Veja aqui! - Laura Muller

Transcrição

Veja aqui! - Laura Muller
ENTREVISTA
A POLIVALENTE LAURA MULLER
ESBANJA SIMPATIA
EM FOCO
MARCELO MUSSI - CURITIBANO
BOM DE PRATO
REDES SOCIAIS
COMO FAZER SUA EMPRESA
APARECER NA WEB
LÍNGUAS ESTRANGEIRAS
SÓ FALAR INGLÊS FICOU PARA TRÁS
VIAGEM
A BELEZA E O CHARME
DE NOVA IORQUE
GOURMET
BACALHAU E O SABOR
DAS GRANDES NAVEGAÇÕES
AGOSTO/SETEMBRO 2011 l VILA OLÍMPIA CONSUMER MAGAZINE l 1
ENTREVISTA
Laura MülleR
Da TV
ao divã:
Laura MUller
esbanja
versatilidade
Assim que acabou de gravar seu quadro do programa Altas Horas, da Rede Globo, Laura Müller nos
atendeu em seu camarim com um belo sorriso no rosto. Lá, pudemos conferir que não é apenas o seu papo
descontraído sobre sexo que chama a atenção. Seu olhar intenso e sua simpatia também atraem a todos ao
redor. Cumprimenta cada pessoa que passa por ela, atende a ligações, continua dando a entrevista, bebe
um copo de água e não perde a postura um minuto sequer. Profissional centrada, ela vai da introspecção
de uma psicóloga no consultório à extroversão de uma comunicadora em um programa de televisão para
jovens em apenas um minuto. Mas, assume que não é tão fácil assim. Confira a seguir a entrevista com essa
multiprofissional (ela é sexóloga, psicóloga, palestrante e jornalista!), e aproveite para tirar suas dúvidas
sobre sexo e relacionamento.
Por Sabrina Generali Fotos Juliana Asdurian
Antes de trabalhar com
educação sexual, você era
jornalista.
Isso. Eu comecei minha carreira como
jornalista. Trabalhei em 1990 ou 1991 na
extinta Folha da Tarde e na Folha de São
Paulo. De lá, eu fui para a revista Cláudia,
quando surgiu uma vaga de editora de
sexualidade. Era a primeira vaga nessa
área, em 1996 mais ou menos. A gente
não tinha muito como editar essa área.
Era uma época em que as revistas estavam
reposicionando o conteúdo editorial para
falar mais de sexo. Então, eu pensei “como
vou fazer isso? Eu preciso saber um pouco
mais sobre esse assunto”. Aí, resolvi me
especializar: fiz uma pós-graduação em
educação sexual. Esse curso me permitia
falar em público e também trabalhar com
mídia. É uma área em que se pode ser
pedagogo, comunicador social como eu,
agente de saúde... Várias áreas podem
ser direcionadas para a educação sexual.
Comecei a fazer palestras. Foi um sucesso
danado, deu um monte de entrevistas.
Foi bem bacana. Foi uma época que teve
um boom e, logo que eu terminei a pós,
lancei o livro 500 perguntas sobre sexo,
em 2001. A partir de então, começaram a
me chamar muito para falar em programas
de TV e rádio, e eu comecei a dar muitas
palestras sobre esse tema: sexo do homem,
da mulher, do adulto, do jovem. Ao final
delas, muitas pessoas me pediam para
atendê-las no consultório. Foi quando eu
resolvi fazer Psicologia, para poder atender
essa demanda. Hoje, eu integrei essas
áreas. Então, sou psicóloga especialista
em sexualidade, atendo em consultório,
mas também trabalho muito com mídia e
continuo com as palestras por todo o Brasil,
uma área que gosto muito de atuar. Na
área de mídia, trabalho em programas,
escrevo colunas para revistas, jornais,
internet e para o meu site.
Antes de você ter seu
quadro fixo no Altas
Horas não houve outra
pessoa que falasse sobre
sexo há tanto tempo e com
essa periodicidade na TV
brasileira, houve?
