Espaços residenciais em Belo Horizonte edificados na

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Espaços residenciais em Belo Horizonte edificados na
Espaços residenciais em Belo Horizonte edificados na década de 1960/70: uma demanda por soluções
adequadas às necessidades atuais
Julho 2014
Espaços residenciais em Belo Horizonte edificados na década de
1960/70: uma demanda por soluções adequadas às necessidades
atuais
Charles Junio da Cruz – [email protected]
Master em Arquitetura - MABEH002
Instituto de Pós-Graduação e Graduação – IPOG
Belo Horizonte, MG, dezoito de março de dois mil e treze.
RESUMO
Este artigo resulta da preocupação com a qualidade de vida das pessoas devido ao
incompatível dimensionamento dos espaços edificados na capital mineira em épocas
passadas e a demanda por soluções para otimização destes espaços, tendo em vista a
realidade de seus ocupantes atuais. Como isso interfere na funcionalidade e na relação entre
o usuário e o ambiente? Há a hipótese de que os espaços construídos cada vez menores e
padronizados, dificultam a personalização do ambiente por parte do usuário. Sendo assim,
objetiva-se analisar o dimensionamento dos espaços, o uso de materiais, mobiliário, cores,
texturas como soluções projetuais para alcançar o bem-estar do indivíduo. Para isso, foram
feitas pesquisas bibliográficas sobre o tema, nas obras de Clarisse Mancuso, Gleice
Azambuja Elali, Julius Panero e do professor Luiz Mauro do Carmo Passos, dentre outros,
que trouxeram embasamento teórico para compreensão do assunto abordado, além do estudo
de caso exemplificado através do projeto de um apartamento da época de 1960/70 de
aproximadamente 100m² no bairro Nova Suíça que foi adequado por um profissional da área
de Desing de Interiores para atender às necessidades de seus moradores atuais. Os
resultados demonstram que os ambientes devidamente planejados e adaptados aos hábitos,
costumes e rotinas dos moradores, oferecem maior conforto e contribuem significativamente
no bem-estar dos mesmos. Conclui-se que é indispensável um profundo estudo com vistas à
projetação do melhor leiaute possível e escolha dos objetos e materiais para esses espaços, a
fim de proporcionar uma melhor relação entre o individuo e sua moradia, seu lar.
Palavras chave:
contemporâneas.
arquitetura
de
interiores.
otimização.
intervenção.
moradias
1. Introdução/justificativa
Este artigo foi elaborado tendo em vista a constatação de que apartamentos construídos em
Belo Horizonte nas décadas de 1960/70 não atendem às demandas de seus atuais usuários,
principalmente porque as exigências de moradias para a classe média daquela época não são,
em razão de transformações sociais, culturais, técnicas e econômicas, as mesmas da nossa
sociedade atual contemporânea, das décadas de 2000/2010.
A questão a ser investigada é a viabilidade de adequação de espaços residenciais cujos
ambientes pequenos e separados, como cozinhas, salas de estar e salas de jantar, agora se
transformam, se integram, como fator de agregação social e familiar.
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 7ª Edição nº 007 Vol.01/2014 Julho/2014
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adequadas às necessidades atuais
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O problema é identificar como isso interfere na funcionalidade e na relação entre o usuário e o
ambiente construído, atentando para a hipótese de que espaços cada vez menores e
padronizados dificultam a personalização do ambiente por parte de seu usuário. Com base em
pesquisas de Clarisse Mancuso, Gleice Azambuja Elali, Julius Panero, do professor Luiz
Mauro do Carmo Passos, dentre outros, busca-se idenficar as novas funções de cada ambiente
dentro de casa e a relação desses ambientes com o comportamento humano. Em análise
específica, será apresentado um apartamento no bairro Nova Suíça, em Belo Horizonte. Esse
imóvel caracteriza-se daquela forma, ou seja, foi edificado visando ao atendimento das
necessidades de dimensionamento dos ambientes que faziam jus à realidade da época (década
de 1960/1970), evidenciando, em razão da quantidade de pequenos cômodos, a falta de
preocupação das construtoras em apresentar soluções voltadas ao bem estar dos ocupantes.
Tal situação já era vislumbrada há tempos por Oscar Niemeyer quando dizia:
O que nós queremos na Arquitetura com a mudança na sociedade não é nada
especial: as casas de luxo vão ser menores. Os grandes empreendimentos urbanos...
vão ser maiores ainda porque todos deles vão participar. (NIEMEYER, 2007) Em
entrevista ao Jornal da Globo em 2007. http://g1.globo.com/poparte/noticia/2012/12/veja-frases-marcantes-de-oscar-niemeyer.html
Na tentativa de solucionar essa situação, que incomodava os atuais moradores do
apartamento, foram aplicadas técnicas da Arquitetura e de Design de Interiores, as quais,
veremos, apresentar-se-ão como fator preponderante para integração a esse novo contexto.
2. O habitat humano
Desde os primórdios da civilização o homem sempre procurou abrigar-se em um habitat em
busca de maior conforto. Na evolução da moradia, o homem veio aprimorando cada dia mais
em estratégias que poderiam lhe proporcionar melhor qualidade de vida.
