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Obs.:
Esse livro “EU POÉTICO", foi publicado pela primeira vez,
pela Editora CBJE (Rio de Janeiro/Brasil) - Agosto/ 2007
Versão Impressa. – Direitos Autorais devidamente Registrados
.
De presente para você,
o meu “eu poético”...
Há neste livro,
um perfume de sentimentos,
fragrância de mim...”
Rosimeire Leal da Motta
ÍNDICE
APRESENTAÇÃO
PREFÁCIO (Maria José Zanini Tauil)
COMENTÁRIO (Elidio Fernandes Junior)
CAPÍTULO I - POESIA
Gotas de Sentimentos
Intérprete do Coração
Criação Artística Literária
Sem Inspiração
Trajetória de uma Vida
Esperança Frustrada
Jardim das Ilusões
Perdido nas Sombras
Ecos de um Eu Aprisionado
Acrobata da Dor
Águas da Existência
A Fuga de um Veleiro
Ensinamentos do Sofrimento
Novos Tempos
Faxina na Minha Alma
Nas Mãos de Deus
Desatando os Nós
Luz no Fim do Túnel
A Oração
Decisão
Porto da Minha Vida
Iceberg Humano
Lágrimas Caladas
Nas Entrelinhas da Vida
Tortura Sonora
Sobrevivência
A Saúde é Tudo
Comendo Problemas
Cheiro de Viver
Amar em Segredo
Canto de Verão
Súbito Inverno
Incompatibilidade
Inverno no Coração
Fim da Saudade
Quebra de Destino
Não se Separa o que Deus Uniu
O Infiel
O Fim de quem Pratica o Mal
A Inveja
O Falso Amigo
O Perdão
Soberana Verdade
Joia Preciosa
Envelhecimento
Autodestruição
A Natureza
Arquitetura da Destruição
O Pôr-Do-Sol
Saudades Eternas a um Grande
Amigo
Álbum de Retratos
Cenário de Vila Velha - ES
CAPÍTULO II – TEXTOS
PREMIADOS: POESIA
Flores Partidas
Poirot a Holmes
CAPÍTULO III - PROSA
Conselhos de Agricultor
Experiente
Uma Xícara de Café
Comédia Cotidiana
Só o Amor Constrói!
O Terminal Rodoviário do Bairro
IBES (Vila Velha-ES)
CAPÍTULO IV - TEXTOS
PREMIADOS: PROSA
O Preconceito
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•Livro - EU POÉTICO
Autora – Rosimeire Leal da Motta
•Rosimeire Leal da Motta
http://www.rosimeiremotta.com.br
• versão Impressa –
Agosto/ 2007
Editora CBJE – Rio de Janeiro
E-mail [email protected]
APRESENTAÇÃO E DEDICATÓRIA
Rosimeire Leal da Motta
Nasci e resido no município de Vila Velha, no Estado do Espírito Santo, Brasil, em
16 de abril de 1969. Sou, por formação, professora e Técnica em Contabilidade.
Sou criativa e sempre tenho muitas ideias. Gosto de pesquisar, descobrir e
analisar. Além da literatura aprecio a História e a Arqueologia. Deus está em
primeiro lugar na minha vida. Sinto uma paixão especial pelo idioma espanhol,
museus de arqueologia e exposição de quadros. Os traços marcantes da minha
personalidade são a timidez e o romantismo.
Comecei a escrever aos 15 anos, seguindo o exemplo da minha mãe, que usava
a escrita como uma maneira de expressar seus problemas pessoais. A outra
influência foi a leitura, pois por ser tímida, passei a maior parte da minha
adolescência lendo.
Meu primeiro trabalho literário foi "MEU IDEAL DE POESIA" (prosa), escrito aos 15
anos.
Desenvolvo o estilo Simbolismo, onde a vida interior é revelada por meio de
símbolos. Existe a postura romântica, centralizada no "eu", explorando as
camadas mais profundas do subconsciente e inconsciente... interioridade...
poesias endereçadas à emoção... romantismo... ideias envoltas em sombra, em
névoa... Na verdade, não sei explicar como adquiri este estilo, possivelmente
deve ter sido porque sempre fui tímida e tinha vergonha de falar sobre mim de
maneira clara e então inconscientemente, usava objetos materiais e abstratos
para representar o que sinto. A Inspiração não tem hora para chegar; quando
estou triste os textos brotam com maior facilidade, mas me encanta olhar uma
foto, imagem ou desenho fixamente, analisando o que vejo, o que está me
transmitindo e os sentimentos ocultos.
Para mim, ler é entrar em contato com novas ideias, novas pessoas, novos
mundos e ajuda a ampliar os conhecimentos e o senso de lógica. E de muito ler
livros é que nasceu em mim o gosto pela escrita.
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O mais gratificante na arte de escrever é poder espalhar nossos pensamentos ao
mundo, transmitindo uma parte de nós aos demais; sim, porque aquilo que uma
pessoa escreve revela muito sobre si mesmo. É gratificante quando escrevo um
texto e observo que ali está muito de mim, foi uma parte da minha
individualidade que doei aos demais.
Eu sinto a poesia como se fosse um pedaço da alma, um ser vivo que transmite
um sentimento. Ler uma poesia é como abrir um frasco de perfume e aspirar seu
aroma... A fragrância é totalmente absorvida por nosso íntimo. Penso que a
realização do poeta se faz na alma, pois ele já nasce com este dom, ou seja, não
há como participar de um curso para se tornar um profissional da poesia... Ele
poderá se inscrever num curso para aperfeiçoar a escrita com base na
gramática e somente isto. Ser poeta é um dom que a pessoa tem, que a torna
capaz de transformar letras em sentimento.
* OUTROS LIVROS PUBLICADOS:
- " Voz da Alma " - Editora CBJE - RJ – Brasil - Novembro/ 2005 Poesia e Prosa.
- "O Cair da Tarde" - Editora CBJE - RJ - Julho/2012 Poesia e Prosa.
Página pessoal:
http://www.rosimeiremotta.com.br/
Facebook Rosimeire Leal da Motta https://www.facebook.com/profile.php?id=100000975458189
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PREFÁCIO
MARIA JOSÉ ZANINI TAUIL
ROSIMEIRE é sonho e intuição, tem olhar astuto e romântico. Sua poética é
produto de reflexão constante, de reminiscências e perspectivas. Tanto pode ser
crepúsculo de velho tempo, como aurora de tempo novo.
Ela traz nesse volume o seu melhor. O processo seletivo tem viés próprio e
contribui para uma literatura mais autêntica, com metáforas bem colocadas, que
não constituem uma fuga do espelho – vida. Seus versos têm ritmo e imagem;
convocam os leitores à reflexão e à satisfação, decorrentes da boa leitura.
O conjunto da obra põe à luz, com expressivo lirismo e sagacidade, o universo
simbólico do cotidiano dessa menina tímida, doce e romântica; menina – mulher,
corajosa, eclética, cristã acima de tudo.
Sua temática é constituída de diferentes cores e sabores; trazem uma visão geral
do mundo que a rodeia, com seus problemas, belezas e tristezas. A arte da
palavra escrita é prazer para quem a constrói e para quem sabe usufruir dela.
Como dizia Mário Quintana: “O pior analfabeto é aquele que sabe ler e não lê”.
Através desse livro, o leitor fará um percurso imaginário, uma viagem nas
entrelinhas ao mundo real de Rosimeire.
Seu “eu interior” está belamente à mostra em “Faxina na Alma”, “Trajetória de
uma vida”; considero-os quase autobiográficos.
São de profunda introspecção e análise psicológica: “Súbito Inverno”, “Iceberg
Humano”.
De grande profundidade: “O infiel”, “O perdão”, “Envelhecimento”, “Águas da
Existência”. “Não se pode ter medo de sofrer; o sofrimento é o tempero da vida”
(A Fuga do Veleiro).
Um canto à natureza e ao seu Criador: “Deus – artista inigualável” .
Em “De Poirot a Holmes”, uma interessante viagem ao mundo imaginário dos
heróis – personagens de Ágata Christie e Conan Doyle.
Destaca-se, nesse jardim de belas e diversificadas produções, o amor à terra
natal, em “Cenários de Vila Velha”.
“Chuviscou a tarde inteira...” uma referência ao querido e fiel amigo, o poeta
Valeriano Luiz da Silva, falecido em fevereiro de 2006.
Como não poderia deixar de ser, o canto poético da escritora e poetisa
capixaba, faz justa e oportuna referência ao autor de sua fé: “De hora em hora,
pensar em Deus... diariamente, amar-se a si mesmo e praticar a arte de sorrir”
5
(Comendo problemas); “Com joelhos dobrados no chão, as dificuldades serão
vencidas...” (Luz no fim do túnel).
Nos capítulos de II a IV , Rosimeire exibe seus troféus. O dom que Deus lhe deu,
posto a serviço, é reconhecido por seu valor artístico e literário, em várias
premiações. Em prosa (contos), alguns “causos” do sábio Pedro Sabino da Mota,
seu amado pai.
Não há sentido prático em definir a autora, que conheço bem, ou sua obra, que
conheço e admiro também. Melhor deixar que você, caro leitor, se envolva em
poesia e se encante em conhecer melhor ROSIMEIRE LEAL DA MOTTA nesse seu
segundo livro.
MARIA JOSÉ ZANINI TAUIL
Professora, poetisa e escritora. Formada em Língua Portuguesa, pós-graduada em
Literatura, nasceu e mora no Rio de Janeiro. Tem impressos: O AMOR É O CAMINHO,
CONTOS CRÔNICOS, SONHOS E DEVANEIOS (infanto-juvenil) NO PALCO DA VIDA e JESUS,
REFÚGIO E FORTALEZA, além do biográfico RAÍZES DA FAMÍLIA ZANINI . Participou de 50
antologias de poesias e contos. Está em todas as edições: Os melhores de 2003 e 2004
...até 2014, da CBJE. A primeira, fez parte da Bienal do Livro, no Rio de Janeiro, em 2005.
Membro efetivo da AVBL e da ABRALI, acadêmica da A B L de Fortaleza , de Teófilo
Otoni e a Lima Barreto, no Rio de Janeiro. Também tem 9 livros eletrônicos e participação
em outros 10. Seu site de poesias é o Coração Bazar Home Page. Escreveu também para
a revista Virtualismo (extinta) e para a AVPB, na seção Refrigério da Alma e para os sites
Pense bem. Net e Educar Brasil. http://www.coracao.bazar.nom.br/
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COMENTÁRIO
por ELIDIO FERNANDES JUNIOR
Um grande exercício de criação. Essa é a primeira impressão que se tem ao ler
“Eu poético”, de Rosimeire Leal da Motta. Mesmo um leitor livre de referências e
ideais literários, em se aventurando pelas páginas desta obra, perceberá uma
das marcas desta produção em verso e prosa: o recurso metalinguístico.
Esse recurso aparece em vários momentos nos quais Rosimeire apresenta sua
matéria prima: a vida. A vida em sua plenitude, forte, latente, reveladora de um
‘eu’ muito latente e expressivo. Diversos são os textos que explicam seu labor
poético, um mergulho no universo das letras, inclusive quando, em um de seus
poemas, revela de forma direta estar a “Criatividade do poeta no ponto zero”.
Não só o fazer poético aparece na súmula meta textual que alinhava este
volume, mas também a dificuldade de um grande artista diante de seu material
de trabalho.
Outra marca que se percebe é uma elaboração discursiva tão marcante que
ganha visualidade na composição textual. Ricos em expressividade, a obra
poética apresenta uma linguagem por vezes fragmentada, descontínua, que se
relaciona diretamente com a visão de mundo atormentada que acaba por
transparecer nos versos. São ideais, sentimentos, sensações em cascata, de uma
profusão tamanha, que denotam a busca constante do desvelamento de si
mesma. Sim, de si mesma. O eu-poético desta obra se mostra, indiscutivelmente,
ser a própria autora.
A fé é outro item que merece destaque uma vez que as questões do mundo, via
de regra, esbarram nEle, que é figura recorrente nos poemas. Afinal, diante de
sua obra, reveladora dos prazeres e desprazeres da vida, só há uma conclusão à
qual se pode chegar, afirmada em um poema deste volume: “Ninguém foge dos
planos de Deus / o que Ele determina, assim será!”.
É posta à prova a existência de um ser humano forte e frágil. Capaz de expor
suas ilusões, as sombras atormentadoras, os sentimentos gerados por diversas
razões. É o testemunho uma loucura de viver explícita, geradora inclusive de um
aprisionamento causado por ecos de situações, pessoas, lugares... Um
existencialismo tão profundo que, em alguns momentos, torna-se inevitável a
lembrança de uma obra, mais especialmente um poema escrito por Cruz e
Souza. Aqui vão apenas alguns versos de “Cárcere das almas”. Na verdade, os
versos finais que clamam:
Nesses silêncios Solitários, graves,
Que chaveiro do Céu possui as chaves
Para abrir-vos as portas do Mistério?!
Sim, os versos de Rosimeire me soam como uma espécie de Simbolismo revisitado,
atualizado, redimensionado para uma vivência pessoal. Por isso caracterizo-os
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como uma expressão potencialmente subjetiva de uma alma inquietada pela
necessidade de explicitude.
Em se tratando da produção em prosa, um de seus textos é extremamente
metonímico: “Escola da vida”, já premiado, que faz parte de “Voz da alma”, da
mesma autora. Claramente ele reflete o todo. Ao ler que “A vida é um estudar
contínuo, cuja carga horária só termina quando deixamos de respirar, entretanto,
pressentimos que em tempo algum nos tornamos realmente habilitados para viver
na íntegra”, na verdade, estamos vendo a definição da linha mestra do pensar
literário de Rosimeire Leal da Motta. Uma artista da pena que, ao fortalecer suas
raízes – cultural e familiar –, nos presenteia com o testemunho de uma vida
intensa.
