Dez 2010 - Associação Brasileira de Criadores de Ovino
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Dez 2010 - Associação Brasileira de Criadores de Ovino
1 dez10/jan11 ÓRGÃO INFORMATIVO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE OVINOS / ARCO - ANO 4 - Nº 19 – DEZEMBRO2010/JANEIRO 2011 OS GANHOS DE UMA BOA GENÉTICA dez10/jan11 2 O ARCO JORNAL é o veículo informativo da ASSOCIACÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE OVINOS – ARCO Av. 7 de Setembro, 1159 Caixa Postal 145 CEP 96400-901 – Bagé (RS) Telefone: 53 3242.8422 Fax: 53 3242.9522 e-mail: [email protected] home page: www.arcoovinos.com.br DIRETORIA EXECUTIVA Presidente: Paulo Afonso Schwab 1º Vice-presidente: Suetônio Villar Campos 2º Vice-presidente: Arnaldo Dos Santos Vieira Filho 1º Secretário: Carlos Ely Garcia Júnior 2º Secretário: Almir Lins Rocha Júnior 1º Tesoureiro: Paulo Sérgio Soares 2º Tesoureiro: Teófilo Pereira Garcia de Garcia CONSELHO FISCAL Titulares Wilfrido Augusto Marques Joel Rodrigues Bitar da Cunha Thiago Beda Aquino Inojosa de Andrade Suplentes José Teodorico de Araújo Filho Ricardo Altevio Lemos Francisco André Nerbass SUPERINTENDÊNCIA DO R.G.O. Superintendente Francisco José Perelló Medeiros Superintendente Substituto Edemundo Ferreira Gressler CONSELHO DELIBERATIVO TÉCNICO Presidente: Fabrício Wollmann Willke SUPERVISOR ADMINISTRATIVO Paulo Sérgio Soares GERENTE ADMINISTRATIVO Bismar Augusto Azevedo Soares ARCO JORNAL Coordenação Geral Agropress Agência de Comunicação Edição Eduardo Fehn Teixeira e Horst Knak Agência Ciranda Jornalista responsável Nelson Moreira - Reg. Prof. 5566/03 Diagramação/Redação Nicolau Balaszow Colaborador Luca Risi Fotografia Banco de Imagens ARCO e Divulgação Departamento Comercial Carolina von Poser Milego/Daniela Levandovski [email protected] Fone: 51 3231.6210 / 51 8116.9782 A ARCO não se responsabiliza por opiniões emitidas em artigos assinados. Reprodução autorizada, desde que citada a fonte. Colaborações, sugestões, informações, críticas: [email protected] Foto de Capa: Ricardo Stuckert - Agência Brasil E Editorial Os próximos cinco anos stamos encerrando a primeira década do novo século e por costume profissional, começo a colocar no papel idéias para um plano de ação para os próximos cinco anos, para a nossa entidade, a ARCO. Já tinha algumas coisas em mente, mas confesso que fui instigado a elaborar este plano com mais precisão, a partir de um documento enviado pela Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Caprinos e Ovinos, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, MAPA, que justamente solicita uma Visão de Futuro, para o setor Ovino. Eles pedem que formulemos um manuscrito colocando idéias sobre onde pretendemos estar (em termos de atividade) em 2015. Para responder a este pedido, precisei fazer uma rápida revisão do que já realizamos até agora, e em que estágio estamos neste momento. Ao longo deste ano participamos de reuniões em Ministérios e Associações de criadores buscando estruturar ações que tragam a formalização de políticas públicas de maior duração para o setor ovino. Fizemos o lançamento de um livro sobre o mercado externo para a carne ovina que traz um raio x do setor atualmente e prospecta possibilidades de mercado para o Brasil, e concluímos a expansão do nosso trabalho através da fundação da Associação de Criadores de Caprinos e Ovinos do Acre. Agora existe representação para o setor, em todo o País. Também destaquei em minhas anotações o processo de discussão do regulamento para a criação do colégio de jurados de exposições, uma determinação do MAPA que escolherá pessoas e os habilitará para se tornarem jurados profissionais. Este regulamento está em fase de análise de todas as Associações promotoras de raças para indicarem alterações e posteriormente, redigirmos o documento final e aprovarmos. Ainda vai levar o próximo ano, acredito, mas é uma realização importante de 2010. Lembrei ainda que em vários estados acontecem reuniões entre criadores e governos na busca de uma estruturação do sistema produtivo, como a que ocorreu no final de outubro, em Bagé, com representantes do atual governo e do futuro governo gaúcho além de outras entidades, com a finalidade de elencarmos ações práticas de desenvolvimento e soluções de alguns nós. Claro que precisamos destacar um fato que realmente está mudando a realidade da produção ovina. Em todo o Brasil, pelas informações que recebo, o preço do quilo vivo do cordeiro passou por um reajuste significativo, elevando-se para patamares que até a pouco tempo era apenas um sonho. No Rio Grande do Sul, por exemplo, o valor pago gira entre R$ 4.00 e R$ 5,00, quando no início do ano o valor não passava dos R$ 2,50 a R$ 3,00. Com base nestes pequenos apontamentos busquei ver o que temos de importante em nível macro para realizar nos próximos anos. Creio que para alcançarmos a verdadeira estruturação do sistema produtivo precisamos, neste primeiro momento, conscientizar a todos os criadores que é hora de aproveitar o bom momento financeiro do cordeiro para realizar investimentos na sua propriedade e no rebanho, buscando o aprimoramento genético, a redução de perdas e de problemas sanitários entre outros. Ou seja, fazer o tema de casa. No que se refere à ações governamentais, queremos que definitivamente sejam reestrurados e fortalecidos todas as empresas de extensão rural. Tenho falado nisto repetidas vezes, mas é a melhor forma de levar orientação e conhecimento a todos os produtores de ovinos neste País. Precisamos ainda de ter tranqüilidade no campo para trabalhar. Isto significa uma ação mais contundente contra os abigeatários que dizimam nossos rebanhos sem que consigamos encontrá-los e extirpar este problema do campo que muitas vezes faz com que produtores desistam de continuar na ovinocultura. Temos ainda que trabalhar no aumento do rebanho, pensando que em 5 anos precisamos chegar a pelo menos o dobro que temos hoje, 16 milhões de cabeças, segundo o IBGE. Claro que ainda consta desta lista a organização e o crescimento dos outros produtos diretos que saem da ovinocultura como a lã, a pele e o leite. Mas no contexto macro, precisamos buscar ainda linhas de financiamentos para retenção de matrizes com os animais servindo de garantia e juros compatíveis com a atividade, recursos também para a formação de agroindústrias de produtos ovinos entre outras possibilidades. E devo colocar na lista ainda, a questão dos abates sem fiscalização, problema que precisamos enfrentar para acabar com isto de uma vez por todas, entre outros temas. Mas acho que se torna importante consolidar tudo isto um plano de trabalho para todo o setor debatido entre todos. Por isto apresento minha pequena lista, pensando que todos podem contribuir com ela. E você, criador, já fez a sua? Paulo A. Schwab - Presidente da ARCO HUMOR 3 dez10/jan11 Reportagem Sheltie: da Escócia antiga aos rebanhos modernos T ambém conhecido como Pastor de Shetland ou Shetland Sheepdog, esta raça embora se pareça muito com o Collie de pêlo longo em tamanho reduzido, este não se trata de uma miniatura e se apresenta nas cores azul merle, marta, tricolor, preto/branco e azul/branco. É um pequeno cão de trabalho de pêlos longos, com juba e pelagem abundante, a cabeça bem esculpida e expressão doce. É inteligente e aprende com rapidez, é observador e quer agradar o dono. Por isso é muito importante a interação do dono com o seu Sheltie. De acordo com o livro A Inteligência dos Cães, de Stanley Coren, o Sheltie encontra-se na 6ª posição no IAOC - Inteligência a Adestramento e Obediência a Comandos - entre as 79 raças pesquisadas. É uma raça ativa e que acompanha o dono aonde este for. Este cão pode muito bem viver em apartamento, porém precisa de exercício constante e atenção, além de serem limpos e não necessitarem de banhos constantes, bastando uma escovação semanal. “A história desta raça é cheia de controvérsias e suposições”, explica o criador Victor Rios, do Canil Sheltie Rivers, em Niterói, RJ. Existem muitas versões de como a raça evoluiu, mas pouco se sabe realmente sobre sua história até o final do século XIX. As Ilhas de Shetland, de onde a raça é proveniente, estão situadas no Reino Unido com seu clima rigoroso e as incessantes tempestades que varrem o norte do Oceano Atlântico e que comprometem muito a vegetação e as condições de sobrevivência dos animais da região. Por esse motivo, os nativos optaram pela criação de animais de tamanho reduzido. Os pôneis e pequenos bovinos e ovelhas (shetland Sheep), tão necessários para a subsistência dos habitantes, se adaptaram perfeitamente ao ambiente, pastando livremente, enquanto as poucas plantações cultivadas eram protegidas por muros. Entretanto, esses dois meios de sobrevivência frequentemente entravam em conflito quando os animais pulavam esses muros e arruinavam as lavouras. Em meados do século XIX, os habitantes começaram a criar cães pequenos e ágeis com o intuito de manter os pôneis e