Meninos Morenos - CP 01ed02 rev.1990.indd
Transcrição
Meninos Morenos - CP 01ed02 rev.1990.indd
Os Meninos Morenos – Ziraldo O autor PROJETO P ROJETO D DE E LLEITURA EITURA Ziraldo Alves Pinto 1 nasceu em Caratinga, Minas Gerais. Desde a mais tenra idade, Ziraldo já demonstrava paixão pelo desenho. Desenhava em todos os lugares – nas calçadas, nas paredes, na sala de aula... Outra de suas paixões é a leitura. Lia tudo o que lhe caía nas mãos: Viriato Correa, Monteiro Lobato e todas as revistas em quadrinhos da época. A carreira de Ziraldo começou na revista Era Uma Vez... Depois, ele trabalhou em diversos jornais e revistas: Folha de Minas, A Cigarra, O Cruzeiro, Jornal do Brasil. Ziraldo fez também cartazes para vários filmes do cinema brasileiro; por exemplo, Os Fuzis, Os Mendigos, Selva Trágica etc. Por causa da diversidade de sua obra, não é possível limitá-lo apenas às artes gráficas. Ele é um artista que tem, ao longo dos anos, desenvolvido várias facetas de seu talento. Ziraldo é cartazista, pintor, jornalista, teatrólogo, chargista, caricaturista e escritor. Atualmente, sua arte está presente em nosso cotidiano e pode ser identificada, Ficha em centenas de camisetas, cartazes da Feira da Providência, selos comemorativos do Natal, dos Correios e Telégrafos, campanhas do PNLD etc. Na literatura infantil, o autor estreou com Flicts, publicado em 1969. Com o máximo de cores e o mínimo de palavras, nesta obra Ziraldo conta a história de uma cor que não encontrava seu lugar no mundo. Já na obra Os Meninos Morenos, publicada em 2003, o diálogo entre a prosa poética de Ziraldo e a poesia de Humberto Ak’abal está marcadamente registrado. Autor: Ziraldo Poemas: Humberto Ak’abal Título: Os Meninos Morenos Ilustrador: Ziraldo; Borjalo e telas de Portinari. Formato: 15,5 x 23 cm No de páginas: 96 Resenha Segundo o próprio Ziraldo, a obra Os Meninos Morenos é uma tentativa de revelar para o mundo quem somos. Para isso, as lembranças da infância de dois meninos cor de terra – um na Guatemala, outro no Brasil, dois países deste enorme continente de meninos morenos – são reveladas. O menino moreno do Brasil tece a narrativa com passagens de sua avó pescando lagosta e de seu avô que, um dia, lhe explicou a música que a chuva toca (“É a chuva, meu filho, tocando sua música”). Esses dizeres do avô marcaram fortemente o >> Elaboração: Sonia Maria Soares dos Reis Quadro sinóptico Gênero: prosa poética/poesia Palavras-chave: meninos morenos, aldeia, pueblo, cidadezinha, infância Temas transversais: direitos humanos, pluralidade cultural, saúde Interdisciplinaridade: Língua Portuguesa, Artes, Ciências, História e Geografia INDICAÇÃO: leitor crítico: a partir de 11 anos ensino fundamental >> personagem; até hoje, toda vez que ouve a chuva tamborilando no telhado, o moreno Ziraldo sente uma enorme sensação de aconchego e segurança. Ziraldo relembra também o dia em que seu pai decidiu despachar o cachorro Zulu de trem... A imagem do pobre cão chorando como criança, justo Zulu, que sempre fazia festa como quem não sabe o que é guardar rancor... Há, ainda, recordações do nascimento de um de seus seis irmãos pelas mãos do avô parteiro; da primeira vez em que seu pai foi ao cinema com ele e tantas outras recordações poéticas que preenchem o coração de nosso narrador. Enfim, Os Meninos Morenos é uma homenagem a várias figuras importantes da vida do autor – seus pais, seus avós, seu tio João Gualberto, além de seus amigos Zé Mamona, João Permanente, Zé Biscoito, João Bobo e João Barbeiro – todos fiéis habitantes da terra dos meninos morenos de sua infância. Ao mesmo tempo, o menino moreno da Guatemala empresta alguns de seus belos e sensíveis versos, também relatando trechos de sua infância, para, ao longo do livro, compor a ternura e o brilho do universo “morenocêntrico” apresentado por Ziraldo. Os Meninos Morenos aborda a temática da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena da Lei n.11.645, promulgada em 10 de março de 2008. 