Capítulo 2 2
Transcrição
Capítulo 2 2
xvagl33949_Portugese-Ch24_r1 11/1/04 2:37 PM Page 1 Capítulo 22 Vacina recombinante com vetor da bouba de canário com os genes prM/E do vírus do Oeste do Nilo protege eqüinos contra desafio com mosquito transmissor desse vírus J. M. Minke1 , L. Siger 2 , K. Karaca2 , L. Austgen 3, P. Gordy 3, R. Bowen3 , R. W. Renshaw 4, S. Loosmore 5, J. C. Audonnet 1, e B. Nordgren 6 Resumo 1 2 Merial SAS, Lyon, França Merial Inc., Atenas, Geórgia, EUA College of Veterinary Medicine and Biomedical Sciences, Colorado State University, Fort Collins, Colorado, EUA 3 4 College of Veterinary Medicine, Cornell University, Ithaca, New York, EUA 5 Aventis Pasteur, Toronto, Canadá 6 Merial, Duluth, Geórgia, EUA Foi desenvolvida uma vacina recombinante à base do vetor ALVAC (bouba de canário) (vCP2017) que expressa os genes prM e E derivados de um isolado do vírus do Oeste do Nilo (WNV) observado em Nova York em 1999, a qual foi submetida a testes de eficácia na proteção de eqüinos em dois experimentos diferentes. No primeiro, foi realizado um estudo da titulação da dose para avaliar tanto as respostas dos anticorpos séricos neutralizantes ao WNV como a duração da imunidade. No segundo experimento, foi verificado quando se iniciava a proteção. Vinte e oito eqüinos adultos receberam duas doses de vCP2017 administradas pela via intramuscular em intervalos de 5 semanas, e dezesseis eqüinos compunham o grupo-controle não vacinado, pareado por idade. Amostras individuais de soro foram periodicamente colhidas e testadas para verificar a presença de anticorpos neutralizantes contra o WNV. Os eqüinos foram desafiados, permitindo-se que mosquitos Aedes albopictus, infectados com o vírus WNV, neles se alimentassem por um período de duas semanas (segundo experimento) ou um ano (primeiro experimento) após a segunda vacinação. Após o desafio, os eqüinos foram monitorados para verificar a ocorrência de sintomas da doença e amostras de sangue foram colhidas para detecção de anticorpos e viremia do WNV. Em ambos os experimentos, todos os eqüinos vacinados desenvolveram anticorpos neutralizantes contra o vírus WNV. Nenhum dos animais vacinados 1 xvagl33949_Portugese-Ch24_r1 11/1/04 2:37 PM Page 2 Dados Importantes • O Vírus do Oeste do Nilo (WNV), antes desconhecido no Hemisfério Ocidental, foi identificado pela primeira vez na América do Norte em 1999, tendo contaminado pessoas, pássaros e eqüinos na cidade de Nova York e áreas circunvizinhas. • Desde então, o vírus espalhou-se para praticamente todos os estados nos EUA, afetando mais de 14 mil eqüinos somente em 2002, com uma taxa de mortalidade de aproximadamente 30%. • A vacina com WNV inativado atualmente utilizada em eqüinos apresenta as seguintes desvantagens: • Necessidade de produção do patógeno infeccioso em larga escala • Risco de inativação incompleta • Aparecimento lento de imunidade • Necessidade de várias aplicações • O objeto deste estudo é uma vacina recombinante contra o WNV recém-desenvolvida para uso em eqüinos. Em dois testes clínicos, foi demonstrado que essa vacina estimula tanto a resposta com anticorpos como confere imunidade precoce em eqüinos contra a viremia por WNV. ou do grupo-controle desenvolveu sinais clínicos da doença em praticamente todos os estados nos EUA até 2002. A pelo WNV após o desafio. Nenhum dos nove eqüinos desafiados persistência do WNV em mosquitos durante o inverno dificulta 2 semanas após a primeira vacinação, e apenas um dos dez ou impossibilita a erradicação, não sendo mais, portanto, vacinados desafiados 1 ano pós-vacinação, desenvolveram considerado exótico para os Estados Unidos [3]. viremia detectável após o desafio, enquanto que mais de 80% O principal ciclo de transmissão do WNV envolve pássaros dos controles se infectaram. Os resultados desses estudos e mosquitos, embora a transmissão direta de pássaros para demonstraram que um esquema básico com duas doses de pássaros [12] e a infecção oral tenham sido sugeridas [4] e vCP2017 estimula uma resposta de anticorpos e confere demonstradas de modo experimental [9]. Os