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Melancolia e prudência no Leal Conselheiro (c. 1438), de
D. Duarte de Portugal (1391-1438)
Alexandre Soares Carneiro
1. O Leal Conselheiro e as obras dos “príncipes de Avis”: a nova dinastia e sua
produção literária.
Relato detalhado da superação de um episódio depressivo pela voz do próprio doente, um monarca culto que ilustrou com sua obra literária uma das casas dinásticas mais notáveis do final
da Idade Média – assim podemos descrever os capítulos 19 e seguintes do Leal Conselheiro de
D. Duarte. Um registro desta natureza, ademais marcado por um estilo vívido e desenvolto,
inevitavelmente chamaria a atenção de leitores de diversas áreas. Colaborações mais recentes
de especialistas em história da psicopatologia1 surgiram em um momento de renovação nos
estudos da história cultural do Portugal do período. A convergência destas e outras linhas de
interesse, baseadas em conceituações distintas, permitirá certamente lançar novas luzes a um
objeto sobre o qual muito já se especulou, embora às vezes de modo abusivo.
Numa perspectiva da história literária e das ideias – próximo ao que já realizaram João Dionísio, em Portugal, e Márcio Muniz, no Brasil2 –, as hipóteses aqui formuladas consideram em
primeiro lugar certos códigos letrados específicos, além de crenças políticas que prevaleceram
no final da Idade Média. Por esta razão, cabe inicialmente situar a produção cultural dos “príncipes de Avis” e o ambiente político desta nova dinastia.
A morte sem herdeiros, em 1383, de D. Fernando, último monarca da Casa de Borgonha, gera
uma crise sucessória que conduz à guerra civil. Dois anos depois, seu meio-irmão bastardo, D.
João I (1357-1433), Mestre da Ordem militar-religiosa de Avis, assumirá o reino, de fato e de direito, com o apoio da burguesia e da “arraia miúda” de Lisboa, e o auxílio de um marcante contingente de juristas e outros “clérigos letrados”. Mudança dinástica que assinala uma sensível
modernização da monarquia portuguesa, seus filhos com a inglesa Filipa de Lancastre serão
conhecidos, desde Camões (Lusíadas, IV, 50), como a ínclita geração. Ao lado de D. Duarte,
dito o eloquente, a memória lusitana festejará os feitos e escritos de D. Pedro (o das sete partidas), D. Henrique, o navegador e de D. Fernando, o infante santo, para citar os mais famosos.
Do ponto de vista literário, a obra de maior expressividade do período, e principal testemunho
de seu amadurecimento cultural, é sem dúvida a do historiador da “Revolução de Avis”, Fernão
Lopes (c.1385 - c.1460). Mas na produção relacionada à corte figuram obras de grande interesse
saídas, exclusivamente ou em colaboração, da pena dos próprios príncipes. Neste conjunto
estão o Livro da montaria (um tratado de caça) do rei D. João I, O livro da virtuosa benfeitoria
do Infante D. Pedro (tratado moral baseado em Sêneca) e seu Livro dos ofícios (tradução da
obra ciceroniana). Quanto ao autor do Leal Conselheiro, atribuem-se também a ele um tratado
de equitação (Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda Sela3) e a miscelânea conhecida como
Livro dos conselhos de El-Rei D. Duarte (Livro da Cartuxa).
1 Ver por exemplo Paulo José Carvalho da Silva, “Do príncipe triste ao rei médico de almas”. Revista Latinoame-
ricana de Psicopatologia Fundamental 10 (2007), pp. 696-706.
2 Ver por exemplo João Dionísio. “D. Duarte e a leitura”. Revista da Biblioteca Nacional (1991), pp.7-17. Márcio
Muniz, “Os leais e prudentes conselhos de El-Rei D. Duarte”, A literatura doutrinária na corte de Avis (2001), pp.
245-305.
3 O Livro da Ensinança... , presente no mesmo manuscrito parisiense do Leal Conselheiro, dá instruções para o
cavalgar, visando o combate e a caça, mas institui também outras disciplinas (relacionadas à elegância, ao porMELANCOLIA E PRUDÊNCIA NO LEAL CONSELHEIRO
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Calcula-se que a redação do Leal Conselheiro tenha sido concluída quase ao fim de sua vida, em
14384. Ele subira ao trono em 1433, mas duas décadas antes já se via associado aos negócios do
reino. Na verdade, em circunstâncias diretamente ligadas à sua crise melancólica, ainda aos 22
anos havia sido encarregado “do conselho, justiça e fazenda que em sua corte se tratava”, como
narrado no Leal Conselheiro.
