Ledur, Rejane Recziegel. MULHERES NA
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Ledur, Rejane Recziegel. MULHERES NA
Comunicação MULHERES NA CONTEMPORANEIDADE PROJETO DE INCLUSÂO COM MULHERES – ARTES VISUAIS VERONA, Marília Inês1 LEDUR, Rejane Recziegel Palavras chaves: Mulheres na contemporaneidade, Instalação, Seios, Inclusão RESUMO No mês de março de 2007 o Departamento de Cultura da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Canoas (RS), propôs o projeto “Mulheres na Contemporaneidade” que teve por objetivo oportunizar momentos de reflexão e debate sobre o papel das mulheres na atualidade a partir de ações culturais diversas, como exposição de arte, ciclo de debates e montagem de uma instalação, dando visibilidade e valorizando as mulheres em suas diferentes conquistas e lutas. Dentre as ações realizadas, a Instalação: Mulheres de Peito Aberto teve uma grande repercussão e provocou diferentes reações, tanto no público feminino como masculino. A proposta consistiu na montagem de um ambiente contendo um painel montado com fotos (em tamanho A4, coloridas) de 250 seios, de mulheres voluntárias, que foram expostos em diálogo com uma cortina de soutiens usados. Foram fotografados seios de mulheres entre 15 a 70 anos, algumas com intervenções cirúrgicas por motivos estéticos ou de saúde. A instalação pretendeu discutir, provocar e sensibilizar os espectadores para as questões de gênero, saúde, auto-estima e estética relacionadas com o conceito da “terceira mulher”. Para o filósofo francês Gilles Lipovetsky, a terceira mulher “é uma mulher reconciliada com as normas do feminino”. Pela primeira vez na história da humanidade a mulher não está encerrada em padrões definitivos, seu futuro está em aberto assim como o do homem. Hoje a mulher é sujeito e decide sobre todas as dimensões de sua vida. Segundo o autor esta indeterminação não quer dizer que homens e mulheres estão confusos, mas que há uma flexibilidade na definição dos papéis. A construção da proposta desencadeou reações diversas. A primeira em relação ao convite para fazer a fotografia que, no primeiro impulso, algumas mulheres recusam, mas após verem um exemplo de como ficaria a foto (só dos seios) e com a identidade preservada, acabavam aceitando e incentivando suas colegas a participarem. Iniciada a exposição, a grande maioria veio para identificar os seus seios e ficaram muito surpresas e satisfeitas com o resultado e orgulhosas por fazer parte do trabalho. As mulheres que visitavam a exposição ficavam muito mais centradas numa avaliação estética enquanto que os homens ficavam perplexos com a quantidade e refletiam sobre a história individual de cada uma, sem se deter tanto em detalhes estéticos. A instalação de foco transdisciplinar, promoveu a cidadania e inclusão de mulheres, foi 1 Secretaria Municipal de Educação de Canoas/RS. Departamento de Cultura elaborada e executada pelas professoras Marília Inês Verona e Rejane Ledur do setor de Artes Visuais e apresentada posteriormente para alunos de uma disciplina de Arte-educação do Programa de Pós-Graduação da UFRGS. MULHERES NA CONTEMPORANEIDADE O Dia Internacional da Mulher criado em 1910 e reconhecido pela ONU em 1975, em homenagem a 130 operárias de uma fábrica de tecidos que morreram carbonizadas, após reivindicarem melhores condições de trabalho e equiparação de salário. No Brasil, o dia 24 de fevereiro de 1932 foi um marco na história da mulher brasileira. Nesta data foi instituído o voto feminino. As mulheres conquistavam, depois de muitos anos de reivindicações e discussões, o direito de votar e serem eleitas para cargos no executivo e no legislativo. No Dia Internacional da Mulher na maioria dos países realizam-se conferências, debates e reuniões cujo objetivo é discutir o papel da mulher na sociedade atual. O esforço é para tentar diminuir e, quem sabe um dia terminar, com o preconceito e a desvalorização da mulher. Mesmo com todos os avanços, as mulheres ainda sofrem, em muitos locais, com salários baixos, violência masculina, jornada excessiva de trabalho e desvantagens na carreira profissional. As mulheres já obtiveram muitas conquistas nesta luta, mas ainda há muito para ser modificado. Historicamente foi preciso sair de um extremo para outro: de submissas, alheias