Dessa época distante até os dias de hoje o homem evoluiu e assim a necessidade que seu
habitat acompanhasse tal evolução. A forma de morar está diretamente ligada ao local onde
esse habitat está inserido, ao clima, à cultura da região e, especificamente ao morador em
questão.
Antigamente os espaços eram concebidos de forma geral, feito para atender certa categoria. O
fator pessoal não pesava nas escolhas e definições dos espaços. A realidade atual é diferente:
o centro das atenções é a pessoa, o ocupante do local que habita.
Segundo Clarisse Mancuso (1998:19); “Hoje, a especificação dos espaços está muito pessoal,
o homem está qualificado nesse processo e o valor dado a ele e ao seu “bem-estar” é impar. A
arquitetura de interiores, assim como a decoração, traça uma trajetória em que a relação
pessoa/espaço é intima e pessoal”.
Tratando do estudo da relação pessoa-ambiente, Gleice Azambuja Elali (1997) afirma:
Em Arquitetura, por sua vez, aos poucos observa-se o deslocamento da ênfase na
análise de aspectos estéticos/construtivos/funcionais do edifício para a preocupação
com a percepção/satisfação dos usuários e com as implicações das intervenções em
termos de paisagem, propiciando a elaboração de propostas mais centradas no
indivíduo e/ou no social e nas implicações ecológicas das interferências realizadas.
(ELALI, 1997:349-362).
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Para se chegar nesse contexto, muito tempo se passou, com estudo e trabalho árduo para
quebra de antigos paradigmas, conceitos e pré-conceitos. Ainda de acordo com o ensinamento
de Mancuso:
...a arte de decorar não nasceu com o homem. O pensamento da estética associada ao
conforto surgiu bem posterior. Antigamente as casas eram somente “mobiliadas”, a
sala de visita era somente usada em dias de festa, os quartos tinham a única função de
“dormir”, e a cozinha funcionava de modo muito diferente aos dias de hoje.
(MANCUSO, 1998:19).
Com o processo evolutivo do homem, a agitação da vida moderna o leva a procurar em sua
morada um lugar de repouso e lazer onde possa se refugiar dos problemas do dia a dia. Um
lugar que possua atributos estéticos ligados á funcionalidade, capaz de trazer bem estar e
tranquilidade.
Mas como o homem comum pode conseguir tudo isso apenas com o feeling ou experiência
própria, sem conhecimentos técnicos aprofundados? E como ultrapassar as dificuldades
impostas por crises econômicas, mercadológicas e, por outro lado, até mesmo, o
enfrentamento ao chamado capitalismo selvagem, que impôs e ainda impõe, ao brasileiro em
geral grandes limitações quando se trata de moradia, e mais, moradia com qualidade? A
resposta, mesmo que um pouco breve, está na constatação de que devido à crescente
acessibilidade à arquitetura de interiores, um maior número de pessoas pode usufruir desse
bem estar.
No entender de Mancuso:
As concepções de planta baixa evoluem com as necessidades do homem e do
mercado, elas têm características regionais e, em geral, recebem acabamentos
neutros, onde a criatividade pode transgredir posteriormente. Grande crítica pode ser
feita ao processo construtivo atual, em que o lucro é o ponto básico.
Inúmeras são as situações em que a intervenção posterior se faz necessária em
detalhes que poderiam ter sido executados anteriormente e não o foram por pura
economia. Isso acarreta um gasto maior para aquele que, inconformado, opta pela
resolução do problema.
As residências uni familiares podem ser projetadas em função da família que,
efetivamente, vai ocupar o espaço. Já os apartamentos possuem uma linha de projeto
mais genérica que, posteriormente, recebe a adaptação do ocupante por intermédio
do arquiteto de interiores ou decorador. MANCUSO (1998:19).
É importante perceber que o habitat humano residencial, com todas as funções de seus
espaços, que foram sofrendo alterações, evoluções e talvez até involuções, na verdade, está
cada vez mais valorizado como local onde o homem deve usufruir com qualidade. É nesse
ambiente que desenvolve um significativo número de suas atividades habituais as quais, por
outro lado, servem como fator de base, até mesmo, para o exercício de suas atividades extra
moradia.
3. Analogia entre as funções ambientes em épocas passadas e nos dias atuais
O modo de vida do século passado era bastante diferente do nosso mundo atual. Fácil de
compreender se lembramos da função da mulher na sociedade.
A estrutura do início do século XX reservava grandes áreas às cozinhas, local onde a mulher
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permanecia por muito tempo e também era o local de encontro da família, fosse para as
refeições ou fosse para horários diversos. Os banheiros eram em números reduzidos, isso
quando faziam parte do corpo da casa e as salas só eram usadas em dias especiais.
Conforme demonstra Mancuso:
Os centros das casas, na Idade Média, era uma sala para todos os fins, onde era
realizada a maior parte da vida familiar e, inclusive da vida profissional. Em outras
épocas, a sala de estar se tornou um salão e depois subdividiu-se os ambientes em: sala
de jantar, sala de almoço, escritório, sala de música, biblioteca e assim por diante.
