DFR Representações

Transcrição

DFR Representações
PA RQ M A G A Z I N E
N.45. ANO VII. MAR. 2015
DIRECTOR
TEXTOS
EDITORIAL
Francisco Vaz Fernandes
[email protected]
Beatriz Teixeira
Carla Carbone
Carlos Alberto Oliveira
Claúdia Aleixo
Francisco Vaz Fernandes
Hugo Filipe Lopes
Joana Teixeira
Marcelo Lisboa
Maria São Miguel
Marta Inês Santos
Paula Melâneo
Pedro Lima
Roger Winstanley
Rui Lino Ramalho
Rui Miguel Abreu
Sara Madeira
Vânia Marinho
7 anos
FOTOS
Por isso, nesta edição comemorativa,
procuramos acompanhar o que se
está a passar em termos de novas
barbearias, que cada vez abrem
mais em Lisboa e que levam a ondas
de choque —e há já quem as refira
como um fenómeno de machismo
primário. Depois, procuramos saudar
a exposição sobre o design português
no MUDE, que, pela extensão, não
pode deixar de surpreender, num
país que se diz não ter uma cultura
de design. Criadores há muitos,
assim o prova essa exposição, e
aproveitamos para juntar alguns
que vão marcar a próxima década.
EDITOR
Francisco Vaz Fernandes
[email protected]
COORDENAÇÃO EDITORIAL
Rui Lino Ramalho
COORDENAÇÃO DE MODA
Tiago Ferreira
DIRECÇÃO DE ARTE
Valdemar Lamego
[email protected]
www.k-u-n-g.com
PERIOCIDADE: BImestral
DEPÓSITO LEGAL: 272758/08
REGISTO ERC: 125392
EDIÇÃO
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PARQ
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25 – 2ºesq.
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T. 00351.218 473 379
IMPRESSÃO
EURODOIS
12.000 exemplares
DISTRIBUIÇÃO
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é expressamente proibida
sem a permissão da Parq.
Todos os direitos reservados.
Copyright © 2008 — 2014 PARQ.
ASSINATURA ANUAL
12 euros
2
Ana Luísa Silva
António Bernardo
Celso Colaço
Herberto Smith
Inês Silva
Nian Canard
Pedro Mineiro
Sal Nunkachov
STYLING
Ana Benedita
Tiago Ferreira
Sete anos foi sempre o meu
número da sorte. Não porque ligue
minimamente a predestinações,
talvez e apenas, porque nasci num
dia 7, dia em que escrevo. A Parq
faz 7 anos e esperava mais como
nunca esperei ir tão longe. O que
nos conduz é ainda assim a ilusão e,
como tal, a ordem da razão há muito
tempo que ficou de fora. Procuramos
ser melhores com os reduzidos
meios que temos, tentamos
surpreender os leitores, tentamos
viver o que nos rodeia e trazer o
que há de mais positivo. Às vezes,
são apenas amores do momento.
Outros estão cravados mais fundos
Os novos álbuns de Bjork e D'Angelo
estão aí, são os nossos destaques
musicais e certamente combinam
bem com uma boa leitura da PARQ.
por Francisco Vaz Fernandes
PA RQ M A G A Z I N E
N.45. ANO VII. MAR. 2015
YOU MUST
VLADA V + RODRIGO
vestem PEPE JEANS LONDON
Amor Cruzado
Jonathan Lane-Smith
Nir Sarig
Pepe Jeans
Fit to be Brit
Inherent Vice
Gato Mariano
Joshua Hara
Soul of Pi
Converse Cons
Pedro Neto
New Balance
Camile Walala for CAT
Slimcutz
Ringly
Chameleon Shift
Beauty
Shopping
Design
Design
Arte
Moda
6
8
10
12-16
Cinema
Ilustração
Ilustração
Surf
Moda
Moda
Moda
Moda
Música
Moda
Moda
Beauty
Buy
18
20
21
22
23
24
25
26
27
28
28
29
30-31
Música
Música
32-33
34-35
Barbeiros
Design
36-41
42-47
Youtubers
48
SOUNDSTATION
Björk
D'Angelo
CENTR AL PARQ
Lisboa pelo fio da Navalha
Design falado
em português
Youtubers
RODRIGO
veste PEPE JEANS LONDON
FASHION
Private Club
Moda
50-61
PARQ HERE
Fotografia: ANA LUÍSA SILVA
Styling: TIAGO FERREIRA
Modelo: VLADA V + RODRIGO @ werarmodels
Make-up: TOM PERDIGÃO
Hotel Valverde
Slou Lisbon
George
O Antigo Carteiro
Pura Cal
Espiga
Hotel
Loja
Bebes
Comes
Loja
Comes
62
64
65
65
66
67
3
Authentic é a proposta da FRED PERRY para esta Primavera/Verão
2015, numa celebração do espírito de originalidade. Authentic Woman
é uma atualização dos estilos tomboy da década de 60, com uma
paleta de cores fresca e alguns detalhes subversivos nos clássicos
padrões e gráficos da marca. Authentic Men, por outro lado, foi
inspirada nas subculturas Mod que adotaram a marca FRED PERRY,
bem como no seu próprio arquivo de sportswear clássico.
Do lado feminino, o xadrez Príncipe de Gales foi ampliado para criar
uma impressão digital de grande impacto em camisas, casacos e
vestidos. Os padrões Houndstooth clássicos são clean e gráficos,
sendo complementados por cores fortes como azul carbono, branca de neve e verde, destacando-se em T-shirts, vestidos e malhas.
O estilo tomboy é aperfeiçoado pelas calças de cintura alta cigarette em preto. A T-shirt com xadrez príncipe de Gales, impresso digitalmente, foi adicionada à coleção, com uma mistura de algodão e
jersey modal para estilos mais casuais. De salientar ainda o regresso do pólo piqué, que cria um estilo easy-to-wear.
A coleção para homem é um regresso às raízes da marca, com inspiração no pólo de algodão, que recebe agora traços das silhuetas slim
e do estilo acutilante da diáspora jamaicana. Os estilos sportswear
do arquivo primordial da marca são também rebuscados. Em jeito
de homenagem a FREDERICK PERRY, antigo tenista e fundador da
marca, o estilo da camisa Oxford foi subvertido pelas golas planas
em malha, pelas fitas desportivas, também em malha, e pelo tecido piqué. Os padrões corte-e-costura e detalhes retro acrescentam
sofisticação a este estilo simples. O pólo de malha veranil, com cores de arquivo, é a pedra-de-toque desta coleção.
Fred Perry Authentic Store
Lisboa, Rua do Ouro, 234 Lisboa
Gaia, Arrábida Shopping, loja 107
Fred Perry Store
El Corte Inglés Lisboa, 2º Piso
El Corte Inglés, V. N. Gaia, 2º Piso
A mor
Cruza do
Design
Lenço b ordado por CRISTINA LOPE S com desenho de CÉLIA E STE V E S.
© 2015 AirWair International Limited. All Rights Reserved
You Must
“I STAND
FOR PRIDE.”
SAM
Os Lenços dos Namorados, bordados em linho, há séculos, por raparigas apaixonadas,
representam o amor da forma mais popular portuguesa. E o projeto Amor Cruzado é
uma ode a este amor, cruzando tradição com arte contemporânea. A ideia surgiu da
Casa dos Carvalhais – Casa de Campo de Vila Verde, no Minho, que convidou seis bordadeiras minhotas e seis ilustradores, para um intercâmbio entre artes urbana e rural.
Deste encontro artístico, surgem seis novos lenços dos namorados, que representam o
mesmo amor popular, bordado com uma identidade diferente. Depois de apaixonar os
cantos do Intendente, na loja "A Vida Portuguesa", a exposição Amor Cruzado estará
na GALERIA DAMA AFLITA, no Porto, a partir de 21 de março. Com cada lenço, vem uma
serigrafia realizada por cada artista. O amor nunca foi tão português.
6
STANDFORSOMETHING
DRMARTENS.COM
t-Joana Teixeira
You Must
Design
Jonathan
L a n e‑S m i t h
You Must
Poderia evocar uma pista de gelo, com pequenos personagens coloridos, a pontuarem,
aqui e ali, a superfície da mesa Vessel, desenhada por JONATHAN LANE-SMITH. Mas
trata-se apenas de uma mesa de apoio, pequena caixa, em alumínio coberto de branco, de aspeto leitoso.
Design
Mesa Vessel de JONATHA N L A N E- SMITH
O designer faz mesas de diferentes tipologias, reconhecíveis no princípio de VILÈM
FLUSSER, na "ideia de mesa". As diferentes linguagens das mesas, diz-nos LANE-SMITH,
«provêm da necessidade de cada cliente». Algumas foram encomendadas, exceção
feita ao caso da mesa Vessel, que resulta mais de um projeto pessoal. «A linguagem,
muitas vezes, é intuitiva, dependendo do cliente», assegura.
No capítulo "Form and Material", FLUSSER é profícuo no que explica sobre matéria e forma: o carpinteiro, por exemplo, aplica uma forma de mesa (ideia de mesa) e impõe-na
sobre o pedaço de madeira amorfa. A palavra matéria opõe-se assim à palavra forma.
