estratégia - Editora Nobel
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ESTRATÉGIA Nosso objetivo é publicar obras com qualidade editorial e gráfica. Para expressar suas sugestões, dúvidas, críticas e eventuais reclamações entre em contato conosco. CENTRAL DE ATENDIMENTO AO CONSUMIDOR Rua Pedroso Alvarenga, 1046 • 9o andar • 04531-004 • São Paulo • SP Fone: (11) 3706-1466 • Fax: (11) 3706-1462 www.editoranobel.com.br [email protected] É PROIBIDA A REPRODUÇÃO Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida, copiada, transcrita ou mesmo transmitida por meios eletrônicos ou gravações, sem a permissão, por escrito, do editor. Os infratores serão punidos de acordo com a Lei no 9.610/98. Este livro é fruto do trabalho do autor e de toda uma equipe editorial. Por favor, respeite nosso trabalho: não faça cópias. ESTRATÉGIA ESTRATÉGIA As regras do jogo Como os melhores estrategistas do mundo alcançaram o topo Livro com dicas de ações, motivações e administração Publicado originalmente sob o título Strategy Power Plays Copyright © 2007 by McGraw-Hill Companies, Inc. All rights reserved. Direitos da edição brasileira copyright © 2007 de Nobel Franquias S.A. Todos os direitos reservados. (Nobel é um selo editorial da Nobel Franquias S.A.) Publicado em 2008 Tradução Carlos Henrique França Rangel Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Estratégia: as regras do jogo – como os melhores estrategistas do mundo alcançaram o topo / tradução Carlos Henrique França Rangel. – São Paulo: Nobel, 2008. Título original Strategy power plays. Vários autores. Bibliografia ISBN 978-85-213-1412-7 1. Administração de empresas 2. Planejamento estratégico 3. Planejamento estratégico – Estudo de casos 4. Sucesso em negócios I. Businessweek 08-85-211 / CDD-658.4012 Índice para catálogo sistemático: 1. Planejamento estratégico: Administração de empresas 658.4012 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 por Stephen J. Adler, Editor-chefe da BusinessWeek 7 BRIAN ROBERTS: A Comcast consegue voar? 9 JEFF BEZOS: Reprogramando a Amazon 23 JOHN CHAMBERS: O retorno da Cisco 33 MICHAEL DELL: Os segredos por trás da expansão da Dell 47 MICHAEL ESKEW: UPS e a nova sacola do Big Brown 61 EDWARD ZANDER: Reinventado a Motorola 69 SAM PALMISANO: A IBM e a Nova Blue 75 YUN JONG YONG: O estilo Samsung 87 ARTHUR J. SULZBERGER: O New York Times e o futuro dos jornais 101 THOMAS J. USHER: Recuperando a U.S. Steel do ferro velho 115 ALAN MULALLY: Um plano para fazer a Ford voar 127 BRIAN FRANCE: O príncipe da Nascar 137 EDOUARD MICHELIN: Levando a Michelin a novas alturas 149 KEN CHENAULT: Ataque! Na American Express 157 TENDÊNCIAS: O profeta da administração C. K. Prahalad está mudando o modo de pensar dos CEOS 171 FONTES 179 COLABORADORES 181 6 INTROD INTRODUÇÃO Baseados nas conversas que temos diariamente com executivos sérios como você, sabemos que há uma enorme necessidade de notícias, informações e insights que sejam precisos, confiáveis e imparciais o suficiente para que sirvam de base para a tomada de decisões. A BusinessWeek é reconhecida por isso e estamos sempre tentando aperfeiçoar esse trabalho. Em colaboração com a McGraw-Hill Professional Books, selecionamos os melhores profissionais do mercado – os principais executivos, os estrategistas e os consultores de marketing – para analisar como você pode usar as melhores práticas e as melhores idéias desses especialistas em suas atividades. Cada capítulo é retirado de um estudo de caso da BusinessWeek e complementado com um plano de aula para articular os principais conceitos do estudo de caso, grande jogadas (táticas práticas que você pode adaptar às suas próprias situações) e estratégias “Manhã de segunda-feira” para ajudá-lo a se manter concentrado no sucesso e a colocar as melhores práticas em ação. Além disso, uma apresentação com slides disponível para download e outros recursos online permitirão que você compartilhe essas aulas com colegas e membros da equipe, assim como elaborar novas idéias e estratégias, estarão disponíveis para os leitores em http://businessweek.com/powerplays. A estratégia de Jeff Bezos para transformar a varejista da internet Amazon em uma plataforma para o e-comércio global usa seus recursos e tecnologia líderes da web. John Chambers transformou a extravagante Cisco desmantelando sua cultura caubói. Novos insights de como Michael Dell comanda seu negócio devem causar ansiedade entre CEOs que estão na mira de suas metas de expansão. Na IBM, a estratégia de Sam Palmisano de transformar a IBM de uma prestadora de serviços de tecnologia em uma especialista em remodelação para corporações mudou o modo de companhias de se conceber e se administrar. O modelo de negócios de navegar contra a corrente – e vencedor – da Samsung dá ênfase a hardware e dispositivos em vez de software e conteúdo. 