Da `marginalidade` ao processo de institucionalização

Transcrição

Da `marginalidade` ao processo de institucionalização
Índice
Editorial ..
V
N ecrología
1
.
Artículos:
el ciclo de iuventute
4
Von Colóns Briefen zu Lope de Vegas Kannibalen.Eine
KIassifizierung der Texte des Siglo de Oro über Alnerika .........
33
Wenn Hunde erzãhlen.Miguel de Cervantes' Coloquio de los perros und die Tierliteratur ...................,
51
BENJAMIN KLoss: La imagen de Francia en los artículos de Mariano José
de Larra ......... . ............................
82
ANTONIO CARRENO:
Lope
y
INGRID SIMSON:
MICHAEL KOHLHAUER:
deI sujeto ético en la trilogía
social de Blas de Otero ............................. 106
JUAN JOSÉ
LANz: La construcción de la voz
y
M.CARMEN VILLARINO PARDO: Da "rnarginalidade" ao processo de institu­
cionalização: o caso da poesia no sistema literário brasileiro pós-64 ..,
134
HUBERT POPPEL: Ein seltsarnes brasilianisches Allti-Evangelium: Mário de
AIldrades Macunaíma: ............................. 148
Resenas
ROLF EBERENZ: Diálogo y oralidad en la narrativa hispánica moderna.Perspectivas literarias y lingüísticas [Jiménez RanlÍrez] ............ 161
/ HANS-JORG NEUSCHÀFER / AUGUSTA LÓPEZ
(eds.
): Entre el ocio y el negocio: Industria editorial y literatura en la Espana de los 90 lJirnénez Rarnírez] ............... 163
JosÉ MANUEL LOPEZ DE ABIADA
BERNASOCCHI
AIlales de la literatura espanola contenlporánea: Teatro y cine, VoI.26,1
[Magnus] ..................................... 165
Theater, Filnl, Literatur in Spanien.Literatur­
geschichte aIs integrierte Mediengeschichte [Koch] ............. 167
FRANZ-JOSEF ALBERSMEIER:
Da "marginalidade" ao processo de institucionalização
�
?
135
alternativas fornecidas pela política cultural oficial são inúmeras que os setores
J vens começarã
� a enf�tizar � atuação em circuitos alternativos ou marginais (. . . ) .
�est�çoes cnam seu próprio circuito
10das essas ma
-não dependem, portanto­
da chancela ofiCIal, seja do Estado ou das empresas privadas -e enfatizam o caráter
M.
CARMEN VILLARINO PARDOl
itucionalização:
Da "Inarginalidade" ao processo de inst
sileiro pós-64
o caso da poesia no sistenla literário bra
de grupo e artesanal de suas experiências.
Assim, face à cooptação e o controlo que o Estado quer ter do CaInpo cultural
e do campo literário, uma série de produtores4 e manifestações rnargulais se
�presentaIn corn� alt:rn�tiv�, restrita, a essa cultura oficial5 em que alguns se
mte��am, e tambem � propna produção de tipo engajado que algurnas ernpre­
sas Ja e� n estabeleCIdas no nlercado editorial vendianl, porque perceberaln
que eXlstIaln consumidores para os textos políticos ou de intervenção. Aos
poucos conleça a perfilar-se unl público, um público que consome política
de nlOdo que "as obras engajadas vão se transfonnando num rentável negóci �
para as elnpresas da cultura" (Hollanda, 19923: 93).
�
livreiro do país nlostravanl unl pano­
As editoras que trabalhavam no rnercado
nacionais, ainda conl rnenos possibili­
rama pouco alentador para os escritores
menos se os ntateriais do repertório
dades se se tratava de autores novos, e
queixas não deixaraln de existir, mas
escolhidos eram pouco priorizados. As
crítica em algo produtivo: surgiram
também houve quern quis traduzir toda essa
arn a editar eln "regune ntarginal", por
os "autores Inarginais", porque conleçar
no terreno da poesia, talvez o mais
exernplo cmn o mhneógrafo,2 e não só
conhecido nesta tendência. 3
unta crescente intervenção estaA partir de 1975, sobretudo, evidenciou-se
io, que provocou reacções interes­
tal no CaInpo da cultura e no campo literár
ções culturais e literárias e que Ine­
SaIltes enl cadeia nas diferentes maIlifesta
ução poética, por exemplo, e como
rece a pena ver. No que diz respeito à prod
elecidas, vários produtores e pro­
crítica ao circuito das grandes editoras estab
ativo de produção e distribuição
dutoras optararn por criar um circuito altern
no teatro proliferaram os 'grupos
(livros minleografados). De nlOdo parecido,
os mambembes de rock, chorinho . . . ,
experimentais', na música popular os grup
orçanlentos e, preferenciallnente,
ou no cinema as produções de pequenos
como explica a professora Heloísa
filInes ern super-8. É o mornento, em que,
Buarque de Hollanda (Hollanda, 19923: 96):
Compos­
leira na Universidade de Santiago de
Professora e Doutora em Literatura Brasi
m dos Sistemas Culturais
tigaço
Inves
de
ra
Galab
o
Grup
do
tela-USC (Galiza). Membro
Galego,Luso,Afro e Brasileiro,da USC.
edição,texto
nta: "Processo de edição é processo de
2 Abel Silva (Opinião, 9/4/76 ) come
é texto".
ento em
por O pasquim, em 1975,há um mom
3 Ao falar da prosa no debate promovido
-Sérgio Sant'Anna: "( . . . ) a
s:
lemo
e
inal
marg
ção
produ
da
que os participantes falam
: Agripino
entrou no mercado ainda. E ela existe
grande obra de revolta no Brasil não
Não,nós
io:
-Sérg
des?/
rebel
ar: Não são vocês os
de Paula,Sebastião Nunes . . . ! -Jagu
! -João Antônio:
dele.
gosto
não
,
papel
esse
to
Rejei
somos escritores do establishment.
E é uma obra
tão fazendo uma obra na escuridão.
O Sérgio está certo. Esses caras
inlportante".