ovelhas longe de suas terras cultivadas. Em 1909 o A raça foi criada para proteger as terras cultivadas da invasão de outros animais A pelagem tem cores variadas e são aceitas oficialmente Fotos: Divulgação A raça tem o pastoreio na genética, mas é preciso adestrar os animais Shetland Collie foi oficialmente reconhecido na Inglaterra e manteve este nome até 1914, quando passou a ser chamado de Shetland Sheepdog. “A raça só se tornou mais conhecida a partir da primeira década de 1900 e, nesta época, já era muito utilizada pelos habitantes das ilhas para o pastoreio de ovelhas, atividade que continuam exercendo com perfeição”, informa Rios. Ele recorda que esta raça também traz em sua genética a capacidade do pastoreio, mas será preciso treiná-los para esta finalidade. “Esse trei- namento o levará a ser um guardião extremamente eficiente, no entanto, não se pode esperar que ele venha a enfrentar animais de porte. A sua ação será manter-se sempre atento e no momento de perigo a sua atitude é dar o alerta latindo intensamente e permanecer assim até que a ameaça desapareça ou receba apoio”, explica. Rios orienta que uma boa compra significa obedecer ao padrão oficial da raça, isto é, altura ideal de 37 cm para os machos e 35,5 cm para as fêmeas. • dez10/jan11 4 Sanidade Sarna e piolhos: Prevenir ainda é o melhor remédio O papiro egípcio do ano de 2130 a.C., Papyrus Veterinarius de Kahun, contém o primeiro relato do tratamento de animais doentes. Moisés, no século XIII a.C. deu o mandamento que proibia o consumo de ovelhas com marcas. Isso foi interpretado como “ovelhas com sarna”. Já o romano Virgilio viveu do ano 70 ao 19 a.C. e parecia especialmente interessado em doenças de pele dos animais. Ele descreveu sarna em ovelhas e listou suas causas como chuva fria, feridas por espinhos e suor salgado depois das tosquias. Desde a sarna incluindo muitas doenças, ainda nos dias de hoje, não podemos avaliar com precisão as causas, mesmo assim Virgilio foi um dos primeiros a pensar nas soluções dos problemas. Para tratamentos ele recomendava unguento (de fórmula complicada e secreta), embebido em água corrente e cauterização das lesões profundas. Nicolau Balaszow D esde aqueles tempos, quem se dedica à ovinocultura sabe que um animal com doenças significa queda de produtividade, ou seja, perdas econômicas. Para escapar às perdas, torna-se prioritário que os criadores de ovinos examinem diariamente seus animais, mantendo os parasitas sob controle. O pesquisador Antônio Cézar Rocha Cavalcante, da Embrapa Caprinos e Ovinos no Ceará, explica a diferença entre a piolheira e a sarna: “A piolheira é causada por organismos visíveis a olho nu que se encontram principalmente sobre a pele dos animais. Já a sarna não é possível ver a olho nu e a doença é percebida devido às lesões causadas, como crostas e bolhas de pus”, informa. Tanto a piolheira quanto a sarna podem ser identificadas pelas reações dos animais que, quando doentes, ficam irritados, sem apetite e se coçam muito. O tratamento indicado para ambas as doenças é o banho de imersão ou aspersão. O banho de aspersão consiste em pulverizar o animal e o de imersão em mergulhar o animal em um tanque de amianto com carrapaticida diluído em água. O pesquisador alerta para que os animais não bebam a solução, pois este produto pode causar intoxicação. Somente as fêmeas que estão para parir e os animais com menos de um mês de Fotos: Divulgação Santos recomenda a quarentena para animais adquiridos recentemente idade devem ficar sem o tratamento. Outra medida eficaz é isolar a área onde está sendo realizado o banho, isto vai impedir que restante do rebanho da propriedade entre em contato com o princípio ativo da solução do banho. Para reforçar o tratamento, depois de sete ou dez dias, uma vistoria deve ser feita no rebanho. “Caso ainda sejam encontrados piolhos, deve ser feito outro banho, recomendação válida também para a sarna”, enfatiza. Juntamente com os ácaros da sarna, os piolhos sugadores (malófagos) e mordedores são importantes espoliadores dos ovinos. A Damalinia ovis é um piolho mordedor com 1.5 - 1.7 mm de comprimento. Vive na lã perto da pele, provocando irritação pela sua extrema atividade, explica o médico veterinário, Paulo Alexandre Santos, da Inspetoria Veterinária e Zootécnica (IVZ), da Secretaria da Agricultura do Estado, em São Borja, RS. “As ovelhas mordem-se a si próprias e coçamse nas vedações e árvores provocando estragos na lã”, descreve. Ácaros da sarna É importante ressaltar que as mudanças estruturais no manejo da produção animal também criam as condições favoráveis ao desenvolvimento e multiplicação de ectoparasitas. Essas infecções reduzem consideravelmente a produtividade dos animais e, por esse motivo, as medidas que passam pela higiene e pelo manejo de todo o rebanho são exigências básicas. Os ácaros da sarna são transmitidos, em sua maioria, no contato direto entre os animais, pelo que a identificação de sarna justifica assumir que todos os animais do grupo podem estar infectados. A infecção de grupos livres de ácaros resulta normalmente da introdução de animais portadores de ácaros que podem não demonstrar sinais clínicos. Camas, boxes e vedações são potenciais fontes de infestação, uma vez que os ácaros sobrevivem semanas fora do hospedeiro. Cabe avaliar entre as variáveis apontadas a seguir, em qual delas o produtor viu aparecer a sarna e evitar uma repetição do problema: comércio de animais vivos; ausência de regulamentos veterinários no que respeita o controle de ectoparasitas nos movimentos de animais vivos entre >>> 5 dez10/jan11 países; separação dos animais por explorações de recria e explorações de engorda; concentração de animais de diferentes origens em unidades de engorda; controle irregular de ectoparasitas; desconhecimento dos produtores; condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento dos ácaros em conjunto com produção intensiva. Problemas no controle da sarna Os ácaros da sarna têm por costume afetar partes específicas do corpo, como articulações, por baixo da cauda, ouvidos e fossas orbitais nos ovinos. Nos tratamentos por aspersão é fácil falhar o tratamento em algumas zonas, pelo que se deve adotar uma sequência começando pela cabeça e acabando na cauda, tendo a certeza de que se atingiu toda a superfície corporal dos animais. Não existe um acaricida capaz de destruir com eficácia todos os ovos dos ácaros. É necessário, portanto, um segundo tratamento para matar as larvas que eclodiram dos ovos após o tratamento, sendo que o intervalo de tempo bom entre os dois tratamentos é de 7 dias na sarna psoróptica e corióptica e de 14 dias na sarna sarcóptica. Os ácaros localizam-se profundamente na pele, ou até sobre as crostas, pelo que é difícil os acaricidas atingirem os ácaros diretamente por aspersão e, por isso, deve ser utilizado um produto acaricida com efeito vapor. “As instalações e vedações dos potreiros também devem ser aspergidas, pois é Santos recomenda isolar parte do rebanho Os produtor deverá comunicar ao IVZ da presença de provável doença no final do outono e na primavera que se inicia a rápida propagação das sarnas”, recomenda o veterinário que diz ser importante tratar os animais adquiridos por duas vezes na zona de quarentena antes de colocá-los com os demais ovinos. Diagnóstico Os sinais clínicos podem auxiliar no que respeita o diagnóstico das sarnas. Para confirmação parasitológica e identificação da espécie envolvida, é necessário fazer uma raspagem de pele com uma lâmina de bisturi do centro da lesão ou do limite entre a zona lesionada e a zona sã e colocar a mesma num recipiente fechado. Ao aquecer o recipiente com as mãos, é frequente a visualização dos parasitas dentro do mesmo a olho nu ou com o auxílio de uma lupa. Para o exame microscópico dos ácaros, especialmente nas amostras obtidas por raspagem, a amostra recolhida pode ser tratada com 5 ml de solução a 10% de hidróxido de potássio, cuidadosamente aquecida, detectando o sobrenadante e colocando o material sedimentado numa lâmina para visualização em microscópio. O diagnóstico diferencial pode ser realizado por demonstração dos piolhos mordedores em grande quantidade nos pedaços de lã que caem do ovino. Uma vez que o malófago suga o sangue no mesmo local por um longo período de tempo, uma infestação conduz não só a uma irritação e suas consequências, como lesões diretas da pele do animal. Da mesma forma, um único tratamento no outono, preferencialmente num tanque de imersão, é suficiente para controlar estes ectoparasitas por 6 a 12 meses. “A piolheira e a sarna ovinas são enfermidades de notificação obrigatória, uma vez que haja a suspeita ou confirmação da ocorrência dessas parasitoses. O produtor deverá comunicar imediatamente à Inspetoria Veterinária e seu município, para que seja feita uma revisão dos rebanhos atacados e de seus lindeiros e, então, determinar o tratamento da doença”, orienta Santos, ao mesmo tempo reafirmando a ideia de que o