7 ESTRATÉGIA A UPS tenta reinventar-se como uma fonte de logística para empresas de todos os tipos. A consolidação dá às siderúrgicas americanas o peso suficiente para poder competir globalmente, um renascimento contado por Thomas J. Usher da U. S. Steel. A transformação da Michelin é narrada por um herdeiro da família Edouard Michelin, que virou de pernas para o ar uma empresa extremamente tradicional antes de sua trágica morte em maio de 2006. O publisher Arthur Sulzberger Jr. do New York Times tem uma estratégia ambiciosa para superar o lucro em queda, as conseqüências de um escândalo e as transformações do mundo da mídia. A família France, o patriarca Bill, o filho Brian e a filha Lesa comandam a franquia de stock car NASCA em meio a queixas crescentes de que ela está dominando o esporte. E o CEO da American Express, Ken Chenault, com o apoio de uma norma antitruste, tem uma estratégia ousada para enfrentar a Visa e a MasterCard. Uma observação sobre estes estudos de caso: foram retirados de reportagens da BusinessWeek e, portanto, são “instantâneos no tempo”. Todos os esforços foram despendidos para atualizá-los, mas devido à natureza de reportagens jornalísticas, alguns dos personagens e das circunstâncias sobre os quais as matérias foram baseadas mudaram desde que os artigos foram escritos. De qualquer forma, acreditamos que as linhas de ação de cada caso resistiram ao teste do tempo e fornecerão lições valiosas, mesmo em retrospectiva. Mas as lições desses líderes são apenas os blocos construtores para suas próprias ações – idéias que você poderá colocar em prática na manhã de segunda-feira. Na BusinessWeek, diversas pessoas contribuíram com idéias e estudos de caso deste livro, incluindo Tom Lowry, Amy Barret Mark Hyman, Ronald Grover, Robert D. Hof, Peter Burrows, Andrew Park, Dean Foust, Roger O. Crockett, Spencer E. Ante, Cliff Edwards, Moon, Ihlwan, Pete Engardio, Anthony Bianco, John Rossant, Lauren Gard, Michael Arndt, David Welch, David, Kiley, Stanley Holmes, Christine Tierney, Ann Therese Palmer, Chester Dawson, Joann Muller, Mara Der Hovanesian e Diane Alford. Calista Chen nos forneceu comentários editoriais inestimáveis. Frank Comes, Joyce Barnathan, Christine Summerson e Bob Dowling desenvolveram a série com nossos colegas de nossa companhia irmã, McGraw-Hill Professional – Philip Ruppel, Lisa Lewin, Mary Glenn, Herb Schaffner e Ed Chupak. Nossos agradecimentos especiais a Ruth Mannino pela sua excelente orientação no design e na produção editorial. Stephen J. Adler Editor da revista BusinessWeek 8 1 PLANO DE AULA BRIAN ROBERTS: A COMCAST CONSEGUE VOAR? Agilizar as operações enquanto reúne as competências e culturas de duas empresas muito diferentes. JOGADOR Conheça Brian Roberts, o CEO da Comcast, cuja influência no mundo da mídia está crescendo. As companhias de mídia tendem a operar nos extremos: ou são imbatíveis ou despencam espetacularmente. Roberts, CEO da recentemente formada AT&T Comcast, está prestes a descobrir se a gigante da mídia consegue voar. Essa matéria de capa de Tom Lowry, com Amy Barrett e Ronald Grover analisa os desafios que o CEO Brian Roberts enfrenta. Preparar-se para o crescimento investindo em tecnologia que possibilite o fornecimento de serviços de alto valor. ESTRATÉGIA REUNINDO DUAS CULTURAS GIGANTES Você jamais imaginaria que Brian L. Roberts seria elevado para a elite da mídia. Em meados de novembro, sua companhia operadora de cabo deve fechar sua aquisição no valor de US$ 54 bilhões da AT&T Broadband, o maior negócio da indústria desde a fusão AOL Time Warner em 2001. Mas nesta noite do início de outubro, Roberts, com todos os seus 1,88 m está decididamente em uma posição nada glamorosa: ele está espremido no banco traseiro de uma van Ford Econoline, voltando para a Filadélfia depois de um longo dia de trabalho voluntário em nome de sua companhia. O executivo de 43 anos, vestindo uma calça jeans e uma camiseta preta da Comcast um número acima do seu tamanho, está literalmente na ponta do banco enquanto sua filha adolescente cochila ao lado dele. Vários executivos também dormem. Mas Roberts parece extremamente empolgado enquanto conta sua decisão de fazer uma oferta pelo gigantesco negócio de cabo da AT&T. “Você só tem uma chance de redefinir sua companhia e esta era a nossa”, ele diz. UM NEGOCIADOR DURO Roberts praticamente cresceu no negócio a cabo (seu pai, Ralph, fundou a Comcast em 1963) e ele tem uma reputação de ser um dos melhores operadores e negociadores mais duros do mercado, mas ele nunca enfrentou um desafio como esse. De fato, ninguém no setor jamais enfrentou algo dessa magnitude. A AT&T Comcast terá um