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Jornada nas Estrelas — Brasil: A Fronteira Final
Abbade, Mario (org.)
1ª Edição
Junho de 2013
ISBN 978-85-66110-02-9
Produção editorial:
Leonardo Luiz Ferreira
Revisão de textos:
Mario Abbade
Projeto gráfico:
Guilherme Lopes Moura
Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução deste livro com fins comerciais
sem prévia autorização dos organizadores.
A CAIXA é uma das principais patrocinadoras da cultura brasileira, e destina, anualmente, mais de R$ 60 milhões de seu orçamento a patrocínio de projetos culturais em seus espaços, com o foco atualmente voltado para exposições de artes
visuais, peças de teatro, espetáculos de dança, shows musicais, festivais de teatro
e dança em todo o território nacional e artesanato brasileiro.
Os eventos patrocinados são selecionados via Programa Seleção Pública de
Projetos, uma opção da CAIXA para tornar mais democrática e acessível a participação de produtores e artistas de todas as unidades da federação, e mais transparente para a sociedade o investimento dos recursos da empresa em patrocínio.
A mostra Jornada nas Estrelas — Brasil: A Fronteira Final exibirá, ao
longo de duas semanas na CAIXA Cultural Rio de Janeiro, as principais obras de
ficção científica da franquia Star Trek, criada inicialmente como uma série de TV
em 1966 pelo roteirista e produtor de televisão norte-americano Eugene Wesley
Roddenberry. A mostra inclui, além dos filmes em Blu-Ray e DVD, documentários
e séries televisivas.
Desta maneira, a CAIXA contribui para promover e difundir a cultura e retribui à sociedade brasileira a confiança e o apoio recebidos ao longo de seus 152
anos de atuação no país, além da efetiva parceira no desenvolvimento das nossas
cidades. Para a CAIXA, a vida pede mais que um banco. Pede investimento e participação efetiva no presente, compromisso com o futuro do país e criatividade
para conquistar os melhores resultados para o povo brasileiro.
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
Jornada nas Estrelas —
Brasil: A Fronteira Final
por Mario Abbade
Dizem que futebol, religião e política não se discutem. A esses temas podem se
juntar as franquias cinematográficas de ficção científica, que incluem as intermináveis pendengas entre os fãs de Jornada nas Estrelas e Guerra nas Estrelas. Fanáticos pela franquia de Star Trek dizem que Star Wars é mais uma novela mexicana
com pitadas do seriado tupiniquim A Grande Família e uma roupagem espacial.
Já adoradores de Darth Vader e companhia acusam a franquia iniciada pelo Capitão Kirk de um amontoado de histórias enfadonhas disfarçadas por uma capa
pseudointelectual. Polêmicas à parte, pode-se dizer que as duas são expoentes
da ficção científica e, com o perdão do clichê, que o maior vencedor dessa batalha
nas estrelas é o público.
Na disputa, no entanto, pelo menos uma coisa é fato: Jornada nas Estrelas veio
primeiro — e o próprio George Lucas já declarou em entrevistas que Star Trek foi
uma influência para a criação de Star Wars. “O espaço... a fronteira final. Estas são
as viagens da nave estelar Enterprise, em sua missão de cinco anos para explorar
novos mundos, pesquisar novas formas de vida e civilizações... audaciosamente
indo aonde nenhum homem jamais esteve...”: com essa introdução profética, que
se tornaria o símbolo de um dos maiores sucessos de ficção científica do planeta, o seriado estrearia no dia 8 de setembro de 1966. Quase 50 anos depois, a
marca continua forte, como era nos anos 70, quando tive meu primeiro contato
imediato (com trocadilho) com a tríade Kirk, Spock e McCoy. A instantânea paixão
pela série se materializa agora (sem a ajuda do Sr. Scott) na mostra Jornada
nas Estrelas — Brasil: A Fronteira Final. O principal motivo dessa admiração
foram os ideais de Gene Roddenberry que sempre nortearam a franquia criada
por ele: a promessa de um futuro melhor, sem desigualdades sociais e raciais. No
microcosmo da Federação dos Planetas, as relações humanas, como em qualquer
outro lugar, continuam conturbadas, mas não se perde a certeza de que o objetivo
é sempre a harmonia e o respeito pelas diferenças.