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Acho que não. No Altas Horas, o Serginho
teve a ideia de criar um quadro para falar
sobre sexo. A produção dele entrou em
contato comigo e me chamou para fazer
uma entrevista. Eu tinha acabado de lançar
o meu segundo livro, 500 perguntas sobre
sexo do adolescente. Eram respostas para
jovens, educadores e pais. Tinha a ver com
o programa, deu certo e o quadro ficou.
Mesmo já tendo escrito e
falado sobre sexo antes
de começar a trabalhar
na TV, qual foi a sensação
da primeira vez em que
falou sobre sexo em rede
nacional?
Eu acho que, na verdade, eu tive um treino
ao passar por salas de aula e palestras.
Antes de colocar a cara na TV, eu já dava
palestras há algum tempo e a sala de aula
do adolescente e do pré-adolescente é
um local que ensina muita coisa, porque,
assim como no Altas Horas, eu recebia
perguntas de todo o tipo. É uma loucura,
um agito e eu gosto muito de trabalhar
com isso. Nessas situações se aprende a
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Dessas atividades, qual
você mais gosta?
Eu não sei dizer, porque são bem
diferentes. No consultório, estou num
espaço para fazer uma análise profunda.
É uma modalidade muito bacana. No Altas
Horas muda vertiginosamente. Em um estou
muito mais ouvindo e analisando e, no
outro, falando sem parar. São áreas que se
complementam. Numa palestra, falo 1h30
sem parar, dou risada etc. Já para escrever,
de novo, preciso fazer uma introspecção.
Elas foram surgindo, são possibilidades de
trabalhar os conteúdos da Psicologia e da
Sexualidade, que vão compondo o meu dia
a dia.
ter jogo de cintura, a ouvir a pergunta, a
responder de forma mais sintética, a fazer
o trabalho de educação sexual de acordo
com cada público. Eu acabei usando essa
experiência na TV. O cenário muda um
pouco por causa da câmera, mas é como
um grande bate-papo, semelhante ao de
uma palestra. Essa passagem, de certa
forma, foi tranquila. E tem o detalhe de que
eu gosto de trabalhar com o jovem. Então,
quando se gosta de conversar com esse
público, facilita o papel do educador, abrese uma porta. Também gosto de trabalhar
com mídia, meu começo foi no Jornalismo,
o que acabou sendo um casamento legal.
Quem procura seus serviços
e que tipo de problemas
você costuma solucionar
no consultório?
Varia muito. Eu atendo adolescentes,
adultos, pessoas da terceira idade. Mas,
por mais que eu trabalhe muito com a
população jovem, quem acaba indo
para o consultório são mais os adultos.
Quem procura o psicólogo especialista
em sexualidade é uma população que
está vivendo uma dificuldade sexual:
casais vivendo baixa de desejo, homens
com dificuldade de ereção ou ejaculação,
mulheres que têm dificuldade de chegar
ao orgasmo ou que sentem dores na
penetração e já foram ao ginecologista
e viram que não têm nada de errado no
corpo, mas que há fundos emocionais.
Essas são algumas das questões que
chegam ao consultório de um psicólogo
especialista em sexualidade. Mas não é
só isso. Chegam também outras questões
de psicologia: gente casando, separando,
casos de depressão, de problemas no
trabalho. São dificuldades variadas.
Casos de pedofilia e abuso
sexual são frequentes?
Esses casos vão chegando para psicólogos
em geral. Os casos que chegam são de
sofrimento. Quando uma pessoa sofre,
acaba buscando o consultório. Eu sou
psicóloga junguiana, trabalho com
psicologia analítica e, nessa perspectiva,
fazer terapia, na verdade, é um processo
para a pessoa se conhecer melhor, não
só no sexo, mas na vida como um todo, e
aprender a lidar melhor com sua essência,
sofrimentos e dificuldades. Essa é a
demanda que chega ao consultório. Não
são só queixas sexuais. Os mais novos,
por exemplo, chegam com dificuldade
escolar, casos de abuso de drogas ou de
dificuldade de relacionamento...
