A dimensão política das microculturas juvenis
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A dimensão política das microculturas juvenis
ORGANIZADORES FAMILIA, ESCOLA EJUVENTUDE Olhares cruzados Brasil-Portugal UNIVERSlDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS REITOR Clclio Campolina Diniz VICE-REITORA Rocksane de Carvalho Norton EDITORA UPMG DrRETOR Wander Melo Miranda VrCF.-DlRETOR Roberto Alexandre do Canno Said CONSELHO EDITORIAL Wander Melo Miranda (PRESIDENT E) Antonio L\liz Pinho Ribeiro Plavio de Lemos Carsalade Hdoisa Maria Murgel Starling Marcio Gomes Soares Maria das Grayas Santa Barbara Maria Helena Damasceno c Silva lvlegale Roberto Alexandre do Carmo Said Belo Horizonle Editora UFMG 2012 @ 2012, Os autores 2012, Editora UFMG Este livro ou parte dele nilo pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorizayao escrita do EdItor. FI98 SUMARIO Familia, escola e juventude: olhares cruzados Brasil-Portugal Juarez Dayrell. .. [et aL], organizadores - Belo llorizonte : Editora UFMG,2012. 449p.: il. Outms organizadores: Maria Alice Nogueira, Jose Manuel Resende, Maria Manuel Vieira. Indui \Ji\Jliografia. [SBN: 978-85-7041-9194 Sociologia. 2. Educa<;iio. 3. Familia. 1. Dayrell, Juarez. II. Nogueira, Maria Alice. Ill. Resende, Jose Manuel. IV. Vieira, Maria Manuel. COD: 306.85 CDU: 301185.14 Elahorada pela DI1TI Setor 'll-atamento da lnforma,ao Bibliotcca Universit<iria da UFMG COOIWENAc,:AO EDITORIAL I DANlVIA WOLFF AssrsTf.:NcIA EDITORIAL I ELIANE SOUSA E EUCLIDIA MACEDO COORDENAc,:AO DE TEXTOS I MARIA DO CARMa LI?.ITE RIBEIRO PREPARA\=AO DE TEXTOS I MICHEL GANNAM REVrSAO DE PROVAS I BEATRIZ TRINDADE, DAVID BEZERRA DE SOUZA, NATHALIA CAMPOS E SIMDNE FERREIRA COORDENAc,:AO GRAFlCA I CAsslO RIBEIRO PRO)ETO GRAFf CO I WARREN MAIHLAC APRESENTA<;:AO Os organizadores 9 PRIMElRA A fAMILIA NA SOCIEDADE CONTEMPORANEA A LEGITIMIDADE CULTURAL NO MUNDO CONTEMPORANEO DO POLITEISMO CULTURAL CONTEMPORANEO AO TRABALHO ESCOLAR DE ELlMINA<;:AO DA DISSONANCIA Jolio Teixeira Lopes 24 EXPERIENCIAS DE SOCIALIZM,:AO E DISPOSI<;:OES nfBRIDAS DE HABITUS Jacintha Set/oil Maria da 38 AS MUI~<\<;:OES DA PAISAGEM CUnURAL ENTRE A LEGITIMIDADE E A LEGlTIMAyAO DO CAPITAL CULTURAL EM SUA FORMA ESCOLAR 56 Zaia Brandao FORMATAc;:AO, CAPA E PRODU\=AO GRAFfCA I DlfGO OLIVEIRA A RELAyAO FAMILlA-ESCOLA NA CONTEMPORANEIDADE SOCIOLOGICA DA RELA<;:Ao ESCOLA-FAMfuA UM ROTElRO SOBRE 0 CASO PORTUGUES 76 Pedro Silva EDITORA UFMG Av. Antonio Carlos, 6.6:>7 Ala direita da Biblioteca Central Terreo Campus Pampulha 31270-901 Belo Horizonte-MG Brasil Tel. +55 31 3409-4650 Fax ,55 313409-4768 [email protected] UM TEMA REVISITADO As CLASSES MEDIAS E A EDUCA<;;AO Maria Alice Nogueira ESCOLAR 110 A RELA<;AO ~:--.(( SOCIAUZA~:AO E ESCOLA NOS MEIOS POPULARES )lA 298 ApONTAMENTOS DE UM ITINERARIO DE PESQUISAS Nadir 132 NOVAS DESIGUALDADES CRIADAS PELA ESCOLAR NA DECADA DE 1990 SOCIOLOGIA DA EDUCA(AO R PRATICA DOCENTE Lea PinheiT"O Paixao 151 EFETTOS SOBRE A T'l\.W'T'T'T'TTU"'! 323 Monica Peregrina As PESQUTSAS SOBRE 0 EFEITO DO ESTABELECIMENTO DE ENSINO COLETIVAS ESTRATEGIAS DE FAMIUAS E ESCOLAS COMPOSlyAO SOCIAL E EFEITOS DE ESCOLA 172 Ana Matias Diogo RESISTENCIA VERSUS A DlMENSAO POLlTICA DAS Vitor Sergio MICROCULTURAS JUVENIS h~rreira TRA(OS DA RETORICA PRODUZlDA SOBRE o "EFEITO DE ESCOLA" 344 AUTONOMIA E SOCIOLOGIA ANALISE EXPLORATORIA VA OPINIAO DIFUNDIDA NA IMPRENSA ESCRITA REDEFININDO CONCElTOS TRANSVERSAlS A PARTIR E DAS RFPRFSPN DO DEBA1'E ACERCA DAS TRANSI!;:OES PARA A VIDA ADULTA DOS PROFESSORES DO ENSINO SECUNDARIO PafJfJamikal Moria Bent?ciita Portl<gal e Melo 372 A<;AO COLETIVA, cunURA E o PARADIGMA DA ESCOLA EFICAZ ENTRE A E A APROPRIA<;AO SOCIAL NO BRASIL CONSIDERA<;:6ES PRELIMINARES Bruno Dionisio 215 Marilia Pontes Sposito QUALlDADE DA EDUCA<;Ao 394 JUVENTUDE E DIVERSIDADE Jose Francisco Soares 231 RA<;:AiETNIA, GENERO E SEXUALIDADE TRAJETORIAS ESCOLARES, PROPRIEDADES SOCIALS E ORIGENS NACIONAIS SEGUNDA SEyAO JUVENTUDE CONTEMPORANEA E EDUCAc;:Ao DESCENDENTES DE IMIGRANTES NO ENSINO BASICO PORTUGUES Teresa Seabra I Sandra Mateus 408 ]UVENTUDE E COTIDIANO ESCOLAR SOCIALIZA<;AO NA ESCOLA SECUNDARIA PORTUGUESA As COMPOSlyOES ENTRE 0 PROJETO ESTATAL IMAGINADO E DTVERSIDADE ARTICULANDO GENERO, RA<;:A E SEXUALIDADE Wivian Weller 425 DE CIDADANIA E AS GRAMATICAS POLlnCAS DISPONIVEIS Jose Manuel Resende I Pedro Jorge Caetano 258 INCERTEZA E INDIVIDUA<;Ao COMO PROCESSO DE Maria Marluel Vieira BIOGRAFICA 276 SOBRE OS AUTORES 445 -.... VITOR SI;:RGIO RESISTENCIA VERS FERREIRA EXISTENCIA? DIMENSAo POLlnCA IS INTRODUC;AO o trabalho de campo realizado no ambito do meu doutora mento, 0 qual versava a problemMica da modifica<;ao corporal com recurso a tatuagem e body piercing em larga extensao na I levou-me ate aos mundos clas rnicroculturas juvenis, contextos socials de rnargem/ mais ex-d:ntricos e ex-otizados,3 em que ocorre um "fluxo de significados e valores manejados por pequenos grupos de jovens na vida quotidiana, atendendo a situa<;oes locais concretas".1 Como notam algumas das suas mais recentes,5 essas estruturas sociabilisticas foram objeto de acentuadas transforma<;:oes no tempo, refletindo-se nas socializa<;:oes, vivencias e experiencias dos seus a perten<;:a era entendida como permanente, exigindo um elevado grau de compromisso dos participantes, a adesao passou a ser assumida como transeunte e grau de eompromisso substancialmente mais fraco; onde subsistia lim baixo nivd de mobilidade, passou a persistir um acentuado grau de mutabi lidade intergrupal, implicando a circula<;ao atraves de socialidades reticulares, estruturadas em redes microculturais cujos "n6s se intercruzam em afinidades fd.geis e lealdades temporarias, revisionaveis e transitorias, a qualquer tempo renegociadas ou canceladas;6 onde a homogeneidade estilistica imperava, passou a existir uma profusao eddiea e aeumulada de estilos visuais e musicais, sendo tambem bastante mais diversificada a ple!iade de recursos slmDollCOS em torno dos quais se estruturam as sociabili oncle permanecia uma forte dades c iclentidades juvenis;, por nticlade de grupa, passou a haver uma identidade fragmentada, provisoria e acentuadamente indivicluada. Mas as diferem,:as nao ficam por aqui. Considerando a pesquisa de terreno feita em Portugal, 0 objetivo deste ensaio sera dar cOl1ta das diferen<;as entre as realidades microculturais juvenis atuais relativamente as do passado - tal como nos foram apresentadas em pesquisas empreendidas na epoca B aqui tamanda como dimen sao de analise as suas ideologias e eticas de vida. Resumindo, onde existia uma politica de militante e coletiva, orientada por uma etica de vida contestati'iria, movida por valores univer salistas de melhoria das condi<;:oes de vida, passa a existir uma polftica de existencia, orient ada por uma etica de vida celebratoria, que cultiva valores particularistas, hedonistas, experimentalistas, presenteistas e canvivialistas no sentido do alargamento das pos ibilidades de expressao individual. Senao DISTANCIA DAPOLlTICA APROXIMAc;Ao SUBPOLlTlCA As mieroculturas juvenis eresceram impressivamente em Portugal descle os anos de 1980, num contexto marcado pda desencanta· mento com as instfmcias politicas tradicionais, segllido pela euforia do periodo p6s-revolucionario; crescimento eeonomico e maior propensao ao conSllmo e ao lazer; aberlura cultural ao exterior, com a consequente clemocratiza~:ao do espa~:o co e relativa libera<;ao dos costumes; e ainda pela prolongamento da escolaridade obrigatoria, que coloea os numa situa<;ao de moratoria de "integra<;ao civica" e depenclencia parental mais prolongada. Nesse contexto, as microculturas juve nis com os seus valores, praticas e recurs os estilisticos tiveram tuniclade de difundir-sc nas zonas urban as do pais, enCOll trando um lugar receptiv~ nos corpos e mentes muitos jovens desafetados e/ou desencantados com os formatos mais ortodoxos da participa~~ao social e poUtica. 