1. A rnarginalidade corno referência: a geração mimeógrafo
�
� �
� �
Mas enl que : rmo s define ou estabelece essa "marginalidade",6 que pro­
dutores e cntIcos lsIs ern enl mostrar? �lávio Aguiar (Leia, 1978, p. 13) re­
su e e nlOdo nluIto sunples e nlesmo gráfico de rnais a questão: "recebiam,
ao Ulves da proteção almejada, a tesourada".
Mar na s que a ontavaIn, especialmente na poesia, para a inadequação e
.
ulsuficIeI cIa das edItoras brasileiras face às novas necessidades do consunlO. 7
lecessIdad: que estes produtores manifestam, atinge, assim, não só mate­
. como também pla
aI� r p :rtonaIs
cação cultural e de mercado, papel das
ulstItmçoes . . . ; enfun, urna aInpla re-estruturação intra-sistémica. Heloísa Buar­
que de Hollanda oferece (HollaIlda, 1976: 7) a sua explicação:
� �
�! �
�
��
� �
� ��
fr nt
o
�
�
?loqueio sistemá�ico das editoras,
tnbmçao mdependente
VaI
um
circuito paralelo de produção e dis­
se fonnando e conquistando
um
público jovem que não
se confunde com o antigo leitor de poesia.
1
�
�
4 Eles insist m :m que o princípio que se iga no campo de produção literária seja aquele
.
em que as UIllCas regras venham deternunadas pelo próprio campo literário' e não peIo
5
6
7
campo do poder.
idade/ uma barra pesada ! impossível de retocar" (André Bueno,Brasa Brasil,
7
Cfr. Saraiva (1975).
Sem esqu ce que nes�e "espírito de marginalidade" estava muito presente também
uma margmalIdade poht ca m sectores amplos da sociedade,incluídos os artistas que
procuram estes outros ClrcUltos alternativos.
�� ���
� �
� �
Da "marginalidade" ao processo de instituCionalização
M. Carmen Villarino Pardo
135
�
inal", tambérn aponta (Cacaso, 19 7:
Cacaso, um dos poetas da "geração marg
lema importante, cultural e socIal­
18-19) para uma dinârnica que é um prob
mente, no Brasil daquela altura:
estreante, e
barra ao escritor, sobretudo se for
a escalada da marginalização, que
em condi­
buído
distri
e
de ter seu trabalho editado
mais ainda se for poeta, o direito
ente de
req
ais
vez
da
c
nós é a ocorrência
.
ções normais (. .. ) O que se vê entre
como
taIS
,
IOnaIS
tradiC
VIas
de cada vez menos das
uma poesia cuja existência depen
pa­
de
ipado
antec
nto
ecime
nas livrarias, reconh
apoio editorial, vendagem nonnal
drinhos e instituições literárias, etc.
�
.
�
� �
mr de 'nmrginal' o autor "barrado"
Este autor reconhece que o habitual era chan
ibuindo por conta própria, 8 de nlOdo
nas editoras e que acabava editando e distr
nlaneira que, cOln a passagenl dos
geral se é estreante ou pouco conhecido. De
o assim acontece) textos e auto­
anos tenninássernos lendo e estudando (com
vezes apesar das instituiçõ�s".
res que sobreviveram "à nmrgenl e muitas
os anos setenta no Br�Il, nunm
.
A actuação enl grupos,9 tão habitual durante
situação de margmalidade enl
a
rar
supe
rem
tenta
e
s
força
r
soma
de
tentativa
geral os factores institucionai ),
que os colocava o sistema editorial (e enl
independente, enl geral enl reVIS­
favoreceu por todo o país as edições de tipo
os próprios autores [manciavam
tinhas ou livros ern papel jornal barato, que
urna adversidade (evidente tarnbénl
e como se sabe, distribuíanl, convertendo
sistenla literário� �um
�as posições periféricas que ocupavarn nas redes do vida
literária brasileIra.
ria
u a próp
claro exemplo de dinanusnlO que enriquece
surginlento desse
do
s culpáveis
O facto de indicar as editoras conlO única
cionista como pensar na censura
rnovimento de poesia rnarginal é tão redu
govenlo rnilitar no campo cultural
corno a única estratégia de intervenção do
anos. Para isso, entendemos o
e no carnpo literário brasileiros durante esses
do poder, nUIn esquerna de círculos
campo literário cOlno uma parte do canlpo
ectiva mais apropriada para não
concêntricos que nos deve dar sempre a persp
de vista nunca a estrutura em que
isolar os factos que analisarnos e não perder
�
8
dessa época, �o�no mo�tra, ��r exemplo,
Coincidem com ele quase todos os estudiosos
ras Brasü�tras: Ittnerarw� r:o Pen­
Leitu
como
amplo
tão
a referência que, num livro
s Manza Veloso e Angelica Massora
profe
as
samento Social e na Literatura, fazem
.
.
deira (VelosolMadeira, 1999: 186):
-Bossa Nova, Crnema Novo-, nos ano.s
"Assim como nos anos 50 ( ..) tudo era 'novo'
lar de Cultura (CPC), m�sica �opul� brasl­
60 tudo se tornou 'popular' -Centro Popu
estações estéticas que nao se ldentificavam
manif
as
todas
leira (MPB)-, nos anos 70,
'.
com o status quo eram denominadas 'marginais"
de "marginalidade", como um exem­
e
ia
rebeld
de
es
atitud
ntes
difere
Que mostravam
deu da França e dos EEUU a outros
esten
se
que
",
plo mais do chamado "poder jovem
países, entre eles o Brasil.
se insere aquilo que trabalhamos, seja do canlpo estritarnente literário ou do
cultural.
Nesse Brasil do período pós-54, e especialrnente na década de 1970, estava
na moda entre um detenninado sector da população, jovern maioritariamente,
ser marginal; de rnodo que, como aponta F. Süssekind (Süssekind, 1984: 179):
Se o leitor sente no escritor, no narrador, no herói do romance, alguém que sofre
marginalização semelhante à sua a empatia é imediata. Por isso se abusou tanto do
epíteto 'marginal' nos anos setenta. Tomou-se coisa tão elogiosa quanto uma tuber­
culose para os autores românticos. Ser marginal parecia implicar uma percepção
mais radical da sociedade brasileira, ela também marginalizada e exposta à violência
e à censura.
