na pele de schumacher e vettel
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na pele de schumacher e vettel
SUPERTESTE KARTING NA PELE DE SCHUMACHER E VETTEL Testar os mesmos karts utilizados por Schumacher e Vettel, no mesmo circuito e comparar dados de telemetria com os dois ases alemães. Um desafio de sonho para qualquer amante do Karting. Mais do que a olhar para o cronómetro, descobrimos segredos e técnicas para melhorar a nossa performance, mas será que chega..? Por Paolo Bombara A Tony Kart organizou uma sessão de testes com os seus principais modelos de competição na pista de South Garda di Lonato . Pudemos assim comparar os nossos tempos com os de Vettel e de Schumacher 36 AUTOSPORT 17 A 23 DE AGOSTO C rónica de um estranho combate à distância. Num canto do ringue: Michael Schumacher, o monstro sagrado e Sebastien Vettel, o jovem prodígio que quer suplantar o mestre. Duas gerações de campeões e dois ícones inalcançáveis. No outro canto: nós, ou seja o comum dos mortais. Estar na pele, nem que seja só por um dia, das grandes estrelas do nosso desporto é, sem dúvida, um sonho supremo. Um sonho que, obviamente, estava condenado a permanecer encerrado no nosso limbo onírico, não fosse a Tony Kart ter pensado tornálo possível, convidando-nos a experimentar o mesmo kart do heptacampeão Mundial de F1, nas mesmas condições, na mesma pista e tendo disponíveis todos os dados de telemetria, com o intuito de permitir um confronto mais aprofundado e profissional. Como prémio suplementar a possibilidade de fazer a mesma coisa e sempre no mesmo circuito com o kart utilizado no verão passado por Herr Sebastien Vettel. Whoooww, com os diabos, como diria o meu avô! Outra ocasião idêntica para ‘pedir meças’ a dois mitos deste calibre não voltará a aparecer facilmente. A proposta era, sem dúvida, aliciante, mas a realidade fez-nos descer das nuvens, sugerindo-nos que, sem um mínimo de treino específico o ridículo estava aí mesmo à porta, já para não falar do inevitável recurso aos dotes curativos de um bom fisioterapeuta para nos voltar a pôr em condições. O que se tornava ainda mais provável já que este teste estava previsto para a pista South Garda di Lonato (perto de Brescia e do famoso lago Garda) no dia a seguir à segunda prova do WSK Euro Series. Por outras palavras, o local de divertimento seria uma pista com bastante borracha, após diversos dias de treinos e de competição ao mais alto nível e estas condições do asfalto são sinónimo de máxima aderência, ou seja, velocidade, divertimento, mas também muitas dores musculares, para quem já não é propriamente uma criança. Por isso, pesando prós e contras, surgiram as decisões mais difíceis: lugar aos jovens! Mais exatamente ao meu filho que, com os seus 20 anos está em boa forma física, tem a vantagem de ter praticado karting, ao que se junta uma larga experiência ao mais alto nível internacional como mecânico de uma equipa oficial. Tudo isto permitir-lhe-ia analisar, avaliar e transmitir indiretamente (através da nossa caneta) as sensações que podem experimentar quaisquer jovens pilotos amadores que, ao menos por um dia, possam vestir a pele de Schumacher ou Vettel, com toda a assistência técnica e logística que uma casa como a Tony Kart pode fornecer. Piloto oficial por um dia e Schumacher e Vettel como pontos de referência. Que coisa de sonho! 17 A 23 DE AGOSTO AUTOSPORT 37 SUPERTESTE KARTING TESTE 1 TONY KART VORTEX KF2 CRONO Melhor tempo do nosso piloto Melhor tempo de Vettel Diferença 45”41 s 44”18 s 1”23 s VETTEL: ESTAMOS LÁ... (OU QUASE) C om o intuito de se aclimatar e tirar as medidas à pista desconhecida – enquanto piloto – o nosso ensaiador por um dia começa por fazer algumas voltas de aquecimento ao volante de um kart menos potente e mais dócil do que aquele com que será realizado, posteriormente, o duplo confronto. Trata-se de um Kosmic Lynx equipado como motor Vortex Rok de 29 cv. Após este aperitivo, chega o momento do confronto com Vettel, já tripulando o Tony Kart Racer EVR-Vortex RAD classe KF2 (125 cc. sem caixa, com limitador eletrónico às 15.000 rpm e uma potência máxima real de 35 cv) que o piloto alemão utilizou nesta mesma pista durante o verão passado. Habituado a guiar um kart sem caixa, o nosso ensaiador não se mostra muito impressionado, nem com o kart, nem com o confronto com Vettel. “Na realidade – confessa – estava mais concentrado com o inevitável confronto com os outros pilotosensaiadores que estavam presentes e saíam para a pista nas mesmas condições do que eu.” Stéphane não fez má figura