A renovação desses ideais no reboot, com a entrada em cena de J.J Abrams,
além de realizar o sonho de Roddenberry — que, antes de morrer, declarou que gostaria de ver a mitologia dos personagens da série recriada com a mesma força —,
torna o momento perfeito para uma retrospectiva. A mostra serve tanto aos trekkers
quanto a novas plateias, que têm na retrospectiva a oportunidade de ver, na tela
grande, filmes a que não tiveram acesso.
Além dos longas de ficção, a programação inclui documentários que abordam
aspectos diversos e reforçam a importância de Star Trek. Entre os temas, estão o
culto à série, que reúne multidões até hoje em grandes convenções, e a influência
decisiva da franquia para a invocação tecnológica e a ciência, com depoimentos
de engenheiros da Nasa e outros profissionais que tornaram realidade objetos
que viram pela primeira vez em Star Trek.
O sucesso de Jornada nas Estrelas se deve a todas essas razões. E, além dos
avanços para os quais a série já contribuiu, muitos outros ainda estão por vir.
O teletransporte e a exploração do espaço, por exemplo, são ao mesmo tempo
objetivos e sonhos do ser humano contemporâneo. Mas, seja lá o que vier pela
frente, os homens inevitavelmente terão que lidar com enigmas, descobertas,
perigos e diferenças – algo que sempre esteve presente na sociedade e que é
uma das principais questões em Star Trek. Tudo isso só vem provar que o espaço
sideral não é a fronteira final, mas, sim, o começo da aventura humana.
Mario Abbade é jornalista, crítico de cinema de O Globo, presidente da Associação de Críticos
de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ) e curador da mostra Jornada nas Estrelas – Brasil: A
Fronteira Final
Introdução
17 Onde a Imaginação do
homem sempre está
por Rita A. C. Ribeiro
Fortuna crítica
26 jornada nas estrelas
o filme
por Leonardo Luiz Ferreira
34 jornada nas estrelas III
À procura de spock
por Filipe Furtado
42 jornada nas estrelas V
a última fronteira
por Eduardo Miranda
50 jornada nas estrelas VII
a nova geração
por Filippo Pitanga
58 jornada nas estrelas IX
insurreição
por Antonio Lucas de Oliveira Laynes
66 star trek
por Carlos Alberto Machado
30 jornada nas estrelas II
a ira de khan
por Carlos Brito
38 jornada nas estrelas IV
a volta para casa
por Tom Leão
46 jornada nas estrelas VI
a terra desconhecida
por André Gordirro
54 jornada nas estrelas VIII
primeiro contato
por Arnaldo Bloch
62 Jornada nas estrelas
nemesis
por Zeca Seabra
70 além da escuridão
Star trek
por Mario Abbade
76 o maior herói do espaço
por Mario Abbade
84 Universo pop
por Octavio Aragão
80 a música das esferas
por Sylvio Gonçalves
90 Documentários sobre
jornada nas estrelas
por Jacqueline Farid
94 william shatner atrás
das grades
100 material extra
por Fernando Ceylão
108 curso e debate
109 agradecimentos
110 créditos
111 apoios
Onde a imaginação do homem sempre está
por Rita A. C. Ribeiro
Quando, em 1902, Georges Méliès atingiu uma lua cheia com seu foguete, ele
não apenas fez a transição do cinematógrafo — aparelho de registros de imagens
em movimento — para o cinema — a arte de se contar histórias em movimento.
Ele inaugurou a perspectiva de levar nossa imaginação “aonde nenhum homem
jamais esteve”.