Na literatura brasileira, este movimento poético recebeu vários norHes (parece
haver uma resistência a que fique defirudo cOln um único nome), entre eles o de
movimento 70, geração 70, alternativo, independente, paralelo (que preferem
�eraldo Canleiro ou Ronaldo Periassu), jovem, marginal, 10 desbunde (que uti­
lIza, entre outros, Benedito Nunes), mimeógrafo.ll Talvez o melhor seja oscilar
entre 'os verbetes do cardápio'.
Ser marginal, ou melhor, declarar-se rnarginal corno poeta estava na rnoda
podemos dizer que era um dos materiais privilegiados do repertório ness �
época, utilizado por determinados (e nurnerosos) produtores; rnas não fazia
parte de um repertório canoruzado, porque esses autores não utilizavam os
circuitos habituais que marcavam o rnercado e/ou as instituições, nern quarlto
à edição nem à distribuição dos seus produtos.
Essa maneira de fazer e divulgar poesia, procurando uma participação viva
na cena literária cultural, para o que saíram para as ruas e utilizararn as marlei­
ras rnais sugestivas e irnaginativas para chegar ao público,12 "virou moda", e
conleçou a centrar a atenção dos críticos, da imprensa, de professores e estu­
diosos e, tarnbém, dos editores; num canunho que se orientou para a institucio­
nalização de uma parte desta produção e dos seus autores.
10
11
.
9
137
12
Este foi talv�z o que mais �ngou, como indicam, por exemplo, estas referências: Cha­
.
ca:, Quampenos (1977), RlO de Janeiro, Edições Guarnicê, 1986; Cacaso, "Tudo da
minha �erra-bate-papo sobre poesia marginal", inAlmanaque 6 (Cadernos de Literatura
e Ensaio), São Paulo, Brasiliense, 1978; e Heloísa Buarque de Hollanda (19923).
Como exemplo os poemas "geração mimeógrafo" de Xico Chaves, in PoeEta clandes­
tino (1986), ou "Ai que saudade eu tenho" (primeiro verso), de Paulo Nassar (in Cam­
pedelli, 1995).
"Par� obter esse efeit� �e reconhecimento imediato, essa resposta direta do leitor, foi
preclso que o texto poetlco começasse a dialogar cada vez mais com os media e menos
c�m o pr? prio sistema li�erário, cada vez mais com o alinhavo emocional do diário, com
o lllstantâneo, com o reglstro, em close, da própria geração" (F. Süssekind, 1985: 73).
138
1.1. 26 poetas hoje e o irúcio da institucionalização.
O papel da editora Labor no Inercado literário brasileiro
Especialmente significativo neste sentido foi a publicação do livro de Heloísa
Buarque de Hollanda, enl 1976, 26 poetas hoje.13 Nele, esta professora tomou
visíveis alguns dos principais representantes (e os seus produtos) dessa 'nlOda
poética',14 para unl público unl pouco ntais amplo do habitual consumidor
desses textos (frequenteInente jovens e, Inuitas vezes, tambéIn eles produtores
de 'poeInas Inarginais'; conlO é habitual no "sous-chanlp de production res­
treinte", de que fala P. Bourdieu, 1991: 7). A autora não inclui só os poetas
denonlirlados Inarginais, nlas trata-se de uma lista fechada, uma tentativa de
canonização de vinte e seis poetas e dos seus textos.15
A publicação do livro desta ensaísta e crítica carioca na editora Labor, enl
1976, é importante taInbém pelo facto de iniciar unla nova etapa desta casa
editorial. Instalada no Rio de Janeiro há quarenta anos COIno distribuidora, a
Labor do Brasil16 entrava agora no nlercado conlO editora, publicando obras
nacionais e estrangeiras. E precisanlente essa estreia editorial foi com 26 poe­
tas hoje. SeIn dúvida, a Coleção de Bolso Labor foi unl passo para a frente,
COIn diferente repercussão no relativo aos outros autores e à antologia organi­
zada por Heloísa B. de Hollanda. E o caso desta últÍlna é especialnlente irnpor13
14
15
16
Da "marginalidade" ao processo de institucionalização
M. Carmen Villarino Pardo
Um ano antes saíra tanlbém a antologia AbertuTa poética- PrimeiTa antologia dos
novos poetas do novo Rio de JaneiTo, Rio de Janeiro, C. S. Editora, � 975, organizada
por César de Araújo e Walmir Ayala, em que aparecem quarenta e tres pO:,tas �ovos,
inéditos até então. Não teve muita repercussão na crítica, embora a sua funçao divulga­
dora fosse importante. E em 1978, por e�emplo, encontramos Ebuliçã? da �scrivatuTa,
no Rio, ContTamão, em São Paulo e Aguas emendadas, em Brasília: tres casos de
antologias poéticas em que a organização depende de um grupo.
.
Distinto é o caso de Wally Sailormoon -e de algum outro poeta- que VIU a sua obra
Á
(um
exemplares
mil
dez
de
tiragem
editada em 1973 pela Editora José lvaro numa
acontecimento, se pensamos nas tiragens mínimas que era� p�s�das de mão em �ão
no caso da maioria dos poetas desse grupo dos anos 70), distnbUIdo mesmo em qUIOS­
ques. Me seguTa que vou daT um tTOÇO era o título do livro, que devia . Lniciar uma
colecção dedicada a poesia ("Na Corda Bamba") . Aconteceu o que pratIcamente se
podia prever: um fracasso de vendas, provocando que não saíssem outros autores que
iriam integrar a colecção -Luís Carlos Maciel, J. Mautner (Cfr. Cacaso, 1997: 71).
.
"Esta mostra de poemas não foi feita sem arbitrariedade" (Hollanda, 1976: 10). Uma arbI­
­
dispers
�
trariedade que passa também por algumas limitações: conhec�r a produção
desses autores não resultava fácil, por isso se limitou àquela area que melhor conhecIa:
o Rio de Janeiro. No polissistema literário brasileiro desses anos não escolheu produto­
res das correntes experimentais, nem das tendências formalistas, nem obras já reconhe­
cidas. "O que orientou a escolha e identifica o conjunto selecionado foi ajá referida recu­
peração do coloquial numa determinada dicção poética" (Hollanda, 1976: 11).
