cooperativismo agrícola e a construção de mercados de qualidade

Transcrição

cooperativismo agrícola e a construção de mercados de qualidade
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO – UFRPE
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EXTENSÃO RURAL E
DESENVOLVIMENTO LOCAL - POSMEX
NÍVEL MESTRADO
YASMINA PIMENTEL VICTOR JUSTE
COOPERATIVISMO AGRÍCOLA E A CONSTRUÇÃO DE MERCADOS DE
QUALIDADE: A EXPERIÊNCIA DA COOPERATIVA AGRÍCOLA NOVA
ALIANÇA NO VALE DO SÃO FRANCISCO
RECIFE, PERNAMBUCO
2013
COOPERATIVISMO AGRÍCOLA E A CONSTRUÇÃO DE MERCADOS DE
QUALIDADE: A EXPERIÊNCIA DA COOPERATIVA AGRÍCOLA NOVA
ALIANÇA NO VALE DO SÃO FRANCISCO
YASMINA PIMENTEL VISTOR JUSTE
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do
Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural e
Desenvolvimento Local (Posmex), Área de
Concentração em Extensão Rural para o
Desenvolvimento Local, da Universidade Federal
Rural de Pernambuco, como requisito parcial para
obtenção do grau de Mestre em Extensão Rural e
Desenvolvimento Local.
ORIENTADORA: Profª. Drª. Maria Luiza Lins e Silva Pires
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural e
Desenvolvimento Local (POSMEX)
RECIFE, PERNAMBUCO
2013
Ficha catalográfica
CDD 664
Juste, Yasmina Pimentel Victor
Cooperativismo Agrícola e a Construção de Mercados de Qualidade: A
experiência da Cooperativa agrícola nova aliança no Vale do São
Francisco / Yasmina Pimentel Victor Juste – 2012
82 f. : Il.
Orientadora: Maria Luiza Lins e Silva Pires
Dissertação (Mestrado em Extensão Rural e Desenvolvimento Local) –
Universidade Federal Rural de Pernambuco, Departamento de
Educação, Recife, 2012.
Inclui referências, anexo e apêndice.
1. Cooperativismo agrícola brasileiro e a Construção social de
Mercados de Qualidade 2. Qualidade: histórico e conceitos 3. a
fruticultura brasileira e a inserção do vale do São Francisco nos
mercados 4. As cooperativas agrícolas do Vale do São Francisco e
sua inserção nos mercados de qualidade 5. considerações finais
I. Pires, Maria Luiza Lins e Silva, orientadora II Título
COOPERATIVISMO AGRÍCOLA E A CONSTRUÇÃO DE MERCADOS DE
QUALIDADE: A EXPERIÊNCIA DA COOPERATIVA AGRÍCOLA NOVA
ALIANÇA NO VALE DO SÃO FRANCISCO
Elaborada por
YASMINA PIMENTEL VICTOR JUSTE
Como requisito parcial para obtenção do grau de
Mestre em Extensão Rural e Desenvolvimento Local
A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação de Mestrado
COMISSÃO EXAMINADORA:
____________________________________________________________
Profa. Drª Maria Luiza Lins e Silva Pires - Posmex/UFRPE
(Presidente/Orientadora)
____________________________________________________________
Profa. Drª Conceição Maria Dias de Lima – UNEAL.
(Examinadora Externa)
____________________________________________________________
Profa. Drª Maria Salett Tauk – Posmex/UFRPE
(Examinadora Interna)
____________________________________________________________
Profº Dr. Angelo Brás Fernandes Callou – UFRPE
(Examinador Interno)
RECIFE, PERNAMBUCO
2013
DEDICATÓRIA
A minha orientadora Profª Drª Maria Luiza Lins e Silva Pires, pelo carinho,
dedicação e comprometimento que vem tendo comigo a longo dos anos, e que
é minha fonte de inspiração e motivação para a realização dos meus objetivos
de vida.
AGRADECIMENTOS
Um agradecimento muito especialmente à minha família, meu pai JeanPierre, minha mãe Tâniamara e minha irmã Yanaya pelo carinho, amor, e
compreensão no decorrer do processo de construção dessa dissertação.
A Profª Drª Maria Luiza Lins e Silva Pires pela confiança, paciência, e
comentários críticos e pertinentes, sem o qual não seria possível a realização
desse trabalho.
A Cooperativa Agrícola Nova Aliança (COANA), pela presteza e
amabilidade com que nos atendeu, e sem a qual não seria possível a
realização dessa pesquisa.
A Profª Drª Josefa Salete Barbosa Cavalcanti, por sua colaboração e
inspiração.
A todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Extensão
Rural e Desenvolvimento Local – POSMEX, pelos ensinamentos, cada um de
maneira particular contribuiu para a conclusão dessa dissertação, como
também para minha formação profissional.
Agradeço particularmente ao Profº Drº Ângelo Brás Fernandes Callou,
pelas suas valiosas sugestões na ocasião do exame de qualificação.
A turma POSMEX- 2010, Luciano, Lorena, Erick, Mariana, Raquel,
Juliana, Renata, Renata Rezende, Tathiana, Givanildo, Michele, Simone,
Silvana e Leonardo.
Um agradecimento muito especial aos meus queridos amigos,
companheiros, irmãos, Diana, Luciano, Alexsandro Melo, Lorena, Manuella,
Pedro, Luiz, Mariana, Raquel, Juliana, Renata, Roberto (Rô), Filipe Xavier,
Thatiana e Paula Pagu.
A Adaci, funcionária do PAPE, com quem compartilhei momentos de
alegria, e que sempre quando precisei tinha uma palavra de afeto e de
motivação.
E, por fim, a todos os docentes do Curso de Bacharelado e
Licenciatura em Economia Doméstica, especialmente Fátima Massena, os
meus sinceros agradecimentos.
RESUMO
Esta pesquisa analisa as estratégias estabelecidas pela cooperativa agrícola
Cooperativa Agrícola Nova Aliança (COANA), no campo da fruticultura para
cumprir com os padrões de qualidade exigidos pelos mercados globais. Como
se dão os processos de obtenção das certificações? Quais os critérios de
qualidade nas cooperativas? As cooperativas têm se ajustado às novas
certificações exigidas pelos mercados locais e globais? Para responder a essas
questões, elegeu-se como eixo analítico a relação entre cooperativismo,
padrões de qualidade e mercados de frutas e tendo como referência empírica a
Cooperativa Agrícola Nova Aliança (COANA). Observou-se uma forte
preocupação da cooperativa analisada em atender as exigências dos diversos
mercados, especialmente no que diz respeito à conquista de certificados de
qualidade, como elementos que, por sua vez, definem a forma de inserção nos
mercados globais. Ademais, pôde-se também constatar que a cooperativa
analisada, por meio de sua estrutura organizacional flexível, vem sendo capaz
de responder aos mercados de forma ágil, atendendo as suas especificidades,
em termos dos aspectos sensoriais de frutas – tamanho e sabor. A importância
deste estudo está em contribuir para uma melhor compreensão dos processos
de reestruturação dos sistemas agroalimentares locais, no que diz respeito aos
padrões de qualidade para a obtenção de certificações do produto.
Palavras-chave: Cooperativismo, Qualidade, Mercados de Qualidade.
ABSTRACT
This research examines the strategies established by the agricultural
Cooperative Nova Aliança (COANA), in the field of horticulture to meet the
quality standards required by global markets. How to make the process of
obtaining certification? How do you define quality criteria in the cooperative?
The cooperatives have adjusted to the new certifications required by local and
global markets? To answer these questions, he was elected as the axis
cooperative relationship between analytic, standards and markets fruit and with
reference to empirical New Agricultural Cooperative Alliance (COANA). There
was a strong concern of the cooperative analyzed to meet the demands of
various markets, especially with regard to the achievement of quality certificates
as evidence that, in turn, define the type of participation in global markets.
Moreover, it was also found that analyzed the cooperative, through its flexible
organizational structure, has been able to respond to market quickly, given their
specificities in terms of sensory aspects of fruit - size and flavor. The
importance of this study is to contribute to a better understanding of the
restructuring of local agri-food systems, with regard to quality standards to
obtain product certifications
Keywords: Cooperative, Quality, Quality Markets.
RESUMÉ
Cette recherche examine les stratégies mises en place par le coopérative
agricole Agrícola Nova Aliança (COANA), dans le domaine de fruticulture pour
renplir aux normes de qualité exigées par les marchés mondial. Comment
rendre le processus d'obtention de la certification? Comment sont définis les
critères de qualité dans la coopérative? Les coopératives se sont adaptés aux
nouvelles certifications exigées par les marchés locaux et mondiaux? Pour
répondre à ces questions, il a été élu comme la relation de coopération entre
l'axe d'analyse, les normes et les fruits des marchés et en référence à
l'Coopérative Agricole Nouvelle Alliance (COANA). Il y avait une forte
préoccupation de la coopérative analysées afin de répondre aux exigences des
différents marchés, en particulier en ce qui concerne l'obtention de certificats de
qualité comme la preuve que, à son tour, définir le type de participation aux
marchés mondiaux. En outre, il a également été constaté que l'analyse de la
coopérative, grâce à sa structure organisationnelle souple, a été en mesure de
répondre rapidement sur le marché, compte tenu de leurs spécificités en termes
d'aspects sensoriels de fruits - taille et la saveur. L'importance de cette étude
est de contribuer à une meilleure compréhension de la restructuration de locaux
agro-alimentaires des systèmes, en ce qui concerne les normes de qualité pour
obtenir des certifications de produits.
Mots-clés: Coopératives, Qualité, Marchés de Qualité.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Selo da Produção Integrada de Frutas ............................................. 43
Figura 2 - Localização do Pólo Petrolina/Juazeiro ............................................ 51
Gráfico 1 - Exportações Brasileiras de frutas frescas (2010).............................49
Mapa 1- Distribuição da Fruticultura na Vegetação Natural, 2005. ................................. 82
Gráfico 2 - Evolução da Produção de Uva na Região do Vale do São Francisco
nos Estados de Pernambuco e Bahia. .............................................................. 53
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Produção de Frutas na Região Nordeste do Brasil - 2002 (em
Toneladas).........................................................................................................50
Tabela 2 - Fazendas da COANA e Capacidade de produção em Toneladas .. 61
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
COANA – Cooperativa Agrícola Nova Aliança
CAJ - Cooperativa Agrícola Juazeiro da Bahia
COOPEXVALE - Cooperativa dos Exportadores de Frutas do Vale do São
Francisco.
COOPEXfruit - Cooperativa dos Exportadores de Frutas
ACI - Aliança Cooperativa Internacional
OCB - Organização das Cooperativas Brasileiras
OCE - Organização Estadual de Cooperativas
PIF - Produção Integrada de Frutas
MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
EUREPG.A.P. - Euro-Retailer Produce Working Group, Good Agricultural
Practices
GLOBALG.A.P. - Global Good Agriculture Pratices
CVSF - Comissão do Vale do São Francisco
SUVALE - Superintendência do Vale do São Francisco
CODEVASF - Companhia do Desenvolvimento do Vale do São Francisco
CPATSA - Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semiárido
Valexport - Associação dos Exportadores de Hortifrutigranjeiros e Derivados do
Vale do São Francisco
CAC - Cooperativa Agrícola Cotia
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................. 15
PERCURSO METODOLÓGICO ....................................................................... 20
CAPÍTLO
1-
COOPERATIVISMO
AGRÍCOLA
BRASILEIRO
E
A
CONSTRUÇÃO SOCIAL DE MERCADOS DE QUALIDADE ........................... 21
1.1 COOPERATIVISMO E O SURGIMENTO DAS COOPERATIVAS AGRÍCOLAS NO BRASIL21
1.2 COOPERATIVISMO AGRÍCOLA E A ÊNFASE NOS MERCADOS DE QUALIDADE ....... 25
1.3 A CONSTRUÇÃO SOCIAL DOS MERCADOS DE QUALIDADE ............................... 28
CAPÍTULO 2- QUALIDADE: HISTÓRICO E CONCEITOS ............................... 31
2.1 HISTÓRICO E EVOLUÇÃO DA QUALIDADE ......................................................................... 31
2.2 REGIME ALIMENTAR E TRANSIÇÃO PARA UMA ECONOMIA DA QUALIDADE ..................... 33
2.3 CONCEITO DE QUALIDADE ................................................................................................ 38
2.4 PADRÕES DE QUALIDADE: CERTIFICAÇÕES COMO ESTRATÉGIAS DE COMPETITIVIDADE
INTERNACIONAL ........................................................................................................................... 40
2.4.1
CERTIFICAÇÕES NACIONAIS E GLOBAIS PARA A COMERCIALIZAÇÃO DE FRUTAS ..... 42
CAPÍTULO 3- A FRUTICULTURA BRASILEIRA E A INSERÇÃO DO VALE DO
SÃO FRANCISCO NOS MERCADOS .............................................................. 48
3.1 MERCADOS DA FRUTICULTURA NO BRASIL ..................................................... 48
3.2 A CONSTRUÇÃO DO VALE
DO
SÃO FRANCISCO COMO UMA REGIÃO PRODUTORA
DE FRUTAS ......................................................................................................... 50
3.3 MERCADO DE EXPORTAÇÃO DE FRUTAS NO VALE DO SÃO FRANCISCO ............ 54
CAPÍTULO 4- AS COOPERATIVAS AGRÍCOLAS DO VALE DO SÃO
FRANCISCO E SUA INSERÇÃO NOS MERCADOS DE QUALIDADE ........... 56
4.1 COOPERATIVA AGRÍCOLA NOVA ALIANÇA (COANA)....................................... 58
4.1.1 PERFIL DOS ASSOCIADOS ......................................................................... 64
4.1.2
COMERCIALIZAÇÃO DA UVA....................................................................... 64
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 70
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................. 74
INTRODUÇÃO
As
constantes
transformações
da
economia
e
dos
sistemas
agroalimentares têm elevado o nível de competitividade entre os países
produtores de alimentos, exigindo, no caso do Brasil, maior grau de
investimentos por parte dos produtores brasileiros. Isso tem levado agricultores
experientes a se organizarem em cooperativas para que possam produzir e
comercializar os seus produtos em bases competitivas (WILKINSON, 2000).
Com efeito, num contexto de produção agrícola voltada para os
mercados globais, mercados esses que exigem alto grau de especialização dos
agricultores, bem como altos investimentos para adequar-se às exigências dos
mercados, a criação de cooperativas vem se mostrando como uma alternativa
para minimizar os elevados custos de produção e comercialização dos
produtos, permitindo também a possibilidade de barganhar melhores preços e
uma inserção mais competitiva nos mercados (PIRES e CAVALCANTI, 2010).
