eSta - Instituto Politécnico de Tomar

Transcrição

eSta - Instituto Politécnico de Tomar
PUB
A maior Central Solar do mundo encontra-se em fase de construção no Alentejo,
devendo estar concluída no prazo de um
ano. Durante 25 anos, produzirá energia
limpa suficiente para 30.000 lares. Por ano,
evitará a emissão de 152.000 toneladas de
gases com efeito estufa, assim
como outros gases
poluentes.
D i r e c to r a : H á l i a co s ta s a n to s
www.nyb.pt
www.esta.ipt.pt
P. 20
N.º 17 . Ano 6 . quarta-Feira, 11 de junho de 2008
PRECONCEITOS
ALTERNATIVAS
DIFERENÇAS
PROIBIÇÕES
P. 3 a 7
P. 19 a 22
P. 8 a 15
P. 16 a 18
ESTA com novas
instalações
A ESTA tem prevista a sua
mudança para o Tecnopólo,
em Alferrarede, no ano lectivo de
2010/2011. Miguel Pinto dos Santos,
director da escola, salienta o facto de
a mudança permitir um reforço das
relações com as instituições e empresas do município, o que conduz a um
“círculo virtuoso de desenvolvimento”. Não se trata de “uma mudança
de estratégia, mas sim de um reforço
da mesma”.
•
•
•
•
•
Abrantes
Alferrarede
F. Zêzere
Leiria
Tomar
Quem é diferente sente na
pele o preconceito dos outros.
Ou porque gosta de alguém
do mesmo sexo, ou porque
segue uma religião que não
é a mais generalizada, ou
porque decidiu interromper
uma gravidez. Também há os
que se se sentem à parte porque
são obesos ou porque têm de ganhar a
vida a prostituir-se. Mas ser diferente
ou alternativo pode ser uma opção
de vida. O vegetarianismo é disso
exemplo. E há aqueles que gostavam
de fazer o que não podem, como
vender álcool em estádios de
futebol. Histórias contadas ao
longo deste jornal.
Alunos na Operação
Rosa Brava
SUPLEMENTO P. 2
perto de si
Cerca de 20 alunos de Comunicação Social da ESTA fizeram o papel de repórteres numa
conferência de imprensa organizada
por militares. A iniciativa fez parte
de uma operação em que a Brigada
Mecanizada mostrou a sua capacidade para responder a solicitações
da OTAN. Para os estudantes, esta
foi uma oportunidade para contactarem directamente com a realidade
profissional que os espera.
SUPLEMENTO P. 1
| ESTA JORNAL • 11 de Junho de 2008
esta
J O R N A L
Protagonistas sem nome
e dito r ial
Hália Costa Santos
Quando alguém se refere a outro como “um esquizofrénico” ou “um autista” está simplesmente a contribuir para
aumentar o preconceito em relação aos portadores destas
doenças. Estes são apenas dois pequenos exemplos que
demonstram a falta de sensibilidade que a generalidade das
pessoas tem em relação a quem é diferente por qualquer
motivo: doença, opção de vida, crença, destino ou outro.
Esta edição do ESTAJornal trata o tema genérico dos
Preconceitos, Proibições, Diferenças e Alternativas. Quisemos mostrar o lado que quem, todos os dias, sente na
pele que não faz parte do que é considerado standard.
Considerámos que a obrigação de ser “normal” faz cada
vez menos sentido. Só que nem sempre os outros, os que
estão formatados para serem iguais, lidam bem com os
que saem da norma.
A verdade é que, entre muitas pessoas, há preconceitos
em relação a quem vai ao psiquiatra, em relação a quem
se prostitui, em relação a quem tem uma religião não
maioritária, em relação a quem sente a necessidade de
fazer uma interrupção da gravidez. Muitas vezes, o que
faz falta é tentar perceber por que o fazem. E dar a voz aos
simples desconhecidos que vivem, muitas vezes, na franja
da sociedade, é o objectivo desta edição.
Dar a voz a quem leva uma vida diferente do comum
nem sempre é fácil. Dificilmente se conseguiria falar com
uma família que esteja a viver uma situação de pobreza
envergonhada. Por isso, falámos com quem os ajuda e os
conhece bem. Noutros casos, conseguimos o discurso dos
protagonistas, mas temos que contar as suas histórias com
nomes fictícios. É evidente o medo das consequências que
uma exposição pública poderia trazer. Mas nós insistimos
em falar destes assuntos, esperando contribuir para a
abertura de certos caminhos.
Pensando no que é diferente, também saltam à vista
coisas positivas, vistas como alternativas. Por isso,
quisemos mostrar locais que merecem ser visitados e
apostas que vão contribuir para o desenvolvimento do
país. Por exemplo, o trabalho que se continua a fazer
no Parque Nacional da Peneda-Gerês, assim como no
Carsoscópio, localizado no complexo das Nascentes
do Rio Alviela, em Alcanena, um projecto que aposta
na Ciência e no Ambiente. Destacamos ainda a aposta
que Abrantes está a fazer em termos de desporto e a
Central Solar que está a ser construída na Amareleja,
no Alentejo. Se aproveitarmos o sol um pouco melhor,
talvez nos faça bem a todos.
Avaliação do ESTAJORNAL
Com o objectivo de melhorar o ESTAJORNAL e a satis- O ESTAJORNAL é uma publicação elaborada pelos
fação dos nossos leitores, estamos a proceder à sua alunos da Escola Superior de Tecnologia de Abranavaliação através de um inquérito on-line onde pode tes (ESTA). Com uma tiragem de 5000 exemplares
responder a questões relacionadas com a qualidade, é distribuído a nível local, regional e nacional, por
aspecto e tiragem, entre outras. Se quiser poderá Câmaras Municipais, Universidades/Politécnicos,
ainda deixar-nos o seu comentário sobre o ESTAJOR- Escolas Secundárias, Empresas de diversos ramos,
NAL. O estudo não tem carácter científico. A metodo- e outras Instituições Públicas.
logia seguida procura responder às condicionantes Se estiver interessado em receber mais informaexistentes, aborções sobre o
dando os diverE S TA J O R N A L
sos e dispersos
ou sobre a ESTA
O inquérito pode ser respondido em
públicos do ESdeixe-nos o seu
www.estajornal.blogspot.com
TAJORNAL.
contacto.
esta
J O R N A L
Fundado a 13 de Janeiro de 2003
propriedade da escola superior de
tecnologia de abrantes
Morada: Rua 17 de agosto de 1808
2200-370 abrantes
telefone: 241361169
fax: 241361175
E-mail: [email protected]
O ESTAJornal
errou
Na última edição, no artigo
intitulado “O público
quer peças ligeiras”,
sobre a peça “O Clube
das Divorciadas”, o nome
do actor José Raposo
foi erradamente escrito.
Ao próprio e leitores, as
nossas desculpas.
direc tora: Hália Costa Santos
redacç ão: ana marta sénica, aNA rITA
FERREIRA, ANDRÉ LOPES, fábio car valho,
fernanda mendes, ÉRICA AMARAL, joão
car valho, LARA SILVA, MARIANA AZEVEDo,
mARISA rODRIGUES, mILENE aLVES, mÓNICA
rEINO, noélia barradas, PAULA FARIA, RAQUEL
SIMÕES, SARA COSTA, sílvia carola, tiago
lopes, TÂNIA gONÇALVES, valter marques,
vítor madeira
E statuto
Editorial
•
O ESTA é um jornal de Escola, de pendor
assumidamente regional, mas que nem
por isso abdica da dimensão de um órgão
de grande informação ou da ambição de
conquistar o público para além do meio
universitário.
•
O ESTA Jornal adopta como lema e
norma critérios de rigor, de absoluta
independência e de pluralismo dos
pontos de vista a que dá expressão.
•
O ESTA Jornal aposta, por isso, numa
informação plural e diversificada,
procurando abordar os mais diversos
campos de actividade numa atitude
de criatividade e de abertura perante a
sociedade e o Mundo.
•
O ESTA Jornal considera como parte da
sua missão contribuir para a formação
de uma opinião pública informada,
emancipada e interveniente - condição
fundamental da democracia e de uma
sociedade aberta e tolerante.
•
A democracia participativa e entendida
para além da sua dimensão meramente
institucional, o pluralismo, a abertura e a
tolerância são os valores primaciais em
que se alicerça a atitude do ESTA Jornal
perante o Mundo.
•
O ESTA Jornal considera-se responsável
única e exclusivamente perante a ambição
e a exigência dos seus redactores, alunos
do Curso de Comunicação Social da Escola
Superior de Tecnologia de Abrantes e
perante o público a que se dirige.
O ESTA Jornal está por isso plenamente
disponível e empenhado com os leitores,
comprometendo-se a manter canais
de comunicação abertos com quantos
connosco queriam partilhar as suas ideias
e inquietações.
Colaboradores: Jefferson S. Gomes,
Margarida Car valho, pAULO sOUSA (câmara
Municipal do Sardoal), tÂNIA bRANCO, Tânia
Pissarra, vânia costa
Revisão: Sandra Barata
Departamento comercial: ana neves, catarina
machado, diana cordeiro e nelly caetano
Projec to gráfico e paginaç ão: joão pereira e
Marisa rodrigues
Editores: FÁBIO CAR VALHO, Marisa rodrigues e
milene alves
Editor de fotografia: João car valho
impressão: gráfica do instituto politécnico
de tomar
tiragem: 5000 exemplares
11 de Junho de 2008 • ESTA JORNAL | PRECONCEITOS
Participe na avaliação do ESTAjornal em:
www.estajornal.blogspot.com
Investigação em Abrantes
À procura de respostas sobre a IVG
O objectivo era aparentemente simples: saber o que acontece a uma mulher que pretende interromper uma gravidez em Abrantes?
O Hospital está habilitado a fazê-lo, o Centro de Saúde adoptou um procedimento, mas, oficialmente, pouco mais se sabe. Só
mesmo quem se apresenta como grávida desejando fazer a IVG é que tem acesso à informação: as abrantinas são reencaminhadas
para uma clínica em Lisboa. E em Abrantes fica tudo como d’antes.
milene alves
recção Céu Bragança, de que existe
um protocolo com uma clínica, não
adiantando informações sobre o
nome ou localização. A mesma secretária aconselhou-nos a enviar
um fax para o director adjunto do
Hospital. Apesar de terem passado três semanas, a resposta nunca
chegou. A justificação foi o excesso
de trabalho.
Marisa Rodrigues
e Milene Alves
Tendo em conta que já passaram
alguns meses desde a entrada em
vigor da Lei que diz respeito à Intervenção Voluntária da Gravidez
(IVG), fomos tentar perceber como
é que o Hospital Doutor Manuel
Constâncio, em Abrantes, a está a
aplicar.
O primeiro contacto foi com a
Direcção Geral de Saúde (DGS),
para perceber qual a realidade relativamente à estatística sobre a IVG
nos estabelecimentos oficialmente
reconhecidos desde a entrada em
vigor da nova lei em Portugal, e particularmente em Abrantes. A chamada passou de secção em secção,
sem nunca terem sido fornecidos
dados oficiais ou quaisquer outras
informações.
Após o contacto com a DGS, e
perante a falta de esclarecimentos,
consultámos o site da mesma instituição para obter a lista de estabelecimentos reconhecidos, para dar
continuidade à nossa investigação.
Verificando que em Abrantes se
situava um desses estabelecimentos, contactámos os responsáveis.
O Director do Centro de Saúde de
Abrantes, Fernando Siborro, foi
directamente questionado pelo
ESTAJornal sobre todo o processo
que envolve o IVG no Hospital, que
funciona no mesmo edifício. “Não
sei, do Hospital não sei! Eu sei que
há muitos colegas meus que hipocritamente se põem defensores da
moral. Nós, por formação, devemos
defender a vida. Agora, qual vida?
A da mãe ou a do filho?”.
Sem apresentar muitas informações sobre a forma como o Hospital
de Abrantes lida com as mulheres
que pretendam fazer uma IVG, Fernando Siborro explicou o processo
Esclarecimento. Marcando o número oficial para uma possível interrupção da gravidez
no que diz respeito ao Centro de
Saúde. “Quando uma das nossas
utentes vem ter com o seu médico
de família e diz que está disposta a
fazer aborto ou a abortar, a postura oficial é o fornecimento de um
número de telemóvel para o qual
essa rapariga ou mulher pode telefonar e depois desencadeia-se todo
um processo que já não passa pela
nossa mão.”
Quando confrontado com a possível realidade de algumas mulheres,
em Abrantes, excederem o limite de
tempo legal para a realização de uma
IVG, o médico declara que após o
primeiro contacto e a indicação do
número de telefone “a mulher vai
para o Hospital”. Fernando Siborro explica o que se passa a seguir:
“Lá fazem o aborto se acharem que
ela está em condições para o fazer
e depois mandam-me um e-mail,
porque sou o director do Centro
de Saúde e sou o coordenador dessa
área.” Acrescenta ainda que desde
que a lei entrou em vigor ainda não
recebeu nenhum e-mail.
Um telefonema
conseguiu
esclarecer tudo
o que o hospital
não quis dizer
E o que pensam e sabem os
abrantinos sobre a forma como as
suas instituições de saúde pública
aplicam a lei relativa à IVG? Alguns
contactos informais mostram que a
generalidade das pessoas aceitaria
a prática por parte de alguma familiar, amiga ou conhecida, sem
mostrar qualquer tipo de discriminação. Aquilo que a maioria dos
inquiridos não sabia era que existe
a possibilidade de se realizar uma
IVG no Hospital de Abrantes. A
informação que corre nas ruas da
cidade é que as abrantinas seriam
reencaminhadas para uma clínica
privada.
Contactado novamente o Hospital de Abrantes, chega a confirmação, através da secretária da di-
Transporte a cargo da paciente
Como saber, então, o que acontece realmente a uma jovem ou
mulher abrantina que queira interromper a sua gravidez durante
o prazo legal? Marcando o número
de telefone oficial, que se encontra afixado no Centro de Saúde de
Abrantes. Alguém que comunique,
através da referida linha telefónica,
a intenção de realizar uma IVG recebe toda a informação necessária, a
mesma que não é clara nem pública
quando os contactos são de simples
procura de informação.
Do outro lado da linha está a enfermeira Conceição, que informa
claramente, a uma eventual jovem
grávida, todo o procedimento. Tudo
começará com um primeiro contacto com as enfermeiras Conceição
e Anita, com o objectivo de confirmar a gravidez, através de uma
ecografia. Verificado o tempo de
gestação, a jovem ou mulher será
reencaminhada para a Clínica dos
Arcos, na Avenida da Liberdade, em
Lisboa, ficando o transporte a cargo
da paciente. É nesta clínica que se
realizaria a primeira consulta com
o médico, antes de uma reflexão
que duraria três dias, após os quais
a paciente teria de se deslocar novamente à clínica para um segunda
consulta que resultaria na IVG.
A IVG resulta da Lei n.º16 / 2007
que, através de um referendo, autorizou em Portugal, o aborto legal até
as dez semanas de gravidez.
Aplicação da nova lei da IVG em Coimbra
Tânia Soares Gonçalves
Em vigor desde 15 de Julho de
2007, depois de um referendo no
qual o Sim recolheu 59,25% dos
votos e que apesar de não vinculativo foi ratificado na Assembleia da
República pela maioria socialista,
a portaria que regulamenta a IVG
permite, desde então, que todas as
mulheres residentes em Portugal
interrompam a sua gravidez até às
dez semanas.
De entre as maternidades nas
quais é possível proceder legalmente ao aborto encontram-se
as de Coimbra, Bissaya Barreto
e Daniel de Matos, que integram
os Hospitais da Universidade de
Coimbra (HUC). Segundo informações recolhidas no site oficial
da instituição, apesar da existência
de médicos objectores de consciência, estão garantidas as condições
para executar a opção da mulher
pelo aborto ao abrigo da nova lei.
No caso da maternidade Daniel de
Matos, uma equipa de nove médicos
assegura as consultas três dias por
semana. Na maternidade Bissaya
Barreto são realizadas, em média,
duas interrupções voluntárias da
gravidez por dia.
Nestas duas instituições a IVG
pode ser feita por via cirúrgica ou
medicamentosa. No primeiro caso
faz-se remoção do conteúdo uterino. O procedimento, que é realizado
sob anestesia geral ou local, requer
uma hospitalização de algumas horas. No segundo método, que só
deve ser utilizado até às nove semanas, a taxa de sucesso é ligeiramente
inferior, sendo por vezes necessário complementar o processo com
uma aspiração nos casos em que a
expulsão do conteúdo uterino não
é completo.
Numa fase inicial da implementação da nova lei, foram estabelecidos
protocolos entre estas duas maternidades e o Hospital de Santo André
em Leiria que permitiam às utentes
dos serviços de saúde do distrito
de Leiria que quisessem abortar,
o reencaminhamento para os serviços de Coimbra, uma vez que de
entre os 19 médicos do serviço de
ginecologia e obstetrícia do hospital
leiriense, 18 invocaram objecção de
consciência, impossibilitando a realização de IVG nessa instituição.
Num balanço dos primeiros seis
meses depois da despenalização
da IVG, em Portugal, os números
situam-se nos 6.000 casos de mulheres que abortaram a seu pedido,
o constitui pouco mais de metade
do previsto.
| ESTA JORNAL • 11 de Junho de 2008
PRECONCEITOS
“A violência doméstica causa
muitas mortes em Portugal”
O actual responsável pelo Núcleo de Cooperação Regional e Autárquica da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género,
João Pereira, em entrevista (via email) ao ESTAJornal, apresenta o panorama geral das situações de discriminação em Portugal e
diz que vale a pena continuar esta luta.
Paulo Sousa
João Pereira. “Tem havido um esforço grande para o combate à discriminação “
Valter Marques
Quais são as situações mais graves de discriminação que ainda se vivem hoje em Portugal?
Sendo a Vida um valor fundamental das
sociedades contemporâneas, assinalaria, desde
já, a Violência Doméstica e o tráfico de Seres
Humanos como as situações mais graves de discriminação que hoje se vivem em Portugal, pois
causam mortes. No entanto, muitas outras situações de discriminação merecem uma intervenção profunda, quer na mudança de mentalidades na direcção da integração e reconhecimento
do valor da Diversidade, quer mesmo com
recurso aos instrumentos legislativos ao dispor
das pessoas. Portugal tem hoje uma legislação
avançada em matéria de luta contra a discriminação e promoção da Igualdade de Oportunidades, mas ainda temos, todos e todas, um papel
fundamental a desempenhar na aplicação desta
legislação, na vida diária de todas as pessoas.
Em relação ao seu actual cargo na CIG (Comissão para a cidadania e igualdade de género) o que falta ainda fazer?
Sendo responsável pelo Núcleo de Cooperação Regional e Autárquica da CIG, afigurase pela frente o trabalho imenso de levar as
questões da Igualdade de Oportunidades junto
do Poder Local e, consequentemente, junto
das populações. Acreditamos que o Poder
Local, pela proximidade e cumplicidade nas
problemáticas das populações, deve assumirse como o motor da Promoção da Igualdade
a nível local, encarando a Igualdade como
um factor indissociável do desenvolvimento
sustentável das populações. A CIG tem hoje
alguns protocolos de cooperação com alguns
municípios do país, mas queremos chegar, se
possível, a todos.
As situações de discriminação têm desaparecido?
Não há dados que nos permitam dizer se as
situações de discriminação têm ou não desaparecido. Os números têm aumentado, mas
não é ainda possível correlacionar este aumento
com um real aumento da discriminação. Este
aumento pode estar relacionado com um, cada
vez maior, conhecimento dos direitos por parte
das pessoas e, consequentemente, uma maior
reivindicação desses direitos.
Os Governos têm actuado de forma a combater a discriminação?
Julgo que sim, que tem havido um esforço
grande para o combate à discriminação. Portugal
tem hoje alguns documentos estratégicos que
vão neste sentido. Destacaria, destes, o III Plano
Nacional para a Igualdade – Cidadania e Género
2007 – 2010, o III Plano Nacional Contra a Violência Doméstica 2007 – 2010, o I Plano Nacional
contra o Tráfico de Seres Humanos 2007 – 2010,
o Plano Nacional de Integração de Imigrantes, o
I Plano de Acção para a Integração das Pessoas
com Deficiências ou Incapacidade. Estes planos
contêm objectivos e metas a atingir através de
medidas políticas e projectos de intervenção. A
decisão de instituir 2007 como o AEIOT revela
também uma preocupação e um compromisso
dos governos da EU com estas matérias.
Que exemplos de discriminação entre género
ainda ocorrem frequentemente?
Para além da violência contra as Mulheres, como referi atrás, as Mulheres ganham, em média,
menos 20% que os homens para o desempenho
das mesmas funções; nos usos do tempo, as
mulheres gastam todos os dias mais três horas
extra laborais no desempenho de tarefas relacionadas com a esfera familiar, com o cuidado de
pessoas dependentes, tarefas domésticas, entre
outras. No mercado de trabalho ainda se evitam
as contratações de mulheres com o receio de um
elevado absentismo, caso engravide ou tenha
crianças a seu cargo. Existe ainda uma série de
desigualdades persistentes, penalizando mais
umas em detrimento de outros.
Vale a pena continuar a lutar contra a discriminação, ou é um remar contra a maré?
É claro que vale a pena continuar a lutar contra a discriminação. Por mais que existam dias
que parecem ser um remar contra a maré, os
momentos em que sentimos que contribuímos
para a melhoria da dignidade da vida de algumas pessoas são muito recompensadores. Por
outro lado, é uma questão de justiça social.
Porque decidiu seguir um percurso ligado
à Acção social?
Em termos de percurso académico ele foi
feito na área das Ciências Geofísicas - Física. No
entanto, e como desde cedo sempre fui tendo
experiências de participação associativa, na área
da animação comunitária, estas experiências
permitiram-me a participação em projectos de
intervenção comunitária, primeiro como animador e, posteriormente, assumindo funções
directivas e de coordenação. Trabalhei em Programas Especiais de Realojamento, sobretudo
no concelho de Cascais, concebendo programas
de integração social para as populações infantis
e juvenis pertencentes a agregados familiares
em fase de realojamento. Para além disso, o
meu percurso associativo levou-me a um mandato na Direcção do Conselho Nacional da
Juventude, tenso sido responsável pelas pastas
de Emprego e Assuntos Sociais e, ainda, pela
Administração. Foi com o assumir da Pasta do
Emprego e Assuntos Sociais que me empenhei
no trabalho na área da Igualdade de Oportunidades, sobretudo na vertente da Igualdade
de Género, tendo continuado o meu percurso
associativo dos últimos anos numa ONG desta
área. Paralelamente, desenvolvi funções de
Educador Social num Centro de Acolhimento
de Emergência da Segurança Social até ter vindo
para a CIG, no início de 2007, tendo integrado a
equipa técnica do Ano Europeu da Igualdade de
Oportunidades para Todos – (AEIOT) e tendo,
no segundo semestre de 2007, coordenado a
organização da Conferência de Encerramento
do AEIOT, realizada no âmbito da Presidência
Portuguesa da UE.
ESTAJornal à conversa com um prostituto
Uma vida difícil para tudo ser mais fácil
São 9h00 da manhã e recebe no
telemóvel uma mensagem escrita do
seu primeiro cliente do dia, a dizer
que está a chegar a sua casa. É normalmente a esta hora que começa o
seu dia. “Começo desde cedo a receber as pessoas porque já ficam contactos feitos de dias anteriores” – diz
Falcão, nome pelo qual é conhecido
entre os seus clientes.
A lógica é normalmente sempre a
mesma: um pequeno texto nos anúncios classificados dos jornais com
algumas características, por vezes
ficcionadas, e todos os dias recebe no
seu apartamento, na Costa da Caparica, entre oito a 12 pessoas, homens,
mulheres ou casais, isto tudo com a
ajuda de um suplemento sexual.
Após ter chegado do Brasil e só ter
encontrado um part – time de duas
horas num restaurante, em que recebe
200 euros, encontrou na prostituição
a forma de pagar as suas contas e ter
uma vida confortável, com alguns
luxos.
Recebe entre 500 e 800 euros semanais, mas não pretende fazer disto a
sua vida, porque pretende estabilizar
e ter uma família. Mas confessa: “É
muito difícil deixar esta ocupação
porque ganha-se bem. É difícil mas
depois habituamo-nos”. É uma dúvida. Ou os luxos ou a vida estável com
alguma facilidade.
Exige higiene e segurança, consi-
dera-se heterossexual, mas são mais
os homens que recorrem aos seus
serviços.
Quando confrontado com um
recente estudo, em que os dados demonstram que uma em dez pessoas já
tinham traído o parceiro, não se mostra nada surpreendido. “Eu recebo
alguns casais, mas também homens e
mulheres com uma relação fixa e que
procuram em mim o prazer que não
têm em casa” – refere o vendedor de
prazer, como gosta de ser retratado.
Existe muita concorrência, mas
já tem os seus clientes fixos e confessa que é difícil quando os clientes
se apaixonam. “É preciso separar as
coisas”, diz Falcão, que muitas vezes se
vê obrigado a esclarecer qual o seu papel. Frequentemente é abordado para
uma relação mais séria: “Há muitas
pessoas carentes que me procuram
porque não têm ninguém”.
Oculta este lado da sua vida à sua
família que ficou no Brasil. Não tem
praticamente tempo para os amigos
nem para sair, algo que o deixa triste.
“Tenho sempre muitos contactos,
estou muito ocupado e quando me
convidam para sair ou ir à praia tenho
que mentir”, uma consequência da
sua vida dupla.
Não quer revelar a ninguém a sua
vida e explica porquê: “Não iriam
aceitar e acabaria por perder a amizade de algumas pessoas. Se fosse ao
contrário também não sei como iria
reagir”. A sociedade ainda não está
preparada para este fenómeno que
tem vindo a aumentar, basta consultar
os classificados de alguns jornais.
Foi preciso coragem para se tornar
prostituto, mas Falcão tem noção que
nunca conseguirá manter este nível de
vida com outra profissão.
É a dificuldade de quem entra neste
Mundo. Precisa-se de ter uma vida
dupla, aceitar muitas coisas que não
se gosta, mas dá muito jeito. Por isso,
quando questionado se está arrependido, confessa: “Nunca pensei ser
prostituto, mas a vida prega partidas.
É difícil mas muitas vezes temos que
tomar decisões difíceis”. V. M.
11 de Junho de 2008 • ESTA JORNAL | PRECONCEITOS
Participe na avaliação do ESTAjornal em:
www.estajornal.blogspot.com
Gostas de mim como sou?
Os jovens homossexuais estão a assumir-se cada vez mais cedo. Apesar do estigma que ainda existe,
muitos já dão a cara para mostrar que são pessoas como as outras. Bruno, Luís e F. Santos não têm receio
de aparecer e dar a cara. Um sinal de mudança de mentalidades, um sinal dos tempos.
dr
André Lopes
Bruno, com 21 anos, faz shows de
transformismo (pessoas que vestem
roupas do sexo oposto) num bar em
Torres Novas. É nesta cidade que vive
com um companheiro da mesma idade.
Nestas alturas transforma-se em Bruna
Paparizou. Nele tudo muda, desde o
cabelo, a maquilhagem, a roupa e até
mesmo o nome: uma autêntica metamorfose. “Desde sempre que soube
a minha orientação sexual, ser gay é
algo que nasce com a pessoa”. Por isso
não esconde o facto de pertencer a uma
minoria cada vez maior. Este jovem é a
prova de que o coming out (revelação
da orientação sexual) se está a fazer
cada vez mais cedo. Mas a “saída do
armário”, como também é designada,
é, muitas vezes, fonte de sofrimento,
incompreensões e vergonhas.
Apesar de a pesquisa em Portugal
não ser grande, segundo a revista “Visão” (n.º 731, 8 de Março de 2007), os
jovens homossexuais revelam a sua
orientação sexual cada vez mais cedo
– se nos anos 80 a revelação era feita já
depois dos 20 anos, agora fazem-no por
volta dos 15/16 anos. Luís, de 35 anos,
considera que é “muito complicado viver de forma serena a sexualidade, seja
qual for a orientação”. E acrescenta: “A
homossexualidade é muito mais complicada, por várias razões. Por exemplo,
a negação da própria pessoa quando
começa a sentir atracção por pessoas
do mesmo sexo”. Foi desta forma que
Nuno (nome fictício) descobriu que era
gay. Tinha 15 anos e na altura entrou em
pânico. Hoje já vive melhor com a ideia,
mas, mesmo assim, passados sete anos
“quase ninguém sabe” da sua orientação
sexual. Por isso, fica atrapalhado quando vê uma máquina fotográfica.