345 .~ Objetivamente a margem dos centros de poder e dos processos institucionais de tomada de decisao, e nao venda neles represen tados os seus interesses e preocupa~6es, alguns jovens encontra ram nas microculturas oportunidade de sc fazerem represenlar socialmente como tal. Ai eles deixam de constituir "viti mas" que necessitam de "cuidados intervencionistas" (como acontece nos espa~os politicos tradicionalmente orientados para os jovcns), ou meros de consumo (como sucede no espa~o das economias que tern os jovens como publico-alvo), configurando formas so ciabilisticas espccificamenle juvenis de socializa~ao, participa~ao e protagonismo social, com linguagens e codigos proprios para se expressarem enquanto sujeitos de si mesmos, para produzirem e manifestarem as suas opinioes e aspira~6es sobre 0 mundo, con forme os seus pr6prios interesses e expectativas. Na cren~a de que a poliLica eum mundo distante, que esta para alem do seu poder de influencia e indisponivel para responder as suas desejos e necessidades, os jovens que foram objeto desta pesquisa revelam-se ctetivamente bastante ceticos quanto a relevancia e eficacia da a~ao movida atraves dos mecanismos convencionais disponiveis para 0 exerdcio da cidadania polilica. 9 Pouco confiantes nos atuais moldes de funcionamento do sistema politico, bem como nas institui<;:oes e pessoas que 0 representam, ainda, alguma dificuldade em se ci(mar no espectro poHtico-partid<irio portugues, bem como em lidar com a tradicional clivagem esquerda-direita, cada vez mais fragil enquanto polo de identifica~ao politica e secundarizada em favor de novas formas de olhar e ordenar 0 politico, 0 ideol6gico e os conflitos sociais. Nem pereo tempo a falar de politicas. Eu e que me tenho de safar. governo! C.. ) Seja de direita ou de esquerda. ( ... ) Sou apolitieo, nao tenho nada a vcr com essas eolsas. (... ) [Nunca votaste?] Nao, nunea. Nlmca na vida, nem me vou dar a esse trabalho. ( ... ) E assim: eu estou mesmo a eagar para a sociedade! Os meus valores sao s6 naqueJes que me rodeiam, al e que eu gosto de ver a democracia. (. .. ) Para mim, quando falo de demoeracia nao epreciso ser logo a falar do pafs e de politi ca. A demoeracia acho que tem de come<;:ar eem casa, se for preciso. Primeiro assim 110 grupo de amigos ... C..) E assim que eu vejo, seja qual for 0 346 Confrontados com a escassez de programas ideol6gicos credl veis e disponiveis em que se revejam, esses jovens partilham entre si nao apenas um sentimento de distfmcia ao poder, como tambem um sentimel1to de incapacidade perante a hip6tese de protagonismo atraves das vias tradicionais e alinhadas de excrdcio da cidadania, representadas em movimentos organizados e formais de a<;:ao coletiva. Mesmo quando representam areas de natureza mais expressiva, as praticas de sociabilidade mais organizada e institucional despertam-Ihes um reduzido interesseY A dificuldade em lidar com os mecanismos e institui~6es repre sentalivas do modo tradicional de exercicio da cidadania carac teristica da cultura poHtica desses jovens, nao implica, contudo, a sua alegada despolitiza~iio no sentido da inercia ou resigna<;:ao passiva perante os atuais problemas sociais, ou da inexistencia de reflexividade, discussao e empenhamento social. Pelo contnirio, a atitude critica que assumem per ante a a~ao e institui~oes politicas comencionais indicia algnma consciencia civica por parte desses jovens, meSI110 quando esta implica rea~6es de saida como resposta ls estrategica ao modo de funcionamento do sistema. Saidas, designadamente, em dire~ao a espa~os de socialidades alterna tivas 16 ou retiros 5ubcu/turais,17 que nao deixam de ser animados por uma 16gica de divergencia reformista das fundacoes sociais, econ6micas e culturais. Sc Illuitas vezes as novas negligenciam e se mostram aliP'l1l1das das agendas, causas e formas de a~ao politic a mais insti dos centros de poder e decisao tradicionais, em alguns desses jovens esse sentimento de aliena~ao corresponde a uma postura consciente e cultivada, na medida em que pretendem justamente escapar a essa esfera de a~ao tradicional rumando em a outras. A aliena~ao e aqui entendida nao no sentido rnarxista do termo, mas no sentido da partilha de um sentimento de alien dentro das sociedades contemporaneas, ou seja, lIm sentimento de distanciamcnto critico perante 0 mundo que os rodeia, percebido com desencanto e pessimismo, um sentimento de demarca~ao do sistema em que se veem implicados, na sua ordell1 Alienar, do [atim alienare, quer transferir para outrern 0 dominio 347 fJ 4 '! I l n r-i j i; I:Ie I: de. eo que esses jovens fazem: alheiam-se de determinados mundos, deixando 0 seu dominio ao cuidado (ingI6rio, na Sua perspectiva) dos politicos profissionais, e rnais apeteciveis, sedutores, receptivos aos seus fundos e conectados com as suas pv"",-iZ", em que de pensar, de ver e de scr no ser I: da estrategica, como das praticas e das causas po1iticas ancoradas na realpolitik, esses jovens acabam por valorizar espayos de participayao, intervenyiio e exprcssao social, dotacios de recursos e canais de produyiio, mobilizayiio e difusao mals apeteciveis que os convencionais, 110 senlido de anunciar as Suas preocupayoes, valores e interesses e de atuar em conformidade com as suas expectativas e desejos, medos e anseios. Sao jovens que encontram nas microculturas espayos sociativos em conexao com a vivida,IB sentindo-os tambem sua pr6pria a vivcncia de Draticas c atitudes perante a vida e a sociedade uma criativa e e revelam-se espayOS na medida em que concedem aos sens atores nao apenas urn contexto disponivel aexperimentayao de eticas e estilos de vida dissidentes dos dominantes, como tambetn de recursos expressivos e performativos de urn vasto intervenyao agregado a um circuito relativamente organi, zado de canais de difusao,21 muitos deles globalizados a disti'll1cia de urn click. Nesses circuitos sociais marginais, os jovens van sendo expostos e socializados em entendimentos cdtieos a realidade social (ou determinadas parcel as da 111,e"Llldj modos de funcionamento, padroes de de contravis6es em as COI1 POLlTICAS DE RESISTENCIA POLITICAS DE EXISTENCIA E nessa medida que as microculturas juvenis tern vindo a ser tradicionalmente caractcrizadas como culturas de resisiencia, conlestatarias de determinados modelos de ordem socialY mais ortodoxa, revela-se explorado para caracterizar as -hegemonicas nos atuais contextos du.;:ao social e culturaL Tal como foram analisadas para as subculturas do passado, dotadas de uma as pniticas de resistencia pressupunham intencionalidade transformadora da ordcm coletiva, tendo como produzir a ruptura na "ordem social" e ganhar 0 lugar dominante no que os atores percepcionavam como relayoes de scndo tais priticas preconizadas com consciencia dos deitos sociais que del as poderiam advir. 