Atendendo às necessidades: Fortalecendo programas de
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Atendendo às necessidades: Fortalecendo programas de
Atendendo às necessidades Fortalecendo programas de planeamento familiar Título original: Meeting the Need: Strengthening Family Planning Programs. Copyright © 2006 Program for Appropriate Technology in Health (PATH) e United Nations Population Fund (UNFPA). Todos os direitos reservados. Este documento pode ser utilizado livremente para fins educacionais ou não comerciais, desde que os autores, PATH e Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA) venham a ser devidamente reconhecidos. ISBN: 0-89714-770-7 Copyright © 2007 BEMFAM – Bem Estar Familiar no Brasil. Tradução para o português organizada a partir da edição em inglês, 2006. Supervisão técnica por Mônica Almeida e Clara Rey. ISBN: 978-85-99332-11-5 Citação sugerida: PATH e Fundo das Nações Unidas para a População – UNFPA. Atendendo às necessidades: Fortalecendo Programas de Planeamento Familiar. Rio de Janeiro: BEMFAM; 2007. P958a Program for Appropriate Technology in Health - PATH. Atendendo às necessidades: fortalecendo programas de planeamento familiar / Program for Appropriate Technology in Health - PATH, UNFPA - Fundo das Nações Unidas para a População ; Tradução de BEMFAM. – Rio de Janeiro : BEMFAM, 2007. 80p. : il.. Tradução de: Meeting the Need: Strengthening Family Planning Programs. ISBN: 978-85-99332-11-5 1- Planejamento Familiar – Programas. I. UNFPA - Fundo das Nações Unidas para a População. II. PATH - Program for Appropriate Technology in Health. III BEMFAM – Bem-Estar Familiar no Brasil (Trad.). CDD 301.426 Catalogação na fonte BEMFAM/CEDOC Fotografias Capa: Richard Lord, Costa do Marfim Página 4: Richard Lord, Nepal Página 16: PATH, Jessica Fleming, Moçambique Página 60: PATH, Dan Chang, América Latina PATH 1455 NW Leary Way Seattle, WA 98107 USA Tel: 206.285.3500 Fax: 206.285.6619 Email: [email protected] www.path.org UNFPA 220 East 42nd Street New York, NY 10017 USA Tel: 212.297.5000 Fax: 212.557.6416 Email: [email protected] www.unfpa.org 003.005.000041/©2007 Atendendo às necessidades Fortalecendo programas de planeamento familiar 2007 Agradecimentos Este relatório, Atendendo às necessidades: Fortalecendo Programas de Planeamento Familiarr é o produto de uma colaboração entre o PATH e o Fundo das Nações Unidas para População (UNFPA). A pesquisa e o relatório foram preparados por Adrienne Kols, uma consultora privada. Lindsay Edouard da UNFPA e Cristina Herdman do PATH supervisionaram a elaboração do relatório e orientaram seu escopo e conteúdo. Enquanto o relatório foi grandemente beneficiado pelas contribuições das pessoas citadas a seguir, a responsabilidade pelo conteúdo final é dos supramencionados. Agradecemos especialmente a várias outras pessoas que contribuíram com este relatório. Hedia Belhadj, Stan Bernstein e Arletty Pinel do UNFPA fizeram a revisão técnica do documento. C.Y. Gopinath, Jane Hutchings, Lorelei Goodyear e Jacqueline Sherris do PATH forneceram subsídios técnicos para secções específicas do relatório. O relatório foi editado por Michele Burns e foi planeado por Kristin Dahlquist, ambas do PATH. Agradecemos, também, aos revisores especialistas externos, a PATH e UNFPA. Entre eles, Jeff Spieler, Allan Bornbusch, Sarah Harbison, Shawn Malarcher e Susan Wright, da Agencia Americana para Desenvolvimento Internacional (USAID). Revisores do Departamento de Saúde Reprodutiva e Pesquisa da Organização Mundial de Saúde incluem Catherine D’Arcangues, Kathryn Church, e Nuriye Ortayli. Oluwole Akande do Hospital Universidade de Ibadan, Nigéria, também trouxeram inestimável colaboração ao relatório. Índice Prefácio Sumário PA R T E Delineando o desafio Prioridades e estratégias de desenvolvimento Benefícios do planejamento familiar Saúde Direitos reprodutivos e equidade de género Benefícios económicos Prevalência contraceptiva Níveis e tendências Determinantes Estabelecendo os objectivos do programa PA R T E 1 2 5 5 9 9 10 11 11 11 13 13 Aumento da prevalência contraceptiva 17 Advocacia ((Advocacy) Actualizando a prestação de serviços Serviços integrados Segurança dos produtos contraceptivos Qualidade da assistência Escolha informada e aconselhamento contraceptivo Superando barreiras para alcançar grupos sem atendimento adequado Criando demanda Comunicação para mudança de comportamento Diminuindo barreiras económicas Sustentabilidade Autoconfiança Parcerias do setor privado 17 19 19 29 32 39 43 51 51 54 59 59 59 PA R T E Conclusão Acrônimos Referências Bibliográficas Recursos Adicionais 63 65 66 76 Prefácio Assegurar o acesso à informação sobre planeamento familiar, serviços e suprimentos é essencial à protecção da saúde e bem-estar das mulheres, das famílias e da sociedade como um todo. O desenvolvimento económico, os direitos humanos e a saúde global têm raízes importantes no planeamento familiar, o que é frequentemente negligenciado. Tendências recentes, embora efectivas na ampliação da saúde global e na agenda de desenvolvimento, reduziram a atenção e o financiamento para o planeamento familiar. A Conferência Internacional de 