tamanho e influência sem precedentes. Antes da fusão, ela contava com respeitáveis 8,5 milhões de clientes em quatro grandes cidades. Agora, 21 milhões de clientes em 17 das 20 principais cidades serão conectados ao seu sistema. Isso é quase o dobro do concorrente mais próximo, a Time Warner Cable. Colocando de outra forma, ela está em um de cada cinco lares americanos que possuem uma televisão. A AT&T Comcast pode gerar US$ 24 bilhões em 2003, mais do que a Time Warner e a Charter Communications juntas. De fato, tudo tem proporções crescentemente épicas para Roberts. Este ano, a companhia terá de atender quase o quádruplo de chamadas de atendimento ao cliente do que a Comcast no ano passado. O número de pessoas trabalhando para ele vai triplicar, chegando a mais de 55 mil. A dívida da AT&T Comcast será de US$ 30 bilhões, valor comparável ao de muitas nações. E este é um executivo que não gosta de viajar muito longe, pois não consegue chegar em casa à noite a tempo de ver seus filhos. Até dois anos atrás, ele ainda conduzia a reunião anual da Comcast na sala de jantar. Ainda mais desafiador para Roberts é o fato de que a AT&T Comcast será tão grande que vai certamente mudar a dinâmica do poder no negócio da 10 BRIAN ROBERTS mídia. Roberts, que gosta de dizer que seu programa favorito de TV é o especial da meia-noite no seu canal de compras QVC, será efetivamente o principal portal de entretenimento da nação. Pense nisso: ninguém terá mais controle sobre quais canais de TV, serviços de internet e filmes serão levados aos lares americanos – não Rupert Murdoch da News Corp., não Summer Redstone da Viacom Inc. EM BUSCA DA AUDIÊNCIA DE MASSA Desde o início, Roberts terá o poder para fazer o que os executivos da mídia querem fazer há anos: ditar que programas chegarão a um público de massa e a que preço. Uma questão crucial para as operadoras a cabo, por exemplo, é o custo da programação, sua principal despesa. Durante anos, empresas produtoras de conteúdo, como Walt Disney, News Corp. e Viacom dominaram o mercado. Isto está para mudar. Com seu vasto sistema, Roberts agora pode obter condições melhores e outras operadoras também vão se beneficiar. Os defensores do consumidor, no entanto, estão preocupados com o nível de dominação que Roberts terá sobre o setor. “A AT&T Comcast será a companhia de mídia mais poderosa dos Estados Unidos” diz Jeffrey Chester, diretor executivo do Center for Digital Democracy, um grupo de defesa dos interesses públicos que é um crítico ácido do acordo Comcast -AT&T. “Eles certamente determinarão o destino digital de todo o mundo.” O desengonçado nativo da Filadélfia talvez não esteja tramando para dominar o setor do cabo, mas ele tem reunido metodicamente as peças do que um dia pode se transformar num empreendimento de mídia completo. Ele agora tem os assinantes do serviço a cabo. E para surpresa de muita gente, ele pode estar a caminho de obter uma massa crítica de usuários de banda larga – Considerando a AT&T e Comcast juntos, um total de 324 mil assinantes contratou o serviço no terceiro trimestre. Com o passar dos anos, Roberts também acumulou uma modesta coleção de programação. Ele comprou grandes participações em diversos canais a cabo, incluindo QVC Inc. e E! Entertainment Television, assim como duas equipes esportivas da Filadélfia (não por vaidade, o despretensioso Roberts encontrou o primeiro armador All-Star do 76ers, Allen Iverson, apenas duas vezes em seis anos). Ainda assim, Roberts não fala sobre transformar a indústria; ele nem mesmo usa as palavras sinergia e convergência. Ele não é um grande visionário e nem mesmo tem certeza do que como ele precisa montar a programação, um negócio que já causou dores de cabeça a muitos. “Neste momento nós não temos definida claramente uma estratégia para conteúdo”, diz. Seu pronunciamento mais cósmico é algo assim: “Vamos nos transformar de uma compa- 11 ESTRATÉGIA GRANDE JOGADA Não deixe que a modéstia de Roberts engane você. Mesmo que sua participação nos canais a cabo e em times esportivos pareça pequena perto dos impérios da Disney e da Viacom, a Comcast está liderando o caminho. É claro que uma integração vertical adicional poderia permitir que outros distribuidores, como empresas de transmissão por satélite ou estações de rádio, reduzissem os custos de programação. Embora isso pareça simples, poucas empresas terão capacidade para ter sucesso tanto na produção quanto na distribuição. A Comcast é uma delas. nhia de cabo regional em um provedor de primeira ordem de entretenimento e serviços de comunicação para os lares das pessoas”. PEQUENOS PASSOS EM DIREÇÃO A GRANDES TRANSFORMAÇÕES Traduzindo, isso tudo significa que a AT&T Comcast pode ser a primeira companhia a se aproveitar da