Memorando do Palácio de St James sobre Ciências de Florestas
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Memorando do Palácio de St James sobre Ciências de Florestas
Londres, Quarta-feira, 08 de Maio de 2013 Memorando do Palácio de St James sobre Ciências de Florestas Tropicais A Sua Alteza Real, o Príncipe de Gales, convidou um grupo de investigadores de florestas tropicais, juntamente com ministros, altos representantes de governos e líderes da sociedade civil e do setor privado, para se reunirem no Royal Society e no Palácio de St. James, em Londres. Neste encontro, analisamos e discutimos os desenvolvimentos mais recentes e as prioridades principais no estudo das florestas tropicais, considerando as múltiplas pressões que estas enfrentam. Assim: RECONHECEMOS que: 1) as florestas tropicais são os maiores reservatórios terrestres de biodiversidade no planeta, e que estas têm uma grande influência sobre os ciclos globais de carbono, água, energia e os padrões de precipitação; 2) há imenso valor em muitos tipos de biomas tropicais, incluindo as florestas tropicais, as florestas secas, as savanas e os manguezais; 3) as florestas tropicais proporcionam meios de subsistência sustentáveis para as pessoas, e fornecem vários recursos ecossistémicos a escalas locais, regionais e globais; 4) as populações das florestas tropicais têm vivido e usado as mesmas durante milénios, e têm conhecimentos e percepções que podem contribuir para a conservação florestal; 5) as florestas tropicais fornecem muitos serviços ecossistémicos, incluindo a conservação da diversidade biológica, além do seu valor como depósitos e sumidouros de carbono. As florestas tropicais modificadas pelo Homem fornecem recursos ecossistémicos vitais, como a provisão hidrológica e de madeiras e produtos florestais não lenhosos, sendo que estes podem ser melhorados através da conservação, restauração e da gestão sustentável. ESTAMOS PREOCUPADOS COM: a combinação múltipla e sem precedentes de pressões sobre as florestas tropicais nesta era de mudança global, o Antropoceno, provocados pela desmatamento, degradação, defaunação e alteração atmosférica, de tal forma que atualmente nenhuma floresta tropical está livre da influência humana. RECONHECEMOS: 1) o fraco entendimento científico atual de como a biodiversidade e funcionamento das florestas tropicais estão respondendo, e continuarão a responder, a distúrbios estruturais resultantes da exploração madeireira, fogo, processos de defaunação e mudanças atmosféricas; 2) a necessidade de melhorar o nosso conhecimento sobre a diversidade, distribuição e interação de espécies tropicais, como base para o planejamento da conservação e a gestão baseada em evidências; 3) a necessidade de haver um maior esforço científico para entender o fornecimento e uso dos recursos ecossistémicos das florestas tropicais, a fim de proporcionar a base de conhecimento para conservar as florestas tropicais e garantir que o uso dos seus recursos naturais seja sustentável. Este maior conhecimento poderá contribuir para maiores incentivos e abordagens mais economicamente eficientes para a conservação das florestas tropicais e para a utilização sustentável dos recursos naturais das florestas; 4) a necessidade específica de investigação centrada em florestas tropicais modificadas pelo Homem, que constituem uma grande parte das florestas tropicais e acolhem muita biodiversidade e valor funcional. 5) a necessidade de monitoramento detalhado, em grande escala e a longo prazo, da flora, fauna e ecossistemas das florestas tropicais, com o objetivo de melhor compreender e prever os impactos a curto e longo prazo nas mudanças locais e globais, e agir assim que existam sinais de alerta iniciais que apontem para um declínio da Londres, Quarta-feira, 08 de Maio de 2013 biodiversidade ou proximidade de limites críticos e possíveis pontos de ruptura no funcionamento do ecossistema; 6) a enorme necessidade de aumentar a capacidade científica e a conscientização em muitos países com florestas tropicais, tanto em ciência básica como em tecnologia avançada. Este reforço ajudaria no monitoramento de florestas em países tropicais, e na construção e investimento na capacidade de especialistas nativos com uma compreensão do valor multi-facetado das florestas tropicais. 7) a necessidade de melhorar a comunicação e a colaboração entre cientistas, poder local e a mídia, melhorar as políticas informativas e orientar a pesquisa científica. AGRADECEMOS: 1) os esforços contínuos dos governos, do setor privado e de organizações da sociedade civil, e em especial os de muitos países, povos e indivíduos das florestas tropicais, na redução das taxas de desmatamento e degradação, e no aumento da conservação e restauração das florestas tropicais na melhoria da capacidade de adaptação das mesmas no contexto das mudanças globais. 2) a existência de muitos esforços de monitoramento científico e redes ao longo dos trópicos que estão a produzir informações valiosas sobre o funcionamento e a composição das florestas tropicais e como estas estão mudando ao longo do tempo; 3) a expansão atual do monitoramento das florestas ao longo dos trópicos no contexto da REDD+, que representa uma oportunidade de compreender melhor as florestas tropicais e os seus recursos ecossistémicos, para além do seu valor em carbono. Portanto, com o presente Memorando, PEDIMOS que haja: 1) investimento estratégico nas ciências de grande escala, que apoia a integração e expansão das redes de monitoramento globais das florestas tropicais com base nos esforços de monitoramento existentes. Essas redes adotariam os métodos de monitoramento das florestas tropicais já estabelecidos, mas também incorporando tecnologias avançadas como a genómica, aérea e de sensoriamento remoto por satélite; 2) um compromisso internacional de longo prazo no monitoramento, tanto no campo como por sensoriamento remoto, das reações das florestas tropicais às múltiplas pressões que constituem o Antropoceno; 3) maior disponibilidade dos dados de florestas tropicais e dos resultados dos modelos, para compreender melhor e prever como as florestas tropicais respondem a estas pressões. Isso inclui acesso livre a longo prazo a conjuntos de dados globais de sensoriamento remoto por satélite, como exemplificado pelo programa Landsat, para garantir que a informação seja fiel, atualizada e retrospetiva sobre a mudança da cobertura florestal; 4) mais investigação sobre a natureza e distribuição da biodiversidade das florestas tropicais; sobre os imensos, mas pouco compreendidos, recursos ecossistémicos que as florestas tropicais virgens e modificadas por humanos providenciam; e ainda sobre as dinâmicas sócio económicas que afetam esses recursos; 5) aumento dos esforços para melhorar a compreensão das ligações essenciais entre o fornecimento de recursos ecossistémicos e a sua importância para as pessoas a escala local, regional e global; 6) maior envolvimento entre os governos e o setor privado e os cientistas no desenvolvimento de estratégias que conservam ecossistemas florestais, mas que simultaneamente atendam as necessidades humanas; 7) desenvolvimento de programas para melhorar e desenvolver o conhecimento em ciências naturais e sociais nos países com florestas tropicais através de apoio in situ, em formações e infra-estruturas, e oferta de bolsas e fundos internacionais para o estudo e conservação das florestas tropicais para estudantes e investigadores destes países.