Com base nesse cenário, esta dissertação tem como objetivo geral
analisar as estratégias1 estabelecidas pela cooperativa agrícola para atender
aos padrões de qualidade exigidos pelos mercados globais, tendo como
referência empírica as cooperativas do Vale do São Francisco, mais
especificamente com a Cooperativa Agrícola Nova Aliança (COANA). Tais
estratégias dizem respeito particularmente à obtenção de certificados, critérios
de qualidade, ajustes as demandas dos mercados globais, entre outros.
A importância da associação cooperativa é identificada como uma
forma de dinamizar a atividade de produtores num mundo regido pela
competitividade fruto da liberação dos mercados. A sua importância está
também associada à possibilidade de agregar valor cultural ao produto,
apoiando a preservação e conservação do meio ambiente (PIRES, 2004).
Contudo, como observado na literatura, faz-se necessário que as
cooperativas estejam estruturadas de forma competitiva, investindo em
1
“Entende-se por estratégia o conjunto de decisões coerentes, unificadoras e integradoras que
determinam e revelam a vontade da organização em termos de objetivos de longo prazo, programa de
ações e prioridade na utilização de recursos (Dicionário de tecnologia e inovação, pag. 56, 2010)”
tecnologia, em práticas cooperativas modernas e em capacitação permanente
de seus associados como forma de garantir uma boa governança empresarial
(PIRES, 2005).
Destarte, Pires (2004), ao situar o cooperativismo 2 enquanto projeto e
prática social, admite que além de a cooperativa ser fundamentada num modus
operandi pautado em eficiência e numa racionalidade empresarial que lhe
garanta uma boa governança, a cooperativa também se apoia num conjunto
doutrinário que lhe assegura a preservação de valores relacionados à
participação democrática. Tais valores, junto com os princípios cooperativos3,
consolidam as chamadas regras de ouro do movimento cooperativo.
Além disso, o cooperativismo também se relaciona ao empoderamento
dos diversos atores envolvidos e uma ancoragem territorial, imprimindo a
cooperativa uma maior responsabilização com os destinos da comunidade na
qual está inserida.
Eis a razão pela qual essa autora, Pires (2004), identifica no
cooperativismo uma ferramenta importante de desenvolvimento local, referindose particularmente a Cooperativa Agrícola Juazeiro (CAJ):
[...] A CAJ vem contribuindo para o dinamismo do cooperativismo tanto no que diz
respeito à geração de empregos diretos e indiretos como no volume de negócios que
realiza, servindo também de referência às práticas cooperativas do Nordeste e
especialmente às do Vale do São Francisco (PIRES, 2004, p.242).
Ao que acrescenta a autora:
A presença da CAJ na região do Vale do São Francisco vem dando notoriedade a
região como produtora e exportadora de frutas in natura, bem como um “pólo produtivo
dinâmico” no Nordeste e no país (PIRES, 2004, p.242).
Esse dinamismo que a região do Vale do São Francisco vem
demonstrando nos últimos anos é resultado, principalmente, da capacidade de
2
O cooperativismo baseia-se em valores de ajuda mútua, responsabilidade, democracia, igualdade,
liberdade, honestidade, transparência, equidade e solidariedade, e são eles que balizam os princípios
cooperativos, segundo sua origem (PIRES, 2004).
3
Os princípios cooperativos, de acordo com a Aliança Cooperativa Internacional (ACI) são: Adesão livre e
voluntária; Gestão democrática e livre; Participação econômica dos membros; Autonomia e
independência; Educação, formação e informação; Intercooperação; e Interesse pela comunidade.
resposta e de inversão que os produtores da região vêm mostrando, no que
concernem as exigências dos mercados exportadores acerca dos padrões de
qualidade na produção e no produto (CAVALCANTI, 1999; PIRES, 2004).
O fato é que, nos últimos 20 anos, a preocupação com a qualidade dos
produtos alimentícios, em especial no que se refere à sua segurança, vem se
tornando uma ferramenta para atender a consumidores e governos, bem como
se tornando um dos principais fatores competitivos das cadeias de produção
agroalimentares (BONANNO, 1999).
Nesse contexto, os certificados ou selos de qualidade desenvolvidos
por iniciativa do Estado e/ou do setor produtivo ganham destaque, funcionando
como instrumento de comprovação para o consumidor, com relação aos
atributos intrínsecos existentes nos produtos. No caso da uva de mesa do Vale
do
São
Francisco,
as
certificações
exigidas
são
a
GLOBALG.A.P.
(internacional) e o Programa Integrado de Frutas – PIF (nacional).
A região do Vale do São Francisco se destaca por sua produção e
pelos vínculos que estabeleceu com o mercado global ao produzir frutas dentro
dos padrões de qualidade esperados pelos compradores e consumidores
internacionais. Razão que contribuiu, em grande medida, para permitir a
inserção do Vale nos mercados nacional e internacional (CAVALCANTI, 1997).
Nesse cenário, dois municípios dessa região têm se destacado na
produção de frutas para exportação. São eles: Petrolina em Pernambuco e
Juazeiro na Bahia4.
A vinculação da fruticultura com os mercados globais faz da região do
Vale do São Francisco um laboratório de particular importância para a
compreensão das mudanças das questões relacionadas às exigências globais
e a capacidade de resposta pelos produtores locais, como já sublinhado por
Pires (2004).
Assim, interessa-nos, no presente trabalho, concentrar a atenção nas
estratégias produtivas e organizacionais inovadoras utilizadas pela COANA,
como forma de lhes assegurar a qualidade, atendendo, ao mesmo tempo, as
exigências dos mercados globais. Como se dão os processos de obtenção das
4
A região do Vale do São Francisco compreende os municípios de Lagoa Grande, Orocó, Petrolina e
Santa Maria da Boa Vista, em Pernambuco, e Casa Nova, Curaçá, Juazeiro e Sobradinho, na Bahia.
certificações? Como se definem os critérios de qualidade nas cooperativas
estudadas? As cooperativas têm se ajustado às novas certificações exigidas
pelos mercados locais e globais?
Os motivos que me levaram à escolha do tema se devem a minha
trajetória no curso de Bacharelado em Economia Doméstica na Universidade
Federal Rural de Pernambuco, quando tive a oportunidade de ser bolsista
PIBIC/FACEPE, dos anos de 2008 a 2009 com o projeto “Cooperativas
agrícolas, inovação organizacional e produtiva e desenvolvimento local”, sob a
orientação da Profª Drª Maria Luiza Lins e Silva Pires. Tal condição me permitiu
uma aproximação com o grupo de pesquisa Agricultura e globalização, sob a
coordenação da Profª Drª Josefa Salete Barbosa Cavalcanti, do Programa de
Pós-Graduação em Sociologia da UFPE, facilitando a minha inserção na
realidade do Vale do São Francisco.
Assim, para melhor compreender a relação entre cooperativismo,
padrões de qualidade e mercados de frutas, a presente pesquisa tem como
objetivos:
Objetivo Geral:
 Analisar as estratégias estabelecidas pela cooperativa, no campo da
fruticultura, para cumprir com os padrões de qualidade exigidos pelos
mercados globais.
Objetivos Específicos:
 Analisar as exigências dos mercados globais, especialmente no que diz
respeito à conquista de certificados que garantem a qualidade dos produtos;
 Identificar as estratégias utilizadas pela COANA para atender aos critérios de
qualidade exigidos pelos mercados.
 Analisar, com base na discussão teórica e nas evidências empíricas, a
importância das certificações na produção da Fruticultura.
A importância deste estudo está em contribuir para uma melhor
compreensão dos processos de reestruturação dos sistemas agroalimentares
locais, no que diz respeito aos padrões de qualidade para a obtenção de
certificações do produto, tendo como referência empírica a Cooperativa
Agrícola Nova Aliança (COANA).
O trabalho está dividido em quatro capítulos. O primeiro aborda o tema
do cooperativismo agrícola e sua relação com os mercados de qualidade.
Estes, por sua vez, identificados como construções sociais, baseando-se nas
referências de John Wilkinson (2000) e de Abramovay (2004). Neste capítulo, o
cooperativismo agrícola é visto como um instrumento de fortalecimento dos
agricultores ao imperativo dos mercados, através da introdução de novas
tecnologias, sistemas organizacionais e qualificação da mão-de-obra e do
produto, o que os torna mais competitivos.
O segundo capítulo contextualiza a emergência do tema da qualidade,
através de uma abordagem histórica, conceitual e tipológica, utilizando-se
autores como Denis Bayard (1993), A. David Garvin (2002) e J.C Toledo (1997
e 2000). A qualidade é situada como um conceito subjetivo, e que sofre
influências, em particular, das relações entre mercado, estado e sociedade.
Este capítulo retoma o conceito de qualidade como construção social, o que
nos leva a admitir diversas formas de construção da qualidade.
No terceiro capítulo, situa-se o Vale do São Francisco enquanto um
pólo de fruticultura voltado aos mercados globais, particularizando as
cooperativas enquanto canais importantes de organização dos produtores e de
comercialização dos produtos.
No quarto capítulo, foram sistematizadas as principais dificuldades e
desafios vivenciados pelas cooperativas para se manterem nos mercados
globais, bem como seus projetos futuros para uma inserção mais competitiva
nestes ditos mercados.
PERCURSO METODOLÓGICO
Com base nos objetivos propostos, a pesquisa foi realizada por meio
de ampla revisão bibliográfica dos principais conceitos aqui trabalhados –
Cooperativismo, Padrões de Qualidade, Mercado de qualidade, Mercados
Globais, Fordismo e Pós-Fordismo alimentar.
A realização da pesquisa pauta-se na idéia de que os acontecimentos
sociais não podem ser entendidos quando analisados isoladamente, alheios
das influências políticas, econômicas, culturais, presentes na relação
local/global. Vale salientar que a presente pesquisa tem caráter qualitativo e,
como tal, “é uma atividade situada que localiza o observador no mundo”. Para
Denzin e Lincoln (2008), ela envolve uma abordagem interpretativa da
realidade, ou seja, confere ao pesquisador compreender, ou interpretar a
realidade a partir dos significados que as pessoas lhe atribuem.
Neste sentido, é importante destacar a contribuição do Programa em
Extensão Rural e Desenvolvimento Local – POSMEX, em especial as
disciplinas de Extensão Rural, Fundamentos da Comunicação e do
Desenvolvimento Local, Metodologia da Pesquisa em Extensão Rural, e
Sociologia Rural e Associativismo, onde através dos textos ampliaram meu
conhecimento a cerca do tema trabalhado na pesquisa.
Para tal, utilizou-se a Cooperativa Agrícola Nova Aliança (COANA)
como objeto empírico de análise. Justifica-se a utilização do método qualitativo
como forma de interpretar fenômenos, através da interação entre a observação
e a formulação conceitual, entre a pesquisa empírica e o desenvolvimento
teórico, entre a percepção e a explicação (BULMER, 1977 apud TERENCE e
FILHO, 2006).
A pesquisa foi realizada em janeiro de 2009, sob a orientação da Profª Drª
Maria Luiza Lins e Silva Pires, onde foi feita uma série de entrevistas gravadas
nas sedes das cooperativas junto aos gestores e nas propriedades de alguns
associados das quatro cooperativas do Vale do São Francisco.
CAPITULO I
COOPERATIVISMO
AGRÍCOLA
BRASILEIRO
E
A
CONSTRUÇÃO SOCIAL DE MERCADOS DE QUALIDADE
1.1
Cooperativismo e o surgimento das cooperativas agrícolas no
Brasil
O surgimento do cooperativismo liga-se ao desenvolvimento do
capitalismo industrial na Europa, especialmente na Inglaterra e na França do
século XVIII. Tal fato revelava uma forma de expressão do movimento operário,
que reagia às explorações e precárias condições de trabalho envolvendo
crianças e adultos. Nessa época, não existia nenhum tipo de sistema
previdenciário ou segurança no emprego nem, tampouco, possibilidade de
organização e reivindicação da classe trabalhadora. As associações operárias
eram proibidas por lei, sendo secretas ou clandestinas (PIRES, 2004).
O marco fundamental do cooperativismo está associado ao ano 1844,
na cidade de Manchester, Inglaterra, quando os chamados Pioneiros de
Rochdale (27 homens e 1 mulher tecelões) motivados por dificuldades
financeiras, organizaram um armazém comunitário administrado por todos os
sócios, passando a adquirir alimentos com preços mais baixos do que os de
mercado. Surgia, assim, o cooperativismo de consumo (CANÇADO, 2004:29).
Porém, entre os objetivos dos Pioneiros de Rochdale não estavam
apenas à aquisição de alimentos, mas também a educação dos membros e
familiares, o acesso à moradia e ao trabalho (através da compra de terra e
fábricas) para os desempregados e mal remunerados. Desejavam também o
estabelecimento de uma colônia cooperativa autossuficiente (CANÇADO,
2004:30).
Em 1862, porém, os Pioneiros de Rochdale abdicaram da idéia de uma
“comunidade autônoma” na qual não havia diferenças de tratamento entre
associados e empregados. A partir do momento em que os empregados
passam a não mais gozarem dos mesmos direitos dos associados, cria-se,
assim, conflitos entre o ideal cooperativo e o meio ambiente empresarial
existente (Idem).
Um dos grandes difusores do cooperativismo e inspiração para os
pioneiros de Rochdale foi Robert Owen (1771-1858), defensor da idéia de que
o caminho para o socialismo se daria através da criação de comunidades livres
e igualitárias, nas quais o trabalho deveria ser pautado em bases cooperativas,
a partir do esforço solidário de seus integrantes, pressupondo uma melhor
qualidade de vida (PIRES, 2004). O primeiro país a reconhecer o direito à
associação foi à Inglaterra, em 1826. Porém, o direito de greve só aconteceu
anos mais tarde, em 1875. Na França, esse reconhecimento só ocorreu em
1884 (Idem).
Contudo, pode-se afirmar que o cooperativismo surgiu de um
movimento operário predominantemente urbano, resultante da criação de um
modelo de associação, onde é atribuído aos seus associados direitos iguais,
tanto no que diz respeito à contribuição financeira individual, quanto à sua
participação nas tomadas de decisão (RIOS, 1979).
Em 1895, é criada a Aliança Cooperativa Internacional – ACI – em
meio a mudanças em relação ao movimento cooperativista original.
Prevaleciam, na época, duas correntes do cooperativismo: aquela que defendia
o processo de transformação da sociedade através das cooperativas de
produção e da extinção do trabalho assalariado, com a participação dos
trabalhadores nos excedentes. E a outra corrente, guiada pelas cooperativas
de consumo, que defendia a utilização do trabalho assalariado e a não
participação dos trabalhadores nos excedentes gerados, como forma de
expandir os setores produtivos industriais e agrícolas (CANÇADO, 2004:33).