Segundo um inquérito realizado na Internet pela “rede-exaequo”
(associação de jovens lésbicas, gays,
Conselhos aos pais
Pais que não aceitam a ideia de o
filho ser homossexual
› Sentem-se culpados e embaraçados/envergonhados
› Raramente conseguem projectar o
futuro do filho
› Têm pouco ou nenhum contacto
com os amigos homossexuais do
filho
› A distância ou o conflito tornam-se
maiores depois da revelação
Pais ambivalentes
› Revelam a homossexualidade do filho só a alguns membros da família
› Existe uma maior compreensão pela
orientação sexual do filho
› Conseguem mais facilmente projectar o futuro do filho
› Sentem vergonha por causa do estigma social
› Têm algumas dúvidas e preconceitos
Pais que aceitam a orientação
sexual
› Não sentem vergonha nem discriminação
› Revelam a homossexualidade do
filho à restante família
› São capazes de identificar uma contribuição positiva desse filho
Homossexualidade. “Não é uma opção pessoal, está fora do controlo da pessoa e só tem de sentir-se bem e feliz”
bissexuais, transgéneros e simpatizantes), 54% dos inquiridos admitiu
ter pensado em suicidar-se por ser
homossexual ou bissexual, enquanto que 10 % tentaram fazê-lo e 9%
responderam que ainda pensavam
nisso. Cláudio Santos, de Leiria, desconhecia estes dados e argumenta
que “o suicídio pode afectar todo o
tipo de pessoas, sendo um problema mais psíquico e que não tem necessariamente a ver com o tipo de
orientação sexual”. Lembra-se que,
na escola, quando tinha 17 anos, era
discriminado pelos colegas que gozavam com ele. Mas hoje tem 21 anos e
tudo é diferente. “Ser-se homossexual
não é uma opção pessoal, está fora
do controlo da pessoa, e a pessoa só
tem de se sentir bem, orgulhoso e feliz
por isso” – afirma peremptoriamente.
Em contrapartida, Luís insere-se na
percentagem de homossexuais que já
pensaram no suicídio: “Já pensei no
suicídio, embora me tivesse aguentado. É a forma como, no mundo da
homossexualidade, certos homens
são vistos como prostitutos e serem
constantemente, provocados nesse
sentido, como se fossem puros objectos sexuais”.
A ida para outro país coloca-se com
frequência entre os homossexuais, mas
Luís considera que o país está preparado
para legalizar o casamento entre pessoas
do mesmo sexo. Mesmo assim, afirma,
que “é preciso ter algum cuidado”. Na
sua opinião, uma lei nesse sentido não
é necessária: “Eu sou gay assumido, mas
sou contra os casamentos homossexuais. As uniões de facto são permitidas e
as regalias em relação ao casamento são
pouco diferentes”.
Novos Rumos e Riachos são dois
grupos de homossexuais Católicos
que reivindicam o direito e dever que
os homossexuais têm de viverem a
vida sacramental da Igreja. “A Igreja
discrimina os actos homossexuais
como intrinsecamente desordenados” lê-se no site de Novos Rumos.
Fonte: “Tenho uma coisa para vos
dizer - o percurso de uma família com
um filho homossexual” - de Gilbert
Herdt e Bruce Koff, Edição Âmbar.
A Portogay diz que “a Igreja não faz
muito pela homossexualidade. Se
Deus existisse, amaria todos de forma
igual”. Ainda há um longo caminho
a percorrer por parte dos homossexuais e da Igreja para chegarem a um
acordo. “A vida dos homossexuais
não é fácil”, conclui Nuno, que considera que a Igreja devia adaptar-se
aos tempos que correm. Quem não
ouviu já piadas ou comentários sobre
a homossexualidade? Quem não viu
ainda ser apontado o dedo a um homossexual? Vivemos numa sociedade
em que assumir a homossexualidade
é um acto de coragem pelas consequências que daí advêm.
“De uma forma geral os homossexuais sofrem mais”
José Antunes tem 50 anos de idade e 20 de carreira. É psicólogo e psicoterapeuta, colaborou durante vários anos consecutivos
como voluntário das Associações ILGA-Portual e Opus Gay. Este especialista comportamental considera que os homossexuais
sofrem mais do que as outras pessoas e aconselha ponderação na hora da revelação da orientação sexual.
Quando se olha para um inquérito
promovido pela “rede ex.aequo”
(associação de jovens lésbicas, gays,
bissexuais, transgéneros e simpatizantes) fica-se impressionado com
a quantidade de LGBT (lésbicas,
gays, bissexuais e transgéneros) que
se tentam suicidar. A que se deve
este fenómeno?
Segundo julgo saber, a “rede
ex.aequo” é constituída por jovens,
o que já é um factor que poderá justificar a elevada taxa de tentativas de
suicídio. Um factor de maior peso
será, na mesma perspectiva, o confronto social latente ou manifesto e,
ainda, a homofobia interiorizada, os
quais levam à conflitualidade intra-
psíquica, isolamento, ansiedade e depressão, potenciadores do fenómeno
em causa.
Os homossexuais são pessoas que
sofrem mais?
De uma forma geral, os homossexuais sofrem mais, pese embora a
“capa” de pessoas mais bem dispostas,
descontraídas e com grande facilidade para se divertirem, descomprometidamente. A fase do ciclo de vida que
atravessem é um factor a ter em conta,
bem como a existência, ou não, de um
relacionamento estável.
A homossexualidade é estática ou
tudo não passará de uma fase?
Não é estática nem é uma fase da
vida, pelo contrário, é bastante di-
nâmica, embora possa verificar-se
apenas em determinados contextos
ou fases, pelo que poderá chamar-se,
então, de ocasional ou circunstancial,
sendo disso exemplos os colégios internos, prisões, a longa permanência
no mar (embarcados) e outros contextos em que predomina apenas um
dos sexos durante um período de
tempo longo.
O Estado deveria fazer algo para
mudar a discriminação?
O Estado consagrou no artigo 13º
da Constituição a protecção contra a
discriminação por género/ identidade
sexual ou orientação sexuais. Contudo, a aplicação da lei passa pelos
Tribunais, órgãos de soberania, os
quais reflectem, em parte, a matriz
social onde se integram e funcionam
da forma que é sabida. Por isso, raramente chegam à barra dos tribunais
acusações deste tipo, sendo a prova
ainda mais difícil. A educação sexual
e a cidadania, ao nível do mais básico e também dos adolescentes, seria
outro factor que poderia minimizar o
fenómeno, embora os seus efeitos demorem mais a sentir-se na população
em geral.
Que conselhos daria a um jovem
que se queira assumir como homossexual?
O assumir-se, “sair do armário”, ou
“coming out”, como é designado, são
situações que têm um tempo para
cada indivíduo e deverão ter em conta
circunstâncias pessoais também diferentes. Por isso, aconselho a maior
ponderação e amadurecimento da
intenção, nomeadamente pensando
os prós e contras dessa opção, pois
o assumir-se para consigo próprio
é bem diferente de falar do assunto
com a família, amigos ou colegas. Se
for essa a firme intenção do jovem,
deve antever as reacções das pessoas a quem pretende assumir a sua
orientação sexual e, sobretudo, se está
preparado para as suas consequências, aconselhando-se com alguém
de grande confiança ou com algum
psicólogo ou técnico de saúde mental,
de preferência. A. L.
| ESTA JORNAL • 11 de Junho de 2008
PRECONCEITO
“Vai ao psicólogo, vai ao psiquiatra? Já é maluco!”
Proporcionou-se a oportunidade de explorar mais profundamente um tema por vezes esquecido: as doenças mentais, do foro
psicológico e psiquiátrico, as suas nuances, causas e consequências na sociedade. Odete Vieira, possuidora de um conhecimento
profundo deste tema, explica que, dentro das doenças do foro da psiquiatria, a esquizofrenia é que a carrega um estigma maior.
Sílvia Carola
Sílvia Carola
Perfil
Na sua opinião, as pessoas em geral
são preconceituosas em relação a doenças do foro psicológico?
Não são todas as pessoas, mas de
uma maneira geral, sim.
Como é que isso se manifesta?
Se procurar um emprego, por exemplo, se disser que tem uma doença
nervosa, provavelmente não acham
muita piada. Não estou a falar numa
depressão, essa qualquer pessoa já pode
ter. Mas manifesta-se assim. Até mesmo entre os médicos, por vezes nas
urgências. Imagine: há uma pessoa,
vai à urgência, pode ir com queixa de
doença física, mas, se disser que anda no psiquiatra ou que está a tomar
medicação psicofarmacológica, quase
sempre chamam logo o psiquiatra.
E as pessoas encaram bem o atendimento do psiquiatra?
Muitas vezes vão ao neurologista.,
em vez de ir à psiquiatria. E começa
logo na infância, pois os miúdos já começam com esse preconceito: “Vai ao
psicólogo, vai ao psiquiatra? Já é maluco.” É um disparate, pois por vezes
vão ao neurologista e não se tratam
convenientemente.
Qual é a diferença da neurologia?
Na neurologia são tratadas orgânicas
do Sistema Nervoso Central. É o caso,
por exemplo, de um tumor cerebral,
de doença de Parkinson, doenças degenerativas. Se os doentes “de nervos”
fossem reencaminhados para a psiquiatria, seriam muito menos os doentes
a consultarem a neurologia. Mas as
pessoas vão aí porque parece diferente.
Ao psiquiatra, elas “fogem” de ir. Porque
pensam que é para pessoas malucas.
Estão a ser rotulados?
O que é um disparate. Já aceitam
melhor ir à psicologia. Aliás, bastante
melhor, pois à psicologia já podem ir
tanto pessoas doentes como normais.
Ou seja, normais, que tenham algum
problema a resolver. Aí as pessoas já
não se sentem estigmatizadas visto que
podem ou não ser doentes. Podem ter
problemas na vida. Se for uma doença
que não seja consideradas mental, como, por exemplo, as depressões já não
há tanto estigma, as pessoas já dizem
abertamente: “Tenho uma depressão.”
Por outro lado, ainda há pessoas que
vão às consultas e muitas vezes não
querem levar para o emprego a justificação a comprovar a consulta para
não “levar” o carimbo do psiquiatra.
É evidente que já há algumas pessoas que não se importam nada de ir à
psiquiatria e até acham que isso pode
actuar por vezes a seu favor, pois as
outras pessoas dizem que não têm
culpa de ser doentes, e é uma doença
como outra qualquer.
De todo o tipo de doenças, qual é a
que tem mais estigma?
Sem dúvida é a esquizofrenia e por
isso muitas vezes os psiquiatras evitem
dar o diagnóstico aos doentes, para
Maria Odete Alves Vieira, psicóloga
clínica com uma carreira de 25
anos, exerce o cargo de Assistente
de Saúde no Hospital de Santa
Maria, contando já com duas pósgraduações em Psicopatologia e
vários trabalhos de investigação
publicados. Natural do Sardoal,
ingressou no Instituto Superior
de Psicologia Aplicada (ISPA),
confessando a escolha de Psicologia
como algo de repentino, pois
sempre, por curiosidade, pensara
frequentar o curso de Direito.
Maria Odete Alves Vieira. “As pessoas têm que encarar as doenças psicológicoas como doenças iguais às outras”
que estes não fiquem rotulados. Este
termo é muito pesado e é utilizado na
linguagem comum para desconsiderar,
para dizer que é louco, que não tem
remédio.
Quais são as suas características?
São várias as características. Considera-se que há factores hereditários, mas
pode ser desencadeada por factores
diversos, entre os quais as drogas. As
drogas, como por exemplo o haxixe
ou outros, podem desencadear, desde
que lá esteja a predisposição. E existem
vários tipos de esquizofrenia. Aquelas
que começam mais cedo, em pessoas
na adolescência, são as que têm um
prognóstico pior, pois quando chegam
a adultas já estão mais degradadas.
Quais são as consequências na vida
das pessoas?
As consequências são múltiplas,
pois é uma doença sem cura em que
as pessoas, cada vez que têm um surto,
vão-se deteriorando. A doença não
tem cura, mas tem tratamento. Se as
pessoas tomarem a medicação poderão estabilizar, mas quando deixam
de a tomar, em regra têm recaídas.
Quanto mais surtos ou recaídas tiverem, mais se vão deteriorando. Mesmo
que depois estabilizem, muitas vezes,
ficam sempre com um défice permanente. Na hebefrênica, que é o tipo de
esquizofrenia que começa mais cedo,
existe uma maior degradação quando
se chega a adulto, a nível cognitivo
e social.
E qual é o resultado dessa deterioração?
Normalmente as pessoas não estudam, não fazem nada, de uma maneira
geral. Há outras que, com o tratamento,
até trabalham, fazem a sua vida, mas
quando a doença se revela muito cedo é
muito difícil. Quando surge nos jovens,
principalmente quando se desencadeia
através das drogas, é muito complicado
conseguir uma remissão que seja compatível com um desempenho social e
profissional adequado.
Que tipo de trabalho se faz com a
família dos doentes?
Há associações para as pessoas comunicarem e para as famílias partilharem experiências. Muitas vezes são
distribuídos pequenos livros, para que
as famílias percebam como se caracterizam as doenças. A psicoeducação das
famílias que já se vai fazendo nalguns
centros é muito importante no sentido
de elas aprenderem a lidar com esses
doentes e em particular para estarem
atentos à medicação, assim como saber
detectar as recaídas
Como é prestado o apoio psicológico
inicialmente?
Aos doentes esquizofrénicos é necessário que o doente se dirija inicialmente
ao psiquiatra para tomar medicação,
para ficar compensado. O psicólogo
deve trabalhar em conjunto com o
“Nota-se
claramente o
estigma, mesmo
em discursos
políticos”
psiquiatra, no sentido de pôr o doente
compensado e quando o estiver dar-lhe
o apoio psicológico necessário para que
este enfrente a vida com as limitações
que a doença impõe.
Compensado significa equilibrado?
Sim, já não ter delírios nem alucinações. Normalmente os doentes esquizofrénicos têm delírios, como por
exemplo, sentirem-se perseguidos, e
têm alucinações, como ouvir vozes, por
exemplo. Por vezes vivem num mundo
próprio, um bocado ao lado. Devido a
isso têm necessariamente que tomar a
medicação antipsicótica.
Como é que os doentes, à medida
que vão perdendo as faculdades, vão
sendo integrados na sociedade?
O problema é que isso é complicado,
há pouca coisa. Há umas certas associações, como por exemplo, a Sol Nascente, que os tentam integrar. Os que vão
para lá, tiram cursos de formação de
informática, jardinagem, etc. Alguns
conseguem trabalhar, e conseguem
manter uma vida razoável, sem deterioração relevante. Alguns são casados, o que é um bom prognóstico,
conseguindo manter uma vida familiar
regular. Essa evolução favorável é mais
frequente nas mulheres.
Mas há casos em que fiquem de alguma forma incapacitados?
Há alguns que não conseguem fazer
nada. Não estão malucos, não é que estejam de maneira alguma, falam bem, e
tudo isso, mas há ali qualquer coisa que
não os deixa fazer uma vida normal,
é o que nós, técnicos, chamamos de
deficitário. Sobretudo quando a esquizofrenia começa mais cedo. Fala-se
frequentemente no comportamento
agressivo dos doentes esquizofrénicos,
mas estes são pouco frequentes, embora
por vezes espectaculares quando estão
descompensados como consequência
da não toma da medicação.
E essa característica é singular na esquizofrenia ou estende-se a outras
doenças do foro psicológico?
Em todas as outras doenças psiquiátricas as pessoas necessitam de tomar
medicação. Apenas alguns casos mais
ligeiros podem fazer apenas psicoterapia. Quando são doenças graves é
em regra necessário tomar medicação
mas, no entanto, a psicoterapia pode
ter um importante papel em complemento da terapêutica medicamentosa,
conseguindo-se melhores resultados
com o conjunto destes dois meios terapêuticos. É o caso, por exemplo, das
depressões ou da doença obssessivocompulsiva.
E quanto a outras doenças, como são
encaradas no mercado de trabalho?
Ao nível de outras patologias, excluindo a esquizofrenia, torna-se mais
fácil, pois, por exemplo, numa depressão ou numa doença bipolar, as pessoas
trabalham, e fazem um trabalho rentável, desde que estejam compensadas.
E ocupam, até, empregos elaborados,
porque estas doenças não deixam défice.
Que mensagem gostaria de deixar
para a opinião pública?
Penso que as pessoas têm que encarar
as doenças psicológicas como doenças
iguais às outras. No entanto, muitas
destas doenças são crónicas como outras doenças físicas são crónicas, que
qualquer pessoa pode ter. Por exemplo,
a diabetes é uma doença crónica, a hipertensão também. E penso que, por
vezes, estas doenças físicas podem ser
piores que doenças “nervosas”. No que
respeita à esquizofrenia, penso que poderiam ser dadas mais hipóteses a estas
pessoas, que pudessem ter trabalhos
protegidos. Porque alguns conseguem,
De certo modo, há organizações que
arranjam, mas não tanto como se desejaria. Nota-se claramente o estigma,
mesmo em discursos políticos, diz-se,
por vezes “parece que está esquizofrénico”. É depreciativo dizer isso. Mas o
estigma vem de sempre, vem de trás.
11 de Junho de 2008 • ESTA JORNAL | PRECONCEITOS
Participe na avaliação do ESTAjornal em:
www.estajornal.blogspot.com
Um Companheiro quando
tudo falta a um ex-recluso
dr
Valter Marques
“Para que não haja homem excluído pelo homem”. É esta frase
de João Paulo II que está afixada na
parede bege do pavilhão principal
da Associação “O Companheiro” e
que, segundo o seu director, José
Brites, “é o principal objectivo da
Associação”.
Situada dentro de um pequeno
jardim, mas envolvida por grandes
obras, como estradas, hospitais, estádios e centros comerciais na zona
da Luz, em Lisboa, a Associação tem
como espaço físico um conjunto
de pré-fabricados que acolhe exreclusos e que os pretende voltar a
reintegrar na sociedade.
O objectivo não é apenas dar
um tecto e comida àqueles que são
rejeitados pela família e amigos,
mas também “dotar os indivíduos
de competências e técnicas naquilo que são os valores e os dogmas
da sociedade”. É este o primordial
objectivo do director do “Companheiro” e que é também professor
universitário de Psicologia.
A Associação acolhe ex-reclusos, dando-lhes comida e habitação.
Com protocolos que tem com algumas empresas, consegue arranjar
trabalho e manter os seus homens
activos. Ao mesmo tempo vão sendo trabalhados psicologicamente de
forma a conseguirem sobreviver a
Excluído. Quando um erro do passado muda para sempre o futuro
uma sociedade que eles não conhecem e que rejeitam.
José Brites não se esquece do dia
em que “uma das pessoas que era
ajudada pela associação tentou entrar num centro comercial e não
conseguiu. Era muita confusão.
Teve medo”. É uma consequência
de estar tanto tempo fechado num
espaço limitado sempre com as
mesmas pessoas.
Uma das principais causas para
quem sai de uma prisão voltar a
Abrigo. Último recurso
reincidir no crime
é o facto de não terem trabalho, casa,
família, amigos, um
suporte emocional.
São frequentemente deitados à sua
sorte em bancos de
jardim, estações de
metro, onde o tecto
é o céu e têm como
companhia a chuva,
o frio, as estrelas, a
dor, a angústia e a
fome. Sem alternativa, o último recurso
é o roubo, a droga e
o suicídio.
“É necessário
uma grande força
de vontade, uma
grande luta para
podermos voltar
a vencer”, estas palavras são de José,
chefe de instalações da Associação,
mas que já teve aquele espaço como
único apoio.
Esteve preso por roubo de fios
de ouro e assaltos em habitações,
mas teve a sorte de conhecer o
fundador da Associação e ainda
hoje presidente, o Padre Dâmaso.
José foi dos primeiros a entrar para
a associação “O Companheiro”,
ainda nas antigas instalações em
Carnide.
“Quando saí da prisão tinha a
Jovem fala sobre o acompanhamento psiquiátrico
PUB
“Aquilo que os outros pensam não interessa”
Ana Rita Ferreira
Beatriz Fonseca, de 20 anos, é seguida por um
psiquiatra desde os 17 anos. Garante que nunca
teve qualquer tipo de complexo em admitir ser tratada por um psiquiatra. Também nunca se sentiu
desprezada pelos amigos: “Sempre admiti andar
em tratamento, e desde então, o apoio dos meus
amigos tornou-se ainda maior, até porque um verdadeiro amigo apoia-nos em todos os momentos
da nossa vida, sejam eles bons ou maus.”
A história de Beatriz Fonseca conta-se com
episódios de “fases muito más”. Conta que não
pôde viver a adolescência como os outros jovens, tendo sido “obrigada a crescer repentinamente”. No princípio, pensou que ia ser forte e
aguentar, julgando tratar-se apenas de “uma fase
má”. Depois apercebeu-se “ que era muito mais
complicado do que aquilo que imaginava”. Por
outro lado, não queria estar a preocupar a mãe,
até porque ela já tinha problemas suficientes, e
Beatriz não queria “ser mais um”.
A realidade foi-se mostrando diferente daquilo que Beatriz pensava: “Aos poucos fui-me indo
abaixo”. Os meus familiares e amigos foram-se
apercebendo. Dormia mal, sentia-se triste, re-
fugiava-se no quarto e sentia-se só. Até que a
mãe se apercebeu que não estava bem e a levou
a um psiquiatra. “Para a minha mãe pareceu-lhe
melhor, pois este poderia receitar-me alguma
coisa para eu dormir melhor, o que seria uma
grande ajuda para a minha recuperação.” O
facto de a mãe ter conhecimento que o filho
de uma amiga já tinha ido lá e que tinha ficado
melhor ajudou a dar o passo.
Quando soube que iria a um psiquiatra, Beatriz teve uma “sensação dupla”. Por um lado,
sentiu-se mal pois sabia que estava a ser mais
uma preocupação para a mãe. Ao mesmo tempo
sentiu-se bem, porque viu no psiquiatra uma
solução para o seu problema.
Beatriz diz que nunca teve a ideia de que o
psiquiatra “é um médico para malucos”, até porque sabia que a principal diferença em relação
a um psicólogo seria o facto de receitar medicamentos A jovem conta que simplesmente
pensou que o seu estado “devia ser realmente
grave para precisar de ajuda médica”. Fora isso,
nunca teve problema algum. Os meus amigos
também não criaram qualquer tipo de problema. “Eles também sabiam que eu não estava
bem, não porque lhes dissesse, mas porque se
aperceberam. Eu tive sorte pois todos entende-
certeza que não queria voltar para casa” – conta José. Um passado
familiar difícil era um problema.
Em quem se apoiar quando saísse
da prisão? Esta era a dúvida que o
atormentava. “Ter conhecido o Padre Dâmaso foi muito bom”, conta
com um sorriso.
Depois de entrar em “O Companheiro”, a sua vida já deu muitas
voltas. Casou, emigrou, foi homem
dos sete ofícios, mas acabou por
voltar à casa de partida. “Foi aqui
que tudo ganhou um novo rumo”,
confessa-nos.
Neste momento, passa o tempo
entre o seu trabalho num quiosque
a entregar jornais e na Associação,
que é muito mais do que um conjunto de pré- fabricados entre árvores,
como um armazém de construção
civil. São quartos bem arejados e
bem mobilados, é uma biblioteca,
um Museu, uma sala de informática
e um refeitório. Nada falta.
Um dos próximos objectivos da
associação é mudar de instalações.
“Gostávamos de ter um espaço
maior e melhor” – conta o psicólogo que dedicou toda a sua vida
profissional à Instituição. “É preciso
continuar o trabalho. Há sempre
coisas a fazer e a melhorar, mas a
mentalidade lá fora também precisa
mudar. Todos temos telhados de
vidro, nunca se sabe quem não vai
precisar de nós”, reflecte por fim
José Brites.
ram e não me apontaram como “a doida que se
anda a tratar”. Mas ainda existe muito essa ideia,
o que é muito mau e dificulta a recuperação.”
Beatriz refere ainda que em todo este processo
os amigos têm sido “impecáveis”, sempre ao seu
lado, desejando-lhe o melhor.
O próprio psiquiatra aconselhou Beatriz a
ir a um psicólogo também, para ter com quem
conversar e que, simultaneamente, ajudasse a
ultrapassar as crises. A jovem explica qual era
a sua principal dificuldade: “Como os meus
problemas apareceram na adolescência, fizeram
com que eu não a vivesse, e por isso eu estava a
vivê-la numa altura desadequada, o que tornava
tudo mais complicado.”
Aos outros jovens que possam ter problemas
semelhantes, Beatriz diz para terem “muita
força” e para se lembrarem que “aquilo que os
outros pensam não interessa”. E remata: “Se eles
pensam que somos malucos é porque não gostam de nós e não querem o nosso bem. Então,
a melhor forma de os calar é estarmos bem. O
nosso bem-estar é o mais importante. E se forem
desprezados pelos amigos por andarem num
psiquiatra, é porque não são amigos de verdade
e os únicos malucos são eles, pois o complexo
está nas suas cabeças.”
Café
Portugal
~
Praça Raimundo Soares
| ESTA JORNAL • 11 de Junho de 2008
DIFERENÇAS
Sobredotados: capacidades e desempenhos acima da média
Crianças que se evidenciam
Mónica Reino
e Mariana Azevedo
Aborrecidos nas aulas, com uma
vontade incontrolável de participar
nos assuntos de família, uma curiosidade desmedida de querer descobrir
e saber mais. Estas são as características de algumas crianças. Falamos
de crianças sobredotadas! Mas o que
distingue, afinal, estas crianças das
outras?
Estas crianças conjugam uma capacidade intelectual mais desenvolvida do que a considerada normal
para a sua idade com um pensamento criativo, desenvolvendo as suas
capacidades de liderança, visuais e
artísticas. Dotadas de várias capacidades, as crianças sobredotadas
possuem algumas especificidades
que são estimuladas precocemente,
mostrando claramente uma aptidão
e um destaque maior para uma ou
diversas áreas.
Ao longo dos tempos o conceito de sobredotado tem vindo a sofrer inúmeras alterações, gerando
inúmeras controvérsias. Enquanto
alguns defendem que uma criança
sobredotada é aquela que tem aptidão
para uma determinada área, outros
crêem que um sobredotado tem facilidade em diversas áreas. Segundo
Ellen Winner, no seu livro “Crianças
Sobredotadas: mitos e realidades”, as
crianças sobredotadas apresentam
três características atípicas: precocidade, insistência em se desenvencilharem sozinhas e uma sede enorme
de conhecimentos. No que respeita a
precocidade, as crianças dão os primeiros passos em algumas áreas numa idade inferior à média, por outro
lado, desprendem-se mais facilmente
do apoio dos adultos, ensinando-se a
si próprias. Deste modo, “manifestam
um interesse intenso e obsessivo, uma
aguçada capacidade de concentração,
e aquilo a que chamo um desejo violento de dominar”.
Existem alguns sinais que ajudam a
identificar uma criança sobredotada,
nomeadamente a nível da capacidade cognitiva (que pode ser verificada pelos testes de Q.I.), da aptidão
académica específica, das artes, da
liderança, da psicomotricidade e na
área relacional com os outros. Como
no caso da Ana (nome fictício), presentemente com oito anos, cuja mãe
se apercebeu quando esta ainda “era
muito novinha, provavelmente com
um ano”, que ela se evidenciava em
diversas áreas sendo intelectualmente
mais desenvolvida do que seria nor-
mal na idade dela.
O mito de que uma criança sobredotada é inteligente a tudo, está longe
de ser real. Existem determinadas
áreas em que a criança apresenta um
maior desenvolvimento intelectual, enquanto noutras pode revelar
grandes lacunas. João (nome fictício)
“destaca-se mais na área da língua
portuguesa”, demonstrando um vocabulário bastante extenso e fluente para
a sua idade e relativas dificuldades a
educação física. Já Ana, que apresenta
um nível intelectual avançado para a
idade em várias áreas, como língua
portuguesa e matemática, revela dificuldades na expressão plástica.
A família surge como um elo importante entre a criança e a sociedade,
uma vez que lhe incute todos os va-
lores e padrões culturais necessários
para a sua integração. Nos casos de
Ana e de João, a família assumiu um
papel fundamental no que respeita
à aceitação e respeito mútuo entre
pais e filhos.
Muitas crianças sobredotadas
encontram dificuldades em se integrarem na escola, visto muitas vezes
tentarem abordar determinados assuntos com os colegas de turma e
estes não entenderem, acabando por
se afastarem. João, actualmente com
10 anos, não se relaciona com os colegas, sendo nesse ponto fulcral, que
segundo a mãe, reside o problema.
Por sua vez, Ana nunca teve qualquer
problema de integração desde o jardim-de-infância.
Ao nível de aproveitamento escolar,
hália costa santos
Sobredotados. Um conceito que tem vindo a ser alterado e que tem causado alguma controvérsia
Ana “fez inclusivamente o primeiro
e segundo ano num ano só. Neste
momento estaria no segundo ano
de acordo com a idade, mas está no
terceiro”, estando um ano à frente.
