Boletim Carnivoros do Iguaçu - Pró

Transcrição

Boletim Carnivoros do Iguaçu - Pró
O Carnívoro
The Carnivore
VOLUME I - EDIÇAO 1
DEZEMBRO DE 2009
A nova fase do Projeto
Carnívoros do Iguaçu
Jorge Luiz Pegoraro – Chefe do Parque Nacional do Iguaçu
Head of Iguaçu National Park
Um dos grandes desafios de se administrar uma Unidade de Conservação
como o Parque Nacional do Iguaçu –
PNI, está o fato sempre difícil, de se
tomar a decisão justa, equilibrada e
mais acertada, aproveitando bem as
oportunidades que aparecem.
Diante das muitas tomadas de decisão que se tornam necessárias no dia a
dia, cabe sempre ao chefe e sua equipe
a grande responsabilidade de se buscar
com bom senso, técnica e competên-
Ato da assinatura do convênio no Hotel das Cataratas
Accord signing at the Cataratas’ Hotel
NESTA EDIÇÃO
This edition
Difícil começo . . . . . . . . . . . . . 2
A Difficult Beginning
Vinte anos de história . . . . . . . 3
20 years of history
Na trilha do bicho . . .. . . . . . . 4
Tracking the beast...
cia a nobre missão da conservação do sítio
natural.
Um dos exemplos mais práticos para
exemplificar esta afirmação é a reativação
do Projeto Carnívoros do Iguaçu, cujo ápice
aconteceu na década de 90 com o trabalho
desenvolvido na Unidade pelo pesquisador
brasileiro Peter Crashaw e depois paralisado por mais de 10 anos por falta de recursos
financeiros.
A idéia da equipe do Parque em introduzir num certame licitatório de âmbito internacional a obrigatoriedade da vencedora em
patrocinar um projeto de pesquisa por um
longo período, adquirindo equipamentos,
contratando profissionais, entre outros, obteve sucesso junto a várias instituições nacionais, tornando-se viável do ponto de vista administrativo e elogiado do ponto de
vista ambiental.
Agora nos cabe gerir o projeto junto com
o Hotel das Cataratas e instituições
apoiadoras com responsabilidade redobrada, visando seu bom funcionamento, buscando cumprir seu objetivo principal com
entusiasmo e esperança, pensando sempre
na melhoria contínua da conservação e
manejo dos felinos do Parque Nacional do
Iguaçu.
The next phase of Project Carnivores of Iguaçu
One of the main challenges in
running the Iguaçu National Park is
to take maximum advantage of any
opportunities that appear and use
them for the benefit of the National
Park and all it contains.
Such actions are a great
responsibility, so my team and I must
use our technical exper tise and
common sense to rigorously check
and double check that what we are
doing is indeed beneficial to the
preservation of this wonderful Park.
One such example is the
reactivation of Project Carnivores of
Iguaçu. Inspired initially in the 1990s
by the work of Brazilian researcher Peter
Crashaw. The project stalled for more than
10 years due to a lack of financial
resources.
To resolve this, The National Park team
included a budget for a study of the
indigenous felines of the National Park, in
the bidding action for the hotel lease. The
lessee was obliged to sponsor this research
project, e.g. buying equipment, hiring staff,
etc, amongst other eco-friendly activities.
Now, The Iguaçu National Park, The Hotel Das Cataratas, and other institutions
have the honour and responsibility to
maintain and improve the conservation of
Big Cats in the Iguaçu National Park.
Difícil começo
Alexandr
e V
ogliotti – Pesquisador do Pr
ojeto Carnív
or
os
Alexandre
Vogliotti
Projeto
Carnívor
oros
do Iguaçu / Researcher of Carnivores Project
O início das atividades do Projeto Carnívoros do Iguaçu foi marcado por uma enorme contradição: o atropelamento de uma
onça-pintada (Panthera onca) no trecho da
BR 469 no Parnque Nacional do Iguaçu (km
26), na madrugada de
28 de março de 2009. O
laudo da necropsia indicou que o macho
adulto de 65 kg morreu,
após
um
período
indeterminado de tempo, em conseqüência da
ruptura de baço seguida de hemorragia interna e edema generalizado na região da perna e
abdômen.