Cante, Rosimeire, o instante existe. E nós, leitores, merecemos seu canto...
ELIDIO FERNANDES JUNIOR – Formado em Jornalismo e em Letras, Mestre em Literatura
Brasileira, mora no Rio de Janeiro, cidade onde nasceu. Hoje, professor de ensino médio
(Rede Pública do Estado do Rio de Janeiro) e universitário (Universidade Estácio de Sá),
no qual trabalha com Língua Portuguesa, Teoria da Literatura e Literatura Infanto-Juvenil,
que formaram as bases de sua pesquisa de mestrado, realizado na UFRJ, que gerou a
dissertação A poesia de Cecília Meireles no contexto do livro didático (2004).
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CAPÍTULO I
Poesia
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GOTAS DE SENTIMENTOS
Pequena porção de sentimentos.
Pingo.
Escorre aos poucos de um conta-gotas interior.
A quantidade é ministrada pela alma.
A dose é adequada ao momento.
Uma pitada de alegria e outra de tristeza,
temperando as emoções,
colorindo o espírito.
Respira fundo.
O meu “eu” é tímido e romântico.
Aroma de lavanda envolve o ambiente.
Cor-de-rosa.
O coração abraça a vida.
Expressão viva da existência!
Sensibilidade à flor da pele!
Gotas de mim em forma de letras,
deslizam por este papel...
10
INTÉRPRETE DO CORAÇÃO
Combinação harmoniosa e expressiva de sons.
Melodia agradável aos ouvidos.
A plateia acompanha hipnotizada,
a fragrância da música que lhe desperta os sentidos.
Espalham-se na atmosfera acordes suaves e envolventes!
Emanação aromática que faz bailar em pensamentos.
Dominação perfeita das notas musicais!
O vento desarrolhou o frasco do salão.
O perfume instrumental atravessou fronteiras.
Aplausos soaram no palco fortemente,
quando o violino chorou emocionado
ao revelar os sentimentos daquele que o tocava.
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CRIAÇÃO ARTÍSTICA LITERÁRIA
Concentro-me na caneta e no papel.
Sustento-me no ar com as asas da imaginação.
Elevo-me em pensamentos.
Inúmeras palavras e frases desfilam diante de mim.
Infinitas possibilidades.
Escolha de um tema.
Crio um texto a partir da combinação de ideias.
Criatividade à flor da pele.
Fonte de inspiração: minhas experiências!
Sopro criador dando forma a um poema.
Agitação de sentimentos afetivos.
Transformo em letras o que me vai na alma!
Permito ao mundo exterior desvendar o meu íntimo.
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SEM INSPIRAÇÃO
Folha de papel em branco.
Pálida, sem emoção.
Fria, como a neve recém-caída.
Ausência do sopro criador.
Criatividade do poeta no ponto zero.
Caneta nervosa.
Mil possibilidades, nenhuma adequada.
Caminho tortuoso.
Cruzamento de ideias.
Escreve o que lhe vem à mente.
Sem sentido.
Amassa o papel.
Mais uma tentativa.
Falta de concentração.
Gotas de suor denunciam cansaço mental.
Fecha o caderno.
Sem inspiração!
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TRAJETÓRIA DE UMA VIDA
Incompreensão. Medo. Solidão.
Livros. Sonhos.
Repressão. Imposição.
Cadeia. Prisão. Corrente nos pés.
Pensamentos voando para bem longe...
Brincadeiras infantis de correr atrás do outro.
Fugindo da existência, das tristezas.
Jogo de esconder-se para que alguém a encontrasse.
O esconderijo era dentro de si mesma.
Timidez, introvertida.
Leitora frequente. Páginas viradas da vida.
Decifrar o passado escrito em idioma desconhecido.
Um ponto de exclamação e dois de interrogação.
O tempo apagou as placas sinalizadoras da estrada.
Encruzilhada, indecisão, escolha aleatória.
Atropelada por um caminhão:
a redoma foi destruída.
Pensamentos em liberdade.
Cresceu. Maturidade. Nova fase.
Rosto sério. Olhos indecifráveis.
Cicatrizes.
A janela da alma se abriu.
Voou a pomba da paz interior.
Apertou suas próprias mãos.
Fase de auto-entendimento.
Amar a si mesma,
Esquecer as folhas amareladas pelos anos...
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ESPERANÇA FRUSTRADA
Caminhando ao ar livre, parou subitamente.
Seus olhos fixaram-se no horizonte.
A terra parecia unir-se ao céu.
Concentrou-se no seu campo de visibilidade.
Hipnotizada pela esperança, não viu o tempo passar.
Sua dimensão do futuro lhe prendia o olhar.
Expectativa, espera.
O sol se pôs, a paisagem se transformou.
A tarde partiu cruelmente,
desmaterializando seus sonhos.
Ilusão, interpretação errônea da vida.
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JARDIM DAS ILUSÕES
Terreno contíguo a uma casa interior,
cercado por interpretações errôneas.
Mente romântica e sonhadora.
Flores com efeito artístico... ilusionismo!
Composição paisagística.
Jardim das ilusões!
Ornamentação da alma.
Projeto urbanístico do seu “eu”.
Confusão de aparência com realidade.
Plantou sonhos, colheu decepções.
Promessa de felicidade, vazia.
O mundo da fantasia desencantou-se.
Contudo, aguardava que algo maravilhoso acontecesse.
Esperança sem fundamento.
Engano dos sentidos.
A árvore dos seus ideais não deu frutos.
Os arranjos campestres não combinaram com o seu ego.
Com o cansaço mental veio a noite:
secaram os galhos dos propósitos da maturidade,
arrancaram as gramas dos seus esboços existenciais,
lágrimas regaram a tristeza.
A vida lhe entregou um buquê com espinhos!
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PERDIDO NAS SOMBRAS
Enviou uma carta para o seu “eu”.
O endereço de entrega era um labirinto:
extraviou-se.
Escreveu outra mensagem:
desapareceu, nos caminhos íngremes do seu coração.
Estado de aflição.
Como chegar até si?
Comprou uma passagem para a cidade mais próxima.
Todas as suas fronteiras estavam bloqueadas.
Desorientação.
Espaço menos iluminado do seu cérebro.
Longínquo.
Estradas sem sinalização.
Quem construiu este muro diante dos seus olhos?
Sombras.
Trancou dentro de si a pessoa que ele é.
Escuridão.
Prisão de portas abertas.
Visão atormentada.
Não compreendeu o nascer do sol.
Acostumou-se com o cair da tarde.
Estão tentando dizer-lhe algo!
O espelho refletiu suas rugas,
o relógio lembrou-lhe que o tempo está passando,
o chão estremeceu sob seus pés.
Um pensamento martelou suas ideias:
“O que tenho feito com a minha vida?”
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ECOS DE UM EU APRISIONADO
Uma música misteriosa perturba meus sentidos,
transcende o meu entendimento.
Acordou-me com acordes insistentes.
Arrastou minha curiosidade para o secreto do meu íntimo!
Desvendou meus sonhos escondidos.
São sons produzidos pelo meu subconsciente.
Hipnotizou-me através do meu auto-conhecimento.
Projetou em meu coração os segredos da minha alma.
Um maestro afinou a sinfonia,
tornando-a cada vez mais compreensível.
Visão fantástica de uma parcela de mim,
presa nos escombros da vida!
Ecos de um eu aprisionado...
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ACROBATA DA DOR
Mágoa originada por desgostos do coração.
Estado de profundo desânimo.
Situação sem saída.
Desesperança.
Excesso de dificuldades.
Frustração.
Malabarismo dos sofrimentos.
Demonstração de auto-controle, força e destreza.
Individuo hábil e audacioso é o sofredor.
Equilibrista dos sentimentos.
Exaustão.
Exercícios de agilidade.
Espetáculo interior deprimente.
Nenhuma plateia para aplaudir.
Ninguém para lhe consolar.
Ao anoitecer, entrega os pontos:
decorrência de danos causados a si mesmo.
Derruba toda a sua dor na cama.
Rega com lágrimas seu desgaste mental!
Adormeceu anestesiado pela tristeza...
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ÁGUAS DA EXISTÊNCIA
Substância líquida e incolor.
Mares, lagos e rios,
inundam sua consciência.
Perdeu o conhecimento de si mesmo.
Insípida e inodora.
A vida é simultaneamente
transparente, sem gosto e sem cheiro.
Essencial para a existência é a água.
Escorre das árvores... choro:
foram feridas e queimadas!
Lágrimas e suor
lavam a alma do cansaço de existir.
Diluente inigualável para as emoções.
Os sentimentos são dissolvidos pelo descrédito.
Estado de torpor.
Maré alta, ondas selvagens
afogam os pensamentos insensatos.
Enchente alaga a lucidez.
Na lagoa flutuam os pedaços do seu “eu”.
Inconsciência.
Trágica é a realidade naufragada no seu coração.
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A FUGA DE UM VELEIRO
Retirou-se apressadamente para escapar.
Foi se afastando até se perder de vista.
Embarcação de velas.
Abandonou a praia que o ensinou a viver.
Magoado, foi chorar seus ressentimentos em outros mares.
Navegava com extrema velocidade,
rumo aos abraços do vento consolador.
Barco sem passageiros, vazio como sua alma.
O impulso da raiva foi diminuindo.
Olhou para trás.
As lágrimas secaram.
Voltar para a tristeza? (Não.)
Ir ao encontro das agressões? (Não.)
Desistir dos seus sonhos? (?)
Impossível fugir de si mesmo.
Trouxe na bagagem todas as partículas que o compõem.
O silêncio era pesado.
Levantou a âncora e retornou.
Foi a sensibilidade que o fez sair correndo.
O seu “eu” lhe cobrava atitudes.
O mundo lhe exigia ser mais expansivo.
E ele, um simples veleiro, não aguentou tanta pressão.
Não se pode ter medo de sofrer,
o sofrimento é o tempero da vida...
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ENSINAMENTOS DO SOFRIMENTO
Lesões produzidas na alma
por impacto de instrumento perfurante.
Feridas abertas com perda de substâncias:
amor-próprio e lágrimas escorrem pela face...
Chagas, aparentemente, incuráveis.
Princípio imaterial da vida
marcado por cicatrizes extensas.
O “eu” total foi esmagado.
A natureza moral e emocional
conheceram experiências traumatizantes.
Todo o seu ser foi provado na fornalha da aflição.
A tempestade e a guerra interior se acalmaram.
Houve uma purificação na fonte da existência.
Amanheceu um novo dia.
Nasceu em si, uma pessoa com outro olhar!
Compreendeu os ensinamentos do sofrimento.
Aprendeu a sorrir!
22
NOVOS TEMPOS
Casinhola formada por um engradado de arame.
Pequena prisão para um pássaro gigante.
Coração feminino.
Fragmentos de épocas longínquas,
encarcerados.
Cenas traumatizantes
conservadas cuidadosamente.
Passado barrando o presente,
deformando o futuro.
Quarto escuro da sua alma.
Impossibilidade de desfazer-se das tralhas do porão,
impossível separar-se dos episódios sombrios.
O prisioneiro cantava uma ópera triste,
ecoando em todas as páginas da sua existência:
fantasma, assombrando as tentativas de ser feliz.
Certo dia,
este som rachou os vidros das janelas,
abalou os alicerces da residência interior,
derreteu as grades da alma.
A opressão desmaterializou-se no ar.
O cofre dos sentimentos liberou a tristeza.
A brisa da paz soprou levemente,
a porta se abriu:
prenúncio de novos tempos.
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FAXINA NA MINHA ALMA
Olhei para dentro de mim:
casa velha em ruínas!
Experimentei mudar o meu “eu”.
Transferi-me para o andar superior da minha inconsciência.
Fui barrada no portão:
minha verdadeira identidade não estava lá!
Consciência da persistência da própria personalidade!
Retornei para o meu vazio.
Trabalhei arduamente na faxina da minha alma.
Serviço completo de limpeza.
Efetuei reformas no meu modo de ver a vida.
Corrigi meus pensamentos.
Destruí as paredes dos ressentimentos.
Redesenhei a arquitetura interior:
estilo colonial, com varanda na frente!
O sol revigorou o meu ser, reanimou meus ideais.
Os raios da esperança entraram pela janela...
Renasci, desabrochei!
Pintei de branco a fachada dos meus novos objetivos.
Encontrei a paz almejada!
24
NAS MÃOS DE DEUS
Sendo senhor de si e de suas ações,
partiu pelas estradas da vida.
Abandonou o porto onde ancorava seu navio.
O mapa já estava traçado,
contudo, recusava-se a aceitar.
Não deu ouvidos àquela voz interior que lhe acenava.
Rejeitou os conselhos dos seus pais.
Cruzou oceanos e continentes.
Travou combate consigo mesmo.
Vazio. Perdeu-se.
Maturidade. Sabedoria.
Regressou ao lar paterno.
Amanheceu um novo dia.
Renasceram os seus sonhos...
Rebelde que lutava contra o seu destino,
entregou suas armas.
Ninguém foge dos planos de Deus,
o que Ele determina, assim será!
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DESATANDO OS NÓS
Fios de barbantes embolados,
misturados em turbulentos nós.
Pensamentos se debatem nas paredes,
tentam encontrar as raízes dos seus pesadelos.