Ao nível legislativo estas crianças
não existem, dado a ausência de qualquer tipo de protecção e regulamentação. Não obstante, num resquício
de esperança, os pais e as associações
continuam a luta pelo reconhecimento destas crianças.
Sentindo-se incompreendidas, com
dificuldades no relacionamento com
as outras crianças e com os pais, com
tendência para o isolamento e para
o individualismo e com uma subaproveitação das suas capacidades,
estas crianças encontram apoio em
instituições como o Centro Português para a Criatividade, Inovação e
Liderança (CPCIL).
Em entrevista ao ESTAJornal, uma
das fundadoras, Manuela da Silva,
explicou que este centro, sem sede
própria, mediante uma visível falta
de apoios financeiros por parte do
Estado, surgiu legalmente em 1989.
Inicialmente, com o intuito de prestar
auxílio à família, a associação realizou
programas de férias, conferências,
formação de professores... No entanto, a partir de 2000, tentaram, em
vão, criar legislação acerca da sobredotação.
Neste momento, e após algumas
transformações, passaram a prestar
apenas uma avaliação do desenvolvimento da criança, dando algumas
indicações e aconselhamentos de como os pais e professores devem lidar
com elas. Contudo, por falta de apoios
financeiros e devido ao aparecimento
de outras associações, como a Associação Nacional para o Estudo e Intervenção na Sobredotação (ANEIS),
o CPCIL reduziu as suas funções.
Crime: principal motivo noticioso dos imigrantes
Jefferson S. Gomes
“Os meios de comunicação deixaram de olhar o Outro (imigrantes e
minorias étnicas) com estranheza”
e “passaram a integrá-lo dentro dos
alinhamentos quotidianos de informação”. Esta é uma das principais
conclusões do estudo número 28,
de uma série de Estudos do Observatório da Imigração que abordam
os vários aspectos das realidades das
comunidades imigradas em Portugal, o terceiro inteiramente virado
para os “Media, Imigração e Minorias
Étnicas”.
O quadro geral dos estudos sobre
os meios de comunicação social, imigração e minorias étnicas que têm
vindo a ser efectuados desde 2003,
sob a coordenação de Isabel Ferin,
directora do Instituto de Estudos Jornalísticos, comprova um crescente
PUB
Estamos no Ensino há mais de 50 anos
número de peças noticiosas na imprensa e na televisão. O único senão
é que a evolução se deve, em muito,
às notícias ligadas ao crime, apesar de
os valores se terem mantido estáveis
nos últimos tempos na imprensa e
de terem baixado um pouco na televisão.
A principal novidade constatada
no último estudo, que abarcou o biénio 2005-2006, em comparação com
os de 2003 e 2004, é a “distinção entre
o imigrante/membro de uma minoria
étnica, autor ou vítima de um crime”.
Ou seja, estes grupos, conforme os
dois primeiros estudos, eram notícia essencialmente como autores de
crimes.
A terceira investigação sobre os
“Media, Imigração e Minorias Étnicas” do Observatório da Imigração
destaca ainda a “pouca diversidade temática” dos jornais e canais televisivos
na cobertura noticiosa destes grupos,
ignorando as suas contribuições e inovações para Portugal, nomeadamente
nas áreas económica, social, política,
cultural e estilos de vida.
As principais fontes de notícias sobre os imigrantes e as minorias étnicas são o Governo, as forças policiais,
os tribunais e os institutos públicos,
conclui o estudo apresentado nas Jornadas do Observatório da Imigração
que decorreu a 6 de Maio, na Fundação Gulbenkian, em Lisboa.
11 de Junho de 2008 • ESTA JORNAL | DIFERENÇAS
Participe na avaliação do ESTAjornal em:
www.estajornal.blogspot.com
Rotary Clube apoia hipoterapia
Tânia Branco
Tânia Branco
Este ano, o Rotary Club de Abrantes pretende angariar fundos para o
picadeiro coberto destinado à prática
de Hipoterapia (técnica terapêutica
com cavalos) e Equitação Terapêutica
do Centro de Recuperação Infantil de
Abrantes (CRIA). Apesar de a construção já estar em curso, são necessários fundos para concluir as paredes,
a drenagem de águas pluviais, a rede
de esgotos e de combate a incêndios,
a teia de protecção e as instalações
eléctricas e a de rega. Ou seja, o CRIA
necessita de um total de 121.577,50
euros e é aqui que entra o apoio do
Rotary Club, através do seu Projecto
Comunidade em Acção.
No dia 19 de Abril, o Rotary Club
de Abrantes organizou mais um Encontro em Cadouços, enquadrado no
Projecto Comunidade em Acção, e considerado de importância significativa
para a instituição preponente, o CRIA.
Neste encontro foram apresentados os
projectos desenvolvidos pelo CRIA, as
actividades dos utentes que frequentam
esta instituição, o desenvolvimento do
projecto Comunidade em Acção e o
destino a dar aos fundos obtidos.
José Jardim, responsável pelo projecto Comunidade em Acção, apresentou
o balanço de tudo o que já foi feito pelo
Rotary Clube de Abrantes, com o intuito de apoiar a instituição em causa,
afirmando que “este é um projecto da
comunidade e para a comunidade”.
Solidariedade. Angariação de fundos para o novo picadeiro do CRIA
Por sua vez, a apresentação do
CRIA, relativa ao projecto de Hipoterapia e dos restantes projectos desta
instituição foi feita por Humberto
Delgado, responsável por aquela instituição. Paula Gueifão e Margarida
Varela, técnicas de Hipoterapia, explicaram no que consiste esta forma
de tratamento, a sua importância para
aqueles de que dela podem usufruir,
a importância deste pavilhão para
aqueles que puderem frequentá-lo,
assim como as suas vantagens.
As técnicas em causa chamaram
também a atenção dos presentes
para a importância deste projecto
através do visionamento de um pequeno filme relativo ao tratamento
de Hipoterapia que 37 dos utentes
da instituição já recebem. A hipoterapia é uma técnica terapêutica que
consiste em conjugar as actividades
desenvolvidas, com os movimentos
e os estímulos produzidos pelo ani-
mal, para tentar reabilitar as pessoas.
Ao mesmo tempo são produzidas
acções, reacções e informações importantes para o desenvolvimento
do doente.
A hipoterapia, onde se pode encontrar enquadrada a equitação adaptada,
é utilizada por pessoas com disfunções
ligeiras a moderadas com o intuito de,
entre outras coisas, fortalecer musculatura, melhor a atenção, melhorar
o raciocínio e a linguagem, ou seja
a esta técnica tem associado todo
um conjunto de objectivos directos
e indirectos que são trabalhos com
recurso ao cavalo. No entanto, nem todos podem beneficiar da hipoterapia,
pois existem contra-indicações (por
exemplo, o utentes que tenham dor ou
epilepsia não controlada, entre outras
doenças, não devem fazer este tipo de
tratamento) pelo que os utentes antes
de iniciarem o tratamento são alvo de
uma consulta médica.
Há ainda a acrescentar que o
CRIA pretende rentabilizar o espaço
que será concluído com os fundos
angariados com o apoio do Rotary
Club. Ainda no decorrer do encontro, e intercalado com as restantes
actividades realizadas na Herdade
de Cadouços, decorreu uma venda
de produtos confeccionados pelos
utentes do CRIA.
Os fundos que destinem a contribuir para este projecto devem ser entregues ao Rotary Clube de Abrantes
ou enviados para o Centro de Recuperação Infantil de Abrantes.
Jovem explica como é ser Testemunha de Jeová
Visões diferentes da maioria
Milene Alves
Foi num ambiente sossegado e
acolhedor que Ana (nome fictício)
falou da sua religião e do que é ser
uma Testemunha de Jeová. A frequentar o 3º ano da universidade,
esta jovem conta o seu dia-a-dia
como Testemunha e expõe a sua
visão sobre temas da actualidade
que a maior parte das pessoas julga
de maneira diferente.
Segundo umas das publicações
do Salão das Testemunhas de Jeová,
“Testemunhas de Jeová, Quem São?
Em que Crêem?”, um seguidor do
Deus Jeová é uma pessoa igual a
todas as outras. Às vezes cometem
erros pois não são perfeitos, nem
inspirados, nem infalíveis. Dedicam-se a Jeová e orientam os seus
passos pela Bíblia.
Também Ana segue a sua vida
segundo os princípios bíblicos que
lhe foram incutidos desde criança
e que levaram à decisão de, aos 14
anos, se baptizar como Testemunha. Desde muito nova dedicou-se
ao estudo bíblico com a mãe, mas
nunca se sentiu obrigada ou coagida
a seguir os passos religiosos maternos. Afirmando não conhecer em
pormenor outras religiões, assume
que o valor mais importante na sua
Religião. Um olhar diferente sobre a realidade
é o seguimento fidedigno da Bíblia
que orienta o seu presente e o seu
futuro. Colmatando que, no seu
entender, as outras religiões não
seguem a Bíblia a 100%.
Quando confrontada com o tema
discriminação Ana declara que sentiu muito mais discriminação mais
quando andava no 1º ciclo (antiga
escola primária): “Havia colegas que
me punham de parte, lembro-me
que havia intervalos que eu passava
sozinha.” Hoje em dia esta jovem já
não vê as coisas dessa forma, pois
apesar de se continuar a assumir como Testemunha de Jeová sente que
existe uma maior liberdade religiosa
e, consequentemente, uma maior
aceitação por parte dos colegas.
No que diz respeito às festivida-
des comuns, para Ana “a Bíblia é
muito certa em relação a isso. Qualquer festividade de Aniversário,
de Natal e do Ano Novo não são
festividades bíblicas”. Quanto às
“festividades do casamento normal,
a Bíblia não condena”. Assim, quando é convidada para um aniversário
de um amigo fica de parte, respeita e não fala mal para ninguém.
Simplesmente não vai. Devido a
esta restrição pode parecer à maior
parte das pessoas que Ana e, consequentemente, as Testemunhas de
Jeová, não se divertem. Esta ideia,
segundo esta jovem, está errada,
pois ela não sente qualquer tipo
de restrição ou proibição por não
participar nestas festas, sentindo
que existem outras actividades de
“entretenimento sadio”.
Quando questionada sobre relacionamentos entre diferentes religiões, responde de forma ponderada
dizendo que quando se apaixonar
tentará que seja com alguém da
mesma religião, “não só porque a
bíblia aconselha a fazer isso, mas
também porque nos dias de hoje
duas pessoas que tenham ideias diferentes é complicado. Já há tantas
brigas, tantas divergências, somos
tão diferentes uns dos outros, se nós
nos apaixonarmos por alguém com
princípios diferentes ainda é muito
mais complicado.”
Um dos temas polémicos da actualidade é a recusa por parte das
Testemunhas de Jeová em receber
transfusões de sangue. Nesta questão de extrema importância Ana
é bastante clara e concreta na sua
opinião: “Não quero, não aceito
transfusões de sangue.” Explicando de seguida que se acontecesse
algo de muito grave na sua vida
esperaria que o desenvolvimento
dos meios tecnológicos da medicina estivessem suficientemente
avançados para resolver a situação.
Conclui dizendo que se existisse a
hipótese de morrer, aceitaria, acreditando no futuro da Bíblia que
promete a ressurreição e a vida
eterna.
As Testemunhas de Jeová possuem adeptos em 230 países e territórios autónomos. São mais de
seis milhões de praticantes, apesar
de reunirem um número muito superior de simpatizantes. Os países
com mais Testemunhas de Jeová são
os Estados Unidos da América e o
Brasil. M.R. e M.A.
10 | ESTA JORNAL • 11 de Junho de 2008
DIFERENÇAS
As famílias biológicas, as famílias de acolhimento e as instituições
Crianças com vidas diferentes
Toda a criança precisa de uma família. Esta é a única certeza quando
se fala de um processo de adopção.
Na comunicação social, os casos
polémicos acumulam-se, sempre
acompanhados por um público que
espera um final, no mínimo, novelístico. Nas mesas dos cafés as opiniões
são proferidas como sentenças, na
maioria das vezes, em favor dos pais
adoptivos. Talvez porque se conhece
pouco o outro lado da questão de
quem luta para reconquistar um filho
que começou por ser seu.
Esta é a história de Catarina (nome
fictício), 30 anos, a quem foram retirados três filhos. Tem agora mais dois.
A Comissão de Protecção de Menores e Crianças em Risco considerou
que os filhos estavam em situação
de abandono, na casa onde viviam
com a mãe (ocupada ilegalmente).
Foi também apontada a falta de recursos financeiros.
Embora no processo conste que
tudo foi provado, muitos dos factos
contradizem-se quando se dá a palavra a Catarina. Quanto às acusações que lhe são feitas, diz que nunca
abandonou os três filhos. Sente-se revoltada com as técnicas da Segurança
Social. Ao ESTAJornal diz que nunca
lhe ofereceram ajuda no sentido de
tornar legal a casa onde vive e que
nunca reponderam aos seus pedidos
de ajuda financeira quando se separou do pai dos meninos. No processo
consta a falta de condições, mas não
há nenhuma referência a qualquer
tipo de ajuda a Catarina.
Quando são retiradas à família de
origem, e enquanto decorre todo o
processo até uma possível adopção,
as crianças permanecem em instituições de solidariedade social. Procurámos, então, a opinião de quem as
acompanha no dia a dia neste período de tempo. O cónego José da Graça
dirige uma dessas instituições, um
centro de acolhimento em Abrantes.
Este centro acolhe crianças até aos
12 anos. Neste momento, a instituição acolhe 12 crianças apenas porque não convém que o número de
crianças seja muito elevado, devido
à atenção de que necessitam.
Quanto ao destino destas crianças,
o cónego José da Graça adianta que
saem da instituição para adopção ou
para a família de origem. Em último
recurso vão para outras instituições
adequadas à sua idade. Nestes casos,
reconhece que quando a institucionalização é prolongada as crianças
revelam alguma revolta. Na instituição que dirige esta situação nunca se
verificou, talvez devido à tenra idade
das crianças que acolhe e à realidade
difícil de onde provêm.
A instituição age no sentido
também de ajudar socialmente as
famílias juntamente com as técnicas da Segurança Social,
além de haver horário de
visitas para estimular
o contacto entre a
família e a criança.
Na avaliação da
família têm em
conta o factor
económico e
o factor psicológico. Na
opinião de
José da Graça, é mais
relevante o
factor psicológico,
embora
saiba que na
generalidade
se beneficia
mais o factor
económico.
De resto, a instituição não tem
um papel muito activo,
para além da educação da criança.
Catarina lembra-se do período em
que os seus filhos foram entregues a
instituições.
Foram institucionalizados porque,
num acto de desespero, Catarina foi
buscá-los à família de acolhimento,
sem autorização. Aquando da visita
da Comissão de Protecção de Menores para lhe pedir satisfações sobre o ocorrido, a mãe dos meninos
descontrolou-se e trancou-se com as
crianças em casa ameaçando matar-se
a ela e aos filhos.
As crianças foram separadas.
O mais novo foi entregue a
uma instituição que
acolhe crianças até aos
quatro anos, os outros
dois foram entregues
a uma instituição que
acolhe crianças e jovens
órfãos e desamparados
a partir dos quatro anos.
Margarida Car valho
Sara Costa
N a s instituições onde
estavam os meninos, foram vedadas
as visitas, durante algum tempo, à
mãe, devido ao ocorrido.
Catarina diz que quando voltou a
poder visitar os filhos, as visitas eram
ao domingo. Como, nesse dia da semana, trabalhava num restaurante, só
se faltasse ao emprego é que poderia
ver os filhos. Como não podia deixar
de trabalhar, diz que tentou visitar os
filhos noutros dias, mas acabava por
não conseguir porque os meninos
estavam em actividades. Se perdesse o
emprego, esse seria
um factor desfavorável no âmbito do processo para reaver a guarda das crianças.
Em toda esta situação está implícita a questão das famílias de acolhimento. São famílias que voluntariamente se oferecem para acolher em
sua casa, temporariamente, crianças
institucionalizadas. Quanto a este
tema, o cónego José da Graça também se pronuncia, tocando em dois
pontos cruciais. Primeiro, o facto de
estas famílias se proporem a acolher
uma criança qualquer e não uma
criança específica. Em segundo lu-
gar, que não deve ser sempre a
mesma criança a ser acolhida
pela mesma família. Porque
se podem criar laços de
afectividade prejudiciais
tanto para a criança como
para quem a acolhe, devido ao carácter temporário
desta relação.
No processo referente aos
filhos de Catarina consta que
os três permaneceram entregues a uma família de acolhimento durante um prolongado
período de tempo e que até chamavam “mãe” à senhora que
os acolheu. Catarina discorda
deste ponto de vista. Garante
que das poucas vezes que visitou os filhos nessa família de
acolhimento estes choravam
muito e pediam para voltar
para casa. E foi essa a razão
que a levou ao acto que cometeu.
O cónego José da Graça
diz que o Estado deveria ter
um papel de auxílio quando
existem problemas sociais como o desemprego ou a falta de
condições habitacionais, para
que não sejam essas as causas
de se privar uma criança de
uma educação com base no
carinho e no amor dentro do seio
familiar, deve-se privilegiar o
factor psicológico.
No caso de Catarina não
consta nenhum relatório médico
referente à instabilidade psíquica,
apenas um acto de desespero de
uma mãe que se sentiu impotente.
Fala dos filhos emocionada e partilha algumas memórias felizes que
ainda lhe restam. Quanto ao futuro,
diz apenas: “Já não tenho esperança,
porque já levaram os meus filhos
das instituições. Dói muito saber
que talvez não os volte a ver e que
um dia o mais novo nem saberá
quem eu sou se me vir na rua. Era
muito pequeno quando o levaram.
Mas o que mais me custa é o medo,
medo que me tirem estes dois que
tenho agora, cada vez que vejo as
técnicas aqui no bairro, entro em
pânico”.
“Eu já tenho uma família e não preciso de outra”
Lara Silva
A família é talvez a coisa mais importante que temos na vida. É a ela
que recorremos quando estamos em
apuros, é ela que nos protege e que
nos ama independentemente daquilo
em que nos tornamos. Infelizmente,
nem todos podem recorrer à sua família quando mais precisam, mas
esse não é o caso de Diogo (nome
fictício). Ele foi adoptado quando
tinha apenas alguns meses de ida-
de. “Uma assistente social, que sabia
que os meus pais não tinham filhos,
levou-me ao pé deles e a partir daí
foi amor à primeira vista”. Os pais já
tinham tido dois filhos que faleceram.
Quando a assistente foi ter com eles,
provavelmente viram em Diogo uma
forma de ajudar a superar a dor.
Diogo sempre soube que era adoptado. Não se lembra da idade. “Contavam-me como se fosse uma história
e eu sempre soube”. Não se recorda
como se sentiu ao saber a verdade. Só
com o tempo é que se foi apercebendo
do que aquilo implicava realmente,
sem nunca se sentir mal ou diferente.
Poucos são os que sabem que Diogo
é adoptado: “Só os meus melhores
amigos. Eu não gosto de falar nisso
porque não vejo necessidade”. É, portanto, natural que afirme nunca se ter
sentido discriminado.
Diogo não sabe e nem nunca quis
saber por que motivo os pais biológicos o entregaram para a adopção.
“O motivo que eles tiveram não sei,
nunca tive interesse em saber e nem
os meus pais me disseram”. Mesmo
quando, mais tarde, os pais biológicos
tentaram entrar em contacto com
ele, Diogo deixou bem claro que não
estava interessado. “Eu já tenho uma
família e não preciso de outra”.
Possivelmente por ser ele próprio
um caso de sucesso, Diogo acredita no sistema da adopção. “Eu acho
que é bom. Porque se há pessoas que
não têm a capacidade para criar um
filho e se há pessoas que querem ter
filhos e não podem, tendo condições
e amor, devem adoptar”. No entanto,
acha que o processo de adopção em
Portugal é muito lento e pelos casos
que tem acompanhado através da
comunicação social, considera que
deveria ser mais rápido. Concorda
com a adopção por parte de casais
homossexuais, “apesar de saber que
em termos sociais pode ser difícil
para uma criança entender que tem
dois pais ou duas mães e as outras
crianças um pai e uma mãe”. Todavia,
confessa que o mais importante é o
amor que se transmite a uma criança
e não propriamente o facto de serem,
ou não, do mesmo sexo.
SUPLEMENTO
Alunos da esta na
hália costa santos
pele de repórteres
de guerra
Na manhã de 20 de Abril, a Brigada Mecanizada NRF 12 do Campo
Militar de Santa Margarida recebeu
os alunos da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes (ESTA) para uma
simulação de cenário de guerra intitulada “ROSA BRAVA 08 EFICÁCIA
08”, na aldeia de Chaminé.
A convite da Brigada Mecanizada
NRF 12 do Campo Militar de Santa
Margarida, e tendo a pequena aldeia
de Chaminé, do concelho de Abrantes, como pano de fundo de toda a
aventura, os alunos de Comunicação
Social embarcaram no desafio do
exercício de Rosa Brava 08/Eficácia
08 e vestiram a pele de repórteres de
guerra. Debaixo de chuva, envergando coletes, capacetes e ao peito a indicação de “press”, 20 futuros jornalistas
tiveram uma oportunidade única de
sentir a prática profissional num contexto muito próximo do real.
O exercício consistia em participar numa conferência de imprensa,
semelhante ás que acontecem em cenário de guerra, permitindo que tanto
militares como futuros jornalistas se
treinem para situações reais. Porque
se tratava de um exercício com uma
força multinacional, a conferência
decorreu inteiramente em Inglês, de
forma a aproximar a unidade militar
ao futuro cenário real. Várias questões
foram lançadas, criando-se um am-
biente de desafio, em que a liberdade Mecanizada mostrou a sua capaci- e sendo auto-sustentável por um
de acção dos alunos–repórteres foi, dade para responder a solicitações período de 30 dias.
segundo as palavras de Paulo Sousa, da OTAN, nomeadamente ao nível
O convite para a ESTA participar
da Informação Interna e Relações do planeamento, comando, coor- neste exercício não foi circunstanPúblicas da Brigada Mecanizada, denação e controlo de operações cial pois, segundo Paulo Sousa, “é de
“favorável” e “positivo”, uma vez que tácticas. Estiveram envolvidas di- prática comum no meio militar a di“o distanciamento entre os militares versas Unidades do Exército, três vulgação das linhas orientadoras para
e os “jornalistas” “jogou” com o ce- Unidades da Força Aérea Portuguesa determinados períodos de tempo”. No
nário que se pretendeu criar. O facto e uma Unidade da Marinha, num âmbito da promoção geral do Exércide os militares não conhecerem os total de 1.700 militares, 350 viatu- to, para o ano de 2008, foi desiderato
“jornalistas” e não saberem o tipo ras e 20 saídas de aeronaves. Sendo dos responsáveis máximos da Brigada
de perguntas, contribuiu de forma aprovada nestes exercícios, a força Mecanizada a ligação às entidades
“muito positiva para o treino dos mi- multinacional estará apta a cumprir civis e às populações, em particular na
litares”, sublinhando, que em cenário quaisquer missões da OTAN que região do Comando Militar de Santa
real “o relacionamento entre militares lhe venham a ser confiadas, com Margarida, com especial incidência
e jornalistas tem sido, de uma for- um grau de prontidão de cinco dias sobre a população escolar.
ma geral, muito
Tendo sido
Dr
positivo, por se
a primeira exassumir que essa
periência com
é sempre vantaelementos da
josa para ambas
ESTA, a Brigaas partes”.
da Mecanizada
A conferência
da “Operação
de imprensa em
Rosa Brava
que participa08/Eficácia
ram os alunos
08”, através do
de Comunicaseu porta-voz,
ção Social da
faz um balanESTA fez parte
ço positivo,
de uma operadeixando no
ção que durou
ar que haverá
sete dias, na senovos exercígunda quinzena
cios para 2009,
do mês de Abril.
“em preparaNele, a Brigada Enriquecedor. Alunos da ESTA consideram a experência positiva
ção já a partir
do segundo quadrimestre do presente
ano”. Perante a possibilidade de surgirem novas propostas de colaboração,
aquela unidade militar mostrou-se
disponível para novas experiências
em conjunto com a ESTA, culminando que “devem ser coordenadas com
oportunidade”.
“Experiência enriquecedora”. Foi
com estas palavras que os jovens
alunos de Comunicação Social se
despediram, ficando ansiosos por
uma nova façanha. Na perspectiva
do Departamento de Comunicação
Social da ESTA, este foi um claro
exemplo positivo daquilo que se
pode fazer em termos de parcerias. Para além de proporcionar um
trabalho em conjunto, a iniciativa
contribuiu para o desenvolvimento das competências dos futuros
jornalistas, num contexto muito
próximo da realidade profissional
que os espera.
A força multinacional que desenvolveu os exercícios Rosa Brava 08
e Eficácia 08 tem estado envolvida,
desde Janeiro de 2008, num rigoroso
treino com vista a atingir os elevados
padrões fixados pelos critérios de certificação da NATO. O exercício terminou quatro dias depois, em Santa
Margarida, com uma demonstração
de fogo real, para o qual os alunos da
ESTA também foram convidados.
SUPLEMENTO
| ESTA JORNAL • 11 de Junho de 2008
Esta muda para alferrarede
Não serão feitas de raiz, mas foram pensadas “à medida” das necessidades. As futuras instalações da ESTA, no Tecnopólo de Alferrarede,
permitirão a esta instituição de ensino um contacto mais próximo com o desenvolvimento e com a realidade empresarial.
Mariana Azevedo
Imagens das futuras instalações da
ESTA decoram agora o átrio desta
instituição de ensino. A mudança,
que resulta de um acordo entre a ESTA e a Câmara Municipal de Abrantes, está prevista para o ano lectivo
de 2010/2011. A escola passará do
centro da cidade para a freguesia de
Alferrarede, associando-se ao pólo
de desenvolvimento e ganhando em
espaço e infra-estruturas.
A renovação das instalações, prevista desde o seu aparecimento, foi
agora acelerada, dada a necessidade
da construção de um museu para
acolher uma valiosa colecção doada
à Biblioteca Municipal António Botto, nas instalações do Convento de
S. Domingos (actualmente ocupadas
pela ESTA). A Câmara Municipal
suportará cerca de 25% dos custos,
esperando-se que os restantes 75%
sejam obtidos através dos fundos
comunitários, nomeadamente o
QREN. Ao Instituto Politécnico de
Tomar, ao qual pertence a ESTA,
caberá apenas os encargos com os
equipamentos.
As futuras instalações da escola passarão pela recuperação dos
edifícios da antiga Quimigal, no
Tecnopólo de Alferrarede. Miguel
Pinto dos Santos, director da ESTA
afirma ao ESTAJornal que “o campus
construído de raiz seria uma solução pensada para uma ESTA com
mais anos, provavelmente com mil
e tal alunos, para uma escola maior
e com uma indústria mais desenvolvida”. Actualmente com cerca de
443 alunos nas quatro licenciaturas
e 351 alunos inscritos em Cursos de
Especialização Tecnológica (CET), a
solução adoptada apresenta-se como
a mais realista, dignificando a instituição e permitindo o seu desenvolvimento. Para além de três CET
em Tecnologias da Informação a
funcionar em Abrantes, a instituição
é responsável por outros cinco em
Torres Novas, dois em Nisa, três em
Sesimbra e quatro em Lisboa. Em
Abrantes funciona também um CET
em Engenharia Mecânica.
O projecto de arquitectura respondeu a um conjunto de necessidades
identificadas pela ESTA, pelos seus
departamentos e centros. Embora
não sendo edifícios construídos e
raiz com o objectivo de serem uma
instituição de ensino superior, os
espaços vão ser mais funcionais do
que os actuais. Para além dos laboratórios e dos ateliers específicos dos
quatro cursos ministrados na ESTA
– Comunicação Social, Engenharia
Mecânica, Design e Desenvolvimento
do Produto e Tecnologias da Informação e da Comunicação –, as novas
instalações permitirão que outros
núcleos da própria instituição usu-
fruam de espaços próprios. Um claro
exemplo desta situação é o Centro
de Línguas do Instituto Politécnico
de Tomar (CLIPT), uma das mais
recentes apostas desta instituição de
ensino, aberto a toda a comunidade.
A melhor forma de mostrar o impacto que a mudança da ESTA implica no seu próprio funcionamento
é dando uma ideia do espaço que
vai ganhar. A título de exemplo, o
número de salas de aula vai duplicar;
o projecto das novas instalações prevê
cerca de 30 salas. A nova cantina,
que também ganha em espaço, terá
dois pisos, um deles com terraço. A
biblioteca também passará a ter uma
dimensão superior à actual. Para além
de tudo isto e de outras melhorias em
termos de condições físicas, a curto
prazo os alunos terão à sua disposição
um cybercafé. A médio prazo está
prevista a utilização de infra-estruturas desportivas. Com o desenrolar do
tempo, a ESTA, integrada num núcleo
de desenvolvimento empresarial, terá
condições equivalentes às de uma
cidade-universitária.
