Viajante inquieto - IHF - Instituto Hercule Florence

Transcrição

Viajante inquieto - IHF - Instituto Hercule Florence
Bravo!
LER, VER E OUVIR
EXPOSIÇÃO
“O aperto de mãos parece
uma concessão a um
costume que antecipa
algo fundamental: a exata
medida da distância que
havemos de manter durante
o tempo de nossa estada.”
GUILLERMO DAVID
(Em Baré – Povo do Rio,
vários autores, Edições Sesc)
Habitation des
Apiacás Sur l’Arinos,
aquarela pintada por
Florence em 1828
desenhos do tipo, espalhados pelo peito e pelo ventre, em que predominam
quadrados e ângulos retos, paralelos
entre si.” Dessa forma o artista descreve os Apiaká, imortalizados na belíssima aquarela Habitation des Apiacás Sur
l’Arinos (abril, 1828), cedida pela Academia de Ciências da Rússia.
O olhar de Florence sobre os índios
é destituído das marcas do preconceito
e da discriminação, explica a curadora,
“na contracorrente da elite brasileira e
HERCULE FLORENCE RETRATOU SEM PRECONCEITOS O BRASIL
europeia do século XIX, que os julgava
pós dois séculos de contato dorff. “O jovem inquieto e apaixonado como inferiores e o processo de mesticom o homem branco, os ín- por viagens criou registros visuais e çagem, como degenerescência. É preciso
dios Apiaká, originalmente textuais detalhados e precisos sobre frisar que ele sempre foi contra a escradistribuídos pelas margens dos rios as paisagens, a flora, a fauna e as popu- vidão”. A exposição traz desenhos inéArinos e Juruena, em Mato Grosso, lações indígenas do Rio de Janeiro ditos do manuscrito L’Ami des Arts, fac-símiles do Carnet de
perderam o idioma, o modo de vida à Amazônia”, afirma
Dessins, caderno de notradicional e se miscigenaram. Che- Glória Kok, que, ao laO OLHAR DE HERCULE
tas da Expedição Langaram a ser considerados extintos em do de Francis Melvin
FLORENCE SOBRE OS
ÍNDIOS BRASILEIROS
gsdorff, da Bibliothè1957, mas registra-se nos dias de hoje Lee, faz a curadoria da
que Nationale de Franuma população estimada entre 500 e exposição O Olhar de
Biblioteca Brasiliana
Guita e José Mindlin.
ce, reproduções da Acamil indivíduos, que vivem na margem Hercule Florence sobre
Cidade Universitária,
demia de São Petersdireita do Rio dos Peixes (MT). A me- os Índios Brasileiros.
São Paulo. Até 30 de junho
burgo, peças do Museu
“Os homens tatuam
mória do grupo, evanescida pelas cirde Arqueologia e Etnocunstâncias, foi recuperada graças ao o rosto, tatuagem que é
fabuloso trabalho do artista francês sempre a mesma em todos, enquanto a logia da USP, obras do Instituto Hercule
Hercule Florence, que de 1825 a 1829 das mulheres é mais simples e uniforme. Florence e da Biblioteca Brasiliana Guipercorreu o interior do Brasil a bordo Além da do rosto, que parece uma dis- ta e José Mindlin, além de fotografias do
da monumental Expedição Langs- tinção tribal, capricham os homens em Instituto Socioambiental. – Ana Ferraz
Viajante inquieto
COLEÇÃO ACADEMIA DE CIÊNCIAS DA RÚSSIA
A
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A
GEN
DA
SHOW
SÃO PAULO
CURITIBA
Dia 15, no Teatro
do Sesc Pompeia,
o clarinetista
Nailor Proveta e
o violonista Alessandro Penezzi
apresentam o
repertório que
resultou no álbum
Velha Amizade.
O artista Sérgio
Serena expõe telas, desenhos
e esboços sobre
os modos de
morar em Casas –
Memórias do
Olhar, no Centro
de Criatividade,
até sexta 22.