Como observa Pires (2004), no Brasil,
as associações operárias surgiram inicialmente como
sociedades de ajuda mútua, como foi o caso da
associação dos “Galileus” de Pernambuco, nordeste do
Brasil, onde moradores do antigo engenho de açúcar
Galiléia
viriam
a
criar
posteriormente
as
“Ligas
Camponesas”. Porém, as primeiras experiências do
cooperativismo brasileiro remontam ao final do século
XIX, com a criação da Associação Cooperativa dos
Empregados, em 1891, na cidade de Limeira-SP, e da
Cooperativa de Consumo de Camaragibe – Estado de
Pernambuco, em 1894.
O Sistema Cooperativo Brasileiro é apoiado legalmente na Lei nº 5.764,
de 16 de dezembro de 1971 na qual as cooperativas como “sociedades de
pessoas com forma e natureza jurídica própria, de natureza civil, não sujeita a
falência, constituída para prestar serviços aos associados (...)”.
Até a Constituição de 1988, o movimento cooperativo não tinha
autonomia em relação ao Estado, que ficava sob responsabilidade do
Ministério da Agricultura, sendo esta conquista de autonomia considerada pelo
movimento cooperativista um grande avanço no que diz respeito à legislação
específica do movimento (Idem).
O cooperativismo brasileiro estava associado a políticas e projetos de
modernização implementados por um Estado autoritário (PIRES, 2004) em
uma economia predominantemente agro-exportadora, desvinculada dos ideais
europeus de solidariedade, e pautada em uma política de controle social e de
intervenção do estado, onde foi importada e adequada aos interesses das
elites políticas e agrárias (RIOS, 2007).
A partir de 1923, motivada pelo poder público e pela promulgação da
lei básica do cooperativismo brasileiro, houve um grande crescimento da
prática cooperativista no Brasil. Porém, sua história é marcada por diferentes
dinâmicas nas diversas regiões do país, onde se pode destacar os estados de
Minas Gerais e São Paulo. No nordeste, destaca-se o estado de Pernambuco
como o estado de maior representatividade (PIRES, 2004).
De acordo com a literatura, o cooperativismo no Brasil vem revelando
uma grande heterogeneidade de práticas associativas marcadas por contextos
socioeconômicos e culturais distintos entre as diferentes regiões do país (LIMA,
2011). Como destacado por Pires (2004), o cooperativismo nordestino
reproduz, em grande medida, um modelo de prática coronelista e elitista com
objetivo de controle social e político, desvinculando-se das necessidades de
seus membros.
De acordo com a literatura, permanece o modelo de “modernização
conservadora” que favorece médios e grandes agricultores voltados à cultura
de exportação, em detrimento de uma agricultura de subsistência desenvolvida
pela agricultura de base familiar (SCHNEIDER, 1999).
Por ser organizada a partir de uma estrutura de classes, na qual os
cargos mais elevados sempre são ocupados pelos grandes proprietários e
pelas lideranças políticas locais e regionais, atendia a benefícios de pessoas e
de grupos específicos, identificando-se mais como instrumento de controle do
que de mudança social, se distanciando, assim, do ideal europeu que originou
o cooperativismo (PIRES, 2004).
A falta de planejamento a curto e médio prazo, ligado a baixos
investimentos de capital e utilização de mão-de-obra sem qualificação,
decisões centralizadas e baixa participação dos associados, foram alguns dos
problemas encontrados (Idem).
Porém, no contexto atual, algumas experiências se destacam,
demonstrando-se como competitivas e dinâmicas, totalmente inseridas no
mercado internacional e nacional, graças à introdução de novas tecnologias,
ampliação de oferta do produto no mercado e adequação às exigências ditadas
por clientes internacionais, via aprimoramento nos processos de qualidade e
sanidade dos produtos (PIRES, 2004).
Isso pode ser observado na Cooperativa Agrícola Nova Aliança
(COANA), nosso objeto de pesquisa, que tem sua criação associada à
necessidade sentida por agricultores experientes na exportação de uva em
fundar uma cooperativa, potencializando os recursos e minimizando custos de
exportação (PIRES e CAVALCANTI, 2009).
Fundada em 2005, a Cooperativa Agrícola Nova Aliança (COANA), é
formada por produtores com experiência na produção de uva. Localizada na
cidade de Petrolina, no Estado de Pernambuco. A COANA é especializada na
produção e comercialização de uva com e sem semente para os mercados
globais.
A Cooperativa é responsável por toda a gerencia da produção de seus
cooperados,
em
suas
fazendas,
desde
a
logística
de
recepção,
armazenamento e expedição de pallets em sua câmara fria.
Como destaca Pires (2004), o tipo de gestão e nível de tecnologia
adotado pela cooperativa, bem como o nível de participação dos associados,
assim como seus compromissos em relação à empresa parecem ser os fatores
mais
decisivos
no
sucesso
do
empreendimento,
mostrando
que
o
cooperativismo agrícola tem servido de instrumento importante de integração
produtiva às cadeias de alimentos numa economia globalizada.
1.2
Cooperativismo Agrícola e a ênfase nos Mercados de
Qualidade
Como indica Cavalcanti (1995), as mudanças relativas ao mercado e a
agricultura resultaram numa profunda transformação no meio agrícola,
especialmente no que se refere ao comércio, mercados e produção.
A mudança dos hábitos alimentares, estimulados por uma dieta pósfordista e a busca por novos produtos, estimularam as corporações mundiais e
distribuidores particulares a criarem novas demandas (CAVALCANTI, 2004:23).
O desenvolvimento dos mercados também estimulou a busca pela
diversificação dos alimentos frescos, com a ampliação do consumo de produtos
diferenciados que, segundo Bonnano (1999), referem-se à produção e ao
abastecimento em rede de alimentos frescos, cuja entrada e competição no
mercado não se baseiam apenas nos preços, mas também em critérios de
qualidade e controle definidos externamente. Na tentativa de sobreviver a essa
economia globalizada, as organizações econômicas, particularmente o
cooperativismo agrícola, dependem da criação de estratégias para responder
aos desafios impostos pelos apelos dos mercados acerca da qualidade
(PIRES, 2009).
Como sublinha Pires (2003), a criação de associações e cooperativas
vem sendo destacada na literatura como uma via importante de produção,
organização dos produtores, de agregação de valor e de comercialização da
produção.
A importância da associação cooperativa está, portanto, ligada a uma
forma de manutenção da atividade agrícola e de organização dos produtores
num mundo regido pela forte competitividade e liberação dos mercados
(PIRES, 2009).
Contudo, como se discute na literatura, faz-se necessário que as
cooperativas estejam estruturadas de forma competitiva, investindo em
tecnologia, na adoção de práticas cooperativas modernas e capacitação
permanente de seus associados, garantindo, por conseguinte, uma boa
governança empresarial (PIRES, 2005).
Com efeito, a utilização de novos modelos organizacionais vem
tornando possível à atuação das organizações cooperativas nos mercados,
inserindo os pequenos produtores rurais nos grandes circuitos de comércio de
alimentos. Ao mesmo tempo também permitem vantagens competitivas no que
diz respeito à produção certificada e de qualidade, bem como estratégias de
inserção social e econômica de seus associados (BIALOSKORSKI, 2002).
No caso do Vale do São Francisco, a criação das cooperativas foi uma
forma que produtores já experientes no ramo da fruticultura encontraram para
baixar custos operacionais e aumentar o volume de vendas, prática associada
a um modelo “pós-fordistas” de acumulação e produtividade (PIRES 2004;
PIRES et al., 2009; PIRES e CAVALCANTI, 2010).
Cavalcanti (2004) observa que as regiões exportadoras de frutas
apresentam cuidados especiais quanto ao cultivo, mais especificamente no que
diz respeito ao formato, cor, doçura, entre outros, para poderem circular nos
mercados mundiais.
Pires (2004) admite que, a produção de frutas no Vale do São
Francisco, sob a ótica da qualidade, foi uma via que possibilitou a visibilidade
da região como um pólo de fruticultura de qualidade perante o alto grau de
competitividade dos mercados globais.
Como descreve a autora:
[...] a preocupação da CAJ com a qualidade e com a
uniformização dos procedimentos vem se constituindo, no
discurso da direção, numa marca distintiva da empresa
em relação a outras empresas de frutas (PIRES,
2004:242).
Tanto na produção como na distribuição, há uma preocupação
constante em destacar as características dos produtos, para atender as novas
demandas, pois os atuais mercados baseiam-se em alimentos de alto valor, a
exemplo de produtos exóticos, não sazonais e certificados pela origem
(CAVALCANTI, 2004).
Nesse sentindo, como admite Cavalcanti (2004), criam-se hábitos
alimentares
mais
sofisticados,
implicando
na
necessidade
de
mais
modernização das empresas para atender as exigências das organizações
reguladoras no que diz respeito não apenas ao alimento em suas
características básicas, mas também a sua forma de apresentação,
embalagem e marca.
Com efeito, como admite Lima (2011), o movimento de coordenação
dos sistemas agroalimentares, orientados pela relação entre produtores e
consumidores, tem possibilitado a inserção de agroindústrias cooperativas, na
dinâmica dos mercados globais a partir da agregação de valor aos produtos,
oferecendo serviços de embalagem, transporte, classificação, rastreabilidade,
inspeção, entre outros fatores.
No contexto da produção dos alimentos, há participação de diversos
atores, onde a construção de produtos de qualidade resulta das relações
sociais, e a construção da qualidade dos produtos, exige definições do grau de
responsabilidade dos vários atores envolvidos (CAVALCANTI, 1999).
Deste modo, podemos destacar que a qualidade é hoje uma das
principais preocupações não apenas dos distribuidores e consumidores, mas
também dos produtores. Isso pode ser observado nos mercados de frutas in
natura, que têm se ampliado nas duas últimas décadas.
1.3
A Construção Social dos Mercados de Qualidade
De acordo com a literatura especializada, os primeiros estudos sobre a
organização dos mercados estavam voltados para os mecanismos de formação
dos preços (ABRAMOVAY, 2004).
No entanto, como chama a atenção Abramovay (2009), na atualidade,
o mecanismo de preço vem se enfraquecendo, na medida em que o
consumidor associa ao produto outros dispositivos de julgamento, a exemplo
da originalidade e da conformidade5.
Como admitem Abramovay (2004) e Wilkinson (2004), esses novos
olhares sobre os mercados são recentes e foram influenciados pelos estudos
da Nova Sociologia Econômica, em meados dos anos 1980, em especial nos
Estados Unidos. O mercado passa a incorporar, além dos mecanismos de
formação dos preços, os elementos constitutivos de construções sociais, onde
se devem levar em conta os conflitos, dependências, estruturas e
imprevisibilidades que os caracterizam.
Assim, o mercado pode ser entendido:
A partir das necessidades dos agentes, ressaltando
aspectos como diversidade, vínculo com o território, as
suas formas de coordenação, a sua capacidade de obter
e inspirar confiança, de negociar, fazer cumprir contratos,
estabelecer e realizar direitos (ABRAMOVAY, 2004:2).
Para que os mercados funcionem, faz-se necessária a utilização de
mecanismos de coordenação, onde a visão do mercado convencional é
incapaz de observar, a exemplo da qualificação do produto e do trabalho
(ABRAMOVAY, 2004).
De acordo com Karpik (2009), esse mecanismo de coordenação dos
mercados deve ser construído em conjunto com todos os atores envolvidos,
5
Lucien Karpik (2004)
atendendo a condições essenciais como a confiança, a fidelidade e a
reputação, bem como a diversidade. A diversidade, como destaca o autor, é
um importante elemento para uma “economia de qualidade”, na medida em que
vai de encontro ao modelo dos mercados convencionais de padronização
massificada (KARPIK, 2009).
O autor também ressalta que os meios de julgamento no qual se
constroem os mercados giram em torno de conflitos, necessidades, desejos e
aspirações dos atores envolvidos acerca da estética, do serviço personalizado
e do estilo de vida (KARPIK, 2009). Neste caso, a coordenação dos mercados
se dará a partir da avaliação da “qualidade” feita pelos consumidores em cima
do que eles desejam, sejam bens e ou serviços.
Como
dito
anteriormente,
os
agricultores
que
antes
tinham
preocupação em produzir e colocar o seu produto no mercado, têm sido
levados a produzir produtos com padrões determinados pelo mercado, no que
diz respeito às características como cor, tamanho, meio de produção,
precisando também, respeitar convenções sociais, normas ambientais, entre
outras.
Como acrescenta Wilkinson (2004), cada vez mais, a coordenação dos
mercados está ligada a interesses e valores de diferentes grupos. O autor se
remete a Teoria das Convenções quando afirma que esses interesses se
referem a “qualidade” do produto, dentro de uma visão orientada aos novos
padrões de consumo alimentar, ligados à saúde e aos desejos e crenças dos
consumidores (WILKINSON, 2004).
Assim, para o autor, a importância da Teoria das Convenções para o
funcionamento dos mercados reside no conteúdo e na forma de validação dos
acordos, ou seja, das práticas produtivas, caracterizadas na forma de
certificações e selos de qualidade, que surgem das estruturas sociais e dos
critérios de qualidade de produção, em bases que permitam que produtos
agroalimentares, circulem em mercados locais e globais (WILKINSON, 2003).
A compreensão dos mercados sob a ótica de estruturas sociais reside:
[...]
na
subjetividade
dos
agentes
econômicos,
à
diversidade e à história de suas formas de coordenação,
às representações mentais a partir das quais se
relacionam uns com os outros, a sua capacidade de obter
e inspirar confiança, de negociar, fazer cumprir contratos,
estabelecer e realizar direitos (ABRAMOVAY, 2004:2).
Segundo o autor, o estudo dos mercados como estruturas sociais
particulariza os interesses dos indivíduos, ou dito em outras palavras, o
mercado será orientado a partir das escolhas individuais dos atores envolvidos,
sob a influência de suas crenças e normas emergentes das relações sociais
(ABRAMOVAY, 2004).
As relações sociais, especialmente expressas nas imposições globais,
via normas presentes nas certificações dos produtos serão analisados no
quarto capítulo.
CAPITULO II
QUALIDADE: HISTÓRICO E CONCEITOS
2.1
Histórico e evolução da Qualidade
Nos séculos XVIII e XIX, o controle de qualidade dos produtos era feito
por artesãos, trabalhadores experientes e aprendizes supervisionados por
mestres de ofício, diferentemente do que se vê hoje, quando produtos com alto
grau de complexidade em sua produção exigem os cuidados de profissionais
especializados (GARVIN, 2002).
Segundo Carvalho (2005:2), neste período, o controle da qualidade
pautava-se no produto e não no processo realizado via inspeção de todos os
produtos pelo artesão. Na assim chamada “era da inspeção”, voltada para o
produto acabado, apenas encontravam-se produtos defeituosos na razão direta
da intensidade da inspeção (LONGO 1995). Foi também nesse período que se
deu início da produção em larga escala e da necessidade de produção de
peças que poderiam ser utilizadas alternadamente.