promessa há muito esperada da banda larga. Os consumidores estão começando a experimentar os benefícios – e, por enquanto, estão dispostos a pagar os custos – de conexões de internet mais velozes e contínuas. Com 21 milhões de clientes em potencial, a AT&T Comcast terá a escala para realmente ganhar dinheiro vendendo todos os serviços que podem ser oferecidos com eles, de vídeo em streaming a música e videogames. No entanto, se a banda larga não trouxer os resultados esperados, as perspectivas da empresa podem ser abaladas. Mesmo que Roberts consiga aproveitar as vantagens da banda larga, ele não poderia ter escolhido um pior momento para entrar em cena. Todas as companhias de mídia e cabo passam por momentos difíceis. As investigações sobre as práticas contábeis de várias empresas de cabo levantaram suspeitas sobre toda a indústria. As dúvidas sobre a qualidade dos lucros persistem. E o fato de as empresas terem gastado bilhões de dólares para atualizar seus sistemas e terem pouco resultado a mostrar depois de praticamente uma década desperta o medo de que as empresas de cabo podem seguir o mesmo caminho das empresas de telecomunicações. Enquanto isso, as empresas de serviços por satélite vêm se mostrando competidoras formidáveis aos monopólios regionais de fato das operadoras a cabo. Nos próximos cinco anos, o número de assinantes das empresas de serviços por satélite deve crescer 37%, chegando a 26 milhões, enquanto o número de lares com acesso a cabo, hoje por volta de 70 milhões, não deve apresentar nenhum crescimento, segundo a PricewaterhouseCoopers. E o colapso em outubro da fusão proposta dos serviços de satélite da DirectTV e 12 BRIAN ROBERTS da DishNetwork parece ter apenas incentivado o presidente e CEO da EchoStar Communications Corp., Charles W. Ergen, a buscar os assinantes de serviços de cabo com uma agressividade ainda maior. Qualquer um desses problemas já seria muito preocupante. Juntos, eles têm levado muitos investidores a abandonar o setor. As ações das empresas de cabo perderam 57% do seu valor no ano passado, comparado com um declínio de 15% do índice de ações das maiores 500 empresas da Standard & Poor. Apenas as ações da Comcast caíram 34%, chegando a US$ 25, desde que ela fechou o acordo com a AT&T em dezembro passado. “Os investidores querem ver dados concretos. Onde está o dinheiro? É simples assim”, diz o analista do setor, Alan Bezoza, da CIBC World Markets. Roberts tem ainda mais o que provar. Para começar, a AT&T Comcast terá sob seus ombros uma dívida gigantesca em uma economia fraca. Roberts terá de reassegurar investidores impacientes que ele conseguirá diminuí-la e recuperar o fluxo de caixa. Ao mesmo tempo, para impedir que os clientes descontentes da AT&T cortem suas assinaturas, ele precisa gastar cerca de US$ 2 bilhões nos próximos dois anos para melhorar o pessimamente administrado serviço de cabo da AT&T, que gera uma das menores margens do setor. Também existe o desafio de combinar uma companhia a cabo regionalizada com uma organização altamente centralizada cujo foco é os serviços telefônicos. E Roberts terá de trabalhar com o homem que inicialmente se opôs veementemente à fusão: o ex-CEO da AT&T, C. Michael Armstrong, 64 anos, que será o presidente não executivo do conselho de administração da AT&T Comcast, pode ser uma força disruptiva, privilegiando os serviços telefônicos pelas linhas de cabo mesmo que as operadoras de cabo não ganhem muito dinheiro com isso agora. “Fico pensando se (Roberts) tem idéia do ninho de vespas que ele comprou”, diz um executivo do setor de cabo familiar com o sistema AT&T. MENTORES DE CONFIANÇA À medida que Roberts assuma o controle do maior império do serviço de cabo que já existiu, ele contará com as duas pessoas em que confia implicitamente. A primeira é o pai, Ralph, 82 anos. Quando eles finalmente selaram o acordo com a AT&T, depois de cinco longos meses de negociação, Ralph levou seu filho exausto para um quarto no hotel no St. Regis Hotel em Manhattan. Eles tinham conversado bastante sobre seus sonhos para a empresa, que Ralph construíra a partir de uma pequena empresa em Tupelo, Mississipi. Nesta noite, Ralph cochichou a Roberts enquanto o abraçava, “Isto é um milagre”. O outro confidente de Roberts é Stephen B. Burke, 44 anos, que ele trouxe da Walt Disney Co. quatro anos e meio atrás para comandar a divisão de cabo. Burke e Roberts 13 ESTRATÉGIA são grandes amigos. Eles conversam ao telefone meia dúzia de vezes ao dia e ainda se cumprimentam efusivamente quando surge uma discussão sobre a fusão, o que é comum. Esses homens provaram ser um triunvirato competente; juntos eles comandam umas das poucas companhias de cabo que têm gerado um fluxo de caixa positivo. Mas os desafios