A obra tem características de tratado, mas com aspectos de miscelânea5, evidenciados nas mudanças de tom que acompanhamos nela. Assim, uma base expositiva conceitual vem ponteada por comentários em que o autor mobiliza fontes diversas da tradição livresca e a própria
observação empírica. Para Amora (apud Muniz, op. cit.), o conjunto de 103 capítulos - um
núcleo tratadístico ao que se acrescentam digressões várias - organiza-se segundo o esquema
apresentado abaixo:
1) Prólogo,
2) Tratado propriamente dito (capítulos. 1-90).
Introdução: a- o entendimento (1); b- o entender, a memória, a vontade e o siso (2-9). Os
pecados e as virtudes: a- os pecados (10-33); b- as virtudes (34-60); c- considerações sobre os
pecados e as virtudes (61-90).
3) Aditamentos. Conselhos morais e práticos (91-102).
4) Considerações finais sobre a natureza e finalidade da obra (103).
O Prólogo se estende em considerações sobre as motivações da obra, ao que se segue uma
apresentação, de nítida extração escolástica, “das partes do nosso entendymento”. Seriam elas
o “entender”, a “memoria” e a “vontade”. Esta última, por sua vez, deve ser diferenciada segundo
seja “carnal”, “espiritual”, “prazenteira” ou “perfeita e virtuosa”.
Não se trata de discussão meramente especulativa, dado o ethos apologético ali identificável.
Assim, a essa altura, irá advertir o autor sobre “como muytos erram na maneira de seu vyver per
aquella terceira tiba (=prazenteira) voontade suso scripta”. Mostra, em seguida, “per que virtudes nos endereçamos a desemparar as três voontades suso scriptas, e seguir a quarta.” Considerações doutrinais a partir de um comentário evangélico de São Gregório abrem espaço para
uma exposição clássica, baseada em João Cassiano, dos pecados capitais: a “soberva”, a “vãa
gloria” a “enveja”, a “sanha”, o “hodio”, e finalmente a tristeza, ou acídia (capítulo 18). Como se
pode prever, é neste contexto que surgirá – agora em tom pessoal e forma narrativa -, o trecho
autobiográfico que nos interessa. Pois, como é sabido, a melancolia se associa tradicionalmente à acídia, seja confundindo-se com ela, seja como uma de suas consequências.
Ela é, no livro, apresentada como um fenômeno de muitas facetas, analisadas e interpretadas a partir de uma experiência pessoal atentamente observada. Esse relato, concentrado no
capítulo 19 (intitulado “Da maneira que fuy doente do humor menencorico, e del guarici”), se
te, etc.) que fazem dele mais do que um simples tratado de equitação: é um “tratado de psicologia aplicada à
educação, um tratado de pedagogia desportiva, uma apologia da educação da vontade”. Ramón Lorenzo, “Livro
da ensinança de bem cavalgar toda sela”, in G. Lanciani & G. Tavanni, Dicionário da literatura medieval galega e
portuguesa, pp. 400-402.
4 Único Manuscrito: BNF, Département des manuscrits, Portugais 5.
5 João Dionísio (1991): “agregado de reflexões autônomas”; Agostinho de Campos: “livro de ensaios” (apud
Márcio Muniz, 2001).
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desdobrará em digressões onde o autor irá tratar, por exemplo,“dos aazos (=ocasiões) per que
se acrecenta o ssentido do humor menencorico, e dos remedios contra elles” (capítulo 20). Segue-se uma discussão sobre as variantes da tristeza, segundo nasça dos pecados ou da virtude
(capítulos 21). Os escrúpulos analíticos do rei conduzem-no a novas distinções, identificando
(capítulo 22) a “mais forte maneira da tristeza” (uma descrição da depressão aguda) para em
seguida tratar (capítulo 23) “das partes do enfadamento”, isto é, das varias situações passiveis
de gerar aborrecimento, e logo tristeza. Para prevenir ou superar cada uma delas, sugere comportamentos aprendidos através de experiência e observações.