eqüinos são imunidade precoce em eqüinos contra a viremia pelo WNV. infectados pela picada de mosquitos contaminados e desenvolvem viremia de baixa intensidade e curta duração. Introdução Portanto, é provável que os eqüinos infectados não atuem O vírus do Oeste do Nilo (WNV) é um RNA-vírus de fita simples como hospedeiros amplificadores do WNV, sendo e senso positivo que pertence ao complexo do vírus da considerados hospedeiros finais e incidentais [1]. Em 2002, encefalite japonesa (JEV) do gênero Flavivirus, da família mais de 14 mil casos confirmados em eqüinos de infecção pelo Flaviviridae [6]. A infecção pelo vírus do Oeste do Nilo é bem WNV foram registrados na América do Norte [22], com uma conhecida na África, Ásia e na bacia do Mediterrâneo, onde taxa de mortalidade de aproximadamente 30%. foram relatados casos esporádicos e epidemias [14]. Esse A vacinação com vacinas contendo vírus vivo-modificado ou vírus foi identificado pela primeira vez na América do Norte em inativado tem sido um mecanismo eficaz na prevenção da 1999 durante um surto que acometeu pássaros, eqüinos e infecção pelo flavivírus no homem [7, 23] e em animais pessoas em Nova York e seus arredores. Desde então, o vírus domésticos [19]. Recentemente, uma vacina inativada contra o se espalhou rapidamente pelo sul e pelo oeste, aparecendo WNV foi registrada nos Estados Unidos para uso em eqüinos. 2 xvagl33949_Portugese-Ch24_r1 11/1/04 2:37 PM Page 3 Inúmeras desvantagens são em geral associadas às vacinas O vetor da bouba de canário ALVAC [21] foi empregado como inativadas, tais como a exigência de produção do patógeno cepa parental para desenvolver um recombinante que infeccioso em larga escala, o risco de inativação incompleta, o contenha as seqüências de codificação apropriadas do WNV. lento aparecimento da imunidade e a necessidade de várias O vírus foi cultivado e titulado em monocamadas de células inoculações. Devido a esses aspectos preocupantes, as primárias de fibroblastos de embrião de galinhas (CEF) livres vacinas de segunda geração foram desenvolvidas com de patógenos específicos. tecnologia recombinante. Recentemente, Davis et al. [2] O WNV que atuou como RNA doador para a síntese do relataram a avaliação de uma vacina de DNA contra o WNV cDNA e posterior construção do vCP2017 foi isolado em 1999 que protegeu camundongos e eqüinos contra a infecção na Cornell University de um pool de amostras de tecido de experimental. O uso de poxvírus recombinantes é outro meio fígado e rim de um pato Mallard de Queens, Nova York, EUA. potencialmente eficaz de induzir imunidade protetora contra a infecção pelo flavivírus [8, 10, 11]. Foi demonstrado que os Clonagem do cDNA dos genes estruturais do WNV recombinantes de bouba de canário realmente expressam os Foram utilizadas técnicas-padrão de biologia molecular para a genes recombinados inseridos sem que haja replicação viral obtenção das seqüências do cDNA do WNV e sua clonagem. efetiva [18, 21]. Isso fornece um recurso intrínseco de A clonagem foi realizada no vetor do plasmídeo pTriEx-1 segurança para a vacinação, pois elimina a possibilidade de (Novagen, Madison, WI 53719, EUA). Foram empregadas transmissão do vetor vacinal ou do vírus imunogênico-alvo. técnicas-padrão de reação em cadeia da polimerase Foram desenvolvidos vários recombinantes de bouba de acoplada à transcriptase reversa (RT-PCR) para amplificar as canário para uso veterinário [13, 15, 20, 21], sendo atualmente seqüências da codificação para prM, M e E do RNA do WNV, comercializados na América do Norte e na Europa. utilizando-se primers ME no.2 (sentido 5’-3’ ou forward) Desenvolvemos um vírus recombinante da bouba de canário (5’ -AGCTGATATCAACCGGAATTGCAGTCATG- 3’) e (vCP2017) que expressa as proteínas pré-membrana (prM) e prM/E (sentido 3’-5’ ou reverse) envelope (E) de um isolado do WNV observado em Nova York (5’-CACAGTCTCGAGAGCGTGCACGTTCACGGAG-3’). em 1999. Após os estudos de segurança em eqüinos, O fragmento de DNA amplificado por PCR foi digerido com camundongos, frangos e corvos, esse vírus recombinante foi EcoRV e XhoI, e clonado