Hoje em dia, essa separação sofreu uma alteração, a sala voltou a ter múltiplas
funções. Rasgar os espaços se tornou uma tônica.” (MANCUSO, 1998:27).
O mundo moderno fez com que as necessidades mudassem e, hoje, vemos áreas diminutas,
pois devido a grande demanda de mão de obra especializada e a grande valorização dos
terrenos o custo da construção elevou-se significativamente. Logo, ambientes que eram
pequenos e separados como cozinha, sala de estar e sala de jantar, agora se integram.
O número de eletrodomésticos aumentou, agora, associam estética á funcionalidade, fazendo
com o que o próprio aparelho se torne uma peça decorativa de destaque. A adequação dos
mesmos às cozinhas compactas atuais presentes nas moradias dos séculos XX e XXI trazem
soluções bastante criativas.
Á área intima ficou muito reduzida, os dormitórios agora viraram suítes e servem basicamente
para dormir, estudar, ler.
As famílias se viram na necessidade de desfazer-se de móveis grandalhões, passando a lançar
mão de peças multiuso, tais como pufs que funcionam como mesinhas ou banquinhos.A
expansão da área social vem com o papel de resgatar momentos de união dos moradores que
ali habitam um novo espaço onde tudo acontece desta forma a privacidade poderá ser
encontrada nos dormitórios e banheiros. O complicador é que para se adequarem a essa nova
realidade, tiveram que abandonar seus gostos e experiencias vividas, uma vez que não
possuíam conhecimento técnico, nem mesmo acesso a profissional da área da Arquitetura e
de Design de Interiores, profissões pouco difundidas em décadas passadas. Constatava-se a
falta de personalidade aos ambientes e elementos mais aconchegantes que provocassem a
interação da família, bem como amigos e visitantes.
Sentindo-se desconfortáveis, moradores com necessidades próprias do terceiro milênio, já
com a possibilidade de contar com a ajuda de profissionais especialistas, solicitam
intervenções no sentido de que os ambientes sejam adaptados aos hábitos, costumes e rotinas,
oferecendo maior conforto e contribuindo na melhoria de seu bem estar.
Mas essa é a realidade atual, em outros tempos, como visto, era muito diferente.
Como o objetivo deste artigo é a demonstração da necessidade de adequação dos ambientes
residenciais às novas funções constatadas, será apresentado no capítulo 6, um apartamento da
época de 1960/70 (já pequeno para a sua época), edificado no bairro Nova Suíça, em Belo
Horizonte. Esse imóvel possuía muitos, mas pequenos cômodos, evidenciando a falta de
preocupação das construtoras em apresentar soluções voltadas ao bem estar dos ocupantes. Na
tentativa de solucionar essa situação, que incomodava os atuais moradores do apartamento,
foram aplicadas técnicas da Arquitetura e de Design de Interiores, as quais, veremos,
apresentar-se-ão como fator preponderante para integração a esse novo contexto.
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4. O ato de projetar considerando a relação ambiente construído X comportamento
humano
Segundo Francis D.K. e Corky Binggeli:
Arquitetura de interiores e o planejamento, o leioute e o projeto de espaços internos
as edificações. Esses ambientes fisicos satisfazem nossa necessidade básica de
abrigo e proteção; eles estabalecem o palco para a maior parte de nossas atividades e
influenciam suas formas; nutrem nossas aspirações e exprimem as ideias que
acompanham nossas ações; afetam nossas vistas, humores e personalidades. O
objetivo da arquitetura de interiores é, portanto, a melhoria funcional, o
aprimoramento estético e a melhoria psicológica dos espaços internos. (CHINGBINGGELI, 2006:44).
A relação ambiente construído e comportamento humando está ligada às estruturas sociais,
culturais e tecnológicas de uma época, as quais geram modificações no modo de vida do
usuário. A constatação desta interrelação é de suma importância, especialmente nos
momentos de se projetar ambientes, em que o profissional da arquitetura de interiores deve
considerar, além dessas estrutura, outros apectos, para alcançar o tão desejado bem estar na
utilização do espaço construído.
Nesse sentido, Francis D.K. e Corky Binggeli (2006:06). também esclarecem que; “Os
projetistas de interiores profisssionais aprimoram a função e a qualidade dos espaços internos,
buscando proteger a saúde, a segurança e o bem-estar do público, aumentar a produtividade e
melhorar a qualidade de vida”.
Um projeto arquitetônico deve contribuir influenciando a percepção e congnição dos espaços,
sem, entretanto, modificar o comportamento do homem de maneira a alterar-lhe a
personalidade. No caso da moradia, objeto de estudo do presente artigo, a funcionalidade, os
aspectos térmicos, acústicos, visuais, dentre outros, devem ser minuciosamente planejados e
adequadamente interpretados, sob pena de desvio do objetivo principal.
Buscando a criação de espaços otimizados funcionais e confortáveis, inclusive estéticamente,
o ato de projetar demandará a utilização de conhecimentos técnicos, cientificos e artisticos
específicos sem se afastar da compreensão de que o usuário interrelaciona-se a todo instante
com seu ambiente.
