Volume 7 – Completo - Coleção: Gestão da Saúde Pública
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Volume 7 – Completo - Coleção: Gestão da Saúde Pública
C oleç ão Gestão da Saúde Pública Universidade Federal de Santa Catarina Centro Socioeconômico Departamento de Ciências da Administração Coleção: Gestão da Saúde Pública Contribuições para a Gestão do SUS Volume 7 Maurício Fernandes Pereira Alexandre Marino Costa Gilberto de Oliveira Moritz Denise Aparecida Bunn Organizadores Editora Fundação Boiteux Florianópolis 2013 ©2013 Departamento de Ciências da Administração CSE/UFSC. Todos os direitos reservados. Os conceitos em trabalhos assinados são de exclusiva responsabilidade de seus autores. As matérias desta publicação podem ser livremente transcritas, desde que seja indicada a fonte. O conteúdo desta obra foi licenciado temporária e gratuitamente para utilização no âmbito do Curso de Especialização em Gestão da Saúde Pública, através da UFSC. O leitor se compromete a utilizar o conteúdo desta obra para aprendizado pessoal, sendo que a reprodução e distribuição ficarão limitadas ao âmbito interno dos cursos. A citação desta obra em trabalhos acadêmicos e/ou profissionais poderá ser feita com indicação da fonte. A cópia desta obra sem autorização expressa ou com intuito de lucro constitui crime contra a propriedade intelectual, com sanções previstas no Código Penal, artigo 184, Parágrafos 1º ao 3º, sem prejuízo das sanções cíveis cabíveis à espécie. C764 Contribuições para a Gestão do SUS / Maurício Fernandes Pereira, Alexandre Marino Costa, Gilberto de Oliveira Moritz, Denise Aparecida Bunn, organizadores. – Florianópolis : Fundação Boiteux, 2013. 230p. – (Gestão da Saúde Pública; v.7) Inclui referências ISBN: 978-85-7840-084-2 (coleção) 978-85-7840-129-0 1. Saúde pública – Administração. 2. Sistema Único de Saúde (Brasil). 3. Políticas Públicas. 4. Produção científica. 5. Pesquisa. I. Pereira, Maurício Fernandes. II. Costa, Alexandre Marino. III. Moritz, Gilberto de Oliveira. IV. Bunn, Denise Aparecida. CDU: 614 Catalogação na publicação por: Onélia Silva Guimarães CRB-14/071 PRESIDENTA DA REPÚBLICA Dilma Rousseff MINISTRO DA SAÚDE Alexandre Padilha PREFEITO DE FLORIANÓPOLIS Cesar Souza Júnior VICE-PREFEITO DE FLORIANÓPOLIS João Antônio Heinzen Amin Helou SECRETÁRIO DA SAÚDE DE FLORIANÓPOLIS Carlos Daniel Magalhães da Silva Júnior UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Reitora Roselane Neckel Vice-Reitora Lúcia Helena Pacheco CENTRO SOCIOECONÔMICO Diretora Elisete Dahmer Pfitscher Vice-Diretor Rolf Hermann Erdmann DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO Chefe do Departamento Marcos Baptista Lopez Dalmau Subchefe do Departamento Marilda Todescat PROJETO MINISTÉRIO DA SAÚDE/PMF/UFSC/CSE/CAD Coordenador do Projeto Maurício Fernandes Pereira Subcoordenador do Projeto Alexandre Marino Costa Coordenador Pedagógico João Nilo Linhares Coordenador Técnico Gilberto de Oliveira Moritz Coordenador Administrativo Luis Carlos Cancellier de Olivo Comissão Editorial Luís Moretto Neto Alexandre Marino Costa Gilberto de Oliveira Moritz Alessandra de Linhares Jacobsen Maurício Fernandes Pereira João Nilo Linhares Marcos Baptista Lopez Dalmau Projeto Gráfico Annye Cristiny Tessaro Rita Castelan Minatto Capa e Ilustração Adriano Schmidt Reibnitz Diagramação Joice Balboa Revisão de Português* e Normalização da ABNT Evillyn Kjellin Pattussi Patrícia Regina da Costa Raquel Coelho Sergio Luiz Meira *Esta obra foi revisada conforme o Novo Acordo Ortográfico. Sumário Apresentação Motivação Profissional Relacionada à Autoestima 9 13 Aline Onésia Pacheco Gestão da Saúde Pública no Município de Santo Amaro da Imperatriz/Santa Catarina: funcionamento, estrutura e contribuição dos serviços de orientação terapêutica da Equipe de Estratégia de Saúde da Família (ESF) 40 Arieli Schiessl Fialho Teoria das Filas Aplicada ao Atendimento na Média Complexidade no Sistema Único de Saúde com Enfoque na Especialidade Endodontia: uma revisão de literatura 61 Fábio Henrique Dias da Silva A Participação do Complexo Regulador de Florianópolis no Plano Operativo para a Organização da Rede Estadual de Atenção em Alta Complexidade Cardiovascular em Santa Catarina 78 Gustavo Rodolfo Teixeira Hess Perfil dos Sujeitos Identificados pelas Unidades Básicas de Saúde do Distrito Sanitário do Continente, Florianópolis, como Sintomáticos Respiratórios e Possíveis Casos de Tuberculose 95 Karin Cynthia Cardozo Dispensa de Licitação na Contratação de Organizações Sociais Leandro Adriano de Barros 114 Padrão de Financiamento e Execução dos Gastos em Saúde no Município de Florianópolis (Brasil) no Período de 2007-2011 134 Marcelo Florentino A atuação do Fisioterapeuta na Atenção Básica no Município de Florianópolis (SC) 153 Marcia Marie Oki Saúde: Problemas na Concessão de Medicamentos Devido à Tutela Judicial 173 Marilei Bilistki Grams Saúde da Mulher no Município de Rancho Queimado: da realidade à mudança 196 Paula Renata Jost Avaliação de Desempenho no Serviço Público Scheila Augusto Rodrigues Lyra 210 Summary Presentation 9 Motivation Training Linked to Self-Esteem 13 Aline Onésia Pacheco Public Health Management in Santo Amaro da Imperatriz/Santa Catarina: function, structure and contribution of guidance Services Therapy Team Health Strategy 40 Arieli Schiessl Fialho Queues Theory Applied to the Medium Complexity in Care Health System to Focus on Specialty Endodontics: a literature review 61 Fábio Henrique Dias da Silva The Participation of the Regulator Complex of Florianópolis in the Operative Plan for Organization of State Net of Care in Cardiovascular High Complexity in Santa Catarina 78 Gustavo Rodolfo Teixeira Hess Profile of Individual Identified by the Community Health Centers as Presenting Respiratory Symptoms and Possible Cases of Tuberculosis 95 Karin Cynthia Cardozo Without Bidding in Hiring Social Organizations Leandro Adriano de Barros 114 Health Care Financing and Implementation in Florianópolis (Brazil) in Period 2007-2011 134 Marcelo Florentino The Work of the Physiotherapist in Primary Care in Florianópolis (SC) 153 Marcia Marie Oki Health: Problems on Pharmacological Assistance Due to Judiciary Intervention 173 Marilei Bilistki Grams Women’s Health in the City of Rancho Queimado: from reality to change 196 Paula Renata Jost Performance Evaluation in the Public Service Scheila Augusto Rodrigues Lyra 210 Apresentação Apresentação O Curso de Especialização Lato Sensu em Gestão da Saúde Pública qualificou servidores que atuam na área da Saúde e proporcionou subsídios para que melhorassem suas ações e contribuíssem para a qualidade dos serviços prestados no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Esse aperfeiçoamento foi importante, pois auxiliou na prática diária de cada profissional. Por isso, estamos certos de que oferecemos a possibilidade de reflexão sobre a forma de agir de cada um, principalmente com relação aos preceitos da ética e da moral. O referido Curso, com carga horária de 420 horas foi finalizado em dezembro de 2012 e teve como público participante servidores integrantes do SUS, na região da Grande Florianópolis. O sucesso do empreendimento foi indiscutível, com a aprovação de mais de 70% do seu corpo discente. Além disso, como produto da sua aprendizagem, cada estudante apresentou, ao final, um trabalho de conclusão de curso no qual pôde demonstrar as habilidades e os conhecimentos adquiridos para a análise e a solução de problemas do cotidiano da sua organização. A divulgação dos trabalhos científicos produzidos pelos servidores integrantes do SUS, na região da Grande Florianópolis, por ocasião da conclusão do curso de pós-graduação em Gestão da Saúde Pública, é parte do processo de aprimoramento do Sistema Único de Saúde, na medida em que traz ao público a visão dos próprios servidores sobre determinados tópicos. Compreendemos, assim, a responsabilidade do nosso sistema educacional e, em especial, do ensino superior em administração, no que se refere a preparar profissionais para que atuem no mundo moderno. Esse é o nosso comprometimento. Com o intuito de documentar todos os trabalhos desenvolvidos neste curso, serão publicadas 13 obras, divididas em volumes, neste volume serão publicados 11 artigos produzidos pelos estudantes do curso. Nesses trabalhos, será possível constatar as dificuldades do SUS e as possíveis soluções para cada questão levantada. Além disso, alguns trabalhos observam as melhorias já identificadas do Sistema Único de Saúde (SUS). Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 9 Apresentação Vamos iniciar a leitura do Volume 7 com o artigo Motivação Profissional Relacionada à Autoestima, de Aline Onésia Pacheco, no qual é avaliado o nível de motivação profissional relacionada à autoestima dos funcionários da Policlínica Municipal do Continente. No texto a seguir, Arieli Schiessl Fialho verifica a contribuição dos Serviços de Orientação Terapêutica para a Gestão de Saúde realizados pela Equipe de Estratégia de Saúde da Família 06 do Município de Santo Amaro da Imperatriz, demonstrando, também, como esta se apresenta estruturada e o seu funcionamento na execução das suas finalidades. A partir do resultado, foi possível observar que a satisfação da clientela do Grupo Terapêutico de Hipertensos foi unânime, o que gerou um feedback positivo para a Secretaria Municipal de Saúde Teoria das Filas Aplicada ao Atendimento na Média Complexidade no Sistema Único de Saúde com Enfoque na Especialidade Endodontia: uma revisão de literatura, artigo de Fábio Henrique Dias da Silva, é uma revisão de literatura sobre a formação de filas no atendimento na média complexidade no Sistema Único de Saúde, principalmente na Especialidade Endodontia no Centro de Especialidades Odontológicas. As filas são processos rotineiros no cotidiano e geram queda na qualidade de atendimento. O custo para manutenção das filas é muito alto e pode causar prejuízos para a saúde do usuário do sistema. O artigo de Gustavo Rodolfo Teixeira Hess aborda o Plano Operativo, que prevê que o atendimento de Consulta em Cirurgia Cardíaca dos municípios das regiões descritas seja feito pelo Hospital de Caridade de Florianópolis. Os objetivos são determinar e analisar o número agendamentos desta Consulta realizados pelo Complexo Regulador, identificar a oferta e avaliar o cumprimento do Plano. Foram analisados os agendamentos no SISREG realizados entre junho de 2011 e junho de 2012 pelos municípios participantes da PPI ao Complexo Regulador. Karin Cynthia Cardozo, em seu artigo, Perfil dos Sujeitos Identificados pelas Unidades Básicas de Saúde do Distrito Sanitário do Continente, Florianópolis, como Sintomáticos Respiratórios e Possíveis Casos de Tuberculose, analisa a questão problemática da tuberculose e procurou identificar e descrever o perfil dos indivíduos identificados como sintomáticos respiratórios pelas Unidades Básicas de Saúde do Distrito Sanitário do Continente, Florianópolis. 10 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Apresentação Leandro Adriano de Barros, com o artigo Dispensa de Licitação na Contratação de Organizações Sociais apresenta a hipótese de dispensa de licitação na contratação de Organizações Sociais (OS) sob o olhar da discussão constitucionalidade da Lei Federal n. 9.637, de 15 de maio de 1998, pelo Supremo Tribunal Federal. O artigo seguinte, de Marcelo Florentino analisa a Emenda Constitucional n. 29 – que assegurou um piso mínimo de investimento em saúde por parte das três esferas de governo e estipulou onde esses recursos podem ser gastos –, e tem motivado o desenvolvimento de pesquisas particularmente voltadas aos padrões de financiamento e gastos em saúde. Neste artigo, buscou-se estabelecer um paralelo entre financiamento e gasto com saúde no município de Florianópolis, entre 2007 e 2011, utilizando-se para tanto os dados do SIOPS (Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde). Com o título A atuação do Fisioterapeuta na Atenção Básica no Município de Florianópolis (SC), Marcia Marie Oki descreve e discute o processo de trabalho do fisioterapeuta na Atenção Básica. Trata-se de uma pesquisa qualitativa exploratória em que foram descritas as experiências e avaliados os registros realizados pelo fisioterapeuta nos prontuários eletrônicos dos pacientes de junho a julho de 2012. A organização do trabalho foi dificultada pelo número reduzido de profissionais, pela grande demanda de pacientes, pela formação reabilitadora do fisioterapeuta e pela sua atuação ser recente. Marilei Bilistki Grams, no seu artigo intitulado Saúde: Problemas na Concessão de Medicamentos Devido à Tutela Judicial, analisa a questão da dispensação de medicamentos, insumos ou serviços pela intervenção do judiciário, que impele para um aprofundamento sobre as consequências das teses que disputam a melhor decisão sobre a forma de concessão. As fórmulas discursivas de duas teses são avaliadas estatisticamente para estimar seus comportamentos a partir de uma amostra de julgados para, primeiramente, estabelecer se é justificável a judicialização e, com base na resposta a essa hipótese, avançar sobre as categorias-chave que fundamentam tais decisões. Saúde da Mulher no Município de Rancho Queimado: da realidade à mudança, artigo de Paula Renata Jost, apresenta a realidade no atendimento à saúde da mulher no município de Rancho Queimado/SC, identificando o que acontece hoje, quais são as realidades, dificuldades e necessidades da mulher do município no que se refere à sua saúde. Serve de descrição ao gestor público da saúde para que possa verificar as necessidades reais do Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 11 Apresentação município. O artigo foi formulado salientando o que seria realmente o ideal de atendimento na área de atenção à saúde da mulher. Encerrando este volume, o artigo de Scheila Augusto Rodrigues Lyra, Avaliação de Desempenho no Serviço Público, apresenta uma pesquisa bibliográfica sobre avaliação de desempenho no serviço público, buscando ampliar o conhecimento e aperfeiçoamento acerca desse instrumento de gestão de pessoas. A avaliação de desempenho no setor público pode ter diversas funções, tais como o acompanhamento dos servidores para progressão funcional ou apenas para efetivação de seu cargo no serviço público. Maurício Fernandes Pereira Alexandre Marino Costa Gilberto de Oliveira Moritz Denise Aparecida Bunn Organizadores 12 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Motivação Profissional Relacionada à Autoestima Aluna: Aline Onésia Pacheco1 Orientador: Dante Marciano Girardi2 Tutora: Juliana Pereira3 Resumo Abstract O objetivo deste artigo é apresentar o nível de motivação profissional relacionada à autoestima dos funcionários de uma empresa da Grande Florianópolis. A metodologia adotada seguiu uma abordagem de pesquisa quantitativa, exploratória e descritiva, que foi realizada na Policlínica Municipal do Continente (Florianópolis-SC) através de um questionário estruturado, distribuído de forma aleatória aos funcionários do quadro efetivo da prefeitura. Este estudo mostrou que não basta ser um gestor, pois este tem que analisar suas competências e habilidades de líder em motivar seus liderados, trazendo para a Policlínica Municipal do Continente funcionários motivados com o que fazem. The purpose of this article is to present the Professional Motivation level related to the “self-esteem” of employees of a company in the big Florianópolis. The adopted methodology followed an approach to quantitative research, exploratory and descriptive, which was held at Municipal Polyclinic of the continent (Florianópolis-SC) by means of a structured questionnaire, distributed randomly to frame effective staff of the Town Hall. This study showed that it is not enough to be a Manager, because this has to analyze their leadership skills and abilities to motivate their subordinates, bringing the continent’s Municipal Polyclinic staff motivated with what they do. Palavras-chave: Motivação no trabalho. Key words: Motivation at work. Knowledge. Conhecimento. Qualidade de vida. Quality of life. 1 Curso de Enfermagem na Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) em 2010 – BiguaçuSC. E-mail: [email protected]. 2 Doutor em Gestão do Conhecimento pela Universidade Federal de Santa Catarina (2009). E-mail: [email protected]. 3 Especialista em Gestão de Pessoas nas Organizações e Bacharel em Administração pela Universidade Federal Santa Catarina (UFSC). E-mail: [email protected]. Motivação Profissional Relacionada à Autoestima 1 Introdução A palavra “motivar” significa: dar motivo a, causar, expor motivo, e o sinônimo da palavra motivação é: causa, razão, fim e infinito; logo, a palavra “motivação” vem da palavra “motivo” mais o sufixo “ação”, que denota movimento, atuação ou manifestação de uma força, uma energia, um agente (GOMES; MICHEL, 2007). O seu sentido original fundamenta-se num processo no qual o comportamento é incentivado, estimulado ou energizado por algum motivo ou razão. O que anteriormente era apenas um instrumento da área de recursos humanos, agora passa a fazer parte da estratégia das empresas (GOMES; MICHEL, 2007). Motivar é ação, é o resultado da interação do indivíduo com a situação, ou seja, a direção certa para que um determinado objetivo seja alcançado, aumentando a autoestima e a força de vontade para que tudo que é almejado seja conquistado. Nas empresas, a motivação precisa ser encarada como forma de valorizar o funcionário, o qual deve se sentir parte integrante da empresa, e não simplesmente um seguidor de regras. A motivação profissional é importante, pois é através dela que os funcionários trabalham felizes, se sentem importantes. Se não houver a motivação, a produtividade não será boa, pois os funcionários estarão insatisfeitos com o que fazem. Isso gera pensamentos e atitudes que vão de encontro aos objetivos da empresa e fazem com que os funcionários deixem de “vestir” a camisa, trabalhando somente pelo salário. (MARASEA; ANDRADE, 2006) Muitas pessoas, erroneamente, entendem que a motivação é um traço pessoal, ou seja, uns têm, outros não. Dessa forma, alguns funcionários são rotulados de preguiçosos ou desmotivados por executivos poucos experientes; porém, o que se conhece sobre motivação mostra que isso não é verdade. (ANDRADE et al., 2010) Para motivar pessoas, a primeira ideia que vem à mente é a de melhores salários. Embora melhores salários também ajudem a motivar, nem sempre esse é o fator primordial. O que satisfaz e motiva os funcionários é o reconhecimento e a recompensa quando se faz um bom trabalho; ter a confiança dos chefes e das equipes de trabalho; trabalhar num lugar limpo, seguro e confortável; ter perspectivas de crescimento na empresa; e receber os benefícios que a empresa oferece: saúde, educação, bônus salarial, brindes, lazer, entre outros. Todos esses fatores motivacionais levam os funcionários a trabalharem felizes, a buscarem novos conhecimentos e a terem ideias novas; 14 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Aline Onésia Pacheco # Dante Marciano Girardi # Juliana Pereira e a produtividade dentro das empresas aumenta com isso, e estas obterão um grande sucesso. (GOMES; MICHEL, 2007) Não adianta tentar motivar as pessoas se não se tem um líder que desperte essa motivação, que mostre que as pessoas fazem parte da empresa, que trate os funcionários como se fossem integrantes de sua família, que saiba lidar com pessoas difíceis, que seja simpático, alegre, motivador e transmita segurança. Por isso, deve-se encontrar uma pessoa que seja um líder adequado, com pensamentos diferentes, com um novo olhar, motivado para obter resultados positivos, melhorando a produtividade da empresa. Motivação envolve sentimentos de realização e de reconhecimento profissional, pois as pessoas são diferentes, e a necessidade de motivação varia de pessoa para pessoa, produzindo diferentes padrões de comportamento. Jornadas de trabalho prolongadas e trabalhos desgastantes podem levar ao ponto crucial: a desmotivação profissional (SOUSA, 2012), ou seja, quando o gestor não é o eixo integrador/motivador de suas equipes, tudo se torna mais difícil, fazendo com que seus funcionários cumpram somente sua carga horária para que, no final do mês, possam receber seus salários; assim, o que era para ser gratificante fica exaustivo/cansativo. Caso o gestor não consiga motivar os funcionários a crescerem junto com a empresa, possivelmente seu papel como líder é ineficiente. Cabe às organizações encontrarem estratégias capazes de descobrir os talentos pessoais, para que, objetivamente, se transformem em ações eficazes e produtivas. O funcionário sente-se motivado a trabalhar porque sabe que é um membro indispensável para o alcance dos objetivos da empresa. O comportamento humano orienta-se basicamente pelo desejo de alcançar o objetivo, mas nem sempre as pessoas têm consciência dos seus objetivos, e nem sempre nossa mente vê conscientemente a razão das nossas ações. O trabalhador desmotivado inventa desculpa para chegar tarde ou faltar, pois, quanto menos tempo estiver no local de trabalho, melhor se sentirá, uma vez que o próprio ambiente não o motiva (SOARES, 2007). Isso gera inúmeros atestados médicos e afastamentos por licença de saúde, muitos dos quais devidos à falta de motivação profissional. Quando esta existe no ambiente de trabalho, faz-se de tudo para não se faltar um só dia, uma vez que se sabe que o trabalhador é valorizado e visto como importante para o funcionamento da empresa. É válido lembrar que a organização apenas propicia condições e incentivos para que o trabalhador se sinta motivado, mas se ele não estiver disposto a isso, nada adiantará. As organizações precisam entender que devem oferecer Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 15 Motivação Profissional Relacionada à Autoestima o que o funcionário quer e precisa ganhar, e não os incentivos que estão dispostas a oferecer, já que as pessoas são diferentes, possuem necessidades e emoções distintas, e, o que parece mais “assustador”, os humanos são seres insaciáveis. As metas que a organização estabelecer devem ser atingíveis, pois, caso contrário, poderão desmotivar o funcionário. A motivação não deve ser imposta e sim estimulada, ela surge dentro das pessoas; por esta razão o funcionário tem que querer ser motivado. Cabe à empresa oferecer os incentivos necessários para o êxito deste processo motivacional, seja através de promoções ou por meios melhores salários. (SOARES, 2007) Este estudo tem como objetivo apresentar o nível de motivação profissional relacionada à autoestima, e, para alcançar esse objetivo, foi realizado um questionário com perguntas fechadas de múltipla escolha, nas quais os funcionários expuseram suas respostas relativas à sua motivação e autoestima profissional. 2 Exposição do Tema Desde a década de 1980, o departamento de Recursos Humanos vem sofrendo alterações. A Gestão de Pessoas está sendo cada vez mais utilizada nos tempos atuais, substituindo o conceito de Administração de Recursos Humanos (MARASEA; ANDRADE, 2006). Para estes autores, a diferença entre a Administração de Recursos Humanos e a Gestão de Pessoas está na forma como é visto o funcionário. A primeira identifica as pessoas como recursos ao lado dos recursos materiais financeiros. Já a Gestão de Pessoas visa à cooperação das pessoas para o alcance dos objetivos tanto organizacionais quanto individuais. O papel da Gestão de Pessoas é captar e manter os talentos humanos nas organizações, atuar de modo sistêmico e numa relação de parceria com os gestores de linha, buscando adequar estrutura, estratégias, processos e pessoas para o alcance dos objetivos organizacionais. Os Recursos Humanos (RH) devem criar competências e comportamentos, gerenciar a seleção, o treinamento, o desempenho, o reconhecimento e o desenvolvimento das pessoas (DESSLER, 2003), orientando-as para gerir o conhecimento e alavancar os resultados organizacionais. “A motivação sempre foi e continuará sendo sintoma de vida psíquica que se move em busca de algo”, explica Bergamini (1992, p. 108). O homem 16 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Aline Onésia Pacheco # Dante Marciano Girardi # Juliana Pereira está sempre buscando o equilíbrio entre o lado profissional e o pessoal. O sucesso, o dinheiro e a realização profissional são fatores que impulsionam essa busca, assim como a qualidade de vida estimula o lado pessoal. Os dois caminham juntos, e, portanto, não basta à empresa oferecer ótimos salários e não oferecer bem-estar e conforto. Se ela não os oferecer, afetará a saúde do empregado. Para que os empregados obtenham maior produtividade é necessário que estejam aptos a exercerem a função designada. Adotar estratégias de treinamento e acompanhamentos constantes para que as falhas sejam corrigidas a tempo é uma forma de caminhar para o bom desempenho. Um funcionário bem treinado tem mais confiança no que está realizando e habilidades e conhecimentos para identificar algo indesejável no seu departamento. Para a citada autora, oferecer treinamentos para que os empregados sejam capacitados a exercerem melhor a sua função é fundamental. Através deles, há uma amplitude no conhecimento do trabalho e uma melhor visão da função a ser desempenhada. O funcionário se sente mais confiante e obtém um maior controle das suas atividades, gerando para a empresa vários benefícios. Portanto, é necessário identificar o serviço e a habilidade de cada funcionário, para que ele tenha treinamento adequado à função que realiza na empresa. (MARASEA; ANDRADE, 2006) A autoras apontam, segundo a proposta inovadora da Universidade Corporativa, como objetivo principal, oferecer treinamentos para melhorar a capacidade produtiva dos empregados, direcionando áreas de formação, seja de graduação, pós-graduação, entre outras destinadas à aprendizagem a distância “como a on-line university/2005”. As vantagens desse Ensino Corporativo estão no baixo custo para a organização e na praticidade para os empregados. A organização reduz despesas com a viagem, e os empregados podem organizar melhor o seu tempo de estudo. Tem-se a certeza de que oferecer treinamentos a distância é uma ótima maneira de motivar profissionalmente os funcionários, os quais estarão sempre atualizados em sua área profissional, além de proporcionar um atendimento de qualidade aos usuários. Estudar a distância não requer gastos com transporte, alimentação, roupas, entre outros, mas sim dedicação e empenho dos funcionários para cada dia mais aprender/ensinar. “Aprendizagem é uma mudança no comportamento humano decorrente de novos conhecimentos, novas habilidades, novas atitudes e novos conceitos e filosofias.” (CHIAVENATO, 1992, p. 125) Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 17 Motivação Profissional Relacionada à Autoestima Isso gera qualidade de vida no trabalho e faz com que as organizações valorizem seus empregados, considerando-os como indivíduos do seu negócio, e não apenas objetos de produção. Geralmente estão a maior parte do tempo no serviço e exercem sempre a mesma função, o que os leva ao estresse. O estresse é responsável pela desmotivação profissional, devido à falta de qualidade de vida no trabalho. Segundo Marasea e Andrade (2006), o estresse causa descontentamento e irritação, o que afeta não só o rendimento pessoal, mas também faz com que os problemas profissionais sejam levados para casa, afetando o relacionamento familiar. Pessoas desmotivadas e sem qualidade de vida no trabalho podem se tornar um problema para a empresa em que trabalham. As empresas atuais necessitam de líderes capazes de trabalhar e facilitar a resolução de problemas em equipe, motivando os colaboradores e contribuindo para uma melhor produtividade. (SILVA; PEIXOTO; BATISTA, 2011) Segundo Bernardinho (2006), ser líder é dar o exemplo para que outros saibam como se faz e se esforcem para repetir a tarefa no mesmo nível, ou ainda melhor. Essa é a única liderança que se sustenta com o tempo. Nada do que você diz influencia mais as pessoas do que aquilo que você faz. Liderar é inspirar e influenciar pessoas a fazerem a coisa certa, visando ao objetivo em comum. Segundo Bernardinho (2006, p. 115-116), “[...] a motivação baseia-se em dois pilares: o primeiro deles é a necessidade”. Se você precisa, vai “correr atrás” e se dedicar. O segundo é a paixão. “Se você gosta, ama o que faz, vai querer melhorar sempre”. Pode-se observar que esses conceitos tratam a motivação como sendo algo pessoal e que parte do interior das pessoas. Para Stoner e Freeman (1999, p. 322), “Motivação são fatores que provocam, canalizam e sustentam o comportamento de um indivíduo”. 2.1 Tipos de Líderes Nos anos de 1980, a liderança passou a ser percebida como vantagem competitiva e se tornou objeto de atenção por parte dos estudiosos e das organizações. No contexto dinâmico dos anos de 1990, foi percebida a necessidade de um novo tipo de líder para o futuro, baseado no resgate de aspectos que fomentem a liderança eficiente, como clareza nos objetivos, motivação e envolvimento das pessoas no trabalho, desafios e outros. (GALBRAITH, 1995) 18 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Aline Onésia Pacheco # Dante Marciano Girardi # Juliana Pereira Atualmente passou a haver diferenciação entre o gerente e o líder. O gerente está dando lugar ao líder. Os gerentes fazem com que as pessoas realizem o que lhe foi delegado, e os líderes integram a equipe nos negócios, estimulam os resultados. (GIRARDI; SOUZA; GIRARDI, 2012) Os tipos de liderança adotados pelos gestores dependem dos seus valores, personalidade, habilidades e competências, contexto organizacional e motivação para os resultados. (GIRARDI; SOUZA; GIRARDI, 2012) Segundo Cavalcanti (2009), para que os líderes possam cumprir seu papel, a organização deve estimular a liderança, ser receptiva à criatividade, à inovação, favorecendo a integração, a satisfação, a aprendizagem e o conhecimento. Um líder deve ter um conjunto de habilidades, competências e conhecimentos que orientem suas ações para o pleno aproveitamento do potencial humano, otimizando os resultados organizacionais. (GIRARDI; SOUZA; GIRARDI, 2012) A forma como o líder se relaciona e se comunica com a equipe favorece o desempenho, e a liderança conduz o gestor a uma relação sincera e à comunicação clara dos objetivos da organização. (DRUCKER, 2002) O autor descreve cada uma da seguinte maneira: Autocrático Democrático Liberal (Laissez-Faire) Apenas o líder fixa as diretrizes, sem qualquer participação do grupo. As diretrizes são debatidas pelo grupo, estimulado e assistido pelo líder. O líder determina as providências e as técnicas para a execução das tarefas, cada uma por vez, à medida que se tornam necessárias e de imprevisíveis para o grupo. O próprio grupo esboça as providências e as técnicas para atingir o alvo, solicitando aconselhamento técnico ao líder quando necessário, passando este a sugerir duas ou mais alternativas para o grupo escolher. As tarefas ganham novas perspectivas com os debates. Há liberdade completa para as decisões grupais ou individuais, com participação mínima do líder. A participação do líder no debate é apenas fornecer material variado ao grupo, esclarecendo que poderia fornecer informações desde que fossem solicitadas. Quadro 1: Estilos de Liderança Fonte: Adaptado de Drucker (2006) Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 19 Motivação Profissional Relacionada à Autoestima Autocrático Democrático Liberal (Laissez-Faire) O líder determina qual é a tarefa que cada um deve executar e qual é o seu companheiro de trabalho. A divisão das tarefas fica a critério do próprio grupo, e cada membro tem liberdade de escolher os seus companheiros de trabalho. O líder procura ser um membro normal do grupo, em espírito, sem encarregar-se muito de tarefas. O líder é “objetivo” e limita-se aos “fatos” em suas críticas e elogios. Tanto a divisão das tarefas como a escolha dos companheiros ficam totalmente a cargo do grupo. Absoluta falta de participação do líder. O líder não faz nenhuma tentativa de avaliar ou regular o curso dos acontecimentos. O líder somente faz comentários irregulares sobre as atividades dos membros quando perguntado. O líder é dominador e é “pessoal” nos elogios e nas críticas ao trabalho de cada membro. Quadro 1: Estilos de Liderança Fonte: Adaptado de Drucker (2006) • Liderança autocrática: na liderança autocrática, o líder é focado apenas em tarefas. Esse tipo de liderança também é chamado de liderança autoritária ou diretiva. O líder toma decisões individuais, desconsiderando a opinião dos liderados. • Liderança democrática: chamada também de liderança participativa ou consultiva, é voltada para as pessoas e há participação dos liderados no processo decisório. • Liderança liberal, ou laissez-faire: laissez-faire é a contração da expressão em língua francesa laissez faire, laissez aller, laissez passer, que significa literalmente “deixai fazer, deixai ir, deixai passar”. Nesse tipo de liderança, as pessoas têm mais liberdade na execução dos seus projetos, indicando possivelmente uma equipe madura, autodirigida e que não necessita de supervisão constante. Por outro lado, a liderança liberal também pode ser indício de uma liderança negligente e fraca, na qual o líder deixa passar falhas e erros sem corrigi-los. (SILVA; PEIXOTO; BATISTA, 2011) A liderança é um desafio às organizações, fazendo parte do processo de Aplicação de Pessoas. Sua prática pelos gestores contribui significativamente para a construção do conhecimento organizacional. (GIRARDI; SOUZA; GIRARDI, 2012) 20 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Aline Onésia Pacheco # Dante Marciano Girardi # Juliana Pereira O espírito de liderança das organizações faz com que o empregado estimule ainda mais seus conhecimentos para poder atender melhor aquele que vem à procura de atendimento. 2.2 Motivação e Autoestima A motivação em muitas empresas é vista como uma mola estimulada que contribui para a realização de um determinado desejo, sendo o motivo e a emoção os segredos do entusiasmo na realização de algum objetivo. (MARINHO, 2011) A partir do momento em que a preocupação com o bem-estar das pessoas ganha espaço nas organizações, é possível conseguir melhores resultados na busca de um ambiente de trabalho adequado para o desenvolvimento das atividades profissionais. (MARINHO, 2011) A motivação é um aspecto intrínseco às pessoas, pois ninguém pode motivar ninguém. Ela passa a ser entendida como fenômeno comportamental único e natural e vem da importância que cada um dá ao seu trabalho, do significado que é atribuído a cada atividade desse trabalho; cada pessoa busca o seu próprio referencial de autoestima e autoidentidade (BERGAMINI, 1997). Motivação nas empresas é, portanto, algo pessoal de cada um, mas pode ser influenciada por objetivos e interesses coletivos que impulsionam as pessoas a buscarem algo que possa satisfazer suas vontades e que contribua de alguma forma para a realização de seus desejos. (MARINHO, 2011) Para Chiavenato (1982 p. 418), “[...] a complexidade da motivação humana é brilhantemente ilustrada e compreendida através da Pirâmide de Maslow na chamada Hierarquia das Necessidades”. Maslow (2000), em uma pirâmide de cinco partes, consegue ilustrar o tamanho da importância que se dá para cada necessidade, conforme os níveis vão sendo ultrapassados. Abraham Maslow (2000), psicólogo e consultor norte-americano em psicologia, estudioso no campo das motivações, fundamentou uma teoria segundo a qual as necessidades humanas estão organizadas e dispostas em níveis, numa hierarquia de importância e influências. Essa hierarquia de necessidades é representada e visualizada em uma pirâmide, cuja base está no patamar das necessidades mais baixas e cujo topo está no patamar das necessidades mais elevadas. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 21 Motivação Profissional Relacionada à Autoestima A Figura 1 representa as chamadas necessidades básicas do ser humano, segundo o tradicional modelo de pirâmide, que presume a satisfação, primeiro do nível menor para depois haver a satisfação do maior. Figura 1: Pirâmide das Necessidades Humanas Básicas Fonte: Maslow (2000, p. 105) Maslow (2000) mostra na sua pirâmide que os indivíduos precisam primeiro suprir suas necessidades básicas, antes de qualquer outra motivação. A motivação é, sem dúvida, própria de cada indivíduo, e ninguém motiva ninguém; porém, os líderes devem entender que, para a organização funcionar no contexto de produção e competitividade, é necessário que os grupos sejam trabalhados com o estímulo de motivação; e para que isso ocorra é preciso incentivar os líderes de empresas a utilizarem várias formas de ferramentas de trabalho, tais como atividades de animação, para que haja rendimento. O funcionário motivado tem vontade de realizar os trabalhos que lhe competem, tem vontade de ter conhecimentos que aprimorem o seu desempenho no trabalho e tem compromisso com a empresa. (MARINHO, 2011) “A teoria da motivação desenvolvida por Maslow afirma que as necessidades humanas estão organizadas em uma hierarquia de necessidades” (CHIAVENATO, 2000, p. 304). A Figura 2 ilustra tal organização. 22 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Aline Onésia Pacheco # Dante Marciano Girardi # Juliana Pereira Figura 2: Hierarquia das Necessidades Humanas Fonte: Maslow (apud CHIAVENATO, 2000, p. 304) Observa-se que nem todos os empregados possuem os mesmos desejos e necessidades. Os empregados de cargos mais altos são, na sua maioria, profissionais graduados e bem remunerados, portanto, o dinheiro e as promoções geralmente não representam um fator motivacional. Nesse caso, a motivação está no próprio trabalho, em que os desafios levam-nos a buscarem soluções e a adquirirem prestígio entre os demais empregados. Oferecer oportunidades para ampliar o seu conhecimento, com participação em workshops e conferências, é outro meio de impulsioná-los. (CHIAVENATO, 2000) Os cargos medianos são representados por profissões como, por exemplo, a de vendedor. Nestes o dinheiro é importante, mas a satisfação está mais presente no reconhecimento e em possíveis promoções. (CHIAVENATO, 2000) As pressões para as metas serem alcançadas afetam psicologicamente os empregados, causando a diminuição na produção. Os empregados desse estágio sentem-se recompensados quando lhes é atribuída confiança e, de forma sutil, quando são oferecidos treinamentos para a melhoria da sua capacidade produtiva. Outros tipos de incentivos estão nos próprios benefícios, sejam eles básicos, “assistência médica e odontológica, transporte, vale-alimentação, planos sociais”, ou extras, como planos de incentivo de produção, remuneração por tempo de casa. (CHIAVENATO, 2000) É um grande desafio motivar os empregados da última escala. Geralmente estes possuem baixo nível educacional, poucas habilidades e baixa produtividade. Porém, o foco principal está na remuneração. (MIRANDA, 2009) Sabe-se que muitas vezes os funcionários ficam esquecidos, mas é deles que as empresas dependem. Segundo aborda Gil (2001), na criação Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 23 Motivação Profissional Relacionada à Autoestima de uma “organização mais humanizada”, deve-se oferecer condições para que o funcionário sinta prazer em trabalhar, estimulando-o a fazer mais pela empresa. Um ambiente de trabalho adequado, um clima organizacional favorável, treinamentos, premiações e motivações são fatores que alimentam a qualidade de vida organizacional. A qualidade de vida pode representar o resgate da valorização e da humanização da pessoa no trabalho, integrando todos os fatores críticos determinantes de uma boa gestão de pessoas. (MARASEA; ANDRADE, 2006) Os seres humanos são impulsionados pelos seus desejos ou necessidades. Ganhar dinheiro, adquirir prestígio ou status são alguns alvos ou condições que irão satisfazer esses desejos (MARRAS, 2002). Para conseguir atingir um modelo de motivação eficaz, a organização deve interpretar as necessidades dos empregados. Segundo Malik (1998, p. 58), Um trabalhador absolutamente desmotivado numa dada unidade, ao mudar de local e de condições de trabalho, passa a fazer o que lhe é pedido na maioria das vezes. Motivação é algo que a organização espera a priori do trabalhador. Deve-se capacitar os colaboradores de modo a se ter cada vez mais pessoas preparadas para assumir responsabilidades e enfrentar desafios. Chiavenato (1982, p. 49) afirma que [...] a motivação funciona em termos de forças ativas e impulsionadoras, traduzidas como desejo e receio, o indivíduo deseja poder deseja status receia o ostracismo social, que nada mais é que o isolamento social rejeita ameaças de autoestima. Morgan (1996) sugere as seguintes medidas a serem usadas pelas empresas para atingir a motivação de seus colaboradores, no que tange à Teoria de Maslow: 1. Autorrealização: estímulo ao completo comprometimento, o trabalho como dimensão importante na vida do empregado. 2. Autoestima: cargos que permitam realização, autonomia e responsabilidade, e trabalho que valorize a identidade. 24 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Aline Onésia Pacheco # Dante Marciano Girardi # Juliana Pereira 3. Sociais: estímulos à interação com os colegas no trabalho, possibilidade de atividades sociais e esportivas, e reuniões sociais que ocorram fora da organização. 4. Segurança: seguro-saúde e planos de aposentadoria, segurança no trabalho, estabelecimento e divulgação do plano de carreira. 5. Fisiológicos: salário e benefício, segurança e condições agradáveis no trabalho. Para Marinho (2011), a satisfação está relacionada ao cargo e à atividade que o indivíduo desempenha; e a insatisfação está ligada aos benefícios dados pela empresa, à organização e às condições de trabalho, entre outros fatores de importância na busca da motivação, ou seja, fatores que interferem nos mecanismos da motivação: a) salários; b) autoestima e reconhecimento; c) relacionamento entre os colaboradores; d) promoções, treinamentos e capacitações; e) benefícios; f) segurança; g) condições de estrutura física e ferramentas nos locais de trabalho. Bergamini (1997, p. 189) explica que “[...] o trabalho desenvolvido pelas diferentes pessoas tem sentidos diferentes para cada uma delas, e, esse sentido parece ligado ao conjunto de suas necessidades motivacionais.” Entende-se que existem diversas formas de se chegar ao mesmo resultado, e isso vai depender da motivação intrínseca das pessoas, das necessidades individuais, dos conhecimentos, habilidades e experiências de cada um. 2.3. Motivação no Ambiente de Trabalho As empresas são sistemas complexos e dependem da força motivacional de seus funcionários para que o sucesso aconteça e as relações de poder se tornem mais intensas. (MARINHO, 2011) “O sistema, pois, a que damos o nome de organização, é um sistema composto das atividades dos seres humanos; o que faz dessas atividades um sistema é o fato de os esforços de diferentes pessoas serem coordenados.” (ZANELLI; BORGES-ANDRADE; BASTOS, 2004, p. 65). A presença do lí- Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 25 Motivação Profissional Relacionada à Autoestima der dentro de uma empresa tem papel importante no trabalho exercido pela organização para alcançar a motivação de sua equipe de trabalho. Ao líder cabe detectar as necessidades de cada empregador, no sentido de identificar a melhor forma de compor a motivação necessária para aperfeiçoar o desempenho individual e consequentemente de toda sua equipe. Para Chiavenato (1993, p. 147), “A liderança não deve ser confundida com direção ou com gerência. Um bom dirigente ou gerente deve ser necessariamente um bom líder”. O autor exemplifica a importância da liderança quando se trata de atingir metas, as quais devem ser hábeis para que tudo ocorra dentro do proposto. A liderança deverá ser a fonte motivadora de todo o processo na organização, pois o líder incentivador é um excelente instrumento para alavancar a motivação. A motivação na empresa é importante para todo o processo de trabalho, e cabe ao líder avaliar e criar ações que vão melhor se adaptar a cada realidade e, dessa forma, venham a desencadear o estímulo necessário para que seus funcionários possam atingir seus objetivos (MARINHO, 2011). Segundo o estudioso em motivação, Spector (2002, p. 85), O sistema de recompensas de uma organização repercute na motivação no trabalho quando os colaboradores são premiados de modo tangível (bônus em dinheiro, aumento salarial) ou intangível (elogio ou reconhecimento público) por terem praticado comportamentos considerados desejáveis para a organização. Já o sistema de punições tem como finalidade primordial suprimir comportamentos considerados indesejáveis (abandono, baixo desempenho) para o alcance dos objetivos organizacionais. Chiavenato (1993, p. 322) reforça que “[...] nenhuma organização pode funcionar sem certo nível de comprometimento e de esforço por parte dos membros”. Julga-se então que, para que a motivação seja fator de influência, é necessária a habilidade dos administradores para gerenciar seus recursos humanos, canalizando suas ações em prol da produtividade e da satisfação de ambas as partes. As organizações dependem de pessoas, e estas dependem daquelas. Segundo Malik (1998, p. 53), “[...] a motivação no setor público da saúde ainda é encarada como um problema intrínseco às pessoas.” Nota-se que não existe uma preocupação da organização em relação à motivação 26 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Aline Onésia Pacheco # Dante Marciano Girardi # Juliana Pereira dos funcionários da empresa nos serviços públicos, já que a considera alheia ao serviço. A hierarquia de motivos é usada como forma de serem julgados de acordo com o entendimento da gerência, dando a ideia de como atua o funcionalismo público, com suas gerências tradicionais, as quais não valorizam os servidores; e muitos de seus projetos humanísticos ainda estão aguardando a sua implementação. Os problemas de motivação nas empresas públicas estão no ambiente de trabalho, condições adequadas de trabalho, segurança, benefícios, bonificações, entre outros. Com isso ocorre uma grande dificuldade dos gestores em aplicar ferramentas que motivem os colaboradores e em melhorar seus desempenhos na produtividade. (MARINHO, 2011) 3 Metodologia Antes de este estudo ser iniciado, foi apresentada uma carta de autorização de pesquisa para a coordenação geral da Policlínica Municipal do Continente. Depois de ter sido autorizado e com base no seu objetivo, seguiu-se uma linha de pesquisa de campo de origem quantitativa através da aplicação de um questionário contendo seis questões fechadas de múltipla escolha, cada uma delas composta de cinco alternativas de escolha. Antes da entrega dos questionários, foi realizado um teste para serem previstos possíveis problemas ou dúvidas na sua utilização; e não se verificou problemas durante sua aplicação. Compuseram a amostra da pesquisa funcionários do quadro efetivo da Policlínica Municipal do Continente da Prefeitura Municipal de Florianópolis. Os questionários foram distribuídos na primeira semana de novembro de 2012, de forma aleatória, para diversos profissionais, entre eles, médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, dentistas, técnicos de higiene bucal e farmacêuticos. Dos 50 questionários distribuídos, 40 foram respondidos e entregues à pesquisadora para ser realizada a análise dos resultados. 4 Análise e Resultados Serão apresentados a seguir, em forma de gráficos, os dados referentes a cada uma das perguntas feitas durante a pesquisa de campo. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 27 Motivação Profissional Relacionada à Autoestima 1. Você se sente motivado para ir trabalhar? 2 Muito desmotivado 2 Desmotivado 12 Pouco Motivado 21 Motivado 3 Muito Motivado Gráfico 1: Motivação Fonte: Elaborado pela autora deste artigo O primeiro gráfico mostra que os funcionários da Policlínica Municipal do Continente estão motivados para ir trabalhar. A motivação no trabalho faz com que o funcionário consiga conduzir cada situação do dia a dia com a maior sutileza possível, pois ele tem argumentos para proteger seu ambiente de trabalho, visto por ele como aquele que lhe proporciona elementos que aumentam sua autoestima. A motivação para o trabalho é uma expressão que indica um estado psicológico de disposição ou vontade de prosseguir uma meta ou realizar uma tarefa. Dizer que uma pessoa está motivada para o trabalho significa dizer que uma pessoa apresenta disposição favorável ou positiva para realizar o trabalho (LOPES, 2003). A mesma autora coloca que é necessário que haja razão para haver motivação. Portanto, filosofias, metas e objetivos bem claros contribuem significativamente para o seu desenvolvimento e otimização de resultados. Funcionário motivado é produtivo, é aquele que está no lugar certo, ou seja, que ocupa uma função que é capaz de explorar e estimular sua potencialidade, bem como oferecer-lhe reconhecimento (através de um salário compatível, planos de crescimento, benefícios e, é claro, através de uma empresa que ressalte seu valor). O que motiva a grande maioria das pessoas são os desafios; estar querendo sempre se superar. A motivação é uma energia interna do indivíduo, o qual a aplica nas atividades que deseja. Ela surge das suas necessidades, dos seus instintos, do seu inconsciente, enfim, daquilo que nem mesmo ele sabe o que é e o que o move em busca de seus sonhos, dos seus desejos e dos seus objetivos. (GOMES, 2005) 28 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Aline Onésia Pacheco # Dante Marciano Girardi # Juliana Pereira 2. Qual é o seu grau de satisfação em relação à função que realiza nessa instituição? 1 Muito Insatisfeito 2 Insatisfeito 7 Pouco Satisfeito 24 Satisfeito 6 Muito Satisfeito Gráfico 2: Satisfação com a função exercida Fonte: Elaborado pela autora deste artigo No Gráfico 2, é possível verificar que os funcionários da Policlínica Municipal do Continente estão satisfeitos com a função que realizam na instituição, o que condiz com o Gráfico 1, pois, se estão motivados para ir trabalhar, com certeza estão satisfeitos com a função que exercem na empresa. Segundo Lopes (2003, p. 16), “O ambiente de trabalho dentro da empresa é um fator que afeta a satisfação no cargo e a produtividade. A empresa deve criar situações de trabalho conducentes ao aumento da satisfação humana”. A satisfação no trabalho é uma variável que reflete como o indivíduo se sente em relação ao trabalho em seus diferentes aspectos e, de forma geral, define, em termos simples, que satisfação no trabalho é o quanto as pessoas gostam do trabalho. Apesar da satisfação das pessoas de forma geral, isso não significa que elas estejam felizes com todos os seus aspectos (SPECTOR, 2003). O mesmo autor coloca ainda que a satisfação no trabalho é uma variável central de muitas teorias que lidam com os fenômenos organizacionais, tais como: a natureza do trabalho, a supervisão e o ambiente de trabalho. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 29 Motivação Profissional Relacionada à Autoestima 3. Como é o relacionamento com o seu gestor (coordenador)? 