no vetor pTriEx. O plasmídeo submetido a testes para avaliar sua capacidade de induzir resultante foi denominado pTriEX-WNVME. imunidade em eqüinos e também verificar seu potencial como candidato a vacina para prevenção da infecção pelo WNV. Construção do plasmídeo doador de ALVAC no cassete de expressão do WNV Materiais e Métodos O final 0,7 kb EcoRV–ClaI 5’ do cassete do gene do WNV no Linhagens de células e cepas do vírus pTriEx foi amplificado pela técnica de PCR, empregando-se os 3 xvagl33949_Portugese-Ch24_r1 11/1/04 2:37 PM Page 4 primers 7600.SL (5’-ATCGCGATATCCGTTAAGTTTGTATCGTAA final pDS-2946-1-1 era composto pelo promotor H6 do vírus TGACCGGAATTGCA-GTCATGATTGGCCTG-3’) e 7616.SL (5’- vaccínia ligado ao códon de iniciação do ATG adicionado CATCTTCACATCGAT-GGTAGGCTT-3’) e o fragmento inserido exatamente à extremidade 5’ da seqüência de codificação do no pCR2.1 para gerar o plasmídeo pDS-2905-2-1. A seqüência prM e inserido entre os braços laterais da bouba de canário da inserção foi confirmada. O primer 7600.SL contém o final 3’ no locos do ALVAC C5. do promotor H6 da vaccínia. O fragmento 1.4 kb ClaI –XhoI 3’ do pTriEx-WNV foi inserido em pUC-4K, gerando o clone pDS- Desenvolvimento do vírus recombinante ALVAC (vCP2017) 2889-1. Para retirar um sítio interno TTTTTNT na seqüência E, Os experimentos de recombinação foram realizados conforme foi realizada mutagênese sitio-dirigida (ou superexpressão), descrito anteriormente [16], empregando-se o pDS-2946-1-1 utilizando-se o kit Stratagene QuickChange (La Jolla, CA como plasmídeo doador e o ALVAC como vírus de resgate. O 92037, EUA) e os primers 7598.SL (5’-GAAGTGGCCATTTTTGT plasmídeo de inserção pDS-2946-1-1 foi misturado ao DNA CCATG-GACCAACT-3’) e 7599.SL (5’-AGTTGGTCCGTGCACGAA genômico da bouba de canário (ALVAC) e co-precipitado em GATG-GCCACTTC-3’). O clone pDS 2897-5-1 que contém a células CEF infectadas com ALVAC para permitir que a seqüência mutada de E foi confirmado como correto pela recombinação in vitro entre as regiões laterais de C5 ORF do análise da seqüência. Para retirar a cauda poli-His e introduzir cDNA viral e as regiões laterais homólogas do ALVAC no uma terminação de tradução e o terminal TTTTTNT, o plasmídeo de inserção. A progênie contendo os genes do fragmento 1.4 kb 3’ de pDS-2897-5-1 foi amplificado por PCR WNV foi identificada por meio de hibridização in situ da placa, usando-se os primers 7617.SL (5’- AAGCCTACCATCGAT empregando-se uma sonda do gene do WNV marcado com GTGAAGATG-3’) e 7601.SL (5’-GGGCCCTCTAGATAAA rádio. Diversas placas virais positivas à sonda do WNV foram AATTAAGCGTGCACGTTCA-CGGAGAGGAAGAGCAG-3’). O submetidas a seis ciclos sucessivos de purificação. Uma fragmento resultante foi inserido no pCR2.1 para gerar o placa representativa, denominada vCP2017, foi então plasmídeo pDS-2918-1. O plasmídeo pDS-2918-1 também foi amplificada por meio de cinco passagens nas células confirmado como correto pela análise da seqüência. O primárias CEF, identificadas como passagem 10 e utilizadas fragmento EcoRV –ClaI 5’ de pDS-2905- 2-1 e o fragmento ClaI na preparação dos stocks do vCP2017. –XbaI 3’ de pDS-2918-1 foram isolados e ligados junto com o plasmídeo pNVQH6C5LSP 18 (plasmídeo que contém os Expressão dos genes prM e E braços laterais para o locos do ALVAC C5), previamente A expressão apropriada dos genes prM e E do WNV foi digeridos com EcoRV and XbaI, para gerar pDS-2946-1-1. O confirmada pela análise do vCP2017 com uso das técnicas de clone pDS-2946-1-1 foi confirmado pela análise da enzima de fluorescência indireta e Western blot. Para o teste de Western restrição e a inserção foi seqüenciada. O plasmídeo doador blot, as células CEF foram infectadas com ALVAC (vírus 4 xvagl33949_Portugese-Ch24_r1 11/1/04 2:37 PM Page 5 parental) ou vCP2017. Após incubação a 37°C em CO2 a 5% quantidades necessárias para mantê-los em boas condições durante 24–30 horas, os sobrenadantes foram colhidos e físicas, além de água ad libitum. submetidos à eletroforese em um gel de SDS PAGE 12%, que Durante a fase de vacinação, os eqüinos foram mantidos