Viewpoint Uso de Telefones Celulares e Tumores Cerebrais

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Viewpoint Uso de Telefones Celulares e Tumores Cerebrais
Uso de Telefones Celulares e Tumores Cerebrais:
Últimas Revisões e Taxas de Incidência
Um estudo “case –control” francês recentemente publicado por Coureau1 e
outros, sobre o uso de telefones celulares e tumores cerebrais precisa ser
visto dentro do contexto de todas as evidências disponíveis e considerando
os dados de incidência de tumores em todo o mundo.
É importante ressaltar que os autores concluíram:
“Em geral, nenhuma associação estatisticamente significativa foi
observada para pessoas que usaram aparelhos celulares regularmente
(definido como pelo menos uma vez por semana, durante mais de seis
meses), comparadas com as que não usaram.”
No resultado, os autores apenas encontraram uma associação para “os
usurários mais assíduos, quando considerada a duração acumulativa de
toda a vida (≥896 h)”. Entretanto, o número de indivíduos nessa categoria
era reduzido e os próprios autores advertiram ter “encontrado indicações de
distorções de memória com relação aos dados de exposição”. Em uma
declaração separada2, os autores afirmaram também:
“...É importante ressaltar que estamos falando sobre uma associação e
não sobre uma relação de causa-efeito. Portanto, isso não significa que
os usuários intensivos de telefones celulares desenvolverão câncer no
cérebro.” (Tradução livre)
É também interessante notar o que o recém-lançado Relatório Final
do Programa de Pesquisa de Telecomunicações Móveis e Saúde
(MTHR)3, no Reino Unido concluiu, com relação a estudos
epidemiológicos de câncer:
1
Coureau G et. al., Mobile phone use and brain tumours in the CERENAT case-control study. Occup Environ Med. 9 de
maio de 2014; [publicação eletrônica antecipada à versão impressa] http://dx.doi.org/10.1136/oemed2013-101754.
2
Press release, Institute national de la santé et de la recherche médicale, Utilisation massive du téléphone
portable & tumeurs cérébrales, 13 de maio de 2014, http://presse-inserm.fr/utilisation-massive-du-telephoneportable-tumeurscerebrales/12519/ Menciona o original em francês: “il est important de souligner qu’il s’agit
d’une association et non d’un lien de cause à effet. Cela ne signifie donc pas qu’une personne utilisant massivement son
téléphone portable développera une tumeur au cerveau”.
3
MTHR Programme Management Committee, Mobile Telecommunications and Health Research
Programme – Report 2012, 11 de fevereiro 2014, disponível em:
http://www.mthr.org.uk/documents/MTHRreport2012.pdf.%20%20%20%20http://www.nrpa.no/dav/1c
e2548717.pdf.
“Analisados em conjunto, os estudos tratados nesta seção e na seção 2
do relatório do MTHR de 2007 não sugerem que exposição a sinais de
telefones celulares esteja associada ao crescimento de risco de câncer.
Tendo em vista o curto período de tempo que o uso do celular tem se
difundido, nenhum desses estudos foi capaz de investigar
corretamente o risco em relação ao uso do telefone em longo prazo.”
Da mesma forma, a revisão publicada em 2013 pelas Autoridades Nórdicas
de Segurança contra Radiação4 concluiu que:
“Desde 2011, foi publicado um número considerável de estudos
epidemiológicos sobre o uso de telefone celular e o risco de tumores
cerebrais e outros tumores da cabeça. Os dados gerais sobre tumor
cerebral e uso de celulares não mostra um efeito de risco de tumor.”
Também, é pertinente revisar toda alegação de uma possível relação, sob a
perspectiva das taxas de incidência de tumores. Em uma pesquisa publicada
por Deltour et. al5, os autores analisaram índices de incidência de glicomas
corrigidos por idade entre homens e mulheres dos países nórdicos, entre
1979 e 2008. Encontraram o seguinte:
“Não foi observada nenhuma mudança clara de tendência nas taxas de
incidência de glioma. Vários dos aumentos de risco observados em
estudos de controle de caso parecem ser incompatíveis com a falta de
aumento da taxa de incidência observada em homens de meia idade.
Isto sugere maiores períodos de indução do que os atualmente
investigados, riscos menores do que os relatados a partir de alguns
estudos de controle de caso, ou a ausência de qualquer associação.”
Do mesmo modo, Little et. al6 analisaram a incidência de glicomas nos
Estados Unidos e concluíram que:
“As taxas de incidência específica de glioma por idade se mantiveram
constantes de forma geral em 1992-2008 (-0,02% de variação ao ano,
intervalo de confiança de 95%; -0,28% para 0,25%), um período que
coincide com um aumento substancial no uso do telefone móvel a
partir de perto de 0% a quase 100% da população dos EUA. Se o uso
do telefone estivesse associado ao risco de glioma, esperiamos que as
taxas de incidencia de glioma fossem maiores que aquelas observadas,
mesmo com um período de latência de 10 anos e baixos riscos
relativos (1,5).”
4
5
http://www.nrpa.no/dav/1ce2548717.pdf.
Deltour et. al, Mobile phone use and incidence of glioma in the Nordic countries 1979-2008: consistency check.
Epidemiology. 2012 Mar;23(2):301-7
6
Little et al., Mobile phone use and glioma risk: comparison of epidemiological study results with
incidence trends in the United States, BMJ 2012;344. http://dx.doi.org/10.1136/bmj.e1147
A Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC) apresentou
recentemente7 o seguinte gráfico, baseado em dados dos dois estudos
acima mencionados, mostrando claramente as taxas de tendência previstas,
se houvesse uma ligação entre o uso de telefones celulares e gliomas (com
riscos relativos assumido de 1,2, 1,5 e 2), em comparação com a taxa de
incidência observada, que se manteve relativamente estável.
Aumento da taxa de câncer cerebral?
Todos os usuários considerados com risco aumentado depois de 10 anos
Concluindo, vale notar o seguinte comentário do CEO do Conselho sobre o
Câncer de Nova Gales do Sul (Austrália), Dr. Andrew Penman8:
“Os telefones celulares têm sido amplamente utilizados na Austrália
por quase 20 anos. Ao contrário das preocupações sobre telefones
celulares, não temos visto absolutamente nenhum aumento associado
aos casos de câncer de cérebro na Austrália ou em outros países.
Portanto, os usuários não deveriam se preocupar injustificadamente de
que seu dispositivo móvel poderia lhes causar câncer no cérebro.”
7
J. Schüz, Are electromagnetic fields associated with cancer? Seminário sobre campos eletromagnéticos e efeitos na saúde:
da ciência e política e da consciência pública, Atenas, 28 de março de 2014
http://ec.europa.eu/health/scientific_committees/emerging/docs/ev_20140328_co04_en.pdf
8
Press release Brain cancer mobile phone panic should be put on hold (Deve haver pânico por câncer no cérebro e
telefone celular) consultado em 15 de maio de 2014 em:
http://www.cancercouncil.com.au/55695/news-media/latest-news-news-media/media-releases-newsroom-newsmedia/brain-cancer-mobile-phone-panic-should-be-put-on-hold/
Maio de 2014

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