Ecos do passado,
vacilação no presente,
dúvidas para o futuro.
Redemoinho de ideias insolentes.
Intrigas de um “eu” atormentado.
Emendas desnecessárias de temores.
Um jato de luz a laser entrou no cérebro:
espada celestial desatando os laços rebeldes mentais.
Separação dos fatos.
Com os joelhos dobrados no chão,
as dificuldades serão vencidas!
26
LUZ NO FIM DO TÚNEL
Situação emocionalmente difícil.
Buscou dentro de si,
forças para enfrentar as adversidades.
Apoiou-se na firmeza de espírito.
Determinação.
Partiu rumo à coragem interior.
Viajou pelas estradas do seu “eu”.
Na bagagem, sua experiência de vida
e a soma de conhecimentos.
Sujeitou-se ao arbítrio da sorte.
Passou por uma ponte estreita após curva.
Veio um caminhão na contra-mão:
tentativa de fazê-lo desanimar.
O instinto e a direção defensiva levaram a melhor.
Porém, assustou-se; parou bruscamente.
Chocou-se com a insegurança.
A sinalização dizia: “Siga em Frente!”
Continuou o percurso a pé.
No fim do túnel surgiu uma luz:
Deus o amparou num abraço consolador.
Tranquilidade, paz e harmonia.
O problema solucionou-se por si mesmo.
27
A ORAÇÃO
Quando fecho os olhos
e coloco os joelhos no chão,
o coração envia uma mensagem ao criador.
A alma é o mensageiro.
O clamor revela a pureza de espírito.
A suplica mostra a tristeza no meu intimo.
Lágrimas lavam as amarguras.
Neste momento, as janelas do céu se abrem,
raios de sol brilham em minha direção...
A paz invade o meu ser!
Deus se faz presente e me banha com o seu amor,
envolve-me com o seu abraço consolador!
Sinto o Pai Eterno fortalecendo-me.
Elevação espiritual.
Sentimento de plenitude.
Obrigado, Senhor, porque teve misericórdia de mim!
28
DECISÃO
Caminhando pela praia sem destino,
seus pés se refletiam na água da areia,
revelando seu passado, sua personalidade.
As ondas vinham correndo apagar os rastros,
contudo, no passo seguinte, imprimia mais uma pegada.
As adversidades e os problemas, o levam ao desânimo,
porém, a necessidade de ser alguém o impele para frente.
Construir um alicerce, erguer seu edifício,
conquistar um lugar ao sol
são metas que o seu “eu” lhe cobra.
Vem a maré alta novamente
e tenta atrapalhar seu objetivo de ir mais além.
Afastou-se do litoral.
Novos horizontes.
Segurança. Decisão de vencer.
Quem o impedirá desta vez?
29
PORTO DA MINHA VIDA
Trechos de sentimentos próximos ao coração.
Profundidade aceitável.
Protegidos por uma enseada.
As embarcações do meu viver ali fundeiam.
Têm acesso fácil à margem.
Refúgio, guarida, proteção.
Porto da minha vida.
Atracam navios de esperanças e sonhos,
sob o cuidado constante do farol,
cuja luz vem do céu.
Área marítima das minhas emoções,
aguardando o desembarque
da tão sonhada felicidade...
30
ICEBERG HUMANO
Sou um bloco flutuante deprimido,
desprendido de geleiras polares.
Apresento-me de forma pontiaguda,
uma estátua gelada errante.
Sou um perigo para a navegação,
pois, amargurada, não vejo o que há em minha frente.
Por influência do ar atmosférico,
derreto-me em lágrimas, lentamente.
Devido ao trabalho erosivo das ondas,
das indecisões, dos temores, das tristezas,
mudo frequentemente de posição.
Iceberg humano, frio nas aparências,
porém, dentro do peito o coração arde!
31
LÁGRIMAS CALADAS
Olhos úmidos, não ousam escorrer pela face.
Reflexo da tristeza em seu íntimo.
Fecha as pálpebras.
Cenas de auto-análise desfilam por sua mente.
Aumenta a vontade de chorar.
O olhar é frio e intransponível.
A expressão do seu rosto é de pranto.
Mas são lágrimas caladas
que se recusam a se revelar.
Semblante triste.
Coração apertado.
Prisão de pensamentos.
Represa rachando.
Dia nublado, quase chuviscando.
Nuvens encobrem o céu e o tornam escuro.
Garganta seca.
Difícil de respirar.
Torneira emperrada.
Sentimento sufocado.
Manifesta dor com o olhar.
Suas pupilas negras denunciam
o caminho sombrio que está atravessando.
32
NAS ENTRELINHAS DA VIDA
A vida lhe fez um sinal.
Não compreendeu.
A existência lhe devia uma resposta:
Por qual motivo a tristeza hospedou-se em seu coração?
Um novo dia nasceu.
A monotonia lhe enviou um bilhete:
pedia para que lesse no rodapé de cada entardecer.
Toda vez que o sol partia,
tentava decifrar os comentários abstratos
escritos nas entrelinhas da sua história.
Sugeria e ocultava.
Afirmava e negava.
Inúmeras contradições em uma única nota.
Explicação sem nexo.
A sabedoria lhe entregou um livro.
Uma observação na margem inferior da última página dizia:
“Paciência, a hora não é agora!
Primeiro espinhos, depois as rosas...”
A esperança lhe sorriu!
Na data marcada por Deus a felicidade há de chegar!
33
TORTURA SONORA
Agressor.
Explosivo.
Voz humana.
Tom demasiado alto.
Estrondo.
Grosseria que intimida.
Atitude contínua.
Grito.
Falso argumento.
Não convence.
Afugenta.
Causa traumas.
Fatal como um punhal afiado.
Assustador.
Semelhante a um dia sombrio.
Agride.
Paralisa.
Estraçalha os sentimentos.
Fere o amor-próprio.
Causa ressentimentos.
O véu cobre a face: autodefesa.
Murcha o sorriso da face.
Estoura os tímpanos.
Tortura sonora.
Amordacem este carrasco!
34
SOBREVIVÊNCIA
Atleta do cotidiano.
Alpinista solitário.
Escalou o pico mais alto da sua existência.
Esporte das gigantescas montanhas interiores.
Enfrentou o perigo sem pensar na morte.
Subiu, amarrado por meio de laços com nós.
Foi cercado por conceitos rígidos.
Nasceu pobre, foi coroado com a discriminação.
Conheceu o ponto mais difícil da sobrevivência.
Incontáveis obstáculos e emoções o guiaram.
Desânimo e incentivo entraram em contradição.
Aqueles que estão na posição privilegiada,
provocaram a queda de pedras,
aliaram-se ao vento, ao frio e a neblina,
tentaram derrubá-lo do objetivo de ser alguém.
Uma passada mal posta quase o levou ao precipício.
Apesar de tudo, chegou lá!
Alcançou o auge da maturidade.
Venceu todos os “não” diários.
Provou que as estatísticas estavam erradas.
Hasteou a bandeira da vitória!
Sofreu, porém, sobreviveu...
35
A SAÚDE É TUDO
Corria feito uma gazela,
lutando contra o tempo, rumo aos seus projetos.
Sua velocidade era da altura dos seus ideais!
De súbito, algo a deteve.
Desânimo, fraqueza: enfermidade!
Quebra de anseios.
Interrupção dos sonhos.
Acamada, febre...
Ficou doente.
Foi impedida de prosseguir na caminhada.
Placa de advertência: “Ainda não!”
Obstáculos barrando seus objetivos existenciais.
A fase mais difícil: recuperação.
Empecilho: reação lenta do organismo!
Gotas de suor escorrem pela testa.
A doença foi vencida!
Face rosada.
Respira fundo: liberada para seguir em frente!
A saúde é tudo!
36
COMENDO PROBLEMAS
Estava lanchando numa lanchonete da vida:
hambúrguer ao molho de tristeza,
batatas fritas engorduradas com ansiedade,
ketchup sabor picante de insatisfação,
maionese disfarçando os sonhos perdidos.
Ainda a fome para preencher o vazio.
Dificuldade de lidar com a baixa auto-estima.
Decidiu ir ao restaurante mais próximo!
Trouxeram o prato principal:
macarrão regado com insegurança,
bolinho de ressentimentos, cozidos.
Garçom!
Uma lasanha recheada com o medo de viver!
Um suco de maracujá,
para acalmar o seu mal-estar interior!
Difícil de separar o lado fisiológico do psicológico!
A balança apontou criticamente:
99 kg de decisões tomadas equivocadamente!
O endocrinologista lhe receitou uma dose de bom senso:
De hora em hora pensar em Deus,
diariamente amar a si mesmo
e praticar a arte de sorrir.
37
CHEIRO DE VIVER
Exalam no ar partículas voláteis,
afetando intensamente os órgãos olfativos.
Manifestam-se em toda parte.
Há certa urgência em seus odores:
necessidade extrema de sobreviver!
O nariz respira de maneira profunda:
fragrância do desabrochar de uma flor,
aroma do nascimento de uma criança,
perfume hipnótico do despontar de um novo dia!
O vento sopra com força espalhando a essência de existir!
Suscita na alma a sensação maravilhosa de estar vivo.
Sua passagem deixa na atmosfera um cheiro de viver:
vestígios do sopro de Deus!
O sangue corre nas veias com maior intensidade.
Todos inspiram e expiram devagarzinho,
apreciando e degustando o dom de viver!
38
AMAR EM SEGREDO
Noite.
Abstém-se de manifestar seus pensamentos.
Madrugada.
Sentimento íntimo lhe ruboriza a face.
Ouve-se um clamor mudo da alma.
Um movimento interior quebra o silêncio noturno.
A lua cheia estaciona diante dos seus olhos.
A claridade denuncia os anseios do seu coração.
Os reflexos do luar se transformam em sombras na parede:
são os contornos de um alguém que reina em seus sonhos.
O vento murmura seu nome.
Ama e não ousa revelar a ninguém!
O galo canta.
Despontam as primeiras horas do dia...
Fecha a janela e a cortina do seu querer.
Segredo.
39
CANTO DE VERÃO
Canta, transbordando emoções!
Chuvas no final da tarde e inicio da noite,
refrescam a temperatura interior.
É verão na sua existência!
Elevados índices de calor e umidade...
Sua alma cantarola uma alegria inexplicável.
Agitação de sentimentos!
Flores vermelhas, amarelas e laranjas,
compõem o jardim da sua estação afetiva.
Sonhos, mar e coqueiros,
acompanham os passos de um vento exultante.
O coração não se aquieta no peito,
por isto, os dias são longos prolongando a felicidade.
Os sons são frases melódicas,
bailando nos olhos de quem sorri.
O amor lhe pediu a próxima dança:
segurou-lhe nas mãos e brilhou no salão!
O sol quente do meio-dia, revelou:
apaixonou-se perdidamente...
40
SÚBITO INVERNO
A frieza das suas palavras,
congelou minhas cordas vocais,
emudeceu meus pensamentos,
resfriou minha empolgação.
Pregou-me no chão com o olhar surpreso:
estátua inerte petrificada pela insensibilidade de outrem.
Sensação produzida pela falta de calor.
A baixa temperatura da sua declaração,
desmoronou o meu verão,
despedaçou o sol da esperança.
Uma chuva de grosserias gelou-me até os ossos.
Fez-se súbito inverno em meu viver!
Eu, um iceberg, descongelei-me:
águas ressentidas desprenderam-se do meu coração.
41
INCOMPATIBILIDADE
O amor é o esporte da sensibilidade,
praticado por duas pessoas.
Ele e Ela aceitaram participar do torneio.
Deve-se encestar a bola na cesta adversária:
o alvo é a parte mais profunda das emoções.
Os jogadores driblam os sentimentos,
porém, a cada passo é essencial tocar o chão,
a realidade não pode fugir dos seus pés.
Aquele que correr ou andar com precipitação
será punido com a decepção.
A cada cesta conseguida,
é marcado dois pontos no coração almejado.
O jogo é dividido em dois tempos iguais:
o da conquista e o desfecho final.
São quarenta minutos tentando convencer o parceiro
que o berço dos seus afetos
é uma nascente de infinita sinceridade!
É encerrada a partida:
0x0
Infelizmente, eles não nasceram um para o outro!
42
INVERNO NO CORAÇÃO
A parte mais profunda de mim,
coração, na estação do inverno.
Caía uma chuva fininha empurrada pelo vento.
Agasalho minha alma.
Pingos d´água encharcam a memória.
Poças de lama dificultam o percurso.
No berço dos meus sentimentos embalo a tristeza.
A garoa gela os pensamentos.
Abotoei o casaco da insegurança.
Atravessei correndo, o sinal do trânsito em verde.
Local combinado. Ninguém.
Relâmpago, trovoadas... tempestade!
Ele não veio.
Meus sonhos se perderam na neblina,
destruindo minha última esperança!
43
FIM DA SAUDADE
Martelei em forma de poesia,
sua imagem em minha mente.
Fixei seu semblante no quadro da minha alma.
A moldura era feita de sentimentos dourados.
Trabalho de pintura realizado
pelas minhas lembranças e saudades.
Obra artística do meu coração!
Uni por meio de costura o passado e o presente.
O futuro escorregou da parede dos meus sonhos.
Em vão tentei recolocá-lo
com pregos em marteladas constantes.
O golpe produzido pelo martelo
trincou o vidro que protegia sua fotografia.
Desprendeu-se dali, poeira e mofo.
O ontem escorreu pelas brechas e fugiu!
A marreta do meu vazio
reduziu a pedaços o você que havia em mim.
Diminuiu a intensidade do meu sentir.
