Novo livro do papa traz alívio aos que questionam se ele ainda é

Transcrição

Novo livro do papa traz alívio aos que questionam se ele ainda é
Novo livro do papa traz alívio aos que questionam se ele ainda é católico
REINALDO JOSÉ LOPES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
10/01/2016
Quem anda se perguntando se o papa ainda é católico provavelmente vai respirar aliviado ao
ler o primeiro livro assinado por Francisco depois que ele assumiu a liderança da Igreja
Católica.
O lançamento oficial de "O Nome de Deus é Misericórdia", produzido em parceria com o
vaticanista Andrea Tornielli, do diário italiano "La Stampa", acontece nesta terça-feira (12).
Giampiero Sposito - 1.jan.16/Reuters
Papa Francisco beija estátua do Menino Jesus durante missa do Ano Novo na Basílica de
São Pedro, no Vaticano
O texto, brevíssimo (basta uma tarde para lê-lo), transcreve trechos de conversas entre
Tornielli e o pontífice que aconteceram em julho de 2015 nos aposentos de Francisco na Casa
Santa Marta, a "hospedaria" do Vaticano.
Em seus diálogos com o vaticanista, Francisco aborda o tema da misericórdia divina e do
anseio humano por essa misericórdia num tom que já caracterizava os sermões do papa em
sua visita ao Brasil, em 2013: o de pároco planetário.
De fato, a "persona" adotada pelo papa no texto é a daquele padre idoso e compreensivo de
cidade pequena, acostumado a lidar tanto com as beatas da paróquia quanto com os bêbados
que às vezes invadem a missa de domingo.
TRADICIONAL
Por isso mesmo, não há nada no texto que faça jus à aura de revolucionário do pontífice.
Mesmo porque as perguntas de Tornielli, bastante domesticadas, raramente tocam temas
polêmicos.
O que predomina no pensamento do papa é a reafirmação serena e moderada da doutrina
cristã tradicional: sim, o pecado existe (inclusive o pecado original, embora Francisco, defensor
da teoria da evolução, não interprete de forma literal a rebelião de Adão e Eva contra Deus);
se o ser humano não reconhece a mácula gerada por esse pecado e não deseja o perdão
divino, não há esperança para ele.
Francisco, porém, enfatiza a boa notícia embutida nesse cenário teológico aparentemente
desolador: não importa o tamanho da escorregada humana nem a frequência dessas
escorregadas, Deus estará sempre de braços abertos.
Francisco abençoa fieis ao fim da missa de Ano-Novo, no Vaticano
Isso também significa que as pessoas precisam se esforçar para seguir o exemplo do Criador e
perdoar sempre —ou "setenta vezes sete", como escreve, citando uma fala de Jesus nos
Evangelhos.
Essa convicção motivou Francisco a abrir no fim de 2015 um Ano Santo da Misericórdia, no
qual os fiéis podem "zerar suas dívidas" com Deus, por assim dizer.
Em sua conversa com Tornielli, ele ressalta que não há nenhuma grande novidade nessa visão.
Tanto João Paulo 2º quanto Bento 16 dedicaram parte importante de seus escritos e de seu
apostolado à misericórdia. O título do livro, aliás, é inspirado numa frase do papa emérito e
antecessor de Francisco.
NO CONFESSIONÁRIO
Dada essa ênfase na continuidade, algo de fato muda com o pontificado de Francisco? Talvez o
mais marcante seja a imagem, repetida pelo papa no livro, de uma igreja que é um hospital
improvisado numa zona de guerra, que vai ao encontro de quem se sente ferido, e não uma
igreja que permanece fechada em si mesma.
O papa aconselha, por exemplo, os padres a não serem sovinas com as absolvições no
confessionário —Francisco é um entusiasta da confissão tradicional— e a dar uma bênção aos
fiéis mesmo quando sentem que não é possível absolvê-los.
Cita um padre que admirava, o qual, preocupado por absolver as pessoas com muita
facilidade, rezava a Jesus dizendo: "Senhor, perdoe-me, mas foi o Senhor que me deu o mau
exemplo de perdoar sempre!".
'por que eles?'
Os aspectos mais polêmicos aparecem tangencialmente na obra, embora Francisco às vezes
surpreenda ao abordá-los.
Comentando seu famoso "Quem sou eu para julgar?", a respeito dos fiéis gays, ele afirma:
"Prefiro que as pessoas homossexuais se venham confessar, que fiquem próximas do Senhor,
que possamos rezar juntos".
Em contraste com certos grupos cristãos conservadores, o papa defende a necessidade de um
tratamento humano e misericordioso dos que estão na prisão, independentemente do crime
que tenham cometido.
"Cada vez que entro numa prisão, tenho sempre este pensamento: 'Por que eles e não eu?'.
Devia estar aqui, merecia estar aqui."
"O NOME DE DEUS É MISERICÓRDIA"
QUANDO: LANÇAMENTO MUNDIAL EM 12 DE JANEIRO
QUANTO: R$ 29,90 (144 PÁGS.)
EDITORA: PLANETA

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