O arquiteto, arquiteto de interiores e/ou designer de ambientes, não pode correr o risco de
desenvolver seus projetos a partir de um ideal próprio, implicando sua atitude muitas vezes
em uma espera autoritária e/ou ingênua de que a sua ordem espacial se torne a ordem de toda
uma sociedade, esquecendo-se do vínculo entre arquitetura e o homem. Mas isso pode e de
fato até acontece com bastante constância. Entretanto, como lembra Robert Sommer, essa
percepção passa pelo fato que:
...em sua prática, aprende a ver o edifício sem pessoas em seu interior. Fotografias
muito coloridas em revistas brilhantes mostram salas e corredores vazios, mesas
cheias de pratos, prataria e copos de vinho, um livro aberto no sofá, o fogo
creptando na lareira, mas nenhum sinal de quem quer que seja em parte alguma.
(SOMMER, 1973:3).
A interrelação ambiente construído x comportamento humano, é tão eloquente e tão afetada
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por todos aqueles fatores, que pode ser alterada com o passar de poucas décadas. A título de
exemplo, pode-se citar a relação mantida pelos jovens de hoje em dia com os seus
quartos/dormitórios, local onde permanecem um tempo muito maior que os jovens de décadas
passadas permaneciam. Tendo em vista o excessivo número de horas em que passam
“plugados” em seus computadores, nos dias atuais, há a necessidade de se projetar nos quartos
mobiliário específico para receber tais equipamentos, com atenção especial para a ergonomia
e conforto, sob pena de inviabilizar a função atual desse ambiente. Essa situação não se
verificava anteriormente, pois os jovens de outras décadas usavam do quarto quase que
unicamente para dormir. Isso demonstra como estruturas tecnológicas influenciam na
mudança de comportamento das pessoas em relação ao ambiente utilizado.
Dependendo das escolhas, ou propostas indicadas pelos profissionais da arquitetura de
interiores, para um determinado ambiente, diferentes sensações podem causar no usuário do
espaço. A escolha de cores por exemplo pode mudar os sentimentos e atitudes de forma a
propiciar prazer ou incômodo. Marie Louise Lacy (2007:17), em sua obra “O Poder das Cores
no Equilíbrio dos Ambientes” apresenta a seguinte experiência executada por um programa de
televisão canadense sobre como as pessoas reagem às diferentes cores: os produtores pintaram
ambientes de cores destintas e instalaram uma câmera em cada aposento para observar a
reação das pessoas que participaram da experiência. Na sala vermelha as pessoas mal falavam
e se movimentavam rapidamente como se estivesse com pressa. No aposento laranja, as
pessoas ficaram muito animadas e expressivas, diziam que a cor as faziam sentir-se calorosas.
No azul todos falaram baixo e movimentaram-se devagar. Alguns disseram que a cor lhes
davam uma sensação de paz e tranquilidade. Ou seja, constatou-se que a reação de um
indivíduo tem base também nas cores, daí poder-se também reconhecer a importância das
mesmas na relação ambiente construído x comportamento humano.
Em outras palavras, o principal objetivo da edificação deve ser garantir a qualidade de vida de
seu usuário. Sob essa ótica, compreendendo-se os diversos e diversificados fatores dos
ambientes construídos que influenciam no comportamento humando, é crucial que não mais
seja encarado apenas a partir de suas característica físicas (construtivas), mas
avaliado/discutido enquanto espaço “vivencial”.
É como leciona Edward Hall (1966:166-167); “O homem e suas extensões constituem um
sistema inter-relacionado. É um erro agir como se os homens fossem uma coisa e sua casa,
suas cidades, sua tecnologia, ou sua lingua, fossem algo diferente.”
5. Recorte Brasil Décadas 60 e 70: a arquitetura de Belo Horizonte e suas
influências
Observar as características da arquitetura em Belo Horizonte é ver um retrato das
transformações sociais, culturais, técnicas e econômicas da nossa sociedade. Além disso, é um
resumo que reflete o que aconteceu no Brasil.
Belo Horizonte, criada no final do século XIX, de início segue o modelo parisiense com seu
Ecletismo e Art-Nouveau, com seus rebuscamentos e ostentações, mas muita arte e
artesanato.
A cidade cresce e no período pós-primeira guerra (1914-1918) novas tipologias surgem,
frutos de transformações artísticas, técnicas e econômicas que caminham para a
geometrização e simplificação. Entramos numa fase em que surgem ao mesmo tempo idéias
cúbicas, ditas também futuristas (que serão depois chamadas de Art-Deco), ao lado de
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influências trazidas pelo cinema, revistas, preferências individuais e manifestações
nacionalistas, como o Neocolonial. Assim é comum um “Estilo Normando”, “Missões”,
“Mourisco”, etc.
A industria cresce, aumenta a população, novas classes surgem juntamente com um crescente
empreendedorismo e Belo Horizonte na década de 30 inicia sua verticalização.
Aos poucos as idéias modernas se impõem e o adorno é abandonado. A indústria da
construção passa pra uma fase mais técnica e diversificada.
A cidade continua sua caminhada e se torna um pólo de atração, exigindo cada vez mais
habitações, serviços e infra-instrutura.