a pasto foi então transferido para uma membrana de náilon Millipore P. ou em estábulos, tendo sido regularmente tratados com repelente A membrana foi sondada com soro de galinha anti-WNV como de moscas (Tri-Tec®, Farnan Companies Inc., Osborne, Phoenix, anticorpos primários (APHIS, NVSL, Ames, Iowa), e com soro Arizona, EUA) de uso tópico, conforme as indicações de bula. de asno anti-galinha conjugado com peroxidase de rábano (Jackson Immunoresearch, West Grove, Pensilvânia, EUA) Desafio e Vacinação dos Animais como anticorpos secundários. Para visualização foi utilizado o A proteção conferida pelo vCP2017 foi avaliada tanto às 2 kit de detecção Amersham Enhanced Luminol (Amersham- semanas como 1 ano após a segunda dose do esquema básico de Pharmacia, Piscataway, Nova Jersey, EUA) . vacinação. As vacinas foram reconstituídas com o adjuvante Os testes de imunofluorescência indireta (IF) foram conduzidos Carbopol (BF Goodrich Chemicals Europe NV, Bruxelas, Bélgica) em células CEF infectadas, fixadas em acetona. Como anticorpos numa concentração de 4 mg por dose (1 mL) antes da imunização. primários, foram utilizados o anticorpo monoclonal 538 que reage No primeiro experimento, foi realizado um estudo de titulação com prM do WNV [5] e o monoclonal F7/101 que reage com E do da dose em eqüinos para avaliar tanto os títulos séricos de WNV [16] , e como anticorpo secundário, um soro de cabra anti- anticorpos neutralizantes contra WNV como a duração da camundongo acoplado com fluorocromo Cy3 (Jackson imunidade. Três grupos de seis eqüinos foram vacinados duas Immunoresearch, West Grove, Pensilvânia). vezes com 5 semanas de intervalo pela via intramuscular com doses graduadas (baixa-média-alta) da vacina vCP2017. Um Eqüinos Neste estudo foram utilizados 44 eqüinos adultos (machos grupo de seis eqüinos não foi vacinado, atuando como controles. No segundo experimento foi definido o início da proteção. Dez castrados e éguas), com peso entre 337 e 600 kg, sob um eqüinos foram vacinados com vCP2017 a uma dose baixa, de protocolo aprovado pelos Comitês Institucionais de Uso e acordo com o mesmo esquema de vacinação (veja acima). Cuidados dos Animais (Institutional Animal Care and Use Outros 10 eqüinos não foram vacinados, atuando como controles. Committees) da Merial e da Colorado State University. Todos os estudos de desafio foram realizados em instalações Nenhum dos eqüinos apresentou anticorpos detectáveis para de confinamento com nível 3 de biossegurança na Colorado WNV ou vírus da encefalite de St. Louis no teste de State University, empregando-se um método de desafio com neutralização com redução em placa (PRNT) (1) no início do mosquito descrito anteriormente (1). Todos os eqüinos foram estudo. Os animais foram alimentados com mistura de cereais desafiados pela picada de 12–15 mosquitos Aedes albopictus e feno ou receberam ração completa estrusada nas infectados com o isolado do WNV NY99-4321. Os mosquitos 5 xvagl33949_Portugese-Ch24_r1 11/1/04 2:37 PM Page 6 puderam se alimentar nos eqüinos durante 5–8 minutos. Depois de se alimentarem, 3–5 mosquitos ingurgitados de cada um dos eqüinos foram macerados e submetidos a testes em placa para verificar a presença do vírus. Os eqüinos vacinados com doses baixas e médias de vCP2017 e os não vacinados do grupocontrole do experimento número 1 e todos os eqüinos do experimento número 2 foram desafiados 1 ano (teste no. 1) e 2 semanas (teste no. 2) após a segunda vacinação. Após o desafio, os eqüinos foram examinados duas vezes ao dia a partir do dia 0 (dia da infecção) até o dia 13 e uma vez no dia 14 para verificar a ocorrência de sinais da doença clínica; também foi mensurada uma vez ao dia a temperatura corporal Fig. 1: Análise 184.5 do teste de Western 121.3 immunoblot dos 85.9 sobrenadantes do vírus 68.8 ALVAC (vírus parental) e 52.5 E vCP2017 (ALVAC 40.0 recombinante que expressa as proteínas do WNV). Os sobrenadantes das células CEFs 28.4 M infectadas pelo ALVAC (1) 21.7 ou CP2017 (2) foram submetidas a eletroforese num gel PAGE SDS a 12%, sendo transferidos para a 16.8 membrana