2 Muito Ruim 4 Ruim 14 Média 14 Boa 6 Muito Bom Gráfico 3: Relacionamento com o gestor Fonte: Elaborado pela autora deste artigo O Gráfico 3 apresenta que o relacionamento com o gestor na Policlínica Municipal do Continente está entre médio e bom, o que mostra que o processo de liderança está no caminho certo. O gestor está no comando e deve valorizar seus funcionários, pois é através deles que a empresa cresce, é valorizada, ou seja, é vista com outros olhos pela população. Uma característica fundamental do bom líder é que ele trabalha sempre em equipe. Um líder nunca trabalha sozinho, e sim em equipe; por isso o trabalho em conjunto faz com que todos alcancem um só objetivo, que é ver sua empresa crescer/brilhar. Segundo Girardi (2011, p. 70 apud VERGARA, 1999), “[...] um líder deve avaliar o ambiente externo, estar atento a mudanças, ter habilidades de esclarecer problemas e contribuir para a formação de valores voltados à satisfação das pessoas na organização”. Entre os maiores desafios do administrador estão: motivar as pessoas; fazê-las decididas, confiantes e comprometidas intimamente a alcançar os objetivos propostos; energizá-las e estimulá-las o suficiente para que sejam bem-sucedidas através do seu trabalho na organização. O conhecimento da motivação humana é indispensável para que o administrador possa realmente contar com a colaboração irrestrita das pessoas. (LOPES, 2003) 30 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Aline Onésia Pacheco # Dante Marciano Girardi # Juliana Pereira 4. Como é o relacionamento com sua equipe de modo geral? 1 Muito Ruim 0 Ruim 5 Média 16 Bom 18 Muito Bom Gráfico 4: Relacionamento com a equipe Fonte: Elaborado pela autora deste artigo No Gráfico 4, observa-se que há um relacionamento muito bom com a equipe de trabalho. Esse ponto de vista também é muito importante para que a motivação profissional esteja em alta, pois um bom relacionamento com a equipe é fundamental para o alcance dos objetivos em comum. O trabalho em equipe surge como uma estratégia para redesenhar o trabalho e promover a qualidade do serviço (PINHO, 2006). A mesma autora coloca que a equipe, por sua vez, orienta-se pelos esforços individuais que resultam em um nível de desempenho maior que a soma das entradas. Muitas pessoas, que atuam em diversas organizações, estão trabalhando em grupo e não em equipe, como se estivessem em uma linha de produção, na qual o trabalho é individual e cada um se preocupa em realizar apenas sua tarefa e pronto. No trabalho em equipe, cada membro sabe o que os outros estão fazendo e qual a sua importância para o sucesso da tarefa. Eles têm objetivos comuns e desenvolvem metas coletivas que tendem a ir além daquilo que foi determinado, pois, para ter uma equipe altamente eficaz, é necessário ter mais do que um grupo de pessoas, visto que o trabalho em equipe precisa ser planejado, elaborado. (SILVA, 1998) Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 31 Motivação Profissional Relacionada à Autoestima 5. Você acha que somente uma boa remuneração aumenta sua autoestima? 1 Nada 7 Muito Pouco 20 Mais ou Menos 9 Bastante 3 Extremamente Gráfico 5: Remuneração Fonte: Elaborado pela autora deste artigo O Gráfico 5 demonstra que nem sempre uma boa remuneração aumenta a autoestima dos funcionários da policlínica. Em algumas situações, na falta de motivação, pode ser produtivo introduzir ou melhorar o sistema de incentivos ou de remuneração. Atualmente, quando se fala em remunerar dentro das grandes organizações, não se pode simplesmente pensar em pagar um salário para um determinado cargo; deve-se lembrar que a remuneração estratégica deve ir ao encontro dos objetivos, necessidades, prioridades e valores da empresa, bem como dos profissionais que se quer reter ou atrair do mercado (LOPES, 2003). O salário por si só não representa um fator de motivação para a maioria dos entrevistados, pois é preciso levar em conta a carga horária, as condições oferecidas, o relacionamento multiprofissional, entre outros fatores. Para Araújo (2006), a remuneração é vista com enfoque contemporâneo, ou seja, foco na pessoa, no qual a remuneração é variável, podendo aumentar ou decrescer conforme o desempenho dos colaboradores ou o cumprimento de metas por parte deles. Podem-se elencar as seguintes medidas: • remuneração por habilidades: remuneram-se as pessoas com base naquilo que elas demonstram saber, no seu conhecimento e em suas multi-habilidades; • remuneração por competências: competência essencial (habilidades, conhecimentos, capacidades, características comportamentais e outros atributos que, quando equilibrados, predizem o desempenho superior); e 32 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Aline Onésia Pacheco # Dante Marciano Girardi # Juliana Pereira • remuneração por resultados: atendimento de metas (participação nos lucros ou resultados e participação acionária). Hoje, não basta o reajuste de salários; existem outros fatores que vieram contribuir para o contentamento e o progresso nos resultados do empregador e do empregado. Dentre essas exigências estão o reconhecimento profissional e as recompensas trabalhistas, sendo estes, a estratégia intencional utilizada como forma de vencer a desmotivação dos funcionários frente ao mercado concorrente, bem como agregar valores institucionais, profissionais e pessoais. (MOITINHO, 2011) 6. A instituição que você trabalha lhe oferece boas condições de trabalho para um melhor atendimento (ambiente, ergonomia, iluminação, limpeza etc)? 4 nada 12 Muito Pouco 10 Mais ou Menos 14 Bastante 0 Extremamente Gráfico 6: Boas condições de trabalho na instituição Fonte: Elaborado pela autora deste artigo No Gráfico 6, pode-se notar que a Policlínica Municipal do Continente oferece bastantes condições de trabalho para os seus funcionários. Passa-se a maior parte do dia no ambiente de trabalho, por isso cabe às instituições oferecerem um ambiente adequado a seus funcionários, diminuindo, assim, possíveis atestados devidos aos equipamentos inadequados para o uso, à má iluminação, à falta de limpeza, entre outros. As condições do ambiente influenciam no processo de trabalho e contribuem sobremaneira para determinar o processo de saúde-doença dos trabalhadores. Destacam-se como condições inadequadas de natureza física a temperatura, umidade, iluminação e audição; as de natureza química, a presença de substâncias nocivas que contaminam o meio ambiente; as de natureza biológica, os micro-organismos patogênicos, muito comuns no ambiente de atuação dos trabalhadores da saúde, os quais habitualmente alienam de si essa realidade. Considera-se ainda a presença de fatores ergonômicos relacionados ao trabalho em turnos, ao trabalho monótono e repetitivo e à Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 33 Motivação Profissional Relacionada à Autoestima adoção de posturas inadequadas; enfim, a uma série de condições que exigem muito esforço de adaptação do trabalhador e que, na maioria das vezes, são ignoradas pela empresa e pelo próprio trabalhador. (MAURO et al., 2010) 5 Considerações Finais Conclui-se que a instituição tem o foco direcional. A interpretação dessa experiência trouxe bons resultados e uma boa percepção perante o gestor. Este estudo mostra que não basta ser um gestor; este tem que analisar suas competências e habilidades de líder em motivar seus liderados, trazendo para a Policlínica Municipal do Continente funcionários motivados com o que fazem. A motivação profissional é um fator fundamental para as empresas, pois é através dela que os funcionários trabalham satisfeitos. A presença do líder dentro de uma empresa tem papel importante no trabalho exercido pela organização para alcançar a motivação de sua equipe de trabalho. Ao líder cabe identificar as necessidades de cada empregador, no sentido de identificar a melhor forma de compor a motivação necessária para aperfeiçoar o desempenho individual e consequentemente de toda sua equipe. A motivação, em muitas empresas, é vista como uma mola estimulada que contribui para a realização de um determinado desejo, sendo o motivo e a emoção o segredo do entusiasmo na realização de algum objetivo. (MARINHO, 2011) Considera-se então que as questões de satisfação e motivação no trabalho são ferramentas no contexto organizacional, pois diversas organizações buscam o seu uso com o intuito de que o trabalhador satisfeito sinta-se motivado e produza mais e com maior qualidade, colaborando para o crescimento da organização. (ANDRADE, 2010) Motivação é o que leva as pessoas a fazerem seu trabalho, porque elas querem fazer e não porque estão sendo bem remuneradas (MIRANDA, 2009), ou seja, somente uma boa remuneração não faz os funcionarios ficarem motivados, mas sim práticas e incentivos como: treinamentos, cursos, capacitações, remuneração, cargos e salários, condições de trabalho, um bom gestor, entre outros. Para que um funcionário se sinta motivado, basta ter o reconhecimento de suas tarefas realizadas, a valoriazação profissional sincera de um trabalho bem-sucedido, “um muito obrigado(a)”, “que bom que você veio”, “boas 34 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Aline Onésia Pacheco # Dante Marciano Girardi # Juliana Pereira férias”, “feliz aniversário”, entre outros, pois o reconhecimento é um dos mais poderosos fatores de motivação no trabalho. É possível avaliar, na institição pesquisada, que o papel do líder é tratado como fundamental nas ações motivacionais, devido aos funcionários terem um bom relacionamento com ele e com os membros de sua equipe e estarem motivados para irem trabalhar e satisfeitos com a função que realizam na empresa. Entretanto, há fatores que ainda devem ser discutidos, para que o grau de motivação seja ainda maior, como boas condições de trabalho para um melhor atendimento, como um comitê de ergonomia, capacitação para prevenção de problemas decorrentes dos riscos ocupacionais no trabalho, boa iluminação e capacitação dos servidores da limpeza, entre outros. É preciso um foco único em que todos serão beneficiados com suas próprias ações. Para isso se tornar possível, a equipe tem que estar coesa para o alcance de seus objetivos em comum, que é motivar para ser motivado. Referências ANDRADE, S. M. et al. 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No que tange à verificação da contribuição dos serviços de orientação terapêutica, foi levado a cabo um estudo tendo como sujeito a clientela do Grupo Terapêutico de Hipertensos de uma das equipes de Estratégia de Saúde da Família. A coleta de dados para o estudo foi efetuada por meio de uma entrevista estruturada, aplicada na clientela. A partir do resultado, foi possível observar que a satisfação da clientela do Grupo Terapêutico de Hipertensos foi unânime, o que gerou um feedback positivo para a Secretaria Municipal de Saúde, importante para a manutenção do Grupo Terapêutico. The present study constitutes an investigation that has qualitative and exploratory approach, which aims to verify the contribution of Therapeutic Orientation Services for Health Management conducted by Family Health Strategy Team 06 of the Municipality of Santo Amaro da Imperatriz, demonstrating also, how it is presented and structured and its operation in carrying out its purposes. Regarding the verification of the contribution of therapeutic orientation services, was carried out a study, taking as subject to the clientele of Hypertensive Therapeutic Group one of the teams of the Family Health Strategy. Data collection for the study was conducted using a structured interview, applied to the clientele. From the result, it was observed that clientele satisfaction with Hypertensive Therapeutic Group was unanimous, generating a positive feedback to the Department of Health, important for the maintenance of Therapeutic Group. Key words: Hypertension. Diabetes MelliPalavras-chave: Hipertensão Arterial Sis- tus. Therapeutic Groups. People Managetêmica. Diabetes Mellitus. Grupos Terapêu- ment. Administrative Structure. ticos. Gestão de Pessoas. Estrutura Administrativa. 1 Especializanda em Gestão da Saúde Pública. E-mail: [email protected]. Doutor em Administração pela Universidade de São Paulo (1998). E-mail: rogerionunes@ cse.ufsc.br. E-mail: [email protected]. 3 Mestranda do curso de Administração Universitária da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Formação Pedagógica para Atuação em EAD – UNOPAR. E-mail: mileide. [email protected]. 2 Arieli Schiessl Fialho # Rogério Nunes # Mileide Marlete Ferreira Leal Sabino 1 Introdução Os hábitos da sociedade moderna estão contribuindo para o aumento da incidência de doenças crônicas na população. Excesso de ingestão de gorduras, estilo de vida sedentário, fumo e estresse têm sido relacionados ao desenvolvimento de condições crônicas em indivíduos geneticamente susceptíveis. Cada fase da doença crônica traz um conjunto de problemas físicos, psicológicos e sociais. De acordo com Smeltezer e Bare (2000, p. 275) “[...] tem sido relatado que 34,2 milhões de pessoas têm limitações das atividades devido às condições crônicas de saúde”. As implicações da cronicidade são inúmeras e incluem: o controle da doença, o qual envolve mais do que controlar problemas médicos; condições crônicas podem passar por diferentes fases no curso da patologia; manter as condições crônicas sob o controle necessita de uma aderência ao regime terapêutico; a doença crônica pode levar a outras condições crônicas; patologias crônicas envolvem toda a família; familiares e portadores de doença crônica precisam assumir maiores responsabilidades no controle diário da enfermidade; entre outros. Viver permanentemente com sintomas pode levar a ajustes da identidade, necessidade de lidar com uma imagem corporal ou um estilo de vida alterado. (SMELTZER; BARE, 2000) Dentre as doenças crônicas, destacam-se a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), que é considerada um dos maiores problemas de saúde pública no Brasil, sendo responsável por 40% das mortes por acidente vascular encefálico e 25% das mortes por doença coronariana; sua prevalência em pessoas idosas é de 50% a 70% (BRASIL, 2006a); e cerca de 20% da população adulta desenvolve hipertensão (SMELTEZER; BARE, 2000). Outra doença crônica a destacar é o Diabetes Mellitus (DM) que, juntamente com a HAS, constitui importante fator de risco para doenças cardiovasculares. Nessa perspectiva, as Equipes de Estratégia de Saúde da Família (ESF) – devem ser estruturadas para desenvolver ações de prevenção a agravos causados por essas doenças, com vistas a proporcionar qualidade de vida. Uma dessas ações inclui os grupos de orientação terapêutica. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 41 Gestão da Saúde Pública no Município de Santo Amaro da Imperatriz/Santa Catarina: funcionamento, estrutura e contribuição dos serviços de orientação terapêutica da Equipe de Estratégia de Saúde da Família (ESF) Define-se grupo como a interação entre duas ou mais pessoas com propósitos comuns, as quais se influenciam mutuamente na construção de um viver mais saudável. Trabalhar com educação em saúde na Enfermagem através de grupos vem favorecendo resultados efetivos na produção de um viver com mais qualidade. A motivação pelo estudo partiu da necessidade de avaliar a efetividade e a adequação da estrutura e funcionamento do Grupo de Hipertensos e Diabéticos. Os encontros ocorrem mensalmente há três anos sob a responsabilidade da equipe de Estratégia de Saúde da Família 06, no município de Santo Amaro da Imperatriz. O município, de acordo com o IBGE (2010), tem uma população de 19.823 habitantes e conta com sete equipes de Estratégia de Saúde da Família, estando na iminência da implantação da 8ª equipe. 2.934 habitantes são atendidos pela equipe 06, e destes, 378 estão cadastrados como hipertensos e 78 como diabéticos. (BRASIL, 2001) Diante dessa realidade, este estudo tem como pergunta de pesquisa: Qual a contribuição dos serviços de orientação terapêutica – considerando-se sua atual estrutura administrativa – para a Gestão da Saúde realizados pela equipe de Estratégia de Saúde da Família no Município de Santo Amaro da Imperatriz (SC)? Como objetivos específicos, tem-se: • descrever a estrutura e o funcionamento da equipe de Estratégia de Saúde da Família 06; • verificar a satisfação da população atendida quanto à organização dos grupos terapêuticos a partir das respostas obtidas no questionário aplicado; • analisar os resultados obtidos e a contribuição para a Gestão da Saúde no município de Santo Amaro da Imperatriz/SC; • avaliar a potencialidade da Secretaria Municipal de Saúde em manter a oferta à população dos grupos de orientação terapêutica. 42 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Arieli Schiessl Fialho # Rogério Nunes # Mileide Marlete Ferreira Leal Sabino 2 Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) A HAS é considerada uma doença crônica, não transmissível, na maioria das vezes assintomática, que altera o equilíbrio dos mecanismos vasodilatadores e vasoconstritores ocasionando um aumento da tensão sanguínea, comprometendo a irrigação tecidual e provocando danos aos órgãos por eles irrigados. (BRASIL, 2002a) De acordo com Smeltzer e Bare (2000, p. 641), a hipertensão define-se como: [...] a presença de um nível persistente de pressão arterial em que a pressão sistólica se encontra acima de 140 mmHg e pressão diastólica acima de 90 mmHg. Na população idosa a hipertensão é definida como pressão sistólica acima de 160 mmHg e pressão diastólica acima de 90 mmHg. O Ministério da Saúde (BRASIL, 2001) acrescenta que o limite escolhido para definir a HAS é de 140/90 mmHg em indivíduos que não estão fazendo uso de medicação anti-hipertensiva; e classifica o diagnóstico da hipertensão arterial em maiores de 18 anos da seguinte maneira: Pressão arterial diastólica(mmHg) Pressão arterial sistólica (mmHg) < 85 85 – 89 90 – 99 100 – 109 < 130 130 – 139 140 – 159 160 – 179 ≥ 110 < 90 ≥ 180 ≥ 140 Classificação Normal Normal limítrofe Hipertensão leve (estágio 1) Hipertensão moderada (estágio 2) Hipertensão grave (estágio 3) Hipertensão sistólica (isolada) Fonte: Ministério da Saúde (2001, p. 15) O principal risco é a lesão vascular em que as artérias modificam sua geometria, desde a diminuição da luz do vaso e espessamento das paredes até a ruptura, ocasionando lesões no coração, rins e cérebro. (BRASIL, 2001) Quanto à sua etiologia, a HAS pode ser classificada de duas maneiras: a hipertensão essencial ou primária, a qual não tem uma causa clínica identificável, Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 43 Gestão da Saúde Pública no Município de Santo Amaro da Imperatriz/Santa Catarina: funcionamento, estrutura e contribuição dos serviços de orientação terapêutica da Equipe de Estratégia de Saúde da Família (ESF) inicia, geralmente, em indivíduos de 30 a 50 anos de idade, às vezes aparecendo de modo abrupto e grave, com evolução acelerada, deteriorando rapidamente as condições de saúde do cliente; e a hipertensão secundária, recorrente de causas específicas, como o estreitamento das artérias renais, alguns fármacos, disfunções orgânicas, gravidez e tumores, entre outros. (SMELTEZER; BARE, 2000) Muitas pessoas portadoras de HAS são assintomáticas. Por essa razão, ela também é conhecida como assassina silenciosa. Os sintomas, quando ocorrem, podem manifestar-se com sinais de sofrimento cerebral, como: cefaleia, vômito, náusea, vertigem, formigamento nos membros superiores e inferiores, entre outros (MALTASE, 19--?). Essa falta de sintomas pode fazer com que o paciente não se lembre de tomar a sua medicação ou até mesmo questione a sua necessidade, o que pode levar a complicações. Para uma avaliação diagnóstica é necessária uma boa anamnese do paciente, investigando sobre a presença de algum vício (fumo, bebida alcoólica), os hábitos alimentares, a prática de exercícios físicos, sinais e sintomas sugestivos de lesão em órgãos-alvos, utilização de medicamentos, histórico familiar, entre outros; e um exame físico meticuloso em que devem ser avaliados os pulsos carotídeos e o pulso dos 4 membros, o índice de massa corporal, o estado neurológico do fundo-de-olho, o abdome pela palpação e ausculta, avaliação laboratorial, etc. (BRASIL, 2001) O tratamento pode ser medicamentoso, com o uso de drogas anti-hipertensivas como diuréticos, betabloqueadores, inibidores dos canais de cálcio, dentre outros; e não medicamentoso, com a redução dos fatores de risco. Porém, para que haja um impacto no tratamento da doença hipertensiva, há necessidade de conscientização do paciente e de seus familiares sobre a importância da mudança de hábitos de vida. Para a redução da morbidade e da mortalidade cardiovascular do indivíduo hipertenso. (BRASIL, 2006c) A escolha do medicamento ideal é individual e nem sempre ocorre na primeira tentativa. Os clientes em tratamento medicamentoso devem ter acompanhamentos mensais até que a pressão arterial normalize e se ajuste ao esquema terapêutico. 44 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Arieli Schiessl Fialho # Rogério Nunes # Mileide Marlete Ferreira Leal Sabino 3 Diabetes Mellitus (DM) O diabetes é comum e sua incidência é crescente. De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2006b, p. 9): [...] no Brasil, no final da década de 1980, estimou-se que o diabetes ocorria em cerca de 8% da população, de 30 a 69 anos de idade, residente em áreas metropolitanas brasileiras. Em 2006, estimava-se 11% da população igual ou superior a 40 anos. O diabetes apresenta alta morbi-mortalidade, com perda importante na qualidade de vida. É uma das principais causas de mortalidade, insuficiência renal, amputação de membros inferiores, cegueira e doença cardiovascular. Smeltezer e Bare (2000 p. 874) definem Diabetes Mellitus como: “[...] um grupo de distúrbios heterogêneos caracterizados por níveis elevados de glicose no sangue.” Esse aumento acontece em decorrência da falta ou má absorção de insulina, hormônio produzido pelo pâncreas e cuja função é quebrar as moléculas de glicose para transformá-las em energia, a fim de que seja aproveitada por todas as células. A ausência total ou parcial desse hormônio interfere não só na queima do açúcar como na sua transformação em outras substâncias (proteínas, músculos e gordura). Ainda, de acordo com Smeltezer e Bare (2000), é possível classificar o diabetes como: a) Diabetes tipo I – o pâncreas produz pouca ou nenhuma insulina. A instalação da doença ocorre mais na infância e adolescência e é insulinodependente, isto é, exige a aplicação de injeções diárias de insulina; b) Diabetes tipo II – as células são resistentes à ação da insulina. A incidência da doença que pode não ser insulinodependente, em geral, acomete as pessoas depois dos 40 anos de idade; c) Diabetes gestacional – ocorre durante a gravidez e, na maior parte dos casos, é provocado pelo aumento excessivo de peso da mãe; e d) Diabetes associados a outras patologias como as pancreatites alcoólicas e o uso de certos medicamentos etc. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 45 Gestão da Saúde Pública no Município de Santo Amaro da Imperatriz/Santa Catarina: funcionamento, estrutura e contribuição dos serviços de orientação terapêutica da Equipe de Estratégia de Saúde da Família (ESF) Os tipos de diabetes mais frequentes são o tipo 1, anteriormente conhecido como diabetes juvenil, que compreende cerca de 10% do total de casos, e o tipo 2, antes designado como diabetes do adulto, que compreende cerca de 90% do total de casos. (BRASIL, 2006a) É possível citar como fatores de risco para o diabetes tipo 2: • obesidade; • idade superior a 45 anos; • antecedente familiar de diabetes (pai, mãe); • hipertensão arterial sistêmica; e • dislipidemias, entre outros. O plano terapêutico varia de acordo com o tipo de diabetes adquirido, incluindo cuidados com a alimentação, atividade física, hipoglicemiantes orais e injetáveis. 4 Qualidade de Vida Cada vez mais o conceito de qualidade de vida vem adquirindo maior importância e sendo amplamente discutido. Com a tecnologia atual e os avanços da medicina, criou-se a falsa expectativa de que a cura das doenças ou tratamentos eficientes e definitivos seria uma realidade; porém, é cada vez mais evidente que muitas das doenças são crônicas, não havendo cura e, mesmo que tratamentos eficientes estejam disponíveis, os indivíduos estão convivendo com a doença por longos períodos. Nessa perspectiva Cerqueira e Crepaldi (2000, p. 207) afirmam que: [...] muito se avançou em tratamentos capazes, sobretudo, de prolongar a vida. Porém, percebeu-se que aumentou quantitativamente a sobrevida dos clientes, mas nem sempre produziu um impacto qualitativo que garantisse uma recuperação significativa do seu estado físico, emocional e social. Assim, medir esse impacto passou a ser importante na seleção de tratamentos mais efetivos e, portanto, na distribuição de recursos e implementação de programas de saúde. 46 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Arieli Schiessl Fialho # Rogério Nunes # Mileide Marlete Ferreira Leal Sabino Nas últimas décadas, com o aumento da expectativa de vida e, consequentemente, da prevalência de doenças crônico-degenerativas, houve a emergência do conceito de qualidade de vida relacionado à saúde. A qualidade de vida pode sofrer alterações culturais, éticas e religiosas, bem como os valores e percepções pessoais. Assim, tal conceito é muito complexo e de difícil avaliação. Em 1984, Calmam (apud SOUZA; JARDIM; JONES, 2000, p. 1) diz que a qualidade de vida significa “[...] a diferença entre o que é desejado na vida do indivíduo e o que é alcançável ou não”. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (apud SAUPE; BROCA, 2004, p. 102), qualidade de vida é definida como “[...] a percepção de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. Nessa perspectiva, percebe-se que todos os indivíduos têm conceitos diferentes sobre o que é qualidade de vida, ou seja, são influenciados pelas suas crenças, valores, condições sociais e culturais. A qualidade de vida implica avaliação dos componentes do contexto em que vive o indivíduo, variando de indivíduo para indivíduo, de cultura para cultura, dependendo de suas crenças e valores. Na visão de Santos et al. (2002, p. 758) “[...] o conceito de qualidade de vida varia de acordo com a visão de mundo de cada indivíduo. Para alguns, ela é considerada unidirecional; enquanto, para outros, ela é considerada como multidirecional”. O reconhecimento da importância do autocuidado e o recebimento de orientações através da equipe de saúde são fatores determinantes para a adesão às propostas terapêuticas por parte dos clientes. (CERQUEIRA; CREPALDI, 2000) A qualidade de vida é vista através da qualidade de saúde, suas possibilidades e limitações individuais e coletivas, e da satisfação de necessidades como ter comida, trabalho, lazer, interação social, educação, dentre outras. (PADILHA; SOUZA, 1999) É importante salientar que valores não materiais, como amor, liberdade, solidariedade e realização profissional, também fazem parte da qualidade de vida como elementos próprios da vida subjetiva e das relações. (DRUCK, 2002) Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 47 Gestão da Saúde Pública no Município de Santo Amaro da Imperatriz/Santa Catarina: funcionamento, estrutura e contribuição dos serviços de orientação terapêutica da Equipe de Estratégia de Saúde da Família (ESF) 5 Promoção da Saúde no Município de Santo Amaro da Imperatriz (SC) – Grupos Terapêuticos A Promoção da Saúde é uma das estratégias do setor para buscar a melhoria da qualidade de vida da população. Seu objetivo é produzir a gestão compartilhada entre usuários, movimentos sociais e de trabalhadores do setor sanitário e de outros setores, produzindo autonomia e corresponsabilidade. Para o Ministério da Saúde (BRASIL, 2002a, p. 19): [...] promoção da saúde é o nome dado ao processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo maior participação no controle desse processo. Para atingir um estado de completo bem-estar físico, mental e social os indivíduos e grupos devem saber identificar aspirações, satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o meio ambiente. A saúde deve ser vista como um recurso para a vida, e não como objetivo de viver. Uma das maneiras de se promover a saúde é através de grupos terapêuticos. Para contextualizar essa temática, é preciso conhecer a acepção da palavra grupo, que, segundo a visão de Pichon-Riviéri (2000 apud RIBEIRO, 2010 p. 7), “[...] é um conjunto de pessoas interagindo em tempo e espaço, articuladas por sua mútua representação interna, propõe-se explícita ou implicitamente a uma tarefa, que constitui sua finalidade”. Os grupos terapêuticos visam fundamentalmente à melhoria de alguma situação de patologia dos indivíduos. Para a realização dos grupos terapêuticos, é preciso levar em consideração as funções da administração, que, segundo Lacombe (2004 apud MORETTO NETO, 2012), são: planejamento, organização, coordenação de recursos humanos e liderança (direção) e controle. De acordo com Escóssia (2010) “[...] de forma genérica, o planejamento é a definição de um futuro desejado e de meios para alcançá-lo”. Planejar significa pensar no futuro, olhar para a frente, definir objetivos e elaborar planos para atingir o resultado esperado. (CHIAVENATO, 2008) 48 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Arieli Schiessl Fialho # Rogério Nunes # Mileide Marlete Ferreira Leal Sabino Dessa maneira, para o sucesso dos encontros depende-se de uma série de fatores, os quais incluem o planejamento, a gestão dos recursos materiais, financeiros e humanos disponíveis e a gestão da saúde. Foram realizadas reuniões de equipe, ocasião em que se definiu local, data e assuntos a serem tratados, materiais necessários e a responsabilidade de cada profissional. Para o ano de 2012, o local definido foi as dependências da Igreja São Francisco, no município de Santo Amaro da Imperatriz; e quanto à data e horário, foram fixadas a última quarta-feira de cada mês às 14 horas. A Secretaria Municipal de Saúde promove a publicidade do evento, anunciando-o na mídia local, escrita e rádio, nos cultos religiosos e enviando bilhetes encaminhados pelos Agentes Comunitários de Saúde às residências dos munícipes. Também disponibiliza veículo e motorista e autoriza a compra de lanches para os encontros, desde que solicitados com antecipação. Quanto aos assuntos tratados, eles têm relação com as patologias dos participantes, discutidas através de palestras ministradas pelo profissional de saúde e de trocas de experiências entre os membros do grupo. No que tange às organizações, Chiavenato (2008, p. 358) explica que organização formal é aquela “[...] a organização baseada em uma divisão racional do trabalho, na diferenciação e integração dos seus órgão”; e estrutura organizacional é, para o mesmo autor, “[...] a maneira pela qual as atividades da organização são divididas, organizadas e coordenadas”. Nesse sentido, a estrutura organizacional funciona como o esqueleto da organização e costuma-se apresenta-la de modo estático, referindo-se aos órgãos e equipes, como, por exemplo, as equipes da Estratégia de Saúde da Família (ESF) do município de Santo Amaro da Imperatriz. A divisão do trabalho nas equipes de ESF do município de Santo Amaro da Imperatriz para a execução das tarefas relacionadas aos grupos de orientação terapêutica traz como vantagem maior especialização e responsabilização dos atores. Trata-se de técnica administrativa em que as tarefas organizacionais são divididas e fragmentadas entre os colaboradores. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 49 Gestão da Saúde Pública no Município de Santo Amaro da Imperatriz/Santa Catarina: funcionamento, estrutura e contribuição dos serviços de orientação terapêutica da Equipe de Estratégia de Saúde da Família (ESF) A estrutura organizacional das equipes que executam os grupos de orientação terapêutica possui três níveis administrativos: i) colaboradores; ii) coordenador da equipe; e iii) coordenador-geral de todas as equipes. Essa estrutura administrativa larga tende a produzir estruturas organizacionais achatadas ou mais horizontalizadas, o que traz como vantagem, segundo Krausz (1991, p. 90): [...] uma distribuição mais equitativa do poder contextual, tendendo a diminuir a distância social entre a cúpula e base e facilitando o fluxo dos atos influenciais em todas as direções. As pessoas são encorajadas a pensar, assumir responsabilidades, tomar decisões, solicitar recursos para atingir os objetivos da empresa, reivindicar espaço para ações autônomas, criar, transformar, inovar, desenvolver parcerias, crescer como profissionais e como pessoas. A direção das equipes, inserida na função administrativa que envolve liderança e coordenação de recursos humanos, interpreta os objetivos do que foi planejado e dá conhecimento por meio de comunicação formal e informal, aos membros colaboradores, motivando-os e orientando-os aos objetivos propostos. Assim, sempre nos períodos que antecedem os encontros dos grupos terapêuticos, reuniões são realizadas entre os membros da equipe, a fim de demonstrar os objetivos a serem alcançados, a metodologia e a dinâmica do trabalho, definir as atribuições de cada membro e, por fim, o esclarecer de dúvidas que porventura surjam. Portanto, para que um programa como o dos grupos de orientação terapêutica funcione adequadamente, ele necessita de direção, de liderança. A direção constitui a terceira etapa do processo administrativo, após o planejamento e a organização. Para Marques (2010, p. 221), discorrendo sobre o tema, a direção é a função administrativa mais importante: [...] direção é a função administrativa que conduz e coordena o pessoal na execução das atividades planejadas e organizadas. Significa orientar e coordenar o trabalho dos subordinados. No 50 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Arieli Schiessl Fialho # Rogério Nunes # Mileide Marlete Ferreira Leal Sabino fundo, dirigir significa interpretar os objetivos e os planos para os outros e dar as instruções sobre como executá-los; trata-se de atuar diretamente sobre pessoas para conseguir que executem suas atividades. A importância da direção está em que nada adianta um bom planejamento e uma boa organização se as pessoas trabalham sem uma orientação e coordenação adequada. Daí a direção ser considerada a mais importante das funções administrativas, a essência do trabalho do bom administrador. Dentro dos estilos de direção constantes das teorias administrativas, a coordenação-geral tem adotado uma postura mais voltada para a participação, liberdade e responsabilidade dos colaboradores pela execução das tarefas relacionadas aos grupos de orientação terapêutica, tratando-os com respeito, confiança e oportunizando maior participação. Assim, acredita-se que há uma adequação do estilo de direção à Teoria Y, de Douglas McGregor, a qual considera, antagonicamente à Teoria X (Teoria desenvolvida por Douglas McGregor, descrita em sua obra The Human Side Entreprise, segundo a qual o administrador tende a dirigir e controlar os subordinados de maneira rígida e intensiva, fiscalizando seu trabalho, pois acha que as pessoas são passivas, indolentes, relutantes e sem qualquer iniciativa pessoal), segundo Chiavenato (2008, p. 369), que: [...] o administrador que pensa e age de acordo com a Teoria Y tende a dirigir as pessoas com maior participação, liberdade e responsabilidade no trabalho, pois acha que elas são aplicadas, gostam de trabalhar e têm iniciativa própria. Tende a delegar e ouvir opiniões, pois acha que as pessoas são criativas e engenhosas. [...] Esse estilo de administrar tende a criar um ambiente democrático de trabalho e oportunidades para que as pessoas possam satisfazer suas necessidades pessoais mais elevadas através do alcance dos objetivos organizacionais. [...] A ação impulsionadora do administrador provoca uma reação empreendedora das pessoas. Quanto mais ele impulsiona, mais elas tendem a tomar iniciativa e responsabilidade no trabalho. O controle realizado pela coordenação do programa se baseia no monitoramento e avaliação das atividades desenvolvidas e dos resultados alcançados. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 51 Gestão da Saúde Pública no Município de Santo Amaro da Imperatriz/Santa Catarina: funcionamento, estrutura e contribuição dos serviços de orientação terapêutica da Equipe de Estratégia de Saúde da Família (ESF) De acordo com Andrade e Amboni (2010, p. 238), [...] o controle como função administrativa tem por objetivo medir e avaliar o desempenho da organização, visando ao estabelecimento de ações corretivas, quando necessário para assegurar a eficiência e eficácia da organização. Nessa senda, além das reuniões de avaliação, onde é discutida a demanda pela prestação do serviço, a partir da presença da clientela nos grupos, uma dinâmica de avaliação de desempenho do grupo e individual é realizada, na qual todos os componentes têm direito à palavra. Segundo Freitas (2012, p. 36), “[...] a avaliação de desempenho pode servir a vários propósitos, dentre eles avaliar o atingimento de objetivos e também avaliar as competências dos funcionários”. Ainda sobre a avaliação de desempenho, Robbins (apud FREITAS, 2012, p. 36), afirma que: [...] um dos propósitos da avaliação de desempenho é ajudar os dirigentes a tomar decisões sobre promoções, transferências e demissões. Além disso, identificar as habilidades e competências dos funcionários para os quais podem ser desenvolvidos programas de melhoria. Finalmente, fornecer feedback aos funcionários sobre como a organização vê seu trabalho e utilizá-lo para alocação de recompensas, incluindo aumentos salariais. Uma das ferramentas utilizadas pela coordenação do projeto para avaliar o desempenho do programa, a fim de obter respaldo para a execução da função administrativa do controle, foi a realização de uma pesquisa, a partir da aplicação de um questionário estruturado à clientela, no qual foram colocadas questões que permitissem a avaliação da satisfação dela – razão maior da existência do próprio programa, o qual será objeto de discussão a seguir. 52 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Arieli Schiessl Fialho # Rogério Nunes # Mileide Marlete Ferreira Leal Sabino 6 Metodologia da Pesquisa de Satisfação da Clientela em Face dos Trabalhos de Orientação Terapêutica A metodologia é o caminho percorrido pelo pesquisador para desvendar um problema. Dessa forma, o tipo de estudo para a realização da pesquisa depende do objetivo do pesquisador. Neste estudo, foi utilizada a abordagem qualitativa e exploratória. Sobre o estudo qualitativo Minayo (1994, p. 21) diz que: [...] a pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa nas ciências sociais, com o nível de realidade que não pode ser quantificado, ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos a operacionalização de variáveis. A autora considera a pesquisa como norteadora de uma função social, pois se aprofunda no mundo dos significados das ações e relações humanas, prevendo a construção de um conhecimento que vai intervir no mundo em que se vive. O objetivo da pesquisa exploratória é proporcionar maior familiaridade com o problema, para torná-lo mais explícito ou construir hipóteses. Para Gil (2002, p. 41) [...] o objetivo principal é o aprimoramento de idéias ou a descoberta de intuições. Seu planejamento é, portanto, bem flexível, de modo que possibilite considerações dos mais variados aspectos relativos ao fato estudado. O estudo foi realizado na Equipe de Estratégia de Saúde da Família 06, que tem como área de abrangência os bairros: São Francisco, Varginha e Sítio de Dentro, somando um total de 848 famílias, com 2.934 habitantes, pertencentes ao município de Santo Amaro da Imperatriz (SC). A equipe é composta por um médico clínico-geral, um enfermeiro, dois técnicos de enfermagem e seis agentes comunitários de saúde. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 53 Gestão da Saúde Pública no Município de Santo Amaro da Imperatriz/Santa Catarina: funcionamento, estrutura e contribuição dos serviços de orientação terapêutica da Equipe de Estratégia de Saúde da Família (ESF) A equipe de Estratégia de Saúde da Família deve ser composta no mínimo por um médico, um enfermeiro, um auxiliar ou um técnico de enfermagem e, ainda, por um agente comunitário de saúde; e todos devem cumprir a jornada de trabalho de 40 horas semanais. Cada equipe deve ser responsável por no máximo 4.000 habitantes e cada agente comunitário de saúde por no máximo 750 pessoas. (BRASIL, 2006b) Os grupos de hipertensos e diabéticos acontecem, mensalmente, há três anos, nas dependências da Gruta do bairro da Varginha e da Igreja São Francisco. Nesse último ano, ocorre somente na Igreja São Francisco, devido a reformas na Gruta do bairro da Varginha, e os participantes moradores da localidade da Varginha, que varia entre quatro a cinco, são transportados por um veículo da Secretaria Municipal de Saúde até o local dos encontros. O número total de participantes varia entre 15 a 25 e, destes, 16 aceitaram participar da pesquisa. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevista com a aplicação de questões, as quais englobavam assuntos como: qualidade de vida, temas e importância dos encontros, multiplicação do conhecimento, dentre outros. Compuseram a amostra 16 clientes, maiores de dezoito anos, de ambos os sexos, que aceitaram participar do estudo. Todos os convidados a participar foram informados que os dados seriam sigilosos, garantindo o anonimato, mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. 7 Apresentação e Análise dos Dados Dos 16 clientes participantes, seis são portadores de Diabetes mellitus e 14 são portadores de hipertensão arterial sistêmica. Quando questionados se a participação nos grupos melhorou a sua qualidade de vida, 16 participantes responderam que sim. Destes, 10 consideraram sua qualidade de vida como sendo boa e seis a consideraram razoável, podendo melhorar. Assim como os 16 participantes acham os temas tratados nos encontros interessantes, também acreditam que a realização dos grupos é importante e que a frequência dos encontros é satisfatória. 54 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Arieli Schiessl Fialho # Rogério Nunes # Mileide Marlete Ferreira Leal Sabino Os resultados demonstraram que 15 dos participantes multiplicam o conhecimento adquirido nos encontros; e 12 participantes não sugeriram melhorias para o encontro ou algum assunto a ser tratado. Dentre as sugestões, destacam-se estas: aumentar o número de participantes, realizar atividades físicas, realizar mais dinâmicas, tratar de assuntos como problemas nos ossos, coluna e osteoporose. 8 Possibilidade de a Secretaria Municipal de Saúde Manter a Oferta à População dos Grupos Terapêuticos A Secretaria Municipal de Saúde do Município de Santo Amaro da Imperatriz colabora nos aspectos condizentes às atividades de promoção à saúde, mormente no que diz respeito a recursos financeiros, técnicos e logísticos. As equipes procuram se organizar de maneira a não interferir nas rotinas das Unidades de Saúde. Caso se mantenha o incentivo por parte da Secretaria Municipal de Saúde, disponibilizando os recursos anteriormente citados, com a aceitação do público em face do programa, conforme dados da pesquisa, e com a organização das equipes, é possível inferir que há condições de manter a oferta à população dos grupos de orientação terapêutica. 9 Resultados Obtidos e a Contribuição para a Gestão da Saúde no Município de Santo Amaro da Imperatriz/SC Os mecanismos garantidores do funcionamento do Sistema Único de Saúde (SUS) são denominados pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2002b, p. 5) como “instrumentos de gestão em saúde”, o qual acrescenta ainda que: [...] a gestão do SUS é de responsabilidade da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, que, por meio de seus órgãos gestores, utilizam vários instrumentos de gestão, objetivando garantir e aperfeiçoar o funcionamento do sistema de saúde. Há, portanto, Instrumentos de Gestão em Saúde locais, específicos Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 55 Gestão da Saúde Pública no Município de Santo Amaro da Imperatriz/Santa Catarina: funcionamento, estrutura e contribuição dos serviços de orientação terapêutica da Equipe de Estratégia de Saúde da Família (ESF) de cada município, ou de cada Estado, do Distrito Federal ou da União. Há outros, todavia, que coexistem e concorrem para a articulação das três esferas gestoras do SUS, garantindo o funcionamento de um sistema de saúde nacional. É possível perceber pelo resultado da pesquisa que a satisfação dos participantes nos encontros é unânime, o que nos leva a concluir que o projeto é bem encaminhado pela Secretaria Municipal da Saúde, tanto em termos da gestão da organização quanto em termos de gestão do pessoal integrante dos grupos. 10 Considerações Finais Durante o período em que foi desenvolvido o estudo, surgiram dificuldades, facilidades e desafios para o alcance dos objetivos que contribuíram no nosso aperfeiçoamento como seres humanos. Dentre as facilidades, os clientes entrevistados foram simpáticos ao estudo, procuraram colaborar e prontamente se dispuseram a dar seus depoimentos; e também foi recebido total apoio da Secretaria de Saúde do Município. Com este estudo pode-se concluir que a promoção em saúde, principalmente através dos grupos terapêuticos, é de suma importância para melhorar a qualidade de vida de pacientes portadores de doenças crônicas. Acredita-se na contribuição deste estudo para a Secretaria Municipal de Saúde e para nós, profissionais da área da saúde. Passa-se a refletir sobre a importância das ações de educação em saúde, compreendendo que não basta a preocupação somente com a saúde curativa, mas, sim, com a criação de atitude no que diz respeito à promoção da saúde, ao processo educativo e ao diálogo entre pessoas iguais, sempre mantendo o respeito, especialmente como defende Freire (2003), para quem ensinar exige respeito aos saberes dos educandos. Acredita-se, também, que este estudo tornar-se-á uma fonte importante para as decisões políticas em relação à Saúde do Município de Santo Amaro da Imperatriz, em especial, no que se refere à realização de grupos terapêuticos, com toda a organização, planejamento, desenvolvimento e controle. 56 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Arieli Schiessl Fialho # Rogério Nunes # Mileide Marlete Ferreira Leal Sabino Referências ANDRADE, Rui Otávio Bernardes de; AMBONI, Nério. Estratégias de gestão: processos e funções do administrador. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. BRASIL. Portaria n. 648/GM, de 28 de março de 2006a. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica para o Programa Saúde da Família (PSF) e o Programa Agentes Comunitários de Saúde. Disponível em: <http:// dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port2006/GM/GM-648.htm>. Acesso em: 21 nov. 2012. ______. Ministério da Saúde. 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Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 57 Gestão da Saúde Pública no Município de Santo Amaro da Imperatriz/Santa Catarina: funcionamento, estrutura e contribuição dos serviços de orientação terapêutica da Equipe de Estratégia de Saúde da Família (ESF) CERQUEIRA, A. T. A. R.; CREPALDI, A. L. Qualidade de vida em doenças crônicas: aspectos conceituais e metodológicos. Jornal de Pneumologia, Brasília, DF, 2000. CHIAVENATO, Idalberto. Administração geral e pública. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. DRUCK, M. C. O dito e o escrito sobre qualidade de vida no trabalho do enfermeiro - tendências e versões. 149 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem). Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2002. ESCÓSSIA, Carlos. O que é planejamento. Rio Grande do Norte. Fevereiro de 2010. Disponível em: <http://www.carlosescossia.com/2010/02/carlosescossia-de-forma-generica-o.html>. Acesso em: 28 set. 2012. 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A avaliação, a administração e a coordenação geral das filas parece ser um caminho a ser seguido. Além disso, o aumento da resolutividade dos casos no atendimento na atenção primária é uma excelente alternativa para contribuir para o processo de redução das filas. O matriciamento está sendo cada vez mais consolidado como uma ferramenta para aumentar a capacidade de atendimento nas Unidades Básicas de Saúde. This paper is a review of literature on the formation of queues in attendance at medium complexity in Health System, primarily in specialty Endodontics Center Dental Specialties. Queues are routine processes in everyday life and generate lower quality of care. The cost to maintain the queue is very high and may cause harm to the health of the system user. Facing this problem is extremely relevant deepen knowledge about this subject and observe the solutions proposed so far, and devise new projects. The assessment, management and overall coordination of the queue seems to be a path to be followed, since the intervention in queues have shown promising results. Furthermore, the increase in attendance in solving cases in primary care is a great alternative to contribute to the process of reducing queues. The matricial is being increasingly consolidated as a tool to increase service capacity in the Basic Health. Key words: Queues Theory. Healthy SysPalavras-chave: Teoria das Filas. Sistema tem. Endodontics. Único de Saúde. Endodontia. 1 Graduada em Odontologia pela Universidade Estadual Paulista – Araraquara (2002). Especialista em Endodontia pela Associação Brasileira de Ensino Odontológico – São Paulo (2004). E-mail: [email protected]. 2 Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2004). E-mail: [email protected]. 