neste confronto direto com os seus ocasionais companheiros de pista, já que na sua melhor volta parou o cronómetro nos 45”41, tempo praticamente idêntico ao efectuado por Matteo Bobbi (Campeão FIA GT em 2003 e 2006), também ele convidado a sentar-se ao volante do KF2. O veredicto do cronómetro já foi menos indulgente quando analisamos o confronto Vettel pilotou este Tony Kart Racer da classe KF2 com 125 cc, sem caixa com limitador eletrónico às 15.000 rpm Stéphane Bombara, o nosso piloto de testes, conseguiu compreender bem as técnicas de pilotagem que melhor exploram o potencial do Tony Kart Vortex K2 com Marco Ardigo, que conseguiu fazer uma volta ao traçado em 43”7, mas convém lembrar que estamos na presença do Campeão do Mundo da especialidade. E Vettel? Bem o piloto da Red Bull Racing tinha, no passado julho, feito o seu melhor tempo em 44”18, antes de ser forçado a parar devido às bolhas nas mãos, contra as 70 voltas de Bobbi e as 21 realizadas pelo nosso Stéphane. TRAVAR FORTE E SAIR BEM Mesmo que pareça surpreendente, o confronto entre as páginas de telemetria de Vettel e do nosso piloto não deixa transparecer grandes diferenças. As duas linhas que indicam o regime do motor e a velocidade não se sobrepõem, mas seguem traçados muito similares, com apenas uma diferença relevante: o de Vettel é sempre, e em qualquer parte, um pouco mais ‘alto’ no que respeita às rotações do motor e, consequentemente, regista uma velocidade de passagem sempre ligeiramente superior. Contudo, os estilos de condução são muito semelhantes: “Tive sempre a certeza de ter alguma margem de melhoramento ao meu alcance”, afirma Stéphane. “O motor é muito agradável e tem um binário verdadeiramente notável. É muito rápido, o chassis é muito equilibrado e trava muito bem. Contrariamente ao Kosmic, este chassis não adere em demasia, mas desliza aquilo que se pretende para o inserir perfeitamente na entrada da curva e soltar o motor. Pessoalmente, faltou-me apenas um pouco de confiança. Por outro lado, em todas as travagens fortes, Vettel ganhava alguns décimos, não tanto por travar mais tarde, mas travando mais forte. O francês Armand Convers, que na véspera tinha vencido a classe SKF da WSK, após ter observado o tipo de condução de Stéphane, deu-lhe este conselho: “Não guias nada mal, sobretudo nestas condições de pista que são tudo menos fáceis para quem não está treinado a gerir um nível de aderência tão elevado. Porém, és muitas vezes demasiado rápido na entrada em curva e aceleras um pouco em antecipação, o que faz com que a traseira do kart derrape em demasia e tenhas de lutar com o volante na saída. Pelo contrário, deverias travar mais forte e privilegiar a saída das curvas, o que determina a tua velocidade de ponta em todas as retas que se seguem. O fundamental é inserir bem o kart em curva, levantar um pouco o acelerador para o deixar colocar-se corretamente, voltar a dar gás no ponto de corda e, a partir daí, não levantar o pé, nem corrigir com o volante. Quanto ao resto nada a dizer.” COMO LER A TELEMETRIA CADA esquema é subdividido horizontalmente por linhas que indicam a velocidade expressa em km/h (à esquerda), o regime do motor em rotações por minuto (à direita) e verticalmente por linhas que separam as diversas secções do traçado, indicadas em cima na cor verde brilhante, enquanto as partes ‘vazias’ do traçado estão indicadas a negro bordejadas a verde e correspondem as zonas de reta. Cada secção é assinalada por um número que permite visualizá-la exatamente no desenho da trajetória do kart, reproduzida em baixo à esquerda. Regressando ao esquema principal, em baixo é indicada a distância ao longo do traçado, uma cadência progressiva: em cada cem metros. 17 A 23 DE AGOSTO AUTOSPORT 39 SUPERTESTE KARTING TESTE 2 TONY KART VORTEX KZ CRONO Melhor tempo do nosso piloto 47”39s Melhor tempo de Michael Schumacher 42”25s Diferença 5”14s NA POLTRONA DE SCHUMACHER E Xxxxx xxxx xx xxxx xxxxx xxxx xxx xxx xx xxxxxx xxxxx xxxx xxxx xx xxxx xxxxx xxxx xxx xxx xx xxxx xxxxx xxx xxx xx x ntramos noutro mundo quando nos instalamos ao volante do Tony Kart Racer EVR – Vortex RVXX KZ, porque, apesar de ter uma boa experiência desta categoria como mecânico, Stéphane nunca tripulou um kart com caixa! Sem ter tido a possibilidade de treinar, confrontar-se com Schumacher é uma Missão Impossível. A sentença do cronómetro é, desta feita, muito mais difícil de encaixar: 47”39s contra 42”25s de Schumacher. Mais potente do que o KF2, com 45 cv debitados a 13.900 rpm, este motor é brutal e, por consequência, o