Dos Grampos... Eraldo Bacelar Presidente da Fundenor e SindHnorte

Transcrição

Dos Grampos... Eraldo Bacelar Presidente da Fundenor e SindHnorte
Dos Grampos...
Eraldo Bacelar
Uma semana depois não se fala mais em olimpíadas, o que é uma pena. Não era,
então, o amor ao esporte que movia a mídia, mas a mídia que movia o amor ao esporte.
Voltamos ao país real que hoje vive com medo da perda da individualidade. É o país dos
grampos. O que antes era privilégio da Justiça, para investigar pessoas com indícios
plausíveis da prática de crimes, tornou-se um negócio rentável. Todos são grampeáveis, em
princípio. O Brasil descobre que a prática ilegal e criminosa de quebrar a privacidade alheia
não tem limites. São grampeados ministros de Estado, empresários, senadores, deputados,
governadores, secretárias, prefeitos, juízes e até os próprios grampeadores. Quebra-se o sigilo
telefônico (e, dentro em pouco, o bancário, fiscal, pessoal, etc.) até do próprio presidente do
Supremo Tribunal Federal sem autorização legal. Conversas pessoais e que deveriam
interessar apenas aos interlocutores são usadas para que criminosos consigam informações
para obter vantagens ilícitas. O país transforma-se no paraíso dos arapongas. Nos grandes
jornais e na internet classificados anunciam aparelhinhos para grampear, detetives prometem
fornecer qualquer tipo de gravação ou dados sobre qualquer pessoa. Paradoxo do milênio: a
alta tecnologia que nos transformou em integrantes de uma aldeia global também nos deixa
nus. Um aparelhinho eletrônico comprado por pouco menos de mil reais no exterior pode
interceptar qualquer ligação telefônica seja de aparelho fixo ou celular. São adquiridos por
facções criminosas, por espertalhões e pelos que se interessam em manter sob o cutelo do
medo a sociedade organizada e tornar realidade o sonho de todo governante totalitário:
manter sob vigilância eletrônica permanente todos os cidadãos. Os romanos aprenderam que
ao dar excesso de poderes a sua guarda pretoriana o imperador acabou dominado por ela.
Aqui, a lição parece ter sido esquecida e todos são suspeitos até prova em contrário,
contrariando as normas elementares do Direito.Dessa forma abre-se o caminho para uma era
de terror e insegurança a pretexto de se manter a segurança e a lei.
Presidente da Fundenor e SindHnorte