financeiros, administrativos e estratégicos que Roberts enfrenta agora são imensos. Não chega a surpreender, é claro, que seu pai acredite que ele será bem-sucedido. “Não é como a AOL e a Time Warner” diz o patriarca da família. “Estamos no negócio de serviço de cabo e compramos serviços de cabo.” O vice-presidente do conselho de administração da AOL Time Warner, Ted Turner, que conhece Roberts há 20 anos (Roberts foi membro do conselho de administração da Turner Broadcasting System Inc. de 1989 a 1996) também acredita que ele sairá vencedor: “Eu aposto meu último dólar no Brian Roberts”. Quanto ao próprio Roberts, ele diz com uma típica modéstia: “Nos primeiros 24 meses nós nos concentraremos totalmente na execução.” Ele pode não ter uma visão muito abrangente, mas Robert sempre teve facilidade com números. Costumava visitar o conselheiro financeiro do seu colégio para conversar e foi estudar finanças na Escola Wharton da Universidade da Pensilvânia. Nos próximos anos, ele vai dirigir sua atenção para apenas dois números: US$ 30 bilhões em dívida e 21 milhões de assinantes. Em dezembro passado muitos acreditavam que ele se entusiasmara demais na guerra pelo controle da AT&T Broadband. Mas o preço em queda das ações da Comcast traz um benefício: como Roberts negociou um acordo que envolveu apenas a troca de ações, o custo por assinante caiu de US$ 4.500 para US$ 2.400. Ainda assim, a AT&T Comcast começará sua vida com uma dívida maior que a Time Warner e a Charter combinadas. Embora a companhia ainda mantenha sua classificação como grau de investimento, os US$ 30 bilhões em dívidas não são bem recebidos pelos acionistas. “Estamos sendo taxados de sermos uma empresa de telecomunicações com uma dívida muita alta e ameaçada pelo acordo”, diz Burke. “Nós vamos fazer nosso trabalho e atingir nosso objetivo.” FOCO NAS FINANÇAS Praticamente desde o momento em que fechou o acordo, Roberts tenta achar um meio de diminuir o impacto de suas dificuldades financeiras. Ele diz que tem um plano para diminuir a dívida em US$ 5 bilhões no primeiro ano; a maior parte do dinheiro virá de um bem elaborado acordo que ele fechou recentemente com a AOL Time Warner para criar a Time Warner Entertainment Co., uma complexa sociedade entre a AT&T e a AOL. Roberts parece ter se saído melhor na negociação com o CEO Richard D. Parsons, que é considerado o 14 BRIAN ROBERTS melhor negociador do setor, mas que também estava desesperado para fechar o acordo. A AT&T Comcast receberá US$ 2,1 bilhões em caixa, US$ 1,5 bilhão em ações da AOL e uma participação de 21% na Time Warner Cable – que pode ser desmembrada em meados de 2003. As ações da Comcast estão avaliadas em cerca de US$ 5 bilhões. A companhia também venderá ações da AT&T e da Sprint PCS para levantar dinheiro. Lawrence J. Haverty Jr., vice-presidente sênior da State Street Research & Management, uma acionista da Comcast, diz que resolver a questão da TWE “foi absolutamente sensacional”. Mas Roberts agora trabalha sob um conjunto de expectativas totalmente diferente das quais ele está acostumado. “Existe um clima de mostre para mim agora”, diz. “Tudo o que (o setor) diz e faz são palavrões.” As acusações de fraude contra a família Rigas, que comanda a Adelphia Communications Corp. e as investigações da Comissão de Valores Mobiliários e do Departamento de Justiça americanos sobre a AOL Time Warner e a Charter deixaram muitos desconfiados das companhias de cabo. O fato de nenhuma empresa do setor ter apresentado lucro líquido positivo, que cada empresa pareça ter sua própria definição de despesas de capital e que as empresas não concordem nem até sobre o que seja um assinante também não ajudam. Isso não é suspeito? Esses escândalos acontecem em um momento inoportuno para Roberts. E as acusações de acordos internos entre as empresa da organização dos Rigases devem ser irritantes para alguém que prefere viajar de trem pela Amtrak a limusines e compra sanduíches na lanchonete perto do seu escritório. As semelhanças aparentes com a Adelphia são especialmente embaraçosas, afinal, é uma empresa de cabo familiar da Pensilvânia fundada por um patriarca sagaz. Mas os Roberts não escondem o fato de que ainda consideram a Comcast uma empresa particular deles. Até mesmo a mãe de Brian, Suzanne, uma atriz, possui um programa semanal de meia hora sobre “viver bem” que é transmitido por um canal da Comcast. Brian importunou o pai para entrar no negócio da família desde que soube que eles tinham uma empresa. “Quando ele ainda estava no colégio, eu o colocava num canto e o deixava me observar negociando com um banqueiro. Ele ficava fascinado”, diz Ralph. Brian lia o The Wall Street Journal quando era adolescente e até mesmo investiu no mercado de ações (e isso nos anos 1970). Depois da faculdade, começou como controlador no escritório de Trenton da Comcast. Aos 30 anos, era o presidente da companhia. Em um jantar recente do setor em homenagem a Roberts, Parsons da AOL Time Warner disse que sua ascensão ao comando da Comcast era seu direito de nascença: “O príncipe coroado assumiu o trono”. Então, ele brincou que o mohel do bris de Roberts usou um alicate de operador de cabo. Roberts só conseguiu dizer, “Puxa vida, Dick, legal”. 