“A solução
apresenta-se como a
mais realista,
dignificando
a instituição”
Esta mudança não permitirá, no
entanto, a entrada em funcionamento de mais cursos nem a criação de
mais vagas, visto existir um número
limite estabelecido pelo Ministério da
Ciência e do Ensino Superior. Neste
sentido, o director da ESTA explica
que “o que está previsto na lei é que
dentro de pouco tempo os politécnicos tenham um regime semelhante
ao do ensino superior universitário.
De acordo com este, os cursos podem
ser criados sem ser necessário pedir
autorização prévia ao Ministério”.
Assim, “neste momento, a criação de
mais cursos não depende das instalações. E “no futuro isso dependerá do
Ministério e da nossa capacidade para
atrair alunos e criar cursos” – remata
Miguel Pinto dos Santos.
Para João Alves, presidente da
Associação de Estudantes, “a ESTA
merece melhores instalações” e a sua
mudança será positiva, permitindo
evitar os custos elevados com manutenção tidos nas actuais instalações,
também referidos por Miguel Santos em entrevista ao ESTAJornal. O
director da Escola acrescenta ainda
o facto de a mudança permitir um
reforço das relações com as instituições e empresas do município, o
que conduz a um “círculo virtuoso
de desenvolvimento”. Não se trata
de “uma mudança de estratégia, mas
sim de um reforço da mesma”.
Não obstante o facto de serem os
estudantes que dão vida à cidade,
João Alves não esquece que este centro ficará um pouco mais vazio e
que os comerciantes e senhorios do
centro da cidade poderá sofrer com
esta mudança. Uma abrantina que
aluga casas, no centro de cidade, a
estudantes, vê esta transferência da
ESTA para o Tecnopólo como sendo
“péssima”. E explica: “Perdemos a
juventude quando a cidade já de si é
envelhecida. Não podemos de ficar
de forma nenhuma contentes”. No
entanto, não será certo que os alunos se desloquem obrigatoriamente
para Alferrarede, até porque ainda
haverá questões a decidir, como as
respostas que poderão ser dadas em
termos de residência para estudantes. Finalmente, a rede de transportes
públicos entre o centro de Abrantes e
Alferrarede já existe, o que também
é um factor a ter em conta.
SUPLEMENTO
11 de Junho de 2008 • ESTA JORNAL | Design e Entidade Glo-Cal
Passado um ano, o curso de Design e Desenvolvimento de Produtos (DDP) da ESTA apresentou mais um conjunto de conferências.
Este ano o tema escolhido centrou-se no Design e Entidade Local e a sua relação com o Design Global. Decorreu nos dias 6 e 7 de
Maio e contou com a presença de vários especialistas de Design.
vânia costa
Noélia Barradas
O curso de DDP, na ESTA, é recente e os estudantes ainda não são muitos. Talvez por isso,
a primeira conferência tenha tido um certo tom
intimista. A plateia, constituída maioritariamente por alunos, manifestou interesse e interagiu
com os oradores, estabelecendo-se uma troca
de ideias. Na mesa estavam Cláudio Cardozo,
representante do StúdioVeríssimo, juntamente
com Rute Gomes, Daniel Caramelo e Mário
Barros, docentes do da ESTA.
A palavra inicial foi de Cláudio Cardozo, que
expôs os mais variados trabalhados produzidos
e idealizados pelo estúdio que representa. Uma
apresentação na qual se assumiu a “dificuldade
em ser reconhecido em Portugal”, ao mesmo
tempo que se verificou o “reconhecimento de
Portugal, para além fronteiras, por exemplo na
Alemanha”. Os seus produtos apresentados aliam
“o útil, o reciclável e o artesanal”, juntamente
com o Design.
Mário Barros apresentou elementos para
“uma discussão sobre as referências locais,
transformadas em referências globais”, enquadrando o tema geral da conferência. O docente
mostrou alguns exemplos de produtos Glo-cais,
como o caso da comida Sushi, do almofariz, do
IKEA e também dos tecidos africanos, onde se
inspiram muitos estilistas para a alta-costura.
Esta exposição de ideias serviu de pivot para a
intervenção de todos os presentes.
Dando sequência ao debate, Rute Gomes
lembrou que “aglomerar o artetradicionais. Foram colocadas à
sanato é um fenómeno actual ”.
venda em Londres e a aceitação
O facto de se “trazer o modo de
por parte dos compradores foi
vida de outros países, através do
boa venda.
próprio artesanato” foi outra ideia
O segundo projecto apresendebatida, tendo sido apresentada
tado por Pedro Ferreira, intitulapor Daniel Caramelo. Mário Bardo “Grão”, “remete-se ao grão de
ros evidenciou ainda o facto de se
uma película fotográfica” e tem
estar a “construir com desperdício
como objectivo criar um novo
e criar um objecto de luxo”.
objecto através de antigos azuleNo segundo dia dos trabalhos,
jos bem característicos da cultura
os oradores destacaram-se pela inportuguesa. Um dos resultados
formalidade e descontracção, com
deste trabalho esteve já exposto
exposições simples e apelativas.
no Museu Nacional do Azulejo,
Miguel Estima, docente no Instiem Lisboa.
tuto Politécnico de Castelo Branco,
A finalizar a sua exposição, Peiniciou a sessão, com a apresentação Projectos. Jovens designers apresentam trabalhos inovadores
dro Ferreira apresentou um terceide uma marca nacional, a ALBA,
ro projecto, “Fabrico próprio”, uma
metalúrgica que foi exemplo de modernidade apresentou três projectos em que participou. enciclopédia que retrata pastelaria portuguesa. O
durante o Estado Novo. A “modernidade e o luxo” O primeiro projecto demonstra como se pode designer explicou que este surgiu através da “casão as palavras com que Miguel Estima define a “reinventar a tradição”. Trata-se de um projecto pacidade que a nossa pastelaria tem de reinventar
empresa, um marco em inovação aliado a matérias elaborado em S. Pedro do Corval, no Alentejo, as tradições” e de como uma receita conventual
como o ferro. Além da modernidade e inovação, que pretende inovar produtos fabricados em pode originar várias outras.
a empresa, segundo Miguel Estima, destacou-se barro, que outrora eram considerados “utiA encerrar a conferência esteve Bruno Araújo,
por “submeter a localidade à entidade empresarial”, litários e descartáveis” e que hoje em dia são representante da empresa Molding, indústria de
promovendo toda uma campanha de Marketing principalmente decorativos. Pedro Ferreira moldes e injecção de termoplástico. O designer
que passava pelo desenvolvimento de um logo e evidenciou a forma “impressionante” como explicou como se produzem os materiais de
pela promoção através de associações e obras de as pessoas trabalham o barro e a “receptivida- plástico, através dos moldes e técnicas, assim
cariz social. A ALBA foi apresentada como um de ao projecto”, que consistia em desenhar as como evidenciou os seus reduzidos custos de
exemplo de sucesso português, que Miguel Estima peças feitas tradicionalmente. Por outro lado, produção. A capacidade que a indústria do plásdefine como “ a actualidade que nunca deixa de os designers pediram aos artesãos para “exage- tico tem em “valorizar e modificar a reprodução
parte o lado utilitário”.
rar as peças até ao limite”. Várias peças foram a partir do vidro ou metal” foi outro dos aspectos
Pedro Ferreira, designer do Estúdio Pedrita, produzidas em jeito de caricatura das formas sublinhados.
8ª Semana de Engenharia com um vasto programa
Ambiente na ordem do dia
vânia costa
Dentro de uma vasto programa de palestras
e workshops proposto pela 8ª Semana de Engenharia da ESTA, o dia 13 de Maio foi dedicado ao
Ambiente e Energia. Licenciada em Engenharia
Energética, Susana Sousa, da ADENE, começou
por apresentar a regulamentação energética e de
qualidade de ar nos edifícios. Segundo a oradora,
a certificação energética da qualidade do ar surge
como uma “necessidade de criar um directivo
para regular a energia consumida pelos edifícios,
que em Portugal é mais de um terço”.
Susana Sousa explicou ainda o projecto da
empresa que representa e da preocupação em
cumprir o protocolo de Quioto. O objectivo
passa por medir a eficiência energética dos
edifícios. E, por isso, a mensagem da campanha
que está a passar na televisão ser “Um dia todos
os edifícios vão ser verdes”.
Perfeito Isabel, engenheiro representante da
PEGOP, mostrou, projectos como a Tejo Energia, que representa 8,5 da quota de mercado, e
que tem como fonte de produção as energias renováveis. Apesar da pequena quota de mercado
e do custo inicial ser bastante elevado, adianta
que é “um projecto viável”, até porque “a matéria-prima surge a custo zero”. Esta intervenção
contou ainda com a apresentação de iniciativas
da PEGOP com intuito de reduzir a emissão de
gases para a atmosfera.
A encerrar a conferência, esteve presente
Pedro Rodrigues, representante da AP2H2
– Associação Portuguesa e Promoção de Hidrogeno, que demonstrou ao longo da sua intervenção a necessidade de explorar novos recursos
energéticos. A sua aposta é no hidrogénio, que
possui características essências para o futuro das energias como “o baixo nível de ruído,
ausência de desgaste mecânico, possui a agua
como subproduto e por fim com
uma densidade de energia superior
ás baterias convencionais”.
Empresas da região
E ex-alunos
O primeiro dia de conferências teve
como tema principal “Engenharia de
produção”. Foram convidadas duas
empresas da região: a MDF, do Tramagal, e a Robert Bosch, de Abrantes.
Rogério Lopes apresentou a empresa MDF, uma empresa de fundição,
com uma vasta experiência em produzir peças de grandes dimensões e
na fundição do aço. “Fundimos seis
toneladas numa hora” - reforça Ro- Debate. Uma semana importante para os alunos
gério Lopes. Júlio Quinas explicou
o funcionamento da empresa Robert Bosch e os Uma empresa que conta com uma parte ligada
novos desafios da empresa. A linha de montagem à arquitectura, outra à engenharia e por fim e
tem sofrido alterações para responder às necessi- à avaliação do ruído. Diogo, para além de ser o
dades do mercado. “Nós estamos à frente” - refere único sócio da empresa, é responsável pela parte
Júlio Quinas. É desta forma optimista que encara da avaliação do ruído. “É uma área que começa
a competição interna e externa e que identifica as a ganhar importância quer a nível de fábricas,
potencialidades da empresa. “A aposta nos recur- empresas, mas também em edifícios e é essa a
sos humanos é a grande mais-valia”, conclui.
nossa grande aposta”, refere Diogo. Para encerrar
Depois de uma pausa de cooffee break, a sala a sessão Luis Sousa veio falar sobre um sistema
encheu novamente para os últimos oradores da de abastecimento.
tarde. Eram todos ex-alunos e vieram falar das
O segundo dia esteve subordinado ao tedificuldades e das aprendizagens lá fora, depois de ma “Projecto e Desenvolvimento do produto”.
terminar o curso de Engenharia Mecânica. Mário Durante a manhã foi realizado um workshop
Coelho mostrou dois projectos desenvolvidos com – Projecto Catia, que contou com a presença
cartão, depois de alguma experiência na área da de alguns alunos. Na mesa estiveram presentes
metalúrgica. Um deles foi a caixa para colocar as Paulo Simão, da Mitsubishi, Pedro Portela, da
hamburguers e o outro um cartão para segurar de Inovação e Desenvolvimento de Produto, e Maforma mais eficaz um pack de cervejas através de riana Figueiredo, da Silicália. Paulo Simão veio
uma dobra entre as garrafas. Diogo Gomes veio apresentar a Mitsubishi e falar sobre o sucesso
apresentar a empresa que criou, a Lusiprojecto. que a empresa tem apresentado no mercado
automóvel. Pedro Portela mencionou a importância da tecnologia e
da inovação para competir no mercado. “A maioria dos proveitos da
empresa resulta dos produtos mais
recentes”, refere. Por fim, Mariana
Figueiredo que veio apresentar a
empresa de produção de mármore
e quartzo, através de uma tecnologia
de ponta italiana e com uma linha de
produção totalmente robotizada.
Inovação e Propriedade Industrial
foi o tema do último dia da Semana
de Engenharia Mecânica. Durante a
manhã foi realizado um workshop
subordinado a este tema e durante
a tarde os alunos puderam desfrutar
de actividades desportivas como o
paintball e o futebol.
Carlos Coelho, membro da Comissão Organizativa e Executiva da 8ª Semana de Engenharia
Mecânica, mencionou que a semana foi bastante
positiva. Ficou contente com a presença da maioria
dos alunos durante as conferências, mostrando o
interesse em conhecer o mercado que os espera, assim como a importância de fazer escolhas.
Segundo Carlos Coelho, o tema da Energia e
Ambiente é aquele que se encontra mais actual,
mas todos os outros, apesar de clássicos, fazem
parte da actualidade e são cruciais para a produção
de determinados equipamentos. Esta semana foi
também importante, não só para o departamento
de Engenharia Mecânica, mas também para o
departamento de Design de Desenvolvimento do
Produto. “Há uma ligação entre estas duas áreas e
esta semana veio demonstrar isso”.
Noélia Barradas e Vânia Costa
(Gabinete de Comunicação da ESTA)
SUPLEMENTO
| ESTA JORNAL • 11 de Junho de 2008
IPT ENTRE OS “20 +” DA COMISSÃO EUROPEIA
COMISSÃO EUROPEIA ELEGE CURSOS DO IPT EM PATRIMÓNIO E ARTE PRÉHISTÓRICA ENTRE OS 20 CASOS DE SUCESSO DO PROGRAMA ERASMUS
O Instituto Politécnico de Tomar
foi seleccionado, num concurso europeu aberto a todas as instituições
de Ensino Superior dos 27 países da
União Europeia, para a Brochura
da Comissão Europeia “20 Casos
Erasmus de Sucesso”.
Este reconhecimento resulta da
avaliação dos Cursos Intensivos
nas áreas de Arte Pré-Histórica e
de Gestão do Património Cultural,
coordenados por Luiz Oosterbeek,
docente do IPT e também secretário-geral da UISPP (organismo
mundial de arqueologia pré-histórica) e Vice-Presidente da ONG
HERITY (organismo internacional
de certificação de qualidade na gestão do património cultural).
Com base nos mesmos programas de formação, o IPT foi ainda nomeado para receber um dos
três prémios finais – ouro, prata ou
bronze – a ser atribuído na Confe-
rência Europeia da Qualidade em
Ljubljana, Eslovénia a 12 e 13 de
Junho de 2008.
O IPT assume este reconhecimento como um estímulo para
continuar a promover a construção
de um espaço europeu de ensino
superior acreditado e avaliado internacionalmente, partilhando o
mérito com os seus estudantes de
Licenciatura e de Mestrado.
Workshop
de Estatística
Destaque na
revista FOCUS
Entre 23 e 26 de Julho decorre eno IPT a 17ª edição
do International Workshop on Matrices and Statistics,
que resulta da colaboração entre o IPT e o Centro de
Matemática e Aplicações da Faculdade de Ciências e
Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.
O evento, que se realiza em honra 90ª aniversário
do Professor Theodore Wilbur Anderson, tem como
objectivo estimular a investigação, num ambiente
informal. Mais informações estão disponíveis no site
www.iwms08.ipt.pt
O Instituto Politécnico de Tomar é referenciado
na publicação Focus (edição de 26 de Março
a 1 de Abril) como sendo o terceiro Instituto
Politécnico a nível nacional que mais se destaca
na prestação de serviços ao exterior. Estes dados
vêm comprovar o dinamismo e a competência
reconhecida aos vários Departamentos e
profissionais do Instituto Politécnico de Tomar
bem como o contributo importante que tem
prestado ao país.
CET’s em funcionamento
Escola Superior de Tecnologia de Tomar
Curso de Especialização Tecnológica
Local de funcionamento Nº de turmas Sistemas de Informação Geográfica
Desenvolvimento de Produtos Multimédia
Tomar
Tomar
Tomar
Entroncamento
Sertã
Tomar
Tomar
1
1
1
1
1 1
1
Condução de Obra
Instalações Eléctricas e Automação Industrial
Tecnologia e Programação de Sistemas de Informação
Escola Superior de Gestão de Tomar
Curso de Especialização Tecnológica
Local de funcionamento Nº de turmas Aplicações Informáticas de Gestão
Pedrogão Grande
Ferreira do Zêzere
Sertã
Tomar
Torres Novas 1
1
1
2
1 Curso de Especialização Tecnológica
Local de funcionamento Nº de turmas Tecnologia e Programação de Sistemas de Informação
Torres Novas
Nisa
Sesimbra
Abrantes
Lisboa 1
1
1
1
1 Torres Novas
Sesimbra
Instalação e Manutenção de Redes e Sistemas Informáticos
Abrantes
Lisboa 2
1
1
2
Desenvolvimento de Produtos Multimédia
Torres Novas
Nisa
Sesimbra
Abrantes
Lisboa
2
1
1
1
1
Projecto de Construções Mecânicas
Abrantes
1
Escola Superior de Tecnologia de Abrantes
Mestrado
no IPT
Inicia-se em Outubro de 2008
a Pós-Graduação e Mestrado em
Arqueologia Pré-Histórica e Arte
Rupestre, uma parceria entre o IPT
e a Universidade de Trás-os-Montes
e Alto Douro (UTAD). Trata-se de
um Mestrado Mundus, com o apoio
da Comissão Europeia. As principais
regiões de investigação desta formação pós-graduada serão o Vale do
Tejo (Portugal e Espanha), Senegal
e Brasil.
As aulas decorrem maioritariamente em Mação, embora alguns
módulos estejam agendados para
Tomar, Vila Nova da Barquinha, Vila
Real, Coimbra e Lisboa. O regime
de aulas será presencial e a maioria
dos módulos funcionará ao fim-desemana.
Quanto às áreas fundamentais
de formação, são a Pré-História,
Paleoantropologia, Geologia do
Quaternário, Métodos e Técnicas
em Arqueologia e Didáctica do Património. As áreas fundamentais de
especialização são a Arte Rupestre,
Tecnologia Lítica, Aplicações Informáticas, Paleobotânica, Geologia do
Quaternário, Pré-História e Gestão
do Património.
Luíz Oosterbek, docente do IPT,
é o director do curso, que decorre
até 2010. Da comissão directiva fazem parte João Baptista, da UTAD,
e Pierluigi Rosina, do IPT.
Podem candidatar-se licenciados
em Arqueologia, História, Antropologia, Biologia, Geologia e outras
licenciaturas das áreas de Ciências
Humanas, da Terra e da Vida. Candidatos de outras áreas científicas
poderão ser aceites após análise curricular. Os finalistas de Licenciatura
em 2007/2008 poderão candidatarse condicionalmente. O valor total da propina será de 2.000 euros,
acrescidos de 150 euros de inscrição
e valor do seguro escolar.
Os interessados deverão, até 25
de Julho, dirigir requerimento de
admissão ao curso, carta dirigida ao
director do Mestrado, fundamentando o interesse no curso e a área de
especialização pretendida, anexando Curriculum Vitae, fotocópia de
certificado de habilitações e boletim
de candidatura (disponível em www.
ipt.pt). Os interessados em preparar
dissertação de Mestrado poderão
indicar um tema eventual. A correspondência deve ser enviada para o
D e p ar t am e nt o d e Te r r it ó rio, Arqueologia e Património
Escola Superior de Tecnologia de
Tomar Av. Cândido Madureira nº 13,
2300-531 Tomar.
Outras especializações serão
possíveis, no quadro da rede Erasmus-Mundus, constituída com a
Universidade de Ferrara (Itália), o
Instituto de Paleontologia Humana
de Paris (França) ou a Universidade
de Tarragona (Espanha). Os formandos no âmbito do Mestrado
poderão prosseguir os estudos para
o Doutoramento em “Quaternário,
Materiais e Culturas”.
Criação da comissão de
coordenação HERITY Portugal
PORTUGAL INICIA PROCESSO DE CERTIFICAÇÃO
DA QUALIDADE DE GESTÃO DO PATRIMÓNIO
CULTURAL
Por iniciativa dos municípios de
Mação, Abrantes e Vila Nova da
Barquinha, o HERITY International
iniciou o processo de certificação
da qualidade de gestão de diversos
bens culturais em Portugal, nomeadamente do Museu de Arte PréHistórica de Mação, do Castelo de
Abrantes, da Biblioteca Municipal
de Abrantes, do Centro Cultural de
Vila Nova da Barquinha e do Centro
de Interpretação de Arqueologia do
Alto Ribatejo.
Relativamente à Península Ibérica, foram igualmente iniciados os
processos de certificação de todos
os bens culturais inseridos na rota
cultural dos Caminhos de Santiago
(Galiza) e na Rota de Cesaraugusta
(Aragão).
Foi, ainda decidida, no passado
dia 11 de Março, em Mação, a formação de uma estrutura nacional,
coordenada por Jorge Rodrigues,
professor e investigador em História
de Arte, bem como a implementação de uma equipa de acompanhamento dos processos de certificação em Portugal, dirigida por
Vítor Teixeira, especialista na área
da gestão e certificação de qualidade. Foi também decidida a criação
da Secretaria Nacional de HERITY
Portugal, com sede no CEIPHAR /
Instituto Politécnico de Tomar.
O Sistema Herity promove uma
gestão compatível (que preserva os
bens culturais) e sustentável (que se
apoia no seu usufruto), distinguindo-se por ser um sistema internacional, comum a todos os países.
Este sistema parte dos interesses e
da avaliação do público e da qualidade de gestão dos bens culturais,
motivada pela necessidade de promover intervenções compatíveis e
sustentáveis no Património Cultural, que assegurem o seu estudo,
conservação e acessibilidade turístico - cultural.
11 de Junho de 2008 • ESTA JORNAL | 11
DIFERENÇAS
Participe na avaliação do ESTAjornal em:
www.estajornal.blogspot.com
José da Graça, cónego e pároco de S. Vicente, Abrantes
“Nós vivemos daquilo que nos dão”
Pela sua dedicação ao trabalho de causas sociais, José da Graça, Cónego da freguesia de S. Vicente, foi agraciado, em 2002, pela
Câmara Municipal de Abrantes, ao ser-lhe atribuída a Medalha Municipal de Mérito Social. A este pároco se deve a construção de vários
equipamentos sociais, e a criação, na sua cidade, de várias instituições sociais, como a Cáritas e o Banco Alimentar Contra a Fome.
ÉRICA AMARAL
fERNANDA mENDES
O que o motivou a criar uma Cáritas em Abrantes?
A Cáritas em Abrantes é apenas
uma resposta a uma necessidade social, porque ainda há uma grande
parte da sociedade que não tem uma
assistência social de acordo com as
suas necessidades, e porque o que
existe na própria comunidade não
chega para resolver certos problemas
e certas situações.
Está a referir-se a que situações?
São casos dramáticos de pessoas
que vivem sozinhas, em que a própria
casa, em algumas situações, não tem
condições, onde há falta de higiene, e
onde às vezes ninguém lá pode entrar.
Há todo um âmbito social a que é
preciso dar uma resposta, incluindo
no campo da saúde.
Que apoios tem a Cáritas?
A Cáritas vive apenas da boa vontade das pessoas e de um trabalho de
voluntariado. Cabe-nos conhecer a
realidade social onde estamos inseridos, e tentar dar resposta. Sem um
fundo de maneio próprio, não podemos fazer muito, mas o que fazemos,
fazemo-lo de bom gosto, e de acordo
com a missão do grupo Cáritas.
Como é que são identificadas as
famílias que ajudam?
Nós tomamos conhecimento das
situações ou através de alguém que
nos vem dizer, ou através da própria
Cáritas. E perante um caso qualquer,
o grupo Cáritas, antes de tomar uma
decisão, vai primeiro conhecer situação real da família ou da pessoa em
causa. Só depois na reunião, nós decidiremos qual a resposta a dar. Este
não é um trabalho de encomenda, é
um trabalho no próprio terreno.
Quais são as maiores necessidades
que encontram?
Pessoas que estão demasiado sozinhas, que precisam de algum cuidado
na sua higiene pessoal, que precisam
de ajuda no campo da saúde. Este é
um trabalho que não custa dinheiro,
basta apenas que alguém tenha tempo, disponibilidade e generosidade
para ajudar.
De que forma é que acha que a Cáritas mudou a vida das pessoas mais
carenciadas?
O grupo Cáritas está a funcionar há
pouco tempo, mas foi através dele que
já foram detectadas novas situações,
principalmente ao nível de crianças,
em situações críticas, e ao nível de
pessoas a viverem totalmente isoladas, na miséria. E as nossas respostas
a estas necessidades não seriam possíveis se o grupo não existisse.
Em relação as crianças, refere-se
concretamente a quê?
A crianças sub-alimentadas e mal
tratadas devido à miséria em que vivem. Tentamos ter uma proximidade
junto da família, e ao mesmo tempo
arranjar os alimentos necessários,
principalmente leite. Para isso contamos com a ajuda do Banco Alimentar
contra a Fome, que existe precisamente para estas situações maiores
de pobreza.
Foi o impulsionador do Banco Alimentar contra a Fome. De que ma-
“É muito difícil
conhecer casos
de pobreza
envergonhada”
neira é que o Banco veio dar apoio
às instituições sociais?
O Banco Alimentar contra a fome
veio dar um grande apoio às pessoas
que passam fome, mas há que equacionar a prioridade das necessidades,
porque dentro das pessoas que passam fome, há que ajudar primeiro os
que passam mais fome.
Há alguma iniciativa por parte das
pessoas em procurar ajuda para
viverem de outra forma?
As pessoas estão só habituadas a
pedir para lhe matarem a fome; outras
pedem a uns e a outros, o que também é um modo de sobrevivência.
Não é o modo mais correcto, mas
temos de compreender.
Em relação às pessoas que passam
aqui pela paróquia a pedir ajuda, eu
receiam que os seus familiares, ao
saberem que elas estão a ser ajudadas,
falem, as critiquem ou que deixem
de as ajudar.
Há casos em que a própria família
não sabe que as pessoas estão a passar por essas situações?
Exacto. Há assuntos e casos que
não passam pelo grupo Cáritas por
serem demasiado delicados. Neste
momento tenho um caso em que
vou ter de ir falar com o delegado
de saúde, e só ele me poderá ajudar. Se não for assim, terei de ir ao
tribunal para ver se é possível uma
intervenção.
As pessoas que vivem em pobreza
extrema devem-no a algum vício
de jogo ou problemas relacionados
com o álcool?
Aqui o maior problema é o álcool. Mas também começa a aparecer
um outro problema que é a pobreza
envergonhada, e que é muito mais difícil de lidar. São pessoas que podem
mesmo a estar a passar fome, mas que
não o demonstram.
Como é que chega a essas pessoas?
É muito difícil conhecer estas situações de pobreza envergonhada,
mas quando elas aparecem, temos de
encontrar alguém que esteja próximo
dessa pessoa, para que seja ela a fazer
de intermediária, fazendo chegar a
ajuda necessária. Se a pessoa que necessita de ajuda souber que a sua situação é do conhecimento de alguma
instituição, ela rejeita a ajuda.
Esses casos de pobreza envergonhada têm vindo a aumentar?
Sim. E desde que o grupo Cáritas
está a funcionar já apareceram dois
casos de pobreza envergonhada.
E devem-se a questões relacionadas
com o desemprego?
Creio que muitas vezes a questão
da pobreza envergonhada é mais originada por uma crise a nível interno,
ou porque tinham um certo tipo de
rendimento e deixaram de o ter, ou
porque estavam habituadas a gastar
mais do que o que tinham.
No geral, estes casos de pobreza
envergonhada acontecem mais nas
cidades, centro urbano, ou mais nas
freguesias rurais?
É mais na cidade, porque na aldeia
há sempre alguém que dê umas couves ou uns feijões.
Como é uma família que viva em
pobreza envergonhada?
É uma família que viveu bem, ou
mesmo muito bem, que tinha todas
as condições de vida, e que de um
momento para o outro passou a viver
sem nada.
Conhece casos em que o desespero
das pessoas as tenha levado ao roubo ou a outros actos criminosos?
Não, mas não podemos excluir essa
hipótese, pois se não tentarmos dar
respostas a muitos problemas sociais,
o roubo vai ser a única resposta que
as pessoas têm.
nem sempre é apoiado e entendido pela
maioria das pessoas.