1994, sobre População e Desenvolvimento, situou o planeamento familiar dentro de um contexto maior de saúde e direitos reprodutivos da mulher e equidade de género. As reformas do sector de saúde estimularam os serviços integrados e levaram gestores de nível local a estabelecer prioridades frequentemente sem observar as necessidades de planeamento familiar. Novos referenciais para o desenvolvimento, incluindo as Metas de Desenvolvimento do Milénio, estabelecidas pelos líderes mundiais em 2000, focaram as necessidades dos mais pobres do mundo sem identificar o planeamento familiar como prioridade. Juntas, estas tendências diluíram o reconhecimento do papel integral que o planeamento familiar desempenha no desenvolvimento. Os esforços para planeamento familiar podem ser revigorados ajudando os gestores do programa e planeadores a entender como a defesa activa, melhorando o acesso e a qualidade da assistência e apoiando as pessoas que necessitam de planeamento familiar a buscar os serviços e o trabalho relacionado à sustentabilidade financeira, podem aumentar a prevalência contraceptiva. Ajudar os doadores e os tomadores de decisão a entender como o planeamento familiar é parte integral do desenvolvimento económico e social pode assegurar o financiamento e as decisões políticas necessários para manter os serviços. Este relatório foi planeado como recurso geral para ajudar os gestores do planeamento familiar a reforçarem seus programas e atender as necessidades do crescimento do planeamento familiar. Ele não se destina a apresentar uma análise técnica detalhada dos assuntos e não trata as muitas variações regionais de países e circunstâncias relacionadas ao fornecimento de serviços de planeamento familiar. Em vez disso, ele oferece uma ampla visão geral das considerações programáticas chave. Cada subsecção inclui uma lista de recursos prácticos especializados e ferramentas (disponíveis on line) que podem apoiar os gestores do programa a efectuarem modificações programáticas. Deve ser enfatizado que os gestores de programas não precisam tentar mudar simultaneamente todos os aspectos da programação discutidos neste relatório; em alguns casos o foco sobre um ou dois componentes do programa pode trazer resultados dramáticos. Espera-se que este relatório inspire os gestores do programa a investigar caminhos adicionais para fortalecer os programas de planeamento familiar, de modo que possam aumentar a prevalência contraceptiva e atender aos direitos reprodutivos de mulheres e homens assistidos por eles. 1 Atendendo às necessidades: Fortalecendo programas de planeamento familiar Sumário Ganhos globais impressionantes foram observados em décadas recentes, com a melhora de taxas de prevalência contraceptiva e a diminuição de taxas de fertilidade. Paralelamente, um número crescente de homens e mulheres nos países em desenvolvimento pretende adoptar o planeamento familiar e exercer seus direitos de decidir livremente qual o número de filhos e o intervalo entre eles. Para os gestores de programas que estejam tentando atender a este aumento de demanda de planeamento familiar, o ambiente actual é desfavorável. O campo da saúde e desenvolvimento internacional está a tentar atender às novas prioridades, incluindo a epidemia de VIH/SIDA e a pobreza difundida, além das preocupações já estabelecidas como saúde reprodutiva, frequentemente desconsiderando o papel integral que o planeamento familiar desempenha sobre eles. As reformas do sector de saúde criaram novos desafios para a gestão, incluindo alterações nos mecanismos de financiamento e na descentra-lização da prestação de serviços em nível local. A integração de serviços, que tem sido uma meta de longoprazo da comunidade do planeamento familiar, não é uma tarefa simples com uma solução padronizada; ela requer a gestão cuidadosa de um processo bem planeado. Isto fica, muitas vezes, além da capacidade de novos centros de gestão, o que, em alguns casos resultou no enfraquecimento dos serviços de planeamento familiar. Apesar destes desafios, é importante agora, mais do que nunca, que a informação sobre planeamento familiar e os serviços estejam mais amplamente disponíveis integrando-os sistematicamente nos serviços de saúde geral. Para atender a estes desafios, os gestores de programas de planeamento familiar precisam actuar em quatro frentes. Primeiro, eles devem defender o aumento do entendimento político mais amplo das ligações entre pobreza, desenvolvimento e planeamento familiar. Segundo, eles devem assegurar que o serviço de planeamento familiar seja efectivo em relação ao seu custo, acessível e de boa qualidade. Terceiro, os gestores precisam criar uma demanda para o planeamento familiar. Finalmente, os gestores devem trabalhar para melhorar a sustentabilidade financeira dos programas de planeamento familiar. A defesa bem sucedida evidenciará a ligação entre o planeamento familiar e a ampliação de metas de saúde e desenvolvimento. Assegurar que decisores entendam 2 as relações entre o planeamento familiar e as metas relacionadas ao desenvolvimento económico, equidade de género, prevenção de VIH/SIDA e saúde materna e infantil, sustentará o impacto