Kiko o jazz no masculino

Transcrição

Kiko o jazz no masculino
Kiko - Jazz no masculino
(caixa)
O Kiko surpreende-nos, incentiva os nossos instintos pela sua
colocação e a sua forma peculiar de cantar, de escolher as
palavras que encaminham os sons. Por vezes esquece-se nos
sons mais altos que consegue com mestria dominar, mas volta
para os graves e humoriza na busca constante. Primeiro pelos
amigos da salsa de Raul Marques e depois pela Trupe Vocal no
seu mais recente trabalho “We’ll Remember You”, uma das
poucas vozes masculinas do jazz em pleno desabrochar*
musical.
O músico
Nascido a 13 de Fevereiro de 1970 nos Estados Unidos mudou-se
com a família para Portugal em 1980, é aquariano como eu!!!
Aos 20 anos foi viver para Coimbra onde formou
a Zwet’on Belda Blues Band com alguns elementos que mais tarde
viriam a formar os Caffeine.
Em 1994 fez parte do projecto portuense Bloco Central.
Em 1995 Fátima Serro convidou-o para fazer parte do seu projecto
Trupe Vocal, colaboração que se mantém até ao presente com a
gravação do álbum “We’ll Remember You” – Ed. Açor Jazz 2001.
Entre 1996 e inícios de 1998 fez parte do grupo Raul Marques e os
Amigos da Salsa gravando em 1997 o álbum “Ligações Perigosas”
– Ed. Polygram com quem actuou por todo o país.
Em 1998 forma os Keep Kool e faz parte do Quarteto In Blue que
actua em vários festivais e encontros de música.
Formou o projecto de originais Tri-Pop em finais de 1999,
apresentado no início do ano o seu próprio Quinteto.
A sua paixão pelo blues leva-o a manter um projecto paralelo
destinado a celebrar este estilo musical que lhe é tão familiar
chamado “Blues Hotel”.
Participou no programa da RTP “Jazz a Preto e Branco” sendo
considerado por José Duarte como o único cantor de Jazz
Português o que o levou a ser convidado para actuar na estreia do
Festival de Jazz de Lafões (Julho 2001) com o seu Quinteto entre
outros eventos.
Foi convidado para interpretar uma composição original de
Laurent Filipe no espectáculo de encerramento da programação
Jazz do Porto 2001 Capital Europeia da Cultura ao lado da
Orquestra de Jazz de Matosinhos e os convidados Bob Berg, Ingrid
Jensen e Conrad Herwig.
A sua energia e espontaneidade aliado a uma voz forte são
atributos que lhe valeram convites para actuar ao lado de nomes
como Fátima Serro, Paulo Gomes, Mário Santos, Telmo Marques,
Fernando Nascimento, Raul Marques, Carlos Azevedo, Pedro
Guedes, Pedro Barreiros, George Lettelier, Eduardo Santos, Bruno
Pedroso, Mário Teixeira, Didi, António Ferro, Carlos Pascoinho,
José Manuel Rodrigues, Rui Teixeira, Manuel Barros, Paulo Pinto
entre outros.
Frequentou canto na Escola de Jazz do Porto (Fátima Serro) e no
Conservatório Regional de Gaia (Maestro Mário Mateus e Sílvia
Mateus).
A entrevista
1º instrumento: Só voz.
1ª aula de música: Fevereiro de setenta.
1º professor: Ray Charles.
1º concerto: Escola Secundária de Arcos de Valdevez.
1º cachet: Creio que foram quinze contos a dividir por cinco.
1º festival: Praça da Erva – Viana do Castelo.
1ª letra: Versão de “Stollen Moments”
1ª gravação: Raul Marques & os Amigos da Salsa
1º disco: “Ligações Perigosas” - Raul Marques & os Amigos da
Salsa
1ª internacionalização: Vigo
1º dia de cada ano: Ainda bem que cá cheguei.
JJ – Como foi o teu contacto com o jazz?
K – Foi um bocado pela porta das traseiras. O facto de me
relacionar com alguns amigos da minha mãe, cerca de sete anos
mais velhos que eu, foram-me introduzindo as músicas de Miles
Davis e outras na área da fusão.
JJ – É difícil tocar jazz?
K – Se tens o coração no sítio certo não é muito difícil. Se tirares o
jazz da equação e simplesmente fizeres aquilo que está na tua alma
e naquilo que sentes, e conseguires veicular esses sentimentos a
quem te estiver a ouvir, não é difícil. Desde que seja puro e não a
adulteração que muitas vezes existe quando se pretende
destratificar as situações, as músicas, estilizar pôr demasiado
cérebro. Faço aquilo que sei e faço de uma forma visceral. Quando
começo a pensar é quando começo a fazer asnêras...
JJ – Quem foi o teu professor no teu contacto com o jazz?
K – Em 1993/94 inscrevi-me na Escola de Jazz do Porto, onde a
Fátima Serro foi minha professora e lentamente fui despertando o
ouvido.