produtor deverá ter muito cuidado para a introdução de animais procedentes de outras propriedades. Ele precisa exigir a Guia de Trânsito Animal (GTA), emitida pela IVZ de origem e realizar banhos preventivos, diminuindo assim a possibilidade de ingresso da doença. “Por sua exigência, os ovinos requerem cuidados especiais de sanidade, manejo e alimentação, em sua criação, valendo os ditos – ovelha não é para mato – e existem dois tipos de produtores - o verdadeiro ovinocultor e o que tem ovelhas – estes são os perigosos”, alerta Santos. • dez10/jan11 Notícias do Brete 6 O ovino pantaneiro Chip de identificação eletrônica A Fotos: Divulgação O chip de identificação eletrônica para ovinos foi apresentado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária no 3º Dia de Campo de ovinocultura realizado pela Embrapa Gado de Corte aos criadores de ovinos na Fazenda Modelo, região de Terenos, na cidade de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. A ferramenta, conhecida e muita utilizada por produtores de bovinos, agora também está à disposição dos ovinocultores. O pesquisador da Embrapa, Fernando Alvarenga Reis, diz que o equipamento oferece muitos benefícios. “A identificação eletrônica de animais ganha adeptos por se tratar de um sistema eficiente, ágil, seguro e que facilita o trabalho de acompanhamento e controle zootécnico do rebanho. Uma vez implantado o chip, o criador terá a possibilidade de observar e estimular o aumento de sua produção mediante a seleção de animais superiores, além de conseguir avaliar cada animal em tempo real, uma vez que os indicadores podem ser anotados e analisados eletronicamente. “Eles podem auxiliar a detecção de doenças, a avaliação de respostas fisiológicas, o controle de ingestão de alimentos, a atividade física e ainda o impacto ambiental causado pelo sistema de produção, promovendo maior e melhor controle da propriedade”, esclarece Reis. Dentre os materiais de identificação disponíveis no mercado estão os transponders injetáveis, brincos eletrônicos e o monitoramento por meio da análise de imagem. • Fotos: Ana Maio ovelha crioula ou ovelha nativa do Pantanal está sendo submetida a vários trabalhos de melhoramento genético com o objetivo de aumentar suas qualidades para incrementar a produção e tornar a ovinocultura ainda mais atrativa no Pantanal. Ainda que sem raça definida e material genético específico, o “ovino pantaneiro” poderá representar uma maior geração de renda aos produtores, especificamente no segmento da agricultura familiar, a partir da comercialização de carne e pele, juntamente com a lã, tradicionalmente utilizada para confecção de pelegos e outros apetrechos dos peões da região. O trabalho de melhoramento consiste no cruzamento de matrizes Sem Raça Definida (SRD), nativas do Pantanal, com reprodutores SRD, Texel e Santa Inês, visando estabelecer os desempenhos dos animais para a produção de carne. O pesquisador da Embrapa Caprinos e Ovinos, (Sobral - CE), Fernando Alvarenga, faz a seguinte avaliação do que já foi testado: dos cruzamentos da ovelha do Pantanal com reprodutores as raças Santa Inês e Texel nasceram cordeiros pesados, grandes e animais fortes e saudáveis, resistentes e menos suscetíveis à mortalidade até o desmame. Durante o período aproximado de 64 dias em confinamento, os cordeiros dos dois cruzamentos obtiveram ganho de peso satisfatório e atingiram em média o peso de 32 quilos de peso vivo. O pesquisador observou ainda que a qualidade da carcaça de animais resultantes do cruzamento com reprodutores da raça Santa Inês atende às exigências do mercado e o pelo é de boa qualidade para a indústria coureira. Já do cruzamento das ovelhas do Pantanal com reprodutores Texel, resultou animais com uma carne levemente gordurosa e uma pele de excelente qualidade para trabalhos artesanais, notadamente os destinados às montarias. Diante dos resultados animadores desses cruzamentos, informa o técnico da Embrapa, outros programas de melhoramento animal terão continuidade para obtenção de carne e a ampliação dos plantéis desse tipo de cordeiros para comercialização. • O RS tem o maior rebanho de ovinos Rio Grande do Sul possui o maior rebanho de ovinos do país, com 3,946 milhões de cabeças. O Estado também conta com o sexto maior rebanho bovino do país, com 14,366 milhões de cabeças e o terceiro maior entre os equinos, com 452.965 exemplares. Entre os bubalinos, o RS ocupa a quarta posição, com 75,2 milhões de unidades. Os dados constam do estudo Produção da Pecuária Municipal (PPM) de 2009, divulgado nesta quarta-feira pelo IBGE. De acordo com o levantamento, o efetivo brasileiro de bovinos em 2009 somou 205,292 milhões de cabeças, o que significou um aumento de 1,5% na comparação com o ano anterior. A região Centro-Oeste respondeu por 34,4% do total de animais, seguida pelo Norte (19,7%) e Sudeste (18,5%). O Mato Grosso foi o principal produtor, com 13,3% do efetivo. Entre os estados da Região Sul, o Rio Grande do Sul lidera, seguido pelo Paraná e Santa Catarina. O município gaúcho de Alegrete está entre os 20 principais produtores do país. Com relação aos ovinos, os outros estados mais efetivos são a Bahia, Ceará, Pernambuco, Piauí, Paraná e Santa Catarina. Entre os 20 municípios mais efetivos na produção de ovinos, 12 são gaúchos: Santana do Livramento, Alegrete, Quaraí, Uruguaiana, Lavras do Sul, Dom Pedrito, Rosário do Sul, Pinheiro Machado, São Gabriel, Herval, Bagé e Piratini. 7 dez10/jan11 Genética LambPlan promove melhoria genética na Austrália complexos, obtidos por profissionais especializados, como a espessura de gordura dos animais, resistência a parasitoses e volume muscular, que vão além do tradicional método de análise visual que levava em consideração somente fatores como peso e gordura. O novo banco de dados, intitulado LambPlan, passou a acumular dados dos animais e disponibilizar essa informação a todos os demais criadores integrantes do serviço. No caso dos produtores de lã, o programa foi criado com o nome de MerinoSelect, mensurando características inerentes às ovelhas e carneiros Merino. Em geral, em ambos os sistemas, é permitida a inserção e comparação de dados como o peso no nascimento e no desmame, a gordura pós-desmame e fatores reprodutivos. Os parâmetros analisados são denominados ASBVs – Índices de Reprodução da Ovelha Australiana, o mesmo que a conhecida DEP (diferença esperada na progênie) (veja Tabela 1). Atualmente, mais de 1.4 milhão de animais de mais de mil rebanhos estão cadastrados no sistema. A manutenção do sistema é feita pela Sheep Genetics, sendo os dados enviados diretamente pelos produtores via internet ou email. Para fazer parte do serviço, o criador em escala comercial paga anuidade de R$ 650 mais a taxa vitalícia de R$ 2,50 por animal cadastrado. No caso de cabanhas com até 50 animais, não há anuidade, apenas a contribuição única por animal de R$ 14. O valor não inclui a coleta dos dados por especialistas. “As informações coletadas para Luciane Lauffer A década era 1980 e a qualidade da ovelha e cordeiro disponíveis no mercado australiano estava em declínio. Na época, somente 15% da produção era exportada e as vendas e preços no mercado interno decrescendo dramaticamente. Na verdade, a marca registrada do produto australiano era a de animais com excesso de gordura e pouca carne. Com isso, os produtores arcavam com os custos e o balanço negativo da venda de seus animais. O difícil momento pedia ação. E numa iniciativa conjunta do Departamento Australiano de Carne e Animais (MLA) com a Organização para Inovação da Lã Australiana (AWI) o Serviço de Genética da Ovelha (Sheep Genetics) investiu no conhecimento e experiência do pesquisador genético Dr. Robert Banks. Através de um sistema comparativo, Robert desenvolveu, em 1987, um banco de dados que cruzava informações dos animais e rebanhos do país. O sistema utiliza dados mais O criador do Lamb Plan, Robert Banks Tabela 1 (exemplo) Característica Peso ao nascer (ASBV) (kg) Ovelha 1 0.3 Acurácia 43 (%) Peso no desmame (kg) 4 Peso pósdesmame (kg) 6.0 63 71 Gordura (mm) -1.5 59 Fotos: Divulgação Lançado em 1989, o LambPlan permite que os criadores promovam e aperfeiçoem seus animais com melhor performance em fatores como baixo teor de gordura, ganho de peso e resistência a parasitas Don Pegler administra propriedade com 50 mil matrizes controladas pelo LambPlan o banco de dados vêm através de medição feita por profissionais especializados”, explica Robert Banks, o que assegura a uniformidade e interpretação da coleta. “Os resultados são, então, adicionados ao banco de dados e disponibilizados aos demais criadores, com atualização do sistema a cada duas semanas”, complementa o pesquisador. A principal contribuição do LambPlan está no cálculo dos resultados de pedigree e a performance dos animais/rebanhosrefletida no banco de dados. Com essas informações, o criador dispõe das ferramentas necessárias para a reprodução de exemplares com índices genéticos mais