O capítulo 24 prolonga esta disposição pragmática do soberano, evidenciado em seu título
(“Do consselho que sobr’esto dey ao Iffante dom Pedro”). A isto se seguem novas distinções
(quanto aos fenômenos correlatos do “nojo, pesar, desprazer, avorrecimento e suydade”), que
antecedem, mais uma vez, uma discussão fundamentalmente empírica a propósito do “pecado
da occiosidade” e das razões pelas quais caímos nele (capítulos 25 a 27). Retoma-se, em seguida, o viés mais conceitual sobre os pecados e virtudes, embora ocasionalmente ressurjam passagens pessoais e considerações paralelas, que ocuparão o primeiro plano nos capítulos finais
(91 a 102).
2. Os Espelhos de Príncipe no final da Idade Média e o métier de rei. A “resposta dos reis” e a prudência governativa.
O trecho em questão, de todo modo, chama a atenção pelo marcado tom testemunhal. Ali o
autor se afasta de um andamento teórico e doutrinal para dedicar-se a uma narrativa ponteada
por detalhes afetivamente significativos sobre a evolução da doença e sua posterior superação.
Antes de explorarmos alguns dos momentos marcantes do relato (o stress das atividades governativas, os surtos de peste que lhe roubam súditos e amigos, e os efeitos psicológicos de tais
perdas sobre o doente, o falecimento da mãe), tentemos caracterizar o tipo de reflexão teórica
e moral que antecedeu e suscitou tal narrativa, e como poderia ser entendida a combinação
desses diferentes modos discursivos.
O tratado como um todo não destoa, longe disto, da literatura doutrinal do período, no que diz
respeito à sua inflexão ético-política. Quero com isto indicar que a perspectiva entre analítica e
moralista presente no arcabouço do texto é bastante ajustada (como mostrou Márcio Muniz6)
às obras de aconselhamento político conhecidas como Espelhos de Príncipes, gênero literário
consolidado ao longo da Idade Média. Aqui iremos sugerir que, a despeito da significativa mudança de tom do trecho em questão, os registros sobre a saúde do monarca não são incompatíveis com a preocupação moralizadora daquele gênero.
Construídos muitas vezes - desde o Policraticus (c. 1159) de John de Salisbury - sobre a metáfora do “corpo político” do reino, neles se lembra insistentemente que da conduta do soberano
(a cabeça ou o coração deste corpo alegórico) pende de modo dramático a saúde do conjunto
social. O governo de si é basicamente o controle das paixões viciosas, mas os sintomas dos pecados – como a melancolia, que nasce da acídia – também podem comprometer o equilíbrio,
pessoal e logo do reino. De fato, todo o processo da doença e da saúde é descrito em termos de
governo ou desgoverno do corpo. Mais ao fim da Idade Média, quando, sob a égide da reflexão
aristotélica, recupera-se o valor da política como uma ciência das mais nobres, é recorrente
dizer que ela ocupa, na vida dos reinos, o lugar da medicina na saúde do corpo.
A visada autoanalítica se agrega, de toda forma, a uma base doutrinal bem assentada. Fontes
pagãs, patrísticas e medievais da literatura ascética, ao lado de clássicos da educação princi6 Márcio Muniz, “Um espelho real: o Leal Conselheiro na perspectiva dos ‘Espelhos de Príncipes’ medievais”.
Anais do IV encontro Internacional de Estudos Medievais, vol. 1 (2003), pp. 540-549.
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pesca, constantes na biblioteca real – conforme o Livro da Cartuxa7 -, ajudam a reconstituir um
pouco deste universo mental. Além das versões vernaculares das obras de Cícero e Sêneca já
citadas8, ressalte-se a presença do De Regimine Principum (1292) de Egidio Romano, discípulo
de Tomás de Aquino, uma das principais referências do gênero ao lado do Policraticus, e obra
amplamente citada por D. Duarte.
A mesma compilação é também pródiga em fórmulas e “mezinhas” que ilustram um fenômeno
descrito por Philippe Braunstein ao tratar das práticas de intimidade no fim da Idade Média – a
intensificação dos cuidados com o “governo do corpo”. Entre as fontes sobre a medicina do período ainda conservadas, diz o autor, chama atenção o grande número de receitas copiadas em
diários de família, reunidas em fascículos que atestam o valor atribuído aos hábitos de saúde.