O Grupo Labor, a que se filia a Labor do Brasil, tinha sede em Barcelona, e . a ele
estavam ligados duas importantes editoras espanholas, a Guadarrama de Madnd e a
BarraI de Barcelona.
139
tante pela luz que trazia sobre unla aInpla produção marginal,
pouquíssimo
conhecida fora do espaço dos próprios produtores.
26 poetas hoje inaugurou unta linha editorial no grupo catalão
irlstalado no
Brasil: a Colecção Formato de Bolso de obras de ficção, poesia
e reflexão (eIn
que pretendiam dar atenção aos "bons autores brasileiros"), que,
COIn as obras
de Inedicina e livros técnicos, querianl que fossem as tendências
que Inarcas­
seIn os lançamentos da casa. Sem 'pretender disputar o mercad
o de best-se­
llers' apostaraIn por introduzir entre os (poucos) hábitos leitores
do público
brasileiro o dos livros de bolso, ainda escassanlente presentes no
seu Inercado
editorial. O projecto concretizou-se COIn o lançarnento de cinco
livros "todos
COIn ótirnas capas de Sílvia Roesler" ("Cinco bons livros de bolso",
Jdrnal de
Ipanema, Julho, 1976): Nem preto nem branco. (Escravidão e relaçõe
s raciais
no Brasil e nos Estados Unidos), de Carl N. Degrel; 26 poetas hoje,
org. por H.
Buarque de Hollanda; Armadilha para Lamartine, de Carlos &
Carlos Susse­
kind; Gargalhada no escuro, de Vladirnir Nabokov; e Fundador (2a
edição re­
vista), de Nélida Pifíon.
UIn lançamento editorial que teve arnpla repercussão na impren
sa17 e uma
caInpanha intensa de promoção, favorecendo que vários desses
livros figuras­
sem em breve entre os mais vendidos. 18
Se o lançamento da antologia orgarúzada por Heloísa B. de Holland
a é enor­
Inemente sigIúficativo, também a re-edição da obra de Nélida Pifion
foi impor­
tante, porque se tratava de voltar a ter nas livrarias um texto
publicado em
1969 que tivera UIna distribuição InÍIúIna e que havia teInpo precisa
va de unta
nova edição (Jornal do Commércio, 9/5/74), especialmente após
o prémio que
a autora carioca recebeu por A Casa da Paixão (Prêmio da APCA)
e da edição
eIn espaIlhol que a editora argentina Emecé lançou eIn Buenos Aires,
enl 1973.
Fundador foi premiado COIn UIna Menção Honrosa no Wahnap
de 1969 e conti­
nuava a ser mencionado entre os livros desta escritora, considerado
COIno "um
voluIne cheio de chaves simbólicas e ainda carecedor de atenção
Inaior da
crítica nacional" (Aramis Millarch, Estado do Paraná, 1973).
O lançamento desta edição de Fundador chanlOU de novo a atenção
sobre
UIna autora que não parece precisar já de apresentações prévias
.19 E o resul17
18
Jornal do BTasil, 9/6/76; Jornal de Ipanema, Julho, 1976; Jornal do ComméTcio, 4/7/
76: Manchete, Julho, � 9!6; � Globo, 18�7/76; Diário de PetTópolis, 25/7/76; O Estado de
Mtnas, 8/8/76; A Nottcta, RIO de JaneIro, 10/12/76; O Dia, 1/8/76; Gazeta Comercial,
28/1/77, etc.
Vid. O Dia, 1/8/76. Este jornal carioca oferece uma lista dos dez mais vendidos chefiada
por Os velhos marinheiTos, de Jorge Amado, e que continua Boitempo, de Carlos
Drmnmond de An�ade. Encontramos, nos postos 5°, 6° e 7°, respectivamente, 26
. Armadüha paTa LamaTtine e F'undadoT, seguidos de duas obras de Gui­
poetas ho.Je,
marães Rosa, Tutaméia (8°) e SagaTana (90).
140
141
M. Carmen Villarino Pardo
Da "marginalidade" ao processo de institucionalização
tado desse lançamento?: "O livro repete o sucesso comercial. Disputa-o o pú­
blico. Suas páginas servern de material de estudo nas universidades" (Gazeta
Comercial, 28/1/77).
Mas estas palavras do crítico Campomizzi Filho, que conhece beIll a obra
da escritora carioca, parecem dar a impressão de estannos diante de uma
produtora literária de sucesso comercial, urna ideia que não se ajusta exacta­
mente à realidade. É verdade que o livro atingiu uma maior divulgação, e que
o norne da autora circulou Illais amplaInente, Illas não nos enganernos: N.
Pilion continua a ser, nessa altura, UIlla autora com urn público restrito, COIll
um nOIlle e uma posição consolidados e de destaque (porérn ainda não ocupa
uma posição central no sistema literário brasileiro), rnas um norne estranho
para muitos estudantes do Rio Grande do Sul, de Salvador, de São Luís do
Maranhão . . . (e mais ainda entre um público não universitário). O seu caso
não é singular, pois tarnbéIll outros escritores e escritoras, colegas seus (em
posições diferentes do CaInpo, mas todos eles longe da periferia do sistema
literário), vão precisar do contacto directo através de viagens pelo país afora
(aonde convidaIn sernpre os IllesIllOs) para dizer quem sou, qual é a rninha
obra e também para se mostrarem mais acessíveis ao público.
As escolhas da editora Labor contribuíram para a divulgação desses produ­
tores literários e dos seus produtos, entre eles taInbém a obra nelidiana. Mas,
a repercussão que esta re-edição de Fundador tem no polissisterna literário
brasileiro é Ínfirna se a cornparaInos corn o significado que, em 1976, tem o
lançamento da obra organizada por Buarque de HollaIlda, porque indica que
cOIlleça a abrir-se o caminho das editoras (e de unl mercado mais amplo) para
o 'grupo marginal'.2o
A publicação de 26 poetas hoje deu rnais força ao movirnento da poesia margi­
nal, abrangente e diversificado; um fenómeno que se aInpliou devido sobretudo
a vários lançamentos (sendo este livro um dos mais significativos), praticaInente
seIllpre acornpanhados de recitais, e ao início de polémica em jonlais e revistas.