Percebia-se, com isso, a possibilidade de se desenvolver uma série de
exigências baseadas em um modelo-padrão do produto para assegurar a sua
uniformidade. Tal processo deu origem ao sistema nacional de medidas,
enquanto um conjunto de exigências baseadas em critérios e normas capazes
de garantir que as peças seriam produzidas com exatidão e precisão (GARVIN,
2002:4).
Segundo Garvin (2002), no século XX, a inspeção passou a ser mais
vinculada ao controle da qualidade, sobretudo a partir dos estudos de Frederick
W. Taylor6 e a publicação da obra The Control of Quality in Manufacturing de
G. S. Radford, quando na opinião do autor, a função do inspetor passou a ter
destaque por ter sido atribuído a ele a responsabilidade pela qualidade dos
produtos. Desta forma, a qualidade era obtida através de inspeção, controle,
6
Princípios de Administração Científica.
seleção dos produtos, contagem, classificação pela qualidade e reparos. Tinha
por objetivo principal obter qualidade igual e uniforme em todos os produtos,
cuja principal ênfase estava na conformidade (Idem).
Para melhor compreender a construção da qualidade ao longo das
décadas, a literatura estabelece alguns personagens históricos como sendo
marcos importante na definição de processos de qualidade.
Assim destacam-se os estudos do químico e metalúrgico francês Henry
Le Chatelier (1850-1936) que afirmava, dentro de uma visão determinista, que
não havia lugar para o “azar”, combatendo a “preguiça” dos encarregados que
atribuíam ao azar a causa do mau funcionamento dos equipamentos, ao invés
de orientar seus esforços para melhoraria dos produtos (BAYART, 1993).
Outro personagem presente nas referências é o físico W.E. Shewhart
que, no ano de 1924, destacou a insuficiência do paradigma determinista,
destacando que a qualidade de determinados objetos não poderiam ser
definidos com exatidão se não estivessem definidos em termos estatísticos,
diferentemente da perspectiva da época que atribuía ao aumento da qualidade
à precisão das máquinas (Idem).
O ano de 1931 representou um marco no movimento da qualidade, a
partir dos estudos sobre controle estatístico de Shewhart (controle estatístico
de processo) que tem como preocupação detectar as causas dos defeitos e
sua prevenção.
Nesse estudo, Shewardt definiu um método preciso para o controle do
processo de produção, estabelecendo princípios para monitorar e avaliar a
produção de forma diária, melhorando, assim, a qualidade do produto e
controle (GARVIN, 2000).
A literatura destaca os anos de 1940 e 1950 como responsáveis pelo
desenvolvimento do referencial teórico que daria origem à era da garantia da
qualidade nos Estados Unidos (CORDEIRO, 2004). Como sublinha Cordeiro
(2004), apesar de muitos autores desse período serem americanos, a utilização
efetiva desses processos teve início no Japão.
Também em 1950, com o surgimento das usinas nucleares, foi
desenvolvido o conceito de “Garantia da Qualidade”, exigindo das empresas
fornecedoras a utilização de rígidos conceitos (TOLEDO, 1997).
Assim, a “Garantia da Qualidade” expandiu-se para outros setores,
utilizando um número grande de fornecedores, que passam a exigir a
implantação de Sistemas de Garantia da Qualidade, fazendo com que, os
princípios aí contidos chegassem a todos os setores industriais.
Nos setores agroalimentares a qualidade passou a ser garantida na
forma de exigências contratuais, como: cumprimento de regulamentações
governamentais, códigos, leis, técnicas de inspeção, controle da qualidade e
auditorias técnicas (TOLEDO, 1997).
Essas exigências passaram a ter grande impulso na década de 1980,
quando diversas empresas perceberam que a adoção destes enfoques
preventivos e sistêmicos poderia contribuir para a melhoria da qualidade e da
produtividade (WILKINSON, 2003).
Segundo Wilkinson et al (2005), com o surgimento do enfoque
sistêmico, a preocupação da qualidade passa a abranger a empresa como um
todo,
compreende-se
a
qualidade
para
além
de
aspectos
técnicos,
administrativos e organizacionais.
Assim, a qualidade passa a não depender apenas da engenharia e
estatística, mas também de outras ciências como psicologia, sociologia,
educação, economia, informática, entre outros. Como observa esse autor, a
visão sistêmica foi resultado da crescente preocupação da sociedade, a partir
do pós-guerra, com a segurança e confiabilidade dos produtos.
2.2
Regime alimentar e Transição para uma Economia da
Qualidade
O início do século XX foi marcado por diversas transformações, em
especial no âmbito da produção, distribuição e consumo dos alimentos,
definindo mudanças dos regimes alimentares.
Bonanno (1999) afirma que, durante o período do pós-guerra, foram
criadas estratégias para sustentar o crescimento da produção e o do consumo
em massa, na medida em que as empresas geraram um nível elevado de
produtividade valendo-se de estratégias Tayloristas, onde o lucro era obtido
através da centralização e racionalização do trabalho.
Com a utilização de especialização e mecanização da produção, a
burocratização das empresas, o planejamento extensivo e o controle
burocrático de “cima para baixo”, que caracterizaram o Fordismo ou "fordismo
alto”, foram também adotadas políticas Keynesianas avançadas no âmbito do
controle fiscal; política esta muito abrangente e de regulação dos planos
socioeconômicos, na saúde, na educação e na área de bem-estar social
(Idem).
Como observa Bonanno (1999), apesar de diferenças significativas
entre os setores econômicos e as regiões geográficas, os processos
centralizados nos altos níveis de intervenção do Estado e na inclusão de
grupos de trabalhos subordinados na administração da sociedade foram às
características principais deste período. Aliados a grande representatividade
dos sindicatos, que conseguiram maiores benefícios para os trabalhadores,
como o aumento na participação do trabalho no discurso político, nos
planejamentos e na esfera da legislação do trabalho, encontrava-se também a
classe média que apresentava um crescimento significativo, elevando também
seu padrão de vida.
Como analisado ainda por Bonanno (1999), o Fordismo representou
um aumento da competitividade nos mercados internacionais, fazendo com que
empresas mantivessem as normas como forma de satisfazerem as exigências
do consumo em massa.
Tal forma de consumo foi resultante, como observa esse autor, da
recuperação econômica da Europa e da Ásia, depois dos estragos provocados
pela Segunda Guerra Mundial, da insuficiência de investimentos de capital em
novas tecnologias e da estagnação organizacional.
Em meados da década de 1950 até o fim da década de 1960, o
fordismo apresentava um aumento da competitividade nos mercados
internacionais, resultante da recuperação da Europa e da Ásia quanto aos
estragos provocados pela Segunda Guerra Mundial, a insuficiência de
investimentos de capital em novas tecnologias e a estagnação organizacional.
Ademais, o fracasso do desenvolvimento da política industrial, o aumento dos
custos do bem-estar social e outros fatores, impuseram ao capitalismo do pósguerra uma fase de desaceleração (BONANNO, 1999).
Além disso, a crise do petróleo, a severa recessão de 1973, o fim do
acordo de Bretton Woods e a baixa inflação significaram uma desorganização
dos Estados Unidos enquanto centro multinacional capitalista (Idem).
No final da década de 1970, com a grande concorrência global e as
crises políticas e econômicas, foram adotadas novas estratégias para a
redução da inflação, através de um crescimento mais lento, da redução do
poder das organizações trabalhistas, da aceitação de níveis mais elevados de
desemprego e dos cortes nos salários. O Estado deixou de ser o grande
impulsionador do desenvolvimento para ser o grande responsável pela queda
econômica.
Para Bonanno (1999), o alto nível de competitividade dos mercados
globais, provocou uma série de crises políticas e econômicas, levando o
Estado a criar medidas para a redução da inflação, acarretando redução do
poder dos sindicatos dos trabalhadores da época.
Tais estratégias tiveram impacto sobre a elevação do desemprego e da
diminuição dos salários, fazendo com que as medidas fordistas tomadas pelo
Estado deixassem de ser vistas como benéficas passando a ser identificadas
como causadoras da retração econômica.
A crise Fordista instalada trouxe com ela alguns aspectos que
marcaram o pós-Fordismo, como:
Aumento da flexibilidade em escala global, a mobilidade
de capital e a liberdade para colonizar e mercantilizar
praticamente
todas
as
esferas,
destruindo-se
as
fronteiras sociais e espaciais relativamente fixas e
gerando-se
uma
(Bonanno, 1999:30).
descentralização
da
produção
Segundo o autor, o desenvolvimento econômico pós-fordista global e
as políticas de livre comércio “utilizam o Estado para aumentar a mobilidade de
capital, destruindo os seus próprios instrumentos regulatórios em nível local,
regional e nacional e reduzindo o poder de troca e as influências do trabalho”.
Ainda para este autor, o pós-fordismo global é um sistema que permite
a mobilidade nos mercados globais e garantia de benefício a respeito das
novas exigências para evitar a rigidez econômica e social.
O processo de globalização se iniciou a partir da década de 1970 e, no
Brasil, como admite Bonanno (1999) em meados da década de 1980, quando a
economia se baseava no modelo neoliberal, acarretando mudanças nos
padrões de produção e de consumo.
Os novos padrões de consumo valorizavam a incorporação de serviços
no produto final, como a segmentação e descomoditização do mercado,
preocupação com a qualidade nutricional (calorias) e a procura por produtos
frescos.
No contexto pós-fordista de produção, as inovações tecnológicas
tiveram um papel importante quando referido às reestruturações dos sistemas
agroalimentares, que eram baseadas na flexibilidade produtiva, que consistiam
no ajustamento da produção através da segmentação dos mercados, obtendo
produtos diferenciados e ligados a um controle das etapas da produção, e
integração produtiva, que é responsável pela diminuição do tempo de
produção, entrega e armazenamento de produtos, com a diminuição dos custos
e gestão de informação (Idem).
Diferentemente da economia Fordista, que se baseava na produção em
massa dirigida para o consumo padronizado, no pós-fordismo há uma
preocupação em produzir produtos de melhor qualidade e que atendam a
necessidade de consumidores diferenciados (BONANNO, 1999).
Isso
pode ser particularmente observado
nos sistemas agro-
alimentares, devido à natureza das matérias primas, as condições climáticas,
os aspectos fito-sanitários da produção, do comportamento sazonal da oferta, a
forte
regulamentação
e
a
intervenção
do
Estado
na
produção
e
comercialização dos bens, a diversidade dos sistemas de produção na
agricultura e, em especial, a dimensão simbólica do consumo dos alimentos.
São, todas essas, características que intervêm no padrão tecnológico e da
importância da qualidade dos produtos (Idem).
Em outros termos, implica em dizer que o período Fordista, que se
caracterizava pelo critério de quantidade/preço, deu espaço à economia da
qualidade, onde tinha como destaque a qualidade como base da concorrência
e das estratégias de marketing, com apelos à natureza, saúde e tradição
(WILKINSON, 2000).
Segundo Marsden (1999), nesse período houve um crescente interesse
com modos de produção, abastecimento e consumo alimentar ligadas a
preservação ambiental, e que não oferecessem riscos ao meio ambiente. Além
disso, para Wilkinson (2000) no sistema agroalimentar, a produção que antes
era orientada pela oferta, passa a ser orientada pela demanda.
Ainda para o autor:
Enquanto o "fordismo" se baseava na "qualificação" do
trabalho para a maior quantificação da produção, a atual
dinâmica
econômica
baseia-se
precisamente
na
qualificação do produto, capturada pela atual obsessão
com a "qualidade" (WILKINSON, 2000).
No Brasil, esta transição teve início a partir da década de 1990,
notadamente com a liberalização dos mercados, o que significou uma
passagem da oferta de produtos padronizados para produtos diferenciados por
qualidade e origem. A padronização permite a uniformização, estruturação dos
produtos, referindo-se à rotina de produtos e processos (DIAS, 2005).
Questões essenciais como forma de garantir a qualidade dos produtos
agrícolas, satisfazendo, ao mesmo tempo, as exigências dos consumidores, o
que fica particularmente acentuado no processo global de mercados, onde a
qualidade passa a se constituir como elemento de estratégia competitiva
(FLORES, 2002).
2.3
Conceito de Qualidade
O termo qualidade é derivado do latim qualitate que, segundo Toledo
(1997), quando relacionado a produtos de mercado, significa estar de acordo
com as exigências dos clientes, relação custo/benefício, adequação ao uso,
valor acrescentado, que produtos similares não possuem; o fazer bem produtos
e/ou serviços com efetividade.
Segundo o autor, pode-se observar, na literatura, duas vertentes
principais na concepção da qualidade: uma primeira que destaca o ponto de
vista do consumidor, definindo qualidade como “adequação ao uso”, onde o
produto está de acordo com as necessidades e anseios do consumidor; uma
segunda que destaca o ponto de vista do produtor, no qual a qualidade está
definida como “conformidade com especificações” de produto.
Peretti e Araújo (2010) afirmam que o conceito de qualidade em
alimentos “é construído em função da dinâmica da relação de consumo e
envolve o Estado, o setor produtivo e os consumidores”, isso, considerando a
qualidade a partir de uma análise de seus aspectos sanitários, de qualidade
nutricional e de valores associados aos produtos alimentícios, tais como
respeito ao meio ambiente, respeito aos produtores e o respeito às tradições.
Segundo Garvin (1984), existem cinco enfoques nos quais a qualidade
pode ser abordada: enfoque transcendental, enfoque baseado no produto,
enfoque baseado no usuário, enfoque baseado na fabricação e o enfoque
baseado no valor.
I. Enfoque transcendental
Nessa abordagem, a qualidade é sinônimo de “excelência inata”. No
entanto, ela não pode ser definida de forma precisa por ser uma propriedade
simples que aprendemos a reconhecer unicamente através das experiências,
estando mais relacionada com a marca ou com a especificação, do que
propriamente com o seu funcionamento.
II.Enfoque baseado no produto
A classificação da qualidade de acordo com as características que
possui, definindo a qualidade como um conjunto mensurável de ingredientes ou
atributos de um produto.
III.Enfoque no usuário
A qualidade está associada às preferências do consumidor, na
capacidade de satisfazer as suas necessidades.
IV.Enfoque na fabricação
Identifica a qualidade como conformidade das especificações, não
considerando as qualidades intrínsecas do produto.
V.Enfoque no valor
Define a qualidade em termos de custo e preço. De acordo com esse
enfoque, um produto de qualidade é aquele que fornece desempenho com um
custo aceitável. Nesse sentido, um produto com alto valor no mercado e pouca
possibilidade de ser adquirido, não seria considerado um produto de qualidade.
Segundo o autor, a dificuldade de se empregar esta abordagem reside
na união de dois conceitos relacionados mas distintos.