Hoje, percebe-se que as
pessoas estão adquirindo a
consciência de que também
é necessário estar saudável
mental e emocionalmente.
Por conta disso, tem
aumentado a demanda dos
psicólogos?
As pessoas estão mais abertas, sim. Mas,
quando rola uma crise financeira, muitas
vezes, cortam a terapia e, em alguns
momentos, era uma coisa que não se
poderia cortar, porque justamente ela daria
o suporte para encontrar saídas e pensar
melhor em possibilidades. Hoje, as pessoas
já estão muito mais abertas do que há
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algumas décadas, buscam mais a terapia e
entendem melhor o sentido da psicologia,
que é essa forma de se conhecer mais
profundamente. Mas ainda há preconceito.
Ainda tem muita gente que fala que
psicólogo é médico de louco, ou acha que
não tem problemas na vida, então, não
precisa de uma consulta, só em caso de
um grande problema. Não é assim... A
psicologia trabalha o caminho para que a
pessoa se conheça mais profundamente.
Como você concilia
todos seus trabalhos:
jornalismo, palestras,
consultório?
É uma loucura (risos)! Minha vida é bem
agitada. Agora eu tenho a Vanessa,
minha assistente, para ajudar a atualizar
meu site. A gente vai contando com
pessoas e acaba formando uma equipe.
Eu vou tentando administrar da forma
que dá. Dedico alguns dias só para os
atendimentos em consultório. Então, minha
cabeça fica focada nisso. Tem o dia da
gravação do Altas Horas, que é uma vez
por semana, e, os outros dias, eu divido
para escrever minhas colunas e conseguir
dar conta de livros. Eu comentei de dois
deles, mas também lancei um terceiro, que
foi inspirado no programa Altas Horas,
chamado Altos papos sobre sexo. Agora,
estou escrevendo o quarto, para o ano que
vem. O Altos papos lida com um público
de 12 a 80 anos. Faltou a faixa das
crianças, que é o que eu estou planejando
agora. Tem um monte de coisas que eu vou
encaixando.
O tema “sexualidade” está
cada vez mais comum, e
as pessoas têm mostrado
mais coragem para tocar
no assunto em público.
Você acha que casos de
abuso e assédio sexual
têm aumentado por conta
disso ou as ocorrências
independem dessa mudança
comportamental?
Eu não tenho uma pesquisa sobre isso,
mas, ao fazer uma análise sobre o que
essa abertura sexual trouxe para nós,
eu diria que vivemos uma época muito
diferente da época dos nossos avôs, por
exemplo. Antes, as mulheres não tinham
direito ao prazer, que era cheio de
repressões e dificuldades, mas houve uma
grande mudança: hoje os casais vivem
melhor a sexualidade, homens e mulheres
também individualmente, as práticas
sexuais hoje são muito mais variadas –
sexo oral, anal, penetração vaginal –, sem
tanto tabu. Isso tudo foi uma liberação
muito bacana. Aprendemos também que
podemos ser homossexuais, heterossexuais,
bissexuais e que isso não é doença, mas
ainda há muito preconceito. Estamos
caminhando para deixar esses preconceitos
de lado e entender nossa sexualidade da
forma que for mais adequada. Isso é um
grande avanço, muito positivo. O outro
lado é que também há a banalização, uma
falta de limites, um extrapolar de limites. Às
vezes, a pessoa acha que pode se lançar
a várias práticas sexuais porque está na
moda e isso não é legal. E qual seria o
limite de uma prática sexual? É aquele
que não fere a pessoa nem física, nem
emocionalmente.