Mudou a direção dos meus pensamentos.
Foi a distância e a ausência que desbotaram o amor,
e de tão velho e ressequido pelos anos,
desfragmentou-se e foi levado pelo vento.
Desapareceu no ar,
para sempre...
44
QUEBRA DE DESTINO
Seu coração procura por ele.
Mentalmente o vê e o sente.
A imagem dele está gravada em seu espírito,
Reproduzindo-se continuamente em sua memória...
Os contornos do rosto daquele rapaz ilustram seus sonhos.
Confunde-o com alguém no meio da multidão.
Atende o telefone e pensa que a voz é do seu amado.
Partiu para não mais voltar.
Viajou nas asas de um pássaro.
O sol se pôs e a sua história terminou.
Foi uma bala perdida que o desviou do seu destino...
45
NÃO SE SEPARA O QUE DEUS UNIU
O serviço meteorológico não pôde prever:
o vento começou a soprar fortemente,
empurrando tudo como se fossem papéis.
Um casal se desentendeu:
troca de insultos, luta corporal...
O barômetro desceu ao ponto mais baixo!
Em seguida caiu um temporal:
móveis destruídos, a casa revirada.
Tufão uivante doméstico!
A tempestade se acalmou.
Ele saiu batendo a porta.
Ela, com o amor-próprio totalmente devastado,
decretou: “Nosso casamento chegou ao fim!”
O marido retornou arrependido,
uma voz interior lhe dizia:
* “Vós, maridos, amai vossas mulheres
e não as trateis asperamente”.
Ela estava ressentida, mas lembrou-se do Criador:
** “Pois se perdoardes aos homens suas ofensas,
também vosso Pai celestial vos perdoará a vós”.
Um raio de sol brilhou naquele lar.
De mãos dadas renovaram suas promessas de amor,
recebendo infinitas bênçãos celestiais.
*** “O que Deus ajuntou não o separe o homem”.
* Colossenses 3: 19
** Mateus 6: 14
*** Marcos 10: 9
46
O INFIEL
Pássaro da inconstância.
Asas longas tentando encobrir sua infidelidade.
Bico fino, língua muito comprida,
para retirar o néctar das flores femininas.
Beija a todas sem apegar-se a nenhuma.
Voa velozmente de uma dama para outra.
Beija-flor! Colibri leviano.
Lábia e álibi perfeitos.
Muitas promessas de amor,
seladas com um súbito adeus.
Apaixona-se por um olhar,
perde o encanto no pôr-do-sol.
Incorrigivelmente infiel.
Certo dia, a ave despertou quarentona.
Parou subitamente no ar.
Pousou num galho de uma árvore.
Coração vazio... solidão...
Quanto tempo perdido!...
47
O FIM DE QUEM PRATICA O MAL
Os olhos denunciavam desprezo.
O espírito maligno tomou conta do seu coração.
Destruiu pontes, criou dificuldades.
Alterou as placas sinalizadoras das estradas.
Espalhou informação errada.
Difundiu calúnias.
O seu semelhante se perdeu, desesperou-se,
o infortúnio bateu-lhe a porta.
Lembrou-se: “Maior é Aquele que está no céu!”
Chorou, prostrou-se diante de Deus.
Recebeu uma grandiosa benção!
Recuperou tudo em dobro.
O inimigo foi envergonhado pelo poder do Altíssimo!
O invejoso pelejou, mas foi ele quem caiu.
Foi atirado para o deserto:
solidão e vazio invadiram-lhe a alma.
Os amigos se afastaram dele.
Que recompensa há em praticar o mal?
48
A INVEJA
A Magnólia-branca queria igualar-se:
à rosa, à margarida e à orquídea.
Refletia consigo:
“Que beleza admirável elas herdaram!”
Não as perdiam de vista.
Tentava a todo custo assemelhar-se a elas.
Desejo irrefreável de possuir exclusivamente,
as características que a encantavam!
Porém, lhes dizia:
“_Eu sou mais bela do que vocês!”
Ódio e desgosto.
A inveja apodreceu seu coração.
Suas folhas são brilhantes e ovaladas,
mantêm-se firmes mesmo durante o inverno.
Suas flores, grandes, brancas,
possuem um formato que lembra uma taça...
Muito perfumadas...
É uma linda árvore ornamental!
Mas, seus olhos somente olhavam para as outras,
esquecia-se de si mesma.
Não suportava ver o sucesso alheio!
Jogou pragas para destruir suas adversárias:
foram salvas pelo jardineiro.
No entanto, o sol ardeu fortemente sobre ela.
Castigou suas pétalas, secando-as.
Agora sim, ela estava feia:
interior e exterior.
49
O FALSO AMIGO
Despencou do pedestal dos meus conceitos.
Estraçalhou toda a formosura da sua estrutura.
Foi o vento da justiça quem o empurrou.
Aparência exterior de um vaso chinês,
porém, conteúdo traiçoeiro como o pântano.
Areia movediça disfarçada de firmeza de espírito.
Sorriso escondendo sua verdadeira intenção.
Insistiu na sua falsidade:
tocou a campainha três vezes!
Coloquei uma porta de aço blindado.
Ignorado, tentou demolir os alicerces dos meus princípios.
O chão fugiu dos seus pés.
Estava fora da realidade.
Caiu em si, quando foi excluído do país do meu “eu”.
Distante das minhas fronteiras,
impossibilitado de retornar,
avistou-me ao longe: um vulto de mim.
Amigo infiel que perdeu a chave da minha amizade.
Desabaram as pontes que nos uniam.
Houve um desencontro em nossos destinos.
A confiança o expulsou dos seus domínios.
Página encerrada nesta história,
esmagada pela mentira.
50
O PERDÃO
Preso com corrente a mágoas antigas.
Amarrado com infinitos nós pelo egoísmo.
Comprometido com velhos princípios.
Encadeado a preconceitos.
Contrário às mudanças.
Seguro por intolerâncias.
Dominado pela raiva.
Escravizado pelo orgulho.
A realidade o sacudiu por inteiro.
A vaia do seu “eu” o envergonhou.
O terremoto dos seus atos abalou seus sentimentos.
Ameaça de ataque cardíaco lhe abriu os olhos.
Um tufão fez ruir suas barreiras.
Chorou.
Perdoou a seus semelhantes.
Encontrou a felicidade...
51
SOBERANA VERDADE
Nevoeiro embaçando a visão.
Palavras obscuras deformando os pensamentos.
Sentido duvidoso desviando do caminho certo.
Tentativa de encobrir algo.
Lobo disfarçado de cordeiro.
Frases ditas através de um véu.
O sol brilhou, a sinceridade veio à tona.
Comportamento franco.
Pureza nas intenções.
Coração transparente.
A cortina foi rasgada.
A máscara caiu.
A mentira e a falsidade foram envergonhadas.
A verdade reina soberanamente,
sempre...
52
JOIA PRECIOSA
O rei possuía uma riqueza infinita,
contudo, para ele, apenas uma das suas joias
era a mais preciosa de todas!
Não a guardava em cofres, nem a escondia:
compartilhava com todos!
Certo dia, porém, o monarca perdeu seu adorno preferido!
Vasculharam todo o reino e nada!
A falsidade guerreou contra ele.
O coração do rei se fechou para os traidores.
Era uma joia insubstituível!
Não era o diamante, nem o rubi.
Era a CONFIANÇA!
Virtude dourada
que possui maior cotação no mercado do que o ouro.
É frágil como o cristal,
e uma vez perdida, dificilmente é recuperada!
53
ENVELHECIMENTO
Processo natural da vida.
Última etapa da existência.
Hasteia sua bandeira aos 65 anos.
Classificada como terceira idade.
Auge da maturidade!
Fase programada pelo organismo desde nosso nascimento.
Quem dita as regras
é o patrimônio genético de cada um de nós!
Arteriosclerose, catarata, queda da imunidade,
diminuição de nossas defesas,
chegam sem avisar...
Uns passam por esta etapa indo a uma Universidade,
realizando seus sonhos!
Outros se escondem na solidão dos seus lamentos,
brigando com o tempo,
inconformados de que um dia a rosa tenha que murchar.
É o pôr-do-sol da vida.
O cair da tarde com seus tons experientes e vividos.
Uma longa história para contar.
Álbum poético de recordações.
É descansar da sua jornada na sombra de um laranjal...
54
AUTODESTRUIÇÃO
Degusta, extasiado, uma garrafa de vinho branco.
Líquido sedutor que lhe embriaga os sentidos.
Um brinde as desventuras: Tim-tim!
Bêbado das desilusões!
Bebe para esquecer, matar um pouco de si.
Lapsos de memória o afastam da tristeza.
Levanta-se da cadeira, vê coisas duplas...
Perdeu completamente a lucidez!
Sai cambaleando sonolentamente,
grita palavras sem nexo!
Sua voz é alta, arrastada e truncada.
Ao amanhecer, olha-se no espelho:
olhos avermelhados, rosto inchado e cansado.
Assusta-se com a sua aparência,
mas a dependência alcoólica
o induz a pensar somente na próxima dose...
Náuseas, dor de cabeça, nervosismo
causam deformações na pessoa que ele foi um dia...
Desafoga o nó da gravata:
sente tensão e calor.
Saboreia uma vez mais, este veneno socialmente aceito...
A taça de cristal escorrega das suas mãos trêmulas,
transforma-se em infinitos cacos...
Farrapo humano, rumo a autodestruição!
55
A NATUREZA
Viajando pelas cidades do interior,
encontrei nas laterais do percurso,
um quadro com moldura de ouro!
Tinha uma extensão que o olhar alcançava num lance.
Formas naturais, lugares campestres.
Foram trabalhados com arte.
Paisagem de beleza harmoniosa!
Cenário matizado: verde, marrom, azul, diversas cores,
graduadas em vários tons.
Montanhas, árvores, ladeiras, lagos,
flores, pássaros, bois, patos...
Impressionante painel a beira da estrada!
Sol: caixilho saliente que adorna este panorama.
Galeria artística original: a natureza!
Exímio no desempenho de seu ofício.
Talentoso!
Deus: artista inigualável!
56
ARQUITETURA DA DESTRUIÇÃO
Silêncio gélido ao amanhecer.
Mil corpos encontrados por dia.
Escombros.
Mortos e desaparecidos.
O véu do extermínio cobriu aquelas cidades.
Ondas-exércitos marcharam a 700 km/h,
gigantes de 30 a 40 metros.
Invadiram violentamente praias e arredores.
Não houve tempo de fugir para áreas elevadas.
Tragédia.
Turbilhão de emoções.
A força da natureza é invencível.
Medo, insegurança, terror...
Sentimento de impotência pelo sofrimento,
profundas dores coletivas.
A ausência de ruídos era petrificante.
Restou o conjunto das obras arquitetônicas,
executadas pela fúria do vento e da água.
De maneira cruel, ficaram expostos pedaços de gente,
madeiras, árvores, lixo, lama...
Foram-se abaixo os sonhos de uma existência!
Morte e destruição ilustravam a paisagem.
E o Tsunami se desintegrou.
O trágico show se encerrou,
mas, a plateia que chegou no fim do espetáculo,
ficou paralisada, sem aplaudir.
57
O PÔR-DO-SOL
O sol despediu-se da lua,
esta veio alumiar a tristeza.
Pereceu antes do prazo marcado por seus ideais.
A noite precipitou-se sobre a terra.
É doloroso ter que dizer adeus.
Apenas um corpo presente num velório:
sua alma partiu no calor da vitalidade.
O relógio do tempo parou.
Velas, prantos e murmúrios:
em vão, derramam lágrimas por ele.
Como é melancólico o cair da tarde!
Viajou rumo ao ocidente,
sem direito de retornar no oriente.
Amanheceu e o dia ficou nublado de espanto:
Estranhou a sua ausência na paisagem da vida...
58
SAUDADES ETERNAS A UM GRANDE AMIGO:
VALERIANO LUIZ DA SILVA
(03/08/1950 - 20/02/2006)
A manhã despertou incrédula,
as nuvens estavam com ar de velório.
Fim de uma existência. Partiu.
Pôs-se a caminho, rumo aos braços do Criador!
Era poeta e a sensibilidade não morre.
Continua escrevendo poesias, porém celestiais!
Seu coração alcançou o céu,
foi para a glória de Deus.
O vento imortalizou seu nome.
Seus pensamentos, seu modo de ver a vida
estão guardados no álbum de nossas lembranças!
A porta do tempo não está trancada,
basta fechar os olhos ou reler seus textos,
e, VALERIANO LUIZ DA SILVA, estará de volta!
A literatura estendeu um tapete de flores,
homenageando a pessoa que ele foi um dia!
Seus admiradores espalharam pétalas emocionadas,
perfumando os rastros que ele deixou.
Chuviscou a tarde inteira...
Saudades eternas a um grande amigo!
VALERIANO LUIZ DA SILVA.
59
ÁLBUM DE RETRATOS
Folheei um velho álbum de retratos.
Pessoas queridas que partiram,
cenas congeladas através dos anos,
fatos registrados em imagens.
Aqueles olhares, aquelas expressões...
Ouço suas vozes, seus passos...
Caixa de recordações, máquina do tempo
que me transportam para o passado.
Aqueles que amamos
deixam suas sementes em nosso íntimo,
renascem em forma de saudades
sempre que as lembranças
pousam em nossos corações.
60
CENÁRIO DE VILA VELHA – ES
Vejam os rastros de Vasco Fernandes Coutinho,
sua caravela atracou na Enseada da Prainha!
Histórico 23 de maio de 1535!