2 Conversa com o professor Na perspectiva i d de Roland l d Barthes, h o livro é um mundo. Nessa simples consideração, se reconhece a especificidade do mundo da arte, garantida pelo escritor que cria as suas próprias dimensões, avançando os limites estéticos e sociais convencionais, para transformar a realidade conhecida e transfigurar a imagem do mundo. A arte, nesses termos, é uma ruptura que permite a redescoberta e reelaboração das coisas que estão aí prontas, padronizadas; a ela não se impõem os limites da História e a réplica de situações vigentes. Considerando a definição de Julia Kristeva do texto como um diálogo de códigos que se produz, simultaneamente, em nível de escritura e leitura, elucida-se a atitude criadora quanto aos rumos que ela possa seguir ao intertextualizar linguagens, experiências etc. A evocação daquilo que o escritor lê, quando escreve, transformando o que evoca, pode preencher o espaço do discurso com reminiscências, fatos lineares, descritivismo de paisagens e situações que o empobrecem pela ênfase especular. Como pode, também, ir além da fixação da fotografia de dados realistas ou pessoais para transgredir a reprodução pela tessitura de um universo simbólico. É nessa segunda situação que inserimos a obra Os Meninos Morenos, do escritor Ziraldo, com versos de Humberto Ak’abal. Texto de dimensão profunda, que não se submete à história particular do escritor nem à época delimitada e a espaço preciso, atravessa os tempos, apresenta-se sempre atual, justificando-se como eterno. Este livro confirma que a arte é uma afirmação da essencialidade. Preparando a leitura – Afixe na sala de aula um cartaz que contenha a famosa frase de Ziraldo: “Ler é mais importante do que estudar”. – Reflita com os alunos por que o autor defende a ideia de que ler é mais importante do que estudar. – Faça um levantamento com eles sobre os benefícios da leitura. O que ela proporciona? Entretenimento, lazer, aquisição de conhecimentos, ampliação do horizonte de experiências são algumas possibilidades de resposta. – Brinque de “Marcha, soldado” com os alunos e, em seguida, leia para eles o poema de Fátima Miguez: “A infância avança/ de espada na mão.../ Na liderança,/ um menino-capitão/ abre o desfile/ com seu cavalo-invenção/ soltando as rédeas/ da divertida fantasia/ de soldado-folião!/ O corneteiro anuncia/ a harmonia da festa,/ o ritmo empresta/ uma marcha marcial./ >> >> É tempo de carnaval!/ ”Marcha, soldado,/ cabeça de papel!Quem não marchar direito/ vai preso pro quartel.”/ Marcham meninos/ cumprindo seus destinos,/ na valente brincadeira de soldados libertos/ pela alegria passageira./ Mesmo descalços,/ o sonho calça/ a carência do dia a dia/ em três dias de folia.” (Fátima Miguez) – Depois, localize no livro Os Meninos Morenos alguns fragmentos que trazem o mesmo tema: as cantigas e as brincadeiras infantis. Trabalhando a leitura O momento da sensibilização Sugerimos que instigue seus alunos, apresentando alguns textos variados de Humberto Ak’abal e fragmentos do texto em prosa de Ziraldo, como os que seguem. Deixe que eles conversem livremente sobre as impressões que tiveram. “Quando nasci, as cidades de minha infância eram exatos pueblos. E tinham rios. Mais belos do que o Tejo. Era bonito, ainda que mortal, o pequeno rio da minha primeira aldeia, o lugar onde nasci.” (p. 10) “Mi pueblo é grande. É preciso esfregar Sua terra nas mãos, Sentir-se árvore entre bosques, Reverenciar seus rituais...” (p. 7) “Mamãe dizia que ele era puri. Na região do Brasil de onde eu vim, o Vale do Rio Doce, havia dois grupos indígenas que foram dizimados pelo colonizador: os coroados e os puris. Na minha infância mais remota, vivendo ainda às margens do grande rio, lembro-me de que descendentes dos puris, às vezes, apareciam na rua – como as populações rurais chamavam o povoado – vendendo artesanato, cestas, tacapes, flechas, enfeites de