Projeto CISA - Universidade Federal de Campina Grande

Transcrição

Projeto CISA - Universidade Federal de Campina Grande
Universidade Federal de Campina Grande
Relatório Técnico – Projeto CISA
Estudante: Rodolfo Luiz Bezerra Nóbrega (UFCG)
Coordenador UFCG: Prof. Carlos de Oliveira Galvão (UFCG)
Coordenador Geral do Projeto: Prof. Jaime Joaquim Pereira Cabral
(UFPE)
Fevereiro de 2010
2
Apresentação
O presente relatório descreve as atividades realizadas pelo estudante da PósGraduação em Engenharia Civil e Ambiental da UFCG, Rodolfo Luiz Bezerra
Nóbrega, entre 12 de outubro de 2009 e 12 de janeiro de 2010 no Internacional
Center for Arid and Semiarid Land Studies (ICASALS) da Texas Tech University
(TTU) em Lubbock, Texas.
Essas atividades fizeram parte do desenvolvimento da dissertação de mestrado
do aluno supracitado intitulada “Aspectos políticos e institucionais do aproveitamento
de água de chuva no Semiárido Brasileiro” e tiveram o acompanhamento acadêmico
do Prof. Ken Rainwater, diretor do Water Resources Center, e Dr. Aberbal C. Correa,
diretor do ICASALS, da TTU. O acompanhamento foi realizado através de reuniões
quinzenais realizadas para avaliar o planejamento das atividades e discussão dos
resultados.
Esta ação está inserida no projeto intitulado “Cooperação Internacional do SemiÁrido (CISA)”, na sua Meta 1 “Implementação de projetos-piloto de aproveitamento
de recursos hídricos não convencionais no semiárido”, atividades 6 a 16 (“Bacia
Escola de São João do Cariri – UFCG”), e na sua Meta 2 “Treinamento, capacitação
e formação de recursos humanos na gestão dos recursos hídricos de regiões
semiáridas”, atividades 4 a 8 (“Cursos-estágios de curta duração”).
O projeto CISA, financiado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (instrumento
contratual FINEP nº 01.07.0049.00), é coordenado pelo Prof. Jaime Joaquim Pereira
Cabral, do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de
Pernambuco.
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Sumário
1. Introdução............................................................................................................... 4
1.1. Caracterização física do Texas ........................................................................ 4
1.2. A captação de água de chuva no Texas .......................................................... 5
2. Visitas técnicas e encontros realizados .................................................................. 9
3. Informações coletadas nas visitas e encontros .................................................... 12
4. Considerações finais ............................................................................................ 15
5. Bibliografia ............................................................................................................ 17
Lista de Figuras
Figura 1. Tipos de solos no Texas (Fonte: http://soildata.tamu.edu/) ......................... 4
Figura 2. Aquíferos no Texas (Fonte: http://www.twdb.state.tx.us) ............................ 5
Figura 3. Provável quantidade de água de chuva captada em uma área de captação
padrão do Estado do Texas (fonte: http://www.twdb.state.tx.us/iwt/rainwater). .......... 7
Figura 4. Distritos de Conservação do Solo e Água do Estado do Texas (fonte:
http://www.tsswcb.state.tx.us/swcds/info). .................................................................. 8
Figura 5. Registros de atividades agrícolas no Noroeste do Texas.......................... 10
Figura 6. Um sistema de uso de água para consumo animal abastecido por um poço
perfurado no aquífero Ogallala. ................................................................................ 10
Figura 7. Visita técnica à instalação de um sistema de captação de água de chuva.
................................................................................................................................. 12
Figura 8. Conjunto de distritos de conservação de solo e água denominado High
Plans Underground Water Conservation District Nº 1 que envolve os condados na
região de Lubbock (fonte: http://www.hpwd.com/service_area.asp)......................... 14
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1. Introdução
1.1. Caracterização física do Texas
Com cerca de 700 mil quilômetros quadrados o Texas, quase cinco vezes a área
dos estados da Paraíba e Pernambuco juntos, é o segundo maior estado e mais
populoso dos Estados Unidos da América. Esse fato colabora para que o Texas
tenha diferentes características naturais em seu território. No extremo sul o clima é
tropical, já no noroeste o clima é árido. A precipitação média varia de cerca de 1500
mm (leste) para 300 mm (oeste).
