O Clarim - Tradisom

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O Clarim - Tradisom
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DIRECTOR Pe. José Mario O. Mandía | ANO 68 | Nº 3 | 22 de MAIO de 2015 | SEXTA-FEIRA
PT
EN
CH
EDIÇÃO TRILINGUE | TRILINGUAL EDITION | SEMANÁRIO CATÓLICO DE MACAU | PREÇO 12.00 Mop
www.oclarim.com.mo
ASSOCIAÇÃO PATRIÓTICA TERÁ PERDIDO PESO INSTITUCIONAL
Igreja
una, santa, católica
DESTAQUE E EDITORIAL PÁGs. 2
Património: Macau
melhor que Goa
E
3
JOSÉ MOÇAS, EDITOR E PRODUTOR
LOCAL PÁG. 5
“Viva Pataca”: terapia
para crianças
LOCAL PÁG. 5
Escola Portuguesa
vence no futebol
LOCAL PÁG. 4
«Macau
mudou
a minha vida»
CULTURA PÁGs. 10
E
11
D E S TAQ U E
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 22 de Maio de 2015
2
PT
ASSOCIAÇÃO PATRIÓTICA TERÁ PERDIDO PESO INSTITUCIONAL
Igreja, una, santa, católica
JOSÉ MIGUEL ENCARNAÇÃO
[email protected]
Reconhecido pela Santa Sé e pelo
Colégio dos Bispos da China, o
bispo de Fenyang nega a existência
de duas Igrejas no País – uma
oficial e outra clandestina. Em
entrevista ao site Vatican Insider,
D. Johannes Huo Cheng minimiza
o peso da Associação Patriótica
dos Católicos Chineses, dando
como exemplo o trabalho pastoral
desenvolvido pela sua diocese. O
prelado da Província de Shanxi
revela satisfação pela aproximação
do Vaticano à República Popular
da China, criticando aqueles
que insistem em desrespeitar as
instruções vindas de Roma.
O bispo de Fenyang, D. Johannes Huo
Cheng, defende que a Igreja Católica
na República Popular da China é una,
rejeitando a tese de que existem duas
Igrejas no País.
Para o prelado na Província de Shanxi, o problema está entre os sacerdotes
que reconhecem e servem o Papa e
aqueles que apenas seguem os ditames
da Associação Patriótica dos Católicos
Chineses. No seu entender, mais do que
isto é especulação.
Em entrevista ao Vatican Insider, site
do diário La Stampa, o bispo de Fenyang
é taxativo quanto à questão da cisão da
Igreja Católica na RPC, chegando mesmo a surpreender: «Só há uma Igreja na
China. Mesmo a ideia de que a Igreja está subordinada ao Governo chinês não é totalmente verdadeira. O que acontece é que alguns
estão subordinados ou deixam-se subordinar
com o intuito de obterem benefícios e apoio
material. Também é verdade que se querem
construir uma qualquer infra-estrutura têm
de contactar o Governo, mas há muitos poucos que são de facto dominados internamente
pelo poder político. A grande maioria é fiel à
Igreja Apostólica».
Neste âmbito veio à conversa, como
não podia deixar de ser, a Carta do
Papa Bento XVI aos católicos da República Popular da China. Questionado se
realmente há quem conteste ou ignore
a mensagem do Papa Emérito, respon-
S E M A N Á R I O C C AT Ó L I C O D D E D M A C AU
deu: «Não tenho qualquer contacto. Mas do
modo como agem parece óbvio que não aceitam a Carta. Continuam a actuar como antes, como se nada tivesse acontecido». Para
ele, «a Carta é uma dádiva vinda de cima.
Ela indica o caminho. Sumariza a jornada
percorrida pela Igreja na China e revela a forma correcta de ultrapassarmos os problemas.
Não podemos criticá-la ou colocá-la de lado.
Pelo contrário, devemos lê-la e cumprir todo
o seu conteúdo, não nos focando apenas em
algumas frases. Quem o faz segue em frente e
encara o futuro. Quem não o faz rejeita uma
preciosa ajuda e permanece estagnado».
D. Johannes Cheng é menos explícito
quando confrontado com a intenção já
revelada pelo Papa Francisco em reatar
o diálogo entre o Vaticano e o Governo
chinês, podendo até vir a encontrar-se
com o Presidente Xi Jinping: «A vontade foi também expressa com o objectivo de ser
concedida à Igreja na China mais meios para
melhor cumprir o serviço pastoral. O Papa
tem dado alguns passos em direcção à China.
Estamos contentes e ansiamos ver os frutos
dessa aproximação».
No que respeita à ordenação de padres e nomeação de bispos sem a aprovação da Santa Sé, desaprova a escolha de
bispos que tenham sido ordenados sem
o consenso do Sucessor de Pedro. «Reze
por eles. Espero que voltem a estar em inteira
comunhão com a Igreja. Deus perdoa-nos e
dá-nos a Graça de perdoar os outros», disse,
acrescentando esperar que «seja encontrado um conjunto de soluções a breve prazo para a questão das nomeações episcopais,
bem como para o reatar em pleno das relações
diplomáticas entre a Santa Sé e a República
Popular da China». E para que dúvidas
não haja, clarificou: «Respeitamos a Lei do
Estado, mesmo que no passado tenhamos sido
perseguidos pelos detentores do Poder».
Embora o panorama seja hoje mais
favorável aos intentos da Igreja Católica, ainda há alguns padres que actuam
à margem das dioceses, convencendo
alguns católicos a permaneceram afastados das suas paróquias. No entender do
bispo de Fenyang, também este procedimento está longe de satisfazer a vontade
da Santa Sé, uma vez que o Papa Bento
XVI na Carta aos católicos da RPC pede
aos sacerdotes que exerçam a sua actividade em comunhão com as dioceses.
Para que não restem quaisquer dúvidas sobre a fidelidade de D. Johannes
Cheng ao Santo Padre, o prelado afirmou que «é fácil seguir e obedecer ao magistério do Papa. Desde a sua eleição que sou
conduzido pelas suas homilias e ensinamentos. É o meu pão diário. Todos os dias leio as
suas palavras, que envio para os meus padres. Considero particularmente importante
que [o Papa] pergunte como podemos sair de
nós mesmos. Devemos segui-lo. Actualmente
a “cultura do encontro” é também vital para
a China. Ele é disso um exemplo, atraindo o
interesse das pessoas e o carinho do mundo
inteiro. É persuasivo, exortando-nos a amar
os mais pobres e a fomentar a Paz».
DIOCESE DINÂMICA
Apesar de viver alguns constrangimentos pelo facto de D. Johannes Cheng
reconhecer a autoridade do Papa, a diocese de Fenyang dá mostras de vitalidade, sendo disso exemplo os números
avançados pelo bispo ao Vatican Insider.
Só na última quadra pascal foram baptizados mais de 350 adultos, a rondar os
40 anos de idade.
A dinâmica verificada tem a ver com
«o trabalho desenvolvido pelos padres e leigos
junto dos bairros, das cidades e das vilas, na
propagação do Evangelho». A cidade de
Lan Xian é prova deste esforço, dado
que este ano, pela primeira vez, “contribuiu” para o baptismo de dezanove
novos cristãos e para mais de dez catecúmenos. «As próprias pessoas já desvendaram
a mentira de que a religião é o ópio do povo»,
referiu o prelado.
Para além da evangelização, a diocese de Fenyang está empenhada na irradiação da pobreza, indo também assim
ao encontro dos ensinamentos de Jesus
Cristo.
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O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 22 de Maio de 2015
EDITORIAL
3
PT
Revolução... pela positiva
Xi Jinping parece estar a conseguir hoje
o que Deng Xiaoping não conseguiu nos
anos 80 do século passado: retirar peso
institucional à Associação Patriótica dos
Católicos Chineses.
De facto, a abertura económica e
social levada a cabo por Deng Xiaoping
também poderia ter sido religiosa, não
tivesse esta sido travada pela Associação
Patriótica que, sendo mais papista que
o Papa, até o Sumo Pontífice deixou
de reconhecer, rompendo o laço de
comunhão entre a Igreja Católica na
China e a Santa Sé. Consequentemente,
foram-se agravando as relações entre
a República Popular da China e o
Vaticano.
Para a aparente perda de influência
da Associação Patriótica estarão a
contribuir dois factores: a aproximação
do Papa Francisco ao Presidente
chinês – foram eleitos com um dia
de diferença, passando a trocar
correspondência desde então – e o
combate à corrupção na RPC.
Se o primeiro factor é fácil de
deslindar, uma vez que se trata de um
ganho de confiança mútua, o segundo
factor pode não ser tão entendível para
os menos familiarizados com a história
recente da Igreja Católica na China,
mas é simples de explicar.
Aquando da Revolução Cultural
todo o espólio da Igreja Católica foi
nacionalizado e entregue a quem
viria pouco tempo depois a fundar
a Associação Patriótica, sob a alçada
do Governo Central mas sempre
com elevada autonomia. Resultado:
surgiu um novo núcleo de influência
e poder na “Cidade Proibida” que foi
progressivamente ditando as regras
a seu bel-prazer, sem uma voz de
comando externa nem qualquer tipo de
contestação a nível interno.
Com tanta autonomia, poder
e dinheiro, e nenhum controlo,
rapidamente a burguesia religiosa foi
corrompendo e deixando-se corromper,
por forma a manter-se no pedestal.
Daí a incapacidade de Pequim em
cumprir os acordos que aqui e ali
foi “assinando” com o Vaticano. E a
verdade é que sempre que um canal
de diálogo entre as duas partes se abre,
logo surgem novas barreiras a dificultar
a troca de ideias com vista à resolução
dos problemas.
No combate à corrupção travado por
Xi Jinping não há filhos e enteados,
pelo que a Associação Patriótica não
está imune à acção do poder judicial....
Um claro exemplo de que também
na esfera religiosa algo está a mudar
na RPC são as declarações do bispo
de Fenyang ao site Vatican Insider
(ver página 2), que nas entrelinhas
desvaloriza a importância da Associação
Patriótica, criticando mesmo aqueles
que vivem afastados do Papa.
Prelado reconhecido pela Sé Santa
e pelo Colégio dos Bispos da China, D.
Johannes Huo Cheng fala sem medo
da acção pastoral desenvolvida pelos
padres e leigos da sua diocese, cuja
acção evangelizadora começa a dar os
primeiros frutos junto de comunidades
onde até há bem pouco tempo a
Religião Católica era totalmente
desconhecida.
A manter-se este quadro é de prever
que mais sacerdotes se libertem das
amarras da Associação Patriótica e
vivam em comunhão com o Papa... com
o consentimento do Governo Central.
A terminar, duas notas finais sobre
o que está para acontecer em Hong
Kong e sobre o apoio que a ATFPM
tem vindo a dar ao Consulado Geral de
Portugal.
A Revolução Guarda-Chuva teve o
seu início, atingiu o apogeu e morreu
na praia, contestada pela mesma
população que inicialmente se colocou
ao lado dos jovens rebeldes.
A incógnita está em saber se as
ruas voltarão a ser palco de novas
contestações, ou se a paz social reinará
nos próximos tempos.
O CLARIM está em condições
de avançar que, infelizmente, são
esperadas novas movimentações
estudantis, estando já as autoridades de
Hong Kong a preparar-se para o pior.
Perguntei a um amigo bem
informado por que razão Pequim não
dá um murro na mesa. Respondeu que
a estratégia é deixar o barco andar até
que o combustível acabe. Uma vez à
deriva, a tripulação e os passageiros
terão de se agarrar à única bóia de
salvação disponível: o Governo Central.
A história é uma e não pode ser
alterada nem escamoteada: Hong Kong
sempre viveu à sombra da China. Sem
ela não sobrevive!
Por mais que os avós e os pais dos
estudantes tenham razões de sobra para
não gostar da terra que abandonaram
um dia em busca de melhores
condições de vida, a verdade é que são
chineses e foi devido a esse factor que
ganharam muitos milhões servindo
de intermediários entre o mundo e
a China, mais não fosse na simples
qualidade de intérpretes. Continuassem
eles com os bolsos vazios e com certeza
não gritariam de papo cheio.
Quanto à Associação dos
Trabalhadores da Função Pública
de Macau, independentemente dos
interesses que possam estar por detrás
da ajuda que tem vindo a dar ao
Consulado Geral de Portugal, tem de
ser louvada a iniciativa de recensear
o máximo número de portugueses
residentes em Macau, para que estes
possam exercer o direito cívico de
escolher os seus representantes nos
órgãos da Nação.
Houvesse uma ATFPM junto de cada
comunidade portuguesa no estrangeiro
e outro galo cantaria na hora de
eleger, por exemplo, os deputados
pelos círculos da Europa e fora da
Europa. Até, quem sabe, a Assembleia
da República não viesse a permitir
a eleição de mais deputados pelos
referidos círculos. Na realidade, quatro
deputados para quase seis milhões de
portugueses é muito pouco, quando,
em Portugal, cerca de dez milhões
elegem 226.