pena, artefatos de barro.” (p. 44) 3 “De barata a gente não gostou nunca. Mas os besouros, estes eram nossos amigos. Primeiro era fácil brincar de boizinho com os besouros que a gente pegava caídos ao pé do poste, nas noites de verão. Com uma linha amarrávamos uma caixa de fósforos no seu dorso e fazíamos com que ele a puxasse como se fosse um burrinho de carga...” (p. 50) “O canto dos pássaros está bem escrito, qualquer um pode senti-lo.” (p. 94) Antecipe aos alunos que o livro que vão ler trata das lembranças infantis dos meninos morenos Ziraldo, brasileiro, mineiro do Vale do Rio Doce, e Humberto Ak’abal, guatemalteco, do povo indígena maya k’iche. Após a leitura dos fragmentos acima, indague sobre as afinidades entre os dois meninos artistas: o fato de ambos serem americanos (sul e central), a miscigenação nacional, as memórias da infância... Localize a Guatemala no mapa: o que haveria em comum entre os dois países? >> >> Explorando a leitura Outras atividades de sensibilização podem aguçar a curiosidade dos leitores. Veja sugestões: • Leve para a sala de aula fotos dos dois artistas e mostre aos alunos. Apresente, ainda, outros livros de Ziraldo para que eles possam folheá-los. • Chame a atenção para alguns títulos e capas dos livros de Ziraldo: O Menino Maluquinho, O Menino Quadradinho, O Menino Mais Bonito do Mundo, O Menino da Lua... Quantos meninos! Converse sobre “a presença do menino” na narrativa de Ziraldo. • Finalmente, proponha uma sessão de cinema para os alunos com o filme O Menino Maluquinho, produzido em 1995. Converse com os alunos sobre a adaptação do texto de Ziraldo feita por Helvécio Ratton para a arte cinematográfica. 4 Primeira etapa do trabalho: da leitura semântica Embora pertença ao universo da cultura infantil, com elementos lúdicos (brincadeiras, cantigas, jogos), o livro Os Meninos Morenos extrapola esse universo: faz dialogar diferentes artistas e poetas de séculos diferentes, de lugares diferentes. Nele estão presentes elementos das culturas brasileira, portuguesa, guatemalteca... Assim, o livro oferece oportunidade para percebermos a história dos meninos morenos sob vários pontos de vista: – No início do livro, o escritor reproduz um poema de Humberto Ak’abal, tornando evidente a intenção de dar ao texto e às suas reminiscências sentido poético, predispondo o leitor a uma leitura sensível, que ultrapassa o limite da expressão comum, puramente informativa, e da narração de fatos de dimensão mais objetiva. O resultado é uma obra reveladora de um estado poético, decorrente da pureza da alma e da espontaneidade do ser livre. Os meninos morenos, que estão em qualquer tempo e espaço, são colocados numa relação direta com elementos da natureza – o riozinho, a chuva (tamborilando no telhado), o ar, o vento e os pássaros – elementos de sentido me- taforicamente poético, igualando-se ao estado natural, bruto, misterioso e ilimitado da realidade, onde existe poesia. “A chuva era muito forte, mas meu avô estava protegido por sua enorme capa gaúcha, que cobria, também, o dorso do animal que ele montava: contra a luz dos raios, a silhueta que se desenhava parecia ser a de um só animal. Acomodado sobre a cabeça do arreio, na altura dos meus três anos, eu ia encolhidinho sob a capa que cobria o avô e o cavalo. Ia ouvindo o tamborilar da chuva caindo sobre a grossa gabardine de que a capa era feita. Paciente, o avô explicava ao menino curioso: ‘É a chuva, meu filho, tocando sua música’. Sua voz parecia vir do céu, lá fora.” (p. 13) O escritor explora o relacionamento poético dos meninos morenos com coisas miúdas e com a natureza, envolve-se nesse processo de captação da atitude infantil, reassumindo a relação primeira, originária, mítica e poética da criança com o mundo. Ele concilia o adulto, amadurecido para o seu intento criador, com o menino, mergulhado na magia da infância: “O Jarinho falava com os animais. Ao lado das plantas de seu pai, no seu quin- >> Geografia