às decisões, objeto de prazer do homem e com o papel definido de esposa e mãe, à contestação de tudo isso com o movimento feminista. Segundo a professora Constância Lima Duarte, o feminismo foi um movimento legítimo que atravessou várias décadas, e que transformou as relações entre homens e mulheres. Pode-se dizer que a vitória do movimento feminista é inquestionável, obtendo muitas conquistas para as mulheres no campo social e pessoal, como freqüentar a universidade, escolher a profissão, receber salários iguais, candidatar-se a cargos eletivos, entre outros. Porém sua grande derrota foi ter permitido que um forte preconceito isolasse a palavra, e não ter conseguido se impor como motivo de orgulho para a maioria das mulheres, transformando a imagem da feminista em sinônimo de mulher mal amada, machona, feia e, a gota d”água, o oposto de “feminina”. Hoje se projeta uma nova mulher que une situações que antes eram opostas. Para o filósofo francês Gilles Lipovetsky, seria a “terceira mulher” com um modelo indeterminado. Pela primeira vez na história da humanidade a mulher não está encerrada em padrões definitivos, seu futuro está em aberto assim como o do homem. Hoje a mulher é sujeito e decide sobre todas as dimensões de sua vida. Segundo o autor esta indeterminação não quer dizer que homens e mulheres estejam confusos, mas que há uma flexibilidade na definição dos papéis. Na contemporaneidade, se conjuga a autonomia de cada um e a permanência de padrões herdados culturalmente. Como salienta Lipovetsky (2000): “Em um mundo em que os territórios não estão absolutamente fechados e que permitem certa mobilidade, a terceira mulher é uma mulher reconciliada com as normas do feminino. Não quer dizer reconciliada consigo mesmo. Porque esta sociedade individualista, pelo contrário, conduz homens e mulheres a interrogar-se sobre si mesmos, com um certo mal estar e dúvidas.” (LIPOVETSKY. 2000) Nesse contexto o Departamento de Cultura da Secretaria Municipal de Educação e Cultura, através do Serviço de Cultura, propôs o projeto mulheres ba Contemporaneidade, visando oportunizar momentos de reflexão e debate sobre a temática a partir de ações culturais diversas, como exposição de arte, palestras, instalações, entre outras que destaquem as conquistas das mulheres dentro e fora do município, salientando o momento histórico em que temos a primeira governadora eleita no estado. INSTALAÇÃO: Mulheres de Peito Aberto Os seios culturalmente estão associados ao feminino, à sexualidade, maternidade e, historicamente, usados como representação de luta. Nenhum outro órgão simboliza com tanta competência o poder da mulher. Tanto que nos anos 60, o principal gesto dos movimentos de liberação feminina foi queimar os sutiãs, que os mantinham aprisionados. Vistosos, discretos, exuberantes, arredondados, ovais. Seja qual for seu formato, os seios encarnam um duplo poder e sintetizam a própria natureza feminina: a de seduzir e nutrir. Estudados à exaustão por correntes psicológicas, estão ligados, no inconsciente coletivo, a experiências de satisfação, saciedade e descoberta do outro. A instalação representou visualmente o conceito “Mulheres de Peito Aberto”, com 225 fotos de seios nus expostos em painel na parede, numa sala específica para a mesma. Fotos digitais, de uma fotógrafa amadora. Sem acessórios e adereços, em fundo neutro, reproduzidas em cópia colorida tamanho A4. Na porta uma cortina de soutiens usados, doados pelas próprias participantes. A instalação provocou e sensibilizou os espectadores para as questões relativas a mulher na atualidade. As identidades das mulheres fotografadas foram preservadas , bem como , características pessoais, intervenções cirúrgicas e/ou próteses. Não foi direcionada nenhuma leitura de obra, pois as fotos na sua diversidade, se constituem em textos abertos a serem resignificados por cada leitor / espectador. A instalação ficou exposta de 8 a 30 de março de 2007, no Conjunto Comercial Canoas, das 9h às 18h, foi visitada por 445 pessoas e também foi apresentada para uma turma de alunos do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRGS/FACED. CICLO DE DEBATES: Mulheres em Cena Realização de um ciclo de debates em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, com