Mais do que criticar o voluntarismo
da ATFPM há que criticar o Estado
português pela situação em que
vivem as missões diplomáticas, onde
escasseiam recursos humanos e
financeiros. E não há nada mais nobre
do que representar bem Portugal.
Vítor Sereno tem-no conseguido, sabe
Deus como....
José Miguel Encarnação
LOCAL
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 22 de Maio de 2015
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PT
ESCOLA PORTUGUESA DE MACAU VENCE NO FUTEBOL
Desporto Escolar é essencial
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
[email protected]
O coordenador das actividades extra-curriculares da Escola
Portuguesa de Macau (EPM),
professor Nuno Marques, disse
a’O CLARIM que o Desporto Escolar é essencial para a formação de pessoas para a sociedade, além de ser uma importante
ferramenta para a detecção de
atletas com aptidões para competirem ao nível de clubes.
«É essencial para a formação dos
miúdos, e respectiva inserção social.
A competição [inter-escolas], além
de saudável, faz com que os alunos
pertençam ao grupo e representem
a escola, sendo esta uma forma de
incutir-lhes valores sociais. Os mais
aptos podem depois prosseguir a sua
actividade desportiva nos clubes»,
referiu Nuno Marques, após a
EPM sagrar-se campeã no futebol (categoria B) e na bolinha
(categoria D), em masculinos,
nos campeonatos escolares do
ano lectivo 2014-2015.
A captação de potenciais
talentos acontece de forma
natural, mas a exiguidade das
instalações tem condicionado a
prática desportiva na EPM. «O
espaço, embora limitado, é explorado ao máximo. Por exemplo, temos
a escolinha de futebol para os mais
novos. São cerca de vinte miúdos,
mas infelizmente somos obrigados a
impor limites porque não temos espaço suficiente para todos», vincou
Nuno Marques.
Nos campeonatos escolares
organizados pela Direcção dos
Serviços de Educação e Juventude a equipa de futebol de nove,
orientada pelo professor Arlindo Serro, venceu o Colégio
Yuet Wah na categoria B (14-
PROVISÃO
José Lai, Bispo Diocesano de Macau
Fazemos saber que passando férias, fora de Macau, no
período de 25 de Maio a 25 de Junho do corrente ano, o
Revdo. Pe. Jojo Peter ANCHERIL, Pároco da Paróquia de S.
Lourenço, havemos por bem nomear o Revdo. Pe. YEUNG
Kwok Fai George Pároco Substituto da referida paróquia
durante a ausência do Revdo. Jojo Peter ANCHERIL.
Dada no Paço Episcopal, em Macau, sob o Nosso Sinal
e Selo de Armas, aos 20 de Maio de 2015.
+ José Lai
Bispo de Macau
15 anos), através da marcação
de grandes penalidades, após
igualdade a uma bola registada
no tempo regulamentar. Já a
equipa de futebol de onze, respeitante à categoria A (16-19),
foi eliminada nos quartos-finais
pelo Colégio Anglicano, também nos penalties.
Na bolinha, o sete orientado
pelo professor Agostinho Caetano sagrou-se campeão na categoria D (10-11), ao derrotar
o Colégio Yuet Wah por 1-0, enquanto na categoria C (12-13)
assegurou o 3º lugar, ao vencer
o Colégio Anglicano também
pela margem mínima.
«O nosso trabalho tem sido de
continuidade, porque os jogadores
por mim orientados vêm das camadas mais jovens, desde a categoria
D (10-11)», explicou Arlindo
Serro.
Na mesma linha do coordenador, salientou: «Já tentámos
encontrar campos de futebol fora
da EPM, algo difícil para as es-
colas privadas porque os recintos
desta natureza estão todos “limitados” pela Associação de Futebol
de Macau ou pelos clubes». Desse
modo, «precisamos mais apoio ao
nível de infra-estruturas para desenvolvermos as nossas actividades
desportivas».
O professor Agostinho Caetano atribui «importância fundamental» ao Desporto Escolar,
por ser «nestas idades que os alunos estão na escola, onde passam a
maior parte do tempo», sendo este
o local «onde devem ter todas as
vivências possíveis que lhes possam
proporcionar». No seu entender,
«é algo diferente do que representar um clube», porque enquanto
este «é para os melhores, a escola é
para todos».
Nas actividades extra-curriculares da EPM constam o futebol, a bolinha, o voleibol, o andebol, o basquetebol, o ténis de
mesa, a ginástica, o badminton
e a escalada, entre outras modalidades desportivas.
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 22 de Maio de 2015
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PT
LOCAL
PRESERVAÇÃO DO LEGADO CULTURAL PORTUGUÊS
Macau melhor que Goa
O jornalista do diário The Times
of India, Andrew Pereira, e o
especialista em informática,
Shannon D’Cruz, dois indianos com
raízes em Goa, concordam que a
herança patrimonial portuguesa
está melhor preservada em Macau
do que naquela cidade indiana.
Todavia, consideram que a
hospitalidade da população e os
condutores de autocarros em nada
favorecem o turismo local.
«NO MEU ENTENDER, a China percebeu a importância de Macau como ponte para os Países de Língua Portuguesa. Segundo a minha
percepção como visitante, os monumentos estão bem preservados e as ruas asseadas. Pelo
que vi, o Governo de Macau tem feito melhor
trabalho do que o de Goa», salientou Andrew Pereira, no rescaldo de uma visita
de dois dias à RAEM.
«Contudo, somos bastante melhores em
termos de hospitalidade do que as pessoas
de Macau. Os goeses são mais amigáveis,
talvez em resultado do legado deixado pelos
portugueses. Pelo contrário, em Macau as
pessoas pouco nos ajudaram quando solicitámos ajuda», explicou o jornalista natural de Goa.
«No ponto de vista turístico penso que
Macau pode fazer muito melhor em termos
de hospitalidade. A polícia foi muito prestável. O Inglês dos polícias foi suficiente para
nos entendermos. Tentaram ajudar-nos. Já
os condutores de autocarros não foram nada
prestáveis. Alguns foram mesmo rudes. Talvez
seja algo da própria cultura, porque durante
muito tempo a China foi um país fechado»,
descreveu Andrew.
«Macau deve focar-se nas suas gentes» porque «há no território uma inquestionável herança portuguesa». Por isso, sugeriu que «o
Governo treine funcionários públicos de modo
a poderem ajudar os turistas, porque a maioria
da população não é muito prestável».
Para Shannon D’Cruz, «é notável que o
legado cultural português tem sido bem preservado. Basta olhar à volta e percebe-se que este
lugar foi território português. É uma mistura
extremamente rica entre as culturas portuguesa e chinesa».
Por outro lado, referiu que «Goa era
um local muito bonito durante a administração portuguesa, mas agora está horrível»,
pois «dá a sensação que os portugueses nunca estiveram em Goa, porque embora haja legado histórico é preciso ir à “caça” dele, o que
não acontece em Macau».
Shannon D’Cruz tem um interessante percurso de vida: nasceu em 1981 no
Kuwait, onde viveu até rebentar a Guerra do Golfo em 1991. Neste ano foi com
os pais para Goa, de onde são naturais.
Ali viveu dois anos antes de acompanhá-los para Riade (Arábia Saudita), tendo
estudado na antiga “Embassy of India
School”.
Voltou a Goa para terminar o ensino
superior na área da Tecnologia da Informação. Trabalhava até há pouco tempo
numa multinacional no Bahrein, onde
chegou em 2007.
Pedro Daniel Oliveira
“VIVA PATACA” COM REFORMA MAIS CONDIGNA
Terapia para crianças
O cavalo de Stanley Ho
que ganhou mais de 83
milhões de dólares de
Hong Kong em prémios
está agora confinado a
um estábulo no Jockey
Club de Macau. Ada Lo,
responsável pela “Special
Olympics Macau”, aponta
uma saída mais condigna
para o “Viva Pataca”: a
terapia para crianças com
necessidades especiais.
A presidente do Conselho
Executivo da “Special Olympics Macau”, Ada Lo, disse a’O
CLARIM que o cavalo “Viva
Pataca” pode ter uma reforma
mais condigna se for aproveitado para a terapia de crianças
com necessidades especiais.
«Os animais e as crianças são
sempre dois elementos que apontam
para o divertimento. Tratando-se
de um ex-cavalo de corrida poderá
ser agressivo. É preciso um treinador certificado com conhecimentos
para fazer a interacção entre o cavalo e as crianças com necessidades especiais, o que certamente não
existe em Macau», explicou Ada
Lo, acrescentando que poderão entrar nesta terapia crianças autistas ou com síndrome
de Down.
No seu entender, «a terapia
com cavalos é muito comum nos Estados Unidos e no Canadá, porque
há lá muitos terrenos campais. Todavia, em Macau as pessoas raramente têm contacto com cavalos, por
isso é necessário lições de adaptação
para as crianças não terem receio e
ficarem mais à vontade com estes
animais». Daí a importância do
treinador certificado nesta terapia: «É essencial. Caso contrário,
ninguém sabe o que está a fazer, até
mesmo no controlo do cavalo. Só um
profissional poderá medir o efeito
das lições, o estágio de progressão e o
planeamento da terapia».
O efeito do programa nos
pacientes influiu no nível de
confiança, de auto-eficácia, do
auto-conceito, da comunicação, da perspectiva, da crença,
da redução do isolamento, da
auto-aceitação, do controlo de
impulsos, da habilidade social,
das fronteiras e da ligação espiritual.
Na “Special Olympics Macau” há no total cerca de 350
membros autistas ou com síndrome de Down, porém, Ada
Lo vincou que o número de casos é consideravelmente maior
no território.
O “Viva Pataca”, propriedade de Stanley Ho, é o cavalo de corridas mais premiado
nas competições equestres de
Hong Kong. Segundo o South
China Morning Post, o animal
que ganhou mais de 83 milhões
de dólares de Hong Kong em
prémios de corridas antes de
se reformar em 2011 está agora confinado a um estábulo no
Jockey Club de Macau, em condições de «masmorra».
P.D.O
LOCAL
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 22 de Maio de 2015
6
PT
CONHECER AS LEIS DE MACAU
Legislação sobre réplicas de pistolas e de armas
As réplicas de pistolas costumam ser sempre uma colecção
de entusiastas de objectos militares, mas como ainda podem ser
usadas como arma, as mesmas
têm um certo grau de risco. Por
exemplo, uma réplica de pistola,
aparentemente não é diferente
de uma pistola verdadeira (que
utiliza a pólvora como meio
propulsor do projéctil), todavia,
mesmo uma réplica de pistola
de pressão de ar, se exceder o
limite legal, também pode ser
considerada como uma arma.
Em conformidade com o
Decreto-Lei n.°77/99/M (Regulamento de Armas e Munições), a espingarda, revólver
ou pistola, de pressão de ar,
que possam descarregar um
projéctil com uma força superior a 2j., consideram-se armas.
De acordo com o Código Penal, quem detiver, trouxer consigo ou guardar as referidas armas, pratica o crime de posse
de armas proibidas e substâncias explosivas, sendo punido
com pena de prisão até 8 anos.
CARTOON
dade física por negligência” ou
“crime de dano”, etc., havendo
lugar a responsabilidade penal.
Por outro lado, para a entrada, através da fronteira, de
réplicas de pistola e seus acessórios será exigida a licença
prévia de importação relativa às
armas, emitida pelo Corpo de
Polícia de Segurança Pública,
no momento de importação,
após a inspecção da autoridade e a fiscalização dos Serviços
de Alfândega. De acordo com a
Lei n.° 7/2003 (Lei do Comércio Esterno), quem fizer entrar
na RAEM mercadorias sem a
licença exigível, é sancionado
com multa até 100.000,00 patacas, sendo os bens confiscados
ao mesmo tempo.
Além disso, caso as pessoas
possuam as réplicas de pistolas
de pressão de ar que, de acordo
com os critérios legais possam
descarregar projéctil com uma
força igual ou inferior a 2j, devem ter particularmente cuidado no momento de utilização,
pois a utilização indevida destas
réplicas pode provocar danos ao
corpo ou aos bens, podendo ainda a pessoa praticar um crime,
como por exemplo o “crime de
ofensa à integridade física doloso”, “crime de ofensa à integri-
Nota: O presente texto tem como
principais referências o “Código Penal”,
a Lei n.° 7/2003 (Lei do Comércio
Externo) e o Decreto-Lei n.° 77/99/M
(Regulamento de Armas e Munições).
Texto fornecido pela Direcção dos
Serviços de Assuntos de Justiça
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 22 de Maio de 2015
CA RTA AO S L E I TO R E S
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PT
AOS NOSSOS “IRMÃOS” DESTE GRANDE CONTINENTE ASIÁTICO E A TODOS QUANTOS AQUI NASCERAM,
AQUI VIVEM E/OU POR AQUI PASSAM, VINDOS DE OUTROS PAÍSES, PRINCIPALMENTE DE PORTUGAL
Paz e Bem!