Ser voluntário não é ser escravo ou empregado de alguém. Ao oferecer um
serviço, o voluntário está a oferecer
solidariedade e ajuda a quem precise,
não está a desempenhar funções por
obrigação ou a ser remunerado por tal
serviço. É puramente boa vontade. Ser
pobre não é crime e também não devia
ser entendido como vergonha, mas a
todos os que dependem de tais ajudas é
pedido apenas uma coisa: gratidão.
Por experiência própria falo em voluntariado e também da falta de reconhecimento das pessoas em geral. Apesar de
tudo, ficam as boas lembranças daqueles
que pude ajudar e dos quais recebi toda
a sua consideração.
Ajudar é um dever de todos, e ser voluntário é isso mesmo, não será melhor
reconhecer o seu valor, em vez de apontar o dedo aos que ainda fazem algo
por alguns.
“É um trabalho que não custa dinheiro, basta tempo e generosidade”
mando-as para a Cáritas, porque o
grupo Cáritas todas as quartas-feiras,
entre as 15h00 e as 17h00, tem sempre
duas pessoas na Casa de Sta Maria,
para atender as pessoas que tenham
qualquer tipo de problema a nível
subsidial.
Conhece pessoas a viverem em situações de pobreza extrema e como
reagem quando as abordam para
tentar ajudá-las?
Algumas reagem bem; outras, inicialmente, temem que não estejamos
ali para ajudar. Com o passar do tempo ficam sensíveis e receptivas.
Essas reacções devem-se à vergonha?
Sim, é muito mais vergonha do que
outra coisa. Mas também há medo
dos próprios familiares. As pessoas
Opinião
Voluntários… muitos, reconhecimento… pouco
Noélia Barradas
Quando cada vez mais se põe em causa o
carácter ético e moral do mundo em que
vivemos, será justo levantar a cabeça,
olhar em volta e tentar perceber se essa
ideia é assim tão linear. O voluntariado
surge como uma resposta, à crítica de
falta de dedicação ao próximo e a causas
reais e nobres que enriquecem o nosso
presente e futuro.
Em Portugal, actualmente, verificamse casos graves de pobreza extrema,
casos que ainda sobrevivem graças a
entidades, entidades estas, que devido
à conjuntura económica do país, funcionam de donativos e do dito voluntariado, pessoas que trabalham em prol de
acções de carácter social e comunitário,
realizadas de forma desinteressada e
desenvolvidas sem fins lucrativos. O voluntariado é crucial para a dinamização
de entidades com poucas valências, o
seu trabalho permite que muitas famílias possuam um nível superior de vida,
mas, apesar de o princípio ser válido,
12 | ESTA JORNAL • 11 de Junho de 2008
DIFERENÇAS
“Sou info-excluído!” E depois?
São cidadãos no activo, mas dispensam instrumentos da sociedade da informação. São pessoas que não sabem e não querem saber
o que é um e-mail, um SMS, um telemóvel ou uma vídeo-chamada. Um dia acordaram e o choque tecnológico tinha-lhes passado
ao lado, por opção própria. Serão eles uma pequena minoria de opositores à era digital ou, pelo contrário, serão um grupo de
privilegiados que escolheram desfrutar do sossego enquanto os outros vivem na obsessão de estarem sempre contactáveis?
Fernanda Mendes
Fernanda Mendes
“Sim! Sou info-excluído” – assume o assessor de imprensa da
Câmara de Sardoal. Mário Jorge
de Sousa é um caso paradigmático
do comunicador de profissão que
vive do outro lado da trincheira
tecnológica. Não tem telemóvel
por opção: “Lá porque trabalho em
comunicação, não quer dizer que
tenha de estar sempre contactável
e a contactar”. Admite que o telemóvel “trouxe um grande avanço
civilizacional”, que facilita a comunicação e aproxima as pessoas, mas
rebela-se na sua utilização: “As formas tradicionais de comunicação
são suficientes para o desempenho
das minhas funções”. O assessor de
imprensa relembra que na Câmara
há telefones fixos e telemóveis que
utiliza, se for necessário.
Quem não usa telemóvel está a
exercer o seu direito de escolha. Mário recusou essa escravidão e preza
os momentos de solidão: “Gosto de
me sentir livre”. Não tem nenhum
preconceito contra o telemóvel, apenas critica a sua utilização “individual”, enquanto “espaço lúdico”. O
assessor de imprensa entende que
“muitas vezes o telemóvel é o brinquedo dos adultos”. SMS, toques e
anedotas são para o comunicador
formas que os adultos encontram
para “poderem brincar, sem que os
possam censurar por isso”. É o apelo
da sociedade de consumo ao qual
confessa não querer enquadrar-se
nessa “alienação”. E remata: “É uma
moda, um deslumbramento que háde passar daqui a uns anos”.
Com a mesma naturalidade que
confirma não usar telemóvel, não
ter carta de condução e ter um cartão multibanco que quase não usa,
só para proceder a levantamentos
porque “ é só o que sei fazer”, Mário
Jorge também não morre de amores
pelos computadores e pelo mundo
virtual. Não envia nem abre um email e não tem curiosidade em ler
os jornais digitais, mas se lhe disserem que há uma notícia de última
hora na Internet, pede a um colega
para aceder e lê. De resto, diz-se
satisfeito com a informação que
tem. “Quando preciso saber mais,
recorro aos livros, vou à Biblioteca”
– confessa quem teve um percurso
profissional demasiado ligado à arte
da impressão. O pai foi tipógrafo e ele próprio trabalhou muitos
anos em tipografias. Passou pela
Imprensa Nacional Casa da Moeda
e, mesmo depois, nos anos em que
esteve na Comunicação Social, a
era digital ainda era uma realidade
distante.
Nunca abdicou de escrever no
papel, e continua fiel à caneta de
sempre (tinta preta e marca “BIC”).
Manuel Dias. Afirma que a Internet é um instrumento verdadeiramente revolucionário.
D.R.
“Os ouvidos, a caneta e o papel é
que fazem o profissional”, confessa
o assessor de imprensa, fazendo
imediatamente questão de explicar
que tem a sorte de estar ladeado por
uma equipa que lhe garante as questões técnicas: processamento do
texto e envio de e-mails ou faxes.
Mesmo sem as “bengalas” da tecnologia moderna, Mário Jorge de
Sousa rende-se à filosofia que lhe
está associada: “Estamos a cumprir a aldeia global de Marshall
McLuhan”.
O acto de abdicar, hoje, de tecnologias tão banais, não é um processo encerrado para o Mário Jorge:
“Se um dia voltar à Comunicação
Social admito adaptar-me a essa
realidade.”
Manuel Pereira Dias, 77 anos, decano do Partido Socialista de Abran-
“Lá porque
trabalho em
comunicação,
não tenho que
estar sempre
contactável”
tes e vendedor de sonhos (é proprietário de uma loja de venda de jogos
da Santa Casa) também se junta à
lista minoritária de abstinentes das
modernas tecnologias. Ao contrário
de Mário Jorge, Manuel Dias não se
assume como info-excluído: “Era o
que faltava! Podem dizer que sou
bota-de-elástico, não me importo.
Não sou utilizador, mas também
não sou contra os avanços tecno-
lógicos. Como cidadão, respeito e
agradeço os avanços da tecnologia”.
Aliás, não poupa elogios ao poder
da tecnologia e aos benefícios que
conferem aos cidadãos: “Nos últimos anos a tecnologia e a comunicação alteraram-se de dia para dia.
A sua influência é brutal”.
Não tem telemóvel por achar que
não serviria os seus interesses e,
confessa, “por resistência à globa-
Escrita e negócios numa folha de papel
Pode parecer estranho, mas é um facto. O escritor António Lobo Antunes, o assessor de imprensa da Câmara do
Sardoal, Mário Jorge de Sousa, o político abrantino Manuel Dias e o homem mais rico do mundo têm um ponto
em comum: resistem ao mundo digital.
Agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD),
em 2007, quando estava a discursar - citado pelo Jornal
“Transmontano” - António Lobo Antunes confessou ser
um homem “completamente inútil”, porque não tem
telemóvel, cartão de crédito ou multibanco, e vive “apenas para escrever”. Mas, por outro lado, considera-se um
“privilegiado” por lhe pagarem para escrever, a actividade
que dá “sentido e direcção” aos seus dias.
António Lobo Antunes licenciou-se em Medicina e che-
gou a exercer, mas desde 1985 que se dedica em exclusivo à escrita, sendo um dos escritores portugueses mais
traduzidos.
Também o magnata mexicano Carlos Slim Helú, confirmado pela revista “Fortune” como o homem mais rico do
mundo, dispensa o uso de computadores para administrar os seus negócios. Segundo a revista “Época Negócios”,
o dono de grande número de empresas de tecnologia,
Slim Helú “diz que toda a informação necessária para
tomar uma decisão de negócios tem de caber numa folha
de papel”.
De acordo com reportagem da “Época Negócios”, este
empresário milionário não usa, nem nunca usou computadores, não lê documentos no ecrã do computador, nem
envia ou recebe e-mails”.
lização”. Quem o quiser contactar,
arranjará maneira. O velho telefone
fixo lá de casa está à disposição e
não há como o contacto directo:
“Vivo no centro da cidade, a minha
vida é aqui, no meu largo, em casa
ou na tabacaria. Toda a gente sabe
onde me encontrar”. Reconhece que
o telemóvel é “um equipamento útil,
que aperfeiçoa a comunicação”, mas
resistiu-lhe com a mesma resistência que o acompanhou numa parte
da vida e do percurso político.
Recordando que nasceu na “idade
das trevas” (anos 30, do século XX),
Manuel Dias diz que a sua formação
de cidadão “não passa pelo ter mas
pelo ser”. E explica-se: “Esta opção
de vida consolida-se na ideia que
tenho da política dos homens que
radica no humanismo e na solidariedade”. Reflecte sobre o que diz
ser “um certo contra censo” e não
se coíbe de afirmar não perceber
como é que “económica e culturalmente somos um dos países mais
desfavorecidos da Europa, e no que
diz respeito aos telemóveis somos
campeões”.
Democrata, republicano e laico, Manuel Dias nunca foi homem
de tentações materiais. Conta que
nunca quis comprar carro, por opção: “Quando podia ter comprado,
investi em duas casas. O automóvel
estraga-se, as casas só ao fim de
muito tempo”.
Admitindo não ser “muito tecnológico”, Manuel Dias tem uma
relação que o aproxima às maiorias
da era digital. Frisando que não é
“viciado”, nem frequentador assíduo, dá-se bem com a Internet, “um
instrumento verdadeiramente revolucionário. Para além de entreter,
funciona como um professor”. Conhece essa realidade e convive com
ela, nas boleias do computador do
filho ou da neta “para aceder ao site
das finanças”, explica, porque afinal
há contágios que acontecem por necessidade e uma certa curiosidade.
Leitor compulsivo de jornais, o
homem que foi um dos fundadores
do Partido Socialista em Abrantes,
prefere recordar que viveu num
tempo em que não havia escola:
“Eu aprendi através da literatura e
do cinema. O cinema ensina muita
coisa”. Jornais continua a ler e a conviver todos os dias, livros, desacelerou um pouco e, até diz por graça:
“O livro que mais se lê no país é o
livro de cheques”. Hoje, em pleno
século XXI, ainda prefere gestos
raros e em vias de extinção.
Vogal da Assembleia Municipal e
membro da comissão política concelhia do partido que milita, não se
queixa de falta de comunicação. Comunicados e convites oficiais recebe
pelo correio tradicional. Se houver
uma alteração de última hora, “sou
avisado pelo telefone fixo”.
11 de Junho de 2008 • ESTA JORNAL | 13
DIFERENÇAS
Participe na avaliação do ESTAjornal em:
www.estajornal.blogspot.com
Bruno Tomás, dirigente da JS, fala sobre a presença dos jovens na política
Opinião
“Oiçam o que temos para dizer”
A política carece de juventude. Essa é uma imagem não só vista no concelho de Abrantes, como um
pouco por todo o país. A política hoje em dia é pouco atractiva e credível para a juventude. Bruno
Tomás, dirigente da Juventude Socialista abrantina, mostra um parecer único e empolgante do que é
ser um jovem no meio da política.
João Car valho
João Carvalho
Como surgiu o seu interesse pela
política?
O meu interesse pela política surgiu
de forma natural e idêntica a muitos
outros. Numa altura em que frequentava o ensino secundário, pertenci a
uma das listas candidatas à Associação de Estudantes, que por sua vez
ganhou as eleições. Como é hábito, as
associações partidárias estão sempre
junto das associações de estudantes
e fui abordado, em conjunto com
outros colegas, pelo coordenador da
JS da concelhia de Abrantes, que me
despertou o interesse e filiei-me na
JS.
Como foi o seu percurso enquanto
dirigente da JS de Abrantes?
Foi um percurso um pouco diferente do normal, isto porque, desde
muito cedo, entrei também para o
Partido Socialista. Estando nas duas
frentes ao mesmo tempo é complicado, acho que poderia ter dado mais à
JS. Mas ainda vou a tempo. Até aos 30
anos posso e devo dar mais de mim à
JS de Abrantes.
O que tem o dirigismo político para
oferecer aos jovens?
Tendo uma relação democrática,
o dirigismo político permite directamente aos jovens expor as suas opiniões e debatê-las. Permite, ainda,
e isso é bastante importante, expor
as suas ideias dentro de uma sede
política. Possibilita também aos jovens começarem a ter uma noção de
responsabilidade e desenvolver de
uma certa maturidade. Prepara-nos
de certa forma para o futuro, ganhamos interesses pelos problemas da
actualidade.
Na sua opinião, qual a razão por
existir pouco interesse político por
parte dos jovens?
Hoje em dia os políticos não percebem os jovens nem as suas necessidades. A razão fundamental é o descrédito que os políticos e a política têm
por parte dos jovens. Sentimento que
nasceu, em parte, há uns anos atrás,
onde a juventude era denominada
de “geração rasca”. No entanto, existe
neste momento bastante investimento em políticas de juventude, mas
isso só não chega. Os políticos têm
que tentar perceber os jovens, falar
com eles, perceber o porquê do seu
desinteresse pela política. Este ano
no Fórum Europeu da Juventude,
em Roma, os jovens deixaram uma
mensagem aos políticos europeus
e eu concordo totalmente com eles:
“Oiçam o que temos para dizer, perguntem-nos o que precisamos, e depois, actuem!”
Como acha que se pode cativar os
jovens a participarem activamente
na política?
Essa é uma situação que tem de ser
Bruno Tomás. “Como jovem e fazendo parte de uma geração dinâmica, teria todo o gosto em continuar na política”
alcançada urgentemente em Portugal
enquanto regime democrático. Acho
que a melhor forma e mais simples
passa mesmo pelas relações dos políticos com os jovens. Os políticos
têm de ir ao encontro dos jovens,
falar com eles e motivá-los. Têm de
continuar a investir nas associações
juvenis, têm de criar reformas de
juventude concretas. A questão do
mundo globalizado chega a todo lado e em todas as frentes, estando a
juventude incluída, e ela não pode
ficar de parte.
A nível pessoal, o que espera da
política?
Como jovem e fazendo parte de
uma geração dinâmica, teria todo o
gosto em continuar na política. Tenho
intenções de terminar o meu curso,
este é o meu principal objectivo. Mas
sinceramente terei todo o gosto em
prosseguir a minha carreira na política, aliás se não gostasse de política
não estaria onde estou (JS)… Temos
Os políticos
têm que tentar
perceber os
jovens
Portugal tem
de ter uma
consciência
europeia
de gostar daquilo que fazemos.
De um ponto de vista geral, o que
pensa do concelho de Abrantes?
O concelho de Abrantes devido
às suas dimensões geográficas, não
é um concelho de fácil gestão, é um
concelho maior que a Madeira. Está
fortemente marcado pelos 14 anos de
poder autárquico, por parte do PS, e
pelo seu desenvolvimento regional.
É um concelho desenvolvido que,
como todos os concelhos, tem os seus
problemas. Sendo um concelho do
interior, Abrantes está numa situação privilegiada, está no centro do
país, perto de Lisboa, de Espanha,
do Alentejo, e das Beiras. Abrantes
é uma referência em muitas áreas a
nível Regional e Nacional.
É uma cidade virada para o futuro?
Sim, sem dúvida. Abrantes é um
concelho virado para o futuro e acredito que irá estar preparado para um
futuro tecnológico que está a acontecer. O Partido Socialista, nos seus
14 anos de governação, tem demonstrado que tem tido um planeamento sustentado e estruturado para o
concelho. E creio que o futuro do
concelho de Abrantes será um futuro
muito positivo.
É um bom concelho para o investimento?
Acredito que sim. Abrantes tem
uma boa base para receber investimentos privados e públicos. A aposta do concelho está na inovação, na
qualificação e na tecnologia, o que
permite ser uma boa aposta a todos
os níveis. O concelho de Abrantes
com o projecto Mocho XXI, total-
mente suportado pela autarquia, deu
um passo muito significativo para o
futuro; a aposta numa maior qualificação dos seus jovens foi uma aposta
de sucesso a nível de educação, o que
se pode tornar exemplo para muitos
outros concelhos a nível nacional.
Nesse aspecto o concelho de Abrantes
esteve um passo frente de todos os
outros, bem como assumiu as suas
responsabilidades na educação.
Como vê o actual Governo socialista liderado por José Sócrates?
Tenho uma imagem muito positiva
do primeiro-ministro e do Governo
que lidera. Ele teve a coragem de fazer
o que era preciso ser feito no país,
teve a coragem política para realizar
determinadas reformas. É claro que
é discutível se tudo o que foi feito é
bom, mas os portugueses irão responder a isso nas eleições legislativas em
2009. O país precisa de mais inovação,
mais qualificação, para sermos competitivos neste mundo global. Tem
um discurso de confiança para com
os portugueses.
Que apostas pensa que são fundamentais para o futuro de Portugal?
Portugal tem de ter uma consciência europeia, temos que pensar
como parte da Europa, não negando
as tradições, valores e raízes portuguesas, mas virando-nos para a nossa
comunidade e pensar de uma forma
colectiva. Temos que perceber que
somos cidadãos da Europa e fazer
uso da nossa cidadania, da nossa capacidade cívica enquanto membro
duma comunidade europeia como
a nossa.
Marcar a
diferença
Hália Costa Santos
O que é que interessa aos jovens
de hoje? Quais são os assuntos
que debatem quando estão juntos? Estão dispostos a envolver-se na vida pública e democrática? A troco de quê? Como é que
podem ajudar a construir o seu
próprio futuro?
Esta geração de jovens já não é
“rasca” e também já não é a que se
seguiu, que andava “à rasca”. Esta
será, talvez, a geração da descrença: vêem pouca ou nenhuma luz
ao fundo do túnel e perguntam
a si próprios se ainda vale a pena
lutar por aquilo em que acreditam. Cada vez mais, têm poucas
certezas e muitas dúvidas. E a
possibilidade de uma vida insegura ao nível profissional é aquilo
que mais os assusta. Naturalmente. Mas ficar à espera de um milagre ou de um empurrãozinho
também não é solução.
A verdade é que, regra geral, o
cenário que espera os jovens de
hoje não parece colorido nem
cheio de alegrias. A maioria deles não se poderá dar ao luxo de
se despedir de um emprego em
que se sinta incomodado, como
era possível numa época em que
os jovens (pelo menos os minimamente bons) sabiam onde
encontrar o próximo trabalho.
O país está hoje necessariamente
diferente e o que faz falta é pensar e agir.
Os jovens têm que encarar o
mundo do trabalho de uma forma
completamente diferente. Têm
de estar preparados para as novas
tecnologias, para várias mudanças
ao longo da vida e não podem
esperar pelo certo e pelo seguro.
Os jovens têm que lutar mais. Têm
que mostrar que têm valor e que o
país precisa deles. Seja no campo
da prática, seja no campo das
ideias. Têm que fazer a diferença
e, se possível, marcar o ritmo do
desenvolvimento e da criatividade. E têm que o fazer nos grandes
palcos; precisam de se fazer ouvir.
Se, em meios fechados, continuam
agarrados às (compreensíveis)
lamúrias que desenrolam vezes
sem fim, dificilmente sairão do
sítio onde estão.
Esta é a época em que todos precisamos de inovar e, sobretudo,
de participar. A política e a intervenção cívica são dois excelentes
palcos para os jovens actuarem.
Se o fizerem, estão simplesmente
a ajudar a construir o seu próprio futuro. A qualidade de vida
não cai do céu. Se os jovens continuarem, regra geral, afastados
da vida política, estão a desresponsabilizar-se em relação ao
seu futuro. E o processo começa
em casa e junto dos amigos: discutir política deveria fazer parte
dos hábitos dos nossos jovens.
Ajuda a pensar e ajuda a agir, a
bem de todos.
14 | ESTA JORNAL • 11 de Junho de 2008
DIFERENÇAS
Gordura é formosura!?
Margarida Car valho
Sara Costa
A resposta à típica frase feita “gordura é formosura” é que é preciso ter
em conta as consequências. Para além
disso, talvez nem todos os homens
gostem de uma mulher que “encha
uma cama”, ou nem todas as mulheres
vejam num homem gordo um símbolo de força e protecção.
A obesidade é uma doença preocupante nos nossos dias, de foro alimentar que resulta da combinação entre
o consumo excessivo de nutrientes e
um elevado nível de sedentarismo,
contudo, existem outros factores
que influenciam, como a genética
e algumas doenças que afectam o
crescimento.
A solução é óbvia: uma dieta saudável e exercício físico. Inúmeros estudos realizados por inúmeros nutricionistas de inúmeras universidades,
como por exemplo, a Faculdade de
Medicina da Universidade de São
Paulo e o Serviço de Endocrinologia
Diabetes e Metabolismo, do Hospital
Militar Principal, de Lisboa, comprovam esta realidade e mostram
também que a obesidade é uma nova
epidemia no mundo desenvolvido,
devido à alimentação desregrada e
ao frequente recurso a restaurantes de
cadeias de fast-food. A probabilidade
de um adolescente obeso se tornar
um adulto obeso é grande.
Três adolescentes com este problema de saúde revelam que, salvo
algumas excepções, na escola a alimentação oferecida não é a melhor,
sobretudo quando se tem uma dieta
para seguir à risca. Catarina (nome
fictício), apesar de ter excesso de peso,
não tem outros problemas de saúde.
Já Patrícia Quaresma, também de 14
anos, apresenta problemas de coluna
devido ao excesso de peso. As duas
adolescentes revelam também que,
na escola, o plano de dieta não difere
muito do plano normal.
Para Catarina e Patrícia, os problemas de saúde não são o que mais
as afectam. O principal problema é a
Opinião
Como
emagrecer
para sempre
André Lopes
roupa. O culto da magreza dos nossos dias contrasta com a realidade.
Nas lojas de roupa com modelos para
jovens, raramente existem peças com
números superiores ao 42, nomeadamente nos jeans. E muitos dos modelos não se adequam a estes números.
Por isso, são fabricados para números
menores. E quanto aos tops e camisas
justas ou mais decotadas, são quase
uma impossibilidade, às vezes pelo tamanho, outras vezes pela vergonha de
ficar com a barriga à mostra ou mais
saliente. Como resultado, geralmente
optam por roupa mais larga.
A Patrícia Quaresma também se
colocam outras inseguranças. Confessa, entre um olhar triste, que por
vezes sente-se aliciada por adultos nos
bares, que pensam que Patrícia tem
mais idade devido à sua constituição
física. Além disso, quando se olha ao
espelho pergunta-se porque é assim.
A sua imagem causa-lhe tristeza e já
tentou deixar de comer. Apesar de
tudo, conta com o apoio por parte da
família, que recorre a grandes esforços para ajudar a controlar o peso.
Para os rapazes, a obesidade na
adolescência é vista de forma menos
dramática, traz menos incómodos.
André Almeida tem 19 anos, pesa
150 quilos, traz um ar gracioso com
um sorriso contagiante e um humor
eloquente. Desde que se lembra,
sempre foi assim. A obesidade preocupa-o, mas não o assusta. Pratica
judo e a única dificuldade que encontra, são os exercícios de corrida
e de grande mobilidade gravita-
cional. Quanto à escola, só aponta o facto das mesas serem muito
pequenas e refere a existência de
outros objectos frágeis; no judo,
por vezes, encontra outros atletas
para competir (a competição nesta
modalidade é organizada mediante
o peso dos atletas).
Em casa, a constituição física familiar é igual. André raramente come
fast-food, tem algum cuidado em
cortar nos fritos e em comidas muito
calóricas. É com o mesmo humor
que o caracteriza que encara a alcunha de “Obelix“. Diz mesmo que
se considera um autêntico “Obelix”
em termos de personalidade porque,
tal como a personagem de banda
desenhada, considera-se um rapaz
divertido e feliz.
Sejam três ou 30 quilos que queira perder,
há apenas uma regra a seguir: fazer uma
alimentação equilibrada, pobre em calorias, de preferência com exercício físico.
Cada vez mais as revistas falam de como
se pode ter uma alimentação equilibrada
e de como ter uma vida saudável. Cada
vez mais as pessoas recorrem a nutricionistas e a ginásios para manter um corpo
esbelto e saudável. Ser saudavelmente
correcto está na moda e muitas empresas aproveitam para fazer publicidade
aos seus produtos “milagrosos” e o seu
público-alvo, inocentemente, ou não, cai
na tentação de comprar os produtos ou
fazer dietas baseadas em mitos. Antes de
começar a fazer uma das dietas famosas
que prometem emagrecimento rápido,
atente nos seus perigos e informe-se para
ver se ela resulta ou não.
Mas afinal o que podemos comer? Com
os nitrofuranos nos frangos, as vacas
loucas e a contaminação de peixes com
mercúrio torna-se cada vez mais difícil
escolher o que comer. E como fazer uma
alimentação saudável sem correr riscos?
Há que escolher os alimentos e ter uma
alimentação variada para nos defendermos da acumulação de químicos nocivos.
Não há muito tempo, a obesidade era
vista como um problema de cosmética.
Em poucos anos, a perspectiva médica
do excesso de peso sofreu uma mudança
radical. De problema cosmético passou
a problema de saúde pública. Mas a
obesidade pode não ser um problema
de alimentação desregulada, mas antes
um factor genético, pode ser também
causada por factores ambientais, assim
como factores psicológicos e outros
problemas de saúde relacionados com
a obesidade.
Se existem pessoas que fazem dietas
devido ao preconceito de terem um
corpo “mais cheio”, existem outras que
procuram emagrecer porque estão conscientes dos riscos que a saúde corre. Saiba
comer e escolher os melhores alimentos.
Bom apetite!
Cláudia Nascimento explica as dificuldades de quem tem problemas de mobilidade
“Ainda existem muitas barreiras”
Cláudia Nascimento tem 32 anos e esteve dependente de uma cadeira de rodas durante três anos, entre 2004 e 2007. Hoje está
totalmente recuperada, mas não esquece as dificuldades que viveu.
Estava no lugar do “pendura” quando o carro colidiu com uma árvore.
Cláudia Nascimento “ia com dois
amigos no carro”. Partiu a perna direita, ficando imóvel durante três anos.
Admite que o acidente aconteceu “por
pura inconsciência”, pois circulavam
em excesso de velocidade depois de
ter chovido.
Após o acidente e a consequente
invalidez , Cláudia enfrentou muitas dificuldades, desde edifícios
que apenas possuem escadas de
acesso, onde era impossível entrar
sem auxílio, passando por passeios
demasiado altos que dificultavam a
passagem de um passeio para o outro. Conta ainda “o pior de todos os
inconvenientes”: “Foi a dificuldade
em entrar nos transportes públicos
para me deslocar, visto que não tenho carta de condução. É realmente
muito complicado fazer-se uma vida
‘normal’.”
No que diz respeito ao desenvolvimento do país e se este está apto a
garantir a satisfação das necessidades
das pessoas que estão dependentes de
uma cadeira de rodas, a resposta de
Cláudia é negativa. “É incrível como
um país que se diz evoluído ainda
apresente tantas barreiras arquitectónicas e até ao nível das mentalidades
em relação aos deficientes motores
ou às pessoas que, tal como eu, dependem temporariamente de uma
cadeira de rodas. Por vezes, penso que
o cidadão comum esquece as pessoas
que possuem dificuldades físicas e
chegam até a olhar-nos um pouco
de lado. Para mim, é um dever de
todos ajudar essas pessoas, caso elas
necessitem da nossa ajuda”.
Olhando para o passado e para
essa etapa de vida, Cláudia Nascimento diz que se, por um lado, foi
um período extremamente difícil,
por outro lado, foi gratificante pois
ficou a conhecer uma realidade diferente que lhe permitiu compreender
melhor as dificuldades a que estas
pessoas estão sujeitas. No entanto,
confessa: “Se me dessem a escolher,
preferia não ter passado por esta
experiência”.