apropriados ao seu ramo e que venham a disponibilizar melhores matrizes e reprodutores para a próxima geração. Experiências – Aqueles que estão mais contentes com o surgimento e sucesso dos sistemas LambPlan/ MerinoSelect são mesmo os criadores. Se, no começo das operações, o banco de dados cadastrava somente por volta de 20 mil animais por ano, hoje, são 325 mil exemplares cadastrados em mais de mil rebanhos pelo país. Don Pegler é um desses criadores. Dedicado à criação e reprodução de matrizes de 12 raças diferentes, Contagem Musculatura parasitária (mm) (%) 1.0 -10 69 37 ÍNDICE 150 entre elas Coolalee, Wiltipoll, Finn e Coopworth, Pegler é sócio da Cabanha Cashmore Oaklea Performance, no estado da Austrália do Sul. A cabanha conta com 50 mil matrizes, bem como outros 8 mil destinados à comercialização, tanto de reprodutores quanto à produção de carne. “Adotamos o LambPlan para a melhoria da produção porque esse sistema é altamente superior aos demais mundialmente disponíveis”, esclarece o criador. “A vantagem fica por conta da análise de dados e comparação entre rebanhos”, clarifica Don. Antes de 1989, a cabanha adotava outro método comparativo desenvolvido na Nova Zelândia e outros programas utilizados na Austrália, mas o principal problema era a dificuldade em mensurar dados mais específicos, inerentes a animais destinados especialmente à reprodução. “Muitas das características que precisam ser avaliadas, no nosso caso específico, depende também dos ín- dices dos demais animais envolvidos no processo”, conta o criador. Caso semelhante se aplica também ao sócio da Cabanha Ashmore White Suffolk, Troy Fischer. Criando cordeiros destinados à reprodução e venda de sêmen, mas em menor escala, Troy adotou o LambPlan em 1998, quando suas vendas subiram de 35 animais comercializados ao ano para o número atual de 150, destinados majoritariamente ao mercado interno. “Vejo como principal benefício o fator de seleção dos melhores animais através da comparação de índices”, analisa o criador sul-australiano, o que é muito melhor do que a antiga seleção visual de gordura, peso e músculo. “Agora podemos facilmente identificar os animais que irão refletir maior lucro”, compara Troy, enfatizando que o sistema atual possibilitou a evolução que o setor ovino precisava. O criador exalta ainda outra característica importante e implícita no sistema: o marketing dos animais. Segundo Troy, além das comparações, o fato de ter seus animais – altamente qualificados geneticamente – incluídos no banco de dados funciona também como forma de promoção perante os demais produtores e potenciais compradores. “Quando os índices são comparados, é fácil identificar os animais com melhor performance sem fazer esforço dentre os demais, exaltando a alta qualidade dos nossos animais”, complementa. • BENEFÍCIOS DO SISTEMA LambPlan/MerinoSelect permite que os criadores reduzam os riscos associados à seleção de seus animais, melhore a taxa de ganho genético de seus rebanhos, atinja as especificações da demanda de mercado e melhore a produção. Promove um sistema de Standards em termos de qualidade animal, permitindo que criadores elevem a qualidade genética de seus rebanhos. Fornece informação específica adaptada às necessidades apropriadas à cada criador, permitindo o foco em características importantes ao seu rebanho e demanda comercial. Compradores podem acessar índices para a comparação de animais e selecionar àqueles que mais se adaptam ao seu tipo de negócio. dez10/jan11 8 Especial A Ovinocultura de Pernamb Ainda que a grande maioria dos rebanhos sejam de animais sem padrão racial, a ovinocultura de Pernambuco tem um forte impacto social, formando ao lado dos caprinos uma dupla típica da economia rural do Estado, em especial do sertão. Entretanto, a ovinocultura poderia ser explorada numa economia social e ambientalmente sustentável em pelo menos metade dos 6,8 milhões de hectares da meso-região Sertão. Luiz do Berro e Horst Knak O s ovinos avançaram das terras litorâneas até os Altos Sertões, com uma forte concentração de planteis de seleção nas zonas da Mata e Agreste e grandes plantéis comerciais nas regiões sertanejas: Com rebanho total superior a 1,3 milhão de cabeças, alguns dos municípios com maior população ovina são Sertânia, 90 mil animais; Dormentes, 87 mil; Afrânio, 60,5 mil; Custódia, 60 mil; Serra Talhada e Santa Cruz do Capibaribe, 50 mil ovinos cada. A expansão do rebanho não só no Pernambuco, como em todo o Nordeste, deve-se a históricos criadores que com muita determinação e visão patriótica enxergavam nas criações de pequenos ruminantes uma excelente ferramenta, não só de redenção do semi-árido como também geradora de prosperidade e riqueza numa região em que é muito difícil harmonizar produção e um meio ambiente hostil. Estes homens, verdadeiros sacerdotes sertanejos, conhecedores de suas terras caatingueiras, dos ciclos das águas, dos vegetais e dos animais, perseveraram, observaram e formaram o conhecimento necessário para engendrar e consolidar raças, tipos e ecotipos de ovinos plenamente aptos a viverem de maneira produtiva nas terras semiáridas nordestinas. Alguns destes pioneiros foram Romero Dantas, de São José do Egito, PE, um importante fundador da raça Santa Inês, e Aquiles Campos, de inúmeras contribuições, en- tre elas a segregação e consolidação da raça Morada Nova, e Armando da Fonte, este de Custódia, PE, que há cerca de 50 anos já propugnava a variedade de pelagens no Santa Inês e mantinha um rebanho de cerca de 5 mil cabeças das diversas pelagens da raça, inclusive o raríssimo “branco fechado”. Nos caminhos abertos por “sacerdotes” da ovinocultura, passaram muitos outros bons criadores e, por isso, Pernambuco já nas décadas finais do século passado exibia várias raças em suas exposições e feiras. Entre as principais, figuravam Santa Inês, Morada Nova, Suffolk, Bergamácia, Cariri, Somalis e Hampshire Down, que foram usadas em diversos biomas e cruzamentos em busca de um produto ideal ao mercado e apto à vida produtiva. Os ovinos deslanados Santa Inês, Morada Nova e Somalis exibiram melhores performances produtivas, passando então a dominar o cenário no criatório regional. No início deste século a participação de importantes grupos empresariais, que muito contribuíram com seus aportes financeiros, visibilidade, implantação de modernas técnicas de manejo reprodutivo e alimentar, de sanidade animal, importações e comercializações de produtos, vieram a consolidar um novo e moderno perfil ao criatório pernambucano com as raças Santa Inês, Dorper, White Dorper, Somalis e Morada Nova. Programas do Governo A expansão do rebanho rumo aos sertões e outras regiões sem tradição na criação de ovinos deuse principalmente pelas ações dos programas governamentais como o Fome Zero, Leite para Todos, Merenda Escolar, Pronaf, com um forte apoio do Sebrae e o Projeto Aprisco, bem como a Universidade Federal do Pernambuco, que promoveram a assistência técnica, extensão rural e capacitação de trabalhadores e produtores rurais. Em pesquisa realizada pelo Departamento de Medicina Veterinária da Ufrpe, foram visitadas 150 propriedades e formatado um perfil sanitário da caprinovinocultura do sertão de Pernambuco. Os resultados mostraram que predominam as instalações com piso de terra batida (74,8%) e descobertas (61,7%) e reservatórios de água abertos (83%). Rosângela Ferreira, superintendente técnica e Gidalte Almeida, presidente da APECCO Fotos: Divulgação Cruzamentos em busca de um produto ideal ao mercado Em apenas 3,4% das propriedades a água era tratada. O registro das ocorrências era realizado por apenas 26% dos produtores e 47,6% tratavam o umbigo dos recém-nascidos com iodo. No que diz respeito às carcaças, apenas 31,8% dos proprietários davam destino adequado a elas. A higiene diária das instalações era realizada em apenas 14% das propriedades e a desinfecção em 16,9%. A vermifugação foi a prática mais difundida (88,2%) e apenas 6,2% dos produtores dispunham de assistência técnica contínua. Os principais achados clínicos foram sugestivos de doenças infecciosas e parasitárias. Conclui-se que a caprinovinocultura do Sertão de Pernambuco é desenvolvida em instalações modestas, o manejo sanitário é deficiente e as tecnologias disponíveis são pouco utilizadas, impossibilitando a prevenção e controle de doenças, principalmente as de origem infecciosa e parasitária. A expansão do rebanho já se faz notar no aumento da oferta de produtos e abates nos frigoríficos inspecionados do estado e no volume de peles comercializadas nos curtumes em todo o Estado de Pernambuco. O ovino de abate “tipo frigorífico”, com um peso de carcaça em torno de 15 kg e idade média de 150 dias, é remunerado à média de R$ 10,00, e a pele alcança o valor de R$ 7,00 a 8,00 nos curtumes de Petrolina e Floresta, os dois maiores do Estado. Feiras Agropecuárias A Associação Pernambucana de Criadores de Caprinos e Ovinos (Apecco) realiza, anualmente em parceria com o