24 Nessa concepyao, os recursos materiais e sim b6licos mobilizados pelos jovens cram subsumidos ao selllugar de classe e vistos como reflcxo da sua posiyao domi nada, oprimida e explorada enquanto membros da dasse de onde emergiam as subculturas reprcsentantes sociais dos sellS membros mais jovens. Giroux 26 acrescenta ainda que, para llma tefa de passar de uma condenayao ideologic a aberta H.I<:VIV~l<t" de revelaidio e provtc1enClar a oportuIlld interesses de emancipayao social. Para tal, a resistencia pressupoe organizayao grupal associada a um programa politizado, autocentrada e fechada, orientada no sentido de satisfazcr os interesses do coletivo que celebra e iTIteressada em resultar em mudanyas efetivas na estrutura do sistema que denuncia. Ora, cssa concepyao de resistcncia enquanto exercfcio de poder subversivo torna-se analiticamente menos quando as identidades iuvenis microculturais, na sua 348 349 T e fragmenta<;:ao reticular contemporaneas, ja nao surgem estru turadas na base da classe social, em [un<;:ao das 0 conceito come<;:ou por ser desenhado. A potencialidade analitica desse conceito surge assim mais localizada, contextualizada, sendo particularmente di[kil identi[icar com nitidez, por exemplo, os focos de oposi<;:ao das ditas pra.ticas de resistencia. Estas, de de ja nao sc observam orientadas para a rejei<;:ao de uma domina<;:ao estrutural em [ace de uma hegemonia classista, mas endere<;:adas a uma certa "ordem social". Fssa ordem social IS descrita e aDresentada pelos entrevistados como urn complexo e diluido sistema elacoes de poder e de [ormas de oHranizacao social capitalista", "sociedade de consumo" ou "sociedade tecnocratica", por exemplo), de processos culturais difusos associ ados a no<;:oes de "progresso" ou "desenvolvimento" operadas pela das form as sociais capitalistas , "desumaniza<;:ao", "burocratiza<;:ao': "tecnologiza-;:ao", "polariza<;:ao social", "individualiza<;:ao", "corrup<;:ao" ou "amea<;:a eco16gica"), bem como de valores que Ihes sao correlacionados " "materialismo" ou "sucesso"). Estes focos de crttica confluem na resistencia a uma cullura mainstream que e representada pelos jovens como premiando a de adapta<;:ao do agente as contingencias e do sistema e vivida como forma de corrosao do caracter. Estou numa fase da minha vida em que tive que me prostltUlr urn pouco, se quiseres, la esta, ao estereotipo, ao modelo existente. E nao me sinto bem. Nao me sinto bern por estar desprovido de brincos, nao me sinto bern por ter de ir trabalhar a ter de esconder partes das tatuagens mesma esconder, por muito que tentasse. E cusla-me! algumas nao ( ... ) A imagem inicial que a pessoa da para ser aceite, tem que ser uma coisa ja bastante comprometida, ja Ea, por outro lado, uma redu<;:ao de escala na intenc;:ao enos desejados na atual operacionaliza<;:ao de praticas cionais. Apesar de potencialmente conterem inten<;:oes e deitos disruptiyoS, a rejlexividade transformadora subjacente a mobili dessas praticas tende a ser pouco ambiciosa em termos de ,c;n I I II i . de mudan<;:a social.29 A natureza politica das que lhes estao subjacenles e mais latente do que manifesta, sendo as respectivas consequencias de transforma<;:ao e inova<;:iio social nao deliberadas e de absor~ao incer/a. Sem perder 0 sen proposito dissidente, no senlido do agir em nao conformidade, a politica que subjaz as praticas oposicionais empreendidas em contextos microculturais nao e propriamente revolucionaria, no senlido de tentar substituir os modelos domi nantes pelos seus proprios modelos. Sao praticas que tendem a assumir mais a forma de demarca~ao pes50al perante os modelos prescritivos da sociedade global(izada) do que de imposi~~ao coletiva de urn dado model(), enquanto tentativa por parte de urn dado grupo no senlido de impor a todos os outros 0 seu modo de vida. A sua reflexividade transformadora cst amais direcionada para, atraves do desafio que advem da oposi<;:ao e confronto) 2:arantir urn espa<;:o social para a existem:ia da sua diferenc;:a modelo alternativo de estilo de vida estereotipos que sobre estes recaem e, em ultima ins\i.l.ncia, ten tar o seu reconhecimento social enquanto possibilidades legitim as de preiticas ani de vivcr a vida. l ! Nao serao, portanto, quilatorias, no sentido que o[ereccm a possibilidade de mudar 0 mundo, cnquanto estrategias de luta com 0 objetivo de deslruir a social vigente" e impor uma nova ordem substitutiva. pdticas que aproveitam sobretudo, praticas predat6rias, ou o espa<;:o e os meios que a atual ordem social Ihcs disponibiliza no sentido de se (a)firmarem e se fazerem reconhecer possibilidades alternativas, a par de outras, tentando desse modo das fronleiras culturais da expressao e da criatividade (atraves do corpo, da da imagem minha primeira tatuagem foil um pouco de indole pOl1tlca, que ja na altura mostrava 0 meu desagrado pela forma como se orientava a sociedade. ( ... ) [As lOomcac;:oes no corpo] no meu caso, em tennos de nao serao bem, v<lla, a forma de passar uma mensagem. Sera mais uma postura, 0 desprezo pelo estereotipo, mas sera uma postura que contesta os valores imDostos. Nao e DfoDriamente ir contra 0 este Ou seja, e como afirmar "eu posso continuar a ser mas 351 T tiio born quanta os outros, sem querer aparentar como todos os outras 0 querem tazer" Ou sem 0 modelo existente. (. .. ) Talvez que haja seja uma necessidade por das pessoas de se demarcarem desta sociedade dita moderna. Ao dizer "niio estamos de aeordo com isto, entao procuramos outras maneiras de estar".32 ° As praticas oposicionais desses jovens nao tem pretens()es de dar voz a coletivos uniformes, nem implicam a subversao ativa e intencional sobre 0 "sistema': atraves de um combate coletivamente organizado. Pelo contrario, consubstancializam (que se pretendem) individualizadas, tendo como transforma dora uma escala que nflO vai muito alcm de uma certa esfera de domesticidade formada pela sociabilistica que funda e esse "set or do densifica 0 mundo de vida do ator que as mundo quotidiano que esta ao seu alcance e que, do seu ponto de e em volta de si, como vista, se ordena centro".J3 nos urn sentimento comumente hipotese modelo de de a<;:30 social de movimentos do Eles nao de fato, armados de novos artefatos sociais para tentar instituir sequer e coletivamente uma nova ordem social. Essa Embora desafetos ao modelo social existente, nao de programa social por ~~'dHIV)~ a no sentido de expressar um UlJLo.!'i,'W", 'sociedade ideal", corn futuras de "igualdade", "harmo nia" e "justi<;:a", como acontece em parte dos programas ha da sua parte uma sociais de natureza utopica. Feio recusa konoclasta das maquetas sociais que denotem, a partida, tal ambiC;aO. 34 Em {dtima analise, a propria noC;ao de utopia social vai contra os prindpios e valores mais baskos desses jovens. Todos os pro gramas utopicos, de forma a suspender as turbulencias cia historia, sao dotados de uma racionalidade identitaria que tende a promover 352 cidadaos uniformizados e sociais (de produ<,:ao e por legisladores que tem por e 19Udllldl da vida coletiva: lamenta~ao do modo de habitar, cia e do consumo, regu dos easarnentos e dos nascimentos, normativo da ciencia, moral dessas sociedades alternativas Mercier entrevistados demonstram nao querer. Tudo 0 que os a que Os program as sociais o comunismo ou 0 nacional-socialismo, por mas mais no sao, por vezes, invocados sob a forma de crftico que proporcionam relativamente as recentes que na form as de organiza<;:~io social das sociedades dimensao prcpositiva e que os seus manifestos tendem a prescrever para 0 futuro societario. denunciam mais do que anunciam, diagnosticam mais do que prognosticam. A sociedade ideal nao existe. Nao hoi nada ideal, para mim os ideais morreram hJ multo. ( ... ) Creio em mim. Pronto. De resto, nao ereio assim em muito mais coisas. Crcio, tipo, nas fim;:as c6smieas. sou uma formiga no meio do nada, mas que. ao mesmo tempo, eu sou tudo, porque vivo para mim acima de tudo. E emesmo assim. E no que ell ereio acima de tudo. 37 Esses jovens nao pretendern mais do que marcar performativa mente a sua distancia pessoal perante 0 ordenamento que percep cionam na sociedade contemporanea, e nele demarcar urn espayo alternativo de existencia social. Essa forma de (re )ayao social e empreendida ja nao Hum sentido idealista e holista, orientada por elaborados sistemas ideologicos em do "bem mas num sentido pragmatko e microsc6pico tao somente, construir e fazer reconhecer 0 seu proprio mundo de das orienta<;:oes de um programa reveiam, antes, lIma e que reivindicam uma a coexistencia cultural atraves do questionamento e desafio dos canones que tendem a 11l0delar a sua vida. 0 que estl em causa ja