A ficção científica encontrou no cinema o veículo ideal para construir novos
mundos, aparatos tecnológicos e seres alienígenas. Mas, para além das imagens,
durante boa parte do século XX, os filmes desse gênero foram disseminadores de
ideologias que alertavam para os perigos iminentes de invasões, principalmente,
no período pós-Segunda Guerra, quando os filmes não apenas alertavam para o
“perigo vermelho” representado pelos marcianos, numa clara alusão à disseminação do comunismo, como também para os efeitos catastróficos da radiação,
que iam desde o clássico O Incrível Homem Que Encolheu (1957), de Jack Arnold,
até aranhas gigantes, numa abordagem mais trash dos horrores advindos das
bombas atômicas.
O diálogo com os temores do homem é uma constante nos longas de ficção
científica. Ao deslocar a história para mundos diferentes e seres estranhos, ainda assim, os filmes apresentam o medo do ser humano frente ao desconhecido,
frente ao futuro.
A entrada maciça da televisão no final dos anos 50 na maioria dos lares
americanos e, posteriormente, em quase todo o mundo, abriu espaço para um
formato que foi explorado com sucesso no cinema até meados dos anos 40 – os
seriados. A grande penetração da televisão no mercado norte-americano vai
causar uma revolução não apenas na sua linguagem, mas na forma de recepção
dos seus produtos, diante de um público cada vez mais seduzido pelas imagens
que se disseminam pela chamada sociedade de massas.
Duas séries se destacam no final dos anos 50. Science Fiction Theater (195557) e The Twilight Zone (1959-64). A primeira, dirigida por Ivan Tors, buscava um
tratamento mais sério para a ficção científica. Durando apenas dois anos, a série teve ao todo 78 episódios. The Twilight Zone, ou Além da Imaginação (título
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brasileiro), inspirou-se em Science Fiction Theater, tendo mais sucesso que a predecessora. Criada por Rod Serling (1924-1975), a série representa a grande referência para a ficção científica na televisão nesse período. Durou mais de cinco
anos, sendo produzidos ao todo 156 episódios.
Os anos 60 representam o que seria uma concretização do futuro. A evolução
tecnológica permite os primeiros voos espaciais e a chegada do homem à Lua.
Nesse período, a televisão já tem um público cativo e acostumado com a sua linguagem. Alimentados pela concorrência das já diversas redes televisivas, surgem
então vários seriados ligados à ficção científica. Entre eles, destacam-se Viagem
ao Fundo do Mar (1964-68), dirigido por Irwin Allen, também responsável pela
direção das séries Perdidos no Espaço (1965-68), O Túnel do Tempo (1966-67) e
Terra de Gigantes (1968-70).
Em 1966, Gene Roddenberry cria a série que modificará toda a concepção da
ficção científica na televisão e no cinema dos anos seguintes – Star Trek. O mundo
estava mudando, acontecia a guerra do Vietnã, o movimento hippie, o black power,
o movimento feminista, os jovens estavam se posicionando, e Star Trek incorpora
todo o espírito de inconformismo, rebeldia e liberdade, que em breve explodiria
nos movimentos contestatórios de 1968 em todo o mundo.
Jornada nas Estrelas foi concebida por Roddenberry, um produtor que, antes de migrar para os estúdios televisivos, viveu uma vida de aventuras bem
próximas àquelas rotineiramente encontradas pelos membros da nave estelar
Enterprise. Gene Roddenberry foi piloto de aviação durante a Segunda Guerra
Mundial, participando de 89 missões. Após o término da Guerra, ele se integrou
à aviação comercial, enquanto estudava literatura na Universidade de Columbia,
em Nova York.
Decidido a escrever para a televisão, Roddenberry se muda para Los Angeles
em 1949 e começa a trabalhar no departamento de polícia daquela cidade, atividade que lhe proporcionaria, além de subsistência, tempo livre para escrever.