Governo Estadual e/ou Municipal, 18 Feiras Agropecuárias no Estado e criou um sistema de premiações em dinheiro e um ranking estadual como forma de incentivo e subsídio à participação de selecionadores nos grandes e pequenos municípios. A Apecco propicia, explica seu presidente, Gidalte Almeida, “a difusão de animais geneticamente melhorados e melhoradores nas sedes dos eventos”. A entidade também se preocupa com as melhorias nos parques de exposições, visando o conforto animal, segurança e bom desempenho de trabalhadores, técnicos e juízes. Segundo o médico-veterinário e consultor Clovis Guimarães Filho, no campo, alguns gargalos ainda devem ser eliminados e/ou minimizados, como a Sanidade Animal, Assistência Técnica e Extensão Rural, Capacitação de Trabalhadores e de Produtores Rurais e principalmente o abate clandestino de animais, “o que certamente trará como consequência uma melhor remuneração para o setor e a ampliação do mercado consumidor de carnes ovinas e seus produtos derivados”. Segundo ele, o ovinocultor comercial, aquele que cria para vender carne e peles, segmento correspondente a cerca de 98% da pirâmide produtiva, se vê induzido a adquirir animais exóticos e caros, criados em ambientes artificializados, como a grande e definitiva solução para sua exploração a campo. “Passam a mudar o ambiente para adequá-lo aos animais e a buscar o aumento de seu porte em uma região de recursos forrageiros escassos, contrariando duas lições elementares da zootecnia. Melhoria da raça e inseminação artificial não são, definitivamente, estratégias prioritárias para o aumento da eficiência bio-econômica dos rebanhos comerciais típicos do sertão pernambucano”, entende. Outro problema grave, para Clóvis Guimarães, é a falta de um >>> 9 dez10/jan11 buco – potencial a explorar As potencialidades da ovinocultura são muito grandes programa de fomento à fenação, à ensilagem ou ao cultivo de palmaforrageira. “A quantidade de forragem armazenada no estado, para uso nos períodos de seca, é ridícula”, afirma. Segundo ele, também, a falta de dados objetivos sobre a real situação do produtor impede a idealização de planos de comercialização ou de fomento ao setor. Vocação natural e histórica Para o pesquisador Tadeu Vinhas Voltolini, zootecnista ligado à Embrapa do Semi-Árido (Cpatsa), sediada em Petrolina, as potencialidades da ovinocultura são muito grandes, devido à vocação natural e histórica para a criação, um grande rebanho de alta rusticidade e disponibilidade de tecnologias. Tadeu Voltolini – que atua ao lado do também pesquisador Gherman Garcia Leal Araújo -, explica que há bom potencial de integração dos rebanhos criados em áreas dependentes de chuva com áreas irrigadas. Na outra ponta, está a questão do mercado: ele é maior que a média nordestina e brasileira, e os mercados crescentes estão insatisfeitos com os atuais padrões de qualidade. Entre as limitações, o pesquisador da Embrapa aponta para a baixa eficiência bioeconômica dos siste- Há possibilidades de consórcios com frutas nas zonas irrigadas mas produtivos, assistência técnica e de crédito deficientes, baixo nível de capacitação gerencial do criador, debilidade organizativa, estrutura fundiária excludente, debilidade dos segmentos transformador e distribuidor da cadeia produtiva irregularidade na oferta de matéria-prima, baixa qualidade da matéria-prima, concorrência desleal e abate informal, altos custos de coleta - transporte, falta de padronização do produto, legislações tributárias e sanitária não suficiente adequadas às especificidades do setor, deficiente na estrutura complementar de apoio como estradas e até a energia elétrica. No segmento carne, explica Tadeu Voltolini, as iniciativas ainda são muito tímidas. No norte da Bahia, as ações estão mais avançadas, mas existe a barreira da aftosa. Do lado pernambucano das barran- cas do “Velho Chico”, existe a vacinação contra a febre aftosa, cuja segunda etapa foi encerrada em final de outubro. Já a Bahia comemora seu status de livre de febre aftosa. Isso impede o envio de animais vivos do Pernambuco para a Bahia, inibindo mais uma possibilidade de mercado. Atualmente, no submédio do São Francisco, o abastecimento é feito principalmente por carnes oriundas do próprio Vale, especialmente os municípios de Petrolina, Dormentes, Casa Nova/BA, Remanso/BA, Sobradinho/BA. Há muita venda de animais dessa região para o Agreste e Zona da Mata de Pernambuco, tanto de animais para criação quanto para o abate. Há, porém, forte concorrência de carne ovina do Sul e igualmente do Uruguai. Com a abertura de mercados uruguaios, certamente esta presença vai cair, abrindo novas possibilidades para os criadores do estado. Os dois curtumes instalados, um em Petrolina/PE e outro em Juazeiro/BA, exportam para vários países, mas não trabalham com peles de ponta, são materiais medianos. Eles processam atualmente mais de 3 mil unidades de pele por dia empregando mais de 300 pessoas. No âmbito da pesquisa, há muito para fazer, a começar pelo melhoramento genético e conservação das raças nativas. Segundo Tadeu Voltolini, outro ponto é a geração de sistemas sustentáveis para a produção de ovinos, novas alternativas forrageiras, sistemas de produção com menores entradas de insumos externos (de base agroecológica) e diversificados, Técnicas para controle de parasitas e doenças. • dez10/jan11 10 Artigo Ectima Contagioso em Ovinos e Caprinos Fotos: Divulgação DVM PhD Gustave Decuadro-Hansen Ceva Santé Animale France A ovinocaprinocultura é um dos segmentos da pecuária brasileira com marcado em crescimento nestes últimos anos devido ao fato de ser, frente à pecuária bovina, uma criação que outorga um maior retorno de quilos de carne por hectare em um menor espaço de tempo e terra e pela demanda crescente por produtos cárneos ovinos nas capitais e nos grandes centros urbanos do país. Todos os criadores devem estar cientes de que o sucesso desta criação exige a sanidade e esta deve ser estrategicamente vigiada. A ovinocaprinocultura intensiva tem, ao longo de sua cadeia de produção, diversos desafios sanitários que impactam diretamente os resultados produtivos da fazenda, afetando de forma direta a saúde financeira das mesmas. Dentre os desafios observados no sistema de produção aqueles relacionados aos problemas de pele (patologia cutânea parasitária, infecciosa e tóxica, ver quadro 1), levam tanto à perdas diretas em quadros agudos como também em quadros crônicos, com perdas em desempenho que em muitas ocasiões são negligenciadas. O Ectima contagioso (EC) também co- nhecido como boqueira ou dermatite labial infecciosa, é uma enfermidade da pele dos pequenos ruminantes, altamente contagiosa causada por um vírus (Parapoxvirus, vírus ORF) e caracterizada por formação de vesículas, pústulas e crostas nos lábios e/ou cavidade bucal, úbere e pele da parte externa dos genital e distal dos membros. Forem descritas outras localizações de lesões do EC como, por exemplo, as feitas pela equipe de Sargison e coll. 2007 que apresentarem um caso grave de ectima contagioso em um rebanho de ovinos Scottish Blackface e cruza Texel após banho de imersão para controle de ectoparasitos contaminado com o vírus. Consequência do hábito do pastejo gregá- Quadro 1: Principais enfermidades da pele dos ovinos e caprinos Tipo de enfermidade Parasitárias Infecciosas Tóxicas Enfermidade Sarna (Psoróptica, demodécica, sarcóptica) Carrapatos (Boophilus microplus, B .caprae, Amblyomma cajennense) Piolhos (mastigador e sugador), piolho falso (Mellophagus ovino) Miíases Bernes (Dermatobia hominis) Bacterianas (Dermatofilose, Impetigo) Fungicas (Dermatofitose ou tinha) Virais (ectima contagioso, viruela ovina, febre aftosa, papilomatose) Fotossensibilzação (Eczema facial) EC labial acompanhado de infecção secundária Gustave Hansen rio dos ovinos e caprinos, a rapidez do contagio do EC é alto, podendo ser afetado 90 % do rebanho em poucos dias. Em regra geral, os animais jovens (cordeiros e cabritos) são mais sensíveis ao EC alcançando taxas de mortalidade de 10 a 15 %. A mortalidade de crias poderá ocorrer devido às coinfecções ou miíases secundárias ou senão devido a inanição dos cordeiros ou cabritos (lesões na boca ou mastite secundária nas matrizes com lesões de EC nas tetas). As perdas econômicas induzidas pelo EC não estão relacionadas somente com a mortalidade, que normalmente é baixa, mas ocorrem, principalmente, pela perda de peso, miíases secundárias, atraso do crescimento dos animais afetados e mão de obra e produtos veterinários para tratamento sintomático dos animais afetados. Dentro dos pequenos ruminantes o processo infeccioso é mais freqüente em ovinos que em caprinos, porém em estes últimos a enfermidade é mais grave. Os bovinos não são suscetíveis à doença. O EC é considerado uma zoonose (doenças de animais transmissíveis ao homem, bem como aquelas transmitidas do homem para os animais), porém é uma zoonose menor geralmente benigna e profissional (veterinários