Problemas de disciplina

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Problemas de disciplina
Telma Batista
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I - A DISCIPLINA
A disciplina desempenha um papel importante nas conquistas da criança, entre as
quais estão:
1. O
autocontrolo:
reconhecer
os
seus
próprios
impulsos,
como
são
desencadeados, como podem magoar os outros e como os controlar;
2. o reconhecimento dos seus sentimentos e daquilo que lhes está subjacente:
identificá-los, expressá-los ou mantê-los escondidos, caso seja necessário;
3. a percepção dos sentimentos dos outros: compreender as suas causas,
preocupar-se com aquilo que eles sentem e reconhecer o efeito que os seus
actos têm sobre os outros;
4. o desenvolvimento de um sentido de justiça e a motivação para se
comportar de uma forma justa;
5. o altruísmo: a descoberta da alegria de dar, e até de fazer sacrifício por
outros seres humanos.
Na adolescência todas estas capacidades vitais têm um objectivo definido, tal como
ao longo de toda a vida. Se não for feita na infância, a sua posterior aquisição será
mais difícil. Sem elas, os desafios dos anos futuros serão ainda maiores.
I. I – A PERSONALIDADE DA CRIANÇA E A DISCIPLINA
A personalidade da criança pode afectar aquilo que ela é capaz de fazer com
facilidade e aquilo que lhe dará maiores problemas. Compreender a personalidade
da criança ajuda-o a adaptar a disciplina para a tornar mais eficaz:
Crianças muito activas podem ter maiores dificuldades em se controlarem
e precisam com mais frequência de uma atitude mais prática dos pais.
Crianças difíceis de ambientar talvez se retraiam ou até mesmo se
revelem de forma calma, se forem obrigadas a tentar algo de novo.
Precisam de mais encorajamento e mais tempo para se prepararem e
precisam que os pais decomponham uma nova exigência e passos mais
pequenos.
Crianças muito sensíveis, atentas a todos os que as rodeiam, podem
sentir-se responsáveis por coisas que não são para a sua idade e sentir-se
destroçadas pela culpa, à mais leve reprimenda.
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Crianças com fraca capacidade de concentração, podem ter dificuldade
em cumprir uma série de instruções e precisam de terminar uma tarefa de
cada vez, antes de lhes ser dada a instrução seguinte.
Crianças com hipersensibilidade sensorial que sentem profundamente
tudo o que vêem, ouvem ou tocam. Precisam de silenciar os sons e fechar
os olhos às imagens que as rodeiam. Isto pode fazer com que não
respondam a um pedido dos pais.
Quando os temperamentos são muito diferentes e os pais gostariam de modificar a
personalidade dos filhos, é natural acontecerem lutas pelo controlo. O melhor que
os pais têm a fazer é aceitar a personalidade dos filhos tal como ela é e
aprenderem a lidar com ela. No entanto, estas lutas também podem acontecer
quando os pais e as crianças são “muito parecidos”. Os pais têm de aprender a
aceitar os seus próprios temperamentos quando os vêem espelhados nos filhos.
I. II - PRINCÍPIOS BÁSICOS DA DISCIPLINA
Torne as regras claras e consistentes:
1. Ambos os pais devem decidir quais são as regras e estarem de acordo na
sua aplicação.
2. Explique à criança qual é a regra, com palavras, gestos e tom de voz.
3. Adapte as regras às capacidades e necessidades de cada criança – as regras
não têm de ser iguais para todos.
4. Espere que a criança o volte a desafiar.
5. Responda sempre da mesma maneira, pois qualquer variação aguça a
curiosidade da criança em ver o que acontece da próxima vez.
6. Faça avaliações e revisões regulares das suas regras e expectativas. À
medida que a criança cresce, precisará de ajustar algumas delas.
As crianças precisam que os pais digam «não» até que a lição tenha sido aprendida
e já não precise de ser testada. Aprendem pela repetição. As crianças testam os
pais para tentarem perceber se será sempre «não» ou se será «não» quando for
dito desta ou daquela maneira, aqui ou ali, na presença desta ou daquela pessoa,
etc.
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Ensine a criança a controlar os seus impulsos:
1. Capte a atenção da criança. Se for preciso, segure-lhe o rosto ou os ombros
com as mãos. Olhe-a nos olhos, obrigando-a a concentrar-se na mensagem.
2. Explique-lhe claramente que não pode agir de acordo com os seus impulsos:
Não podes mexer. Ou, se já chegou tarde: Põe no sítio.
3. Se for necessário, deve impedir fisicamente a criança de fazer o que lhe
proibiu (tire-lhe o brinquedo, leve-a a outro lado, etc.).
4. Sempre que possível, dê-lhe uma alternativa: Esse não. Mas podes levar o
outro. Isto ensina-a a resolver problemas.
5. Faça da alternativa uma oferta do tipo “pegar ou largar” e não uma
negociação. Isto mostra à criança que o seu principal objectivo não é
entristecê-la, mas ensiná-la: Se não queres levar este então não levas
nenhum. Não desista até ter conseguido o seu objectivo.
6. Procure entender a frustração e a tristeza da criança: É muito triste não
podermos ter tudo o que queremos, não é?. Não está a ensiná-la a abdicar
de todos os seus sonhos e desejos, mas apenas a controlar aqueles que não
podem ser realizados. Não está a tentar ensinar-lhe a gostar de todas as
regras, mas apenas a gerir os sentimentos negativos relativamente a elas,
para que não se sinta frustrada.
7. Ajude a criança a compreender o motivo, em termos simples, pelo qual o
desejo não pode realizar-se.
8. Se, no entanto, sentir que errou, aproveite a oportunidade para demonstrar
a importância de admitir os erros e pedir desculpa, sem abdicar da sua
autoridade.
9. Acarinhe a criança e ajude-a a acreditar que pode aprender, a pouco e
pouco, a controlar-se. Pegue-lhe ao colo e abrace-a.
10. Procure oportunidades de ajudar a criança a resolver o que fez sem se
sentir humilhada, pois caso contrário ela tentará justificar o comportamento
em vez de o corrigir.
11. Quando o dia foi feito de «nãos», procure alguma coisa a que possa dizer
«sim». Isso ajuda a criança a ver a disciplina como um acto de amor, não
como resposta a algo de “mau” nela.
12. Não encare o mau comportamento da criança como um ataque pessoal, em
particular os desafios constantes. Se os vir como ataques pessoais, é
provável que responda da mesma maneira. Em vez disso, procure perceber
o que é que a criança está a tentar aprender com esse mau comportamento,
para lhe poder responder com aquilo de que a criança precisa.
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13. Partilhe esta responsabilidade com outros adultos que façam parte da vida
da criança.
Ajude a criança a expressar e a controlar as emoções:
1. A sentir-se suficientemente segura para experimentar as suas emoções: Eu
ajudo-te a controlares-te até seres capaz de o fazer sozinho.
2. A distinguir diferentes emoções: Às vezes, quando estão assustadas, as
pessoas têm vontade de ser más.
3. A reconhecer as associações entre emoções e situações em particular: Não
estás contente de teres sido capaz de arrumar os brinquedos todos?
4. A perceber e identificar os sentimentos: Tenho medo do escuro.
5. A descobrir formas de se acalmar ou expressar as suas emoções: Porque
não vais ler um livro antes de dormir? Porque não desenhas o monstro que
te assusta à noite?
6. A pedir ajuda quando precisa para lidar com os sentimentos: Sentas-te ao
pé de mim e cantas-me uma canção antes de eu dormir?
7. A aceitar e valorizar os sentimentos. Por exemplo, se a criança se recusa a ir
dormir: Tu brincas tanto durante o dia, que não consegues parar à noite! Ou
Gostamos muito um do outro. É natural que não gostemos de ir para a cama
e esperar pelo outro dia para voltarmos a estar juntos.
O mau comportamento é muitas vezes a primeira tentativa da criança para tentar
canalizar os seus sentimentos mais intensos. A criança precisa dos pais para lhe
fazer sentir que não está em perigo por causa do seu tumulto interior e que estarão
sempre a seu lado para a ajudarem a comandar esses sentimentos. A criança
precisa de aprender a modelar as suas atitudes a partir da forma como os adultos
se acalmam, controlam a situação e procuram uma solução. Para que aprenda a
gerir as emoções sem se comportar mal, precisa da ajuda dos pais para
compreender oos seus sentimentos e experimentá-los sem perder o controlo.
Ajude a criança a aprender as consequências do seu comportamento:
1. A compreender o significado do seu comportamento: Esta é uma maneira de
chamares a minha atenção. Sei que querias que fosse brincar contigo e eu
gostava de não estar tão ocupado, mas se desatas a correr dessa maneira e
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a deitar tudo ao chão, vou ficar demasiado zangado para brincar e vamos
ter de passar o tempo a limpar e arrumar em vez de brincarmos.
2. A antecipar as consequências: Se gastares tudo agora, depois não há mais;
Se continuares a fazer isso, vais-se partir e depois não te dou outra; Se não
fores já buscar o casaco, não temos tempo para ir a casa da avó; Podes
magoar-te; Vais sentir-te mal pois ela é tua amiga e não queres magoá-la.
3. A estabelecer os seus próprios limites: Se não arrumares este brinquedo
primeiro, não te deixo ir buscar o outro; Se não arrumares os brinquedos,
tenho de os pôr no meu armário; Se não paras de gritar, vais ter de ir para
o teu quarto e fechar a porta e lá podes gritar à vontade; Se fizeres birra na
loja por causa de um brinquedo (ou de um chocolate) podes ter a certeza de
que não vais ter nenhum – nem agora, nem nunca.
4. A recordar as consequências: Se magoares alguém, não vão querer brincar
contigo. Se não pedires as coisas delicadamente, ninguém te vai ajudar;
Podes ferir os sentimentos dos outros; Se deitares açúcar para o chão, tens
de me ajudar a limpá-lo; Se não ajudares o pai a limpar a loiça, isto vai
demorar muito mais e ficamos com menos tempo para brincar.