a longo prazo e a sustentabilidade do programa de planeamento familiar. A adequação efectiva da prestação de serviço para assegurar sustentabilidade, acessibilidade e qualidade, ajudará a maximizar o acesso aos serviços de planeamento familiar. A integração do planeamento familiar com outros serviços pode permitir atender às necessidades especiais de diferentes populações e levar os serviços de planeamento familiar a novos públicos, alcançando pobres, adolescentes, homens e outros grupos não atendidos satisfatoriamente. A melhora do aconselhamento contraceptivo e a garantia de insumos anticoncepcionais podem tornar real a meta de escolha informada. Finalmente, o fortalecimento do serviço, no dia-a-dia, pode melhorar a qualidade de assistência que os utilizadores de planeamento familiar recebem. A comunicação para mudança de comportamento, incluindo educação do utilizador, mobilização da comunidade e comunicação de massa, tem o potencial de alterar normas comunitárias assim como atitudes individuais, dando suporte para direitos reprodutivos e superando a resistência social ao planeamento familiar. Também pode aumentar o conhecimento e motivar clientes potenciais a agirem. Ao mesmo tempo, os reembolsos para utilizadores pobres e a dispensa de pagamentos podem demover barreiras económicas que desencorajam os indivíduos de buscar serviços de planeamento familiar. A análise cuidadosa de custos e despesas e a adequação dos profissionais e práticas de serviços pode tornar os programas mais credíveis. A parceria com o sector privado — por exemplo, através de mercado social e parcerias — pode aumentar a disponibilidade de serviços de planeamento familiar na comunidade e alivia a pressão sobre o sistema de saúde pública. 3 PA R T E Delineando o desafio Prioridades e estratégias de desenvolvimento Benefícios do planeamento familiar Prevalência contraceptiva O planeamento familiar perdeu importância a partir de mudanças nas recentes estratégias de desenvolvimento internacional e prioridades. Existem 201 milhões de mulheres nos países em desenvolvimento as quais precisam, porém não estão fazendo uso de métodos modernos de contracepção: 137 milhões de mulheres em risco de gravidez indesejada não estão utilizando nenhum método, e um adicional de 64 milhões confiam em um método tradicional menos efectivo (Singh et al. 2003). Muitos grupos vulneráveis, incluindo pobres e adolescentes, ainda não tiveram acesso a serviços de planeamento familiar de qualidade. E o crescimento contínuo do número de utilizadores de contraceptivos está a forçar a capacidade dos programas de planeamento familiar de atender suas necessidades. Os gestores de planeamento familiar devem aprender a entender as mudanças de ambiente político e de financiamento para obter a atenção política e os recursos necessários para colocar seus programas em uma base sólida. Prioridades e estratégias de desenvolvimento A mudança nas prioridades e estratégias de desenvolvimento globais alteraram muito o panorama do planeamento familiar, particularmente na última década. O consenso alcançado na Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento de 1994 (CIPD) no Cairo rejeitou um foco restrito sobre os problemas da população a favor de uma ampla abordagem de desenvolvimento baseada nos direitos reprodutivos da mulher e equidade de género, orientando para que o planeamento familiar seja oferecido como parte integral de uma ampla variedade de serviços de assistência 5 Atendendo às necessidades: Fortalecendo programas de planeamento familiar à saúde reprodutiva (UN 1995). Esta orientação foi reiterada cinco anos depois, pela Assembléia Geral (UN 1999) e, novamente, na reunião sobre estratégia de saúde reprodutiva da Organização Mundial de Saúde em 2004 (WHO RHR 2004). Esta expansão da agenda contribuiu claramente para o bem estar das mulheres, mas o planeamento familiar passou a compartilhar a atenção e os recursos com uma gama mais ampla de serviços — incluindo problemas importantes e de longo prazo, mas pouco reconhecidos, tais como mutilações genitais femininas e violência de género (Gillespie 2004). Ademais, preciosos recursos foram destinados ao combate da pandemia de VIH/SIDA, mas sua relação estreita com o planeamento familiar e outras questões de saúde sexual e reprodutiva tem sido frequentemente pouco reconhecida, resultando em oportunidades perdidas para a promoção da saúde. O esforço para a reforma do sector de saúde tem apoiado o caso CIPD na oferta de uma ampla variedade de serviços de saúde reprodutiva. Os responsáveis pela reforma argumentam que os serviços integrados de saúde — junto com a descentralização, esquemas de financiamento alternativo, alocação de recursos baseados na taxa de morbidade e outras inovações—pode aumentar a eficiência, qualidade, equidade, sustentabilidade, e receptividade dos utilizadores dos sistemas de saúde no mundo em desenvolvimento. Embora fique claro que os benefícios da integração e outras inovações são positivas, estas reformas, algumas vezes, podem inadvertidamente prejudicar o planeamento familiar. Por exemplo, serviços integrados geralmente forçam os profissionais de planeamento familiar