funcionários da fazenda, etc.). A doença no homem se manifesta geralmente nas mãos (pápulas e crostas) e pode ser o resultado de contato com animais doentes ou com vacinas. As variações na taxa de morbidade e mortalidade estão altamente influenciada pela presença de fatores de risco na fazenda. Fatores que favorecem a enfermidade são: forte densidade no campo, estação do ano (em relação ao aumento do número de animais suscetíveis), presença de moscas, mau manejo do banho de imersão (contaminado, não seguir uma ordem de banho em função do estado sanitário dos animais, carga em matéria orgânica, etc.), instrumentos de assinalação ou tosquia contaminados, desequilíbrio na estabilidade imunológica do rebanho (carências nutricionais), não vacinar, concentrar em uma área restrita animais saídos e doentes (por exemplo, durante um creep-feeding), lesões cutâneas induzidas por capins espinhosos, etc. Em um rebanho livre da doença, o vírus ingressa com portadores (compra de carneiros ou borregas) ou com feno ou ferramentas (tesouras, seringas) contaminados. Após a introdução da doença nos rebanhos a enfermidade se torna endêmica, pela persistência do vírus por longos períodos no ambiente ou pela presença de animais com infecções persistentes. O vírus é resistente no meio ambiente, sobretudo quando está alojado nas crostas dos animais doentes que caem no campo. Porém a persistência da enfermidade numa fazenda deve-se à presença de animais com lesões crônicas, a ausência de desinfecção das ferramentas de trabalho com ovinos e caprinos e à falta de vacinação. A infecção viral provoca uma colonização das capas superficial da epiderme que vira edematosa (estado de pápula aonde pode ser observado os típicos corpúsculos de inclusão) e após contaminação ou necrose se transforma em pústula seguida de crostas algumas espessas de aspecto ressecado e com fissuras e outras úmidas de fácil remoção. Em ausência de coinfecção secundária e com um tratamento sintomático de apoio as lesões regridem, segundo o autor, em 3 a 4 semanas. Os animais que se recuperam da infecção viral beneficiam de imunidade duradoura, porém as matrizes não podem transmitir os anticorpos aos cordeiros ou cabritos pelo intermédio do colostro. Sintomas Apresentam-se diferentes formas clínicas da doença após um período de incubação de 3 a 8 dias. >>> 11 dez10/jan11 Forma cutânea: 1) Labial: a mais freqüente em cordeiros localizada em lábios e comissuras labiais. Às vezes se difundem para outras localizações cutâneas como orelhas, região periorbital e narinas. As lesões evoluem rapidamente de pápula para pústula e após crosta sobrelevada difícil de eliminar, deixando na parte profunda um tecido de granulação que sangra facilmente. É frequente nos animais não tratados a infecção bacteriana das lesões. 2) Genital: as lesões se concentram na vulva das matrizes e no prep úcio dos machos. 3) Mamária: as lesões se concentram nas tetas e parte interna das coxas. Esta forma de EC é particularmente importante por se tratar de uma forma rápida já que induz inanição nos cordeiros e mastite secundária por retenção láctea e infecção secundária. 4) Podal: particularmente frequente nos animais jovens e confinados. A umidade e a falta de higiene são fatores predisponentes. Formas graves: também conhecido como ectima maligno, esta forma de ectima cursa com sintomas de febre e gastroenterite ou pneumonia e coexiste com lesões internas geralmente no trato digestivo superior: cavidade bucal, língua e esôfago e ela se observa em cordeiros em confinamento que amamentam artificialmente (biberões contaminados) ou quando existe ectima mamário nas matrizes. Sintomas semelhantes: O técnico de campo deverá realizar um diagnóstico diferencial com algumas doenças ovinas como: Língua azul; Febre aftosa; Viruela ovina e caprina; Forma podal da dermatofilose; Eczema facial; Dermatite pustulosa. Diagnóstico As lesões são características da enfermidade, porém o técnico de campo pode enviar amostras ao laboratório como crostas frescas Ectima contagioso no Homem fixadas em formol a 10% (histopatológia e microscopia eletrônica). A detecção e quantificação do vírus podem ser feita por PCR. Tratamento Não existe tratamento específico contra esta doença viral. A recomendação é que o ovinocultor ou caprinocultor adote uma serie de medidas para evitar que os doentes contaminem todo o rebanho assim como para reduzir o impacto da doença nos animais afetados: Separar os animais doentes para evitar contágio; Somente nos casos de animais com lesões crostosas de fácil remoção, as mesmas devem ser removidas por meio de raspagem ou de uma escova de fios delicados, e praticar uma aplicação tópica de uma solução fraca de glicerina iodada a 5 % ou pomada de iodo-povidona. Nos casos de lesões crostosas aderidas, aplicar uma solução de ácido salicílico a 3% em vaselina. Estas aplicações devem ser feitas 2 vezes ao dia durante 5 dias. - Deve-se ter o cuidado de remover o material raspado e queimá-lo; - Realizar um tratamento preventivo contra miíases; - Para os animais com infecções secundárias, assim como as matrizes com a forma mamária, o uso preventivo de amoxicilina injetável longa ação a cada 2 dias em dose de 15 mg / kg de peso vivo via intramuscular (ou 1 ml / 10 kg de peso vivo) geralmente permite-se obter bons resultados; - Limpeza e desinfecção das instalações com cal hidratada. Profilaxia Sanitária: - Evitar a compra de animais provenientes de rebanhos infectados; - Desinfetar todo material usado (assinalação, bisturis, etc); - Nos rebanhos afetados separar os animais doentes em uma baia hospital; - Eliminar os animais com lesões crônicas (carneiros apresentando lesões crostosas na cabeça confundidas com lesões de briga ou na parte interna das coxas). Profilaxia Médica: O uso da vacina está altamente recomendado em todo rebanho com histórico da doença ou em aqueles livres com risco de introdução do EC. Não se devem vacinar os animais se não existe histórico no rebanho da doença. A vacina deve ser usada de maneira estratégica, de modo que os animais tenham proteção máxima nos períodos mais favoráveis ao aparecimento da doença. Re- comenda-se a vacinação de todos os cordeiros após o final da parição. Em caso de surtos é recomendável vacinar todo o rebanho. A vacina contra o ectima contagioso é uma vacina viva atenuada aplicada por escarificação. A pele da face interna da coxa ou da paleta é escarificada em cruz (não induzir sangramento) e uma gota da vacina é depositada. A vacinação induz, na área vacinada, a formação de pápulas e após crostas, sinal que o animal está imunizado. Conclusão: Diante das perdas econômicas causadas pelo ectima contagioso, principalmente relacionadas aos prejuízos na produção de carne, lã e couro na indústria de pequenos ruminantes e mortalidade dos animais afetados, é de suma importância que os criadores de ovinos e caprinos mantenham condições de Escarificação em cruz e face interna da coxa sem lã destinado à vacinação contra o EC sanidade do rebanho, respeitem a quarentena, façam o descarte dos animais acometidos e pratiquem a vacinação. Deve-se salientar a relevância da realização do diagnóstico correto e identificação do agente para que sejam tomadas as devidas medidas de profilaxia e controle dessa enfermidade por médicos veterinários. • dez10/jan11 12 Reportagem Ovinocultura também é diversificação A produção de peças em lã crua, fios de lã coloridos para tricô e tear, hambúrguers, iogurtes, queijos especiais e outras derivados produzidos na fazenda são a mais nova fonte de diversificação da renda do produtor de ovinos e vieram para ficar, juntando a fome com a vontade de comer Fotos: Divulgação Luciana Radicione P ara um rebanho que soma quase 17 milhões de cabeças e diante de um consumo em crescimento, mas ainda pequeno, nada melhor do que apostar na diversificação para garantir ganhos financeiros com a ovinocultura. Muito além do clichê, investir em produtos de maior valor agregado é certeza de dinheiro no bolso, especialmente no Estado que concentra 23,5% do efetivo total do rebanho ovino, além dos dois maiores municípios produtores: Santana do Livramento e Alegrete, conforme recente censo do IBGE. Artigos produzidos a partir da carne ovina, lã de ovelha e do leite ovino começam a cair no gosto dos consumidores de todo o País, com o diferencial de estarem sendo produzidos dentro de propriedades rurais. Um bom exemplo do potencial de mercado dessas “matérias-primas” é o da Fazenda Caixa D´água, do município de Dilermando Aguiar. Na fazenda, peças em lã crua e fios de lã coloridos também são responsáveis pelo sucesso da atividade que de tão antiga se confunde com a própria história da fazenda. A aposta no artesanato ocorreu em 2006, num primeiro momento para escoar os estoques de lã decorrentes do aumento do plantel de ovelhas Crioulas. “O pelego preto é bem mais valorizado do que os demais, então se confiou nessa frente de trabalho”, afirma Marco Righi, proprietário. Para dar “forma” à