palestrantes, todas mulheres de diferentes áreas de atuação. A partir do testemunho pessoal, abordaram temas como a mulher na educação, na cultura, na política, nas artes, na sociedade e no mundo. Com entrada franca, os debates oportunizaram um espaço para que o público dialogasse sobre o papel da mulher na contemporaneidade, apontando perspectivas para a mulher no novo milênio. O evento ocorreu nas quintasfeiras (08, 15, 22 e 29) do mês de março, das 18h às 21 horas, na sala A da Secretaria Municipal de Educação e Cultura, com as seguintes temáticas: - Mulheres em cena ...na Cultura ( 08/03/07 ) Neste painel participaram profissionais das áreas do teatro, dança, música, literatura e artes plásticas que fizeram seu depoimento quanto os desafios de ser mulher e trabalhar com arte. - Mulheres em cena... Vencedoras (15/03/07) Cinco professoras premiadas em nível nacional relataram o trabalho desenvolvido e a emoção da conquista de seus prêmios. Uma delas já é veterana em prêmios na área de arte. - Mulheres em cena... Na adversidade (22/03/07) Com enfoque mais voltado para a área da saúde, neste dia, uma psicóloga, uma médica e duas professoras, relataram a experiência de passar pelo câncer de mama seu tratamento e uma nova perspectiva de vida. - Mulheres em cena... Conquistando novos territórios (29/03/07) Neste encontro, uma bombeira, uma delegada, uma diplomada e a diretora do Clube de Diretores Logistas de Canoas, contaram os desafios de atuar em uma profissão, até bem pouco tempo atrás, exclusivamente masculina. EXPOSIÇÃO: Mulheres que fazem arte As artes visuais, território que por muitos anos foi quase que exclusivamente masculino hoje tem na produção do público feminino um grande potencial criativo, sendo o próprio universo feminino fonte de inspiração para a arte contemporânea. A exposição “Mulheres que fazem arte” ocorreu na Praça de Eventos do Conjunto Comercial Canoas, no período de 8 a 30 de março de 2007. Contou com a participação de 16 artistas plásticas canoenses, que além de exporem seu trabalho alusivo à mulher, deixaram sua reflexão a partir d questionamento: ser mulher e ser artista na atualidade. Além dos 16 trabalhos, havia na exposição 16 pequenos textos impressos, fixados no chão. Como decorrência das atividades desenvolvidas em março, em agosto organizou-se o Curso de Arte em Tecido. Ação específica para atingir e atrair artesãs, partindo da habilidade manual e do desejo de aperfeiçoamento. Foi necessário , devido a demanda, organizar duas turmas de 25 mulheres, muitas delas ligadas a associações de bairro, líderes comunitárias e voluntárias de trabalho social. O conteúdo do curso abrangeu desde técnicas de fuxico e customização; conhecimento de arte moderna e contemporânea; até descoloração, frotagem e desenho com areia, estas últimas, criadas pelo artista plástico Fernando Lima. Encerradas as ações, pode-se concluir que as mulheres não ocupam simplesmente um lugar no mercado de trabalho, levaram para os escritórios, fábricas, vida pública e artes um jeito feminino de atuar. Enfrentando obstáculos, transpondo fronteiras elas mostram a diversidade da força da terceira mulher. Tudo graças às loucas que queimaram sutiãs, que bradaram pela liberdade sexual. È delas que devemos nos lembrar quando constatamos que somos hoje maioria nas universidades, que aumentamos nossa participação no mercado de trabalho, que rompemos com o estereótipo do sexo frágil. Feministas? Vanguardistas que conquistaram o acesso à educação formal, o direito ao voto feminino e a igualdade de sexos na Constituição Brasileira. O feminismo era um palavrão. Hoje considerado por estudiosos o movimento social mais importante do século XX. “Mudanças culturais são processos lentos e muitas vezes contraditórios. Mas, apesar de incompletas as transformações por que passou, nossa sociedade segue o caminho dos sonhos de igualdade e democracia acalentados pelas mulheres” Ruth Cardoso. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: DUARTE, Constância Lima. Feminismo e literatura no Brasil. Estudos Avançados, Vol. 17, nº 49. São Paulo, 2003. Site: Acessado em 25/02/2007 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010340142003000300010 LIPOVETSKY, Gilles. A terceira mulher. São Paulo: Companhia da s Letras, 2000.