“Uma pergunta comum é o que
é sexo, A
gente pode
responder a
uma criança
que sexo é
uma prática
do mundo
adulto ou,
com outra
linguagem,
afirmar que
sexo é coisa
para gente
grande fazer, para os
pequenininhos ainda
não.“
Pensando em
relacionamentos
interpessoais no âmbito
profissional, como agir
quando a atitude de alguém
passa a incomodar?
Os psicólogos sempre costumam receber
esses casos. Como colocar limites no outro?
Colocando mesmo, da forma que for
possível. A gente precisa dizer não. Isso
vale para os casos de abuso ou violência
sexual e pedofilia. Quando eu dou palestra
para crianças e adolescentes, toco nesse
assunto polêmico: ninguém pode tocar ou
usar o nosso corpo, o adulto não pode
ter “brincadeiras sexuais” com crianças e
adolescente. Nas palestras eu lanço uma
pergunta: “o que a gente faz quando não
quer alguma coisa?”. Quando um bebê
não quer alguma coisa, ele esperneia e
chora. É isso que se deve fazer. No caso da
criança e do adolescente, ele também deve
procurar um adulto de confiança e falar. A
ocorrência não é culpa dele. A criança e o
adolescente são vítimas. É preciso ensinar
a colocar esse limite desde pequenininho
e, na fase adulta, aliviando um pouco esse
peso, quando um casal está vivendo suas
práticas sexuais e um não gosta de fazer
algo, deve-se compreender que não há a
necessidade de ser feito. Sexo é para ser
prazeroso. Não sei se vale à pena ceder só
para agradar o outro.
A educação sexual é sempre
ofertada como disciplina
nas escolas?
Não é uma totalidade das escolas que
dão educação sexual. Há boas escolas
particulares e públicas que ainda não
oferecem. Essa gestão dos parâmetros
curriculares nacionais exige, desde 1997,
que as escolas ofereçam o conteúdo
sexualidade como transversal no ensino,
desde os sete anos de idade, em qualquer
disciplina. Mas, isso não acontece em todo
o Brasil. Não sei nem se isso acontece em
todas as escolas da Vila Olímpia. Não
há dados afirmando que a totalidade das
escolas está aplicando esse conteúdo.
Como, quando e de que
maneira os pais devem dar
início a esse diálogo?
O que eu indico para os pais é que fiquem
abertos, porque as perguntas virão mesmo,
de todas as idades, desde criancinhas.
À medida que eles vão crescendo os
questionamentos vão ficando mais
aprimorados. Não tenha medo, apenas
adéque a resposta e a linguagem à faixa
etária da criança, sem contar mentiras.
Uma pergunta comum é “o que é sexo?”.
A gente pode responder a uma criança
que sexo é uma prática do mundo adulto
ou, com outra linguagem, afirmar que
sexo é coisa para gente grande fazer,
para os pequenininhos ainda não. Que
é um namoro para gente grande, como
o papai e a mamãe. Ponto. Já respondeu
alguma coisa. “E o que é camisinha?”. É
uma coisa que gente grande usa para esse
namoro. Então, você pode responder isso
para uma criança de dois ou três anos.
Contar mentira e história da carochinha
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não vale à pena. É legal ir evoluindo a
resposta na medida em que as dúvidas
vão aumentando. Quando essa criança
chegar aos dez anos, talvez até um
pouquinho antes, a gente já precisa
entrar com explicações mais abrangentes,
falando sobre as mudanças dos corpos
femininos e masculinos. No livro Altos
papos sobre sexo, eu começo a falar dos
12 anos e as pessoas me questionavam se
essa idade seria condizente. Doze anos é
uma idade muito precoce para se iniciar
sexualmente, mas é por volta dessa faixa
etária que temos um “empurrão” hormonal,
quando acontece a primeira menstruação
nas meninas e a primeira ejaculação
espontânea nos meninos. Isso significa que
os genitais estão amadurecidos e que eles
podem engravidar. Então, já está mais do
que na hora para a gente explicar para
esse pessoalzinho o que aconteceu com
seus corpos. Eles já podem engravidar, mas
não quer dizer que devam fazê-lo. Ainda é
uma fase muito precoce e, talvez, explicar
que o momento de iniciar a sexualidade é
quando eles estiverem mais amadurecidos
e preparados para isso.