Em 1954, Roddenberry abandona definitivamente a polícia e passa a se dedicar
exclusivamente aos roteiros para a TV. A intimidade de Roddenberry com a disciplina militar e policial será um fator preponderante para a constituição de Star
Trek. Em 1964, foi produzido o primeiro material sobre Jornada nas Estrelas.
O ponto inicial seria então realizar uma série ligada à ficção científica, mas
dentro dos parâmetros de normalidade e simplicidade dos demais seriados até
então existentes. A concepção geral permaneceu a mesma. A estrutura de seus
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personagens é que sofre mudanças, já que na sua constituição estariam representadas as características que posteriormente orientariam a produção da série e a
diferenciariam de outras, tornando-a uma referência para a ficção científica.
Inicialmente criado como capitão Robert April, o capitão James T. Kirk tem
assim as características definidas por Roddenberry: “de personalidade forte e
complexa, capaz de ações e decisões que beiram a atitude heroica... vive numa
eterna batalha com suas próprias dúvidas e a solidão do comando... Sua principal
fraqueza é uma predileção pela ação... mas, ao contrário da maioria dos exploradores, ele tem uma compaixão quase compulsiva em ajudar as pessoas, sejam
alienígenas ou humanos, e, ainda, tem de lutar constantemente contra a tentação
de arriscar muitas vidas para salvar apenas uma”.
Kirk encaixa-se perfeitamente nessa descrição, como o herói destemido e,
ao mesmo tempo, em permanente conflito diante de decisões que podem afetar
a vida, seja de sua tripulação ou de seres de outros planetas. A estruturação
marcante de um herói que se apresenta por vezes frágil, sem dúvida, é uma das
facetas mais instigantes do personagem, porque ressalta, ao mesmo tempo, sua
força e poder de decisão e a preocupação constante com aqueles que o cercam.
Kirk representa o herói utópico dos anos 60, para quem valores pessoais como a
amizade e o respeito pelo outro têm mais valor que ordens pré-estabelecidas. Em
vários episódios, o capitão faz questão de ignorar algumas normas da Federação,
em benefício ou, melhor dizendo, em respeito à vida e à dignidade de alguém.
O segundo personagem, a princípio pensado para ser uma mulher, transforma-se num alienígena. Spock é apresentado como o oficial de ciências. A curiosidade investigativa e a frieza são os traços mais próximos do estereótipo do
cientista presente na maioria das narrativas de ficção científica. No entanto, o
personagem vai aos poucos ganhando uma configuração mais humana, e começam a ser apresentados traços de uma dignidade e honorabilidade que farão com
que ele vivencie sempre conflitos, entre a sua natureza lógica vulcana e o seu
lado passional humano, já que Spock é filho de um vulcano com uma terráquea.
A mistura humano-vulcana é um dos pontos principais da constituição do personagem, já que os vulcanos são apresentados como seres movidos pela lógica,
controlando totalmente suas emoções.
O doutor McCoy é o personagem mais passional de toda a tripulação. Em
vários momentos, ele coloca seu senso de humanidade e justiça acima da lógica, o que rende diversos contratempos com o senso prático do Sr. Spock. O
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personagem carrega consigo o inconformismo natural do homem diante de determinadas situações que o impelem a agir, por vezes, de forma irracional, seguindo seus impulsos e paixões. Os personagens de Kirk, Spock e McCoy formam a
espinha-dorsal das histórias em Star Trek.
A tripulação completa-se com Sr. Sulu, tenente Uhura, Sr. Scotty e por último,
o Sr. Chekov, como personagens fixos na série. As escolhas de Roddenberry vão, de
certa forma, contra a maioria dos estereótipos de personagens apresentados na
televisão e cinema até então. Os movimentos por igualdade racial e sexual já estão
se desenvolvendo, o que de certa forma reflete as escolhas ousadas de Roddenberry para o que se pretendia apenas mais uma série de entretenimento televisivo.