a dividir seu tempo entre grande variedade de serviços (Dmytraczenko et al. 2003, McIntyre 2005); a descentralização leva os administradores de nível local a determinar quais recursos afectar ao planeamento familiar (Maceira 2005a, Merrick 2000); e a avaliação da carga de morbidade reduz a prioridade do planeamento familiar, posto que gravidez não é doença (Alvarez-Castillo 2005, Berer 2002). Entretanto, os benefícios potenciais da reforma do sector de saúde excedem as desvantagens. Por exemplo, a abordagem por sectores (SWAps) agrupa as doações de modo que o governo pode coordenar uma abordagem comum para planear e investir em todo o sector saúde. Enquanto a SWAps pode reduzir os fundos de doação voltados para o planeamento familiar, ela elimina a duplicação de esforços, fragmentação e encargos administrativos pesados que gastam muitos recursos em assistência médica por projectos, ao mesmo tempo que reforça o poder e a liderança local — podendo tornar a assistência médica mais efectiva e eficiente (CIDA 2003, Maceira 2005b). Ao mesmo tempo, o foco crescente sobre a redução da pobreza tem desviado a atenção e os fundos para longe da saúde reprodutiva e planeamento familiar. O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional introduziram os Papéis sobre Estratégia de Redução da Pobreza (PRSPs) em 1999 como condição para empréstimos e fundos de apoio, e doadores e parceiros para o desenvolvimento estão a usar este referencial de forma crescente para provisão de assistência. Estes planos multi-sectoriais para o crescimento económico atingem problemas de saúde, mas nunca reconhecem explicitamente as prioridades de saúde reprodutiva e de planeamento familiar ou as especificam nas alocações de orçamento — outra oportunidade perdida, porque o desenvolvimento não 6 Parte 1: Delineando o desafio FIGURA 1: Proporção das necessidades contraceptivas atendidas, por quintil de riqueza 1996–2004 1FSDFOUBHFN «GSJDB "NÏSJDB-BUJOB F$BSBÓCBT .BJT1PCSF «TJB$FOUSBM 4FHVOEP /PSUFEB«GSJDB F0FTUF"TJÈUJDP .ÏEJP 2VBSUP «TJB .ÏEJB(MPCBM .BJT3JDPT Notas: dados de 1996 para Bangladesh, Benin, Nepal, Tanzânia, Zâmbia e dados de 1997–1998 para a Nicarágua não foram incluídos. A média global dos quintis de riqueza é uma média simples e não considera as diferenças nos grupos entre os países. Fonte: Adaptado de UN Millennium Project 2006 pode acontecer sem um investimento adequado no planeamento familiar, particularmente para pessoas pobres, as quais tendem a ter taxas mais altas de necessidades não atendidas (vide Figura 1). Os PRSPs possuem enorme potencial para a saúde reprodutiva: eles podem elevar a consciência sobre a importância dos resultados de saúde para a redução da pobreza e do crescimento económico, dar ao sector de saúde apoio para pleitear maior alocação de recursos no orçamento e atrair novos recursos e estimular o apoio de doadores para a saúde (WHO 2005a). 7 Atendendo às necessidades: Fortalecendo programas de planeamento familiar O foco permanece sobre a pobreza durante a reunião da Cimeira do Milénio (Millennium Summit), em 2000, que reuniu líderes mundiais para produzir um referencial comum para as prioridades do desenvolvimento internacional e estabeleceu trabalhos para as Nações Unidas no século vinte e um. A reunião produziu uma série de oito metas de desenvolvimento no milénio (ODMs), excluindo notadamente a meta da CIPD sobre acesso universal à informação e assistência à saúde reprodutiva (Bernstein 2005, Crossette 2005). O plaCinco objectivos-chave para programas neamento familiar e a saúde reprodutiva nacionais de planeamento familiar contribuem, direta ou indiretamente, Agências internacionais de planeamento familiar para alcançar cada uma das ODMs geralmente aceitam que existem cinco metas ligadas (Singh et al. 2003), que são: ao sucesso de programas nacionais de planeamento • Erradicar a pobreza extrema e a fome. familiar. Primeiro, os programas devem proporcionar pleno acesso a uma variedade de métodos contracep• Alcançar educação primária unitivos de modo que os casais e individualidades possam versal. ter acesso ao método que melhor se adapte às suas • Promover a equidade de género e necessidades. Segundo, os programas devem satisfazer fortalecer as mulheres. necessidades não atendidas e a intenção de uso de um • Reduzir a mortalidade infantil método de modo que aqueles que desejam utilizar um • Melhorar a saúde materna. método possam alcançar este objectivo. Terceiro, os • Combater VIH/SIDA, malária e programas nacionais de planeamento familiar devem outras doenças. tentar alcançar níveis de fecundidade desejados, de modo que os casais possam ter o número de filhos • Garantir a sustentabilidade ambiental. que desejam. Quarto, os países devem trabalhar para • Desenvolver uma parceria global atingir seu nível desejado de reposição da fecundidade, para o desenvolvimento. visando a estabilidade da população. Finalmente, os O relatório de progresso de cinco programas nacionais devem trabalhar para atingir as anos do Projeto Milénio sobre as ODMs Metas de Desenvolvimento do Milénio e o Programa reconheceu especialmente a interação de Acção do Cairo na tentativa de finalmente