Ouçam os gritos dos aborígines Goitacás
defendendo seu habitat.
Delineiem com os olhos os contornos deste litoral,
desenhando o mapa deste município.
Praias belíssimas, a começar pela Praia da Costa.
Sintam o sol que saúda o vizinho,
a capital espírito-santense:
Vitória, uma ilha majestosa!
O céu capixaba contempla
a Segunda e a Terceira pontes e a Florentino Avidos,
unindo estas duas cidades, levando-as ao progresso!
Passeiem pela cultura vilavelhense:
Homero Massena, um pintor extraordinário!
Bandas de congo, no bairro Barra do Jucu!
Um cheirinho adocicado paira no ar:
é a fábrica de chocolates Garoto!
Testemunhas silenciosas da chegada do donatário:
Morro do Moreno e Morro do Penedo!
No primeiro, das suas costas sobrevoam os albatrozes
e os esportistas praticam o salto de voo livre.
Asas-delta encerram este cenário,
acenando para as ondas
que se curvam diante de VILA VELHA,
beijando um dos solos mais encantadores,
do Estado do Espírito Santo!
61
_ OBSERVAÇÃO.: ........................................................
* VILA VELHA é um município do Estado do Espírito Santo, na região Sudeste do Brasil. A história de
Vila Velha se remonta à segunda década do século XVI, quando em 1534, Vasco Fernandes
Coutinho, em Alenquer (Portugal), recebeu a carta regia que o tornava donatário de uma
capitania nas terras brasileiras, com a finalidade de ocupação político-territorial e gestão
econômica. Ele desembarcou em 23 de maio de 1535, onde hoje é a Prainha. Vila Velha já foi a
capital do Espírito Santo até 1551 quando a sede foi transferida para o município de Vitória para
fugir dos constantes ataques dos aborígines Goytacaz (nativos que habitavam esta região na
época da colonização), e, justamente por ter conseguido vencer a batalha com os índios é que
este município passou a se chamar "Vitória". Vila Velha está a 12 Km de Vitória (é uma ilha e está
ligada a Vila Velha por três pontes).
* CAPIXABA é quem nasce no Estado do Espírito Santo.
* HOMERO MASSENA foi um dos mais importantes pintores da história do Espírito Santo. Sua técnica
impressionista é a característica principal das suas mais de 10 mil obras. Era um artista compulsivo
pela natureza e pela luz existente nas paisagens.
* BANDAS DE CONGO é uma dança folclórica do Estado do Espírito Santo, formado por um grupo
musical, com dançadores, possui coreografia própria, sem texto dramático.
* BARRA DO JUCU é um bairro e é um pequeno balneário de Vila Velha, ainda tranquilo,
localizado a 15 quilômetros do centro de Vila Velha: montanhas, rios, mar, lagoa, praias, reservas
ecológicas. Frequentada principalmente pelos adeptos do surf por causa de suas ondas altas.
*FÁBRICA GAROTO é uma indústria de chocolates, desde 1929.
*O MORRO DO PENEDO é um monumento natural de formação granítica, com 132 metros de
altura, servia de ponto de apoio para a defesa de Vitória. O Penedo é utilizado como forma de
sinalização e identificação da baía de Vitória. Outrora, servia de suporte para a pesada corrente
de ferro que se estendia a margem fronteiriça desde o Forte São João, fechando o canal para a
passagem de navios corsários.
* O MORRO DO MORENO tem 274 metros de altura e está localizada próximo ao centro de Vila
Velha, é formado pela Mata Atlântica, sendo um dos lados cercado pelo mar. Possui locais para
pesca, rapel, trilhas (trekking), mountain bike, rampa para Voo livre, fonte com água mineral e
uma bela vista para as cidades de Vitória e Vila Velha e das praias. Ali há grande quantidade de
pássaros, lagartos, insetos, flores, orquídeas, arvores frutíferas, etc. No alto deste morro há várias
torres de comunicação.
* Os ALBATROZES são aves marinhas de grande porte com envergadura (distância da ponta de
uma asa para a ponta da outra) de 3,5 m. O albatroz passa a maior parte do tempo voando.
Percorre milhares de quilômetros, durante meses, sem avistar terra. Desse modo, dorme em pleno
voo, sustentado pelo vento do oceano. São aves oceânicas, que estão em mar aberto. Não
costumam habitar as praias do Brasil. Mas é possível visualiza-las na costa dos Estados do Rio de
Janeiro e do Espírito Santo.
62
CAPÍTULO II
TEXTOS PREMIADOS:
POESIA
63
FLORES PARTIDAS
A fase mais delicada da existência,
o que há de mais bonito:
Crianças!
Flores partidas.
Foram induzidas para o caminho negro da vida.
Corromperam-lhes seus nobres coraçõezinhos.
Dividiram-lhes a alma.
Roubaram-lhes a inocência.
Ilusão.
Amadureceram antes do tempo:
frutas maduras, porém estragadas!
O período de maior brilho, vigor e beleza
foi ofuscado pela violência.
Juventude!
A planta cresceu, contudo, germinou espinhos.
Curto currículo existencial:
foram atropeladas pelo caminhão do mais forte.
Não choveu amor e carinho em seus sonhos.
Danificaram-se seus galhos:
aparência interior assustadora!
Seus destinos eram para ser rosas majestosas.
Transformaram-se em ervas daninhas:
odiadas e massacradas.
O jardim chorou lágrimas abaladas:
um tiro vindo da “Lei”,
tombou uma destas suas florzinhas.
E todas elas eram o futuro da nação...
PREMIAÇÃO:
01 – Concurso “Poetas do Brasil” - Arte Bahia Eventos – Classificação em nível nacional - Porto
Seguro/BA - Dezembro/2006
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POIROT A HOLMES
Obs.: Hercule Poirot: criado por Agatha Christie.
Sherlock Holmes: criado por Sir Arthur Conan Doyle
Exercício mental.
Conduz ao raciocínio, à reflexão
A mente pensa em todas as hipóteses possíveis.
Atenção minuciosa nos detalhes.
Lente de aumento nas pistas...
Suspeito na mira do leitor,
transforma-se num agente de investigação.
Detetive.
Páginas que escorrem sangue.
Personagens cometem atos socialmente condenáveis.
Conseqüências nefastas.
Mistério.
Olhos desfilam ansiosos por cada parágrafo.
Aventura em pensamentos.
A ficção confunde-se com o real.
Tipos psicológicos.
Romance policial.
Crime nas letras.
Envolvente.
Suspense!
Últimos capítulos.
Clímax.
O criminoso estava acima de qualquer suspeita.
Argumentos convincentes e surpreendentes.
Cumprimentos a Hercule Poirot e a Sherlock Holmes!
Peritos máximos em criminologia.
Fecha-se o livro.
Que viagem fantástica ao mundo do imaginário!
PREMIAÇÃO:
01 – 10.º Concurso Literário Prêmio Missões – Jornal Igaçaba - Roque Gonzáles/RS – Menção
Honrosa a nível Nacional – Junho/2007
65
CAPÍTULO III
PROSA
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CONSELHOS DE AGRICULTOR EXPERIENTE
Obs.: Texto narrado por meu pai, Pedro Sabino da Mota (1912/-)
Para uma colheita sadia, é vital que as sementes sejam plantadas, na lua nova
(ou até três dias depois dela). Quando há raiz fraca, brocas, lagartas, etc, é
porque foi semeado da cheia para o minguante.
Primeiramente, limpe o terreno retirando os capins e ciscos em geral.
Cave um buraco fundo, se for plantar banana ou café; o resto é raso, por
exemplo: feijão, milho, fumo, mandioca, etc.
Para fortalecer a plantação, use estrume de boi ou de galinha ( para ficar forte,
adicione fubá de pau, destes que há nas serralherias).
Para plantar o alho: afofe o terreno com a enxada, afunde-o na terra com as
mãos e espalhe fubá de pau por cima; não brotará mato e nascerá alho de
cabeça grande.
Coloca-se folhas secas encostadas nas plantas, para a terra permanecer sempre
úmida, beneficiando seu desenvolvimento.
No momento de plantar, é importante observar a distância entre uma semente e
outra: o alho, 02 dedos; a cebola, 03 dedos; o milho (03 a 04 grãos) 03 palmos; o
feijão (03 a 04 grãos) 02 palmos; a laranja, 3 metros (árvore muito grande); o
eucalipto, 02 palmos; a banana, 3 metros; o café, 2 metros; o fumo, 02 palmos; a
mandioca, 05 palmos. O arroz, 01 palmo (plantar num lugar que tenha água
próxima; após crescer 02 palmos é necessário molhar bastante; para colhê-lo,
faça-o ao alvorecer, às cinco horas, pois há vários passarinhos que comem a
colheita... e a de milho também).
Para o chuchu, o maracujá e a uva, é essencial fazer estaleiros para que eles
criem ramos por cima.
Regue em dias alternados. Se molhar de manhã, a água evapora logo; porém,
de tardezinha, a raiz cresce porque a noite toda é fresca com a terra
umedecida.
O cacau e o café devem ser plantados no tempo chuvoso, igualmente o feijão,
milho, laranja, limão, banana. No verão, prepara-se a terra e no inverno é que se
planta.
A região com areia branca só serve para cultivar feijão e milho. Cava-se um
buraco fundo, joga-se esterco bovino, a semente e depois mais adubo. Não
misturar com a terra.
67
Terra preta e barro vermelho são adequados para o plantio.
O solo seco (mata vermelha, terreno não viçoso) é apropriado para plantar cravo
e canela, plantações que não tenham tronco grosso.
Plantar também é uma arte, por isto é importante observar as técnicas utilizadas
para realizar uma boa colheita e tirar um bom proveito da terra.
68
UMA XÍCARA DE CAFÉ
Obs.: Texto narrado por meu pai, Pedro Sabino da Mota (1912/-)
Meu pai, Pedro Sabino da Mota, segurava uma xícara de café e com o olhar
distante, hipnotizado pelo aroma da bebida tônica e estimulante e a leve
fumaça que o envolvia, me contava:
Quando ele tinha 10 anos (1922), morava, em Sapatuí, Distrito de Conceição do
Almeida (BA) e estava brincando detrás do depósito de pilão (para pilar café,
arroz, sal, dendê...); próximo dali havia árvores de jaca, laranja, etc. Meu pai
escutava e acompanhava o ritmo do socador e de súbito, fez-se silêncio,
prolongando-se mais que o normal. Achou estranho e decidiu espiar pelas frestas
que havia na parede. Cirilo, um novo empregado da fazenda, após ter socado o
café, estava assoprando e colocando dentro da moringa que ele trazia com
água.
Saiu correndo e foi denunciá-lo ao seu pai, este não acreditou e disse que lhe
daria uma surra se fosse mentira, porém, foi ao depósito e diante do nervoso
Cirilo, entornou a moringa. Constatando-se o roubo, meu avô encheu o vaso de
barro bojudo com café, retirou os grãos, pesou e multiplicou pelos dias que Cirilo
estava pilando o café, tendo em vista que ele trabalhava há duas semanas e
desde então, trazia a moringa de manhã e a tarde, descontou este valor no
salário que ele ia pagar e o despediu.
O processo de tratamento do café era muito simples: o café era levado para o
depósito de pilão para ser amassado com um bastão de madeira, para soltar a
película externa. Os grãos eram despejados numa enorme frigideira com um
pedaço de rapadura, mexendo continuamente até torrar por igual, adquirindo o
café um tom enegrecido e a rapadura derreter. O tempo de torra determina a
qualidade do produto. Retornava ao pilão para ser moído, transformando-o em
pó.
Mudou-se para o município de Jiquiriça (BA). Na propriedade rural do seu pai
(Fazenda Pindoba), gostava de passear no meio das plantações de café,
quando ocorria a florada: nos galhos havia um botão branco e logo as flores se
abririam, prenúncio de que os frutos estavam para nascer. Quando o café já
estava maduro (da cor de um vermelho muito vivo), os trabalhadores avulsos o
recolhiam no cafezal com um “cambuá” (cesta feita de cipó e era amarrada na
cintura); acumulavam o conteúdo do seu trabalho num canto do terreiro e no fim
do dia, era medido com um “caixão de gás” (caixote que cabia duas latas de
gás, cada uma com vinte litros), recebendo a quantia em dinheiro, de acordo
com a quantidade colhida.
A seguir, o café era apanhado com um “panacum” (cesto fundo e largo de três
lados, trançado hexagonal, com alça) e carregado para o depósito onde havia
um jirau (estrado), situado no alto, com aproximadamente três metros de altura.
69
Na parte superior, eram fixadas várias ripas dispostas na horizontal e vertical e
cobertas com esteiras e para chegar lá, havia uma escada; o café era
espalhado ali. Na parte inferior, no chão, era acesa uma fogueira para aquecer
o café e secá-lo; permanecendo neste local por três dias e remexido com um
rodo várias vezes.
O café era transportado para o setor onde estava o rodão (uma grande roda
feita de madeira que, pelo movimento constante e força de um cavalo, pilava o
café e em seguida sofria a ação do soprador (espécie de ventilador) que fazia
voar as cascas e palhas. Depois era passado na peneira para afinar algum
caroço que tenha ficado inteiro. Finalmente o café era ensacado e vendido.
Meu pai levantou a xícara de café em minha direção, dizendo:
__ Mais um gole, envolto em recordações dos meus velhos tempos...
70
COMÉDIA COTIDIANA
A vida também é uma comédia.
No dia-a-dia encontramos situações cômicas que nos fazem rir. Cenas
espontâneas que nos divertem.