JONATHAN LANE-SMITH evidencia, também, na sua Vessel, uma forma sobre o fragmento de alumínio. Numa perspetiva grega antiga, é como se enchesse, recheasse
a forma com a matéria. Foram pensadas várias soluções para "decorar" a superfície
da mesa. Inicialmente, LANE-SMITH teria coberto o tampo com conchas, mas depois
abandonou a ideia por a ter achado um tanto espalhafatosa: «Encontrei depois as figuras em miniatura numa loja de modelos em Londres, perto de minha casa, e decidi
usar. Achei que poderiam resultar, por causa da ideia de brincar com a escala».
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t-Carla Carbone
9
You Must
Fotogr afia
Nir
S a r i g
Londres é o coração europeu da multiculturalidade e da expressão artística. E foi nas
ruas da capital inglesa que um fotógrafo de moda israelista encontrou inspiração para
um projeto arrojado: uma ode ao "diferente".
NIR SARIG capturou imagens a preto e branco de artistas de rua, explorando a sua
controversa corrida artística contra o relógio da rotina londrina. Desde cuspidores de
fogo a drag queens,o fotógrafo retrata o dia-a-dia diferente de um coletivo de performers urbanos que se destacam pelo seu carisma e motivação únicos. Estes retratos de
Nir exploram a vivência nas ruas da zona Este de Londres, através de uma perspetiva
carregada de maquilhagem dramática, látex, coleiras de picos e tatuagens. Um circo
urbano de extravagâncias num álbum monocromático.
10
t-Joana Teixeira
You Must
Pepe Jeans
FIT TO BE BRIT
You Must
Pepe Jeans
ANA LUÍSA SILVA
Styling - TIAGO FERREIR A
Foto -
Inspirada no sentido de humor que é apanágio do comum britânico, a nova coleção
cápsula da PEPE JEANS LONDON, Fit To Be Brit, procura difundir uma mensagem
jovem e urbana, através de slogans em t-shirts onde podemos ler:
Curiosity killed the cat
Scratch my back and I will scratch yours
Mad as a hatter
A smile and a wink gets you further than you think
Born ready.
Tendo como inspiração as ruas de Londres e o graffiti a PEPE JEANS LONDON criou para esta coleção
cápsula, um conjunto de peças oversized produzindo um estilo desportivo e urbano. Em destaque
estão os bomber jackets em nylon para eles, e o blusão e as hot pants em ganga com patches de
bules de chá e rosas, para elas. Tudo fácil de usar e inspirado no lado cool da cultura inglesa.
Make-Up&Hair ~- TOM PERDIGAO
Models - VL ADA V E RODRIGO (wearemodels)
A coleção está disponível nas lojas e nas vendas online da marca a partir do mês de Março.
Agradecimentos ao Valverde Hotel, Lisboa www.valverdehotel.com
12
13
You Must
FIT
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Pepe Jeans
TO
You Must
BE
Pepe Jeans
BRIT
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You Must
FIT
Pepe Jeans
TO
You Must
Pepe Jeans
BE
BRIT
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17
Cinema
I n h e r e n t
V ice
Model: Lien – We Are Models
You Must
CURIOUSER
INVERNO/WINTER 2016
13,
PAUL THOMAS ANDERSON está de volta às longas-metragens. Desta vez, apresenta
uma adaptação do romance de THOMAS PYNCHON, Inherent Vice. No que diz respeito
a pares perfeitos, o cineasta e o autor podem ter rebentado a escala. ANDERSON pegou
no policial noir de PYNCHON e transformou-o numa desconstrução surreal da cultura e
contra-cultura dos anos 60. O resultado é uma excêntrica odisseia, com todo o groove
psicadélico da época, e um humor sofisticado e atrevido q.b.. Larry 'Doc' Sportello, um
hippie tornado detetive privado, recebe uma visita inesperada da ex-namorada. O que
parecia um simples caso de rapto e roubo revela-se um enigma com gangs, viciados,
polícias hostis, um saxofonista inflitrado, uma entidade misteriosa que pode ou não
ser um esquema montado por dentistas, e muita paranóia. ANDERSON suporta com
mestria a difícil tarefa de adaptar o universo complexo, absurdo, poético e sombrio de
PYNCHON, criando um filme surreal, belo e paranóico. A harmonia entre as visões do
cineasta e do autor, juntamente com a interpretação por JOAQUIN PHOENIX de Larry
Doc —uma personagem descontraída, bizarra e estranhamente profunda, daquelas
que não precisam de prémios para ficar na memória— garantem que Inherent Vice se
torne no favorito de muitos cinéfilos.
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t-Cláudia Aleixo
14
15
MARÇO
2015
PÁTIO DA GALÉ,
PRAÇA DO MUNICÍPIO
WWW.MODALISBOA.PT
UMA INICIATIVA CONJUNTA
PATROCÍNIOS
PARCEIROS E COLABORAÇÕES
HOTEL OFICIAL
TV OFICIAL
TV INTERNACIONAL
PARCEIROS DE MEDIA
You Must
Ilustr a ca o
O G ato
Mariano
Garfield, para além de exímio procrastinador,
regala-se com a bela da lasagna. Tom é escrupuloso nos planos que engendra para capturar
Jerry, embora esteja destinado ao fracasso.
Por fim —e é esse que agora nos interessa—,
há o Gato Mariano que, para além de possuir
um rabo abrasileirado, faz críticas a álbuns
musicais e repugna «hipsters sebosos da net».
O autor desta entrevista teve de se precaver
com um anti-histamínico.
TIAGO DA BERNARDA é o dono da imaginação
e do lápis que dão vida ao Gato Mariano, um
«alter ego» que criou para fazer as suas críticas
musicais ilustradas. É surpreendente que não tenha qualquer formação em desenho —a
não ser que tenhamos em conta os cadernos que rabiscava durante as aulas monótonas
de Ciências da Comunicação, curso no qual se licenciou. «Não sendo, de todo, um curso
prático, deu-me uma noção mais ampla do que é a comunicação, abriu-me portas para
explorar coisas fora do covencional», explica o jovem de 24 anos. A verdade é que, apesar
de confessar que o desenho é algo que «não se despega» de si desde infância, a sua praia
continua a ser o jornalismo. O problema inerente a esta ambição é o facto daquela praia
ter falta de areal e excesso de toalhas (eufemismo para ‘desemprego’). Depois de concluir
a licenciatura, foi atirado aos lobos na redação do jornal Público, onde conviveu com os
«grandes egos» da secção de Cultura, até dezembro de 2013.
Os currículos extraviados e a sede de ocupar a cabeça levaram TIAGO a redesenhar prioridades. O Gato Mariano miou pela primeira vez em janeiro de 2014. Durante a passagem
pelo Público, TIAGO DA BERNARDA ficara com a ideia de que entrevistar um artista implicava muito mais do que expôr o seu trabalho: «era preciso mostrares que sabias». Mas
o Gato Mariano não é nada disso. É fedorento, sem ser grosseiro, é felino sem ser pretensioso. «Com o Gato Mariano, posso fazer as minhas críticas a música, mas da minha
maneira», afirma. Em vez do formato comum (e geralmente enfadonho) de uma review,
TIAGO comenta os novos álbuns através dos balões de fala típicos dos comic books. O
Mariano, esse, não é muito dado a whiskas saquetas, prefere antes comida mais caseira:
música portuguesa. Mas nem toda: «Até pode ser um álbum de alguém conhecido, mas
se eu for ouvir aquilo e não me disser nada, não vou perder tempo a desenhar. Se mexer
20
f-Ines Silva
You Must
comigo, vou provavelmente desenhá-lo»,
diz TIAGO DA BERNARDA. Em média, precisa de dois a três dias para ilustrar uma
crítica a um álbum.
O Gato Mariano é, na verdade, um mero
mensageiro da cena musical portuguesa,
disposto a acarretar os riscos de comentar
álbuns que não são feitos para gerar consenso no seio dos tais «hispters sebosos da
net». Admite mesmo que não faz questão que as suas críticas sejam totalmente
compreensíveis e gosta de deixar espaço
para a subjetividade das interpretações
alheias. Por exemplo, numa crítica endereçada a A Bunch of Meninos, dos DEAD
COMBO, TIAGO disse que o disco cheirava ao "peido de outra pessoa". Ainda assim, Gato Mariano n’est pas un Charlie,
por não gostar de ridicularizar. Acha que
«a crítica, hoje em dia, tem valor zero».
Quanto à música portuguesa, tem sete vidas como os gatos: «Está melhor do que
nunca. Enquanto houver vontade de uns
para fazer e curiosidade de outros para
ouvir, a música portuguesa nunca há-de
morrer». Nós dissemos "Amém!".
t-Rui Lino Ramalho
Ilustr a ca o
Joshua
Ha
ra
Há poucas coisas melhores do que o primeiro café da manhã. Uma delas pode
ser o reaproveitar do copo como tela —o
passatempo favorito do cartoonista americano JOSHUA HARA. Como desenhar em
papel é demasiado mainstream, o artista
criou o desafio pessoal #100CoffeeCups,
com o objetivo de ilustrar 100 copos de
café, como se de páginas de um livro de
banda desenhada se tratassem, e partilhar as imagens através do seu Instagram.