O acidente, resultante do tráfego de veículos no parque, evidenOnça atropelada no Parque Nacional do
ciou o indesejável conIguaçu / Jaguar hit by vehicle inside the
flito entre o desenvolviIguaçu National Park
mento turístico e a conservação da biodiversidade local e não poderia ser mais desolador para a equipe do Projeto. O animal morto vinha, até então, sendo
frequentemente registrado em armadilhas fo-
tográficas e era o principal candidato para o
início do monitoramento dos animais em
vida-livre, a partir de colares equipados com
transmissores de rádio e receptores GPS.
Mais do que a perda científica, o fato ilustra a perda biológica a que as espécies do
parque são eventualmente submetidas. Além
dos atropelamentos, a fauna local é vítima
também da caça, que tem fortes raízes culturais na região e não considera a vulnerabilidade provocada pela redução e o isolamento popula-cional das espécies que ainda
persistem na área do parque. Nestas condições, a morte de qualquer indivíduo representa uma perda enorme à viabilidade futura
da espécie, acelerando o seu declínio através
da perda da variabilidade genética na população.
Assimilada a perda, fica o desafio: a retomada dos esforços à procura de um dos animais mais discretos e raros da natureza baseada na convicção de que há muito mais a
se fazer para a conservação das onças no Parque Nacional do Iguaçu. O desanimo inicial
converteu-se agora em estímulo para o
envolvimento dos diversos setores da sociedade regional na busca conjunta de alternativas que garantam a conservação de mais
esse importante patrimônio da humanidade.
A Difficult Beginning
The re-start of the Project was eclipsed by
a dark irony: a Jaguar (Panthera onca), the
symbol of the Iguaçu National Park, was run
over inside the Park in
the early hours of the
morning of 28 March,
2009. The autopsy report
stated that the male
adult weighed 65 kg,
died as a result of a
rupture of the spleen and
internal bleeding.
This accident all too
vividly demonstrates the
conflict between the
growth of tourism and
the conservation of local
Campanha contra o atropelamento da
biodiversity and not
fauna do Parque / Campaign for
could have been more
reduction of traffic-accidents with
distressing for the
animals in the park
project team.
The dead animal had
often been photographed in camera traps and
was the main candidate for wearing a GPS
2 - O Carnívoro The Carnivore
device in a collar, with which his movements
could be tracked, recorded and analysed as
part of the Project Carnivores of Iguaçu.
Of course, the death of any individual animal in the Park is a huge loss to future viability
of the species, accelerating the decline in
numbers by the loss of genetic variability in
the animal population, and his death once
again illustrates the abnormal dangers that
the Park wildlife is constantly threatened
by. In addition to tourist traffic, there is also
hunting, which has strong cultural roots in
the region and continues irrespective of the
damage done. If just one animal is hunted
and killed, there is a ripple effect through,
not only the hunted animal’s species, but also
its natural prey, and so on down the food
chain and into the plant kingdom.
The initial dismay, (at the death of the Jaguar), has now been turned into a source of
strength and motivation for the various
partners in the search for a way to ensure
the preservation and biodiversity of this
unique Human Heritage region.
Vinte anos de história
Peter G. Cr
awsha
w Jr
ojeto Carnív
or
os do Iguaçu
Cra
wshaw
Jr.. – Consultor científico Pr
Projeto
Carnívor
oros
Scientific consultant of Carnivores of Iguaçu Project
Onça-pintada equipada com rádio-colar no projeto inicial
Jaguar radio-collared in the initial phase of the project
O Projeto Carnívoros do Iguaçu
teve início em abril de 1990, como
tema do meu doutorado pela Escola
de Recursos Florestais e Conservação
da Universidade da Flórida, EUA. Seu
objetivo era comparar a ecologia de
dois felinos de hábitos similares, mas
de tamanhos diferentes: a jaguatirica
(Leopardus pardalis) e a onça-pintada (Panthera onca). O estudo foi financiado pelo Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, World
Wildlife Fund - WWF/US, Helisul Taxi
Aéreo Ltda., Lincoln Park Zoo “Scott
Neotropical Fund” e Ilha do Sol Turismo.