e História tal, havia um pequeno jardim zoológico que me matava de inveja (...). Principalmente, o Jarinho tinha passarinhos nas inúmeras gaiolas penduradas na grande varanda dos fundos, na sala da casa, nas janelas. Sua casa era uma sinfonia, e Jarinho imitava os cantares de todos os seus passarinhos.” (p. 45) Atividade i id d prática i O narrador-personagem é um menino com uma história particular, vivida ao lado de seu pai, Geraldo; sua mãe, Zizinha; avô, avó, irmãos; entretanto, o texto imprime a essa história um caráter universal. Ele é uma criança que experimenta a vida com toda a liberdade da infância, descobre e cria coisas insólitas, entende o mundo no dinamismo do seu crescimento em diferentes estágios (p. 22 – o menino tem 6 anos), adentrando a realidade a cada momento com mais profundidade. Tem espírito curioso e sensível, é observador, manifestando, por meio do desenho, a sua índole inventiva, pronta para o inesperado e para a transformação do esperado. 5 mos conhecer a História. Proponha aos • Estimule os alunos a pensar sobre a vida alunos que eles sejam “historiadores” deles mesmos. Seus alunos são de cidade e pesquisem como vivem os garotos de do interior? A cidade é um grande centro Portugal, na região do Tejo, e como viurbano ou não? Do que eles brincam? vem os garotos da Guatemala. Eles vão Onde brincam? Depois, incentive-os a farefletir sobre os modos de vida em dizer uma comparação da infância dos gaferentes épocas e lugares: como se vesrotos do interior com a dos garotos dos tem, o que comem, como se divertem, grandes centros urbanos: como vivem e o como são suas casas e suas famílias. A que gostam de fazer? Quais os hábitos e vida dessas crianças é muito diferente da costumes das crianças que vivem em ouvida do menino do Vale do Rio Doce? tros países como Portugal e Guatemala? • Explique aos alunos que os historiado- • Monte um grande painel com mapas desses lugares e fotos ou desenhos de res estudam documentos e todo tipo de crianças em seu dia a dia, em seus respista deixada pelas pessoas. Depois, em pectivos países. livros e exposições, expõem o significado dessas pistas, para que também possa- Artes e Língua Portuguesa • Dê oportunidade de a criança se colocar • Proponha aos alunos que contem a “História de sua vida” p por meio de: na própria sala de aula e relatar suas experiências. Para isso, ela pode usar brinnquedos, brincadeiras, jogos, fotografias, s, – textos em versos; relatos por escrito sobre sua família: avô, ô, – desenhos das recordações mais pai, mãe, irmãos etc. importantes; – relatos memorialísticos; – colagens de lugares, cenas; – álbuns de fotografias. Artes e Língua Portuguesa Brinquedos e brincadeiras existem há muitos e muitos anos. Não sabemos quem os inventou, só sabemos que eles são até hoje transmitidos por meio da cultura popular, de boca em boca, de pai para filho, em todos os lugares de nosso planeta. Criar brinquedos e brincadeiras é uma tarefa interessante e divertida: cada brinquedo pode apresentar uma forma, um tamanho, uma cor diferente... de acordo com a imaginação de quem o constrói. Ziraldo conta no seu livro Os Meninos Morenos que o seu negócio era ficar desenhando (p. 72), enquanto todos os seus amigos faziam seus brinquedos (carrinho de rolimã, pião, pipas, gaiola etc.) e desenvolviam brincadeiras (soltar papagaio, jogar bola de gude, rodar pião, pegar passarinho etc.). colaborar trazendo gravuras e fotos de • Divida a turma em dois grupos. O grubrinquedos populares para ajudá-los em po 1 ficará encarregado de confeccionar suas criações artísticas. brinquedos folclóricos com sucata – madeira, latas, garrafas etc. E seus compo- • Organize, com os brinquedos confeccionentes poderão contar com a participanados, uma exposição para ser vista por ção de pessoas da família/comunidade toda a comunidade escolar. Durante o para orientá-los. O grupo 2 deverá reevento cultural, as cantigas e brincadeicolher as cantigas e brincadeiras popuras pesquisadas devem ser compartilhalares (não só brasileiras, mas também de das com o público. outros povos). Você, professor, poderá Educação ç Física • Professor, para envolver os alunos, você pode organizar suas aulas em eventos como: “Hoje é dia dos brinquedos...”; “Hoje é dia das brincadeiras...”; “Hoje é dia de sessão de filmes...”