nao e a reclamayao coletiva de uma mudanya no sistema, mas a reivindicayao individualizada de urn espa<;o social em que uma de existir se imap"inf' viavel e a politica de resisterlcia fundamentada no de propria da cxperiencia subcultural das culturas juvenis do pos-guerra, da lugar a ul1la polftica de existf~ncia, tnobilizadora de pniticas que procuram possibilidades de constnlyaO, expressao e reconhecimento de utna identidade imaginada como autcntica e num estilo de vida que e itinenirios sociais mais normativi zados no atual sistema social. Num sistema em que percebem a sua social sujeita a e prcscriyoes no scntido da massificayao e homogeneizayao cultural, as suas praticas oposicionais correspondem a formas de reayao que lhes per mite, simultaneamente, (de)marcar esteticamcnte a Sua presenya no mundo e protagonizar performativamente uma forma de existencia no mundo. Eu adquiri um estilo de vida. .) Quer dizer, tenho uma vida de sou contribuinte como os outros sao, mas tenho a m1nha nao se metam, quero viver it minha maneira, com as minhas com os meus piercings, com as minhas ideias malucas. Fazer 0 que todos os seres humanos querem: a felicidadc it minha maneira ... ( ... ) Porque, aquila que nos gostamos, para que eque afinal de contas, se nao est amos a viver, para que e que 0 ser humano vem d? Por que eque tem que ser tudo como os OLltroS, como meia duzia de gravatinhas, mandam?! Nao tern que ser assim, a vida epara nos sentirmos bem. das mlcroculturas ClVlCa para 0 campo da esfera economica e 40 no sentido de um de Iiberdade, dignidade e respeito para 0 desenvolvimento estilos de vida que se pretendem escapat6rios amassificayao e normativizayao encontrada nos padroes culturais dominantes frequentemente representados pela cultura de origem dos em causa -, criando sistemas de e de que OUSall1 o~~oY;n' culturais a matriz ideologic a das suas a<;oes passa, entao, 3 ser dominada por de ordem moral que visam ao reconhecimento quotidiano de determinadas estCticas, eticas c pragm<iticas de vida, ou seja, 0 reconhecimento social de determinadas formas de existencia individual. A reflexividade transformadora da cultura politic a das microculturas juycnis, como se viu, nao surge associada a reivindicayao, defesa ou extensao coletiva do usu[ruto de direitos estrilamente politicos ou socia is, sequer mesl1lo dos cham ados direitos negativos. Existe, sim, a redama<;:ao de direitos culturais no sentido da liberdade individual para escolher e viver um dado estilo de Oaf a centralidade que questoes associadas a corpo, entre outros consumo, como 0 visual, a music a ou 0 recursos de estilo, adquirem na vivencia libertaria desscs jovens. Mais do que luta pela equidade de direitos, a sua 3yaO aponta para uma luta pela subjetividade,43 orientada por llma concep<;ao de "pessoa" ja nao vinculada a considerayoes sobre 0 mundo, mas a questoes existenciais de identidade pessoal. A critica imanente a ordem social de que esses jovens sao produtores e tores nao repousa sobre de ordem gularidade. As suas reivindicayoes prefiguram -se equacionadas nao no quadro tradicional e universalista da cidadania - que pressup6e o mesmo conjunto de liberdades e responsabilidades dvicas para todos os cidadaos mas num quadro de diversidade social, cultural e etica que implica um modelo de sociedade mais pJuralista. 354 355 l' Recusando os entendimentos dominantes e normativos sobre a vida em sociedade que categorizam 0 seu comportamento individual dentro de urn codigo exclusivo de valores e virtudes publicas, recolocam-no como possibilidade entre tantas outras. Mais do que funcionar como antitese social, as politicas de exis tencia procuram promover a incorpora<;:ao social de estruturas de reciprocidade intersubjectiva,44 no sentido da abertura it alteridade, da sensibilidade it diferen<;:a, do reconhecimento da pessoa na sua singularidade e nao na continuidade de tra<;:os classificatorios que a posicionam no contexto de determinadas identidades coletivas. 45 Estruturas, em suma, que permitam a esses jovens viver a sua "diferen<;:a" em condi<;:6es de "indiferen<;:a" perante a sua visibili dade ao olhar do outro, que possibilitem viver urn estilo de vida que se pretende "alternativo" aos que sao disponibilizados pelo "supermercado de estilos", em condi<;:6es de dignidade, respeito e liberdade individual. Uma liberdade que, na linha de uma certa tradi<;:ao praxiologica da anarquia (mais vivida que refletida) ja encontrada no movimento punk, nao se observa arbitraria, apre sentando-se como exerdcio de autodisciplina moral, ponderado e realizado em condi<;:6es de pluralismo coexistencial, no sentido de ver instituida uma "desordem da moral expressa na existencia de multiplas moralidades, frequentemente conflituantes entre si".46 [Sou] anarquista! Se quiseres ... Nao anarquico, anarquista. Anarquista, e isto e a minha propria explica<;ao, nao e baseada nem em filosofos, nem pens adores. Anarquista e quando se pretende promover a filosofia. Anarquico e quando pretende promover a a<;ao em si. C... ) Livre de pre conceitos, livre de tabus. Livre de barreiras. C... ) Neste momenta dou-me com gente mais nova, como com gente mais velha, com gente de varias correntes literarias, de varias correntes filosMicas, de varias correntes de pensamento. E nunca segreguei ninguem porque e isto ou porque e aquilo, ou porque tern aspira<;oes a ser ou porque ja deixou de ser isto ou aquilo. Nem em termos de escolhas sexuais eu fa<;o discrimina<;oes. Tenho amigos e amigas com as mais variadas cores e com os mais variados feitios. Nao aborre<;o ninguem. Desde que nao se metam ... La esta, 0 grande principio da anarquia e "a minha liberdade acaba onde come<;a a liberdade do ~Utro", e vice-versa. A partir do momenta em que nao comecem a querer interferir com 0 meu mundo, eu respeito 0 mundo dos outros. Abarco no meu mundo todos aqueles que eu acho que devem participar dele. 47 Numa epoca em que existe uma verdadeira "acumula<;:ao de diferen<;:as",48 a pretensao politica das microculturas juvenis reflete, ness a perspectiva, uma estrategia de remoraliza~ao da vida quotidiana, no sentido de integrar na ordem moral da atual sociedade a necessidade de dignidade na diferen<;:a individual e de fazer reconhecer uma cultura de civilidade que a respeite, atraves da amplia<;:ao das concep<;:6es dominantes da "normalidade". Urn reconhecimento que, neste caso, nao se orienta no sentido da esfera institucional do sistema politico 49 sequer se almeja no plano do direito juridico. 50 0 reconhecimento e aspirado no plano da propria quotidianeidade dos individuos, considerando as suas necessidades afetivas e de reciprocidade na estima social de outros concretos. 51 Choca-me a intransigencia e 0 "it vontade", que eu acho que e tipico portugues, com que as pessoas se sentem de opinar umas sobre as outras. 0 "it vontade': a liberdade que as pessoas se dao a elas pr6prias de comentar, de falar e de apontar umas para as outras. C... ) Por isso e que eu tenho pouca esperan<;a que isso mude de fato, porque as pessoas nao sao civilizadas, nao sao educadas e nao ha uma cultura de respeito da individualidade, de tudo isso que se cultiva ja urn bocado la fora. C... ) o respeito e 0 aceitar a liberdade, a diferen<;a, tudo isso, acho que ja dava uma volta de 180°.52 A politica de dignidade na diferen<;:a, aqui, implica ser-se reco nhecido como unico, no sentido que se e reconhecido nao apenas como cidadao susceptivel de ter direitos iguais, mas reconhecido na sua particularidade e respeitado enquanto pessoa. Trata-se, portanto, de uma cultura politica contra a humilha~ao, a injuria e 0 insulto mundano,53 ou seja, contra todas as a<;:6es ultrajantes, discriminatorias e menos corteses que, de uma forma ou de outra, afetam quotidianamente 0 sentido de dignidade desses jovens. A sua exigencia de reconhecimento vai a par da reivindica<;:ao e luta pela dissolu<;:ao de uma sociedade menos prescritiva e normativa, com criterios de "normalidade" cuja rigidez e grau de institucio naliza<;:ao e susceptivel de transformar toda e qualquer diferen<;:a radical em estigma. 