Nesse crescente irlteresse taInbém devemos incluir ala Feira Paulista de Poesia
e Arte (Novernbro 1977), no Teatro Municipal de São Paulo - o mesrno cenário da
Sernana de Arte Modenla de 1922. Durante três dias foraIn lançados e vendidos
dezenas de livros, além de leituras públicas, espectáculos de música e dança, ex­
posições de fotografias, gravuras, pinturas . . . , com uma presença e participação
irnportantes, e surpreendentes, de público. A revista Escrita também lhe dedicou
urn rnonográfico no n° 19 (1978).
H. B. de Hollanda, que estava a trabalhar COIll a produção poética do rno­
mento, recebeu UIlla encomenda da Editora Labor para reunir os chamados poe­
tas rnarginais. Estes simplesmente exemplificavarn alguns dos grupos que trabal­
havaIll com materiais repertoriais e objectivos parecidos; entre eles, a revitaliza­
ção do fazer poético, a procura de público, a desintelectualização da linguagem e
do comportarnento, o mercado altenlativo . .. A professora Buarque de Hollanda
pretendia traçar urna 'radiografia' do panoraIna poético do IllOrnento, um retrato
de geração21 rnostrando essenciahnente alguns dos produtores que iniciararn a
sua actividade poética nos anos sessenta e setenta; contudo, sem tentar repre­
sentar "a poesia jovem" no Brasil de modo global, equívoco que persistiu durante
bastaIlte ternpo ao referir-se à colectânea.22 'De parte ficararn, entre outros, o
neoprocesso e em geral as vanguardas, mas não só.
O objectivo do trabalho parecia claro para a organizadora, como se depreende deste debate que reproduzimos, apesar da sua extensão:
Luiz Costa Lima- (. ..) Que se pretendeu? Furar o mercado editorial?
19
20
Heloísa- Criar uma alternativa.
Entre os comentários que falam dela, encontramos alguns como estes: "a autora já
firmou o nome e é o quanto basta, para recomendar o seu livro" , "o nome de Nélida
Pifion, por si só, suscita interesse quando aparece como autora de um livro" (Jornal
do Commércio, 4/7/76); "Nélida Pillon é hoje um nome consagrado da ficção brasileira.
Desde sua estréia há quinze anos com 'Guia-Mapa de Gabriel Arcanjo', a escritora
carioca se fez destaque" (Edigar de Alencar, A Notícia, 10/12/76); "a autora se impõe
como destaque entre todos os nomes femininos das letras brasileiras de todos os tem­
pos" (Camponúzzi Filho, Gazeta ComerC'ial, Juiz de Fora, 28/1/77).
"Ana Cristina e Ítalo tiveram a inteligência de perceber, ainda em 1977, sob o impacto
do sucesso da antologia 26 poetas hoje, publicada por Heloísa Buarque no ano anterior,
as ambigüidades com que passaria a se defrontar a partir de então a opção marginal.
Entre o 'trampolim' para uma grande editora e a persistência num esquema alternativo
de produção. Divisão que se apresentaria de maneira mais rútida no início dos anos
80, quando Chico Alvim, a própria Ana Cristina, Leminski, Chacal, Alice Ruiz e, mais
tarde, Cacaso seriam convidados pela editora Brasiliense para reunir em volume seus
livros editados inicialmente de forma independente. O que se realizaria com bastante
sucesso de público" (Süssekind, 1985: 71).
Sebastião Uchoa Leite- Criar uma alternativa assim como existe uma imprensa alter­
nativa em relação ao Establishment.
Luiz- Tipo imprensa nanica.
Eudoro Augusto- A poesia nanica.
21
22
"Mas ela {a Antologia} é um registro. Que aliás, deu muito certo, comercialmente . . . ",
comentou a organizadora, H. B. de Hollanda, na revista José ("Poesia hoje", Agosto,
1976) no momento da publicação da obra. Esta revista foi lançada durante o III Encon­
tro Nacional de Professores de Literatura (de 28 a 31 de Julho na PUC-RJ). Foi uma
das várias revistas que surgiram nessa altura, como Saco Cultural, Ceará ou Inéditus,
"o que é prova de uma certa efervescência que vem aparecendo nos meios literários
brasileiros" (Affonso Romano de Sant'Anna, O Estado de S. Paulo, 1/8/76).
"Equívoco que não parte da Antologia, mas da recepção em relação a ela. Ela retrata
apenas uma ilha de um arquipélago de poesia jovem e atual", explica Jorge Wanderley
no debate sobre poesia que publicou a revista José em Agosto de 1976 (p. 5).
142
Da "marginalidade" ao processo de institucionalização
do
M. Carmen Villarino Par
mimeografados, outros, em offset, mostram um trabalho gráfico sabido e diferen­
_ o pergunto.. Se é essa a intenção vocês não correm o risco de
enta
Mas
to.
Exa
Luiz
de serem
poetas que pelo simples fato
h ment uma sene de
mar tomarem como Establis
.
, são colocados na outra
o, AgUllar, gra ndes editoras
editados pela Jos é Olympi
/
�
::
o
.
· 1 do repertório canonizad
aneldade": Inatena
por
teln
con
da
o
istr
"reg
O
1.2.
a
rque de Hollanda faz para ess
y�o que H. Bua
.
É interessante a chalnada de at �n
7):
6:
anda, 197
no lIUCIO do seu livro (Ho11
produção poética eIn 1976,
�
�
a, nas portas de
oesia. Nos bares da mod
.
