JC Relations - Jewish

Transcrição

JC Relations - Jewish
Jewish-Christian Relations
Insights and Issues in the ongoing Jewish-Christian Dialogue
Zwanger, Helmut | 03.03.2004
Os Salmos
Helmut Zwanger
Shalom Ben-Chorin, o grande preparador de caminho para o diálogo judaico-cristão, interveio, em 19
de outubro de 1994 em Jerusalém, apaixonadamente para o que se tem em comum:
Queremos procurar na Bíblia o que temos em comum, para nos aproximar uns aos outros.
Não é que os Salmos são o livro de oração de judeus e cristãos? Os salmos não deveriam ser
rezados como são - exatamente sem o final trinitário? Porquê se precisa enfatizar o que
separa exatamente neste lugar? Deixai fora o que se assemelha à cobra! Não provocai a
suspeita de como se as Igrejas permaneçam inquebrantavelmente na tradição da
deserdação! Tratai cuidadosamente as feridas que a Cristandade causou aos judeus!
No novo livro evangélico de cantos se reza: „A oração cristã de salmos finaliza com o louvor: Glória
ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, como era no início, agora e sempre de eternidade em
eternidade. Amem“ (Edição wurtembergense, 1277; análogo na edição bavária, 1266). Com a
doxologia trinitária, a oração de salmos praticada nas Igrejas está de fato muito longe da oração dos
salmos duma oração comum de Igreja e Sinagoga.
O quê é uma oração cristã dos Salmos? Há uma oração de salmos não-cristã ou ainda uma oração
cristã dos salmos? Os Salmos devem primeiro ser „batizados“ como o exigiu Herbert Goltzen?
(Herbert Goltzen, Leiturgia III, 1956). Evidentemente, a oração de Salmos, com a doxologia, deve ser
cristianizada, quer dizer „batizada“. Na proposta na introdução da oração dos Salmos, depôs-se, no
Sínodo do País de Wurtemberga, para o júri a seguinte tomada de posição:
Especialmente nos alegramos, porque a reza de Salmos, ou do Salmo, agora está sendo
terminado com o Gloria Patri, porque essa mais bela forma, cristãmente comum, da
adoração do Deus Triuno, a qual, ao mesmo tempo, representa uma cristianização dos
Salmos antigotestamentários, […] para assim dizer, estava erma. (9º Sínodo Evangélica do
País, 37, sessão de 26.5.1982, 1517).
Atrás desse voto, está uma reivindicação teológica, como formulada, por exemplo, exemplarmente
por Peter Stuhlmacher:
Conforme a concepção neotestamentária, a profissão do Cristo à Direita de Deus é
necessária para judeus e pagãos à salvação, porque nenhuma pessoa humana pode sem ele
participar no domínio eterno de Deus (Lebendige Gemeinde [Comunidade Viva] 2/1999,5).
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A questão de se os Salmos precisam ser batizados, mostra uma teologia de delimitação, de
despropriação, de sobrepujar. Erich Zenger fala duma „dejudiazação“ fatal dos Salmos. Erich
Zenger, Das erste Testament. Die jüdische Bibel und die Christen [O Primeiro Testamento. A Bíblia
judaica e os cristãos], 1998,38ss. Cf. Também Erhard S. Gerstenberger, Christliche Psalmlektüre?
[Leitura Cristã dos Salmos?] em: Ja und Nein [Sim e Não] 1998, 43.
Até uma voz tão moderada como a de Gottfried Vogt descreve a oração „cristã“ dos Salmos com
categorias imperiais:
Com isso, o salmo antigotestamentário está sendo interpretado a partir de experiência de
Deus neotestamentária e tomado em possessão pela comunidade de Jesus Cristo, mas assim
que, com isso, a conexão com a comunidade da Antiga Aliança está sendo declarada e
praticada (H.-C. Schmidt-Lauber/M. Seitz (ed.), Der Gottesdienst [O Culto de Deus], 1992,
71).
Quando salmos estiverem sendo agarrados (batizados) com a doxologia trinitária, acontece querendo ou não querendo - uma desapropriação cristológica.