3 Especialista em Gestão de Pessoas nas Organizações e Bacharel em Administração pela Universidade Federal Santa Catarina (UFSC). E-mail: [email protected]. Teoria das Filas Aplicada ao Atendimento na Média Complexidade no Sistema Único de Saúde com Enfoque na Especialidade Endodontia: uma revisão de literatura 1 Introdução Apesar de a saúde bucal ter importância reconhecida, uma grande parcela da população brasileira não tem acesso a serviços odontológicos. “No Brasil, cerca de 50 % da população tem acesso frequente à assistência Odontológica, 30% possui acesso irregular e 20% nunca foram ao cirurgião dentista”. (SHIROTA, 2011, p. 414) No âmbito do sistema brasileiro público de saúde, em 2004, foi formulada a atual Política Nacional de Saúde Bucal (PNSB) que tem entre outros objetivos, a ampliação do acesso à atenção especializada através dos Centros de Especialidades Odontológicas (CEOs) e Laboratórios Regionais de Próteses Dentárias. (PUCCA, 2009, p. 9-16) Os Centros de Especialidades Odontológicas são estabelecimentos de saúde que devem oferecer os serviços de diagnóstico bucal, com ênfase no diagnóstico e detecção do câncer de boca, periodontia especializada, cirurgia oral menor dos tecidos moles e duro, endodontia e também atender a pacientes com necessidades especiais. (BRASIL, 2004) Assim, o acesso e a utilização dos serviços odontológicos especializados visam ao princípio da integralidade nos sistemas de serviço de saúde. Dentre as especialidades do CEO, a que tem o acesso mais difícil é a Endodontia. A Endodontia é a ciência e arte que envolve a etiologia, prevenção, diagnóstico e tratamento das alterações patológicas da polpa dentária e de suas repercussões na região periapical e consequentemente no organismo. Resumidamente, essa especialidade cuida da profilaxia e tratamento do endodonto e da região apical e periapical. (LEONARDO, 1998, p. 1) A dificuldade de acesso a esta especialidade ocorre devido ao desequilíbrio entre a demanda e a capacidade de atendimento. Para que um paciente seja atendido por um especialista dessa área, é necessário que seja encaminhado por um profissional de algum Centro de Saúde Local (Atenção Básica). Esse encaminhamento é direcionado ao Sistema de Regulação Central (SISREG) 62 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Fábio Henrique Dias da Silva # Gilberto de Oliveira Moritz # Juliana Pereira que, por sua vez, agendará o paciente com o Especialista, de acordo com a disponibilidade de vagas. O SISREG foi desenvolvido pelo Ministério da Saúde entre os anos de 1999 e 2002 e tem passado por melhorias desde então, objetivando a simplificação da regulação do acesso. O fenômeno de formação de filas já é rotineiro na vida atual, ocorre em diversas aplicações como: uma peça esperando para ser lixada ou polida (na indústria), um avião esperando para decolar, um programa de computador esperando para ser executado e, é claro, uma fila de seres humanos esperando serviço. (DOS SANTOS et al., 2012, p. 1 apud BARBOSA, 2009) As filas se formam em decorrência do aumento dos consumidores e da incapacidade do sistema em atender a essa demanda (local ou global, momentânea ou permanente). Assim, através de técnicas de simulação, busca-se encontrar um ponto de equilíbrio que satisfaça os clientes e seja viável, economicamente, para o provedor do serviço. (ARENALES, 2007, p. 524) Os tempos de espera nas filas infligem perdas elevadas, muitas vezes desnecessárias, às sociedades e aos sistemas econômicos. Pior situação ocorre quando, além de elevados, os prazos são imprevisíveis. Com tal agravante as certezas decorrentes desta imprevisibilidade impedem o planejamento das vidas dos pacientes e de seus familiares, da atuação do sistema de saúde e do funcionamento do sistema produtivo onde eles exerçam atividades laborais. (MARINHO, 2006, p. 2.230) Para visualizar possibilidades de melhorias deste problema é necessário observar a Teoria das Filas proposta por Arenales (2007), em que ele descreve, como um método analítico que aborda o assunto por meio de fórmulas matemáticas, [...] onde se estuda as relações entre as demandas e os atrasos sofridos pelo usuário do sistema, para avaliação das medidas de desempenho dessa relação em função da disposição deste sistema. (ARENALES, 2007 apud CHAVES et al., 2011, p. 3) Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 63 Teoria das Filas Aplicada ao Atendimento na Média Complexidade no Sistema Único de Saúde com Enfoque na Especialidade Endodontia: uma revisão de literatura Com base no exposto, o objetivo deste estudo é realizar uma revisão de literatura a respeito das filas no Sistema Único de Saúde, com enfoque na Especialidade Endodontia no Centro de Especialidades Odontológicas e elencar possíveis soluções para este problema. 2 Fundamentação A constituição brasileira em seu artigo 196 estabelece que “a saúde é um direito de todos e um dever do estado”. Ela é complementada pela lei orgânica 8080 de 1990, que regulamenta as diretrizes do SUS, Sistema Único de Saúde, e garante acesso universal da população aos serviços de saúde. (JUNIOR, 2005, p. 256) Não obstante a excelência teórica da legislação, é de conhecimento público que, na prática, o acesso aos serviços de saúde permanece um dos problemas mais graves de nossa sociedade. A falta de uma estrutura hierarquizada e eficiente, a escassez de recursos para a saúde e os investimentos insuficientes em hospitais, profissionais e tecnologia são sem dúvida os principais fatores que justificam a atual situação. (SARMENTO JUNIOR; TOMITA; KOS, 2005, n. p.) É compreensível que [...] nos diferentes serviços do mundo contemporâneo, a relação interpessoal direta, ou, indireta sempre envolve a obrigação de esperar. Porém, oferecer um serviço de qualidade significa saber compreender a demanda de clientes, organizar sistemas que a controlem e ajustar a capacidade de atendimento em função da demanda, consequentemente reduzindo a espera e mantendo um serviço adequado para o cliente. (GIANESI; CORRÊA, 2005 apud CHAVES et al., 2011, p. 3) Segundo Paulins (2005), a satisfação dos clientes é diretamente proporcional à qualidade do serviço recebido e inversamente proporcional à expectativa frustrada. De acordo com Chaves et al. (2011), em ambientes como o atendimento do setor de saúde, onde o cliente precisa ser atendido, mas não deseja ter que esperar, satisfazer sua vontade de permanecer o menor tempo possível em espera é um objetivo que as empresas tentam fazer para cativá-los diante dos 64 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Fábio Henrique Dias da Silva # Gilberto de Oliveira Moritz # Juliana Pereira serviços oferecidos. Na produção de serviços, Tsai e Lu (2005) defendem que reduzir o tempo de espera se torna um diferencial competitivo, sendo ainda um nível de excelência na qualidade. [...] as filas são um determinante de custos sociais em esquemas de prestação de serviços onde o sistema de preço não ofereça influência relevante na alocação de recursos. O tempo de espera pode exercer um duplo papel. Primeiramente, o tempo gasto impõe, aos pacientes que estão na fila, um custo de oportunidade que está relacionado com o valor das atividades que eles deixam de exercer enquanto esperam o atendimento. Além disso, tempo gasto nas filas desvaloriza o valor presente dos serviços prestados, dada uma taxa de desconto intertemporal subjetiva ao paciente. Ao valor atual desses dois componentes de custos devem ser adicionados os custos da provável deterioração da situação de saúde ao longo desse mesmo tempo, e os custos do tratamento realizado enquanto o paciente espera na fila. (MARINHO, 2004, p. 3) Para Prado (1999), a composição dos elementos de uma fila é descrita por uma população, esta podendo ser finita ou infinita. Os clientes se originam da população e para serem atendidos formam uma fila antes da efetivação do serviço. Após o atendimento, os clientes saem do sistema de filas. Uma população é admitida como infinita quando se desconhece sua quantidade ou quando é muito grande. Em outros casos a população, quando conhecida, é considerada finita. A figura a seguir representa um modelo básico de filas. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 65 Teoria das Filas Aplicada ao Atendimento na Média Complexidade no Sistema Único de Saúde com Enfoque na Especialidade Endodontia: uma revisão de literatura Figura1: Processo Genérico de Filas Fonte: Adaptada de Hillier e Lieberman (2006) O processo de chegada é quantificado através da taxa média (λ) ou pelo intervalo de tempo entre chegadas sucessivas (IC) que ocorrem de maneira aleatória (ARENALES et al., 2007). Para caracterizar esta aleatoriedade corretamente um processo de chegada deve dispor de uma distribuição de probabilidades tal como uma distribuição normal, de Poison, exponencial negativa, Erlang, etc. Já o processo de atendimento é quantificado através do ritmo médio de atendimento (µ) e do tempo ou duração média do serviço (TA). Arenales et al. (2007) admitem que não mais de um usuário pode ser atendido por um servidor no mesmo instante, que o processo não varia ao longo do tempo e que não é afetado pelo número de usuários presentes no sistema. (CHAVES et al., 2011, p. 3) O número de Especialistas em Endodontia é uma das características utilizadas para modelar um sistema de filas. O mais simples sistema apresenta um único Especialista que atende apenas um paciente por vez. Entretanto, caso a demanda de clientes aumente, não é possível aumentar o TA sem perda de qualidade no serviço. Neste caso o servidor ficará sobrecarregado e irá ocorrer o prolongamento no tempo de espera. A preocupação dos administradores da área é otimizar as atividades. O paciente deve ser a principal preocupação e o trabalho executado tem 66 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Fábio Henrique Dias da Silva # Gilberto de Oliveira Moritz # Juliana Pereira que apresentar a melhor qualidade possível. A consequência de uma grande procura por um serviço de qualidade, que não consegue atender a todos, é a formação de fila. Esta geralmente apresenta um processo igualitário em que o primeiro a chegar é o primeiro a ser atendido. Entretanto, pode ocorrer alterações no fluxograma do atendimento e alguns pacientes passam a ter prioridade no tratamento. Sempre que há espera, existe a necessidade de criar um local para que as pessoas aguardem. Ao longo dos anos, a falta de qualidade no acesso aos serviços de saúde evidenciou a necessidade de o Ministério da saúde desenvolver um Sistema de Regulação em Saúde. O período de 1999 a 2002 representou o movimento inicial no desenvolvimento do aplicativo de Regulação denominado “Sistema de Regulação (SISREG)”. A partir do desenvolvimento, o SISREG vem passando por melhorias em suas funcionalidades, para que, integrado aos outros sistemas do Ministério da Saúde, automatize a rotina dos Complexos Reguladores e seja estabelecido de fato, como ferramenta de regulação. (BRASIL, 2004) Assim; para sua inclusão no Tratamento Endodôntico no CEO o paciente deve preencher os pré-requisitos determinados pelas normas do protocolo de encaminhamento para a especialidade. (BRASIL, 2006) Caso o usuário seja encaminhado para média complexidade sem a indicação correta, ele estará ocupando a vaga de outra pessoa e consequentemente aumentando a fila de espera. Visando eliminar esse problema, Zaitter (2009), analisou duas unidades de saúde de dois distritos sanitários do município de Curitiba durante seis meses, com o objetivo de realizar uma pré-avaliação, eliminando dessa forma os pacientes que estavam fora dos critérios de inclusão para Endodontia no Centro de Especialidades Odontológicas. O procedimento foi realizado em uma Unidade Básica de Saúde em um período de seis meses. Foi utilizada outra UBS para controle. O resultado obtido na UBS em que ocorreu a intervenção foi uma redução de 27% do número de inscritos no primeiro mês, 38,19% no segundo, 61,80% no terceiro e 69,09% no quarto mês. Se no início da pesquisa a fila era de 198 pessoas, após a intervenção esse número foi reduzido para 17. Na unidade de saúde em que não ocorreu intervenção na fila o número de inscritos aguardando aumentou em cinco dos seis meses. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 67 Teoria das Filas Aplicada ao Atendimento na Média Complexidade no Sistema Único de Saúde com Enfoque na Especialidade Endodontia: uma revisão de literatura Vantagens da pré-avaliação: Esse • Eliminar faltas de pacientes na primeira consulta: existe um número elevado de pacientes que faltam na primeira consulta e acabam ocupando a vaga de outra pessoa que pode estar mais interessada no tratamento. Os pacientes que não comparecem na consulta de pré-avaliação são automaticamente removidos da lista para inclusão do SISREG. Considerando que a porcentagem de falta na primeira consulta oscila entre 30% a 40%, a redução da fila seria significativa. • Eliminar elementos dentários que estão fora do critério de inclusão do CEO: muitas vezes o paciente que comparece à primeira consulta apresenta um dente que não oferece condições para receber o tratamento endodôntico como: mobilidade acentuada, 2/3 de extrusão dentária por perda de antagonista, coroa dentária insuficiente para colocação dos grampos para isolamento absoluto, comprometimento da região de furca. Além disso, alguns pacientes comparecem à primeira consulta sem adequação do meio bucal realizada, o que contraindica a execução da Endodontia. • Selecionar os pacientes que deverão passar pela especialidade Periodontia, para aumento de coroa clínica, antes de agendar consulta para realizar Endodontia. • Selecionar casos que tenham resolutividade na atenção básica como: exodontia e pulpotomia. Uma das maneiras de facilitar a pré-avaliação é realizar matriciamento. [...] projeto busca garantir às equipes das Unidades Básicas de Saúde maior apoio quanto à responsabilização do processo de assistência, garantindo a integralidade da atenção em todo sistema de saúde ao fazer uma intervenção com o olhar do gestor municipal buscando implementar mudanças de programas e ações que descentralizem o acesso à especialidade e ao mesmo tempo disponibilizar recursos e equipamentos para que efetivamente possa ocorrer esta intervenção. Estabelecer a contribuição de distintas especialidades e profissionais na construção de rede compartilhada entre a referência e o apoio, personalizar a referência e contra-referência, definir responsabilidade pela construção do caso com a equipe de referência, buscando elaborar juntos protocolos a fim de reduzir filas de espera. (ARONA, 2009, p. 29) 68 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Fábio Henrique Dias da Silva # Gilberto de Oliveira Moritz # Juliana Pereira Ainda de acordo com Arona (2009, p. 31), o apoio matricial [...] à equipe de referência são, ao mesmo tempo, arranjos organizacionais e uma metodologia para a gestão do trabalho em saúde, objetivando ampliar as possibilidades de realizar-se clínica ampliada e integração dialógica entre distintas especialidades e profissões. O apoio matricial em saúde objetiva assegurar de um modo dinâmico e interativo a retaguarda especializada a equipes e profissionais de referência. O apoio tem duas dimensões: suporte assistencial e técnico-pedagógico. Funciona em forma de rede onde a construção deve ser compartilhada entre a referência e o apoio, é complementar, personalizando a referência e contra-referência. Mantém responsabilidade pela condução do caso com a equipe de referência, buscando elaborar juntos protocolos a fim de reduzir filas. (ARONA, 2009, p. 31) Uma das maneiras de facilitar o matriciamento e, consequentemente, diminuir o número de inclusões de pacientes para a especialidade Endodontia no SISREG seria a implementação da radiografia digital na Prefeitura Municipal de Florianópolis. Isso proporcionaria um prontuário eletrônico mais completo e permitiria que o profissional da média complexidade fizesse avaliações radiográficas mesmo antes de o paciente comparecer em consulta. Pacientes com dentes para os quais a Endodontia não fosse indicada não seriam agendados com os Especialistas no CEO e, sim, para as Unidades Básicas de Saúde, recebendo tratamento de atenção primária. 3 Metodologia Segundo Pádua (2004), pesquisa é toda atividade voltada para a solução de problemas. É a atividade que permite elaborar um conhecimento que auxilie na compreensão da realidade e nos oriente em nossas ações. O conhecimento é elaborado historicamente através do exercício da reflexão. As conclusões e ações executadas são baseadas neste processo. Godoy (1995) caracteriza a pesquisa como um esforço para a descoberta de novas informações ou relações e para a verificação e ampliação do conhecimento existente. O caminho seguido nesta busca pode possuir contornos diferentes; e dentre eles é possível realizar a Pesquisa Bibliográfica. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 69 Teoria das Filas Aplicada ao Atendimento na Média Complexidade no Sistema Único de Saúde com Enfoque na Especialidade Endodontia: uma revisão de literatura Segundo Silva (2005), pesquisa bibliográfica é aquela baseada na análise da literatura já publicada em forma de livros, revistas, publicações avulsas, imprensa escrita e até eletronicamente, disponibilizada na Internet. A revisão de literatura/pesquisa bibliográfica contribuirá para: obter informações sobre a situação atual do tema ou problema pesquisado; conhecer publicações existentes sobre o tema e os aspectos que já foram abordados; verificar as opiniões similares e diferentes a respeito do tema ou de aspectos relacionados ao tema ou ao problema de pesquisa. (SILVA, 2005) Este artigo foi realizado através do levantamento bibliográfico em artigos, principalmente de Zaitter (2009), Marinho (2004) e Arona (2011). Além disso, foi utilizado o site do Ministério da Saúde e o livro sobre a Teoria das Filas, de Hillier e Lieberman, 2006. Existem algumas referências a respeito da intervenção nas filas no Sistema Único de Saúde, entretanto sobre a Especialidade Endodontia ainda são escassas, sendo um vasto campo para estudos. Segundo Lakatos e Marconi (1991, p. 163), “[...] toda pesquisa implica o levantamento de dados de variadas fontes, quaisquer que sejam os métodos ou técnicas empregadas [...]”. As autoras ainda mencionam que o “[...] levantamento de dados é o primeiro passo [...]” de qualquer pesquisa para que, posteriormente, seja possível nortear as soluções para os problemas propostos. 4 Considerações Finais O objetivo deste estudo é realizar uma revisão de literatura a respeito das filas no Sistema Único de Saúde, com enfoque na Especialidade Endodontia no Centro de Especialidades Odontológicas e elencar possíveis soluções para esse problema. A Saúde Bucal tem recebido atenção especial do Governo Federal, e muitos investimentos estão sendo realizados, entretanto, alguns projetos precisam ser aperfeiçoados, como é o caso do Centro de Especialidades Odontológicas, especificamente na especialidade Endodontia. O tratamento endodôntico é oneroso no serviço privado. Sendo assim, a partir do momento em que ele foi disponibilizado no SUS, a procura foi muito grande. Contudo, o equilíbrio entre a demanda e a capacidade de atendimento parece estar longe de acontecer. Isso provoca um aumento no tempo médio de espera, que é um dos fatores que mais causam insatisfação e irritação aos 70 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Fábio Henrique Dias da Silva # Gilberto de Oliveira Moritz # Juliana Pereira pacientes. Além disso, longos períodos de espera acarretam grandes perdas de tempo no sistema e prejuízos para a saúde do usuário. Segundo Zaitter (2009), não existe até o momento uma medida que resolva com eficácia o problema de acesso aos serviços de saúde, principalmente nas Especialidades Odontológicas, devido à peculiaridade das dificuldades encontradas. A falta de recursos materiais e profissionais na saúde básica é apontada como uma das causas para o aumento da demanda em algumas especialidades, principalmente na Endodontia. Tal fato, consequentemente, gera a formação de filas, causando demora no atendimento do paciente, sendo esse um fator de insatisfação e queda na qualidade da prestação de serviço de uma instituição pública ou privada. Portanto, o monitoramento, controle e intervenção na fila, de qualquer área, de média ou de alta complexidade, deve ser um processo constante, principalmente quando se observa o custo da manutenção desse sistema. A intervenção na fila deve ser feita baseada no princípio da equidade (uma das diretrizes do SUS), isto é, tratar cada problema específico de acordo com a sua necessidade. Além disso, o incentivo, a prevenção e a promoção de saúde são de suma importância para resolver a maior parte dos problemas do usuário na atenção básica. Nesse ponto, é importante destacar a funcionalidade do matriciamento no auxílio a diagnósticos e ampliação na capacidade de resolver problemas das equipes nas UBSs. Uma das medidas adotadas para controle da redução da fila de espera é aumentar a resolutividade na atenção básica, permitindo com isso, que o profissional concentre sua atenção no serviço especializado propriamente dito. (FREEMAN, 1997 apud ZAITER et al., 2009, p. 419) O matriciamento é uma das alternativas para aumentar a resolutividade da atenção básica. Além disso, Arona (2009, p. 8) escreve que Com o apoio matricial um especialista pode participar organicamente de várias equipes técnicas de referência, ampliando a capacidade de resolver problemas das equipes, o que gera diminuição de consultas e encaminhamentos. É importante ressaltar a possibilidade de abrir um canal de comunicação interprofissional eliminando o medo de perda de autonomia e fortalecendo o sistema de cogestão. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 71 Teoria das Filas Aplicada ao Atendimento na Média Complexidade no Sistema Único de Saúde com Enfoque na Especialidade Endodontia: uma revisão de literatura O Matriciamento na Especialidade Endodontia pode ser realizado desde que ocorra a implantação da Radiografia Digital, incorporando esse documento ao prontuário eletrônico do paciente. Esse processo facilitaria a análise radiográfica, em alguns casos, pelo Especialista em Endodontia, o que possibilitaria diagnósticos mais rápidos e direcionamentos de casos com indicação para tratamento na atenção primária. Dentre os possíveis casos que poderiam ser solucionados na Unidade Básica de Saúde e que não precisariam ser encaminhados para a Especialidade Endodontia, citamos: • dentes com indicação de pulpotomia; • dentes com comprometimento de furca; • dentes com mobilidade grau 3; • dentes extruídos, sem antagonistas; e • capeamento pulpar direto ou indireto. De acordo com Leonardo (1998), o diagnóstico é a base para o tratamento bem executado. Para isso é necessário conhecimento, experiência e senso clínico do profissional. Uma das vias facilitadoras para o diagnóstico em Endodontia é a Radiografia Digital. A imagem digital é aquela que pode ser registrada não no filme radiográfico, mas em um receptor (sensor) que, após ser sensibilizado pelos raios X, capta a imagem e a transfere ao computador, onde poderá então ser arquivada, analisada, manipulada e quantificada. (LEONARDO, 2009, p. 390) A atualização tecnológica envolvendo o tratamento de canais radiculares deve ser constante, principalmente nas instituições públicas em que a demanda geralmente é maior que a capacidade de atendimento, o que gera fila de esperas. Marinho (2004, p. 38) fez algumas considerações de caráter econômico e gerencial para a administração de filas em saúde, delineando [...] o perfil de algumas ações possíveis para, eventualmente, reduzir esse problema. É importante ressaltar que o sucesso na adoção de cada uma delas dependerá, inequivocadamente, das condições materializadas no SUS e que a adoção dessas 72 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Fábio Henrique Dias da Silva # Gilberto de Oliveira Moritz # Juliana Pereira recomendações acarretaria custos consideráveis e substanciais mudanças qualitativas no sistema. Como tais medidas têm sido preconizadas com alguma frequência na literatura, supõe-se que a relação custo-benefício de sua adoção seja favorável. Dentre as medidas de caráter gerencial e administrativo pode-se destacar (MARINHO, 2006, p. 33): • Definir claramente as responsabilidades sobre a avaliação, a administração e a coordenação geral das filas. • Atentar para o fato de que as filas demandam recursos para a sua administração, além dos custos sociais e privados que acarretam. Investir na redução das filas pode ser socialmente muito vantajoso. • Encetar a avaliação e o acompanhamento rigorosos e permanentes dos pacientes postos nas listas. Devem ser adotados procedimentos previamente especificados se o tratamento se torna desnecessário por algum motivo. • Observar que a melhoria da qualidade, ou a conscientização da população, sem a adoção de medidas de prevenção, proteção e promoção de saúde, podem aumentar a demanda pelos serviços especializados. A melhoria na coordenação vertical no SUS, envolvendo, principalmente, a atenção básica pode reduzir os problemas da fila. • Incrementar a administração e a divulgação criteriosas de informações sobre o sistema, contemplando elementos da demanda e da oferta, o que diminui as incertezas e facilita o planejamento. A criação de indicadores é uma medida administrativa indispensável para quantificar a fila. É necessário definir prazos de espera e regular número de pessoas registradas em listas de espera no aguardo por atendimento, estabelecendo prioridades para alguns casos. Uma das maneiras de incentivo para aumentar a eficácia do atendimento é desenvolver incentivos para aumento de produtividade. (MARINHO, 2004) Fica claro que a intervenção nas filas de espera no SUS é uma medida extremamente necessária. A qualidade no atendimento ao paciente está diretamente associada ao tempo de espera para o tratamento requisitado, sendo que esse parâmetro é considerado uma vantagem competitiva, em Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 73 Teoria das Filas Aplicada ao Atendimento na Média Complexidade no Sistema Único de Saúde com Enfoque na Especialidade Endodontia: uma revisão de literatura empresas privadas ou órgãos públicos. Além disso, o custo para manter uma fila é muito alto e a verba para sustentá-la pode ser usada na contratação de novos profissionais e na melhoria dos equipamentos. O investimento em tecnologia é vital para a eficiência de qualquer instituição, pública ou privada, pois melhora a qualidade do atendimento e a eficiência do diagnóstico de determinadas especialidades médicas e odontológicas. Referências ARENALES, M. et al. Pesquisa operacional. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. 524 p. ARONA, E. C. Implantação do matriciamento nos serviços de saúde de Capivari. Revista Saúde Soc. São Paulo, v. 18, supl. 1, jan.-mar. 2009. BARBOSA, R. A. A modelagem e análise do sistema de fila de caixa de pagamento em uma drogaria: uma aplicação da teoria das filas. In: XXIX Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Salvador: ENEGEP. Anais. Salvador, 2009. BRASIL. Ministério da Saúde. Recomendações para referência e contrareferência aos Centros de Especialidades Odontológicas. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2006. ______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Coordenação Nacional de Saúde Bucal. Sistema de Regulação Central. 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Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 75 Teoria das Filas Aplicada ao Atendimento na Média Complexidade no Sistema Único de Saúde com Enfoque na Especialidade Endodontia: uma revisão de literatura MANN, L.; TAYLOR, K. F. Queue counting: the effects of motives upon estimates of number in waiting line. J. Pers. Soc. Psycol. USA, v. 12, n. 2, p. 95-103, 1969. MARINHO, A. Um estudo sobre as filas para internações e para transplantes no sistema único de saúde brasileiro. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 22, n. 10. p. 2.229-2.239, nov. 2006. MARINHO, A. Um estudo sobre as filas para internações e para transplantes no sistema único de saúde brasileiro. Instituto de pesquisas econômicas aplicadas. Texto para discussão n. 1.055. Rio de Janeiro, nov. 2004. PÁDUA, E. M. M. Metodologia de pesquisa: abordagem teórico prática. 10. ed. rev. e atual. Campinas, SP: Papirus, 2004. PAULINS, V. A. 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Avaliação da acessibilidade do paciente à clínica de especialidades de Endodontia em dois distritos de saúde do município de Curitiba, PR. Sul-Bras. Odontol, Joinville, v. 6, n. 4, p. 413-421, dez. 2009. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 77 A Participação do Complexo Regulador de Florianópolis no Plano Operativo para a Organização da Rede Estadual de Atenção em Alta Complexidade Cardiovascular em Santa Catarina Aluno: Gustavo Rodolfo Teixeira Hess1 Orientador: Luis Carlos Cancellier de Olivo2 Tutora: Maria Luciana Biondo Silva3 Resumo Abstract O Plano Operativo prevê que o atendimento de Consulta em Cirurgia Cardíaca dos municípios das regiões descritas seja feito pelo Hospital de Caridade de Florianópolis. Os objetivos são determinar e analisar o número de agendamentos desta Consulta realizados pelo Complexo Regulador, identificar a oferta e avaliar o cumprimento do Plano. Foram analisados os agendamentos no SISREG realizados entre junho de 2011 e junho de 2012 pelos municípios participantes da PPI ao Complexo Regulador. Foram agendadas 284 solicitações no período analisado, feitas pelos municípios pactuados e identificada uma oferta mensal de 178 consultas. Foi observado que a oferta pactuada de vagas foi suficiente para suprir toda a demanda do período demonstrando que o Complexo Regulador de Florianópolis contribuiu para a implantação e fortalecimento da Rede Estadual de Atenção. The Operational Plan provides for the care of Cardiac Surgery Consultation in the municipalities of the regions described is made by Charity Hospital of Florianópolis. The objectives are to determine and analyze the number of this Consultation appointments made by a Regulatory Complex identify supply and assess compliance with the Plan. We analyzed the schedules in SISREG conducted between June 2011 and June 2012 by the participating municipalities PPI Complex Regulator. 284 requests were scheduled during the period analyzed, made by municipalities agreed and identified a monthly supply of 178 queries. It was observed that the provision of agreed positions was sufficient to meet the entire demand of the period showing that a Regulatory Complex of Florianópolis contributed to the establishment and strengthening of the State Network of Care Palavras-chave: Sistema Único de Saúde. Key words: Health System. Health Policies. Políticas de Saúde. Cardiovascular. Cardiovascular. 1 Graduado em Medicina pela Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: gustavohess@ gmail.com. 2 Doutor em direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (2003). E-mail: cancellier@ uol.com.br. 3 Graduada em Administração pela Universidade do Vale do Itajaí (2000). Especialista (Lato Sensu) em Gestão de Pessoas nas Organizações pela Universidade Federal de Santa Catarina (2011). E-mail: [email protected]. Gustavo Rodolfo Teixeira Hess # Luis Carlos Cancellier de Olivo # Maria Luciana Biondo Silva 1 Introdução Um dos grandes desafios na gestão do Sistema Único de Saúde é garantir o acesso do usuário aos serviços de Alta Complexidade, atendendo aos princípios básicos de equidade, integralidade e universalidade. O presente estudo pretende avaliar a contribuição do Complexo Regulador de Florianópolis no acesso ao serviço de Cirurgia Cardíaca do Hospital de Caridade. A Constituição de 1988 em seu artigo 197 determina: São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao poder público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado. (BRASIL, 1988) A lei federal nº 8.080 define competências nas esferas de gestão e cria o Sistema Nacional de Auditoria. (BRASIL, 1990) Com o objetivo de reorganizar e estruturar as ações de regulação, controle e avaliação fortalecendo os instrumentos de gestão para garantir integralidade, acesso equânime e qualificado aos serviços de saúde, o Ministério da Saúde instituiu, através da Portaria GM n. 1.559, de 1º de agosto de 2008, a Política Nacional de Regulação do Sistema Único de Saúde. (BRASIL, 2008) Essa portaria define que a Regulação do Acesso à Assistência (também denominada regulação assistencial ou regulação do acesso) tem como objetos a organização, o controle, o gerenciamento e a priorização do acesso e dos fluxos assistenciais no âmbito do Sistema Único de Saúde, e como sujeitos seus respectivos gestores públicos, sendo estabelecida pelo complexo regulador e suas unidades operacionais; e esta dimensão abrange a regulação médica, exercendo autoridade sanitária para a garantia do acesso baseada em protocolos, classificação de risco e demais critérios de priorização. (BRASIL, 2008) A Norma Operacional de Atenção à Saúde (NOAS) 01/02 define que a regulação da assistência deverá ser feita através da implantação de Complexos Reguladores e ser voltada ao atendimento das necessidades do cidadão através da alternativa mais adequada, de forma equânime, ordenada, oportuna e qualificada. (BRASIL, 2002) Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 79 A Participação do Complexo Regulador de Florianópolis no Plano Operativo para a Organização da Rede Estadual de Atenção em Alta Complexidade Cardiovascular em Santa Catarina A regulação da saúde no Sistema Único de Saúde tem a sua importância dada pelo modelo de prestação de serviços adotado ao longo do tempo. O processo de regulação deve ser considerado como a intervenção de um terceiro entre a demanda do usuário e a prestação efetiva do ato de saúde pelos serviços de saúde. A regulação do acesso é um processo fundamental na gestão do Sistema Único de Saúde e tem sido desenvolvida em Florianópolis com a implantação do Complexo Regulador da Secretaria Municipal de Saúde, o que permitiu ao município regular o acesso de diversos procedimentos de média e alta complexidade, entre eles a cirurgia cardíaca. Este procedimento é previsto no plano operativo da alta complexidade Cardiovascular da Secretaria Estadual de Saúde. (SANTA CATARINA, 2005) Diante desse contexto, surgiu o interesse em analisar a gestão da regulação ao acesso da consulta em cirurgia cardíaca cujos objetivos são: verificar o número de solicitações e agendamentos para consulta em cirurgia cardíaca no Complexo Regulador de Florianópolis, identificar a oferta de consulta em cirurgia cardíaca no Complexo Regulador de Florianópolis, e avaliar o cumprimento do plano operativo de alta complexidade cardiovascular da Secretaria Estadual de Saúde. 2 Revisão Bibliográfica 2.1 A Política Nacional de Regulação O processo regulatório nas diversas áreas de complexidades do setor saúde representa o cotidiano da operação do Sistema Único de Saúde. Consiste em utilizar a capacidade do sistema para atender ao conjunto das demandas das populações, operacionalizando o acesso aos serviços. Implica também avaliar o que foi planejado nos vários setores da assistência, ou seja, dotar a gestão de uma inteligência reguladora operacional. Em um sistema com acesso regulado, o usuário, ao adentrar a rede de serviços, passa a ser direcionado pelo sistema. (SANTOS; MERHY, 2006) A institucionalização da regulação assistencial no Sistema Único de Saúde iniciou com a Lei Orgânica da Saúde, n. 8.080/90, seguida das normas infraconstitucionais, como as Normais Operacionais Básicas (NOB) e a Norma Operacional de Assistência à Saúde (NOAS). A NOAS surgiu em 2001 com a finalidade de regionalizar a assistência, remetendo aos estados a competência 80 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Gustavo Rodolfo Teixeira Hess # Luis Carlos Cancellier de Olivo # Maria Luciana Biondo Silva de organizar o fluxo da assistência intermunicipal; definiu mecanismos para a reorganização dos fluxos de referência e contrarreferência; e introduziu o conceito de regulação assistencial. (BRASIL, 2001) A NOAS fortaleceu as funções de controle e avaliação dos gestores do SUS, bem como a exigência, aos estados e municípios, de elaborar os Planos de Controle, Regulação e Avaliação. O Complexo Regulador é o conjunto de estratégias e ações definidas pelos agentes responsáveis pela reformulação das políticas e pela produção dos serviços de saúde, necessários ao atendimento integral do indivíduo. (BRASIL, 2006) A Portaria MS/GM n. 1.559, de 1º de agosto de 2008, instituiu a Política Nacional de Regulação (PNR) do Sistema Único de Saúde. Os objetivos da PNR são organizar redes e fluxos assistenciais, promovendo acesso equânime, integral e qualificado aos serviços de saúde no âmbito de uma rede regionalizada e hierarquizada. A PNR reforça a necessidade de se estruturar as ações de regulação, controle e avaliação, bem como fortalecer os instrumentos de gestão do Sistema Único de Saúde. (BRASIL, 2008) Esta Portaria organiza as ações de regulação em três áreas de atuação: Regulação dos Sistemas de Saúde, Regulação da Atenção à Saúde e Regulação do Acesso ou Regulação Assistencial (BRASIL, 2008). A Regulação dos Sistemas de Saúde tem como objetos os sistemas municipais, estaduais e nacional de saúde, e como sujeitos os gestores públicos, considerando os princípios e diretrizes do SUS para a definição de macrodiretrizes para a regulação da Atenção à Saúde, com ações de monitoramento, controle, avaliação, auditoria e vigilância desses sistemas. A Regulação da Atenção à Saúde é exercida pelas Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, conforme pactuação estabelecida no Termo de Compromisso de Gestão do Pacto pela Saúde; objetiva garantir a adequada prestação de serviços à população e seu objeto é a produção das ações diretas e finais de atenção à saúde, estando, portanto, dirigida aos prestadores públicos e privados e, como sujeitos, aos seus respectivos gestores públicos, definindo estratégias e macrodiretrizes para a Regulação do Acesso à Assistência e Controle da Atenção à Saúde, também denominada Regulação Assistencial, e para o controle da oferta de serviços, executando ações de monitoramento, controle, avaliação, auditoria e vigilância da atenção e da assistência à saúde no âmbito do SUS. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 81 A Participação do Complexo Regulador de Florianópolis no Plano Operativo para a Organização da Rede Estadual de Atenção em Alta Complexidade Cardiovascular em Santa Catarina A Regulação do Acesso à Assistência, também denominada regulação do acesso ou regulação assistencial, tem como objetos a organização, o controle, o gerenciamento e a priorização do acesso e dos fluxos assistenciais no âmbito do SUS e, como sujeitos, seus respectivos gestores públicos, sendo estabelecida pelo complexo regulador e suas unidades operacionais; esta dimensão abrange a regulação médica, exercendo autoridade sanitária para a garantia do acesso baseada em protocolos, classificação de risco e demais critérios de priorização. A PNR define que a regulação do acesso à assistência será efetivada pela disponibilização dos recursos mais adequados à necessidade do usuário, destacando-se a padronização das solicitações de procedimentos por meio de protocolos assistenciais e o estabelecimento de referências entre as unidades com diferentes níveis de complexidade, de abrangência local, estadual e interestadual, segundo fluxos e protocolos pactuados (BRASIL, 2008). 2.2 A Reorganização da Alta Complexidade (Cardiologia) no SUS O Plano Operativo para Alta Complexidade da Secretaria Estadual de Saúde de Santa Catarina tem como objetivo geral implantar e organizar a Rede Estadual de Atenção em Alta Complexidade Cardiovascular, bem como determinar o seu papel na atenção à saúde e as qualidades técnicas necessárias ao bom desempenho de suas funções. Entre os objetivos específicos estão: estabelecer mecanismos de regulação, fiscalização, controle e avaliação da assistência prestada aos portadores de doenças cardiovasculares; garantir a esses pacientes a assistência nos vários níveis de complexidade, por intermédio de equipes multiprofissionais, utilizando-se de técnicas e métodos terapêuticos específicos; organizar a assistência aos referidos pacientes em serviços hierarquizados e regionalizados, com base nos princípios da universalidade e integralidade das ações de saúde; e garantir o atendimento integral aos portadores de patologias cardiovasculares. (SANTA CATARINA, 2005) O Sistema de Regulação (SISREG), desenvolvido pelo Ministério da Saúde, que informatiza a central de regulação, representou o movimento inicial em direção à informatização dos Complexos Reguladores. As experiências a partir de sua utilização e o amadurecimento das metodologias e estratégias no estabelecimento de centrais de regulação apontaram para a necessidade de melhorias no sistema original. Atualmente, o DATASUS vem aprimorando 82 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Gustavo Rodolfo Teixeira Hess # Luis Carlos Cancellier de Olivo # Maria Luciana Biondo Silva este sistema e está disponibilizando o SISREG III, que é o sistema utilizado atualmente pelo Complexo Regulador de Florianópolis. (BRASIL, 2006) 3 Metodologia A pesquisa é de cunho quantitativo e descritivo. Os sujeitos da pesquisa são os usuários do SUS inseridos no Sistema de Regulação (SISREG), com solicitação de consulta em Cirurgia Cardíaca para o Complexo Regulador de Florianópolis, no período de junho de 2011 a junho de 2012. O agendamento de Consulta em Cirurgia Cardíaca garante o acesso aos diversos procedimentos de Alta Complexidade Cardiovascular prestados pelo Hospital de Caridade após a triagem realizada pelos especialistas no ambulatório, que determinam o procedimento indicado para solucionar a patologia do usuário do SUS. Os municípios que possuem pactuação com o Complexo Regulador de Florianópolis são: Florianópolis, Águas Mornas, Alfredo Wagner, Angelina, Anitápolis, Antônio Carlos, Biguaçu, Canelinha, Garopaba, Governador Celso Ramos, Leoberto Leal, Major Gercino, Nova Trento, Palhoça, Paulo Lopes, Rancho Queimado, Santo Amaro da Imperatriz, São Bonifácio, São João Batista, São José, São Pedro de Alcântara e Tijucas. A análise de dados foi realizada através dos agendamentos das solicitações de Consulta em Cirurgia Cardíaca realizados pelo Complexo Regulador de Florianópolis e documentos de gestão (Planos Operativos, Programação Pactuada Integrada). Os dados foram trabalhados estaticamente e a análise dos resultados foi retirada à luz da literatura pertinente para o estudo. 4 Análise e Resultados As solicitações de consultas agendadas foram atendidas no Hospital de Caridade situado em Florianópolis, prestador cadastrado para Cirurgia Cardiovascular na Rede Estadual de Atenção em Alta Complexidade Cardiovascular de Santa Catarina. Observou-se que todas as solicitações do período estudado foram agendadas, não havendo solicitações pendentes na regulação do Complexo Regulador de Florianópolis. As consultas foram todas de primeira vez e os retornos foram atendidos em outra agenda. A seguir serão apresentados os dados. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 83 A Participação do Complexo Regulador de Florianópolis no Plano Operativo para a Organização da Rede Estadual de Atenção em Alta Complexidade Cardiovascular em Santa Catarina Tabela 1: Distribuição das vagas de Consulta em Cirurgia Cardíaca por Município segundo a Programação Pactuada Integrada (PPI) Município Florianópolis Águas Mornas Alfredo Wagner Angelina Anitápolis Antônio Carlos Biguaçu Canelinha Garopaba Governador Celso Ramos Leoberto Leal Major Gercino Nova Trento Palhoça Paulo Lopes Rancho Queimado Santo Amaro da Imperatriz São Bonifácio São João Batista São José São Pedro de Alcântara Tijucas Total Pactuado Oferta Número de vagas 15 1 1 1 1 1 3 1 1 1 1 1 1 4 1 1 1 1 1 5 1 2 46 178 Fonte: Sistema de Regulação (2009) Tabela 2: Solicitações de Consulta em Cirurgia Cardíaca agendadas durante Junho de 2011 MUNICÍPIO Florianópolis Garopaba São José Palhoça Total TOTAL 09 02 01 01 13 Fonte: Sistema de Regulação (2009) 84 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Gustavo Rodolfo Teixeira Hess # Luis Carlos Cancellier de Olivo # Maria Luciana Biondo Silva Tabela 3: Solicitações de Consulta em Cirurgia Cardíaca agendadas durante Julho de 2011 MUNICÍPIO Florianópolis São José Nova Trento Biguaçu Total TOTAL 06 03 02 01 12 Fonte: Sistema de Regulação (2009) Tabela 4: Solicitações de Consulta em Cirurgia Cardíaca agendadas durante Agosto de 2011 MUNICÍPIO TOTAL Florianópolis Palhoça Garopaba Santo Amaro da Imperatriz São José Total 07 02 01 01 01 12 Fonte: Sistema de Regulação (2009) Tabela 5: Solicitações de Consulta em Cirurgia Cardíaca agendadas durante Setembro de 2011 MUNICÍPIO Florianópolis Garopaba São José Palhoça Biguaçu Tijucas Governador Celso Ramos Total TOTAL 05 01 01 01 01 01 01 11 Fonte: Sistema de Regulação (2009) Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 85 A Participação do Complexo Regulador de Florianópolis no Plano Operativo para a Organização da Rede Estadual de Atenção em Alta Complexidade Cardiovascular em Santa Catarina Tabela 6: Solicitações de Consulta em Cirurgia Cardíaca agendadas durante Outubro de 2011 MUNICÍPIO Florianópolis São José Biguaçu Tijucas Antônio Carlos Palhoça Alfredo Wagner São João Batista Total TOTAL 04 03 02 02 01 01 01 01 15 Fonte: Sistema de Regulação (2009) Tabela 7: Solicitações de Consulta em Cirurgia Cardíaca agendadas durante Novembro de 2011 MUNICÍPIO TOTAL São José Biguaçu Tijucas Garopaba Florianópolis Total 04 02 01 01 01 09 Fonte: Sistema de Regulação (2009) Tabela 8: Solicitações de Consulta em Cirurgia Cardíaca agendadas durante Dezembro de 2011 MUNICÍPIO TOTAL Florianópolis São José Garopaba Total 06 03 02 11 Fonte: Sistema de Regulação (2009) 86 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Gustavo Rodolfo Teixeira Hess # Luis Carlos Cancellier de Olivo # Maria Luciana Biondo Silva Tabela 9: Solicitações de Consulta em Cirurgia Cardíaca agendadas durante Janeiro de 2012 MUNICÍPIO TOTAL Florianópolis São José Biguaçu Palhoça Antônio Carlos Anitápolis Santo Amaro da Imperatriz Nova Trento Total 34 05 02 02 01 01 01 01 47 Fonte: Sistema de Regulação (2009) Tabela 10: Solicitações de Consulta em Cirurgia Cardíaca agendadas durante Fevereiro de 2012 MUNICÍPIO Florianópolis Palhoça Alfredo Wagner São José Nova Trento Tijucas Total TOTAL 06 03 02 02 02 01 16 Fonte: Sistema de Regulação (2009) Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 87 A Participação do Complexo Regulador de Florianópolis no Plano Operativo para a Organização da Rede Estadual de Atenção em Alta Complexidade Cardiovascular em Santa Catarina Tabela 11: Solicitações de Consulta em Cirurgia Cardíaca agendadas durante Março de 2012 MUNICÍPIO Florianópolis São José Palhoça Garopaba Águas Mornas Tijucas Biguaçu São João Batista Santo Amaro da Imperatriz São Pedro de Alcântara Rancho Queimado Total TOTAL 13 04 03 02 01 01 01 01 01 01 01 29 Fonte: Sistema de Regulação (2009) Tabela 12: Solicitações de Consulta em Cirurgia Cardíaca agendadas durante Abril de 2012 MUNICÍPIO Florianópolis Biguaçu São José Palhoça São João Batista Garopaba Paulo Lopes Águas Mornas Santo Amaro da Imperatriz Major Gercino Anitápolis Antônio Carlos Nova Trento Gov. Celso Ramos Total TOTAL 23 06 04 03 02 02 02 01 01 01 01 01 01 01 49 Fonte: Sistema de Regulação (2009) 88 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Gustavo Rodolfo Teixeira Hess # Luis Carlos Cancellier de Olivo # Maria Luciana Biondo Silva Tabela13: Solicitações de Consulta em Cirurgia Cardíaca agendadas durante Maio de 2012 MUNICÍPIO Florianópolis Tijucas Palhoça Biguaçu São José São João Batista Garopaba Anitápolis Alfredo Wagner Leoberto Leal Total TOTAL 16 05 04 03 02 01 01 01 01 01 35 Fonte: Sistema de Regulação (2009) Tabela 14: Solicitações de Consulta em Cirurgia Cardíaca agendadas durante Junho de 2012 MUNICÍPIO Florianópolis Palhoça São José Biguaçu São João Batista Alfredo Wagner Total TOTAL 22 04 04 02 02 01 35 Fonte: Sistema de Regulação (2009) Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 89 A Participação do Complexo Regulador de Florianópolis no Plano Operativo para a Organização da Rede Estadual de Atenção em Alta Complexidade Cardiovascular em Santa Catarina Tabela 15: Solicitações de Consulta em Cirurgia Cardíaca agendadas por mês, de Junho de 2011 até Junho de 2012 Mês/Ano Junho/2011 Julho/2011 Agosto/2011 Setembro/2011 Outubro/2011 Novembro/2011 Dezembro/2011 Janeiro/2012 Fevereiro/2012 Março/2012 Abril/2012 Maio/2012 Junho/2012 Total Total 13 12 12 11 15 9 11 47 16 29 49 35 35 284 Fonte: Sistema de Regulação (2009) Foram realizados 284 agendamentos no período estudado, o que demonstra que existe a possibilidade de aumentar este número no futuro considerando-se a atual oferta, de 178 consultas por mês. (SISTEMA DE REGULAÇÃO, 2009) Em alguns meses houve um número maior de agendamentos do que de vagas disponibilizadas ao município pela PPI. Isto ocorre devido à necessidade de atender casos de urgência e casos onde o município necessita solicitar mais vagas naquele mês do que o pactuado. Houve um aumento progressivo dos agendamentos durante o período estudado, o que é acompanhado pelo aumento da utilização das vagas disponibilizadas via SISREG pelos municípios atendidos pelo Hospital de Caridade. Foram 13 agendamentos em junho de 2011 para quatro municípios e 35 agendamentos em maio de 2012 para dez municípios. A PPI tem 22 municípios pactuados, demonstrando que está atendendo à demanda, haja vista que alguns não utilizam todas as vagas disponibilizadas. Existe a convicção de que os provedores de serviços devem estar sob regulação, independente de serem públicos ou privados, devido à otimização dos recursos disponíveis e à melhoria do acesso aos usuários, provocada 90 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Gustavo Rodolfo Teixeira Hess # Luis Carlos Cancellier de Olivo # Maria Luciana Biondo Silva pelo processo regulatório. Existem questionamentos quanto a quem seja a autoridade para regular – Estado ou município –, mas, independente disso, a regulação do acesso é um instrumento poderoso para a intervenção na realidade sanitária porque permite que diferentes instâncias de gestão regulem o perfil assistencial mais adequado às necessidades de saúde. (VILARINS, 2010) Florianópolis foi o município que mais utilizou o serviço, com 152 agendamentos no total, devido ao fato de ter maior população entre os municípios pactuados. A alta incidência de doenças cardiovasculares é um grave problema de saúde no Brasil, sendo a primeira causa de óbitos. Em Santa Catarina estas patologias são responsáveis por um terço do total das mortes. O aumento crescente das internações por doenças do aparelho circulatório aponta para a necessidade de serviços de controle e prevenção. As doenças cardiovasculares apresentam alta morbidade e mortalidade e têm um grande impacto sobre a vida do paciente, sua família e a sociedade. Isto justifica investimentos neste setor para que se garanta qualidade de vida e diminuam os custos com internações desnecessárias. O grande avanço das técnicas no atendimento e nas tecnologias veio acompanhado de incremento nos custos. (SANTA CATARINA, 2005) Com o aumento do número de pacientes acometidos por doenças cardiovasculares e o alto custo da assistência deve-se buscar melhorar os serviços existentes e aumentar a qualidade da assistência prestada ao cidadão. O SUS é responsável por executar serviços de promoção, proteção, recuperação e reabilitação da saúde dos cidadãos. A execução é feita pelo gestor público ou empresa contratada de forma regionalizada e hierarquizada em nível de complexidade. 5 Considerações Finais Foram agendadas no período estudado 284 solicitações de consulta em Cirurgia Cardíaca feitas ao Complexo Regulador de Florianópolis. Há uma oferta mensal de 178 vagas e 52 vagas mensais pactuadas para Consulta em Cirurgia Cardíaca com municípios que participam da Programação Pactuada Integrada. No período estudado todas as solicitações foram agendadas, o que demonstra que a oferta de vagas de Consulta em Cirurgia Cardíaca pelo Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 91 A Participação do Complexo Regulador de Florianópolis no Plano Operativo para a Organização da Rede Estadual de Atenção em Alta Complexidade Cardiovascular em Santa Catarina Complexo Regulador de Florianópolis foi adequada. Observou-se também a divisão das vagas entre os municípios garantindo a equidade do acesso. Conforme o proposto no objetivo deste estudo, demonstrou-se que o Complexo Regulador contribuiu efetivamente para a implantação e fortalecimento da Rede Estadual de Atenção em Alta Complexidade Cardiovascular, atuando na efetivação do acesso através do agendamento da Consulta em Cirurgia Cardíaca. Através desta consulta é avaliada a patologia do paciente e realizado o procedimento necessário, atendendo de maneira integral ao usuário. Isto contribui de forma efetiva para que o cidadão tenha o seu direito à integralidade e à universalidade atendido ao obter a resolução de seus problemas de saúde. O atendimento a todas as solicitações e a oferta adequada de vagas provoca uma diminuição das comorbidades e a consequente desoneração do SUS. Um passo fundamental é a integração entre os subsistemas de Informação permitindo regulação e avaliação, que são partes fundamentais no planejamento e gestão do SUS. Um sistema de avaliação atuante e eficaz permite uma reordenação da execução de ações e serviços redimensionando-os para atender às necessidades do público-alvo e fazer um uso racional dos recursos disponíveis. (SANTOS; MERHY, 2006) A implementação da regulação do acesso preencherá uma lacuna ao ser utilizada como instrumento de gestão. A regulação garante o acesso dos usuários aos serviços de saúde através do planejamento das ações e adequação da oferta às necessidades identificadas. Com esta ação se promove a equidade do acesso e se garante a integralidade da assistência de forma universal respeitando os princípios do SUS. (FARIAS, 2011) Demonstrou-se que esta maneira de garantir o acesso via Complexo Regulador deve ser multiplicada para outras especialidades, já que melhora o acesso do cidadão aos serviços prestados pelo Sistema Único de Saúde. Referências BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao. htm>. Acesso em: 27 out. 2012. 