Primeiro bebe-se, depois desenha-se.
JOSHUA apaixonou-se pela ideia ao descobrir que seria mais interessante ver algo
simples, utilizado e desperdiçado no dia-a-dia de toda a gente, ser transformando
numa obra de arte. Com frases provocativas ou lemas de vida como "Don’t hate,
caffeinate", este cartoonista, natural de
Ohio, caricaturiza, a caneta, desde empregadas de mesa do Starbucks a celebridades, animais ou personagens da saga
Harry Potter. JOSHUA convida os seus 70
mil seguidores virtuais a pensarem duas
vezes antes de deitarem o copo de cartão
fora, depois de tomar aquele tradicional
café para começar o dia. Um café e um
ilustrador, quentes por favor.
t- Joana Teixeira
You Must
Soul of Pi
Sur f
Marias há muitas, mas PI só há uma, já que é assim que MARIA VALADARES é conhecida pelos seus amigos e família. E PI tem uma alma grande, onde, além daqueles de
quem gosta, cabem capas para pranchas de surf e bodyboard de todos os formatos,
havendo ainda espaço para sacos para tapetes de yoga. Mas as capas para pranchas
também são como as Marias: há muitas. O que não há são capas artesanais personalizadas para cada cliente, e isso é o que a SOUL OF PI oferece.
You Must
Converse
Cons
M oda
A CONVERSE CONS é apresentada como uma fusão da tradição da CONVERSE e o universo do skate. A coleção é constituída por uma linha de roupa que esta primavera
dispõe de uma variedade de peças outerwear sazonais. Tees e tanks gráficos muito
cool, juntamente com calças Chino e hoodies em dupla camada oferecem uma variedade ideal e diversa de estilos de roupa para um street lifetsyle ativo. Ainda assim os
CORTAV ENTO
CON V ER SE CONS
As capas SOUL OF PI são como que uma liquefação entre o passado e o futuro, já que
não só utilizam lonas das tradicionais barracas de praia portuguesas, como são também plastificadas como as capas das melhores marcas. E como é característico dos
negócios artesanais, as capas de PI são personalizadas ao gosto de cada cliente, por
isso, é perfeitamente normal ver uma capa com ursos de peluche ao lado de uma com
caveiras, ou uma com riscas e, logo ao lado, outra com folhas de marijuana ou cartas
de poker. Para PI, o mais importante de tudo é que o seu trabalho reflita a sua atitude
perante a vida: bem-disposta e descontraída.
Mas não se enganem, porque, apesar do seu ar relaxado, PI é uma mulher destemida
e, não só começou a fazer surf numa idade em que a maioria das pessoas deixa de o
fazer, aos 37 anos, como também fundou a SOUL OF PI quase em simultâneo. E como
o facto de ser surfista está intimamente ligado à sua marca, se um dia estiverem a
passar de prancha, não estranhem se ela vos abordar com uma ideia de capa.
sneakers continuam a ser reis tendo esta estação em destaque os CONVERSE CONS KA3
que resultam de uma parceria com KENNY ANDERSON (KA), o embaixador de skate da
marca. A pensar na prática do skate as CONS KA têm uma palmilha Lunarlon para um
amortecimento mais leve e uma maior aderência na tração bem como uma gusseted
tongue para conforto e durabilidade. KENNY ANDERSON diz-se rendido à silhueta do
modelo que ajudou a criar.
No meio de tudo isto, a alma de PI ainda tem tempo e espaço de sobra para a sua
atividade de instrutora de Yoga, em Caxias e em Lisboa, assim como para ser mãe dedicada dos seus quatro filhos.
22
f-Pedro Mineiro
t-Hugo Filipe Lopes
CON V ER SE CONS
t-Maria Sao Miguel
CONS K A3/
K ENN Y A NDER SON
You Must
M oda
Pedro
Neto
You Must
N
e
Balance
N E W BA L A NCE 996
O palco do Espaço Bloom, do PORTUGAL FASHION, aposta em novas caras e talentos, afirmando-se como uma plataforma de lançamento para as jovens promessas da
moda portuguesa. O talento floresce e na última edição foi PEDRO NETO a ser reconhecido pelo júri do concurso. O jovem, que ambiciona criar uma marca com o seu nome,
teve a oportunidade de brilhar, mostrar o seu talento, a sua criatividade e originalidade
em criações próprias. O aluno da escola MODATEX confecionou uma coleção elegante
e clássica, onde denota já uma enorme maturidade criativa. Inspirados no efeito de
suplantação, os figurinos apresentam-nos uma mulher confiante e elegante, que alia
a sua juventude a modelos mais clássicos. Uma coleção em que o clássico e contemporâneo coabitam perfeitamente e onde os tons monocromáticos imperam em silhuetas retas no formato oversized. Para além da apresentação da sua coleção no Espaço
Bloom do PORTUGAL FASHION, e dos apoios técnicos e financeiros, o jovem, de apenas
18 anos conquistou, juntamente com os restantes três designers premiados, uma nova
presença numa das passerelles mais importantes do país, em março deste ano.
24
f-Sal Nunkachov
t-Marta Santos
M oda
w
N E W BA L A NCE 997
N E W BA L A NCE 446
NEW BALANCE está de regresso, tendo como pontos fortes a sua longa herança no
sportswear americano assim como a qualidade da sua produção. Neste sentido é uma
marca que recria algum dos seus modelos com os mesmos meios de produção antigos
que a tornaram notável. Ou seja, tudo continua a ser produzido com as velhas máquinas, tanto nos EUA como em Inglaterra, o que restringe o número de exemplares produzidos, daí que lancem muitas edições que podemos considerar limitadas. Para esta
estação destacamos a recriação do modelo 446 alinhado as tendências que marcaram
os anos 80 e o modelo 996 e 997, que recriam o espírito dos anos 90. Ambos são exemplo
do expoente técnico de trabalhar as peles num calçado desportivo.
t-Maria Sao Miguel
25
You Must
M oda
Camile
Walala
for C AT
CAT R E ST LE S S WA L A L A
You Must
SLIMCUTZ faz cada vez mais barulho. Em palco, ao
lado dos MIND DA GAP ou em estúdio a trabalhar com
a MONSTER JINX, este DJ/produtor tem marcado a recente agenda hip-hop e prepara-se agora para vestir a
pele de ROGER PLEXICO, juntamente com TASEH.
Projeta-nos 2015: o que tens pela frente nos tempos
mais próximos?
«Este ano, para além dos DJ Sets e dos concertos com
os MIND DA GAP, estou a preparar o álbum de ROGER
PLEXICO & ACE e uma Mixtape com participações de
grandes Mc's do panorama nacional».
M úsica
Hoje, para um DJ vincar a diferença tem também que
ser produtor?
«A produção é uma necessidade, por isso, não acho
que um DJ deva forçar isso se nunca teve essa vontade.
Hoje em dia, claro que é muito mais difícil um DJ ser
conhecido sem ter uma música associada a ele, mas
quando isto chega ao ponto dos DJ's famosos serem
maus acho que fica tudo sem sentido. Acho que está
um bocado esquecido aquilo que realmente é ser DJ».
Como DJ, quando tocas para multidões, sentes-te
pressionado para tocar música de que gostas menos
ou és inflexível?
«Eu tenho que gostar de todas as músicas que passo.
Acho que não faz grande sentido um DJ passar uma
música que não gosta só para fazer a vontade do público. Nas músicas que gostamos sabemos que há certas
músicas que, de alguma maneira, vão agradar o publico. Nesse equilíbrio entre o DJ e o público é que esta a
verdadeira arte de passar música».
Tens acompanhado ao vivo os MIND DA GAP, trio histórico da cena hip hop nacional. Como é trabalhar
com estes veteranos? Que aprendeste com eles?
«Há sempre alguma coisa a aprender com alguém que
tem quase mais 20 anos de estrada que nós. Foi com
eles que pisei pelas primeiras vezes os grandes palcos e
foi com eles que realmente aprendi o que era a "estrada". Antes de começar a tocar com eles, praticamente,
só tocava nos bares/discotecas do Porto e eles deram-me a conhecer um lado completamente diferente.
Depois, claro, é sempre uma honra pisar o palco com
alguém de quem sempre foste fã, a tocar músicas que
acompanharam a tua vida».
CAT RIDGE WA L A L A
Slimcutz
CAT A M BITION
CAT BR EE Z E BLO CK S
A CAT orgulha-se de apresentar uma colaboração com CAMILE WALALA, designer gráfica que vive em Londres e que tem como principal assinatura a impressão em tecidos
com cores primárias e fortes num estilo tribal pop. O seu lema "quanto mais, melhor"
faz-se sentir na abordagem que faz dos modelos CAT, seja no modelo unissexo, Ridge
Walala, ou nas exuberantes plataformas, Restless. Para KRISTY BRADFORD, designer
da marca norte-americana, "esta colaboração permite-nos apresentar a reputação da
CAT, associada ao trabalho árduo, a uma geração urbana mais jovem, que procura usar
algo out of the box que seja uma afirmação de estilo". Nesta coleção a CAT abraça as
plataformas, inspirando-se na cultura underground dos anos 90 com atualizações subtis para uma geração que se identifica com o look retro.
