
beijo de almas. Cerzideirinha mosquito.
Carregar em costas de formiga um grão de
açúcar. Ela era de leve como uma idiota, só
que não o era. Não sabia que era infeliz.
(...) Nascera inteiramente raquítica, herança
do sertão - os maus antecedentes de que falei.
Com dois anos de idade lhe haviam morrido os
pais de febres ruins do sertão do Alagoas, lá
onde o diabo perdera as botas.
(...) Macabéa era na verdade uma figura
medieval enquanto Olímpico de Jesus se
julgava peça-chave, dessas que abrem
(B) a heroína do livro, como a maioria dos
brasileiros em situação de privação, se revolta
contra as injustiças.
(C) a narrativa mistura vários planos de
realidade,
que
permitem
uma
visão
multifacetada da personagem central.
(D) a escritora usa uma linguagem técnica com
predomínio de termos exatos, para advertir
sobre problemas sanitários brasileiros.
(E) a narrativa põe em destaque a disposição
de Macabéa em lutar pela igualdade e pela
ascensão social.
02. Leia os trechos abaixo, extraídos do
romance Grande Sertão: Veredas, de João
Guimarães Rosa.
1. "O que vale, são outras coisas. A lembrança
da vida da gente se guarda em trechos
diversos, cada um com seu signo e sentimento,
uns com os outros acho que nem não
misturam."
2. "Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de
briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira
em árvore, no quintal, no baixo do córrego [...]
Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro
branco, erroso, os olhos de nem ser - se viu - ;
e com máscara de cachorro."
3. "O senhor tolere, isto é o sertão. Uns
querem que não seja: [...] Lugar sertão se
divulga: é onde os pastos carecem de fechos;
onde um pode torar dez, quinze léguas, sem
topar com casa de morador; é onde criminoso
vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de
autoridade."
4. "Eu queria decifrar as coisas que são
importantes. E estou contando não é uma vida
de sertanejo, seja se for jagunço, mas a
matéria vertente. Queria entender do medo e
da coragem, e da gã que empurra a gente para
fazer tantos atos, dar corpo ao suceder."
5. "[...] sempre que se começa a ter amor a
alguém, no ramerrão, o amor pega e cresce é
porque, de certo jeito, a gente quer que isso
seja, e vai, na ideia, querendo e ajudando; mas,
quando é destino dado, maior que o miúdo, a
gente ama inteiriço fatal, carecendo de querer,
e é um só facear com as surpresas. Amor
desse, cresce primeiro; brota é depois."
Associe adequadamente as seis afirmações
abaixo com os cinco fragmentos transcritos
acima.
(__) Sob o forte impacto do seu amor por
Diadorim, Riobaldo procura entender a
diferença desse amor importo pelo destino.
(__) O narrador busca definições exemplares
do sertão, espaço que não se pode
dimensionar.
(__) Trata-se das palavras iniciais do romance,
que já dão sinais da existência de um
interlocutor presente.
(__) Riobaldo ultrapassa a condição de homem
da sua região, narrando o seu desejo de
compreender os sentimentos e as forças que
movem a vida humana.
(__) Trata-se de uma reflexão sobre a
memória dos episódios vividos pelos seres
humanos.
(__) O diabo, que Riobaldo vai enfrentar na
cena do pacto, pode assumir várias formas,
como as de animais.
A sequencia correta de preenchimento dos
parênteses, de cima para baixo, é
(A) 3-2-5-4-1-3.
(B) 5-3-2-4-1-2.
(C) 4-2-3-1-5-4.
(D) 5-3-4-2-2-1.
(E) 4-1-3-1-5-2.
Instrução: Leia atentamente o poema abaixo,
de João Cabral de Melo Neto:
A educação pela pedra
Uma educação pela pedra: por lições;
para aprender da pedra, frequentá-la;
captar sua voz inenfática, impessoal
(pela de dicção ela começa as aulas).
A lição de moral, sua resistência fria
ao que flui e a fluir, a ser maleada;
a de poética, sua carnadura concreta;
a de economia, seu adensar-se compacta:
lições de pedra (de fora para dentro,
cartilha muda), para quem soletrá-la.
Outra educação pela pedra: no Sertão
(de dentro para fora, e pré-didática).
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
e se lecionasse não ensinaria nada;
lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
Instrução: Leia o texto abaixo para responder à
questão 04.