TEATRO
SANFONA E CASTANHOLA
Amores Surdos,
ninguém fala,
ninguém ouve
Grupo Luceros Dança Toninho
Ferragutti. Teatro Sérgio Cardoso,
São Paulo. Dias 15 e 16 de maio
“Depois de tantos anos de profissão toda brincadeira vira coisa séria”, diz Toninho Ferragutti, virtuose do acordeom, entusiasta da liberdade proporcionada pelo improviso e pródigo
compositor que em sua trajetória de 14 anos mescla as raízes
rurais às influências do jazz e
outros ritmos. Em 2006, quando o Grupo Luceros de dança
flamenca coreografou a música Na Sombra da Asa Branca,
Ferragutti ficou emocionado.
Propôs encontros semanais e
da “brincadeira” amadureceu
o espetáculo Grupo Luceros
Dança Toninho Ferragutti.
A proposta foi mesclar as
duas culturas, “achar um ponto
de fusão da técnica com nosso
tipo de alegria celebrativa”. Os
excessos do flamenco foram tirados, enquanto compositor e
bailarinos (Alessandra Kalaf,
André Pimentel e Priscila Grassi) se permitiram “brincar com
a ideia de fundir a dança espanhola à música popular brasileira”. No palco, o acordeonista é acompanhado por Alexandre Ribeiro (clarinete), Roberto
Angerosa (percussão) e Zé Alexandre (contrabaixo). – AF
50
CONCERTO
INESPERADAS CONTUNDÊNCIAS
A VERVE DO GRUPO ESPANCA! FAZ DEZ ANOS
F
estejado por grupos independentes de todo o País pela
ousadia em soluções cênicas e escrita dramatúrgica, o
Grupo Espanca!, de Belo Horizonte, comemora dez
anos com turnê de quatro espetáculos por outras capitais. A
atriz e diretora Grace Passô deixou o grupo há dois anos para
atividade pedagógica em São Paulo e outras colaborações,
mas sua verve personalíssima, de familiaridade com linguagens surrealistas, pode ser revisitada em Por Elise, na qual
atua, assim como em Amores Surdos.
Elise percorreu 27 mostras teatrais e ainda impacta com seu
lirismo desatinado, como na figura de um cão que late palavras. Amores Surdos aborda o cotidiano de uma família e seus
rituais de (in)comunicabilidade, até que um fato inesperado a obriga a abandonar a “surdez” dos automatismos. A mais
recente criação, Dente de
Leão, sem Passô, comprova
ESPANCA! 10 ANOS
a agilidade do grupo em forMarcelo Castro. Sesc Ipiranga
(SP). até domingo 17. Sesc Porto
matos compactos de 60 miAlegre, de 20 a 23 de maio
nutos. O universo juvenil
e escolar engendra retrato
extremamente focado, com aporte de inteligência no sistema
coringa de atuações. Sob humor e carinho na visão dos jovens,
desenham-se inesperadas contundências. O tema e a habilidade em conjugar talentos em coletivo fazem recordar o início do
grupo carioca Asdrúbal Trouxe o Trombone. – Alvaro Machado
VIAGEM DO BARROCO
AO CLÁSSICO
Concertos OSB. Teatro de
Câmara, Cidade das Artes,
e Sala Cecília Meireles, RJ. Eliane
Coelho. Dias 12 e 13 de maio
Um concerto para quem deseja viajar no tempo. Assim o
diretor artístico da Orquestra Sinfônica Brasileira, Pablo
Castellar, define o programa
que Eliane Coelho apresenta dias 12 e 13 na Cidade das
Artes e na Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro, sob regência de Lee Mills. A consagrada soprano carioca, de extensa e reconhecida carreira
no exterior, interpreta trechos
das óperas L’Orfeu, de Monteverdi, Iphigénie en Tauride
e Alceste, de Glück, Medeia,
de Cherubini, Ah Pérfido!, Romance nº 1 em Sol Maior, Op.
40 e Egmont, de Beethoven, e
Idomeneo, K. 366, de Mozart.
“Este concerto nos mostra
a extensão dramática criada
pelos compositores da ópera barroca até o final do período clássico. A soprano Eliane Coelho cantará uma seleção de árias especiais intercaladas de algumas aberturas, fazendo uma costura expressiva de toda a dramaticidade presente neste repertório”, diz o maestro Mills. – AF
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RIO DE JANEIRO
PORTO ALEGRE
A tragicomédia
Anti-Nelson Rodrigues, escrita por
Nelson Rodrigues
em 1973, é reencenada no CCBB
até o dia 31, sob a
direção de Bruce
Gomlevsky.