26
t-Maria Sao Miguel
Podes falar de ROGER PLEXICO? Quem é ele afinal?
«Eu e o TASEH trabalhamos juntos desde sempre e, de
alguma maneira, sempre tivemos envolvidos no trabalho um do outro. Passados quase dez anos, finalmente,
avançámos com um projeto dos dois e ROGER PLEXICO
surge como uma personificação das nossas influências».
Como te defines enquanto DJ?
«Sou um DJ que gosta de dar ao público uma viagem
musical, passando por vários estilos, deixo-me sempre
levar pelo público e as energias dele é que me puxam
para determinadas músicas. Também tenho sempre o
fator surpresa presente nos sets, não deixando que as
coisas sejam muito previsíveis».
t-Rui Miguel Abreu
27
You Must
M oda
Ringly
You Must
Beleza
R E V E L A -T E C O M
C A LV I N K L E I N
REVEAL MEN
CHA M EL EON
SHIF T G OR E-TE X
Sensual, vibrante e cativante, é assim que é descrito o perfume REVEAL MEN da CALVIN KLEIN. Num
frasco de design cool e elegante, são combinados
gengibre cristalizado, sal puro e vetiver aditivo. À
fragância junta-se ainda um shampoo, um gel de
banho e um desodorizante. A partir de 23,40€.
A tecnologia utilizável —ou na sua designação mais difundida "wearable tech"— é um daqueles boom perpétuos, que nos oferece constantemente novas formas
de transformar em moda a renovação tecnológica. Os
GOOGLE GLASS lançaram, em 2012, esta disposição que
desde então tem vindo a crescer exponencialmente em
novos produtos. E RINGLY é um dos mais recentes perfeitos exemplos da inovação que eleva a um outro nível a
tendência "geek chic".
De equipamentos de fitness e monitorização de estados
de saúde a óculos e relógios, malas e saias, a proliferação
de "wearable tech" invade vários sectores da vida colectiva. E dados indicam que em 2018, esta tecnologia andará
já à volta dos cinco biliões de investimento. A indústria
da moda não escapou e desde que os GOOGLE GLASS
desfilaram na Semana da Moda de Nova Iorque, há dois
anos, que das passerelles a tendência saiu para as ruas.
RINGLY, uma empresa startup fundada por CHRISTINA
MERCANDO e LOGAN MUNRO, apresentou há uns meses
o seu anel tecnológico: conectado via Bluetooth à app
com o mesmo nome e que vibra e acende sempre que a
utilizadora recebe qualquer tipo de notificação no seu telefone. O RINGLY funciona até cerca de 10 metros de distância, a sua caixa serve como carregador e é resistente
à água.
Chameleon
Shift
Para a nova temporada de Primavera/Verão, a MERREL
traz-nos os novos Chameleon Shift. Com um design de
linhas elegantes, os mais recentes modelos desta gama
facilitam a transição entre natureza e ambientes urbanos. A tecnologia utilizada nestes modelos confere à linha Chameleon Shift todas as condições indispensáveis
para uma melhor experiência outdoor. Como já vem sendo habitual, os exemplares Chameleon Shift continuam a
ser especialmente desenhados para proporcionar leveza
e mobilidade em terrenos montanhosos, possibilitando
uma caminhada responsiva e segura.
A nova linha é composta por três modelos: os Chameleon
Shift Gore-Tex (disponível em versões normal e ténis-bota), totalmente respiráveis e waterproof; e os Chameleon
Shif Ventilator, que apresentam gáspeas em nobuck e
rede, o que os torna mais leves e incrementa a circulação
do ar – tudo graças à tecnologia Stratafuse. Por fim, a
sola intermédia Mbound TRK garante um bom feedback
de contacto do pé com o terreno, ao mesmo tempo que a
sola Vibram confere uma melhor tração. Por estas razões,
os novos Chameleon Shift são indicados para qualquer situação do dia-a-dia.
E para as mulheres que adoram jóias (ou seja, todas) está
ainda em causa um anel perfeitamente harmonioso na
sua simplicidade e discrição, com quatro cores de pedra
diferentes, banhado a ouro. À venda no site da empresa,
o seu valor ronda os 170 euros: valor bastante acessível
para o serviço que oferece —a liberdade feminina de dançar sem mala ou telemóvel. E essa liberdade vale muito.
CHA M EL EON SHIF T
V EN TIL ATOR
28
t-Zara Nogueira
t-Rui Lino Ramalho
BARBAS E
BIGODES À ANTIGA
ANTIGA BARBEARIA
D O B A I R RO
É a vontade de manter vivo o ritual de barbear tradicional que dá alento à
ANTIGA BARBEARIA DO BAIRRO. Com duas lojas, uma no Príncipe Real em Lisboa
e outra na Ribeira do Porto, esta casa proporciona uma autêntica viagem no
tempo, na qual o pincel, o sabão e a água de colónia em frasco de vidro são
personagens principais. Procure-os no Facebook!
IT SMELLS
L I KE … C A N DY
!
CANDY é LÉA SEYDOUX. LÉA SEYDOUX é CANDY. A
actriz francesa volta a dar rosto à campanha de CANDY
FLORALE da PRADA, porque mais ninguém a encarna
tão bem quanto ela. Ainda mais fresca e feminina, a
fragrância é uma mistura de várias notas florais e conta
com limoncello, almíscar e caramelo. A partir de 51,75€.
t-Beatriz Teixeira
29
You Must
Bu y
You Must
Bu y
F R ED PER RY x
SPACE IN VA DER S
PEPE JE A NS
PEPE JE A NS
PEPE J E A NS
CHE A P MON DAY
F R A N K LIN& M A R SHA LL
CON V ER SE
PEPE JE A NS
F R A N K LIN& M A R SHA LL
PEPE J E A NS
PEPE J E A NS
F R A N K LIN& M A R SHA LL
M ER R EL L
BA R BOU R
30
M ER R ELL
CON V ER SE
F R ED PER RY
F R ED PER RY
R AY-BA N
K ED S
PEPE J E A NS
CON V ER SE
A RISTO CR A Z Y
CAT
A RISTO CR A Z Y
CELIN E
31
Soundstation
Björk
Vulnicura marca o regresso da iconográfica artista islandesa ao tão esperado registo
eletrónico de canções sumptuosas e magistrais. BJÖRK, apesar de se distanciar do
habitual método experimental, mantém a dissecação cirúrgica das suas emoções, expondo cada célula do seu corpo, como se trouxesse todo o seu universo interior cá para
fora. Apesar de não ter sido intencional dedicar este disco à sua separação do artista
MATTHEW BARNEY, a cantora assume os sentimentos que foram desencadeados pelo
fim da sua relação, preferindo que o álbum seja entendido como uma ode à vida destroçada, e não uma panóplia de músicas sobre a separação propriamente dita.
Estruturalmente, Vulnicura é composto por nove canções organizadas em três estádios
diferentes do impacto devastador que esta fase da vida provocou em si. As primeiras
três canções são destinadas ao momento da pré-separação, seguindo-se a tríade da
consciencialização do inevitável fim e, a fechar o ciclo, a consumação da separação.
Há aqui um claro afastamento musical dos seus anteriores discos, Biophilia e Volta,
e uma aproximação muito maior a Vespertine e Homogenic, que não é traduzível
apenas pela sua composição musical, mas também por serem considerados os mais
pessoais. Stonemilker, Not Get e Lion Song denunciam esta intimidade.
Provavelmente o seu processo de cura passa pela busca de alguns elementos próximos que foram já explorados no passado. Porém, o seu crescimento enquanto artista experimental e desafiadora de barreiras físicas musicais, revela-se em pleno no
tema History of Torches.Neste novo álbum há claros momentos de descomplicação,
talvez numa tentativa de alcançar a lucidez no meio de um turbilhão de sentimentos
Soundstation
Björk
complexos e por vezes contraditórios. A razão e o coração nunca estiveram tão próximos, assim como também é verdade que nunca estiveram tão distantes. Em Lion Song,
retrata-se magistralmente isso mesmo. A consciencialização de que o amor terminou
está presente, mas num ímpeto de desespero, esperança-se que ainda haja salvação.
É desarmante ver uma artista expor a sua vulnerabilidade de uma forma tão emocional
e apaixonante. Black Lake, com soberbos arranjos orquestrais assentes em violinos e batidas eletrónicas hipnotizantes como cenário, dá o mote para que BJÖRK transcenda a
sua dimensão enquanto mulher consciente da sua mortalidade amorosa e que, derrotada, se debate com o coração destroçado, sem perceber ainda muito bem que passo que
deverá dar a seguir. Como se se encontrasse submersa numa dormência sem oxigénio.
Stonemilker, o tema de abertura, esclarece o ouvinte de que a sua intimidade enquanto artista será colocada nas suas mãos, atirando-o cronologicamente para o
momento em que previu que o fim da sua relação tenha tido ali o seu início.