Na própria constituição dos personagens, já se pode verificar uma diferença
significativa entre a proposta de Roddenberry e os demais produtos de ficção
científica até então produzidos. Com um elenco tão característico, era de se esperar que as histórias também se mostrassem diferentes, o que não seria tão fácil.
Entre a produção do episódio piloto, A Jaula, apresentado aos executivos da NBC
em 1965, e a veiculação para a televisão do primeiro episódio, passa-se mais de
um ano. O primeiro piloto foi rejeitado pela emissora, que o considerou “cerebral
demais”. Percebendo o seu potencial de mercado, uma nova chance foi dada a
Roddenberry para a produção de um novo piloto, que se intitularia Onde Nenhum
Homem Jamais Esteve. Em janeiro de 1966, o programa foi entregue à emissora, e,
no mês seguinte, a série finalmente teria o seu aval para prosseguir. As três temporadas do seriado, que contam ao todo com 79 episódios, podem ser creditadas
à paixão dos fãs, que se mobilizaram, chegando a enviar 500 mil cartas para
evitar o seu cancelamento.
A primeira temporada já define os temas que serão os principais eixos da
série: a tecnologia que pode criar máquinas de destruição ou superseres (Semente do Espaço, Um Gosto de Armagedon, E as Meninas de que São Feitas?); drogas
miraculosas e perigosas (As Mulheres de Mudd), o respeito pelo outro (Missão de
Clemência, Equilíbrio do Terror, O Primeiro Comando, Arena); e a astúcia do herói (A
Manobra Corbomite).
Todos são temas recorrentes no universo da ficção científica. No entanto, o
que vai diferir a série das demais é a forma como eles são abordados. A dualidade
é um dos principais fatores que movem as decisões dos personagens. Em Star
Trek, não existe a figura do herói invencível, que toma sempre a decisão certa e
indiscutível. A maioria dos episódios aponta sempre para as contradições que os
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personagens terão que vivenciar para conseguir resolver seus dramas. Os episódios e a forma como os personagens transitam pelo Universo estão sempre nos
remetendo às nossas próprias contradições de homens do final do milênio.
A segunda temporada, com seus 26 episódios, transcorreu sem maiores transtornos e apresentou alguns dos melhores momentos da série. Os temas são recorrentes, mas a densidade dramática se faz mais presente no desenrolar dos
dramas, principalmente naqueles que dizem respeito à nossa fragilidade diante
do desconhecido.
Na terceira e última temporada da série original, realizada entre 1968 e
1969, os problemas com a produtora vão se agravando cada vez mais. Cortes
drásticos são feitos pelo estúdio e reduzem a quantidade de personagens convidados, cenários e efeitos especiais.
Quando a série parecia ter chegado a um decadente final, toda a história ainda estava, na verdade, por começar. Pouco a pouco, os fã-clubes foram surgindo e
se multiplicando, as reprises acontecendo em todo o mundo. O vigor de Star Trek
foi crescendo, sendo cogitadas até mesmo novas temporadas, que não chegaram
a se concretizar. A volta da Enterprise com toda a sua equipe original se dará, dez
anos mais tarde, nas telas de cinema com Jornada nas Estrelas – O Filme, dirigido
por Robert Wise. Nem mesmo o envelhecimento dos atores constituiu um problema para os fãs. Para Star Trek, a telinha da televisão deixava, finalmente, de
ser a fronteira final.
Nenhum seriado televisivo, até agora, foi capaz de gerar tantos produtos. Até
o momento, foram produzidos 12 filmes da franquia e as séries A Nova Geração
(1987–1994), Deep Space Nine (1993–1999), Voyager (1995–2001) e Enterprise
(2001–2005). Quadrinhos e jogos de videogame ainda alimentam a paixão dos fãs,
retratada no documentário Trekkies (1997), de Robert Nygard. Atualmente, quando
nos deparamos com o poder dos seriados, que se multiplicam a cada temporada,
temos que reconhecer o pioneirismo de Star Trek. Nunca uma série sobreviveu tanto tempo no imaginário dos fãs, que se renovam a cada ano, independentemente
da idade. O que todos almejam é vida longa e próspera para Star Trek.