JJ – O que falta fazer em termos pedagógicos pelo jazz em
Portugal?
K – Acho que falta tudo. Desde começar a ensinar à crianças de
tenra idade a distinguir timbres e ritmos, dar-lhes uma noção
sumária sobre música clássica, jazz e música popular. Tudo o que
vem a seguir será fruto desses trabalho de base.
JJ – Achas importante haver uma disciplina dedicada ao jazz nas
escolas de música espalhadas pelo país?
K – Se fosse um módulo com uma introdução ao jazz e à sua
história inserido numa disciplina já me daria por muito contente.
Se pudesse haver uma disciplina então seria óptimo.
JJ – É difícil para um músico português tocar no estrangeiro?
K – Não. Acho que é mais difícil é um músico português esquecerse que é português no estrangeiro. Algumas vezes existe aquele
estigma de se ser português. O que importa é chegarmos lá fora e
sermos bons. Se é só para tentarmos ser bonitos então é preferível
sermos bonitos em Portugal.
JJ – O que pensas do circuito de festivais em Portugal?
K – Continua a crescer e cada vez vão aparecendo mais festivais. É
evidente que a selecção natural para a compra de determinados
festivais que agora vão começando de forma quase impensada e
que inevitavelmente vão ficando pelo caminho por falta de bases e
de alguma honestidade, são a razão pela qual alguns festivais têm
aparecido mais por determinadas atitudes extra musicais do que o
seguimento daquele que seria o melhor caminho e a melhor atitude
Com os festivais a manterem-se por si próprios, com públicos e
instalações adequadas.
JJ – Como reagem as autarquias ou os centros culturais a
propostas para concertos de jazz?
K – Quando existem autarquias identificadas e com abertura
cultural, as propostas enviadas são analisadas de uma forma crítica
e analítica. No contacto com autarquias ou juntas de freguesia onde
há uma familiarização com o jazz, sente-se um maior cuidado no
atendimento e a resposta adequada a alguns pormenores mais
sensíveis.
JJ – Quais as oportunidades para um músico de jazz gravar?
K – Se um músico de jazz tiver possibilidades financeiras e quiser
gravar por sua conta tem muitas possibilidades pois estúdios não
faltam. Se estiver à espera das editoras e da boa vontade dos
projectos, já será muito mais difícil.
JJ – Tens comprado alguns discos de jazz de músicos portugueses?
K – Para ser sincero não. Essa situação não tem a ver com a falta
de atenção para com o trabalho dos músicos de jazz nacionais, mas
o preço excessivo pedido pelos discos o que me leva a escolher
entre os nacionais e os internacionais, o que leva forcosamente os
discos nacionais para o fim da lista.
JJ – Quais os teus cantores nacionais preferidos?
K – Maria João, Fátima Serro, Susana Baldaque, Ana Paula
Oliveira em alguns trabalhos. Vozes masculinas...No comments.
JJ – E os estrangeiros?
K – Al Jarreau, Kevin Mahogany, Bob Mc Ferrin, Jimmy Scott,
Louis Armstrong, Al Green, Marvin Gay, Steve Wonder, Ray
Charles e tanta outra gente.
JJ – Se tivesses a possibilidade de reunir à tua volta os teus
músicos preferidos, quem escolherias?
K – É difícil porque eu teria que os conhecer e criar uma certa
empatia com eles. Mas se formos para o quarteto de luxo com
quem eu gostaria de partilhar o palco, então convidaria o Brad
Mehldau para o piano, o Ron Carter para o contrabaixo, o Jeff Tain
Watts para uma bateria com muita energia e como solistas o
Joshua Redman no saxofone, a trompete do Wynton Marsalis e a
guitarra peculiar de Jim Hall.
JJ – Como sobrevive um músico de jazz em Portugal?
K – Se tiver um emprego de dia pode sobreviver fazendo aquilo
que gosta, senão vai ter que fazer um bocadinho de tudo mesmo
situações que não estejam muito no seu estômago.
JJ – Projectos Futuros?
K – Eu não sou muito ambicioso, até porque o mercado não o
permite, mas gostaria de gravar discos com um quinteto meu,
trabalhar alguns originais e cantar com uma big band para sentir o
peso da sua sonoridade.
JJ – Um músico, um compositor e um disco...
K – Jimmy Scott, Duke Ellington,“Blue Trane”
JJ – Qual a pergunta que faltou nesta entrevista?
K – Se és feliz quando cantas?
JJ – E és feliz quando cantas?
K – Quando canto bem.
“A verdadeira felicidade está no ser e não no ter”
P.S. - * onde se lê desabrochar leia-se despontar.

Documentos relacionados