Provavelmente Family é o momento mais sensível do disco, pois reforça a importância
fulcral que este porto seguro têm na sua vida. Tanto mais que agora, a partir do fim
do amor, o conceito de família assuma para BJÖRK uma nova dimensão.
Not Get é o ajuste de contas, a contabilização de que apesar de tudo sem aquele amor
teria sido a sua morte. É como se reconhecesse que as cicatrizes são a expressão física
de uma dor quase letal mas que, ao mesmo tempo, foi visceral para a sua sobrevivência.
Mais uma vez ANTONY HEGARTY é seu convidado especial e em Atom Song incorpora uma das duas personagens com o peito aberto e alma despida para uma dança
emocional. Como dois corpos desnudados de um amor que não existe, numa linha
temporal representativa do presente, mas que têm uma dimensão própria, vivida no
passado. E como tal, igualmente importante e, de certa forma fundamental, para
suster a existência de uma realidade futura.
BJÖRK convidou desta vez dois visionários da música eletrónica atual, o venezuelano
ARCA, e HAXAN CLOAK, o inglês responsável pela remasterização do disco, cuja participação se reflete particularmente nos temas Notget, Mouth Mantra e Black Lake.
Ouvir Vulnicura é como ler cada palavra que a artista encontrou para nomear cada
partícula dos seus sentimentos. Assiste-se ao despir da sua armadura de mulher "metropolis" e à exposição do seu corpo de mulher emocional e vulnerável, incrivelmente cheia de humanidade. É como se fosse preciso tornar-se num vulcão, explodindo
numa catarse, para poder finalmente devolver a si própria a existência. Fechando os
olhos sabe-se que não é preciso ir às ruas de Reiquiavique para encontrá-la. Embora
não seja improvável que, mesmo o mais acidental dos turistas, a encontre a folhear
revistas numa livraria no centro da cidade.
32
t-Carlos Alberto Oliveira @ www.punch.pt
33
Soundstation
D 'A ngelo
Soundstation
D 'A ngelo
D’ANGELO parecia ser uma daquelas tragédias a que a música nos habituou: ao brilhantismo absoluto de Voodoo sucedeu-se primeiro silêncio, depois incerteza, e sinais
que apareciam apontar para um desfecho dramático —um acidente aparatoso em
2005, prisão em 2010, fotos que evidenciavam um certo declínio físico, principalmente tendo em conta que este era o mesmo homem que tinha feito o icónico vídeo de
Untitled (How Does It Feel). Os poucos concertos que D’ANGELO foi assinando, não
chegavam para desfazer o nó na garganta colectiva: o recurso abundante a versões
parecia evidenciar o esgotamento criativo do homem que de um só golpe reinventou
a soul em 2000. Mas a vida —mesmo a mais acidentada— tem sempre uma maneira
de nos surpreender e antes que 2014 soltasse o seu último suspiro, D’ANGELO, sem que
nada o fizesse prever, soltou o seu Black Messiah sobre o mundo.
Foram precisos 14 anos para D’ANGELO encontrar um sucessor para Voodoo, mas a
espera valeu a pena.
A ideia de salvação —ou pelo menos de redenção— foi sempre recorrente na música
negra: SAM COOKE a cantar que acreditava na chegada da mudança, ISAAC HAYES a
vestir a pele de um Moisés negro capaz de guiar o seu povo através das águas abertas
de uma sociedade revolta ou KANYE WEST a vender pendentes com a cara de Jesus e
a baptizar o seu álbum com o neologismo Yeezus. O impulso é sempre o mesmo. Em
cada momento, há músicos negros que acreditam que a resposta pode estar nas canções. Ou na forma como soltam um determinado lamento, mesmo em canções disfarçadas de simples dor de corno. Que D’ANGELO escolha para título do disco que lhe
interrompe o silêncio de quase década e meia diz menos do que sente quando se olha
de manhã ao espelho do que o que certamente sente quando olha à noite as notícias
na televisão. Messias negros, garante ele, são todos os afro-americanos à luz de eventos como FERGUSON. E compreende-se assim de onde vem o doce caos em que Black
Messiah parece estar mergulhado, como se os densos arranjos, o grão analógico, e a
mistura procurassem traduzir o tumulto da sociedade americana contemporânea.
34
t-Rui Miguel Abreu
É um disco extraordinário de um cantor e autor extraordinário. Como MARVIN GAYE,
D’ANGELO junta carne e espírito na mesma canção, por vezes até no mesmo suspiro.
Como PRINCE, consegue que os seus falsetos soem demoníacos e angelicais. Como
SLY STONE, cruza géneros para se encontrar a si mesmo. Mas as referencias não beliscam nem um milímetro do seu próprio génio. Com músicos de excepção como JAMES
GADSON, QUESTLOVE ou PINO PALLADINO, com uma produção de luxo, com arranjos
que nunca sacrificam um grão de criatividade à ditadura imposta pela normalização
das playlists, D’ANGELO assegura o presente e reclama o futuro. E toma o mundo de
assalto com novos concertos em que surge em plena forma vocal e criativa. O messias
negro voltou, de facto. Bem vindo seja.
f-Gregory Harris
35
Centr al Parq
Barbearia s
Centr al Parq
Barbearia s
Se alguma vez reparou num sinal espiralado com listas azuis, vermelhas e brancas e
o ignorou, não volte a fazê-lo. Esse sinal chama-se Barber’s Pole e informa-o que está
perante uma barbearia. Nos últimos anos, o Barber’s Pole tem-se multiplicado pelas
ruas e travessas da Baixa Pombalina. Os estrangeiros são os principais fãs. O cabeleireiro unissexo começa a tornar-se insuficiente para um homem que, mais do que a
penungem, precisa de tratar da alma. A barba requer —é claro— um certo ritual: é a
toalha quente para abrir os poros da pele, a pedra de alúmen para os fechar, o aftershave para hidratar e a massagem para puro deleite. Já a alma não pede mais do que
um mero confidente. O salão é um confessionário e a navalha a(m)para os problemas
da vida. Usar barba é muito mais do que uma tendência lumberjack: é uma questão
de personalidade. Batemos à porta de quatro barbearias e perguntámos o que é que
a barba da PARQ precisava. Acertar os contornos, tirar o espigado e ser penteada.
Barbearia
Oli veir a
A A lfama e o Proveito
Rua dos Remédios, nº27. O Museu do Fado é ali à mão de semear. Bem semeadas são as
barbas daqueles que aqui entram. O letreiro à entrada não engana: "Desde 1879". É
provavelmente das barbearias mais antigas do país. A morte do antigo proprietário
—o Sr. João— ditou o fecho das portas, mas os gémeos OLIVEIRA tinham outros planos. BRUNO e ÂNGELO foram buscar à tia (que trabalhou para a Lúcia Piloto) um pedaço desta paixão. BRUNO OLIVEIRA era motorista da Câmara Municipal de Lisboa,
mas foi de navalha na mão que descobriu a sua verdadeira engrenagem. O espaço é
acolhedor, o chão é de calçada portuguesa e o rádio é à antiga. Aqui só se trabalha
com produtos da ANTIGA BARBEARIA DE BAIRRO, até porque a BARBEARIA OLIVEIRA
tem também uma missão bairrista. BRUNO OLIVEIRA já não vive sem as «histórias
fantásticas» que os velhotes de Alfama lhe contam quando vai aos seus aposentos.
Eles nem querem saber se o cabelo está bem cortado ou a barba bem feita. Querem
apenas conversar como se não houvesse amanhã.
Corte – 10€ | Barba e bigode – 6€
36
t-Rui Lino Ramalho
f-Herberto Smith
37
Centr al Parq
O
Purista ,
Barbearia s
Barbié r e
Barbearia s
M aison
N uno G ama
Á gua pela barba? Na o, cer veja !
Rua Nova da Trindade, nº16. Venha. Os primeiros metros quadrados para lá da porta
são axadrezados. É o tabuleiro onde se move UNIQUE, o barbeiro de 25 anos que se diz
um psicólogo: «Trai-se primeiro a mulher do que o barbeiro, porque o barbeiro sabe
tudo». (De ínicio, estranhámos a careca de UNIQUE. Depois, explicou-nos que lidar
com tantos cabelos fez com que se fartasse do seu). Alguns passos adiante e chegou
ao bar, onde pode provar uma cerveja mais antiga que a nossa própria nação. Daqui
até à mesa de snooker são mais três degraus. Agora, observe as prateleiras à sua
volta, escolha um livro e sente-se numa poltrona a lê-lo, enquanto é embalado pelo
lounge que emana das colunas de som. Às quintas-feiras, MARTA PLANTIER traz‑lhe
jazz. A pop up store O PURISTA – BARBIÉRE abriu em abril do ano passado, com o único
propósito de divulgar a Affligem, uma cerveja belga criada pelos cavaleiros das cruzadas, em 1074. Era para durar coisa de um mês, mas a adesão foi tão inesperada que
NUNO MENDES, proprietário do espaço, propôs à Socidade Central de Cervejas dar
continuidade ao projeto. Ser purista é apreciar a forma artesanal de fazer as coisas e
tentar tirar o máximo prazer do que se faz.