.
e, o a�tl o do dia é
Curiosamente, hOJ
.
ul!n e se esgotam com rapidez. Alguns são
s, livrinhos crrc
teatro, nos lançamento
23
epção da via
diálogo ·de um lado a perc
intere s n ,de�
�
�
lprensa. Neste caso
Várias são as ideias que. nos
na
ntecia
ac
que
, e par e o aqu
e tamalternativa para a poesm �
leis do mercado editorial
tlca, no outro, ais Pelas
polI
sura
cen
pela
do
inção entre .aqueles
dist
a
um
Propicia
lara
c
Ica
fi
o
política· de outr
o-nos
bém, claro, pela ce�sura
(Establishment), e refenm
estao do 1 d d� poder
as
grad
inte
o
estã
tas
produtores de poesm que
pos
cujas pro
mercado e o al aqueles
outro, aquele� qu�
de
e
basicamente ao poder do
.
ral,
Cab
e
ond
, especm�mente D�
tl­
nas editoras consagradas
orial nem de n�nhuma m�
� a�Olo de nenhuma casa edit
sem
ta,
con
sua
pela
tambem, a referen­
actuam
Mas
).
ário
liter
ma
siste
penfena de�tro .do
faz da tendência que
tuição (um centro e uma
le o eI deflnição que se
l é Ch�v �,
, porque um �o�
ndo
cia a Drununond e C�bra
Hollanda); segu
, clasSIClZ
( .
na Antologm e
ta
sen
representam: formalIsta,
apre
rque
Bua
sa
a produçao que. Heloí
coloca estes
ar
Cés
tina
traços mais comuns a toda
Cris
Ana
alismo; e ter�e�ro'
form
anti
o
mo,
e do mo­
part
ralis
m
cab
o anti
mesmo se faze
o l
dentro d tr
o tradiçã?
u'
F
com
deles
dois poetas praticamente
alar
ção.
de prod
presente e
mento presente (aquele
zam um repertório canOIllentre os autores que utili
los
cá
colo
Ica
nifi
.
SI
que
.
pensamos
a presença geradora: . . '
'um
�
.
são
eles
ue
q
ntar
amda maIS, co
Even-Zohar denormna
zado(/não canoIllzado); e
ar
Itam
ar daquilo que
rmos a
esta
de
o
ce
fact
ao
a
reflr
se
talvez
.
·ado modelo literário se estabele
.
. .
a' ' em que mn detemlm
�
canOIUzaesta
a
Seri
como 'canoIUcIdade di�armc
te.
.
des
io
rtór
ra eS do repe
do slstem
opinião do professor
como princípio produtl��
en e produz o cânone, em
re
que
)
tlco
esta
tip
de
a
ção (e não
<.>
lOS os
da Escola de TelaVive.
s que a Antologia (ao lem
de produtores e pr duto
Em vista disto, o leque
ial comum, talvez mais do
tenc
exis
a
o
ebe-se
rquia entre
textos que apresentam per�
a atitude de escárnio e ana
�
al comum,
literatura
da
a
grafi
orio
que uma proposta rep:rton
arlha na hist.
de rebelde que não é estr
hecidos em 1976
con
á
os mais novos·, uma atItu
J
uns
(alg
e
.
erec
f
o
1987·. 91-110) nos
estanam
brasileira -cfr. Schwarz, .
do-se, quase, ao público)
ntan
rese
ap
s
tr
o
a,
!ICad �
tro do
através dalguma ob�a . pub
sistemas periféricos den
-canoIllz� o, e integrariarn
a utilizar um repertono nao
ileiro da decada de 1970.
polissistema literário bras
�f
_
ciado do que se vê no design industrializado das editoras comerciais. Mesas-redon­
das e artigos de imprensa discutem o acontecimento. O assunto começa -ainda que
.
gem, no Establishment?
m, por exemp1o?.
(Ana) Cristina Cesar- Que
ral.
Cab
,
rária.
Luiz- Drummond
.
que dentro da tradição lite
e Cabral estanam quase
(Ana) Cristina- Drununond
"
presença g adora . ..
Eles são mais, digamos, uma
1976, p. 6)
("Poesia hoje", José, Agosto,
��
�
��
=
�
_
ll :e
��;�:
� ��;��
�
�
�
�
com alguma resistência- a ser ventilado nas universidades.24
Tinúdalnente a poesia Inarginal foi entrando na universidade, após unta pre­
sença insistente eln recitais, polémicas eln jornais e revistas, UIna Feira em
São Paulo, um Inonográfico da revista Escrita ...; até converter-se em capítulo
de tese e mesmo objecto central de estudo em detenninados Ineios acadélni­
COS.25 Da periferia do sistenta literário e das atitudes de luta dalguns produtores
enfrentados ao carnpo do poder e às instituições passou-se a UIn processo de
aproXÍlnação desses espaços institucionais e, paralelamente, de posições Inais
centrais no campo literário para vários desses autores (antes) "Inarginais".
H. Buarque de Hollanda destaca também outro aspecto importante: escre­
ver, ler poesia converteu-se nesses anos praticarnente numa nlOda (e surge um
número alnplo de poetas em vários pontos do país através de pequenas edições
autofrnanciadas).26 Ulna 'moda' (Inais uma nlOda ou unl Inovimento literário?
pergunta esta professora -Hollanda, 1976: 7) que saltou às ruas (especialInente
na Cinelândia, no Rio de Janeiro), aos espaços públicos (teatros, bares, cine­
mas) e que circulou com bastante nonnalidade entre as Inãos de unl público
jovem.27 O tema poesia não se restringia aos textos, tambénl chegou -e de
nlOdo nluito forte - aos debates, que por vezes se trasladaraln a revistas e
jornais. Falou-se muito de poesia lnimeografada e escreveraIn-se textos28 no
calor da hora que dão uma ideia interessante das lutas, dentro do campo literá­
rio, pelo poder.
Com o movimento da 'geração númeógrafo' a distância entre o autor e o
leitor reduz-se, e, sobretudo, o leitor,não precisa ser mn entendido para poder
24
25
26
/
�
��� :�
143
27
28
O carregado é nosso.
Cfr. Hollarlda (1976: 7).
Como vemos, a 'poesia está na moda'. Isso significa que a poesia é mn dos materiais
do repertório priorizados no campo literário brasileiro dessa altura; e dentro dessa
escolha privilegiada - como também o era o conto -, há a selecção de materiais de mn
repertório carlOnizado (o de Drmnmond e Cabral) ou de mn repertório não-canonizado
(os marginais e outras tendências).