São tradições familiares e práticas da medicina erudita, com ênfase em hábitos profiláticos.
Braunstein descreve um ideal de saúde corporal perfeitamente compatível com a interioridade:
As diferentes correntes do conhecimento e da sensibilidade convergem para uma
moral prática, que visa manter o melhor possível a mecânica corporal.(...) Nesse terreno, [a vida espiritual] não contradiz a curiosidade naturalista, fortalecida
pelo Novo Aristóteles, que procura melhor compreender as funções do corpo para
ajudar o indivíduo a equilibrar seu comportamento: medicina e moral são indissociáveis, já que fazem triunfar juntos a ideia de medida.9
No Leal Conselheiro D. Duarte também discute orientações médicas que recebeu dos “físicos”
da corte. Mas é baseando-se na própria experiência que sugere medidas profiláticas e atitudes
que favoreceriam a cura – o que é explícito no capítulo de conselhos ao irmão (em que alerta
para o “sobrepujamento dalguus humores que desgovernam o corpo”), mas recorrente em todo
o texto. Ele ressalta, por exemplo, a importância de evitar os pensamentos sombrios, razão pela
qual uma equilibrada evasão para a “folgança” é encarada com simpatia. As sangrias e purgas
são vistas com ceticismo, mas o rei parece ter encontrado nos princípios do equilíbrio humoral
uma referência importante para seu restabelecimento.
Quando dos cuydados sentia que me tornava, como bem podia por filhar boas folganças o rremediava. E sse era de muytos aficamentos (=exigências, obstinações)
de desembargos, per monte e caça que fora per dias andasse, onde me nom requerissem, achava grande melhoramento. Pera os nojos meezynha muy proveitosa
sentia falla de boos e sages amygos, leer per boos livros de virtuosas enssynanças
que fallem a propósito do que bem for tocado. De estar soo me guardava, salvo por
pouco tempo per algua necessydade. E ssempre achei muy proveitosa boa occupaçom de honestos e razoados trabalhos do corpo e do entender pera taaes sentidos,
e a ociosidade muyto contraira. Se o corpo sentia destemperado, trabalhava por me
reduzer a boa temperança. E ssobre todas coisas avya esta pratica, que quando tornava a aquella muy malleciosa renembrança, com gastamento de coraçom, logo lhe
conssiirava o fundamento. E sse podia sentir donde era, com remédios contrairos
lhe proviia. (capítulo 20).
7 Ver Livro dos Conselhos de El Rei D. Duarte (Livro da Cartuxa): “Estes são os livros que tinha el rey dom Duarte”
(1982), pp. 206-208.
8 Falou-se de uma “escola de tradutores” na corte portuguesa, recuperando-se o rótulo (não muito apropriado)
associado ao ambiente cultural da corte de Afonso X de Castela no século XIII, um dos principais centros intelectuais da Idade Média. Sebastião Tavares de Pinho, “O Infante D. Pedro e a “escola” de tradutores da Corte de
Avis”, Biblos 69 (1993), pp. 129-53.
9 Philippe Braustein, História da Vida Privada, vol. II, p. 584 (Governar o corpo).
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Assim, a elaboração do conteúdo clerical – seja ele médico, doutrinário ou conceitual - vem
mediada por uma meditação pessoal vigorosa, o que confere à passagens assim uma interessante qualidade ensaística. Essa disposição reflexiva, de resto, aproxima o autor da figura do
“rei sábio” segundo o modelo que emergirá ao final da Idade Média – não apenas permeável
(como rex litteratus) à doutrinação erudita, mas ele próprio apto a formular (como auctor)
observações sobre o governo e o autogoverno, e assim inserir-se na discussão intelectual de
seu período.
Circunstâncias importantes estão implicadas nas transformações por que passam os Specula
Principis nos séculos XIV e XV. Desponta neles, àquela altura, um viés mais prático, na mesma
medida em que aumenta, em importância e complexidade, a máquina do Estado. O desenvolvimento da burocracia legal, financeira e diplomática leva os monarcas a assumir mais diretamente, por exemplo, a gestão econômica do reino, algo particularmente sensível em uma nação que se punha à ponta das navegações atlânticas.10 Uma gama ampliada do saber científico
e técnico – seja ele jurídico, filosófico ou médico - é mobilizada no sentido de fundamentar a
tarefa do rei como um verdadeiro métier11.