É a saudação que S. Francisco
usava sempre que passava por um
irmão e que nos ajuda a viver melhor
o espírito de Francisco de Assis, na
nossa Congregação de Franciscanas
Missionárias de Nossa Senhora.
No Domingo passado, dia da
Ascensão, houve uma catequese
diferente na igreja de Nossa Senhora
do Carmo, na Taipa: os catequisandos
que se preparam para receber os
Sacramentos da Confirmação/Crisma
e da Eucaristia e os que vão fazer a
sua profissão de fé, associando ainda
todas as outras crianças, professaram
a sua fé de modo vivo e activo.
Conseguiram envolver-se todos e os
seus pais, num dinamismo e postura
dignos de cristãos. Com voz bem
sonora, deram um testemunho de
fé, de simplicidade e de brio do que
aprendem e querem viver ao longo
da sua vida. Testemunhos destes são
necessários e imprescindíveis para
que a mensagem de Jesus Cristo passe
nas nossas vidas.
Temos a certeza de que os que
participaram na Eucaristia ficaram com
a Mensagem bem gravada no coração
e não se esquecerão mais das verdades
fundamentais da nossa fé.
Felicitamos as crianças e os
jovens que, graças à colaboração e
participação dos seus pais e à boa
vontade e perseverança dos catequistas,
conseguiram reflectir no Mistério da
Santíssima Trindade, um só Deus em
três Pessoas iguais e distintas – o Pai,
o Filho e Espírito Santo – e proclamar
que a Igreja é una, santa, católica e
apostólica.
É preciso continuar para trazer
mais gente à Igreja Comunidade e
louvarmos, todos, o nosso Deus pelas
maravilhas que criou para nós.
Solicitadas pelo senhor D. José Lai,
bispo da diocese de Macau, viemos em
missão de colaboração especialmente
com a Comunidade dos “irmãos”
portugueses.
Manifestamos o interesse e o amor
que lhes temos. Como?
Mostrando-nos disponíveis para os
acolher, escutar, acompanhar, rezar
por todos e com eles, estimulando,
ajudando os filhos na catequese e,
através deles, ir até aos pais, que andam
sempre muito absorvidos nas suas lides
profissionais.
A nossa missão é tanto mais
aliviada e bonita, quanto mais os
pais, as famílias se disponibilizarem
a comparecer presencialmente na
Igreja, lugar muito significativo para
os que não têm respeitos humanos
em se afirmar católicos e em viver ou
querer viver a sua fé; onde todos nos
encontramos para agradecer o dom da
vida e tudo o que ela nos traz de bom,
cada dia; onde todos podemos cantar,
louvar, sentirmo-nos “comunidade”,
pronunciar as mesmas palavras, pedir
coisas ao nosso Bom Deus para nós,
para a nossa família e amigos, e pedir
perdão comunitariamente e em
segredo.
Há momentos na Eucaristia –
Missa – de alegria e de recolhimento,
de perdão, de escuta da Palavra
e de reflexão, de gratidão, de
compromisso, enfim, a Missa é a
oração mais linda que temos na nossa
vida. Nela comemoramos a Morte e a
Ressurreição de Jesus Cristo que deu
a Sua vida por todos nós, como se
fôssemos a única pessoa a existir no
mundo.
Se amamos os nossos pais e deles
temos recordações tão profundas e ricas
a ponto de nunca nos esquecermos
deles, quanto mais, se sentíssemos, de
verdade, o que é o amor que Jesus nos
tem! Nunca nos quereríamos separar
Dele.
No dia de Pentecostes, do Grego
“pentekosté” – quinquagésimo dia
depois da Páscoa – vamos viver,
também, um grande acontecimento: a
celebração do sacramento do Crisma/
Confirmação para seis jovens e uma
adulta, na Sé Catedral, a igreja-mãe dos
católicos de Macau.
O Pentecostes é uma festa de
profunda alegria. Desde os princípios,
era a festa das colheitas sobretudo do
trigo, o alimento essencial para todos
nós. As primícias das colheitas eram
oferecidas festivamente, no Templo de
Jerusalém, onde acorria muita gente,
vinda de todos os lados. No primeiro
pentecostes, depois da morte de Jesus,
o Espírito Santo desceu sobre essa
comunidade cristã.
«Viram então aparecer umas línguas, à
maneira de fogo, que se iam dividindo, e
poisou sobre cada um deles. Todos ficaram
cheios do Espírito Santo e começaram a falar
outras línguas, conforme o Espírito lhes
inspirava que se exprimissem. (...) Tendo
sido elevado pelo poder de Deus, recebeu do
Pai o Espírito Santo prometido e derramou-o
como vedes e ouvis» (At. 2,3-4. 33).
O milagre das línguas é este: tomados
pelo amor de Deus, os homens passam
a viver uma profunda comunhão e,
entre eles, estabelece-se a concórdia e
a paz.
O nosso coração é templo onde
Deus se compraz em habitar.
Vamos prepará-lo para que
sintamos o Deus Espírito Santo, o
nosso “PARÁCLITO” – do Grego:
“parakletos” que, traduzido à letra,
quer dizer “aquele que é invocado,
o mediador, o defensor, aquele que
está ao nosso lado, que intercede”.
Foi por isso que Jesus, depois de
quarenta dias da Sua Ressurreição
subiu ao Céu para, dez dias após a
Sua subida, nos enviar o Espírito
Santo Paráclito.
O dia do Pentecostes foi o primeiro
dia da Igreja.
Vamos viver, no próximo Domingo,
dia 24 do corrente mês de Maio o
grande acontecimento da vinda do
Espírito Santo. Por isso, é bom que
haja quem queira ser crismado/
confirmado. Desde já, os nossos
parabéns aos crismandos, aos seus pais
e padrinhos, que os irão acompanhar
na fé, de modo que nunca deixem o
Jesus que subiu ao Céu para nos enviar
o Espírito Santo; e ficará sempre
connosco.
Toda gente quer ser feliz. Mas
porque é que há tantos infelizes?
Se quisermos estar atentos ao que se
passa dentro de nós, verificamos que
há uma outra “pessoa interior”. É essa
que requer todo o cuidado da nossa
parte. É essa que devemos tratar, cuidar,
estimular, através de escuta permanente
e cumprimento do que ela nos dita.
Um grande meio é a leitura da Palavra
do nosso Deus, a escuta do Espírito
Santo. É Ele que nos dá a força para
anunciarmos o Evangelho de Jesus
Cristo.
Quereis associar-vos à alegria deste
pequeno grupo de baptizados? Sede
bem-vindos à Sé Catedral no Domingo
do Pentecostes, às 11h.
Temos a certeza de que saireis de lá
mais reconfortados.
Este é apenas um dos muitos
momentos que fazem bem ao corpo e à
alma.
Irmã Maria Lúcia (FMNS)
DESPORTO
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 22 de Maio de 2015
8
PT
FÓRMULA 1 – ÉPOCA DE 2015
Mónaco: no Reino da Fantasia
MANUEL DOS SANTOS
A Fórmula 1 regressa este fim-de-semana ao único circuito onde nunca deveria
ter corrido. E isto falando não apenas da
Fórmula 1, mas ainda do tempo dos famosos carros de Grand Prix que, se comparados aos carros de hoje, eram poderosos monstros com motores gigantescos,
compridos, largos e sem muita possibilidade de pôr no chão todo o poder que
esses motores lhes concediam. Os carros,
por incrível que possa parecer, tinham velocidades de ponta iguais, ou superiores,
aos Fórmula 1 actuais. Apenas eram mais
lentos, por volta, devido a vários factores
combinados. Usavam pneus inadequados, estreitos, desenhados para acabarem
as corridas, sem troca de borracha – leia-se, com pouca aderência. Os carros eram
bastante mais pesados, o que deixava os
travões em muito mau estado ao fim das
primeiras dez voltas. Por essa razão travavam muito mais cedo do que hoje, em
que um F1 desacelera de 300 kph para
80kph em 30 metros. E levavam muitíssimo mais tempo a atingirem a velocidade
máxima. Para além disso, os carros estavam tão à vontade no circuito do Principado do Mónaco como um elefante dentro de uma caixa de fósforos.
Os Fórmula 1 actuais melhoraram
este constrangimento. Os carros moder-
nos estão no Circuito de Monte Carlo
– a designação oficial – como elefantes
dentro de caixas de sapatos. Os carros
modernos só estão no famoso circuito citadino por uma razão: Glamour. Sempre
assim foi e sempre assim será, enquanto
a Fórmula 1 existir, o que contra todos
os indícios já esteve mais longe de acontecer. Seria pena pois é a disciplina mais
antiga do Desporto Motorizado.
O Mónaco não é tanto a corrida de Fórmula 1, nem as outras cinco ou seis que
compõem o evento. 90% das pessoas que
se deslocam ao Principado durante 3 ou 4
dias não estão sequer relacionadas com o
deporto automóvel. Actores, de todos os tipos e categorias, muitos deles (e delas) em
busca de alguém que os veja e leve até ao
início de uma carreira em qualquer tipo
de ocupação, de preferência nas artes. O
casino enche-se e o Mónaco vive dias em
que a crise não existe; tudo é cor-de-rosa
e brilhante durante as 96 horas do evento.
E na pista, como é?
Os pilotos sentem-se empolados pela
atmosfera e prometem aquilo que sabem de antemão que os carros não irão
fazer. Todos os chefes de equipa sonham
com o “factor Mónaco”, seja lá o que isso
for, para os ajudar a amealhar uns pontinhos, quiçá um lugar no pódio. No Mónaco, como disse o grande Fangio, «não
há favoritos». Todo e qualquer piloto
pode vencer no Circuito de Monte Carlo, que já viu um piloto que se encon-
trava na sétima posição vencer a corrida
na última volta. Em pouco mais de dois
quilómetros os outros seis pilotos fizeram-lhe o favor de bater nas barreiras de
protecção. A pessoa mais espantada com
tudo o que se passou foi Olivier Panis,
que celebrou ali a sua primeira – e última – vitória na Fórmula 1. Este ano, devido a todas as variantes do circuito monegasco, com um pouco de sorte um dos
vinte pilotos irá vencer o Grande Prémio
do Mundo da Fantasia. Até pode ser um
Mercedes Benz, visto que Nico Rosberg
venceu as duas últimas edições da prova.
Voltando a coisas mais sérias, parece
que a Fórmula 1, que anda pelas ruas da
amargura, com a fuga dos fãs dos circuitos e dos telespectadores dos ecrãs das
televisões, fazendo com que a disciplina
perca o grau de visibilidade mínima sustentável para se manter, está a definhar.
A piorar a situação, os “gurus” do que já
foi o evento com mais espectadores e audiência do mundo tiveram um encontro
e deram mais um “tiro nos pé”. O regresso aos reabastecimentos de combustível
está para breve. Mas será que resolve as
maleitas da velha senhora?
Vejamos: os reabastecimentos foram
banidos por serem muito perigosos e...
caros. A fórmula 1 actual debate-se com
uma das maiores crises financeiras de
sempre, devido ao que já referimos (falta de audiências = falta de patrocínios.
Ora, preparar os carros para voltarem a
ter tanques de combustível mais pequenos custa muito dinheiro. E são dois tipos diferentes. Um para as corridas no
sentido dos ponteiros do relógio, e outro para as corridas em sentido contrário. Os pilotos com tanques cheios tendem a não arriscar ultrapassar os outros
concorrentes, esperando apenas que os
adversários tenham um maior consumo
que os obrigue a encher o tanque mais
vezes. Os pneus da Pirelli não estão preparados para este tipo de competição.
Alguém já comparou a ideia do regresso aos reabastecimentos, depois dos
milhões gastos nas novas regras, que
têm pouco mais de um ano (e ainda têm
muito para se desenvolverem), a uma
pessoa que comprou um iPhone topo
de gama, que ao verificar que não lhe
proporciona o que desejava deita fora o
telefone e regressa à loja para comprar
um telemóvel... dos antigos!?
Muitos comentadores, alguns ainda
do tempo dos carros com motor frente, avançam com uma solução simples:
corridas mais rápidas, mais barulhentas, onde haja muitas ultrapassagens
e alguns sustos, disputadas nos autódromos tradicionais, com mais de 60%
das corridas em solo europeu. Deste
modo, voltaríamos a ter as bancadas
cheias e os telespectadores regressariam aos canais de televisão, num mundo real muito longe do actual mundo
da fantasia.
OPINIÃO
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 22 de Maio de 2015
9
PT
O L H A N D O
E M
R E D O R
Fardos (bem) pesados
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
[email protected]
E
stá a ser cada vez mais
frequente o desabamento parcial de fachadas
de edifícios classificados
como património cultural.