Segundo associações representati-
vas de deficientes motores, Portugal
continua a ser um dos piores países
da Europa Ocidental em termos de
mobilidade para estas pessoas, devido à falta de inspecções e multas
de valores baixos para quem viola a
lei. A estimativa é que cerca de um
milhão de pessoas com mobilidade
reduzida, incluindo idosos e deficientes motores entre outros, enfrentam
dificuldades ao entrar em centros
culturais, escolas e hospitais no país,
devido a barreiras arquitectónicas.
V. M. e M. A.
11 de Junho de 2008 • ESTA JORNAL | 15
PROIBIÇÕES
Participe na avaliação do ESTAjornal em:
www.estajornal.blogspot.com
Maria Elisa Duarte, 60 anos, natural da Vila de Riachos, Torres Novas
“As pessoas falavam pouco”
Maria Elisa Duarte recorda o tempo em que Salazar governava. O que era proibido, e como a sua família
num meio rural viveu naquela época, onde na rua era preciso ter cuidado com o que se dizia. Maria Elisa
recorda ainda o dia em que o país acordou para a Liberdade.
fÁBIO CAR VALHO
Fábio Carvalho
O que recorda daquele tempo da
história do nosso país?
Lembro-me que as pessoas tinham
medo de falar de política. Na escola
os professores não falavam mal de
Salazar, faziam entender aos miúdos
que Salazar era um Deus, para eles era
a melhor pessoa que podia existir.
Além de falar de política, lembra-se de mais alguma coisa que era
proibido fazer?
Não, porque nós aqui vivíamos
num meio rural e as pessoas falavam
pouco e a maior parte não sabia ler
nem escrever. Conversavam entre
si, mas não falavam com as outras
pessoas, tinham medo porque havia
os informadores da PIDE, que eram
capazes de estar à mesa com as pessoas e depois atraiçoá-los, mandá-los
prender.
Mesmo sabendo disso ainda se falava de politica?
Pouca gente e as que falavam tinham medo. Na minha casa não.
Não se falava, porque certas coisas
não se entendiam, pois elas também
não eram publicadas como agora e as
pessoas não conheciam.
Lembra-se de problemas que tenham existido nos Riachos nomeadamente com a PIDE?
Lembro-me que um homem que
morava aqui foi preso e até acabou
por morrer na prisão, disseram até
que ele que se matou. E lembro-me
ainda de um rapaz que morava aqui
nos Riachos e trabalhava em Torres
Novas, tinha sido preso, esteve lá pou-
Maria Elisa Duarte. “Não se falava de política (em minha casa) porque certas coisas não se entendiam”
co tempo, porque depois acharam que
ele afinal não era assim tão culpado.
Lembro-me daquilo que a família
sofreu por saberem que o filho tinha
sido preso.
O que se lembra do dia 25 de
Abril?
Lembro de me levantar de manhã,
de ligar o rádio e de ouvir só aquela
música, ao contrário dos outros dias
que ouvia o programa normal. Quan-
do chega às sete horas da manhã,
quando haviam de dar o noticiário,
só disseram que dentro de momentos
podiam dar mais informações, mas
nada daquilo eu percebi. Fui então
dizer ao meu marido, que ainda estava deitado, que se passava qualquer
coisa. Ali passámos a manhã, o meu
marido foi trabalhar, ali fiquei a manhã sem saber nada e na rádio sempre
a ouvir o mesmo. Até que à tarde sou-
bemos o que se estava a passar, que
tinha havido um golpe militar.
O que sentiu na altura?
Foi um alívio pois eu tinha quatro
rapazes e só me lembrava da guerra,
e que eles tinham de ir para lá como
iam os outros. Mas quando eu soube
o que o 25 de Abril nos ia trazer politicamente, fiquei mais descansada,
foi um alívio porque aí já eles não
podiam ir para a guerra.
Crónica
A camuflagem da censura
Ana Marta Sénica
Imagine-se num país em que para acender um
isqueiro necessita de uma licença do Estado.
Imagine-se num país onde as mulheres casadas
para viajar para o estrangeiro necessitam de uma
autorização do marido, ou então, onde as enfermeiras estão proibidas de casar. Numa praia onde
mostrar o umbigo é tabu, usar uma saia por cima
do joelho implica coima, e raparigas ao entrarem
na escola ter quem lhes revistasse e medisse ao
milímetro o comprimento das saias. Num país
onde não pode ler o que lhe apetece, ouvir o que
lhe apetece ou, numa bela tarde de sol, não poder
deitar-se num banco de jardim. Refrescar-se com
uma Coca-cola? Impensável!
Exagerado ou não, esta realidade aconteceu e
não há muitos anos aqui neste país à beira mar
plantado. Na era salazarista, proibir era palavra
de ordem. O controlo exercido pelos senhores
da Polícia Internacional e de Defesa do Estado,
mais concretamente PIDE, que andavam que nem
“lobos vestidos de cordeiros” em busca dos “atrevidos” ao regime da época.
Tudo isto aconteceu há 34 anos. Mas será que foi
apenas nesta fase que Portugal passou a lápis
vermelho tudo o que é errado, e visado e a corrigir a azul?
Rasurar parecia ser um passatempo. Tudo o que
era informação teria de passar no “testezinho”
do lápis. Hoje já não se usam lápis, é verdade! No
entanto, continua a censurar-se a liberdade de
expressão de quem escreve e de quem se exprime. Quem se atrever é punido com infindáveis
processos por calúnias, difamações e outros
termos judiciais que fazem cada vez mais parte
do nosso quotidiano. PIDE? Pois, também já não
existe. Mas sempre temos uma autoridade; que
descobre que a água abençoada do santuário de
Fátima é cambalacho e que as nossas tabernas
podem pôr em perigo a saúde pública.
Não se julgue a interditação coisa do passado,
ou que morreu às portas do 25 de Abril, tendo
sido apenas “propriedade” do Estado. Segundo
as palavras de António Costa Santos, jornalista
e autor do livro “Proibido”, “os portugueses sempre gostaram de proibir uns aos outros. Sociologicamente a maneira de ser lusa sempre foi o de
apanhar o outro em falta, logo, o regime apenas
se aproveitou desse estranho síndrome para
proibir tudo e mais alguma coisa, notado contudo que havia certas obrigatoriedades que não
existiam na legislação, mas que de acordo com
esse tal sindroma, parecia mal ou não se fazia
porque sim, logo, passava a ser obrigatório”.
Será que esta agigantada onda de proibições do
passado terá sido uma forma de aviso aos dias de
hoje? Os portugueses continuam a proibir-se comummente. Há a ideia de que conduzir de tronco
nu, ou de chinelos é proibido. Mas não é.
O “lápis” não se vê, mas existe. Temos a consciência de que nem tudo o que se pensa pode ser
dito, a liberdade de expressão é considerada por
alguns ex-jornalistas ou historiadores como uma
das novas formas de censura. Sendo necessário
exclamá-lo, como o fizeram na década de 40, os
estudantes de Maio em Paris: “É proibido proibir!”
Não andamos de lábios, mãos e ouvidos riscados.
Somos livres de pensar, e em todas as cores. Não
se vê! E os sonhos? Dizem-se cor-de-rosa... errados ou a corrigir?
Globalização
não implica
novos pecados
Paula Faria
Quais são, para si, os novos pecados? Foi esta a pergunta que originou grande especulação, que fez
correr muita tinta e comentários
por este mundo fora.
O que para muitos pensaram
ser um decreto oficial do Vaticano, não passou simplesmente de
uma entrevista do Bispo regente do
Tribunal da Penitenciária Apostólica, Gianfranco Girotti, ao jornal
L’Osservatore Romano, que foi muito mal interpretada pelos meios de
comunicação e, consequentemente,
por meio mundo.
“Uma Igreja à deriva com falta
de protagonismo inventa novos
pecados para chamar a atenção de
eventuais novos “clientes””. “Mil e
quinhentos anos depois, o Vaticano
actualiza a lista dos pecados mortais, acrescentado seis aos sete elencados pelo Papa Gregório I”. “Eram
sete, mas a modernidade obrigou a
Igreja a actualizar os pecados mortais e a renovar a lista de situações
que, sem arrependimento ou confissão, condenam a alma humana ao
fogo eterno do inferno”. Estes são
alguns dos títulos que se pôde ler
em vários meios de comunicação
e que, sem saberem ao certo o que
estava na origem da informação,
preferiram logo “condenar” a Igreja
Católica.
O que se passou foi que nessa
entrevista, em que se fala dos mais
variados problemas da actualidade
– meio ambiente, a evolução da ciência, sobretudo da parte genética,
do aumento dos crimes de pedofilia e do aborto –, Gianfranco Girotti tentou chamar a atenção para
algumas questões essenciais neste
mundo cada vez mais destrutivo.
Não se tratava de nos dar uma lista
de novos pecados. Por isso mesmo
é que a Igreja Católica, como instituição carismática que é, nos tenta
explicar que “a modernidade veio
dar uma dimensão social a novos
pecados” e que o pecado, assim,
passa a ter uma dimensão muito mais social do que individual,
por causa do grande fenómeno da
globalização. Foi dentro deste contexto que o bispo regente declarou
que nos dias de hoje os pecados
deveriam estar mais relacionados
com os problemas actuais desta
sociedade globalizada: com a poluição do ambiente, a genética, da
riqueza exagerada, o aumento dos
casos de pedofilia, o aborto e a droga, através da qual se enfraquece a
psique e se obscurece a inteligência, deixando muitos jovens fora
do circuito eclesial.
Para quem foi contra a ideia de
um possível “aumento” dos pecados
capitais, fique descansado, porque
estes, por enquanto, vão-se manter
os mesmos: soberba, avareza, luxúria, ira, gula, inveja e preguiça.
16 | ESTA JORNAL • 11 de Junho de 2008
DIFERENÇAS
Piercings, Tatuagens e Maquilhagem Permanente
Socialistas invocam Saúde Pública
Mónica Reino
Data de Dezembro de 2005, a entrada
em vigor de um decreto-lei que limitou
o uso de níquel nos piercings pretendendo desse modo “minorar os efeitos
prejudiciais para a saúde e para o ambiente”. Agora, passados três anos, Renato
Sampaio, o deputado socialista, que entre
outros, redigiu o documento, pretende
reformar a sociedade.
No passado dia 14 de
Março, o PS apresentou
na Assembleia da República um projecto-lei
que visa proibir a todos
os cidadãos a aplicação
de piercings na língua,
na proximidade de vasos
sanguíneos, nervos e músculos. Para os jovens, menores
de 18 anos, a interdição
seria mesmo total, sendo proibida a aplicação
de piercings, tatuagens
e maquilhagem permanente.
As novas regras
pretendem, para além de
salvaguardar a saúde dos
utilizadores, regulamentar igualmente os estabelecimentos onde se
efectua a colocação de
piercings, tatuagens e
maquilhagem permanente. De acordo com
a proposta do Partido Socialista, quem doravante
coloque um piercing ou
opte por fazer uma tatuagem, terá de assinar
uma declaração de consentimento, a qual será
confidencial e que terá
de permanecer arquivada por um período de
cinco anos.
Estas proibições de piercings na proximidade de
vasos sanguíneos, nervos e músculos aplicam-se a zonas como
as sobrancelhas, umbigos, mucosa do nariz e
órgãos genitais, sendo o lóbulo da orelha
o sítio que acarreta menos perigos para o
fazer.
A implementação do projecto-lei pretende impor uma nova regulamentação
face a alegadas implicações que estas
actividades podem ter na proliferação
de doenças, como as infecções, alergias,
doenças da pele, contaminação com
hepatite B e C e o vírus do HIV, que são
riscos associados a uma má prática destas
actividades.
De acordo com o mesmo, os estabelecimentos de colocação e aplicação de
piercings e tatuagens têm de ser salões
próprios para os efeitos que terão de
ser fiscalizados pela ASAE. No entanto,
continua a ser permitido furar as orelhas
em ourivesarias e realizar maquilhagem
permanente em institutos de estética, desde que
o material que se apresente seja higienizado e
devidamente esterilizado.
Por último, passa a ser ainda obrigatório que
o pessoal técnico tenha a formação devida,
que informe o utilizador sobre todos os procedimentos, como a origem dos produtos e as
possíveis consequências da realização destes
procedimentos, possibilitando-o assim do poder de reflectir sobre o assunto.
A Polémica
Logo após a apresentação do projecto na
Assembleia da República e logo após a comunicação social fazer referência, eis que surgem
as críticas e opiniões adversas.
Dentistas concordam com o projecto relativamente à proibição da aplicação de piercings na
língua. Segundo estes profissionais, os piercings
na língua acarretam riscos para a saúde dos
seus utilizadores tais como fracturas nos dentes,
Mudança de Planos
Uns dias após a apresentação do projecto e reforçando novamente que o objectivo não é proibir
mas salvaguardar a saúde dos cidadãos, eis que o
PS se manifesta favorável e disponível para fazer
algumas mudanças. Prepara-se assim para aceitar
a possibilidade de que os jovens, menores de 18
anos, sejam autorizados a usar piercings ou tatuagens com o consentimento dos pais e desde que
estes assumam a responsabilidade relativamente
às consequências para a saúde.
Da mesma forma, o proponente adiantou
estar aberto a rever a inicial ideia de proibir os
cidadãos em geral de aplicarem piercings em
praticamente todas as zonas do corpo. Tolera
uma possível aceitação desde que os utilizadores
sejam previamente informados e alertados para
os riscos desta prática, assumindo inteiramente
as responsabilidades.
regressão nas gengivas, dificultar a respiração e
facilitar a transmissão de hepatites e outras doenças graves. O Bastonário da Ordem dos Dentistas,
citado pela Comunicação Social, considera “eticamente censurável o piercing na língua, tais são
os riscos que isso acarreta para a saúde”.
Contactada pelo ESTAJornal, Maria José
Silva, dentista em Abrantes, concorda que os
piercings são prejudiciais a nível da higiene
oral. Já tratou pessoas com piercings na língua,
que apareceram com dentes partidos, e diz não
ter qualquer problema em fazê-lo novamente.
Seja profissional ou pessoalmente, a dentista
não concorda com o projecto, visto para ela
isso dizer apenas respeito a quem quer ou tem
piercings na língua. Os riscos deste tipo de piercings são reais, logo fracturas nos dentes, regressão nas gengivas, dificuldade na respiração e a
transmissão de hepatites e outras doenças graves
são alguns problemas que podem ocorrer.
No entanto, a opinião dos demais cidadãos é
maioritariamente contrária, sendo que grande
parte encontra neste projecto um atentado contra
a liberdade. Ana Luísa, 22 anos, estudante, tem
um piercing no umbigo e dois na orelha. Não
concorda com o projecto apresentado, defendendo que “ninguém manda no nosso corpo”.
Ana argumenta que “somos livres para fazermos
o que queremos com o nosso corpo e acho que
deviam preocupar-se mais com
outras coisas”.
Da mesma opinião é Djamila
Vaz. Com 22 anos, tem um piercing no umbigo e uma tatuagem
nas costas. De forma acusatória,
diz que “antes de mais esse projecto não deveria nem passar de
projecto quanto mais chegar a lei,
porque quem decide o que faz
com o corpo é a própria pessoa.
Por isso existe a liberdade de escolha”. É da opinião que uma decisão
destas só diz respeito a cada um,
não interferindo ou prejudicando
os outros. Acha inclusivamente
que deveriam preocupar-se mais
“com o que realmente afecta a
população em vez de se preocuparem com o que cada um define
como beleza”. “ Por isso acho um
absurdo!” conclui esta.
Rita Domingues, 17 anos, há
uns anos foi a uma ourivesaria
fazer um piercing na orelha. O
furo infectou e teve de retirar
o piercing, naõ tendo voltado
a colocar outro. Esta jovem é,
também, contra o projecto,
afirmando que “o nosso corpo
ainda é das poucas coisas em que
podemos mandar. Se acontecer
alguma coisa a responsabilidade
é nossa”. No entanto, concorda
com a proibição aos menores
de 18 anos, “pois é a partir desta idade que supostamente nos
tornamos independentes e responsáveis”, acrescenta.
Ana Teixeira, 20 anos, tem
uma tatuagem no antebraço e
dois piercings na orelha. Concorda com alguns itens do projecto e defende, inclusivamente,
que “já deviam ter pensado nisso
há mais tempo”. Pensa que estas operações
devem ser efectuadas em locais apropriados e
não em qualquer lado, só porque fica financeiramente mais em conta.
E até o Primeiro-Ministro mostrou a sua opinião sobre o tema, quando no dia 19 de Março
declarou à comunicação social, que a intervenção do Estado neste assunto “deve ser a menor
possível”. Reconhece que existe um problema de
saúde pública que pensa ser necessário colmatar,
impondo determinadas regras, mas que tudo
deve partir da liberdade individual.
Há quem se pretenda afirmar socialmente, existe quem simplesmente ache graça, ou
quem ache que é uma forma de estar na vida, e
a verdade é que para além de toda a polémica
gerada à volta do assunto, o facto de aplicar um
piercing ou fazer uma tatuagem, tem vindo a
ganhar cada vez mais adeptos.
11 de Junho de 2008 • ESTA JORNAL | 17
PROIBIÇÕES
Participe na avaliação do ESTAjornal em:
www.estajornal.blogspot.com
Proibido vender bebidas alcoólicas nos campos de futebol
Adeptos de futebol movidos a água e sumo
fÁBIO CAR VALHO
Fábio Carvalho
Recentemente, os dirigentes dos clubes de futebol viram-se a braços com
um problema que tem vindo a criar
bastantes dificuldades, nomeadamente
a nível financeiro: não se pode vender
bebidas alcoólicas, a não ser que o bar
do clube fique situado numa zona mais
distante ou virado de costas para o terreno de jogo, como acontece no Estádio
Municipal de Torres Novas, onde o bar
do clube fica por detrás das bancadas.
As novas regras de venda de bebidas alcoólicas em campos de futebol
vêm definidas no Decreto-lei nº.16 de
Agosto de 2004, no entanto, até agora,
pelo menos nalguns locais, a norma
não estará a ser cumprida. Um dos
clubes afectados por esta medida é o
Centro Cultural e Recreativo de Santo
António de Assentis, que actualmente
disputa a fase de manutenção da 1º
Divisão Distrital da Associação de
Futebol de Santarém.
Segundo o presidente do clube
de Assentis, José Bento, “o Posto de
Comando da GNR de Santarém já
proibiu isso há muito tempo, mas só
agora disseram aos clubes que não
podiam vender bebidas alcoólicas”.
Esta proibição tem vindo a causar
alguma polémica, nomeadamente
entre dirigentes dos clubes e entre
os adeptos, que agora já não podem
estar a ver futebol, conversar com os
amigos e, simultaneamente, a beber
a habitual imperial.
José Bento diz que o Assentis tem
Dificuldades. “Privados desta receita, os clubes regionais não têm qualquer hipótese de continuar a sobreviver”
vindo a lidar com o problema, “com
muita dificuldade”. Quanto a soluções, o presidente do clube explica:
“Estamos agora a melhorar as infraestruturas e vamos tentar arranjar uma
maneira de podermos voltar a vender
bebidas alcoólicas.”
Outro clube do concelho de Torres Novas, que está também bastante
afectado por esta proibição, é o Clube
Desportivo Operário Meiaviense, que
disputa o campeonato distrital da 2º
Divisão. O Clube da Meia Via viu-se
proibido, pela primeira, vez de vender
bebidas num jogo que atraía bastante público ao campo. O prejuízo foi
enorme.
Normalmente, estes clubes que
competem nos campeonatos distritais costumam utilizar as receitas do
bar para pagar o policiamento nos
campos durante os jogos. Com esta
proibição tornou-se mais difícil para
o clube pagar o policiamento.
Carlos Domingos é o tesoureiro do
Meiaviense. Para ele, isto é “uma situação
Os clubes
precisam
das receitas
do bar para pagar
o policiamento
dos jogos
muito difícil para o clube, pois as receitas
do bar são uma fonte de rendimento
muito importante e as da bilheteira não
dão para nada…” O dinheiro da bilheteira não dá para grande coisa, pois sendo o Meiaviense um clube da 2º Divisão
Distrital não pode cobrar muito pela
entrada. Além disso, o clube da Meia Via
vê-se ainda com outros gastos, nomeadamente com as deslocações. Este ano a
série em que o clube ficou leva-os a ter de
efectuar viagens de grandes distâncias.
Os adeptos também não se conformam com esta situação. José Maurício
de Carvalho, adepto do Meiaviense,
considera que “estão a matar o futebol regional, onde as receitas vêm
de uma simples cotização mensal
e, obviamente, dos pequenos bares
instalados nos campos”. Quanto às
consequências, este adepto não tem
dúvidas: “Privados desta receita, os
clubes regionais não têm qualquer
hipótese de continuar a sobreviver.”
Do lado do Assentis, o adepto Carlos
acha que se “devia deixar de pagar à polícia pois o dinheiro que os clubes fazem
no bar vai para pagar o policiamento
no campo”. Esta proposta poderia ser
apresentada como forma de protesto,
mas isso iria acabar por prejudicar mais
os clubes. Sem policiamento o árbitro
não teria segurança para iniciar uma
partida. Segurança essa que é obrigatória nos campeonatos.
Cabe agora aos clubes tentarem arranjar formas de voltar a vender bebidas
alcoólicas nos campos para não acumularem prejuízos.
Lei do tabaco
Diferenças entre Portugal e Espanha
Ana Raquel Simões
e Ana Rita Ferreira
Desde o dia 1 de Janeiro de 2008, a lei anti-tabaco entrou em vigor em Portugal. A
partir desse dia, é proibido fumar em locais
públicos fechados, tais como: restaurantes,
cafés e pastelarias. Esta atitude aplica-se desde
que estes estabelecimentos não disponham
das condições mínimas necessárias, como os
extractores de fumo para a rua, e áreas com
menos de 100 m2.
Apesar de toda a controvérsia causada por esta
nova lei, e muitos defenderem que Portugal não
está a ser rigoroso o suficiente para diminuir, ao
máximo, os fumadores passivos involuntários,
ao compararmos a aplicação desta mesma lei em
Espanha, chegamos à conclusão de que, afinal,
não somos tão benevolentes como parece.
Em vigor desde o dia 1 de Janeiro de 2006,
a lei anti-tabágica em Espanha, apesar de ser
aplicada da mesma forma que em Portugal,
pelo menos teoricamente, não teve o mesmo
efeito na prática.
No país vizinho, só é realmente proibido
fumar se na porta do estabelecimento estiver
afixado isso mesmo, caso contrário, pode-se
fumar livremente. Filipe Fernandes, português
emigrado em Espanha há cerca de três anos,
assistiu de perto às mudanças que vieram juntamente com a lei anti-tabaco: “Não houve grande
impacto, pois os proprietários dos estabelecimentos puderam optar por aderir ou não.”
Em Portugal tal não foi possível, pois caso
não quisessem aderir à nova lei, era necessário
adaptar os estabelecimentos, o que acarreta,
logicamente, despesas. Isto levou vários proprietários, sem condições nem possibilidades,
a aceitarem a nova lei e a sujeitarem-se a uma
possível perda de clientes, que preferem procurar um local onde se possam sentar, tomar o seu
café e fumar um cigarro descansadamente.
Naturalmente, em Espanha, sucedeu-se o
mesmo: “Só nos sítios onde se deixou de poder
fumar é que os clientes diminuíram”. Filipe
Fernandes acrescenta ainda: “Na minha opinião, a lei em Portugal é muito mais rigorosa e
notável que em Espanha. Lá não é, nem foi, tão
visível quanto em Portugal. Há mais espaço de
manobra na sua aplicabilidade.”
Elsa Coxinho, proprietária de um bar em
Abrantes, disse concordar com a lei anti-tabaco e justifica a sua posição: “Não podemos
obrigar ninguém a suportar o fumo do tabaco”.
Defende, por isso, que as pessoas têm o direito
de escolher entre estabelecimentos para fumadores ou para não fumadores. Contudo, optou
por abrir o bar para fumadores, visto que “não
existem muitos espaços para fumadores” em
Abrantes. Caso o bar tivesse mais de 100 m2 e
fosse obrigada a optar por um estabelecimento
com as duas áreas, para fumadores e não fumadores, “nem sequer abriria o bar” – garante
Elsa Coxinho. O sistema de ventilação, pelo
qual optou, pareceu-lhe o mais indicado, pois
pelo que se apercebeu “tem uma boa extracção
de fumo”. “À noite tenho a casa cheia, com
muitas pessoas a fumar, e não existe fumo no
ar”, certifica a proprietária.
HiperMed
PUB
Representação de Material Médico, Lda.
Praça Barão da Batalha, 40 – 1º
2200-365 Abrantes
Tel: 241 362 369 Fax: 241 377 101
www.hipermed.pt
E-mail: [email protected]
Brocas, Implantes, Endo Mecanizada, Suturas, Branqueamento,
Instrumental Clínico e Cirúrgico, Compósitos, etc.
18 | ESTA JORNAL • 11 de Junho de 2008
PROIBIÇÕES
Falta informação
e divulgação
Afinal, o que é o
vegetarianismo?
joão car valho
Lisboa é a cidade europeia
restaurante com frequência,
com mais restaurantes alterpode-se ainda preparar a conativos que permitem uma alimida em casa de véspera e
mentação vegetariana. Mas isso,
levá-la numa embalagem térpouca gente sabe, porque falta
mica.” Quanto à questão dos
divulgação. Há mais de 10 anos
custos de uma alimentação
que instituições internacionais,
sem carnes, a AVP não tem
acreditadas na área da nutrição,
dúvidas: “A alimentação veadvogam a alimentação vegegetariana e vegana adequadas
tariana e vegana equilibradas
são mais económicas do que a
como “adequadas a qualquer
omnívora, basta estar-se bem
idade ou estado de vida, podeninformado e ter um mínimo
do até prevenir e curar muitos
de bom senso na escolha e
problemas de saúde. Mas isto,
preparação dos alimentos.”
também quase ninguém sabeUm dos problemas idenrá. E quantas pessoas saberão
tificados é que, por vezes, a
que desportistas famosos como
comunicação social não conCarl Lewis (atletismo), Martina
tribui da melhor forma para
Navratilova (tenista) e Edwin
que a generalidade das pessoas
Moses (campeão olímpico),
fique bem informada sobre a
entre muitos outros, conseguialimentação vegetariana. A
ram grandes vitórias seguindo
AVP diz que numa das reporuma alimentação vegana ou
tagens mais polémicas sobre
vegetariana?
o assunto (emitada pela SIC
Estes exemplos de informae publicada na Visão), “salta à
ções pouco conhecidas são
vista o facto de que o jornalista
lançados pela Associação Veque se propôs a adoptar uma
getariana Portuguesa (AVP),
alimentação vegana durante
criada em 2004, por um grudois meses não estar minimapo de amigos e conhecidos, a
mente informado sobre vegapensar na grande lacuna de dinismo (“vegetalianismo” ou
vulgação, promoção, informa“vegetarianismo estrito” como
ção e apoio ao vegetarianismo
lhe chamam na reportagem)”.
em Portugal. Oficializada em
E acrescenta: “Como não foi
2006, a AVP tem vindo a ve- Vegetarianismo. lnteresse crescente numa alimentação saudável
aconselhado por um nutriciorificar “um interesse crescente
nista com conhecimentos na
por uma alimentação saudável, pelo ambiente sendo suficientes para uma dieta equilibrada e área e nem sequer se informou sobre o assunto
e pelos valores éticos da defesa dos Direitos saudável.”
- o que qualquer pessoa que altere o seu regime
dos Animais”, recebendo várias mensagens
Por outro lado, a AVP assegura que “cada alimentar faz sempre ou deve fazer - obviacom questões e pedidos de conselhos sobre vez existem mais restaurantes vegetarianos mente que se alimentou de forma deficitária,
vegetarianismo.
em Portugal e no site da AVP pode ser con- pois como quis fazer uma alimentação igual
Perante a alegada dificuldade em se encontrar sultada uma lista onde se poderá verificar à omnívora mas sem os produtos animais,
alimentos necessários a uma dieta vegetariana, aquele/s que ficam mais perto da região on- não partiu à descoberta das bases naturais
sobretudo fora dos grandes centros urbanos, de vive e trabalha”. Além de que “todos os da alimentação vegana (cereais integrais, lea AVP explica: “Apesar dos substitutos como restaurantes em geral dispõem de vegetais, guminosas, legumes, vegetais, frutas, frutos
o Tofu e o Seitan poderem não se encontrar arroz/batata/massa, leguminosas para acom- secos, sementes oleaginosas, óleos vegetais),
com facilidade fora das grandes cidades, não panhamento, com as quais se pode pedir para dando antes preferência aos produtos mais
são obrigatoriamente necessários para seguir preparar um prato vegetariano”. E soluções processados e industrializados (como burguers
uma alimentação vegetariana, sendo que todos não faltam, para quem pretende tornar-se e rissóis fritos de soja, tofu e seitan, bebida
os alimentos da roda alimentar vegetariana vegetariano: “Em casos em que seja neces- de soja, etc.)”. A perda de peso e a descida de
(vegetais, leguminosas, frutas, frutos secos, sário fazer refeições diariamente como na zinco, vitamina B12, ácido fólico e ferro nas
sementes e óleos vegetais, cereais) existem em pausa de almoço, para além desta solução, que análises do repórter resultam, segundo a AVP,
qualquer mercado, mercearia ou supermercado, pode até evoluir caso se frequente o mesmo de “vários erros alimentares”.