de náilon. A membrana foi sondada com soro de galinha anti-WNV (1:1000) como anticorpo primário e com antisoro de asno anti-galinha marcado com HRPO como anticorpo secundário. Para visualização, foi utilizado o kit de detecção de luminol (Amersham). As células infectadas pelo vCP2017 (2), mas não as infectadas pelo ALVAC (1), expressaram as proteínas WNV-E e WNV-M no sobrenadante (setas). Os tamanhos (esquerda) são mostrados em quilodaltons. e retal. Amostras de sangue completas foram colhidas duas Quadro 1: vezes ao dia durante 7 dias (experimento no.1) e 13 dias (experimento no. 2) e depois uma vez ao dia até o 14º pósdesafio, tendo sido testadas em placa para verificar a Respostas sorológicas após a imunização com vCP2017 Dose GMT no teste de PRNT80% Experimento Vacinal Soroconversão (Log10) 2 semanas após a 1ª vacinação presença do WNV. Quando foram sacrificados, foi colhida uma No. 1 amostra de líquido cefalorraquidiano (CSF) da região atlantooccipital dos eqüinos do experimento nº 1 para teste da presença de WNV. Os eqüinos foram sacrificados com uma overdose de pentobarbital entre o 14º e o 24º dia após o No. 2 baixa média alta baixa 6/6 5/6 4/5 14,3 (1/7) 0 0 0 0,47 2 semanas após a 2ª vacinação 1,1 0,9 0,8 a Comparando-se cada grupo vacinal aos controles NYVAC-RG e ALVACRG (NY/AL-RG). NP, não pertinente. desafio, necropsiados para exame patológico e histopatológico macroscópico (experimento no. 2) e as carcaças incineradas nas instalações de confinamento. Isolamento do vírus em ensaios de placa Q u a d r o 2 : Resposta de anticorpos e proteção contra o desafio com o WNV Experimento No. 1 Os vírus nas amostras de soro, nos homogeneizados de No. 2 mosquitos e no líquido cefalorraquidiano, foram quantificados por meio da titulação num ensaio de placa, como descrito anteriormente [1]. Em resumo, 0,1 mL da amostra foi Groupo No % Proteção contra a viremia dose baixa dose média controles dose baixa controles 5 5 6 9 10 100 80 16 100 20 Soroconversão* (no. positivos/ no. testados) 5/5 5/5** 6/6 8/9 10/10 * Títulos neutralizantes ≥ 5 ** O eqüino não protegido apresentou resposta lenta dos anticorpos após o desafio com o WNV. 6 xvagl33949_Portugese-Ch24_r1 11/1/04 2:37 PM Page 7 acrescentado a uma monocamada de células Vero numa placa (Fig. 1). Bandas de proteínas do tamanho esperado para as de cultura com seis cavidades e incubado a 37°C numa atmosfera proteínas E e prM do WNV estavam presentes nas amostras com CO2 a 5%. As células foram cobertas com 3 mL de agarose a de vCP2017, mas ausentes nas de controle do ALVAC. A 0,5% em meio de cultivo M-199 sem fenol vermelho suplementado expressão das proteínas foi considerada fenotipicamente com antibiótico e soro fetal bovino a 5%. Após 48 h, foi adicionada estável após 10 passagens in vitro nas células CEF. uma segunda sobrecamada de 3 mL contendo vermelho neutro a 0,004%. As placas foram marcadas no dia 3, 4 e 5 da incubação e Respostas dos anticorpos à vacinação expressas como unidades formadoras de placas por mL. Não foram detectados anticorpos anti-WNV em nenhum soro de Amostras séricas selecionadas foram submetidas a testes de animais pré-imunizados. Nenhum dos eqüinos não vacinados PRNT para verificar a presença de anticorpos para WNV. apresentou soroconversão ao WNV até o momento do desafio. Um animal pertencente ao grupo de dose elevada (experimento Sorologia no.1) demonstrou uma resposta de anticorpos anamnéstica Foram colhidas amostras de sangue da veia jugular periodicamente (título: 80) aos 7 dias após a primeira vacinação. Como não após a vacinação e o desafio, sendo a resposta de anticorpos ao podíamos desconsiderar a possibilidade de prévia exposição ao WNV avaliada pelo teste de PRNT. A titulação dos soros foi feita de WNV ou a outro flavivírus geneticamente relacionado, esse modo cego na Colorado State University. Resumidamente, os soros animal foi excluído dos demais testes. Um eqüino vacinado do foram termo-inativados a 56°C por 30 minutos e suas diluições experimento no. 2 morreu 28 dias após a primeira vacinação por seriadas na potência 2 foram misturadas