Mas as transformações na arte de governar não se cifram apenas no alargamento do campo de
competências exigidas do soberano. Acompanha esta ampliação do escopo da ação governativa
uma transformação no quadro das virtudes régias. O antigo sistema estóico-cristão é reconfigurado com base em fontes mais recentemente recuperadas da antiguidade – nomeadamente,
a reflexão aristotélica sobre ética e política, compreendida pelo filtro cristão do tomismo.
Esta tendência, naturalmente, não é exclusivamente portuguesa. Os estudos de Jacques Krynen sobre a monarquia francesa mostram tal inflexão dos textos de aconselhamento como
processo amplo e diverso. O ideal monárquico que havia se fixado entre a Patrística e o século
XIII estabelecia para vicarius Dei a exigência de uma ética rigorosa, fundada na humildade e
na observância religiosa, definindo-se como sua função principal o estabelecimento da justiça. O rei deve, portanto, reger-se a si mesmo, para depois reger os súditos – o que significa
basicamente estabelecer boas leis, coibir abusos e castigar os maus. Neste aprendizado, ele se
mostrará sábio se for dócil ao conselho dos homens bons – religiosos, virtuosos, sinceros e fiéis - que o cercam, e que falarão a própria linguagem dos “espelhos”. Contudo, o velho ideal de
santidade sobre o trono irá se modificar e, sem que se abandone o rigorismo moral, cresce em
importância um saber atento aos mecanismos de funcionamento do governo. Nesse contexto
Krynen assinala a promoção da Prudência ao primeiro posto dos valores políticos, indicando
também uma sofisticação “tecnocrática” do conselho.12
É verdade que aquela virtude cardeal tem uma importante história nos Specula anteriores
ao século XIII. Mas à época de D. Duarte nota-se o evidente impacto das discussões sobre a
phrónesis propostas por Aristóteles (sobretudo na Ética a Nicômaco) e retomadas por Tomás
de Aquino (por exemplo, na Suma Teológica V, 2).13 Aristóteles, que via a política como uma
10 “Le bien commun exige plus que la justice et la paix. Il passe entre autres choses par le développement des
échanges et l’abolition des entraves à la prosperité. Dans ce contexte, un vaste champ d’intervention s’offre au
Prince animé de prudence, cette vertu ‘opérative’ lui permettant d’adapter la loi divine et naturelle aux necessités
sans cesse changeantes de la vie colletive”. Jacques Krynen, L’empire du roi (1993), p. 220.
11 Ver J. KRYNEN, 1993, pp. 167 e ss.
12 Jacques Krynen, 1993, pp. 217 e ss. Sobre o papel dos conselheiros, ver pp. 221-224.
13 Ver Tomás de Aquino, A prudência (edição brasileira, 2005). Cf. Michel Senellart, As arte de governar (2006),
pp. 189 e ss. “Enquanto, nos Specula parisienses, a prudência, tradicionalmente inscrita entre as virtudes cardeais, permanecia sinônimo de sapientia – conhecimento espiritual do bem e do mal -, Tomás, seguindo Aristóteles, faz dela a virtude específica que permite ao homem, nas coisas contingentes, atingir racionalmente
seus objetivos (...). [A prudência segundo Tomás] não é propriamente uma virtude moral, mas uma disposição
da inteligência prática, em conformidade com o apetite honesto, necessária para orientar-se no domínio do
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ciência ativa, parente da medicina, identifica em ambas o lugar central da prudência. Se a Fortaleza e a Justiça se impõem na imagem do rei medieval, do monarca moderno pré-maquiavélico espera-se também uma inteligência do contingente. Krynen descreverá então a produção
principesca do período como uma coerente “resposta dos reis” 14: aos comentários dos sábios e
à intervenção dos conselheiros letrados, aptos a manejar um saber livresco importante para o
governo, corresponde a reflexão de reis prudentes – eles próprios instruídos nas ciências, mas
cientes como ninguém da centralidade daquela virtude que viabiliza o reto ajuste da vontade e
da razão às circunstâncias.
