Bin Ladens do Brasil
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Bin Ladens do Brasil
Bin Ladens do Brasil Dan M. Kraft Advogado, Mestre em Direito Comercial (UFMG) e Internacional (Londres) Publicado no Jornal Estado de Minas aos 17 de maio de 2011 Terá o Paquistão dado esconderijo e proteção a Osama Bin Laden, usurpando-se dos mais de 10 bilhões de dólares que os Estados Unidos transferiram diretamente para os cofres daquele país, desde 2001? Essa é uma pergunta que jamais será respondida em razão de suas severas conseqüências políticas. Sabemos, entretanto, a resposta. O terrorista mais procurado do planeta vivia em meio a generais da ativa e aposentados, em um bairro agradável perto da capital paquistanesa. Esse fato torna difícil, quase impossível, pensar-se em algo diverso que a colusão, a convergência de interesses, entre os militares paquistaneses e facções terroristas que adulavam o homicida em série. O que o Brasil tem a ver com isso? O sucesso estrondoso da primeira e da segunda edições do filme Tropa de Elite, desnudando a relação incestuosa entre traficantes, policiais e políticos, nada mais é do que a mesma moeda corrente no Paquistão. Só a população brasileira gostou. Não consta que chefes de polícia ou caciques políticos tenham aplaudido a produção cinematográfica, pois devem interpretá-la como mera ficção. O contribuinte brasileiro paga por proteção, mantendo uma máquina legislativa complexa, que deve fazer leis determinando que o estado lhe proteja. A execução de tais leis deve fazer-se pelo poder executivo, mais especialmente pelas forças da lei e da ordem, sobre as quais deve recair absoluta e inquestionável confiança por parte dos cidadãos. Se tudo isso fosse verdade, o círculo vicioso de proteção a bandidos efetuado, como todos sabemos, por parcelas significativas do aparato de proteção pública, não ocorreria. A culpa é só da banda podre da polícia? Absolutamente não. Nosso Paquistão mentiroso e cínico não povoa apenas parte da força policial e judiciária. Ele tem igual expressão em todos os níveis de poder. Deputados e senadores bandidos, denunciados nas tribunas das assembléias, expostos em reportagens e investigados por procuradores de boa envergadura moral, continuam sendo protegidos por gente poderosa e influente. Como no Paquistão, vender proteção e promessa de combate ao crime é um negócio altamente lucrativo, e que jamais deve atingir os resultados, pois isso significaria desemprego em massa entre tais bandidos. O Brasil possui muitos Bin Ladens, como os que fraudam licitações para roubar remédios destinados à população, selam carros e efetuam vistorias remotamente, desviando recursos ou recebendo propinas para ocultarem o interesse público e violarem leis que apenas devem ser observadas por aqueles a quem deveriam proteger. Da mesma forma que o terrorista-mor arvorou-se a criação de uma organização que almejava o califado mundial – e que jamais logrou implantar governo ou algo construtivo - os terroristas tupiniquins recebem guarida de pessoas e instituições que conhecem seus endereços, métodos e propósitos, mas que jogam duplo pois ainda vêem incentivos em seu cinismo existencial. Não teremos comandos armados norte-americanos entrando em gabinetes ou escritórios brasileiros para liquidarem autores do terrorismo social. Não devemos promover ações espetaculares. Encerrar o ciclo de proteção a esses parasitas, lançar um apelo por uma operação “Mãos-limpas”, é algo que anda engasgado em nossas gargantas. Esperar com que o Congresso Nacional passe leis nesse sentido seria pedir à raposa que acaricie a galinha. Quanto tempo ainda vamos esperar para nos livrarmos de nossos próprios terroristas?