Figura 1. Tipos de solos no Texas (Fonte: http://soildata.tamu.edu/)
5
Figura 2. Aquíferos no Texas (Fonte: http://www.twdb.state.tx.us)
1.2. A captação de água de chuva no Texas
A prática do aproveitamento de água de chuva no Texas tem sido oficialmente
promovida desde o ano de 2005, quando, através da House Bill 24301 (HB 2430), foi
instituído o Comitê de Avaliação do Aproveitamento de Água de Chuva (Rainwater
Harvesting Evaluation Committee, em inglês). Esse comitê teve representantes dos
seguintes órgãos do governo do Texas: a) Agência de Gestão de Recursos Hídricos
do Texas (Texas Water Development Board - TWDB, em inglês); b) do
Departamento Estadual de Serviços de Saúde (Department of State Health
Services); c) Divisão de Conservação e Reúso da Associação Americana de
Sistemas de Abastecimento de Água (American Water Works Association, em
inglês), seção do estado do Texas.
1
House Bill são projetos de leis (que podem ser aprovados ou não) que são criados na Texas House of
Representatives.
6
O comitê foi presidido pelo representante da Agência de Gestão de Recursos
Hídricos do Texas que, caso necessário, poderia solicitar assistência de consultores
externos. Esse comitê foi estabelecido em caráter temporário para que até
dezembro de 2006 fosse elaborado, por esses integrantes, um relatório para os
governantes. O conteúdo desse relatório foi estabelecido pela HB 2430 e conteve:
a) avaliação do potencial de aproveitamento de água de chuva no Estado do
Texas;
b) recomendações sobre: I) diretrizes básicas sobre qualidade de água e
padrões para usos potáveis e não potáveis da água de chuva; II) métodos de
tratamento para usos potáveis e não potáveis da água de chuva; III) alternativas,
como o sistema duplo de abastecimento, para uso de sistemas de aproveitamento
de água de chuva em conjunto com os sistemas municipais de abastecimento de
água para usos residenciais, industriais, comunitários ou públicos; IV) alternativas
para que o Estado possa promover o aproveitamento de água de chuva.
Essa ação também alterou o Capítulo 341 do Código de Saúde e Segurança do
Estado do Texas, intitulado “Padrões mínimos para medidas de proteção de saúde e
sanitária” (Minimum Standards of Sanitation and Health Protection Measures, em
inglês). O adendo colocado na seção 2, do subcapítulo C, cita que a comissão
também deveria estabelecer recomendações de padrões relativos ao uso doméstico
de água de chuva, incluindo métodos para tratamento e captação de água de chuva
com o intuito de beber, uso na preparação de alimentos ou banho. Esses padrões
tiveram que ser adotados pela Comissão de Qualidade Ambiental (Texas
Commission on Environmental Quality, em inglês) do Texas até 1 de dezembro de
2006, prazo para entrega do relatório.
O relatório foi disponibilizado em novembro de 2006 sob o título “Rainwater
Harvesting Potential and Guidelines for Texas”, e a comissão responsável pela sua
elaboração, obedecendo a HB 2430, foi extinta em 1 de janeiro de 2007. O relatório
conta com todos os requisitos que constam na HB 2430. Na Figura 3 abaixo pode
ser observado um mapa que consta no relatório, derivado das isoetas do Estado do
Texas, que apresenta a provável quantidade de galões (cerca de 3,78 litros) de água
de chuva captada em uma área de captação de 2.000 pés quadrados (cerca de 186
m²).
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Figura 3. Provável quantidade de água de chuva captada em uma área de captação padrão do
Estado do Texas (fonte: http://www.twdb.state.tx.us/iwt/rainwater).