15 ESTRATÉGIA ESTABELECENDO ALTOS PADRÕES Agora Roberts tenta fazer algo que pode diferenciá-lo de seus colegas em desgraça e desacreditados. Ele trabalhou em estreita colaboração com uma forçatarefa do setor que em 21 de outubro apresentou um conjunto voluntário de diretrizes sobre como relatar assinantes e custos de capital, uma estrutura criada com o objetivo de apresentar informações com mais clareza para Wall Street. Recentemente, a Comcast também divulgou mais dados sobre suas práticas contábeis e pela primeira vez detalhou como ela capitaliza gastos. No entanto, como todas as operadoras de cabo, a Comcast reporta EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), uma métrica que alguns investidores dizem que mascara o fato de uma empresa apresentar lucro líquido real. Os executivos do setor de cabo sempre argumentam que o dado mais importante é o fluxo de caixa livre: se é o caso, então a AT&T Comcast deve começar a apresentar resultados positivos da fusão em 2004, quando presume-se que ela passe de um fluxo de caixa livre negativo de US$ 300 milhões para um positivo de US$ 2 bilhões. Ele chegará a US$ 5 bilhões em 2005, estima a Merrill Lynch & Co. Investidores que procuram um lucro líquido real devem observar esses resultados já em 2004, depois que os investimentos em melhorias comecem a declinar, prevê o analista Richard Greenfield, da Goldman Sachs & Co. De fato, embora muitos ainda acreditem que todo o setor passe por problemas, nos próximos dois anos as principais operadoras podem emergir de seus períodos de gastos com melhores perspectivas. “Você verá um número cada vez maior de empresas fornecendo esses serviços prometidos há tanto tempo”, diz o analista de mídia Tom Wolzien, da Sanford C. Bernstein Co. Conforme Roberts comece a redefinir a companhia que seu pai fundou, Ralph não estará muito distante. Eles sempre mantiveram uma parceria próxima. Herbert Allen, um importante investidor do setor de mídia, descreveu-a uma vez como “um dos relacionamentos mais incomuns que já vi. Eu acredito que eles têm um respeito mútuo”. Em uma época em que alguns filhos se sentiriam irritados com a vigilância do pai, Brian ainda procura Ralph para obter conselhos. Ralph participará do conselho de administração da AT&T Comcast e comandará seu comitê executivo. Os escritórios de Ralph e Brian são próximos e as portas estão sempre abertas. Brian pode ser visto muitas vezes sentado em frente da mesa do pai em busca de conselhos. Quando lhe perguntaram por que ele não tirou o paletó durante uma sessão de fotos recente, Brian disse: “Oh, não, meu pai teria me matado”. Roberts não precisou contratar muitos executivos para o alto escalão – a maioria trabalha na companhia há anos – mas atrair Burke da Disney foi uma grande tacada. Burke ajudou a lançar a cadeia de lojas da Disney e então saneou as finanças do parque temático de Paris. Embora Burke não tivesse experiência prévia na área de cabo, ele rapidamente conquistou o respeito do setor. “Ele é 16 BRIAN ROBERTS um dos melhores executivos da mídia”, diz Jessica Reif Cohen, da Merrill Lynch & Co. Burke, que escreve uma dúzia de bilhetes pessoais para os funcionários menos qualificados da empresa, trouxe uma certa sofisticação e experiência operacional para a companhia. Como ele diz com a modéstia requerida: “Eu cuido do encanamento aqui.” CONTRATAÇÕES ESTRATÉGICAS Embora se comporte como um estudante universi- GRANDE JOGADA tário no escritório, executivos de fora da empresa Muitos executivos dizem que Roberts é o homem mais competitivo que já conheceram. Vários anos atrás, na con- ardilosamente ferência de mídia de Allen em Sun Valley, Idaho, roubaram talentos Roberts estava desesperado para convencer de seus concorrentes, Warren E. Buffett a comprar ações da Comcast, mas poucos foram mas não suficientemente desesperado para deixar tão espertos para que o Oráculo de Omaha o vencesse numa rodada atrair uma estrela de golfe. (Roberts ainda tenta persuadir Buffett a de um fornecedor. comprar ações). Mas Roberts parece confortável em Uma iniciativa desse dividir poder com Burke: não há dúvida que seus gênero é especialmente passados semelhantes facilitam a tarefa. Brian cres- inventiva no setor do ceu assistindo seu pai trabalhar lado a lado com o cabo, no