Vid. Carlos Alberto Messeder Pereira, Retrato de época: poesia marginal anos 70; C. Al­
berto Messeder Pereira e Heloísa Buarque de Hollanda, Poesia jovem (anos 70); Geraldo
Carneiro, "A poesia marginal e seus meios", Gam, Rio de Janeiro, 29 Julho, 1976.
Como exemplos podemos dar os de Antônio Carlos de Brito -Cacaso-, um dos mais
prolíficos ("Poetas e poesia brasileira hoje", Opinião, Rio de Janeiro, 25 JUllho/1976; e
outros. Vid. Cacaso, 1997) Affonso Romano de Sant'Anna (Música popular e moderna
poesia brasileira, Petrópolis, Vozes, 1978), Silviano Santiago ("Poesia jovem: roteiro
de velhas varlguardas à tropicália e ao marginal mimeografado", Jornal do Brasil, Rio
de Janeiro, 20/12/75), etc.
Da "marginalidade" ao processo de institucionalização
M. Carmen Villarino Pardo
144
cesso de marginalização por não absorção das novas propostas e vocações; o volume
a urna "desierarquir sern rnedo dela . Assistirnos
ler poesia e para se aproxinla .
poesr�" (Hollanda, 1976: 8).
zação do espaço nobre da
'. as provas de irnprensa e
s van
vern a Iunle apo'
Nao se trata de livros que
saídos enl edições custosas,
.
ParticiParn de livros
revisões ponnenonzadas, nem
o ao contrário, ,as
ou outra grande editora · Tud
a
unl
de
e
om
n
o
gam
ul
v
di
nern
ora, que tanlbem
' a�ão directa do autor ou da aut
'cr:
:r.
edições contanl �o� � par:
s rnodestas,
edi
�tajunto �O pu'blico ' trata-se de çõe
colabora na distnburçao re
e algumas
isso
. agrnatrvas e nlU Ito pessoar's. Talvez fosse
. Inl
.'maIs,
atraentes, ong
.
. uagern29 lIuO
aparenternente fácil e
,.{' mlal
.' s (corno a hng
. ais erarn o quoti. cIp
escolhas repertonaI
.
dos textos - cU Jos ternas pnn
do
teú
con
o
e
ad
a
raç
eng
s recursos COIno o
corn forte presença de doi
diano " o rnedo e o erotisrno,
.
o de as segundas
fact
ores que m�s influÍranl no
hunlOr e a metapoesia) os �act
lero
nao terem sido raras, e o nún ,
. odo geral nllIneografadas ) ja
(d
s
ta
r
tad� continU arnent .
ut r de poesia ter aurnen
ú l
p
,
to
x
e
t
e
d
lica-se o nurnero
ltip
mu
res,
uto
d
pro
de
ro
nle
entre o espaço dos
l rno�ento de homologia30
leitor de poesia: estamos nun
existir unla sintoece
sumIdores de poesia?. Par
p�odutores e o es�açO dos con
(oferta) e a deenl
rec
aquilo que os produtores ofe
ma, urna homol og�a entre
e jovens da classe
sunlidores (fundanlentalrnent
nlanda de um sec t or de con
) 31
média, nurn anlbiente ur ano .
que se assistia no
ece cIara numas datas enl
par
tIca
poé
a
nci
scê
rve
efe
A
' lOU o "boom de
denonllI
. 'Iro aqu
" ilo que, como se sabe se
lcarnpo literário brasIle
prod ção aunlentou espectacu
como em
­
75", ern que, tarlto enl prosa
(Ca
aso
Cac
lhernos um texto de
se mornen
annente. Para o registro des
dia
no
vimento (n° 22 '
lente apareceu no jonla1 Mo
caso, 1997: 77), que inicialn
1° de Dezernbro de 1975):
da produção literária, sem qualquer chance de edição, tende a se expandir.
E entre esses candidatos, lembra Cacaso, vários professores universitários liga­
dos ao circuito USP-Unicamp ("um fenômeno literário paulista irlteressantÍs­
simo"), entre os que destaca os nomes de Roberto Schwarz, Walrlice Nogueira
GaIvão, Flávio Aguiar e Modesto Carone . 32
Na produção poética desses anos, especialmente no caso da poesia da cha­
mada 'geração 70' ou 'poesia marginar, enl opinião do poeta Cacaso (1997: 54),
�
estar fazendo poesia é mais importante do que o produto final. Esta atitude
_
������ : :�
anlbígua consolida, no plano ideológico, a necessidade vital de retomar a criação,
de não se deixar paralisar pelos esquemas paralisantes, de resistir. Forma de preser­
vação da individualidade, essa poesia dispersa é muito mais uma busca de reconheci­
: �� �::: � � � �:�
_
mento e identidade, maneira precária de dizer que estamos vivos, do que um aconte­
cimento 'literário'.:33
?
�
��:���
escritores cresce
O número de candidatos a
de vagas que nossO
maior do que o número
.
��
SlS
ema
s
proporções muitas veze
pro
um
Há
rta.
­
compo
rial
� �:
Bras '1
d
clara (e uma
.
res marca uma diferença
a or est:s auto
classici.
:
atura
liter
Neste ponto a linha esconu� �
da
ntes tanto
çao as ten?��Cl� d mina
hoje", José,
esia
("Po
atitude subversiva) em rela
rque
Bua
sa
eloí
ond, em �plluao e
szante - Cabral e Drumm
a que trouxeram. uma con
dos mOVimentos de vanguard
filO
.
4)
,p.
6
197
,
C
especIalmente no
Agosto
s,
ante
tia
exis
?
não
e
lent
' an
sIa que J.>ratlc
xaciência de linguagem a poe
, processo ' etc.) que "ortodo
de poesIa concre'ta,praxis
o
l'
lteran
a
oram
pan
caso dos Concretos (grupos
o
a no noss
a contro1adora e repressiv
mente,se impuser3.1n de form
pior",
(Hollanda, 1976: 8).
.
.
on "Poesia ruim,sociedade
V uClUS Dantas e I nna Sim '
Cfr. também o artigo de �
.
108
s,1987, pp. 95
Remate de Males 7, Campma
32.