Segundo o Centro Vegetariano,
“vegetariano é quem se alimenta
basicamente de grãos, sementes, vegetais,
cereais e fruta, com ou sem o uso de
lacticínios e ovos”, o que automaticamente
exclui da ementa todo o tipo de carnes
incluindo peixe e frango. Os tipos de dietas
mais populares são as semi-vegetarianas
(que não é bem vista pela comunidade
vegetariana porque consomem peixe,
marisco e até frango), a ovo-lacteovegetariana, a lacto-vegetariana, a ovovegetariana, a vegana (também designados
veganistas ou pelo termo inglês “vegan”)
e ainda a frutívora e a crudívora. Os ovolacteos-vegetarianos consomem ovos e
lacticínios, os ovo-vegetarianos ovos, mas
não lacticínios, e os lacteo-vegetarianos
lacticínios e não ovos. Os veganos excluem
todo o tipo de produtos animais da
sua dieta e também vestuários feitos de
materiais de origem animal e cosméticos
testados em animais. Por fim, os frutívoros
que só se alimentam de frutas, grãos e
sementes, recusam a matar as plantas para
se alimentarem, enquanto os crudívoros se
alimentam unicamente de alimentos crus,
podendo ou não incluir o leite.
O vegetarianismo é uma decisão
importante na vida de uma pessoa. Não
existem praticamente dois vegetarianos
que sigam uma dieta igual e pelas mesmas
razões, pois essas razões podem ser éticas,
religiosas ou até de saúde.
Segundo a Associação Vegetariana
Portuguesa, “estudos médicos têm provado
que grande parte dos cancros, doenças
cardiovasculares, diabetes, obesidade,
impotência e doenças degenerativas
estão associadas ao consumo de carne
e outros produtos de origem animal
devido às hormonas, pesticidas e
antibióticos que ficam no seu organismo e
consequentemente as pessoas consomem.”
Já outras pessoas aderem ao
vegetarianismo por motivos éticos, visto
que “está cientificamente provado que
todos os animais com sistema nervoso
organizado (mamíferos, aves, répteis…)
têm tal como os humanos a capacidade
de sentir dor, medo, frio, calor, alegria,
angústia, ansiedade, de manifestar o
desejo de não morrer...” Ao reconhecer
que os animais têm o direito de não sofrer
e o direito à vida, o vegetarianismo surge
como uma opção natural que abdica da
contribuição para o sofrimento do animal.
“Pelo conhecimento, pela educação e por um mundo melhor!”
joão car valho
”Cristina Rodrigues é vegetariana
e uma das fundadoras do Centro Vegetariano. Colabora com o centro na
gestão de conteúdos web, redacção de
artigos, tradução, revisão, divulgação
e desde Maio de 2004 coordena as
actividades do projecto.
No princípio, o Centro Vegetariano
era uma simples página de Internet,
mas sempre em crescimento, sobretudo nos últimos três anos. O número
de visitantes e de registos duplicou,
pois, há cada vez mais portugueses
que procuram informar-se e alterar os
seus hábitos alimentares. “As pessoas
preocupam-se cada vez mais com a
origem dos alimentos e com as con-
sequências que o seu estilo de vida
tem no ambiente e na saúde.”
No início, o centro só tinha como
sócios os colaboradores voluntários
enquanto os visitantes apenas se inscreviam para receber gratuitamente
um boletim informativo. Data de
Abril deste ano, o começo da aceitação de sócios e que até este momento
conta com cerca de 3200 inscritos.
O centro vegetariano foi criado por
um grupo de estudantes da Universidade de Coimbra, no ano de 2001, sediado
em Oliveira do Hospital, Distrito de
Coimbra. “Como não havia muita informação na internet acerca do vegetarianismo, decidimos criar uma página
web informativa, abrangente e aberta à
participação de todos” – inicia Cristina
Rodrigues. O objectivo principal do
centro é disponibilizar na internet informação e recursos sobre o vegetarianismo e conta com seis páginas (página
principal, receitas, literatura, classificados, fórum e galeria), um chat e uma
loja online com quase 300 referências
de produtos vegetarianos. O lema do
Centro Vegetariano foi, desde o início,
“pelo conhecimento, pela educação, por
um mundo melhor!”, reforça.
No caso de ainda haver dificuldade
em encontrar produtos vegetarianos,
existem actualmente algumas lojas
online com produtos para vegetaria-
nos, pelo que qualquer pessoa pode
receber comodamente as compras em
casa, esteja onde estiver.
Em relação a restaurantes, a oferta
é ainda escassa, em alguns pontos do
país, mas se for ovo-lacteo-vegetariano,
facilmente em qualquer restaurante pode pedir por exemplo, uma omeleta. Os
restaurantes étnicos são também uma
excelente alternativa, pois na maior
parte dos restaurantes chineses, italianos, mexicanos, indianos e israelitas se
encontram pratos vegetarianos. “De
resto, em quase todos os restaurantes
se arranja uma sopa sem nada de origem animal e um prato de arroz com
legumes.” L.S.
11 de Junho de 2008 • ESTA JORNAL | 19
ALTERNATIVAS
Participe na avaliação do ESTAjornal em:
www.estajornal.blogspot.com
Carsóscopio, centro de ciência do Alviela
Ver, ouvir
e sentir
como um
morcego
Fábio Carvalho
Localizado no complexo das Nascentes do Rio Alviela, em Alcanena,
o Carsoscópio é um projecto promovido pela Câmara Municipal de
Alcanena com o apoio da Agência
Nacional para a Cultura Cientifica
e Tecnológica, em parceria com o
Parque Natural da Serra De Aire e
Candeeiros e com a Escola Superior
de Tecnologia e Gestão de Leiria.
O Carsoscópio pretende dar a
conhecer a região, a importância
da Nascente do Alviela
e
a zona envolvente.
O estranho nome
do projecto deriva
da palavra Carso,
que está relacionada com a rocha
cársica ou rocha
calcária. Na realidade, a paisagem
envolvente do Car-
soscópio é caracterizada por
esta rocha.
As monitoras não se cansam de dizer que este é um
centro onde toda a tecnologia é 100% nacional e desde
que foi inaugurado a 15 de
Dezembro de 2007, pelo Presidente da República Cavaco Silva, não
tem parado de receber visitantes. As
estatísticas mostram que o Carsoscópio já ultrapassou a barreira dos 7.000
visitantes. E o número tende
a aumentar.
Na recepção a azáfama
é grande. O telefone está
sempre a tocar e já se marca um dia para receber
um grupo de 100 pessoas. Na sua maioria, os
visitantes são alunos
que vêm de escolas de
todo o país para visitar o Carsoscópio.
Diariamente, são
várias as pessoas
que visitam
o centro.
As monitoras
não param pois, por vezes, é grupo atrás de grupo. De Vouzela veio um grupo, que ficou na zona
dois dias para poder visitar o Centro
e as Nascentes do Alviela. Depois de
se dividir o grupo, é necessário fazer
uma pequena introdução para que se
possa explicar aos visitantes um pouco mais do Centro de Ciência Viva do
Alviela.
O Carsoscópio
é dividido por
três exposições:
o Geódromo, o
Climatógrafo e
o Quiroptário. E
nada melhor para começar esta
visita do que uma
“Por favor, não
matem mais
morcegos...”
Dinossáurios passaram pela Serra de Aire e Candeeiros
Pegadas com história
Situado no Parque Natural da Serra
de Aire e Candeeiros, na Pedreira do
Galinha, junto à localidade do Bairro,
no concelho de Ourém, a caminho de
Fátima, estão as pegadas dos maiores
animais que alguma vez passearam
na terra. Estas pegadas mantiveramse preservadas durante cerca de 175
milhões de anos, tendo sido apenas
reveladas durante a exploração da
Pedreira do Galinha.
Logo ali se uniram esforços de
forma a preservar esta riqueza história. O dono da pedreira, autarcas
e outras entidades, como Instituto
de Conservação da Natureza em
cooperação com o Laboratório Nacional de Engenharia Civil, o Museu
de História Natural e o Centro de
Geologia da Universidade de Lisboa,
rapidamente elaboraram projectos
de conservação e restauro
da Laje e estabilidade dos Taludes.
Assim, hoje é possível visitar aquilo que é considerado como os maiores trilhos de Saurópodes do Mundo.
Alguns trilhos apresentam mais de
100 metros de comprimento.
Os Saurópodes, uns dos maiores
dinossáurios que vaguearam pela
terra, eram herbívoros. Eram quadrúpedes, os seus corpos eram enormes, com um pescoço muito
comprido que terminava em
uma cabeça muito pequena.
Quem quiser visitar as Pegadas começa por assistir
alucinante e
excitante viagem no tempo.
O Geódromo é
um simulador de realidade virtual, produzido pela Escola
Superior de Tecnologia e Gestão de
Leiria, que leva os visitantes até há
175 milhões de anos, até ao tempo
em que os dinossáurios vagueavam
pela Serra de Aire. O Geódromo leva-nos ainda até à formação da terra
e dos continentes
e especialmente
à região da Serra de Aire e das
nascentes do Alviela.
O grupo que
veio do norte do
país não se intimidou com esta
a um vídeo que nos leva à formação
dos continentes, e nos conta as história dos dinossáurios, principalmente
a história das pegadas da Pedreira
do Galinha, contando com a colaboração de vários entendidos como
historiadores do Museu Nacional
de História.
Depois o visitante fará um percurso pedestre onde existem seis
estações antes de chegar às pegadas.
Nessas estações o visitante poderá
ler vários painéis informativos, que
dão mais elementos sobre os dinossáurios, as pegadas e a região. E pode
ainda visitar o Jardim Jurássico, que
pretende recriar a espectacular vegetação existente naquele período.
F. C.
tecnologia e partiu para a viagem.
No final, o sentimento era unânime:
foi “espectacular, até dá vontade de
repetir a sensação”.
Depois da alucinante viagem no
simulador algo mais calmo, seguimos
para o Climatógrafo. No Climatógrafo, também produzido pela Escola
Superior de Tecnologia e Gestão de
Leiria, assistimos ao ciclo da água
do Rio Alviela em todas as estações
do ano. Tudo isto num filme a três
dimensões.
Por fim vamos até ao mundo dos
morcegos. No Quiroptário vamos
perceber melhor como vivem os
Morcegos cavernícolas daquela região onde habita uma das maiores
colónias do país, com uma população de cerca de 5.000 morcegos. No
Quiroptário é possível acompanhar
esta colónia através de uma câmara de infravermelhos montada na
gruta, apelidado pelas monitoras
do centro como o “Big Brother” dos
Morcegos, que nos permite ver em
tempo real entre Abril e Setembro,
ou em vídeos gravados nos restantes
meses, os habitantes daquela gruta.
No Quiroptário podemos entrar na
pele destes animais da noite e saber,
através de vários aparelhos interactivos, como é ter a audição de um
morcego ou sentir-se um verdadeiro
e experimentar a sensação de se estar
de pernas para o ar. E já imaginou ser
possível ver com os ouvidos?
A monitora apelava aos visitantes:
“Por favor não matem mais morcegos…” No grupo contavam-se
histórias de encontros imediatos
com estes animais da noite, que acabavam por não correr bem para os
animais.
Joaquim Santos veio de Vouzela para visitar o Centro e não teve
dúvidas quanto à visita: “Foi uma
experiência inesquecível, adorei a
visita e também a zona das nascentes do rio Alviela. É muito bonito.”
Opinião
Portugal faz a diferença?
João Carvalho
Portugal tem um passado rico em história e aventuras, mas neste momento Portugal não vive do passado, Portugal procura investir no futuro e criar condições
para a estabilidade, procura encontrar o melhor rumo para com as exigências das
União Europeia.
O Governo português tem um plano rigoroso e inovador que visa o desenvolvimento de Portugal, o Plano Tecnológico. Este plano projecta no território, medidas que
visam uma estratégia de crescimento com base no conhecimento, na tecnologia
e na inovação, que em traços gerais permite melhores empregos, uma população
mais qualificada, infra-estruturas modernas, uma rede de comunicação mais
capacitada para responder as necessidades da população, entre outras. Portugal
aposta no futuro, mesmo sabendo que é dos países da União Europeia que mais
depende de energias não-renováveis, é também um dos países que neste momento
mais aposta em energias alternativas, e dos países com melhores condições para
explorar as energias que não são prejudiciais ao nosso planeta.
Neste momento, somos um povo apostador, um povo que procura mudar o seu
rumo, queremos ser mais qualificados, ter melhores condições de vida, requalificar
as áreas urbanas, povoar o interior, aumentar a taxa de natalidade, criar melhores
vias de comunicação, promover melhores condições laborais, potenciar o turismo, entre muitas coisas. Temos condições para fazer a diferença, e apostamos
em todos os campos e direcções. Portugal neste momento pensa no presente a
olhar para o futuro.
Queremos ser fortes…Queremos ser melhores… Queremos ter a capacidade de
outrora, de rivalizar com as maiores potências mundiais.
País de lutadores, com tradições vinculadas nas suas raízes, somos um povo que
se revê no passado e que se orgulha dos seus gloriosos tempos. Vivemos tempos
difíceis e complicados, mas nem por isso os “tugas” deixam de acreditar no futuro,
e olhar para todas as frentes.
20 | ESTA JORNAL • 11 de Junho de 2008
ALTERNATIVAS
Avis com nova
aposta no turismo
dr
Ana Marta Sénica
Investimento. Os painéis fotovoltaicos produzem energia limpa e amiga do ambiente
Energias Renováveis, soluções para o futuro
Sol de muita dura
A maior Central Solar do mundo encontra-se em fase de construção no Alentejo.
Durante 25 anos, produzirá energia limpa suficiente para 30.000 lares e evitará
a emissão de 152.000 toneladas de gases por ano.
Noélia Barradas
O planeta encontra-se em mudança, o aquecimento global é um
facto que não poderemos ignorar
e requer medidas urgentes, a nível
de comportamento das sociedades,
que parecem não vergar perante
os factos.
A exploração, levada aos limites,
mostra que estamos a consumir
drasticamente recursos naturais e
que estes começam a entrar em ruptura. Exemplos disso são o petróleo e gás natural, entre outros. Para
além desta ruptura, não se pode
pôr de parte as suas características
altamente poluentes que agravam a
“saúde” do nosso velho planeta.
As energias renováveis surgem
como tábua de salvação no que diz
respeito à produção de energia, com
a mais-valia de se caracterizarem
como não poluentes. O sol apresenta-se como uma das energias
renováveis, é a este que se deve a
construção da maior Central Solar
do mundo, de nome Amper Central
Solar SA.
A Amper Central Solar SA é um
projecto com um investimento de
237,6 milhões de euros, propriedade da espanhola Acciona (líder em
energias renováveis), situado em
Amareleja (considerada um dos
pontos mais quentes de Portugal),
concelho de Moura.
O projecto, segundo Francisco
Aleixo, director-geral da Amper
Central Solar SA consiste, “na instalação de painéis solares fotovoltaicos de silício policristalino, montados sobre seguidores solares. Este
ambicioso projecto apresenta-se
dividido em duas fases: “A primeira
consiste na ligação de 3,2 MW, e a
segunda da totalidade da potência.
A primeira fase ligará a subestação
da Central Solar à Subestação de
Amareleja, através de uma linha
de 30 kV, e na segunda ligar-se-á
a central à subestação de Alqueva,
através de uma linha de 60 kV.”
Actualmente a Central “já se
encontra ligada a primeira fase da
central, desde Março de 2008, e a
instalação da restante Central encontra-se 60% concluída”.
Este projecto pioneiro prevê que
a sua total construção esteja concluída no prazo de um ano e a exploração durante 25 anos. Em termos
ambientais será de notar a premissa
“amiga do ambiente” já que a sua exploração permitirá a “produção de
energia completamente limpa suficiente para abastecer 30.000 lares
com consumo médio português, e
evitará a emissão de 152.000 toneladas, por ano, de gases com efeito de
estufa para a atmosfera bem como
de outros gases poluentes”.
A Amper Central Solar SA aposta
nas energias não poluentes e renováveis como fonte de investimento,
explorando aquilo que os recursos
naturais proporcionam. A protecção do ambiente é palavra de ordem
e apostar na sua conservação é um
dever.
O que é um seguidor?
O que é um painel solar?
Um seguidor é uma estrutura sobre a qual são montados
os painéis solares e que acompanha a trajectória do sol ao
longo do dia. Os seguidores dividem-se em dois grupos
principais, os uniaxiais e os biaxiais. Os primeiros seguem
a trajectória do sol rodando sobre apenas um eixo
(vertical ou horizontal), e os segundos têm movimento
de seguimento segundo os dois eixos. Os que estão a ser
instalados na Central Fotovoltaica de Moura são uniaxiais,
rodando sobre o eixo vertical.
Um painel solar fotovoltaico é um equipamento
de produção de energia que converte a luz solar
directamente em electricidade. No caso da Central de
Moura, a tecnologia utilizada é a dos painéis constituídos
por células fotovoltaicas de cilicio policristalino.
Um novo projecto no sector do turismo irá nascer em Avis a Fevereiro de
2009. Procurará trazer não só amantes do lazer, como acolher atletas de
remo de alta competição. Avizaqcua
um projecto remando em direcção
ao futuro.
É certo que há cada vez mais a procura de novos paraísos de sonho. Aliar
a natureza ao lazer é cada vez mais um
ponto forte do turismo português; a
procura da tranquilidade e do descanso do “guerreiro” passa actualmente
por propostas em pequenas vilas e
aldeias de turismo rural. O norte alentejano quer e procura trazer até si estes
turistas. Avis não é excepção. Pequena
vila, do distrito de Portalegre com toda
a sua carga histórica, dando nome à
mais emblemática dinastia portuguesa, acolheu um
inovador projecto afiançando
acrescentar ao
seu património
cultural e histórico: Avizaqcua.
Conciliar o
desfrute da natureza com o desporto é um dos
pontos altos deste traçado. Nascido
pelas mãos de Pedro Veiga e Klaus
Gruner, da Spirituc, criou-se um hotel
com um design vanguardista que facilmente se entrelaça com a paisagem
da vila alentejana. De quatro estrelas,
denominada Herdade da Cortesia
Real, esta unidade foi desenhada com
base na necessidade e na comodidade
de todos os seus visitantes, apostando
também fortemente num segmento
de mercado turístico em expansão,
o de albergar atletas e equipas de alta
competição de remo. A fácil acessibilidade à barragem do Maranhão, toda
a sua natureza envolvente, o silêncio
tranquilizante extasiado num espelho
de água com cerca de 50 quilómetros
de extensão, proporciona aos amantes
do desporto o cenário e concentração
ideal.
Esboçado em 2004, este centro passará a fazer parte de umas das
atracções de Avis.
Finalizado até ao
primeiro trimestre do próximo
ano promete ser
um passo para
o futuro da vila
e do norte alentejano.
Observando as estrelas
em Constância
Inaugurado em 1994, o Centro de
Ciência Viva de Constância (CCVC),
situado no alto de Santa Bárbara, temse revelado um espaço inovador para
o município de Constância, atraindo
todos os anos inúmeros visitantes em
busca de uma aventura no mundo da
Astronomia.
Com uma envolvente montanhosa e arborizada, o parque temático
dispõe os seus equipamentos, auditório, planetário e observatório,
ao ar livre. Assim, e de acordo com
a informação disponível online, os
seus visitantes podem não só estar
em contacto com a ciência, como
também em contacto pleno com a
natureza.
O CCVC encontra-se aberto todo o
ano, com várias actividades, de entre
as quais se pode destacar o encontro
anual de amantes de Astronomia, a
designada Astrofesta, projecto partilhado pela rede de centros de Ciência
Viva de Portugal, da qual este espaço
faz parte, e onde qualquer um pode
espreitar pelos mais diversos telescópios, assistir a palestras e conviver
com astrónomos experientes.
Este espaço reservado para a ciência é ideal para uma tarde bem
passada em família, onde o despertar
de interesse dos mais novos para a
observação das estrelas e dos céus
portugueses através das lentes de um
telescópio é garantido.T.G.
tânia pissarra
Astronomia. Em contacto com a ciência e com a natureza
11 de Junho de 2008 • ESTA JORNAL | 21
ALTERNATIVAS
Participe na avaliação do ESTAjornal em:
www.estajornal.blogspot.com
“Temos de ser
inovadores”
“Temos recebido
vários estágios”
“Temos milhares
de utilizações”
Manuel Jorge Valamatos, vereador da Câmara de Abrantes
“A Cidade Desportiva tem-se revelado como
um super-amigo da restauração e da hotelaria”
Manuel Jorge Séneca Luz Valamatos dos Reis, vereador da Câmara Municipal de Abrantes, nasceu no Tramagal e é licenciado
em Educação Física, pela Escola Superior de Educação de Castelo-Branco. No seu segundo mandato, este jovem autarca fala da
grande aposta que Abrantes faz no desporto e explica qual o papel da Cidade Desportiva.
Miline Alves
Marisa Rodrigues
e Milene Alves
Como é que o complexo desportivo
veio beneficiar Abrantes e o país?
No âmbito desportivo, Abrantes era
uma cidade com massa crítica fundamentalmente ao nível do associativismo. Este complexo é o grande suporte
da vida desportiva do concelho. É, de
facto, uma força determinante e substancial do associativismo desportivo.
O concelho é muito grande, com comunidades bem dispersas umas das
outras. A actividade desportiva como
suporte nesses pólos de acção sempre
foi determinante.
Abrantes era um concelho com algumas estruturas desportivas, mas sem
uma identidade forte do ponto de vista
infra-estrutural. Agora começa a ter, do
ponto de vista do atletismo, do futebol,
da natação, do basebol, do râguebi, um
conjunto de estruturas capazes de atrair
pessoas ao nosso concelho, à nossa região e ao nosso país.
Este associativismo que existia nas
regiões de Abrantes leva à construção desta Cidade Desportiva?
Claro que sim. A Cidade Desportiva
ainda não está concluída. Há um elemento aqui que é a chave na conclusão
de um ciclo, que é o Pavilhão Multiusos.
É a actividade expressa por esses movimentos associativos que também nos
leva a pensar que este pavilhão terá de
ser realizado.
A Cidade Desportiva e todas as
actividades aqui realizadas são um
meio de trazer lucro para a cidade
de Abrantes?
A Cidade Desportiva tem-se revelado como um super-amigo da
restauração e da hotelaria. A Cidade
Desportiva é uma estrutura que nos
últimos tempos tem sido determinante
ao conduzir os fluxos de pessoas para
Abrantes. Porque, quer ao nível dos
estágios, dos treinos, e das competições
que têm acontecido em Abrantes, a
Cidade Desportiva é determinante no
reforço e no aumento substancial de
pessoas nos nossos hotéis e nos nossos
restaurantes.
Que tipo de actividades são aqui
organizadas?
Nós vivemos com dois tipos de situações. Vivemos com o quotidiano
dos nossos clubes, onde temos uma
abrangência muito forte, sobretudo
nos escalões de formação em várias
Manuel Reis. “Não estamos agarrados a uma modalidade desportiva”
modalidades. Respondemos muito ao
basquetebol, à natação, ao atletismo, ao
futebol, bem como ao judo e à dança.
Ao fim-de-semana isso expressa-se
fundamentalmente ao nível das competições, mas também no âmbito do
recreio e do lazer. Depois, temos o outro
lado de gestão e organização que tem a
ver com os eventos que fazemos, quer
no âmbito local, regional, nacional,
quer internacional. Portanto, há aqui
dois universos diferentes.
O futuro Multiusos de Abrantes
O Pavilhão Multiusos surge numa
lógica de complemento da Cidade
Desportiva, mas neste caso especifico
para as modalidades ‘indor’. A sua futura localização será à entrada da Cidade
Desportiva, aguardando-se a ajuda do
QREN para começar esta obra de grande envergadura. Sendo uma obra que
vai custar 5 milhões de euros, é necessária a ajuda da comunidade europeia
para a sua futura evolução.
Este complexo desportivo terá dois
campos em simultâneo e 2.500 lugares sentados, não pretendendo, segundo o vereador Valamatos, ‘roubar’
espectáculos ao Multiusos de Torres
Novas. O seu maior objectivo é “que
Abrantes possa potencializar, também, esta dinâmica e entusiasmo em
torno desta região”.
A obra demorará 18 meses a ser construída, por isso, ainda não se sabe, ao
certo, a data de inauguração, na medida em que existe o impasse financeiro.
Quanto à construção deste Multiusos
e ao impulso que ele poderá dar às
eleições do próximo ano, o vereador
diz apenas que “vai deixar os abrantinos contentes”, até porque “todas as
obras trazem satisfação às pessoas”.
Quem frequenta a Cidade Desportiva?
Temos milhares de utilizações, de
todas as infra-estruturas do concelho,
de todas as idades, de muitas modalidades, de muitos sítios do país, da Europa
e até do mundo.
Temos de jogar aqui com a pesca, a
canoagem no centro náutico da Aldeia
do Mato, a natação com a prova “10km
a nadar”, que entra dentro do circuito
internacional e vai entrar dentro do circuito mundial. Temos acolhido vários
estágios da Confederação de Râguebi
em Abrantes e dezenas de jovens. No
âmbito do atletismo, do basquetebol, da
natação, do pólo aquático e do basebol
temos recebido muitos estágios e treinos em várias áreas e em vários espaços
desportivos do nosso concelho.
Visto que recebem pessoas de todo
o mundo, as infra-estruturas estão
equipadas com placas de sinalização em Inglês e Francês?
Não, de facto não temos. Temos
alguns documentos de apresentação
das nossas infra-estruturas desportivas
que também têm tradução em Inglês.
Sempre que recebemos alguém, temos
o cuidado de, com as entidades reguladoras dessas actividades, tratar toda
a literatura do ponto de vista de como
chegar e onde ficar, para uma melhor
leitura possível. Por exemplo, já estamos
a construir um documento com a Federação Portuguesa de Basebol para que
os clubes, quando chegarem a Lisboa,
para o campeonato da Europa de Basebol 2008, saibam como é que se dirigem
para Abrantes, onde vão ficar, onde vão
comer, como é que se deslocam aqui
e o que vêm encontrar. Fazemos isso
sempre que é necessário.
Que tipo de apoios é que a Câmara
presta para a manutenção da Cidade Desportiva?
Abrantes, nos últimos anos, criou
toda esta dimensão em termos de infraestruturas, mas isto arrasta um peso
significativo nos custos de manutenção,
que têm sido bem justificados, quer pela
qualidade de vida das pessoas, quer pelo
usufruir de infra-estruturas desportivas
ao serviço das suas vidas. Por um lado,
pela resposta e pelos fluxos externos
que têm ocorrido em Abrantes, justifica-se perfeitamente; por outro lado,
deu emprego a muita gente.
Porquê um campo de basebol?
É uma aposta arrojada, mas é uma
aposta determinante. Temos de ser ino-
vadores, ir à procura de coisas novas,
desde que se estabeleçam princípios de
sustentabilidade. O facto de ser o único
campo do país foi algo determinante.
Nós não estamos infinitamente agarrados a uma modalidade desportiva,
nós temos tido a capacidade de, localmente, conseguir que os nossos jovens
e adultos, mas fundamentalmente os
jovens, tenham o maior leque de oportunidades desportivas. Temos tentado
trazer novas modalidades para Abrantes, desde do skate, do BMX ao BTT,
tanto do ponto de vista competitivo,
como do lazer. Nesse sentido, pretendemos trazer mais uma nova modalidade
para junto dos nossos jovens e da nossa
região, valorizar a modalidade do ponto
de vista do país.
Temos recebido vários estágios de
equipas estrangeiras. Para além disso,
tem existido muita dinâmica criada
pela Federação Portuguesa de Basebol em torno deste campo e em torno
de Abrantes. Praticamente todos os
fins-de-semana temos actividades de
basebol. Para além dos acontecimentos
internacionais que projectam o nome
de Abrantes, da região e o país.
Ao fim de um ano de existência da
equipa de basebol, acha que valeu
a pena o investimento?
Claro. O que é verdade é que criámos
o primeiro e único campo do país, conseguimos atrair pessoas para Abrantes.