Diretrizes relacionadas ao dimensionamento e estrutura dos projetos de
captação de água de chuva que devem ser seguidas foram incorporadas ao “Texas
Manual on Rainwater Harvesting” e a Texas Commission on Environmental Quality
elaborou o documento regulador RG 445 intitulado “Rainwater Harvesting: Guidance
for Public Water Systems” que regula o uso da água de chuva nos sistemas públicos
de abastecimento de água.
Com isso, foi adicionada ao grupo Innovative Water Technologies do TWDB a
linha de trabalho em captação de água de chuva. Esse grupo foi formado para
gerenciar os projetos e pesquisas que fornecem suporte ao desenvolvimento de
regulações nas áreas de dessanilização e reuso de água, além de promover o uso
dessas tecnológicas no Estado do Texas.
Numa escala mais local, também foram iniciados projetos de incentivo à prática
da captação de água de chuva através dos Distritos de Conservação de Solo e Água
do Texas (Texas Soil and Water Conservation Districts, em inglês, Figura 4). Esses
distritos fazem parte da estrutura governamental do Texas, que como os condados
ou escolas distritais, são subdivisões do governo estadual. Os programas e planos
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de trabalho de cada distrito são desenvolvidos de acordo com as necessidades
locais de cada um deles.
Figura 4. Distritos de Conservação do Solo e Água do Estado do Texas (fonte:
http://www.tsswcb.state.tx.us/swcds/info).
As formas de incentivo de uso das tecnologias de captação de água de chuva
atualmente utilizadas no Estado do Texas podem ser de duas maneiras: redução de
impostos relativos à ocupação dos imóveis (Tax Exemption, em inglês) e
ressarcimento relativo à aquisição dos equipamentos ou instalação do sistema
(Rebate for Rainwater Harvesting, em inglês). Dentre os distritos que promovem
essas práticas, o distrito de Travis, onde fica situada a cidade de Austin, capital do
Texas, se destaca nas ações realizadas.
Ainda em março de 2009 foi submetido ao governo o Projeto de Lei HB 4299,
esse projeto previa a captação de água de chuva em todas as edificações públicas
estaduais e recomendava as agências de gestão de água dos condados a promoção
dessa ação. Esse projeto foi aprovado pela Texas House of Representatives, mas
não foi pelo Texas Senate2.
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O Texas Senate, ou Senado Estadual, é a câmara de representantes do governo mais lata da hierarquia política
estadual. Todas as leis que, sejam elaboradas pelo Senado ou pela House Bill, devem passar e ser aprovadas
pelas duas casas para que possam ser efetivadas como lei.
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Transversalmente às iniciativas governamentais, o Estado do Texas se destaca
pela grande contribuição de organizações não governamentais e pelo setor privado
que promovem o desenvolvimento de comercialização dos sistemas de captação de
água de chuva.
Dentre as organizações, se destaca a Associação de Captação de Água de
Chuva do Texas (Texas Rainwater Catchment Association, em inglês), capítulo
estadual da Associação Americana de Captação de Água de Chuva (American
Rainwater Catchment Systems Association, em inglês), que organiza encontros com
periodicidade anual entre usuários, empresas e órgãos governamentais para a
promoção da captação da água de chuva. A associação ainda conta com
premiações para as pessoas e empresas que contribuíram em aspectos
relacionados ao tema e mantém um banco de dados sobre profissionais e empresas
que trabalham na área.
2. Visitas técnicas e encontros realizados
Durante o levantamento de dados, foram realizados encontros e visitas técnicas
com o propósito de obtenção de informações de especialistas em diferentes áreas
de conhecimento, prospecção de parceiros para outras atividades desenvolvidas no
projeto CISA e para avaliação das práticas utilizadas em campo. Abaixo segue
descrição as atividades relacionadas.
Visitas técnicas a fazendas no Condado de Randall e no Condado de Swisher,
ambas cerca de 150 km da cidade de Lubbock. As visitas tiveram como objetivo
avaliar como os recursos hídricos são utilizados nas áreas rurais dessa região.
As plantações de algodão predominam na região com um alto grau de
mecanização (Figura 5).
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Fotos: Marcelo Wallau e Rodolfo Nóbrega
Figura 5. Registros de atividades agrícolas no Noroeste do Texas.