. E, sempre que 6 possível, estabeleça comparações entre o universo das experiências infantis dos participantes e o dos meninos morenos de Ziraldo. Segunda etapa do trabalho: da linguagem visual A propensão para o jogo e para o imaginário é tipicamente da criança e viabiliza ao escritor, por meio da recuperação da potencialidade lúdica do mundo infantil, atingir o plano poético na sua criação: a sua linguagem sensível é fértil de significações metafóricas e de construções que se apoiam na exploração sonora e gráfico-visual. No livro Os Meninos Morenos, a comunicação se faz de forma plástica, ampla, por meio de significações contidas na forma, na cor, na disposição da palavra no espaço em branco entre um fragmento e outro. Chame a atenção ç do aluno para: p – o uso de capitulares; – as belíssimas e sugestivas vinhetas; – os diferentes tipos de letra utilizados no diálogo entre texto em verso e texto em prosa; – o emprego dos recursos gráficos (p. 46-47/64); – o diálogo com outras artes. Atividade prática A arte tem muitos segredos. Para desvendá-los, temos de aprender a observar o mundo à nossa volta como se fosse a primeira vez que fizéssemos isso. É preciso aguçar os sentidos; não só a visão, mas também o tato, o paladar, o olfato e a audição. Também é preciso conhecer a arte e os artistas, ver as reproduções de obras em livros e revistas e ler poemas e narrativas. É interessante ler, também, o que dizem os críticos a respeito dos artistas e de suas respectivas obras. Artes e Língua Portuguesa Escolha um aluno que, depois de obser• Organize uma aula em que os alunos var o cartaz, fique na frente da turma, tenham a oportunidade de apreciar os de costas para o cartaz, descrevendo-o mais diversos objetos (caixinhas, balande acordo com o que ficou registrado gandãs, desenhos, lenços, instrumentos em sua memória. musicais, carrinhos, bonecas, fotografias, selos etc.). Coloque esses objetos • O próximo passo é fornecer histórias em em uma grande caixa no centro da sala, quadrinhos aos alunos. Peça que obreúna a turma e peça a todos que observem as cores usadas nos quadrinhos servem os objetos ali colocados. Depois, (elas se repetem ou não?), os recursos peça que cada um retire da caixa o objegráficos, os tipos de balão (fala, de lito que mais lhe agrada. Estabeleça com nhas quebradas, uníssono, cochicho, reos alunos uma conversa sobre a escolha tangular etc.), a paginação e o que eles feita por eles: o que (cor, textura, forexpressam. Em seguida, discuta com os ma, tema etc.) o levou a escolher aquele alunos a frase: objeto e não outro? Mostre a eles que nós estabelecemos relações com tudo o “(...) o verdadeiro artista não pode vique nos cerca por meio de laços afetivos, ver sem sua forma de expressão”. sensações, referências. • Traga um cartaz com uma paisagem, uma • Informe aos alunos que, em outubro de 1960, a empresa gráfica O Cruzeiro cena ou um conjunto de objetos que tepassou a publicar uma revista de quadrinha correspondência com os da história nhos genuinamente brasileira. Tratavade Os Meninos Morenos. Peça à turma -se de O Pererê, criação de Ziraldo Alves que o observe bem, a fim de memorizar. Pinto, que enfocava uma figura bastante 7 conhecida de nosso folclore, o Saci-Pererê. • Convide os alunos a fazer uma releitura, por meio de desenhos, dos personagens da Turma do Pererê. Com o livro Os Meninos Morenos, podemos constatar a forma de expressão de Ziraldo. Então: • Convide seus alunos a observar as ilustrações do livro e o projeto gráfico. Há todo um cuidado, toda uma arte na composição do texto de Ziraldo. O projeto