No entanto, segundo Wilkinson:
as noções variadas de qualidade estão em concorrência e contestação, revelando os
distintos valores por trás da aparente neutralidade de normas e técnicas. O que, para
alguns, são valores estéticos associados à produção artesanal, para outros são
indicadores de ameaça à saúde pública. O que, para alguns, são os valores de
eficiência, para outros são premissas na geração de externalidades inadmissíveis
(2002:19).
Para Wilkinson et al. (2005), qualidade é um conceito subjetivo, no
qual, pode-se destacar duas linhas de pensamentos: a primeira, de origem
anglo-saxônica e de inspirações neoclássicas, que define a qualidade de forma
generalista e valorizando a finalidade de um produto como um bem econômico,
ou como um conjunto de propriedades e características capazes de satisfazer
as necessidades do consumidor.
A segunda, baseada nos avanços das chamadas “teorias das
convenções francesas”, considera a construção dos produtos, onde a
qualidade de sucessivas negociações e convenções, desde a produção até o
consumo, resulta no compromisso entre os diversos atores com diferentes
estratégias (WILKINSON et al., 2005).
Aqui,
as
convenções
se
apresentam
como
mecanismo
de
desenvolvimento dos instrumentos de controle de qualidade, buscando uma
qualidade previamente estabelecida entre os diversos atores envolvidos, e tem,
nas certificações um instrumento de controle de qualidade.
2.4
Padrões de Qualidade: Certificações como Estratégias de
Competitividade Internacional
Com as exigências da comercialização nacional e internacional de
produtos agroalimentares presentes no processo de globalização, no
crescimento populacional e nos perigos associados aos gêneros alimentícios, a
necessidade da implementação das certificações como garantia de um
alimento saudável tornou-se uma realidade comum ao conjunto dos países
produtores (AMARAL, BATALHO e TOLEDO, 2000).
Entretanto, o investimento produtivo no estrangeiro, feito por empresas
de países emergentes, tradicionais importadores de capital, é um fenômeno
recente. Um dos ganhos decorrentes do processo de internacionalização para
as empresas é a diversificação da base de conhecimentos adquiridos pela
exposição às situações diferentes nos diferentes mercados em que a empresa
passa a atuar (Idem).
Nesse contexto Kraus afirma que:
a internacionalização tem sido uma das estratégias que muitas empresas têm buscado
para fazer frente aos concorrentes internacionais com o objetivo de melhorarem a
competitividade em seus mercados domésticos (2000:56).
Além de interagir em novos mercados, as empresas que se
internacionalizam buscam acesso a novas tecnologias, facilidades fiscais,
redução de custo de mão-de-obra, fortalecimento de sua marca e diversos
outros fatores que são preponderantes em uma decisão estratégica desta
natureza.
Esse processo de internacionalização está caracterizado pela obtenção
de certificados de qualidade, capazes de garantir um produto produzido dentro
de especificações pré-determinadas.
Assim, pode-se afirmar que:
A certificação é um instrumento para implementação do
sistema de qualidade, tanto nas propriedades rurais
quanto na agroindústria de classificação e embalagem
(packing
house),
colocando
a
necessidade
de
atendimento de uma série de exigências. Envolve todas
as etapas do processo produtivo, em todos os níveis
(PAULINO et al, 2008).
A partir de meados dos anos 1990, principalmente, em decorrência das
crises alimentares provocadas pelo surgimento da “Doença da vaca louca”
(Encefalopatia Espongiforme Bovina) e da contaminação inicial de frangos na
Bélgica pela presença de dioxinas em rações, a sanidade dos alimentos
adquiriu destaque na segurança alimentar (SILVA e AMARAL, 2004).
A preocupação dos consumidores com a qualidade dos alimentos
tornou-os ainda mais exigente no que se refere a ação do Estado para
vigilância e controle da qualidade sanitária dos alimentos. Discute-se que a
importância da segurança sanitária dos alimentos deve-se, em grande medida,
ao fato de os problemas nessa área terem reflexos, imediatos e graves, na
ordem econômica (Idem).
Nesse sentido, o termo alimento seguro é um conceito cada vez mais
recorrente na atualidade, não somente pela sua importância para a saúde
pública, mas também pelo seu importante papel no comércio internacional
(BARENDSZ apud FIGUEIREDO & COSTA NETO, 2002).
A qualidade e a segurança de um alimento requerem mais do que
regulamentações e ações de inspeção, na medida em que também dependem
da cultura e do conhecimento de todos, ao longo da cadeia, para a prevenção e
a prática da melhoria contínua, tendo em vista o consumidor final (AMARAL,
BATALHO e TOLEDO, 2000).
Eis a razão pela qual a legislação em segurança do alimento é
geralmente entendida como um conjunto de procedimentos, diretrizes e
regulamentos elaborados pelas autoridades, direcionados para a proteção da
saúde pública (FIGUEIREDO e COSTA NETO, 2001).
2.4.1 Certificações Nacionais e Globais para a comercialização de Frutas
No Brasil, na década de 1990, medidas de ordem política e econômica
culminaram na abertura do mercado para entrada de produtos estrangeiros,
imprimindo às organizações brasileiras variações e mudanças significativas,
obrigando-as a encontrar diferentes alternativas para a melhoria da qualidade
de seus produtos, processos ou serviços (SILVA e AMARAL, 2004).
No caso da produção de frutas, tendo como referência a região
frutícola do Vale do São Francisco, a comercialização com os mercados
globais se tornou presente a partir da necessidade de modernização e
padronização dos produtores para se adequar as exigências dos mercados e
dos consumidores, podendo destacar, nesse sentido entre as empresas a
tentativa de criar estratégias de exportação, e o apoio do Estado no incentivo a
exportação de frutas frescas da região (PIRES, 2004).
Na verdade, pressionadas pela abertura do comércio internacional, as
empresas brasileiras tiveram que focar suas iniciativas para ações estratégicas,
precisando melhorar seu desempenho na qualidade de seus processos,
produtos e serviços, sistemas de gestão e pessoal. (Idem).
A procura pela qualidade dos produtos comercializados, levaram os
produtores a implantar sistemas de padrões de qualidade caracterizados na
forma de certificações que controlavam todo o processo de produção, desde a
escolha da semente até a embalagem (SILVA e AMARAL, 2004).
No campo especialmente da fruticultura, criou-se, no ano de 1997, o
sistema de Produção Integrada de Frutas (PIF) pelo Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA) que visava a alta qualidade das frutas
brasileiras, cujo selo está apresentado na figura abaixo:
.
Figura 1 - Selo da Produção Integrada de Frutas
Fonte: Ministério da Agricultura, 2012.
O objetivo da PIF estava relacionado à elevação dos padrões de
qualidade e competitividade da fruticultura brasileira ao patamar de excelência
requerido pelo mercado internacional.
Nesse sentido, como observa Flores (2002), a produção integrada é
definida como sendo:
um sistema de exploração agrária que produz alimentos e outros produtos de alta
qualidade mediante o uso dos recursos naturais e de mecanismos reguladores para
minimizar o uso de insumos e contaminantes e para assegurar uma produção agrária
sustentável.
A implantação do PIF, em 1998, resultou da iniciativa dos produtores
de maçã do Rio Grande do Sul e da Embrapa Uva e Vinho, se estendendo para
outras frutas, a partir de 1999, já como programa oficial do MAPA (Idem).
O PIF foi um dos primeiros selos de qualidade adquiridos pelos
produtores do Vale do São Francisco no intuito de comercializar seus produtos
em território nacional e internacional. Através do PIF tornou-se possível o
rastreamento da produção, conferindo ao agricultor um selo de certificação e
ao exportador a qualidade da fruta.
Além disso, o PIF já previa a redução do impacto negativo do sistema
produtivo no meio ambiente, a partir do uso racional de produtos químicos
(Idem). Não se pode negar que, em se tratando do terceiro maior produtor
mundial de frutas frescas, o Brasil não pode prescindir de medidas dessa
natureza.
Grosso modo, a certificação é definida pela Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT) como:
um conjunto de atividades desenvolvidas por um
organismo independente da relação comercial, com o
objetivo de atestar publicamente, por escrito, que
determinado produto, processo ou serviço está em
conformidade com os requisitos especificados (ABNT –
ISO 9000, 2008).
As
atividades
de
certificação
podem
envolver:
análise
de
documentação, auditorias/inspeções na empresa, coleta e ensaios de produtos,
no mercado e/ou na fábrica, cujo objetivo é avaliar a conformidade e
manutenção dos processos (PESSOA et al, 2002).
Nos mercados externos, especialmente, na Europa e nos Estados
Unidos, principais importadores das frutas brasileiras, o GLOBALG.A.P. (Good
Agriculture Pratices – GAP) se constitui como principal certificado para a
exportação.
O GLOBALG.A.P. é um protocolo de Pontos Críticos de Controle e
Boas Práticas de Manipulação e Produção de Alimentos. Anteriormente era
conhecido como EUREPG.A.P.
Tal certificado é resultado de pressões de exportadores de frutas e
hortaliças para o estabelecimento de regras de produção que levem em
consideração: resíduos de agroquímicos, meio ambiente e condições de
trabalho e higiene (GLOBALG.A.P., 2008). Nesse sentido, o GLOBALG.A.P,
inclui os seguintes itens:

Proteção do Meio Ambiente: consiste em Boas Práticas Agrícolas de
Proteção Ambiental, com o objetivo de minimizar os impactos negativos da
Produção. Nesse sentido, o protocolo destaca seis áreas que consideram mais
importantes em termos de preservação ambiental:
1. áreas com alta concentração de biodiversidade com importância mundial,
regional ou nacional (espécies endêmicas, espécies ameaçadas, reservas);
2. grandes espaços naturais de importância mundial, nacional ou regional,
onde vivem espécies que existem naturalmente nesse habitat;
3. áreas que se encontram em ou que contêm ecossistemas raros ou
ameaçados de extinção;
4. áreas que fornecem serviços básicos ao ecossistema em situações
críticas (proteção de bacias vertentes, controle de erosão);
5. áreas que são fundamentais para cumprir com as necessidades básicas
das comunidades locais (subsistência, saúde);
6. áreas essenciais para a identidade cultural das comunidades locais
(áreas
de
importância
cultural,
ecológica,
econômica
ou
religiosa
identificadas em cooperação com as comunidades locais) (GLOBALG.A.P.,
2010).
 Condições de trabalho, Saúde e Segurança dos Trabalhadores:
estabelece um nível global de critérios de higiene e segurança no trabalho nas
unidades de produção, bem como a conscientização e responsabilidade quanto
a assuntos sociais. No entanto, não substitui auditorias específicas relativas à
Responsabilidade Social da Empresa (GLOBALG.A.P., 2010).

Avaliação do Impacto Social: análise, monitoriamento e gestão das
consequências sociais intencionais e não-intencionais, positivas e negativas,
de intervenções planejadas (políticas, programas, planos, projetos) e de
quaisquer processos de mudança social provocados por essas intervenções
(GLOBALG.A.P, 2010).
Vale ressaltar que a GLOBALG.A.P. é uma organização privada que
estabelece normas voluntárias para a certificação de produtos agrícolas em
todo o mundo.
O objetivo do GLOBALG.A.P. é estabelecer uma norma de Boas
Práticas Agrícolas (BPA) que inclui diferentes requerimentos para os diferentes
produtos e que possa ser adaptada a toda a agricultura mundial. É uma norma
dita "pre-farm-gate" (antes da saída da unidade de produção), o que significa
que o certificado abarca toda a produção do produto certificado: desde insumos
até a sua distribuição.
Quanto ao selo GLOBALG.A.P. este é uma marca comercial destinada
ao uso de empresa para empresa e, como tal, não é diretamente visível para o
consumidor final (GLOBALG.A.P., 2008).
Como divulgado pelo GLOBALG.A.P. NEWS Good Agricultural Practice
(2008), tal certificação é efetuada por mais de 100 organismos de certificação
independentes e oficialmente reconhecidos em mais de 80 países, sendo
aberto para todos os produtores no mundo.
Neste documento, o GLOBALG.A.P. é definido como um conjunto de
documentos normativos que incluem o Regulamento Geral, o documento de
Pontos de Controle e Critérios de Cumprimento e o Checklist.
Com base nesses critérios, entende-se que o protocolo GLOBALG.A.P.
além de ser um sistema de certificação em si, também serve de base para que
os produtores se enquadrem em outros sistemas de gestão de qualidade já
desenvolvidos, como o PIF (Produção Integrada de Frutas), e outros que ainda
estão em desenvolvimento (Idem).
No Brasil, o sistema GLOBALG.A.P. vem sendo muito utilizado,
principalmente por cooperativas agrícolas e grandes produtores de alimentos
que exportam para os mercados Europeu e Norte Americano.
No caso do Vale7, o sistema de certificação GLOBALG.A.P., no
passado conhecido como EUREPGAP (Euro-Retailer
Group,
Good
Agricultural
Produce
Working
Practices), vem sendo utilizado desde 2004,
constituindo-se como o principal certificado requerido pelos distribuidores
europeus (CAVALCANTI e PIRES, 2010).
Entretanto, para obtenção desse certificado, as cooperativas do Vale
têm investido na qualificação dos seus produtores, através de assistência
técnica por parte de órgãos como o SEBRAE, EMBRAPA, Universidades
Federais, entre outros, ampliando os produtos que já utilizam regularmente tal
protocolo.
7
As condições de adoção do GLOBALG.A.P.
observado no capítulo quadro.
pelos associados da COANA será particularmente
CAPITULO III
A FRUTICULTURA BRASILEIRA E A INSERÇÃO DO VALE DO
SÃO FRANCISCO NOS MERCADOS
3.1
Mercados da Fruticultura no Brasil
A
fruticultura
brasileira
vem
experimentando
um
crescimento
vertiginoso nos últimos anos, tanto em nível de produção, quanto em nível de
comercialização com os diversos mercados mundiais. Isso está diretamente
vinculado aos seguintes fatores: transformações estruturais ligadas a uma
necessidade de maior integração das unidades de produção às cadeias
produtivas; investimento cada vez maior em suporte tecnocientífico na
produção agroalimentar; necessidade de atendimento às novas exigências de
padronização e controle de qualidade dos produtos; e a necessidade de ações
inovadoras nos processos de gestão, bem como ao apoio do estado no
incentivo a produção de frutas para exportação (BUSTAMANTE, 2009).
Atualmente, o Brasil é o terceiro maior produtor mundial de frutas,
apresentando um valor aproximado de 42,6 milhões de toneladas. Destes, 47%
são de frutas in natura, sendo, 31% destinadas à exportação, na proporção de
2% de frutas frescas e 29% de frutas processadas (BRAZILLIANFRUIT, 2011).
Segundo dados do Ministério da Agricultura, as exportações de frutas
no Brasil cresceram 25% nos últimos cinco anos, obtendo, no ano de 2010, um
valor estimado em US$ 875 milhões em exportação (GEBRIM, 2011).