357 356 -------. I f I~ '! II ~ ~ ETlCA tiTICA CONTESTA<::AO VER5 LIS CELEBRA<::Ao Longe da holista de coletiva caracteristica de alguns movimenlos juvenis tradicionais, os estilos de vida palorios construidos no ambito das microculturas juvenis, sem percler os con tornos de ativismo a partir dos o mundo e questionado e desafiado, sao assumidos de uma forma mais mundana, com ambi~6es mais rasantes e lcncoes mais pessoalizadas, em lorno da ro/",/.wnrnn e 'a~memaQa de valores sensiveis como 0 o presen tcismo on 0 experimentalismo. Pretendendo lutar mais por uma existencia marginal dentro das eslruturas que pelo acesso a uma posi~ao de centro, aos jovens que encenam os seus modos de vida sobre 0 a partir das microculturas juvenis, interessa menos mundo do que aproveita-Io, predd-lo no que de melhor ele oferece. A ambi<;ao de vida desses jovens e vive-Ja como uma deriva "rotas exoticas" que se atravessam no Huir das rotinas,54 na constante experimentarao proporcionada pelo desafio dos limites e do risco. E um modo de vida estruturado no sentido da aber lura ao irnprevisivel e ao imponderavel que 0 quotidiano traz com pontos de partida concretos, mas sem pontos de chegada predefinidos, 0 mais livre possive! de constrangimentos predeterrninados. Eu era mesmo todo certinho. E sei que prescindia de bue de coisas. E sei que agora tambem estou a prescindir porquc podia atinar e saber muito mais cenas, mas, para mim, expcriencia c tudo! C.. ) Ja experimentei montes de coisas. (. .. ) E pronto, fui venda fui escolhcndo cenas que me interessam mais. (. .. ) Acima de tudo, sou uma pessoa que Tern alta necessidade de nao con segue estar presa assim muito de movimento, ( ... ) de andar mesmo a deriva. (. Nunca aceitei que me impusessem nacia, sem ser as meus pais, claro. De resto, quis sempre ( ... ) Eu vivo a vida mcsmo alucinantemente! Sinlo o mesmo passar, mas sem parar! Ate os rnomentos de descanso nao sao, 'tis aver, isso e que e mesmo bue de esquisito. Constantemente estresse. Mas nao e aquele estresse de "tenho de fazer isto': nao. E a cena de estar sempre a querer fazer coisas e a viver coisas. E uma cena 358 positiva, mas que e um bocado (. .. ) Nao sei como mas para mim a vida e mesmo em pleno!" e que eu o ceticismo que compartilham perante 0 futuro SOCial, asso ciado a consciencia da transiloriedade subjacente it juvenil, bem como aos atributos de inconformismo e a irreverencia que the sao socialmente imputados, proporciona a esses jovens uma vivencia mais livre de constrangimentos e sociais. Dai a sua preocupa~ao nao so em aproveitar essa ao maximo, como em prolonga-Ia, adotando uma etica da celebrarao da existencia. Em contraponto as form as passivas de "matar 0 tempo" ou as formas combativas de viver a vida, essa etica evidencia uma constante procura do lado festivo da enquanto demonstra~ao de vitalidade e de energia criativa. 56 Os valores que a caracterizam passam experimentalismo enquanto tentativa constante de testar 0 Ii mite possive!; pe!o hedonismo como do prazer, do gozo e da em torno do presentismo como forma imediata e desfuturizada de viver intensivamente 0 momento Eu tinha que ter urn Ja andava a meter que nao wna semana antes do meu acidente eu dormia oito horas numa semana, estava a viver muito intensamente todos os dias, como se fosse 0 (tltimo. ( ... ) Hoje ern dia sou contra a folina, sempre a favor de uma cena nova, viver 0 dia a dia como de e. (. ,.) Porque eque tem que haver uma rotina, .. Nao! Sou contra os escravos de uma hora de jantar, escravos de ernbora que estou dentro cia sociedade, ter que se ser escravo do deles de vez em quando, sou obrifmdo a iSSO.'8 Na sua vivcncia quotidiana, a etica de ce!ebra<;ao surge nitida mente associada aos momentos de lazer dos jovens enlrevistados, encarados como de ruptura, insurrci<;ao, liberdade e evasao re!ativamente as obrigatoriedades rotineiras dos tempos de trabalho. No decorrer dos tempos de lazer, e convocado urn conjunto de praticas em que os consumos de musica nas suas mais variadas formas drogas "\eves" e bebidas alcoolicas assumem um papel relevante pda sua recorrencia, habitual mente desenvolvidas no contexto de uma forte solidariedade convivial, fundada em redes de afinidades eletivas e afetivas. .059 ':"~">. A muska, nas suas varias formas de aFropria;;:ao, em conjunto com as drogas e as bebidas alco6licas, operam como "ingredientes" relevantes na "arte de bem viver" desses jovens,59 proporcionando a constru;;:ao de um "paraiso arlificial" como forma de evasao a urn quotidiano sentido como opressivo e rotineiro. 60 Alterando as percep<;:oes habituais, esse tipo de substancias permite a idealiza;;:ao subjetiva de um novo mundo, um mundo de sensa;;:oes novas que desvaloriza 0 mundo real e a ele se sobrepoe. Sobreposi;;:ao eva siva essa que, dada a consciencia da sua aparencia, se pretende e guardada para momentos de exce;;:ao, e nao continllamente cultivada. [0 meu quotidiano J elevantar cedo, if para 0 trabalho, passar Ja oito hora5, vir para casa e dar banho ao pulo cnquanto eJa faz 0 jantar, a IlOiLe, olha, ou vou urn bocadinho para 0 cornputador me entreter ou vou ate a ma ter com 0 pessoaL ,Mas e assim todos os dias e s6 ao fim de semana e que um homem se estica, S6 ao tim de semana c que lim se estica assim: vai curtir concertos, ensaio, pronto, tenho a minha banda, Cnrto sempre ter uma banda, 'tis aver. musica e aquela basco .) E giro, e fuma las e bebe-Ias e rir! Fa, e curtido, 'tas aver! E curth aonde a curtc for. Fa, aprocura da meJhor gargalhada, 'tas a vet. (, .. ) Quem quiser dar nas drogas, da. A unica coisa que eu condeno ea gente ser dependente. Seja de alcool, seja de qualquer Lipo de droga, 'tas aver. ( ... ) Mas uma pessoa que sember dar, pa, isso e feito para curtir, entao curtam. Seiam e modcrados. Sc forem moderados ainda vivem uma vida a curtir. Senao, estao que e mcsmo assim. ( .. _) Eu sou um que gosto de que curta de aprendet de "~""-,,,.'" Felizmente nao fez nada de de constitllircm redes de rela-;:6es sociais fluidas, dis persas e intrincadas, os participantes das microculturas juvenis convergem na partilha de uma etica de celebra;;:3.o da existencia, em que valores como a "autenticidade'~ a "diferen-;:a", 0 a "convivialidade", 0 "hedonismo", 0 "presenteismo", a "experi rnenta~~ao", a "rebcldia'~ a "liberdade" etc. se organizarn enquanto sistema oricntador da COI1stru-;:ao de estilos de vida escapatorios. Formando-se nas orl as dos qllotidianos juvenis, esses espa-;:os fomen tam 0 encontro social e de universos simbolicos relativamente informais e subterraneos, em que sao experimentados, e legitim ados gostos esteticos mais marginais, bern como perante a vida e a sociedade mais ex-centricas. numa comunhao de afinidades e afetividades conviviais. Dai serem contextos sociais onde tend em a valores mais heterodoxos, muitas vezes expressos em VerS(leS mais exacerbadas de comporlamento. Ao contrario das formas de organiza;;:3.o rnais burocraticas, em que os jovens correm 0 risco de serem olhados como uma massa indiferenciada com 0 mesrno tipo de problemas, interesses e expectativas, as microculturas acabarn por Ihes conceder uma forma flexivcl de social para viver mna sllbjetividade e urn estilo de vida que se pretende djferente e singular, conccdendo-Ihes urn rcpert6rio de recursos materiais e sirnb6licos que articulam para dar sentido a uma existencia que se pretende individual(izada). Constituindo "nos" em redes de afinidades e afetivas nas a t'tica do desvio e a norma, nas microculturas os seus protagonistas encontram disponibilidade ,1 inova;;:ao e margem de Iiberdade para experimental' novos modelos esteticos e eticos, que nao) a reificar-se ern estilos de vida com continui Sao espa<;:os de deriva, sem grandes de navega-;:ao, ern que se exaItam os val ores da Iiberdade atraves do culto do excesso, da extravagancia, do bizarro, tudo 0 que possa chocar a moral burgucsa mais tradicional, assegurando assim a possibilidade de romper com 0 banal, 0 saturado, 0 normativo, 0 convencional. Contextos 50ciais, portanto, de serern como laborat6rios de experimellta(,:ao criativa 65 ou laboratOrios culturais,66 potenciando a criatividade e inovacao em diversas esferas. CONCLusAo Num contexto de intensa prolifera;;:ao e pulveriza;;:ao das possi bilidades de escolha cultural sociahnente disponfveis, por meio de transforma;;:oes, flls6es e revivalism os varios e sucessivos, a manllten;;:ao das fronteiras sociais e sirnb6licas das microculturas fragilizou-se profundamente. Hoje em elia, as 360 361 T i sociais a contextos microculturais nao sao exdusivistas e baseadas em compromissos de longa dura<;:ao. Os jovens van vagueando por varias microculturas, paralela e/ou sucessivamente. Nesse processo, acumulam um importante capital de sua fragmenla<;:ao, se vai construindo em redes de "n6s" vao constituindo espa<;:os privilegiados de vivencia e referencia quotidiana, investidos de maior ou menor densidade afetiva. No quadro de intera<;:oes que esses espa<;:os sociais propor cionam, os jovens adquirem capacidade critica e reflexiva, de confronto e discussao, de iniciativa e proposta, de agenciamento e desempenho, de e em suma, de protagonismo social. Sao, por con sequencia, espac;os em que os jovens se descobrem mais cidadaos do que vitimas de desvantagens sociais, neles encontrando estimulo e reconhecimento para as suas iniciativas criativas, disponibilidade it experiencia e ao exercicio de novas de vida, autonomia e liberdade na cOllstrw;:ao de uma individualidade que nao colide com uma intensa vida sociativa, bem como capacidade de interven<;:ao no sentido de influenciar a ado<;:ao de novos c6digos culturais e funda<;:(les eticas na socie dade contemporanea. Autorrealiza<;:ao, sociabilidade convivial e cidadania tendem, portanto, a andar a par nesse tipo de contextos. Perante esse cenario, juntamo-nos a Crossley, para quem, em dia, "a cidadania deve ser vista do ponto de vista do mundo de vida e da intersubjetividade".1i7 a par de outros autores,6B no sentido da necessidade de alargar 0 universo de observaveis da cidadania para alem da abordagem sistemica e holista que, na esteira de Marsha1,69 a tem caraclerizado, bem como para alem da formalidade que a associa ao mero exercicio de luta e reivindiea<;:ao de conjunto de prMicas legais e politicas. Ha que ampliar a sua esfera da a<;:ao e de reflexao, vislumbrando nao apenas as estrategias que visam a indusao formal, mas tambem as lutas simbolieas e pouco visiveis que oeorrem no campo cultural desconstru<;:ao das no<;.()es de "normalidade", bem como pdo reconhecimento da mesma dignidade e respeito perante formas e recursos culturais escapat6rios aos legitimos. As microculturas juvenis contempora.neas sao disso um bom exemplo, sendo espac;os onde os seus atores pretendem afirmar \' \; 362 e construir subjetividades que procuram nao ser reduzidas a categorias funcionais ou disfuncionais do sistema, mas que, pelo eontrario, buscam 0 reconhecimenlo e a dignifica<;:ao social da sua diferen<;:a espedfica. Dal os seus atores, ao mesmo tempo que a cultivar la<;os de cumplicidade 11a expressao pllblica da os forjem tambem no direilo it liberdade, ao respeito e a dignidade os quais se reivindicam, servindo-se das microculturas como espac;os experimentais de auto11omia e pessoal, bem como de formulac;ao e legitima<;:ao social de estilos e eticas de vida que se pretende rn escapat6rios aos mais mainstream. NOTAS 1 2 Em termos mctodo!ogicos, a informa~ao empfrica aoresentaaa rccolhida no ambito do trabalho de campo que mento da autor, sobre a pratica de no corpa, a qual se constaloU set' simb6licos natureza microculturaL Os relatos aprcsenlauos em situa~ao de entrevista individual serniestruturada na sua prepara'fiio e na sua aplica~ao, de corpo> extensivamente marcados, mllititatuados e sionais ou apenas consumidores de I atuagem clou Marcas que demarcam: tatllagcm, body piercillge Vilor Lisboa: lmprensa de Ciendas Sociais, 2008.) Como salientam Cabral e Meneses (CABRAL, Joao de Pina; MENESES, Ines. Apresenta~ao do numero especial Lisboa: cidade de margcns. Arullise Social, v. XXXIV, n. 153, p. 861,2000), "quando falamos de centro e de margens, rc corremos a llmJ metMora espaciaJ para referir algo que ultrapassa em muito a espadaJidade - ou ate a sua correlata tcmporalidade. Em ul.tima instancia, quando falamos de ccntros e margens, estamos a falar do que esta inscrito nas vivencias socioculturais: da forma como a 5e em termos de negocia,,6es constantes, sobrepostas e comp6sitas de A condi<;ao de "margem", nesse sentido, abrange objetos, pniticas e significado, que sao menos legitimados pela opera"i'1O dos processos de poder simb6lico" (CABRA L, loao de Pina. .A condi~ao do !imiar: nias e contradi~6es. Analise Soda 1, v. XXXIV, n. 153, 874, 20UO) , esse crer, de confirmar de constituir 0 dado pda emmcia"ao, de fazer ver e ou de transformar a visao do mundo e, desse modo, a a,,3.o sobre 0 mundo" (BOURDIEU, Pierre. 0 poder sirnbalim. Lishoa: Dife!, 1989. p, 14). Ora, desde meados do secul0 XX que e val ores, se produzem e reproduzem socialmente lradicionais e formais de rcgulayao e controlo das como a familia, a escola, 0\1 as organiza,,6es polft ieas e civicas, por exemnlo. 363 normativa c 4 FEIXA, Carles. De j6vencs, . ruptllras e continuidades da contracultura. Rio de Janeiro: fLelras, 2007). juvenil socialmente mals o conceito de "rede de afinidade" da conta de uma forma social que nao passa necessariamente pela condi<;:ao proxemica, circunscrita e estalica inerente uma conglomera<;:ao de teias sociais justapostas e fluidas por ondc os jovens se movem, ancoradas em universos sociais e simbolicos que podem ir alem das fronleiras (7PM"'"'' e situa<;:6es territorialmente delimitadas, quando ciberespa<;o. as tradicionais nomenclaturas conceituais, mas por tribus. Barcelona: Ariel, 1998. p. 270. Nomeadamcnte as que consubstanciam a viragem conceitual I ruralista. Ver: MUGGLETON, David. Inside Subculture: The Postmodern Oxford: Berg, 2002; MUGGLETON, David; WEINZIERL, Rupert (Eds.). The Post-Subcultures Reader. Oxford: Berg, 2003; BENNETT, Andy; KAHN-HARRIS, K. (Eds.). After Subculture, London: 2004; HESMONDHALGH, David. Subcultures, Scenes or Tribes? None Journal of Youth Studies, v. 8, n. 1, p. 21-40,2005. 