Na semana passada causou
alguma apreensão a queda de
parte de uma parede de tijolos,
numa fachada de um edifício
localizado na Travessa de São
Domingos. O incidente terá acontecido por volta das 9 horas
e 30, ficando o local vedado ao
público até ao dia seguinte.
Há dias foram encontrados
destroços em frente à fachada
de um edifício situado na Rua
da Barra, com a queda destes
materiais a dever-se à chuva
e ao vento que ultimamente
têm assolado o território. O
local foi vedado por precaução,
tendo o Instituto Cultural
garantido que o edifício não
corria risco de ruir.
Já o templo situado no
Largo do Pagode do Bazar está
a ser alvo de obras de restauro,
após ter sido detectado o mau
estado de conservação de uma
viga de madeira do pavilhão
principal, o que punha em
perigo a estrutura do edifício.
Felizmente nos três os casos
não houve feridos ou vítimas a
lamentar. Contudo, temo que o
pior possa estar para acontecer.
Na cidade de Macau proliferam estruturas com placas
publicitárias nas fachadas dos
edifícios, algumas de grande
porte. Existem também na
Taipa, embora em menor
número. Quem andar pela
cidade nota que algumas estruturas acusam a ferrugem de
muito anos, ou talvez décadas,
não sendo de estranhar se uma
ou outra até já tiver o destino
traçado.
Sabendo de antemão que as
condições atmosféricas (frio,
calor, chuva, vento, tufões)
contribuem para a deterioração das referidas estruturas,
temo que qualquer dia alguma
placa publicitária caia inesperadamente no chão fora do
tempo da passagem de um
tufão. Tudo estaria bem se não
transitassem por baixo dezenas, centenas ou milhares de
pessoas por dia.
DESAFIOS CULTURAIS
Numa visita à 56ª Bienal de
Veneza o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis
Tam, afirmou que «tornar
Macau numa capital cultural é
pedra basilar para a edificação da
RAEM enquanto Centro Internacional de Turismo e Lazer». Entre
outros considerandos, também
disse que Macau, tal como Veneza, é «uma cidade turística com
uma história cultural muito rica
com características próprias».
Não tenho qualquer tipo de
dúvida que Macau pode ser
uma grande capital cultural na
Ásia, bastando para isso trazer
as melhores orquestras, os
melhores pintores e os melhores escritores do mundo,
entre outros que tais, porque
é sobejamente reconhecida a
capacidade do território para
organizar eventos de nível
mundial.
O grande problema é a
população em geral estar dissociada da cultura, até porque
quem é de Macau tem muita
dificuldade em singrar no meio
por falta de oportunidades,
seja porque muitas vezes se dá
primazia a quem vem de Hong
Kong, seja porque o que vem
do estrangeiro é que é bom. O
grande desafio de Alexis Tam
será reverter esta tendência.
Outro desafio é o que
fazer do Fundo de Indústrias
Culturais (FIC), porque a
atribuição de subsídios devia
estar a cargo da Fundação
Macau, presidida por Wu
Zhiliang, enquanto muitas
outras atribuições constantes
do FIC deviam estar sob a
supervisão directa de Alexis
Tam (o FIC foi constituído em
2013 mediante regulamento
administrativo, em data anterior à sua tomada de posse
como secretário). A bem da
transparência, o Fundo devia
ser extinto de modo a evitar
futuras trapalhadas.
PERCEPÇÕES
Quem vem de fora geralmente tem tendência para
considerar Macau um paraíso,
visto fazer a ponte entre o
Oriente e o Ocidente há mais
de 400 anos.
Alguns visitantes pensarão
que o antigo território chinês
sob administração portuguesa
soube reinventar-se ao longo
dos séculos, a ponto de se
tornar agora num importante
local de turismo e lazer na
Ásia. Um dos “ex libris” será
o Centro Histórico de Macau,
classificado como Património
Mundial da Humanidade em
2005. Já para não falar dos casinos ou da gastronomia típica.
Há depois a população, que
até poderá tecer cobras e lagartos sobre os mesmos assuntos.
À partida parece um grande
contra-senso, mas facilmente
se percebe – seja aqui ou em
qualquer parte do mundo –
que quem é da “casa” conhece
melhor os problemas da sociedade onde está inserida. Daí
ter um sentido de crítica mais
apurado.
Já quem vem de fora, quiçá
atraído pelo que conhece de
onde é originário, inclina-se a
olhar para as novidades de maneira mais cândida. Por vezes,
até oferece pontos de vista
inesperados, ou interessantes,
o que não lhes tira qualquer
mérito nas suas apreciações.
Foi assim na reportagem
efectuada nesta edição com
Andrew Pereira e Shannon
D’Cruz. Aliás, à imagem do
que transmiti ao leitor sobre
o que vi e senti quando visitei
Malaca, em Dezembro do ano
passado. Certamente, também
os malaqueiros teriam pontos
de vista bastante diferentes
sobre o seu património
cultural.
C U LT U R A
O CLARIM | Semanário Católico de Mac
10
PT
JOSÉ MOÇAS, EDITOR E PRODU
«Macau mudou a m
JOAQUIM MAGALHÃES DE CASTRO
[email protected]
Nasceu em Estremoz, no Alentejo,
mas ainda jovem partiu para
Portimão onde fez a Primária
e completou o Curso Geral dos
Liceus. Lisboa seria a próxima
etapa, iniciando aí a sua ligação
à música; primeiro, no Coro da
Juventude Musical Portuguesa;
depois, no grupo Almanaque,
do qual foi fundador. Começou
a trabalhar como funcionário
no Conselho Superior Judiciário
(hoje Conselho Superior da
Magistratura), sendo convidado,
em 1986, para a secretaria do
Ministério Público em Macau, onde
desempenhou funções durante
quatro anos.
O CLARIM – Em Macau, os mais antigos,
conhecem o seu trabalho como produtor
e editor de discos de diversos projectos
musicais. Pode fazer uma súmula dessa
sua actividade, para conhecimento dos
novos residentes?
JOSÉ MOÇAS – Macau foi um ponto de viragem na minha vida, por vários
motivos. Aí nasceram os meus filhos e
aí fundei a editora Tradisom, em 1992.
Nunca imaginei que essa iniciativa acabasse por transformar em definitivo a
minha vida, já que constitui a minha
única actividade. Comecei por me dedicar à edição de discos de âmbito local,
graças a uma bolsa de estudo oferecida
pela Fundação Oriente para o estudo
das músicas orientais. Esse primeiro disco, “Vozes e Ritmos do Oriente”, seria
considerado, pelo jornal Sete, em 1993,
um dos cem melhores álbuns editados
em todo o mundo nesse ano. Foi um
arranque brilhante. Depois editei o primeiro CD da Tuna Macaense, o disco
mais vendido na Livraria Portuguesa
durante muitos anos. Entre outras edições destaco o disco de Isabel Tello Mexia, “Goa, Macau, Timor”, gravado em
Bombaim com a colaboração do grupo
goês Gavana. Mas foi ainda em Macau
que comecei o que viria a tornar-se o
objectivo mais importante da Tradisom:
a descoberta, aquisição recuperação e
posterior edição de gravações antigas
de fado. Editei uma série de seis discos
intitulada “Arquivos do Fado” que tiveram enorme impacto em Portugal, já
que a grande maioria das pessoas desconhecia a existência de gravações de
fado tão antigas.
CL – Porquê o regresso a Portugal?
J.M. – O que motivou o meu regresso a
Portugal foi o convite que em 1996 me foi
feito pelo então Presidente da Comissão
dos Descobrimentos, professor António
Hespanha (que me conhecia de Macau)
para tornar realidade uma ideia de projecto que vinha alimentando há anos e que
acabou por ser a colecção oficial do Pavilhão de Portugal da EXPO98, uma colecção intitulada “A Viagem dos Sons”, constituída por doze discos que documentam a
influência que os portugueses tiveram em
determinadas regiões por onde passaram
nesse seu périplo aventureiro desde 1500,
colecção essa que foi considerada uma das
mais importantes obras de etnomusicologia do século XX pelo Smithsonian Institute, através do seu presidente na altura, o
professor Anthony Seeger.
CL – Como é ser produtor/editor de
música no Portugal do século XXI? A Tradisom continua de pé?
J.M. – Com a evolução que tem acontecido nos últimos tempos, os avanços tecnológicos, o digital, as plataformas de venda e a pirataria, não é fácil conseguir viver
em exclusividade da actividade editorial.
Mas, felizmente, apesar das dificuldades
Desde que regressei
de Macau comecei
a coleccionar discos
portugueses de 78
rotações. Esse gosto pela
descoberta das nossas
raízes musicais levou-me a
constituir a maior colecção
desse formato em Portugal
tenho conseguido fazer algumas edições
de enorme qualidade, não só no que se
refere aos seus próprios conteúdos, mas
também à sua apresentação. Tive sempre
do meu lado os melhores, sendo importante destacar o Bibito, que agora está
de volta a Macau, sem dúvida o melhor
designer com quem trabalhei, e que recentemente me ajudou a colocar de pé
uma edição única no panorama editorial
de Portugal e que ainda vai dar que falar
pela sua originalidade, rigor, qualidade
gráfica e mais ainda pelo facto de ser um
produto de enorme valor histórico. Estou
a falar da colecção “Amália no Mundo –
Memórias do Fado”. A Tradisom orgulha-se também de ter feito algumas edições
muito importantes, destacando, a convite
de Ramos Horta, o livro “Filhos de Timor
Leste”, oferecido a todos os convidados
no Dia da Independência de Timor. Muito teria a contar sobre que a Tradisom
tem feito, mas por último referir que em
2010 conseguir resgatar para uma edição
em parceria com o jornal Público o maior
arquivo de vídeo sobre as nossas tradições
musicais, a filmografia completa de Michel Giacometti, uma obra monumental
de doze livros com DVD.
CL – Há um aspecto muito importante, no que se refere ao seu trabalho como
editor. Pode falar-nos dele?
J.M. – Desde que regressei de Macau
comecei a coleccionar discos portugueses
de 78 rotações. Esse gosto pela descoberta das nossas raízes musicais levou-me a
constituir a maior colecção desse formato
em Portugal. Cerca de 6.600 discos, que
nos vão possibilitar um dia editar os primórdios da gravação em Portugal, tendo
em conta que a primeira sessão de gravações foi realizada em Novembro de 1900,
no Porto. A colecção foi por mim doada
em Novembro de 2012 à Universidade de
C U LT U R A
cau | SEXTA-FEIRA | 22 de Maio de 2015
11
PT
UTOR
minha vida»
Joaquim Magalhães de Castro
Aveiro, estando desde essa altura, a convite do reitor da mesma, Manuel Assunção,
como professor convidado auxiliar do
DECA (Departamento de Comunicação
e Arte).
CL – Foi durante muitos anos locutor
da Rádio Macau. Sente saudades desses
tempos? Em Portugal, voltou a fazer rádio?
J.M. – Quando saí do Tribunal fiquei
a trabalhar em regime de exclusividade
na Rádio Macau, onde já colaborava em
“part-time”. Foram tempos que não mais
esquecerei, graças à fantástica camaradagem existente. Curioso é que antes de ir
para Macau tinha feito um teste na Rádio
Comercial, onde era director na altura o
Jaime Fernandes e havia sido convidado
para fazer um programa sobre a chamada
“world music”, a minha área predilecta.
Mas com o convite para ir para Macau
perdeu-se essa oportunidade. Mas fiquei
a ganhar, porque desenvolvi uma enorme paixão pela Rádio, de tal forma que
fiz alguns programas especiais que me
deixaram muito satisfeito. Estou a lembrar-me de “Na Rota do Oriente” e “Na
Rota do Sol Nascente”, ambos a convite
da Comissão Territorial de Macau para
as Comemorações dos Descobrimentos.
Além disso produzi, em parceria com o
Luís Machado e depois, mais tarde, tam-
Comecei por me dedicar à
edição de discos de âmbito
local, graças a uma bolsa
de estudo oferecida pela
Fundação Oriente para
o estudo das músicas
orientais. O primeiro
disco, “Vozes e Ritmos do
Oriente”, seria considerado,
pelo jornal Sete, em 1993,
um dos cem melhores
álbuns editados em todo
o mundo nesse ano
bém com o João Pedro Costa, o programa da Fundação Oriente intitulado “Café
Oriente”, de que resultou uma amizade
para a vida com o Luís Machado. Mas o
programa que foi a minha imagem de
marca foi a “Arca do Velho”, que durou
vários anos e que deu a conhecer aos ouvintes da Rádio Macau a música produzida e editada no mundo inteiro.
CL – Entretanto regressou a Macau. O
que mais o marcou, pela positiva e pela
negativa, ao confrontar-se com a nova realidade?