Os planos desenvolvimentistas da “Era J.K.” proporcionaram novas visões construtivas,
segundo os princípios do movimento moderno.
Mas esta evolução, fica sujeita ás imposições da industria de massa e vai abandonando aos
poucos os ideais sociais modernos com suas experiências formais e funcionais para se tornar
produto técnico, atendendo à oferta, ao lucro e ocupação agressiva do solo.
Esta situação espelha o período que vai dos anos 60 até meados de 70.
Algumas características orientam a produção em massa, buscando padronizar não só espaços
internos, mas também elementos na composição volumétrica que as vezes agradam, as vezes
trazem monotonia mas “atendem” as necessidades da crescente população e lucros
financeiros.
É nesta fase que certos bairros mais antigos da zona sul e em outras regiões, recebem prédios
de três, quatro até sete pavimentos, como é o caso do bairro Santo Agostinho, Barroca, Carlos
Prates, Padre Eustáquio, Nova Suiça e outros.
As tentativas de fazer algo bem “diferente” no período moderno cedem lugar á composições
mais comportadas refletindo quase uma preocupação em série.
A forma não é mais conseqüência da função em alguns casos, mas espelha uma maior
preocupação com aproveitamento de espaços visando lucros, atendimento das leis da
prefeitura, facilidades estruturais e acabamentos.
O professor Luiz Mauro do Carmo Passos, em seu livro “Edifícios de Apartamentos – Belo
Horizonte, 1939-1976” classifica 3 fases á partir dos anos 30 na construção de prédios
residenciais:
1ª Fase Cubo-Futurista (1939-1952)
2ª Fase Racional-Plasticista (1953-1962)
3ª Fase Funcional-Tecnicista (1962-1976)
A arquitetura do prédio onde foi estudado o apartamento modelo enquadra-se neste último
período. Ele expressa características do final dos anos 60 e início de 70.
De acordo ainda com o livro citado, o professor Luiz Mauro Passos comenta:
“...o biocromatismo, composto em geral por panos brancos e por cores
sóbrias, tornou-se uma configuração largamente utilizada ao acabamento dos
edifícios da 3ª fase...”
“...o arranjo dos planos das fachadas ensejou um biocromatismo onde a cor
branca compareceu nos panos verticais, mais contínuos e fechados, enquanto
uma cor mais escura (verde-castanho) foi utilizada para o revestimento das
faixas de alvenaria entre as janelas. Com isso a predominância horizontal
característica da 2ª fase foi substituída pela ênfase nas linhas verticais, o que
acentuou a sensação de peso no edifício...”. (PASSOS, 1998:76).
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As características do prédio onde situa o apartamento modelo analisado reflete o comentário
acima.
Figura 1 – Fachada lateral do prédio localizado no bairro Nova Suíça
Fonte: Fotografia tirada pelo autor do presente artigo (Maio/2013)
Localizado numa esquina sem afastamentos frontais, ele mostra como uma caixa ocupando
todo o terreno. Nesta época as construções podiam ser feitas sem afastamento frontal
(condição mudada pela nova lei de uso e ocupação do solo de 1976).
A estática da caixa é dinamizada por faixas verticais possibilitada pelos balanços dos armários
embutidos, formando volumes salientes, alongando a composição.
Atualmente estão revestidos com cerâmica com desenho geométrico em tons bege e azul, em
harmonia com a cor geral do prédio que segue outra tonalidade bege.
Auxiliando o sentido vertical temos as faixas janela/peitoril alternando vidro e cerâmica.
A sequência das janelas quadradas do banheiro também contribuem com uma modulação.
Luz e sombra, devido ás saliências, conforme a hora ajudam a destacar elementos
construtivos evitando que o peso visual e a monotonia prevaleçam.
Todo o conjunto está assentado em pilotis, que formam a garagem, onde portões mal
resolvidos prejudicam um pouco a estética, em uma das fachadas. Melhor pensado poderia
funcionar como base, de onde os elementos verticalizados subiriam ate o topo, feito com
platibanda, sem beiral saliente (ausência de beirais foi também uma característica do período).
Na outra fachada a base é um pano de parede revestido em pedra mármore.
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Figura 2 – Fachada frontal/ lateral do prédio localizado no bairro Nova Suíça
Fonte: Fotografia tirada pelo autor do presente artigo (Maio/2013)
Este padrão foi largamente usado em BH, variações só nas cores e revestimentos.
Foi uma das respostas ás exigências de moradias para a classe média da época, atendendo ao
gosto comum, tentando ser “agradável plasticamente” e satisfazer o aspecto econômico para
uns e lucrativo para outros.
6. O apartamento exemplo: o desafio de transformar muitos e pequenos ambientes
em ambientes multifuncionais
O edifício onde está o apartamento que hoje é residência de dois irmãos foi construído de
acordo com as necessidades de uma residência plurifamiliar nos idos de 1960/70.