Sob regência de
Antônio Borges-Cunha, a Orquestra
de Câmara do Theatro São Pedro inicia
comemoração de 30
anos, dias 9 e 10,
com a Sinfonia do
Oratório de Páscoa,
de Bach.
BELO
HORIZONTE
A cantora Maria
Bethânia apresenta dias 8 e 9,
no Palácio das
Artes, o show
Abraçar e Agradecer, no qual comemora 50 anos
de carreira.
CINEMA
Enquanto
a elite brinda
à barbárie
A HISTÓRIA COMO
PROTAGONISTA
MEMÓRIA EXTERNA
D A N I G U R G E L , G U T O M U N I Z , E D U A R D O AV I L A E S T E L A H A N D A
A Vida Privada dos Hipopótamos. Maíra Bühler e Matias Mariani
Em A Vida Privada dos Hipopótamos temos um dado concreto. O americano Christopher
Kirk está preso em uma penitenciária paulista e conta sua
história para a câmera. A partir
daí nada mais é razão e certeza
no documentário de Maíra Bühler e Matias Mariani em cartaz.
O racional some sob uma obsessão amorosa do protagonista, um abalo para o técnico
de informática habituado à frieza deste universo. A ponto de
preferir entregar seu computador aos realizadores para que
recomponham seu drama.
A dupla conheceu o personagem em filme sobre presos
estrangeiros. Disposto a aventurar-se, Kirk viajou à Colômbia
para conhecer os hipopótamos
do traficante Pablo Escobar.
Foi seduzido por misteriosa
mulher tratada como V. Seus
encantos teriam levado o rapaz
ao limite do crime, e Kirk foi detido por tráfico de drogas. Tudo
um tanto ingênuo e delirante.
Mas essa é a proposta. Ao nos
envolver na incredulidade de
uma novela latina e um tipo hábil em narrar, pode-se corroborar ou duvidar, como funciona a
essência do cinema. – OM
Um Sonho Intenso. José Mariani
COMÉDIA HUMANA
HUMOR AMARGO A SERVIÇO DA CRÍTICA SOCIAL
S
e em Vocês, os Vivos o diretor sueco Roy Andersson
apontava no título a visão lúgubre a que vinha, com
seu novo filme essa percepção se mostra mais ampla
e complexa. Como convém ao fim de uma trilogia, mais bem
conduzida por evoluir nas características notórias desde
Canções do Segundo Andar, a primeira obra. Um Pombo Pousou no Galho Refletindo sobre a Existência, com previsão para quinta 14, vai além da estranheza peculiar. Há o humor
amargo e a narrativa calcada no registro do absurdo, agora
a serviço de crítica social mais pertinaz.
O fato de a reflexão começar com três sucessivas e súbitas
mortes dá o tom da ideia do realizador sobre a humanidade.
Em uma delas, um lanche intocado do moribundo é ofertado
a outros fregueses gratuitamente. A trama segue em esquetes como quadros vivos, artifíUM POMBO
cio irônico à palidez dos persoPOUSOU NO GALHO
nagens, seus gestos robóticos e
REFLETINDO SOBRE
a assepsia pastel dos ambientes.
A EXISTÊNCIA
As situações ora convidam ao riRoy Andersson
so, embora os vendedores de bugigangas de horror nunca o esbocem, ora a um escárnio incômodo, tanto na guerra perdida para a Rússia quanto na escravidão imposta pela colônia,
diversão da elite que brinda à barbárie. – Orlando Margarido
O documentário Um Sonho
Intenso lança luz sobre o processo multifacetado e contraditório da industrialização e do
nacional-desenvolvimentismo.
Constituído por depoimentos
de economistas com visão
histórica, foi concebido por
José Mariani (PUC-RJ) a partir
de “janelas de conhecimento”
surgidas na elaboração de dois
outros trabalhos sobre cientistas brasileiros e o economista
Celso Furtado. Um Sonho
Intenso abrange o período dos
anos 1930, da Grande Depressão mundial, aniquiladora
da economia cafeeira do Brasil,
até o momento atual. A produção contribui para desmistificar o senso comum sobre
o período. Parte da esquerda
tem dificuldade de admitir que
as principais instituições do
Estado foram criadas por
Getúlio Vargas, admite o economista Francisco de Oliveira.