montanha de lã parada na fazenda, sua esposa, Denise Azenha, participou de cursos do Senar, onde a ideia inicial era produzir e comercializar xergões Carmem Moreira: fazendo moda para montaria. Com o nível de profissionalização que se alcançou foi possível desenvolver uma peça diferenciada e de alta qualidade que passou a ser o xodó de correarias e selarias; a manta de lã para montaria. Não demorou muito para que o produto ganhasse o Estado. Hoje é vendido para pessoas físicas e jurídicas de todo o Brasil, com a ajuda do website da fazenda. De acordo com Righi, mais de 3 mil peças da tapeçaria já foram negociadas e 2010 deve fechar com vendas 100% superiores as do ano passado. O sucesso não parou por aí: depois da peça para montaria, o casal resolveu investir na produção de fios de lã ovina para tricô e tear. “Percebemos que tinha demanda, além de ser algo sustentável, ambientalmente correto, natural e de qualidade”, enumera o Fazenda investe na diversificação de produtos com lã empresário. Com a marca “Da Fazenda Fios de Lã Artesanal”, a Caixa D’água ampliou os negócios e a expectativa é de encerrar o ano tendo comercializado 400 quilos de lã - produzidas em 19 cores, sendo quatro delas naturais da ovelha. Além de vender os fios na loja virtual e manter um representante comercial no Rio Grande do Sul para abrir frentes de negócios, Righi e Denise também mantêm clientes em cidades como Nova Friburgo (RJ) e Campos do Jordão (SP). “Este é um mercado pouco explorado, mas excelente para quem produz qualidade”, afirma Righi, criador das raças Texel Preto e Crioula. Extrair a lã e montar peças diferenciadas também virou fonte de renda para a empresária Carmem Moreira, da Cabanha Amoreira, de Santana do Livramento. “Crio ovelhas, esquilo, tinjo e confecciono peças de vestuário”, conta a empresária, que despertou para as oportunidades oferecidas pelo mundo da moda há cinco anos, quando viu os preços do quilo da lã despencarem de R$ 16,00 para R$ 6,00. Com a criação de Merino Australiano, Carmem trilha passos importantes rumo à diversificação, tanto que participa de mais de 20 eventos por ano, onde aproveita o fluxo de clientes para divulgar a qualidade das roupas produzidas com lã ovina (capas, pelerines, mantas, paschiminas e outros modelos), processo realizado em parceria com um lanifício. O sucesso entre a clientela feminina é garantido, tanto que desde que iniciou no projeto, Carmem contabiliza mais de duas mil unidades comercializadas. “Acredito que este é um recorde, especialmente porque se trata de roupas pura lã”, afirma a empresária, que dedica o êxito de vendas ao amor pela ovinocultura. “Tem que gostar do que faz e mostrar ao cliente todo o processo que existe por trás da qualidade final”, afirma. A capacitação de mão de obra é ponto essencial para quem busca um lugar no mercado. Se para atividades tradicionais da ovinocultura a comercialização costuma ser garantida, para produtos derivados a busca pela qualidade do que é colocado no mercado é prioridade. Foi o que fez em São Francisco de Paula Silvana Patzinger, ao unir a ovinocultura a causas sociais. “Formamos grupos de capacitação voltados para mulheres e jovens, criamos produtos com público-alvo já definido para buscar um lugar no mercado”, conta. Na ONG Instituto de Reciclagem SócioEducativo e Incentivo ao Desenvolvimento Econômico (Seide), foram montadas oficinas visando a geração de renda dos alunos. “Como temos várias oficinas que acontecem ao mesmo tempo, acabamos desenvolvendo produtos que utilizam papel artesanal, fuxico e lã de ovelha, mas não abandonando nunca a tradicional coberta de lã e a meia, sempre com o cuidado de ser matéria-prima ecologicamente correta”, explica Silvana. Em busca de um produto sustentável, a ONG se juntou à Universidade Mona, que prioriza a produção de lã ovina naturalmente colorida e ovinos tratados dentro da biodinâmica. A partir dessa parceria, foi estabelecido um grupo de pessoas que se dedicou à criação de acolchoados, mantas e meios de lã para comercialização na própria universidade. “As peças serão vendidas também em algumas lojas parceiras da ideologia, entre elas a Santa Composição, Empório Canela e Fio de Linha”, relata Silvana. A expectativa é que a ação comece a dar resultados financeiro a médio e longo prazos, mas salienta que as relações humanas dentro do grupo estão fortificadas. “Em longas conversas com amigos sempre ouvia a mesma coisa: a lã não vale nada, não temos mão de obra capacitada. Mas, como sou muito inquieta sempre pensei em reverter esse quadro”, confessa Silvana, que neste caso, admite que “juntou a fome com a vontade de comer”. 13 dez10/jan11 Carne de cordeiro no ritmo do fast food A diversificação na ovinocultura não se concentra apenas no segmento do artesanato e da confecção. O ramo da gastronomia também prova que é promissor para quem aposta no diferencial. E que um sanduíche pode ser reconhecido por suas características peculiares. Em São José dos Campos, interior paulista, o Tedy’s Hamburgueria e Forneria soube aproveitar a visibilidade conquistada durante festival gastronômico - onde o destaque do menu (variado) foi o Ray Charles, sanduíche que leva no recheio hambúrguer de carne ovina. O proprietário Alexandre Faria conta que a iguaria foi elaborada no ano passado e que foi “concebida” de olho no diferencial que poderia agregar ao negócio. “Sempre fomos reconhecidos pelos lanches que servimos, e o Ray Charles foi uma aposta pessoal”, conta. O Ray Charles integrou o 3º Festival Gastronômico de São José dos Campos, realizado em maio deste ano. E, para surpresa de Alexandre, passou a ser “bem consumido” por um cliente específico, “formador de opinião”. O sanduíche foi utilizado como “isca” para expandir o negócio. E chamariz para aumentar o público fiel ao Ray Charles, que hoje é consumido por cerca de 50 clientes todas as semanas. Os ingredientes do sucesso: pão tipo focaccia, linhaça (no lugar do gergelim), hambúrguer de ovino temperado com alho, alecrim, pimenta do reino, queijo cheddar em fatias, alface roxa e rodelas de tomate. A comercialização, porém, ainda esbarra no pouco conhecimento do consumidor sobre as propriedades da carne ovina. “O sanduíche ainda tem pouca saída em função da cultura do brasileiro para o novo”, confessa Alexandre Faria, que agora quer levar o cardápio do Tedy’s (tricampeão em sanduíches pelo ranking da revista Veja) para outras re- Baianos fazem calçados e artesanato em couro de ovinos Calçados feitos com couro de ovelha, além de bolsas, chaveiros, colares e outros utensílios elaborados com a mesma matéria-prima são produzidos por pequenos empreendedores do município de Batalha, no Sertão, que fazem parte da Associação Sertaneja. Há muito tempo, a habilidade de artesãos do município de Batalha transforma couro de ovinos em calçados e acessórios, explica a secretária de Estado da Agricultura, Inês Pacheco. Somente em 2007, eles se agruparam em uma entidade, fundando a Associação Sertaneja. Segundo a presidente Leane Bezerra Silva, ao todo são 16 associados - os homens produzem as peças, entre elas sandálias, colares, bolsas e chaveiros, e as mulheres fazem a venda em feiras e eventos por todo o Estado. A Associação Sertaneja foi uma das beneficiadas do convênio do governo do Estado com o MDS, firmado em dezembro de 2008, que beneficiou também a Associação das Artesãs de Maravilha (Natucapri) e a Cooperativa de Agricultores Familiares do Sertão (Cafisa). • Ray Charles faz sucesso em fast food paulista giões do País por meio de franquias. Tapeçarias, iogurtes, queijos e doces No segmento de alimentos a Cabanha da Maya, de Bagé, também surge como referência quando o assunto é agregar valor. Há três anos a proprietária Zuleika Borges Torrealba percebeu o diferencial do artesanato produzido com a lã de ovelha, quando passou a investir na linha de tapeçarias. Embora a atividade se mantenha até hoje, é para os alimentos que as atenções estão voltadas neste momento. De posse de informações preciosas sobre os benefícios dos derivados do leite de ovelha, dona Zuleika passou a focar na linha de iogurtes, queijos e doces diversos a partir do leite ovino. De acordo com a médica-veterinária da cabanha, Francine Eickhoff, os produtos são comercializados em nível municipal, mas a intenção da proprietária da Cabanha da Maya é alcançar mercados em todo o País. Para isso, aguarda a conquista do registro federal, o SIF. Na propriedade estão instalados o processo da ordenha e congelamento do leite, para posterior entrega na queijaria. Uma vez por mês um técnico vindo do Uruguai visita a propriedade e atua na formatação dos produtos e no processo de controle de qualidade. O pequeno “mercado” em nível municipal é o que motiva a proprietária a buscar novos clientes, especialmente donos de hotéis e restaurantes no Rio de Janeiro e em São Paulo, com quem já mantém contato. • dez10/jan11 14 Notícias da ARCO Fabrício Willke é reconduzido à presidência do CDT E m reunião realizada dia 