Você tem filhos, sobrinhos
ou filhos de amigos que
ficam no seu pé querendo
tirar dúvidas de sexo?
Não tenho filhos, nem sobrinhos porque
sou filha única. Mas eu tenho algumas
amigas com filhos adolescentes que, assim
que eu chego a casa, já têm uma patotinha
que senta em volta da mesa e começa
a fazer perguntas e a gente conversa
bastante. O pessoal acaba abordando
muito. Às vezes, eu estou num restaurante,
na rua ou na praia e as pessoas querem
fazer perguntas. Não são só adolescentes,
tem gente de todas as idades.
Alguma dessas situações já
te deixou “sem jeito”?
Não... Eu acho bacana, porque é o
reconhecimento do meu trabalho. É sinal
de que as pessoas sentem confiança ao
conversar comigo e de que a gente precisa
trabalhar, cada vez mais, esse conteúdo da
sexualidade de uma forma mais aberta.
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Apesar de falar
abertamente sobre sexo,
você aparenta ser uma
pessoa reservada e, por
estar na televisão, isso
estimula ainda mais a
curiosidade sobre sua vida.
Como você consegue impor
esse limite?
Eu não respondo, porque contar o jeito
como eu vivo a sexualidade ou as coisas
que eu faço na cama não é a forma certa
de trabalhar os conteúdos de educação
sexual. A sexualidade é um assunto
privativo e cada pessoa vive seu sexo da
forma que preferir. Não sei se é legal ficar
colocando isso nos jornais e nas revistas,
contando tudo. Talvez, a gente precise se
preservar um pouco mais. Mas, conversar
sobre sexo, esclarecer dúvidas, esse papo
franco é muito bom. O que eu faço não tem
ligação, porque eu não sou um modelo.
O que eu faço é trabalhar os conteúdos
da psicologia e da sexualidade. Essa é
uma ciência. O objetivo é conversar um
pouco sobre possibilidades de como viver
a sexualidade, não há um único modelo ou
regra.
Você tira dúvidas sobre
sexo de muita gente. E as
suas, ainda surgem? Aonde
você procura as respostas
para suas perguntas?
Surgem, sim. A gente sempre tem dúvidas.
Eu participo de grupos de estudo, vou a
congressos, leio muito. Nós, psicólogos e
sexólogos, estudamos a vida inteira. Os
psicólogos fazem análise pessoal, para
entender mais sobre si mesmo e trabalhar
suas questões. Fazemos grupos de supervisão
e estamos o tempo todo trabalhando os
conteúdos da psicologia e da sexualidade,
ou seja, conteúdos dos seres humanos de
variadas formas.
Você passou uma situação
inusitada no Altas Horas,
que foi a história da
Thamires, a garota que
mandou um e-mail para a
produção do programa
dizendo estar apaixonada
por você. Como você se saiu
da situação?
O que a gente tem a dizer
sobre isso?
Quando eu coloco a cara na TV, estou em
um momento que é um recorte do meu
jeito de ser. Estou tirando dúvidas, como
educadora, de forma acolhedora. Então,
às vezes, a gente se apaixona por essa
imagem que está na TV. Mas, fora dela, a
pessoa tem muitas outras áreas que podem
não ser tão apaixonantes assim. É natural
nos apaixonarmos por um professor, um
artista ou um personagem, e esse profissional
precisa entender que é comum que isso
aconteça, mas que é por causa desse recorte.
Então, eu estou ali, mostrando a minha
versão de educadora sexual num programa
de TV. A Laura no consultório também é um
recorte, mas não é a vida como um todo. A
Thamires se apaixonou por um recorte.
Depois disso, o Serginho
Groisman lançou a
campanha “Vem Thamires”,
para que ela fosse até
o programa conversar
com você. Finalmente, ela
apareceu?