Ecoando tudo isso já no próprio título, o Leal Conselheiro dedica os capítulos 51 a 60 a apresentar um vasto agregado de reflexões sobre a prudência. Ali são invocados amplamente Aristóteles (sobretudo as Éticas, mas também a Política e a Retórica), Cícero (De Officiis) e Egídio
Romano, para citar os clássicos. Mas o autor também lança mão de episódios históricos e bíblicos, discorre sobre acontecimentos contemporâneos (como as epidemias) e recorre às considerações várias (como as formuladas por Diego Afonso, doutor em leis que lhe servia na corte)
para meditar sobre o uso da prudência no exercício do governo. As digressões finais (capítulos
91 e seguintes) sobre assuntos variados – a leitura, a tradução, as práticas devocionais (capítulo 96, “Do regimento que se deve teer na capeella pera seer bem regida”), o comer e o beber
(capítulo 100, “Do regimento do estomago”), e sobretudo a longa evocação do convívio com o
pai (capítulo 98, “Da pratyca que tiinhamos com el rey, meu senhor e padre, cuja alma deos
aja”) podem ser lidos também como reflexões em que preceitos e experiência são mutuamente
confrontados.
De Christine de Pisan a Gracián a prudência ocupará o centro da reflexão moral e política. Governantes como D. Duarte refletirão sobre as diversas práticas implicadas na regência do país
a partir de um diálogo com a erudição, mas à luz de uma experiência vivida intimamente: “Ca
(=pois) sobre ello mais screvo por que sinto e vejo na maneira de nosso viver que per studo de livros nem ensino de leterados” (Prólogo). Um monarca culto que experimentou em um plano vital tanto a realidade da política como os mecanismos da doença e da saúde terá, naturalmente,
algo a dizer sobre estas realidades, cujas semelhanças já haviam sido flagradas por Aristóteles.
3. Doença, superação e conselhos prudentes.
Virtude política por excelência, a prudência é a habilidade do homem virtuoso que reflete sobre os meios de obter uma finalidade boa – a recta ratio agibilium, segundo Tomás de Aquino.
“Virtude arquitetônica”, seus vínculos com a medicina haviam sido apontados por Aristóteles.
Segundo Aubenque, já na literatura hipocrática phronein “não é apenas pensar, mas pensar de
modo sadio, dominar seus espíritos e seus sentidos, por oposição aos verbos que exprimem um
pensamento patológico (paraphronein) ou delirante (manesthai)”. O melhor meio de conservá
-la é seguir as regras de um regime, que farão dela um habitus:
A prudência é (...) um regime da inteligência, talvez até com toda a força de sentido
que os hipocráticos entendem a diaita: o ambiente favorável, a cura, o horizonte
onde o organismo desabrocha em se restringindo”.15
contingente.” Op. cit. pp. 190-191. A este respeito,consulte-se também o estudo de Quentin Skinner, L’artiste en
philosophe politique (2003), pp. 45 e 102 e ss.
14 Krynen cita os Enseignements de São Luis, de finais do século XIII, as traduções de Jean II le bon e Charles
V le sage, ao longo do século XIV (entre elas as Éticas, as Econômicas e a Política de Aristóteles) e o Rosier des
guerres de Luis XI, concluído em 1481. Op. cit., pp. 225 e ss.
15 Pierre Aubenque, A prudência em Aristóteles, pp. 253-254.
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Neste quadro entenderemos melhor aquele movimento inicial do Leal Conselheiro, derivando
de uma discussão sobre virtudes e vícios a digressão sobre a crise melancólica. E o que se conta
aí, a partir do capítulo 19? Que em inícios de 1413, aos 22 anos, como dissemos, em estrita obediência ao pai (envolvido na preparação de campanha militar contra praças mouras do norte da
África), o príncipe tomava a seu cargo a direção “do conselho, justiça e fazenda que em sua corte
se tratava” – atividades complexas e de alta responsabilidade. Ao longo da Quaresma adota rotina pesadíssima em que, após a missa matinal, despacha continuamente – mesmo durante as
refeições - até noite alta. O jovem aristocrata lamenta privar-se da caça (esporte nobiliárquico
por excelência), e de outros divertimentos. Sob tal regime, não é de todo imprevisto que, à altura da Páscoa, ele se descubra abatido, incapaz, nas suas palavras, de “no coraçom sentir alguu
dereito sentimento de boa folgança”.