a um igual volume (0,1 mL) um problema entérico pré-existente não relacionado à contendo 200 – 300 pfu da cepa NY99-4132 do WNV. Após vacinação, sendo eliminado do estudo. incubação por uma noite a 4°C, foi acrescentado 0,1 mL de cada O Quadro 1 mostra as respostas de anticorpos após a uma das misturas em monocamadas de células Vero em placas vacinação. Nenhum dos eqüinos vacinados desenvolveu com 6 cavidades, processadas em ensaio de placa. Os pontos finais anticorpos detectáveis após a primeira vacinação. Duas semanas de neutralização foram registrados como a mais alta diluição de depois da segunda vacinação, 15/17 eqüinos do experimento no. 1 soro com uma redução de 80% em 100 –150 placas. Os títulos > 5 e 8/9 do no. 2 apresentaram anticorpos detectáveis (variação: 5 a foram considerados positivos. 1280), mas não foi observada nenhuma resposta clara relacionada à dose utilizada. Os três eqüinos que não soroconverteram ao Resultados nível de redução de 80% no teste em placa apresentaram todos Expressão das proteínas prM e E baixa titulação de anticorpos ao nível de 50%. Para avaliar a A expressão das proteínas prM e E foi detectada tanto por persistência das respostas dos anticorpos neutralizantes nos testes de IF (não apresentados) como de Western blotting eqüinos do experimento no.1, foram colhidas amostras de sangue 7 xvagl33949_Portugese-Ch24_r1 11/1/04 2:37 PM Page 8 36 semanas após a segunda vacinação e novamente analisadas após o desafio. Todos os outros animais vacinados pelo teste de PRNT80. Apenas 2 eqüinos apresentaram níveis ainda apresentaram anticorpos já no dia 7 pós-desafio. Cinco dos 6 baixos de anticorpos circulantes anti-WNV (título: 5). Ambos controles desenvolveram títulos de anticorpos ≥ 5 no dia 14 apresentaram os níveis mais elevados de anticorpos no teste de pós-infecção, e também um controle até o dia 7 pós-desafio. PRNT (título: 40) duas semanas após a segunda vacinação. Não foram observados sinais clínicos, inclusive pirexia, em nenhum dos eqüinos infectados. Nenhum dos eqüinos Proteção contra o desafio A quantidade de WNV presente nos mosquitos ingurgitados apresentou vírus detectável no líquido cefalorraquidiano. No segundo experimento, nove eqüinos vacinados e dez analisados após se alimentarem nos eqüinos variou de 107,0 a controles foram desafiados duas semanas após a segunda 108,0 pfu por mosquito no primeiro experimento e de 107,0 a 109,1 vacinação. Oito dos dez controles apresentaram viremia 18 a 72 no segundo. h após serem picados pelos mosquitos infectados. Os picos dos Os resultados dos dois experimentos são apresentados no títulos de viremia variaram de 100,7 pfu a 102,4 pfu, sendo que o Quadro 2. Dois eqüinos vacinados pertencentes ao estudo vírus não foi isolado após o 6º dia pós-desafio. Nenhum dos nove sobre a duração da imunidade (experimento no.1) foram eqüinos vacinados desenvolveu viremia. Todos os eqüinos do excluídos do desafio, pois foram expostos a uma cepa de grupo-controle e 8 dos 9 vacinados apresentaram aumento dos campo do WNV quando mantidos a pasto durante o período títulos de anticorpos após a exposição ao WNV. O eqüino que pré-desafio, como comprovado pela soroconversão. Nenhum não soroconverteu ao WNV apresentou um título de 1.280 no outro eqüino soroconverteu antes do desafio. Portanto, 5 momento do desafio. Não foram observados sinais clínicos da eqüinos vacinados dos grupos de dose baixa e média e 6 doença em nenhum desses animais durante o estudo, com controles foram desafiados um ano após a segunda exceção de um controle que apresentou uma resposta vacinação. Cinco dos seis eqüinos do grupo-controle temporária de temperatura (38,8°C) no 6º dia após as picadas dos expostos ao WNV por meio de mosquitos infectados que neles mosquitos. Na necrópsia, não foram observadas anormalidades se alimentaram desenvolveram viremia detectável 24 a 72 h macroscópicas, sendo que o exame histopatológico de secções após o desafio, com os picos de títulos de vírus entre 100,7 e representativas do córtex, tronco cerebral e cerebelo não 101,8 pfu. O vírus não foi isolado