As consequências devem ser escolhidas de modo a ensinarem às crianças quais os
resultados do seu comportamento para que se comportem melhor da próxima vez.
São mais eficazes a ajudar as crianças a lembrarem-se de que têm de aprender
com os erros, do que com a dor, a vergonha ou a humilhação.
Aproveite o mau comportamento para ensinar a autodisciplina:
1. Observe o comportamento não-verbal da criança para avaliar o que ela
sente acerca daquilo que fez.
2. Se a criança já percebeu que fez algo errado e se sente culpada por isso,
então já está a aprender a sua lição.
3. Se forem demasiado fortes para serem suportados, os sentimentos de culpa
tendem a ser compensados com a negação. Não force a criança a ponto de
ela não poder enfrentar aquilo que fez. Em vez disso, louve-a pela coragem
necessária para enfrentar os próprios erros: Vejo que te sentes muito mal
pelo que fizeste. Sabes que não quero que te sintas pior do que já sentes.
4. Se for necessário, certifique-se de que a criança compreende o que fez,
pedindo-lhe que lhe conte. As palavras dela valem muito mais do que suas e
terá a possibilidade de clarificar aspectos que sejam confusos.
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5. Decida com o outro progenitor, uma consequência que se relacione
directamente com o acto e permita à criança reparar o mal feito: Vais ficar
sem mesada até perfazeres o suficiente para comprares um brinquedo novo
ao Bruno. Vais ter de lhe escrever um cartão muito bonito a pedir desculpa
pelo que fizeste.
6. Certifique-se de que a criança compreende a importância das desculpas e da
reparação e se sente perdoada.
Procure oportunidades, em especial no meio de uma crise, para que a criança
examine e faça a gestão do seu comportamento de uma maneira mais
independente. Substitua o «percebeste o que fizeste?» pelo «não devias ter
feito aquilo». Em vez de «imaginas como aquilo o fez sentir?» afirme «feriste os
sentimentos dele». Em vez de «achas que podes fazer alguma coisa para o
fazer sentir melhor?» diga «vais ter de pedir desculpa». Estas diferenças
mostram à criança que conta com ela e que ela pode contar consigo própria
para reparar o mal feito. Não a está a abandonar, mas a fazê-la sentir que
valoriza as suas capacidades.
Reagir ao mau comportamento como uma equipa:
1. Os pais devem discutir previamente e em privado os maus comportamentos
previsíveis e devem acordar uma resposta única para cada um deles.
2. Quando orem confrontados com um novo mau comportamento, este deve
ser parado de imediato, dando aos pais a possibilidade de conversarem um
com o outro longe dos ouvidos da criança, caso surja alguma divergência de
opiniões quanto à reparação do mal feito: Vai para o teu quarto. A tua mãe
e eu precisamos conversar sobre o que vamos fazer. Depois chamamos-te.
3. Consulte o outro progenitor e encontrem uma solução que a ambos
satisfaça;
4. Estabeleça um castigo que a criança relacione directamente com o mau
comportamento e que vá de encontro aos seus objectivos, como sejam o
controlo dos impulsos, o respeito pelos sentimentos dos outros, a distinção
entre o bem e o mal, etc.;
5. Informe a criança de que mais tare irão discutir o sucedido, quando ela
estiver suficientemente calma para conversar.
6. Se, quando o comportamento problemático ocorre e apenas um dos pais
estiver presente, o outro quando chegar deve apoiar a resposta desse.
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As crianças sentem os desentendimentos entre os pais logo desde cedo e tentam
pô-los à prova. Se a criança sabe que um dos pais ficará do seu lado, contra o
outro ou a irá “proteger” das medidas disciplinares impostas pelo outro, vai
continuar a comportar-se mal. Se o papel de disciplina não for igualmente
partilhado por ambos, as crianças podem ver um dos pais como o “bom” e o outro
o “mau”. Sendo assim, as crianças precisam de saber que podem contar com
ambos para estabelecerem os limites. Precisam que ambos estejam de acordo
quanto às regras e às consequências do seu não cumprimento.
Exemplos de aspectos da vida da criança que os pais devem acordar entre
si:
-
As tarefas domésticas;
-
A mesada;
-
A hora de dormir e o ritual a seguir;
-
O petiscar entre as refeições;
-
As brigas com outras crianças;
-
A televisão (o que ver e durante quanto tempo).
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II - PROBLEMAS DE DISCIPLINA MAIS COMUNS
Estar sempre à procura de atenção
A criança que solicita constantemente a atenção dos pais, tem problemas em estar
sozinha. A tarefa dos pais não é fazer-lhe companhia e entretê-la, mas ajudá-la a
aprender a entreter-se sozinha (a televisão e os jogos de computador são soluções
tentadoras, mas não deixam a criança tomar a iniciativa).
1. Devem criar ocasiões regulares e sem interrupções em que a sua atenção esteja
só concentrada na criança. Por exemplo, dez minutos para lhe dar mimo quando
chegam a casa no fim do dia, a leitura de uma história antes de dormir, fazerem
bolos juntos ou jogar futebol aos domingos de manhã.
2. Quando a criança quer atenção mas não pode tê-la, lembre-lhe as alturas
especiais com que sabe que pode contar. Isso ajuda-a a aprender a adiar a
gratificação.
3. Quando a procura de atenção começa a ser problemática devem responder num
tom de voz suave e neutro, que torne claro que tal comportamento é indesejável
“Se precisas de mim para alguma coisa, essa não é a maneira de o pedires. Sabes
como fazer.”
4. Quando a criança aumenta a exigência, devem ter uma resposta igualmente
calma e clara: “Tens de entender que, por mais que me peças, não vou poder
ajudar-te agora.”
5. Pergunte-lhe o que acha que a faria sentir-se melhor, o que gostaria de fazer,
para a criança aprender a fazer a si mesma estas perguntas e a encontrar as suas
próprias respostas.
6. Se for difícil para a criança chegar a essas respostas sozinha, oriente-a para
comportamentos alternativos, para outras soluções: “Agora tenho que acabar o que
estou a fazer, mas daqui a 15 minutos já posso ir ajudar-te. Vai brincar, divertes-te
,mais do que ficando aí à minha espera.”
7. Ajude a criança a compreender e a lidar com os seus próprios sentimentos, a
perceber que se sente só, aborrecida ou que simplesmente não sabe o que fazer. A
criança tem de aprender a lidar com estes sentimentos.
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Choramingar
Se uma criança choraminga repetidamente isso pode ser sinal de que: ela
descobriu uma forma de comunicação eficaz; sente-se stressada (devido a um novo
salto no seu desenvolvimento); sente-se sob pressão por causa de uma mudança
(de uma nova escola, dos pais que não se entendem).
1. Mesmo que a criança chore e faça birra, os pais não devem responder-lhe, mas
sim obrigá-la a parar: Não adianta chorares” ou “quando estás a chorar, não
prestas atenção ao que te digo” ou “não consigo sequer pensar no que estás a
pedir, se não o fizeres sem chorar”. É importante ser coerente com estas
afirmações.
2. Se a criança mudar o tom de voz, o pedido deve ser satisfeito, desde que seja
razoável.
3. Caso a criança não mude o tom de voz, os pais devem elogiá-la por mudar o
tom, mostrar que estão a dar-lhe atenção e depois explicar o motivo porque a sua
exigência não pode ser satisfeita.
4. As crianças precisam que os pais as ajudem a perceber o efeito que o choro tem
nos outros: “Quando choras assim, ninguém te quer escutar.”.
5. Os pais devem ajudar as crianças a ver que o choro não as faz terem o que
querem, não lhes cedendo.
6. Os pais podem sugerir ou demonstrar outras maneiras de falar que tenham
maiores probabilidades de serem levadas a sério.
Pedinchar
As crianças de tenra idade pedincham por não serem capazes de imaginar a sua
vida sem o doce ou o brinquedo que lhes chamou a atenção naquele momento.
Se a estratégia já resultou anteriormente, a criança habitua-se a pedinchar.
Quando os pais vacilam, ela acha que tem hipóteses – se não desta vez, talvez da
próxima.
1. Os pedidos da criança não devem de forma alguma colocarem os pais um contra
o outro (“Ela não vai ficar doente se comer mais um. Porque é que tens de ser tão
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rígido?”) porque senão o acto de pedinchar pode até tornar-se a sua própria
recompensa.
2. A resposta “não” deve ser absolutamente clara e consistente em todas as
ocasiões: “Não, está decidido e espero que aceites sem protestar”. Se a criança
reclamar, talvez seja necessário acrescentar: “Nenhum de nós vai ficar contente se
fizeres uma birra. De qualquer forma, não há doces”. A criança fica aliviada por
perceber que os pais resistem à sua frustração e as regras também.
3. No entanto, por exemplo, numa ocasião especial se os pais quiserem comprar à
criança uma guloseima, é importante que controlem a situação: “Se pedinchares
alguma coisa na loja, podes ter a certeza de que não te dou nada. Se fores capaz
de pedir delicadamente, eu talvez considere o teu pedido.”
4. Se a criança tiver dificuldade em lidar com sentimentos mais fortes, como a
raiva, a frustração e a desilusão, talvez seja necessário avisar a criança de que ela
precisa de se preparar para ouvir más notícias: “Sabes que ficas muito perturbada
quando não te dou o que queres. Por isso, precisas de estar preparada”.
5. A simpatia mostrada pelos sentimentos da criança ajuda-a a perceber que os
pais estão do lado dela, mesmo que tenham de a contrariar: “Eu sei que ficas
triste, mas não te posso comprar um brinquedo novo de cada vez que vimos à loja.
Portanto, hoje não vamos comprar nenhum.”