J.M. – Regressei a Macau apenas depois anos depois de ter deixado o território, ou seja em 1999. Fui convidado
a participar no Encontro das Comunidades Macaenses desse ano. Na altura
não notei grandes mudanças, mas como
vou acompanhado o que se passa em
Macau, não só através do que os meus
amigos publicam no Facebook, tenho a
certeza de que se lá voltasse agora me
perdia imediatamente. O que mais me
agradou foi poder novamente comer
a boa comida chinesa que aqui não se
encontra infelizmente. Sou muito positivo em tudo e prefiro sempre recordar
o que de melhor recebi da vida, por isso
guardo tudo o que vivi com enorme prazer, mas sigo em frente, sem pensar no
que poderia ter acontecido se não me
tivesse vindo embora em 1997. Não está
nos meus planos voltar em breve, não
há motivo especial para isso, mas gostava que os meus filhos lá regressassem,
porque afinal é a sua terra natal.
OPINIÃO
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 22 de Maio de 2015
12
PT
Mais imigrantes
clandestinos?
JOSÉ PINTO COELHO
A
Comissão Europeia
desenvolveu um pacote
de propostas com vista
a gerir a chegada de imigrantes
ilegais através do Mediterrâneo, a qual passará pela fixação
de quotas para acolher os
estrangeiros que peçam asilo
em função do PIB, do desemprego e da população de cada
país e também do número de
pedidos de asilo registados em
anos anteriores. Nesta óptica,
Portugal passaria a ser obrigado a acolher mais imigrantes
ilegais.
Esta posição foi imediatamente secundada pelo “nosso”
Primeiro-Ministro, sempre solicito em ser um bom aluno no
que toca às imposições vindas
de Bruxelas. Numa primeira
fase caberia a Portugal receber
cerca de mil imigrantes clandestinos, a quem a Comissão
Europeia e os média chamam
hipocritamente refugiados
políticos, quando se sabe que
a maioria não o são, havendo
mesmo agentes islâmicos
radicais infiltrados nestes gru pos, como recentemente foi
anunciado pelas autoridades
britânicas.
Mais uma vez reafirmo a
minha total oposição a estas
medidas. A braços com uma
taxa de desemprego oficial
superior a 10%, qual será o
destino a dar a estes “refugiados”? Engrossar os números do
desemprego ou servir os empresários corruptos com mais
mão-de-obra barata? Engrossar
o número dos sem-abrigo ou
carregar mais nas contas da Segurança Social? De uma forma
ou de outra, serão os europeus
e, claro, os portugueses, a
pagar esta “ajuda humanitária”,
enquanto muitos países europeus exportam armas para as
zonas de conflito e colocam no
poder facínoras responsáveis
por este êxodo.
Lembramos também que
a esmagadora maioria destes
imigrantes não possui o
mínimo de formação laboral,
transportam consigo conflitos
ancestrais e são muito avessos a
adaptarem-se à cultura e identidade dos países de acolhimento, ao que acresce o já referido
facto de entre os “refugiados”
estarem infiltrados pertencentes aos quadros das redes
terroristas que operam nesta
zona de conflito.
Tenho para mim que se
deviam adoptar as seguintes
medidas:
1 – Reforço da presença
militar naval na região, de
forma a impedir que os barcos
carregados de imigrantes saiam
das águas territoriais do Norte
de África e do Médio Oriente.
2 – Nalguns dos países de
embarque (onde for possível),
há que celebrar acordos com
os Governos locais para a criação de “zonas-tampão” junto à
costa, onde os que forem realmente refugiados possam ficar
a receber assistência, mas sem
possibilidade de embarcar.
3 – Paralelamente, deve ser
adoptada legislação que puna
de facto e exemplarmente o
tráfico de seres humanos e a
participação em esquemas de
imigração ilegal. Tratando-se
de uma questão muito complexa e com várias causas e matizes, não existe uma solução
única para a mesma, mas sim
várias soluções diferentes
que deverão ser aplicadas em
conjunto e de acordo com
cada caso.
4 – É igualmente urgente
equacionar toda a política
ocidental no que respeita ao
continente africano e ao Médio
Oriente. Neste particular, os
nacionalistas europeus de um
modo geral apontam o seu
dedo acusador às “Primaveras”
árabes, a certas formas de “ajuda” internacional, ao neo-colonialismo e ao lóbi negreiro da
imigração – sempre útil para a
esquerda (pois gera conflitos
sociais) e para a direita (uma
vez que origina mão-de-obra
barata), mas nada útil para os
povos europeus.
Reafirmo o que há muito
venho defendendo: a entrada
de trabalhadores não portugueses deve cingir-se a postos
de trabalho para os quais não
existam portugueses capacitados, isto é, deve ser limitada
às eventuais necessidades do
mercado de trabalho.
ACORDO ORTOGRÁFICO?
NÃO!
Entrou em vigor a alegada
obrigatoriedade de se escrever
conforme o “Acordo Ortográfico de 1990” (alegada,
pois do ponto de vista legal
esta obrigatoriedade já está a
ser contestada). Mas obedecer a algo tão aberrante é um
perfeito acto de cobardia e de
traição à nossa identidade e à
nossa cultura. Um povo que
maltrata assim a sua própria
identidade torna-se um povo
sem memória, sem História e
sem raízes e, por isso mesmo,
suicidário, já que se fragiliza
voluntariamente, tornando-se
presa fácil da dissolução patrocinada pelo mundialismo.
Este acordo de lesa-identidade representa um verdadeiro crime contra a nossa
Nação e tem culpados: Cavaco
Silva e Pedro Santana Lopes,
ao cozinharem este acordo;
Sócrates, ao defendê-lo com
unhas e dentes e aplicá-lo; Passos Coelho, ao torná-lo obrigatório em vez de o revogar; a
esquerda e a extrema-esquerda parlamentares, que ou votaram a favor do “Acordo” ou
nunca tentaram efectivamente
bloqueá-lo; aqueles para quem
este “Acordo” é um negócio
que vai gerar ou já gerou milhões; e, por último, os muitos
portugueses que, por cobardia
e cumplicidade, mesmo discordando de tal aberração, lhe
obedecem sem que a tal sejam
obrigados pelas respectivas
entidades patronais.
Quanto à possibilidade de
um referendo, considero que
as questões relacionadas com
a nossa identidade, enquanto
povo, jamais devem ser referendadas, pois são demasiado
sagradas para dependerem de
vontades passageiras. Contudo,
tratando-se de uma questão
fracturante da sociedade como
esta, não seria de admirar
que o povo fosse consultado.
Ora, certamente por saberem
que a maioria da população
portuguesa está contra esta
mudança (75% segundo as
sondagens), os políticos resolveram não referendá-la. Eis este
regime mentiroso em todo o
seu esplendor, com a sua tão
apregoada democracia, mais
concretamente a “democraciasó-para-quando-lhes-dá-jeito”.
TAP
No passado dia 9 de Maio
participei numa acção de protesto no Aeroporto da Portela,
demonstrando a minha indignação face à privatização da
TAP e à destruição da companhia devido a anos e anos
de gestão danosa e de greves
selvagens.
Governantes, administração
e pilotos comportam-se como
verdadeiros terroristas ao
destruírem desta maneira a
nossa transportadora aérea,
afectando com isso, também de
modo grave, toda a economia
nacional, o nome da TAP e o
nome do País.
É inaceitável que, protegidos
pela lei, uns quantos elementos
movidos por interesses sectários provoquem tanto dano
à Nação e nem sejam sequer
responsabilizados por isso.
Este Regime, que tem
imposto tantos sacrifícios
aos portugueses e não hesita
em extorquir-lhes dinheiro
com pesados impostos, taxas,
coimas, penhoras e despejos,
permite, por outro lado, que
instrumentos como estas greves
selvagens provoquem prejuízos
tremendos a Portugal e aos
portugueses.
OPINIÃO
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 22 de Maio de 2015
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PT
Campeões no estádio
(gladiadores na rua)
LUIS BARREIRA
A
grande festa do futebol
foi antecipada e o Benfica sagrou-se campeão
pela segunda vez consecutiva.
No Estádio do Guimarães a
festa das claques benfiquistas
era permanente no “apoio”
à sua equipa, lançando-lhes
petardos vermelhos, como
fogo de artifício a celebrar a
alegria de ouvir o apito final.
E, no final, foi a apoteose. O
Benfica não ganhou, mas era
campeão! A euforia dos adeptos
transformou-os em invencíveis
campeões, lutadores enérgicos
contra as cadeiras do estádio e
demais equipamentos do Afonso Henriques, cuja inspiração,
na sua bravura histórica, acabou
eventualmente por motivá-los
na apreensão de mercadorias
alheias, como se tratasse do
espólio devido aos vitoriosos
combatentes pelo título.
Fora do recinto, um outro
“campeão” da polícia, que
não tinha usado o bastão para
evitar a arruaça dentro do
estádio, que seria o serviço para
o qual tinha sido contratado,
decidiu mostrar a sua “valentia
democrática”, alvejando à bastonada um pai preocupado com
a aflição de um filho menor, e
ao murro um idoso que pretendia acalmá-lo. Perante as câmaras da televisão, este chefe da
polícia ostentou publicamente
a sua impreparação para o
cargo, exibindo gratuitamente
as suas faculdades em boxe e
bastonadas contra cidadãos que
só queriam defender-se.
Mas a festa benfiquista só
estava a começar.
Em Lisboa, nas barbas do
severo Marquês de Pombal, sob
um manto diáfono avermelhado que coloria os próprios
leões, a família benfiquista
rejubilou, gritou de alegria,
lançou foguetes, dançou,
bebeu uns copos de contentamento, mais uns copos para
atestar e estavam lançados os
ingredientes para começar a
contestar. Não se sabe contra
quem, nem porquê, mas as
garrafas começaram a voar, as
pedras pelo ar, as montras e
os carros para escangalhar e a
polícia... a “levar”.
Gosto de futebol, sem ser
doente. Acho que o Benfica
mereceu este segundo título,
mas não sou benfiquista. Repudio qualquer violência dentro e
fora dos estádios, seja ela física
ou verbal. Mas acho que a vitória
merecida do Benfica deveria ter
sido bem festejada, em nome da
felicidade que o clube acabava
de transmitir aos seus adeptos.
Mas se isto é festejar!?...
Assumo a tristeza dos
jogadores, da equipa técnica e
dirigentes do Benfica, perante
este triste espectáculo. Assumo
igualmente o receio dos seus
muitos milhares de associados:
homens, mulheres, famílias inteiras, que passarão a ter medo
de se deslocar aos estádios de
futebol, com receio de serem
agredidos por arruaceiros ou
polícias deslumbrados.
Não sou ingénuo ao ponto
de considerar que, entre as
claques de futebol, ilusoriamente organizadas e controladas, não haja quem lá se encontre com motivações que nada
têm a ver com este desporto.
Cabe aos clubes, uma vez que
lhes atribuem esse estatuto, vigiar de perto essas associações e
sancioná-las duramente no caso
de cometerem faltas graves,
expulsando-os dos estádios.
Da mesma maneira que, no
que diz respeito ao papel das
autoridades na resolução destes
e doutros conflitos, tenho
a consciência de que, para
alguns, a brutalidade é o único
meio de os anular. Razão que
tem conduzido a um crescente
desrespeito pelas fardas, em que
a persuasão é completamente
substituída pela coacção, aumentando os provocadores e os
desafios abertos à autoridade.
E é preciso que os elementos
policiais – prevaricadores e
incapazes de compreender que
a sua verdadeira missão é a segurança do público – não sejam
apenas objecto de inquérito
sem solução, nem publicação.
A justiça tem de funcionar
para os dois lados do problema
ou é desacreditada.
Se nada se fizer para conter
todos estes excessos e continuarmos a manter os actuais procedimentos, não faltará muito
para termos um polícia para
cada espectador nos estádios
de futebol.
Eu não me preocupo, vejo
pela televisão. Não tem o calor
humano de um estádio, nem a
cor e a excitação dos cânticos
e dos aplausos, mas antes estar
vivo do que morto!
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ENTREGUE ESTE CUPÃO NAS BILHETEIRAS DO CINETEATRO DE MACAU
#$34567893
DATA DO SORTEIO: 28 DE MAIO DE 2015
LITURGIA
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 22 de Maio de 2015
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PT
DOMINGO DE PENTECOSTES – Ano B – 24 de Maio
HORÁRIO DAS MISSAS
(DOMINGOS E DIAS SANTOS)
7:00 horas
7:30 horas
7:30 horas
8:15 horas
8:30 horas
9:00 horas
9:30 horas
—
—
—
—
—
—
—
—
—
10:00 horas —
—
—
10:30 horas —
11:00 horas —
11:00 horas —
—
11:00 horas —
11:15 horas —
12:00 horas —
16:30 horas —
17:30 horas —
18:00 horas —
20:30 horas —
Fátima (C).
Sé, S. Lourenço e St.º António (C).
S. Lázaro (C).
S. Francisco Xavier
Mong-Há (C).
St.º António.
Sé, S. Lourenço, N.ª Sr.ª do Carmo
Taipa (C); Fátima (C).