Primeiramente, um briefing foi realizado, onde se buscou a colheita de informações relevantes
para conhecimento do problema a ser enfrentado bem como a criação de um roteiro de ação
para alcançar as soluções que os clientes procuravam, mapeando-se o problema e gerando
soluções. Por meio desta peça de estudo, constatou-se que um dos irmãos tem 28 anos e é
responsável pela parte administrativa de uma empresa que revende materiais bio-químicos e
adora receber os amigos em recepções e jantares. Sua irmã, nutricionista, também não abre
mão de comer bem e compartilhar momentos enquanto cozinha. Com esse perfil em mãos,
sob a inspeção da arquiteta Tânia Eloísa, em fevereiro de 2012, foi desenvolvido pelo autor
do presente artigo um projeto prático e contemporâneo no apartamento de aproximadamente
100m².
Como dito anteriormente, na época em que foi edificado, devido às conjunturas econômicas,
as edificações continham muitos, mas pequenos cômodos, o que nem sempre se configura
uma solução adequada. Entretanto, é o que as cidades, que se agigantavam, permitiam em
termos de construções.
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Se antes dessa época, viviam-se em casas de 180/220m², com um só banheiro que as vezes
estavam voltados para a cozinha, mas atendiam as necessidades da época e que proporcionava
conforto para famílias mais numerosas, nos idos de 1960/70 isso foi totalmente modificado.
O apartamento em questão nunca tivera sido modificado estruturalmente e apesar de já bem
danificados pela ação do tempo, ainda possuia todos os acabamentos e revestimentos da sua
época. Como pode ser visto na planta em anexo (página 18), este, como dito, possuia vários
mas pequenos comodos. A área da lavanderia era de 5m²; da despensa (antigo quarto de
empregada) 3,5m²; da cozinha 4m²; do lavabo 1m² e da sala de estar 10m². Os quartos
contavam com armários embutidos, o que de fato se torna uma boa solução na busca de
espaço, mas não possuiam suítes pois essa não era a realidade da época. O quarto “1” tinha
10m² e o quarto “2” 7,5m² e ambos possuem janela com vista para a área externa. O único
banheiro de 3,5m² era desprovido de boa circulação e ainda possuiam louças e metais daquele
tempo. O box do banheiro era de plástico e já em péssimas condições de uso, sua área muito
reduzida (75cm x 90cm). Na lateral esquerda do apartamento está o corredor que dá acesso a
área externa descoberta de 35m² do apartamento.
Caracterizado o imóvel, vem a demanda: os proprietários solicitaram uma reforma para que os
ambientes se tornassem amplos e flexíveis. Foram necessários muitos estudos do espaço, pois
a metragem reduzida se constituía num desafio.
Dentre as diversas solicitações dos irmãos estava um espaço para que ambos pudessem
cozinhar e ao mesmo tempo socializar um com ou outro quanto estivessem juntos em casa e
com seus convidados, sem que perdessem a privacidade quando necessário. A alternativa foi
derrubar paredes para que o ambiente (estar/jantar/cozinha) virasse um só e também
desenvolver móveis flexíveis que pudessem ser bem aproveitados em diversas situações.
Acompanhou toda a projetação as orientações de Francis D.K. e Corky Binggeli (2006:24),
segundo o qual; “A cor, a textura e o padrão das superfícies de paredes, pisos e tetos afetam
nossa percepção de suas posições relativas no espaço e nossa consciência das dimensões,
escalas e proporções de um recinto.”
Com esse objetivo, foram efetuadas as seguintes intervenções:
a. Na área social e de serviço: cozinha, lavanderia, despensa, lavabo e sala de estar
Removeu-se as paredes que separavam a cozinha da lavanderia; o lavabo e a despensa da área
de estar, fazendo que tudo virasse um único ambiente, integrando cozinha, sala de jantar e
estar.
Com a integração dos ambientes tentou-se pensar numa forma estratégica de garantir mais
ênfase a um ambiente que ao outro, caso fosse necessário. Exemplo disso seria a possibilidade
de o usuário, caso quisesse, destacar mais a sala de estar do que a cozinha por exemplo.
Pensando assim, diferentes tipos de iluminação foram aplicados ao projeto a fim de
personalizar o ambiente, permitindo ao usuário escolher o tipo de iluminação de acordo com a
necessidade da ocasião, gerando maior conforto visual. “A iluminação e os padrões de
claro/escuro criados por ela podem direcionar nossa atenção a uma área de uma sala, tira a
ênfase de outras áreas e, portanto, criar divisões espaciais.” CHING-BINGGELI (2006:25).
Fazendo o papel de iluminação geral, grandes luminárias quadradas de acrílico branco (60x60
centímetros) com luz branca de temperatura de cor branca (5000 *kelvin) foram embutidas no
forro de gesso enquanto o pendente da sala recebeu lampadas de cor neutra (4000k). No piso,
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optou-se por porcelanato em tom escuro (preto) e com grandes dimensões (placas de 80x80
centímetros) a fim de enobrecer o ambiente. Rodapé branco, com 20 centímetros de altura
completa a estrutura, alternativa para causar a sensação de amplitude.