6. Se a criança começar a choramingar e a implorar, pode acrescentar: “Digas o
que disseres, tens de perceber que não vamos comprar o brinquedo. Detesto ver-te
assim, e gostaria de te ajudar a sentires-te melhor. Mas comprar o brinquedo está
fora de questão. Vamos pensar noutra coisa para nos divertirmos.”
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Morder (bater, dar pontapés e arranhar)
Morder, bater e dar pontapés começam por ser reacções à sobrecarga emocional,
devida ou a uma frustração relacionada com o desenvolvimento tardio da
linguagem ou das competências sociais ou devida a uma exposição à violência. A
criança atinge um ponto crítico e morde. Quando os adultos reagem com exagero e
empolam o significado da acção da criança, esta repete a acção, não por raiva ou
para agredir, mas reagindo a uma grande tensão.
A partir dos 2 anos de idade as crianças precisam de aprender a compreender os
outros e a preocupar-se com eles. Quando magoa outra pessoa, a criança também
se sente ameaçada. Enquanto não for capaz de se controlar sozinha, gostará de
saber que os limites impostos pelos adultos a impedem de magoar os outros e a si
própria.
1. Se os pais e professores reagem nervosamente, a criança aprende rapidamente
a usar a mordida como forma de captar rápida e facilmente a sua atenção a até
mesmo como uma arma. Na falta de outros comportamentos com que possa sentirse vencedora, volta a morder.
2. Mas se os adultos em vez de fazerem uma tempestade, reagirem calmamente:
“Não gosto que faças isso.” isso perde importância e provavelmente desaparece.
3. Quando uma criança morde outra, é óbvio que aquela que foi mordida precisa de
protecção e conforto, mas o mesmo se passa com a criança que atacou – precisa
de ser protegida dos seus próprios impulsos e ter a segurança que lhe permite
enfrentar as suas responsabilidades. Se a criança magoou outra, deve enfrentar o
que fez. Mas um castigo que a mortifique com a culpa, pode ser demasiado, e
nesse caso a criança poderá negar o que fez, em vez de aprender com o sucedido.
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4. Estabeleça limites e ao mesmo tempo, dê à criança oportunidade de se redimir e
de ser perdoada: “Sentes-te muito mal por teres feito a tua amiga chorar. Querias
tanto aquele brinquedo…Mas agora já sabes o que custa magoar um amigo para
termos o que queremos. Deixa-me dar-te um abraço e depois vamos a casa dela
para lhe pedires desculpa.”
Maltratar os outros
As crianças que maltratam as outras são provavelmente crianças inseguras, que só
se sentem mais seguras maltratando crianças mais novas ou mais pequenas
(aquelas que elas reconhecem à distância como alvos vulneráveis). Ameaçam-nas
porque estas as fazem reconhecer as suas próprias fraquezas.
Daí escolherem com maior facilidade uma criança que esteja vulnerável e que sofre
visivelmente quando é maltratada.
1. A criança agredida tem de ser protegida e encorajada a defender-se: “Ficas tão
esquisita quando me dizes essas coisas. Já te ouviste bem?” Deve fazer frente à
agressora e talvez se sinta melhor se puder aprender a artes marciais para autodefesa. Percebendo que pode defender-se, talvez nunca precise usar essas
técnicas. Vai sentir-se mais confiante e não atrai o sarcasmo do agressor.
2. A criança agressora como tem uma frágil auto-confiança e a sua auto-estima
desfaz-se com a retaliação, pegue nela, abrace-a e dê-lhe carinho: “Ninguém gosta
de ser maltratado. Eu sei que queres ter amigos, e tu queres que eles gostem de ti,
mas, se os maltratares, não gostam. Vamos tentar arranjar-te um amigo que seja
como tu. Vão divertir-se e vão aprender os dois que fazer amigos sem terem de se
agredir. Vais sentir-te orgulhoso de ti.”
3. Esteja atento a situações em que a criança se sente segura e comente-as.
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4. Procure entender as razões da insegurança da criança:
•
sente-se envergonhada por não ter sido capaz de desenvolver alguma
capacidade?
•
não tem um adulto próximo com quem possa identificar-se e que sabe que
a admira?
•
ainda não aprendeu a procurar a amizade dos outros?
•
a sua capacidade de interagir com os pares, de negociar e fazer
compromissos, de controlar o seu génio, é ainda demasiado limitada para
poder manter os amigos?
•
ela própria foi ameaçada e agora esteja a tentar defender-se, fingindo-se
forte?
Fazer batota
A criança que faz batota pode não ter ainda entendido bem as regras. Ou pode não
ser capaz de controlar o impulso para ganhar a qualquer custo, não suportando a
ideia de perder.
A criança que investe toda a sua auto-estima num único jogo está desesperada
porque a sua crença no seu próprio valor é frágil e os jogos são ocasiões arriscadas
para reforçar a sua auto-estima.
À medida que a criança vai amadurecendo o suficiente para se aperceber das suas
limitações, de como é pequena e do quanto precisa dos pais, a sua auto-estima fica
mais frágil.
1. Se for castigada por ter feito batota, é possível que aumente o mal feito,
mentindo e tentando negar o que fez (“Eu não tirei duas cartas!”).
2. A disciplina exercida pelos pais, pode ajudar a criança a enfrentar o hábito de
fazer batota, sabendo que a sua auto-estima está protegida. Pode ajudá-la a
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aprender a controlar os impulsos: “Eu sei que desejavas muito ganhar este jogo. E
estavas a jogar muito bem! Mas ambos sabemos que estavas a fazer batota.
Consigo perceber porque fizeste isso, mas não o posso aceitar. Fazer batota não é
uma coisa de que nos possamos orgulhar. Não podes realmente sentir-te orgulhoso
de ganhar se fizeste batota.”
3. É
importante que a criança compreenda que se sentirá muito mais satisfeita
consigo mesma se ganhar sem fazer batota. Para a ajudar a conseguir isto, jogue
com ela jogos que a criança possa ganhar. Quando ela o vencer, mostre-lhe como
saber perder através do seu comportamento.
Rebeldia
“Não faço nada”, “Não podes obrigar-me”, “Gostava de ver” – as crianças precisam
de desafiar os pais ou outros adultos pois é a única forma delas tentarem ter poder
e independência. Outras são rebeldes quando se sentem muito fortes e quando o
seu próprio poder as assusta. Estão assim, sedentas de limites.
Os desafios podem também servir de teste para verificarem se os pais ou outros
adultos estão realmente a falar a sério. Depois, quando o desafio aumenta a ira dos
pais, a criança pode tentar outros desafios para se defender.
1. Se os adultos conseguirem entender as suas próprias reacções e as controlarem,
estarão mais habilitados para avaliarem a sua posição e a das crianças e
responderem adequadamente.
2. Os adultos devem reavaliar a sua exigência. Será realmente importante?
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3. Os adultos devem também reavaliar a rebeldia da criança. Será desmesurada? A
criança
está
a
querer
transmitir
alguma
mensagem
que
precise
de
ser
compreendida e respeitada?
4. Caso chegue à conclusão de que a sua exigência não era suficientemente
importante para manter a sua posição, recue e procure ganhar vantagem para a
próxima oportunidade: “Gosto do teu sentido de humor. Quando me interrogas,
levas-me a questionar: Será que vale realmente a pena? Desta vez, parece-me que
tens razão. Não é assim tão importante. Mas quando for, espero que faças
exactamente o que te digo.”
5. Se, pelo contrário, a sua exigência for efectivamente importante, procure
manter-se calmo, mas firme (é importante manter a calma, para que ambos se
possam concentrar naquilo que a criança tem de fazer). Capte a atenção da
criança. Olhe-a nos olhos. Pegue-lhe no queixo, nas mãos ou nos ombros. Repita a
exigência e deixe bem claro que a criança não tem escolha. Tem de fazer o que lhe
pedem, mesmo que não goste.
6. Mostre à criança as consequências. Comece por lhe lembrar a recompensa que
terá, por fazer o que lhe pedem. Escolha uma recompensa razoável e directamente
relacionada com a tarefa que lhe está a pedir para fazer: “Quando acabares de
limpar o quarto, podemos pendurar o teu quadro novo.”
As recompensas
costumam funcionar melhor que os castigos.
7. Se a criança não reagir de imediato à recompensa proposta, deve recordar-lhe
quais serão as consequências negativas do seu comportamento. Escolha uma
consequência razoável, directamente relacionada com a tarefa pedida e fácil de
implementar: “Se não começares a limpar já o teu quarto, vou ter de apanhar os
teus brinquedos do chão e guardá-los no armário até que te decidas.”
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8. O aspecto mais importante das consequências é a sua aplicação imediata:
“Mandei-te arrumar o quarto. Expliquei-te o que aconteceria caso o arrumasses e
caso não o fizesses. Estou a lembrar-te pela última vez. Se não começares já,
tenho de te fazer o que disse.”
9. Se a criança mantiver a recusa, não hesite um segundo em aplicar a
consequência. Nesse caso, não dê ouvidos a nenhum pedido ou tentativa de
negociação: “É demasiado tarde. Já tiveste a tua oportunidade. Talvez da próxima
vez te lembres de que estou mesmo a falar a sério.” Para algumas crianças, saber
de antemão qual é a sua posição, pode ajudá-las. Vão aprender que quando se
recusarem a fazer o que lhes pede, as vai avisar, recordar o aviso e depois aplicar a
consequência.
Desobediência
As crianças mais novas desobedecem abertamente para testarem a firmeza dos
pais. Por exemplo, quando a criança deita comida ou brinquedos ao chão para ver
se os pais os apanham, ela sabe bem que está a testar o sistema (“Quantas vezes
é que posso fazer isto?”). Os pais não devem deixar que a criança transforme essas
atitudes de desobediência numa brincadeira, caso contrário a criança não tem a
certeza se atirar comida ao chão é ou não uma coisa boa. Os pais devem dizer
claramente: “Já chega!” … “não há mais comida”.