92 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Gustavo Rodolfo Teixeira Hess # Luis Carlos Cancellier de Olivo # Maria Luciana Biondo Silva ______. Lei n. 8.080/90. Dispõe sobre as condições para promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o financiamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 19 de setembro de 1990. ______. Ministério da Saúde. Manual de Implantação do Complexo Regulador. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2006. ______. Ministério da Saúde. NOAS 01/2001. (Norma Operacional Assistencial de Saúde). Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2001. ______. Ministério da Saúde. NOAS 01/2002. (Norma Operacional Assistencial de Saúde). Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2002. ______. Portaria n.1.559, de 1º de agosto de 2008. Institui uma Política Nacional de Regulação do Sistema Único de Saúde. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 4 de agosto de 2008. ______. Ministério da Saúde. Manual de Implantação do Complexo Regulador. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2006. FARIAS, Sidney Feitoza et al. A regulação no setor público de saúde no Brasil: os (des)caminhos da assistência médico-hospitalar. Revista Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 16, supl. 1, p. 1.043-1.053, 2011. SANTA CATARINA. Secretaria Estadual de Saúde. Governo do Estado (Org.). Plano operativo de cardiologia. 2005. Disponível em: <http:// portalses.saude.sc.gov.br/index.php?option=com_docman&task=cat_ view&gid=301&Itemid=82>. Acesso em: 5 jul. 2012. SANTOS, Fausto Pereira dos; MERHY, Emerson Elias. A regulação pública da saúde no Estado brasileiro: uma revisão. Revista Interface, Botucatu, v. 10, n. 19, p.25-41, jun. 2006. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 93 A Participação do Complexo Regulador de Florianópolis no Plano Operativo para a Organização da Rede Estadual de Atenção em Alta Complexidade Cardiovascular em Santa Catarina SILVA, Luzicléia Carolina de Moura. Implantação de complexos reguladores no Estado de Pernambuco: uma avaliação a partir dos gestores da saúde. 2010. 55 f. Tese (Mestre) - Centro de Pesquisas Ageu Magalhães, Recife, 2010. SISTEMA DE REGULAÇÃO. 2009. Disponível em: <http://www.sisregiii.saude. gov.br/>. Acesso em: 12 nov. 2012. VILARINS, Geisa Cristina Modesto. Regulação do acesso à assistência: conceitos e desafios. Revista Comunicação em Ciências da Saúde, Brasília, v. 21, n. 1, p. 81-84, jan.-mar. 2010. 94 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Perfil dos Sujeitos Identificados pelas Unidades Básicas de Saúde do Distrito Sanitário do Continente, Florianópolis, como Sintomáticos Respiratórios e Possíveis Casos de Tuberculose Aluna: Karin Cynthia Cardozo1 Orientador: Eduardo Lobo2 Tutora: Juliana Pereira3 Resumo Abstract A tuberculose continua sendo um grave problema de saúde pública mundial. No Brasil a situação não é diferente, e o país encontra-se entre os 22 países priorizados pela OMS que concentram 80% da carga mundial de tuberculose. O Ministério da Saúde (2011) aponta como principais medidas para o controle da doença, diagnosticar e tratar correta e prontamente os casos de tuberculose. A atividade de busca ativa de sintomático respiratório é uma estratégia eficaz para diagnosticar precocemente os casos de tuberculose, o que auxilia a interrupção da cadeia de transmissão. Neste artigo procurou-se identificar e descrever o perfil dos indivíduos identificados como sintomáticos respiratórios pelas Unidades Básicas de Saúde do Distrito Sanitário do Continente, Florianópolis. Tuberculosis is still a serious threat to the public health worldwide. In Brazil, where the situation repeats itself, the country ranks within the 22 countries prioritized by the WHO that concentrate 80% of the total cases of tuberculosis in the world. The Ministry of Health (2011) indicated as the main strategies to control the disease: early and correct diagnosis and treatment of patients. Active searching for respiratory symptoms is an effective strategy for early diagnosis and to help interrupt the transmission chain. In this article the identification and profiling of individuals that present the respiratory symptoms at the Community Health Centers (Unidades Básicas de Saúde do Distrito Sanitario do Continente) in Florianopolis. Key words: Tuberculosis. Respiratory sympPalavras-chave: Tuberculose. Sintomático toms. Primary health care. respiratório. Atenção primária à saúde. 1 Enfermeira, formada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especializanda em Saúde da Família pela UFSC. E-mail: [email protected]. 2 Pós-Doutor pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP em Educação e Novas Tecnologias (2010). Doutor em Engenharia de Produção pela UFSC (2002). E-mail: [email protected]. 3 Especialista em Gestão de Pessoas nas Organizações e Bacharel em Administração pela Universidade Federal Santa Catarina (UFSC). E-mail: [email protected]. Perfil dos Sujeitos Identificados pelas Unidades Básicas de Saúde do Distrito Sanitário do Continente, Florianópolis, como Sintomáticos Respiratórios e Possíveis Casos de Tuberculose 1 Introdução A tuberculose (Tb) é um problema de saúde pública mundial e desta forma exige o desenvolvimento de estratégias com o objetivo de buscar o seu controle. A organização Mundial da Saúde (OMS) estima que um terço da população mundial, correspondendo a aproximadamente dois bilhões de pessoas, encontra-se infectada pelo Mycobacterium tuberculosis e, dentre eles, oito a nove milhões desenvolvem a doença. O Brasil ocupa a 14ª posição entre os 22 países responsáveis por 80% do total de Tb no mundo. (HINO, 2011, p. 418) No estado de Santa Catarina a Diretoria de Vigilância Epidemiologia (DIVE) enfatiza que são notificados 1.700 casos novos de Tuberculose no estado, sendo Florianópolis o município com maior número. A tuberculose é uma doença infectocontagiosa, tendo como agente causal o mycobacterium tuberculosis, também conhecido como bacilo de Koch, sendo um dos seus principais sintomas a tosse prolongada. No entanto, outros sintomas como febre, suor noturno, falta de apetite, cansaço, falta de ar e emagrecimento rápido, também podem ser apresentados. Para interromper a cadeia de transmissão da tuberculose é necessário descobrir precocemente os casos bacilíferos, ou seja, aqueles indivíduos cuja baciloscopia de escarro é positiva. O Ministério da Saúde enfatiza que as medidas para o controle da tuberculose são o diagnóstico precoce e o tratamento correto. Com objetivo de diagnosticar precocemente, a estratégia de busca ativa de sintomáticos respiratórios é uma forma eficaz que deveria ser priorizada nos serviços de saúde. No Brasil, o conceito de Sintomático Respiratório (SR) adotado refere-se à pessoa que apresenta tosse com expectoração por três semanas ou mais. Quanto à estimativa de casos de tuberculose, considera-se que 1% da população em geral seja sintomático respiratório e deveria ser investigada através da realização do exame de escarro. O Objetivo deste estudo é identificar e descrever o perfil dos indivíduos identificados como casos de sintomáticos respiratórios pelas Unidades Básicas de Saúde do Distrito Sanitário do Continente, em Florianópolis, SC. 96 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Karin Cynthia Cardozo # Eduardo Lobo # Juliana Pereira 2 Exposição do Tema Atualmente no Brasil a organização do serviço de saúde, através do Sistema Único de Saúde (SUS), pressupõe a hierarquização das ações de saúde nas três esferas da administração pública: federal, estadual e municipal. E através desta divisão, as três esferas se organizam de acordo com a complexidade exigida para buscar uma organização administrativa, política e/ou geográfica. Na esfera municipal, o atendimento pelo SUS tem como porta de entrada a atenção básica à saúde, representada pelas Unidades Básicas de Saúde, onde os indivíduos buscam a promoção, prevenção ou medidas para recuperação da saúde. A atenção básica à saúde (ABS) é a estratégia para atuar no complexo processo de geração e proteção da saúde individual e coletiva, abrindo caminho para a formulação de políticas públicas que conduzam ao desenvolvimento humano integral e sustentável, cada vez mais necessário diante do panorama epidemiológico e sanitário, caracterizado pela presença de doenças crônicas e infectocontagiosas ainda presentes, como é o caso da tuberculose. (GONZALES, 2011, p. 40) As Unidades Básicas de Saúde desenvolvem suas atividades e suas práticas em equipes de estratégia em saúde da família, dirigidas a uma população delimitada, buscando resolver os problemas de saúde de maior frequência e maior relevância no território. Dessa forma a tuberculose é um problema de resolução em nível de atenção básica, ou seja, as unidades básicas de saúde e as equipes devem ter capacitação para interferir positivamente na busca ativa de sintomáticos respiratórios, procurando diagnosticar precocemente os casos e encaminhá-los para tratamento. O primeiro contato do doente de Tb com o sistema de saúde é fundamental para garantir o acesso ao diagnóstico da doença, sendo que esse se dá na porta de entrada do sistema. Embora pouco definido, o conceito de porta de entrada é compreendido com o local ou o profissional a ser procurado como primeiro ponto de atenção a cada novo problema de saúde percebido; é o local Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 97 Perfil dos Sujeitos Identificados pelas Unidades Básicas de Saúde do Distrito Sanitário do Continente, Florianópolis, como Sintomáticos Respiratórios e Possíveis Casos de Tuberculose de primeiro contato dentro do sistema de saúde. (OLIVEIRA, 2011, p. 899) Reforça-se a necessidade de intensificar a busca ativa dos sintomáticos respiratórios em todas as Unidades Básicas de saúde, pois é através do monitoramento dos casos suspeitos, do diagnóstico precoce e do tratamento dos casos que poderá ser interrompida a cadeia de transmissão. O diagnóstico laboratorial da tuberculose é feito através do exame de baciloscopia, que é solicitado pelos profissionais das Unidades Básicas de Saúde. Na unidade o profissional que solicitar o exame deve fornecer o pote para coleta (identificado) e realizar as orientações necessárias. Nas normas preconizadas pelo Ministério da Saúde deverão ser fornecidos dois potes, para que sejam realizadas coleta de duas amostras. A entidade organizacional Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis possui como missão: “promover saúde para todos com qualidade”. A missão é: “Oportunizar o acesso de 100% da população a um sistema público de saúde, com gestão da qualidade total e ordenado pela Estratégia Saúde da Família até 2014.” No ano de 2002 ocorreu no município de Florianópolis o processo de descentralização na secretaria Municipal de Saúde, no qual foram criadas cinco regionais de saúde: centro, continente, leste, norte e sul, oficializadas pela Lei n. 13/2004. Em 2010, com a mudança de organograma da Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis as Regionais tornaram-se Distritos Sanitários e permaneceram as cinco unidades. A organização do serviço através dos Distritos Sanitários tem como objetivo atender às necessidades dos indivíduos procurando solucionar os problemas no espaço territorial e social. O Distrito Sanitário Continente é composto por 12 unidades básicas de saúde, 1 CAPS AD, 1 CTA e 1 Policlínica Municipal. Tendo em vista que as unidades básicas de saúde são consideradas as portas de entrada dos indivíduos no serviço de saúde, que 1% da população em geral é considerada sintomático respiratório, que a incidência de tuberculose vem aumentando, que o Ministério da Saúde tem traçado estratégias para o controle da tuberculose e entre estas a busca ativa de sintomáticos respiratórios, e que todas as unidades básicas de saúde possuem o livro de 98 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Karin Cynthia Cardozo # Eduardo Lobo # Juliana Pereira registro de busca ativa de sintomático respiratório, a avaliação do registro de solicitação de exame de escarro no livro de acompanhamento de sintomáticos respiratórios da unidade básica de saúde é uma atividade importante do programa, pois permite à equipe a realização da vigilância em saúde, o controle do número de casos investigados e o seguimento deles. Com as informações do livro também é possível à equipe realizar a busca do paciente assim que recebe o resultado da baciloscopia, bem como buscar aqueles pacientes que não realizaram a coleta da 2ª amostra. 3 Metodologia Esta pesquisa vale-se do pressuposto que os esforços na busca ativa de sintomáticos respiratórios devem ser realizados nas unidades básicas de saúde, que são consideradas as portas de entrada dos indivíduos ao Sistema Único de Saúde, representadas atualmente pelas equipes de estratégia saúde da família. A análise do perfil dos indivíduos apontados como sintomáticos respiratórios pelas unidades básicas de saúde do Distrito Sanitário do Continente teve como referência a abordagem quantitativa. “A investigação quantitativa atua em níveis de realidade e tem como objetivo trazer à luz dados indicadores e tendências observáveis.” (SERAPIONI, 2000, p. 188) O delineamento da pesquisa é descritivo, documental. Segundo Silva (2005), a pesquisa descritiva visa descrever as características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Envolve o uso de técnicas padronizadas de coleta de dados: questionário e observação sistemática. Assume, em geral, a forma de levantamento. A pesquisa é documental quando elaborada a partir de materiais que não receberam tratamento analítico. (SILVA, 2005, p. 21) Para levantamento deste perfil foram analisados os livros de Busca Ativa de Sintomático Respiratório, pertencentes às Unidades Básicas de Saúde do Distrito Sanitário do Continente, elaborados pelo Programa de Controle da Tuberculose do Ministério da Saúde. A análise destes livros foi realizada no mês de novembro de 2012. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 99 Perfil dos Sujeitos Identificados pelas Unidades Básicas de Saúde do Distrito Sanitário do Continente, Florianópolis, como Sintomáticos Respiratórios e Possíveis Casos de Tuberculose A Unidade de Saúde de Coqueiros não entrou nesta análise porque foi inaugurada somente no ano de 2012, e para o presente estudo foram utilizados os dados dos anos de 2009, 2010 e 2011. 4 Análise e Resultados Os indicadores desfavoráveis para o controle da tuberculose na população levam a refletir sobre as prováveis causas deste problema. Entre eles pode-se observar a não realização de busca ativa de sintomáticos respiratórios como prática sistemática nas unidades básicas de saúde. Isso pode ser observado na Tabela 1. Tabela 1: Tabela comparativa da porcentagem de solicitações de baciloscopias realizadas pelas Unidades Básicas de Saúde do Distrito Sanitário do Continente nos anos de 2009, 2010 e 2011 Unidade básica de saúde 2009 2010 2011 Abraão Balneário Capoeiras Coloninha Continente Estreito Jardim Atlântico Monte Cristo Morro da Caixa Sapé Vila Aparecida Distrito S. Continente 26,75 31,40 69,83 28,84 19,66 50,03 51,17 102,40 50,73 23,67 58,83 47,39 21,40 17,32 65,11 56,08 17,39 42,13 86,76 103,07 69,43 202,87 231,97 97,08 23,42 12,71 52,71 65,46 20,12 17,87 46,44 140,07 71,08 59,12 139,22 54,39 Fonte: Adaptada de Florianópolis (2012) De acordo com os dados da Tabela 1 pode-se observar que muitas unidades de saúde não alcançam a porcentagem de 1% da população considerada como sintomático respiratório, conforme o parâmetro nacional recomendado pelo Ministério da Saúde. A unidade de saúde do Monte Cristo destacou-se alcançando nos três anos mais do que a porcentagem recomendada. 100 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Karin Cynthia Cardozo # Eduardo Lobo # Juliana Pereira O bacilo da tuberculose é adquirido principalmente pela inalação de partículas infectantes no ar e um dos sintomas mais comuns é a tosse, que, quando apresentada com expectoração constante por mais de 3 semanas, representa o sintomático respiratório. O diagnóstico da tuberculose pode ser feito através de: exame clínico, exame radiológico de tórax, prova tuberculínica e diagnóstico laboratorial. Neste trabalho buscou-se identificar e descrever o perfil dos indivíduos identificados como sintomáticos respiratórios pelas unidades básicas de saúde do distrito sanitário do Continente, conforme segue abaixo. Tabela 2: Distribuição do número de sintomáticos respiratórios das Unidades Básicas de Saúde do Distrito Sanitário do Continente, segundo o número de amostras coletadas, 2009 Unidade básica de saúde SR 1ª % 2ª % Sem anot. % Abraão Balneário Capoeiras Continente Coloninha Estreito Jardim Atlântico Monte Cristo Morro da Caixa Sapé Vila Aparecida D. S. do Continente 38 14 31 26 25 16 15 103 31 10 14 323 0 1 0 2 0 4 1 10 15 0 8 41 0 7,15 0 7,70 0 25 6,66 9,70 48,40 0 57,14 12,60 29 13 17 12 11 10 13 65 5 8 3 186 76,32 92,85 54,84 46,15 44 62,5 86,68 63,10 16,12 80 21,42 57,58 9 0 14 12 14 2 1 28 11 2 3 96 23,68 0 45,16 46,15 56 12,5 6,66 27,20 35,48 20 21,42 29,72 Fonte: Adaptada de Florianópolis (2012) Conforme os dados da Tabela 2, no ano de 2009 verificou-se que na grande maioria das unidades de Saúde os indivíduos considerados como sintomáticos respiratórios realizaram a coleta de duas amostras de escarro, conforme as normas preconizadas pelo Ministério da Saúde. No entanto nas Unidades de Saúde do Morro da Caixa e da Vila Aparecida o número de coletas de apenas uma amostra foi superior ao de duas amostras. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 101 Perfil dos Sujeitos Identificados pelas Unidades Básicas de Saúde do Distrito Sanitário do Continente, Florianópolis, como Sintomáticos Respiratórios e Possíveis Casos de Tuberculose Tabela 3: Distribuição do número de sintomáticos respiratórios das Unidades Básicas de Saúde do Distrito Sanitário do Continente, segundo o número de amostras coletadas, 2010 Unidade básica de saúde SR 1ª % 2ª % Sem anot. % Abraão Balneário Capoeiras Continente Coloninha Estreito Jardim Atlântico Monte Cristo Morro da Caixa Sapé Vila Aparecida D. S. do Continente 43 12 29 14 20 111 16 133 27 25 35 465 1 0 0 4 3 2 0 14 06 02 22 54 2,32 0 0 28,58 15 1,80 0 10,52 22,30 8 62,85 11,61 22 10 19 03 09 04 16 65 01 15 13 177 51,16 83,33 65,52 21,42 45 3,60 100 48,87 3,70 60 37,15 38,06 20 2 10 07 08 105 0 54 20 08 00 234 46,52 16,67 34,48 50 40 94,60 0 40,60 74,00 32 0 50,33 Fonte: Adaptada de Florianópolis (2012) Os resultados da Tabela 3, no ano de 2010, demonstram que 50,33% dos indivíduos reconhecidos como sintomáticos respiratórios não retornaram com a coleta, sendo que nestes casos a unidade de saúde deveria ter realizado busca ativa para orientar o indivíduo sobre a importância de realizar este exame. Dos indivíduos que realizaram a coleta, apenas 38,06% fizeram as duas coletas, conforme a norma preconizada pelo Ministério da Saúde, e 11,61 % realizaram apenas 1 coleta de amostra. 102 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Karin Cynthia Cardozo # Eduardo Lobo # Juliana Pereira Tabela 4: Distribuição do número de sintomáticos respiratórios das Unidades Básicas de Saúde do Distrito Sanitário do Continente, segundo o número de amostras coletadas, 2011 Unidade básica de saúde Abraão Balneário Capoeiras Continente Coloninha Estreito Jardim Atlântico Monte Cristo Morro da Caixa Sapé Vila Aparecida D. S. do Continente SR 1ª % 2ª % 33 11 35 14 15 12 20 129 29 20 35 353 7 1 1 2 0 2 0 10 1 0 0 24 21,21 9,09 2,85 14,29 0 16,60 0 7,75 3,44 0 0 6,79 18 9 19 5 13 2 16 76 1 3 28 190 54,54 81,82 54,28 35,71 86,66 16,60 80 58,91 3,44 15 80 53,83 Sem anot. 8 1 15 7 2 8 4 43 27 17 7 139 % 24,25 9,09 42,86 50 13,34 66,80 20 33,34 93,12 85 20 39,38 Fonte: Adaptada de Florianópolis (2012) De acordo com a Tabela 4 pode-se observar que as unidades de saúde dos bairros Abraão, Balneário, Capoeiras, Continente, Coloninha, Jardim Atlântico, Monte Cristo e Vila Aparecida efetuaram um quantitativo de 2 amostras, bem maior que 1 amostra ou sem anotação de nenhuma amostra, realizando as coletas de acordo com o que é preconizado pelo Ministério da Saúde. No entanto, nas unidades de saúde do Morro da Caixa e do Sapé o quantitativo de pessoas que não trouxeram suas amostras, ou não foi registrado no livro, é bem maior que o número dos que apresentaram 1 ou 2 amostras. Isto ressalta a importância de as unidades realizarem o controle e avaliação das anotações nos seus livros de sintomáticos respiratórios. Avaliando os dados destes três anos pode-se verificar que do número de indivíduos que são identificados como sintomáticos respiratórios pelas unidades de saúde, anotados no livro e fornecido a eles o pote, um grande número não retorna com as amostras. É necessário realizar uma sensibilização com os profissionais de saúde para que realizem busca ativa de todos os casos identificados como sintomáticos respiratórios. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 103 Perfil dos Sujeitos Identificados pelas Unidades Básicas de Saúde do Distrito Sanitário do Continente, Florianópolis, como Sintomáticos Respiratórios e Possíveis Casos de Tuberculose Tabela 5: Distribuição do número de sintomáticos respiratórios das Unidades Básicas de Saúde do Distrito Sanitário do Continente, segundo o resultado das amostras coletadas, 2009 Result. SR Abraão Balneário Capoeiras Continente Coloninha Estreito Jardim Atlântico Monte Cristo Morro da Caixa Sapé Vila Aparecida Distrito Sanitário do Continente 29 14 17 14 11 14 14 75 20 8 11 1 1 0 1 0 1 1 5 2 0 7 3,45 7,15 0 7,15 0 7,15 7,15 6,66 10 0 63,63 28 13 17 13 11 13 13 70 18 8 4 96,55 92,85 100 92,85 100 92,85 92,85 93,33 90 100 36,36 227 19 8,37 208 91,63 positivo % Result. Unidade básica de saúde negativo % Fonte: Adaptada de Florianópolis (2012) Os dados da Tabela 5 permitem visualizar que 91,63 % dos resultados das amostras de baciloscopias realizadas foram negativos. Nas unidades de saúde onde foram realizadas a coletada de apenas uma amostra, tal fato nos leva a interrogar se realmente este exame seria negativo. 104 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Karin Cynthia Cardozo # Eduardo Lobo # Juliana Pereira Tabela 6: Distribuição do número de sintomáticos respiratórios das Unidades Básicas de Saúde do Distrito Sanitário do Continente, segundo o resultado das amostras coletadas, 2010 Unidade básica de saúde Abraão Balneário Capoeiras Continente Coloninha Estreito Jardim Atlântico Monte Cristo Morro da Caixa Sapé Vila Aparecida Distrito Sanitário do Continente SR Result. positivo % Result. negativo % 23 10 19 7 12 6 16 79 7 17 35 1 0 1 1 0 2 0 6 0 0 3 4,34 0 5,26 14,28 0 33,33 0 7,60 0 0 8,57 22 10 18 06 12 04 16 73 07 17 32 95,66 100 94,74 85,72 100 66,67 100 92,40 100 100 91,43 231 14 6,06 217 93,94 Fonte: Adaptada de Florianópolis (2012) Os dados da Tabela 6 demonstram que 93,94% das amostras coletadas tiveram um resultado negativo. Tabela 7: Distribuição do número de sintomáticos respiratórios das Unidades Básicas de Saúde do Distrito Sanitário do Continente, segundo o resultado das amostras coletadas, 2011 Unidade básica de saúde Abraão Balneário Capoeiras Continente Coloninha Estreito Jardim Atlântico Monte Cristo Morro da Caixa Sapé Vila Aparecida Distrito Sanitário do Continente SR Result. positivo % Result. negativo % 25 10 20 7 13 4 16 86 2 3 28 3 0 2 0 0 1 0 4 1 0 2 12 0 10 0 0 25 0 4,65 50 0 7,15 22 10 18 7 13 3 16 82 1 3 26 88 100 90 100 100 75 100 95,35 50 100 92,85 214 13 6,07 201 93,93 Fonte: Adaptada de Florianópolis (2012) Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 105 Perfil dos Sujeitos Identificados pelas Unidades Básicas de Saúde do Distrito Sanitário do Continente, Florianópolis, como Sintomáticos Respiratórios e Possíveis Casos de Tuberculose Conforme os dados da Tabela 7, pode-se verificar que nas unidades de saúde do Abraão, Balneário, Capoeiras, Continente, Coloninha, Estreito, Jardim Atlântico, Monte Cristo, Sapé e Vila Aparecida o quantitativo de resultados negativos foi maior que o quantitativo de resultados positivos; e somente na unidade de saúde do Morro da Caixa o quantitativo foi igual. Tabela 8: Distribuição do número de sintomáticos respiratórios das Unidades Básicas de Saúde do Distrito Sanitário do Continente, segundo a faixa etária, 2009 UBS Abraão Balneário Capoeiras Continente Coloninha Estreito Jardim Atlântico Monte Cristo Morro da Caixa Sapé Vila Aparecida D. S. Continente SR 38 14 31 26 25 16 15 103 31 10 14 323 10-20 21-40 41-60 N % N % 7 0 2 1 2 1 4 9 7 0 1 34 18 0 6 4 8 6 27 9 23 0 7 11 9 1 11 6 8 8 5 37 7 1 5 98 24 15 7 5 35 7 23 13 32 10 50 4 33 5 36 36 23 13 10 2 36 3 30 113 N > 60 Sem registro % N % N % 39 36 26 50 40 25 33 35 42 20 21 35 5 1 8 5 5 3 1 17 4 5 4 58 13 7 26 19 20 19 7 17 13 50 29 18 2 7 3 2 0 0 0 4 0 2 1 21 5 50 10 8 0 0 0 4 0 20 7 7 Fonte: Adaptada de Florianópolis (2012) Os dados da Tabela 8 sugerem que a maior concentração de indivíduos sintomáticos respiratórios está nas faixas etárias de 41 a 60 anos, ou seja, a população de faixa etária considerada como produtiva, podendo gerar um aumento nos problemas financeiros, pois muitas vezes, o indivíduo com problema respiratório é o provedor da família. 106 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Karin Cynthia Cardozo # Eduardo Lobo # Juliana Pereira Tabela 9: Distribuição do número de sintomáticos respiratórios das Unidades Básicas de Saúde do Distrito Sanitário do Continente, segundo a faixa etária, 2010 UBS Abrão Balneário Capoeiras Continente Coloninha Estreito Jardim Atlântico Monte Cristo Morro da Caixa Sapé Vila Aparecida D. S. Continente 10-20 SR 43 12 29 14 20 111 16 133 27 25 35 465 N 1 0 1 0 3 20 1 7 1 2 5 41 % 2 0 3 0 15 18 6 5 4 8 14 9 21-40 N 9 4 9 1 2 54 4 45 9 9 15 161 % 21 33 31 7 10 49 25 34 33 36 43 35 41-60 N 18 6 9 9 13 14 8 58 14 12 11 172 % 42 50 31 64 65 13 50 44 52 48 31 37 Sem > 60 N 13 2 8 4 2 8 2 12 2 2 4 59 registro % 30 17 28 29 10 7 13 9 7 8 11 13 N 2 0 2 0 0 15 1 11 1 0 0 32 % 5 0 7 0 0 14 6 8 4 0 0 7 Fonte: Adaptada de Florianópolis (2012) Os dados da Tabela 9 sugerem que a faixa etária de 40 a 60 anos é a que possui um maior número de indivíduos identificados como sintomáticos respiratórios, 172. Esta faixa etária da população é a considerada como a da população produtivamente ativa. Tabela 10: Distribuição do número de sintomáticos respiratórios das Unidades Básicas de Saúde do Distrito Sanitário do Continente, segundo a faixa etária, 2011 UBS SR Abrão Balneário Capoeiras Continente Coloninha Estreito Jardim Atlântico Monte Cristo Morro da Caixa Sapé Vila Aparecida D. S. Continente 33 11 35 14 15 12 20 129 29 20 35 353 10-20 N 2 0 3 1 0 2 1 14 1 0 4 28 % 6 0 9 7 0 17 5 11 3 0 11 8 21-40 N 7 1 13 4 3 6 2 33 14 8 7 98 % 21 9 37 29 20 50 10 26 48 40 20 28 41-60 N 14 6 12 6 8 2 10 45 11 4 19 137 % 42 55 34 43 53 17 50 35 38 20 54 39 > 60 N 4 4 6 3 1 2 6 19 1 6 4 56 % 12 36 17 21 7 17 30 15 3 30 11 16 Sem registro N 6 0 1 0 3 0 1 18 2 2 1 34 % 18 0 3 0 20 0 5 14 7 10 3 9 Fonte: Adaptada de Florianópolis (2012) Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 107 Perfil dos Sujeitos Identificados pelas Unidades Básicas de Saúde do Distrito Sanitário do Continente, Florianópolis, como Sintomáticos Respiratórios e Possíveis Casos de Tuberculose Os dados da Tabela 10 demonstram que a faixa etária dos 41 aos 60 anos é a faixa etária da população adulta, ou seja, população produtivamente ativa, conforme os anos anteriores. Tabela 11: Distribuição do número de sintomáticos respiratórios das Unidades Básicas de Saúde do Distrito Sanitário do Continente, segundo o sexo, 2009 Unidade básica de saúde Abraão Balneário Capoeiras Continente Coloninha Estreito Jardim Atlântico Monte Cristo Morro Caixa Sapé Vila Aparecida D. S. do Continente SR Sexo F % Sexo M % 38 14 31 26 25 16 15 103 31 10 14 323 21 07 13 12 13 06 10 59 21 02 08 172 55,26 50 42 46,16 52,0 37,5 66,6 57,28 67,75 20 57,15 53,25 17 07 18 14 12 10 05 44 10 08 06 151 44,74 50 58 53,84 48 62,5 33,4 42,72 32,25 80 42,85 46,75 Fonte: Adaptada de Florianópolis (2012) Observa-se na Tabela 11 que nas Unidades Básicas de Saúde do Abraão, Coloninha, Jardim Atlântico, Morro da Caixa, Monte Cristo e Vila Aparecida a quantidade de sintomáticos respiratórios do sexo feminino é maior do que a do sexo masculino. Já nas unidades de Capoeiras, Continente, Estreito e Sapé o quantitativo de sintomáticos respiratórios do sexo masculino é maior do que o feminino. Na Unidade de Saúde do Balneário houve o mesmo número de sintomáticos respiratórios do sexo masculino e feminino. 108 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Karin Cynthia Cardozo # Eduardo Lobo # Juliana Pereira Tabela 12: Distribuição do número de sintomáticos respiratórios das Unidades Básicas de Saúde do Distrito Sanitário do Continente, segundo o sexo, 2010 Unidade básica de saúde Abraão Balneário Capoeiras Continente Coloninha Estreito Jardim Atlântico Monte Cristo Morro da Caixa Sapé Vila Aparecida D. S. do Continente SR 43 12 29 14 20 111 16 133 27 25 35 465 Sexo F 22 05 13 02 08 09 02 89 14 15 18 197 % 51,16 41,66 44,82 14,28 40 8,10 12,5 66,91 51,85 60 51,42 42,36 Sexo M 21 07 16 12 12 102 14 44 13 10 17 268 % 48,84 58,34 55,18 85,72 60 91,90 87,5 33,09 48,15 40 48,58 57,64 Fonte: Adaptada de Florianópolis (2012) Os dados da Tabela 12 demonstram que as unidades de saúde do Continente, Estreito, Jardim Atlântico apresentam um maior número de indivíduos do sexo masculino. Já nas unidades de saúde do Abraão, Balneário, Capoeiras, Morro da Caixa e Vila Aparecida, as diferenças entre os dois sexos não se mostram tão expressivas. Nas unidades de saúde do Monte Cristo e Sapé o quantitativo de indivíduos do sexo feminino é maior. Tabela 13: Distribuição do número de sintomáticos respiratórios das Unidades Básicas de Saúde do Distrito Sanitário do Continente, segundo o sexo, 2011 Unidade básica de saúde Abraão Balneário Capoeiras Continente Coloninha Estreito Jardim Atlântico Monte Cristo Morro da Caixa Sapé Vila Aparecida D. S. do Continente SR 33 11 35 14 15 12 20 129 29 20 35 353 Sexo F 12 4 18 6 7 5 12 66 17 8 23 178 % 36,36 36,36 51,42 42.80 46,70 41,66 60 51,17 58.60 40 65,71 50,42 Sexo M 21 7 17 8 8 7 8 63 12 12 12 175 % 63,64 63,64 48,58 57.20 53,30 58,34 40 48,83 41.40 60 34,29 49,58 Fonte: Adaptada de Florianópolis (2012) Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 109 Perfil dos Sujeitos Identificados pelas Unidades Básicas de Saúde do Distrito Sanitário do Continente, Florianópolis, como Sintomáticos Respiratórios e Possíveis Casos de Tuberculose Os resultados da Tabela 13 demonstram que nas unidades de saúde de Capoeiras, Jardim Atlântico, Monte Cristo, Morro da Caixa e Vila Aparecida o quantitativo de pessoas do sexo feminino é maior do que o masculino. Já nas unidades de saúde do Abraão, Balneário, Continente, Coloninha, Estreito e Sapé o quantitativo de pessoas do sexo masculino é maior. 5 Considerações Finais Este artigo permitiu identificar lacunas que precisam ser revistas pelas unidades básicas de saúde para que as metas na busca ativa de sintomáticos respiratórios sejam efetivamente alcançadas, e também, para que os casos em que os indivíduos foram identificados como sintomáticos respiratórios sejam acompanhados pelas unidades básicas de saúde através das anotações no livro de registro de busca de sintomático respiratório. Pelas anotações do livro as unidades de saúde devem realizar uma busca ativa dos indivíduos que levaram os potes, porém não trouxeram a amostra, e dos que não retornam à unidade para buscar o resultado da baciloscopia. Referências BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria da Vigilância em Saúde. Departamento Vigilância Epidemiológica. Manual de Recomendações para o controle da tuberculose no Brasil. 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Adotou-se como ponto de partida a demonstração do conceito de OS, os requisitos de qualificação e desqualificação, e a discricionariedade da contratação direta. Estas abordagens, que antecedem as análises feitas sobre os casos de dispensa e inexigibilidade de licitação contidas nos incisos dos artigos 24 e 25 de Lei Federal n. 8.666/93 e, também, da discricionariedade na contratação direta, são necessárias à compreensão da dispensa de licitação na contratação de OS para a prestação de serviços previstos no Contrato de Gestão. É para a celebração deste contrato que se dispensou a realização de licitação The purpose of this study was to present the hypothesis without bidding in hiring Social Organizations (OS) under the gaze of the discussion constitutionality of Federal Law No. 9637 of May 15, 1998 by the Supreme Court. It was adopted as a starting point to demonstrate the concept of OS, the requirements for qualification and disqualification, at the discretion of direct contracting. These approaches, prior to the analysis carried out on the cases of exemption and waiver of bid contained in clauses of Articles 24 and 25 of Federal Law No. 8.666/93 and also in the direct hiring of discretion, are necessary to understand the waiver bidding OS in hiring for the provision of services under the Management Agreement. It is for the celebration of this contract that waived the completion of bidding. Palavras-chave: Interesse Público. Contra- Key words: The Public Interest. Direct Contação Direta. Organizações Sociais. Contrato tracting. Social Organizations. Contract. Made Gestão. Princípio da Eficiência. nagement. Principle of Efficiency. 1 Especialista em Direito Municipal (2012). Advogado. Possui graduação em Direito pela Univeridade do Vale do Itajaí (2008). E-mail: [email protected]. 2 Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2004). E-mail: [email protected]. 3 Mestre em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina (2012). Possui graduação em Ciências da Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina (2008). E-mail: [email protected]. Leandro Adriano de Barros # Mário de Souza Almeida # Isadora de Souza Bernardini 1 Introdução A presente pesquisa fundamenta-se na proposta de se apresentar uma nova ideia a respeito das razões que levaram à contratação direta das Organizações Sociais para a prestação de serviços previstos no Contrato de Gestão, levando em consideração o posicionamento de representantes da doutrina. Nesse sentido, abordar-se-á o conceito de Organização Social, a forma de qualificação e desqualificação, a discricionariedade do agente público no quesito qualificação, passando-se à análise da constitucionalidade da Lei Federal n. 9.637, de 15 de maio de 1998, e, em seguida, da previsão quanto à dispensa de licitação e sua justificativa e extensão. Tratar-se-á, também, do julgamento da Medida Cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 1.923, proposta pelo Partido dos Trabalhadores em face da Lei n.9.637, de 15 de maio de 1998, que dispõe sobre a qualificação de entidades como organizações sociais, dando-se enfoque nas principais divergências entre os ministros da corte. Por fim, apresentar-se-á a ideia em razão da qual se motivou a realização deste trabalho e, também, outras considerações conclusivas. 2 Exposição do Tema A Administração Pública possui o encargo de executar diversos serviços em prol do Estado. No entanto, algumas atividades podem ser delegadas a particulares. Tendo em vista tratar-se de atividades destinadas ao povo, regras sérias e claras devem ser seguidas para que não ocorra o desvio do objetivo-fim. Os princípios rotulados no caput do artigo 37 da atual Carta Magna brasileira consagram tal seriedade: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Foi de tal base principiológica que derivou a obrigatoriedade de contratação às claras de todos aqueles que desejam prestar serviços ao Estado através do processo de licitação, por meio do imposto no artigo 37 da Constituição da República Federativa do Brasil. Ressalta-se tal dispositivo: Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 115 Dispensa de Licitação na Contratação de Organizações Sociais Art. 37 A Administração pública [...]. XXI – ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações. Para Hely Lopes Meirelles (2008, p. 26), licitação é: [...] um procedimento administrativo mediante o qual a Administração Pública seleciona a proposta mais vantajosa para o contrato de seu interesse. Como procedimento, desenvolve-se através de uma sucessão ordenada de atos vinculantes para a Administração e para os licitantes, o que propicia igual oportunidade a todos os interessados e atua como fator de eficiência e moralidade nos negócios administrativos. Em algumas situações ainda, por possuírem caráter peculiar, são dispensados ou inexigidos procedimentos licitatórios. Os casos de inexigibilidade de licitação estão previstos, exemplificadamente, no artigo 25 da Lei de Licitação; eis que em tais situações não há como ocorrer disputa. Os artigos: 17, incisos I e II e 24, I a XXVIII, da Lei em questão estabelecem quais os casos em que a Administração Pública pode dispensar o certame. José dos Santos Carvalho Filho (2007, p. 125) faz a concreta distinção entre as duas situações: A dispensa de licitação caracteriza-se pela circunstância de que, em tese, poderia o procedimento ser realizado, mas que, pela particularidade do caso, decidiu o legislador não torná-lo obrigatório. Diversamente ocorre com a inexigibilidade, [...], porque sequer inviável a realização do certame. Para contratação direta o Administrador Público detém a discricionaridade. Celso Antônio Bandeira de Mello (2006, p. 38) assim evidencia o que vem a ser atos discricionários: 116 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Leandro Adriano de Barros # Mário de Souza Almeida # Isadora de Souza Bernardini [...] seriam os que a administração pratica com certa margem de liberdade de avaliação ou decisão segundo critérios de conveniência e oportunidade formulados por ela mesma, ainda que adstrita à lei reguladora da expedição deles (grifo do autor). Embora o ato seja discricionário, o Administrador estará restrito a regras a serem observadas. Assim defende Justen Filho (2005, p. 56): A contratação direta não significa a inaplicação dos princípios básicos que orientam a atuação administrativa. Nem se caracteriza uma livre atuação administrativa. O administrador está obrigado a seguir um procedimento administrativo determinado, destinado a assegurar (ainda nesses casos) a prevalência dos princípios jurídicos fundamentais. Permanece o dever de realizar a melhor contratação possível, dando tratamento igualitário a todos os possíveis contratantes. O artigo 24, inciso XXIV da Lei de Licitação prevê a possibilidade de contratação direta quando se tratar de Organizações Sociais. Destaca-se: Art. 24 É dispensável a licitação: [...] XXIV – para a celebração de contratos de prestação de serviços com as organizações sociais, qualificadas no âmbito das respectivas esferas de governo, para as atividades contempladas no contrato de gestão. Para que reste evidenciado, necessita-se o realce do que vêm a ser as chamadas Organizações Sociais. Marçal Justen Filho (2005, p. 134) assim afirma: É uma qualificação atribuível a uma pessoa jurídica de direito privado, sem fim lucrativo. Por isso, tanto associações (sociedades civis sem fim lucrativo) como fundações podem pleitear essa qualidade. Exige-se que o objeto social se relacione a atividades dirigidas ao ensino, à pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à saúde. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 117 Dispensa de Licitação na Contratação de Organizações Sociais A Lei Federal n. 9.637, de 15 de maio de 1998, que dispõe sobre a qualificação das entidades como organizações sociais, estabelece em seu artigo 1º quais atividades podem ensejar o enquadramento da pessoa jurídica já existente em tal enquadramento; os requisitos a serem observados para o real enquadramento como Organização Social estão arrolados no artigo 2º; o seu inciso II dispõe que cabe ainda a discricionariedade na avaliação da qualificação de uma Organização Social. Destaca-se: [...] II – haver aprovação, quanto à conveniência e oportunidade de sua qualificação como organização social, do Ministro ou titular de órgão supervisor ou regulador da área de atividade correspondente ao seu objeto social e do Ministro de Estado da Administração Federal e Reforma do Estado. Quanto à tal situação, menciona-se o posicionamento de Silva Neto apud Luiz Carlos Cancellier de Olivo (2005, p. 145): A intenção da regra disposta no art. 2º, II, não parece ser outra senão conferir ao administrador público um campo de atuação subjetiva para evitar a qualificação de entidades “fantasmas” ou de origem e funcionamento duvidosos. E a preocupação encontra fundamento na medida em que serão executados serviços públicos, aí incluídos a gerência de bens patrimoniais, servidores e recursos estatais. Em paralelo à atribuição do título de Organização Social, o outro requisito para se tornar possível a dispensa de licitação, e a contratação direta com o particular, é a celebração do Contrato de Gestão. A contratação de Organizações Sociais visa dar maior aplicabilidade ao princípio da eficiência, este intitulado no artigo 37, caput da Constituição da República Federativa do Brasil. Recentemente, o Partido dos Trabalhadores e o Partido Democrático Trabalhista propuseram Ação Direta de Inconstitucionalidade para questionar a legalidade da Lei n. 9.637/98. Ainda em trâmite, tem-se que, se procedente, poderá ser inutilizado o título de Organizações Sociais, não sendo mais aplicável para hipóteses de dispensa de licitação. 118 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Leandro Adriano de Barros # Mário de Souza Almeida # Isadora de Souza Bernardini Nesse sentido, embora legalmente prevista a hipótese de dispensa de licitação para a contratação com Organizações Sociais, é importante que os administradores públicos ajam com cautela para contratação direta em casos como esse. 3 Metodologia Para o desenvolvimento do Trabalho de Conclusão de Curso foi utilizado o método dedutivo, sendo utilizados como fontes bibliográficas leis, doutrinas, dissertações e periódicos, tanto os tradicionais (impressos) quanto aqueles publicados na internet a respeito do tema. 4 Análise e Resultados 4.1 Dispensa de Licitação na Contratação com Organizações Sociais O artigo 37 da Constituição Federal de 1988 concedeu, em linhas gerais, à Administração Pública a possibilidade de contratação direta com o particular, desde que respeitados e atendidos os requisitos previstos em legislação infraconstitucional; eis que, em regra, as contratações de obras, serviços, compras e alienações serão realizadas mediante procedimento licitatório. A Lei Federal n. 8.666, de 21 de junho de 1993, regulamentou o procedimento instituindo normas para licitações e contratos da Administração Pública, oportunidade em que estabeleceu, em seu art. 24, a possibilidade de dispensa, destacando-se, por pertinência do tema, o inciso XXIV, o qual autoriza a contratação objeto deste estudo. Referido inciso XXIV foi inserido no artigo 24 da Lei Federal n. 8.666, pela Lei n. 9.648, de 27 de maio de 1998, que autorizou a Administração Pública a contratar diretamente com as Organizações Sociais, desde que qualificadas nos âmbitos das respectivas esferas de governos como tais, para lhe prestarem serviços contemplados no contrato de gestão. Nesse sentido, tem-se por necessária a análise distinta de “Organizações Sociais” e de “Contratos de Gestão”, na forma que se passa a expor. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 119 Dispensa de Licitação na Contratação de Organizações Sociais 4.1.1 Organizações Sociais Ao contrário do que afirma o Ministro do STF Ilmar Galvão, quando do julgamento da Medida Cautelar em Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 1.923-5, proposta pelo Partido dos Trabalhadores em face da Lei n. 9.637, de 15 de maio de 1998, que dispõe sobre a qualificação de entidades como organizações sociais, estas não são, como inicialmente possa parecer, uma nova categoria de pessoa jurídica instituída por lei. São, na verdade, um tipo de pessoa jurídica já existente, mas que recebeu, em razão do atendimento a requisitos de qualificação, um novo título, conforme estabelecido em seu artigo 1º, que assim dispõe: Art. 1º O Poder Executivo poderá qualificar como organizações sociais pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujas atividades sejam dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à saúde, atendidos aos requisitos previstos nesta Lei. Nesse sentido, são pertinentes os comentários de Carvalho Filho (2007, p. 314): [...] que não se trata [as organizações sociais] de nova categoria de pessoas jurídicas, mas apenas de uma qualificação especial, um título jurídico concedido por lei a determinadas entidades que atendam às exigências nela especificadas (grifo do autor). Trata-se, portanto, de pessoas jurídicas já conhecidas que recebem a rotulação de Organizações Sociais por preencherem os requisitos legais e se disporem a exercer determinadas atividades estabelecidas em lei. Quanto ao conceito, destacam-se os ensinamentos de Cancellier de Olivo (2005, p. 22) e Justen Filho (2005, p. 25), respectivamente: As Organizações Sociais podem ser definidas como pessoas jurídicas de personalidade privada, sem finalidade lucrativa, constituídas voluntariamente por particulares, auxiliares do Estado na persecução de atividades de conteúdo social relevante. 120 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Leandro Adriano de Barros # Mário de Souza Almeida # Isadora de Souza Bernardini É uma qualificação atribuível a uma pessoa jurídica de direito privado, sem fim lucrativo. Por isso, tanto associações (sociedades civis sem fim lucrativo) como fundações podem pleitear essa qualidade. Exige-se que o objeto social se relacione a atividades dirigidas ao ensino, à pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à saúde. Conclui-se, portanto, que as Organizações Sociais são pessoas jurídicas de direito privado previstas no artigo 44, incisos I e III do Código Civil, de maneira que, por terem consignado em seus estatutos constitutivos o exercício de atividades previstas no artigo 1º da Lei n. 9.637/98, e acudirem a outros requisitos previstos nesta lei, recebem tal título. 4.1.2 Qualificação Para que uma entidade seja dispensada de participar do certame e possa contratar diretamente com a Administração Pública é necessário que antes seja qualificada como Organização Social dentro da respectiva esfera da Administração. Nesse sentido, faz-se necessário o atendimento dos requisitos estabelecidos em lei por parte da entidade para que lhe seja conferido o título de Organização Social. Tais requisitos, previstos no art. 1º, in fine, da Lei n. 9.637/98, estão inseridos no artigo 2º, incisos I e II do mesmo comando legal, observando que, para receber o título jurídico de Organização Social, a entidade deverá comprovar os requisitos específicos contidos no inciso I, sem prejuízo de também atender o inciso II, do artigo 2º, dessa Lei, que se refere a: [...] II – haver aprovação, quanto à conveniência e oportunidade de sua qualificação como organização social, do Ministro ou titular de órgão supervisor ou regulador da área de atividade correspondente ao seu objeto social e do Ministro de Estado da Administração Federal e Reforma do Estado. Assim, as organizações sociais serão classificadas de acordo com o atendimento aos requisitos contidos no inciso I da Lei n. 9.637/98, bem como pela avaliação de conveniência e oportunidade feita pelo Ministro do Estado e pelo Ministro ou titular do órgão supervisor ou regulador da área de atividade correspondente ao seu objeto social. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 121 Dispensa de Licitação na Contratação de Organizações Sociais 4.1.3. Discricionariedade na Qualificação Conforme demonstrado no subitem anterior, a qualificação da pessoa jurídica dar-se-á conforme critério de conveniência e oportunidade a ser realizado por membro competente integrante da Administração Pública, ex vi do art. 2º, II, da Lei n. 9.637/98. A esta avaliação, concedida ao administrador público, permitindo-lhe decidir de acordo com critérios subjetivos, foi dado o nome de ato administrativo discricionário. E comentando a alegada discricionariedade do membro competente integrante da Administração Pública, Silva Neto (apud CANCELLIER DE OLIVO, 2005, p. 36), expõe que: [...] a intenção da regra disposta no art. 2º, II, não parece ser outra senão conferir ao administrador público um campo de atuação subjetiva para evitar a qualificação de entidades ‘fantasmas’ ou de origem e funcionamento duvidosos. E a preocupação encontra fundamento na medida em que serão executados serviços públicos, aí incluídos a gerência de bens patrimoniais, servidores e recursos estatais. Assim, diante do receio de se qualificar uma entidade inidônea, o dispositivo em comento conferiu alto grau de subjetividade ao administrador ao praticar aquele ato. Porém, olhando-se por outro ângulo, abriu-se perigosa margem para dar vazão a intuitos particulares de favoritismos ou perseguições. É com fundamento nessa possibilidade de desvio de conduta por parte do administrador público que [...] a Lei não poderia oferecer ao administrador a opção de qualificar, ou não, uma entidade civil, que preencheu todos os requisitos exigidos no art. 2º, da Lei nº 9.637/98, ao argumento de não ter atendido o interesse público. [...] Todavia, ainda que preenchidos todos os elementos contidos no art. 2º, o dispositivo não está imune a críticas, pois a redação do artigo não confere nenhuma margem de segurança ao poder público, oferecendo o risco potencial de se qualificar uma entidade que não possua credibilidade. Com efeito, a Lei não exige da entidade privada existência de capital próprio, comprovação efetiva de serviços prestados na sua área de atuação, qualquer contrapartida ao apoio do Estado e um tempo mínimo de existência e funcionamento. 122 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Leandro Adriano de Barros # Mário de Souza Almeida # Isadora de Souza Bernardini Neste último e particular aspecto, chega a causar perplexidade o fato de a lei não exigir um lapso temporal de funcionamento da entidade civil (SILVA NETO apud CANCELLIER DE OLIVO, 2005, p. 37) Desse modo, tem-se que a necessidade de adequações da Lei, levando-se em consideração esses argumentos, torna-se urgente, haja vista a possibilidade de se fazer uso da “máquina pública” para atender a interesses de ordem particular, lesando, assim, o interesse público. 