qual cada co-fundador da Comcast, Julian Brodsky, enquanto um dos principais Burker observou seu pai, Dan, presidente da ABC participantes domina o Network, trabalhar com o presidente da Capital que é efetivamente um Cities/ABC, Tom Murphy. monopólio regional. Dois anos atrás, Roberts viu a oportunidade Assim, informações de uma vida quando a AT&T anunciou que ela iria confidenciais da Charter dividir-se em três. A unidade de cabo da gigante da seriam, digamos, telefonia, a AT&T Broadband, possuía mais de 13 bem-vindas, e o milhões de assinantes, vários sistemas de ponta – e conhecimento de Burke alguns dos piores números do setor. Suas margens sobre a economia de um eram tão baixas quanto 18% em algumas cidaprovedor de conteúdo des, contra 35% ou mais da indústria. Os sistemas como a Disney ajudará foram negligenciados durante anos, primeiro pelo a transformar a Comcast ex-presidente do conselho John C. Malone da Teleem uma negociadora Communications e então por Armstrong da AT&T, que comprou os sistemas de Malone em 1998, mas invencível. se manteve concentrado na telefonia. Enquanto os sistemas da Comcast estão 95% atualizados, apenas 65% da AT&T estão. Desde que o acordo foi anunciado em dezembro passado, a AT&T perdeu cerca de 500 mil assinantes. 17 ESTRATÉGIA Burke diz que seu objetivo imediato é melhorar em três anos as margens para que pelo menos alcance a média da Comcast de 40%. Ele descentralizará as operações (o serviço de atendimento ao consumidor foi retirado de sua sede em Denver), cortará custos (a Comcast já disse que eliminará 1.700 dos 4 mil postos em Denver) melhorará o atendimento ao cliente e venderá mais serviços premium como cabo digital ou dados em alta velocidade. “O que é bom é que já fizemos isso com outros sistemas que adquirimos antes”, diz Burke. Um ponto crucial para o sucesso da Comcast é o complicado negócio da banda larga. “Este é nosso produto crítico do futuro porque podemos acrescentar outros serviços”, diz Burke. Os analistas prevêem que cerca de 30% dos assinantes da AT&T Comcast, ou 6,7 milhões de lares, pagarão por serviços de alta velocidade de dados no final de 2006. Se eles estiverem corretos, a receita ainda vai demorar a atingir a meta de Burke de aumentar o fluxo de caixa anual da AT&T por consumidor de US$ 175 para algo em torno do nível da Comcast, de US$ 300. Esses serviços também são essenciais para afastar a ameaça das empresas de satélite, que não podem oferecer tais produtos interativos. Burke também conta com a venda de mais propaganda, acredita que a tecnologia digital tornará o cabo uma proposta mais interessante, pois o setor de marketing poderá direcionar a propaganda para assinantes ou lares individuais. A receita com propaganda será de US$ 1 bilhão no próximo ano e Burke prevê que ela dobrará em cinco anos. Embora a AT&T seja um sistema muito maior do que qualquer outro que a Comcast já adquiriu no passado, poucos duvidam que Roberts e Burke possam administrar a integração. Mas suas conversas sobre serviço de cabo digital, dados em alta velocidade e vídeo sob demanda como fortes fontes de caixa parecem otimistas demais para muitos. Os executivos do setor de cabo não prometem isso há anos? “Eu ficaria chocado se você conseguir 20% de lares com dados em alta velocidade”, diz Leo Hindery, um ex-presidente da AT&T Broadband e que hoje é CEO da Yankees Entertainment & Sports Netwoork LLC. Burke retruca que agora a Comcast tem uma vantagem: um bônus do acordo com a TWE foi um pacto de acesso a banda larga com a AOL. Embora os termos não tenham sido divulgados, comenta-se que o acordo estipula que a AOL pagará à Comcast US$ 38 mensais por novo assinante (os consumidores pagarão US$ 55 pelos serviços de banda larga da AOL e da Comcast combinados) ao mesmo tempo em que entrega todos esses clientes da AOL para a Comcast. Logo no início, Roberts deixou claro à maioria dos executivos de alto escalão da AT&T Broadband que eles estariam melhor em outro lugar e muitos já foram embora. No entanto, uma pessoa que ficou pode ser a mais difícil – o antigo chefe. Armstrong tem sido criticado pelo seu papel no comando da AT&T, foi forçado a vender a unidade de banda larga pela sua diretoria. Na AT&T Comcast, ele se encontra na posição indefinida de presidente não 18 BRIAN ROBERTS executivo do conselho de administração, cercado GRANDE JOGADA por veteranos da Comcast. Isso já soa problemáEm 2004, a Comcast tico. Um executivo da Comcast diz: “Na pior das fez uma oferta hipóteses, isso pode ser uma força destrutiva, na hostil pela Disney, o melhor, uma distração.” Até agora, o relacionamento entre Roberts e legendário império Armstrong tem sido “construtivamente estranho”, do entretenimento. diz um executivo. Armstrong e Roberts