Isso pode ser melhor observado no gráfico 1, que mostra os principais
países para os quais o Brasil tem exportado frutas frescas, apresentando o
nível de participação de cada um deles no ano de 2010.
Pode-se observar, que a União Européia, constituída pela França,
Itália, Portugal, Dinamarca, Irlanda, Alemanha, Espanha e os Países Baixos,
absorve 70% do volume exportado, seguidos do Reino Unido e dos Estados
Unidos.
4%
2%
2%
1% 1% 1%
1%
1%
2%
5%
4%
38%
9%
10%
18%
2%
Países Baixos (Holanda)
Reino Unido
Espanha
Argentina
Estados Unidos
Uruguai
Alemanha
Portugal
Itália
França
Irlanda
Canadá
Polónia
Bangladesh
Dinamarca
Outros
Gráfico 1 - Exportações Brasileiras de frutas frescas (2010)
Fonte: Brazilianfruit, 2012.
Nesse cenário de produção de frutas para exportação, a região
Nordeste do Brasil vem apresentando, nos últimos anos, resultados
expressivos. Isso se deve a organização e estruturação da produção em torno
da fruticultura, favorecido por modernos sistemas de irrigação, que vem
permitindo uma produção anual de frutas tropicais, subtropicais e mesmo frutas
temperadas (banana, maçã, melão, melancia, uva, entre outras) (SILVA, 2001;
CAVALCANTI, 2003; BUSTAMANTE, 2009; CAVALCANTI e PIRES, 2010).
De acordo com a Tabela 1, no ano de 2008, a região Nordeste ocupou
o segundo lugar em nível de produção de frutas no país, correspondendo,
aproximadamente, a 27% de toda a produção nacional.
Tabela 1 - Produção de Frutas na Região Nordeste do Brasil - 2002 (em
Toneladas)
Produção brasileira de frutas por estado em 2008
Região
Total por Região
SE
22.118.328
S
5.482.533
CO
1.040.525,1
N
2.379.007
NE
11.657.432
Fonte: IBGE/SIDRA 2011.
O Vale do São Francisco destaca-se no contexto da fruticultura do
país, atendendo aos padrões de qualidade nacional e internacional
(CAVALCANTI, 1999).
As características naturais da região, como o clima semi-árido e a
baixa umidade, ligadas a produção irrigada, favorecem o cultivo de frutas com
mais de duas safras ao ano, o que permite a ocupação de janelas de mercado.
Tal fato confere ao Vale uma vantagem em comparação a outras regiões do
país, consolidando a região como complexo produtivo (Idem).
No Mapa 1 (Anexo), pode-se observar o nível de produção de frutas
no Vale do São Francisco, destacando-se a produção de uva e manga das
cidades de Petrolina e Juazeiro.
As cidades de Petrolina e Juazeiro são responsáveis pela exportação
de 97% e 99% de toda a produção de uva e manga, respectivamente (VITAL et
al., 2011).
3.2
A Construção do Vale do São Francisco como uma Região
Produtora de Frutas
O Vale do São Francisco apresenta pólos (figura 2) que são
reconhecidos pelo atendimento de padrões de qualidade das frutas, exigidos
externamente, o que lhe garanti a conquista de mercados nacionais e
internacionais. No entanto, segundo Cavalcanti et al. (2003), isso só se tornou
possível a partir de apoio estatal por meio de incentivos fiscais e financeiros e o
suporte de instituições públicas.
.
Figura 2 - Localização do Pólo Petrolina/Juazeiro
Fonte: VALEXPORT e a fruticultura no Vale do sub-médio São Francisco
Como se pode observar na literatura, até a década de 1940, a principal
atividade economia da região era a pecuária extensiva, ficando a agricultura
restrita aos cultivos de milho, feijão, melancia, melão, mandioca e cana-deaçúcar, que servia para o abastecimento de agroindústrias da região (SILVA,
2003).
No que diz respeito à fruticultura, esta era ainda uma atividade
realizada em pequena escala, baseada no cultivo de banana, laranja, limão,
manga, entre outras, e voltada basicamente para o autoconsumo das famílias
dos pequenos agricultores. Apenas uma pequena quantidade de frutas era
destinada ao abastecimento das áreas urbanas adjacentes (Idem).
Na década de 1946, o Estado decreta em lei a obrigatoriedade de
investimentos direcionados para o desenvolvimento do Vale do São Francisco,
favorecendo,
posteriormente,
o
surgimento
da
fruticultura
irrigada
(SECRETARIA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA E INOVAÇÃO – SECTI/BAHIA,
2008).
Dentre as ações do Estado, destaca-se a criação da Comissão do Vale
do São Francisco (1948), que tinha por função difundir a irrigação para os
pequenos agricultores ribeirinhos, através dos recursos disponibilizados pelo
plano de aproveitamento do Rio como: projetos de irrigação, geração de
energia elétrica, construção de estradas, saneamento, entre outros (Idem).
No entanto, os primeiros projetos de irrigação pública só se tornaram
realidade em 1968, a partir da transformação da Comissão do Vale do São
Francisco (CVSF) em Superintendência do Vale do São Francisco – SUVALE,
conhecida, a partir de 1974, por Companhia do Desenvolvimento do Vale do
São Francisco – CODEVASF (Secretaria de Ciência e Tecnologia e Inovação –
SECTI/Bahia, 2008).
Porém, segundo Cavalcanti (1999), foi entre os anos de 1970 e 1980
que a região foi se tornando dinâmica no contexto da “modernização
conservadora”.
Nesse
período,
a
agricultura
brasileira
passou
por
transformações que favoreceram regiões específicas, produtos e produtores,
beneficiando a configuração de novos espaços produtivos, na modernização da
produção e na transformação das relações sociais daí decorrentes, resultando
em um grande processo de exclusão social no campo (CAVALCANTI e
BENDINI, 2003).
Apesar disso, como reconhecem os autores especializados naquela
região,
o
suporte das instituições públicas como
a
Companhia
de
Desenvolvimento do Vale do São Francisco - CODEVASF, e o Centro de
Pesquisa Agropecuária do Trópico Semi-Árido (EMBRAPA-CPATSA), em
1976, contribuíram para o desenvolvimento da região e na formação de
Arranjos Produtivos Locas (APL) de frutas in natura (BAHIA, 2008).
Cavalcanti et al. (2003) destacam que a opção pela fruticultura se
inseria no Plano para o Desenvolvimento do Vale do São Francisco, como uma
alternativa a agricultura irrigada tradicional que estava em crise.
A partir da década de 1980, o perfil econômico da região sofreu
grandes mudanças, fazendo-se sentir mais claramente os impactos dos
investimentos do Estado. Nesse período, tornou-se expressivo o número de
empresas internacionais e nacionais especializadas em fruticultura que se
instalaram na região, consolidando as cidades de Petrolina, em Pernambuco e
de Juazeiro, na Bahia, como polos agroindustriais (SILVA, 2003).
Motivada por uma conjuntura favorável para a produção de frutas, teve
inicio, nesse período, o cultivo da uva em larga escala, vinculada a um
mercado de produtos “in natura”. Este cultivo esteve diretamente ligado a
vinicultura, pois, grande parte das mudas de uvas cultivadas eram voltadas
para a produção de vinho (BAHIA, 2008). A produção de frutas de mesa para
exportação só veio a se consolidar no início da década de 1990 (BAHIA, 2008).
Gráfico 2 - Evolução da Produção de Uva na Região do Vale do São
Francisco nos Estados de Pernambuco e Bahia.
Fonte: FILHO, 2011:2. Produção Agrícola Municipal (PAM), 2011.
Registra-se ainda que o particular interesse na produção de uva e
manga por parte das empresas que vieram a se instalar no Vale do São
Francisco, se deu pelo grande nível de aceitação dessas culturas nos
mercados globais (BAHIA, 2008).
3.3
Mercado de Exportação de Frutas no Vale do São Francisco
Estudos sinalizam que as primeiras iniciativas de exportação no Vale
tiveram início em 1987, por incentivos fiscais concedidos às empresas
produtoras de frutas como forma de resolver problemas da balança comercial.
Entretanto, o volume das primeiras exportações não foi significativo, o
que teria, mais tarde, estimulado os grandes produtores a se organizarem em
cooperativas e associações, de modo que pudessem centralizar as suas ações
de comercialização da produção, (BAHIA, 2008). Nesse sentido podemos
destacar a importância da VALEXPORT e da CAC no estímulo a criação de
cooperativas na região do Vale
Um marco importante para o reconhecimento da região como um pólo
exportador foi também a criação da Associação dos Exportadores de
Hortifrutigranjeiros e Derivados do Vale do São Francisco (Valexport), que ficou
responsável por estabelecer vínculos com as cadeias mundiais de distribuição
de frutas, mediando às relações entre grandes produtores e cooperativas da
região e o mercado externo (SILVA, 2001).
Reconhece-se também como um marco importante para a fruticultura a
instalação da Cooperativa Agrícola Cotia (CAC) na região. Este fato estimulou
o cultivo de uva e manga por parte de seus cooperados, constituindo-se como
uma das primeiras empresas da região a exportarem frutas. Com a dissolução
da CAC, grande parte dos produtores se unirão através da criação da
Cooperativa Agrícola de Juazeiro (CAJ), especializada na produção e
comercialização de uva (PIRES, 2004).
Outro fator que tem contribuído para o aumento da produção de uvas
no Vale do São Francisco, é a procura cada vez maior dos mercados por uvas
sem sementes, principalmente o mercado Europeu.
De fato, a busca dos mercados exportadores de uvas, vem sendo
orientados pelas novas tendências dos consumidores por uvas sem sementes,
o que tem levado os produtores do Vale a buscar novas variedades e
inovações tecnológicas para atingir esses mercados (CAVALCANTI, 1999).
Esse fato foi facilitado com o apoio técnico oferecido pelo Centro de
Pesquisa da Embrapa - o CPATSA, com informações sobre variedades de
uvas, manejo das culturas nas condições de cultivo irrigado em clima
semiárido, entre outros (SILVA, 1999).
Segundo Silva (2001), com a produção de frutas voltadas a atender os
mercados
globais,
percebeu-se
a
necessidade
de
investimentos
em
infraestrutura, principalmente no que diz respeito à ampliação do número de
packing houses8, impulsionando as exportações e o aumento de produtores e
hectares de uva e manga da região.
Segundo dados coletados por Pires (2004:191) referentes ao ano de
2006, a CAJ contava com uma câmara frigorifica com capacidade para 15.000
caixas de uva/dia, além de um espaço para armazenamento de 30.000
caixas/dia, possibilitando estender os serviços de resfriamento para outros
produtores da região.
No caso da CAJ, a construção da câmara fria se configurou como um
requisito essencial para a comercialização da uva e da manga, garantindo as
exportações. O caso da COANA é particularmente significativo nesse sentido,
onde a criação dessa cooperativa se deu em torno da construção de uma
câmara fria, como será discutido no capítulo seguinte.
8
Casa de embalagem
CAPÍTULO IV
AS COOPERATIVAS AGRÍCOLAS DO VALE DO SÃO FRANCISCO E SUA
INSERÇÃO NOS MERCADOS DE QUALIDADE
Pesquisas recentes realizadas no Vale do São Francisco apontam a
existência de cooperativas de forte dinamismo econômico e produtivo, que são
capazes de responder as novas demandas dos mercados.
No âmbito dessas pesquisas, Pires e Cavalcanti (2010) analisam
quatro cooperativas do Vale9 semelhantes pelo seu dinamismo e perfil dos
seus associados.
Tais cooperativas seriam, segundo as autoras, fundamentadas numa
estrutura produtiva e organizacional enxuta, pautada em rigorosa governança
administrativa; uma inversão financeira individual expressiva por parte dos
associados; um elevado nível de profissionalismo dos produtores e, finalmente,
uma forte adesão dos associados na condução dos negócios da cooperativa
(PIRES e CAVALCANTI, 2010:7). Razão pela qual, admitem, poderiam ser
classificadas como cooperativas de “Nova Onda”.
Essa nova onda de cooperativas do Vale, segundo ressalta, aproximase do conceito de “Nova Geração de Cooperativas”, na medida em que
engloba produtores com alto grau de empreendedorismo no setor agrícola, e
que tem por objetivo o aumento da produção e comercialização dos seus
produtos, bem como diminuição dos custos operacionais. Tal modelo está
diretamente ligada a modelos de governança orientados a alcançar um produto
de excelência (Idem).
Porém, reconhecem que o conceito de “nova geração”, por envolver
uma forma particular de capitalização via abertura de capitais no mercado, não
corresponde integralmente aos casos em questão.
9
a Cooperativa Agrícola dos Exportadores do Vale do São Francisco (COOPEXVALE), Cooperativa dos
Exportadores de Frutas do Vale do São Francisco (COOPEXfruit), a Cooperativa Juazeiro da Bahia (CAJ), e
a Cooperativa Agrícola Nova Aliança (COANA).
Como observa Bialokorski (1999), esse tipo de organização conhecida
como de nova geração de cooperativa estimula a capitalização, participação, e
a qualidade nos produtos finais, apresentando uma estrutura organizacional
que
incentiva
o
estabelecimento
e
a
manutenção
de
padrões
de
competitividade e eficiência. Essas organizações cooperativas são criadas com
a finalidade de atingir mercados e não estão pautadas tão somente no produto
como normalmente ocorre, mas na capitalização, via venda de ações (PIRES,
2004).
Uma característica marcante da Nova Geração de Cooperativas referese à fidelidade irrestrita dos cooperados, resultado dos contratos estabelecidos
com os mercados, com os quais exige-se não apenas a fidelidade da entrega
do produto em quantidade estabelecida, mas também com padrões de
qualidade previamente definidos (BIALOKORSKI, 1999).
Ainda para esse autor, essas novas cooperativas, por mais que
apresentem um caráter inovador, tendem de um modo geral, a manter os
objetivos da cooperação10. Ainda assim, reconhece que a rigidez da
fundamentação legal e filosófica do cooperativismo tenda a comprometer os
princípios do movimento cooperativo, na medida em que constitui um entrave
diante da necessidade de flexibilidade requerida para o enfrentamento da
abertura
dos
mercados,
acarretando
maiores
custos
de
transações
(BIALOKORSKI, 1998:100).
Assim, observa que o "princípio da democracia" requer altos custos de
transação em decorrência das tomadas de decisões serem em assembléias; o
"princípio da igualdade", onde cada pessoa tem direito a um único voto, implica
diretamente em altos custos de Agency provenientes da falta de incentivo para
as atividades junto à empresa; e o "princípio da solidariedade", do retorno pro
rata das operações e para fato de existir objetivos que visam o lucro, dificultam
uma delimitação clara dos direitos de propriedade, acarretando elevados
custos de Agency e de transação.