próprio kart deve ser guiado de uma forma mais bruta, utilizando, obviamente, a caixa de velocidades. O nosso piloto conhece bem a teoria: puxa-se a alavanca na sua direção (sem se esquecer de levantar o pé do acelerador) para passar as relações superiores, empurra-se para desmultiplicar, mas Stéphane descobre que subsistem algumas dificuldades em manejar a caixa e que necessitaria de treinos mais prolongados em pista para adquirir os indispensáveis automatismos: “A verdade é que não tinha a confiança suficiente para guiar este kart. A aceleração é muito potente a partir das 8.000 rpm, mas com menos rotações não existe quase nada. É preciso assimilar esta característica e integrá-la na condução otimizando as passagens de caixa, sendo ainda necessário estar habituado à velocidade. De facto chega-se muito depressa à curva que se segue à reta da meta (cerca de 140 km/h) e esta aparece de repente, o que nos leva a enfrentá-la de forma circunspecta. Resultado: reduzia a pressão sobre o acelerador cedo demais. De forma análoga, também a travagem necessitaria de maior tempo de adaptação. Trava-se sempre às quatro rodas, mas neste caso em simultâneo, sem poder soltar os travões dianteiros, tal como estou habituado a fazer e era possível no KF2, graças ao comando manual e separado.”, explicou Stéphane. ESTILO SCHUMI DE PILOTAGEM Uma vez mais é Armand Convers a analisar a capacidade de pilotagem do nosso ensaiador. “Neste caso deverias ter sido muito mais agressivo na tua condução: não se conduz um kart com caixa da mesma forma que um kart tradicional sem caixa”. Contudo, a maior parte dos pilotos de F1 que, por vezes, regressam ao karting, preferem este tipo de kart, cuja condução é mais parecida com a de um monolugar. Schumacher não é exceção e foi ao volante deste tipo de kart que no ano passado participou em diversas sessões de testes com a Tony Kart (cinco), a que juntou mais 10 no seu traçado de Kerpen e ainda participou em quatro provas do campeonato alemão e, principalmente, na corrida de fim-de-ano em Las Vegas onde lutou, lado a lado, com a nata dos profissionais desta categoria. 40 AUTOSPORT 17 A 23 DE AGOSTO O KZ tem um motor brutal e exige uma pilotagem mais bruta, Schumacher retarda a travagem até à corda da curva para ganhar vantagem na saída em potência. É uma técnica muito complexa e impossível de reproduzir com a precisão do piloto alemão ANÁLISE DOS TESTES COM O KZ O seu estilo de condução é distinto, pelo menos no que diz respeito à travagem. A telemetria mostra que Schumi denota as mesmas características que sempre o caracterizaram na F1: muita carga sobre a secção dianteira, adiando as travagens dois ou três metros em relação à maior parte dos praticantes profissionais. Os espaços de travagem, grosso modo, permanecem idênticos, mas ele trava mais tarde e entra na curva a travar forte. Muitas vezes está em cima dos travões no ponto de corda e, contudo, a sua velocidade de saída não é penalizada. Não existem dúvidas, com ele os elementos de travagem são submetidos a uma dura prova, tanto que a Tony Kart recorre aos seus serviços e à sua proverbial precisão, sempre que é necessário testar novidades nesta área. No que diz respeito ao nosso ensaiador, Schumacher faz a diferença em quase todos os locais da pista, sobretudo nas curvas velozes após a reta principal. Schumacher faz ainda a diferença conservando o regime de rotação muito mais elevado em relação ao nosso ensaiador, particularmente na quinta curva, que corresponde ao ponto nº3 na página dos dados da telemetria e na aproximação à curva seguinte. Décimos de segundo atrás de décimos de segundo que acabam por totalizar segundos. Moral da história: não se é sete vezes Campeão do Mundo por mero acaso. ESTE gráfico permite analisar a melhor volta do nosso piloto (47”39) em confronto com a melhor volta de um piloto da Tony Kart, com um estilo de condução muito similar ao de Michael Schumacher. Os dados atestamno, mas a publicação da telemetria “assinada” pelo campeão alemão não foi autorizada. Em relação à que publicamos as diferenças são mínimas, quase não se detetam a não ser por um olhar de um verdadeiro perito e profundo conhecedor dos segredos de condução dos pilotos da marca. A linha azul da parte superior do gráfico indica o regime de rotação do motor do nosso piloto, enquanto a linha roxa mais em baixo indica a sua velocidade. As linhas brancas que estão próximas das linhas atrás citadas indicam respetivamente os registos efetuados na volta cronometrada de referência. 17 A 23 DE AGOSTO AUTOSPORT 41