Na empresa onde trabalho há momentos em que a ligação telefônica está ruim,
por isto ouve-se a voz do interlocutor longe ou incompreensível. Seguiu-se o
seguinte diálogo:
__ Bom-dia! O Departamento de Vendas, por favor!
__ Quem gostaria de falar?
O senhor repetia seu nome várias vezes, contudo, a recepcionista só
compreendia: “Tá ouvindo?” E ela respondia: “Estou ouvindo, mas quem está
falando?”. Por fim, ela conseguiu entender que ele se chamava “Calvino”.
Em outra ocasião, fui telefonar para um cliente do município de Santa Maria de
Jetibá (ES), referente a uma duplicata atrasada e perguntei pela funcionária
responsável por esse assunto e me disseram que ela tinha vindo para cá, Vila
Velha (ES), então informei o nome da empresa, “Plastical”, a qual a pessoa
assustou-se sobressaltada: “Do hospital? Meu Deus! O que houve com ela?”
Quanto mais eu tentava fazê-la me ouvir claramente, ela escutava
equivocadamente “hospital”. Desliguei e retornei em seguida, dizendo: “Indústria
de sacolas plásticas!” E ela respirou aliviada: “Que susto você me deu!”
Esta se passou em minha casa: meu pai estava sentado no sofá da sala, diante
da televisão desligada. Assim que me viu resmungou tristemente:
__“A cada dia enxergo menos! Minhas vistas estão péssimas! Vejo tudo
embaçado!”
Peguei seus óculos, lavei com água e sabão, sequei-os e pedi que os colocasse.
__“Está vendo melhor?”
__ “Ah, agora sim!”
Ele tem o costume de mexer com frituras na cozinha e nunca se lembra de limpar
os óculos.
Quem não vivenciou circunstâncias como estas? Todos nós temos uma história
para contar, cuja descrição é acompanhada por uma dose de gargalhadas.
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SÓ O AMOR CONSTRÓI!
Inauguração da indústria PLASTICAL
Leonidio Tavares Gusmão, paraibano (João Pessoa - 21/03/1916), e, Laura de
Barros e Silva Gusmão, pernambucana, (Recife - 08/10/1916). Quis o destino que
um dia estes dois personagens se encontrassem:
Fevereiro de 1940. Recife, capital do Estado de Pernambuco. Por estar próximo à
linha do Equador, Recife apresenta clima ensolarado e temperaturas médias
elevadas a maior parte do ano.
Laura havia feito uma promessa (para o quê não sabemos) e em troca ela não
brincaria o carnaval. Os amigos diziam que ela ia perder uma festa animadíssima,
então resolveu ir só para olhar, sem intenção de brincar. Ao som de frevo e
marchinhas e cobertas de serpentinas, as pessoas fantasiadas marcavam
presença no mundo da fantasia.
Era terça-feira, ela foi até um prédio na Rua Nova, no Centro, onde podia assistir
ao festejo pela janela, de repente, aconteceu um imprevisto: o palanque caiu e
todos correram provocando grande confusão. Imediatamente ela desceu para
olhar de perto. Nessa multidão passou um rapaz desconhecido (Leonidio) e jogou
“lança perfume” nela (é uma combinação de éter, clorofórmio, cloreto de étila e
uma essência perfumada; em contato com o ar ambiente, é rapidamente
evaporado; era comum a época do Carnaval e eram embalados em frascos de
metal dourados. Costumava-se esguichar o produto nos outros foliões,
transmitindo uma sensação “fria” e agradável. Também servia como galanteio às
damas; tinha por objetivo perfumar e agradar o sexo oposto).
72
Laura entusiasmou-se e pediu emprestado ao seu sobrinho Arnaldo, de oito anos
de idade, o “lança perfume” dele, para retribuir a brincadeira. Iniciou-se assim,
uma história de amor muito especial!
Conforme combinaram, passados dois dias, Leonidio compareceu à casa de
Laura. Ela havia ficado muito surpreendida, pois achava que havia sido apenas
um simples divertimento. Começaram a namorar naquele mesmo dia. Ele a
visitava assiduamente. Casaram-se no dia 27/12/1941.
Leonidio trabalhava como Caixeiro Viajante (atualmente equivale a
Representante Comercial) e não tinha condições financeiras para sustentar a
família, sendo assim, ficou morando na residência do sogro, Sr. Moreira de Barros
e Silva, por quatro anos. Os três primeiros filhos nasceram nesta casa: Tereza de
Jesus (1943), Onildo José (1944) e Severina Maria (1946).
Em 1946, devido ao nascimento da terceira filha, o casal resolveu alugar uma
casa e Leonidio deixou o serviço para montar uma loja: “Casa Estrela”, um
armarinho (vendia também tecido). Estava localizada na Av. Norte. Laura era o
braço direito do esposo, ajudando em tudo no comércio e ainda cuidava das
crianças. Eles contavam com o auxílio de uma governanta, Madalena
(conhecida como Teté), que por ser tão querida, integrou-se naturalmente a
família.
Nasceram quatro filhos: Nanci (1947), Lucia (1949), José Moreira (1951) e Sergio
(1952), somando-se sete filhos.
Os negócios estavam no auge da prosperidade quando surgiram
aborrecimentos: durante seis anos consecutivos, a loja foi assaltada uma vez por
ano. Leonidio desgostou-se com a situação. Aumentou o seguro do seu
estabelecimento prevendo que poderia se passar o pior. E foi o que ocorreu em
1954: devido ao reforço de segurança, os bandidos não conseguiram arrombar e
roubar, então, jogaram fogo pelo telhado, incendiando totalmente o interior do
imóvel.
Leonidio residia, na Rua quinze de agosto, no bairro Casa Forte (moradia própria),
situada a 12 km do seu ponto comercial, quando de madrugada, conhecidos
vieram informar do incidente. Ele na mesma hora, chorando, foi até o local,
levando consigo sua esposa, sua filha Tereza e seu pai Thomaz. O carro do corpo
de bombeiros estava lá, contudo, foi-se a sua esperança de ter restado alguma
coisa: ruínas, cinzas e fumaça entristeceram o seu coração!
Nesse meio tempo, entre o ocorrido e reerguer sua vida, ele passou a transportar
mercadorias para os antigos patrões. O casal sempre muito dedicado aos filhos,
não queria que nada lhes faltassem, por isso se viravam da melhor maneira
possível.
Em 1955, uns primos de Laura (Cícero e Glorinha) emprestaram uma quantia
suficiente para abrir outra loja no bairro Beberibe (essa nova loja vendia tecido,
linha, botão, coisas de armarinho, pratos, panelas, utensílios de cozinha; era bem
diversificada). Após oito meses, receberam o dinheiro do seguro e puderam
73
liquidar a dívida. Neste ano nasceu o oitavo filho, Severino Carlos.
Leonidio desejava mudar de cidade e ir morar no Sul do país, pois receava que os
criminosos ao saírem da prisão planejassem uma vingança. Por outro lado, não
queriam deixar os pais em Recife para se mudar, pois eles já eram de idade
avançada. Após os falecimentos dos três (os pais de Leonídio e o pai de Laura),
resolveram ir para Antonina, um município localizado no Estado do Paraná
(aproximadamente a 84 km de Curitiba), onde morava Letícia, irmã de Laura. No
dia 13/08/1958, eles embarcaram num avião com toda a família e duas
empregadas. A princípio, sentiram dificuldades de adaptação principalmente
por causa do clima (o inverno é demasiado frio).
Foi assim, com essa mudança radical de moradia, que Leonidio iniciou uma nova
jornada, sendo distribuidor de bebidas Antártica. Nesta cidade, por ser pequena,
ele ficava mais tranqüilo para trabalhar e então continuar a criação e educação
dos filhos.
Em 1961, nasceu a filha caçula, Maria das Graças.
Em 1962, Roberto, sobrinho de Laura e Letícia, foi visitá-las e levou consigo o
amigo de infância, Joaquim Simplício Neto, engenheiro eletricista recém formado
que trabalhava na GE (General Electric) em São Paulo, coincidentemente
também de origem pernambucana.
Joaquim, ao chegar a casa dos tios de Roberto, olhou admirado para a jovem
Tereza, que tinha dezenove anos. Na época ficou apenas nos olhares, e
tornaram-se namorados somente alguns anos mais tarde, quando ela tinha vinte
e dois anos e ele trinta e um. Como eles moravam distantes um do outro, o
namoro foi à base de cartas. Todos imaginavam que se tratava de uma simples
amizade ou um namoro sem futuro de casamento, mas o casal não pensava
assim. Cada vez mais, eles estavam apaixonados.
Sempre que podia, viajava para vê-la nos finais de semana. Como morava em
São Paulo, que era relativamente próximo a Antonina, saía na sexta-feira e
voltava no domingo.
Antes de firmarem o casamento no ano de 1967, Joaquim mudou-se para o
Estado do Espírito Santo, pois iria trabalhar na obra da Cia Siderúrgica Tubarão.
Desta forma, os encontros foram ficando mais complicados de acontecer, o que
o levou a escrever uma carta a Leonidio pedindo a filha em casamento. Depois
que o pai consultou Tereza e ela aceitou, marcaram o casamento para
26/07/1967. Amigos e conhecidos não acreditavam quando Tereza dizia que
tinha namorado: afinal, eles só conversaram frente a frente dezesseis vezes. No
ano de 1967 ele a visitou em janeiro e depois só a viu no dia do casamento: não
era fácil sair do Espírito Santo para o Paraná! Um fato cômico ocorrido no dia do
casamento é que como ninguém conhecia o noivo, a igreja ficou lotada: os
convidados estavam curiosos para ver com quem Tereza estava se casando!
O casamento foi celebrado na Igreja de Nossa Senhora do Pilar e depois
comemoraram com uma grande festa. Após o casório mudaram-se para Vitória.
74
Laura e Leonidio não suportando a saudade da filha foram visitá-la e gostaram
do lugar (um litoral encantador!) e em conversa com seu genro Joaquim,
germinou a idéia de montarem uma fábrica de sacolas plásticas. Para que esse
projeto se tornasse realidade, eles fizeram um financiamento no BANDES (Banco
de Desenvolvimento do Estado do Espírito Santo S/A). Este ideal saiu do papel e
aos poucos foi ganhando vida. O genro, Joaquim, foi seu principal auxiliador,
tornando-se seu sócio.
Em 1969, os filhos foram estudar em Vitória, a principio moraram no bairro Praia do
Suá. Para Tereza foi uma alegria muito grande quando Onildo, Moreira, Sergio e
Severino Carlos foram estudar
e morar próximos à casa dela, sob sua
responsabilidade. As irmãs vieram uma de cada vez e ajudavam Tereza com as
tarefas e cuidados com os irmãos. Enquanto a fábrica ficava pronta e tomava
forma, Leonidio e Laura permaneceram no Paraná.
Quando a obra foi concluída, Leonidio e Laura vieram definitivamente para
Vitória e naquele dia, pairava no ar uma fragrância de alegria, de inovação.
Horizontes multicoloridos desfilavam diante deles: a satisfação do objetivo
alcançado!
A “PLASTICAL – PLÁSTICO CAPIXABA LTDA” foi inaugurada no dia 05/09/1971 e
contou com a presença de Sua Excelência, o Prefeito, Sr. Max Mauro e jornalistas.
Localiza-se no município de Vila Velha, no bairro Aribiri.
Esta fábrica foi pioneira no Estado do Espírito Santo em embalagens plásticas,
cuja principal utilidade é a conservação dos produtos. Eles viram a possibilidade
de atuar com destaque no mercado industrial capixaba por serem únicos na
região.
Os alicerces deste empreendimento despontaram com um galpão pequeno e
com poucos funcionários. Gradativamente, a produção foi crescendo e em
1986, sentiu-se a necessidade de construir um novo galpão, concluído em 1987.
Os filhos bem jovens, (alguns adolescentes) deram os primeiros passos numa
carreira e na vida profissional, dentro da Plastical.
Principais setores da empresa: Administração, Extrusora, Impressora, Corte/Solda,
Moinho, Oficinas elétrica e mecânica, almoxarifado, Sala de clichês, Loja do
varejo, Setor de estoque, Cozinha/Refeitório.
O processo produtivo é realizado da seguinte maneira: a Matéria-prima utilizada
é o Polipropileno e o Polietileno (derivados do petróleo) que são em formato de
grânulos brancos. Estes grãos são colocados nas máquinas do setor da
EXTRUSORA a uma temperatura de aproximadamente 200° C, e devido ao
aquecimento, passam para o estado pastoso e vão sendo laminados. Essa massa
é pressionada em uma matriz com abertura milimetral e soprada em forma de
balão para fora da máquina. Este balão é fechado, transformando-se num filme
técnico (plástico transparente) e enrolado num canudo de papelão, dando
como produto final a bobina plástica. A seguir, se as bobinas devem ser gravadas
(com a razão social, logotipo, etc.), seguem para o setor da IMPRESSORA
75
(imprime em até quatro cores pelos dois lados, com o sistema flexografia1). Ao
terminar a impressão, são rebobinadas e levadas para o setor CORTE/SOLDA. As
bobinas, impressas ou lisas, abastecem as máquinas de corte e solda, que possui
uma faca e barramento no centro, com as funções de cortar e soldar, de acordo
com a espessura, tamanho escolhido e o seu tipo de alça (se houver). As sacolas
são amontoadas de quinhentos em quinhentos ou de mil em mil, (através do
contador da máquina) e amarradas
com fitilho pelas operadoras e
encaminhadas para o setor do PACOTE, onde são embaladas e pesadas. São
enviadas informações para o setor de FATURAMENTO (peso e volume), para tirar
a Nota Fiscal e são carregados para o caminhão da empresa, para serem
transportados até o cliente, se o endereço for localizado na “Grande Vitória”
(municípios de Vila Velha, Vitória, Cariacica, Serra e Viana), ou entregues através
de uma Transportadora. Às vezes, o comprador vem recolher a mercadoria.