(Risos) Não, ela acabou não vindo, talvez
porque seria muita exposição. Mas foi
interessante para poder falar sobre esse
assunto à população em geral. Acontece
de se apaixonar, mas é por um recorte da
vida da gente. No dia, inclusive, eu brinquei
dizendo que o conjunto da obra não é tão
apaixonante assim (risos).
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não está afim daquele tipo de transa ou
tem várias transas sem prazer... Enfim, tem
vários problemas “extracama” que podem
influir na sexualidade. E eu estou contando
toda essa história para que se entenda que
nem sempre vai ter uma pílula milagrosa
para trazer o prazer sexual, e que a gente
vai precisar olhar nossas questões sexuais
de uma forma mais aprofundada, olhar
para nossos limites, possibilidades, gostos,
desejos, prazeres e relações, porque, talvez,
esse seja o caminho para encontrar essa
maior felicidade.
O tema “homossexualismo”
está em alta por diversos
motivos: um deles é a
questão da legalização da
união civil entre pessoas
do mesmo sexo no Brasil,
e outro é a criminalização
do homossexualismo em
Uganda. Em um mundo
tão informado, integrado
e globalizado ainda
há atitudes fortemente
discriminatórias quanto ao
relacionamento de pessoas
do mesmo sexo. O que
cada pessoa poderia fazer
para reduzir a prática do
preconceito?
A gente precisa de uma coisa muito
simples: entender que a homossexualidade,
que é sentir desejo erótico por alguém do
mesmo sexo, a bissexualidade, que é sentir
desejo por pessoas de ambos os sexos, ou
a heterossexualidade, que é sentir desejo
por pessoas de outro sexo, são apenas
formas de viver a sexualidade. Se a gente
começar a entender que cada pessoa tem
o direito de viver a sexualidade dela da
forma que quiser e achar que é conveniente
para ela, as coisas vão ficar mais leves.
Também é preciso entender que não tem
um ser humano no mundo igual ao outro.
Nem gêmeos idênticos são idênticos no
temperamento, por exemplo. Nós temos
que praticar o respeito ao diferente. A
gente precisa começar a ter tolerância com
essas diferenças.
Com a legalização da união
estável entre homossexuais,
tende-se à adoção de
crianças por dois pais ou
duas mães. Como você prevê
a sociedade brasileira
lidando com essa mudança?
Isso já está acontecendo. Esse movimento
não é só de agora. Precisamos começar a
pensar que tem várias formas de constituir
uma família, vários núcleos. Esse é o nosso
cenário atual. As pessoas precisam ver em
qual possibilidade se encaixam e, o tempo
todo, usar a palavra “respeito”.
Você acredita em uma
mudança comportamental
breve?
A gente já vive uma mudança de costumes,
uma maior liberação sexual. Não sei se as
coisas mudam da noite para o dia, mas já
está acontecendo um movimento.
Um fator que aponta para essa mudança
é a chegada do “Viagra feminino” ao
mercado, anunciada para os próximos
anos. Como o Viagra foi a primeira droga
“próssexual”, pioneira, que chegou ao Brasil
em 1998, em vários momentos a gente
usa o nome “Viagra” como sinônimo de
medicamento para o prazer. Mas, hoje, a
gente não tem muitos medicamentos para a
sexualidade feminina. O que há hoje, que
funciona, e que há milhões de pesquisas
comprovando, são os medicamentos para
ereção. Só que é preciso entender que
o Viagra e as drogas “próssexuais” são
indicadas para homens com dificuldades
orgânicas na ereção. Ela vai agir quando
o homem tiver uma dificuldade física no
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mecanismo de ereção. E se o problema
for emocional? Então essa droga não é a
mais indicada. Ele vai precisar trabalhar os
conteúdos emocionais com um psicólogo.