S. Lázaro, S. Francisco Xavier (Mong-Há),
S. José Operário (C).
St.º António (P); S. Francisco Xavier
Coloane (I, C); N.ª Srª do Carmo
Taipa (I).
Sto. Agostinho (Tagalog).
Sé (P), Hospital de S. Januário (P);
N.ª Srª do Carmo
Taipa (P).
S. Lázaro (I).
Instituto Salesiano (I).
Fátima (I).
S. Agostinho (I); Fátima (vietnamita)
S. José Operário (I).
Sé (I); S. Fr. Xavier Mong-Há (C).
S. Lázaro (P).
S. José Operário (M).
MISSAS ANTECIPADAS
17:00 horas
17:30 horas
18:00 horas
18:30 horas
—
—
—
—
—
19:00 horas —
20:00 horas —
S. Domingos (P).
S. Fr. Xavier Mong-Há (I).
Sé (P).
N.ª S.ª do Carmo
Taipa (I).
S. Lázaro (C).
Fátima (C).
ABREVIATURAS
C - Em Cantonense I - Em Inglês
M - Em Mandarim P - Em Português
A abertura do coração
ao Espírito
INTRODUÇÃO ÀS LEITURAS
A passagem dos Actos dos Apóstolos (Act., 2, 1-11) descreve-nos em pormenor o acontecimento do dia de Pentecostes, quando o Espírito desceu sobre os apóstolos para que
cumprissem com a missão que lhes tinha sido confiada.
Nosso Senhor Jesus Cristo promete aos Seus discípulos
que o Espírito Santo será para eles um consolador, o Espírito da verdade (EVANGELHO: Jo., 20, 19-23). Também
S. Paulo se refere à vinda do Espírito Santo como princípio
de unidade da Igreja na diversidade dos seus ministérios
(SEGUNDA LEITURA: I Cor., 12, 3-7. 12-13).
Se alguém tivesse um amigo…
…que fosse ao mesmo tempo, médico, advogado, banqueiro, psicólogo, conselheiro matrimonial, enfim, especialista em todos os campos;
…que tudo soubesse e tudo pudesse;
…que estivesse verdadeiramente interessado
no nosso bem e a quem se pudesse recorrer em
qualquer momento do dia ou da noite;
Esse alguém seria a pessoa mais feliz do mundo.
Pois bem, cada um de nós, cristãos, é esse alguém felizardo.
Hoje, dia de Petencostes, não recordamos
apenas a vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos, mas também a verdade da nossa fé de que
cada cristão tem a seu lado esse ESPECIALISTA, que é o Espírito Santo.
Espírito Santo, a quem Cristo algumas vezes chama «Paráclito», palavra um tanto rara,
mas bem expressiva, porque em Grego significa
exactamente «aquele que está ao (nosso) lado».
E o Espírito Santo está a nosso lado para…
…nos consolar nas nossas tristezas;
…nos aconselhar nas nossas dúvidas;
…nos animar nos nossos desalentos;
…nos dar força nas nossas lutas;
…nos ensinar a amar.
Ou seja, aquele amigo de que falámos ao
princípio e a quem hoje pedimos que encha os
corações dos Seus fiéis e acenda neles o fogo do
Seu amor.
COMBATE À CORRUPÇÃO
Papa pede coragem
O Papa disse no Vaticano aos bispos italianos que é preciso ter coragem para
denunciar a corrupção, pedindo «sensibilidade eclesial» aos prelados, particularmente com as vítimas da crise.
«A sensibilidade eclesial implica ainda não
ser tímidos ou irrelevantes quando se trata de
repudiar e derrotar uma mentalidade de corrupção pública e privada que chegou a empobrecer, sem qualquer vergonha, famílias, reformados, trabalhadores honestos, comunidades
cristãs, descartando os jovens», declarou, ao
inaugurar os trabalhos da 68ª assembleia
geral da Conferência Episcopal Italiana
(CEI), na passada segunda-feira.
O discurso alertou ainda para as «colonizações ideológicas» que visam atingir negativamente a «identidade e a dignidade humana».
O Papa sustentou que a sensibilidade
eclesial se manifesta ainda «nas escolhas
pastorais e na elaboração de documentos»,
rejeitando uma visão «teórico-pastoral abstracta», que afasta as pessoas.
Nesse sentido, pediu aos bispos que se-
jam capazes de apresentar às comunidades
católicas «propostas concretas e compreensíveis».
Francisco sublinhou depois a importância do trabalho comum entre bispos,
deixando votos de que exista partilha
entre dioceses ricas, «material e vocacionalmente», e as que vivem dificuldades,
«entre as periferias e o centro».
«Nota-se, nalgumas partes do mundo, um
progressivo enfraquecimento da colegialidade», alertou, aludindo em particular aos
compromissos «económico-financeiros».
Num cenário de «enormes problemas
mundiais» e de uma crise que «não poupa
sequer a própria identidade cristã e eclesial»,
Francisco observou que a missão dos bispos é «ir contra a corrente», para «transmitir alegria e esperança aos outros».
O Papa afirmou que os leigos não precisam de um «bispo-piloto», mas de um
«bispo pastor», que os ajude a assumir as
suas próprias responsabilidades.
In ECCLESIA
ECLESIAL
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 22 de Maio de 2015
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PARTICIPANDO NA SENHORIA DE DEUS
A Terra é para todos
PE. JOSÉ MARIO MANDÍA
[email protected]
Quando Deus criou Adão e Eva concedeu-lhes três dons naturais. Primeiro,
Ele criou-os à Sua imagem e semelhança, dando-lhes uma alma imortal, equipada com o poder do Saber e do Amor.
Segundo, Ele concedeu-lhes uma parte
no poder – fê-los senhores e mestres da
criação material (Génesis 1:26). Finalmente, Ele concedeu-lhes uma quota no
seu trabalho de criação, fazendo-os Homem e Mulher (Génesis 1:27-28). Hoje
falaremos sobre o segundo dom natural.
«Façamos o ser humano à nossa imagem,
à nossa semelhança, para que domine sobre
os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os
animais domésticos e sobre todos os répteis que
rastejam pela terra (Génesis 1:26)».
Ao Homem foi concedido o domínio
e o senhorio. O Mundo pertence-lhe.
«Os bens da criação são destinados a todo
o género humano» (“Catecismo da Igreja
Católica”, ponto 2402). A razão do poder senhorial é que Deus desejou que
o Homem tomasse conta e cuidasse da
Terra (Génesis 2:15). Trabalhar a Terra
necessita de domínio e posse.
Possuir algo é por isso um direito concedido por Deus a cada pessoa singular.
A Igreja chama a esse direito o “destino
universal dos bens”. A Terra é para todos
e cada um. Apesar disso, devido a que
as coisas são pela sua própria natureza
limitadas, o direito de possuir algo é limitado; o direito de posse não é absoluto. As autoridades políticas têm a grave
responsabilidade «de regular, em função do
bem comum, o exercício legítimo do direito de
propriedade» (“Catecismo da Igreja Católica”, 2406).
O “Catecismo” (2409) enumera as
transgressões a esta regra: «Mesmo que
não esteja em contradição ao primado da lei
civil, qualquer forma injusta de obtenção e
retenção de propriedade de terceiros é contra o
disposto no sétimo mandamento; incluindo a
retenção deliberada de bens emprestados ou de
objectos perdidos; fraude cometida nos negócios, pagamento de salários injustos, aumento de preços aproveitando-se da ignorância ou
da necessidade de terceiros».
E continua: «Também são considerados
actos moralmente ilícitos a especulação na
qual alguém manipule artificialmente o preço dos bens, por forma a ganhar vantagem
em detrimento de outras pessoas, a corrupção
pela qual alguém influencie o parecer de alguém que deva tomar decisões de acordo com
a Lei; a apropriação e uso privado de bens
de uso comum de uma empresa, o trabalho
mal executado, a evasão fiscal, a falsificação
de meios de pagamento e facturas, despesas
excessivas e desperdício. Causar danos a propriedades privadas ou públicas, deliberada-
mente, é um acto contrário à Lei Moral e deve
ser reparado».
Em alguns casos mais extremos, tirar
algo de alguém até pode não ser um
roubo. O “Catecismo da Igreja Católica” (2408) estipula: «Não existe roubo se se
pode presumir o consentimento no acto, ou se
a recusa for contrária à razão e ao destino
geral dos bens em questão. É o caso de uma
óbvia e urgente necessidade em que a única
solução para fornecer de imediato bens essenciais (comida, abrigo, roupas...) será colocar
esses bens à disposição de alguém utilizando
pertences de terceiros».
Ser dono de algo é um direito concedido por Deus a cada pessoa singular.
Ainda mais relevante se se tratar do pagamento de algum trabalho efectuado.
O “Catecismo” diz, em termos muito
claros: «Um salário justo é o fruto legítimo
do trabalho. Recusar ou reter esse pagamento
pode ser uma injustiça grave. Para se determinar um pagamento correcto devem ser tidas em conta, tanto as necessidades, como as
prestações de cada pessoa. A remuneração do
trabalho deve garantir ao trabalhador a oportunidade de prover uma vida digna para ele e
a sua família, a nível material, cultural, e es-
piritual, tendo em conta a posição e a produtividade de cada um, as condições do negócio,
e o bem comum. O acordo entre as partes não
é suficiente para justificar moralmente o valor
a ser recebido no salário» (2434).
Por outro lado, a pessoa que trabalhe
para receber um pagamento deve, em
retribuição justa, trabalhar bem. Tem o
direito de receber um pagamento justo, mas também tem a obrigação de ser
competente e honesto no seu trabalho.
O “Catecismo” avisa-nos que um trabalho mal executado é o mesmo que roubar, e é moralmente incorrecto.
O Antigo Testamento decretava «Não
roubarás (Êxodo 20:15)», mas o Novo
Testamento tornou esse princípio mais
desafiador: «Abençoados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus (Mateus
5:3)». Temos o direito de possuir coisas,
mas não devemos ser possessivos. Nós,
que vivemos numa cultura materialista,
devemos estar conscientes desta grande
tentação de nos tornarmos escravos das
novidades.
Muitas pessoas aplaudiram o Papa
Francisco por advogar a pobreza, mas
o Santo Padre já clarificou, por diversas
vezes, que não se referia à pobreza social
– a pobreza dos destituídos – mas à pobreza teológica, libertando o nosso coração das coisas materiais. É esta liberdade
interior que nos torna capazes de amar a
Deus acima de todas as coisas.
Senhoria e mestria requerem a prática das virtudes. O “Catecismo” (2407)
mostra-nos a necessidade de «praticar a
virtude da temperança, para moderarmos o
nosso apego aos bens deste mundo, praticar
a virtude da justiça, para respeitarmos os direitos dos nossos vizinhos e dar-lhes o que lhes
é devido, e praticar a solidariedade de acordo com a regra de ouro de nos mantermos na
generosidade do Senhor, que “era rico, ainda
assim, e para seu proveito tornou-se pobre, e
com essa pobreza poderá vir a ser rico”».
Ter alguma coisa, conseguir riqueza,
é bom e si mesmo, porque ajuda uma
pessoa a contribuir para o bem comum
e trabalhar para o bem estar dos outros.
Para além disso, através do uso correcto
das coisas materiais no nosso trabalho,
podemos tornar-nos santos, tal como
São José e a Virgem Maria.
(Tradução: António R. Martins)
ECLESIAL
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 22 de Maio de 2015
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O TEMPO DE DEUS E O TEMPO DOS HOMENS
O Tempo
VÍTOR TEIXEIRA (*)
[email protected]
«PARA tudo há um momento e um tempo para
cada coisa que se deseja debaixo do céu», revela-nos o livro do Eclesiastes 3,1, no Antigo
Testamento. O tempo, esse mistério, essa
necessidade imperativa, esse desejo, esse
problema, esse sonho... o tempo, tão simples que é, mas afinal algo que nos guia e
não nos larga. Será uma magnitude física,
com a qual medimos a duração ou separação, organização de acontecimentos, que
por isso mudam ou até podem perenizar-se, num sistema de observação e medida.
Com o tempo podemos ordenar acontecimentos, factos, sucessos, em sequências,
em conjuntos ou escalas, definindo assim
um passado e um futuro, ou aquilo que
não pertence a nenhum destes, o presente, feito de eventos em simultâneo, em
sincronia, mas que acabam por criar a diacronia, a sequência, infinita...
Há o tempo do relógio, do calendário,
com a sucessão de horas, minutos, segundos, ou tempo cronológico (do Grego
“chronos”), da fusão medieval do pai de
Zeus (Crono) e do Tempo (Chronos). É
um tempo mecânico, diferente do tempo
das emoções, das alegrias, das tristezas, do
tempo de um preso na cadeia, do tempo
do amor, do tempo de uma mãe que cuida
do seu filho, das esperas, das angústias, do
tempo ou que chega depressa ao fim ou
do que nunca mais acaba. Do tempo especial, a que se chama de oportunidade ou
ocasião. Um tempo, humano, que afinal
não é todo igual, que varia de pessoa para
pessoa, povo para povo, dentro da história
até do próprio tempo. Há um tempo dos
homens, histórico, dos relógios e clepsidras, que se escoa na vida quotidiana, na
voracidade dos dias que se sucedem, da
vida... e há o tempo de Deus, de salvação,
o tempo sem tempo, da eternidade, afinal
uma característica de Deus. Que é a substância do próprio Tempo, do seu devir.