As aparas das bobinas plásticas do setor Corte/Solda (sucata), são
reaproveitadas para serem transformadas em sacos de lixo, sacos para carvão e
bolsas (na cor preta), etc. Também são chamados de material recuperado.
As embalagens produzidas em polietileno são finas; as de polipropileno parecem
papel celofane, são resistentes e mais apropriadas para acondicionar produtos
comestíveis. As sacolas podem ser feitas em espessuras finas ou grossas (para
areia, argamassa, barro), varia de acordo com o produto que será embalado.
A Plastical produz sob encomenda: Sacos plásticos de Polipropileno e Polietileno
de baixa e alta densidade (lisos e gravados), filmes técnicos para açougues,
bobinas picotadas para verduras, folhinhas plásticas (calendários), envelopesfronha com fita dupla face, bolsas com alças (para supermercados, lojas,
boutiques, campanhas publicitárias e políticas), sacos para lixo, filme termo
encolhível para enfardamento de refrigerantes...
Na Loja do varejo é possível comprar diversos tipos de sacos e sacolas plásticas
que fazem parte do seu estoque, como por exemplo, para: chup-chup,
condimentos, mudas de café, cachorro quente, frango, cascão, carvão,
encapado (fardão), diversos sacos para produtos de padaria em geral, bolsas
tipo camiseta (pequena, média, grande, extra grande, nas cores: branca e
preta), 1 kg, 2 kg, 5 Kg cereais, 1 kg, 2 Kg, 5 Kg farinha, leite bovino e caprino,
etc.
Seus clientes estão presentes em diversas áreas, tais como: confecção, frigoríficos,
laticínios, têxtil, abatedouro de aves, alimentícios (supermercados, padaria e
confeitaria...), material de construção, fábrica de rações, empacotadores de
cereais, laboratórios, hotéis, farmácias, hospitais, ônibus (sacos para náuseas),
Campanha Praia Limpa, etc.
Testemunho do vendedor Rômulo Schimitel Castro: “No ano de 1970, recém
chegado de Colatina, interior, município do Estado do Espírito Santo, vim para
Vila Velha com a família e quatro filhos menores. Nesse ano passei por muitas
dificuldades, mas tinha sempre a esperança de que as coisas melhorariam no
decorrer dos anos. Em agosto de 1971, passando pela Rodovia Carlos
Lindemberg, avistei uma placa indicando: `'Brevemente fábrica de plásticos'.
76
Então senti o interesse de procurar os sócios-administradores, oferecendo-me
para representá-los no norte do Estado do Espírito Santo, onde tenho muita
influência e alguns clientes da “Grande Vitória”. Após três meses, obtive uma
resposta satisfatória. Com muita garra aceitei a proposta que me fizeram. Iniciei
minhas atividades no dia 12/08/1971, (um mês antes da inauguração). No
principio, foi difícil de colocar o produto no mercado: os comerciantes estavam
acostumados a pesar a mercadoria na hora e colocar em sacos de papel. Eu,
com muita calma, explicava para eles que com as sacolas plásticas, poderiam
empacotar antes do movimento de final de semana e o ambiente ficava muito
mais limpo. Assim, fui aumentando as minhas vendas e também a clientela,
levando a Plastical a contratar mais vendedores. Comecei viajando de ônibus,
caminhão e na “Grande Vitória” eu me locomovia de bicicleta (o trânsito na
época era bem mais calmo do que agora). Em 1973 comprei meu primeiro carro
(um fusquinha). Enquanto a empresa crescia nos negócios, tive grande
participação na colaboração, amizade e consideração com os proprietários e os
funcionários que por aqui passaram. Nesse ano de 2007, faço trinta e seis anos de
tempo de serviço e agradeço a Deus por trabalhar todos estes anos na mesma
firma, com amor e compromisso.”
No inicio, além de Leonidio e seu genro Joaquim, havia também dois sócios que
permaneceram pouco tempo na empresa.
Atualmente, existem várias indústrias como esta no Estado do Espírito Santo, mas
há lugar para todas. A competitividade aumenta a qualidade do produto e gera
mais empregos.
Porém, o tempo parou, estendendo um tapete rumo à glória de Deus: Laura ficou
doente, teve câncer no intestino e conviveu com a doença por quase dois anos.
Deixou-nos em 30/07/1994.
Leonidio teve uma pancreatite entre outras complicações e após dois dias
internado no hospital, não resistiu e partiu em busca da sua amada em
06/10/1999.
Os filhos assumiram a administração da empresa, levando adiante um sonho que
brotou a partir de uma troca de olhares.
O slogan deles era “Só o amor constrói!”. Sim, sem esta virtude e a união, eles não
teriam chegado até aqui e encerrado com chave de ouro suas existências.
O tempo passa, mas nada é capaz de apagar de nossas mentes as lembranças
que ficam enraizadas em nossos corações!
Laura era alta, tinha os cabelos castanhos, mas ficaram brancos logo cedo
(quarenta anos mais ou menos) e ela assumiu os cabelos brancos e sempre
mantinha o tom acinzentado (tintura). Os olhos eram castanhos claros, a pele,
branquinha. Era alegre, extrovertida, carinhosa, gostava de festas, passear e
viajar. Quando a família estava reunida era motivo para festejar e comemorar
com almoço ou jantar. Mesmo estando doente, mais ou menos aos setenta e
cinco anos (faleceu aos setenta e sete anos), nunca perdeu a esperança de ficar
77
boa e continuava vaidosa: queria que Leonidio a visse arrumada, cheirosa, com
brincos, pulseira, unhas pintadas e cabelo arrumado! Ela gostava de contar
piadas, era muito divertida. Ensinava aos netos as coisas da vida de uma maneira
engraçada. Esse seu jeito de ser, muito espontânea e amável, cativava a todos.
Leonidio também era alto, tinha os cabelos aloirados e os olhos azuis (há quem
diga que eram esverdeados). Era calado, muito inteligente, esforçado e
trabalhador. Ao contrario de Laura, não era chegado a festas: preferia ficar
quietinho no canto dele. Quando queria chamar a atenção dos filhos por algum
motivo, bastava um olhar que imediatamente compreendiam o sermão mudo. O
respeito por ele era muito grande e para ele a obediência era fundamental.
Aparentava ser uma pessoa “durona”, mas tinha seu lado emotivo, como por
exemplo, chorava de emoção com o nascimento dos filhos, casamento... Na
velhice gostava muito de jogar Paciência (baralho): ensinou aos filhos e netos
esse jogo que tanto lhe agradava. Eles combinavam pelo gosto de viagens
(fizeram algumas excursões juntos pelo Brasil: Pantanal, Manaus, Goiás, Paraíba,
Rio Grande do Sul, Santa Catarina...).
Só o amor idealiza pontes em nosso íntimo nos conduzindo através do passado e
fazendo com que vertamos lágrimas de saudades por aqueles que foram uma
lição de vida para nós...
Flexografia é um método de impressão gráfico em que a matriz, clichê de borracha (Cyrel), é
relevográfica (mais ou menos parecido com o carimbo). Usa-se tintas líquidas altamente
secativas, à base de água, solvente.
1
Clichês são placas de borrachas, gravadas fotomecanicamente em alto relevo, destinados à
impressão de imagens e textos. Eles serão fixados no cilindro porta-clichê (rolos pescadores e
anilox) na impressora flexográfica onde, através de técnicas apropriadas de entintagem, será
realizada a aplicação da tinta na superfície da imagem em alto relevo.
__________________________________________________________________
OBSERVAÇÃO: A autora trabalha na Plastical, no setor da Administração, desde 1989.
AGRADECIMENTOS...
... a todos os filhos do Sr. Leonidio, que me ajudaram a escrever esta história.
FONTES CONSULTADAS NA INTERNET:
_ LANÇA-PERFUME
Acesso em: 15 jun. 2007. Disponível em:
<http://boasaude.uol.com.br/lib/showdoc.cfm?LibCatID=1&Search=lanca%20perfume&LibDocID=2761>
_ FLEXOGRAFIA
Wikipédia, a enciclopédia livre
Acesso em: 12 jul. 2007. Disponível em:
< http://pt.wikipedia.org/wiki/Flexografia>
78
O TERMINAL RODOVIÁRIO DO BAIRRO IBES
VILA VELHA – ES
O meio de transporte ao longo dos anos sofreu várias transformações:
inicialmente as pessoas iam a pé, depois utilizavam carros de bois, burros e
cavalos. A tecnologia avançou, inventaram os automóveis e os trens. Os bondes
causaram grande revolução, mas em 1965, em Vila Velha/ES, eles foram extintos.
Entraram em cena os ônibus: a Viação Alvorada atendia os municípios de Vitória
a Vila Velha (nas laterais destes ônibus havia um desenho que se parecia com as
ondas do mar).
No Espírito Santo, o serviço de transporte coletivo era ineficiente, pois não
solucionava à crescente demanda de passageiros: havia superlotação e o
descumprimento dos horários.
Na década de 80 foi criado o Projeto Transcol com a idéia de através de
terminais urbanos, interligar os cinco municípios da região metropolitana: Vitória
(a capital), Vila Velha, Cariacica, Serra e Viana (estes municípios também são
chamados de “Grande Vitória”).
A Companhia de Transportes Urbanos da Grande Vitória (CETURB–GV), empresa
pública, foi fundada em dezembro de 1984, com o fim específico de conceder,
planejar, contratar e gerenciar o Sistema de Transporte Público de Passageiros da
Região Metropolitana da Grande Vitória.
Os terminais foram concebidos pela CETURB-GV, em termos de localização
estrutura e logística de funcionamento.
O terminal rodoviário é uma plataforma, com vários pontos de ônibus. A principal
utilidade é transportar passageiros de um bairro para o outro e para outros
municípios próximos. O usuário paga uma única passagem e pode trocar de
ônibus nos outros terminais sem ter que pagar novamente. Os ônibus azuis
operam nas linhas bairro x bairro e bairro x terminal da região metropolitana e os
de cor amarelo, rodam em Vitória e região metropolitana ligando terminal a
terminal).
Em 1989, foram inaugurados os primeiros terminais de integração, nesta
seqüência: Carapina (Serra), Dom Bosco (Vitória), Itacibá (Cariacica) e Vila
Velha. Em 1990, foi a vez do terminal de Laranjeiras (Serra).
Em Vila Velha/ES, há outra empresa operadora do transporte coletivo, a Viação
Sanremo, que recolhe os passageiros nos pontos de ônibus espalhados pelo
município.
Foi decretada a desapropriação de dois terrenos que havia na rua onde moro,
no bairro IBES, no município de Vila Velha/ES, para ser transformado no terminal
do IBES. Os moradores ficaram descontentes, alegavam que aumentaria o
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número de violência nas redondezas. Foi feito um abaixo-assinado, mas não
adiantou: o projeto seguiu adiante. O local escolhido eram dois terrenos: no
primeiro havia muitas árvores (foram preservadas algumas), areal branco, grama
e era todo murado; o outro, ao lado deste, havia uma casa de dois andares com
jardim na frente.
Assim, no dia 08 de março de 1991, foi inaugurado o terminal do IBES com a
presença de Sua Excelência, Sr. ALBUÍNO CUNHA AZEREDO (governador do
Estado), show musical, muita festa e discurso.
Todos os terminais são muito semelhantes em sua arquitetura e organização. O
terminal do IBES inicia suas atividades as 04h30 da manhã e encerra à meia-noite
e poderá ser descrito como um imenso galpão cercado por grades de ferro, com
três ruas paralelas e duas plataformas, onde nas mesmas dispõem de módulos
onde se encontram os pontos de ônibus e os mini pontos comerciais, os
quiosques, popularmente conhecidos como “barriquinhas”, (dispostos de forma
organizada e fiscalizada, vendendo vários tipos de alimentação); há aqueles que
são contra a presença de tais estabelecimentos, pois argumentam que ocupam
espaço precioso, reduzindo a liberdade dos passageiros de se locomoverem. E é
também o local onde transitam os usuários dos ônibus. Apesar das plataformas
serem cobertas horizontalmente, quando chove protege-se razoavelmente da
chuva, pois ela surpreende por todos os lados e aparecem as inevitáveis poças
de água. Há duas lanchonetes, bebedouros, banheiros e telefones públicos. O
serviço de limpeza é realizado por uma empresa particular.
Ao lado da entrada do terminal, na esquerda, há um ponto de táxi, cuja rua
chama-se “Mahatma Ghandi”; nos fundos, está a rua “Guaporé”; na lateral
esquerda, onde está a caixa d´água, há a rua “São Luís” (onde moro) e na
direita, a rua “Godofredo Schneider”.
Todo o dia entram passageiros com personalidades das mais variadas possíveis. O
horário de maior movimento é de 06h30 às 08h00 da manhã (as pessoas estão
indo trabalhar) e à tarde, de 18h00 às 20h00 (estão voltando para casa) e este
“vai e vem” constante de pessoas é o mais interessante no terminal: o ser humano
com suas emoções e personalidades, seguindo cada um o seu destino.
Igualmente apreciável, são os embarques e desembarques dos passageiros de
acordo com o horário de cada ônibus, enchendo e esvaziando os pontos de
ônibus.