Ao comentar as privatizações
apresentadas pelos governos
Collor e FHC para aumentar a
eficiência das empresas, Luiz
Gonzaga Belluzzo argumenta
que a medida na verdade tinha
a ver com o movimento do capital financeiro. – Carlos Drummond
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TORCER E DISTORCER
O FUTEBOL NA TEVÊ POR ASSINATURA NÃO ESTÁ MAIS PERDENDO
DE GOLEADA PARA O ANTIPROFISSIONALISMO. SÓ HÁ UM PORÉM
S
e há alguma coisa que deu um salto
de qualidade na tevê brasileira são as
transmissões de futebol, aquelas que
se refugiam nos canais por assinatura, bem
entendido. E não estou falando só dos progressos tecnológicos.
Novas gerações de locutores e comentaristas entraram em cena, com uma bagagem de
informação e conhecimento que contrasta
com aquela old school tão confiante na improvisação e no palpite, quando não da mais solerte arrogância. Aquela atitude que também
se via em campo vestida de camisa canarinho:
nós somos o máximo, os outros são uns joões.
Não, a garotada das ESPNs e assemelhadas
habituou-se a fazer a lição de casa, relevando-se até mesmo o eventual didatismo das pranchetas – enquanto na tevê aberta o modelito
Galvão Bueno continua a prevalecer, reiteran-
do um estilo radiofônico, hiperbólico e eufórico, que ecoa a nostalgia azinhavrada da era de
um Fiori Gigliotti ou de um Waldir Amaral.
O desconforto que fica para o espectador
que ainda pretenda temerariamente confiar
na sua própria capacidade de raciocinar é o
renitente ranço do jornalista-torcedor, ainda que ele ocasionalmente tente dissimular
sua eventual paixão por tal ou qual time.
A isenção não existe no jornalismo, menos ainda numa zona de paixões à flor da pele como é o futebol, mas eu me permito tirar
o som quando pressinto, por
exemplo, que as firulas de Neymar e o tiki-taka do BarceloTV
na vão arrancar dos profissiopor
nais do microfone as mais canNIRLANDO
BEIR ÃO
sativas, descabeladas, explícitas cenas de tietagem.
ESTREIA
o EXóTICo
hoTEL
mARIgoLd 2
ESTREIA
EXCLUSIVA
dE gRAVATA
E UnhA
VERmELhA
Um filme de John Madden
Sequência da comédia
inglesa, contando
com praticamente todo
elenco da versão original
Um filme de Miriam Chnaiderman
Melhor documentário Prêmio Félix Festival do Rio 2014, foi seleção oficial
do Festival Mix Brasil e do
Cine-Ceará 2014.
ESTREIA
úLTImAS
ConVERSAS
Um filme de Eduardo Coutinho
Entrevistas feitas com jovens
estudantes brasileiros pelo
cineasta antes de sua morte.
um convite para todas as artes!
os Filmes mais premiados • Livraria • Boutique de dvd's
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DVD
OS PRAZERES DA CARNE
PROVOCADOR INCÔMODO, BIGAS LUNA USOU O EROTISMO EXACERBADO
CONTRA A MANIPULAÇÃO RELIGIOSA E AS CONVENÇÕES SOCIAIS
S
exo e comida sempre moveram a vi- onde produziu vinho, presunto e alimentos.
Convencido a voltar ao cinema, iniciou com
da e a arte do catalão Josep Joan BiAs Idades de Lulu (1990) a fase mais conhecigas Luna. Foi esse binômio que inseriu seu nome entre os cineastas mais incô- da de sua carreira, com sucessos de escândalo como Jamón Jamón (que lançou Javier Barmodos e provocadores das últimas décadas.
Nascido em Barcelona, Luna trabalhou co- dem e Penélope Cruz), Ovos de Ouro e A Teta
e a Lua, além do discreto e sagaz A Camareira
mo desenhista industrial (fundou, em 1969,
do Titanic. Em todos eles os prazeres da caro Estudio Gris) e escreveu ficção antes de se
aventurar no cinema realizando curtas eró- ne dão as cartas. Nos últimos anos de vida foi
ticos nos anos 1970. Seu longa de estreia, Ta- diretor artístico do café El Plata, de Zaragoza,
onde produziu espetáculos de cabaré.
tuaje (1976), é um intrincado policial baseado em livro de Manuel Vázquez Montalbán.