Foi verificado que a captação de água de chuva não é uma prática comum na
região, pois é bastante natural a perfuração de poços para explotação de água do
aquífero Ogallala, como pode ser visto na Figura 4. No entanto é de conhecimento
dos fazendeiros essa prática, embora não tenham conhecimento do emprego dela
por outros fazendeiros. Também não foi observado nessas visitas que há uso do
aproveitamento da água de chuva para uso residencial da água nessa região.
Fotos: Rodolfo Nóbrega
Figura 6. Um sistema de uso de água para consumo animal abastecido por um poço perfurado
no aquífero Ogallala.
Encontro com Dr. Hari Krishna em Austin, Texas, para obtenção de
informações sobre o sistema legal sobre aproveitamento de água de chuva no
estado do Texas. Dr. Krishna foi um dos fundadores da Associação de Captação de
Água de Chuva dos Estados Unidos (sigla ARCSA, em inglês – website:
11
http://www.arcsa.org/) e é o autor do “Texas Manual on Rainwater Harvesting”,
documento de referência para estudos de captação de água de chuva no Texas
distribuído pelo Texas Water Development Board, o órgão gestor de águas do
Estado do Texas. Austin, cidade onde foi realizada a reunião, é a capital e cede do
governo Texano e fica situada cerca de 600 km de Lubbock.
Encontro com o Prof. Jeff Johnson do College of Agricultural Sciences and
Natural Resources da Texas Tech University para discussão de resultados e de
aspectos relacionados à gestão os recursos hídricos subterrâneos no Estado do
Texas.
Encontro com Peter Hall, professor da School of Law da Texas Tech
University e pesquisador do Center for Water Law and Policy na linha de pesquisa
sobre aspectos de captação de água de chuva e explotação de água subterrânea na
região que compreende as cidades de Lubbock e Austin.
Encontro com o Dr. Gabriel Eckstein, professor da School of Law da Texas
Tech University e diretor do Center for Water Law and Policy da mesma instituição.
O objetivo desse encontro foi de absorver informações sobre a gestão de recursos
hídricos em nível federal (EUA) e estadual (Texas) e suas implicações nos métodos
não convencionais de aproveitamento de recursos hídricos, como a captação de
água de chuva.
Encontro com Jim Crownover e visita técnica (Figura 7) a instalação de um
sistema de captação de água de chuva na área urbana de Lubbock. Crownover é
aposentado pelo United States Department of Agriculture e atualmente presta
consultoria nas áreas de conservação de água e solo, sistemas de informação
geográfica e captação de água de chuva.
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Fotos: Jim Crownover e Rodolfo Nóbrega
Figura 7. Visita técnica à instalação de um sistema de captação de água de chuva.
Visita ao Center for Geospatial Technology da TTU para identificação de
linhas de pesquisa comuns aos grupos de pesquisa presentes no CISA para apoio
ao desenvolvimento do Sistema de Informação da Rede de Hidrologia do Semiárido
e de Cabo Verde.
3. Informações coletadas nas visitas e encontros
Os estudos realizados por pesquisadores na Texas Tech University mostram
que tanto nas áreas secas como nas áreas úmidas do Texas o aproveitamento de
água de chuva é necessário e viável. Por outro lado, ainda há deficiência na
estrutura de leis e regulações em algumas partes do Texas, o que deixam uma
lacuna sobre aspectos técnicos sistemas de aproveitamento de água de chuva.
Para o eficiente uso da captação de água de chuva é necessário que as
autoridades autorizem as ligações prediais, inclusive as ligações das águas
servidas, o que em muitas situações ainda não são permitidas.
Ao mesmo tempo, existem experiências que motivam o uso da água de chuva e
deixam boas lições aprendidas sobre o tema, a exemplo do caso da cidade de
Dripping Springs. Esse pequeno aglomerado urbano no condado de Hays, não
possuía sistema de abastecimento público. A empresa responsável pelo
fornecimento de água na região orçou um valor acima dos padrões econômicos
locais para a ampliação do sistema de abastecimento até Dripping Springs. Com
isso, alguns moradores optaram pela instalação de sistemas captação de água de
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chuva para consumo potável e perfuração de poços para demais usos. Atualmente
os cidadãos dessa cidade possuem elevada autonomia de suprimento de água em
relação ao sistema público de abastecimento, que foi implantado recentemente.