Em 1991, o projeto foi estendido
para o parque nacional argentino, em
colaboração com a bióloga Silvana
Montanelli, que utilizou os dados ali
coletados para o seu doutorado pela
Universidade de Buenos Aires. Até
1994, foram capturadas 21 jaguatiricas
e 7 onças-pintadas, que receberam rádio-colares e foram moni-toradas por
rádio-telemetria. Foram capturados
ainda: 6 quatis, 7 cachorros-do-mato,
2 jaguarundis, 1 gato-maracajá, 1
puma, 2 iraras, e 1 gato-do-mato-pequeno, muitos dos quais foram também monitorados.
Além das informações pioneiras
sobre ecologia e conservação dessas
espécies em Mata Atlântica, o projeto contribuiu com a capacitação de
diversos estudantes e profissionais em
meto-dologias sofisticadas à época,
como rádio-telemetria e armadilhas
fotográficas.
Um amplo programa de Educação
Ambiental desenvolvido sob a coor-
denação da ecóloga Lucila Manzatti
entre 1992 e 1994, contou com diversas atividades nas escolas dos municípios vizinhos ao parque e palestras
para capacitação de professores de
primeiro e segundo grau das redes
municipais de ensino. O programa,
posteriormente aplicado na Argentina, foi um dos primeiros projetos financiados pela Fundação O Boticário de Proteção à Natureza.
Outra consequência foi a criação
do Centro Nacional de Pesquisa para
a Conservação dos Predadores Naturais – CENAP, em 1994. Sediado no Parque Nacional do Iguaçu até 1996, o
CENAP é hoje um centro especializado do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio,
com sede em Atibaia (SP).
Já naquela época, o estudo alertou
para um melhor controle da caça no
interior do Parque Nacional do
Iguaçu, cujos efeitos se faziam sentir
nos mamíferos de maior porte, como
a onça-pintada e sua principal presa,
o queixada, hoje considerado extinto no parque brasileiro.
Twenty years
of history
Project Carnivores of Iguaçu, began
in April 1990, as the subject of my
doctorate for The School of Forest
Resources
and
Conservation,
University of Florida, USA.
The goal was to compare the
ecology of two cats of similar habits,
but of different sizes: the Ocelot
(Leopardus pardalis) and the Jaguar
(Panthera onca). The study was funded
by the Brazilian Institute of
Environment and Natural Resources,
- IBAMA, World Wildlife Fund —WWF
/ US, Helisul Taxi Aereo Ltda., Lincoln
Park Zoo “Scott Neotropical Fund and
Ilha do Sol Turismo.
In 1991, the project was extended
to the Iguazu National Park in Argentina, in collaboration with biologist
Silvana Montanelli, who used the data
collected there for her doctorate from
the University of Buenos Aires.
By 1994, 21 ocelots and 7 Jaguars had
had radio collars fitted. Also captured
were: 1 Puma, 6 Coatis, 7 Crab-eating
Foxes, 2 Jaguarundis, 1 Margay, 2
Tayras, and 1 Oncilla, many of which
were also fitted with radio collars.
In addition to information on
ecology and conservation of these
species in the Atlantic Forest, the
project also contributed to the
training of professionals and students
in relatively sophisticated methods at
the time, such as radio-tracking and
photo-traps.
Between 1992 and 1994, we
developed a comprehensive program
of Enviro-nmental Education, under
the supervision of ecologist Lucila
Manzatti, who established several
activities in schools near the park,
including lectures for training junior
high and high school teachers. The
program then implemented in Argentina, was one of the first projects
funded by the Boticario Foundation for
the Protection of Nature.
Another consequence was the
creation of the National Center Search
for the Conservation of Natural
Predators — CENAP in 1994. Until 1996,
headquartered in Iguazu National Park
and is today a specialized center Chico
Mendes Institute for Biodiversity
Conservation — ICMBio, established
in Atibaia (SP).