8 de novembro de 2010, foi eleito o novo Conselho Deliberativo Técnico (CDT) da ARCO para o próximo biênio. O presidente reeleito do CDT é o méd. vet. Fabricio Wollmann Willke (representante da Associação Brasileira de Criadores de Ile de France) e a secretária é a zootecnista Melissa da Fonseca Oliveira (representante da ASPACO - Assoc. Paulista de Criadores de Ovinos). Entre os trabalhos que serão Foto: Divulgação Willke da Ile de France desenvolvidos durante o primeiro semestre do próximo ano, com reunião já marcada para janeiro de 2011, está a apresentação e aprovação do Regulamento Nacional para Oficialização de Exposições de Ovinos aos membros do CDT, que terá os seguintes objetivos; - Promover a ovinocultura em todo território Nacional; - Oficializar perante o MAPA (Ministério da Agricultura e Abastecimento) as informações de premiações oriundas dos certames chancelados pela ARCO; - Disponibilizar oficialmente no SRGO (Serviço de Registro Gene- Jornal AgroValor premia Schwab O Jornal AgroValor lançou em 2008 o título Personalidade AgroValor para pessoas que se destacaram durante o ano nas mais diversas áreas ligadas ao agronegócio brasileiro. Neste ano a publicação relacionou o presidente da ARCO, Paulo Schwab como um dos contemplados desta distinção. Segundo a diretora Executiva do Jornal, Camila Bitar, já receberam o título de Personalidade AgroValor importantes figuras públicas do cenário nacional, tais como: Reinhold Stephanes, Hermano Henning, Ademar Silva Jr., Edilson Maia, entre outros. “Cada Personalidade AgroValor receberá, como símbolo do nosso profundo respeito e apreço, uma certificação com o honroso título, acompanhada de um brinde exclusivo e personalizado”, assinala a executiva. Editado por Editora Sete, uma empresa do Grupo Brasilcred, o AgroValor foi fundado em março de 2006 com o objetivo de ser um importante instrumento de comunicação sobre o agronegócio. De Fortaleza, onde está situada a sua sede, o AgroValor se transporta para seus assinantes e leitores em todo o país. No formato berliner, que facilita a leitura e organiza melhor as notícias, possui vinte e oito páginas coloridas, divididas em três cadernos: AgroValor, Agro&Cultura e Haras de Valor. • alógico de Ovinos no Brasil), as informações de premiações oriundas dos certames chancelados pela ARCO . - Proporcionar o intercâmbio de idéias, experiências e informações entre técnicos e criadores, ensejando a adoção de métodos racionais de manejo, criação e seleção; Assim, serão consideradas Exposições Oficiais todas aquelas que solicitarem e tiverem sua oficialização aprovada pela Diretoria da ARCO, que observarem na íntegra o Regulamento Nacional para Oficialização de Exposições de Ovinos, que respeitarem as normas para escolha e atuação dos jurados, estabelecidas pelo Colégio de Jurados das Raças Ovinas (CRJO). O CDT também definiu um Calendário Anual de Exposições, em que serão divulgados os títulos de Melhor Criador e Melhor Expositor em todos os eventos oficializados. Ao final do ano, serão conferidos os títulos de Melhor Criador e Melhor Expositor do ano de cada raça. • ARCO realiza reunião de diretoria Com a idéia de uniformizar as informações e debater as metas para 2011, a Associação Brasileira dos Criadores de Ovinos, ARCO, reuniu toda a sua diretoria no dia 3 de dezembro, em Salvador, durante a realização da Fenagro, uma vez que boa parte dos componentes da diretoria é do norte e nordeste do País. Conforme o presidente da ARCO, Paulo Schwab, foram apresentadas as realizações de 2010 e novos procedimentos a nível de entidade. “Procuramos unificar as idéias para que todos possam bem representar a entidade e o setor, onde quer que estejam”, comentou Schwab. No evento, foram destacados os projetos de pesquisa sobre mercado interno e externo para a carne ovina, feita em convênio com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, o Programa de Sanidade Ovina, desenvolvido pela Embrapa e as ações junto aos governos e às Câmaras Setoriais para a criação de ambientes propícios ao desenvolvimento da ovinocultura. Durante a Fenagro, também ocorreu um encontro com as Associações Estaduais de Criadores da região, que teve por objetivo a troca de informações entre todos. Um dos temas tratados foi a regulamentação dos julgamentos e exposições bem como os procedimentos técnicos. “Estamos aproveitando estas viagens para promover encontros com os representantes locais da ovinocultura, a fim de saber as suas demandas e discutirmos horizontes e metas de trabalho”, resssalta Schwab. Ele acrescentou também que houve uma reunião com dirigentes da Associação Brasileira de Santa Inês, quando foram colocados os números atuais de registro, como também foram ouvidas reivindicações da raça, como maior colaboração e participação nos trabalhos de melhoramento genético. 15 dez10/jan11 Carne de cordeiro valoriza no mercado interno O s criadores de ovinos estão atravessando um ótimo momento em sua atividade, fruto da valorização do preço da carne de cordeiro. A tendência de aumento do consumo per capita é impulsionado pelas comemorações de final de ano, e pela elevação dos preços da arroba bovina, bem acima do patamar histórico esperado para esta época do ano. Por isso, o cordeiro também tem registrado preços crescentes no mercado nacional. O setor vive ainda a redução do volume de importação de carne ovina do Uruguai, concorrente histórico do produto brasileiro, com redução acumulada de janeiro até outubro deste ano de 35,15%, segundo dados do Instituto Nacional de Carnes (INAC) do Uruguai. Outra razão para a valorização do preço da carne de cordeiro, que apesar de estar no início fará grande diferença para a produção mundial, é o interesse do produtor neozelandês pelo preço do leite bovino, o que está contribuindo para a permuta entre as criações. Mesmo valorizado, o cordeiro deve continuar presente na ceia de final de ano dos brasileiros, quando normalmente o preço do cordeiro cresce. E para 2011, que também promete ser promissor, o setor de ovinos de corte já começa a se preparar para aumentar o volume de produção e, mais do que isso, para oferecer um produto de qualidade superior ao consumidor, que faça frente ao produtor uruguaio, como meio de alavancar o consumo de carne de cordeiro entre os brasileiros. O Brasil ainda apresenta grande possibilidade de crescimento nesse segmento. Segundo dados do IBGE, o rebanho ovino brasileiro está em torno de 17 milhões. O Nordeste detém a maior parte do rebanho ovino brasileiro – 56,4%; em seguida está o Sul com 29,1% e o Sudeste está em quarto com 4,6%. O país detém menos de 1% da produção mundial de carne ovina, com abate médio anual inferior a 1 milhão de cabeças. O consumo per capita da carne é de 700 g/hab/ano, enquanto em países como Nova Zelândia são consumidos 30kg e na Austrália 20kg. • Informe Publicitário Quando uma visita muito importante vem almoçar na sua casa, uma das suas preocupações é servir algo que não faça feio; sabe o que o Uruguai serviu ao homem mais importante do mundo? Bush terá almoço com cordeiros POLL DORSET temperados vivos no Uruguai Publicidade da Ansa, em Montevidéu O presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, receberá no sábado a visita do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, com um assado de cordeiros temperados em vida através da alimentação - os primeiros desse tipo no mundo. A visita de Bush ao Uruguai faz parte de um giro do líder norte-americano que inclui Brasil, Colômbia, Guatemala e México. Bush, que começa sua viagem na próxima quinta-feira, vai se reunir em um almoço com Vázquez no sábado na estância oficial Anchorena, 200 km a oeste da capital Montevidéu. A presidência uruguaia fez o pedido de dois exemplares da raça Poll Dorset à Cabaña de Las Rosas, da princesa Laetitia D’Aremberg, que tenta exportar essas carnes aos mercados mais exigentes. Fontes de Las Rosas disseram à radio El Espectador que serão usados dois dos melhores cordeiros do Uruguai, selecionados pelo chef Esteban Briozzo. Os animais, criados estritamente em pradarias, são os primeiros ovinos temperados através da alimentação e com a melhor genética disponível, segundo as fontes. Briozzo conheceu o trabalho do estabelecimento em novembro de 2006, quando cozinhou em um almoço organizado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, o Instituto de Carnes e o Instituto de Investigação Agropecuária, no qual Las Rosas apresentou a carne desses exemplares. As fontes disseram ao El Espectador que o trabalho tem dois anos de história em Las Rosas e que em poucos meses seus produtos ingressarão no mercado internacional. Fonte : http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u105246.shtml - 06/03/2007 - 16h26 Cabanha King Size O melhor das genéticas Australiana, Americana e Neozelandeza Feinco 2011 e Expolondrina 2011 www.cabanhakingsize.com.br Informações: 41 8841.6520 :: Curitiba :: PR dez10/jan11 16
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