À medida que a criança fica mais velha, algumas regras mudam e pode ser difícil
para ela estar a par das mudanças e adaptar-se a elas. Quando não sabe ou não
está certa de quais são as regras, a desobediência pode ocorrer. Mas ela também
pode acontecer quando a criança conhece a regra, mas não suporta a frustração
sentida ao ter de ceder perante ela.
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1. Os pais devem manter o autocontrolo e a calma. A criança tem de aprender coo
os pais a lidar com as frustrações;
2. Deve-se avaliar as motivações da criança para desobedecer (conhecer as
rezões);
3. Perguntar à criança se sabe qual é a regra e o que se espera dela e verificar se
ela entende que a regra se aplica a essa situação;
4. Se a criança parecer verdadeiramente surpreendida ao descobrir o mal que fez e
interessada em fazer bem da próxima vez, o castigo pode não ser necessário. Ainda
assim, ambos se sentirão melhor se a criança puder reparar o mal feito;
5. O adulto deve usar o seu comportamento e os seus comentários para mostrar à
criança aquilo em que foi desobediente. Diga-lhe com uma voz baixa e doce: “Não
podes fazer isto. Se não és capaz de te controlar, tenho de te impedir.”
6. Se for necessário ir mais longe, pode utilizar algumas tácticas disciplinares:
pausa, isolamento, suspensão de privilégios, etc…
7. Mas para um incidente de pouca importância, talvez baste mostrar-lhe que
percebeu a desobediência dela e que espera um comportamento melhor.
8. Se a criança percebeu o mal que fez mas mesmo assim voltar a repeti-lo, há que
compreender as motivações da criança, isso ajuda o adulto a decidir qual a
resposta mais adequada:
•
se a criança agiu por raiva, precisará de enfrentar as consequências do seu
comportamento e reparar o mal, mas também precisa de uma oportunidade
para entender a razão porque está com raiva e para a explicar aos pais;
18
•
se a criança desobedece para chamar a atenção precisa de uma resposta
que não inclua uma maior atenção, para evitar dar mais força à
desobediência;
•
se a criança desobedece por não conseguir resistir precisa também de
enfrentar as consequências do seu comportamento e de tentar remediar o
que fez. Mas deveria também ser ajudada a conhecer os seus impulsos e a
controlá-los: “Da próxima vez que quiseres uma coisa que não te pertence,
tens de te controlar e lembrar-te do que te aconteceu antes.”
Mentir
A mentira é comum nas crianças pequenas. Geralmente a criança pequena mente
por acreditar realmente nas suas mentiras. Está a tentar aceitar um mundo que
não pode sempre ser da maneira que gostaria. A mentira permite assim a criança
transformar o mundo naquilo que quer que ele seja, até que a verdade tenha de
ser encarada. Mente quando é demasiado difícil refrear os seus impulsos, por
exemplo, pode tirar coisas que não lhe pertence ou fazer coisas que sabem que não
devia fazer e depois nega ter feito algo de errado.
1. Quando a criança mais nova mente acerca de algo que sabe que fez mal, isso
tem um lado positivo: sabe a diferença entre o certo e o errado. Há que ajudar a
criança a ver que a mentira não transformará o mal em bem, a aprender que a
mentira não pode alterar a realidade. É importante que a criança aprenda com os
pais a valorizar a honestidade.
2. Os adultos devem tentar compreender o desejo da criança, mesmo que a
mentira seja inaceitável: “Ambos sabemos que não estás a dizer a verdade. Eu
percebo que gostes de….. mas não gosto que mintas. Não precisas. Eu sou capaz
19
de enfrentar a verdade e tu também és.” A criança ao receber uma resposta calma
apercebe-se que a mentira é desnecessária.
No entanto, já as crianças mais velhas mentem por saberem que fizeram alguma
coisa de mal. Então mentem porque não conseguem enfrentar aquilo que fizeram
ou porque esperam evitar sofrer as consequências. As crianças mais velhas
mentem com maior convicção, o que enfurece e preocupa mais os pais.
A criança que mente frequentemente fá-lo para encobrir o que fez e precisa de
maior ajuda para lidar com a frustração que sente por o mundo ser como é.
Quando a mentira se torna mais habilidosa e contínua, há que pensar nas razões
que levam a criança a não conseguir aceitar os limites impostos à satisfação dos
seus desejos. Chegou a altura de lhe perguntar porque acha que tem de mentir.
1. É importante que os pais façam sentir à criança que gostam muito dela, mas não
de a ouvir a mentir. Podem ajudar a criança a entender as razões que a levaram a
mentir: “Não percebo porque é que disseste isso. E tu? Às vezes as pessoas
mentem porque não conseguem enfrentar a verdade.”
2. A criança precisa de saber que os seus desejos, mesmo os que não podem ser
satisfeitos, são entendidos e aceites. Se a criança souber que pode partilhar os seus
desejos com os pais sem ser repreendida ou diminuída, se puder contar com eles
para a ajudarem a lidar com os sentimentos que advêm de desejos que não podem
ser satisfeitos, então percebe que não precisa de mentir. É óbvio que é importante
que os pais deixem bem claro que não toleram a mentira, mas a criança acabará
por parar de mentir por não ter necessidade de o fazer e porque aprendeu a autocriticar-se por esse comportamento.
3. Se pelo contrário, os pais reagem a uma mentira com críticas e ao desejo que
está por detrás dela, então a criança continuará a achar que precisa de justificar o
20
seu desejo e não se preocupará com a mentira. Se os pais a fizerem sentir-se
demasiado culpada pela mentira, a criança pode sentir necessidade de se proteger,
convencendo-se de que a mentira era verdadeira e que nunca mentiu. E isto pode
transformar-se num hábito de mentiras repetidas incessantemente.
4. A criança tem de compreender que nunca é tarde demais para remediar uma
mentira: “Diz a verdade à tua professora. Conta-lhe porque mentiste (porque
estavas assustada). Ela vai ficar orgulhosa de ti. Eu fico e tu também.”
Lutas pelo poder
As lutas pelo poder costumam vir ocupar o lugar das birras. São muitas vezes
previsíveis e decorrem das exigências dos pais, no entanto, não podem ser
toleradas.
1. Os pais não devem deixar-se enredar nessas disputas senão estão a descer ao
nível da criança, não mostrarem que por serem os maiores é quem mandam.
Devem afastar-se até que a criança ceda, depois sem discussões, devem retomar o
que lhe tinham pedido para fazer.
2. Se a criança repetir o desafio, afaste-se outra vez. Mas quando os pais se
afastarem devem deixar bem claro que: “Volto quando te acalmares” em vez de
“estou a abandonar-te porque és má” (ignorar a criança é um castigo muito forte e
não deve ser exagerado).
3. Se a disputa for demasiado séria, deve-se mostrar à criança que ela não tem
escolha. Ou ela faz o que lhe pede, ou terá de sofrer as consequências. Isso vai
ajudá-la a compreender a importância do seu pedido.
21
Fugir
O significado da fuga depende da idade da criança e do lugar para onde ela foge.
Muitas crianças anunciam que vão fugir por lhes terem ralhado, os terem castigado
ou humilhado ou por acharem que os pedidos de atenção não foram atendidos.
Frequentemente, estes anúncios são feitos com dramatismo, para ver se alguém se
importa.
A criança pequena que foge, está à procura de certezas de que é desejada e amada
após uma batalha com os pais. Talvez queira também sentir-se “grande e forte” e
não pequena e frágil. Há também nesta fuga uma certa raiva. A criança parece
dizer: “Se não gostas de mim, então eu também não preciso de ti para nada.”
As crianças mais velhas ao fugirem, talvez já não estejam a dar largas às suas
fantasias, podem estar a sentir-se realmente muito desesperadas.
Os pais não devem descer ao nível da criança, devem antes sim, encarar os
sentimentos dela com seriedade e não os desprezarem, especialmente se a criança
estiver apenas a ser dramática. Caso contrário, talvez o dramatismo piore.
1. Desde que não haja perigo no local para onde a criança vai e os pais possam
manter a criança sob vigilância, este tempo de “arrefecimento” é bom para ela
porque ajuda-a a perceber que se pode acalmar sem ajuda.
2. Se a criança que sai de repente, porta fora, impulsivamente (por raiva ou por
tristeza) não regressar dentro de pouco tempo, ou se não for seguro para ela ficar
sozinha, os pais terão de ir buscá-la, confortá-la (abraça-la), ajudá-la a acalmar-se
e mostrar-lhe que a amam, faça ela o que fizer.
Uma criança pequena que se tenha sentido infeliz por um período muito prolongado
ou está em stress devido a acontecimentos difíceis na sua vida (como sejam a
morte ou outra perda, ser vítima de agressões na escola, ter passado por um
acontecimento traumático) deve também ser impedida de fugir.
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3. Quando a criança estiver preparada, deve ajudá-la a perceber o que a preocupa.
4. Em conjunto, deve pensar com a criança outras soluções para o problema.
Problemas de separação
A maioria das crianças tem problemas em lidar com a separação dos pais quando
estes a deixam na ama ou no infantário. Muitas protestam fazendo birras que se
mantêm enquanto os pais estão por perto. Quando estes se preparam para ir
embora, a birra recomeça.
Os professores devem aconselhar os pais a ir embora, a criança acabará por
acalmar-se já que o alvo das birras são os próprios pais.
1. Quando se trata de uma escola nova, deve tentar ficar com a criança durante os
primeiros dias. Prepará-la para se separar deles antes de sair de casa.
2. Pode levar o brinquedo favorito ou o cobertor de que a criança tanto gosta para
que ela possa ter algo com que se confortar.