11,
:
1991
u,
publica a
rdie
Bou
Cfr.
30
número desses produtores
aumentar quando um bom .
31 Demanda que parece
e.
tard
S
maI
editoras,uns 3.1lOS
sua obra (ou parte dela) em
29
�
-
_
.
/
/
�
'
145
"
Concordamos em parte COIn este poeta e crítico, ele próprio partícipe dessa
rnaré poética, que, nós sim, consideramos que foi urn acontecimento literário,
de que é clara a atitude de procura de identidade e de se deixarem ouvir. 34 O
desejo de manifestar: aqui estarnos, existimos, e sornos poetas, criou algurls
problemas à crítica literária que precisava reunir boa parte (se não era possível
toda) dessa produção dispersa para estudá-la e avaliá-la . Daí também a irlicia­
tiva da Expoesia 1, 2 e 3, e das antologias que resgatassem e agrupassern esses
autores .
A chegada deste número amplo de novos produtores ao canlpo literário
brasileiro faz com que pensemos na questão das fronteiras, dos linlites, das
lutas que funcionam no interior do próprio carnpo, das lutas de defirução que
se dão para se estabelecerern no ca:rnpo literário, e no problemático que isto
resulta cada vez que se dá urna entrada considerável de produtores . Esta situa­
ção leva-nos às palavras do sociólogo do College de France, Pierre Bourdieu,
que comenta (Bourdieu, 1991: 15):
en effet, l'accroissement du volume de la population des producteurs est une des
médiations principales à travers lesquelles les changements externes affectent les
32 Deles comenta (Cacaso, 1997: 257-258): o nível de qualidade dos poemas, sempre
elevado, deriva quase que diretamente do nível de formação crítica da pessoa. São
profissionais competentes nas suas respectivas áreas, pesquisadores sérios,doutores
em sociologia,crítica literária,:filosofia,e que,por uma questão simples de envergadura
intelectual, transferem consistência ao que criam.
33 O carregado é nosso.
34 Movida pelo medo que perpassa os textos,uma boa parte da poesia produzida durante
a década de 70, "perpetua,para as gerações futuras,as cicatrizes do tempo" (Salgueiro,
1997: 41).
146
M. Carmen Villarino Pardo
Da "marginalidade" ao processo de institucionalização
rapports de forces au sein du champ: les grands bouleversements naissent de l'irrup­
tion de nouveaux venus qui, par le seul effet de leur nombre et de leur qualité sociale,
importent des innovations en matiere de produits ou de techniques de production,
et tendent ou prétendent à imposer dans un champ de production qui est à lui-même
son propre marché un nouveau mode d'évaluation des produits.
2. Conclusões
Enquanto que a poesia continuava a ocupar espaços em edições marginais
vendidas de modo artesanal, quase atingindo 'proporções de epidemia', 1974,
1975 e 1976 são também anos em que o conto se converte numa das escolhas
de rnateriais do repertório ntais apoiadas pelas instituições (editoras, autorida­
des culturais, criticos . . . ) e amplia a sua presença na irnprensa e nas publica­
ções ("o conto invadia a inlprensa e a poesia a vida cotidiana" F. Aguiar, Leia
0, 1978, p. 12), ern luta com a poesia para conseguir a "hegernonia genérica"
durante a década.
Nos fInais dessa nlesrna década vários produtores poéticos que pertenceram
ao chamado círculo ntarginal ou alternativo (afastados, de modo geral, dos
modos convencionais que se usam para a produção, edição e divulgação dos
textos; e, sobretudo, do ârnbito institucional) entraram no circuito do rnercado
editorial ao aceitarem que as suas obras fossern publicadas por editoras conler­
ciais. São os anos de uma irlcipiente indústria editorial brasileira, e o rnomento
enl que alguns produtores escolhem a via da profIssionalização. O caso da
poesia não é alheio ao da prosa.35
-
BibliografIa citada
Aguiar, Flávio (1978), "Os mensageiros de Jó: notas sobre a produção literária recente no
Brasil", Leia Livros O, ano 1, pp. 12-13.
Bourdieu, Pierre (1991), "Le champ littéraire", Actes de la recherche 89. Septembre, pp. 4-46.
Cacaso (1997), Não quero prosa. OrgaIÚZação e seleção de Vilma Arêas. Campinas: Editora
da UnicamplRio de Janeiro: Editora da UFRJ.
Campedelli, Samira Youssef (1995), Poesia marginal dos anos 70. São Paulo: Scipione.
Even-Zohar, Itanlar (1990), "Polysystem Theory", Poetics Today 11: 1 (Spring), pp. 9-26. (E
revisões posteriores: 1999).
Hollanda, Heloísa Buarque de (1976), 26 poetas hoje. Rio de Janeiro: Labor.
Hollanda, Heloísa Buarque de/Freitas Filho, A/Gonçalves, Marcos A (1979), "Política e lite­
ratura", Anos 70-Literatura. Rio de Janerio: Europa, 19923, pp. 7-81.
35
Cfr. Villarino Pardo (2000: 370-382).
147
Salgueiro, Wilberth Claython F. (1997), Forças & Formas: aspectos da poesia brasileira
contemporânea (dos anos 70 aos 90). Tese de Doutoramento. Rio de Janeiro: Universi­
dade Federal do Rio de Janeiro.
Saraiva, Arnaldo (1975), Literatura Marginalizada, Porto. (Porto: Edições Árvore, 21980).
Schwarz, Roberto (1987), "Nacional por subtração", in AA.VV, Tradição/Contradição. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editor, pp. 91-110.
Süssekind, Flora (1985), Literatura e vida literária: polêmicas, diários & retratos. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editor.
VelosolMadeira (1999), Leituras Brasileiras. Itinerários no Pensamento Social e na litera­
tura. São Paulo-Rio de Janeiro: Paz e Terra.
Villarino Pardo, M. Carmen (2000), Aproximação à obra de Nélida Piiíon. A República dos
Sonhos. (A trajectória de Nélida Pifíon no sistema literário brasileiro). Tese de Doutora­
mento em CD-Rom. Santiago de Compostela: Universidade de Santiago de Compostela.

Documentos relacionados