Rita A. C. Ribeiro é professora do Programa de Pós-Graduação em Design da Universidade do
Estado de Minas Gerais e pesquisadora na área de culturas urbanas.
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Jornada nas estrelas — O Filme
(Star Trek – The Motion Picture) de robert Wise (Eua, 1979).
Com William Shatner, Leonard Nimoy, DeForest Kelley, James Doohan, George Takei, Majel Barrett, Walter Koenig, Nichelle Nichols, Persis Khambatta, Stephen Collins, Grace Lee Whitney,
Mark Lenard, Billy Van Zandt, Roger Aaron Brown, Gary Faga.
Ficção científica. Sinopse: Uma gigantesca e poderosa entidade alienígena entra no espaço
da Federação, destruindo três cruzadores klingons e neutralizando tudo em seu caminho. Enquanto ruma para a Terra, o almirante James T. Kirk (William Shatner) assume o comando da nova
USS Enterprise e estabelece curso para interceptar o descomunal agressor. 132 minutos. Livre.
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poesia nas estrelas
por Leonardo Luiz Ferreira
A terceira temporada da série clássica é retirada do ar pela Paramount com a
alegação de baixa audiência. Porém, em um movimento inesperado, os fãs de Jornada nas Estrelas exigem seu retorno através de inúmeras cartas e manifestações
públicas. A produtora parecia não ter a dimensão exata da força de seu produto,
tanto que, a partir desse episódio, passaram a medir de outra forma os índices de
audiência televisiva nos Estados Unidos. Ao invés de uma cogitada nova temporada, os executivos apostam em um novo e nobre espaço, o cinema.
A apresentação de Jornada nas Estrelas — O Filme acompanha a abertura usada
em clássicos: o plano é preenchido com imagens de estrelas, que dão a dimensão
necessária para o espectador embarcar em uma viagem espacial. A música-tema
marcante demarca a sequência com a aparição dos créditos. É através dessa bela
imagem do universo que o diretor Robert Wise começa a inscrever Star Trek em
uma linha mais poética do que um simples representante do cinema de gênero.
Ao decorrer da narrativa, ele demonstra porque foi a escolha acertada para o projeto devido a sua experiência e competência em filmes de ficção, como O Dia em
que a Terra Parou (1951) e O Enigma de Andrômeda (1971). Ele retira o melhor do
seriado — o sentimento de descoberta, desbravar o desconhecido — mantendo a
interação entre seus personagens, e suas personalidades particulares, e articula a
questão técnica da melhor forma possível, com efeitos especiais impressionantes
para a época, e que foram indicados ao Oscar da categoria. Mas nunca coloca a
ação ou o exibicionismo visual acima da história e de seus personagens. O andamento de Jornada nas Estrelas — O Filme é mais vagaroso, até mesmo
em relação aos outros filmes provenientes da série. Uma sensação que é reforçada por cenas longas e poucos cortes. Mas deve-se levar em consideração que
esse primeiro filme é a ponte entre a série e o cinema. Portanto, há uma preocupação em situar tanto o leigo quanto o aficionado. E a forma com que Wise
conduz o filme é condizente com a essência mais cerebral de Star Trek, que se
desenvolve basicamente por intermédio de estratégias e reflexões “entre paredes” do que no cinema de corpo. Por mais que o longa não possa abrigar a extensão de uma temporada da
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série, o cineasta Wise e o roteirista Harold Linvingston tentam trabalhar ao máximo o lado psicológico dos personagens, que são motivados por objetivos distintos em uma mescla entre o ego, a masculinidade e suas fraquezas. Mas todos
se unem pelo sentimento em desbravar novos horizontes, independente do risco.