Motivado por essa cultura, foi nessa cidade que surgiu a única empresa dos Estados
Unidos da América, cujo nome é Tank Town, que comercializa água de chuva
engarrafada em padrões de qualidade adequados para consumo humano.
No Noroeste do Texas, região onde está situada Lubbock, não foi observada
nenhuma iniciativa governamental de uso de sistemas de captação de água de
chuva, como também pouquíssimas iniciativas privadas. A consciência do uso de
água racional nesse local é insuficiente, visto a quantidade exagerada de água que
as pessoas utilizam e o uso de plantas não nativas que demandam grande
quantidade de água e que são utilizadas no paisagismo local.
Os poços locados no aquífero Ogallala são registrados e monitorados pelos
perfuradores e essas informações enviadas aos administradores dos Distritos de
Conservação do Solo e Água de alguns condados na região de Lubbock,
denominado High Plans Underground Water Conservation District Nº 1 (Figura 8).
Essas informações são avaliadas e apresentadas à comunidade através de um
boletim informativo mensal denominado “Cross Sections”. Nesse informativo consta
uma tabela que, entre outros dados, apresenta o nível de água dos poços, a
diferença em relação ao último monitoramento e qual a situação do nível atual em
relação às metas de conservação do aquífero.
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Figura 8. Conjunto de distritos de conservação de solo e água denominado High Plans
Underground Water Conservation District Nº 1 que envolve os condados na região de Lubbock
(fonte: http://www.hpwd.com/service_area.asp).
Programas de recarga não existem para o Aquífero Ogallala, uma das
justificativas é que o fluxo horizontal da água é muito lento e a região não possui
uma quantidade de chuva que justifique a recarga em relação à contribuição na
quantidade de água para o aquífero.
As leis que regem o uso dos recursos hídricos do aquífero Ogallala nos outros
estados são diferentes. No estado do Novo México, por exemplo, os poços nesse
aquífero são bastante esparsos entre si e no Kansas existem programas de recarga.
Os aspectos relativos à qualidade de água no Ogallala ainda não foram bem
explorados e não há ainda observações que indiquem influência das atuais
atividades, pois se acredita que a influência das atividades praticadas na superfície,
devido às características físicas do aquífero, ainda não foi suficiente para atingir o
lençol freático desde que essas atividades foram iniciadas.
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Embora seja notória a predominância da explotação de água do aquífero
Ogallala como principal fonte hídrica da região, existem ações que buscam
promover alternativas para uso dos recursos hídricos, como a captação de água de
chuva. Uma das organizações que busca isso se chama Ogallala Commons
(endereço na Internet: http://www.ogallalacommons/).
Em outras regiões do Texas as condições em relação ao uso dos recursos
subterrâneos são diferentes, tanto por motivo das diferentes características do solo
quanto dos diferentes índices pluviométricos. No caso do aquífero que abastece San
Antonio, por exemplo, a recarga a cada ano é de vital importância para que níveis
sejam suficientes para o abastecimento urbano. Quando o governo verifica, através
das previsões climáticas, que o ano seguinte tem elevada probabilidade de ser seco,
então são realizados acordos comerciais para que os agricultores dessa região
utilizem de maneira mais moderada a água desse aquífero para irrigação, esses
acordos incluem incentivos financeiros e cultivo de culturas que demandam menos
água. Em caso disso ser detectado mais próximo às épocas de plantio, então o valor
as vantagens econômicas para os agricultores tendem a aumentar, pois eles já
demandaram mais tempo planejando os plantios do ano em questão.
Embora haja iniciativas que promovam a articulação entre órgãos relacionados a
recursos hídricos, como citado no levantamento documental, alguns aspectos são
falhos. Um exemplo disto é o Safe Water Drink Act e o Clean Water Act, diferentes
leis federais nos EUA que são endereçadas a tratar de muitos aspectos em comum
e que não são totalmente integradas.