Tempo é uma palavra do Latim medieval, “temps”, que significa “cortar”, “talhar”, uma característica, aliás, do tempo
histórico, que se “corta”, divide, a nossa
existência enfim, em horas, dias, anos...
Os povos primitivos conceberam o tempo como uma realidade cíclica, sujeita ao
“eterno retorno”, ao tempo primordial,
reproduzido em ritos e celebrações destinados à sua recordação e vivência, pois
neles estavam os valores decisivos do tempo humano da existência terrestre, das
civilizações. Tudo o que está à posteriori
desses tempos primordiais é o desenvolvimento ou as consequências, no espaço
e no tempo, dessas origens, ou a sua cor-
rupção e decadência. Esta noção de tempo destruidor, aniquilador, criou o medo
do passar do tempo, que afinal desgasta e
corrompe: por isso, é imperativo regressar
aos tempos primordiais, puros e genuínos,
aos quais se deverá criar fidelidade e observância, imitar. Perante esta cronocracia, ou cromofobia, melancólica, voraz,
surge talvez a mais original das facetas do
Cristianismo, o tempo novo, ou o tempo
da esperança, o tempo de Deus, da Encarnação. O kairós de São João Paulo II,
o “tempo especial”, fundamental, pois é
nele que tem lugar a obra da criação e da
salvação, referia aquele Papa. «É este o tempo favorável, é este o tempo da salvação», como
clamara São Paulo (Cor 6,1-2).
O conceito judaico-cristão de tempo,
forjado na Bíblia e sublimado pela liturgia, estabelece o conceito de tempo linear,
com um começo, enquanto acto de criação de Deus, chegando até a definir um
tempo final, escatológico. Mas Deus é,
todavia, eterno, intemporal, o Criador, do
tempo favorável, especial. Por isso cada
tempo tem que ser aproveitado, vivido,
para e por Ele, logo para os outros, na alteridade, não no egoísmo, aproveitando a
oportunidade do tempo d’Ele: senão, não
volta, porque o tempo não se repete. O
tempo para Deus, para o fim dos tempos,
o tempo do Eclesiastes (3,1-8, vale a pena
ler), que não se pode perder.
O tempo definitivo de Deus surge pois
no re ligare, na religião, e na sua dinâmica salvífica. O Cristianismo ancora-se
mesmo nessa esperança do tempo definitivo, do eterno “hoje” da salvação. Mas o
tempo tem, por isso, várias características,
vivências: de tensão, quanto ao futuro; vigilância e atenção, para não se perder o
tempo que Deus concede a cada um para
viver a sua história, o seu tempo especial;
a perseverança, estribado na crença nas
promessas de Deus. O presente vive-se
pois na esperança, enquanto abertura ao
futuro, pois «Ele será tudo em todos (1 Cor
15,28)», mesmo vivendo na transitoriedade própria do tempo histórico.
A eternidade será afinal o fruto maduro do tempo da vida do cristão, de qualquer um. A liturgia não é afinal a antecipação dessa eternidade, que coloca cada
um fora do tempo histórico mas dentro
do tempo de Deus, o tempo especial que
não é tempo, sem tempo. A Encarnação
do Verbo, em Jesus, marca já o toque do
eterno no tempo dos homens, como exalta São João, logo a abrir o seu Evangelho.
O princípio, a eternidade de Deus, e o
tempo histórico, dos homens («...veio habitar connosco») está por demais evidenciado em João, na descida do Filho de Deus
ao mundo, do eterno que vem mostrar o
caminho ao tempo finito, da caducidade.
Mas o eterno que vem também, na cria-
ção, tocar numa obra boa (n 1,31) que
Cristo sublimaria e o Novo Testamento
confirmaria como o tempo da salvação,
do futuro, já não do passado, numa nova
história, epifânica, ou seja, plasmada pela
intervenção de Deus.
Tempo, um tema infinito, difícil de materializar, de dominar, porque nos ultrapassa, nos domina. A religião, pela confiança
intrínseca que gera no crente, com a esperança e a ideia de eternidade, o fruto maduro da existência terrena do homem no
vale de lágrimas do mundo e do seu tempo
histórico, assume-se pois como a forma de
qualidade de tempo que o homem dispõe
para mitigar a sua debilidade e pequenez,
disfarçar imperfeições mas também alavancar a sua existência em algo mais do que
apenas viver ou existir. A qualidade do tempo pertence e é transmitida e vivida apenas
no domínio da fé, sobrepondo-se à quantidade do tempo. O homem moderno
preocupa-se mais com esta escala, quantificável, tentando esticar cada vez mais a sua
existência, mas perde qualidade de tempo.
Esta, para se começar a procurar, é até fácil de começar a encontrar: basta abrir a
Bíblia. «Os meus dias são como a sombra que
declina, e eu vou secando como a erva. Tu porém,
Senhor, permaneces para sempre (Sl 102,12-13;
cf. Sl 90,4-12)».
(*) Universidade Católica Portuguesa
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 22 de Maio de 2015
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R OTA D O S 5 0 0 A N O S
Amigos a bordo
JOÃO SANTOS GOMES
[email protected]
C
omo antecipei na última
crónica, esta semana
foi bastante tensa. No
dia anterior à chegada dos
nossos amigos de Portugal,
quando testámos o motor à
noite voltámos a ter problemas
de aquecimento, com falta de
água no sistema de refrigeração. Isto deu-se na sexta-feira,
sendo que ao sábado, normalmente, ninguém trabalha
em Martinica. Por sorte, o
mecânico que nos tem assistido
foi a excepção à regra. E no
sábado de manhã, bem cedo,
estava no barco para ver o que
se passava. Duas horas depois
estava o mal diagnosticado e
a solução encontrada, tendo
ele vindo já precavido com
algum material para resolver
o problema. Esperamos que
agora se aguente e nada mais
haja a remendar no que diz
respeito à refrigeração do
velhinho motor, porque não há
qualquer problema em termos
de mecânica.
Desta vez voltei a insistir com
o mecânico com a intenção de
fazermos uma revisão completa
ao motor antes de rumarmos ao
Panamá, mas voltou a defender
que não seria necessário estar a
gastar dinheiro porque, na sua
opinião – durante trinta anos
de experiência viu vários motores deste modelo – o mesmo
está em boas condições, apesar
dos anos que já tem em cima.
Além dos cuidados normais
de manutenção e da mudança
das peças que se vão degradando, nada mais haveria a
fazer, defendeu, tendo aconselhado apenas a mudar o tipo de
óleo. Temos usado 15w40 de
gasóleo; aconselhou a usarmos
apenas óleo tipo 40.
Se tudo se mantiver esta
semana conforme o planeado,
iremos sair de Fort-de-France
rumo ao Sul, parando em
Grand Anse. Depois de uma ou
duas noites iremos para St. Lucia, onde passámos seis meses,
para que os nossos amigos possam ficar a conhecer outra ilha
nesta sua primeira visita. Esperamos não ser atraiçoados pelo
motor e que tudo se possa fazer
sem grandes contratempos, até
porque os nossos amigos apenas
podem ficar dez dias. Quanto às
condições meteorológicas, não
são as melhores mas os ventos
parecem ser favoráveis.
Entretanto, ainda relativamente ao problema da bomba
de água salgada, ficámos a
saber que não há necessidade
de comprar uma nova porque o
problema não é da bomba em
si, mas do disco adaptador do
corpo do motor. De acordo com
o mecânico, numa intervenção
anterior foi feita a substituição
do adaptador e instalado um
sensivelmente menos espesso
– daí o problema da bomba. O
veio da mesma fica um milímetro mais curto do que o ideal
para encaixar bem no veio da
bomba de injecção. O mecânico
viu-se obrigado a inserir duas
anilhas de cobre na bomba para
colmatar a diferença e alertou
ESCOLHA SARDINHAS PORTUGUESAS
para a importância de, mesmo
comprando uma bomba nova,
colocar as anilhas para que a
bomba encaixe perfeitamente. A
outra solução permanente seria
substituir o disco adaptador, mas
como o motor já não se fabrica
seria preciso encontrar uma em
segunda mão que fosse original.
Algo semelhante a encontrar
uma agulha num palheiro.
Quanto ao plano de seguirmos
para o Panamá, e como também referi na semana passada,
iremos mesmo ficar pelo Sul das
Caraíbas até Novembro e depois
iremos subir até Porto Rico, dali
atravessando directamente para
o canal do Panamá. Já recebemos
informação dos nossos amigos do
veleiro brasileiro Gentileza. Ficou
combinado um encontro em
Grenada para zarparmos juntos
em direcção ao Pacífico.
ESCOLHA
PORTHOS
Quanto ao catamaran português El Caracol, seguiram para
Sul e irão decidir, em breve, se
vão para as ilhas holandesas ou
se esperam a Sul para cumprir
a nossa rota em Novembro.
Em todo o caso, irão estar no
Panamá para atravessar o Pacífico juntamente com o nosso
veleiro.
Quanto aos nossos visitantes,
chegaram de Paris, vindos
da cidade do Porto, e estão a
gostar da experiência. Apesar
de ter havido algum enjoo no
primeiro dia de ancoradouro,
tudo se resolveu com alguns
comprimidos, cervejas e banhos de mar a toda a hora.
Além do prazer de receber
amigos e falar de memórias antigas, é um deleite ver as nossas
filhas brincarem ao redor do
barco e na água.
CADERNO DIÁRIO
18
PT
Quarta 20
Segunda 18
Trilogia
Já saiu a nova edição de
“O Espião de D. João
II - Pêro da Covilhã”, o
primeiro romance da
trilogia de Deana Barroqueiro sobre os Descobrimentos Portugueses,
que narra as viagens de
Pêro da Covilhã e a sua
busca do reino do Preste
João. O 2º romance, “O
Navegador da Passagem”,
conta as viagens de Bartolomeu Dias e de outros
navegadores, no reinado
de D. João II, e o achamento do Brasil, já com
D. Manuel. O último livro
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 22 de Maio de 2015
Arquivo
da trilogia, “O Corsário
dos Sete Mares - Fernão
Mendes Pinto”, narra as
viagens e a odisseia dos
Portugueses no Oriente
(Médio e Extremo), a
partir do olhar do autor
de “Peregrinação”, com
base numa investigação
de mais de uma década,
para recriar com a maior
fidelidade personagens,
factos, lugares, espírito
de época, etc.
Terça 19
Padroeira 1
Em 2017 comemoram-se cem anos das
aparições de Fátima, em Portugal, e
trezentos do achamento da imagem de
nossa Senhora Aparecida, no Brasil. A
Igreja Católica decidiu celebrar as efemérides em conjunto, reforçando assim
os laços entre os fiéis dos dois países.
Nesse contexto, em 2014, foi entronizada no Santuário Nacional de Aparecida
a imagem de Nossa Senhora de Fátima
e agora, um ano volvido, acto idêntico
entronizou em Fátima a imagem da padroeira do Brasil. A celebração conjunta
dos aniversários realça a unidade substancial do culto mariano, que marca a
religiosidade católica num e noutro país,
expressa na veneração de Nossa Senhora
da (Imaculada) Conce(p)ição, padroeira de Portugal, cuja imagem, levada pelas circunstâncias históricas para o outro
lado do Atlântico, acabaria por se tornar
também a padroeira do Brasil.
Padroeira 2
A convergência das celebrações tem,
entretanto, um significado que vai para
além do plano religioso: acentua a ligação histórica entre os dois povos e até
um certo destino comum, que permanecem como realidade e desafio para
além dos desencontros e das vicissitudes
várias que nos separam e têm gerado
um sentimento de estranhamento ou
alheamento que os responsáveis políticos raras vezes têm sabido ultrapassar.
Quer em Portugal, quer no Brasil, a realidade é hoje mais complexa e diversa,
e a Igreja Católica perdeu a hegemonia
absoluta que chegou a ter no passado.
Outras religiões (re)emergiram, são
outros os códigos morais e de conduta.
Mas há um esteio comum que perma-
nece e nos (re)aproxima e esse esteio,
para o bem e para o mal, é católico. Na
ausência de iniciativas políticas marcantes no plano das relações bilaterais, não
espanta por isso que seja a Igreja Católica que, fazendo jus ao seu imenso papel
histórico no Brasil, tenha a visão estratégica e a iniciativa prática que parecem
faltar aos decisores do Estado.