Conseguimos interessar bastantes jovens e ter aqui uma oportunidade desportiva, encontraram no basebol uma
motivação para voltar ao desporto.
Depois da Cidade Desportiva e de
um projecto para um Multiusos poderá surgir um centro comercial?
Isto é tudo uma bola de neve. O que é
verdade é que surgiu agora um ginásio,
bem pertinho da Cidade Desportiva,
dirigido para as mulheres. E vão continuar a surgir novas infra-estruturas,
também nesta área, porque umas coisas
impulsionam outras.
Abrantes têm-se revelado como uma
cidade cheia de saúde e bem-estar. Temos muitas infra-estruturas desportivas, com potencial para conseguir
atrair pessoas para Abrantes, para viver
e morar aqui, trabalhar cá. O aparecimento de investimentos em hotéis, em
hamburguerias e noutras coisas tem
a ver com estas energias e com estas
correlações. Por isso não me custa nada
acreditar que possa aparecer um conjunto de investimentos associados.
22 | ESTA JORNAL • 11 de Junho de 2008
ALTERNATIVAS
Marisa rodrigues
Vinhos portugueses
apreciados no mundo
“ Há sítios do mundo que são como certas
existências humanas: tudo se conjuga
para que nada falte à sua grandeza e
perfeição. Este Gerês é um deles.”
Miguel Torga, Diário VII
Raquel Simões
Parque Nacional Peneda-Gerês. Os habitantes consideram que os visitantes são uma mais-valia
O paraíso do Minho
Marisa Rodrigues
Foi com o barulho da água do rio
Homem e da natureza selvagem que
percorremos o Parque Nacional da
Peneda-Gêres (PNPG). Com 70.290
hectares, o PNPG abrange os concelhos de Terras de Bouro, Arcos de
Valdevez, Montalegre, Ponte da Barca
e Melgaço. Durante este percurso fomos protegidos pelas serras da Peneda,
do Soajo, Amarela e do Gerês.
Ao longo desta jornada podemos
visualizar as casas, residenciais e hotéis
que fazem o repasto dos turistas, após
os passeios pedestres e a prática das
actividades geradas pelas empresas de
animação turística. Actividades variadas como paintball, moto4, passeios
de barco, tiro com arco, entre muitas
outras. Para além disto tudo, o PNPG
oferece as suas maravilhosas termas,
que em 2007 foram remodeladas, e se
tornaram num verdadeiro SPA Termal, com equipamentos e técnicas
termais modernas, que disponibilizam
tratamentos de fisioterapia, hidroterapia e electroterapia.
Uma das passagens obrigatórias na
visita ao PNPG é o Santuário de São
Bento da Porta Aberta, que se tornou o
santo padroeiro do concelho de Terras
de Bouro pela fé que os habitantes da
zona nele depositam. Assim como a
Via Romana/Geira, que nos mostra o
antigo trajecto que conduzia os legionários de Braga a Astorga e os marcos
miliários.
Durante todo o percurso de carro
estivemos protegidos pelo verde que
cobre todo o Parque, e que transmite um ar puro avassalador, capaz
de cortar o fumo dos carros que
por nós passavam, e também pelo
som da água que escorria em cada
fonte identificada. Após todo este
trajecto, fomos perceber como funciona o PNPG. Assim, contactámos
a sede do Instituto de Conservação
da Natureza (ICN), em Braga, onde
questionámos Céu Osório sobre o
método utilizado para a conservação de todo o território histórico. A
resposta veio por mail: “O método
utilizado é o da conservação com base
no Plano de Ordenamento e outros
instrumentos de gestão que com ele
se relacionam.”
Prevenção contra incêndios
Segundo o ICN, o melhoramento
contínuo do Parque deve-se à divisão
de tarefas entre a biodiversidade e ordenamento, comunicação, vigilância,
florestal, gabinete de apoio jurídico,
gestão financeira, gestão administrativa e de recursos humanos e gestão
financeira. Quando nos referimos à
vaga de incêndios que assolou o Parque, ocorrida em 2006, e como foi superada, Céu Osório afirma terem sido
“reforçados os meios de prevenção,
vigilância e primeira iintervenção em
articulação com as restantes entidades com atribuições na área dos fogos
(GNR, Protecção Civil, Ministério
da Agricultura e Pescas, Autarquias,
Exército)”.
Visto que o PNPG é visitado por
turistas de todo o mundo, impôs-se
saber quais os serviços disponíveis
aos turistas. Céu Osório afiança que
“existem no território do PNPG estruturas a funcionar (dispondo algumas
de informação em inglês e francês) ”,
como é o caso do Centro de Educação
Ambiental do Vidoeiro, da Delegação Técnica de Arcos de Valdevez, da
Porta do PNPG em Montalegre, da
Porta do PNPG em Lamas de Mouro,
entre outras.
No que respeita à relação entre turistas e habitantes da zona, Céu Osório
diz que “os habitantes do PNPG consideram os visitantes uma mais-valia para o território já que podem constituir
uma fonte de receita complementar
para a sua economia familiar e também fonte de trocas culturais”.
O PNPG é a primeira área protegida
do país e a única com categoria de Parque Nacional. Criado em 1971, pelo
Decreto-Lei n.º 187/71, de 8 de Maio,
no âmbito do primitivo regime geral
de protecção da natureza estabelecido
pela Lei n.º 9/70 de 19 de Junho.
Nos últimos anos alguns vinhos portugueses têm sido distinguidos, com
alguns dos mais importantes prémios
a nível internacional e nacional. A casa
Ermelinda Freitas, no concelho de Palmela, e a Adega de Pegões, no concelho
do Montijo, são dois bons exemplos.
Em Portugal, nos últimos anos,
muitos vinhos de várias regiões têm
sido distinguidos no estrangeiro, como
sendo dos melhores vinhos do mundo.
Ermelinda Freitas e Adega de Pegões
são duas importantes cooperativas hoje
em dia no mundo vitivinícola.
A casa Ermelinda Freitas fica situada
em Fernando Pó, na zona privilegiada
da região de Palmela. Leonor Freitas
representa a quarta geração de uma
família ligada desde sempre e com especial atenção aos vinhos. Em 1997
esta casa inicia o engarrafamento com
nome próprio, visto que anteriormente a este ano o vinho produzido nesta
casa era vendido apenas para pessoas
daquela região. Com o aumentar das
vendas, foram feitos investimentos na
construção de uma nova adega, num
centro de vinificação e linha de engarrafamento. Foram também feitos
investimentos ao nível da divulgação,
como por exemplo a publicidade feita
no camião do cantor Toy.
Neste momento, a casa Ermelinda
Freitas está em expansão e um dos
objectivos de Leonor Freitas é tornar
esta casa uma das melhores na rota
dos vinhos portugueses, assim como
promover o turismo e a economia no
concelho de Palmela.
Com poucos anos de vida, a casa
Ermelinda Freitas já ganhou inúmeros
prémios nos concursos mais prestigiados do mundo e também do país, com
as suas principais marcas: “Terras do
Pó”, “Dona Ermelinda” e “Quinta da
Mimosa”.
Leonor Freitas refere ainda que o
grande objectivo desta casa é a qualidade
e que “não investimos para fazer mais,
mas sim para produzir o melhor”.
A Adega de Pegões situada, em Pegões,
concelho do Montijo, foi criada em 1958,
ano em que também tiveram origem os
primeiros vinhos de Pegões. Nos últimos
15 anos, foram feitos investimentos para
modernizar a adega de modo a melhorar
e valorizar os seus vinhos e também para
a promoção destes.
Hoje em dia a Adega de Pegões é
reconhecida nacional e internacionalmente, com inúmeras distinções e
prémios nos concursos de vinhos mais
prestigiados do mundo, com as suas
mais importantes marcas: “Fontanário
de Pegões”, “Adega de Pegões”, “Vale da
Judia”, “Adega de Pegões colheita seleccionada”, “Adega de Pegões moscatel” e
“Adega de Pegões Syrah”.
A Adega de Pegões também investe
muito na publicidade, em alguns estádios de futebol, revistas e placares. É um
investimento de milhares de euros, mas
bastante importante para a promoção
desta cooperativa.
Raquel simões
Golfe rústico atrai turistas aos Açores
Joga-se numa pastagem com erva baixa e sem gado. Se o campo estiver enlameado, calçam-se botas
de cano. Trata-se do golfe rústico, uma nova aposta do sector turístico açoriano.
Paula Faria
No dia 16 Janeiro de 2008, na Bolsa
de Turismo de Lisboa, renovou-se o
Plano de Marketing Estratégico dos
Açores. Privilegiar as particularidades
de cada uma das nove ilhas e considerar o potencial da Região em termos
europeus e mundiais, abrangendo os
mercados da América do Norte, são os
objectivos do Plano de Marketing Estratégico dos Açores para 2008/2010.
No site da Associação de Turismo
dos Açores (ATA), a presidente deste
organismo, considera que “a riqueza
dos Açores reside precisamente no facto
de, num curto espaço territorial, existir
tamanha diversificação de oferta, em
termos paisagísticos, culturais, gastro-
nómicos, entre outros”.
O golfe rústico é a nova aposta do
turismo açoriano. Escreve o jornal Diário Insular, publicado na ilha Terceira,
acrescentando que a direcção regional
do Turismo, a Associação de Turismo
dos Açores e a Casas Açorianas estão
empenhadas em promover esta nova
vertente da modalidade. A directora
regional do turismo, Isabel Barata,
explica àquele jornal, “que se trata de
uma vertente que vale a pena explorar.
Temos uma rede de casas de turismo rural bastante interessante e, para
além disso, esta é uma modalidade que
acarreta muito baixos custos para os
proprietários”.
Para Isabel Barata, em declarações à
revista da Associação Portuguesa das
Agências de Viagens e Tursimo, tem
havido, também, uma aposta no turismo
náutico: “De há ano e meio para cá temos
estado presentes nas principais feiras do
turismo náutico e também continuamos
a apostar no turismo de cruzeiros.” Apesar da pouca divulgação e promoção,
estão a fazer-se grandes esforços para que
os Açores tenham também grandes possibilidades nos produtos ligados ao turismo de saúde e bem estar, porque “neste
momento já estão a aparecer algumas
infra-estruturas, como é o caso do Hotel
Spa das Furnas, que é um hotel termal,
a reabilitação das Furnas da Graciosa,
complementada com a abertura de um
hotel de quatro estrelas, e algumas outras
unidades hoteleiras que também têm
investido no bem estar”, concluiu.
Para que as novas apostas do Governo Regional dos Açores tenham sucesso
é preciso que haja ligações aéreas. A
directora regional do turismo salienta
a grande importância que estas têm
dado aos Açores “tanto mais que hoje
em dia temos voos da Alemanha, Reino Unido, Irlanda, Holanda, Espanha,
dos países nórdicos, em voos charter, e
temos também ligações com os EUA
e Canadá”. Para se juntar a estes países vem aí mais uma: a nova rota Paris
– Terceira. Além da oficialização da
nova rota Paris – Terceira, ainda houve
lugar para se assinar um contrato entre
a Associação de Turismo dos Açores e
o operador francês no valor de 175 mil
euros com vista à promoção dos Açores
naquele destino.
11 de Junho de 2008 • ESTA JORNAL | 23
CRIATIVIDADE
Participe na avaliação do ESTAjornal em:
www.estajornal.blogspot.com
Beijos ao
Rio Tejo
A
rrumou-se a
cozinha num ápice.
Todos se reuniram na sala.
A noite estava mais fria e as
tuas mãos também. Arrepiavam-me a cada toque na
minha nuca. As tuas festas já não estavam
quentes, nem me faziam adormecer como
dantes. Estendida no teu colo, voltei meu
ventre para cima, e pus-me a observar-te.
Meus olhos teimavam em olhar para os
teus cabelos longos, lisos, que pareciam
fios de ouro à luz do candeeiro do tecto. O
teu rosto redondo, salpicado de sinais assimétricos, estava triste. Teus lábios secos,
vincados, em tons de rosa esbranquiçado
apenas ganhavam cor quando humedecias
cuidadosamente com a língua. Daquele
prisma, visto de baixo, parecias eminente,
mas algo me dizia que não estava tudo
bem. Até aqui não conseguia entender o
porquê. Foi com um beijo e um “dorme
com os anjos” que selaste essa noite. Aconchegaste-me nos lençóis, e apagaste a luz
com um sorriso terno. Passei essa noite em
claro, não pelo calor da noite, porque esse
não existia, mas pela preocupação, pelo
instinto que inexplicavelmente me fazia
sentir que algo não estava certo. Cerrava
os olhos com tanta força que me causavam
dor ao tentar abri-los. Só me vinha à ideia
os teus cabelos fios de ouro, os teus lábios
secos, as tuas mãos frias…
Já a noite ia alta e sentiam-se murmúrios
vindos da cozinha. Eram vozes femininas.
Levantei-me movida pela curiosidade, e pé
ante pé, escondida atrás duma estante de
pesados livros dos meus tios que ficaram
por lá esquecidos, esgueirei meus ouvidos
e concentrei-me naquela baixa frequência.
Pouco se percebia. O som do bule da água a
ferver no fogão atrapalhava a concentração.
A tia Zulmira insistia para que minha mãe
tivesse calma, e que tudo iria correr pelo
melhor. Teria de pensar no meu pai e ter
força por mim. Por mim? Mas porquê por
mim? Força para quê? Nada me fazia sent ido,
nada numa cabeça de oito aninhos fazia sentido! O susto
aterrou na minha pessoa com o cacarejar
do Toni fora de horas. Corri para a minha
cama e só de lá saí com o chamamento do
pai já de manhã. Ouviam-se passos pesados do lado da fachada. Eram os vizinhos
que se despediam dos meus pais e dos
meus tios. E eu? Eu não ia? Supostamente
aquele deveria ser o último dia de férias
de Verão com os avós. Ainda em trajes
caseiros e despenteada de tantas voltas na
cama, os meus pais arrumavam as malas
e pediram-me que esperasse por eles na
sala. Nesse dia, o avô estava em casa. O
campo esperava, mas ele estava grudado
no sofá de napa velha. De boina pousada
no cadeirão de madeira maciça, a avó
alisava energicamente e sistematicamente a saia preta desbotada do sol tórrido.
Sentia-se tensão no ar. A atmosfera estava
húmida e o sol escondido pelas nuvens.
Agarrei num pedaço de bolo que sobrou
dos anos e sentei-me junto do avô. O pai
entrou primeiro na sala batendo com as
mãos nas suas pernas pedindo para que
me sentasse no seu colo. Passando suas
mãos volumosas em meus cabelos, disse
em tom baixo e amedrontado “eu e a mãe
temos de falar contigo, tens de ser uma
menina crescida”. Foi nesse instante que
a minha mãe entrou na sala. O meu pequeno coração bateu a um ritmo de mil à
hora, a respiração acelerada, e todo o meu
pequeno corpo sentia a pulsação frenética
em cada batida, em cada artéria, em cada
veia, em todas as minhas extremidades.
As pupilas revestidas de castanho amêndoa igual às do meu avô ganharam água.
Gotas de sal caíram por teu rosto, mãe,
sem pronunciares qualquer palavra. Teus
lábios, tuas mãos estavam iguais ao dia
anterior. Entre soluços e apertos dos braços do pai, explicaste-me o que para uma
simples criança não tem explicação. Nem
a saúde, nem o organismo humano tem
resposta. Foi ali, no dia seguinte
Conto de Ana Marta Sénica
a um dos mais felizes, até
ali a meio da minha infância, que
entendi que a vida não é feita de céus
azuis, hortas perfeitas, verdes campestres,
amarelos giestas, laranjas electrizantes.
Que a vida é feita de desgostos e que podiam entrar na vida daqueles que menos
esperamos, tal como aquele tumor que
te apoderou. Nasceu e cresceu em ti sem
pedir licença. Alimentou-se de ti como
um filho que se alimenta do ventre de sua
mãe. Em meias palavras, de forma a não
me assustares agarraste as minhas mãos.
Recordo que estavam geladas. Nem o teu
corpo conseguia acalentar minha alma. O
avô não falou. Levantou-se sem licença,
arrancando a boina do cadeirão e saindo
porta fora. A avó limpava as lágrimas com
um lenço bem velhinho de quadradinhos
azuis e franjado nas pontas. Pediram-me
que ficasse o resto dessas férias ali. Dizias
que começarias a fazer uns tratamentos
que te deixariam fraca. Mas era para teu
bem. Ouvi tudo até ao fim, explicaste tudo, tintim por tintim, e eu acenei. Acenei,
mas não percebi. Só percebi que não era
nada de bom. O pai estaria junto a ti e
isso, eu percebi.
O céu desde esse dia perdeu a cor, o sol
perdeu o calor, as flores perderam o cheiro
doce, e as sombras perderam a frescura.
Até as tardes animadas com o Jeropiga,
o Toni e o Saraiva tornaram-se tardes
calmas, como que sentissem que algo não
estava bem. O toque aguçado do telefone
ao fim do dia dava um pouco de ânimo
aos restantes dias das férias. Insistias que
estavas bem; perguntavas como tinha
corrido o dia. Quando atendia o pai, já
percebia que estavas cansada ou pior.
De malas aviadas e em poucas horas,
a placa LISBOA já era bem visível. As
primeiras chuvas de Setembro se faziam
sentir. Batiam no vidro do comboio lembrando pequeninas pedras. As árvores
balouçavam freneticamente ao ritmo desenfreado do
última parte
vento. Desejava ver-te, mãe.
Queria ver-te, cheirar-te, abraçar-te com
tanta força como fazia ao abraçar o Jeropiga. Um abraço grande e apertado.
Prometi que não chorava. Rezei a todos
os santinhos que a avó Gertrudes disse.
Esperava que eles me ouvissem. O barulho da cidade era perturbante depois de
tantos meses no campo. Sei que aqui voltei
porque querias ver-me. Já não conseguias
ver-me ao campo. Do outro lado da margem sei que me esperavas no hospital. O
tempo estava como a vida: contra nós. O
Tejo estava como nós: revolto; espumava
com a ondulação, tal como eu espumava
de raiva por saber que não poderia fazer
nada para te ajudar.
Os santinhos não me ajudaram a ver-te
melhorar. Estavas mais magra, um esqueleto doente, amargurado, aniquilado pelo
inquilino indesejado, que se apoderou
sem piedade do seu proprietário. Tinhas
os teus olhinhos amêndoa rodeados por
auréolas amarelas que brilharam na minha
direcção. Até o rosa esbranquiçado de teus
lábios ele te roubou. As tuas mãos arroxeadas do frio agarraram as minhas. Sentia
os teus ossinhos, cartilagens e falanges. O
teu quarto era voltado para o rio. O nosso
Tejo. Dali vias as colinas de Lisboa. Nesse
dia pediste-me que tratasse do pai, do avô
Gaspar e da avó Gertrudes. E assim o fiz.
Pediste-me que sempre que me sentisse
em baixo, me deixasse embriagar pelo
Tejo, e nele depositasse minhas angústias e medos. O caudal do Tejo levaria
as minhas lamúrias até a ti ao céu, onde
ficarias a ajudar.
Hoje senti-me em baixo, mãe. O avô
ligou bem cedo, dizendo que o Saraiva
morreu ontem de velhice. Teve mais sorte
que tu. A vida foi longa para ele. A mim,
tiraram-te cedo. Deixaram-me o pai. Disse-lhe que vinha até aqui conversar contigo. Mandou beijos, e diz que tal como eu
morremos de saudades tuas!
Terça-Feira, 11 de Março de 2008
DO OUTRO LADO DA HISTÓRIA
Tiago Lopes
nos mesmos moldes que qualquer
príncipe. Não são raras as crónicas em
que a petiz surge vestida com roupas
masculinas. E cedo os boatos da Bissexualidade da Princesa invadiram os
salões palacianos.
Coroada Rainha com 17 anos, Cristina da Suécia governou debaixo de
inúmeras críticas ao seu reinado. Rainha
de um país de protestantes, Cristina
converte-se à fé do Catolicismo. Atacada
pela sua vida amorosa, mantida em segredo e pela sua novíssima fé, abdicaria
do trono a 5 de Junho de 1654. Afastada
do trono por preconceitos sexuais e
religiosos, Cristina entregaria a coroa da
Suécia ao seu primo Carlos Gustavo.
Alemanha – Século XVIII. Quando
Frederico nasceu, estava longe de perceber o que acarretava ser filho de Frederico Guilherme I. Além das responsabilidades que lhe seriam imputadas com
a morte do pai, o jovem príncipe teria
ainda que contar com uma demonstra-
Previsões por Tiago Lopes
Rá (Deus do Sol)
16 de Julho a 15 de Agosto
Carta: Sol
ção de ignóbil preconceito. O príncipe
que falava francês, lia poesia e tocava
flauta. Tinha uma grande amizade pelo
tenente Keith e uma desmesurada paixão pelo capitão Katte.
Frederico Guilherme I não perdoava
ao seu filho os notórios defeitos, que
o tornavam inapto para a governação, aos olhos turvos do pai. A corte
regozijava-se com o sofrimento do
monarca. Depois de levar uma real
sova de bengala e de o seu pai o ter
tentado asfixiar com o cordão de um
cortinado, Frederico II planeou uma
fuga, para Inglaterra, com a sua grande
paixão, o capitão Katte.
Tristemente alguma coisa correria
mal no dia da fuga! Os dois apaixonados
em fuga foram interceptados e levados
à presença de Frederico Guilherme I.
Sem direito a qualquer forma de apelo
os dois foram entregues a um tribunal militar que, a título de exemplo, os
condenou à morte. Frederico II seria
poupado pelo rígido pai que, todavia,
o obrigou a assistir à execução do seu
amado.
Tauromaquia: sim ou não?
Os comportamentos possessivos dos nativos de Rá não estão
a facilitar o começo de uma nova relação. Seja mais flexível!
Despenda mais tempo para estar com a sua família!
Neit (Deusa da Caça)
16 de Agosto a 15 de Setembro
Carta: Conjuntura
Desenvolver novas potencialidades que o/a valorizem mais
no campo profissional é o desafio que lhe vai ser lançado nas
próximas semanas. Acredite que é capaz!
Maat (Deusa da Verdade)
16 de Setembro a 15 de Outubro
Carta: Cobiça
2008 continua a não ser a galinha dos ovos de ouro para os
nativos de Maat. Cuidado com o nível das suas expectativas. Seja
mais realista! Não se esqueça de cuidar da sua imagem!
Osíris (Deus da Renovação)
16 de Outubro a 15 de Novembro
Carta: Compenetração
Exigência, rigor, profissionalismo e muito sentido de
responsabilidade são alguns do traços que terá de ver apurados
urgentemente, se quiser dar um salto qualitativo na vida laboral!
Hator (Deusa da Adivinhação)
16 de Novembro a 15 de Dezembro
Carta: Partilha
Perdoar o mal de que nos fazem tem os seus limites! Não deixe
de lado o seu orgulho, só porque acredita na bondade perdida de
terceiros! Saia com os seus amigos! Divirta-se!
Anúbis (Guardião dos Mortos)
16 de Dezembro a 15 de Janeiro
Carta: Imprevisto
As surpresas negativas irão estragar os planos que fez para
as próximas semanas. Cuidado com as amizades. Confiar em
demasia poderá estar a expô-lo/a desnecessariamente!
Bastet (Deusa Gato)
16 de Janeiro a 15 de Fevereiro
Carta: Estudo
DR
Vítor Madeira
A tauromaquia é um espectáculo com séculos de existência e é parte
integrante da cultura do nosso país.
No entanto, cada vez mais surgem organizações de defesa dos direitos dos
animais e até manifestações de anónimos que se insurgem contra a realização
deste género de espectáculos.
André Botas, estudante de 22 anos, é
um acérrimo adepto da tauromaquia e
desde muito cedo se ligou a esta tradição. “Cresci num ambiente de ‘afición’
e o meu pai incutiu-me o gosto desde
que era uma criança, pois ele levava-me
a Praças de Touros com muita frequência” – justifica o jovem para sustentar o
apoio à tradição.
Pedro Esperto, 31 anos e contabilista de
profissão, é um opositor da tauromaquia,
tendo já participado em diversas manifestações contra a mesma. É claro quanto
à sua posição: “Sou totalmente contra”.
E ainda acrescenta que sente “tristeza”
pelo facto de que, “em pleno século XXI,
existam indivíduos que não entendem o
sofrimento dos animais para gáudio de
uma elite inculta que assiste ao suposto
espectáculo”. Opinião completamente
distinta tem André Botas: “Sinto uma
grande emoção do início ao fim deste
grandioso espectáculo. Só um aficionado
compreende este estado de espírito”.
Quando confrontado com o surgimento de diversas organizações de defesa dos direitos dos animais, que são
J O R N A L
►► ►
Quando é Real
o Preconceito
Preconceito! Procure no dicionário. Espero. Eu ajudo. P-R-E… use o
dedo. Mais para baixo. Mais um pouco.
Calma! Suba duas palavras. Essa aí! Leia:
“Qualquer opinião ou sentimento, quer
favorável quer desfavorável, concebido sem exame crítico”. Ou seja “ideia,
opinião ou sentimento desfavorável
formado à priori”. Acha normal existir
este tipo de atitude em qualquer século
da nossa História?
O preconceito destrói comunidades,
separa famílias, mata pessoas. É contra
esse preconceito que muitos lutam desde que o Homem é Homem. Aliás, na
História da Europa não são poucos os
exemplos de Reis e Rainhas, de Príncipes e Princesas que sofreram com
o preconceito. Viajemos no tempo e
no espaço para ver dois exemplos de
casos que estão escondidos na Gaveta
da História.
Suécia – Século XVII. Cristina da
Suécia foi a herdeira do trono do Rei
Gustavo Adolfo II. Nascida sob o
auspício de um raro fenómeno astrológico, a futura Rainha foi educada
esta
A vida não se resume aos objectivos particulares que temos. Por
vezes, em prol da sociedade, há que fazer cedências. Não seja
egoísta ao ponto de ignorar isto!
Tauret (Deusa da Fertilidade)
15 de Fevereiro a 15 de Março
Carta: Angústia
A sua vida amorosa precisa ser toda repensada. Explore o seu
parceiro/a e seduza-o/a de novo. Deixe de ter medo de explorar
a sensualidade que tem. Invista no amor!
Sekhmet (Deusa da Guerra)
16 de Março a 15 de Abril
Carta: Descoberta
O processo de auto-aprendizagem e de redescoberta de quem
somos não se faz sem dor. Este momento menos positivo faz
parte desse processo. Tente não desesperar.
cada vez mais audíveis, o aficionado é
peremptório quando diz que “não há
ninguém que goste mais de animais do
que as pessoas dos toiros; essas organizações existem devido a interesses”.
André Botas retribui as críticas: “Veja-se o que sucedeu no Campo Pequeno
no ano passado, onde uma dessas organizações ditas civilizadas pintou as paredes do recinto, num autêntico acto de
vandalismo. Isto diz muita coisa”. Para
o contabilista, “é importante existirem
pessoas que se preocupem com os animais pois estes não conseguem defender-se sozinhos e estas organizações são
importantíssimas nesse sentido”.
O estudante justificou o sofrimento
dos animais. “As pessoas esquecem-se
que o toiro-bravo é criado para este
propósito e, mais importante ainda,
tem de sangrar para que o sangue não
coagule nas veias, pois esta situação
sucede quando o animal fica nervoso.
Para ele, sangrar é um alívio”, finaliza.
Para Pedro Esperto, a solução é simples,
“este tipo de espectáculos devia acabar.
É simplesmente bárbaro e medieval.”
Como é visível, esta é uma polémica
que está longe do seu final. A verdade é
que a tauromaquia é uma tradição que
continua a entusiasmar e a conquistar
milhares de aficionados, com o seu ambiente frenético e os “Olé” nas bancadas.
Mas não é menos verdade que as vozes
que se insurgem contra a mesma estão
a crescer e a ganhar força.
A polémica prossegue já na próxima
Praça!
Ptah (Criador Universal)
16 de Abril a 15 de Maio
Carta: Viajante
Os nativos de Ptah têm pela frente semanas alucinantes! Não se
deixe iludir pelo sucesso fácil, mantenha o grau de exigência que
o trouxe até aqui. Seja mais delicado/a!
Tot (Deus da Escrita)
16 de Maio a 15 de Junho
Carta: Suma Sacerdotisa
A violência verbal não lhe dá mais razão. Usar de verborreia
e de alguns argumentos pomposos só serve para se iludir a si
mesmo/a! Seja sincero e capaz de ouvir os outros!
Ísis (Deusa da Magia)
16 de Junho a 15 de Julho
Carta: Morte
Uma mudança positiva está a operar-se, mas dependerá da sua
capacidade de entrega. Não tenha medo de só agora iniciar uma
nova fase. Nunca é tarde para mudar!

Documentos relacionados