Tal indisposição se torna crônica e dura quase um ano. Seu estado é agravado, conforme observa, sob o impacto da perda de pessoas queridas, vítimas das várias epidemias que o país
conheceu; ele próprio padece de dores nas pernas e febres. O medo da morte então o assalta;
não o medo razoável, mas este terror que Jean Delumeau vê como um fato da cultura no início
da era moderna. Assim, mesmo após recuperar a saúde física, declara-se tomado por “um tão
rijo pensamento com receo de morte, que nom somente temi aquela (= advinda da doença), mas
a que todos scusar nom podemos, pensando na breveza da vida presente”.
Quem teme a morte perde o prazer da vida: com tal provérbio ele ilustra a instalação da situação melancólica, quando a imaginação sem controle desencadeia contínuos pensamentos
angustiantes. Acídia pecaminosa, que abala a fé e a esperança na salvação... Curiosamente, é
a perda de sua mãe (em julho de 1415), vitimada pela epidemia, que alterará o quadro - o filho,
tendo disto “grande sentimento”, termina por perder todo o medo: “a ela em sa enfermidade
sempre me cheguei e servi sem alguu empacho, como se tal door nom sentisse. E aquesto foi
começo da minha cura, por que, sentindo ella, leixei de sentir a mi...”
As melhoras se verificam aos poucos, mas após três anos o monarca se dirá recuperado. A experiência suscitará interessantes reflexões sobre a dinâmica do espírito. No capítulo 23 discute,
como vimos, o poder da vontade sobre a memória, o que lhe permite apresentar conselhos
para evitar as lembranças ruins. Toda a narrativa acaba tendo uma função de aconselhamento
prático, mostrando o valor da prudência como “habilidade do homem virtuoso”. Habilidade
que, combinada à boa fortuna e ao auxílio divino, poderá vir em socorro do leitor que se veja
em situação semelhante, ademais desesperançado da cura. Nas palavras presentes no início do
seu relato (capítulo 19):
Com a teençom que primeiro screvi, de alguus desta breve e sympres leitura filharem proveitosa enssynança e avisamento, prepus de vos screver o começo, persseguimento e cura que del [h]ouve, por tal que mynha speriencia a outros seja exempro. Ca (= pois) nom he pequeno conforto e remédio aos que som desto tocados
saberem como os outros sentiram o que elles padecem, e [h]ouverom comprida
saude, porque huu dos seus principaes sentimentos he penssarem que outrem ja
mais nunca tal sentio que fosse tornado a sseu boo stado em que antes era.
O aprimoramento intelectual, um dos atributos do monarca, não se resolve no contato com o
saber livresco. Aqui também o rei deve ser sapiens, e, sobretudo, prudens.16 Pois a prudência
- ciência das escolhas corretas, pautada numa inteligência do concreto -, tem uma dupla di16 Embora o conceito de prudência não se restrinja à dimensão preventiva hoje associada à palavra, é relevante
o papel da profilaxia no conjunto das orientações sugeridas pelo rei, que soam como alertas para desavisados.
Mesmo a erudição deve ser experimentada com parcimônia, para não dizer ceticismo (cf. capítulo 94). Sobre o
tema do rei sapiens e prudens, ver Michel Richarz, “Prudence and Wisdom in Christine de Pizan’s Livre des fais et
bonnes meurs du sage Roy Charles V (2005), pp. 99-116.
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mensão, empírica e intelectual. Quem viveu o mal e se exercita na reflexão poderá, certamente,
testemunhar de modo útil sobre sua natureza.
4. Conclusão: leitura e escrita como práticas terapêuticas.
No Prólogo do Leal Conselheiro D. Duarte registra ter sido a origem do livro um pedido de sua
esposa, D. Leonor, para que juntasse “coisas escritas pera bom regimento de nossas consciencias e vontades”. Mas ele não teria construído tal tratado sobre as virtudes e os pecados apenas
para comprazer à esposa. Além de lhe permitir passar o tempo de modo honesto, longe dos
cuidados, a escrita o obrigaria a refletir sobre o que haveria de escrever, e assim “saberia mais
desta moral e virtuosa sciencia”. Segundo o ele, isto o preservaria de “fazer cousas mal feitas,
por seerem contrairas do que screvo”. Como resultado, o livro haveria de prestar um bom serviço não somente a si: “por que das obras breves e símprezes os de nom grande entender e pouco
saber melhor aprendem que das sotil e altamente scriptas”.