3. Deve informar a criança de que vai ficar com ela durante algum tempo e que
depois terá de ir embora, mas que irá voltar.
4. Deve apresentá-la à nova professora assim que chegar. Mostre-lhe o relógio e
parta à hora marcada.
5. Deixe-a com um amigo, se possível, junto do(a) professor(a)/ educador(a).
Explique-lhe que conhece o(a) professor(a)/ educador(a) e que sabe que ele(a)
tomará bem conta dela.
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6. O(a) professor(a)/ educador(a) poderá brincar às escondidas com a criança:
“Olha para a bola que vou atirar para debaixo do sofá. Quando está lá debaixo não
a vemos, mas sabemos que está lá. Vai buscá-la! Vês? Está lá, mesmo que não a
consigas ver… é como a tua mãe.”
7. Para lidarem adequadamente com os seus próprios sentimentos a propósito da
separação, os pais podem esconder-se fora da sala para ver durante quanto tempo
a criança se mantém perturbada. Ficarão de certeza surpreendidos ao verem a
rapidez com que ela se adapta.
8. Os pais ao regressarem devem lembrar à criança que prometeram voltar e
mostrar-lhe que não vão quebrar a promessa que fizeram quando a deixarem na
escola no dia seguinte.
9. Se no final do dia assim que vir o(s) pai(s) a chegarem a criança começar
novamente a chorar (apesar de ter passado todo o dia bem) isso quer dizer que
está a mostrar como foi difícil passar o dia todo sem a mãe. Para os pais é
provavelmente doloroso escutar o normal e saudável protesto da criança, mas não
deverá fazê-la calar-se.
10. Por mais ruidoso que o protesto seja, deve pegar na criança e abraçá-la com
força: “Também tive muitas saudades tuas. Agora já estamos juntas outra vez.”
11. Se a criança ignorar ou se recusar a ir consigo, não pense que isso se deve ao
facto dela não ter sentido a sua falta – isso faz parte do seu protesto. Abrace-a com
carinho.
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Rivalidade entre irmãos
Muitas das brigas entre irmãos têm como objectivo atingir os pais, na medida em
que cada uma das crianças procura a resposta à pergunta: “Será que gostam de
nós os(as) dois(duas) de igual maneira?”. Os pais devem manter-se o mais possível
afastados destas brigas, pois não conseguem estar certos de quem culpar e por
isso nunca conseguirão saber quem é o culpado.
1. Aproxime-se calmamente e avalie a situação ; Se não houver sangue nem sinais
de que alguém se tenha magoado fisicamente e muito menos objectos perigosos
por perto, diga-lhes: “Esta briga é vossa e não minha. Quando tiverem terminado,
chamem-me.”… “Precisam de resolver essa questão sozinhos”.
2.
Se
a
criança
mais
nova
não
se
conseguir
proteger,
tem
de
agir
responsavelmente. Assegure-se de que criança mais velha não a vai magoar.
Ensine-a a acarinhar e a proteger a(o) irmã(o) mais nova(o) e ajude-a a sentir
orgulho por ser capaz de controlar a sua raiva em nome da(o) irmã(o).
3. À medida que a criança mais nova for aprendendo a defender-se comece a
afastar-se das brigas entre elas. Deixe que aprendam a conhecer-se. Mostre-lhes
que o facto de serem capazes de resolver as brigas entre elas, sem a sua ajuda, é
um sinal de maturidade, algo de que podem orgulhar-se.
Quando cada criança for capaz de tomar conta de si própria, as probabilidades de
se magoarem quando não estiver por perto são menores. O triângulo incendeia a
rivalidade.
4. Se a briga for séria e alguém se magoar, deve confortar ambas as crianças. A
agressora está tão assustada quanto a vítima. A criança que atacou tem de
perceber que há limites (“Isso é inaceitável”) e consequências (“não voltas a
brincar com o teu irmão enquanto não te acalmares e pedires desculpa”).
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5. Deverá ajudar a criança a compreender os seus sentimentos e a encontrar
formas de se autocontrolar: “Quando tiveres vontade de bater no teu irmão, vai
buscar um boneco ou uma almofada e bate antes nela. Vais sentir-te melhor
depois. Todos temos de aprender a controlar estes sentimentos. Eu tenho de me
controlar sempre que alguém passa à minha frente na fila do supermercado. Eu já
aprendi e tu também vais aprender.”
A criança mimada
A criança mimada é aquela que nunca aprendeu a conhecer os seus limites e nunca
aprendeu a entreter-se e a confortar-se sozinha. Talvez tenha vivido num ambiente
superprotegido e demasiado tolerante. São muitas vezes crianças rabujentas, que
choram por tudo e por nada.
Apesar do choro dessas crianças que exige atenção ter como objectivo obter uma
resposta dos adultos, a qualidade desse choro traz consigo uma mensagem: “Não
me satisfazes.”
Os pais destas crianças são pais capazes de tentar fazer tudo pelos filhos, porque
talvez tenham tido preocupações anteriores com a criança: um bebé prematuro,
doenças, sequelas de problemas familiares, etc.
e sintam que, de alguma forma
falharam como pais. Outros, talvez, tentem com a suas atitudes compensar a
impressão de que os seus próprios pais falharam no desempenho do seu papel.
1. Reavaliem as vossas regras e expectativas. Estabeleçam limites claros e
apresentem-nos com a certeza de que os limites ajudam a criança, não a castigam;
2. Deixem que a criança procure viver a sensação de conseguir fazer coisas sem
ajuda Quando a criança tiver de enfrentar outras fontes de stress diárias, por
pequenas que sejam, não procurem resolver a situação logo de imediato, senão a
criança não tem oportunidade de enfrentar sozinha o seu problema, a sua
26
frustração e a necessidade de tentar outra vez. Não poderá experimentar a alegria
de poder dizer: “Fiz tudo sozinha!” (esta experiência é vital para a sua autoimagem futura, para a percepção das suas próprias capacidades).
3. Identifiquem tarefas que dêem à criança oportunidades de experimentar a
resolução de problemas sem ajuda;
4. Devolvam à criança a satisfação pelas metas alcançadas. Substituam o “estamos
orgulhosos de ti” pelo “já reparaste no que conseguiste fazer? Não estás
orgulhosa?”;
5. Entre cada episódio de frustração, peguem na criança ao colo e mostrem-lhe que
a amam, para que ela não se sinta abandonada.
Roubar
As crianças podem também procurar tirar coisas de que não suportam ser privadas.
1. Os limites precisam de ser estabelecidos: “Não é permitido tirar as coisas dos
outros meninos”.
2. A criança precisa de ajuda dos pais para lidar com os desejos que não podem ser
satisfeitos, para aprender a partilhar, a esperar pela sua vez e a começar a pensar
nos sentimentos da criança que foi roubada;
3. Depois de estabelecer os limites, pare um pouco para ver se a criança já se
sente suficientemente mal para devolver o brinquedo. Se ela for capaz de o fazer
por iniciativa própria, encoraje-a a orgulhar-se da sua atitude, não apenas por a ter
escutado, mas também por querer fazer aquilo que ela sabia ser o correcto. O
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objectivo a longo prazo é conseguir que a criança se preocupe em fazer o que está
certo sem que os pais tenham de lho dizer;
4. Se a criança continua tão entusiasmada com o brinquedo que não consegue
separar-se dele, diga-lhe: “Estou a ver que queres muito ter esse brinquedo e que
ficas muito triste por teres de o devolver. Mas ele não te pertence. Não perguntaste
se podias brincar com ele e não te deram autorização para o fazeres. Tens de o
devolver.” Assim, está a ajudá-la a compreender sentimentos que escapam ao seu
controlo. Está também a sugerir uma forma de poder usar o brinquedo, com o
consentimento da outra criança.
5. Caso a criança não devolva o brinquedo, ou o seu desejo é demasiado forte, ou
então está a medir forças com os pais – nestes casos a negociação não surte efeito.
O melhor é olhar a criança nos olhos e dizer-lhe com firmeza: “Tens de devolver o
brinquedo já. Se não o fizeres, tenho de tirar-to e dá-lo ao seu dono.” Se ela não
obedecer, deve fazer o que disse e preparar-se para ouvir o choro e os protestos.
6. Depois a criança vai sentir necessidade do seu carinho. Enquanto a acalma
ensine-lhe a lidar com sentimentos desagradáveis: “Eu sei que querias muito
aquele brinquedo. Querias tanto, que imaginaste que era teu. É difícil não termos
uma coisa que queremos muito.” Assim está a ajudá-la a reconhecer os
sentimentos que precisa enfrentar para aprender a viver neste mundo, tal como ele
é, sem usar a mentira ou o roubo como forma de o modificar: “Esta é a tua
oportunidade de aprenderes que não se podem tirar coisas que não nos pertencem,
por mais que queiras tê-las.”
7. Faça a criança olhá-lo nos olhos, dê-lhe uns segundos para interiorizar a ideia
que lhe transmitiu e pergunte-lhe como se sentiria se alguém lhe tirasse um dos
seus brinquedos favoritos.
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8. Ajude a criança a descobrir alternativas para lidar com os seus desejos. Ajude-a
a perceber que desejar o brinquedo dos outros é um verdadeiro problema e que
pode haver outras formas de o resolver: “Que podes tentar?”.
9. Se a criança não fizer a menor ideia, talvez lhe possa sugerir: “Porque não fazem
uma troca? Pergunta à Joana se ela quer brincar com um dos teus brinquedos em
troca de te deixar brincar com um dos dela. Talvez até lho pudesses pedir
emprestado, com a promessa de o devolveres depois. Ou podias pedir-lhe para te
deixar brincar também, juntas ou uma de cada vez.” Pedir emprestado, esperar
pela vez, partilhar, dar e tirar são competências sociais que a criança precisa de
aprender (serão necessárias, é claro, muitas repetições).