Corte - 17€ | Barba e bigode - 6€
38
Centr al Parq
t-Rui Lino Ramalho
Uma barbearia topo de g ama
Rua do Século, nº171. Lá fora, se vir uma mulher de navalha em punho, fuja. Aqui den-
tro, não tem que se preocupar: a navalha de ANDREIA MENDES só lhe vai fazer bem.
ANDREIA e FÁBIO AMARAL são os dois barbeiros de serviço na MAISON NUNO GAMA
e dizem-se «partners in crime». Os dois querem começar a colorir barbas. Enquanto
a ideia não avança, ficam-se por disfarçar a brancura das barbas mais veteranas,
domesticar a barba à homem das cavernas do hipster, rapar semanalmente as laterais das cabeças pseudomilitares, customizar barbas e cabelos com umas camadas
de cera e até mesmo fazer manicure e pedicure. Cabeleireira há dez anos e barbeira há dois, ANDREIA MENDES diz que «o cabelo do homem é a moldura e o rosto é
o quadro». Os homens nem sempre lhe passam cartão: têm vergonha. Mas ela faz
por deixá-los descontraídos. Para além da barbearia, a MAISON NUNO GAMA dispõe
de um atelier de alfaiataria e de um showroom, onde pode encontrar as linhas de
pronto-a-vestir, acessórios e calçado do estilista português. E por que não um passeio
pelo Jardim do Príncipe Real?
Cabelo - 25€ | Barba e bigode - 15€
f-Herberto Smith
39
Centr al Parq
Barbearia s
Centr al Parq
Barbearia s
Fig aro ’s
Barber shop
Porque o homem merece
Rua do Alecrim, nº39. A fila de espera é grande. Talvez por não se aceitarem marca-
ções: basta entrar. A menos que seja mulher. Nesse caso, resta-lhe espreitar pelos
quadradinhos da porta. A espreitar parecem estar também as cabeças de veado suspensas na parede. Nas cadeiras de barbeiro, senta-se desde o bombeiro ao deputado
da assembleia de república, passando pelo advogado, pelo polícia e pelo médico. Ao
redor destes, costuma estar um indivíduo de longa bata branca que, com grande
probabilidade, terá os braços tatuados. FIGARO’S BARBERSHOP é inspirada na ópera
O Barbeiro de Sevilha, de Rossini, mas o ambiente musical é marcado pelo country
genuíno. Não é de estranhar, já que a escola praticada é a americana. Quem a importou foi FÁBIO MARQUES, que se estreou com a tesoura aos 15 anos, embora se tenha
formado em Direito. Quanto às mulheres não terem direito a entrar, FÁBIO explica que
«trata-se de um conceito e não de um preconceito».
Corte – 25€ | Barba e bigode – 25€
40
f-Herberto Smith
41
Centr al Parq
Design
Centr al Parq
Design
"Como se pronuncia design em
português?" é o repto lançado
por uma grande exposição de
design patente no Museu de
Design, MUDE, até ao final
de Maio, em Lisboa. A esse
propósito, juntámos ANA
MESTRE, FERNANDO BRÍZIO,
MARCO SOUSA SANTOS, MIGUEL
VEIRA BAPTISTA e o COLETIVO
PEDRITA, formado por RITA
JOÃO e PEDRO FERREIRA, nomes
que consideramos serem os
mais dinâmicos na atualidade
do design português.
da e sq uerda pa ra a d i reit a: PE DRO e RITA JOÃO, do E ST Ú DIO PE DRITA , com
um do s expo sit ore s da sér ie "MOBIL E TO S "; F E R NA N D O BRÍZIO, sent ado no seu
BA NCO PATA N E GR A ; MIGU E L VIEIR A BA P TISTA , atrá s da da sua me sa de apoio,
da sér ie "OB J E TO D O OB J E TO"; A NA M E ST R E , ao lado da consola em cor tiça BL ACK
POW E R ; e M A RCO SOUSA SA N TO S , sent ado na sua cadei ra , SHE L L CHAIR.
42
t-Carla Carbone
f-António Bernardo
43
Centr al Parq
Design
“C o m o s e p r o n u n c i a
d e s i g n e m p o r t u g u e s ?"
De diversas formas e meios. A exposição apresenta mais de 150 peças de 76 designers,
de diferentes gerações e linguagens. Com a diversidade de exemplos expostos, a exposição percorre 60 anos de design, obrigando, inevitavelmente, a uma reflexão sobre
a identidade e história do design português. Uma difícil reflexão —diga-se de passagem— por, durante muito tempo, se ter estabelecido um incremento tardio das indústrias e, consequentemente, da sua investigação nos meios universitários do país. Não
pretendendo ser uma retrospetiva, a seleção feita incidiu mais no período compreendido entre 1980 e 2014.
Num esforço de compreensão dos conceitos de lugar, pertença, identidade e memória, estendem-se, ao longo do espaço da exposição —com a curadoria de BARBARA
COUTINHO e design expositivo de MARIANO PIÇARRA—, variadas peças de design.
Entre estas, encontram-se algumas do período correspondente à construção da disciplina em Portugal, como o mobiliário escolar de SENA DA SILVA, a cadeira empilhável
(desenvolvida entre 1962 e 1973), ou a cadeira de ANTÓNIO GARCIA, Osaka 70 Chair
(de 1970), que se revelou uma agradável surpresa pelo modo como é apresentada:
os vários elementos constituintes da cadeira são assim dispostos em separado, por
montar, sobre um estrado quadrangular, onde se evidenciam as mais ínfimas partes,
desde um parafuso a um fragmento de couro.
Centr al Parq
Design
A cor, em GONÇALO CAMPOS, jorra da sua mesa de café: Times 4 coffee table, 2014.
Uma mesa com capacidade para arrumos. Este objeto multifuncional, cuja estrutura
interna é giratória, vai revelando, como que numa roda dos alimentos, as várias cores,
conferindo ao objeto um dinamismo e frescura, em contraste com o exterior da peça,
redonda, de uma madeira neutra e quase muda. 4 coffee table foi feita para deixar
que cada um dos seus utilizadores lhe imprimam a sua personalidade, dado que se
presta bem ao reservatório de manigâncias.
Outros objetos polvilham o espaço, como a cadeira de aspeto maciço Corqui, de PEDRO
SILVA DIAS; a fulgente cadeira tubular, Line Chair, de TONI GRILO; os exemplos de MO–OW
DESIGN; o candeeiro de pé, de HENRIQUE RALHETA; a lendária cadeira articulável,
de JOSÉ VIANA; as estruturas sinuosas das cadeiras de MARCO SOUSA SANTOS; o
pertinente banco Pata Negra, de FERNANDO BRÍZIO; a cadeira Serena, de JOÃO
GONÇALVES; a mesa de apoio, do ESTÚDIO PEDRITA; as peças de FILIPE ALARCÃO,
MIGUEL ARRUDA, PAULO PARRA, RITA FILIPE, ANTÓNIO TAVEIRA; entre muitos outros
que, por não haver espaço, e sem exceção, mereciam estar aqui em destaque.
No período de 60 a 70, o público já se apresentava mais instruído para procurar um
mobiliário inovado, produzido em série, em que os seus componentes eram construídos segundo os princípios modular e multifuncional.
Mais além, no percurso, e num exercício de coexistência pacífica, duas mesas de
apoio encontram-se lado a lado: a mesa de MIGUEL VIEIRA BAPTISTA, num vermelho
sugestivo, alude, também, pelas suas formas, a uma consolidada reflexão sobre o minimalismo no design; a mesa de EDUARDO SOUTO MOURA, de 2013, construída numa
técnica em que os vários elementos, inteiramente em madeira, se desenvolvem em
formas subtis, milimétricas e delicadas.
Depois, o trajeto das peças é feito com a mescla dos períodos, não sendo prioritária
a cronologia, mas a pluralidade das linguagens, evidenciando-se a riqueza do design
pronunciado em português. O banco Cut Furniture, de 2010, teve origem numa placa
de contraplacado que a designer MARIANA COSTA E SILVA terá encontrado acidentalmente, em 1998. A cor vermelha e os vários pontos de junção do banco evidenciam o
princípio simples de montagem sem um único parafuso, cola ou ferramenta.
44
t-Carla Carbone
Fernando
Brízio
Pata Negra (2004)
Madeira lacada, produções de autor.
Pata Negra surgiu de um convite de uma loja para redesenhar um banco tradicional
de madeira, no contexto da exposição "Banco". Já noutras alturas, FERNANDO BRÍZIO
tinha ficado fascinado pela ideia de fazer objetos em madeira, representando animais
ou partes destes. Esta exposição foi a materialização dessa ideia. As pernas do banco
acabam em forma de patas de porco, esculpidas pelo designer.
f-António Bernardo
45
Centr al Parq
Design
Centr al Parq
Design
Ana
Mestre
Marcos
Sousa Santos
Shell Chair (2011)
Black Flower
O aparador Black Flower, de Ana Mestre,
faz parte de uma coleção de peças em
cortiça, realizadas por diferentes designers para a editora Corque Design.