após o dia 6. Somente um revelaram lesões compatíveis com infecção pelo WNV. eqüino vacinado pertencente ao grupo de dose média desenvolveu viremia, que durou 2 dias, com um pico de Discussão viremia de 101,3 pfu. Esse animal não conseguiu desenvolver Construímos um vírus recombinante de bouba de canário que uma resposta de anticorpos neutralizantes após a vacinação, expressa as proteínas prM/E de um isolado do WNV tendo demonstrado uma resposta de anticorpos lenta (dia 14) observado em Nova York em 1999. Os dados dos testes de 8 xvagl33949_Portugese-Ch24_r1 11/1/04 2:37 PM Page 9 Western immunoblot mostraram que as células infectadas com canário contra o JEV [8]. Esse construto induziu respostas das vCP2017 processaram adequadamente as proteínas prM e E. A células T JEV-específicas em seres humanos, apesar dos expressão foi confirmada pelo teste de IF com anticorpos anticorpos neutralizantes não detectáveis [8]. monoclonais específicos para as proteínas E e prM. As vacinas foram bem toleradas pelos eqüinos e não foi Em nossos experimentos, o vCP2017 foi testado na presença do adjuvante Carbopol. Estudos anteriores [13] sobre um possível isolar o vCP2017 do sangue, fezes ou esfregaços recombinante de bouba de canário contra influenza (vCP1533) nasais coletados em intervalos regulares após a vacinação para uso em eqüinos demonstraram que, embora o construto (dados não apresentados). Isso é coerente com os resultados conferisse proteção na ausência de adjuvante, sua eficácia da inoculação anterior de ALVAC em mamíferos, inclusive em melhorou quando associado ao Carbopol. Os mecanismos seres humanos [8, 18]. imunológicos subjacentes à atividade do Carbopol são pouco A capacidade de proteção do vCP2017 foi testada, desafiando-se os eqüinos vacinados por meio de picadas de entendidos, sendo atualmente objeto de pesquisas. Em resumo, o esquema básico de vacinação com duas mosquitos infectados pelo WNV, um método que se aproxima injeções de vCP2017 conferiu proteção significante a eqüinos da exposição natural. Os baixos níveis de viremia e a nítida contra viremia pelo WNV, fornecendo uma alternativa potente ausência de sinais clínicos nos controles desafiados aqui e segura à vacina com WNV inativado atualmente disponível. descritos são semelhantes aos relatados por Bunning et al. [1]. A vacina induziu a produção de anticorpos neutralizantes Agradecimentos para o WNV e conferiu proteção precoce contra a viremia Agradecemos ao Dr. E. Gould por nos fornecer os anticorpos pelo WNV. Além disso, a imunidade protetora durou no mínimo monoclonais anti-WNV e a H. Coupier, L. Motes-Kreimeyer, C. um ano após a vacinação. Curiosamente, a proteção ocorreu Leung e G. Royer e sua equipe pela assistência técnica na ausência de anticorpos detectáveis. A necessidade de especializada. Nossos agradecimentos a H. Hughes, M. Murray níveis significantes de anticorpos neutralizantes no momento e A.L. Glaser pela revisão crítica do manuscrito. da exposição pode não ser um fator essencial, desde que a vacinação estimule adequadamente o sistema imune e a resposta seja rápida. Isso foi anteriormente descrito com outros construtos de bouba de canário que contêm os genes protetores do vírus da leucemia felina [20] e da cinomose canina (J. Minke, comunicação pessoal). A vacina pode também ter induzido respostas dos CTL, como demonstrado no caso do ALVAC-JEV, um recombinante de bouba de 9 xvagl33949_Portugese-Ch24_r1 11/1/04 2:37 PM Page 10 Referências Bibliográficas 1. Bunning ML, Bowen RA, Cropp CB, Sullivan KG, Davis BS, Komar N, Godsey MS, Baker D, Hettler DL, Holmes DA, Biggerstaff BJ, Mitchell CJ (2002) Experimental infection of horses with West Nile virus. Emerg Infect Dis 8(4): 380–386 2. Davis BS, Chang GJ, Cropp B, Roehrig JT, Martin DA, Mitchell CJ, Bowen R, Bunning ML (2001) West Nile virus recombinant DNA vaccine protects mouse and horse from virus challenge and expresses in vitro a non-infectious recombinant antigen that can be used in enzyme-linked immunosorbant assays. J Virol 75(9): 4040–4047 3. DeHaven WR (2002) Memorandum NVSL. ProMedAnnouncements 