reduzir a entre crescimento da população e pobrepobreza, melhorar a saúde e promover a paz, os direitos za; dinâmica de população e alterações humanos, a equidade de género e a sustentabilidade climáticas; direitos reprodutivos e equiambiental (Ross et al. 2005). dade de género; e saúde reprodutiva e o bem-estar de mães, bebés e pessoas em risco para VIH/SIDA (UN Millennium Project 2005a). De facto, algumas equipas de trabalho do Projeto Milénio recomendaram indicadores adicionais, que abordam directamente o planeamento familiar e a saúde reprodutiva (UN Millennium Project 2005b, Sinding 2005). A defesa do planeamento familiar e saúde reprodutiva deve continuar a operar em nível internacional e nacional para tornar a saúde reprodutiva parte da agenda das ODMs e uma prioridade política e programática (Basu 2005). 8 Parte 1: Delineando o desafio Benefícios do planejamento familiar Saúde De acordo com as estimativas da Organização Mundial de Saúde (WHO) de 2001, os problemas de saúde reprodutiva e sexual são responsáveis por 18 por cento da carga com doenças e 32 por cento da carga para mulheres em idade reprodutiva (15 a 44 anos de idade) em todo o mundo (WHO 2001). A cada ano cerca de 50 milhões de mulheres adoecem devido a problemas relacionados com a gravidez e o parto, e mais de 529.000 morrem (WHO 2005a). Utilizando o planeamento familiar para prevenir gravidez indesejada e de alto-risco e para aumentar o intervalo entre os nascimentos, as mulheres podem reduzir substancialmente o risco de mortalidade e morbidade associadas às complicações da gravidez e parto (Norton 2005, WHO 1994). Além disso, quando os serviços de planeamento familiar são suficientes para atender à demanda crescente para contracepção, as taxas de aborto reduzem (Deschner e Cohen 2003). Uma análise recente calculou que o dinheiro gasto para prover serviços modernos de contracepção no mundo em desenvolvimento —7,1 bilhões de dólares em 2003 — previne 187 milhões de gravidezes não desejadas, 60 milhões de nascimentos não planejados, 105 milhões de abortos induzidos, 22 milhões de abortos espontâneos, 215.000 de mortes anuais relacionadas com a gravidez e a perda de 60 milhões de anos de vida potencial por incapacidade (DALYs*) — sendo 16 milhões para mulheres e 44 milhões para crianças (Singh et al. 2003). Em outras palavras, cada 33.000 dólares investidos no planeamento familiar evita uma morte materna. Um estudo do Banco Mundial feito em 1993 mostrou que num país africano típico, com altas taxas de mortalidade e fertilidade, o custo da prevenção de um único nascimento não planeado, através do planeamento familiar, foi de 368 dólares e a estimativa de economia para o governo foi de 440 dólares (Jamison et al. 1993). Um estudo feito no Vietname mostrou que, com o decorrer do tempo, cada dólar investido no planeamento familiar economizaria cerca de 8 em saúde, educação e outros serviços sociais (VCPSI and Futures Group 1997). A saúde de bebés e crianças também se favorece pela capacidade das mães espaçarem os nascimentos e de prevenir gravidez de alto risco. O menor intervalo entre gestações aumenta a probabilidade de bebés nascerem prematuramente, com baixo peso, pequenos para a idade gestacional, de morrerem na infância ou de sofrer de desnutrição (Norton 2005, Rutstein 2005, Zhu 2005). O baixo peso ao nascer e a mortalidade infantil também são mais prováveis em mães com menos de 18 anos ou mais de 35; há maior probabilidade de crianças apresentarem má-formações em mães com mais de 35 anos de idade. Os curtos intervalos entre nascimentos também prejudicam os irmãos mais velhos, porque reduzem o período de aleitamento (Marston and Cleland 2004). O uso de contraceptivos modernos no mundo em desenvolvimento previne 2,7 *DALY é uma medida de ganho em anos de vida, que avalia o número de anos de vida com saúde perdidos devido à morbidade e à mortalidade prematura, usando um sistema de coeficientes aplicados a idade e incapacidade. . 9 Atendendo às necessidades: Fortalecendo programas de planeamento familiar milhões de mortes de bebés anualmente, significando que cada 2.600 dólares investidos no planeamento familiar evita uma morte de bebé (Singh et al. 2003). Os programas de planeamento familiar podem prevenir doenças sexualmente transmissíveis (IST), incluindo VIH, promovendo o uso de preservativos masculinos e femininos para dupla protecção (Dehne and Snow 1999, WHO 2005b). Eles também podem ajudar na defesa contra a epidemia de SIDA, prevenindo gravidezes indesejadas entre mulheres infectadas com o VIH e, portanto, evitando a transmissão vertical do vírus (Gillespie 2004, Stover et al. 2004). Finalmente, os serviços de planeamento familiar podem proporcionar uma variedade de benefícios adicionais (vide Tabela 1). Direitos reprodutivos e equidade de género Os direitos universais humanos incluem a liberdade para decidir quando e quantos filhos se ter e o direito de alcançar os padrões de saúde reprodutiva e sexual mais altos possíveis. Os programas de planeamento familiar podem ajudar a alcançar estes direitos, permitindo que as pessoas espacem e evitem os nascimentos indesejados e previnam o VIH e outras IST (UNFPA 