Sendo assim, aos poucos, a narrativa de Jornada nas Estrelas — O Filme passa a
contemplar as relações interpessoais e o combate ganha ares metafísicos com a
humanização e formação de consciência de uma máquina, aos moldes da reflexão
de Arthur C. Clarke no romance 2001 — Uma Odisseia no Espaço. O que passa a
estar no centro da obra é o existencialismo de seus personagens e das máquinas
muito mais do que uma ficção que busca o deslumbramento pelos efeitos especiais e a esterilidade de inúmeras cenas de ação. E esse feito ainda é marcante
nos dias de hoje.
Leonardo Luiz Ferreira é crítico de cinema, jornalista, membro da ACCRJ e codiretor do documentário Chantal Akerman, de cá.
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Curiosidade
Criada por Gene Roddenberry, Jornada nas Estrelas foi um divisor de águas e uma
referência para muito do que foi criado posteriormente. A ideia de reunir um russo e
um americano trabalhando juntos durante a Guerra Fria era, no mínimo, utópica. E
acabou se revelando profética. Russos e americanos passaram a colaborar uns com os
outros na exploração espacial. Com representantes de vários países na nave, o sonho
de Roddenberry era que os povos do mundo pudessem viver em paz. O beijo entre o
capitão e herói da trama e a tripulante negra foi o primeiro interracial da televisão
– e audacioso, já que aconteceu num período de conflito racial nos Estados Unidos.
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Jornada nas estrelas II — a ira de khan
(Star Trek: The Wrath of Khan) de nicholas meyer (Eua, 1982).
Com William Shatner, Leonard Nimoy, DeForest Kelley, James Doohan, Walter Koenig, George
Takei, Nichelle Nichols, Bibi Besch, Merritt Butrick, Paul Winfield, Kirstie Alley, Ricardo Montalban.
Ficção científica. Sinopse: No século XXIII, James T. Kirk (William Shatner) está se sentindo
obsoleto. A viagem para a qual ele é escalado em sua antiga nave Enterprise – transformada
numa academia de treinamento da Starfleet – também não o ajuda. Mas a missão de treinamento acaba se tornando mais perigosa quando o maldoso Khan (Ricardo Montalban) reaparece após anos de isolamento. 113 minutos. 12 anos.
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inimigo meu
por Carlos Brito
Em 1980, a Paramount tinha um problema curioso nas mãos: Jornada nas Estrelas —
O Filme foi muito bem recebido tanto pela crítica quanto pelo público — no total, a
produção arrecadou US$ 139 milhões em todo o mundo. Resultado excelente, sem
dúvida. Menos para o estúdio, que havia investido US$ 45 milhões na obra e esperava um retorno bem maior. Soa absurdo, mas os executivos ficaram insatisfeitos.
Procurando uma trama que aliasse uma abordagem mais direta e maior capacidade de atingir um público pouco habituado ao universo de Star Trek, os
diretores da Paramount surpreendentemente afastaram Gene Roddenberry do
controle criativo. Colocado no posto de consultor executivo, ele não teria a palavra final sobre o formato da nova produção. A função seria entregue a Harve
Bennett, um executivo de TV.
Bennet jamais havia visto a série original. Para compensar o desconhecimento, ele decidiu assistir em sequência às três temporadas. Ao ver A Semente do
Espaço, 22º episódio da primeira temporada, o executivo encontrou na figura do
tirano geneticamente alterado Khan Noonien Singh a solução para o principal
problema que havia percebido em Jornada nas Estrelas — O Filme: a falta de um
vilão. Estava decidido: Khan retornaria e seria a ameaça a ser enfrentada em
Jornada nas Estrelas II.
A direção foi dada a Nicholas Meyer, que 11 anos depois retornaria a esse
universo em A Terra Desconhecida. Participando de forma decisiva no roteiro, ele
estabeleceu os temas a serem desenvolvidos em A Ira de Khan. Amizade, sacrifício, envelhecimento, redenção e as reações humanas diante de uma situação
fatal incontornável — personificadas no teste de Kobayashi Maru. Tudo estava lá,
sobretudo, por meio do vínculo de amizade entre Kirk e Spock.