Em relação à propriedade dos recursos hídricos, os governos estaduais detém a
propriedade das águas superficiais, mesmo quando essas águas se remetem a
corpos hídricos transfronteiriços. Já o uso da água subterrânea é, em geral,
outorgado sem restrições de vazão, mas sim nível da água nos poços a longo prazo,
para o proprietário do terreno o qual a fonte hídrica se encontra.
4. Considerações finais
Atualmente a captação de água de chuva no Texas possui uma maior promoção
nas áreas urbanas e, de acordo com o que foi verificado, depende, para sua adoção
em larga escala, de incentivos governamentais. Embora esse estado ainda tenha
muito que avançar nesse tema, muito já foi feito e há muitas outras iniciativas em
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desenvolvimento. Dentre os pontos de destaque podemos observar uma razoável
sintonia entre os órgãos do governo que tratam de qualidade e de quantidade dos
recursos hídricos, a exigência de acompanhamento técnico nos empreendimentos,
um bom acervo técnico fornecido pelo governo para o projeto dos sistemas de
captação de água de chuva, iniciativas de incentivo para a aquisição e instalação
dos sistemas em alguns distritos e rigor na proteção sanitária dos sistemas.
Diante de toda a avaliação realizada, podem-se destacar como pontos
importantes para contribuição do Early Warning System em desenvolvimento:
É extremamente importante a geração de mapas com cenários de
demanda, volumes das cisternas, riscos de desabastecimento, qualidade de água,
dados sobre água subterrânea e outros tipos de informação que deem suporte ao
processo decisório dos gestores, organizações e usuários dos recursos hídricos;
É necessário considerar o desvio das primeiras águas na concepção dos
sistemas de captação de água de chuva e nas simulações de balanço hídrico
realizadas nas cisternas, como também deve-se considerar diferentes quantidades
de água que se deseja desviar;
As variáveis nível mínimo de água nos poços e distância mínima entre eles
deve ser considerada no planejamento para perfuração, monitoramento e utilização
de poços;
A gestão dos recursos hídricos, principalmente subterrâneos, é realizada
de maneira diferenciada para cada realidade existente no Texas, obedecendo às
características locais que os envolvem;
Os resultados de estudos relacionados a metodologias de aproveitamento
de recursos hídricos não convencionais devem embasar propostas, análises e
diagnósticos para suporte na elaboração de leis e planejamento de ações pelas
agências governamentais, entre outros órgãos.
Além da obtenção de todas as informações e contatos realizados para
cumprimento dos objetivos prescritos no plano de trabalho, dá-se destaque aos
seguintes resultados:
As atividades de campo foram integradas às pesquisas do estudante de
agronomia Marcelo Osório Wallau, estudante da UFRGS e que na época estava em
17
intercâmbio estudantil, sendo aluno regular da TTU. Essa parceria permitiu maior
facilidade para o desenvolvimento das atividades;
Está em produção um artigo intitulado “Rainwater Harvesting Technology
and Policies in Semiarid Regions -- Paraiba (Northeastern Brazil) and Texas
(Southwestern United States) Case Study”, fruto desta pesquisa realizada no Texas,
para a Segunda Conferência Internacional em Clima, Sustentabilidade e
Desenvolvimento em Regiões Semiáridas (ICID 2010);
O conjunto de informações coletadas relacionadas ao aproveitamento de
água de chuva permitiu uma percepção de como esse tópico é tratado em uma
região seca e inserida em um contexto social e econômico diferente do Semiárido
Brasileiro. Esse fato foi de grande contribuição para o desenvolvimento da
dissertação que está sendo desenvolvida pelo aluno Rodolfo Nóbrega e que tem
como objetivo analisar a gestão do aproveitamento desses recursos hídricos, ditos
não convencionais, no Brasil e realizar propostas também baseadas em
experiências internacionais.
5. Bibliografia
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<http://www.legis.state.tx.us/tlodocs/81R/analysis/html/HB04299E.htm>. Acesso em:
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