A bancada ilha em formato “U” faz papel fundamental de integração no ambiente que antes
era dividido em pequenos cômodos. Nela foram destacadas duas áreas: uma seca para o
preparo das refeições e outra para higienização. A bancada que acomoda o fogão foi estendida
e se transformou no espaço para saborear as refeições rápidas. A mesma possui iluminação
não aparente (foram usadas lampadas tubulares de LED, com alta eficiencia e baixo consumo
energético), o que proporcionou uma iluminação de luz ambiente, sem gerar sombras, que é
relaxante e minimiza o interesse nos objetos e nas pessoas. O tampo é de granito preto São
Gabriel e os bancos nas cores preto e branco possuem altura compatível com a altura da
bancada de refeições. Um vidro foi instalado entre a bancada e o nicho de gesso onde abriga o
exaustor, garantindo maior assepsia. Na lateral, um nicho de gesso de efeito decorativo
acomoda lampadas de LED (em formato PAR 20 e tubular) e na parte central teve um corte
criando uma “caixa” (com iluminacao neutra 4000k pontual direta) onde abriga um objeto de
destaque, criando um efeito charmoso ao ambiente (vide anexo 8).
Vários fatores foram observados para garantir a ergonomia dos usuários, altura das bancadas
da cozinha, espaços livres para circulação entre os armários, acesso aos balcões, visibilidade
adequada, bem como as projeções dos eletrodomésticos, das portas dos armários e das
gavetas foram cautelosamente calculados para atender ás dimensões humanas. Veja nas
figuras abaixo, da obra de Julius Panero (2005), que serviram de base para a projetação.
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Figura 3 – Comparações entre alcances em armários/Bancadas apoiadas em armários/Espaços livres
Fonte: PANERO, Julius
/ ZELNIK, Martin. (2005:158)
Figura 4 – Centro de mistura e preparo/Bancada de trabalho
Fonte: PANERO, Julius / ZELNIK, Martin. (2005:159)
Figura 5 – Centro Área da pia
Fonte: PANERO, Julius / ZELNIK, Martin. (2005:160)
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4–
Figura
Centro de mistura e preparo/Bancada de trabalho
Fonte: PANERO, Julius / ZELNIK, Martin. (2005:159)
Figura 5 – Balcão para comer
Fonte: PANERO, Julius / ZELNIK, Martin. (2005:220)
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Figura 6 – Área de forno e fogão
Fonte: PANERO, Julius / ZELNIK, Martin. (2005:162)
Em relação às cores adotadas nos ambientes, tem-se o seguinte: cores escuras contrastando
com cores de tons claros nas paredes e elementos de decoração de formas incomuns mas de
cores vibrantes sao contrabalanceados com outros de menor forca que estao dispostos fora do
centro da composição causando um equilíbrio ótico. O peso visual e a disponibilidade de cada
um destes elementos distintos determina a composição assimétrica no espaço.
Segundo Francis D.K. e Corky Binggeli:
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O equilíbrio alcança a unidade através da disposição cuidadosa de elementos
similares ou não. O equilíbrio assimétrico é mais ativo e dinâmico. É capaz
de expressar movimento, mudanca e ate exuberancia. Pode ser mais flexível
podendo-se adaptar mais facilmente as condições variáveis de função, espaço
e circunstâncias. CHING-BINGGELI (2006:142).
A escolha das cores teve papel importante na busca da conferir sensação de bem estar aos
moradores. Para tanto, buscou-se amparo na obra de Israel Pedrosa, segundo a qual:
“... Numa história de mais de 3 milhões de anos, desde as primeiras
manifetações de atividade humana até bem próximo de nós, o homem
descobriu e manipulou a cor e, em crescente sentido evolutivo, tornou-a o
mais extraordinário meio de projeção de sentimentos, conhecimentos, magia
e encontamento. Registro de sua evolução social, física e psíquica...”
(PEDROSA, 2008:21).
Assim, sabendo-se que influeciariam diretamente na qualidade de vida dos moradores, optouse por tons Neutros-Cinzentos, garantindo-se sobriedade, qualidade e quietude, além de
ambientação classica, natural e atemporal.
Nesse sentindo, rementendo à harmonia acromática no espaço, as paredes, em geral, foram
pintadas em tom de cor “concreto” e na parede do fundo do ambiente integrado, usou-se tinta
preta, para dar sensação de infinito, além de servir de mural para recados, pois a mesma aceita
escrita de giz.
Para o ambiente de estar que é destinado à TV e música, agora integrado à área gourmet
foram escolhidos móveis superfuncionais e sob medida, conferindo conforto e assegurando
boa circulação. Uma mesa retangular compõe o ambiente. A mesa possui cadeiras somente
nas laterais, dessa forma, pode ser usada como aparador na lateral sob o nicho decorativo
iluminado ou como mesa de jantar, trazendo flexibilidade e proporcionando espaço livre
quando for necessário em festas e recepções. Para não pesar o ambiente, optou-se por móveis
revestidos com cor de madeira natural fosca.
Quanto ao sofá, foi revestido em tom de bege claro e como não havia espaço suficiente para
um modelo com chaise, foi escolhido um modelo com assentos mais largos e retráteis. (vide
anexo 12).