gráfico é variado, cada página parece ter um desenho próprio (verifique os detalhes, admire os tons das cores, descubra os traçados). • Organize uma seleção de livros ilustrados por Ziraldo. Apresente-os aos alunos, comentando o uso de recursos expressivos da linguagem visual. Chame a atenção para o “estilo” de Ziraldo. Compare os livros. Organize uma exposição na sala ou no pátio. Peça aos alunos que escolham uma imagem/cena e, individualmente, façam, por escrito, uma pequena descrição da “imagem” escolhida e do estilo do artista. Coloque os textos correspondentes ao lado de cada desenho para que todos possam ler. Terceira etapa do trabalho: da leitura intertextual Em termos menos específicos, a intertextualidade significa um diálogo entre textos, porque quem escreve deixa aflorar, de forma intencional, certas experiências, e outras afloram inconscientemente; em outras palavras, aquilo tudo que foi lido e recolhido e, portanto, faz parte do universo do autor, é transformado no momento da produção do texto. O escritor, ao escrever, lê experiências, vivências de âmbito particular, revê a realidade existencial, sociocultural e histórica e textos de outros autores que são convenientes a sua escritura. Retomando a leitura do texto Os Meninos Morenos, observamos que o discurso de Ziraldo se estrutura sobre o diálogo da narrativa com a poesia, transgredindo o limite do gênero literário puro. Além do diálogo da narrativa com a poesia, no livro cruzam-se se também: – cantiga popular: Meu pai foi menino de origem muito humilde, pobre, pobre, pobre, de marré, marré, marré. (p. 34); – fotografias: (p. 88-89); – documentos oficiais: auto de cartório (p. 34); – citações de marchinha de carnaval: Meu periquitinho verde, tire a sorte, por favor..., de Nássara e Sá Roriz (p. 16); – epígrafe: Eu também já fui brasileiro, / moreno como vocês, de Carlos Drummond de Andrade (abertura do livro, p. 4); – telas de Portinari: Café, 1935 (p. 30); e Brodowski, 1958 (p. 84-85); – desenho de Portinari: Menino, 1950 (p. 55); – Hino da Marinha: Qual cisne branco/ que em noites de lua/ vai navegando no lago imenso... (p. 24); 8 – paráfrase da “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias: Pois é: minha terra tinha palmeiras onde, em vez de sabiá, cantava o melro. E, como a gente chegava muito cedo para a aula, os melros ainda estavam cantando a sua canção matinal. Era como se estivessem saudando os meninos morenos, que também chegavam em bando para a escola. (p. 45); – ilustração de Borjalo: cartum (p. 79); – texto de Fernando Pessoa: O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia./ Mas o Tejo não é mais belo que o rio/ que corre pela minha aldeia./ Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia. (p. 10); – canção: pauta de Sérgio Ricardo para o tema da fita Deusa de Joba (p. 86); – citação: nomes de filmes e heróis (p. 8384). Atividade prática A leitura do livro permite a interpretação de várias realidades (Fernando Pessoa – Portugal/Aldeia; Humberto Ak’abal – Guatemala/Pueblo; e Ziraldo – Minas Gerais/cidadezinha) e determina associações que condicionam leituras variadas, detectáveis, ora em termos de semelhanças entre tais realidades, ora de oposições. Assim, o escritor lê a própria vida e a de todos os seus irmãos, meninos morenos, no seu transcurso simples e, ao mesmo tempo, profundo, imbricando a realidade simbólica do menino, principiante – aprendiz na trajetória da vida. Nessa trajetória, os olhares dos artistas se cruzam. Ziraldo, Humberto Ak’abal e Portinari reconhecem diferentes formas de injustiça social contra os meninos morenos e, também, contra os homens americanos. Portanto, oferecer suas obras aos alunos é uma forma de sensibilizá-los para questões que demandam solidariedade: “A Lua busca algum buraquinho nas casas de pau a pique, entra e se senta no chão.” (p. 56) >> >> “João Permanente morava num barraco miserável, de pau a pique e sapé (...)”