4.1.4. Desqualificação A qualificação de uma entidade como Organização Social não é titulo concedido ad infinitum, ou seja, para sempre, ou até quando a entidade existir. O Poder Executivo, encontrando motivos, poderá desqualificar a entidade, retirando-lhe o título de Organização Social. A previsão de desqualificação está contida no artigo 16 e §§, da Lei n. 9.637/98, in verbis: Art. 16 O Poder executivo poderá proceder à desqualificação da entidade como organização social, quando constatado o descumprimento das disposições no contrato de gestão. § 1º A desqualificação será precedida de processo administrativo, assegurado o direito de ampla defesa, respondendo os dirigentes da organização social, individual e solidariamente, pelos danos ou prejuízos decorrentes de sua ação ou omissão. § 2º A desqualificação importará reversão dos bens permitidos e dos valores entregues à utilização da organização social, sem prejuízo de outras sanções cabíveis. Assim, uma vez descumprido o acordado previsto no Contrato de Gestão, o Poder Público desqualificará a entidade como Organização Social, procedendo, se a situação requerer, de acordo com o disposto no artigo 10 da citada Lei: Art. 10 Sem prejuízo da medida a que se refere o artigo anterior [responsabilidade dos fiscais do contrato de gestão], quando assim exigir a gravidade dos fatos ou interesse público, havendo indícios fundados de malversação de bens ou recursos de origem Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 123 Dispensa de Licitação na Contratação de Organizações Sociais pública, os responsáveis pela fiscalização representarão ao Ministério Público, à Advocacia - Geral da União ou à Procuradoria da entidade para que requeira ao juízo competente a decretação de indisponibilidade dos bens da entidade e o seqüestro [rectius, arresto] dos bem dos seus dirigentes, bem como de agente público ou terceiro, que possam ter enriquecido ilicitamente ou causado dano ao patrimônio público. A crítica que se faz é em relação à falsa faculdade que foi concedida ao Poder Público de desqualificar a entidade como Organização Social quando constatado o descumprimento das disposições contidas no contrato de gestão. De acordo com Silva Neto (apud CANCELLIER DE OLIVO, 2005, p. 39), [...] ao tratar da desqualificação, a Lei n. 9.637/98 cometeu uma atecnia, [sic] ao disciplinar que o poder executivo poderá desqualificar a entidade que não cumpriu o Contrato de Gestão, o que nos traz uma primeira noção de que este ato é revestido de discricionariedade. Essa idéia é apenas assintomática e não resiste a uma análise mais profunda. O Poder Executivo, na verdade, deverá desqualificar a entidade que não cumpriu o contrato de gestão, ou tenha malversado bens ou recursos de origem pública. A norma é de caráter cogente, pois se trata de bens, recursos e servidores públicos, todos pagos com dinheiro oriundo do bolso do cidadão, não cabendo ao administrador, segundo critério subjetivo, retirar ou não o título de Organização Social da pessoa jurídica. Se assim não fosse, se estaria diante de mais uma brecha na lei que possibilita a proliferação de crimes contra o interesse público avalizados por um instituto cuja finalidade não é esta, qual seja, o ato discricionário. Ainda, aqueles responsáveis pela fiscalização do contrato de gestão, ao tomarem conhecimento de qualquer irregularidade ou ilegalidade na utilização de recursos públicos (bens, verbas e servidores) por parte da Organização Social, darão ciência ao Tribunal de Contas, seja da União, Estado ou Município, sob pena de responsabilização solidária (artigo 8º da Lei n. 9.637/98). 124 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Leandro Adriano de Barros # Mário de Souza Almeida # Isadora de Souza Bernardini 4.1.5. Dispensa de Licitação na Contratação de Organizações Sociais Como visto, a dispensa de licitação caracteriza-se quando há a possibilidade de realização do certame porque é viável a disputa, mas, por alguma razão, entendeu o legislador não torná-la obrigatória. Diversamente ocorre com a inexigibilidade, pois é inviável a competição. A dispensa de licitação na contratação de Organizações Sociais, modalidade de dispensa em razão da pessoa, está prevista no artigo 24, inciso XXIV, da Lei Federal n. 8.666/93, in verbis: Art. 24 É dispensável a licitação: [...] XXIV – para a celebração de contratos de prestação de serviços com as organizações sociais, qualificadas no âmbito das respectivas esferas de governo, para as atividades contempladas no contrato de gestão. A mesma liberdade está na prevista no art. 12, § 3º, da Lei n. 9.637/98: Art. 12 Às organizações Sociais poderão ser destinados recursos orçamentários e bens públicos necessários ao cumprimento do Contrato de Gestão. [...] § 3º Os bens de que trata este artigo serão destinados às Organizações Sociais, dispensada licitação, mediante permissão de uso, consoante cláusula expressa do Contrato de Gestão. Com a inclusão deste inciso no artigo 24 da Lei de Licitações, feita pela Lei Federal n. 9.648, de 27 de maio de 1998, além da permissão já contida do dispositivo supra, tornou-se possível a contratação direta entre entidades privadas qualificadas como Organizações Sociais e a Administração Pública para a execução de atividades previstas no Contrato de Gestão, tendo com vínculo formalizador da parceria este instrumento. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 125 Dispensa de Licitação na Contratação de Organizações Sociais 4.1.6. Justificativa da Dispensa de Licitação A justificativa para se dispensar a licitação na contratação de Organizações Sociais para a execução de serviços indicados no Contrato de Gestão reside na qualificação da entidade e nos objetivos da parceria. Para que uma entidade privada (associação ou fundação) seja qualificada como Organização Social é preciso atender a uma criteriosa lista de requisitos elencados no artigo 2º, incisos I e II, da Lei n. 9.637, que regulamenta, entre outros assuntos, a qualificação como Organização Social. Além disso, a entidade qualificada em sua esfera de governo como Organização Social estará sujeita à rigorosa fiscalização durante a execução do Contrato de Gestão pelas autoridades responsáveis, que, quando constatarem irregularidades ou ilegalidades, darão ciência ao Tribunal de Contas da União, e, dependo da gravidade (malversação de bens e recursos públicos), representarão ao Ministério Público junto ao Tribunal de Contas, à Advocacia Geral da União, ou, quando houver, à Procuradoria da entidade. Quer-se dizer que é em razão do atendimento aos requisitos impostos pela lei para qualificação e sujeição à fiscalização e controle imposto pelos órgãos citados que a pessoa jurídica de direito privado merece receber o título de Organização Social, que, na verdade, é um título de confiança, que representa a potencialidade de parceria, para receber os recursos necessários para a execução das atividades previstas no Contrato de Gestão a ser realizado com o Poder Público. Em outros termos, a qualificação de uma entidade como Organização Social é a rotulação necessária para colocá-la em posição merecedora de confiança para gerir bens e recursos públicos, ou seja, em situação de idoneidade para dispensá-la de realizar o procedimento licitatório para firmar a parceria, regulada por meio do Contrato de Gestão, com a Administração Pública. Outro motivo que justifica esta hipótese de dispensa de licitação está nos objetivos da parceria. Conforme exposto quando da análise do Contrato de Gestão, a Emenda Constitucional n. 19/98, de 4 de junho de 1998, chamada de emenda da Reforma do Estado ou Reforma Administrativa, provocou importantes mudanças Administração Pública. Esta emenda modificou profundamente o artigo 37 da Constituição Federal ao lhe inserir novos incisos e alterar seu caput com a inclusão do princípio da eficiência. 126 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Leandro Adriano de Barros # Mário de Souza Almeida # Isadora de Souza Bernardini Assim, com as alterações provocadas pela emenda pretende-se continuar a enxugar a estrutura administrativa estatal, por meio da transferência à iniciativa privada, quando possível, das atividades exploradas e exercidas pelo setor público, reduzindo custos e ganhando agilidade na execução dessas atividades. É nesse contexto político-econômico pelo qual passou o país no início dos anos noventa que devem ser compreendidos o princípio da eficiência e o § 8º do artigo 37 da Constituição Federal de 1988. Estes comandos de âmbito constitucional justificam, primeiramente, a dispensa de licitação na contratação de Organizações Sociais, autorizada no inciso XXIV, artigo 24 da Lei da Licitação, e, também, os dispositivos viabilizadores desta parceria constantes na Lei n. 9.637/98, quais sejam a qualificação como Organização Social e o Contrato de Gestão. Para Meirelles (2008, p. 361), [...] O objetivo declarado pelos autores da reforma administrativa com a criação da figura das Organizações Sociais foi encontrar instrumento que permitisse a transferência para elas de certas atividades exercidas pelo poder público e que melhor o seriam pelo setor privado. Trata-se de nova forma de parceria, com a valorização do chamado terceiro setor, ou seja, serviços de interesse público, mas que não necessitam ser prestados pelos órgãos e entidades governamentais. A EC n. 19/98 foi o diploma legal confirmador da tendência de se estreitar as relações entre a iniciativa privada e o poder público, da qual é exemplo a parceria entre as Organizações Sociais, entidades integrantes do terceiro setor, e o Poder Público, com vistas a implementar os objetivos representados pelo princípio da eficiência. Mas não se pense que a aproximação entre o público e o privado é a justificativa mencionada para a dispensa de licitação na contratação de Organizações Sociais. Esta aproximação, possibilitada pelos dispositivos mencionados neste capítulo, é apenas o meio necessário para atingir os objetivos da parceria consequentes da dispensa de licitação: agilidade, rapidez, produtividade e economia na execução, pelas Organizações Sociais, das atividades constantes do Contrato de Gestão. Segundo Silva Neto (apud CANCELLIER DE OLIVO, 2008, p. 51), o Contrato de Gestão tem por escopo Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 127 Dispensa de Licitação na Contratação de Organizações Sociais [...] o estabelecimento periódico e sistemático de compromissos tendentes a ensejar maior participação e co-responsabilização na operacionalização de objetivos e metas delineadas naquele instrumento. Para tanto, é concedida uma autonomia gerencial, onde o controle de resultados prepondera sobre o meio como ele é alcançado. Assim, em síntese, vamos ter que o Contrato de Gestão é a forma de viabilizar, nas áreas públicas, a administração por objetivos, deslocando os controles formais para o controle quantitativo e qualitativo. Assim, dispensa-se a licitação na contratação de Organizações Sociais para a execução das atividades previstas no Contrato de Gestão porque estas entidades, pessoas jurídicas de direito privado que são, poderão executar as tarefas, que antes competiam à Administração Pública, com maior rapidez, qualidade, produtividade e economia, já que estão acostumadas com a dinâmica do setor privado, que exige esses resultados. Por fim, ainda no que se refere à justificativa desta modalidade de dispensa, o principal objetivo da parceria é se valer da autonomia que as Organizações Sociais dispõem como pessoas jurídicas de direito privado para a execução das atividades contratadas, autonomia que um ente público, preso às amarras do direito público, não possui para executar as mesmas tarefas. Em síntese, justifica-se a dispensa de licitação para a contratação direta porque um dos contratantes atendeu aos requisitos legais previstos em lei para receber recursos públicos; e o outro contratante, o Estado, está obrigado, em razão do princípio da eficiência e dispositivos corolários, a atuar com maior produtividade, economia, qualidade, perfeição, rendimento funcional e, principalmente, com agilidade, característica esta que não seria possível quando presente o procedimento licitatório, com todas suas etapas e amarras, para se contratar alguém para a execução daquelas atividades previstas no Contrato de Gestão. 4.1.7 Extensão da Dispensa de Licitação Outro ponto sobre o tema merecedor de atenção diz respeito à extensão da dispensa de licitação. Questiona-se se: a contratação direta é permitida para o contrato de gestão, ou somente para outros contratos que dele derivam? Antes de apresentar possíveis respostas para o questionamento, é necessário frisar que são dois os tipos de contratos a que se refere o inciso XXIV do 128 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Leandro Adriano de Barros # Mário de Souza Almeida # Isadora de Souza Bernardini artigo 24 da Lei n. 8.666/93: um deles é o próprio Contrato de Gestão, que formaliza a parceria entre o ente público e a Organização Social; e o outro é o contrato de prestação de serviços, que tem por objetivo o cumprimento de finalidades relacionadas ao primeiro contrato. Em outros termos, existe um contrato principal, o Contrato de Gestão, de caráter normativo, prévio e geral, que estabelece as regras de relacionamento entre as partes; mas há, também, outros contratos, derivados e instrumentais, por meio dos quais serão estabelecidas condições específicas para a execução das tarefas atribuídas à Organização Social. Assim, diante da existência de dois contratos, levantou-se a dúvida sobre a qual deles a dispensa de licitação se aplica: se ao Contrato de Gestão ou aos contratos derivados dele? Um setor da doutrina administrativista defende a necessidade de realização de licitação para a seleção da Organização Social que figurará no Contrato de Gestão. (JUSTEN FILHO, 2005, p. 27-28; 266-268) Conforme entende o autor, É imprescindível adotar processo objetivo de seleção dos interessados relativamente ao contrato de gestão. Suponha-se, por exemplo, que a Administração intencione outorgar aos particulares a gestão de um educandário. Não é possível que seja escolhida arbitrariamente uma certa organização social – mantida, por exemplo, pelo chefe político local. Os princípios da isonomia e da chamada “indisponibilidade do interesse público” continuam a disciplinar a atividade estatal. Logo, deverá facultar-se a possibilidade de disputa pelo contrato de gestão, selecionando-se a melhor proposta segundo critérios objetivos preestabelecidos. (JUSTEN FILHO, 2005, p. 26) Justen Filho exemplifica seu posicionamento com o seguinte caso: imagine-se a existência de duas Organizações Sociais, cada uma composta por um grupo distinto de médicos e administradores, interessadas em assumir a gestão de um hospital. E que uma delas está disposta a investir recursos próprios para reformas e melhoramento do hospital. É possível, diante da Constituição, a escolha de qualquer uma das Organizações Sociais? O autor afirma que não, pois uma das alternativas é mais vantajosa que a outra; e a solução para a situação está na aplicação dos princípios da isonomia e da indisponibilidade do interesse público. E acrescenta: Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 129 Dispensa de Licitação na Contratação de Organizações Sociais Somente é possível a seleção de organização social sem prévia licitação quando presentes os requisitos explícitos de dispensa ou inexigibilidade de licitação. Eventualmente, será o caso de mero credenciamento [...]. (JUSTEN FILHO, 2005, p. 27) Outro setor da doutrina vai mais além. De acordo com Celso Antônio Bandeira de Mello (2006, p. 217-236), a Lei n. 9.637/98 possui inconstitucionalidades no que diz respeito ao Contrato de Gestão, dispensa de licitação e contratação direta de pessoal. Segundo ele, a permissão da contratação direta, com os contornos dados pela Lei n. 9.637/98, é uma aberração, pois, Enquanto para travar com o Poder Público relações contratuais singelas (como um contrato de prestação de serviços ou de execução de obras) o pretendente é obrigado a minuciosas demonstrações de aptidão, inversamente, não se faz exigência de capital mínimo nem de demonstração de qualquer suficiência técnica para que um interessado receba bens públicos, móveis ou imóveis, verbas públicas e servidores públicos custeados pelo Estado, considerando-se bastante para a realização de tal operação a simples aquiescência de dois Ministros de Estado ou, conforme o caso, de um Ministro e de um supervisor de área correspondente à atividade exercida pela pessoa postulante ao qualificativo de organização social. (BANDEIRA DE MELLO, 2005. p. 234) E continua: Há nisto uma inconstitucionalidade manifesta, pois se trata de postergar o princípio constitucional da licitação (art. 37, XXI) e, pois, o princípio constitucional da isonomia (art. 5º), do qual a licitação é simples manifestação punctual, conquanto abrangente também de outro propósito (a busca de melhor negócio). (BANDEIRA DE MELLO, 2006, p. 234) Não obstante o posicionamento dos dois juristas mencionados, prefere-se adotar o entendimento, perfilando-se com a maioria dos administrativistas, segundo o qual não há inconstitucionalidade de aspectos da Lei n. 9.637/98, pois, além de tudo o que já se afirmou, com a parceria firmada por meio do Contrato de Gestão há verdadeira cooperação entre as partes no que se 130 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Leandro Adriano de Barros # Mário de Souza Almeida # Isadora de Souza Bernardini refere ao interesse público a ser perseguido, o que, por consequência, admite a contratação direta. Ademais, o artigo 26 da Lei de Licitação prevê que as situações de dispensa deverão ser justificadas e comunicadas, dentro de três dias, à autoridade superior para homologação e publicação na imprensa oficial, no prazo de cinco dias, como condição de eficácia dos atos. Ainda, aos autos do processo de dispensa deverá ser acostado: a) documento que caracterize a situação que justifica a não realização da licitação; b) razão da escolha do executante ou fornecedor indicado; c) justificativa do preço; e d) documento de aprovação dos projetos de pesquisa aos quais os bens serão alocados. Compartilha-se, também, do argumento segundo o qual a dispensa de licitação tem por foco aqueles contratos derivados do Contrato de Gestão, os quais estabelecem condições específicas para a execução das tarefas atribuídas à Organização Social, e não o próprio Contrato de Gestão: Quanto ao contrato de gestão em si, a dispensa de licitação decorre do próprio sistema implantado na lei reguladora e espelha corolário natural desse tipo de negócio jurídico: a uma, porque se cuida de ajuste de caráter social e, a duas, porque retrata regime de parceria, incompatível com o processo de licitação. (CARVALHO FILHO, 2007, p. 230) Este também é o entendimento de Cancellier de Olivo (2005, p. 75), para quem “[...] exigir licitação para as instituições qualificadas como Organizações Sociais [...] equivaleria a retirar a flexibilidade que é de sua essência, e que justificou a edição da lei.”. 5. Considerações Finais No presente trabalho viu-se que a licitação é o recurso de que o Estado lança mão quando pretende, respeitando os princípios orientadores de sua atuação, comprar, vender ou contratar bens ou serviços com particulares, ou até mesmo com pessoas integrantes da Administração direta e indireta, para realização das funções que lhe foram atribuídas. É por meio do procedimento licitatório que a Administração Pública irá promover a troca de interesses entre o público e o particular. Mas nem Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 131 Dispensa de Licitação na Contratação de Organizações Sociais sempre a realização do certame licitatório será necessária. Em alguns casos ele foi dispensado; em outros, sequer exigido. Outrossim, demonstrou-se a excepcionalidade e taxatividade das hipóteses, pois a contratação direta quando for possível a competição somente poderá ocorrer se a situação estiver prevista nos vinte e oito incisos do artigo 24 da Lei da Licitação. A respeito das hipóteses de dispensa, optou-se em classificá-las, com apoio na doutrina, como: em razão do valor; em razão de situações excepcionais; em razão do objeto; e em razão da pessoa. Abordou-se a hipótese de dispensa de licitação em razão da pessoa, qual seja, a dispensa de licitação na contratação de Organizações Sociais. Também foram apresentados e tecidos os comentários necessários à compreensão do que sejam Organizações Sociais e Contratos de Gestão, e a relação existente com a hipótese de dispensa de licitação contida no inciso XXIV da Lei n. 8.666/93. Justificou-se a dispensa de licitação na contratação de Organizações Sociais em razão do atendimento aos requisitos para receber tal qualificação e, também, por essas pessoas, fundações e associações, sujeitarem-se ao rigoroso controle e fiscalização após a titulação. A EC n. 19/98, com seu conteúdo ideológico, cuja marca principal é o próprio princípio da eficiência, e as disposições legais inseridas e modificadoras, propiciaram o elo entre o público e o privado, também chamado de terceiro setor, para que as atividades antes executadas pelo Estado fossem executadas pelos particulares, pois, segundo os argumentos dos que a idealizaram, haverá uma melhoria do Estado no atendimento às demandas sociais. Esse é o elo justificador da dispensa de licitação na contratação de Organizações Sociais. Referências BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de direito administrativo. 23. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 15 nov. 2012. 132 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Leandro Adriano de Barros # Mário de Souza Almeida # Isadora de Souza Bernardini ______. Lei n. 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o artigo 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras providências. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8666cons.htm>. Acesso em: 15 nov. 2012. ______. Lei n. 9.637, de 15 de maio de 1998. Dispõe sobre a qualificação de entidades como organizações sociais, a criação do Programa Nacional de Publicização, a extinção dos órgãos e entidades que menciona e a absorção de suas atividades por organizações sociais, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L9637.htm>. Acesso em: 16 nov. 2012. ______. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 16 nov. 2012. ______. Supremo Tribunal Federal do Brasil. Medida cautelar na ação direta de inconstitucionalidade n. 1.923, proferida pelo Tribunal Pleno. Ministro Relator: Ilmar Galvão. Partes: Requerente: Partido dos Trabalhadores - PT; Requerido: Presidente da República e Congresso Nacional. Data do julgado: 1º ago. 2007. Disponível em: <http://www.stf.gov.br>. Acesso em: 16 nov. 2012. CANCELLIER DE OLIVO, Luis Carlos. As Organizações sociais e o novo espaço público. 1. ed. Tubarão: Milenium, 2005. CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 18. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2007. JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. 11. ed. Atualização de Eurico de Andrade Azevedo et al. São Paulo: Dialética, 2005. MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 34. ed. São Paulo: Malheiros, 2008. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 133 Padrão de Financiamento e Execução dos Gastos em Saúde no Município de Florianópolis (Brasil) no Período de 2007-2011 Aluno: Marcelo Florentino1 Orientador: Alexandre Marino Costa2 Tutora: Mileide Marlete Ferreira Leal Sabino3 Resumo Abstract Com a aprovação da Emenda Constitucional n. 29 – que assegurou um piso mínimo de investimento em saúde por parte das três esferas de governo e estipulou onde esses recursos podem ser gastos –, tem-se motivado o desenvolvimento de pesquisas particularmente voltadas aos padrões de financiamento e gastos em saúde. Neste artigo, buscou-se estabelecer um paralelo entre financiamento e gasto com saúde no município de Florianópolis, entre 2007 e 2011, utilizando-se para tanto os dados do SIOPS (Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde). Analisou-se que há financiamentos e gastos crescentes com saúde. Na análise com os blocos de financiamento, os gastos com Atenção Básica foram superiores ao financiamento previsto na dotação. Considerando os blocos de Atenção de Média e de Alta Complexidade e Suporte Profilático e Terapêutico, os gastos estão abaixo e próximos do dotado, respectivamente. Desse modo, pode-se afirmar, com base nos dados, que foram executadas ações em Atenção Básica que não estavam planejadas e, em contrapartida, foram deixadas de realizar ações em Média e Alta Complexidade que poderiam estar planejadas. With the approval of Constitutional Amendment 29 – which ensured a minimum level of health investment by the three spheres of government and stipulated where these resources can be spent -, has motivated the development of research particularly focused on funding patterns and health spending. This article, approaches a parallel between health expenditure and financing in Florianópolis, from 2007 to 2011. The main data sources was SIOPS (Information System on Public Health Budget) database. Analyzed that there is funding and rising health care costs. In the analysis with blocks of funding, expenditures were higher than the Health Primary funding provided in the budget. Considering the blocks Health Attention Middle and High Complexity and Prophylactic and Therapeutic Support, expenditures are below and close to the gifted, respectively. Thus, one can say, based on data, that were executed in Primary shares that were not planned and, in return, were allowed to hold shares in medium and high complexity that could be planned. Key words: Health financing. Health spenPalavras-chave: Financiamento em Saúde. ding. Health care. Gasto em Saúde. Atenção à Saúde. 1 Especializando do curso em Gestão da Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: [email protected]. 2 Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2004). E-mail: [email protected]. 3 Mestranda do curso de Administração Universitária da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Formação Pedagógica para Atuação em EaD – Unopar. E-mail: mileide. [email protected]. Marcelo Florentino # Alexandre Marino Costa # Mileide Marlete Ferreira Leal Sabino 1 Introdução As questões do financiamento e do gasto em saúde vêm fazendo parte das agendas de pesquisa sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), da mesma forma daquelas temáticas voltadas à avaliação dos seus princípios doutrinários e operativos. Ao abordar o tema do financiamento da saúde, há que se ressaltar, inicialmente que em inúmeros países do mundo parcela significativa das despesas com saúde não recai sobre o setor público. Dados estimados, selecionados pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), do World Health Report 2006, informam que o Brasil, com 45,3% das despesas sob responsabilidade do setor público, aparece em má posição quando comparado a outros cinco países com sistema de saúde de acesso universal, já que o gasto público representa percentuais entre 68% na Austrália e 95% na Suécia. Entretanto, a participação do setor público nas despesas com saúde era inferior à do setor privado em seis dos sete países-membros ou associados do Mercosul. Isso também se deu em sete dos nove países com população maior que 100 milhões de habitantes, o Brasil entre eles. (SCATENA; VIANA; TANAKA, 2009) Com a votação da Emenda Constitucional n. 29 (EC 29), a qual assegurou um piso mínimo de investimento em saúde por parte das três esferas de governo, suscitou-se a realização de estudos avaliativos que se dedicassem a conferir o real cumprimento dos dispositivos baixados, bem como a avaliação do seu impacto na redução das desigualdades entre estados e regiões. (SANTO; TANAKA, 2009) Sem embargo, a preocupação predominante nas pesquisas era onde o governo gastaria o dinheiro público e/ou onde deveria gastar, em detrimento de estudos que busquem analisar o planejamento, o orçamento e os gastos públicos como peça fundamental de um mesmo arcabouço da administração pública. Portanto, o objetivo deste artigo é descrever o padrão de financiamento e de gasto em saúde do município de Florianópolis, no período de 2007 e 2011. Nesse sentido, buscou-se identificar a evolução da dotação e da despesa liquidada com saúde, como os diferentes blocos de financiamento estabelecidos se comportam e/ou participam da composição dessa despesa ao longo dessa série histórica. Pode-se dizer que se trata de um exercício de Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 135 Padrão de Financiamento e Execução dos Gastos em Saúde no Município de Florianópolis (Brasil) no Período de 2007-2011 eficácia da administração pública em saúde, analisando se as despesas estão condizentes com as que foram planejadas. 2 Base Teórica Com o intuito de estabelecer o embasamento teórico deste artigo, apresenta-se a seguir uma breve fundamentação de dois temas de grande importância no contexto de estudo. Inicialmente destaca-se a construção da administração pública, princípios fundamentais, a organização das ações públicas e a estrutura do orçamento público. Em seguida, apresenta-se a caracterização do sistema de financiamento da saúde municipal. 2.1 Conceitos de Administração Pública e Orçamento Público A administração pública é “[...] todo o aparelhamento do Estado, preordenado à realização de seus serviços, visando à satisfação das necessidades coletivas.” (KOHAMA, 2008, p. 9). Ou seja, a administração pública tem o papel de satisfazer a sociedade, por isso tão essencial na composição de um Estado mais justo e igualitário. Desse modo, entende-se que o Estado pratica a gestão de atividades que lhe são próprias, por corresponderem ao interesse público. Os atos da Administração Pública são realizados com base em legislação; ela só é permitida decorrente de lei que a autorize. (RONCALIO, 2009) O Quadro 1 sintetiza as atividades de planejamento e orçamento previstas na legislação definindo as atribuições dos poderes Executivo e Legislativo. 136 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Marcelo Florentino # Alexandre Marino Costa # Mileide Marlete Ferreira Leal Sabino Quadro 1: Ciclo orçamentário Fonte: Jund (apud COSTA, 2008, p. 52) No quesito “controle” (parte 4 do ciclo), a Constituição Federal, nos artigos 70 a 75, estabelece as normas básicas para o controle das atividades da gestão pública, podendo ser ela contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial. A abrangência do que pode ser controlado atinge: União, Estados, Municípios, Distrito Federal e entidades da administração direta e indireta. Ainda, infere-se do sistema de controle externo, realizado pelo Poder Legislativo, e do sistema de controle interno exercido por cada um dos poderes. (SILVA, 2010) Mais especificamente sobre esse assunto, o controle orçamentário, que é um tipo de controle exigido legalmente desde a sanção da Lei Federal n. 4320/1964, tem por objetivo acompanhar a execução do orçamento aprovado, verificando as concretizações dos programas estabelecidos nos instrumentos Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 137 Padrão de Financiamento e Execução dos Gastos em Saúde no Município de Florianópolis (Brasil) no Período de 2007-2011 de planejamento previstos no artigo 165 da Constituição Federal de 1988, quais sejam: Plano Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e Lei Orçamentária Anual (LOA). Para tanto, considera-se que o controle deve acompanhar programas, projetos e atividades desde a elaboração do PPA, da LDO e da LOA, primando pela participação social, passando pelos critérios adicionais, pelos procedimentos da execução desses orçamentos, inclusive com verificação das metas estabelecidas e avaliação de resultados. Padoveze (2005) defende o acompanhamento dos programas por meio de informações orçamentárias, justificando que com esse procedimento haverá uma redução de ações repetitivas, eliminando-se desvios que possam ocorrer entre o planejamento e a execução. Por meio desse controle da gestão orçamentária se garantirá maior monitoração de limites máximos, destinações mínimas e vinculações, estabelecidos na constituição e em legislações pertinentes, bem como se garantirá a execução de programas, projetos e atividades essenciais à população, observando a destinação de recursos orçamentários para esse fim. (RONCALIO, 2009) O controle se faz importante já que a desconexão do orçamento como instrumento efetivo de planejamento é um dos sintomas mais emblemáticos da perda de governabilidade e de capacidade de governar do Estado. Nesse contexto, os orçamentos não traduziam estratégias de enfrentamentos de problemas, nem os planos se viabilizaram no orçamento como meio de financiamento, sejam elas resultantes de despesas de natureza continuada ou investimentos pontuais de caráter mais estratégico. Desse modo, o orçamento público, por definição, é a forma monetária para alocação de bens e serviços públicos. Em outras palavras, o orçamento é visto como um instrumento de planejamento, deixando de ser ferramenta meramente técnica – restrita ao universo contábil e fiscal – para se tornar um verdadeiro “acordo político”. (DE TONI, 2003) Isso significa que o orçamento deve ser entendido como uma espécie de atualização anual do planejamento, que deve combinar o ciclo de planejamento e gestão, integrar orçamento e planejamento. Essa estratégia é a mais adequada para conferir mais transparência orçamentária, para dentro e para fora do governo, na medida em que ajustes, cortes e contingências financeiras ficam irremediavelmente vinculados à discussão de conteúdo e de estratégia de governo. (DE TONI, 2003) 138 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Marcelo Florentino # Alexandre Marino Costa # Mileide Marlete Ferreira Leal Sabino 2.2 Sistemática de Financiamento da Saúde Municipal De acordo com a Constituição de 1988, o financiamento do SUS foi definido como competência comum da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, mediante recursos do Orçamento da Seguridade Social (OSS) e do orçamento fiscal daqueles entes federados (Art. 198). Assim, como já ocorria, o financiamento da saúde se apoia em orçamentos fiscais e de contribuições. (SCATENA; VIANA; TANAKA, 2009) No ano 2000, com a aprovação da Emenda Constitucional n. 29 (BRASIL, 2000), a responsabilidade tripartite sobre o financiamento do Sistema Único de Saúde foi elevada ao texto da Carta Magna. A Emenda estabeleceu a corresponsabilidade da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal pela destinação de recursos ao SUS e, também, instituiu percentuais mínimos de aplicação em saúde para cada esfera de governo. Em face da descentralização do SUS, os recursos aplicados em saúde pela União e pelos estados financiam não só ações e serviços de saúde próprios como também fomentam transferências aos municípios. Na instância local, o Sistema Único de Saúde é viabilizado, portanto, por recursos próprios e por transferências das esferas de governo superiores – recursos vinculados, com destaque àquelas advindas do governo federal. (ARRETCHE; MERQUES, 2007 apud SENNA, 2011) O Quadro 2 apresenta um fluxo simplificado do processo existente na transferência dos recursos do SUS. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 139 Padrão de Financiamento e Execução dos Gastos em Saúde no Município de Florianópolis (Brasil) no Período de 2007-2011 Quadro 2: Fluxo simplificado das transferências fundo a fundo do SUS Fonte: Jund (apud COSTA, 2008, p. 110) 140 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Marcelo Florentino # Alexandre Marino Costa # Mileide Marlete Ferreira Leal Sabino Com a publicação do Pacto pela Saúde em 2007, foi elaborada a Portaria n. 204, do Ministério da Saúde, que regulamenta os repasses de recursos pela esfera federal aos municípios, através dos blocos de financiamento do SUS, os quais têm a respectiva aplicação parametrizada por normas do Ministério da Saúde. De acordo com o artigo 6º da Portaria n. 204, “[...] os recursos referentes a cada bloco de financiamento devem ser aplicados nas ações e serviços de saúde relacionados ao próprio bloco”. (BRASIL, 2007) Em 2009, o Ministério da Saúde publicou a Portaria n. 837, que estabelece a organização dos repasses federais em seis blocos de financiamento: Atenção Básica; Atenção de Média e Alta Complexidade Ambulatorial e Hospitalar; Vigilância em Saúde; Assistência Farmacêutica; Gestão do SUS; e Investimentos na Rede de Serviços de Saúde. (SENNA, 2011) No campo das políticas de informação em saúde, destaca-se o Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde (SIOPS), que tem conferido maior acessibilidade e visibilidade aos dados financeiros de estados e municípios, sendo o instrumento de acompanhamento da EC 29, conforme prevê a Portaria n. 91/GM do Ministério da Saúde, de 10 de janeiro de 2007, integrante da política do Pacto pela Saúde. (GONÇALVES et al., 2009) O SIOPS “[...] é um sistema de coleta e processamento de dados sobre receitas totais e gastos com ações e serviços públicos de saúde das três esferas de governo” (CAMPELLI; CALVO, 2007, p. 1.615). As informações contidas no sistema são fornecidas e transmitidas pelas Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde. O SIOPS dispõe de dados desde 1998 e seu preenchimento passou a ser semestral em 2002, facilitando o acompanhamento da programação e execução orçamentária na área de saúde. (CAMPELLI; CALVO, 2007) 3 Metodologia Este estudo trata-se de uma pesquisa quantitativa, de natureza descritiva, retrospectiva e longitudinal, na qual se verifica a evolução das variáveis selecionadas no período 2007 a 2011 do município de Florianópolis. (GIL, 2002) A fonte de dados utilizada foi o Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde (SIOPS, 2012); foram pesquisadas as informações contidas dentro da pasta do sistema “Dados informados” e na subpasta “Consulta por Unidade Executora”, escolhendo como variáveis: Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 141 Padrão de Financiamento e Execução dos Gastos em Saúde no Município de Florianópolis (Brasil) no Período de 2007-2011 Variável Dotação Atualizada Despesas Liquidadas Definição Identifica o valor da dotação inicial, que caracteriza o valor dos créditos iniciais constantes da Lei Orçamentária Anual, mais os créditos adicionais abertos ou reabertos durante o exercício, deduzidas as anulações/ cancelamentos correspondentes. (BRASIL, 2010) Identifica os valores das despesas liquidadas até o encerramento do exercício. Deverão ser consideradas, inclusive, as despesas que já foram pagas. A liquidação é o segundo estágio da execução da despesa, que consiste na verificação do direito adquirido pelo credor, tendo por base os títulos e documentos comprobatórios da entrega do material ou serviço. (BRASIL, 2010) Quadro 3: Variáveis consultadas no SIOPS Fonte: SIOPS (2012) A opção por essas categorias deveu-se, em parte, ao fato de estarem disponíveis ao longo de todo o período coberto pelo estudo. As variáveis selecionadas foram: subfunção vinculada à saúde total e às subvariáveis com maior peso orçamentário: Atenção Básica; Atenção de Média e Alta Complexidade Ambulatorial e Hospitalar; Suporte Profilático e Terapêutico. O ano de 2007 foi selecionado como marco inicial do período de estudo em face das importantes mudanças ocorridas no financiamento do Sistema Único de Saúde em Florianópolis, devidas à assinatura do Pacto pela Saúde, que gerou impacto substancial no planejamento, no orçamento e nas despesas com saúde. O ano de 2011 foi escolhido para finalizar a série por ser o último com informações totalmente disponibilizadas quando da coleta de dados da pesquisa. Na análise foram considerados os valores absolutos e relativos das frequências, bem como sua razão e a variação (em %) de um ano para outro. O banco de dados obtido foi analisado utilizando-se o programa Excel 2007™. 142 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Marcelo Florentino # Alexandre Marino Costa # Mileide Marlete Ferreira Leal Sabino Entretanto, dado o caráter declaratório dos dados que alimentam o SIOPS, aliado ao grande número de municípios do país, a verificação de consistência dos dados pela equipe técnica do SIOPS abrange, somente, a comparação dos dados dos governos estaduais e distrital com as informações publicadas em balanço (GONCALVES, 2009). A ausência dessa aferição para os municípios remete a uma limitação deste trabalho, quanto à confiabilidade dos dados municipais, uma vez que dá margem à publicidade de informações que podem, apesar de públicas, não revelar a realidade do fenômeno estudado. (GONÇALVES et al., 2009) 4 Apresentação dos Resultados Após a sistematização, os resultados foram apresentados procurando-se atender aos objetivos deste artigo. Para melhor compreensão, o padrão de financiamento e de gasto em saúde do município de Florianópolis entre o período de 2007 e 2011 foi divido em três partes. Nesse sentido, buscou-se identificar a evolução da dotação e da despesa liquidada com saúde e como os diferentes blocos de financiamento estabelecidos se comportam e/ou participam da composição da despesa ao longo dessa série histórica. 4.1 A Evolução da Dotação Atualizada e a Despesa Liquidada com Saúde Uma forma de observar se o que foi planejado está sendo executado é verificar como se comporta a dotação atualizada em comparação com as despesas liquidadas. O Gráfico 1 mostra que, desde a assinatura do Pacto de Saúde, a gestão municipal tem planejado e destinado à saúde mais recursos. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 143 Padrão de Financiamento e Execução dos Gastos em Saúde no Município de Florianópolis (Brasil) no Período de 2007-2011 Gráfico 1: Comportamento da dotação atualizada e das despesas liquidadas do total em saúde Fonte: Elaborado pelo autor deste artigo com base nos dados do SIOPS (2012) Percebeu-se na relação entre despesa liquidada e dotação atualizada que existe uma margem entre elas, o que importa ao equilíbrio financeiro do município de Florianópolis diante dos gastos com saúde. Isso é importante para manter a sustentabilidade orçamentária a quaisquer variáveis externas, de caráter incontrolável, que imponham necessidades de ampliação das despesas. Com o Gráfico 2, verifica-se como a razão, ou seja, o quociente entre a despesa liquidada e a dotação atualizada, mostra uma diminuição entre as duas variáveis com o passar dos anos; bem como demonstra uma tendência de aproximação entre o planejado e o executado. Gráfico 2: Razão entre despesas liquidadas e dotações atualizadas totais em saúde Fonte: Elaborado pelo autor deste artigo com base nos dados do SIOPS (2012) 144 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Marcelo Florentino # Alexandre Marino Costa # Mileide Marlete Ferreira Leal Sabino Outra forma de verificar a relação entre o planejado e o executado é conferir o incremento com os passar dos anos. No Gráfico 3 é possível verificar que o incremento na dotação atualizada entre o ano 2007 e 2008 foi bastante acentuado, o que pode ser um reflexo da assinatura do Pacto de Saúde por Florianópolis e da entrada de mais recursos vinculados. Entretanto, para os próximos anos verificou-se um aumento das despesas liquidadas superior às dotações. Gráfico 3: Crescimento percentual das dotações atualizadas e despesas liquidadas com saúde (ano-base: ano anterior) Fonte: Elaborado pelo autor deste artigo com base nos dados do SIOPS (2012) 4.2 A evolução da Dotação Atualizada e a Despesa Liquidada com Saúde A partir de agora, avalia-se como os principais blocos de finaciamento do Pacto de Saúde (Atenção Básica; Atenção de Média e Alta Complexidade Ambulatorial e Hospitalar; e Suporte Profilático e Terapêutico) se comportam quando é feita a relação entre a dotação atualizada e a despesa liquidada. O Gráfico 4 demonstra que em todos os anos do período pesquisado o percentual vinculante a despesas liquidadas com Atenção Básica ficou acima das dotações atualizadas. Apesar de parecer uma evolução na Atenção Básica, esse fenômeno caracteriza que bloco está recebendo mais recursos do que o planejado. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 145 Padrão de Financiamento e Execução dos Gastos em Saúde no Município de Florianópolis (Brasil) no Período de 2007-2011 Gráfico 4: Comportamento da dotação atualizada e das despesas liquidadas para Atenção Básica Fonte: Elaborado pelo autor deste artigo com base nos dados do SIOPS (2012) Este bloco, por sua vez, pode apresentar dois problemas: a vulnerabilidade do sistema, já que ele está assumindo mais recursos, o que pode levar a uma insustentabilidade do bloco, caso ocorra alguma adversidade; e o incremento das despesas nesta área da saúde, que pode estar retirando recursos de outras áreas de interesse da saúde e do planejamento. Gráfico 5: Crescimento percentual das dotações atualizadas e despesas liquidadas com Atenção Básica (ano-base: ano anterior) Fonte: Elaborado pelo autor deste artigo com base nos dados do SIOPS (2012) No Gráfico 5 notou-se que não existe discrepância entre a dotação atualizada e a despesa liquidada. Claramente percebe-se que em alguns anos o incremento da despesa é maior que a dotação. 146 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Marcelo Florentino # Alexandre Marino Costa # Mileide Marlete Ferreira Leal Sabino Gráfico 6: Comportamento da dotação atualizada e das despesas liquidadas para Atenção de Média e Alta Complexidade Ambulatorial e Hospitalar Fonte: Elaborado pelo autor deste artigo com base nos dados do SIOPS (2012) O Gráfico 6 demonstra que em todos os anos desse período o percentual vinculante a despesas liquidadas com Atenção de Média e Alta Complexidade Ambulatorial e Hospitalar ficou abaixo das dotações atualizadas. Entretanto, o Gráfico 7 demonstra um caráter variável: o ano 2008 apresenta um alto crescimento da dotação atualizada, enquanto que em 2009 foi verificada uma diminuição da dotação. Já nos outros anos (2010 e 2011) há um crescimento da despesa em comparação à dotação. Gráfico 7: Crescimento percentual das dotações atualizadas e despesas liquidadas com Atenção de Média e Alta Complexidade Ambulatorial e Hospitalar (ano-base: ano anterior) Fonte: Elaborado pelo autor deste artigo com base nos dados do SIOPS (2012) Quando o Gráfico 8 foi analisado, percebeu-se que o percentual vinculante a despesas liquidadas com Suporte Profilático e terapêutico está, a partir de 2008, muito próximo das dotações atualizadas. Apesar de parecer Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 147 Padrão de Financiamento e Execução dos Gastos em Saúde no Município de Florianópolis (Brasil) no Período de 2007-2011 uma sintonia entre o planejado e o executado, que refletiria otimização, isso pode acarretar em vulnerabilidade do sistema. Gráfico 8: Comportamento da dotação atualizada e das despesas liquidadas para Suporte Profilático e Terapêutico Fonte: Elaborado pelo autor deste artigo com base nos dados do SIOPS (2012) Já o Gráfico 9 demonstra um caráter variável: o ano 2008 apresenta um alto crescimento da despesa liquidada, enquanto em 2009 e em 2010 confirmou-se uma diminuição da dotação, retomada em 2011. Gráfico 9: Crescimento percentual das dotações atualizadas e despesas liquidadas com Suporte Profilático e Terapêutico (ano-base: ano anterior) Fonte: Elaborado pelo autor deste artigo com base nos dados do SIOPS (2012) Ao comparar os Gráficos 6 e 8, os dados demonstram que o aumento de recursos destinados à área da Atenção Básica retirou recursos do bloco de Atenção de Média e Alta Complexidade Ambulatorial e Hospitalar. 148 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Marcelo Florentino # Alexandre Marino Costa # Mileide Marlete Ferreira Leal Sabino Depois dos resultados expostos, fica como síntese a designação de dotação e despesas atuais em saúde; independentemente do quantitativo nos blocos de financiamento, as despesas com saúde ficam dentro do esperado, ou seja, abaixo da dotação. Entretanto, com o passar dos anos a diferença entre um e outro vem diminuindo conforme a razão entre eles. Sem embargo, os dados gerais sobre financiamento e gastos abrigam uma diversidade de variáveis no que diz respeito a financiamento e gasto com saúde, bem como em relação ao perfil do modelo de atenção à saúde. Quando se trabalha com as três variáveis, com maior peso nas despesas, evidencia-se que o bloco de Atenção Básica é o maior responsável pelos gastos. Isso se dá graças à maior preocupação em Florianópolis com a Atenção Básica. Sem embargo, verifica-se haver uma discrepância entre a dotação e as despesas nesse bloco, o que provoca uma diminuição de gastos na Atenção de Média e Alta Complexidade. 5 Considerações Finais Ao estudar as dotações atualizadas e as despesas liquidadas de Florianópolis relativas à saúde, pôde-se verificar a importância da Atenção Básica, cuja consolidação é expressa com o aumento dos gastos nesse bloco, inclusive maior que a dotação, o que demonstra um descolamento entre o planejado e o executado. Com a assinatura do Pacto pela Saúde, a partir do ano de 2007, teve inicio o processo de municipalização dos serviços de média e alta complexidade em saúde; assim, as despesas e dotações para esta área deveriam crescer. Entretanto, os dados demonstram que depois de 2008 os incrementos nesta área evoluíram muito pouco, quando não foram negativos, assim como em 2009. Desse modo, para responder à pergunta inicial deste trabalho, referente à eficácia entre o planejado e o executado, pode-se afirmar, com base nos dados, que foram executadas ações em Atenção Básica que não estavam planejadas e, em contrapartida, foram deixadas de realizar ações em Média e Alta Complexidade que poderiam estar planejadas. Para concluir, acompanhando o pensamento de De Toni (2003), recomenda-se efetivar a vinculação entre as duas funções (planejamento e orçamento), de modo que o orçamento deva se tornar um processo dentro do sistema de planejamento. Para isso deve haver correspondência direta entre Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 149 Padrão de Financiamento e Execução dos Gastos em Saúde no Município de Florianópolis (Brasil) no Período de 2007-2011 os programas. Dessa forma o orçamento possibilita a “gestão por programas”, que devem estar estruturados em produtos e resultados previstos, com seus respectivos indicadores para acompanhamento e avaliação. Não há sentido, entretanto, em manter separadas ou desvincular as elaborações do planejamento de governo e do respectivo orçamento que o viabiliza, sem que o mesmo processo de planejamento possa monitorar a execução orçamentária em sintonia com o gerenciamento da despesa e os fluxos financeiros da atividade fazendária. Referências BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 out. 1988. ______. Ministério da Fazenda. Secretaria do Tesouro Nacional. 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Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 151 Padrão de Financiamento e Execução dos Gastos em Saúde no Município de Florianópolis (Brasil) no Período de 2007-2011 SENNA, Ana Beatriz. Sustentabilidade financeira no processo de municipalização da saúde: um estudo de caso na Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis. TCC (Graduação) – Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis/SC, 2011. 85 f. SILVA, Mariana Wagner da. Análise da prestação de contas da Câmara Municipal de Florianópolis: componentes oficiais diante da percepção de alguns integrantes do Controle Social de Florianópolis. TCC (Graduação) – Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis/SC, 2010. 87 f. SIOPS. Sistema de informações sobre orçamentos públicos em saúde. [1994]. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/ area.cfm?id_area=1671>. Acesso em: 1° set. 2012. 152 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 A atuação do Fisioterapeuta na Atenção Básica no Município de Florianópolis (SC) Aluna: Marcia Marie Oki1 Orientador: Altamiro Damian Préve2 Tutora: Juliana Pereira3 Resumo Abstract Este artigo descreve e discute o processo de trabalho do fisioterapeuta na Atenção Básica. Trata-se de uma pesquisa qualitativa exploratória. Foram descritas as experiências e avaliados os registros realizados pelo fisioterapeuta nos prontuários eletrônicos dos pacientes de junho a julho de 2012. O processo de trabalho foi organizado em: levantamento epidemiológico, controle da fila, atendimentos, grupos, reunião de equipe e visita domiciliar. A organização do trabalho foi dificultada pelo número reduzido de profissionais, pela grande demanda de pacientes, pela formação reabilitadora do fisioterapeuta e pela sua atuação ser recente. A relevância desse trabalho está em apontar ações que podem servir de modelo para outros municípios. This article describes and discusses the working process of the physical therapist in Primary Care. This was an exploratory qualitative research. Experiences were described and evaluated the records held by the physiotherapist in the electronic medical records of patients from June to July 2012. The work process was organized in: epidemiological survey, control row, attendances, groups, team meetings and home visits. The organization’s work was hampered by the small number of professionals, the large number of patients, the academic training for rehabilitation and for his performance in Health Centers to be recent. The relevance of this work is to point out actions that can serve as a model for other municipalities. Palavras-chave: Sistema Único de Saúde. Key words: Unified Health System. Primary Atenção Básica. Fisioterapia. Care. Physiotherapy. 1 Especialista em Fisioterapia Ortotraumatológica e Bacharel em Fisioterapia pela Universidade Estadual de Santa Catarina (UDESC). E-mail: [email protected]. 2 Mestre em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1985). E-mail: [email protected]. 3 Especialista em Gestão de Pessoas nas Organizações e Bacharel em Administração pela Universidade Federal Santa Catarina (UFSC). E-mail: [email protected]. A atuação do Fisioterapeuta na Atenção Básica no Município de Florianópolis (SC) 1 Introdução O Sistema Único de Saúde (SUS) pode ser considerado uma das maiores conquistas sociais consagrada na Constituição de 1988 (CAMPOS et al., 2007). O SUS representa uma nova concepção acerca de saúde, que antes era entendida como “o Estado de não doença”. A mudança foi grande, e a saúde passou a ser relacionada com a qualidade de vida da população. (BRASIL, 2006) Nesse processo, através de várias portarias, a Política de Atenção Básica foi gradualmente se fortalecendo e a atenção primária se constituindo como porta de entrada do SUS. A Atenção Básica caracteriza-se por ser um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrangem a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde. (BRASIL, 2007a) De acordo com Costa Neto e Menezes (2000), o Programa Saúde da Família (PSF), criado em 1994, é a estratégia priorizada pelo Ministério da Saúde (MS) para organizar a Atenção Básica. Com as demandas específicas que surgiram durante o processo de amadurecimento do programa, o MS criou o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), mediante a Portaria GM n. 154, de 24 de janeiro de 2008, com o objetivo de apoiar as ações da Equipe de Saúde da Família (ESF). Conforme essa Portaria, dentre os profissionais que podem compor o NASF está o fisioterapeuta. Porém, a construção do seu processo de trabalho na Atenção Básica é algo desafiador, visto que a fisioterapia surgiu como uma “especialidade paramédica” com o propósito de reabilitar e preparar pessoas fisicamente lesadas nas grandes guerras, em acidentes de trabalho ou por doenças oriundas das condições sanitárias precárias para o retorno à vida produtiva. (REBELATTO; BOTOMÉ, 1999) Além disso, a formação e a prática da fisioterapia, hoje, estão direcionadas, prioritariamente, para as clínicas de reabilitação e para os hospitais. Há uma tendência no ensino superior de fisioterapia em valorizar o individual, a terapêutica, a especialidade e a utilização de métodos e técnicas sofisticadas (RIBEIRO, 2005). A atuação do fisioterapeuta na Atenção Básica é recente, com algumas experiências exitosas em Sobral (CE) (BRASIL, 2005), Governador Valadares (MG) (BARBOSA et al., 2010) e Londrina (PR). (TRELHA, 2007) 154 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Marcia Marie Oki # Altamiro Damian Préve # Juliana Pereira A partir dessas constatações, este artigo se insere no contexto sanitário atual e tem como objetivo geral descrever e discutir o processo e a organização de trabalho do fisioterapeuta na Atenção Básica em Florianópolis, tentando compreender se ocorreu a adequação de suas ações à política pública de saúde preconizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS). 2 Referencial Teórico 2.1 SUS Em 1986 foi realizada em Brasília a 8ª Conferência Nacional de Saúde com participação de usuários, trabalhadores de saúde, prestadores de serviços e gestores. Seu relatório final definiu a saúde como “[...] resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde”. Esse documento serviu de base para discussões na Assembleia Nacional Constituinte, em 1987. (PAIM, 2007) Como resultado desses debates na Assembleia Constituinte, aprovou-se em 1988 a Constituição Federal, que criou o SUS e reconheceu a saúde como um direito a ser assegurado pelo Estado e pautado pelos princípios de universalidade, equidade, integralidade e organizado de maneira descentralizada, hierarquizada e com participação da população. (BRASIL, 2006) A universalidade dos serviços é o acesso à saúde como direito público subjetivo, integrante dos direitos da cidadania. A universalidade é o princípio segundo o qual, conforme reza o artigo 196, da CF, “A saúde é direito de todos e dever do Estado [...]”. (BRASIL, 1988) Integralidade de assistência é o direito de as pessoas serem atendidas na íntegra de suas necessidades. É “[...] entendida como um conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema [...]”, conforme a Lei Orgânica do SUS, n. 8.080, e seu artigo 7º, inciso II (BRASIL, 1990). Ou seja, a cada qual de acordo com as suas necessidades, inclusive no que é pertinente aos níveis de complexidade diferenciados. A equidade na prestação dos serviços define que a política pública de saúde deve ser redistributiva com o objetivo de corrigir desequilíbrios estaduais e regionais. Deve dar-se tratamento desigual para situações desiguais, ou seja, Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 155 A atuação do Fisioterapeuta na Atenção Básica no Município de Florianópolis (SC) cada um segundo suas necessidades, objetivando proporcionar uma maior uniformidade. (CAMPOS, 2007) Descentralização dos serviços é a redistribuição de recursos e responsabilidades entre os entes federados (BRASIL, 2006). A gestão do SUS passa a ser responsabilidade da União, dos estados e dos municípios. A regionalização e hierarquização da rede é a distribuição espacial dos serviços de modo a atender às necessidades da população por regiões e em diferentes níveis de complexidade. Este princípio está ligado às atribuições dos gestores estaduais e municipais, que devem garantir a eficiência, a eficácia e a efetividade do SUS. (PAIM, 2007) De acordo com Nunes et al. (2000), a participação social é a institucionalização da democracia participativa. A perspectiva do controle social, a participação da população na gestão da saúde, coloca as ações e serviços na direção de interesses da comunidade e estabelece uma nova relação entre o Estado e a Sociedade, na qual o conhecimento da realidade de saúde das comunidades é o fator determinante na tomada de decisão por parte do gestor. 2.2 Atenção Básica A Atenção Básica, segundo Starfield (2002), é uma estratégia organizativa da atenção à saúde, definida pelos princípios e diretrizes que esses serviços devem proporcionar: atenção generalizada, sem restrições a grupos de idade, gênero ou problemas de saúde; atenção acessível, integrada e continuada, com trabalho em equipe; atenção centrada na pessoa e não na enfermidade; orientada à família e comunidade; atenção coordenada, incluindo o acompanhamento do usuário nos outros níveis de atenção; e apoio constante aos usuários nos aspectos relacionados à saúde e bem-estar. Com o objetivo de consolidar os princípios do SUS, servindo como estratégia para organização da Atenção Básica, o Ministério da Saúde, em 1994, criou o Programa Saúde da Família (PSF). A publicação do Manual para Organização da Atenção Básica, em 1998, foi outro passo na demarcação da importância da Atenção Básica para a organização dos sistemas de saúde, definindo responsabilidades e estratégias organizativas. Os profissionais da Equipe de Saúde da Família (médico, enfermeiro, agente comunitário, dentista, auxiliar de saúde bucal) têm como principal desafio promover a reorientação das práticas e ações de saúde de forma 156 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Marcia Marie Oki # Altamiro Damian Préve # Juliana Pereira integral e contínua, levando-as para mais perto da família, incorporando e reafirmando os princípios básicos do SUS. Em Florianópolis, o programa começou a ser discutido em 1994 e colocado em prática em 1996 com 6 equipes. No momento, conta com 50 Centros de Saúde e 112 equipes. (FLORIANÓPOLIS, 2012b) Para Costa e Menezes (2000), a Estratégia de Saúde da Família, como forma de territorialização, permite a demarcação de um espaço concreto de atuação da equipe, tendo o núcleo familiar como base e unidade para o desenvolvimento de sua atuação. Permite assim, compreender a dinâmica do núcleo familiar, suas relações na sociedade, inclusive o modo social de produção, e avaliar que determinantes sociais contribuem para um melhor ou pior desenvolvimento do processo de saúde nessa comunidade. O Centro de Saúde deve ser a porta de entrada do usuário no sistema local de saúde. Dessa forma, pelo maior conhecimento da clientela e pelo acompanhamento dos casos, o programa permite ordenar os encaminhamentos e racionalizar o uso da tecnologia e dos recursos terapêuticos mais caros. O PSF não é uma peça isolada do sistema de saúde, mas um componente articulado com todos os níveis. (BRASIL, 2007b) 2.3 Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) Entendendo que a Atenção Primária à Saúde é algo complexo e que demanda intervenções amplas em múltiplas facetas da realidade, para que se possa obter efeito positivo sobre a saúde e a qualidade de vida da população o Ministério da Saúde criou o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), mediante a Portaria GM n. 154, de 24 de janeiro de 2008. O principal objetivo foi o de ampliar a abrangência e o escopo das ações da Atenção Básica e aumentar a resolutividade dela, reforçando os processos de territorialização e regionalização em saúde. O NASF deve atuar dentro de algumas diretrizes relativas à Atenção Básica: ação interdisciplinar e intersetorial; educação permanente em saúde dos profissionais e da população; desenvolvimento da noção de território; integralidade, participação social, educação popular; promoção da saúde e humanização. (BRASIL, 2009) Os Núcleos de Apoio à Saúde da Família são constituídos por equipes compostas por profissionais de diferentes áreas de conhecimento (psicólogo, assistente social, farmacêutico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, médico ginecoloColeção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 157 A atuação do Fisioterapeuta na Atenção Básica no Município de Florianópolis (SC) gista, profissional da educação física, médico homeopata, nutricionista, médico acupunturista, médico pediatra, médico psiquiatra e terapeuta ocupacional) e atuam em parceria com os profissionais da ESF. Em Florianópolis, o NASF iniciou suas atividades em 2008, e o fisioterapeuta foi incluído na equipe em março de 2012 através da Portaria/SS/ GAB/NASF n. 00055/2012. 2.4 Fisioterapia A fisioterapia, no Brasil, foi criada como profissão de nível superior em outubro de 1969, pelo Decreto-Lei n. 938, que, em seu art. 3º, estabeleceu que “[...] é atividade privativa do fisioterapeuta executar métodos e técnicas fisioterápicas com a finalidade de restaurar, desenvolver e conservar a capacidade física do paciente”. (BRASIL, 1969) Em relação ao Decreto-Lei n. 938/69, a Resolução COFITTO n. 08/78 ampliou consideravelmente o campo de atuação do fisioterapeuta, tanto em relação aos níveis de assistência (prevenção primária, secundária e terciária) quanto ao foco da atenção, passando a intervir na saúde do indivíduo como um todo e não mais apenas no que diz respeito à sua capacidade física. (COFITTO, 1978) A partir da Resolução COFFITO n. 80, de 1987, mudou-se o objeto de estudo e trabalho, transcendendo os “distúrbios do movimento” e passando a enfocar o “movimento humano” em si, “em todas as suas formas de expressão e potencialidades”. Ao assumir o movimento como seu objeto, o fisioterapeuta abriu a possibilidade de adotar uma perspectiva relacional, pensando o sujeito não apenas por suas características biológicas, mas também o considerando na sua dimensão social. (COFITTO, 1987) Como se pode observar pela sua própria concepção e conformação ao modelo assistencial curativo, a fisioterapia destinou-se, quase exclusivamente, ao controle dos danos de determinadas doenças. A atuação na fisioterapia reabilitadora é destinada à cura de determinadas enfermidades e/ou à reabilitação de sequelas e complicações. Seu objeto de intervenção é o sujeito individualizado; quando não, apenas partes ou órgãos isolados do corpo. (KATO et al., 1994) Esta atuação direcionada apenas para o controle de danos impõe restrições à prática do profissional fisioterapeuta, que se limita a intervir apenas quando a doença já está instalada e, na maioria dos casos, de forma avan- 158 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Marcia Marie Oki # Altamiro Damian Préve # Juliana Pereira çada. Tal situação impõe à população grande carga de doenças e sequelas, que poderiam ser, em muitos casos, evitadas. Os conhecimentos inerentes à fisioterapia também podem contribuir para a prevenção de doenças e sequelas, quando utilizados em outros níveis de atenção. Frente a esses desafios e necessidades, para Ribeiro (2002) surge a proposição do modelo da fisioterapia coletiva como base para reorientação do foco de atenção e da prática profissional do fisioterapeuta. A fisioterapia coletiva engloba e amplia a fisioterapia reabilitadora, possibilitando o desenvolvimento da prática fisioterapêutica tanto no controle de dados quanto no controle de riscos. Segundo Rebelatto e Botomé (1999), enquanto a fisioterapia reabilitadora concentra sua atuação, quase que exclusivamente, no controle de danos, seja buscando a cura de determinadas doenças que restringem a locomoção humana, seja reabilitando sequelados de patologias diversas ou desenvolvendo a capacidade residual funcional de indivíduos que tiveram lesões irreparáveis de determinadas funções, a fisioterapia coletiva possibilita e incentiva a atuação também no controle de risco, ou seja, no controle de fatores que potencialmente podem contribuir para o desenvolvimento da doença. Aqui reside a diferença crucial entre os objetos de intervenção dos dois modelos de atuação profissional: o momento da intervenção. Enquanto no controle de danos a intervenção ocorre quando a doença já está instalada, e muitas vezes em estado avançado, no controle dos riscos a intervenção ocorre antes de a doença acontecer, ou seja, antes do aparecimento de sequelas e complicações limitadoras do movimento. O objeto da atuação da fisioterapia continuará sendo o movimento humano; no entanto, essa atuação não se dará, exclusivamente, no indivíduo doente e sequelado; antes, porém, a atuação será direcionada às coletividades humanas, buscando transformar hábitos e condições de vida, promovendo saúde e evitando, consequentemente, distúrbios do sistema locomotor. A fisioterapia apresenta uma missão primordial de cooperação mediante a nova realidade de saúde que se apresenta, através da aplicação de meios terapêuticos físicos, na prevenção, eliminação ou melhora de estados patológicos do homem, na promoção e na educação em saúde. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 159 A atuação do Fisioterapeuta na Atenção Básica no Município de Florianópolis (SC) 3 Metodologia Trata-se de uma pesquisa qualitativa exploratória, em que são avaliados os registros no Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP) realizados pelo fisioterapeuta que atua na Atenção Básica no Distrito Sanitário Leste no Município de Florianópolis, no período de junho de 2012 a julho de 2012. Além disso, são consideradas também suas experiências pessoais. 4 Análise e Resultados A bibliografia sobre a atuação do fisioterapeuta na Atenção Básica é escassa; algumas experiências são descritas em Sobral (CE), Londrina (PR) e Governador Valadares (MG). Por isso, se faz necessária a publicação das atividades do fisioterapeuta que atua nos CS de Florianópolis e a interlocução com trabalhos já realizados para que se construam referenciais de importância profissional e social. A relevância desse trabalho está em contribuir com a construção desse conhecimento, apontando ações na Atenção Básica que podem servir de modelo para outros municípios. A descrição dessas atividades, e como elas são embasadas nas políticas públicas e nas demandas da comunidade e das ESF, são relatas a seguir. O gerenciamento municipal da saúde em Florianópolis ocorre a partir da Secretaria Municipal de Saúde e é dividido em 5 Distritos Sanitários: Distrito Centro, Leste, Continente, Norte e Sul. Sob a responsabilidade desses distritos estão 50 Centros de Saúde (CS) e 4 Policlínicas. O Distrito Sanitário Leste administra 9 CS. (FLORIANÓPOLIS, 2012a) A atuação da fisioterapia na Atenção Básica em Florianópolis teve início em março de 2012 com sua inclusão no NASF (Portaria/SS/GAB/NASF n. 00055/2012). No período que compreende este estudo a Secretaria Municipal de Saúde contava com 14 profissionais, sendo que, destes, 5 trabalhando na Atenção Básica (1 em cada Distrito) e 9 nas Policlínicas (Média Complexidade). As experiências de atuação do fisioterapeuta na Atenção Básica, que vêm ocorrendo em algumas regiões do Brasil, e a discussão que tem se desenrolado acerca dessa atuação tem evidenciado a necessidade de se buscar estratégias capazes de viabilizar a atuação frente ao elevado número de pessoas que necessitam de atendimento fisioterapêutico - mas que não têm acesso - e ao reduzido contingente de profissionais atuando nesse nível de 160 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Marcia Marie Oki # Altamiro Damian Préve # Juliana Pereira atenção à saúde. Essa também é a realidade de Florianópolis. De acordo com o SISREG (sistema de informações on-line, disponibilizado pelo DATASUS, para o gerenciamento e operação das Centrais de Regulação), em julho de 2012 existiam 8.500 encaminhamentos para a fisioterapia. Considerando-se o elevado número de pessoas sob seus cuidados, é necessário desenvolver ações de promoção, proteção e manutenção da saúde, além das ações de reabilitação; e para isso devem-se traçar objetivos e metas de ação exequíveis nesse cenário e adotar estratégias que possibilitem a realização dessas ações. O que se pode constatar é que, ao disponibilizar o atendimento de fisioterapia, prioritariamente, em serviços de atenção secundária e terciária, criou-se uma grande dificuldade de acesso da população a estes serviços, considerando-se as dificuldades de deslocamento do ponto de vista das limitações físicas e financeiras, além da insuficiência de vagas. É importante destacar que o trabalho realizado nos CS promove facilidade de acesso da ESF aos conhecimentos de fisioterapia que serão compartilhados através do apoio matricial e da educação permanente; além de facilitar o acesso do paciente ao serviço de fisioterapia, buscando resolver em partes o problema que foi relatado no parágrafo anterior. De acordo com a Instrução Normativa n. 001/2010, que define normas e diretrizes para a gestão e atuação dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família - NASF em Florianópolis, os profissionais desses núcleos trabalharão de acordo com o modelo de apoio matricial, em que cada profissional oferece apoio em seu núcleo especializado de saber a um conjunto de Equipes de Saúde da Família, compartilhando saberes e práticas voltados para a resolução de problemas de saúde identificados por estas equipes e ampliando, assim, a sua capacidade de atuação. Com o início da atuação do fisioterapeuta nos Centros de Saúde viu-se a necessidade de se elaborar um fluxograma de acesso ao serviço de fisioterapia. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 161 A atuação do Fisioterapeuta na Atenção Básica no Município de Florianópolis (SC) Figura 1: Fluxograma de acesso ao serviço de Fisioterapia Fonte: Secretaria Municipal de Saúde/Florianópolis (2012b) Conforme esse fluxograma, o NASF não se constitui em porta de entrada do usuário, sendo na realidade um núcleo voltado para o apoio e fortalecimento das Equipes de Saúde da Família (BRASIL, 2009). Não deve haver acesso direto ao NASF a partir de encaminhamentos de profissionais das Policlínicas, Hospitais e outras Instituições; os pacientes são redirecionados às ESF para acompanhamento conjunto com o fisioterapeuta (FLORIANÓPOLIS, 2010). Desta forma, esse paciente é compartilhado e o seu caso discutido com a ESF; e se ele necessitar de fisioterapia, dependendo da disfunção poderá seguir um desses caminhos: 162 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Marcia Marie Oki # Altamiro Damian Préve # Juliana Pereira • Se for caso ortopédico ou reumatológico é verificado se o paciente possui critérios de inclusão nos grupos da atenção primária (que serão descritos a seguir como grupos específicos); se a resposta for sim, ele ingressa no grupo. Ao final do tratamento se reavalia o paciente, que pode ter alta e iniciar atividade física orientada por Profissional de Educação Física ou, se não houve melhora, marca consulta via SISREG para ser atendido na Policlínica (Média Complexidade). Se a resposta for não, ele não possui critérios para o grupo, e é orientado (atendimento individual) a entrar no SISREG para aguardar atendimento na Policlínica mais próxima de sua residência. • Se o paciente estiver restrito ao leito ou domicílio será agendada visita domiciliar. • Se o paciente for de outras especialidades (Pneumologia, Cardiologia, Pediatria, Neurologia Adulto, Hidroterapia, Ginecologia) será orientado (atendimento individual) e encaminhado para as Unidades de Referência (Clínica da Universidade de Santa Catarina ou Centro Catarinense de Reabilitação – serviço estadual de fisioterapia). Diante da diversidade e complexidade de disfunções e patologias que necessitam de fisioterapia, a importância desse fluxograma está na rápida e fácil visualização, para uma melhor compreensão de como é o acesso e o caminho que o paciente que necessita de fisioterapia irá percorrer na Atenção Básica; e, dependendo do caso, como esse paciente será encaminhado para as Policlínicas ou para as Instituições de Referência. O fluxograma traz, então, um amplo esclarecimento para os demais profissionais da rede e organiza o serviço de fisioterapia. É importante ressaltar que a responsabilização compartilhada entre as equipes de Saúde da Família e a equipe do núcleo prevê uma revisão da prática do encaminhamento com base nos processos de referência e contrarreferência, ampliando-a para um processo de acompanhamento longitudinal de responsabilidade da equipe de Atenção Básica/Saúde da Família. (BRASIL, 2009) A Portaria GM n. 154, de 2008, traz como atribuições do fisioterapeuta desde ações de promoção da saúde, prevenção de doenças e assistência à reabilitação, até tratamentos específicos, dando prioridade à saúde da mulher, criança, idoso, adulto, pessoas com deficiência e à saúde mental, realizando ações coletivas e/ou individuais na unidade ou em domicílio. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 163 A atuação do Fisioterapeuta na Atenção Básica no Município de Florianópolis (SC) O fisioterapeuta é um membro importante da equipe de saúde (KATO et al., 1994), e, como os demais membros, apresenta, também, aptidões e competências inerentes à sua formação profissional. Com base nas Diretrizes do NASF (BRASIL, 2009), observando os princípios do SUS e a Política Nacional de Atenção Básica (BRASIL, 2007b), o processo de trabalho do fisioterapeuta em Florianópolis foi organizado em: levantamento epidemiológico, controle da fila de fisioterapia, atendimento individual, grupos específicos, reunião de equipe/matriciamento, visita domiciliar, apoio aos grupos dos Centros de Saúde. Cada ação será detalhada a seguir: a)Levantamento Epidemiológico De acordo com a Política Nacional de Atenção Básica (BRASIL, 2007a), o profissional tem responsabilidade de conhecer a realidade das famílias pelas quais é responsável e identificar os problemas de saúde mais comuns e situações de risco aos quais a população está exposta. Este levantamento foi realizado com base nos encaminhamentos para a fisioterapia, com o objetivo de se conhecer a população que necessitava desse serviço e quais eram as patologias e queixas mais prevalentes desses pacientes. A partir desses dados foi possível identificar os problemas de saúde mais comuns e traçar as estratégias de trabalho. Conforme as Diretrizes do NASF (2009), o profissional deve desenvolver junto à ESF ações intersetoriais pautadas nas demandas da comunidade. Dos encaminhamentos realizados para fisioterapia, 82% dos pacientes apresentavam diagnósticos ortopédico-traumatológicos ou reumatológicos. b)Controle do Funcionamento do Serviço de Fisioterapia Esta ação foi descrita no fluxograma e é a base do gerenciamento do serviço; ela é muito importante, pois compreende a organização dos encaminhamentos conforme as alterações, queixas e disfunções do paciente, dependendo também da especialidade: se ele necessita de hidroterapia, visita domiciliar, ou é um atendimento de pediatria, neurologia adulto, pneumologia, cardiologia etc. Com essa ação se evita encaminhamentos duplicados e encaminhamentos sem indicação de fisioterapia. c)Atendimento Individual Apresenta características diferentes do atendimento individual na Média Complexidade. Nas Policlínicas o atendimento é realizado 2 ou 3 vezes por semana, por 10 ou 20 sessões (dependendo do caso); ao término do tratamento o paciente pode receber alta se os objetivos foram alcançados, ou, se 164 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Marcia Marie Oki # Altamiro Damian Préve # Juliana Pereira suas queixas persistirem, ele retorna ao Centro de Saúde para ser reavaliado pela ESF. Dependendo da disfunção e das queixas do paciente o tratamento pode consistir de eletrotermoterapia e/ou cinesioterapia. Já na Atenção Básica, conforme a Normativa n. 001/2010, os critérios para o atendimento individual são discutidos com a ESF. O tratamento tem como característica a orientação de cuidados e do uso de ferramentas para amenização do quadro de dor e instalação de incapacidades. As orientações podem ocorrer na forma de interconsulta (com outros profissionais). O paciente entende a patologia, aprende o que fazer e realiza o tratamento em casa. Por exemplo: um paciente que sofreu uma entorse de tornozelo leve (sem fratura, ou avulsão de ligamentos), está sentindo dor, com edema, hiperemia, dificuldade de movimento. Nesse caso, o fisioterapeuta indica o correto posicionamento, diminuição das atividades com carga de peso corporal, crioterapia e mobilização ativa leve. Esse tratamento o paciente realiza em casa e é acompanhado no Centro de Saúde. d)Grupos Específicos A partir do levantamento epidemiológico já explicado, observou-se a necessidade de se tratar os pacientes com dores crônicas e com queixas relacionadas à coluna (33% dos casos ortopédicos). Uma das atribuições dos profissionais que atuam na Atenção Básica é desenvolver processos educativos por intermédio de grupos voltados à recuperação da autoestima, troca de experiências, apoio mútuo e melhoria do autocuidado. (BRASIL, 2007b) A atividade desenvolvida pelo profissional poderá ser a primeira oportunidade para o sujeito experimentar seus limites e possibilidades corporais fora da dinâmica diária de trabalho, do estudo ou até de condições mais complicadas, exigindo do profissional uma sensibilidade para perceber essa condição individual imbricada na intervenção coletiva. Para tanto, as atividades desenvolvidas deverão ser flexíveis o suficiente para garantir a participação de todos. (BRASIL, 2009) O grupo de postura na Atenção Básica tem características muito peculiares: • Educação em Saúde: conforme Almeida, Oliveira e Ribeiro (2005), a prática da educação em saúde não deve e não pode ser entendida como ação vertical e unidirecional, do profissional que sabe para a população que não sabe. Para Bispo Junior (2010), o processo de educação e orientação postural deve ser construído coletivamente, Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 165 A atuação do Fisioterapeuta na Atenção Básica no Município de Florianópolis (SC) levando-se em consideração quais os hábitos, costumes e crenças que influenciam na postura daquela comunidade. Os temas de educação em saúde no grupo são: anatomia, fisiologia, patologia, fatores desencadeantes da dor, táticas de enfrentamento da dor (física e emocional), Atividades de Vida Diária (AVD’s), medicação, exercícios. Além disso, os pacientes relatam as suas dificuldades, suas rotinas, suas melhoras ou pioras e dividem suas experiências. • Interdisciplinaridade: para a Política Nacional de Atenção Básica (BRASIL, 2007b) o profissional deve prestar assistência integral, respondendo de forma contínua e racionalizada à demanda. De acordo com o Caderno de Atenção Básica – Diretrizes do NASF (2009), o trabalho deve favorecer a interdisciplinaridade ampla e coletiva como expressão da apropriação conjunta dos instrumentos, espaços e aspectos estruturantes da produção da saúde e como estratégia de solução de problemas, reforçando os pressupostos do apoio matricial. O grupo tem a participação do Médico da Saúde da Família, Agentes Comunitários de Saúde, Fisioterapeuta, Profissional de Educação Física, Psicólogo – e por isso tem a característica de não ser um grupo do fisioterapeuta e sim do Centro de Saúde. • Público-alvo: são os moradores da comunidade. Os casos são discutidos com a ESF: são pacientes com dores crônicas que irão se beneficiar com a prática dos exercícios e que possuem independência ou semidependência funcional. • Funcionamento: após a discussão dos casos com a ESF, os pacientes são avaliados pelo médico, fisioterapeuta e pelo profissional de educação física. São cinco encontros (1 vez por semana); em cada encontro os pacientes relatam como estão se sentindo, suas dúvidas, dificuldades de aderência ao tratamento, e o que realizaram naquela semana. O tema de educação em saúde é apresentado e discutido; após a parte teórica são realizados os exercícios. No último encontro, depois dos exercícios são feitas as reavaliações, as considerações finais e os encaminhamentos (por exemplo: se o paciente continua com dor irá ser encaminhado via SISREG para o atendimento na Média Complexidade; se o paciente está se sentindo melhor é encaminhado para os grupos de atividade física da Unidade ou da Comunidade). 166 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Marcia Marie Oki # Altamiro Damian Préve # Juliana Pereira e)Reunião de Equipe/Matriciamento As reuniões de equipe são locais de apoio matricial (BRASIL, 2009). Ocorrem semanalmente nos Centros de Saúde. Além de o profissional ficar a par do que está ocorrendo naquele território, aqui ocorrem as discussões de casos, desenvolvimento de planos terapêuticos, educação permanente (o tema surge da demanda da ESF, como, por exemplo, exercícios para incontinência urinária). f) Visita Domiciliar Primeiramente é importante esclarecer que a visita domiciliar se difere do atendimento domiciliar. O atendimento domiciliar pode ocorrer 2, 3 vezes por semana, ou até todos os dias dependendo do caso do paciente; esta ação não ocorre no Município de Florianópolis. O que é realizado é a visita domiciliar, na qual o fisioterapeuta conta com o apoio do Agente Comunitário de Saúde (ACS). Segundo Loures e Silva (2010), as ações do ACS que auxiliam a atuação do fisioterapeuta na Atenção Básica são: acompanhar as famílias de sua respectiva microárea, orientá-las quanto à utilização dos serviços de saúde disponíveis na UBS, desenvolver ações que busquem sua integração com a população e desta com a equipe, e identificar indivíduos ou famílias com necessidade de visita domiciliar. Para Ferreira et al. (2005), a presença do profissional na residência alcança conhecimentos mais fidedignos do cotidiano familiar, o que torna a intervenção mais eficaz e mais específica. Na visita domiciliar o fisioterapeuta, após a avaliação, orienta o paciente e/ou o cuidador em relação aos exercícios, às Atividades de Vida Diária (AVDs), ao posicionamento, ao uso correto da cadeira de rodas, de órteses, e de dispositivos auxiliares da marcha. Outra visita é agendada conforme a necessidade. Os casos são discutidos com a ESF e o público-alvo são os pacientes restritos ao leito ou ao domicílio. Os objetivos são: prevenção de incapacidades motoras e/ou respiratórias, reabilitação e independência funcional. g) Apoio aos Demais Grupos dos Centros de Saúde Participação nos grupos de tabagismo, gestante, diabetes, hipertensão, relaxamento, saúde mental, emagrecimento, qualidade de vida. Para Almeida e Guimarães (2009), o fisioterapeuta necessita produzir conhecimentos e ações mais contextualizados, portanto mais próximos da vida das pessoas atendidas e com maior potencial para levá-las a perceber sua corresponsabiColeção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 167 A atuação do Fisioterapeuta na Atenção Básica no Município de Florianópolis (SC) lidade pela manutenção de sua saúde, compreendendo-a como um recurso que se conquista no dia a dia, o que confere aos usuários dos serviços mais independência em relação ao modelo antigo. 5 Considerações Finais Este trabalho contribui para a construção do conhecimento sobre a prática da fisioterapia na Atenção Básica, descrevendo as ações que o fisioterapeuta desenvolve nos Centros de Saúde de Florianópolis em parceria com as ESF e com os outros profissionais do NASF. Pode-se observar que a corresponsabilização entre o fisioterapeuta e a ESF foi uma maneira de organizar e integrar o trabalho destas equipes. O trabalho do fisioterapeuta foi adequado e embasado na Política Nacional de Promoção à Saúde, na Política Nacional de Atenção Básica e nas Diretrizes do NASF. A partir dos dados do levantamento epidemiológico, foi possível identificar os problemas de saúde mais comuns e traçar as estratégias de trabalho. O fisioterapeuta gerencia o funcionamento e o acesso ao serviço de fisioterapia, o que contribuiu com a organização dos encaminhamentos. Os pacientes com dores crônicas são tratados nos grupos de reabilitação de coluna, além disso, o fisioterapeuta apoia outros grupos do Centro de Saúde. Para casos específicos ocorrem os atendimentos individuais. As reuniões de equipe têm como objetivos as discussões de caso e a educação permanente. Pacientes restritos ao domicílio ou ao leito são orientados através da visita domiciliar. Baseado neste relato torna-se evidente a importância do trabalho do fisioterapeuta para que se possa efetivar: • um sistema de saúde universal e equitativo; • a promoção da saúde como um dever de políticas públicas; • a prevenção de doenças como forma de viabilizar estruturas para casos que mereçam atenção especial; • a educação continuada para disseminar valores do contingente humano; e • a participação popular, para colocar em prática os princípios e diretrizes do SUS. 168 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Marcia Marie Oki # Altamiro Damian Préve # Juliana Pereira Para que seja possível, o acesso pleno à saúde pela população e a concretização das propostas das Políticas de Saúde Pública do país, faz-se necessária a continuação desse trabalho na Atenção Básica. Além do que foi exposto, constata-se também que o processo de trabalho do fisioterapeuta não tem uma construção institucional fácil. Vários são os motivos: • número reduzido de profissionais, fator inerente à maioria das unidades da área da saúde; • alta demanda de pacientes, com tendência de crescimento dessa demanda; • formação acadêmica reabilitadora com pouca experiência e tradição de trabalho em serviços básicos de saúde. Estratégias que permitam e viabilizem ações fisioterapêuticas nesse nível de atenção à saúde têm sido adotadas em todo o país com muito êxito e também em Florianópolis. Porém, por ser uma atuação recente, essas estratégias necessitam ser acompanhadas, avaliadas e receberem propostas de reconstrução, condições essas contributivas deste artigo. Referências ALMEIDA, A. L. J.; GUIMARÃES, R. B. O lugar social do fisioterapeuta brasileiro. Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v. 16, n .1, p. 82-8, jan./mar. 2009. ALMEIDA, A. B.; OLIVEIRA; A. M. B.; RIBEIRO, K. S. Q. S. A fisioterapia na Atenção Básica a partir de uma experiência de educação popular. 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As fórmulas discursivas das duas teses são avaliadas estatisticamente para estimar seus comportamentos a partir de uma amostra de julgados para, primeiramente, estabelecer se é justificável a judicialização e, com base na resposta a essa hipótese, avançar sobre as categorias-chave que fundamentam tais decisões. Dirige-se, no final, ao administrador um conjunto de orientações para mitigar os efeitos da inevitável judicialização e para corrigir a organização, os sistemas e os métodos da dispensação como concebidos atualmente. The access to medicines, health supplies or services by judiciary intervention leads to a profound study about thesis which dispute the best decision on pharmacological assistance. The discursive formulas of these two thesis have been evaluated statistically to estimate their behavior from a sample of decisions to establish, at first, whether the lawsuits are reasonable and, based upon the obtained answer, it goes on over categories that support the legal decisions. Directives, in the end, are offered to the administration in an effort to reduce effects of inevitable lawsuits and to correct organization, system and methods of the pharmacological assistance as presently conceived. Palavras-chave: mentos. Julgados. 1 Dispensação. Medica- Key words: Pharmacology Assistance. Medicine. Lawsuits. Pós-graduada em Direito Público pela Escola Superior da Magistratura do Estado de Santa Catarina (Esmesc) (2009) e Bacharel em Direito pela Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) (2002). E-mail: [email protected]. 2 Doutor em Administração pela Universidade de São Paulo – USP (2009) modalidade sanduíche com estágios na Melbourne University, Austrália (2008), e na McGill University, Canadá (2007). E-mail: [email protected]. 3 Especialista em Gestão de Pessoas nas Organizações e Bacharel em Administração pela Universidade Federal Santa Catarina (UFSC). E-mail: [email protected] Saúde: Problemas na Concessão de Medicamentos Devido à Tutela Judicial 1 Introdução O objeto imediato deste estudo, por se afigurar como fato, é a concessão de medicamentos à população como uma obrigação do Estado. Essa obrigação é realizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) que, entretanto, pode ter seu procedimento alterado por determinação judicial quando requerida por cidadãos inconformados com os critérios de distribuição, de oportunidade ou de urgência adotados pelo Sistema. Não se afirma, a priori, se as pretensões desses cidadãos são justificáveis ou injustificáveis. A assunção de uma dessas alternativas seria precipitada, visto que faltam pesquisas ou publicações sobre o assunto; por isso adota-se a amostragem de casos concretos submetidos ao processo judicial para revelar como a situação está realmente se desenvolvendo, com o intuito de sugerir à administração da saúde procedimentos que mitiguem a necessidade da interferência judicial no sistema de dispensação de medicamentos. A amostragem realizada abrange o período de 2005 até 2010, no qual foram coletados todos os julgados disponíveis na jurisprudência catarinense do Tribunal de Justiça, e tem por objetivo selecionar os elementos definidores da controvérsia que trouxe a necessidade de ação jurisdicional. O que, simplesmente, se pretende com essa análise da jurisprudência contida na Tabela 2, a qual sumariza os resultados obtidos, é expor as doenças e os medicamentos presentes nas decisões judiciais do período. Limitadamente, não assumindo uma defesa de qualquer das teses, propõe-se uma revisão do procedimento adotado pela gestão do serviço de dispensação de medicamentos para reduzir as demandas judiciais – visto que muitas delas são propostas e processadas por desconhecimento sobre a forma e os limites técnicos ou legais de como a dispensação de medicamentos é realizada – como modo de contribuir com a distribuição de justiça social que age nas relações macrossociais indo além do que a justiça dos tribunais é capaz, pois atua apenas nas relações entre as partes. Uma seleção de categorias, apresentada na Tabela 3, foi o instrumento usado para agrupar e apresentar a tabulação das controvérsias e os principais fundamentos que determinaram a concessão dos medicamentos solicitados nos julgados da Tabela 2. A verificação e o agrupamento das decisões na Tabela 2, pela explicitação da doença e do medicamento solicitado, implicitamente demonstram a relevância que se tem dado a alguns conceitos como saúde, medicamento, 174 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Marilei Bilistki Grams # Marcos Abilio Bosquetti # Juliana Pereira medicamento de referência ou inovador, medicamento similar, medicamento genérico, bioequivalência e biodisponibilidade, muito utilizados no âmbito do SUS e que precisam ser divulgados para o público externo, notadamente, para todos aqueles envolvidos pela via judicial na dispensação de medicamentos. A divulgação dos conceitos utilizados compõe a proposta de orientação à gestão do SUS para prevenir interferências fora da melhor política de atendimento ou da legislação que a obriga no âmbito administrativo. Por terem importância os conceitos e a legislação sobre as categorias-chave para a dispensação de medicamentos, o estudo os apresenta e, ainda, inclui a Tabela 1, que especifica as ações desenvolvidas por área no procedimento de dispensação de medicamentos, como forma de complementar o conjunto de orientação que é apresentado ao final para uma melhor gestão do sistema. 2 Exposição do Tema Há um longo histórico relativo à dispensação de medicamentos, de insumos ou de serviços de saúde no Brasil; por isso, como forma de circunstanciar a questão apresenta-se um breve relato de alguns fatos importantes. 2.1 Histórico da Prestação dos Direitos Relativos à Saúde no Brasil Há previsões de proteção à saúde dos cidadãos brasileiros desde a Constituição do Império de 1824, embora a saúde como direito não seja mencionada entre as inovações inseridas no âmbito da inviolabilidade dos direitos civis e políticos dos cidadãos brasileiros. Schwartz (2001, p. 43) menciona esse fato, mas deixa de observar que as determinações sanitárias existentes na Carta de 1824 já se configuravam como uma dimensão importante de um direito não explicitado. A expressão “socorros públicos” (BRASIL, Art. 179, item XXXI da Constituição de 1824) contém, na verdade, um amplo serviço social que no Brasil iniciou-se no longínquo ano de 1543. O texto a seguir esclarece: Em nosso país, a preocupação com a proteção social do indivíduo nasceu com a necessidade de implantação de instituições de seguro social, de cunho mutualista e particular. Tivemos a cria- Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 175 Saúde: Problemas na Concessão de Medicamentos Devido à Tutela Judicial ção das santas casas de misericórdia, como a de Santos (1543), montepios, como o da Guarda Pessoal de D. João VI (1808) e sociedades beneficentes. (ARAÚJO, 2006) A Constituição de 1891 (BRASIL, 1891) não tratava do direito à saúde e, até mesmo, deixava de fazer menção às medidas sanitárias referidas no texto constitucional anterior, mas os direitos civis e políticos dos cidadãos brasileiros estavam dispostos no art. 72 da Constituição de 1891 e pouco diferem daqueles constantes no art. 179 da Constituição de 1824. As constituições federais seguintes evoluem sobre o tema de forma gradual, mas é a partir da promulgação da Constituição Cidadã, de 1988, que, finalmente, constitucionaliza-se o direito à saúde. Somente com a promulgação da denominada Constituição Cidadã, de 1988, é que o Brasil positivou o tema, ou seja, 40 anos após a Declaração Universal dos Direitos do Homem, em que pesem os discursos nesse sentido de Rui Barbosa (ainda no séc. XIX) e, o forte movimento de reforma sanitária ocorrido nos anos 80, com destaque especial à atuação da Dr.ª Sueli Dallari. (SCHWARTZ, 2001, p. 47) Mas não seria correto afirmar, como o faz Schwartz, que esse direito não estivesse positivado, pois o Brasil, desde 1948, era signatário da Conferência Internacional da Saúde e foi membro da Comissão Interina Mundial de Saúde que atuou nos primórdios da Organização Mundial de Saúde (OMS) (agência especializada das Nações Unidas com autoridade de coordenação sobre os assuntos de saúde pública internacional). 2.2 Conceitos A explicitação das categorias-chave, presentes nas fórmulas discursivas das teses, requer a fixação de alguns conceitos para que se possa ir adiante com a tarefa proposta. 2.2.1 Saúde Não é tarefa fácil estabelecer um conceito de sua saúde, porque há polissemia ampla e, por certo, uma tentativa nesse sentido levaria este estudo para áreas muito além de seu objetivo específico. A fixação, entretanto, de um 176 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Marilei Bilistki Grams # Marcos Abilio Bosquetti # Juliana Pereira conceito de saúde é ponto determinante para a especificação de estratégias, ações e critérios para a sua avaliação. Adota-se, inicialmente, o conceito de saúde formalizado pela Conferência Internacional da Saúde, da qual o Brasil é signatário como partícipe presente àquela conferência e para a qual contribuiu como um dos 18 membros da Comissão Interina Mundial de Saúde, conforme se verifica da publicação do ato na página 7, seção 1, Diário Oficial da União (DOU) de 25 de fevereiro1948 (BRASIL, 1948). Essa Conferência Internacional da Saúde, que ocorreu no âmbito da OMS, define saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não meramente a ausência de doença ou enfermidade, cujo texto original é: “Health is a state of complete physical, mental and social well-being and not merely the absence of disease or infirmity” (WHO, 2006, p. 1). A saúde, sendo um estado, tem sua manutenção dependente de uma série de fatores que podem ser alterados. não se garantido, portanto, seu permanente equilíbrio. Há, em outras palavras, risco de alteração do estado; então, se depreende que saúde e risco são conceitos correlacionados. O risco, em duas destacadas acepções, pode ser o que é possível ou provável, como o adota a abordagem do modelo de prevenção no qual se baseia a epidemiologia de risco, ou a possibilidade de perda de algo precioso, como é adotada na abordagem de estrutura de risco de fragilização da proteção da saúde. 2.2.2 Medicamento O conceito de medicamento está expresso na Lei n. 5.991, de 17 de dezembro de 1973, que dispõe sobre o Controle Sanitário do Comércio de Drogas, Medicamentos, Insumos Farmacêuticos e Correlatos, e dá outras providências, onde se lê: “Produto farmacêutico, tecnicamente obtido ou elaborado, com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnóstico”. (BRASIL, 1973, art. 4°, item II) E não se confunde com o conceito de droga, que é: “Substância ou matéria-prima que tenha a finalidade medicamentosa ou sanitária”. (BRASIL, 1973, art. 4°, item I) 2.2.3 Medicamento de Referência ou Inovador A criação de um medicamento é resultado de pesquisas e estudos feitos pelos laboratórios. É um processo longo que envolve anos de dedicação, Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 177 Saúde: Problemas na Concessão de Medicamentos Devido à Tutela Judicial profissionais, estrutura, pesquisas, testes, registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que exige sua avaliação para obter a comprovação científica de eficácia, segurança e qualidade, o que é feito por outro laboratório designado pelo órgão federal e custeado pelo laboratório que pretende registrar o novo medicamento, e, finalmente, aprovação, antes de o medicamento chegar ao mercado. (BRASIL, 1999) O laboratório que desenvolve um Medicamento de Referência, na nomenclatura adotada no Art. 3º da Lei 6.360/73, com alteração pela Lei 9.787/99, e o registra adequadamente possui proteção da patente sobre ele, que é a tutela do estado sobre sua exclusividade de comercialização no mercado. 2.2.4 Medicamento Similar O medicamento similar, conforme o Art. 3º da Lei 6.360/73, com alteração pela Lei 9.787/99, é aquele produzido com os mesmos princípios ativos, a mesma concentração, forma farmacêutica, via de administração, posologia e indicação terapêutica, via de administração, preventiva ou diagnóstica, do medicamento de referência, mas que só é produzido depois de esgotado o prazo de proteção da patente garantido ao laboratório que o desenvolveu. (BRASIL, 1999) 2.2.5 Medicamento Genérico e Bioequivalência Genérico é um medicamento similar a um produto de referência, por isso é com esse intercambiável, e que é produzido após a expiração ou renúncia da patente ou de outros direitos de exclusividade, com eficácia, segurança e qualidade comprovadas e designados pela DCB (Denominação Comum Brasileira) ou, na sua ausência, pela DCI (Denominação Comum Internacional). (BRASIL, 1999) A diferença entre o medicamento genérico e o medicamento similar ocorre porque o Genérico tem como objetivo substituir o Medicamento de Referência com menor custo final, mesmo que no receituário esteja o Medicamento de Referência expressamente prescrito; e é por isso que houve tanta resistência à sua criação. O Medicamento Similar não possui essa condição legal de substituir o Medicamento de Referência. Além disso, o medicamento similar pode utilizar uma marca comercial ou receber o nome do princípio ativo que utiliza; já o medicamento genérico só pode adotar a denominação do princípio ativo 178 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Marilei Bilistki Grams # Marcos Abilio Bosquetti # Juliana Pereira que o compõe. Outra diferença entre os Genéricos e os Similares é que os primeiros devem passar por testes de bioequivalência e biodisponibilidade. (BRASIL, 1999) A bioequivalência é a demonstração técnica da existência de equivalência farmacêutica entre produtos apresentados sob a mesma forma farmacêutica, contendo idêntica composição qualitativa e quantitativa de princípios ativos. Os conceitos de medicamento genérico e de bioequivalência são encontrados no Art. 3º da Lei 6.360/73, com alteração pela Lei 9.787/99. 