6 0 conceito de , a problematic a dos movimentos jnvenis por McDonald (McDONALD, Kevin. From Solidarity to Social Movements Beyond "Colectivc Identity": The Case of Globalization Conflicts. Social Movement Studies, v. I, n. 2, p. 109-128) justamente para evitar a rcifica<;ao ontol6gica e estatica, a homogeneidade e fechamento social, a cristaJizayao identitaria e a determinac;:ao ideologica suposta" ou "p6s-suposta" em anteriores nomenclaturas, como, por e)cCIIl,JlO, as de "tribo" (vcr: BENNET1: Andy. Subcultures or Neo-tribes? the Relationship between Youth, Style and Musical Taste. Socio/mrv n. 3, p. 599617, 1999; COSTA, Pcre-Oriol; TORNERO, lose TROPEA, Fabio. Trilms urbanas: eI ansia de identidad juvcnil, enlre cl culto de Ja y la autofirmallon a traves de la violencia. Barcelona: Paidos, 1996; DIAZ, Andres Soriano. Microculturas juveniles: las tribus urbanas como fenomeno emergente. Jovenes Revista de Estudios sobre Juvcntud, n. 15, p. 134-149,2001; FElXA, op. cit.; FOURNIER, Valerie. Les nouvelles tribus urbaines: voyage au coeur de quelques formes contcmporaines de margin ali culturellc. Paris: Georg Editeur, 1999; MAFFESOLI, MicheL Le temps des tribus: Ie dedin de l'individu alisme dans Ie, Socieles de masse. Paris: Meridi ens Klincksieck, 1988; MAGNANI, lose Guilherme Cantor. Tribos urbanas: metiifora ou categoria? Cadernos de Campo Revista de Pos-Graduap'jo em tropologia, v. 3,11.2, 1992; PAIS, Jose Machado. Jovens, bandas musiciais e revivalismo tribais. In: PAIS, Jose Machado: BLASS, Leila da Silva Tribos urbanas: orodu<;ao artistica e identidades. Lisboa: IeS, 2004. p. 23-55), BLACKMAN, Shane. Youth Subcultural Theory: A Criti Engagement with the its Origins and Politics, [rom the to Postmodernism. Journal of Youth Studies, v. 8, n. 1, p. 1-20, 2005; GELDER, Ken; THORNTON, Sarah (Eds.). inc Subcultures Reader. London! New York: Routledge, 1997; MUNGHAM, Geoff; PEARSON, Geoff (Eds.). Class Youth Culture. London: Routledge & Kegan Paul, 1976) ou de "contracultura" (vcr ROSZCAK, Theodore. A contracultura: reflex6es sobrc a sociedade tecnocratica e a oposi<;:iio juvcnil. Petropolis: Vozes, 1972; SAVATER, Fernando; VILLENA, Antonio. Heterodoxias Montesinos Editor, 1982; SCHAFRAAD, Pytrik. More than Music: Punk as a Counterculture? In: AAVV - Transitions (if Youth Culture, Subculture and Identity. Estrasburgo: Concdho da p. 61-80; YINGER, John Milton. Countercultures. New York: The free Press, 1982; para uma discllssao atualizada do conceito de "contraculturi: ver tambem MENDES DE ALMEIDA, Maria Isabel; NAVES,Santuza Cambraia rOrll.). "Por 364 jogos, outros recursos simb61icos. , Ver, por exemplo: BLACKMAN, op. ciL; GELDER; THORNTON, op. cit.; MUNGHAM; PEARSON, op. cit. 9 LO ]1 l2 13 Alias, refugiando-se em critCrios formais frequcntemente etaristas, as no<;6es tradicionais e orevalecentes de cidadania tendem a excluir muitos jovcns direilos e dcvcres legalmente consignados e que os um estatuto de cidadania correspons;]vel na reivindica<;iio e manuten<;:ao de intcresses pr6prios a assul1<;:ao da "maioridade'; os jovens tern, cfetivamente, poucas oporluni dades para se fazercm presentes enquanto sujeitos (TOURAINE, Alain. La formation dt! sujet.ln: DUllEr, Franc;ois; WIEVIORKA, Michel (Eds.). Pcnscr Ie sujct: autollr dAlain Touraine. Paris: 1995. p. 21-45; DAYRELL, Juarez. 0 jovcm como sujeito social. Revista Brasileira de EduCl1\,ao, n. 24, p. 40-52,2003). vivendo uma de indifere1ll;:a intantilizadora (GIROUX, A. Teenage Sexuality, Body Politics, and the Pedagogy of Display. In: EPSTEIN, Jonathon S. (Ed.). Youth Culture: Identity in a Postmodern World. Oxford: Blackwell Publishers, 1998. p. 28) que os coloca sodalmente nlUna posi<;1\o moratoria e relativamcnte a participa<;ao efetiva (mais do que consultiva Oil representativa) em processos de tomada de decisao acerca de aspectos da vida social que os concern em diretamente. Para aprofundar as imagens e representac;:6es sociais dos jovens entrevistados sobre a sociedade vcr: FERREIRA, Vitor Sergio. PoHtica do corpo e polilica de vida: a tatuagern e 0 body piercing como cxpressao corporal de uma etica da dissidencia. Etnogn:ifica, v.ll, n. 2, p. 291-326,2007. BECK, Ulrich. A rcinvcn<;:ao da politica: rumo a uma teoria da modernizac;:ao reflexiva. In: BECK, Ulrich; GLDDENS, Anthony; LASH, Scott (Eds.). Mo tradi<;ao e estetica no mundo moderno. Oeiras: Celta, 2000. Eletricista na construc;:ao civil, oil avo ano de cscolaridadc, sexo masculino, 28 anos. CABRAL, Manuel Villaverde. Oeiras: Celta, 1997. ~laaaama Portugal. Como afirma Santos, as organizayoes de porto ou Gutras formas de que. ao mesmo tempo, se espera que atue como mentos considerados disruptivos e como dctonador 36') .".. uma duplicidade dificil de harmonizar" (SANTOS, Maria de Lourdes Lima. Cultura, tempos !ivres e associativismo juveni!' In: CONGRESSO PORTUGUES DE SOCIOLOGIA - ESTRUTURAS SOCIAlS E DESENVOLVIMENTO, 2., Lisboa. Alas ... Lisboa: Fragmentos, 1993. v. II. p. 287-288). Na mesma Iinha, Willis vem afirmar que "muita da criatividadc que identificamos [no que de designa de "protocomunidades"] evaporaria transferida para as institui\:oes. Muitas das reais encrgias simbolicas jovens sao essencialmente ir~formai5 na sua 16gica, scntido e motiva<;ao" (WILLIS, Paul. Common Culture: Simbolic Work at Play in the Cultures of the Young. Buckingham: University Press, 1990. p. 55). 11 A mllsica, a escrita, a banda, 0 ou outras formas de tatuagens e 0 body piercing e outros acess6rios de constrw;:ilO 21 Vcr, entre outros: GIROUX, Henry A. Border London: Kouueage, 1992; HA ENFLER, Ross. Rethinking Subcultural Resistence. Journal v. 33, n. 4, p. 406-436,2004; RABY, Rebecca. What is Youth Studies, v. n. 1, p. 151-171,2005; SEYMOUR, v. 6, n. 3. p. 303-321, 2006. Susan. MAFFESOLI, Michel. La la tribalisatlOn elu illonde postmodcrne. Paris: La Table J\loderne, 2002. p. 85. 25 RUCIn; Dieter. The Str"'''''''M In: RUSSEL, Dalton; 26 21 Order: New Social and Political Movements in Western Democraties. CamPolity Press, 1990. p. 162. ao recente alargamento da paleta de formas conte lIdos politicos a pratieas, causas e valores alternativos aos institucionalrnente inlDostos. 366 chats, F,Kcbook, Twitter, Orkut e outros rccursos COHEN, Stanley J.; TAYLOR, Lauric. Escape Attempts: The and Pmc· lice of Resistance to Everyday Life. London: Penguin Books, 1978; COllEN. Peter. Subcultural Conflict and Working-class Community. In: HALL, S. e/ al. (Eds.). Culture, Media, Language. London: Hutchinson, 1984; HALL, Stuart; JEHERSON, (Eds.). Resistence Through Rituals: Youth Cultures in Post War Britain. London: Hutchinson and c.C.C.S.fUniversity of 1976. J5 Na acep<;iio de Beck (op. cit., 1'.18), a "subpolitica" concerne as a<;oes areas da vida social que, tradicionalmente fora das instancias burocraticas e for mais do cxerdcio politico e das suas representativas, tem sido de repolitiza<;ao, ou seja, de atribuicao no reccnte contexto de de reinven~ao da vez, Bares, discotecas e centros culturais, estudios e editoras, fanzines, concertos e outros eventos regulares etc. Alraves de websites, virtualmente Conjunto de atitudes e de comportarnentos que os tradicionais autores da ciencia politka vem a dcsignar como "negligencia politica", no sentido do 5i lencio, ina<;:ao, abandono, redLl<;ao de esfon;o e de aten~iio ao exercicio politico institucional e aos problemas sociais a que este acorre. Ver: Pedro. Democratas, descontenles e desa±etos: as atitudcs dos portugueses ao sistema politico. In: FREIRE, Andre; LOBO, Marina Costa; Pedro (Org.). Portugal U voios: as elei;;oes legislativas de 2002. de Ciencias Sociais, 2004. p. 356-357. as redes de sociabilidade microcultural correspondem a la~os socials mais sociativos (inspirado no conceito de SimmeJ: SIMMEL, Georg. SOclabilidade: um exemnln riP sociologia pura ou formal. In: HUIO, Evaristo Sao Paulo, J 983) que associativos significa que respomiem a quadros de rclayoes sociais que, longe dos compromissos de prazo e fusionismos gregarios caracte e hierarquicas que pautam a formalidadc da vida associativa, sao caracteriza das por uma estrutura ilexivei., voluntarista e conVivial, scm qualquer tipo de formal e institucional nem ideologica unidirccio mais afinitivos e afetivos que definitivos e vinculativos, represent ativos de interesses mais expressivos que instrumentais. as 28 por Centre for GIROUX. Border Crossings, p. 288290. SENNETT, Richard. The Corrosion The Personal of Work in the New Capitalism, New York/London: W. W. Norton 1998. Profissional de anos. 'eauenCla universitaria, sexo masculino, 25 rptlr»:/vl'r1a{1r transjormadora essa "reHexividade prunordlal que os consensos peIo simples fato de os (PAIS, Jose Machado. Quotidiano e reilexividade. In: TORRES, Anaha; BAPTISTA, Luis (Eds.). Sociedades contempodineas: reflexividade e a~ao. Porto: Afronlamenlo, 2008. p. 246), concedendo-lhe uma capacidade de intervenyao na rcalidadc que passa peIa modifica<;iio das represcnta<;oes que a reflelem, Dodendo dar origem a novas na sua que no quotidiano surge como radicalmente "diferente': induz efetivarnente a aten<;:ao e interroga<;ao sobre a respectiva presen"a no mundo, expondo-sc como op"ao a ser cOllsiderada e slmbolo enigmatico a ser decifrado. 