Em outra parte, a leitura é incluída como elemento de um modo de vida equilibrado - uma dieta. A partir de sua experiência com a doença, aconselha a manutenção rotineira desta prática
em uma divisão equilibrada das horas do dia. Assim, devem ser reservados períodos específicos
para dormir, comer, rezar, vestir e desvestir, e duas horas para ler e folgar17. Abordada de modo
mais direto no capítulo 94, a leitura (devocional ou não), além de combater a ociosidade, é
descrita como um exercício a ser praticado de modo contínuo e ponderado. Que se leia com
atenção, mas em doses razoáveis, para que se entenda melhor o texto. Deve-se começar a ler
mesmo quando não se sente vontade, mas não se deve porfiar, seja em quantidade, seja na
resolução de passagens obscuras. Um bom livro deve sempre ser relido - algumas coisas serão
entendidas de modo novo, e por isto proveitoso.“E pensae que o sseu leer he obra meritória”.
Como a prece que se repete diariamente, a leitura alimenta e exercita o espírito na sua constância habitual.
A leitura foi continuamente pensada, entre a Idade Média e a Era Moderna, como um exercício ou uma ruminação18, assimilando-se desta forma a um fortalecimento espiritual. Escrita e
leitura operam uma espécie de ginástica do pensamento. Lendo e escrevendo alternadamente,
o espírito se nutre de um repertório consolidado pela tradição douta e se protege das paixões
desgovernadas. No Prólogo do Leal Conselheiro, a imagem da abelha que pousa nas flores – diferentemente de insetos que frequentam lugares sujos – pode ser associada a uma leitura antes
de tudo variada: imagem convencional que sugere um tipo de escrita compilatória compatível
com a feição ensaística do texto. Mas ela sugere também um exercício de meditação saudável
e equilibrada, que recorre ao repertório livresco para transformar, com a ajuda de uma escrita
meditativa, experiência em saber.
De modo pouco fundamentado, historiadores do passado (interessados em dramatizar a história portuguesa a partir do perfil moral dos seus soberanos) chegaram a classificar nosso monarca como “rei melancólico”. O príncipe estudioso e reflexivo não foge de todo ao perfil arquetípico do sábio impregnado de melancolia. O seu saber predominante, no entanto, é o que
extrai das leituras e das experiências lições relevantes para não sucumbir a ela. Sua excelência
real – a prudência, como toda virtude, é uma excelência - se afirma na disposição razoável para
superar-se; para remediar-se a si e logo expandir-se generosamente junto aos semelhantes.
17 Ver J. Dionísio, “D. Duarte e a leitura” (1991), pp. 7-17.
18 Ver Brian Stock, Lire, une ascèse? (2008). Mary Carruthers, A técnica do pensamento (2011), pp. 161 e ss.
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Resumo
Abstract
O Leal Conselheiro é um tratado moral composto pelo rei D. Duarte de Portugal (13911438). Nele aparece um relato sobre a crise
melancólica por que passou, e o modo como
ela foi superada. O objetivo deste artigo é
mostrar como esta passagem autobiográfica
do texto se vincula ao seu conjunto conceitual, e como este, por sua vez, pode ser associado ao gênero dos Specula principis.
The Leal Conselheiro is a moral treatise,
written by D. Duarte, king of Portugal (13911438). At some point, he tells us how he fell ill
of melancholy, and then recovered. The purpose of this article is to show how this autobiographical part can be linked to the main,
conceptual body of the work, which can be
described as a Speculum Principis.
Palavras-chave: D. Duarte de Portugal (13911438). Leal Conselheiro (c. 1438). Melancolia.
Speculum principis.
Keywords: D. Duarte de Portugal (1391-1438).
Leal Conselheiro (c. 1438). Melancholy. Speculum principis.
Sobre o autor
Alexandre Soares Carneiro é professor no Departamento de Teoria Literária (DTL/IEL) da
Unicamp. Doutor em Letras pela Unicamp, estudou em sua Tese os aspectos políticos da obra
de Gil Vicente. Organizou (com a Profa. Orna M. Levin) a edição brasileira do Auto da Sibila
Cassandra, de Gil Vicente (Cosac Naify, 2007). Endereço eletrônico: [email protected]
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