Trabalho TAR – Henrique e Victor

Transcrição

Trabalho TAR – Henrique e Victor
Este Cara Quer que Você Boicote 'Mad
Max: Estrada da Fúria' Porque ele não
Curte Feminismo
May 15, 2015 por Drew Millard
No final de semana, milhões de pessoas vão lotar os cinemas para ver Mad Max:
Estrada da Fúria . O filme é uma raridade na paisagem dos reboots de Hollywood,
já que foi dirigido, produzido e coescrito pelo diretor da trilogia original de Mad
Max, George Miller, garantindo manter o espírito de sua fonte. E os críticos
parecem ter gostado também. Com uma classificação de 99% no agregador de
críticas Rotten Tomatoes, o título caminha para se tornar um dos filmes de ação
de alto orçamento mais aclamados desde Batman: O Cavaleiro das Trevas, de
Christopher Nolan.
Mas uma coisa em Estrada da Fúria está emputecendo alguns homens na
internet: a película apresenta uma personagem fodona chamada Imperator
Furiosa, interpretada por Charlize Theron. Como o próprio crítico da VICE David
Perry disse, para desgosto dos defensores dos direitos dos homens, " Estrada da
Fúria é um filme explicitamente feminista, com Furiosa e Max juntando forças para
derrubar um patriarcado literal".
A tomada feminista do filme levou o escritor Aaron Clarey a chorar as pitangas
numa postagem de Return of Kings, um site que se descreve como um " blog para
homens heterossexuais masculinos". Na postagem, Clarey lamenta o fato de que
o verdadeiro foco do novo título não é Max, mas Furiosa, que, para desespero
dele, "grita ordens para Mad Max" no trailer. Porque, aos olhos de Clarey,
"ninguém grita ordens para Mad Max".
Continuando, ele escreve: "Homens nos EUA e no mundo vão ser enganados por
explosões, tornados de fogo e perseguições no deserto para ver o que, com
certeza, é nada mais que propaganda feminista e, ao mesmo tempo, serão
insultados e enganados para assistir a um pedaço da cultura americana ser
arruinada e reescrita bem na frente de seus olhos".
Assim, Clarey pede que os homens não vejam Estrada da Fúria, porque, se o
filme for o sucesso que caminha para ser, segundo ele, "eu, você e todos os
homens (e mulheres de verdade) do mundo nunca mais vão poder ver um filme de
ação de verdade que não tenha uma maldita aula política sobre feminismo, justiça
social e socialismo".
Abordei Clarey – que também tem um blog chamado Captain Capitalism – por email com perguntas sobre o boicote, o braço mecânico de Charlize Theron e se
explosões são coisa só de homem. Sua resposta inicial foi "Você quer se livrar das
perguntas cretinas/falsas para podermos falar seriamente?". OK, perguntar se
braços-robôs são coisa de homem é mesmo trolar um pouquinho. Logo, questionei
o que ele achava da resposta ao seu texto, que apareceu em lugares
como Huffington Post, A.V. Club eWired.
Ele respondeu: "Eu não acho que um blogger obscuro deveria gerar tal reação,
ainda mais no Huff Po, Telegraf, etc. No entanto, o conteúdo da reação foi
completamente esperado e previsível; portanto, não me surpreendeu. Toda vez
que alguém ousa ser politicamente incorreto e falar a verdade indiferente, você
pode esperar uma reação quase roteirizada. Nesse caso, são acusações de ser
sexista e misógino, que tenho 'problemas com a minha mãe', que odeio mulheres,
etc. Já estive nesse caminho muitas vezes, e isso não é surpresa".
Enquanto isso, no Twitter, Clarey expressou espanto por seu texto ter "viralizado
em círculos de esquerda e [entre] feministas", postando, em seguida, uma
resposta em seu canal do YouTube. "Para a mídia esquerdista", ele diz enquanto
mostra o dedo do meio para a câmera, "vá se foder".
Mesmo que a ideia de um blogger pedindo o boicote de um filme de ação por isso