. (p. 56) “Os meninos morenos daqueles dias morriam muito: por causa da água ou por falta de água. As doenças que os matavam eram provocadas pelos vermes que habitavam o rio de muito pouca água (...). Ou eram causadas pela desidratação dos recém-nascidos, por falta de informação das populações pobres dos cantos de rua.” (p. 60) Artes, Filosofia e Geografia • Converse com os alunos sobre a “Declaração Universal dos Direitos Humanos” (aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948) e “Os Direitos da Criança” (Declaração proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 20 de novembro de 1959). Leia alguns fragmentos do documento e questione se esses direitos têm sido respeitados. 9 – “Todos os homens nascem livres. Todos os homens nascem iguais e têm, portanto, os mesmos direitos.” – “Todas as crianças têm o direito de crescer protegidas, queridas e bem tratadas. Como as plantinhas de que a gente cuida com amor e carinho para que cresçam bonitas e viçosas!” – “Mesmo sendo muito diferentes umas das outras e morando em lugares também muito diferentes, todas as crianças têm o direito de ir à escola para aprender. E o direito de brincar, brincar bastante, para crescerem pessoas bem felizes.” • Leve para a escola reproduções de telas de Cândido Portinari (sugestões: a série Os Retirantes e telas de crianças de Brodósqui: Meninos Soltando Pipa, 1943; Futebol, 1935 e outras) para que os alunos observem as emoções que as telas suscitam. Como o artista retrata o seu povo, a sua gente? Quem são as pessoas retratadas? Como vivem? A sociedade e as autoridades públicas dispensam os cuidados devidos às crianças, às suas famílias? • Procure informações sobre algum programa de melhoria no padrão de vida das pessoas mais pobres de seu município (nas áreas de educação, saúde, habitação, transporte ou mesmo na oferta de alimentos ou criação de empregos). Elabore um boletim informativo com as informações obtidas. Associe os artigos do boletim com imagens de Portinari e com trechos da “Declaração Universal dos Direitos Humanos”. • Selecione poemas de Humberto Ak’abal e fragmentos do livro Os Meninos Morenos que dialoguem com as telas de Portinari, com a “Declaração Universal dos Direitos Humanos” e com os “Direitos da Criança”. Organize um painel com as telas de Portinari na sala de aula ou no pátio, associando o texto verbal ao texto pictórico por meio de aproximação dos temas. QUER SABER MAIS? Para um trabalho mais aprofundado sobre a obra de Ziraldo e sobre as propostas pedagógicas, consulte os termos técnicos de leitura visual e a bibliografia sugerida. Pequeno glossário Capitular é a letra que inicia um capítulo ou poema. Pode ser do mesmo tipo usado no texto, em tamanho maior, em negrito ou itálico; ou de tipo diferente; ser ornamentada ou acompanhada por um desenho relativo ao texto. Ilustração é toda imagem que acompanha um texto. Pode ser um desenho, uma pintura, uma fotografia, um gráfico etc. Projeto gráfico é o planejamento de qualquer impresso: cartaz, embalagem, folheto, jornal, revista etc. No caso do livro, o projeto gráfico abrange: formato, número de páginas, tipo de papel, tipo e tamanho das letras, mancha (a parte impressa da página, por oposição às margens), diagramação, encadernação (capa dura, brochura etc.), tipo de impressão etc. Vinheta é uma ilustração pequena, até cerca de um quarto do tamanho da página. Pequena estampa ou figura que se coloca no princípio de um livro, intercalada no texto, no princípio ou no fim de qualquer divisão ou subdivisão dele. Do francês vignette, “pequena vinha”, esses ornamentos representavam, na 10 origem, cachos e folhas da videira, símbolo da abundância. Bibliografia básica ARNHEIM, R. Arte e Percepção Visual – Uma psicologia da visão criadora. São Paulo: Pioneira. USP, 1980. BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003. CAMARGO, Luís. Ilustração do Livro Infantil. Belo Horizonte: Lê, 1995. READ, H. Educação pela Arte. São