10. Se a criança amua (está a aprender a viver no mundo, não como ela gostaria
que ele fosse, mas como ele é), depois dos pais corrigirem a situação, devolvendo o
brinquedo tirado, devem dar apoio à criança: “Eu bem sei que custa muito não
teres o que querias.”
Se a criança for crescendo e continuar a roubar, é porque ela está a tentar dizer-lhe
algo importante: “Sinto-me sozinha, inadaptada. Quero ser como os outros
meninos, especialmente como aquele que roubei.” Ou “Tenho de te provar como
sou má, para me ajudares a controlar-me. Tenho medo e não consigo parar”. Ou
ainda “Falta qualquer coisa muito importante na minha vida e não sei bem o que é.
Por isso, tiro tudo o que apanho”.
Outras ainda de mais idade roubam para se integrarem num grupo: “Estás a ver?
Consegui tirar isto da loja. Sou bué fixe.”
1. Encare o roubo e insista em que a criança devolva as coisas roubadas, caso
contrário, ela não compreenderá que o roubo é algo inaceitável.
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2. Ajude a criança a compreender as razões que a levam a roubar: Eu sei que tu
percebes que não está certo tirar as coisas das outras pessoas. Sabes porque é que
o fizeste?
3. Caso a criança responda: “Porque quis. Não pensei que me apanhassem”, esta é
uma boa ocasião para a ajudar a reflectir sobre a razão pela qual as pessoas fazem
o que está certo, mesmo quando ninguém está a ver.
4. Caso a criança diga: “Toda a gente rouba coisas nas lojas” os pais devem
questioná-la: Queres mesmo ser como toda a gente?
Linguagem imprópria
Por volta dos 4 ou 5 anos de idade, a criança começa a imitar a linguagem
imprópria utilizada pelos amigos ou pelos pais. Os pais enfurecem-se, como se ela
tivesse pisado um risco muito perigoso. A criança está surpreendida com estas
reacções e volta a murmurar a palavra, tentando perceber o que originou tal
reacção.
O silêncio e o exagero na reacção poderão dar força a este tipo de linguagem por
isso é de esperar que a criança volte a repetir essas palavras vezes sem conta e
cada vez mais alto. Depois da surpresa inicial e das reacções exageradas, o melhor
que os pais fazem é não se incomodar. Tudo não passa de uma experiência da
criança.
1. Não exagere na sua reacção, diga-lhe: Essa maneira de falar incomoda as
pessoas. Elas não gostam de ouvir essa linguagem. Mas, quanto menos atenção
prestar ao facto, melhor. A criança vai perder o interesse e não repetirá a “graça”.
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2. Interrogue-se até que ponto ela não estará a imitar a linguagem usada pelas
pessoas que a rodeiam. Poderá alguém na família estar a usar frequentemente esse
tipo de vocabulário.
3. Mesmo que a criança esteja a aprender essas palavras com outras crianças, não
é razão suficiente para a afastar das brincadeiras com outros meninos. Em vez
disso, aproveite a oportunidade para a fazer ver o quanto isso incomoda as pessoas
e levá-la a preocupar-se com esse facto.
4. Se o uso de linguagem imprópria persistir, tem de lhe mostrar que pode ofender
as pessoas ao falar dessa forma e explique-lhe porquê. Talvez tenha de clarificar o
significado de algumas palavras e interrogá-la sobre se era exactamente isso que
queria dizer. Se a resposta for afirmativa, tem de perceber o motivo da raiva da
criança e ajudá-la a ultrapassá-la.
Já as crianças de maior idade que usam essa linguagem com frequência, sentem-se
muitas vezes inseguras e precisam de chamar a atenção sobre si próprias ou de
parecer mais velhas e mais fortes. A melhor maneira de as ajudar a combater a
insegurança é elogiar as suas melhores qualidades.
Retrucar
Ao retrucar (“Porque é que não arrumas o teu?” – pergunta zangada à mãe que a
mandou arrumar o quarto) a criança mostra que não conhece o seu papel nem o
papel dos pais. Provavelmente esta criança não aceita a autoridade dos pais “Não
arrumo e tu não podes obrigar-me!” e por isso precisa que os pais a ajude a
controlar-se. Talvez esteja a experimentá-los, a pedir-lhes que lhe mostrem os
limites e que lhe dêem a certeza de que não vão tolerar respostas como estas.
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A criança pode também sentir-se ameaçada ou criticada por algo que fez e disse e
por isso se sinta incompreendida e não seja capaz de aprender, ou então, percebeu
muito bem e sentiu-o como um ataque pessoal ao qual reage de imediato com
palavras.
A criança ao tornar-se respondona pode sentir-se sem força e sem alguém que a
escute ou com muita força e receosa de que ninguém a ajude a controlar essa
força. Os pais devem por isso ajudá-la a entender o efeito que aquilo que diz tem
sobre os outros.
1. Imponha os limites: Não aceito que fales dessa maneira!
2. Se a criança protestar ou desmoralizar, espere que ela se recomponha e ajude-a
a aprender a comunicar com os outros. Talvez necessite de um pouco de silêncio ou
de ficar um tempo sozinha no quarto.
3. Depois desse tempo, mime-a e mantenha o bom humor.
4. Procure fazer a criança perceber que esta não é a forma adequada de obter o
que quer. Não ceda às suas exigências: Quando falas assim comigo não te dou
ouvidos. Mas se mudares o tom de voz, tenho imenso prazer em te escutar.
5. Caso a criança não seja capaz de as descobrir sozinha, sugira-lhe outras formas
de se dirigir às pessoas: Não há mal nenhum em discordares das coisas. Mas dizme porque é que não concordas, de maneira que eu perceba. Mesmo que não mude
de ideias quero conhecer a tua opinião. Talvez não possamos fazer o que queres,
mas eu ajudo-te a perceber a razão.
6. Certifique-se de que a criança percebe o que significa responder e qual o efeito
que isso tem nos outros: Quando dizes coisas dessas (ou falas nesse tom de voz)
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fazes zangar as pessoas ou magoas os seus sentimentos. Não vão querer escutarte quando tiveres coisas importantes a dizer. Tens de pensar na maneira como as
dizes, para que te escutem.
7. Talvez a criança não tenha ideia do tom em que responde, use o seu sentido de
humor e faça uma voz semelhante às das personagens dos desenhos animados
para a ajudar a perceber como as pessoas reagem a diferentes tons de voz, mas
não goze com a dela.
8. Dê-lhe a possibilidade de pedir desculpas e começar de novo: Estás disposta a
pedir desculpa por teres sido arrogante?… Estás preparada para me dizeres o que
queres por outras palavras ou com um tom de voz diferente?
Birras
As birras começam geralmente durante o segundo ano de vida e acontecem muitas
vezes quando a criança não consegue tomar uma decisão (sim ou não, faço ou não
faço?).
Frequentemente, por detrás da birra da criança, está a incapacidade de escolher ou
o desejo de independência e o medo. A criança anseia por ser dona de si mesma.
O que desencadeia a birra é esta luta interior para tomar decisões que a criança
tem de travar sem contar com o apoio dos pais. Ao afastarem-se, para que ela
sossegue sozinha, os pais estão a encorajá-la. Ao descobrir que consegue dominar
estes sentimentos, a criança sente-se menos dependente dos pais.
1. Se puder, deixe-a tomar uma decisão sozinha e valorize esse esforço, caso
contrário, quanto mais fizer para a ajudar, mais aumenta a fúria dela. Se tentar
impedi-la, só vai piorar as coisas. A tentativa de apaziguar a criança não a ajuda a
seguramente a aprender a gerir a difícil tomada de decisão que originou a birra.
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2. Se a criança estiver num local seguro, afaste-se ou/e evite reagir de forma
exagerada. Assim é como se dissesse à criança: Já és capaz de resolver isto
sozinha.
3. Quando estiver calma, abrace-a e diga-lhe: É muito difícil escolher, não é? Mas
foste capaz de te decidir sozinha.
4. Diga-lhe também: É terrível ficar assim tão irritado. Assim, mostra-lhe que a
aceita como ela é e que compreende o tumulto interior que está a viver. De certa
forma, está também a dizer: Quem me dera poder ajudar-te, mas não posso.
Fazer queixa de outras crianças
A criança que faz queixa de outra enfrenta um dilema moral: “Hei-de trair a
confiança da minha amiga? Ou mantenho o silêncio sobre as maldades dela?”.
Muitas crianças fazem queixinhas aos pais para obterem a aprovação destes.
A solução ideal seria que a criança ajudasse a outra a reconhecer o seu erro e a
mudar de comportamento, esta solução ajudava-a a ver que o facto de fazer
queixas aos pais, para obter a aprovação deles, teria o efeito contrário.
1. A criança “queixinhas” não deve ser recompensada. Em vez de manifestar
agrado pela informação que a criança lhe trouxe (pois assim pode estar a incentivar
a queixa), deve estabelecer limites às queixas e ajudar a criança a perceber até
que ponto isso interfere com as suas amizades.
2. Deixe-a descobrir como lidar com a situação sem magoar os amigos: ser capaz
de considerar todas as alternativas e ser capaz de imaginar o orgulho que teria de
si própria ao enfrentar a maldade da amiga sozinha.
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3. Apesar de tudo, os pais devem encorajar a criança a confiar num adulto quando
o comportamento de outras crianças ameaça a sua segurança ou a de outras
crianças.
Provocar outras crianças
Todas as crianças que tentam arreliar e provocar tentam captar a atenção dos
outros. Mais cedo ou mais tarde, a maioria das crianças apercebe-se disso, assim
como também descobrem que é um poder que têm sobre os outros. O facto da
outra criança ficar muito irritada, provoca grande entusiasmo. Provocar outras
crianças pode também ser uma forma de as dominar, especialmente aos irmãos ou
irmãs mais novos.