2005a). TABELA 1: Exemplos de benefícios médicos dos serviços de saúde sexual e reprodutiva Serviços Contraceptivos • Menores taxas de mortalidade infantil. • Diminuição do risco de anemia para as mães. • Maior tempo para aleitamento materno, melhorando a saúde e sobrevivência do bebé. Serviços de Saúde Materna A assistência pré-natal proporciona: • Educação e aconselhamento sobre comportamentos saudáveis, dieta e nutrição • Oportunidade para uma intervenção imediata em caso de complicações. • Oportunidade para a abordagem de condições existentes tais como hipertensão, anemia, malária, hepatite, tuberculose e doença cardiovascular. Previne gravidez de alto risco entre: • Adolescentes muito jovens. • Mulheres com idade a partir dos 30 anos. • Mulheres que tiveram muitos partos. • Mulheres com condições médicas pré-existentes.. A assistência obstétrica reduz a probabilidade e gravidade de: • Hemorragia. • Infecção. • Fístula obstétrica. • Incontinência urinária ou fecal. • Doença inflamatória pélvica. Previne abortos inseguros como resultado de gravidez indesejada, reduzindo assim: • Mortes maternas. • Enfermidades. • Infertilidade. As visitas pós-parto ajudam a: • Reduzir infecções. • Promover o aleitamento. • Melhorar a nutrição. Previne mortes de mães e bebés e de doenças resultantes de nascimentos indesejados. A assistência para complicações de aborto inseguro reduz a mortalidade e a gravidade de doenças subsequentes e promove o uso de contraceptivos. Facilita o rastreio para IST e outras questões de saúde. Fonte: Singh et al. 2003 10 Parte 1: Delineando o desafio O planeamento familiar também tem o potencial de melhorar a equidade de género (USAID IGWG e WHO 2005). Ele pode aumentar as oportunidades de educação, trabalho e vida das mulheres, ao prevenir gravidezes precoces, que forçam as adolescentes a abandonarem a escola, e permitir que as mulheres tenham famílias menores e mais saudáveis, que demandem menos do seu tempo e energia (UNFPA 2005a). Os programas de planeamento familiar e as complexas alterações sociais, também podem desafiar os papéis e dinâmicas tradicionais de género e redefinir as normas sociais, por exemplo, por aceitar o direito da mulher se recusar ao acto sexual e por ajudar os casais a discutirem e escolherem juntos o método de contracepção (Jacobson 2000). Benefícios económicos Menor número de filhos e filhos mais saudáveis reduz o custo económico das famílias pobres, e permite que elas invistam mais na assistência e educação de cada criança, portanto ajuda a quebrar o ciclo da pobreza (UNFPA 2005a, WHO 1994). Investir no planeamento familiar também abre uma janela de oportunidades para um crescimento económico mais rápido nas nações como um todo, pela redução da fertilidade e mudando a estrutura de idade da população e a razão de dependência. Conforme cresce o número de trabalhadores em relação ao número de crianças que eles precisam sustentar, as economias e os investimentos podem aumentar. Os países que procuram ter políticas sociais e económicas consistentes podem expressar estes ganhos económicos em padrão de vida melhor e baixo nível de pobreza (Bloom et al. 2003, Merrick 2002). De acordo com uma análise recente, abrir esta janela demográfica poderia diminuir taxas de pobreza para 14 por cento, em países em desenvolvimento, entre 2000 e 2015 (Mason and Lee 2004). O investimento no planeamento familiar também reduz os custos de serviços sociais como, por exemplo, reduzindo o número de crianças que frequentam escolas e o de gestantes saudáveis que buscam os serviços de pré-natal e parto. Dependendo de quais serviços sociais são oferecidos, cada dólar gasto no planeamento familiar pode economizar, com gastos administrativos, até 31 dólares em saúde, educação, alimentação, moradia, água, esgoto, e similares (Singh et al. 2003). O crescimento mais lento da população também reduz a pressão de demanda para recursos naturais limitados, incluindo água potável e terra cultivável (Singh et al. 2003). Prevalência contraceptiva Níveis e tendências A prevalência contraceptiva no mundo em desenvolvimento aumentou drasticamente nas últimas quatro décadas, de aproximadamente 10 por cento das mulheres, em 1965, para cerca de 60 por cento, em 2000 (Ross e Stover 2004). Na Ásia e na América Latina, a prevalência contraceptiva actual é de 71 e 64 por cento, respectivamente, indicando que a maior parte da demanda para contracepção foi atendida. Como mostra a Figura 2, na página 12, o uso de contraceptivos na África é baixo. A 11 Atendendo às necessidades: Fortalecendo programas de planeamento familiar prevalência contraceptiva aumentou mais lentamente na África, onde o uso de todos os métodos atinge 27 por cento e a maioria dos casais utiliza mais o planeamento familiar para espaçar do que para evitar nascimentos (UN DESA 2004). As médias globais regionais ocultam grandes variações entre e dentro dos países. Por exemplo, a prevalência contraceptiva na América Latina e no Caribe varia de meros 28 por cento, no Haiti, a altos 77 por cento no Brasil e Colômbia (Ashford 2003). Na Etiópia e Nigéria (sendo este o nono país mais populoso do mundo), o uso de qualquer método