Even in those days, the study
warned of the need for better control
of hunting within the park, the main
victims of which were mostly larger
mammals, such as the Jaguar and its
main prey, White-lipped Peccaries,
now considered extinct in the
Brazilian side of the park.
Peter G. Crawshaw Jr.
O Carnívoro The Carnivore - 3
Na trilha do bicho...
A primeira grande atividade do
Projeto Carnívoros do Iguaçu (PCI)
teve início numa tela de computador.
Através de programas de análises geográficas, os técnicos do PCI definiram a localização de 36 estações de
monitoramento, em uma área aproximada de 903 km2 ao longo do Parque Nacional do Iguaçu.
Nestas estações foram instaladas
72 armadilhas fotográficas, com o objetivo de estimar a população de onças-pintadas no parque, utilizando
uma técnica conhecida como Marcação/Recaptura.
O monitoramento teve início em
7 de julho e no processo de instalação e manutenção das câmeras, a
equipe do PCI percorreu mais de 8 mil
quilômetros a pé, de carro, barco e
helicóptero, além das inúmeras noites de acampamento em meio à floresta. Tudo isso para obter uma idéia
mais clara sobre a real situação de
conservação da espécie na região.
A primeira etapa do monitoramento fotográfico foi concluída recentemente com um total de 3.654
fotos de dezenas de espécies selvagens de aves e mamíferos, incluindo
a onça-pintada.
Os primeiros resultados começam
agora a ser analisados pelos pesquisadores e serão apresentados na próxima edição de “O Carnívoro” em fevereiro de 2010.
Instalação de armadilhas fotográficas
no campo / Field placement of cameratraps
Tracking the beast...
Instalação de armadilhas fotográficas
no campo / Field placement of cameratraps
Parque Nacional do Iguaçu
BR 469, km 22,5
Caixa Postal 05, CEP 85851-970
Foz do Iguaçu, PR, Brasil
(45) 3521-8374
Fax: (45) 3521-8390
[email protected]
Organização
Projeto Carnívoros do Iguaçu
Editoração Gráfica
ASCOM - Parque Nacional do Iguaçu
Fotos
Acervo Parque Nacional do Iguaçu
Tradução
Stuart Giles
Tiragem
2.000 exemplares
4 - O Carnívoro The Carnivore
As so often nowadays, the first
major activity of the Project
Carnivores of Iguaçu (PCI) started on
a computer screen. Using geographical analysis programs, resear-chers
in PCI determined the location of 36
monitoring stations, where 72
cameras were installed in order to
help gauge the population of Jaguars
in the park; a technique known as
mark/recapture.
The monitoring began in July 07
and in the process of installation and
maintenance of the cameras, the PCI
team traveled over 8,000 km on foot,
by car, boat and helicopter, spending
countless nights camping in the
forest, all in order to get as clear and
accurate an understanding as possible
of Jaguars in the region.
A total of 3654 photographs were
taken of birds, mammals, including
Jaguars, and are now being analysed.
The results will be published in the
next edition of “The Carnivore” in
February 2010.
“O Carnívoro” é uma publicação trimestral do Parque Nacional do Iguaçu
para divulgar a importância dos grandes felinos na manutenção da estrutura ecológica dos ambientes naturais onde estão inseridos estes magníficos
animais. Em cada edição, serão apresentadas informações interessantes sobre
a vida destes predadores e as ações de pesquisa e conservação desenvolvidas pela equipe do Projeto Carnívoros do Iguaçu.
Colabore conosco! Envie suas opiniões, críticas ou sugestões e seja
nosso parceiro nessa luta. Obrigado!
“The Carnivore” is published quarterly by the Iguaçu National Park to
help show the importance of big cats in their natural environments. In
each edition, there will be information on the lifestyle of these magnificent
creatures, and research and conservation actions being developed by the
Project Carnivores of Iguaçu team.
Join us! Please give us your ideas, criticisms or suggestions and be our
partner in this cause. Thank you!