As razões podem ser: a criança sentir-se insegura; ser uma forma de estabelecer a
lei do mais forte; ter dificuldade em fazer amigos e dar-se mal com outras crianças;
estar a tentar captar a atenção das outras crianças ou estar a reagir a algo de
diferente nelas que não entendem e as assusta.
1. Explique-lhe que tem de parar: Tens de parar de provocar os teus amigos. Isso
magoa os sentimentos deles.
2. Se a criança não parar, pegue-lhe com firmeza e afaste-a para longe da vítima.
3. Depois da criança ter sossegado, fale com ela: Ninguém gosta de ser provocado
dessa maneira. Que estavas a tentar fazer?.
4. Se a criança não for capaz de dizer, então talvez tenha de lhe dizer: Se não
gostas daquela menina, não tens de brincar com ela. Mas se queres ser sua amiga,
tenta brincar com ela e conhecê-la sem a arreliar.
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5. Sugira-lhe que tente imaginar como se sente a pessoa que é provocada, para
que a criança se consciencialize de que precisa de pedir desculpa. Ajude-a a
perceber que em vez de se sentir humilhada por pedir desculpa se pode sentir
orgulhosa de si própria.
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III – FORMAS DE DISCIPLINA
Os resultados que as estratégias disciplinares devem produzir são:
- fazer com que o comportamento inadequado da criança cesse;
- a criança recupere o controlo das suas emoções e acalme-se antes de dar os
próximos passos;
- a criança pense naquilo que fez e compreenda o efeito que teve nos outros e
quais serão as suas consequências;
- a resolução de problemas e por vezes a negociação ou o compromisso (etapas do
esforço da criança para reparar o mal feito);
- as desculpas e o perdão.
A ADOPTAR:
Avisos
Ao avisar a criança de que vai acontecer em breve uma mudança:
-
ensina-a a preparar-se para a mudança, treina o planeamento;
-
ensina-a a reconhecer os seus estados de espírito (por ex.: frustração ou
entusiasmo) e a controlá-los à medida que se prepara para a mudança;
-
ajuda a relacionar-se com uma realidade que muda.
Os avisos ajudam a criança a estabelecer limites em relação a actividades de que
não quer prescindir.
1. ajude-a a preparar-se para a frustração que advém do facto de ter de
interromper a actividade: Daqui a 15 minutos vamos ter de arrumar as tuas coisas
para irmos para casa. Eu sei que não te apetece e lamento teres de deixar os teus
amigos, mas amanhã eles estão aqui outra vez. Por hoje, já chega.
2.faça um novo aviso 5 minutos depois e finalmente firme diga-lhe: Chegou a ora.
Eu ajudo-te a arrumares as coisas.
3. Por exemplo, se a criança se recusar a ir para a cama à noite, deixe bem claro
que apenas fará dois avisos e depois apaga a luz: Esta é a tua primeira história,
depois esta e depois, luzes apagadas. Após a primeira história convém reforçar o
aviso: Esta é a segunda história. Lembra-te de que é a última antes de apagarmos
as luzes, portanto, prepara-te.
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Silêncio
É uma boa forma de captar a atenção da criança e interromper a acção: a criança
percebe que a situação é séria, uma vez que está constantemente a ser advertida
acerca do que pode e não pode fazer. Vai desejar estabelecer de novo a
comunicação.
Depois do silêncio, é importante que lhe explique a razão do silêncio. Se assim for,
seja breve: Sabes que não posso tolerar isso não sabes?
Fazer uma pausa
Mandar a criança para o quarto, sentar-se em determinada cadeira ou a um canto
da sala, permite:
-
cessar o comportamento descontrolado da criança;
-
aos pais acalmarem-se e ensina a criança a prestar atenção ao seu
descontrolo emocional;
-
dar à criança a possibilidade de praticar o autocontrolo e de aprender a
sentir-se orgulhosa por conseguir fazê-lo;
-
interromper o círculo de interacções negativas com os outros (incluindo os
pais ou os irmãos) que possam ter contribuído para o mau comportamento;
-
dar à criança a possibilidade de repensar o que fez e planear comportar-se
de forma diferente;
-
criar uma rotina útil em futuros episódios, com que todos podem contar (a
criança aprende a esperar essa pausa e até a reconhecer a necessidade que
ela própria tem dessa disciplina)
Dado que o objectivo da pausa, quer no quarto da criança, quer noutro sítio, é
fazê-la acalmar-se (interromper o círculo do comportamento descontrolado), é
importante:
1. não continuar a interagir com ela, pois o contacto com os pais pode agravar a
situação e as negociações nesta altura saem fracassadas;
2. use as pausas com firmeza, sem argumentações ou arrelias e não as prolongue;
3. no entanto, a criança tem de saber que os pais estão por perto e prontos a
conversar quando ela se acalmar. Precisa perceber que, apesar de a deixarem
sozinha para se acalmar, não a estão a abandonar;
4. se a criança demorar muito tempo a acalmar-se, talvez seja importante fazer-lhe
outra sugestão: Queres ouvir um pouco de música?
5. depois de ter atingido o objectivo de quebrar o círculo do mau comportamento,
não espere, vá ter com a criança e diga-lhe que gosta dela, mas não gosta daquele
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comportamento: Quando te descontrolas, tenho de fazer alguma coisa para
parares, pois sozinho não consegues.
6. se a criança se recusar a ir para o quarto ou qualquer outro lugar (é porque
talvez não lhe tenha dado a ordem com firmeza necessária) é preciso usar uma
recompensa ou um castigo: Quando saíres daí podes ir brincar outra vez … ou Se
não vais já para ali, mando a tua amiga embora.
7. no entanto, quando a criança precisa logo a seguir de ser preparada para outra
tarefa a seguir, é importante que peça desculpa ou que pense em como reparar o
que fez.
8. o quarto, a cadeira ou o canto da sala podem tornar-se símbolos de
autocontrolo, no entanto, se a criança está sempre a fugir dali antes de se ter
acalmado, talvez tenha de arranjar formas de a impedir fechando a porta à chave,
ou pondo-lhe uma grade. Neste caso, a criança precisa ser avisada e confortada:
Como não consegues ficar aí até te acalmares, tenho de fechar a porta à chave
para te ajudar. Assim que te acalmares, venho abrir a porta.
Mandar para o quarto, canto ou cadeira
Há ocasiões em que é necessária alguma forma de isolamento para cessar a acção
e acalmar a criança. Especialmente as crianças hiperactivas ou hipersensíveis,
precisam de ser afastadas para se acalmarem.
1. pode dizer á criança que se porta mal para sentar-se no sofá. Aí tem de parar
para pensar no que fez, sentindo-se confortável e podendo relaxar e ver os outros
meninos.
2. depois aproxime-se dela e abrace-a.
3. conversem sobre o que ela fez de mal e sobre como pode melhorar.
Repetir as coisas da forma certa
Esta é uma maneira da criança readquirir o autocontrolo e sentir-se recompensada.
Está a dar-lhe a oportunidade de ser bem sucedida e está a apoiar o sucesso que
ela pode ter.
1. centre-se no sucesso e não no falhanço;
2. ofereça-se (sem pressionar) para a ajudar a reparar o mal que fez e a pedir
perdão;
39
3. procure decompor a tarefa (arrumar o quarto, por exemplo) em pequenos
passos (como levar a roupa suja para o cesto) e obrigue-a a repetir apenas os
passos que é capaz de fazer bem.
Reparar
Quando é possível a criança reparar o mal que fez, deixe-a fazer essa reparação,
pois:
-
é uma forma dela perceber claramente a extensão do mal causado (ajuda-a
a reconhecer as consequências dos seus actos) e o esforço necessário para o
reparar (ajuda-a a resolver problemas);
-
permite-lhe reconhecer sentimentos de culpa e redimir-se.
1. se a criança roubou algo, por exemplo, um brinquedo ou um doce, é importante
que a ensine a devolver: É claro que estás envergonhada, mas depois vais sentir-te
muito melhor.
2. ajude-a a entender o significado que o seu acto teve para os outros. A criança
tem de enfrentara sua culpa, compreender o significado que isso teve para a vítima
3. é importante que seja ela a resolver a situação, a fazer a devolução, com um
pedido de desculpas.
4. se for necessário, acompanhe a criança. Ofereça-se para a ajudar a pedir
desculpa, mas deixe que seja ela a fazê-lo (pessoalmente de preferência).
5. se o item roubado já foi comido, obrigue-a a pagá-lo com o seu próprio dinheiro
ou a fazer pequenos trabalhos para ganhar a quantia necessária.
Perdão
Obter o perdão é o objectivo do pedido de desculpas e da reparação. A criança
precisa de sentir que pode ser perdoada e precisa de perceber o significado do
perdão para que tenha motivação para rectificar o que fez.
Às vezes, as crianças recusam-se a voltar atrás, continuam a causar problemas e
dizem: “Não quero saber!”, porque começaram a acreditar que são realmente
“más”.
Estas crianças precisam que lhe relembrem que podem ser perdoadas e assim mais
tarde aprenderão a perdoar-se a si próprias.
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Planeamento
Muitos comportamentos inadequados são previsíveis e inúmeras situações são
causas evidentes de problemas. Ao discuti-las previamente com a criança e planear
alternativas em conjunto, ensina a criança a planear e a resolver problemas quando
estiver sozinha
1.Os pais e a criança devem agir como uma equipa, tentando enfrentar juntos uma
situação problemática previsível, por exemplo: Eu sei que é difícil para ti andares
de carro tanto tempo. Que coisas podemos trazer para te manteres distraído? Ou
Quando chegarmos à caixa vais ser tentado a pedir pastilhas e sabes que não te
vou dar. Como é que vais conseguir passar pela caixa sem pedinchar nada?