10
O cooperativismo baseia-se em valores de ajuda mútua, responsabilidade, democracia, igualdade,
liberdade, honestidade, transparência, equidade e solidariedade, e são eles que balizam os princípios
cooperativos, segundo sua origem (PIRES, 2004).
Nesse sentido, Pires (2004) chama a atenção para as tensões
existentes entre a “filosofia cooperativa e racionalidade capitalista”, na qual a
primeira, muitas vezes, esbarra nas estratégias capitalistas adotadas pelas
cooperativas como forma de se manterem competitivas nos mercados.
Portanto, para essa autora, a conciliação entre a filosofia cooperativa e a
racionalidade capitalista constitui o principal desafio das organizações
cooperativas na atualidade.
Nesse sentido, a autora questiona “[...] Até que ponto é possível
corresponder às demandas próprias da globalização sem comprometer a
identidade do movimento? (PIRES, 2004:61)”.
Com efeito, para estarem inseridas nos mercado, as cooperativas
desenvolvem práticas inovadoras e eficazes capazes de atender, ao mesmo
tempo, cooperados e clientes internacionais. Por essa razão, cada vez mais, as
cooperativas estão sendo administradas por gerentes executivos, cujas
decisões nem sempre são oriundas das assembléias (Idem).
Pires (2004) ressalta ainda que, apesar da possibilidade de alterações
nos princípios filosóficos e doutrinários - seja por reformulação de alguns
princípios ou fim de outros - esses aspectos revelam os limites de ação das
cooperativas.
É, portanto, no campo dessas discussões que situamos nosso objeto
de estudo a Cooperativa Agrícola Nova Aliança (COANA)11. O caso da COANA
constitui um exemplo ilustrativo para identificar as estratégias utilizadas pelas
cooperativas como forma de atendimento aos critérios de qualidade exigidos
pelos mercados.
4.1
Cooperativa Agrícola Nova Aliança (COANA)
A Cooperativa Agrícola Nova Aliança (COANA), fundada em 2005, está
localizada na cidade de Petrolina, no estado de Pernambuco.
A COANA é especializada na produção e comercialização de uva com
11
Além dessa, utilizaremos as demais cooperativas investigadas (CAJ, COOPEXVALE e COOPEXfruit)
quando necessário, como forma de complementação das informações.
e sem semente para os mercados globais, tendo sua criação associada à
necessidade sentida por agricultores experientes na exportação de uva, em
fundar uma cooperativa, potencializando os recursos e minimizando custos de
exportação (PIRES e CAVALCANTI, 2009).
Com a criação da cooperativa centrou-se como primeira providencia a
construção de uma câmara fria com capacidade para 160 mil toneladas de uva
por dia. A área de recepção das frutas e a câmara fria podem ser visualizadas
nas Fotos 1 e 2 (Apêndice).
A câmara fria constituiu um recurso de fundamental importância nesse
tipo de atividade, dado o alto grau de perecibilidade da uva, constituindo-se,
assim, como condição essencial para a exportação da produção dentro das
exigências das redes de supermercados e dos protocolos internacionais.
Como já observado no terceiro capítulo desse trabalho, as packing
houses bem como as câmaras frias encontram-se dentre os investimentos de
infraestrutura que vêm garantindo a expansão das frutas no Vale (SILVA, 2001;
BUSTAMENTE, 2009).
No caso da COANA, a construção desse ambiente refrigerado
representava uma grande economia para os associados, na medida em que iria
poupar seus recursos com o aluguel desses espaços, como faziam
habitualmente, antes da constituição da cooperativa.
A câmara fria da COANA apresenta capacidade total para 600 pallets12,
o que equivale a 102.000 caixas de uvas de 4,5 Kg, ou 54.000 caixas de uvas
8,2 Kg, ou 51.000 caixas de uvas 9,0 Kg. Para serem transportadas, as caixas
de uvas são colocadas em pallets de 4,5Kg (170 caixas), 8,2Kg (90 caixas) e
9,0Kg (85 caixas), respectivamente.
Entretanto, durante o período de grande safra, que compreende os
meses de setembro a novembro, é utilizado todo o espaço da câmara fria. Esse
período, segundo relatado, requer uma especial atenção na logística para
evitar riscos de sobrecarga, como observa o entrevistado:
12
Um estrado de plástico, metal ou madeira que é utilizado para movimentação das caixas de uvas.
Na verdade, por ser um período de grande concentração de colheita das
fazendas, precisamos realizar um excelente trabalho de logística para não corrermos o
risco de pararmos o embalamento por falta de espaço na câmara, é necessário que
haja uma rotatividade intensa (Coordenado da COANA).
No que concerne ao processo de armazenamento das uvas na câmara
fria, existe todo um procedimento pautado em cuidados especiais, abrangendo
desde o processo de embalamento nas fazendas, até o armazenamento no
frio. Ao chegarem das unidades de produção, devidamente embaladas e
paletizadas, as uvas são colocadas em túneis de resfriamento e submetidas a
um frio de zero grau Celsius (0º C), durante oito horas.
Posteriormente, as uvas são levadas para serem armazenadas em
salas climatizadas, com essa mesma temperatura, onde ficam até serem
enviadas para o carregamento em containers refrigerados, com temperatura,
também, de zero grau Celsius.
Todo o processo de acondicionamento das uvas fica restrito aos
cooperados da COANA, não sendo, portanto disponibilizado espaços de
refrigeração para outros produtores do Vale. Isso se explica pela utilização total
da capacidade da packing house13, especialmente nos momentos de safra.
Tal procedimento diferencia-se do sistema adotado pela CAJ, como
ressaltado por Pires (2004) e já comentado. Neste trabalho, de disponibilizar
parte da sua câmara fria, servindo inclusive, como forma complementar de
capitalização.
É importante destacar que o custo individual para utilização da câmara
fria na COANA varia de acordo o tipo de uva produzida, e com o período de
permanência do produto no ambiente refrigerado. Tal custo pode variar entre
7% e 7,5% do total de uva comercializada. Esse valor já inclui também todos os
custos de comercialização, tais como: documentação de exportação, notas
fiscais, venda, e transporte do produto.
Entretanto, a relação com os mercados não é feita diretamente pela
13
Essa nomenclatura, cuja tradução é casa de embalagem, é habitualmente utilizada na versão inglesa,
no Vale do São Francisco, entre produtores e trabalhadores.
cooperativa, sendo mediada por uma empresa local chamada Purafruta14. Essa
empresa fica responsável pelas negociações e contratos com os mercados
exportadores, especializando-se nas seguintes certificações internacionais:
GLOBALG.A.P., NSF-CMi15 e LEAF UK16. Participa como membro da
SedexGlobal17, uma cadeia de suprimentos global.
A COANA é composta por vinte sócios, cumprindo, assim as
exigências quanto à composição do número mínimo de associados exigidos
pela lei 5.765 de dezembro de 197118.
Entretanto, tal número no caso em questão se reduz a cinco famílias,
onde cada uma delas é dona de uma fazenda produtora de uva, são elas:
Fujiyama, Sweet, Jmm, Ssa e Fan. O volume de produção de cada uma dessas
fazendas pode ser visto na tabela 2.
Tabela 2- Fazendas da COANA e Capacidade de produção em Toneladas
Fazenda
Volume da produção em Toneladas
Fujiyama
1.200
Sweet
1.000
Jmm
1.000
Ssa
900
Fan
800
Fonte: Dados fornecidos pela cooperativa, 2009.
14
A Purafruta é uma empresa localizada em Petrolina, e que além de produzir frutas, oferece serviços
nas áreas de representação comercial, resfriamento e consultoria em mercado fruticultor (Fruit
Business) (PURAFRUTA, 2011). www.purafruta.com.br
15
A NSF-CMi é uma marca de origem Estadunidense, que tem por objetivo a garantia de qualidade dos
alimentos, que presta serviços de consultoria e certificação para o cumprimento de normas legislativas e
da indústria ( http://www.nsf-cmi.com)
16
A LEAF é um órgão não governamental Inglês, que tem por objetivo a criação de soluções sustentáveis
no setor agroalimentar, trabalhando com agricultores e organizações de todo o mundo. É um dos
membros fundadores da Iniciativa Europeia para o Desenvolvimento Sustentável da Agricultura
(www.leafuk.org).
17
SedexGlobal é uma organização sem fins lucrativos, que visa a promoção de melhorias éticas em
cadeias globais de abastecimento. Apresenta uma plataforma on-line para compartilhamento e
visualização de informações sobre as normas de trabalho, saúde e segurança, meio ambiente e práticas
de negócios (www.sedexglobal.com).
18
Lei que define a Política co Cooperativismo e institui o sistema jurídico das sociedades cooperativas no
Brasil.
Das cinco famílias de produtores da COANA, duas são egressas da
Cooperativa Agrícola Juazeiro da Bahia (CAJ-BA).
Vale ressaltar que, no passado recente, a CAJ era identificada como a
maior cooperativa exportadora de frutas da região (PIRES, 2004). Porém, hoje
por manter uma estrutura muito onerosa de serviços oferecidos aos sócios e,
por conseguinte, de funcionários, essa cooperativa tem dificuldade em reduzir
seus custos de produção, como observa um dos nossos entrevistados da
COANA.
O nosso custo de cooperativa saiu de mais ou menos, na minha época na CAJ, de
uma taxa comercial de 12%, pra 4,5% aqui com uma estrutura enxuta (Presidente da
COANA).
A referência à estrutura enxuta mencionada pelo entrevistado se
insere, segundo a discussão teórica, na noção de fábrica enxuta, ou Just-intime ou Lean Production.
Tal noção está ligada a um modelo Toyotista ou pós-fordita de
produção personalizada, e que aparece como uma alternativa ao modelo
Fordista de produção em massa. Na produção enxuta, o objetivo se apóia na
idéia de custos baixos de produtos destinados a mercados diferenciados, que
são muito exigentes em termos de diversificação e qualidade.
Como já discutido no segundo capítulo, o contexto pós-fordista de
produção exigiu a flexibilidade produtiva, ajustada a produção à segmentação
dos mercados (BONANNO, 1999). Atrelado a essa produção, estava uma
produção Just-in-time, diminuindo o tempo de produção, o tempo de
armazenamento e entrega (Idem).
Essa produção Just-in-time se contrapõe a idéia de produção em
massa, ajustando a produção à demanda como forma de evitar o desperdício
(CAVALCANTI, 1999). Segundo Pires (2004) uma estrutura enxuta da
cooperativa lhe permite agilidade no atendimento às diferentes demandas,
como requerem os mercados.
No caso da cooperativa em análise, essa estrutura enxuta refere-se a
um quantitativo reduzido de cooperados, no caso cinco membros efetivos,
embora englobe o número mínimo exigido por lei de vinte associados, como já
referido anteriormente. Esse reduzido número de associados efetivos constitui
um dado muito ilustrativo, pela similaridade que apresenta em relação ao
modelo de “Nova Geração de Cooperativas” já comentado nesse trabalho,
caracterizado também pelo número reduzido de associados.
O caráter enxuto de cooperativa está também presente no número
reduzido de empregados, e na terceirização dos serviços relativos à
comercialização, contabilidade e logística, minimizando os custos da
cooperativa relativos à sua operacionalidade e logística.
O número de empregados da COANA fica reduzido a 16 pessoas,
sendo: - um responsável pela administração; - duas secretárias; - duas
pessoas na área de compras; - um funcionário na área contábil; - duas pessoas
responsáveis pela parte financeira; - dois na logística e dois operadores de
máquinas; - um empregado responsável pelo recebimento e expedição; quatro
funcionários responsáveis pela câmara fria e um funcionário que opera a
câmara fria.
Os associados, por sua fez, dependem de um grande número de
empregados, variando de 600 até 1500 nas cinco propriedades. No período de
entressafra, a cooperativa garante o seguro desemprego no valor de um salário
mínimo para os empregados safristas.
Segundo nos foi relatado, grande parte desses “safristas” é proveniente
da área agrícola, muitos dos quais são ex-donos de pequenos lotes de terras,
que, por não disporem de recursos financeiros e de não terem sido capazes de
conquistarem os certificados exigidos para a comercialização de uva, foram
compelidos a ingressar no trabalho assalariado.
Os associados detêm unidades de produção com um número variado
de hectares, na ordem de 35ha o menor e 60ha o maior, totalizado, no
conjunto, 220 hectares.
4.1.1 Perfil dos Associados
Os associados são produtores com tradição na exportação de uva do
Vale do São Francisco. Por conta disso, já tinham a certificação exigida pelos
mercados globais, como a GLOBALG.A.P., uma certificação essencial para
exportação das uvas no Vale do São Francisco. Como já analisado no segundo
capítulo deste trabalho, quando discutimos sobre o papel das certificações para
a comercialização de frutas.
Porém, Pires e Cavalcanti (2009) observam que apesar do alto grau de
profissionalismo desses produtores, são poucos os que vivem exclusivamente
da fruticultura. Grande parte dos produtores desta região exerce outras
atividades dentro e fora da fruticultura, prestando consultorias técnicas na área
de produção.
Referindo-se a COANA, tal cenário é ilustrado na fala do entrevistado:
Tem um que faz consultoria e é engenheiro agrônomo
também. Meu irmão é da consultoria técnica de produção
e eu que faço alguns projetos nessa área de refrigeração
pra fora. E os demais não, são focados 100% na
agricultura (Presidente da COANA).
Entretanto, foi possível constatar que todos têm na fruticultura sua
atividade principal.
4.1.2 Comercialização da uva
A COANA produz e comercializa uva de mesa, com e sem semente,
destinado quase à totalidade de sua produção para os mercados externos
(95%), o que corresponde a 540 toneladas de uva exportadas. Portanto,
apenas, 5% das uvas são destinados ao mercado interno.
A
cooperativa
comercializa
para
os
três
principais
mercados
importadores: Europa Continental, Inglaterra e Estados Unidos, tendo o seu
volume de produção estimado entre 4.0000 e 5.000 toneladas.
É importante destacar que essa estratégia de dividir a produção entre
os três mercados, vem sendo utilizada pela cooperativa como uma maneira de
se proteger dos impactos causados pela “crise” que recaiu sobre os produtores
de frutas do Vale do São Francisco no ano 2008, como descrito abaixo:
Essa estratégia nos poupou grandes transtornos naquele
ano, onde muitos quebraram por concentrar toda
produção nos EUA, outrora com os melhores preços.
Normalmente distribuímos 1/3 da fatia para cada
mercado e recebemos as divisas nas suas respectivas
moedas: Dólar, Euro e Libra. Assim não ficamos refém de
uma
única
moeda,
como
acontece
comumente
(Coordenador da COANA).
Segundo Pires e Cavalcanti (2010), a crise global que se revelou para
os atores do Vale do São Francisco através das ameaças da redução e
cancelamento dos contratos de comercialização, e da queda de preços dos
produtos nos mercados internacionais, levou os produtores e cooperativas do
Vale do São Francisco a criarem estratégias produtivas e organizacionais, e a
diversificar os seus mercados importadores.