As ruas ao redor deste terminal são muito movimentadas, com grande fluxo de
veículos, pois próximo dali está o Cartório Leandro, uma igreja/escola Luterana,
oficinas mecânicas, bares, livraria de Quadrinhos/Jogos, etc. e vários moradores.
O motor dos ônibus (Vruuum!) com seu som ruidoso, às vezes incomoda e espalha
por toda parte uma poeira engordurada, proveniente de óleo e fumaça.
Para a segurança deste terminal, a principio havia apenas os porteiros que vigiam
as entradas e saídas. Depois um guarda da Polícia Militar permaneceu ali por
aproximadamente um ano. Após o episódio da queima dos ônibus em 2004, a
CETURB-GV contratou guardas armados, de uma empresa particular e há
câmaras filmadoras: dispõe de dois seguranças nos horários de 08h00 às 20h00 e
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um segurança de 06h00 ás 08h00 e de 20h00 ás 08h00.
Este terminal é palco de acontecimentos interessantes, surpreendentes e
inacreditáveis!
Era 18h00, abri a janela do meu quarto e vi uma multidão de pessoas na sala
reservada à “Policia Militar”. Notei que havia um homem com semblante irritado
e que parecia ser o personagem principal, pois todos se dirigiam a ele. Logo
vieram duas viaturas da Policia Militar e após discutir acalorada e
demoradamente todos se dispersaram. Não entendi nada. Um dos porteiros do
terminal contou a meu pai que um senhor entrou no terminal pela porta
reservada aos idosos e aos profissionais que a lei autoriza o “passe livre”,
recusando-se a mostrar os documentos que comprovassem o direito de passar
por ali. O policial o deteve e por fim, este cidadão se identificou revelando ser
um policial civil.
Vejam o quanto os motoristas e cobradores são unidos: era um sábado, ás 15h00,
num ônibus, uma policial queria que o cobrador consentisse que seu filho
passasse por baixo da roleta, mas este não permitiu porque, segundo as normas
da empresa, crianças a partir de cinco anos devem pagar passagem. Iniciou-se
uma discussão, quando o coletivo aproximou-se do terminal do Ibes, ela pegou o
celular e chamou uma viatura, notificando que foi desacatada e agredida. Não
demorou muito e chegaram os policiais e o acusado foi preso. Os motoristas se
revoltaram e iniciou-se uma greve em protesto. Os demais motoristas ao entrar no
terminal foram informados do que estava acontecendo. Logo, o terminal e as
ruas próximas ficaram repletas de ônibus parados e os outros que vinham
chegando pararam os veículos na rodovia Carlos Lindemberg, paralisando o
sentido Vitória x Vila Velha, formando uma imensa fila de carros particulares
parados. Os passageiros eram abandonados no interior dos ônibus. Às 18h00,
dentro do terminal e nos arredores, havia
uma multidão de pessoas;
adolescentes choravam e tocavam a campainha das casas para pedir para
telefonar para seus familiares, pois os telefones públicos estavam todos lotados
com uma imensa fila. Para piorar a situação, começou a chover. Desfilaram neste
cenário: a polícia, a tropa de choque, equipes de reportagens e reforços
policiais. Finalmente ás 20h00, o cobrador foi solto e então os motoristas voltaram
as suas atividades.
Um assaltante (possivelmente amador ou desesperado), anunciou o assalto
quando o ônibus estava entrando no terminal do IBES, logo o infeliz foi dominado
pelos passageiros, sendo preso em seguida pela polícia.
Em 2001, foi inaugurado o terminal de Campo Grande (Cariacica). Há um projeto
para a criação de quatro novos terminais, nos bairros: São Torquato, Itaparica
(Vila Velha), Jardim América (Cariacica) e Jacaraípe (Serra).
Na noite de 20/10/2004, um homem entrou no terminal do IBES e matou, a tiros,
um rapaz que era ajudante de pedreiro: o elemento veio por trás do outro, atirou
à queima-roupa e fugiu.
Em 23/11/2004, dez ônibus foram incendiados na região metropolitana e Sua
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Excelência, Sr. Paulo Hartung, o governador do Espírito Santo, entrou em contato
com os ministros da Justiça e da Defesa, pedindo ajuda de forças federais. Dois
aviões da Força Aérea Brasileira (FAB), trouxeram soldados do Rio de Janeiro
(provenientes do 26º Batalhão de Infantaria Pára-quedista e do 1º Batalhão de
Polícia do Exército) que garantiram a segurança de passageiros e dos ônibus nos
terminais de Vila Velha e do IBES. Juntos, atuaram nos terminais, garagens e no
patrulhamento ostensivo com quatro caminhões, ao lado da Polícia Militar. Todos
estavam armados com pistolas, fuzis ou com metralhadoras de mão. Havia
policiais dentro de todos os ônibus. Os incêndios foram ação do crime organizado
que age no Espírito Santo. A presença dos soldados assustaram as pessoas: eles
corriam de um lado para o outro, fazendo o reconhecimento do local e se
posicionavam perto das saídas e entradas. Parecia que o município estava em
guerra. Os passageiros se sentiam mais seguros, porém ao mesmo tempo
transmitia uma sensação de insegurança.
Em 03/2005, uma senhora passou mal, com crise epilética, no terminal do IBES, por
sorte, estava passando uma enfermeira-chefe e prestou socorro.
Em 22/03/2006, ocorreu a manifestação de alunos em protesto ao “passe livre”,
solicitando passagens gratuitas em todo país. Participaram inúmeros estudantes,
de várias escolas. No terminal do IBES, eles entraram pela portaria sem pagar a
passagem, fazendo um "apitaço" (com apito de jogo), picharam paredes e
alguns ônibus.
Em 04/2006, houve medição da pressão arterial no terminal do IBES e de Vila
Velha, realizada por estudantes da Faculdade Salesiana, dando prosseguimento
a campanha da Sociedade Brasileira de Hipertensão, levando orientação e
informações.
Houve uma manifestação: passageiros bloquearam a saída dos ônibus do
terminal do IBES em protesto ao atraso de mais uma hora da linha 516. (T.
Carapina/ T. Ibes via Maruípe).
Greve de motoristas de ônibus é um dos fatos que se repetem de quando em
quando. Na paralisação dos motoristas em julho de 2006, os ônibus saíam dos
terminais, mas eram forçados a parar durante o percurso. Os pontos de ônibus
ficaram cheios. Somente um ônibus era liberado para cada região, de 30 em 30
minutos. No fim sindicatos e CETURB–GV entraram num acordo e tudo voltou ao
normal.
De repente, ouve-se um estrondo! Buuum! Que susto! Parecia uma explosão.
Terroristas? Não, furou o pneu de um ônibus...
E as surpresas desagradáveis, principalmente quando se está com pressa? Um
ônibus da linha 518 (T. Carapina/ T. Ibes via Serafim Derenze), estava lotado e saía
do terminal, o motor fazia um barulho estranho e quando ia entrar na rodovia
Carlos Lindemberg, o motor parou. Os passageiros ficaram contrariados,
resmungavam, mas não tiveram outra escolha, senão retornar para o terminal, de
volta para a fila e esperar o próximo.
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A Secretaria de Estado da Cultura, em parceria com a CETURB–GV, lançou no dia
01/09/2005, o “Projeto Circuito Transcol”, que oferece aos usuários dos terminais,
apresentações de diversas modalidades, como música, teatro, manifestações
populares, circo e dança, que são realizadas sempre as quintas-feiras das 17h30
às 19h00, simultaneamente nos seis terminais. O objetivo é realizar oficinas relâmpago para atrair o público para práticas artísticas e artesanais, colocandoo em convívio com os artistas capixabas e promover, assim, a cidadania e a
interação por intermédio de atividades lúdicas. Além de espetáculos musicais e
folclóricos, são realizadas oficinas de artesanato e de caricatura, artes plásticas e
grafite. É uma distração para aqueles que aguardam o coletivo. Levam um
pouco de cultura e diversão para aqueles que não têm tempo, apesar de não
atender a todos os gostos.
O terminal do IBES (e os demais terminais), pode ser comparado a uma pequena
cidade, porém embora uma quantidade imensa de pessoas passem por ali
diariamente, não há moradores... cada usuário deixa um leve rastro da sua
passagem, que logo some para dar lugar a infinitos outros passos...
O bairro IBES ("Instituto do Bem-Estar Social do Espírito Santo”), conjunto residencial
construído em 1952; projetado com formato de uma flor (na verdade, forma a
figura de um grande hexágono, com a Praça no centro), dividido em setores. No
setor Jerônimo Monteiro, residiam funcionários públicos e seus familiares; no setor
Unidos da Vale, moravam empregados da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD);
no IAPC, pessoas ligadas ao comércio; os demais setores eram mais
diversificados. Em 1954, trezentos e cinqüenta moradores receberam as chaves
das casas. Em 1955, foi construído o centro comercial, próximo à Praça Assis
Chateaubriand.
________________________________________________
NOTA DE ESCLARECIMENTO:
Para escrever este texto, descrevi minhas experiências como moradora próxima ao terminal do
IBES, elaborei um questionário e pedi que várias pessoas que trabalham neste terminal ou próximo
a ele, respondessem. Além disso, pesquisei na Internet para complementar as informações, abaixo
seguem os devidos créditos.
______________________________________________
FONTES CONSULTADAS:
*CETURB-GV. Projeto Transcol.
Acesso em 30/11/2006. Disponível em:
<http://www.ceturb.gov.br/site/menu_uma_viagem_no_tempo.asp>
*Gazeta On-Line. Exército está em Vila Velha para impedir incêndios de ônibus
Acesso em 30/11/2006. Disponível:
Gazeta Online: <http://gazetaonline.globo.com>
Governo do Estado do E.S. “Projeto Circuito Transcol”,
Acesso em 30/11/2006. Disponível em:
<http://www.es.gov.br/site/noticias/show.aspx?noticiaId=99661117>
*Origens do bairro IBES. Jornal A Tribuna, Vitória-ES, 22 Ago 2003.
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CAPÍTULO IV
TEXTOS PREMIADOS:
PROSA
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O PRECONCEITO
Obs.: Texto narrado por meu pai, Pedro Sabino da Mota (1912/-)
Jiquiriça, município da Bahia, no tempo do cangaço e do coronelismo.
Meu pai, quando tinha 12 anos, estava parado, montado numa mula,
conversando com um fazendeiro. Aproximou-se um vaqueiro cavalgando uma
mulona e perguntou de maneira prepotente e arrogante, expressando
claramente o seu preconceito:
– Negro, o Coronel Coimbra está aí?
Não respondeu.
Meu pai, silenciosamente, apontou com o dedo, revelando que aquele que ele
procurava estava ao seu lado.
Imediatamente o recém-chegado compreendeu sua insensatez, tirou o chapéu
justificando-se:
– Coronel, perdoa-me! Eu pensava que o senhor pelo poder e riqueza, fosse
branco!
– O que você quer?
O vaqueiro lhe mostrou um envelope, no qual um documento informava a
entrega de dois mil bois.
– Desça nesta estrada e na terceira cancela, há um rapaz para receber o gado.
Ao terminar, venha almoçar comigo!
Chegando ao local indicado, acenou para meu pai, deu-lhe uma gratificação
em dinheiro, dizendo:
__ Estou com medo de que aquele negro me mate!
__ Não se preocupe: ele é uma pessoa boa! Desculpe-me, o senhor é um homem
de idade e eu sou criança, mas, os ricos tanto podem ser gente branca como
preta!
O vaqueiro subiu a escada que o levaria ao sobrado, encontrando o Coronel
vestido de terno, gravata e chapéu brancos.
– Reconhece agora que eu sou o Coronel Coimbra? Vou lhe mostrar minha
autoridade!
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O vaqueiro ajoelhou-se desesperado e pediu perdão.
Havia um sino na parede da varanda onde estavam. O Coronel puxou a corda
várias vezes, ecoando um som ensurdecedor. Surgiu então, uma multidão de
“jagunços” negros (o mesmo que capangas, pistoleiros ou cabras). Impossível de
determinar a quantidade, pois sumiam de vista; todos usavam os cabelos e a
barba longos e estavam armados com rifles de repetição. O Coronel fez um
gesto com a mão para que fosse realizada uma demonstração das armas e eles
fizeram pontaria para o vaqueiro. Este fechou os olhos, pressentindo o seu fim.
Contudo, em seguida, todos se dispersaram.
O Coronel explicou que o almoço estava pronto e que depois tratariam de
negócios.
Era o ano de 1924, trinta e seis anos após a abolição da escravatura no Brasil
(hoje em 2007, cento e dezenove anos), épocas distintas, porém,
comportamento idêntico a atualidade.
Para que adotar atitudes de desprezo com relação aos outros? O ser humano
ainda não aprendeu a respeitar o seu semelhante, não entendeu o significado
das palavras de Jesus: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Mateus 22:39).
Atualmente, tal atitude é considerada crime contra a honra. Racismo. No código
penal, a pena é de reclusão de um a três anos e multa.
PREMIAÇÃO:
01 – Concurso de Contos - Casa do escritor – Junho/2006 - 7.º Lugar (Menção Honrosa).
02 – Concurso “Machado de Assis” – 2.º Lugar – Categoria Contos - Redacional Editora – Londrina
– PR – 2006
03 – 18.ª Antologia de “Contos de Autores Contemporâneos” - Editora CBJE - RJ - Julho/2006
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Obs.:
Esse livro " EU POÉTICO", foi publicado pela primeira vez,
pela Editora CBJE (Rio de Janeiro/Brasil) - Agosto/ 2007
Versão Impressa. – Direitos Autorais devidamente Registrados
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