A lavanderia ganhou mais espaço ao ser transferida para a área externa, integrada à grande
varanda exterior, que por sua vez, agora devidamente iluminada (foram usadas lampadas
tubulares de LED, com alta eficiência e baixo consumo energético), recebeu mesa com
cadeiras e uma bancada com tampo de granito preto, destinada a ponto de apoio de drinks e
refeições durante recepções e eventos. (vide anexo 17).
b. Na área íntima: banho e dormitórios
Uma porta elegante e imponente com frisos e puxador de leitura moderna em aço inox (igual
a da porta de entrada) foi instalada no acesso ao hall para separar a área gourmet dos quartos,
a fim de garantir privacidade durante uma eventual recepção e também harmonizar o espaço.
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No banho social, para melhorar a circulação, o bom aproveitamento do espaço e a ergonomia,
um novo layout foi criado de acordo com as especificações de Julius Panero e Martin
Zelnik(2005) para atender as necessidades dos usuarios em geral.
Figura 7 – Balcão para comer
Fonte: PANERO, Julius / ZELNIK, Martin. (2005:165)
Figura 8 – Balcão para comer
Fonte: PANERO, Julius / ZELNIK, Martin. (2005:167)
A porta de entrada foi deslocada para o lado oposto e ampliada de 70 centimetros para 80
centimetros. Logo, o chuveiro foi realocado, assim como a bacia sanitária e a cuba retangular
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de estilo moderno e atual. Para conferir a sensação de amplitude, optou-se por trocar todos os
revestimentos. O revestimento antigo da parede foi substituído por cerâmica branca, louças na
mesma cor e a bancada de granito preto São Gabriel se adequou à sofisticação do piso escuro.
Esses acabamentos remetem à sensação de leveza e sobriedade. Nichos revestidos com
espelhos garantem a amplitude no banheiro. (vide anexo 13).
À primeira vista, ter espaço livre em um apartamento de 100 m² não seria grande problema,
mas com dois moradores com funções totalmente independentes, sentiu-se a necessidade de
criar outro banheiro para atender a demanda, principalmente no período que estivessem
recebendo os amigos. Desta forma manteve-se um dos quartos do projeto original e
transformou-se o outro em suíte com um pequeno banheiro onde a bancada fica aparente.
Devido ao ganho de espaço antes pertencente à cozinha e ao lavabo, foi possível anexar um
banheiro no quarto 1, sendo que a bancada foi posicionada na área interna do mesmo, mais
uma vez integrando o espaço e transmitindo contemporaneidade ao ambiente. Optou-se
também por acabamentos neutros nas paredes e no revestimento do armário da bancada para
que o lavabo se compusesse ao quarto, já que não existiria porta ou parede separando-os. Piso
de porcelanato preto na área molhada se encontra com o piso em MDF laminado em tom de
madeira natural que reveste o restante do quarto. Parede com tijolos de vidro conferem leveza
e ajudam na distruibuição de luz natural (vide anexo 14).
Assim como em todos os espaços do apartamento, os layouts dos quartos foram
cuidadosamente observados, novamente de acordo com as medidas e orientações de Julius
Panero e Martin Zelnik(2005).
Figura 9 – Cama de solteiro/ Dimensões e espaços livres
Fonte: PANERO, Julius / ZELNIK, Martin. (2005:152)
Estas, enfim, foram as intervenções propostas e efetivamente executadas, como se pode
observar nas imangens constantes dos anexos 3 ao 17 (do “antes” e do “depois”), imagens
essas que corroboram visualmente as descrições ora relatadas.
7. Conclusão
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A relação ambiente construído e comportamento humano está ligada às estruturas sociais,
culturais e tecnologicas de uma época, as quais geram modificações no modo de vida do
usuário. Tais fatores influenciaram grandes alterações nesta relação no decorrer de poucas
décadas. Ambientes foram redimensionados e tornaram-se multi-funcionais para atender às
necessidades de uma nova era.
Constatou-se que em razão da expansão econômica, tecnológica e social, imóveis edificados
nas décadas de 60/70 em Belo Horizonte já não mais atendiam a necessidades dos moradores
desse terceiro milênio. A busca pela adequação e, principalmente, pela melhoria da qualidade
de vida dos moradores, tornou necessária a demanda por profissionais aptos a contribuir na
otimização destes espaços aplicando conhecimentos técnicos, científicos e artísticos
específicos.
Partindo-se de um briefing em que se buscou criar um roteiro de ação para alcançar as
soluções que os clientes procuravam, mapeando-se o problema e criando soluções,
apresentou-se um apartamente edificado nas décadas de 60/70.
Esse apartamento modelo, objeto de estudo do presente artigo, exemplifica a intervenção em
um ambiente já construído e como a aplicabilidade, por profissionais da área de
desing/arquitetura de interiores, de aspectos térmicos, acústicos, visuais, funcionais adaptados
influenciaram positivamente nos hábitos, costumes e rotinas de seus moradores oferecendo
maior conforto e contribuindo na melhoria de seu bem estar, para atender às necessidades de
seus moradores atuais. Os resultados apresentaram ambientes devidamente planejados e o
êxito na transformação de muitos e pequenos ambiente em ambientes multifuncionais.
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Refêrencias
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LACY, Marie Louise. O Poder das Cores no Equilíbrio dos Ambientes – São Paulo:
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Anexos
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Anexo 4
Anexo 5
Anexo 6
Anexo 6
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