A sexualidade tem o lado físico, mas tem
todo o lado emocional que pode complicar
as coisas. Entre as principais dificuldades
sexuais femininas está a dificuldade de
orgasmo, que, na maioria dos casos, não
é física, mas emocional, de aprendizado,
de como se entregar naquela transa... E,
para tudo isso, não há um medicamento
que dê jeito. Outra grande dificuldade
sexual feminina é a dor na penetração
e, aí, tem que ver os dois lados: a dor
física, em geral, é tratada no consultório
do ginecologista, porque ela pode ter
uma doença sexualmente transmissível
que atrapalhe a lubrificação, ou outra
dificuldade relacionada à penetração.
Mas, às vezes, essa dificuldade é corrigida
e a mulher continua sentindo dor, que
pode ser da contração involuntária dos
músculos da vagina, e isso é uma questão
emocional que deverá ser trabalhada. A
baixa de desejo também é uma dificuldade
sexual, que pode ser tanto feminina quanto
masculina. As pessoas acham que é só
tomar o remédio que dará mais desejo.
Não necessariamente. O desejo pode ter
a ver com uma questão hormonal. Mas,
se os níveis hormonais forem controlados
e a pessoa continuar sem desejo, qual é
a questão? Muitas vezes, a resposta está
no dia a dia, é uma questão emocional,
ou de relacionamento, porque o casal já
não está mais se dando bem. Pode ser o
significado que a pessoa dá para o sexo,
às vezes a pessoa está cheia de mágoas,
Como você acha que a
questão de “tempo é
dinheiro” influencia na
vida sexual dos casais?
Hoje, muitos casais não têm tempo para
viver o sexo, nem para deixar o desejo
vir. Alguns casais chegam ao consultório e
se questionam sobre essa falta de desejo.
E, quando você vai ver, é que eles não
abriram espaço para viver a sexualidade.
A gente precisa entender que o corpo da
gente tem um ritmo e que o desejo não vem
com hora marcada. Não quer dizer que
só porque eu tenho tempo para transar no
sábado a noite que eu terei desejo nessa
hora. Não é assim. O desejo vem se a
gente abrir as portas, se estiver em climas
sexuais e um tempo para se entregar. Mas,
pode ser que, um dia, você chegue em
casa cansado, muito estressado ou cheio de
preocupações na cabeça e, mesmo tendo
um super clima, o desejo não venha. A
gente precisa entender que o ritmo interno
de cada pessoa, às vezes, não combina
com essa aceleração no mundo externo.
Como explicar para o
parceiro que você passou
por um dia estressante e
que não está em um bom dia
para a relação?
Essa é uma informação útil que a gente
pode dar, porque o sexo vai além da
cama. Cansaço, estresse e preocupações
influem no pique. Isso não quer dizer que
uma pessoa não sinta desejo pela outra. É
que, naquele momento, ela não está bem
para transar com quem quer que seja. As
pessoas devem ter esse tipo de conversa
e se informar um pouco mais. Quem não
estiver afim naquele dia, também precisa
“bancar” essa história e não transar só por
transar para agradar o outro. Isso também
é respeito aos nossos limites.
O trabalho pode
influenciar positivamente
no sexo?
Não só o ato de trabalhar, mas ter
vida própria influi positivamente, não
só na sexualidade, mas também no
relacionamento. Quando a gente sai um
pouco do terreno do sexo em si e fala da
vida a dois como um todo, a gente começa
a pensar que cada pessoa precisa ter
seu trabalho, seus outros interesses, sua
rotina, seus cuidados com a saúde, suas
preocupações. Quando a gente está bem
com a nossa vida, individualmente, fica
muito mais fácil estar bem a dois e poder
viver a sexualidade. Como isso influencia
na cama? Totalmente. A gente não tira
nosso emocional e pendura num cabide e
vai transar. A gente vai para a cama com
toda nossa história de vida, o nosso dia a
dia, como a gente pensa, como a gente se
sente na vida como um todo, e vai transar
desse jeito.
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