Temos o nosso credo cristológico com uma tal porcentagem de 150 por centos de
absolutismo, que nele não sobra mais nenhum lugar para o Judaísmo […] Pois isso parece
claro: a cristologia não quer, originalmente, outra coisa senão esclarecer o Deus de Israel,
não o revogar, mas sim explicar. Isso precisa estar no centro duma cristologia depois de
Auschwitz (Tiemo R. Peters em: J. Mannemann/J. B. Metz [ed.], Christologie nach Auschwitz
[Cristologia depois de Auschwitz], 1998,2s..
A doxologia trinitária
A doxologia trinitária tradicional nasceu na briga ariana. Desde o concílio de Nicéia e do NiceanoConstantinopolitano no século 4, respectivamente desde os dias de Cassiano no início do século 5, a
doxologia trinitária no fim de cada salmo entrou em uso. No contexto da discussão teológica daquele
tempo, tratava-se da inculturação na filosofia contemporânea, de aquisição e limitação. A fidelidade
ao pai Israel (Jr 31,9; Is 63,16) não mais chega a estar em vista na Igreja primitiva. No impulso da
teologia, que se iniciava, da deserdação, o pai Israel e o pai de Jesus Cristo perdem a sua conexão.
Visto ao todo, a “mudança constantina” significa aumento do antijudaismo teológico e prático. O
entendimento inclusivo da comunidade neotestamentária vira uma que elimina o modo de crer
judaico e o cobra na deserdação. Berndt Schaller constata para essa época:
O antagonismo cristão contra o Judaísmo ganha, deste modo, traços eliminatórios, tendência
que se fortalece ainda mais no futuro (Berndt Schaller, RGG, 4ª edição, coluna 563).
Karl Josef Kuschel conclui:
Israel (chega a ser) considerado como uma grandeza ultrapassada na história da salvação,
substituída pela Igreja e rejeitada por Deus […]. E ao apagamento na história da salvação se
seguiu, séculos depois, o físico (Karl Josef Kuschel, Streit um Abraham [Briga ao redor de
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Abraão]
[anotação 13]
, 154, 167).
Nesse desenvolvimento histórico ao antijudaismo, a doxologia trinitária foi incluída e, com isso, a
oração dos Salmos. Conseqüentemente, H. Goltzen formula: “Israel tinha de ceder os Salmos à
Igreja” (Herbert Goltzen, Leiturgia III, 112).
Há tempo que não faltam tentativas de pôr essa carga em dia. Fundamental era a resolução da
Igreja da Renânia:
Durante séculos, a palavra ‘nova’ na interpretação da Bíblia se dirigia contra o povo judaico:
A aliança nova chegou a ser oposição à aliança antiga, o povo novo como substituição do
povo antigo de Deus. Essa desconsideração da escolha permanente de Israel e a condenação
deste à não-existência caracterizavam, até hoje, continuamente a teologia cristã, a pregação
eclesial e o agir eclesial. Por isso, fizemo-nos culpados da extinção física do povo judaico
(orientação para os membros do Sínodo nº 39, Düsseldorf 1985, 10).
A norma é a fidelidade de Deus. Esse Deus se revela como Pai de Israel, como a palavra: “Estarei
contigo” (Ex 3,12), como Pai de Jesus Cristo, como Pai de Abraão. Nunca se poderá aproveitar o um
contra o outro. Ao contrário: No Pai de Abraão começa essa história da fidelidade de Deus: Em ti
serão abençoadas todas as gerações na terra” (Gn 12,3). Portanto é conseqüente quando a Segunda
Reunião Ecumênica de 1996 em Erfurt, sob o título “Relação da Igreja ao Judaísmo - Superação do
anti-semitismo” confirmou:
Muitos textos e apresentações na longa tradição da doutrina eclesial, anúncio, liturgia e arte
contêm ainda atitudes antijudaicas em cobram tradição judaica Israel à moda de deserdar
Israel para a Igreja (p. ex. […] a interpretação cristológica dos Salmos). Textos de oração e
de canto devem ser liberados de antijudaismos. Onde formulações cristológicas ou trinitárias
contiverem antijudaismos, estes têm de ser reconhecidos e nomeados.
A concatenação de salmos e doxologia trinitária dever ser, não somente nomeada, mas também
mudada nas Igrejas.
