De Porsche, franceses `fogem` para a Bélgica

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De Porsche, franceses `fogem` para a Bélgica
Santos, (24) de Setembro de 2012
De Porsche, franceses 'fogem' para a Bélgica
A Bélgica virou um dos destinos preferenciais de uma leva de refugiados que
chegam em carros de luxo, ostentam relógios caros e não são capazes de viver
sem o champanhe da terra natal. Em cada vez maior número, milionários
franceses fazem as malas e partem em direção a países que não aplicam
taxação sobre a fortuna, como Suíça e Reino Unido. A diáspora dos ricos teve
início nos anos 80, mas o plano do presidente socialista François Hollande de
taxar em 75% rendimentos superiores a € 1 milhão por ano acelerou o
processo. "Os impostos e taxas estão cada vez mais altos na França, e
aumentou muito a procura de cidadãos muito ricos que querem deixar o país
desde a vitória de Hollande", disse o advogado suíço Philippe Kenel, que tem
escritórios em Paris, Genebra e Bruxelas.
Kenel é autor de um livro que ensina os passos para milionários buscarem
exílio fiscal no exterior. O assunto elevou a temperatura do debate político na
França após a revelação de que Bernard Arnault, o homem mais rico do país,
pediu cidadania belga. O dono do conglomerado de luxo Louis Vuitton morará
no Uccle, subúrbio elegante de Bruxelas. Ali, os franceses representam 10% da
população (79 mil habitantes), segundo o prefeito Armand De Decker, mas
transformaram de tal maneira a paisagem que restaurantes, cafés e livrarias
fazem do Uccle uma versão local do Bois de Boulogne, uma das regiões mais
exclusivas de Paris.Os milionários vivem em casas de dois ou três pisos, em
alamedas repletas de pinheiros. No bairro, há um liceu francês para que os
filhos dos expatriados estudem pelo mesmo currículo da terra natal. Dos 2.700
estudantes de 5 a 18 anos, 70% nasceram do outro lado da fronteira, segundo
a direção da escola.
Ironicamente, o comércio de luxo do Uccle está concentrado numa rua
chamada Waterloo, que lembra a derrota definitiva de Napoleão Bonaparte, em
1815. Grifes como Dior, Gucci e Chanel são onipresentes nas vitrines. Uma loja
de perfumes se chama Ici Paris ("Paris é aqui"). O principal supermercado do
bairro, com prateleiras repletas de champanhe e de foie gras, emula o Bon
Marché, célebre templo do consumo na Rive Gauche parisiense. "Aqui há um
atrativo que nenhum outro país tem para os franceses: se ficarem nostálgicos,
estão a apenas uma hora e 20 minutos de trem de Paris", declarou Suzane
Salens, dona de uma imobiliária especializada em casas de alto padrão.
TRÂNSITO DE PORSCHES
Os "expatriados fiscais", como são chamados, evitam os jornalistas. A Folha
teve negados os seus pedidos de entrevista. Em parte, esse comportamento
deriva da controvérsia provocada por Bernard Arnault. O bilionário francês virou
um dos assuntos mais candentes no país, tema de editoriais da imprensa e
capa de jornais satíricos. Sindicatos de esquerda promoveram uma grande
manifestação, que reuniu entre 8.000 e 10 mil pessoas em Bruxelas no dia 14
de setembro, segundo a polícia e os organizadores. Pediam "justiça fiscal" e o
aumento dos impostos dos ricos, para que o país não virasse o santuário dos
"rentistas franceses".
O efeito imediato foi um gigantesco tumulto no normalmente tranquilo trânsito
da capital belga. A reportagem levou 90 minutos para atravessar os oito
quilômetros que ligam o Uccle ao centro de Bruxelas, presa em um
engarrafamento de Porsches, Jaguares e Land Rovers.
Fonte: ”Folha de São Paulo”
Publicado em: 23/09/2012
Atenciosamente,
Orival da Cruz
Presidente