Paulo: Martins Fontes, 1977. ANEXO A NEXO TTEÓRICO EÓRICO Metodologia da Interpretação Vivemos em uma sociedade grafocêntrica, embora se saiba que essa posição conferida à palavra escrita não significa exclusividade; não só porque há culturas que dela prescindem, mas também porque, na atualidade, confere-se à imagem uma nova dimensão. Mas isso não impede que nos aproximemos da escrita informativa ou poética – com certo respeito. Com o objetivo de possibilitar a constru- contextualizada, no qual o aluno deverá ção da compreensão de diferentes textos, interpretar o texto narrativo. que abordam dos fatos mais simples aos O terceiro momento, o da aplicação, formais complexos, dos mais concretos aos mado pelos dois precedentes, é o da remais abstratos, valemo-nos da metodolo- cepção efetiva do texto, quando há formagia dos três olhares – Metodologia da In- ção de julgamento estético e, com ele, a terpretação para auxiliar o ato da leitura. atualização do texto. Esse momento abarEssa metodologia tem sido vista como uma ca dois níveis de leitura: o nível da leitura unidade tripartida em compreensão, inter- crítica, no qual o aluno deverá apreender pretação e aplicação. o discurso temático e ampliar o seu horiAssim, o primeiro momento, o da compreensão, quando se faz o primeiro contato com o texto e a apreensão dos seus referenciais, corresponderia ao nosso nível de leitura literal, no qual o aluno deverá reconhecer os elementos da superfície do texto, como personagens, espaço, tempo. Para isso, faz-se necessário, evidentemente, ter domínio do código da língua portuguesa. zonte de expectativa, dialogando com outros textos, formadores de sua história de leituras e que abordem o mesmo tema, e o nível da metaleitura, no qual o aluno deverá ter o domínio do conhecimento, pela apropriação do discurso metalinguístico. Conceitos e teoria dessa metodologia podem ser aplicados à leitura do texto verbal e não verbal, uma vez que ela admite a interO segundo momento, o da interpretação, textualidade e a interdisciplinaridade; enfim, quando o aluno, pelo exercício da herme- o dialogismo entre textos de áreas diferennêutica, dialoga com o texto, dá-se pela tes, mas de conteúdos complementares. concretização de uma leitura mais apurada, tendo por base o horizonte de expectativa da primeira leitura. Esse momento corresponde, para nós, ao nível da leitura 11 Método dos três olhares à luz da estética da recepção apresentado no quadro a seguir: MOMENTOS DO OLHAR O que acontece O que faz 2o MOMENTO Olhar mediador 3o MOMENTO Olhar ativo Encontro do leitor com um mundo que não conhece Encontro do leitor com o mundo significativo Encontro do leitor com o mundo novo que agora conhece Uma leitura que apanha os elementos significativos, sinais, referentes Uma leitura de diálogo com o texto, por meio da pergunta e da resposta Uma leitura de cruzamento do ver e do sentir, do exterior e do interior, ou seja, cruzar experiências Olha e vê Olha, vê, interroga e busca Olha, encontra, associa, reúne, interioriza, vê e lê O que importa Reconhecer os elementos significativos, sinais, referentes O exame da realidade representada, por meio do questionamento da busca dos porquês, causas e motivos A integração do novo que se vê e do antigo que é a experiência do já visto, fusão de horizontes, ampliação de conhecimento O que resulta Compreensão VER-POR-CONHECER Interpretação VER-E-PENSAR Aplicação VER-PENSAR-LER Como faz 12 1o MOMENTO Olhar receptivo Bibliografia: JAUSS, H. R. A História da Literatura como Provocação à Teoria Literária. São Paulo: Ática, 1994. LONTRA, Hilda Orquídea Hartmann (org.) Leitura e Literatura Infantil - Questão do ser, do fazer e do sentir. Oficina Editorial do Instituto de Letras da UnB: FINATEC, 2000. ZILBERMAN, Regina (org.). Leitura - Perspectivas interdisciplinares. São Paulo: Ática, 1988. Este projeto de leitura está com a Nova Ortografia conforme o Acordo Ortográfico da Língua Protuguesa.