contraceptivo atinge 8 e 15 por cento, respectivamente. Dentro dos países, a prevalência contraceptiva pode ser muitas vezes mais alta na área urbana do que na rural (Curtis e Neitzel 1996) e também tende a ser mais baixa entre pobres do que entre aqueles em melhor situação económica (vide seção “Atingindo a pobreza,” página 41). Apesar do aumento da prevalência contraceptiva dos últimos 40 anos, muitas mulheres permanecem desprotegidas contra gravidezes indesejadas. Estima-se que 29 por cento das mulheres entre 15 a 49 anos, no mundo em desenvolvimento, têm necessidade não atendida de contracepção moderna, isto é, são sexualmente activas, podem es gi õ Re Re gi õ es ma Mu is nd m e d es e o nv no o lv sd i da es e s nv o lv i da s Áfr ica Or ien Áfr t al ic a No Ce rd e ntr ste al da Su Áfr de ste ica da Áfr Áfr ica ic a Oc ide nta l Ás ia O r Ás ia C ienta l en t ro Su -Su de ste l da Ás Á ia O si ci d a en t al L No este E rd e u ro ste pe u da Su de ste Europ da a Eu Eu ro p rop aO a ci d en t al Ca raí Am ba éri s ca C Am en tr é Am r i c a d a l éri oS ca ul Au Me do s tr lan No á lia rte ési /N a/ ov Mi aZ cro e lâ né nd sia ia /P o li né sia Percentagem FIGURA 2: Percentagem de mulheres casadas em idade reprodutiva actualmente em uso de contraceptivos, por região Métodos modernos Fonte: Adaptado de UN DESA 2004 12 Métodos tradicionais Parte 1: Delineando o desafio engravidar, e não desejam ter filhos agora, nem nos próximos dois anos — mas não estão utilizando nenhum método moderno de contracepção. A maioria (20%) não está utilizando nenhuma forma de contracepção, enquanto outras (9%) estão utilizando métodos tradicionais, tais como abstinência periódica ou coito interrompido, que apresentam altas taxas de insucesso (Singh et al. 2003). Os níveis de necessidade não atendida são mais altos na África Sub-Saariana (63 %) e estão, na verdade, aumentando, devido ao crescente interesse em limitar o tamanho da família (Singh et al. 2003). Determinantes A decisão das pessoas em adoptar um método contraceptivo está baseada, principalmente, no facto de querer, ou não, ter outro filho. O interesse no planeamento familiar aumentou no mesmo ritmo em que reduziu o tamanho desejado de família em todo o mundo — embora tenha reduzido menos na África do que em outro lugar (Ross e Stover 2004). As decisões também são profundamente influenciadas pelo apoio ou oposição ao planeamento familiar por parte da família, amigos e da comunidade ao planeamento familiar (Ashford 2003, UNFPA 2004). Uma vez que os casais decidam adiar ou evitar outro nascimento, sua capacidade de tomar decisão depende da disponibilidade dos serviços, o que tem múltiplas dimensões (Bertrand et al. 1995). A acessibilidade geográfica refere-se à localização física dos serviços e às dificuldades que os utilizadores possam vir a enfrentar para chegar a eles. A acessibilidade económica refere-se à capacidade de sustentação financeira dos serviços, suprimentos e transporte. A acessibilidade admi-nistrativa refere-se às regras e regulamentos que possam inibir o uso de contraceptivos, tais como horário clínico limitado ou critério inadequado de elegibilidade, baseado na idade, paridade e consentimento do companheiro. A acessibilidade cognitiva está relacionada ao conhecimento do cliente sobre que métodos estão disponíveis e onde. A acessibilidade psico-social refere-se a factores pessoais e sociais que possam dissuadir um cliente potencial de buscar serviços, tais como o estigma social associado à busca de serviços ou o medo de um exame pélvico. A qualidade da assistência também influencia a tomada de decisão contraceptiva. O bom atendimento pode ajudar os clientes potenciais do planeamento familiar a buscarem adoptar e/ou continuar a utilizar a contracepção—e a expandir aos outros (Bertrand et al. 1995). A qualidade do atendimento depende da oferta, aos utilizadores, de uma ampla variedade de métodos, fornecendo informação precisa e completa, assegurando competência técnica aos profissionais, melhorando o relacionamento interpessoal entre profissionais e clientes, proporcionando follow-up e continuidade, e oferecendo uma gama adequada de serviços (Bruce 1990). Estabelecendo os objectivos do programa O planeamento de um programa para aumentar a prevalência contraceptiva requer, em primeiro lugar, uma avaliação cuidadosa dos níveis atuais de prevalência contraceptiva e a gama completa de factores que determinam estes níveis. Apenas com uma avaliação deste tipo em mãos, os gestores podem desenvolver intervenções efectivas 13 Atendendo às necessidades: Fortalecendo programas de planeamento familiar que respondam à situação desta ordem e atendam à oferta e à demanda por serviços de planeamento familiar. Por exemplo, o programa de planeamento familiar no Malawi aumentou a prevalência do uso de contraceptivos modernos de 7 por cento, em 1992, para 26 por cento, em 2000, apesar da grande quantidade de obstáculos — incluindo a população predominantemente rural, altos níveis de pobreza, baixa escolaridade, carência de profissionais de saúde e barreiras culturais e religiosas ao uso de contraceptivos (Solo et al. 2005). Após avaliar as barreiras