As conseqüências para a oração dos Salmos
No princípio está o conhecimento fundamental de que a fé judaica não é deficitária. O Pai de Israel, o
Pai de Jesus Cristo, o Pai de Abraão anda com a Sinagoga, com a Igreja e com todos os povos o Seu
caminho. A Igreja da Renânia já assumiu e resolveu isso faz muito tempo:
Confessemo-nos agradecidos aos escritos (Lc 24,32.45; 1Cor 15,3s.), ao nosso antigo
Testamento, como base comum para fé e agir de judeus e cristãos (4,2). Cremos a escolha
permanente do povo judaico como povo de Deus e conhecemos que a Igreja, por Jesus
Cristo, foi assumida para dentro da aliança de Deus com o seu povo. (4,4). (Orientação para
membros do Sínodo do País, 9-11 [anotação 17]; cf. antisemitismo, shoáh e Igreja. Estudo dum
círculo teológico, em: FrRu 6 (1999) 262-279.)
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O que Gerhard von Rad escreve sobre o Antigo Testamento vale, provavelmente, para todos os
testemunhos de fé, justamente para Cristo:
Não há, portanto, nenhuma interpretação normativa do antigo Testamento. Cada tempo
precisa tentar a ouvir, a partir do seu conhecimento e das suas necessidades, a palavra da
Antiga Aliança (Gerhard von Rad, Theologie des Alten Testaments, vol. 2, 4ª edição 1965,
436).
Bernd Janakowski vê nos Salmos uma escola de fé:
Se, como cristãos, lemos e rezamos os Salmos de Israel, não só deixamos valer a história da
revelação e fé neles testemunhada como se referindo a nós, entramos também na escola da
língua de fé, a qual sempre nos ensina mais uma vez de novo quem é Deus e o que Ele faz. E
que nos diz quem somos nós e aonde vamos (Bernd Janowski em: Erich Zenger (ed.), Der
Psalter im Judentum und Christentum [O Saltério no Judaísmo e no Cristianismo] Freiburg
1998, 412. Cf. também a recensão a: Bernd Janakowski, Konfliktgespräche mit Gott [Conversas de
Conflito com Deus]
, 57-58, no mesmo caderno.
Para a reza dos Salmos isso pode significar que a Igreja, na largura da sua praxe ritual, arrisca-se em
novos caminhos. Sinagoga e Igreja estão juntas na mira.
E quando ela (a Igreja) reza e canta os Salmos de Israel, ela não pode fazer isso como as
suas orações senão o fizer num parentesco aprovador messiânico com o povo judaico (E.
Zenger, Das erste Testament [O primeiro Testamento], anotação 5, 205).
A doxologia trinitária no fim do salmo se gastou historicamente. Convém notar que a maior Igreja
luterana nos EUA, a “Evangelical Lutheran Church in America”, realizou isso desde 1078, com a
introdução do “Lutheran Book of Worship”. Em vez de com doxologias trinitárias os Salmos, por
exemplo, são engastados numa antífona de salmo (Manual on the Liturgy. Lutheran Book of Worship,
Augsburg Publishing House, Minneapolis, Minnesota, 20).
No fundo havia, provavelmente, o pôr em dia o antisemitismo nos Estados Unidos. Olhando para as
conseqüências concretas estamos, na Alemanha, ainda no meio dessas controvérsias. A dica
formulada por Dietrich Bonhoeffer: "Só quem gritar pelos judeus, poderá também cantar
gregoriano”, devia soar no contexto presente: Só quem testemunhar a fidelidade de Deus a Israel,
poderá rezar os Salmos. Por uma renúncia cônscia da doxologia trinitária em conexão com os
Salmos, qualquer aparência de apropriação cristianizante estaria sendo evitada. Ela poderia ser
substituída por responsórios do salmo 43 ou do salmo 36: “Contigo está a fonte da vida, e na Tua luz
vemos a luz.”
Dr. Helmut Zwanger, pároco na Martinskirche [igreja de Martinho] em Tübingen, Alemanha,
doutorado com Hartmut Gese e Eberhard Jüngel sobre Karl Barth. Em 1994, 1998 e 2000 publicou a
sua “Trilogia de Israel” em forma de poemas.
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Tradução Pedro von Werden SJ. Texto alemão: Psalmen beten
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