2.2.6 Biodisponibilidade A biodisponibilidade, segundo o Art. 3º da Lei 6.360/73, com alteração pela Lei 9.787/99, é condição que indica a velocidade e a extensão da absorção de um princípio ativo em uma forma de dosagem, a partir de sua curva concentração/tempo na circulação sistêmica ou sua excreção na urina. (BRASIL, 1999) 2.3 Legislação Disciplinadora da Substituição de Medicamentos O instrumento mais adequado da estratégia da Política de Medicamentos Essenciais foi a adoção de uma política de medicamentos genéricos, proposta que está inserida na Portaria GM n. 3.916/98 (BRASIL, 1998), a qual passou a nortear as ações do Ministério da Saúde. A Lei 9.787/99, editada a seguir, estabeleceu as bases legais para os medicamentos genéricos e atribuições de poderes à Anvisa. As ações consideradas fundamentais para o desenvolvimento do processo foram efetivadas por áreas básicas de atividades. A Tabela 1, especifica as ações desenvolvidas por área, quais sejam: Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 179 Saúde: Problemas na Concessão de Medicamentos Devido à Tutela Judicial Tabela 1: Ações por área Áreas Básicas Ações Desenvolvidas Assegura a qualidade dos medicamentos genéricos. 19/3/02 Revoga a Resolução 391, de 9/8/99. Dispõe sobre critérios para Resolução 23/10/00 rotulagem de medicamentos. RDC 92 Substituiu a Resolução 510/99. Dispõe sobre a dispensação Resolução de medicamentos genéricos – 20/1/00 349 intercambialidade/substituição do genérico. Estabelece a obrigatoriedade das farmácias, drogarias Resolução e estabelecimentos que 15/5/00 RDC 45 comercializam medicamentos em fixarem a relação de genéricos. Regulamenta a lei 9.787 e Decreto 23/9/99 estabelece a utilização dos 3.181 nomes genéricos. Determina que as empresas Resolução apresentem mensalmente 17/8/00 RDC 78 relatório de produção e comercialização de genéricos. Cadastramento para habilitação Resolução de realização de ensaios 28/4/00 41 de biodisponibilidade e bioequivalência. Regulamenta o medicamento Lei 9.787 10/2/99 genérico. Ampliação dos Centros e Sistemas de Referência para realização de testes de bioequivalência. Programa de monitoramento dos genéricos, assegurando a garantia da qualidade dos medicamentos comercializados no mercado. Programa de inspeções nas indústrias. Resolução RDC 84 Regulação Garantia da Qualidade Fonte: Brasil (2013a; 2013b) 180 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Marilei Bilistki Grams # Marcos Abilio Bosquetti # Juliana Pereira Áreas Básicas Produção Importação Registro Regulação do Mercado Farmacêutico Eficiente Sistema de Informação Fortalecimento da Política de Assistência Farmacêutica Ações Desenvolvidas Estímulo para produção de genéricos. Seleção de medicamentos de referência e definição de prioridades para produção de genéricos. Fortalecimento das estruturas de oferta e regulação dos preços, possibilitando maior oferta competitiva no mercado. Trato preferencial aos genéricos, com redução dos prazos para processos de registro. Criação da Câmara dos Medicamentos através da MP 2138-2, de 28/12/00, para acompanhamento da comercialização dos medicamentos no mercado. Monitoramento dos preços dos medicamentos praticados pela Indústria Farmacêutica. Publicação atualizada de informações sobre medicamentos genéricos registrados e em análise. Atendimento à população e profissionais de saúde através do “fale conosco”. Produção de material técnico-científico e informativo aos profissionais de saúde e usuários. Campanhas na TV. Disponibilização de informações técnicas e de cunho informativo em site da Anvisa. Farmacêutico faz a substituição genérica nas farmácias. Articulação e parcerias com todos os segmentos envolvidos na área de medicamentos, como: MS, OPAS, MERCOSUL, ENSP, FIOCRUZ, NAF, ALFOB e demais entidades representativas de classes. Fonte: Brasil (2013a; 2013b) Há determinações de ordem legal que demandam que os medicamentos de marca, similar ou genérico – exceto os de venda livre –, deverão ser vendidos mediante prescrição médica. Os profissionais do serviço público de Saúde (Sistema Único de Saúde) têm a obrigatoriedade de prescrever os medicamentos pela denominação genérica. A prescrição fica a critério do médico responsável nos serviços privados de saúde, podendo ser realizada sob o nome genérico ou comercial, devendo, no entanto, ressaltar as restrições à intercambialidade, quando necessário. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 181 Saúde: Problemas na Concessão de Medicamentos Devido à Tutela Judicial Nesse caso, a restrição deverá ser efetuada pelo prescritor, de próprio punho, de forma clara, legível e inequívoca. A dispensação dos medicamentos genéricos deve ocorrer: • De acordo com a Resolução 84, de 19 março de 2002, será permitida ao farmacêutico a substituição do medicamento prescrito, exclusivamente, pelo genérico correspondente e, nesse caso, deve apor seu carimbo, constando do seu nome, inscrição no CRF, datar e assinar. Todavia, as restrições expressas pelo prescritor, de próprio punho, deverão ser observadas. • Prescrição utilizando nome genérico, somente será permitida dispensação do medicamento de referência ou de genérico correspondente. • É dever do profissional farmacêutico explicar detalhadamente a dispensação realizada ao paciente ou usuário, bem como fornecer orientação necessária ao uso racional de medicamentos. A substituição de medicamentos é permitida somente entre o medicamento genérico e o de referência, baseada na relação de medicamentos genéricos aprovados pela Anvisa. 3 Metodologia Partindo de uma perspectiva fenomenológica, que segundo Roesch (1999) é uma das duas tradições filosóficas da ciência quanto à possibilidade de investigar a realidade, é pela abordagem quantitativa que se estudam as decisões judiciais proferidas pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina sobre a concessão de medicamentos, de forma a traduzir opiniões e informações em números, para que, então, possam ser classificadas e analisadas. (JACOBSEN, 2011) Este estudo adota a técnica da estatística indutiva para “[...] inferir, induzir ou estimar as leis de comportamento da população da qual a amostra” (SILVA, 2011, p. 21) de julgados foi retirada para, primeiramente, estabelecer se é justificável a judicialização e, com base na resposta a essa hipótese, avançar sobre as categorias que fundamentam tais decisões. Avalia-se a jurisprudência do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, especificamente sobre aqueles acórdãos do período de 2005 até 2010 que apresentam como objeto da lide a concessão de medicamentos ao interessa- 182 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Marilei Bilistki Grams # Marcos Abilio Bosquetti # Juliana Pereira do com a responsabilização do Estado de Santa Catarina ou dos Municípios integrados ao Sistema Único de Saúde (SUS). A coleção e análise dos julgados disponíveis na jurisprudência catarinense do Tribunal de Justiça expõem os elementos definidores da controvérsia que trouxe a necessidade de ação jurisdicional e, também, estabelecem os limites arguidos pelo estado catarinense ou pelos municípios para a prestação da medicação, quer sejam reconhecidos ou não pela decisão proferida no julgado. A amostragem dos julgados do período objeto de pesquisa é apresentada na Tabela 2 com: a identificação do julgado, a doença e o medicamento solicitado. O passo seguinte foi obtido pelo agrupamento dos julgados por categorias de classificação baseadas nos fundamentos apresentados para justificar a concessão ou não dos medicamentos pleiteados. As categorias surgiram na amostragem pela relevância atribuída, pelo órgão julgador ou pelas partes, a certos fundamentos no deslinde da controvérsia. Verificaram-se as seguintes categorias na pesquisa realizada: 1) integralidade da assistência do SUS; 2) saúde como direito público subjetivo; 3) medicamento padronizado/não padronizado; 4) bioequivalência/disponibilidade; 5) adequação do medicamento; e 6) separação de poderes. É na Tabela 3 que os resultados são sumarizados, com a observação de que o número de julgados anotados para cada categoria pode se repetir, visto que, num mesmo julgado há casos de mais de um fundamento para a concessão ou não do medicamento. O estudo registra as conceituações presentes nas disposições legais firmadas no ordenamento jurídico pátrio e em convenções internacionais, porque a explicitação da doença e do medicamento solicitado, implicitamente, demonstra a relevância que se tem dado a alguns dos conceitos, identificados para cada categoria acima referida, muito utilizados no âmbito do SUS e que acabam por assumir entendimento muito diferente nos julgados pela falta de trato sobre o assunto dos representantes legais das partes. A divulgação dos conceitos utilizados pelo SUS precisa atingir o público externo, notadamente, a todos aqueles envolvidos pela via judicial na dispensação de medicamentos, por isso o registro dos conceitos e sua divulgação compõem a proposta de orientação à gestão do SUS para prevenir interferências fora da melhor política de atendimento ou da legislação que a obriga no âmbito administrativo. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 183 Saúde: Problemas na Concessão de Medicamentos Devido à Tutela Judicial 4 Análise e Resultados A análise e os resultados são apresentados numa sequência que bem esclarece a sistematização dos dados obtidos a partir dos julgados. O estudo realiza-se nas seguintes etapas: amostragem dos julgados pesquisados na jurisprudência do Tribunal de Justiça de Santa Catarina; identificação dos medicamentos solicitados judicialmente; explicitação das categorias-chave integrantes das justificativas dos pedidos; avaliação da efetivação da prestação solicitada em função das categorias-chave e, finalmente, a orientação ao administrador para uma dispensação mais adequada. 4.1 Jurisprudência Catarinense Relativa à Concessão de Medicamentos A coleção e análise dos julgados disponíveis na jurisprudência catarinense do Tribunal de Justiça têm por objetivo selecionar os elementos definidores da controvérsia que trouxe a necessidade de ação jurisdicional e, também, estabelecer os limites arguidos pelo estado catarinense ou pelos municípios para a prestação jurisdicional, quer sejam reconhecidos ou não pela decisão proferida no julgado. A decisão, no Agravo de Instrumento n. 2005.016251-8, de Criciúma, ressalta que o Sistema Único de Saúde pressupõe a integralidade da assistência, de forma individual ou coletiva. O destaque, na Apelação Cível n. 2005.011410-8, de Chapecó, é o entendimento da saúde como direito público subjetivo. O medicamento não padronizado ou padronizado é destacado como categoria essencial na construção da decisão contida no Agravo de Instrumento n. 2005.016251-8, de Criciúma, na Apelação Cível n. 2005.011801-0, de Concórdia e na Apelação Cível n. 2007.052688-0, da Capital. Outra categoria essencial na construção da decisão é a adequação do medicamento contida na Apelação Cível n. 2005.011801-0, de Concórdia; no Agravo de Instrumento n. 2007.015830-2, de Criciúma; na Apelação Cível n. 2007.041153-4, de Urussanga; na Apelação Cível n. 2007.048147-6, da Capital; no Agravo de Instrumento n. 2007.015830-2, de Criciúma; na Apelação Cível n. 2007.045509-3, de Itajaí; e na Apelação Cível n. 2007.044625-2, de Chapecó. 184 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Marilei Bilistki Grams # Marcos Abilio Bosquetti # Juliana Pereira A separação dos poderes é categoria controversa de maior significado e pode ser encontrada na Apelação Cível n. 2007.052688-0, da Capital; na Apelação Cível n. 2007.045509-3, de Itajaí; na Apelação Cível n. 2007.0560095, de Concórdia; e na Apelação Cível n. 2007.044625-2, de Chapecó. 4.2 Identificação do Medicamento Solicitado Os medicamentos solicitados foram sumarizados na Tabela 2 e essa visualização permite tecer algumas considerações e determinar seus resultados. Tabela 2: Doenças e Medicamentos Prescritos Número da Ação 1) Agravo de Instrumento n. 2006.041334-6, da Capital. 2) Agravo de Instrumento n. 2005.016251-8, de Criciúma. 3) Apelação Cível n. 2005.011801-0, de Concórdia. 4) Apelação Cível n. 2005.011410-8, de Chapecó. 5) Apelação Cível n. 2007.041153-4, de Urussanga. 6) Apelação Cível n. 2007.044951-9, de Porto Belo. 7) Apelação Cível n. 2007.048147-6, da Capital. 8) Agravo de Instrumento n. 2007.015830-2, de Criciúma. 9) Agravo de Instrumento n. 2007.016544-8, da Capital. 10) Apelação Cível n. 2007.045509-3, de Itajaí. Tipo da Doença Medicamento artrite reumatoide Humira hepatite C Interferon Peguilado colangite esclerosante primária (CID K74.2) Ácido Ursodesoxicólico 150mg (ursacol) Cabergolina (nome comercial Dostinex) carcinoma metástico pulmonar (CID C34.9) Clexame 80 mg mal de Alzheimer Ebix 10 mg artrite reumatoide Humira (adalimumabe) hepatite C, tipo 3, possui outra doença, púrpura trombocitopênica crônica psoríase cutânea, artrite psoriásica e espondilite Interferon Peguilado, Ribavirina e Neumega (Oprelvecina) Humira Eritropoetina Humana Recombinante Fonte: Elaborada pela autora deste artigo Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 185 Saúde: Problemas na Concessão de Medicamentos Devido à Tutela Judicial Número da Ação 11) Apelação 2007.056007-1, José. 12) Apelação 2007.049917-4, par. 13) Apelação 2007.042216-6, tal. 14) Apelação 2007.028256-2, tal. 15) Apelação 2007.056009-5, córdia. Tipo da Doença Cível n. de São Medicamento Neodecapeptyl 3,75mg Cível n. de Gas- Diazepan 10 mg, Talofilina 300 mg, Imiprimina 25 mg e Aminofilina 100 mg Cível n. da Capi- Kit Diagnóstico Thyrogen Cível n. da Capi- Granulokine 300 cmf Cível n. de Con- doença D45 policitemia 16) Apelação Cível n. 2007.044625-2, de Chapecó. cirrose hepática 17) Apelação Cível n. 2007.039720-3, de Camboriú. Problemas com a tireoide, diabetes e sofreu um derrame. 18) Agravo de Instrumento n. 2007.018229-3, de Braço do Norte. 19) Agravo de Instrumento n. 2007.006779-5, de Chapecó. 20) Agravo de Instrumento n. 2007.016544-8, da Capital. 21) Apelação Cível n. 2007.052688-0, da Capital. Hidroxiureia 500mg Aldactone, cujo nome genérico é espironolactona; Lactulona, cujo nome genérico é lactulose; Proflox, cujo nome genérico é ciprofloxacina e Furosemina, cujo nome genérico é lasix Pressat (dois comprimidos por dia), Varopril (dois comprimidos por dia), Losec Muss (uso contínuo e por tempo indeterminado), Puran T4 25mg, Selozot 100mg, Aldactone 50mg e Tofranil 25mg Gabapentina 300 mg, facultando o fornecimento de medicamento genérico Zoladex 3,6 mg 24 ampolas psoríase cutânea, artrite psoriásica e espondilite Humira artrite reumatoide Humira Fonte: Elaborada pela autora deste artigo 186 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Marilei Bilistki Grams # Marcos Abilio Bosquetti # Juliana Pereira 4.3 Crítica dos Dados Levantados As categorias-chave das fórmulas discursivas surgem da sistematização estatística dos julgados, sumarizada na tabela adiante apresentada, pois são os fundamentos que justificam os pedidos de medicamento, insumos ou serviços. 4.3.1 Identificação da Prestação no Âmbito do TJ A avaliação dos julgados estudados permite determinar uma posição jurisprudencial consolidada e que pode ser explicitada pelo quadro demonstrativo apresentado na Tabela 3, com a observação de que o número de julgados anotados para cada categoria pode se repetir, visto que, num mesmo julgado, há casos de mais de um fundamento para a concessão ou não do medicamento. Tabela 3: Tendências Jurisprudenciais Categoria Número de Julgados Posição Adotada na Jurisprudência Integralidade da assistência do SUS Saúde como direito público subjetivo M e d i c a m e n t o padronizado/não padronizado Bioequivalência/ disponibilidade 4 Afirma a integralidade do sistema. 2 Afirma que a saúde é um direito público subjetivo. Defere a concessão do medicamento. Adequação medicamento 10 do Separação de poderes 4 2 5 Defere a concessão do medicamento não levando em conta a bioequivalência ou a disponibilidade. Defere o medicamento não levando em conta se há outro na rede. Não é reconhecida a separação. Fonte: Elaborada pela autora deste artiga Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 187 Saúde: Problemas na Concessão de Medicamentos Devido à Tutela Judicial 4.3.2 Avaliação da Efetivação da Prestação no Âmbito do TJ Os medicamentos solicitados foram sumarizados na Tabela 1; e essa visualização permite tecer algumas considerações e determinar seus resultados, mas não sem antes trazer a lume certos aportes doutrinários que melhor situam o estudo. 4.3.2.1 A Integralidade da Assistência do SUS A integralidade da assistência do SUS, prevista no art. 198, II, da CF/88, é fundamento-chave nas decisões, por isso é comumente invocado por quem requer o benefício e, também, pelo julgador. A integralidade remete ao conceito de saúde da Organização Mundial da Saúde, que exige deste estudo uma revisitação mais aprofundada. A Constituição da OMS (1946) apresenta o conceito de saúde como uma das diretrizes, entre outras, que em harmonia devem pautar as políticas públicas dos países signatários. O texto inicia com a afirmação de que a persecução dos princípios é base para a felicidade, para as relações harmoniosas e para a segurança dos povos. Apresenta o conhecido conceito de saúde adotado como um princípio e estabelece que a conquista dos mais altos padrões possíveis de saúde é um direito fundamental de todo ser humano sem qualquer distinção de raça, religião, posições políticas e condições econômicas ou sociais. A afirmação de padrões de saúde dentro do âmbito possível requer separar o fático do desejável. A condição da saúde como fundamento dos povos para a obtenção de paz e segurança é atribuída como uma relação de íntima dependência da integral cooperação entre os indivíduos e os estados. Isso quer dizer que a promoção da saúde não é tarefa exclusiva do estado. Uma ação unilateral nesse sentido nega a relação de mútua dependência e não cria condições de cooperação integral. A saúde não é vista como algo estanque, porque o princípio seguinte estabelece que o desenvolvimento desigual em diferentes países na promoção e no controle de doenças, especialmente de doenças transmissíveis, é um perigo comum a todos. O desenvolvimento saudável das crianças é de importância básica, e a habilidade de viver harmonicamente num ambiente sujeito a uma total mudança é essencial para esse desenvolvimento. A extensão para todos dos benefícios médicos, psicológicos e do conhecimento a eles relacionados é essencial para a obtenção completa da saúde. A opinião informada e a cooperação ativa por parte do público são extremamente importantes para a melhoria da saúde 188 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Marilei Bilistki Grams # Marcos Abilio Bosquetti # Juliana Pereira desse mesmo público. E, finalmente, os governos têm a responsabilidade pela saúde de seus povos. Responsabilidade que somente pode ser plenamente cumprida com as adequadas medidas sociais e de saúde. 4.3.2.2 A Saúde como Direito Público A saúde como direito público está prevista no art. 6º da CF/88; a sua transformação em direito subjetivo é objeto da posição de parte da doutrina, embora haja forte contestação a esse ponto. Germano Schwartz (2001), por exemplo, estabelece os argumentos utilizados para afirmar a saúde como direito público subjetivo. 4.3.2.3 O Medicamento não Padronizado O medicamento não padronizado significa não se enquadrar como: medicamento de referência ou inovador, medicamento similar e medicamento genérico. É o registro na Anvisa, que atesta a avaliação de um medicamento para obter a comprovação científica de eficácia, segurança e qualidade, que, como se disse, é feito por outro laboratório designado pelo órgão federal e custeado pelo laboratório que pretende registrar o novo medicamento. 4.3.2.4 A Adequação do Medicamento A adequação do medicamento é situação ainda mais séria, visto que muitas das decisões dos julgados fundam-se na exclusiva opinião do médico que prescreve a medicação. 4.3.2.5 A Separação dos Poderes A separação dos poderes, conforme previsto no art. 2º da CF/88 e garantido como cláusula pétrea pelo art. 60, § 4º da CF/88, é fundamento sempre utilizado pelo estado catarinense e pelos municípios e que traz a tese da reserva do possível contra a concessão de medicamentos pela via judiciária como sua objeção concreta. 4.4 Procedimento para a Concessão de Medicamentos Devem-se preservar as bases do sistema democrático que garante a vida de todos, mas que não pode assegurar a garantia singular de vida a certo indivíduo, ou preservar a vida de apenas um ou alguns em detrimento do Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 189 Saúde: Problemas na Concessão de Medicamentos Devido à Tutela Judicial cumprimento de regras constitucionais que não se apresentam em concreto e não parecem impor qualquer dano imediato? A preservação da ordem constitucional nunca deveria ser um dilema, mas antes um dogma, pois a solução não está nos limites impostos pelo problema, e sim além. A crença de que regras iguais podem distribuir a escassez, garantindo que aqueles que buscam os medicamentos terão oportunidades iguais, também é uma falácia, visto que pressupõe que apenas os necessitados buscarão a tutela jurídica. E se todos a buscarem? E se alguns resolverem fazer estoques de reserva imaginando que haverá falta? O caso concreto clama pela correção no sistema de distribuição que o judiciário está incrementando, mas teleologicamente, verificando a questão do princípio constitucional da separação de poderes, é de preocupar a quebra das relações institucionais. Não tendo esse estudo a pretensão de resolver uma discussão de tal magnitude, contenta-se, agora conclusivamente, em sugerir à administração do SUS, já que o judiciário acolhe as demandas apresentadas, um conjunto de orientações, com informações atualizadas através de um programa alimentado pela SES, capaz de identificar se “a medicação” pleiteada é viável, se há correlatos, similares ou genéricos já fornecidos pelo estado. Esse conjunto de orientações deve fornecer uma base conceitual e legal forte ao administrador e uma reavaliação do procedimento atual de dispensação de medicamentos pelo SUS para abarcar a demanda, mesmo injustificada, agora não atendida e que desemboca na propositura de ações judiciais. Essas orientações, ainda, serão de utilidade para os casos não abrangidos pelo procedimento revisado, visto que podem orientar a decisão concessiva ou não da medicação pleiteada judicialmente. 4.5 Orientação ao Administrador para a Dispensação de Medicamentos A formulação geral do conjunto de orientações para alterar a dispensação de medicamentos segue com as adaptações convenientes ao SUS, àquelas sugeridas pelo ministro Gilmar Mendes no voto proferido e que, agora, também consta da Recomendação n. 31 de 30 de março de 2010 do Conselho Nacional de Justiça, por meio dos seguintes passos descritos nos requisitos a seguir. Requisito 1 – Verificação da existência de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária do medicamento solicitado pelo 190 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Marilei Bilistki Grams # Marcos Abilio Bosquetti # Juliana Pereira usuário do SUS. A questão central é que a falta de registro do medicamento na Agência Nacional de Vigilância Sanitária tem por consequência a proibição de sua comercialização no Brasil. Observe-se que a falta de registro na Anvisa é causa de impedimento da concessão do medicamento pelo SUS; assim essa informação deve ser disponibilizada para desestimular a interposição de uma ação judicial. Requisito 2 – Verificação da existência de protocolos e diretrizes terapêuticas do SUS relativas ao medicamento solicitado pelo usuário do SUS, porque o medicamento deve constar dos Protocolos e Diretrizes Terapêuticas do SUS para ser contemplado pela Política Farmacêutica da rede pública; assim essa informação deve ser disponibilizada para desestimular a interposição de uma ação judicial. Requisito 3 – Verificação de que o medicamento solicitado pelo usuário do SUS é considerado pela clínica médica como único. É necessário que haja prova pré-constituída, como receituário prescrito por médico habilitado e recomendado por Agência de Medicamentos reconhecidamente qualificada, de que o medicamento buscado é considerado pela clínica médica como único capaz de deter o avanço da doença ou de, pelo menos, aumentar as chances de vida do paciente com certa qualidade. A impropriedade do fármaco não deve ser arguida pelo limitado argumento de que inexiste protocolo clínico do SUS. Além disso, o alto custo do medicamento não é motivo, por si só, para o seu não fornecimento, visto que a Política de Dispensação de Medicamentos excepcionais visa contemplar justamente o acesso da população acometida por enfermidades raras aos tratamentos disponíveis. 5 Considerações Finais Teme-se que a dispensação de medicamentos, por efeito multiplicador, seja causa de grave lesão às finanças e à saúde públicas, porque determinaria o desembolso de considerável quantia para a aquisição do medicamento de alto custo; e isso implica deslocamento de recursos estatais, provável descontinuidade da prestação dos serviços de saúde ao restante da população. Há condições de se afirmar que a maioria das pretensões dos cidadãos, na amostragem feita, é injustificável, pois o medicamento é concedido sem considerações sobre a padronização, a bioequivalência ou a adequação. Isso Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 191 Saúde: Problemas na Concessão de Medicamentos Devido à Tutela Judicial conduz a sugerir procedimentos à administração que mitiguem a necessidade de interferência judicial no sistema de dispensação de medicamentos. A lição de Christian Courtis e Victor Abramovich (2004, p. 251), citada como corroboradora da possibilidade da intervenção, aponta, porém, uma dimensão que as instituições brasileiras parecem ignorar, que é a da responsabilização daquele órgão que tem atribuição constitucional de fazer. O Poder Judiciário não tem a tarefa de desenhar políticas públicas, mas sim de confrontar o desenho das políticas públicas assumidas com os padrões jurídicos aplicáveis e – em caso de haver divergências – reenviar a questão aos poderes pertinentes para que eles reajam ajustando sua atividade. As políticas públicas são fixadas por normas constitucionais ou por legislação infraconstitucional que vinculam os responsáveis à sua observância. Se os responsáveis não adotam as medidas preconizadas, caberá ao Poder Judiciário reprovar essa omissão e reenviar o assunto aos responsáveis na administração para que cumpram as medidas previstas. O conjunto de orientações explicitado acima, obtido neste estudo, é o esforço concreto de constituir a medida requerida para que o SUS não continue a ser reprovado por omissão a cada decisão judicial que defere a concessão de medicamento negado pelo sistema. O que se deve fazer, ao fim e ao cabo, é assumir um compromisso para que cada dimensão do Poder do Estado faça o que lhe é incumbido pela Constituição e que na falta de ação de um, aquele que tem atribuição de corrigir a omissão não atue como substituto, mas sim estabeleça uma reprovação ou imputação de responsabilidade pela omissão para que o incumbido legal faça a sua parte. Referências ABRAMOVICH, Victor; COURTS, Christian. Los derechos sociales como derechos exigibles. Madri: Trotta, 2004. p. 251. ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Tradução de Virgílio Afonso da Silva. São Paulo: Malheiros Editores, 2008. p. 511-512. 192 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Marilei Bilistki Grams # Marcos Abilio Bosquetti # Juliana Pereira ARAÚJO, Francisco Carlos da Silva. Seguridade social. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1272, 25 dez. 2006. Não Paginado. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/9311>. Acesso em: 14 maio 2013. BRASIL. Anvisa. Bioequivalência. [2013a]. Disponível em: <http://www. anvisa.gov.br/inspecao/bioequivalencia/centros/index.htm>. Acesso em: 14 maio 2013. ______. Anvisa. Genéricos. [2013b]. Disponível em: <http://www.anvisa.gov. br/hotsite/genericos/faq/profissionais.htm>. Acesso em: 14 maio 2013. ______. Constituição Política do Império do Brazil (de 25 de março de 1824). 1824. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/constitui%C3%A7ao24.htm>. Acesso em: 16 maio 2013. ______. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (de 24 de fevereiro de 1891). 1891. Disponível em: <http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao91.htm>. Acesso em: 16 maio 2013. ______. Constituição da República Federativa do Brasil (de 05 de outubro de 1988). Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 1988. ______. Lei n. 5.991, de 17 de dezembro de 1973. Dispõe sobre o Controle Sanitário do Comércio de Drogas, Medicamentos, Insumos Farmacêuticos e Correlatos, e dá outras Providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 1973. ______. Lei n. 9.787/99. Altera a Lei n. 6.360, de 23 de setembro de 1976, que dispõe sobre a vigilância sanitária, estabelece o medicamento genérico, dispõe sobre a utilização de nomes genéricos em produtos farmacêuticos e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 1976. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 193 Saúde: Problemas na Concessão de Medicamentos Devido à Tutela Judicial ______. Portaria n. 3.916/98 GM. Dispõe sobre a aprovação da Política Nacional de Medicamentos. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 1998. ______. Recomendação n. 31, de 30 de março de 2010. Recomenda aos Tribunais a adoção de medidas visando melhor subsidiar os magistrados e demais operadores do direito, para assegurar maior eficiência na solução das demandas judiciais envolvendo a assistência à saúde. 2010. Disponível em: <http://conselho.saude.gov.br/informativo/2010/31/reccnj_31.pdf>. Acesso em: 14 maio 2013. ______. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, seção 1. p. 7, 1998. DIAS, José de Aguiar. Cláusula de não-indenizar. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1980. JACOBSEN, Alessandra de Linhares. Metodologia do trabalho científico. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2011. p. 58-59. 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Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 195 Saúde da Mulher no Município de Rancho Queimado: da realidade à mudança Aluna: Paula Renata Jost1 Orientador: João Rogério Sanson2 Tutora: Mileide Marlete Ferreira Leal Sabino3 Resumo Abstract Este trabalho tem como objetivo apresentar a realidade no atendimento à saúde da mulher no município de Rancho Queimado/SC, identificando o que acontece hoje, quais são as realidades, dificuldades e necessidades da mulher do município no que se refere à sua saúde. Serve de descrição ao gestor público da saúde para que possa verificar as necessidades reais do município. O artigo foi formulado salientando o que seria realmente o ideal de atendimento na área de atenção à saúde da mulher. Além disso, são apontadas as reais dificuldades enfrentadas pelo município e também são sugeridas algumas estratégias para que os problemas sejam dirimidos. O direito a uma boa saúde pública é garantido em lei, e, nesse trabalho, verificou-se até que ponto ele está sendo garantido à mulher rancho-queimadense para que seja assegurada sua boa saúde. This work has a principal objective to presents a reality in attendance to Women’s Health in the town of Rancho Queimado/SC, identifying what happens today, what would be the really ideal of service in this area. This article was formulated emphasizing what would be really ideal at the women’s health care area. In addition, it presents the real difficulties faced by the municipality and also suggest some strategies to ensure that problems are resolved. The right to a good public health is guaranteed in law, and in this work we will check how far they are guaranteed to rancho-queimadense woman’s. Key words: Women’s health. Women’s rights. Rancho Queimado. Unified Health System. Palavras-chave: Saúde da mulher. Direitos da mulher. Rancho Queimado. Sistema Único de Saúde. 1 Bacharelado em Turismo e Hotelaria pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI (2006). E-mail: [email protected] 2 Doutorado em Economia (PhD, 1979), e mestrado em Desenvolvimento Econômico (1973), ambos pela Universidade Vanderbilt, EUA. E-mail: [email protected] 3 Mestranda do curso de Administração Universitária da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Formação Pedagógica para Atuação em EAD – UNOPAR. E-mail: mileide. [email protected] Paula Renata Jost # João Rogério Sanson # Mileide Marlete Ferreira Leal Sabino 1 Introdução A fim de garantir o atendimento correto e necessário à saúde da mulher, o Ministério da Saúde implantou nacionalmente vários programas de incentivo, apoio e organização do referido assunto. O Programa de Assistência Integrada à Saúde da Mulher é um deles, lançado, em maio de 2004, sendo parte da Política Nacional de Atenção Integral à Mulher. São direitos previstos de assistência à saúde da mulher, entre outros: assistência ao pré-natal, incentivo ao parto natural, redução do número de cesáreas desnecessárias, redução da mortalidade materna, enfrentamento da violência contra a mulher, planejamento familiar e assistência ao climatério, às mulheres negras e à população GLBTT. No Brasil, a saúde da mulher foi incorporada às políticas nacionais de saúde nas primeiras décadas do século XX, sendo limitada, nesse período, às demandas relativas à gravidez e ao parto. Os programas materno-infantis, elaborados nas décadas de 30, 50 e 70, traduziam uma visão restrita sobre a mulher, baseada em sua especificidade biológica e no seu papel social de mãe e doméstica, responsável pela criação, pela educação e pelo cuidado com a saúde dos filhos e demais familiares. (BRASIL, 2011, p. 15). Praticamente em todos os anos são fortalecidas as campanhas de combate ao câncer de mama, de atenção à gestante, planejamento familiar, entre outras. É visível o trabalho do Ministério da Saúde no tocante à saúde da mulher, e isso deveria ser implantado em todos os municípios da nação. É notável que alguns municípios se esforcem ao máximo para fortalecer os programas e implantá-los de forma a atingir seus maiores objetivos. Em contrapartida, o trabalho executado municipalmente, principalmente em municípios de menor população, não corresponde ao planejado, na maior parte dos casos. É grande o descaso e a falta de compostura de muitos gestores públicos no tocante a assuntos relacionados à saúde do cidadão em geral. Uma simples marcação de consulta médica em uma especialidade qualquer acaba se tornando um árduo caminho para aqueles que dependem do serviço público de saúde. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 197 Saúde da Mulher no Município de Rancho Queimado: da realidade à mudança Conforme previsto nos planos e políticas nacionais de apoio e sustentação à saúde da mulher, esta representa uma parcela significativa dos usuários dos serviços de saúde no Brasil. Por conta desse e de vários outros fatores que serão abordados ao longo deste artigo é que as políticas públicas destinadas a dirimir problemas e prevenir os transtornos futuros com relação à saúde da mulher devem ter maior respaldo e investimento. As mulheres constituem a maioria da população brasileira e as principais usuárias do Sistema Único de Saúde – SUS. Conformam, portanto, um segmento social fundamental para as políticas de saúde, não apenas pela sua importância numérica, mas, especialmente, porque neste campo as históricas desigualdades de poder entre homens e mulheres implicam em forte impacto nas condições de saúde das mulheres, sendo as questões de gênero um dos determinantes de saúde a ser considerado na formulação das políticas públicas. (BRASIL, 2008, p. 69) Para a especialista em planejamento e gênero, Caroline Moser (1995), qualquer necessidade apontada na vida da mulher surge do papel que ela representa na sociedade. Do ponto de vista tradicional, aparecem como trabalhos preestabelecidos das mulheres: Trabalho Reprodutivo, Trabalho Produtivo e Gestão Política e Comunitária. No presente artigo serão abordadas as necessidades e a importância da saúde feminina para que a mulher possa desempenhar qualquer um dos seus papéis na sociedade, mas principalmente o papel reprodutivo. Tendo como informação estabelecida o Censo 2010 aferido em Rancho Queimado, o número de mulheres é de 1.370, o que equivale a 50% da população total do município, e o número de mulheres em idade fértil é de 689. Tendo em vista a população feminina rancho-queimadense e sua necessidade no que diz respeito à saúde da mulher, é verificada a falta de especialista nessa área da saúde, o que pode acarretar maus resultados em relação a uma perspectiva da boa saúde feminina. O município de Rancho Queimado tem como ponto negativo e a ser melhorado o atendimento necessário à saúde da mulher. Isso não quer dizer que não haja um acompanhamento atual que esteja dentro das diretrizes estabelecidas pelo governo; porém, há muito que ser complementado e 198 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Paula Renata Jost # João Rogério Sanson # Mileide Marlete Ferreira Leal Sabino atualizado para que esse direito seja garantido a toda e qualquer mulher que reside no município. Apesar de possuir enfermeiras que se encarregam das coletas dos exames de câncer do colo do útero, o município não conta com o atendimento de um médico especialista, no caso, o ginecologista, que se faz necessário para o acompanhamento das mulheres em idade fértil, gestantes e também daquelas que já não estão mais em idade fértil, mas necessitam de acompanhamento na prevenção de outras doenças. Este artigo avaliará o atendimento à saúde da mulher e apontará mudanças necessárias para a otimização do serviço de saúde relacionado à mulher no município de Rancho Queimado. A verificação será realizada através de pesquisas junto à documentação atual existente na Secretaria Municipal de Saúde, de entrevistas com os colaboradores que trabalham atualmente no setor da saúde e de entrevistas com as usuárias do sistema municipal de saúde. 2 O Sistema de Saúde da Mulher no Município de Rancho Queimado Nesta seção, será abordado o histórico do município, com a intenção de quantificar e qualificar a população feminina, e também será exposta a infraestrutura com que o município conta hoje para tratar da saúde da mulher, bem como qual seria a ideal para que os direitos à boa saúde da mulher sejam alcançados. A abordagem expõe o sistema atual de marcação de consultas, descrevendo quais são os passos no atendimento à saúde no município, para logo após serem destacadas estratégias e soluções para os problemas frequentes apontados. 2.1 Breve Histórico sobre Rancho Queimado Rancho Queimado é um município que faz parte da região da Grande Florianópolis, distante da capital do estado somente 60 km, e tem sua economia baseada principalmente nos setores de agricultura e serviços. Sua população é de 2.748 habitantes distribuídos em 286 km², a colonização predominante é a alemã e a sede do território está a 810 m de altitude. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 199 Saúde da Mulher no Município de Rancho Queimado: da realidade à mudança A localidade tomou impulso em virtude de estar situada no caminho por onde eram transportadas as cargas e as boiadas que provinham de Lages e São Joaquim. Nessa região, existia um rancho que servia de ponto de pousada aos tropeiros, o qual se incendiou, conforme demonstraram os vestígios nele encontrados, o que deu origem ao nome do município. A sua elevação à categoria de município, com a denominação de Rancho Queimado, se deu pela Lei Estadual n. 850, de 8 de novembro de 1962, desmembrando-se de São José, sede do antigo distrito. Atualmente no município de Rancho Queimado, 50% da população são mulheres. Esse dado é importante para se salientar que o atendimento à saúde da mulher necessita da atenção básica. Por fazer parte da região da Grande Florianópolis, Rancho Queimado sempre teve a maior parte de seus atendimentos em saúde efetuada na referida região. O trânsito de pacientes do município para a capital é constante, pois não há especialidades nas unidades de saúde locais. Há 20 anos, foi idealizado um projeto de hospital para o município, que inclusive foi aprovado e obteve fundos para sua construção. Hoje, porém, onde deveria funcionar o hospital, funciona um núcleo de ensino profissionalizante, e quase toda a sua estrutura, incluindo alguns equipamentos que seriam de real importância para o atendimento na saúde, está sucateada. O local mais próximo que dispõe de atendimento de emergência para alguns casos é Angelina, que fica a 13 km de distância, porém não atende a todas as especialidades, sendo necessário, muitas vezes, o deslocamento até cidades vizinhas, como, Alfredo Wagner, Santo Amaro da Imperatriz, Palhoça, São José, Florianópolis, entre outras. 2.2 Composição do Quadro de Colaboradores e Estrutura das Unidades de Saúde do Município de Rancho Queimado O município possui duas unidades de saúde e atenção básica, e, para o atendimento de toda a população, existem dois clínicos gerais, dois enfermeiros, três técnicos de enfermagem, dois odontólogos e demais profissionais. Também possui uma secretaria de saúde com servidores administrativos, uma assistente social, uma psicóloga, uma fonoaudióloga e uma fisioterapeuta, totalizando 43 colaboradores no setor da saúde. 200 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Paula Renata Jost # João Rogério Sanson # Mileide Marlete Ferreira Leal Sabino Apesar de possuir um quadro de funcionários relativamente extenso e de suas unidades de saúde serem estruturadas e recém-reformadas, o atendimento à saúde da mulher ainda é precário, pois não há especialistas na área e a maioria de exames e consultas deve ser realizada fora do município. Por possuir somente clínicos gerais para avaliação médica, a população necessita muito do atendimento realizado em outros municípios da Grande Florianópolis, devido à falta de profissionais com especialização. Outro problema encontrado pela comunidade e pela gestão municipal é a alta rotatividade de médicos do Programa Estratégia de Saúde da Família (ESF), pois, devido aos salários oferecidos serem mais baixos que o da maior parte dos municípios e por ser Rancho Queimado um município relativamente pequeno e com pouca infraestrutura, a maioria dos profissionais prefere seguir carreira em localidades mais bem estruturadas. A média de tempo de ocupação por um profissional clínico-geral, nos últimos cinco anos, foi de oito meses. Esse fator impede que o profissional se adapte à comunidade e vice-versa e faz com que haja atraso nas consultas e procedimentos, fato inconcebível no atendimento a gestantes, mulheres com suspeita de câncer e outras necessidades básicas femininas de saúde. Sem contar que o tempo perdido entre um desligamento e a contratação de outro médico é muito grande, fazendo com que o município fique com somente um profissional médico, que hoje atua com a carga horária de 20 horas, insuficiente para a demanda necessária do município. As informações constantes nesta subseção foram conseguidas por pesquisa efetuada junto à secretaria de saúde e entrevistas com os profissionais da área. 2.3 Saúde da Mulher, Ideal Baseado na Qualidade de Atendimento Conforme consulta efetuada em material bibliográfico e sites, verifica-se que os assuntos relacionados à saúde da mulher têm sido muito debatidos, principalmente após os anos 70 com o início dos movimentos feministas e a inserção da mulher na sociedade como papel ativo no trabalho, nos estudos e em todos os setores da sociedade. A busca por melhorar a qualidade de vida da mulher, diminuindo sua mortalidade em qualquer fase da vida e garantido pleno acesso à saúde, Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 201 Saúde da Mulher no Município de Rancho Queimado: da realidade à mudança começou a ganhar peso em meados dos anos 80. Foi então que surgiu o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher. Esse programa trazia muitas inovações para as mulheres, pois estava centrado no conceito da integralidade, ou seja, as mulheres passaram a ser contempladas em todas as faixas etárias, em todos os ciclos de vida, em todos os seus papéis na sociedade e, naturalmente, em todos os seus problemas e necessidades de saúde. Desde então, com base em programas nacionais, os estados e municípios também lançaram seus programas, a fim de alcançar os objetivos designados pelo Ministério da Saúde. Mais recentemente em Florianópolis, foi criado o Protocolo de Atenção Integral à Saúde da Mulher, que ilustra bem o que está sendo inserido neste artigo: O Programa de Saúde da Mulher tem por objetivo promover a assistência integral à saúde da mulher, com vistas à redução da morbimortalidade deste grupo populacional. Normatiza, organiza e monitora, juntamente com os Distritos Sanitários, as ações de atenção à saúde da mulher em todos os níveis de complexidade na Rede Municipal de Saúde de Florianópolis. As ações estão voltadas para as linhas do cuidado que compreendem cinco eixos prioritários: planejamento da vida sexual e reprodutiva; pré-natal; parto e puerpério; prevenção e detecção precoce do câncer do colo uterino e da mama e violência sexual. (FLORIANÓPOLIS, 2010, p. 3) O que preconiza o Protocolo de Atenção Integral à Saúde da Mulher, formulado para o município de Florianópolis, deve e pode ser seguido por outros municípios; afinal, é o que também é ditado pelo Ministério da Saúde para a saúde da mulher brasileira. Verificando o que deve ser tratado no assunto saúde da mulher, como planejamento da vida sexual e reprodutiva; pré-natal, parto e puerpério; prevenção e detecção precoce do câncer do colo de útero e da mama; e violência sexual, nota-se que é necessário o acompanhamento da saúde feminina em toda e qualquer fase da vida. Para uma melhor detecção de problemas e de monitoramento da saúde feminina, são indicadas à usuária do sistema de saúde uma consulta com um 202 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Paula Renata Jost # João Rogério Sanson # Mileide Marlete Ferreira Leal Sabino profissional de enfermagem ginecológica e pelo menos uma consulta ginecológica ao ano com médico especialista. Além disso, são assegurados às usuárias do SUS exames de detecção de câncer, como o Papanicolau, pelo menos uma vez ao ano, bem como seu tratamento no caso de possuir a doença. Conforme a Lei n. 11.664, de 29 de abril de 2008, que trata da efetivação de ações de saúde relacionadas à prevenção, detecção e tratamento dos cânceres do colo do útero e de mama, fica assegurada a todas as mulheres a realização de exames do colo do útero, independente da idade. O exame da mama é garantido a todas aquelas acima de 40 anos de idade. Caso a mulher necessite de complementação de diagnóstico, deverá ser encaminhada a serviços de maior complexidade. Segundo o que preconiza o SUS sobre a saúde da mulher, com a implantação, em 2008, do II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (II PNPM), a importância não só da saúde da mulher como da política de prevenção de doenças e da luta contra a desigualdade entre sexos ganhou maior relevância e agora faz parte do rol de preocupações do governo. O ideal de qualidade na saúde da mulher passa pela preocupação com a mortalidade materna e infantil, prevenção de doenças transmissíveis sexualmente, fertilidade, exames de prevenção ao câncer, métodos contraceptivos, complicações na gravidez, parto e pós-parto. Por isso, a preocupação se dá não só com as mulheres em idade fértil, mas também com as que estão em outra fase de vida. O governo visualiza que, gastando mais com prevenção no presente, garante-se um futuro com menores índices de doenças graves e irreversíveis. Garantindo a qualidade de vida da mulher, garante-se também a qualidade de vida de seu entorno e de seus dependentes. Como puderam ser verificadas nesta subseção, muitas ações são previstas em leis e deveriam ser asseguradas às mulheres que necessitam de apoio em assuntos relacionados à sua saúde. O maior problema verificado em todo o país é a verdadeira efetivação disso, ou seja, colocar em prática o que há no papel. 2.4 Funcionamento do Sistema de Marcação de Consultas do Município A marcação de consultas no município funciona basicamente de uma forma. Segundo informações fornecidas pelo então secretário da saúde, Na- Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 203 Saúde da Mulher no Município de Rancho Queimado: da realidade à mudança zareno Floriano, o paciente solicita o agendamento da consulta com o clínico-geral da unidade de saúde ao agente comunitário de saúde correspondente, e este, por sua vez, após conseguir marcar a consulta, avisa ao paciente. Após ser agendada a consulta com o clínico-geral, o paciente comparece e expõe seu problema. Havendo necessidade, o clínico-geral o encaminha para uma especialidade médica, e este deverá ir até a secretaria de saúde do município para solicitar o agendamento da nova consulta. Os atendimentos das especialidades podem ser realizados pelo SUS, por convênio público-privado ou particular. Pelo SUS, as consultas são marcadas pelo SISREG, que é o sistema de regulação do SUS, conforme disponibilidade no sistema destinada a cada município. No convênio público-privado, a consulta é marcada em clínicas da Grande Florianópolis, e a secretaria de saúde do município custeia metade do valor do serviço (consultas, exames ou procedimentos). Na modalidade particular, o próprio paciente custeia o serviço de que necessita, dispensando o intermédio da secretaria de saúde do município. 2.5 Realidades no Atendimento à Mulher Efetuado no Município de Rancho Queimado Em entrevista com os profissionais da área da saúde do município, foi constatado que o atendimento às mulheres somente acontece quando elas o solicitam junto à unidade de saúde. Normalmente as mulheres não procuram por atendimento com médico ginecologista, pois o tempo médio de espera por consulta pelo SUS é de dois anos. Muitas outras não vão atrás desse tipo de atendimento, por pura falta de esclarecimento, por não possuir o hábito ou por não achar necessário. O número de adolescentes atendidas pela primeira vez em uma consulta com ginecologista é praticamente nulo, pois não há a conscientização de que isso seja necessário para sua boa saúde. Isso se reflete no número de mães adolescentes, que vem aumentando, e nas doenças sexualmente transmissíveis, que ainda são tratadas, por muitos, como tabu. Isso também dificulta a conscientização dessa parcela da população. Aliás, a falta de informação e mesmo de disseminação do assunto contribui para que haja uma perda cultural, uma vez que o município de Rancho Queimado tem um contingente populacional pequeno. 