Representada pelos designers Fernando
Brízio, Toni Grilo, Sofia Dias e Pedro Silva
dias, a editora é dirigida pela própria designer do aparador, Ana Mestre. A editora
foi fundada em 2009 e a matéria usada,
por excelência, é a cortiça, podendo ser
transformada industrialmente, em compostos aglomerados ou expandidos.
Uma cadeira, em contraplacado, composta por tiras de madeira cortadas digitalmente, agrupadas em forma de casulo e suportadas por três pernas orgânicas, arredondadas nas pontas. As costas da cadeira formam um casulo espaçoso, com espaço
para bojudas almofadas. Como se de um ninho se tratasse, é possível, a cada utilizador, personalizar a cadeira e criar um lugar de conforto. Depois de cortadas, as peças,
são montadas pelo artesão Sr. Castro.
Miguel Vieira
Baptista
Pedrita
Mobiletos (2011)
A série Mobiletos foi uma edição limitada, criada para o evento Show Me Gallery.
Mobileto tanto pode ser acessório, como
peça de mobiliário, e é composto por diferentes modelos de caixas, com diferentes
tipologias, permitindo jogos com os objetos e várias explorações com o espaço.
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Objeto do Objeto (2011)
"Objeto do Objeto" é uma mesa de apoio
que faz parte de um conjunto de quatro
mesas exatamente iguais. Em cada mesa,
muda apenas a posição da caixa paralelipipédica, que se encontra afixada ao
tampo. A caixa pode assumir diferentes
posições: pode surgir sobre o tampo, ao
centro, ao canto, por baixo, ou atravessando-o. As quatro versões, como uma
caixa a percorrer uma mesa, permitem
várias combinações entre objetos e remetem para a ideia de animação, onde
cada mesa se parece com um frame
cinematográfico.
47
Centr al Parq
Youtubers
Centr al Parq
Youtubers
Tudo a postos? Luzes, câmara, ação. Depois do fechar da claquete, não há pimenta
que intimide a língua. Eles não estão para passar paninhos quentes. Aliás, a ideia é
exatamente atirar mais achas para a fogueira. Sim, divertem-nos, mas não só. Têm
também uma certa queda para "alfabetizar" quem mais precisa. Pelo menos, ficam
com a sensação de dever cumprido quando, por exemplo, conseguem que alguém
deixe de escrever "parece" com cê-cedilha. Sim, são Youtubers, mas não só. São pedagogos. São opinion makers. Em frente à câmara, cada um tem o seu próprio estilo
humorístico, embora seja tarefa quase impossível disfarçar a herança proveniente do
rabi RICARDO ARAÚJO PEREIRA. Dificilmente, algum dia o Youtube lhes porá a comida na mesa. Alimentam-se —única e exclusivamente— de subscritores e visualizações.
O Youtube é apenas um trampolim. Por enquanto, o certo é que o riso continua a ser
o melhor remédio. Senhoras e senhores: SakE e Diogo Sena.
SakE
Não é nada do que estão a pensar. SakE não tem qualquer ligação com a bebida alcoólica japonesa embora
MIGUEL PESSANHA garanta estar dopado com substâncias —cujo nome não pode ser pronunciado— quando grava alguns dos seus vídeos. O nome artístico do
Youtuber de 25 anos remonta aos seus tempos de gamer
compulsivo: nos jogos online, era um tal de "Fhorsaken",
mas para simplificar ficou apenas sake. Já foi há mais
de oito anos que começou a construir o seu canal de
Youtube. Hoje em dia, olha para os seus primeiros vídeos
com desdém e não percebe como foi capaz de os fazer.
SakE gosta simplesmente de «mandar umas bojardas».
Quem o acompanha, já está habituado à brutidade com
que trata cada assunto. Mais do que substâncias, precisa de acumular alguma cólera para poder fazer um
novo vídeo. As suas piadas são uma espécie de puxão
de orelhas: «Eu tenho pais que vêm ter comigo a agradecerem por fazer estes vídeos, porque não querem que
os putos deles sejam assim», conta. A "pitalhada" é um
dos principais alvos das bojardas de SakE. Na altura,
muita gente leva a peito, mas, diz SakE, «mais tarde,
como as pessoas vão crescendo, percebem o ridículo que
48
é o que estavam fazer». Para MIGUEL PESSANHA, um
Youtuber é «um gajo que tem muito poder e não sabe
que o tem». Embora reconheça esse poder, não esconde que até mesmo para um Youtuber é perigoso tocar
em três temas: política, futebol e religião. Acha que a
liberdade de expressão não tem limites, mas deixa o aviso: «Depois, tens de acarretar com as consequências».
Como tem medo de ser o próximo GUSTAVO SANTOS,
prefere conter-se. SakE não é muito amigo de escrever
guiões. Depois de ligar a câmara, diz o que lhe dá na
real gana. Também não é muito amigo de giletes e pentes: a barba grande e o cabelo esgrouviado são já uma
imagem de marca. Enquanto fala, tem muitas vezes a
necessidade de gesticular de forma enérgica ou de dar
um jeito nos óculos. Já se aventurou pelo stand-up, mas
a coisa não lhe correu lá muito bem. Diz que das poucas
coisas que o deixam desconfortável é um público que
não o conhece e não o percebe. Dá-lhe um sabor especial fazer os outros rir, mas nem sempre é bem interpretado: «Infelizmente, engato gajas sem querer, porque
elas adoram rir e gostam de um gajo inteligente que as
faça rir. Mas eu sou um palhaço, é diferente» (pediu-me
que o citasse, para fazer ciúmes à namorada). MIGUEL
PESSANHA estudou Design de Multimédia, mas foi graças ao Youtube que encontrou emprego.
t-Rui Lino Ramalho
Diogo Sena
É atualmente um dos Youtubers mais visualizados em
Portugal e a culpa é, em parte, da sua própria perna. Em
pleno Verão de 2012, DIOGO SENA não podia aproveitar o
sol por causa de uma lesão no joelho. Para acabar com o
tédio, decidiu filmar-se e dizer "Olá, Youtube!". Apesar de
estudar na Universidade Católica de Lisboa, basta vermos o seu primeiro vídeo para percebermos que DIOGO
SENA não é muito religioso. Bem, mas o joelho lesionado
não explica tudo. "Sporting That I Used To Know", diz-vos
alguma coisa? A probabilidade da resposta ser "sim" é
alta. Este vídeo já foi visto cerca de três milhões de vezes. À custa dele, DIOGO SENA recebeu mensagens de
ódio e foi presenteado com um soco na cara (o SakE bem
que tinha alertado para os perigos das questões futebolísticas, Diogo). Depois de transfigurar o original de
Gotye para propósitos humorísticos, continuou a apostar nas paródias musicais. A mais recente foi sobre o
flagelo da Legionella, inspirada no tema "É Melhor Não
Duvidar" de C4. Depois do sucesso de "Sporting That I
Used To Know", o Youtuber de 20 anos recebeu um convite da TVI para colaborar no programa "A Verdade de
Cada Um", com o desafio de fazer um vídeo por semana.
f-Pedro Mineiro
É também um dos embaixadores da WTF, juntamente
com outros Youtubers. Os seus vídeos estão espalhados
por quatro canais de Youtube: Diogo Sena, A Verdade de
Cada Um, WTF e ainda Diogo Sena – Canal de Gaming.
Neste último, DIOGO SENA partilha vídeos dos seus jogos de FIFA em modo carreira, com direito a relatos bem
humorados, e no comando do Sporting, claro. Apesar de
tudo, DIOGO SENA não é um Youtuber como os outros:
«Sou um bocado tímido, não sei falar. No dia a dia, até
tenho vergonha de pedir um Menu Big Tasty», confessa.
Talvez seja essa a razão pela qual tem o sonho de ser
locutor de rádio. DIOGO SENA batiza-se a si mesmo de
«Youtuber preguiçoso», tendo em conta os largos meses
que, por vezes, fica sem criar conteúdos novos. Por outro
lado, diz tratar-se de uma questão de mero perfeccionismo: prefere fazer pouco e bem feito, do que muito e
mal: «Para falarmos para o público e termos uma opinião válida, temos que saber do que estamos a falar, há
que pesquisar e desconstruir bem o tema, não podemos
falar à toa», esclarece. Ao contrário de SakE, não possui
uma barba farfalhuda, mas goza de umas sobrancelhas
opulentas, que sobem e descem consoante o seu grau
de entusiasmo. Recentemente, DIOGO SENA recebeu
um troféu do Youtube por ter ultrapassado a marca dos
100 mil subscritores no seu canal.