Podíamos comprar qualquer coisa mais saudável para comeres, ou podias fechar
muito bem os olhos até passares pelas pastilhas, ou segurares as mãos. Que te
parece?
2. ajude a criança a aprender a prestar atenção aos seus sentimentos, a dizer-lhe
quando começa a sentir que vai fazer disparates e a pedir-lhe ajuda.
Humor
O humor é uma maneira agradável de impedir que os problemas assumem grandes
proporções. Dizer qualquer coisa divertida sobre uma situação que está a aborrecer
toda a gente é uma forma de ver as coisas sob outra perspectiva e de encontrar
uma solução. No entanto, há que ter cuidado para não usar um humor que possa
fazer a criança pensar que está a gozar com ela.
ALGUMAS VEZES ÚTIL
(dependendo da criança e da situação)
Retirar os brinquedos
Tirar os brinquedos à criança, capta obviamente a sua atenção, mas também a vai
irritar, há que ajudar a criança a entender a razão.
1. para que possa considerar os pais um modelo de justiça, a criança tem de
entender a razão pela qual lhe tiraram os brinquedos e esta deve estar
directamente relacionada com o uso que fez destes (por exemplo, o seu uso
inadequado, o risco de quebra, o risco de magoar alguém com eles, a recusa em
partilhá-los e em arrumá-los depois da brincadeira): Se continuas a querer magoar
o teu irmão com esse camião, tenho de o tirar das tuas mãos ou se deixares os
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brinquedos todos espalhados no chão, vou ter de os guardar no meu armário.
Quando te der um, tens de o arrumar antes de eu te dar outro.
2. não tire um brinquedo a que a criança está muito ligada;
3. indique claramente quanto tempo o brinquedo fica longe do alcance da criança e
aquilo que ela terá de fazer (pedir desculpa por ter batido, arrumar outro
brinquedo, etc.) para o reaver;
4. não tire o brinquedo durante demasiado tempo: é importante manter a
esperança da criança para que ela encare o seu erro (por exemplo, uma tarde ou
um dia).
Cancelar convites para brincar ou adiar actividades agradáveis
O cancelamento da vinda de amigos para brincarem ou o adiamento de actividades
agradáveis são úteis para disciplinar uma criança porque a confrontam com as
consequências do seu comportamento.
1. ajude a criança a perceber que a sua falta de controlo influencia uma situação. É
vital ter a certeza de que ela entende que o castigo está relacionado com o seu
mau comportamento (as estratégias devem estar directamente ligadas ao motivo):
Os pais devem explicar-lhe: Não posso permitir que o teu amigo venha para cá
brincar, se tu não me deres ouvidos. Tenho de ter a certeza de que vão fazer o que
vos digo. Esta tarde vais ter de brincar sozinho. Depois logo vemos se já és capaz
de fazer o que te digo ou depois de uma birra não podes ir ao parque. Para ires
para um sítio desses, tens de aprender a controlar-te.
2. a criança também precisa de saber quando acaba o castigo e o que tem de fazer
para voltar a ter autorização para brincar com outras crianças (caso contrário,
sente-se desesperada e pode nem tentar melhorar o comportamento):Hoje estás
tão mal disposto que talvez seja melhor adiarmos a vinda do teu amigo até que tu
e ele possam divertir-se juntos. Ele volta outro dia, mas tens de aprender a
controlar-te para poderes brincar com ele. Quando conseguires, voltamos a
convidá-lo.
Proibir televisão ou jogos de computador
Só se deve retirar estas actividades apenas quando elas estiverem relacionadas
com o problema Mesmo assim, as actividades como ver televisão ou jogar
computador devem ser limitadas (não mais do que uma hora por dia). Assim a
criança aprende que algumas actividades divertidas são um privilégio a ser
alcançado e não algo que está garantido.
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1. ajude a criança a aprender as consequências do seu comportamento: Se não és
capaz de desligar a televisão quando os desenhos animados terminaram, então
amanhã não a ligas.
2. pode recordar à criança: Lembras-te de que ontem não desligaste a televisão
quando devias? Tive de te castigar e hoje não podes ver televisão. Amanhã, quando
os desenhos animados acabarem, lembra-te de que a televisão deve ser desligada
logo. Sem reclamações.
Ignorar o mau comportamento
É importante saber ignorar uma maldade sem importância quando houver coisas
mais importantes em jogo, pois a criança que está constantemente a ser
repreendida a cada incidente, um atrás do outro, é uma criança que deixa de
escutar os pais.
Tal atitude permite desencorajar pequenos disparates, cujo objectivo é apenas
chamar a atenção dos pais.
Sair de cena
Se a criança puder ser deixada sozinha em segurança, a saída dos pais pode ajudála a concentrar-se na regra, ou naquilo que tem de ser feito, em vez de pensar no
papel dos pais:
1. Passe para a criança a tarefa de se acalmar e resolver o problema (pensar no
mal que fez e em como pode melhorar a situação), de forma a que ela se sinta
respeitada: Agora vais ter de arrumar o teu quarto e eu sei que não gostas disso.
Mas tem de ser feito e tu já és capaz. Depois venho ver como te estás a sair.
2. Sempre que sair de cena, é fundamental que a criança perceba que não está a
ser abandonada ou rejeitada. Faça-a perceber que aquilo de que não gosta é do
seu comportamento. Quanto a ela, continua a gostar dela como antes.
3. Lembre-a de que tem esperança de que ela consiga futuramente controlar-se
sem ajuda.
Tarefas adicionais
As tarefas adicionais também devem estar directamente relacionadas com o mau
comportamento da criança.
1.dê à criança a oportunidade de reparar o que fez e ser perdoada. Por exemplo, se
a criança tiver idade para saber o que faz, estraga intencionalmente um objecto
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valioso, pode exigir-lhe que faça algumas tarefas extra em casa para ajudar a
“pagar a dívida”.
2. quando as tarefas estiverem terminadas, deve perdoar e elogiar a criança.
Suspensão da mesada
Se a mesada for importante para a criança, reduzi-la em parte pode ser uma forma
de a impressionar com a seriedade do seu mau comportamento, mas somente em
determinadas situações específicas, por exemplo, pagar um objecto partido de
propósito ou por algo perdido por não ter sido devidamente guardado. A mesada
pode também ser retirada quando a criança não cumpre as suas habituais tarefas
domésticas.
INÚTEIS
Castigos corporais
Os castigos corporais devem ser evitados tanto quanto possível, pois bater numa
criança não é uma atitude respeitável. Mostra que os pais são maiores que a
criança (algo que não dura para sempre) e dá a entender que a violência é uma
forma de resolver os problemas.
O objectivo da disciplina é ensinar-lhe a controlar-se sozinha. A força não contribui
para isso. Transmite à criança a mensagem errada, que se pode bater, magoar
fisicamente, usar a força, contra alguém que é mais pequeno e tem menos força.
Ou seja, não ensina: a criança vai concentrar-se na dor e na raiva em vez de
aprender com o erro.
Vergonha, humilhação
Nunca humilhe o seu filho, pois a culpa que a criança sente e a percepção daquilo
que fez são muito mais importantes.
Se envergonhar e humilhar o seu filho para controlar o comportamento dele, este
tende a sentir raiva, desespero e desânimo e o resultado é sentir necessidade de se
defender e negar o que fez, em vez de reconhecer o seu erro.
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Lavar a boca com sabão
Gera na criança ressentimento em vez da disposição para ser corrigida, para além
de também ser insultuoso.
Comparar as crianças umas com as outras
As comparações negativas com irmãos ou amigos podem prejudicar as relações
entre as crianças, prejudicam a auto-estima; podem fazer a criança desanimar não
encorajando o seu aperfeiçoamento, para além de que a criança pode decidir “não
se ralar” e tornar-se ainda pior.
Suprimir comida ou usá-la como recompensa
Se as disputas surgem à hora das refeições, o melhor é tentar pôr-lhes fim com
castigos ou recompensas que não envolvam comida. Devem evitar-se quaisquer
associações negativas à comida e às horas das refeições para que as crianças
continuem a gostar de se alimentar e de estar com a família.
A criança não deve ser forçada a comer senão ela percebe que pode retaliar a
supressão da comida, recusando-se a comer.
A comida não deve tornar-se um processo de chantagem: Se comeres isto, podes
comer uma sobremesa. Os pais não devem fazê-lo para controlar o comportamento
da criança. Pois assim, em vez da criança apreciar a refeição como uma ocasião
agradável para a comunicação, ela sente-se manipulada.
As sobremesas ou doces também não devem ser usadas como castigos ao serem
retirados pois proibidos tornam-se mais desejáveis e também não devem ser
usados como recompensa, pois devem fazer parte da refeição que é partilhada.
Deitar mais cedo ou fazer uma sesta extra
As sestas e a hora de dormir são coisas que obrigam a criança a separar-se dos
pais e do resto do mundo e só por si, são já situações problemáticas para a criança
e podem gerar resistência. Transformá-las num castigo apenas as torna menos
atraentes e aumenta a resistência da criança. Pode piorar as dificuldades que a
criança tem em adormecer.
A sesta e a hora de dormir requerem associações positivas e não negativas. Devem
ser alturas calorosas, de leitura, de canções, de deitar um ao lado do outro, de se
sentir seguro e protegido, de se sentir amado. Tudo isto está em risco quando o ir
dormir é usado como punição.
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Não é um castigo mas uma ajuda se por exemplo a criança se porta mal por estar
demasiado cansada, então o deitar mais cedo faz sentido.
Retirar o afecto, ameaçar com o abandono
Estes são os mais terríveis e mais temidos castigos que a criança pode sofrer. Os
seus efeitos a longo prazo são sérios e podem conduzir à insegurança, ao medo e à
baixa auto-estima. A criança não se sente amada e capaz de amar. E sem amor, o
ressentimento e a raiva podem tomar conta da criança e conduzir a problemas
comportamentais sérios.
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