204 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Paula Renata Jost # João Rogério Sanson # Mileide Marlete Ferreira Leal Sabino Até mesmo as agentes comunitárias de saúde têm dificuldades para abordar assuntos relacionados à saúde da mulher, por falta de consciência dos problemas que podem ocorrer quando não há a boa manutenção da saúde feminina. Atualmente o planejamento da vida sexual e reprodutiva não acontece de forma efetiva, sendo ofertado a somente aquelas que por esse serviço procuram, as quais, na maioria das vezes, são orientadas por enfermeira qualificada e/ou clínico-geral. O pré-natal é realizado pelo clínico-geral da unidade de saúde. Havendo, porém, necessidade de um atendimento mais especializado, a paciente é enviada para algum hospital da Grande Florianópolis que tenha ginecologista/ obstetra. O parto é realizado fora do município, já que este não possui hospital, equipamento e profissionais especializados. A fase de puerpério normalmente é acompanhada onde aconteceu o parto, e o restante dos atendimentos acontece com o clínico-geral da unidade de saúde, se necessário. Já a prevenção e detecção precoce do câncer do colo uterino e da mama somente acontecem por meio de campanhas nacionais, não havendo nenhum acompanhamento efetivo de cada mulher em idade e situação propensas ao câncer. A prevenção da violência sexual é um assunto pouco abordado no município, não havendo, inclusive, registros de casos recentes e de algum tipo de acompanhamento. Com base nas informações apresentadas, seria necessário que o município de Rancho Queimado, para atender a sua população de aproximadamente 1.500 mulheres, estivesse mais bem capacitado de profissionais especializados em saúde da mulher. Nota-se que o acompanhamento no município de Rancho Queimado não é efetivo e encontra barreiras físicas e comportamentais para seu desenvolvimento e atuação eficientes. Com tanta deficiência nesse ramo que se refere à saúde da mulher, muitas mulheres da comunidade veem-se obrigadas a procurar serviços médicos fora do município e muitas vezes de forma particular; outras, no entanto, nem têm acesso a isso. Verificando a deficiência de cuidados e profissionais para tratarem da saúde da mulher como prioridade para o desenvolvimento da boa saúde, Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 205 Saúde da Mulher no Município de Rancho Queimado: da realidade à mudança constata-se a necessidade de mudança nos atendimentos relacionados à saúde da mulher realizados dentro e fora do município. Para a confecção deste artigo, foram efetuadas coletas de dados sobre o funcionamento da área da saúde diretamente nas unidades de saúde dos bairros Centro e Taquaras. Também foram efetuadas entrevistas com as usuárias do sistema de saúde do município e verificado o número de consultas e marcação de exames diretamente com a secretaria de saúde do município. Essa coleta de dados foi feita pela própria autora do artigo entre os meses de agosto e outubro de 2012, com a finalidade de confecção deste trabalho. 3 Estratégias e Soluções Tendo como parâmetro as entrevistas efetuadas e as pesquisas in loco, foi efetuado, através de material bibliográfico e on-line, o levantamento descrito neste artigo. Com base nessas informações e nos problemas vivenciados pelas usuárias e futuras usuárias do sistema de saúde de Rancho Queimado, foram listadas algumas estratégias que visam auxiliar na melhoria e manutenção da oferta de serviços de saúde para a mulher rancho-queimadense. Inserir, antes de qualquer coisa, um plano de conscientização quanto à importância da manutenção e prevenção da saúde feminina junto à comunidade seria possível através de panfletos informativos que poderiam ser distribuídos pelos agentes comunitários de saúde que garantem atendimento à toda a população do município. Esse panfleto deveria ser de fácil visualização e com linguagem acessível, destacando os pontos mais importantes para manter a boa saúde. Fornecer e levar as informações aos grupos formados pela comunidade, como breves palestras nos grupos de idosas, clube de mães, grupos folclóricos, grupos de voluntárias nas igrejas, corais, entre outros. Uma simples explicação sobre a saúde da mulher — em uma palestra rápida, porém com enfoque direto — seria uma forma de salientar a importância da manutenção da saúde feminina. Formular e aplicar palestras explicativas em escolas, a fim de atender a população feminina que está entrando na puberdade, com esclarecimentos sobre sexualidade, prevenção, gravidez na adolescência e importância das visitas ao médico em tal idade. 206 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Paula Renata Jost # João Rogério Sanson # Mileide Marlete Ferreira Leal Sabino Contratar um médico ginecologista, em período integral, ou pelo menos em outro regime de contratação, que pudesse atender à demanda de mulheres em pré-natal, consultas periódicas, prevenção do câncer e eventuais casos de abuso. Esse profissional também seria responsável pela supervisão dos materiais informativos, visuais e palestras ministradas sobre a saúde da mulher. Proceder com vistas à melhoria e a manutenção dos salários dos profissionais da saúde, principalmente dos médicos, pois, como descrito anteriormente, a carência de médicos no município está intimamente ligada à falta de estrutura da cidade e a baixos salários. Implantar melhorias na distribuição de métodos contraceptivos, como pílulas, preservativos, entre outros; distribuir panfletos informativos que expliquem tais métodos de maneira clara e compreensiva; e facilitar a entrega de tais métodos e panfletos a todas as localidades do município. Realizar cursos de aperfeiçoamento e reciclagem para os servidores da área da saúde, a fim de melhorar constantemente o atendimento às usuárias do sistema de saúde do município. Implantar na íntegra as diretrizes estabelecidas pelos programas nacionais e estaduais de apoio e atenção à saúde da mulher. Assim, obtém-se a ajuda do governo de forma direta, tendo em mãos as ferramentas necessárias para a manutenção da saúde das usuárias. Elaborar projetos que acarretem maiores subsídios para a atenção à saúde da mulher no município. Existem recursos de apoio em esferas estaduais e nacionais; para tanto, é necessário mostrar interesse, e a elaboração de projetos é fundamental para isso. 4 Considerações Finais Conforme o que foi identificado neste artigo, há deficiências no atendimento à saúde da mulher no município de Rancho Queimado. Percebe-se que tal atendimento passa por uma fase de acomodação, por existirem grandes centros de atendimento na região da Grande Florianópolis, fazendo com que o município deixe de investir em melhorias em seu sistema de saúde e utilize a verba para o deslocamento de pacientes. É claro que, por ser um município pequeno, não necessitaria de uma estrutura de atendimento semelhante a dos grandes centros, mas, como a Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 207 Saúde da Mulher no Município de Rancho Queimado: da realidade à mudança saúde da mulher desencadeia um processo que atinge os seus entes próximos e pode acarretar maiores problemas, se faz necessária a inclusão de serviços que atendam às suas necessidades. Com base no estudo efetuado, verifica-se a necessidade de mudanças a médio e longo prazo na gestão pública de saúde do município de Rancho Queimado, a fim de garantir uma boa saúde às mulheres e também diminuir o seu deslocamento aos grandes centros, para atendimentos básicos referentes à sua saúde. Por ser Rancho Queimado um município de pequeno porte, não é dada a devida importância aos atendimentos às mulheres, pois até culturalmente não é incentivada a rotina de exames básicos para a sua saúde. Com um trabalho de conscientização e as mudanças apontadas, um grande número de mulheres seria atendido, diminuindo em muito as doenças e demoras no atendimento em outros municípios, como acontece hoje. Para o devido atendimento à saúde, além da conscientização popular, espera-se que o gestor público também se conscientize da real importância de seu trabalho e que possa aperfeiçoar os serviços já prestados, melhorá-los e constituir novos que se fazem necessários. Uma sociedade sã evita maiores gastos em longo prazo, e a prevenção é o primeiro passo para isso. Referências BRASIL. Código civil. Brasília, DF: Casa Civil, 2002. ______. Ministério da Saúde. Política nacional de atenção integral à saúde da mulher: princípios e diretrizes. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2004. Disponível em: <http://conselho.saude.gov.br/ultimas_noticias/2007/ politica_mulher.pdf>. Acesso em: 23 set. 2012. ______. Ministério da Saúde. Saúde da mulher. [2013]. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=25236>. Acesso em: 26 set. 2012. 208 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Paula Renata Jost # João Rogério Sanson # Mileide Marlete Ferreira Leal Sabino ______. Ministério da Saúde. Saúde da mulher: um diálogo aberto e participativo. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2010. Disponível em: <http:// portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/saude_da_mulher_um_dialogo_aberto_ part.pdf>. Acesso em: 24 set. 2012. ______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher: princípios e diretrizes. 1. ed. 2. reimpr. Brasília: Ministério da Saúde, 2011. 82 p. (Série C. Projetos, Programas e Relatórios). Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_mulher_ principios_diretrizes.pdf>. Acesso em: 29 maio 2013. ______. Presidência da República. 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Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 209 Avaliação de Desempenho no Serviço Público Aluna: Scheila Augusto Rodrigues Lyra1 Orientador: Marcos Baptista Lopez Dalmau2 Tutora: Isadora de Souza Bernardini3 Resumo Abstract Este artigo trata de uma pesquisa bibliográfica sobre avaliação de desempenho no serviço público, buscando ampliar o conhecimento e aperfeiçoamento acerca desse instrumento de gestão de pessoas. A avaliação de desempenho no setor público pode ter diversas funções, tais como o acompanhamento dos servidores para progressão funcional ou apenas para efetivação de seu cargo no serviço público. Foram verificadas experiências no processo de avaliação de desempenho em alguns órgãos públicos, em especial o realizado pela Prefeitura Municipal de Florianópolis, sendo sugeridas algumas mudanças, tais como, a instituição de parâmetros de comparação entre as avaliações, a vinculação dos resultados da avaliação à gestão de Recursos Humanos, a incorporação de novos métodos de avaliação, dentre outras, com o intuito de utilizar a avaliação de desempenho como ferramenta de planejamento estratégico e melhoria do serviço público. This article is a literature review on performance in public service, seeking to broaden the knowledge about this instrument and improving people management. The performance evaluation in the public sector may have several functions, such as monitoring of servers, for career progression or just for the execution of his office in the public service. Experiments were verified in the process of performance evaluation in some public bodies, especially when carried out by the Municipality of Florianópolis, and suggested some changes, such as the institution of comparison between assessments, linking assessment results to management Human Resources, incorporating new assessment methods, among others, with the intention of using performance evaluation as a tool for strategic planning and improvement of the public service. Palavras-chave: Avaliação de Desempenho. Serviço Público. 1 Key words: Performance Evaluation. Public Service. Bacharel em Fisioterapia pela Universidade do Estado de Santa Catarina (2006). Acadêmica do Curso de Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: [email protected]. 2 Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2003). E-mail: [email protected]. 3 Mestre em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina (2012). Possui graduação em Ciências da Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina (2008). E-mail: [email protected]. Scheila Augusto Rodrigues Lyra # Marcos Baptista Lopez Dalmau # Isadora de Souza Bernardini 1 Introdução Existe uma grande dificuldade em avaliar o desempenho das pessoas em seus cargos, principalmente quando se trata do trabalho no serviço público, tendo em vista a influência política em tudo o que é realizado na administração pública, bem como o despreparo ou desconhecimento dos gestores na utilização desse instrumento. Paralelamente a isso, com a ampliação do controle social, a sociedade vem cobrando das organizações governamentais uma nova postura na forma de administrar o dinheiro público, sendo que a avaliação e/ou o monitoramento do desempenho nas organizações públicas tornam-se cada vez mais indispensáveis. Dessa forma, este estudo visa conhecer o processo de avaliação de desempenho em alguns órgãos públicos, em especial o utilizado pela Prefeitura Municipal de Florianópolis, os principais métodos usados, além de buscar informações de como a avaliação é feita, quais seus pontos positivos e negativos, e quais modificações podem ser propostas para a melhoria dessa ferramenta. 2 Revisão de Literatura Neste capítulo, será feita uma breve revisão de literatura acerca de assuntos relacionados ao objeto deste estudo, tais como gestão de pessoas, conceito de avaliação de desempenho e os métodos comumente utilizados, bem como a aplicação da avaliação de desempenho no serviço público. 2.1 Gestão de Pessoas As pessoas representam a razão da existência de qualquer organização. Sendo assim, a organização trabalha para elas, por elas e por meio delas. E, para o funcionamento adequado da instituição, as pessoas precisam estar alinhadas a um objetivo comum, o que ocorre por meio da gestão de pessoas. (GIRARDI; TOSTA; PACHECO, 2009) A administração de recursos humanos ou gestão de pessoas é considerada um conjunto de políticas e práticas para conduzir os aspectos da posição gerencial relacionados com as pessoas ou recursos humanos, incluindo re- Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 211 Avaliação de Desempenho no Serviço Público crutamento, seleção, treinamento recompensas e avaliações de desempenho. (CHIAVENATO, 2001) A gestão de pessoas é contingencial e situacional, pois depende de vários aspectos, como a cultura que existe em cada instituição, da estrutura organizacional adotada, das características do contexto ambiental, do negócio da organização, da tecnologia utilizada, dos processos internos, do estilo de gestão utilizado e de uma infinidade de outras variáveis importantes. (CHIAVENATO, 2010) O gestor de pessoas tem o desafio de tornar o profissional cada vez mais produtivo e comprometido com a organização, a fim de torná-la mais competitiva. Dessa forma, como será visto a seguir, a avaliação de desempenho representa um importante instrumento para a gestão de pessoas. 2.2 A Avaliação de Desempenho Segundo Chiavenato (2001), a avaliação de desempenho é uma apreciação sistemática do desempenho do indivíduo no cargo que ocupa, bem como de seu potencial de desenvolvimento. Toda avaliação é um instrumento para julgar ou estimular o valor, a excelência e as qualidades de um indivíduo. A análise é uma atividade determinante que consiste em observar, examinar, de forma minuciosa e detalhada, algum objeto ou ação, constituindo um diagnóstico com o propósito de identificar aspectos ou características sobre cada situação. Na avaliação de desempenho procura-se apreciar o comportamento do colaborador em relação à competência ao se analisar ou examinar excelência e qualidade na produção de bens e de serviços. (CARVALHO; NASCIMENTO; SERAFIM, 2012) É um meio pelo qual podem ser localizados problemas de supervisão de pessoal, de integração do empregado à empresa ou ao cargo que ele ocupa, carências de treinamento, e, consequentemente, estabelecer meios e programas para eliminar ou neutralizar tais problemas. (CHIAVENATO, 2001) Para Bergamini e Beraldo (2010), avaliação de desempenho não se trata de técnica de modificação de comportamento. Ela deve ser considerada apenas como instrumento de levantamento de dados para identificar as condições, dentro da organização empresarial, que estejam num determinado momento dificultando ou impedindo o completo e adequado aproveitamento dos seus recursos humanos. 212 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Scheila Augusto Rodrigues Lyra # Marcos Baptista Lopez Dalmau # Isadora de Souza Bernardini Pontes (1996) aponta que a avaliação de desempenho consiste num feedback construtivo, tanto no dia a dia quanto nas reuniões formais para esse fim. Sem essa característica do relacionamento não existe programa de avaliação de desempenho, qualquer que seja a metodologia adotada. A avaliação de desempenho é, antes de tudo, um processo cuja comunicação é a essência, e com ela se deve analisar o comportamento do empregado – não da pessoa – e como ele desempenha o cargo. O método de avaliação de desempenho é um assunto que envolve toda a organização. A falta de compreensão ou aceitação de qualquer desses níveis pode comprometer o sucesso da implantação do sistema em toda a empresa. (BERGAMINI, 1973) É necessário um bom clima de confiança e cooperação em todos os níveis, devendo-se observar duas regras importantes: • O completo e adequado esclarecimento de todos os níveis da empresa acerca das técnicas e dos objetivos da avaliação de desempenho; • A oportunidade favorável, quando outras preocupações estranhas não venham perturbar a tranquilidade necessária à aquisição desses conhecimentos ou esclarecimentos. (BERGAMINI, 1973) Dessa forma, a implantação da avaliação de desempenho nas empresas pode gerar dificuldades e resistências originadas tanto do lado do avaliador quanto do avaliado. Portanto, deve-se realizar o treinamento dos futuros avaliadores, pois o bom êxito da avaliação de desempenho depende de quem irá executá-la. (CHIAVENATO, 1981) Apesar de ser uma responsabilidade de linha e uma função de staff, em algumas organizações a avaliação de desempenho pode ser um encargo do supervisor direto, do próprio empregado, ou ainda de uma comissão de avaliação. (CHIAVENATO, 2001) É importante que o avaliador conheça o subordinado a ser avaliado e compreenda as funções que está prestes a avaliar para que possa proceder de modo o mais correto possível. (BERGAMINI, 1973) O avaliado é o funcionário que será valorizado pelo desempenho apresentado, sendo avaliado sob dois aspectos: aptidão e capacidade. A aptidão está ligada a características pessoais, resumidas no perfil psicológico dos laudos de seleção. A capacidade é o resultado do aproveitamento que o indivíduo faz dessas características no trabalho. A partir da avaliação, o funcionário conhece Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 213 Avaliação de Desempenho no Serviço Público seus méritos e deméritos, podendo trabalhar com maior segurança e prevendo suas possibilidades de carreira dentro da empresa. (BERGAMINI, 1973) A avaliação de desempenho, segundo Bergamini e Beraldo (2010), deve ser realizada sempre com o mesmo intervalo de tempo. Caso seja feita em intervalos de tempo diferentes, não será possível comparar o progresso ou retrocesso de determinado empregado no desempenho de sua função dentro da empresa. Aquilo que se modifica durante esses espaços de tempo pode não ser igual e nem sempre ter o mesmo valor para a organização. Com o resultado da avaliação de desempenho é possível localizar problemas de supervisão e gerência, adequar pessoas ao cargo, promover interação entre os indivíduos na organização, identificar carências nos treinamentos e estabelecer meios para melhorar continuamente o desempenho humano. Vista dessa maneira, a avaliação de desempenho deixa de ser um veículo de medo, insegurança e frustrações para ser instrumento de otimismo, esperança e realização pessoal, já que valoriza os pontos positivos dos funcionários e aponta mudanças e melhorias nas atividades realizadas. (BERGAMINI; BERALDO, 2010) 2.3 Métodos de Avaliação de Desempenho Existe uma variedade de métodos para avaliar o desempenho humano. Muitas organizações constroem seus próprios sistemas de avaliação ajustados às suas características peculiares e os desdobram em pessoal de direção e gerência (predominância da visão estratégica), mensalistas (predominância da visão tática) e horistas (predominância da visão operacional). (CHIAVENATO, 2010) Avaliação de desempenho é um meio, um método, uma ferramenta. É um meio para obtenção de dados e informações que possam ser registrados, processados e canalizados para a melhoria do desempenho humano nas organizações. (CHIAVENATO, 2001) Os principais meios de avaliação de desempenho serão listados a seguir. 2.3.1 Método das Escalas Gráficas Segundo Chiavenato (2001), este é o método de avaliação mais utilizado e divulgado. Aparentemente, é o mais simples, baseado em uma tabela de dupla entrada, mas sua aplicação requer uma multiplicidade de cuidados, 214 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Scheila Augusto Rodrigues Lyra # Marcos Baptista Lopez Dalmau # Isadora de Souza Bernardini a fim de neutralizar a subjetividade e o julgamento prévio do avaliador, que podem ter enorme interferência nos resultados. As escalas gráficas apenas discriminam os empregados segundo sejam bons, médios ou fracos, sem oferecer maiores esclarecimentos acerca de necessidades de treinamento, potencial de desenvolvimento, dentre outros. (GIL, 1994) Para Snell e Bohlander (2009), a subjetividade é diminuída quando as dimensões e os pontos da escala são definidos da maneira a mais exata possível. Além disso, o formulário deve fornecer um espaço para comentários sobre o comportamento associado a cada escala. Esses comentários melhoram a precisão da avaliação, pois exigem que o avaliador pense em termos de comportamentos observáveis do funcionário, enquanto fornece exemplos específicos para discutir com o subordinado durante a avaliação. As vantagens desse método são a facilidade de planejamento e de construção do instrumento de avaliação, a simplicidade e facilidade de compreensão e de utilização, a visão gráfica e global dos fatores de avaliação envolvidos, a facilidade na comparação dos resultados de vários funcionários e a fácil retroação de dados ao avaliado. (CHIAVENATO, 2010) Como desvantagens podem-se destacar superficialidade e subjetividade da avaliação do desempenho, produção de efeito de generalização – se o avaliado receber bom em um fator, provavelmente receberá bom em todos os outros fatores –, categorização e homogeneização das características individuais, limitação dos fatores de avaliação – funciona como um sistema fechado –, rigidez e reducionismo no processo de avaliação, nenhuma participação ativa do funcionário avaliado e, ainda, avalia apenas o desempenho passado. (CHIAVENATO, 2010) 2.3.2 Método de Escolha Forçada Surgiu para eliminar aspectos característicos do método de escala gráfica – a superficialidade, a generalidade e a subjetividade. Esse método consiste em avaliar o desempenho dos empregados por intermédio de frases descritivas com determinadas características de desempenho individual. Cada bloco é composto de duas, quatro ou mais frases, sendo que o avaliador deve escolher obrigatoriamente apenas uma ou duas frases que mais se aplicam ao desempenho do avaliado. (CHIAVENATO, 2010) Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 215 Avaliação de Desempenho no Serviço Público As frases não são escolhidas arbitrariamente; são resultados de rigorosos procedimentos estatísticos que consideram sua aplicabilidade no contexto da organização e a capacidade de discernir os melhores funcionários dos piores. (GIL, 1994) A escolha forçada, segundo Gil (1994), é reconhecida como um método que proporciona resultados bastante confiáveis, sobretudo por minimizar a influência da subjetividade do avaliador. Esse método tem como pontos fortes: evitar o efeito de generalização (hallo efect) na avaliação; tirar a influência pessoal do avaliador, isto é, a subjetividade; não requer treinamento dos avaliadores para sua aplicação. (CHIAVENATO, 2010) Seus pontos fracos são: a complexidade no planejamento e na construção do instrumento; não proporciona uma visão global dos resultados da avaliação; não provoca retroação de dados, nem permite comparações; técnica pouco conclusiva a respeito dos resultados; e nenhuma participação ativa do avaliado. (CHIAVENATO, 2010) 2.3.3 Método de Pesquisa de Campo É considerado um dos métodos tradicionais mais completos de avaliação de desempenho. Baseia-se em entrevistas com o superior imediato, por meio das quais se verifica e se avalia o desempenho dos empregados. O procedimento é desenvolvido em quatro etapas: entrevista inicial entre avaliador e gerente, entrevista de análise complementar entre avaliador e gerente, planejamento das providências e acompanhamento de resultados. (CHIAVENATO, 2001; CHIAVENATO, 2010) A partir da entrevista com cada gerente, o especialista preenche um formulário para cada indivíduo avaliado. Na avaliação são diagnosticadas as causas, as origens e os motivos de tal desempenho pela análise de fatos e das situações, permitindo planejar, juntamente com o superior imediato, seu desenvolvimento na função e na empresa. (CHIAVENATO, 1981) Uma das vantagens desse método é que permite planejamento de ações (como programas de treinamento, orientação, aconselhamento, dentre outros); enfatiza a melhoria do desempenho e o alcance de resultados; proporciona profundidade na avaliação do desempenho; e permite relação proveitosa entre o gerente de linha e o especialista de staff. (CHIAVENATO, 2010) 216 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Scheila Augusto Rodrigues Lyra # Marcos Baptista Lopez Dalmau # Isadora de Souza Bernardini Como desvantagens podem-se destacar: custo operacional elevado por exigir a assessoria de especialistas; processo de avaliação lento e demorado; e pouca participação do avaliado, tanto na avaliação como nas providências. (CHIAVENATO, 2010) 2.3.4 Método de Incidentes Críticos Enfoca as atitudes que representam desempenhos positivos (sucesso), que devem ser realçados e estimulados; ou negativos (fracasso), que devem ser corrigidos por meio de orientação constante. O método não se preocupa em avaliar as situações normais; no entanto, para haver sucesso na sua utilização, é necessário o registro constante dos fatos para que estes não passem despercebidos. (CHIAVENATO, 2001) Cada fator da avaliação do desempenho é transformado em incidentes críticos ou excepcionais, para avaliar os pontos fortes e fracos de cada funcionário. (CHIAVENATO, 2010) Esse método apresenta como vantagens ser de fácil montagem e fácil utilização; avalia o desempenho excepcionalmente bom e excepcionalmente ruim; e enfatiza os aspectos excepcionais do desempenho (as exceções positivas devem ser realçadas e melhor aplicadas, enquanto as negativas devem ser eliminadas ou corrigidas). (CHIAVENATO, 2010) Como desvantagens, destacam-se a falta de preocupação com aspectos normais do desempenho, além da fixação em poucos aspectos do desempenho, daí sua tendenciosidade e parcialidade. (CHIAVENATO, 2010) 2.3.5 Método de Autoavaliação Nesse método o empregado faz uma análise de suas próprias características de desempenho, podendo utilizar sistemas variados baseados nos inúmeros métodos de avaliação já descritos. (CHIAVENATO, 2001) Gil (1994) considera que esse método somente apresenta validade quando aplicado a grupos com notório grau de maturidade profissional. Para Chiavenato (2010), a autoavaliação é benéfica quando os gerentes procuram aumentar a participação se seus subordinados no processo de revisão. Esse processo consiste no preenchimento do formulário de avaliação pelo funcionário antes da entrevista de desempenho, fazendo com que ele reflita Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 217 Avaliação de Desempenho no Serviço Público sobre seus pontos fracos e fortes, favorecendo a discussão sobre as barreiras ao desempenho efetivo. 2.3.6 Método de Comparação aos Pares É um método de avaliação de desempenho que utiliza a comparação entre dois empregados, de cada vez, e registra-se na coluna da direita aquele que é considerado melhor quanto ao desempenho (CHIAVENATO, 2001). Sua aplicação é simples, porém esse método tem sido criticado por esclarecer pouco a respeito dos comportamentos que caracterizam as diferenças individuais no trabalho. (GIL, 1994) Esse método, segundo Chiavenato (2001), por se tratar de um processo simples e pouco eficiente, somente é recomendado quando os avaliadores não têm condições de usar métodos mais sofisticados. 2.3.7 Método de Avaliação por Resultados Em vez de examinar os traços dos funcionários ou os comportamentos que eles admitem no ambiente de trabalho, muitas empresas avaliam as realizações dos funcionários, ou seja, os resultados que eles atingem por meio de seu trabalho. (CHIAVENATO, 2010) Muito ligado aos programas de Administração de Objetivos, esse método está baseado numa comparação periódica entre os resultados fixados (ou esperados) para cada empregado e os efetivamente alcançados. As conclusões relacionadas aos resultados permitem a identificação dos pontos fortes e fracos do funcionário, bem como as providências necessárias para o próximo período. É considerado um método prático, embora seu funcionamento dependa das atitudes e dos pontos de vista do gerente com relação à avaliação do desempenho. (GIL, 1994; CHIAVENATO, 2001) 2.3.8 Método de Avaliação 360 graus Esse modelo de avaliação é feito de modo circular por todos os elementos que mantêm alguma interação com o avaliado. Participam da avaliação o gerente, os colegas e pares, os subordinados, os clientes internos e externos, os fornecedores, em uma abrangência de 360°. (CHIAVENATO, 2010) A avaliação de 360° é mais rica por produzir diferentes informações vindas de todos os lados e funciona no sentido de assegurar a adaptabilidade 218 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Scheila Augusto Rodrigues Lyra # Marcos Baptista Lopez Dalmau # Isadora de Souza Bernardini e o ajustamento do funcionário às variadas demandas que ele recebe de seu ambiente de trabalho e de seus colegas. (CHIAVENATO, 2010) Como vantagens tem-se um sistema mais abrangente já que são reunidas respostas de várias perspectivas, melhor qualidade das informações, pode suavizar noções tendenciosas ou preconceituosas, tendo em vista que o feedback vem de um número maior de pessoas, e não apenas de um indivíduo; o feedback de colegas e de outros pode contribuir para o autodesenvolvimento do funcionário. (CHIAVENATO, 2010) Porém, esse método também apresenta desvantagens, tais como: ser complexo na combinação de todas as respostas; o feedback pode ser intimidante e causar ressentimento se o funcionário sentir que os respondentes fizeram complô contra ele; pode haver opiniões conflitantes, embora precisas, de cada ponto de vista; o método requer treinamento para seu bom funcionamento; os funcionários podem boicotar o sistema, dando avaliações inválidas uns aos outros; e os avaliadores não poderão ser responsabilizados se suas avaliações forem anônimas. (CHIAVENATO, 2010) 2.3.9 Método da Escala de Padrão Misto O método da escala de padrão misto é uma modificação do método básico de escala de classificação, sendo que, em vez de avaliar traços de acordo com uma única escala, o avaliador recebe descrições de cada traço. Essas descrições correspondem a três níveis de desempenho: superior, médio e inferior. Após a descrição de cada traço, é estabelecida uma sequência aleatória para formar uma escala de padrão misto. A avaliação se dá com a indicação do desempenho do funcionário ser melhor, igual ou pior ao padrão para cada comportamento. (CHIAVENATO, 2010) 2.4 Resultado da Avaliação de Desempenho Todo indivíduo necessita receber retroação a respeito de seu desempenho para saber como está fazendo seu trabalho e realizar as devidas correções. Da mesma forma, as organizações precisam saber se as pessoas desempenham as suas atividades para ter uma ideia de suas potencialidades (CHIAVENATO, 2010). Andreassi (1994) dividiu os objetivos da avaliação em cinco áreas principais: treinamento/desenvolvimento, aumentos salariais e promoção, comunicação, planejamento de recursos humanos e aspectos legais. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 219 Avaliação de Desempenho no Serviço Público Em relação à função de treinamento e desenvolvimento, a avaliação de desempenho serve para identificar as deficiências e aptidões dos funcionários, permitindo o desenvolvimento de programas de capacitação e treinamento que possam diminuir ou até suprir tais deficiências. No que tange à função de aumentos salariais e promoção, a avaliação de desempenho é capaz de dar subsídios à política de promoção e salários. Ou seja, a avaliação pode ser utilizada para gerar informações para a discriminação do aumento salarial e promoção. Porém, essa função pode trazer problemas à organização, tendo em vista que, na medida em que a avaliação fica intimamente ligada a essas duas funções, seus outros objetivos são deixados de lado. A função de comunicação está relacionada à viabilidade de diálogo entre os chefes e os funcionários que a avaliação oferece. A área de planejamento de gestão de pessoas relaciona-se à capacidade de a avaliação fornecer subsídios ao planejamento estratégico da área de gestão de pessoas, permitindo que a organização estabeleça políticas de desenvolvimento de seus funcionários nos quesitos necessários ao melhor desempenho e à utilização dos talentos disponíveis. No que se refere aos aspectos legais na área pública, em geral, a avaliação de desempenho é uma exigência legal, com a finalidade do registro de desempenho dos servidores, como no caso do Brasil, o qual serve para cômputo de pontos para promoção salarial e permanência no serviço público durante estágio probatório. A avaliação de desempenho pode ser o meio pelo qual se obtêm informações adequadas acerca do comportamento das pessoas que trabalham na instituição. Nesse contexto, a avaliação serve como um dos mecanismos para transformação no âmbito funcional das organizações públicas, podendo ser usada no sentido de averiguar deficiências e proporcionar políticas de desenvolvimento profissional. A importância preponderante da avaliação é permitir a melhora do desempenho, trazendo benefício a todos. Essa é a principal razão da avaliação: feedback sobre a qualidade e melhoria do desempenho. (GILLEN, 2000) Segundo Gillen (2000), alguns problemas poderão ocorrer nas avaliações de desempenho: 220 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Scheila Augusto Rodrigues Lyra # Marcos Baptista Lopez Dalmau # Isadora de Souza Bernardini • Visão da avaliação de desempenho como uma obrigação administrativa, a ela dedicando tempo e atenção insuficientes para seu bom funcionamento; • Muitos avaliadores tendem a exercer a função de juiz; com isso os avaliados tendem a ficar na defensiva, e os avaliadores tornam-se extremamente críticos; • Pode existir também a falta de envolvimento que leva à falta de direção, sendo que os avaliadores permitem que os avaliados fiquem numa posição passiva. Para Bergamini (1973), a partir das informações obtidas na avaliação as chefias poderão planejar, organizar e controlar as ações de sua equipe, tirando assim maior rendimento da mão de obra. Dessa forma, a motivação é necessária para a aprendizagem contínua, gerando o desenvolvimento do funcionário, sendo que a maneira mais simples de as chefias conectarem seus subordinados aos resultados é estabelecer objetivos avançados, monitorar e proporcionar feedback positivo de desempenho e identificar as formas com que o pessoal pode aprimorar o valor próprio nas tarefas diárias e, em longo prazo, os benefícios que isso traz para a organização. 2.5 Avaliação de Desempenho no Serviço Público A avaliação de desempenho no serviço público é comumente utilizada para a permanência (efetivação) ou não do servidor no cargo em que está sendo avaliado. Para isso, faz-se necessária a orientação quanto ao trabalho a ser executado, tanto pelas chefias quanto pelos próprios servidores, a respeito do que acontece durante esse período, que atualmente é de três anos (Art. 41 da Constituição Federal), sendo que o acompanhamento pelas chefias para elaboração do relatório final é efetuado, geralmente, a cada seis meses. Para fazer uma boa avaliação, a chefia deve ter uma boa compreensão do trabalho desempenhado por seu subordinado. Identificar os elementos essenciais do bom desempenho, e rever o desempenho do responsável também auxiliam os avaliadores e avaliados. (GILLEN, 2000) Como será visto a seguir, a avaliação de desempenho no serviço público pode ser utilizada para diversas finalidades, tais como, cumprimento de obrigação legal, aumentos salariais e promoção, comunicação, e planejamento de recursos humanos. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 221 Avaliação de Desempenho no Serviço Público 3 Metodologia A metodologia utilizada está baseada em levantamentos feitos a partir de pesquisa bibliográfica na qual foram utilizadas a base de dados on-line SCIELO, a Biblioteca da Universidade Federal de Santa Catarina e a homepage da Prefeitura Municipal de Florianópolis, no período de setembro a novembro de 2012. Dessa forma, foram encontrados, na base de dados on-line SCIELO, 44 artigos a partir das seguintes expressões: avaliação de desempenho e gestão de pessoas. Como critério de inclusão, os textos deveriam relacionar-se à gestão de pessoas, à avaliação de desempenho e à avaliação de desempenho no serviço público. Essa modalidade de pesquisa é necessária para se conhecer previamente o estágio em que se encontra o assunto a ser pesquisado, independentemente de a qual campo do conhecimento pertença. (SANTOS; PARRA FILHO, 1998) Dessa forma, a pesquisa bibliográfica se constitui em um conjunto de conhecimentos reunidos em obras baseado fundamentalmente em conduzir o leitor a determinado assunto e produção. (FACHIN, 1993) 4 Análise e Resultados As bibliografias foram analisadas e as experiências apresentadas em cada artigo foram comparadas com a avaliação de desempenho realizada pela Prefeitura Municipal de Florianópolis. Dessa forma, identificou-se que a avaliação de desempenho no setor público apresenta diversas finalidades, sendo frequentemente utilizada pelas organizações para se conhecer o potencial das pessoas durante o processo de admissão de funcionários, servindo para confirmar a validade do processo seletivo empregado. Porém, a inserção de um processo contínuo de monitoramento com divulgação de resultados vem assumindo relevância no processo das políticas públicas. Na Prefeitura Municipal de Florianópolis, a avaliação de desempenho, que utiliza o método de escolha forçada, é realizada durante o período de 222 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Scheila Augusto Rodrigues Lyra # Marcos Baptista Lopez Dalmau # Isadora de Souza Bernardini estágio probatório, sendo regulamentada pela Lei Complementar n. 63/2003, a qual expõe o seguinte texto: Seção IV Da Estabilidade e do Estágio Probatório Art. 20. São estáveis, após 03 (três) anos de efetivo exercício, os servidores nomeados para o cargo de provimento efetivo em virtude de concurso público. [...] Art. 21. Durante o estágio probatório, o servidor será semestralmente avaliado por comissão instituída para essa finalidade, em especial, quanto a: I – idoneidade; II – disciplina, assiduidade e pontualidade; III – capacidade de iniciativa; IV – produtividade e efetividade; e V – responsabilidade. (FLORIANÓPOLIS, 2003) Nesse processo, a avaliação de desempenho servirá para determinar a efetivação ou não do servidor no cargo para o qual foi nomeado por meio de concurso público. Dessa forma, o servidor é avaliado com base nos requisitos dispostos no art. 21 da Lei Complementar CMF n. 63/2003, sendo que essa avaliação se dará em duas etapas: avaliação parcial e avaliação final. A avaliação parcial ocorre com periodicidade de seis meses, na qual os resultados do processo de acompanhamento, verificação do desempenho e de mudança comportamental do servidor serão registrados no Formulário de Acompanhamento Laboral. A avaliação final, baseada nos seis relatórios de avaliação parcial, será realizada ao término do período de estágio; probatório, cujos resultados serão registrados em instrumento específico, os quais expressam o nível de desempenho obtido pelo servidor durante o estágio e sua confirmação no cargo dependerá de parecer fundamentado da Comissão de Avaliação. Nesse município, a avaliação de desempenho é utilizada para cumprimento de uma exigência legal, sendo o servidor apenas avaliado durante o período de estágio probatório, ou seja, nos três primeiros anos de efetivo exercício, para permanência ou não no serviço público, conforme estabelecido pelo Decreto Municipal n. 4937/2007. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 223 Avaliação de Desempenho no Serviço Público Conforme esse Decreto, ao término dos três anos de estágio probatório, o servidor que for considerado apto para o exercício do cargo terá sua estabilidade funcional. E caso haja necessidade, a Comissão de Avaliação poderá, a qualquer momento, entrevistar o servidor em estágio probatório, seus colegas de trabalho, sua chefia imediata ou os servidores por ela designados para a avaliação parcial, para melhor instruir seus relatórios, bem como poderá solicitar parecer à Divisão de Perícia Médica e Saúde Ocupacional, nos casos em que as licenças para tratamento de saúde estiverem extrapolando a normalidade. Na Prefeitura de São Paulo, a avaliação de desempenho tem caráter obrigatório estabelecido por lei federal e é regulamentada pelo estatuto do servidor municipal de São Paulo. Conforme as normas que a regem, a avaliação de desempenho naquele município, diferentemente das apresentadas em Florianópolis, deve ser feita anualmente e sua função está estritamente relacionada à promoção por merecimento, ou seja, a pontuação dela provinda é computada para que o servidor possa ter promoção horizontal. (LOTTA, 2002) Os funcionários da Prefeitura de São Paulo são avaliados primeiramente por suas chefias por meio de instrumento padronizado e, após a avaliação, o funcionário deve ratificar o formulário que será encaminhado à central de recursos humanos da prefeitura, apenas para computar os pontos destinados a cada funcionário, sem levar em consideração os comentários da chefia ou as necessidades de treinamento e desenvolvimento pessoal anotadas nas avaliações. (LOTTA, 2002) Em São Paulo, o resultado da avaliação de desempenho se dá no âmbito da promoção, o que leva os funcionários dessa prefeitura a não valorizarem o que está sendo avaliado. A avaliação não é, portanto, usada para demonstrar a realidade das prefeituras, mas sim com o intuito de contribuir para a promoção salarial. A restrição à política salarial faz com que funções como desenvolvimento e treinamento sejam deixadas de lado, levando a incentivar casos em que o avaliador é visto como juiz e o avaliado como réu. No entanto, tem-se o exemplo do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, que, após a reestruturação ocorrida em 2001, realiza a avaliação de desempenho não somente para a promoção dos servidores, como ocorria anteriormente, mas sim, no acompanhamento do desempenho de suas atribuições visando medidas para a melhoria deste, quando necessário. (PEIXER; BARATTO, 2008) 224 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Scheila Augusto Rodrigues Lyra # Marcos Baptista Lopez Dalmau # Isadora de Souza Bernardini As medidas adotadas são encaminhadas para treinamento, relotação (quando o servidor muda de setor dentro da mesma comarca) ou remoção (quando o servidor muda de comarca), atendimento psicológico ou psiquiátrico ou readaptação do funcionário. (PEIXER; BARATTO, 2008) Além disso, nessa instituição, quando o servidor atinge média de duas avaliações consecutivas superior a oito, como forma de valorização ocorre progressão na carreira por meio de uma promoção denominada “promoção por desempenho”. (PEIXER; BARATTO, 2008) Os países que realizaram as primeiras iniciativas de reforma do Estado de inspiração “pós-burocrática” ou gerencial nas décadas de 1970/1980 consideraram e continuam considerando a avaliação não como uma etapa do processo, mas uma característica fundamental do momento de evolução das políticas públicas. (SILVA, 2004) Nas organizações bem-sucedidas, a capacidade que elas possuem em aprender com suas experiências (positivas e negativas) constituem um elemento-chave, que irá possibilitar a reação ao mercado, ou atender ao crescimento de demanda de clientes, a capacidade de absorver as informações internas e externas para ajustar o desempenho e adaptar-se ao ambiente em que ela opera. (SILVA, 2004) Essas características também podem ser vitais para as organizações públicas, tendo em vista que atualmente no Brasil o ambiente dessas organizações está determinado cada vez mais pelas pressões da opinião pública e demandas da sociedade por eficiência e eficácia, ou seja, o grau de capacidade de resposta aos seus anseios. (SILVA, 2004) Diante disso, observa-se que há diferentes formas de utilizar a avaliação de desempenho no serviço público. Pode-se observar que a avaliação realizada pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina aproveita as informações colhidas no adiantamento profissional do servidor, não apenas como progressão salarial, mas também utilizando essa ferramenta para identificar suas habilidades e melhor aproveitá-las no serviço público, seja realizando troca de funcionário entre os setores ou promovendo treinamento para utilizar ao máximo o potencial de cada servidor. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 225 Avaliação de Desempenho no Serviço Público 5 Considerações Finais O processo de Avaliação de Desempenho Humano nas organizações implica menos criação de um instrumento técnico sofisticado e mais desenvolvimento de uma atmosfera em que as pessoas possam se relacionar umas com as outras de maneira espontânea, franca e confiante. (BERGAMINI; BERALDO, 2010) No caso da Prefeitura Municipal de Florianópolis, percebe-se que a avaliação de desempenho está ligada diretamente à função legislativa, na qual a efetivação do servidor no cargo para o qual prestou concurso público se dá mediante aprovação na sua avaliação durante o estágio probatório. Como visto, em outras instituições essa mesma avaliação pode ser instrumento para a progressão salarial, ou até mesmo para potencialização do servidor em seu ambiente de trabalho, porém muito se deve avançar para se chegar a um melhor aproveitamento dessa ferramenta. Dessa forma, a avaliação de desempenho pode ser utilizada como instrumento de planejamento estratégico e melhoria do serviço público, sendo necessárias algumas mudanças para maximizar as funções da avaliação desses servidores, tais como: • Instituir parâmetros de comparação entre as avaliações: os sistemas de avaliação devem ser justos e imparciais, sendo baseados em padrões de desempenho atingíveis, objetivos e claros, em consonância à realidade dos cargos e postos de trabalho. A avaliação deve apresentar indicadores objetivos que possam gerar medidas de comparação entre os diversos desempenhos. (LOTTA, 2002) • Vincular os resultados da avaliação à gestão de Recursos Humanos: a avaliação de desempenho fornece elementos capazes de informar acerca da correção do instrumento seletivo, bem como identificar as áreas mais carentes de treinamento. Dessa forma, há necessidade de perceber que a preocupação permanente com o desempenho humano e com o modo de torná-lo mais eficaz na obtenção de resultados é o ponto de máxima atenção para aumentar a produtividade, com o objetivo de retorno rentável e participação do sucesso nas organizações. Nesse contexto, a avaliação de desempenho deve ser encarada pela gestão de recursos humanos como instrumento que subsidie ações de melhoria organizacional. (LOTTA, 2002) 226 Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 Scheila Augusto Rodrigues Lyra # Marcos Baptista Lopez Dalmau # Isadora de Souza Bernardini • Mudança na cultura organizacional: para que a avaliação de desempenho funcione como fator fundamental para o melhor andamento dos serviços, é necessária a instituição de uma cultura que valoriza esse tipo de ação. Sendo assim, políticas de sensibilização sobre a importância de uma avaliação devem ser priorizadas, fazendo com que avaliadores e avaliados possam encarar o instrumento de forma a utilizá-lo para modificar a organização (LOTTA, 2002). • Desvincular a avaliação à política salarial: a política de avaliação de desempenho deve ser revista de maneira que a avaliação seja ampliada a outras funções, tais como treinamento, desenvolvimento e identificação de habilidades. Nesse sentido, deve-se repensar a política da avaliação em um contexto de reestruturação da área de recursos humanos das organizações. (LOTTA, 2002) • Descentralização na formulação do instrumento: a elaboração do instrumento de avaliação deve estar de acordo com as realidades locais, sendo a avaliação direcionada ao que for necessário para cada ambiente. (LOTTA, 2002) • Avaliação que atinja todos os funcionários: na medida em que as políticas organizacionais estiverem voltadas ao desenvolvimento, será necessária a ampliação da avaliação a todos os funcionários, tendo em vista que somente após ser avaliada toda a realidade da organização, poderão ser elaboradas políticas para seu desenvolvimento. (LOTTA, 2002) • Novos métodos de avaliação: deve ser analisada a possibilidade da implantação de novos sistemas, como a avaliação 360°, autoavaliação, avaliação por produtividade, dentre outros, levando-se em consideração a realidade local. Uma opção seria a implantação de uma comissão de avaliação, composta pelo chefe imediato, dois outros membros, um especialista em recursos humanos e outro que representaria os funcionários mediante eleição por período determinado. (LOTTA, 2002) Todos esses itens devem ser levados em consideração na elaboração de um eficiente instrumento de avaliação de desempenho. A avaliação de desempenho deve ser uma ferramenta de gestão que possibilite a melhora no ambiente de trabalho e esteja relacionada ao planejamento estratégico da instituição. Coleção Gestão da Saúde Pública – Volume 7 227 Avaliação de Desempenho no Serviço Público Sendo assim, para que a atual realidade seja modificada, a administração pública deverá voltar suas atenções às políticas internas, dando prioridade às ações relacionadas aos seus funcionários. Dessa forma, a avaliação de desempenho mostra-se como ferramenta essencial para fornecer os subsídios necessários para alteração dos processos de trabalho, motivando os funcionários na busca da melhoria no serviço público. A motivação é um quadro complexo, mas para a grande maioria das pessoas, há certa constância em obter melhor desempenho quando se sentem bem no que fazem. Esse sentimento de satisfação é promovido pelo reconhecimento, louvor, feedback positivo dos resultados, bom relacionamento no trabalho e assim por diante. A motivação também é necessária para a aprendizagem contínua. Juntas são essenciais ao desempenho excelente. Mediante o encorajamento da motivação e a facilitação do aprendizado, qualquer pessoa pode progredir. Referências ANDREASSI, T. Avaliação de desempenho de profissionais técnicos: um estudo de casos. 1994. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade. Universidade de São Paulo, São Paulo. BERGAMINI, Cecília Whitaker. Avaliação de desempenho humano na empresa. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1973. BERGAMINI, Cecília Whitaker; BERALDO, Deobel Garcia Ramos. Avaliação de desempenho humano na empresa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2010 BRASIL. Emenda Constitucional n. 19, de 4 de junho de 1998. Modifica o regime e dispõe sobre princípios e normas da Administração Pública, servidores e agentes públicos, controle de despesas e finanças públicas e custeio de atividades a cargo do Distrito Federal, e dá outras providências. 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