30 HOLZER, Boris; SORENSEN, Mads P. "Iron Cage" of Modern Politics? p. 92-93,2003. Culture and Society, v. 20, the 2, II. Lash e Featherstone (LASH, Scott; FEATHERSTONE, Mike. Recognition and Difference: Politics, Identity, Multiculture. Culture and Society, v. 18, n.2-3, 1-19,2001) advogam a utilidade do cotlceito de reconhecimento na analise atuais formas de cultura politica, na medida em que abre espao;:o para a analise das novas realidades emDiricas cncetadas Delos nmros movimcntos 367 T sociuis, em termos de u\:6es (FRASER, Nancy; HONNETH, Axel. Rl'.d!,trihl1it;ol1 viragem das preocupa~oes re presentadas pelas primeiras para questaes levantadas pelas segundas no ambito dos mais recentes movimentos sociais. As construidas com base na no<;ao social, sendo, sobretudo, focalizadas em ohiC'tivl1< mente na dos bens por sua vez, sao em objetivos de natureza cultural, social e 11 necessidade de respeito e Profissiollal de an05. univcrsitaria, ,exo masculino, 25 da vida Lisboa: de Cierl 89. Em contraste corn a zona das coisas distant'es (MEAD, Ie soi, la societe. Paris: PUF, 1963; BI.UMER, llerbert. Trlteme/ionism: and Method. New York: Prentice-Hall Enllcwoocl Cliffs, 1(1)9),0 munda de vida ao I1Ilmdo de a/canee do individuo, sua zona de opera~ao quotidiana (SCHUTZ, Alli'ed; LUCKMANN, Thomas. Las estructums del !nundo de la vida. Buenos Aires: Amonorlu, 1977. p. 54-55), "em lorno do 'aqui' do meu corpo e do 'agora' do meu Este 'aqui e agora' Ii: 0 lDco da aten<;iio que presto ,} realidade da (LUCKMANN, Thomas; BERGER, Peter. A constru~iio social da realidade: tratado de sociologia do conhecimento. Lisboa: Dina Livro, 1999. p. 39-40). '" Identificando esta tendencia para alguns <los "novos movimentos sociais", autores como Fried1l1an (FRIEDMAN, Jonathan. Cultural and Global Process. London: Sage, 1994) ou Touraine (TOURAINE, Alain. On the Frontier of Social Movements. Current Sociology, v. 52, n. 4, 717·725,2004) prop6em a substitui<;ao da expressao "movirnento "movimento cultural" para as atuais formas de a~ao coletiva, carateI' historicamenle contextualizado dos primciros. que, em dom(· aos gostos esteticamente mais padronizados e experiencias sociais mais normativas e rotineiras, as rotas de mais lineares e saturadas, aos modelos prcscritivos e estandardizados dos olhados como vias prescritivas e saluradas de viver a vida (PAIS, Jose Machado. Ganchas, tachas e biscates; jovens, trabalho c futuro. Porto: 2001. p. 71). as 42 PAIS, Jose Machado. )4 do mililantismo coletivista e programatico que caracteriZ3va alguns dos movimentos juvenis contestatarios dos anos de 1970 e 1980, chcga-se a ironizar a ao;:ao social de rnovimentos como os e os plinks. .\3 44 45 16 que nao existe, ou existe (au-t6pas). Desde a obra fulura de um mundo vivido no prescnle. Os programas sociais nesse sentido, a le6ricas que apresentam sociais evocativos de um futuro distante, sem nem tempo proprio, qne nao existem senao na forca das que lhes ciao forma expressiva. WUNENBURGER, Estudante universitario, 47 4S 368 Culture Como 0 gcncro, a ra~a ou a orienta<;ao sexual, por tra<;os identitarios que foram c conlinuam a SCI' mobilizados. PAIS. Quolidiano e reflexividade, p. 253. Profissional de bod)' piercing, anos. universitaria, sexo masculino, 25 LASH; FEATHERSTONE, op. cit., p. 9. Recognition; Morality os novos movimentos sociais tenda que sc garantcm as condicaes sociais de existencia necessarias ao acesso ao reconhccimento moral. 50 Fiel de armazem, setimo ano de escolaridadc, sexo mas(ulino, 23 anos. YAR, Majid. Recognition and the Politics ofHuman(e) Desire. and Society, v. 18, n. 2-3, p. 72-73,2001. e moral estabelecido entre masculino, 20 anos. Dits et rierits, McDONALD, Kevin. 0tmggles Experience. 49 Societes, n. 10, p. 5, 1986. In: Direttos civis e sociais que a cidadania estatui como universals, ou seja, veis e conferidos a loda, as determinados segmcntos sociais rnais vulnenlveis em atributos (cor d; oricnta~:ao sexual etc.). Ou sua universal, tern de ern dClenninadas nilo no sentido de lhes conferir situa<;6es excepclOllais, mas de evidenciar c acautelar as condi.;:iies de discrimina<;:ao de preconceito a que estcio (CABRAL, Mannel Villaverde 0 exercicio dacidadama ern v.35, n. lS4-155,p. 85-113, 20(0) Com base na maliva, baseada em institui<;iies de uma moralidade de ordem universalista e nor de solidariedade e jusli~a perante as FRASER; HONNETH, op. cit. 369 .,. Profis,ional de an os. MELUCCI, Alberto. Nomads of/he Present: Social Movements and Individual Needs in Contemporary Society. Filadelphia: Temple University Press, 1989. piercing, nono ano de cscolaridade, sexo feminino, 34 FRASER; HONNETH, op. cit. 54 "Na verda de, termo 'exotica' (do grego exotik6s) remete para tudo 0 que dcsconhccido, extravagante. Extravagar, por sua vez, remete para a de andar fora de ordem, que, neste caso, seria a ordem da rotina" (PAIS, Jose Machado. A vida C01110 aventura: uma nova etica de lazer? In: CONGRESSO MUNDIAL DO LAZER- NEW ROUTES FOR LEISURE. Alas... Lisboa: ImlJrensa de Ciencias Sociais, 1994. p. 1(0). nZeml11D. and the Lifeworld. In: London: 2001. p. 37. 0 e 50 CROSSLEY, Nick. STEVENSON, Nick (Ed.). Culture alld Estudante univcrsit'lrio, sexo masculino, 20 anos. CAILLOIS, Roger. () homem eo Lisboa: Ediyocs 70,1988. NU111a sociedade caracterizada em term05 de recursos que o prcsente (0 passado e 0 futuro) e torna -se, no para os jovens, como se perdessem 0 seu lIIlUluaue historica (PAIS, Jose Machado. Introduyao. In: _ (Org.). Gerar;6cs e valores ria (ontempori'mea. Lisboa: Secretaria de Estado da Juventude/Instituto de Ciencias Sociais, 1998. p. 45-46). 68 Vcr, por ELLlOT1: STEVENSON, Nick (Ed.). Culture 47-61; NASH, Kate. The "Cultural Turn" in Social of Cultural Politics. Sociology, v. 35, n. I, p. 77 92,2001; Citizenship. London: Sage, 2001; TURNER, Bryan S. Outline of Cultural Citizenship. In: STEVF,NSON, Nick (Jid.). Culture alld nzensnip. London: Sage, 2001. p. 11':12; TLJRNF,R, Bryan S. and Social London: Sage, 2001; TURNER, (Ed.). Critical Concepts. London: S.; HAMILTON, (Eds.). 1994. MARSHAL, T. 11. versity Press, 1963. 117" 1'1.<1111) and Social Class. Uni Fie! de armazem, oitavo ano de escolaridade, sexo rnasculino, 23 anos. PAIS. A vida como aventura, p. 104. DUMAZEDlER, Joffre. nevolution culture/ie du temps fibre, 1968-1988. Paris: Meridiens Klinckieck, 1988. p. 62. PAIS. j()vens, bandas mu~iciais e revivalismo triba15, p. J 7. Alias, as situayoes de dependencia ou em face dos consumos de drogas e alcool sao objeto de cemura, mesmo por parte daqueles que ja passaram por esse tipo de situa<;ao, na medida em que significam a perda do controlo que deti'm sobre 5i proprios e a sua vida. 61 Electricisla na construyiio civil, oitavo ano, sexo masculino, 28 allOS. 64 en,,,',",,pr, Heinzlmaier e Zentner (GROSSEGGER, Beate; HEINZLMA1ER, ZENTNER, Manfred. Youth Scenes in Austria. In: AAVV Trans iCitizenship it! Culture, Subculture and Identity. EstrasConcelho da Europa, 200 I. p. 197) fazem a distin\:ao entre cu/turas juvenis e csti/os de vida em termos de fase etaria: quando se ejovem, adota-se uma cultura juvenil, quando se c adulto, adota-se lim estilo de vida, que pressupoe aIguma estabilidadc e individualidade na apropria<;ao dos recur~os proporcionados pelas cenas em que Sf circulou. FElXA, Carles; CARMEN COSTA, Joan Pallares. From Okupas to Makineros; tizenship and Youth Cultures in Spain. In: AAVV -- Transitions of Youth Lttizenship in Europe: Culture, Subculture and Identitv. Estrasbu!!o: COllcelho da Europa, 2001. p. 305-320. 370 371