Leia O CLARIM na net
Prosseguindo com
os eventos ligados à
exposição “Em nome d’El
Rey: 250 anos do governo
Morgado de Mateus
em São Paulo (17651775)”, o Arquivo Público
brasileiro recebe hoje a
professora Ana Canas,
directora do Arquivo
Histórico Ultramarino,
de Portugal. O evento
marcará o diálogo entre
Ana Canas e Heloísa
Bellotto. As especialistas
abordarão as relações
entre o Arquivo Histórico
Ultramarino e o Arquivo
do Estado de São Paulo.
O seminário também
contará com palestras de
outros pesquisadores e
professores.
Quinta 21
Sabedoria
O homem de sabedoria
não possui, geralmente, a
cultura académica do nosso tempo. A cultura, ainda
que não seja unicamente informação, depende
muito da informação. A
sabedoria, pelo contrário,
não depende da informação. O que não significa
que, para melhor atingir
os seus objectivos, não
deva utilizar a informação. O saber dos chamados homens de cultura é
um “saber de coisas”, um
saber de factos, frequentemente apresentado sob
a máscara de um esteticismo ou de uma retórica
vazia, sem dimensão espiritual nem profundidade.
Infelizmente, os chamados homens de cultura estão, de certo modo, “adormecidos”, em relação aos
grandes problemas do
espírito. Convencem-se
de que as academias, os
institutos, as bibliotecas
encerram toda a luz da
sabedoria. Mas é uma
www.oclarim.com.mo
perspectiva falsa da realidade, porque, fechados na sua erudição, no
seu academismo, conti-
nuam, no fundo, a ser
“analfabetos”, incapazes
de ler o grande livro do
Universo.
ENTRETENIMENTO
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 22 de Maio de 2015
19
PT
TDM Canal 1
13:00
13:30
14:30
18:10
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19:30
20:30
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22:10
23:00
23:30
01:00
01:50
Sexta-feira
TDM News (Repetição)
Telejornal RTPi (Diferido)
RTPi (Directo)
Telenovela: Avenida Brasil (Repetição)
TDM Talkshow (Repetição)
Telenovela: Paixões Proibidas
Telejornal
Vingança
Telenovela: Avenida Brasil
TDM News
Cinema: Porto Santo
Telejornal (Repetição)
RTPi (Directo)
10:30
11:20
11:45
12:00
13:00
13:30
14:30
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19:00
20:00
20:30
21:10
22:10
23:00
23:30
00:25
01:00
Sábado
Os Ursos Boonie
Boarding Madeira
Vida Animal
Mesa Brasileira
TDM News (Repetição)
Telejornal RTPi (Diferido)
Telenovela: O Teu Olhar (Compacto)
Telenovela: Paixões Proibidas
Quem Quer Ser Milionário
Palcos Agora
Telejornal
Conta-me Como foi
Um Lugar Para Viver
TDM News
Pop Lusa
Telejornal (Repetição)
RTPi (Directo)
Domingo
11:00 Missa Dominical
12:00 A Hora de Baco
Caminhar de Novo: Um Milagre da Medicina
TDM News
Reportagem
Construtores de Impérios
Telejornal (Repetição)
RTPi (Directo)
22:10
23:00
23:30
00:30
01:05
Telenovela: Avenida Brasil
TDM News
Portugal Aqui Tão Perto
Telejornal (Repetição)
RTPi (Directo)
15:25
15:50
16:15
16:55
17:35
18:30
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20:30
21:00
22:10
23:00
23:30
00:05
00:40
Segunda-feira
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Telejornal RTPi (Diferido)
Gabriel o Pensador Concerto
Festival Rota das Letras
Um Afilhado em África
Olhar Macau: Banho do Buda, Tam Kung
Linha da Frente “Rua dos Resistentes”
Vilar de Mouros: 35 Anos de História
Telenovela: Avenida Brasil (Repetição)
Contraponto (Repetição)
Telenovela: Paixões Proibidas
Telejornal
TDM Desporto
Telenovela: Avenida Brasil
TDM News
Magazine Liga dos Campeões
Telejornal (Repetição)
RTPi (Directo)
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20:30
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21:40
22:10
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00:05
00:40
Quarta-feira
TDM News (Repetição)
Telejornal RTPi (Diferido)
RTPi (Directo)
Telenovela: Avenida Brasil (Repetição)
TDM Entrevista (Repetição)
Telenovela: Paixões Proibidas
Telejornal
Montra do Lilau
Literatura Agora
Telenovela: Avenida Brasil
TDM News
Monumentos e Sítios
Telejornal (Repetição)
RTPi (Directo)
13:00
13:30
14:30
17:35
18:30
19:30
20:30
21:00
21:45
Terça-feira
TDM News (Repetição)
Telejornal RTPi (Diferido)
RTPi (Directo)
Telenovela: Avenida Brasil (Repetição)
TDM Desporto (Repetição)
Telenovela: Paixões Proibidas
Telejornal
TDM Entrevista
Tudo Acaba Bem (Fim)
13:00
13:30
14:30
18:10
19:00
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20:30
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21:30
22:10
23:00
23:30
00:20
00:55
Quinta-feira
TDM News (Repetição)
Telejornal RTPi (Diferido)
RTPi (Directo)
Telenovela: Avenida Brasil (Repetição)
Montra do Lilau (Repetição)
Telenovela: Paixões Proibidas
Telejornal
TDM Talk Show
Endereço Desconhecido
Telenovela: Avenida Brasil
TDM News
Lado B
Telejornal (Repetição)
RTPi (Directo)
22:00
23:00
23:30
23:45
00:15
00:50
13:00
13:30
14:30
Cinema: Porto Santo. Hoje, às 23:30 horas.
12:30
13:00
13:30
14:30
16:10
17:00
17:50
18:20
18:50
19:40
20:30
21:00
Especial Saúde
TDM News (Repetição)
Telejornal RTPi (Diferido)
Zig Zag
Super Miúdos
Pit Stop
Pela Sua Saúde
Portugal Seis Estrelas
Decisão Final
Bem-Vindos a Beirais
Telejornal
Contraponto
C
A PARTIR DE 22/5/2015
SALA 2
A PARTIR DE 22/5/2015
B
SALA 1
TOMORROWLAND
MAD MAX:
FURY ROAD
14:30 | 16:45 | 21:30
21:45 | 21:45
19:15 (3D)
14:15 | 16:45 | 19:15 | 21:45
Um filme de: Brad Bird
Com: George Clooney, John Walker, Britt Robertson
A PARTIR DE 22/5/2015
B
SALA 3
DRAGON BALL Z:
RESURRECTION “F”
14:30 | 16:30 | 19:30 | 21:30
Um filme de: George Miller
Com: Tom Hardy,
Charlize Theron, Nicholas Hoult
Um filme de: Tadayoshi Yamamuro
Língua: Falado em Japonês, com legendas em Chinês e Inglês
TEMPO
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MUITO NUBLADO
23º Min. - 26º Máx.
20 | ÚLTIMA | SEXTA - FEIRA | 22 - 05 - 2015
Rua do Campo, Edf. Ngan Fai, Nº 151, 1º G, MACAU
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Tempo instável. Céu muito nublado. Aguaceiros, às
vezes muito fortes no início do período. Trovoadas
no início do período. Vento na escala Beaufort 3 a
4 do quadrante sul com rajadas. Humidade relativa
entre 80% e 98%. O índice UV máximo previsto é de 6,
classificado de Alto.
TAXAS DE CÂMBIO
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100
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7.9755
8.8819
12.4850
6.58
6.2938
5.8340
78.39
103.00
COSTA DA MEMÓRIA
As armas portuguesas de Ceuta
JOAQUIM MAGALHÃES DE CASTRO
[email protected]
Ceuta surpreende até o mais prevenido
dos visitantes. A mim surpreendeu-me
o facto de o brasão da Ciudad Autónoma ser ainda o escudo com as armas de
Portugal. Com uma única diferença: o
sétimo dos castelos em redor das cinco
chagas de Cristo surge na parte inferior
do escudo e não na parte superior, como
consta no estandarte nacional.
«– Representam as sete colinas da cidade.
Sebta, Ceuta em Romano, é sinónimo de sete»,
esclareceu a menina de Murcia atrás do
balcão do posto de turismo onde fui buscar um mapa da cidade.
Dir-me-ia mais tarde a sua colega, andaluza de Jerez de la Frontera, que o edifício onde estávamos assentava nos vestígios da muralha inicial, erigida pelos
portugueses. De facto, um piso de vidro
– uma dessas intervenções arquitectónicas modernas que me deixam sempre de
pé atrás – revelava alguma da pedra e da
taipa unidas pela argamassa.
Preferi olhar para o Baluarte dos
Maiorquinos, importante troço defensivo em cunha, à frente do qual seria cavado um fosso com uns trinta metros, que
separaria para sempre a cidade do resto
do território. As Muralhas Reais – a Muralha Portuguesa e um conjunto de estruturas acrescentadas pelos espanhóis
– continuavam a ser um dos cartões-de-visita mais importantes de Ceuta.
Numa rotunda em frente, a estátua do
infante D. Henrique, El Nabegador, apontava o caminho para Norte; ou seja, para
Espanha. Havia algo de profundamente
errado naquilo. Não deveria o mentor das
descobertas indicar o caminho para Sul,
já que foi esse o rumo seguido? Provavelmente, esteve distraído o artista, autor do
projecto. Ou será que os espanhóis decidiram nacionalizar o duque de Viseu como
fizeram com o Saramago ribatejano?
Ceuta é a cidade, em todo o mundo,
onde com maior frequência vemos a
mais importante insígnia nacional. Está
presente em todas as bandeiras do município, sedes de associações – sejam de
empresários, de advogados ou de simples clubes de recreio ou de futebol –
nas tampas das sarjetas, nos caixotes do
lixo, em cima de muros, dentro dos castelos, nos vitrais, incrustadas no metal
das portas, nas janelas, nos candeeiros,
nas T-shirts dos funcionários camarários,
nos ladrilhos dos jardins públicos, nos
Joaquim Magalhães de Castro
azulejos, nos ferros dos vários gradeamentos, no granito à entrada de certos
edifícios ou praças, nas portas dos táxis,
enfim, serve até como símbolo para a
sede episcopal. Ceuta é, decididamente,
a urbe das quinas.
Chegar ao Domingo a uma cidade espanhola é como chegar a Marte. Tudo
está fechado. Nem imaginam a minha dificuldade em encontrar sítio onde beber
um simples café. Mas quando o descortinei, junto à calle Maria Cabral, saiu-me
dali um galão a pedir meças aos que se
servem nos cafés da Invicta. De resto, o
ambiente era muito similar ao nosso,
com os clientes habituais sentados ao balcão, na conversa ou a lerem os números
atrasados do jornal local (o Faro de Ceuta),
pousados em cima da arca dos gelados.
Essa minha caminhada tinha ainda como
meta a busca de alojamento, prioridade
de qualquer peregrino. Trazia num papelinho, que mão amiga me fizera chegar
dias antes da partida, a morada da pensão Charito, no número 5 da calle Arrabal, a única com um preço em conta.
«– Que necesitas, que te veo as vueltas a mas
de una hora?». A observação da senhora
da mercearia pecava pelo exagero, mas
não deixou de me sensibilizar. Era o primeiro sinal da natural simpatia das gentes de Ceuta. Graças a ela fiquei a saber
que a pensão Charito, «onde costumavam
ficar hospedados os operários das obras», assim como a pensão Málaga, ali perto, se
encontravam encerradas. Por isso, vi-me
de novo comprimido entre as ruas Tenente Pacheco e Tenente Fernandez e,
quase sem dar conta, dei de caras com a
igreja da Nossa Senhora dos Remédios,
seguindo depois pela calle Real rumo à
Praça dos Reis, onde se situava o Hostal
Real. Pediram-me ali trinta euros por um
quarto manhoso, sem janelas, como quem
me fazia um enorme favor. Valeu a pena
avançar um pouco mais, percorrendo na
sua totalidade a calle Camoens (quando é
que os espanhóis aprendem a escrever os
apelidos da nossa gente correctamente?),
onde deparei com um enorme projecto
de Siza Vieira quase pronto – bastante discutível mancha de branco imaculado em
pleno centro histórico – que comportava
um auditório, um conservatório e uma
área comercial. No impecavelmente limpo Bohemia Hostal, um lindíssimo edifício, onde estava sediada a Confederação
dos Empresários de Ceuta, vi-me obrigado
a aceitar os mesmos trinta euros. Embora
as condições fossem bastante aceitáveis,
não havia uma única toalha à disposição.
«– Los españoles son uns cabrones!», desabafou a mulher-a-dias marroquina que
me abriu a porta e procedeu ao registo
habitual. E são cabrones porque «Ceuta
é de Marrocos». E, consequentemente, na
perspectiva dessa nativa de Tetuão, não
deviam estar ali.
«– Portugal!?», exclamou ela ao folhear o meu passaporte. «– Portugal se
queda en España, no?».
É. Mais ou menos isso. Lá iremos.

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