“Na minha ânsia de ler, eu nem notava as
humilhações a que me submetia:
continuava a implorar-lhe emprestados os
livros que não lia. Até que veio para ela o
magno dia de começar a exercer sobre mim
uma tortura chinesa. Como casualmente,
uma pedra de nascença, entranha a alma.
informou-me que possuía. As reinações de
Narizinho, de Monteiro Lobato. Era um livro
(MELO NETO, João Cabral de. A educação pela
pedra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996. p.
21.)
grosso, meu Deus, era um livro para se ficar
vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o,
03. Assinale a alternativa que NÃO traduz uma
leitura possível do poema acima:
(A) O poeta apreende da pedra a própria
vivência na vida agreste do Sertão: de
austeridade, resistência silenciosa e sempre
capaz de dar lições de vida e de poesia.
(B) Os versos metalinguísticos revelam a
própria poética cabralina: concreta, impessoal,
concisa, embora profundamente social.
(C) Ao partir do pressuposto de que a pedra é
muda, e, portanto, não ensina nada, o poeta
suscita uma reflexão sobre a situação
educacional precária no Nordeste.
(D) O eu lírico também apreende da pedra os
próprios versos enxutos, num esforço de
dissecação de quaisquer sentimentalismos.
(E) No poema, de intensa economia verbal, a
pedra faz-se metáfora da paisagem do Sertão,
que “entranha a alma”, e espelha o fazer
poético do autor pernambucano.
E, completamente acima de minhas posses.
Disse-me que eu passasse pela sua casa no
dia seguinte e que ela o emprestaria.
Até o dia seguinte eu me transformei na
própria esperança de alegria: eu não
vivia, nadava devagar num mar suave, as ondas
me levavam e me traziam.
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente
correndo. Ela não morava num
sobrado como eu, e sim numa casa. Não me
mandou entrar. Olhando bem pra meus
olhos, disse-me que havia emprestado o livro a
outra menina, e que eu voltasse no dia
seguinte para buscá-lo” (LISPECTOR, Clarice.
Felicidade Clandestina)
04. Sobre o texto de Clarice Lispector seria
CORRETO afirmar que:
(A) A narradora do conto demonstra seu
descontentamento com o ideia de que a leitura
seja capaz de transformar as atitudes de sua
antagonista, pois mesmo após ter lido diversos
livros, inclusive os de Monteiro Lobato, a
mesma não demonstra qualquer sensibilidade
aprimorada.
05. Sobre Guimarães Rosa, considere as
afirmações abaixo.
(B) A felicidade clandestina citada no título
está relacionada ao fato de que a verdadeira
ansiedade da protagonista era rever a garota
que, muitas vezes, tratava-a de maneira
humilhante, mesmo que para isso tivesse de
usar como desculpa em fato corriqueiro, como
o empréstimo de um livro, estabelecendo uma
relação de amizade quase sadomasoquista
entre ambas.
I. Situa sua obra na paisagem mineira,
manifestando
preocupações
de
ordem
metafísica e valendo-se de uma linguagem
inventiva, rica em neologismos, formas de
oralidade e liberdades linguísticas.
(C) A narradora do conto é um exemplo claro
das personagens claricianas, pois em sua
introspecção e em seu amor pela leitura é
capaz de suportar até mesmo as piores
humilhações para ter em sua posse um objeto
ao qual atribui poderes quase transcendentais,
capazes de gerar uma epifania na
protagonista.
(D) A personagem central parece sentir-se
secretamente aliviada ao constatar que o livro
já tinha sido emprestado a outra escola, uma
vez que o mesmo era “um livro grosso, meu
Deus, era um livro para se ficar vivendo com
ele”. Dessa sensação vem o título que Clarice
Lispector dá ao texto, uma vez que a
protagonista
sabe
que
deveria
ler
obrigatoriamente a obra e o fato de escapar da
mesma é felicidade clandestina.
(E) A verdadeira crueldade exposta no texto de
Clarice é representada pela continua
insistência da protagonista em torturar sua
colega,
pedindo-lhe
repetidamente
o
empréstimo do livro que já sabia estar de
posse de outra pessoa, humilhando assim a
amiga que prometera o que não poderia
cumprir.
II. O sertão, na obra do autor, pode ser visto
como a metáfora do mundo, pois nele têm
lugar
reflexões
que,
poeticamente,
transcendem a realidade regional e social.
III. É um regionalista que se atém à descrição
da paisagem mineira e ao falar mineiro, tendo
a sua obra a mesma dimensão pitoresca
daquelas realizadas pelos regionalistas
anteriores.
Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(B) Apenas I e II.
(C) Apenas I e III.
(D) Apenas III.
(E) I, II e III.
Gabarito
1–C
2–B
3–C
4–C
5–B

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