têm conver- A Disney rejeitou a sado nos últimos meses, sobretudo por telefone, oferta e mais tarde a mas ele não faz parte do círculo interno de Roberts Comcast retirou-a. Na para o planejamento de uma nova companhia. época, alguns analistas Armstrong não foi incluído nas sessões de estra- afirmaram que a tégia ou nas conferências por telefone no fim de reputação da Comcast semana que Roberts organiza a partir de sua casa. foi seriamente abalada, Nem foi convidado para as viagens de inspeção dos enquanto outros sistemas de cabo da AT&T. Disputas devem ocor- aplaudiram a disciplina rer sobre o negócio de telefonia: Roberts não está de investimento disposto a fazer um grande investimento no setor da companhia. De depois que tantos outros tentaram e fracassaram. qualquer forma, “Mike terá de reconhecer que este é um papel Roberts provocou que muito diferente para ele”, diz o diretor da AT&T muitos críticos cínicos Comcast Felix Rohatyn, um ex-diretor gerente do estavam errados, pois a banco de investimento Lazard Fréres. “Ele terá de Comcast, apesar de seu se adaptar ao que Roberts quer.” tamanho já gigantesco, Da sua parte, Armstrong diz que vê seu papel continua a crescer. como alguém que ajudará Roberts a fortalecer a posição financeira da companhia. Mas dada a oportunidade, Armstrong logo mostra por que ele pode ser mais um incômodo para Roberts. Ele ainda critica Brian e Ralph por terem 33% do capital votante da nova companhia (eles possuíam 86% do capital votante da Comcast, embora por meio de um tipo especial de ação). Armstrong diz que os conclamou a tomar 20%, sobretudo em função da crescente preocupação sobre a concentração de poder na mão de alguns poucos acionistas. “Esta é uma nova companhia e temos uma oportunidade de fazer isso direito”, diz. “Se pagamos um preço premium pela companhia, por que entregaríamos o controle?”, retruca Roberts. Até agora, o controle familiar tem sido bom para os acionistas, que viram as ações serem desmembradas 12 vezes desde 1971. Roberts está tão confiante no desempenho da sua empresa como qualquer CEO. Mas ele reluta em falar sobre metas grandiosas. De fato, ele diz que deixou essa expectativa de lado por enquanto. Como ele diz: “Não tenho de me alegrar com este acordo. Tenho de apresentar resultados”. Mas sua hesi19 ESTRATÉGIA GRANDE JOGADA A Comcast continua a diversificar seu portfolio. Ao lado de três outras grandes operadoras de cabo, a Comcast formou uma joint venture com a gigante da telefonia sem fio Sprint Nextel para oferecer a próxima geração de produtos e serviços de comunicação, incluindo o “Quadruple Play” – serviços de vídeo, telefonia sem fio e dados, telefone via cabo e acesso à internet de alta velocidade. A convergência é agora uma realidade e outro forte concorrente – o setor de telecomunicações – chegou à arena, oferecendo serviços de vídeo para os lares americanos. As companhias de cabo precisam tomar cuidado. Caso contrário, elas podem acabar descobrindo que foram derrotadas em seu próprio jogo. 20 tação em articular em como sua companhia será em cinco anos deixa algumas pessoas nervosas. “Brian precisa descobrir, e rápido, se ele quer ser basicamente uma empresa de distribuição, como os super-homens Rupert Murdoch e Mel Karmazin fazem”, diz Hindery. Existem boatos sobre Roberts comprar a Disney um dia, embora ele não tenha dito uma palavra sobre isso. Mas quem pode culpar Roberts por se calar quando tantos barões da mídia com grandes visões tiveram de encarar o fracasso? Claro que agora Roberts simplesmente não tem o dinheiro para fazer muita coisa. Uma compra do tamanho, digamos, de uma rede de TV não seria possível; até mesmo algo menor seria impraticável. Em vez disso, Roberts continuará lançando canais a cabo de pequena expressão, que atingem o ponto de equilíbrio quase que imediatamente, levando em conta seus 21 milhões de assinantes. E ele terá de usar sua nova influência para assegurar acordos mais favoráveis para o conteúdo que precisa comprar: Roberts espera cortar US$ 500 milhões do custo da programação. “Não há dúvida de que haverá novas tensões no relacionamento entre as empresas de distribuição e de programação”, diz o membro do conselho de administração da AT&T Comcast, Decker Anstrom, presidente da Landmark Communications Inc., que é dono do Weather Channel. Hoje em dia, é difícil dizer quem tem o trabalho mais duro no ramo. Mas comandar a maior empresa de cabo do país coloca Roberts entre os candidatos, sobretudo porque ele colocou a empresa da família em uma situação financeira delicada em uma época de ceticismo sobre o setor. Quando Roberts disse que não tem tempo de saborear o acordo com a AT&T, ele não estava sendo modesto. E foi bom ele não ter fechado o negócio por glamour.