ser "feminista demais" seja inerentemente ridícula, há precedentes em um bando
de babacas petulantes se juntando para causar caos com suas carteiras. Durante
os dias dourados do GamerGate, os gamergaters tiveram sucesso com uma
petição pedido que anunciantes tirassem seus anúncios do site Gamasutra, que
publicou um artigo criticando o termo "gamer", e conseguiram que Mercedes-Benz
e Adobe tirassem anúncios do Gawker por alguns tuítes engraçadinhos. A ideia
básica era: se vários homens reclamassem com os anunciantes, eles iriam temer
que grande parte de seus consumidores pudesse parar de apoiá-los. Que esse
grupo de consumidores estivesse putinho com escritores que tiveram a audácia de
criticá-los por assediar mulheres na internet, era irrelevante. A tática funcionou.
Há algumas falhas óbvias no argumento da postagem inicial de Clarey. Por
exemplo,Mad Max não é parte da cultura americana. Miller é australiano e os
filmes originais da saga Mad Max foram filmados na Austrália. Estrada da Fúria foi
rodado na Namíbia; por sua vez, seus astros Charlize Theron e Tom Hardy são
sul-africana e britânico, respectivamente. Além disso, Mad Max é criação de
George Miller. Se ele diz que uma mulher vai gritar ordens para Mad Max, então
uma mulher vai gritar ordens para Mad Max. A resposta de Clarey foi: "George
Miller tem todo o direito de fazer o que quiser com sua arte. Assim como os
Wachowskis tiveram todo direito de fazer o que quisessem com a franquia Matrix.
E assim como George Lucas teve todo o direito de fazer o que quisesse com os
Episódios I, II e III de Guerra nas Estrelas".
Além disso, Clarey e aqueles que concordam com ele parecem ignorar um ponto
muito maior: o de que filmes de ação, como um todo, são incrivelmente
homoeróticos. Pense na cena de Velozes 5 em que Rock e Vin Diesel estão
lutando: a visão de seus músculos parece se fundir numa espécie de ritual de
acasalamento primitivo. Ou reflita sobre a t ensão romântica entre Sam e
Frodo em Senhor dos Anéis. Ou Arnold Schwarzenegger mostrando seu bumbum
em Exterminador do Futuro . Ou como, emDuro de Matar, Bruce Willis vai ficando
progressivamente mais oleoso e pelado no decorrer do filme. Ou 300, como um
todo. A lista continua, espiralando numa infinidade de armas fálicas e subtexto.
Homens héteros reclamarem de um filme de ação que mostra mulheres
quebrando tudo é como homens héteros reclamarem de mulheres aparecendo em
pornografia gay. Quando abordei esse tropo com Clarey, ele simplesmente
respondeu "É, não estudei muito a série SDA".
Quanto ao seu desgosto específico por Mad Max: Estrada da Fúria, e não por
obras como Exterminador do Futuro, Tank Girl e Alien, filmes de ação com
protagonistas fortes, Clarey frisou: "Eles contrataram uma consultora feminista
para Estrada da Fúria. A atriz principal (Charlize Theron) disse que o filme é
feminista. Mesmo a VICE.com tem uma matéria dizendo que esse é um filme
feminista. Isso infelizmente diferencia Mad Max dos filmes de ação com mulheres
[anteriores], já que é praticamente garantido que isso vai conter um sermão ou
aula [no] estilo ' It's On Us' [uma campanha norte-americana contra o assédio
sexual]".
No final das contas, o medo de que filmes de ação possam se tornar muito
feministas vem do mesmo lugar que as ansiedades dos gamergaters: a ideia de
que espaços classicamente reservados para homens não sejam mais estritamente
deles. Esses homens são covardes. Não preste atenção neles e vá ver Mad Max:
Estrada da Fúrianeste final de semana. Garanto que seu dinheiro vai ter um papel
importante em derrubar a hegemonia masculina em Hollywood.
Tradução: Marina Schnoor

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