do uso de contraceptivo, os gestores decidiram aumentar a acessibilidade e qualidade de serviços: oferecer serviços diários de planeamento familiar em mais locais; remover exigências desnecessárias em função de idade, paridade e consentimento do cônjuge, a partir de políticas e directrizes; treino de pessoal menos graduado para proporcionar métodos como Depo-Provera e Dispositivo Intra-Uterino (DIU); estabelecer um programa de prestação de serviços comunitários para servir áreas rurais; diminuir ou eliminar cobranças de utilizadores; e introduzir um sistema efectivo de aquisição de insumos. Ao mesmo tempo, os gestores visam aumentar a demanda pelo planeamento familiar através de distribuição por agentes comunitários, para normalizar a prática do planeamento familiar em áreas rurais e inundando o país com comunicações informativas e motivadoras. Muitas das necessidades dos gestores de informação para estabelecer prioridades podem já estar disponíveis, mas, onde não houver, os gestores podem precisar realizar suas próprias avaliações. Estudos, como Pesquisas Demográficas e de Saúde (DHS), podem oferecer informação sobre os níveis e tendências da prevalência contraceptiva por região, residência urbano/rurais e características das mulheres, como escolaridade e idade. Com esta informação, os gestores podem identificar onde as taxas são baixas e os aumentos limitados, por exemplo, em áreas rurais ou de baixa renda, e concentrar esforços nestes grupos. É importante observar a toma continuada do contraceptivo, assim como as taxas de adesão. Muitas utentes de contraceptivos iniciam e param os métodos por causa de alguma insatisfação com o método ou com os serviços, em um processo que é frustrante para os utentes, gera desperdício para os programas, e é prejudicial à prevalência contraceptiva (Ross and Stover 2004). Em muitas áreas da Ásia e América Latina, por exemplo, onde a maior parte da demanda para contracepção já foi atendida, ajudar as pessoas a adoptar um método é menos importante para a prevalência contraceptiva do que ajudá-las a utilizar o método correta e continuamente, após a decisão ter sido tomada. Os gestores também precisam de informação sobre: (1) as forças e deficiências do sistema de fornecimento, que podem afectar o acesso e a qualidade dos serviços de planeamento familiar; (2) o conhecimento e as atitudes dos utilizadores de planeamento familiar e a extensa comunidade, que pode afectar a tomada de decisão contraceptiva do cliente; e (3) o ambiente político, que pode afectar as situações citadas. Os gestores podem observar o inquérito desenvolvido para a Classificação de Esforços do Programa de Planeamento Familiar, que mede os esforços do programa nas seguintes áreas: política e estadiamento de atividades, serviços e actividades afins, avaliação e manutenção de registos, e disponibilidade de método e acessibilidade (Ross and Stover 2001). Fontes abrangentes de dados incluem: 14 Parte 1: Delineando o desafio • Análise situacional, com o envio de equipas de pesquisa a pontos seleccionados de prestação de serviços para inspeccionar instalações, observar consultas, e entrevistar utilizadores, profissionais e gestores (Population Council 1998). • Métodos para solução de problemas, desenvolvidos por iniciativas de melhora de qualidade, como COPE® (Cliente Orientado, Profissional Eficiente), que fornece à equipa clínica, ferramentas simples para avaliar a prestação de serviços, entrevista utentes e desenvolve um plano de acção para tratar problemas (EngenderHealth 2003a). • Avaliação da Prestação de Serviços (SPA), uma pesquisa que envia equipas de colecta de dados a uma amostra nacional representativa de serviços para aplicação de checklists, observação dos profissionais durante as actividades e entrevistas a profissionais e utentes (MEASURE DHS 2005) Os gestores também devem procurar outras pesquisas de planeamento familiar e avaliações realizadas no país, talvez como parte de uma campanha de comunicação para mudança de comportamento ou projecto de pesquisa de operações. Se poucos ou nenhum dado deste tipo estiverem disponíveis, os gestores podem realizar uma avaliação rápida da situação conversando com os integrantes da equipa com experiência em administração, prestação de serviços, e operações diárias; entrevistando utentes; observando a prestação de serviços; e inspeccionando suprimentos e equipamentos. Os gestores devem analisar todas as informações que reuniram para determinar que factores oferecem maior obstáculo ao uso de contraceptivos e, então, planear intervenções para enfrentá-los. Por exemplo, se altos custos desencorajam os clientes com menos recursos financeiros para o uso da contracepção, os gestores podem se concentrar em subsídios governamentais mais direccionados a esta clientela, ou no acréscimo do planeamento familiar aos benefícios oferecidos pelos planos de saúde comunitários. Alternativamente, se altas taxas de descontinuidade contraceptiva, impulsionadas por mitos e medos de efeitos colaterais, desempenharem um papel importante, reduzindo a prevalência contraceptiva, os gestores devem concentrar-se sobre a melhora da qualidade do aconselhamento. 15