Seu filme seguinte, Bilbao (1978), exibido
Sexo e comida, o binômio
em Cannes, tornou-o conhecido internacioque moveu o cineasta
nalmente. Convidado a trabalhar nos Estados Unidos, filmou
CALÇADA
Reborn (1981), ataque feroz à
DA
manipulação religiosa, estrelaMEMÓRIA
do por Dennis Hopper. Em meapor JOSÉ
dos dos anos 1980, retirou-se
GERALDO
para Tarragona para criar com
COUTO
a mulher uma fazenda orgânica,
CD
VOZ LÍMPIDA,
SÓLIDO ROTEIRO
Ná e Zé
Ná Ozzetti
Circus
AS
AFP
o
Revelada na cena da vanguarda paulista dos anos 80,
no assimétrico Grupo Rumo, mentor de uma releitura da canção a partir da entoação da fala, Maria Cristina,
a Ná Ozzetti, associou anteriormente sua emissão de soprano às composições de Zé
Miguel Wisnik. No disco de
estreia, em 1988, dedicou-lhe quatro faixas, e em Estopim (2006), outras duas, incluída a parceria entre cantora e autor, O Tapete. Centrado no cancioneiro de Wisnik,
num espectro amplo de escolhas e coautorias, de 1978
a 2014, Ná e Zé consolida
um songbook, sublinhado pela adesão do autor. Ele pavimenta a maioria das faixas
com seu piano medular de inclinação erudita. E adiciona
órgão de tubos às estridências de Alegre Cigarra (com
Paulo Neves) e órgão Farfisa, o timbre indelével de Jovem Guarda, ao enclave Gardênias e Hortênsias e Subir
Mais, ambas letras do poeta
Paulo Leminski.
Nesta faixa, a voz áspera de Wisnik contrasta com a
limpidez de Ná, algo que também ocorre em outros mo-
mentos do disco. Como em
Tudo Vezes Dois (sabe quantas guerras/ e quantas canções/ tocam-se no tom de
tantos tons?) e na finalista
Louvar, sobre poema de Cacaso, musicado por Cláudio
Nucci, sob o nome de Casa
de Morar. Reprocessadas do
primeiro disco de Ná, a reiterativa A Olhos Nus e a onírica
Orfeu incorporam densidade e reflexão. O grave crestado de Arnaldo Antunes sedimenta o expressionista Noturno do Mangue (noite hetaira/ vistosa palmeira/ engalanada/ enjaulada no lodaçal), poema do antropofágico
Oswald de Andrade. Fernando Pessoa fornece a litania
desiludida de Sim, Sei Bem
(Sei de sobra/ que nunca terei uma obra), contraponto ao
pedestal erguido a Wisnik na
sólida argamassa do roteiro.
– Tárik de Souza
BILBAO
(1978)
Psicopata (Àngel Jové) apaixona-se pela dançarina e prostituta
Bilbao (Isabel Pisano) e resolve
sequestrá-la. Exibido na Quinzena
dos Realizadores de Cannes, o
filme abriu as portas do cinema
internacional para Luna. Qualquer
semelhança com o entrecho de
Ata-me, de Almodóvar, talvez não
seja coincidência. JGC
OS OLHOS DA CIDADE
SÃO MEUS
(1987)
Num cinema de Los Angeles, duas
adolescentes veem um filme de
terror, The Mommy, em que um oftalmologista míope (Michael Lerner), dominado telepaticamente
pela mãe, mata pessoas em série.
O filme dentro do filme mistura-se à história das garotas neste
insólito thriller de terror. JGC
OVOS DE OURO
(1993)
Engenheiro (Javier Bardem) sonha
construir um edifício em forma
de falo. Usa o sexo para tirar
dinheiro das mulheres, como a
esposa (Maria de Medeiros), filha
de banqueiro, e uma modelo em
ascensão (Maribel Verdú). Sátira
do machismo espanhol, com Benicio Del Toro em início de carreira,
como “o amigo de Miami’. JGC
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