Todos os mercados importadores são muito exigentes no que diz
respeito
a
padrões
de
qualidade,
como:
rastreabilidade,
condições
fitossanitárias, aspectos ambientais, registros, entre outros, presentes no
protocolo GLOBALG.A.P.
De acordo com Mafra (2008), o protocolo GLOBAG.A.P. assegura ao
mercado internacional que as normas de produção definidas por esse selo
de certificação sejam devidamente incorporadas pelo produtor, criando, ao
mesmo tempo, uma unificação das normas de produção.
Pires e Cavalcanti (2009) apontam para os altos investimentos
requeridos na implantação dessas normas para a obtenção da certificação
GLOBALG.A.P., em termos de colheita, tratamento pós-colheita, tipo de cultivo
e espécie, proteção do meio ambiente, manejo de solo, utilização de insumos
agrícolas, rastreabilidade, condições higiênico-sanitárias, registros, segurança
dos trabalhadores, entre outros, constituindo-se, por conseguinte, como um
entrave para que produtores menos capitalizados possam implementá-la. Essa
foi a razão pela qual, como já observado nessa sessão, que pequenos
proprietários não conseguem uma inserção competitiva nos mercados
precisando, muitos deles, se converterem em trabalhadores assalariados.
Além dessas exigências contidas nos protocolos de certificação,
existem outras condições impostas pelos compradores internacionais, nas
quais os produtores precisam permanentemente se adequar. Essas condições
estão relacionadas aos tipos de embalagem e características sensoriais como
cor, sabor e tamanho.
Pires e Cavalcanti (2009) afirmam que a garantia da qualidade está
associada a uma política de qualidade, apresentando uma padronização
conforme as normas rigorosas de produção
e comercialização
pré-
estabelecidas pelos compradores internacionais, como: cor, sabor, tamanho,
teor de açúcar, entre outros. Critérios que, segundo as autoras, determinam um
produto como “tipo exportação”.
Para Bonanno (1999), a economia atual, tida como pós-fordista, vem
orientar a produção de alimentos para obtenção de produtos de melhor
qualidade e que venha a atender as necessidades de consumidores exigentes
e diferenciados.
Os novos modelos de produção ligados a um contexto pós-fordista de
produção de alimentos consiste no ajustamento da produção através da
segmentação dos mercados, obtendo produtos diferenciados e ligados a um
controle das etapas da produção, e integração produtiva, que é responsável
pela diminuição do tempo de produção, entrega e armazenamento de produtos,
com a diminuição dos custos e gestão de informação (BONANNO, 1999).
Cavalcanti (1996) chama a atenção para o fato de que a inserção do
Vale nos mercados globais deva-se a uma concepção de dieta pós-fordista e
pós-moderna, pautada em forte valorização das frutas frescas e exóticas, sob
rigorosos padrões de qualidade. Padrões estes que determinam embalagem,
acondicionamento dos produtos em câmaras frigoríficas, tipo de transporte
associados a condições ambientais e higiênicas sob os quais os produtos são
preparados para a exportação (CAVALCANTI, 1995).
Tal constatação é facilmente relacionada ao caso da COANA, onde os
critérios quanto às condições de higiene das câmaras frigoríficas e do sistema
de embalagens são presentes no cotidiano daquela empresa. No que diz
respeito particularmente às embalagens, a COANA comercializa para a
Europa, Estados Unidos e Inglaterra por meio de embalagens, de 4.5Kg, 8Kg e
9Kg, respectivamente. Desta maneira, as caixas são comercializadas para os
diferentes
mercados
exportadores
representados
por:
TESCO
e
MAXSPENCER para a Inglaterra, CHIQUITA na Europa, e FRUCOM para os
Estados Unidos, entre outros mercados.
Para que haja a comercialização com esses mercados, todas as
fazendas dos associados da COANA possuem sua própria packing house. Nela
é feita todo o acondicionamento das uvas produzidas pelos associados, que vai
desde a limpeza, lavagem, sanitização, seleção final, embalagem e rotulagem.
Só depois de todo esse processo, e que as caixas são levadas pelos
associados à cooperativa, ficando acondicionadas na câmara fria.
A COANA dispõe de um sistema de rastreamento on-line em todas as
fazendas dos associados, onde ficam dispostas as informações acerca de
todas as fases de produção do produto, aí incluindo a colheita nas fazendas, o
tipo de uva, a procedência do cliente, o volume diário, entre outras
informações. Segundo o Coordenador da COANA, esse tipo de sistema
contribui para a dinâmica de comercialização da cooperativa:
Isso facilita muito para a equipe de logística, que precisa
destas informações para providenciar programação de
carregamento dos containers, minimizando o tempo de
permanência da uva na armazenagem (Coordenador da
COANA).
Embora, não se saiba o número exato de parking fuzis presente no
Vale do São Francisco, estima-se que, até o ano de 2008, existam,
aproximadamente, 45 unidades, das quais, 16 destinadas para exportação de
frutas, especialmente a uva (BAHIA, 2008).
Como se pode observar na fala dos nossos entrevistados, apesar de
haver normas gerais quanto à qualidade e aspectos físicos do produto, há
particularidades próprias de cada mercado, no que diz respeito às suas
preferências.
Os americanos valorizam o aspecto visual da uva.
Gostam de uma uva grande, bonita, uniforme, com uma
coloração uniforme, com uma embalagem bonita, não
precisa nem ser muito doce, mas tem que ser bonita e
grande. Eles valorizam mais o visual. Pode ser um
festival de variedades que parece um isopor, mas eles
adoram porque é bonita (Presidente da COANA).
Procedimentos diferentes adotam os ingleses, como observado por um
dos nossos informantes:
Os ingleses já gostam de uma uva que seja doce e
saborosa, tem que ser bonita também. Entre as duas
coisas eles valorizam mais o sabor (Presidente da
COANA, 2009).
A Europa é um pouco menos exigente, como destacado:
Eles já gostam de uma uva também com mais sabor só
que são menos exigentes em qualidade então pode ser
um pouquinho mais azeda, e não ser tão bonita, eles
aceitam (Presidente da COANA).
Como afirma nosso entrevistado, a grande dificuldade para se exportar
está exatamente no atendimento ao conjunto das exigências impostas pelos
mercados importadores.
O exportar é muito fácil, atender a todas as exigências
que é difícil. Então, por exemplo, um produtor que tenha
acesso a todo tipo de informação, ele sabe qual é a
exigência e atende. Pra esse pessoal é fácil exportar
(Presidente da COANA)
O que nos leva a concordar com Cavalcanti (1999) quando afirma que
o conhecimento acerca do produto e do processo de produção se constitui
como requisito essencial para uma inserção competitiva nos mercados.
Entretanto, como afirma essa autora, para que isso aconteça, faz-se
necessário que a cooperativa invista em educação, formação e informação dos
seus cooperados e trabalhadores, o que vem demonstrar o grau de
diferenciação desse empreendimento nos mercados.
Nesse sentindo, Cavalcanti (2005) se refere ao processo de
“externalização” a que se submetem os produtores e suas unidades de
produção, para atender aos requisitos das cadeias internacionais de alimentos.
Segundo Cavalcanti et al. (1999), esse processo de “externalização” da
produção está diretamente ligado à procura de alimentos com alto padrão de
qualidade, o que significa dizer que o produto deva ser produzido de acordo
com normas e regras de qualidade definidos pelos diversos mercados
importadores, requerendo dos produtores estratégias que se traduzem em
investimentos tecnológicos e ambientais.
No entanto, como discutido por Pires e Cavalcanti (2010)19, apesar das
dificuldades na exportação, o fato de ser cooperativa minimiza os impactos
resultantes dos custos de investimentos, como também em situações de crise,
amenizam seus impactos, facilitando a busca de soluções em comum.
19
As autoras referindo-se particularmente a crise global e suas percussões sobre o Vale do São Francisco
iniciadas no final de 2008.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o objetivo de analisar as estratégias estabelecidas pelas
cooperativas agrícolas para atender aos padrões de qualidade exigidos pelos
mercados globais, pôde-se constatar que a COANA foi concebida enquanto
fruto da ação autônoma de agricultores experientes no cultivo da uva, visando
a otimização da sua capacidade produtiva.
No processo de criação da COANA, a construção de uma câmara fria
representou possibilidade de ampliar o volume de vendas do grupo a partir de
mobilização de significativos recursos financeiros, permitindo uma inserção
mais competitiva nos mercados.
Com efeito, a câmara fria garantiu os objetivos iniciais do grupo,
especificamente no que diz respeito ao fato de não precisarem mais
desprender gastos com o aluguel de ambientes refrigerados, como
habitualmente faziam antes da cooperativa.
Tal perspectiva traz a tona à idéia de fábrica enxuta que, no caso da
cooperativa, se caracteriza pelo reduzido número de empregados e
associados, e na terceirização dos serviços, reduzindo os custos da
cooperativa e da sua estrutura organizacional. Tal processo também assegura
que as relações estabelecidas entre atores locais e globais, e que se pautam
em fortes exigências, impliquem em respostas ágeis no cumprimento dos
contratos com os mercados.
No que concerne à participação dos associados, observou-se uma
participação ativa dos seus membros na dinâmica da cooperativa, motivo,
inclusive, destacado pelos nossos entrevistados. A busca constante de
decisões em conjunto parece se constituir como um elemento decisivo no
sucesso daquele empreendimento.
Tal realidade traduz, no cooperativismo, o princípio de “controle
democrático” pelos sócios, onde cada membro tem direito a “um voto”, e
participam ativamente nas decisões. Entretanto, o mesmo não pode ser dito em
relação ao princípio de “adesão livre e voluntária”, na media em que, a
cooperativa limita seu corpo social a 20 associados englobando tão somente
cinco famílias.
Conforme analisado, a cooperativa é formada por produtores com larga
experiência na produção de uva, e que atendem as exigências dos mercados
globais no que concerne aos padrões de qualidade, especialmente, a conquista
de certificados internacionais, a exemplo da GLOBALG.A.P. A experiência
nesse campo fora adquirida antes mesmo da organização de cooperativa. O
objetivo do grupo na constituição da cooperativa foi minimizar custos de
produção, ampliando sua capacidade produtiva em torno da construção da
câmara fria.
A cooperativa tem buscado criar estratégias para cumprir com as
exigências dos mercados, investido na idéia de flexibilização da sua estrutura a
partir de procedimentos “enxutos” como forma de se ajustar mais facilmente às
exigências impostas pelos mercados.
O que nos faz concordar com Pires (2004) quando afirma, que frente a
esses novos processos de globalização e das constantes mudanças nos
mercados globais de alimentos, o cooperativismo tem sido um dos principais
instrumentos de modernização dos agricultores do Vale do São Francisco,
fazendo-os capazes de atender às novas necessidades de produção e de
consumo, decorrentes dos novos modos de vida.
A incorporação de um sistema on-line de rastreamento dos produtos,
onde ficam armazenados os dados acerca de todas as fases de produção do
produto, se configura como um diferencial para a COANA, demonstrando o
grau de competitividade e modernização no qual a cooperativa vem se
estruturando.
Diante disso, a cooperativa tem se valido da utilização de prática de
gestão de qualidade para obtenção de concessão de novos certificados, para a
inserção nos mercados internacionais, a partir de um número reduzido de
empregados situados em postos estratégicos.
Nesse sentido, constatou-se que a construção de uma packing house
nas unidades produtivas, onde é realizada limpeza, lavagem, sanitização,
seleção final, utilização de embalagens especificas para cada mercado
exportador e a rotulagem, é um elemento importante para adequação do
produto aos padrões aceitáveis de qualidade.
As
condições
higiênico-sanitárias,
as
características
sensoriais
relativas à cor, sabor e tamanho, bem como os aspectos físico-químicos (pH,
acidez titulável, sólidos solúveis, relação sólidos solúveis/acidez titulável) dos
produtos, também se fizeram presentes nos diversos discursos, corroborando
pesquisas anteriores no Vale do São Francisco que apontam para
a
preocupação com a qualidade como requisito de uma inserção competitiva
nos mercados.
Deste modo, vale salientar que o grau excessivo de exigências dos
mercados exportadores, como destacado na literatura especializada tem
dificultado as exportações por parte dos produtores, na medida em que é
necessário alto nível de investimentos, demonstrando com isso, o processo de
“externalização” o qual está subordina as regiões produtivas.
No caso da COANA, entretanto, a estrutura enxuta na qual está
apoiada, tem facilitado o enfrentamento das dificuldades do ambiente de forte
comum as regiões exportadoras. Além disso, o fato de estarem constituídas
como cooperativa tem facilitado também o enfrentamento aos momentos de
crise. Esses motivos têm contribuído para que a COANA venha respondendo,
com rapidez e eficiência aos apelos do mercado.
O que nos leva a concordar com Pires (2005), quando afirma que o
sucesso da cooperativa depende da “capacidade de organização da produção
e da rede de relações expressos entre as imposições produtivas globais
e a capacidade de respostas em nível local”.
No âmbito do desenvolvimento local, a Cooperativa tem contribuído
para a dinâmica da região a partir da geração de empregos e renda, da
ampliação do debate democrático e no estabelecimento de parcerias com o
poder local para a ampliação de um posto de saúde numa comunidade rural,
no âmbito de UN-10.
Desta forma, como foi observado, há uma tendência global acerca das
novas exigências da qualidade, no que se refere às condições com a qual o
produto é produzido, particularmente, em termos das condições de trabalho, da
preservação do meio ambiente e do desenvolvimento local, e que estão
claramente especificadas na GLOBALG.A.P.
Ficou evidente, a preocupação da Cooperativa no cumprimento dessas
novas exigências dos mercados, incitando iniciativas dentro da perspectiva do
desenvolvimento local.
O que, por conseguinte, tende a assegurar o sétimo princípio
cooperativo referente ao “interesse pela comunidade”. O comprometimento
com o local dado ao “enraizamento” da cooperativa com o meio no qual está
inserido.
Embora tenha se tornado evidente a capacidade da COANA em
atender às exigências dos diversos mercados, em termos de aspectos
sensoriais de uva, segurança alimentar e ambiental, o crescimento das
exigências desses mercados, ao longo dos anos, poderá impor novos desafios
à cooperativa analisada e por em xeque a sua atual performance empresarial.
O que tende a justificar a continuidade das investigações.
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APÊNDICE
Foto 1 - Área de Recepção de uvas.
Fonte: Pesquisa de campo, 2009.
Foto 2 - Câmara Fria da COANA
Fonte: Pesquisa de campo, 2009.
Foto 3 - Encarregado de operação da Câmara Fria.
Fonte: Pesquisa de campo, 2009.
ANEXO
Mapa 1- Distribuição da Fruticultura na Vegetação Natural, 2005.
Fonte: IBGE , 2005