49
Fotografia CELSO COLAÇO
Styling TIAGO FERREIRA
assistido por MARIA BENEDITA
Hair & M-U SANDRA ALVES
Modelos RAFAEL CAVACO @ Central Models
TARU e FRANCISCO SOARES @ Elite Lisbon
Agradecimentos ao Purista - Barbiére/Bar
50
Rafael
casaco JEREMY SCOTT X ADIDAS
Rafael
casaco, croptop, e calções RITA
ORA X ADIDAS ORIGINALS, meias
COS, ténis ADIDAS ORIGINALS by
JEREMY SCOTT e chapéu ADIDAS
ORIGINALS
Ta r u
casaco e cinto LACOSTE,
brincos e anel OEULEUTÈRIO
Fr a n c i s c o
t-shirt e calças RITA ORA X
ADIDAS ORIGINALS, chapéu e ténis
ADIDAS ORIGINALS
Ta r u
lenço DIESEL,
vestido RYTHM,
cinto LACOSTE
Rafael
lenço DIESEL,
camisa COS
Fr a n c i s c o
camisa FRED FERRY,
jeans DIESEL
Fr a n c i s c o
lenço DIESEL
camisas CARHARTT
Fr a n c i s c o
jumper DIESEL
Rafael
tudo Diesel,
chapéu BRIXTON,
ténis ADIDAS
Ta r u
chapéu BRIXTON
jumper DIESEL
ténis ADIDAS
Ta r u
vestido DIESEL,
brincos e anel OEULEUTERIO,
colar CHAUMET
Ra f a e l & Fr a n c i s c o
tudo DIESEL
Rafael
tudo REEBOK CLASSICS,
anel OEULEUTÈRIO
61
Parq Here
H otel
Hotel Val verde
DFR
Representações
VA LV E R DE HOT E L
Aven ida da L i b erdade, 16 4, L i sb oa
Tel. + 351 210 940 300
w w w.va lverdehotel.com
Um pequeno grande hotel, era assim que podíamos resumir na essência o VALVERDE
em plena avenida da Liberdade. Nem precisa de se pôr de bicos de pés para que as
suas cinco estrelas brilhem. O edifício foi totalmente renovado e tratado ao detalhe a
começar pela decoração e as comodidades oferecidas aos clientes para proporcionar
uma experiência única, que almeja o conforto do lar. Com 25 quartos com diferentes
formatos, a todos coube uma decoração única, constituída por peças raras, compostas por mobiliário vintage restaurado, obras de arte e alguns elementos de design contemporâneo. No contexto geral, os decoradores JOÃO PEDRO VIEIRA e DIOGO ROSA LÃ
procuraram trazer para o edifício lisboeta do século XIX o gosto eclético dos apartamentos urbanos (Town Houses) das elites londrinas ou novo iorquinas dos anos 20, por
isso o Hotel vive uma atmosfera nostálgica, exuberante e requintada.
A sala de espera é sem dúvida a jóia do hotel, deixa-nos presos aos detalhes, a mini
sala de leitura com tela de projeção que desce quando se dá inicio a uma sessão de cinema. A rivalizar, só o pátio interior, bastante desafogado, um oásis verde com piscina,
a escassos metros do bulício da grande Avenida. Sem dúvida um pequeno segredo a
descobrir e a guardar para quem procura um refúgio, ou então, uma reunião descontraída. O serviço de bar e de restauração estão ao lado e por agora oferecem um menú
de 35 euros para almoço e jantar que incluí uma entrada, prato principal e sobremesa.
A cozinha, a cargo da Chef CARLA SOUSA, é portuguesa, logicamente quando se fala
numa aposta hoteleira na qualidade.
62
t-Francisco Vaz Fernandes
w w w.sof tli n e-allk it.co m
w w w.r o b er tir at ta n.co m
w w w.felicer ossi.it
w w w.le d o.p t
T M:
+351 918 709 964
Parq Here
Slou Lisbon
L oja
Parq Here
G eorge
Nós, homens, sabemos o quão frustrante se pode tornar uma ida às compras. E não
nos venham com aquelas tangas da loja ser unissexo, porque lá por ter um expositor
com duas ou três (hiperbolicamente falando) peças masculinas, no cantinho mais escondido e apertado, não faz dela uma loja unissexo. Isto já para não falar na questão
dos tamanhos: para as mulheres, há do XXXS ao XXXL; para nós, há o M e, de vez em
quando, o L. Bom, desabafos à parte, era só para dizer que ANDRÉ LIMA se lembrou de
nós e teve a amabilidade de criar a SLOU LISBON. Foi a escassa oferta de espaços dedicados ao homem que o levou a pensar num novo conceito. «A roupa é a nossa segunda
pele e acaba por transmitir a nossa identidade», assegura ANDRÉ LIMA.
Com um ambiente descontraído e um atendimento personalizado, neste espaço, o
cliente poderá encontrar peças que se tornaram intemporais, graças ao seu design e
qualidade, e que não são comercializadas em mais nenhum lugar em Lisboa. Na SLOU,
há um pouco de tudo, diz ANDRÉ LIMA: «Desde marcas de referência, numa vertente
mais moda, a marcas de surf ou skate, passando por linhas mais exclusivas da NIKE ou
ADIDAS». A nipónica COMME DES GARÇONS, a francesa A.P.C., a belga RAF SIMONS, a
sueca OUR LEGACY, a alemã KIND OF GUISE, a italiana BARENA, a dinamarquesa NOSE
PROJECTS e a portuguesa LA PAZ são algumas marcas que constituem o espólio da loja.
É indicada para os jovens que andem à procura de modelos exclusivos de ténis, mas também para os mais velhos, que queiram um blazer da BARENA. Apesar de ser um espaço
a pensar nos homens, a SLOU LISBON abre, também, as portas ao público feminino.
A b er to de seg. a sex. (das 11:30h às 13:30h e das 14:30h às 20h )
e sá b. (das 14:30h às 20h ). Encer ra ao dom ingo.
Rua Nova da Tr indade 22E , L i sb oa
Tel: 213 471 104
w w w. slou l i sb on.com
64
t-Rui Lino Ramalho
Comes e Bebes
O A ntigo
C ar teiro
Já chegou a Lisboa e promete ser o "único pub verdadeiramente britânico". O THE
GEORGE abriu as portas com um menu
exclusivo, que inclui os tradicionais English
Breakfast, Sunday Roast e uma seleção
de 15 cervejas premium (como é o caso
da PERONI, considerada a melhor cerveja do mundo), únicas na capital. Ao todo,
são 35 as variedades de cerveja e 130 as
bebidas alternativas. Este negócio de família instalou-se em Lisboa pelas mãos de
GONÇALO BITA BOTA, que considera indispensável a existência de espaços como
este, uma vez que os britânicos são presença assídua em Portugal. Localizado no
coração de Lisboa, THE GEORGE ambiciona ser um espaço multicultural, com música ao vivo durante a semana e transmissões regulares de partidas de soccer.
As cartas de amor até podem ser todas
ridículas, mas o restaurante O ANTIGO
CARTEIRO tem o selo da gastronomia tradicional portuguesa, para além da variada
carta... de vinhos. O que foi, outrora, um
posto de correios, é agora um espaço acolhedor e intimista, com vista privilegiada
sobre o Douro. Situado no Largo do Ouro,
na Foz, O ANTIGO CARTEIRO é um híbrido,
que combina a comida tradicional com o
ar de antiga tasca. As especialidades, todas confecionadas na hora, vão desde o
Bacalhau com Broa e do Polvo à Lagareiro
aos Miminhos à Carteiro e à Açorda de
Gambas. As migas, as castanhas cozidas
(com travo a canela) e os legumes salteados são alguns dos possíveis acompanhamentos. O terraço exterior, com vista para
o rio, é o indicado para um aperitivo antes
da refeição – se o tempo colaborar, é claro.
A b er t o de seg. a dom., da s 12h à s 2h.
Rua do Cruci f i xo, 58- 66, L i sb oa.
A b er t o da s 12h à s 2 4h. Encer ra ao dom ingo.
La rgo do Ouro, Por t o.
t-Rui Lino Ramalho
65
Parq Here
Pura
C al
L oja
P ura Ca l
Rua Ro d r ig ue s Far ia, 103
L X Factor y, E spaço 0.1D.4, L i sb oa
tel f .966 781 511
Ter. a Sá b. das 11h às 20h. D om. das 12h às 17 h
w w w.puraca l.com
Fundada em 2010, a PURA CAL abre uma loja, atelier e galeria na Lx Factory, em Lisboa,
relacionada com o mundo do design e da decoração. JOÃO BERNARDES VILELA e TIAGO
PATRÍCIO RODRIGUES procuram oferecer espaços interiores contemporâneos onde design, a tradição e a contemporaneidade se cruzam. O universo da marca passa pelo
restauro e o re-design de peças vintage que se podem encontrar na loja, mas também
fazem projetos de design e de interiores. O objetivo é satisfazer um cliente que chegue
a loja e poça trazer todo um conceito de decoração a partir de um objeto que goste.
Para além dos produtos da marca PURA CAL, todos eles resultantes de uma pesquisa
sobre o melhor que se pode produzir de forma artesanal em Portugal, a loja oferece
ainda outras marcas com que se identificam e que ajudam a fortalecer a identidade
do seu universo.
A PURA CAL é ainda constituida por um terceiro espaço, a galeria, que será totalmente
dedicada aos criativos portugueses prevendo realizar seis a oito exposições anuais, pensadas de forma a criar conexões e complementaridade entre a arte e o design de interiores.
66
t-Maria Sao Miguel
ORGANIZAÇÃO
PATROCINADOR
PRINCIPAL
PARCEIROS
CO-PRODUÇÃO
APOIO À DiVULGAÇÃO

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