2002 (06) available at: http://[email protected] 4. Garmendia AE, Van Kruiningen HJ, French RA, Anderson JF, Andreadis TG, Kumar A (2000) Recovery and identification of West Nile virus from a hawk in winter. J Clin Microbiol 3110–3111 5. Gould EA, Buckley A, Higgs S, Gaidamovich S (1990) Antigenicity of flaviviruses. Arch Virol [Suppl 1]: 137–152 6. Heinz FX, Collett MS, Purcell RH, Gould EA, Howard CR, Houghton M (2000) Family Flaviviridae. In: van Regenmortel MHV, Fauquet CM, Bishop DHL, Carsten EB, Estes MK, Lemon SM (eds). Virus taxonomy: classification and nomenclature of viruses. Academic Press, San Diego, pp 859–878 7. Hoke CH, Nisalak A, Sangawhipa N, Jatanasen S, Laorakapongse T, Innis BL, 12. McLean RG, Ubico SR, Docherty DE (2001) West Nile virus transmission and ecology in birds. Ann NY Acad Sci 951: 54–57 13. Minke JM, Audonnet JC, Jessett DM, Fischer L, Guigal PM, Coupier H, Pardo MC, Taylor J, Tartaglia J, Mumford JA (2000) Canarypox as a vector for influenza and EHV-1 genes: challenges and rewards. In: Proc Second International Veterinary Vaccines and Diagnostic Conference, Oxford, p 36 14. Murgue B, Murri S, Triki H, Deubel V, Zeller HG (2001) West Nile in the Mediterranean basin: 1950–2000. Ann NY Acad Sci 951: 117–126 15. Pardo MC, Bauman JE, Mackowiak M (1997) Protection of dogs against distemper by vaccination with a canarypox recombinant expressing the canine distemper virus fusion and hemagglutinin glycoproteins. AJVR 58(8): 833–836 16. Peiris JSM, Porterfield JS, Roehrig JT (1982) Monoclonal antibodies against the flavivirus West Nile. J Gen Virol 58: 283–289 17. Perkus ME, Kauffman EB, Taylor J (1993) Methodology of using vaccinia virus to express foreign genes in tissue culture. J Tissue Cult Meth 15: 72–81 18. Plotkin SA, Cadoz M, Meignier B, Meric C, Leroy O, Excler JL, Tartaglia J, Paoleti E, Gonczol E, Chappuis G (1995) The safety and use of canarypox vectored vaccines. Dev Biol Stand 84: 165–170 19. Research Committee for prevention of stillbirth in sows due to Japanese encephalitis (1968) Bull Natl Inst Anim Health 57: 1–8 20. Tartaglia J, Jarrett O, Neil JC, Desmettre Ph, Paoletti E (1993) Protection of cats Kotchasenee S, Gingrich JB, Latendresse J, Fukai K, Burke DS (1988) Protection against feline leukaemia virus by vaccination with a canarypox virus recombinant, against Japanese encephalitis by inactivated vaccines. N Eng J Med 319: 608–614 ALVAC-FL. J Virol 67(4): 2370–2375 8. Kanesa-Thasan N, Smucny JJ, Hoke CH, Marks DH, Konishi E, Kurane I, Tang DB, Vaughn DW, Mason PW, Shope RE (2001) Safety and immunogenicity of NYCAC-JEV 21. Taylor J, Trimarchi C, Weinberg R, Languet B, Guillemin F, Desmettre Ph, Paoletti E (1991) Efficacy studies on a canarypox-rabies recombinant virus. Vaccine 9(3): 190–193 and ALVAC-JEV attenuated recombinant Japanese encephalitis virus – poxvirus 22. Update on current status of West Nile Virus. Available at: http://www.aphis.usda.gov vaccines in vaccinia-nonimmune and vaccinia-immune humans. Vaccine 19: 483–491 23. Xin YY, Ming ZG, Peng GY, Jian A, Min LH (1988) Safety of a live-attenuated Japanese 9. Komar N, Langevin S, Hinten S, Nemeth N, Edwards E, Hettler D, Davis B, Bowen R, encephalitis virus vaccine (SA14-14-2) for children. Am J Trop Med Hyg 39: 214–217 Bunning M (2003) Experimental infection of North American birds with the New York 1999 strain of West Nile virus. Emerging Infect Dis 9(3): 311–322 10. Konishi E, Kurane I, Mason PW, Shope RE, Ennis FA (1997) Poxvirus-based Author’s address: J. M. Minke, Merial, SAS, 254 rue Marcel Mérieux, 69007 Lyon, France; e-mail: [email protected] Japanese encephalitis vaccine candidates induced JE virus-specific CD8+ cytotoxic lymphocytes in mice. Virology 227: 353–360 11. Konishi E, Pincus S, Paoletti E, Laegreid WW, Shope RE, Mason PW (1992) A highly attenuated host range-restricted vaccinia virus strain, NYVAC, encoding the prM, E, and NS1 genes of Japanese encephalitis virus prevents JEV viremia in swine. Virology 190: 454–458 ©2004 Merial Limited, Duluth, GA, EUA. Todos os direitos reservados. 10