No entanto, ao longo do filme, percebemos qual é o tema principal da produção: vingança. A obsessão do personagem interpretado por Ricardo Montalban
em sua vendeta pessoal contra o capitão — então almirante — Kirk é o que move
a trama. Citações de Moby Dick, a obra-prima de Herman Melville, reforçam essa
impressão. Não há dúvidas de que, aqui, Khan é o obcecado capitão Ahab, e Kirk, a
baleia branca que o mutilou. O conflito chega ao clímax na Batalha da Nebulosa
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de Mutara, momento de confronto entre a Enterprise e a Reliant, cuja tensão é
ressaltada pela música composta por James Horner.
A morte de Spock — que inicialmente seria definitiva — ressalta a ideia de
sacrifício e renascimento. Além disso, o fato daria início ao arco que seria desenvolvido nos dois filmes seguintes.
Por ser um filme mais direto, com ênfase maior na aventura e no embate
frontal e claro entre dois antagonistas, A Ira de Khan é uma obra cuja absorção se
torna mais fácil para o público em geral. Não apenas por isso, mas também por
todos os seus méritos cinematográficos, costuma ser a primeira resposta de boa
parte das pessoas quando questionadas sobre qual é o melhor episódio da saga.
Carlos Brito é jornalista, repórter especial e crítico de cinema do jornal O Dia e membro da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ).
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Curiosidade
Diversas alusões nas tramas envolvem religião, filosofia, política, economia, antropologia e sociologia. Um exemplo é, no episódio 42, Problemas aos pingos (The
trouble with tribbles), em que uma epidemia de pingos quase vira calamidade. Esse
argumento foi uma alusão a vírus, como o da Aids, que poderiam causar um surto
incontrolável.
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Jornada nas Estrelas III — À Procura de Spock
(Star Trek III: The Search for Spock) de leonard nimoy (Eua, 1984).
Com William Shatner, DeForest Kelley, James Doohan, Walter Koenig, George Takei, Nichelle
Nichols, Robin Curtis, Merritt Butrick, Phil Morris, Scott McGinnis, Christopher Lloyd, John
Larroquette, Miguel Ferrer, Mark Lenard, Leonard Nimoy.
Ficção científica. Sinopse: Como boa parte da Enterprise é destruída após confronto com
o vilão Khan, a equipe volta para casa com uma novidade nada agradável: a nave será desativada. Pior ainda: o doutor McCoy (DeForest Kelley) começa a agir de maneira estranha.
Uma visita ao capitão Kirk (William Shatner) feita pelo embaixador Sarek (Mark Lenard), pai
de Spock, revela que McCoy está carregando a personalidade de Spock. Kirk e sua equipe
roubam a Enterprise e seguem para Gênesis – um planeta em quarentena – para sair em
busca de Spock. A aventura os leva a um confronto com os klingons. 105 minutos. 12 anos.
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Em busca do personagem perdido
por Filipe Furtado
A base de toda narrativa em série é a ideia de ilusão de mudança: aos criadores,
cabe a responsabilidade de sempre mover as peças de forma a sugerir o novo, sem
que com isso se alterem os elementos essenciais que a movem — os filmes de
James Bond são provavelmente seu mais perfeito exemplo no cinema. Por conta
disso, poucas coisas são mais excitantes numa narrativa serial do que quando algo
definitivo altera sua essência. Tais momentos são raros, e, inevitavelmente, deixam
os responsáveis pelos capítulos subsequentes com grandes dificuldades, afinal, há
motivos pelos quais o status quo existe — por mais desejo que o espectador, ou
leitor, possa ter de mudança, ele ainda espera encontrar no próximo capítulo os
mesmos elementos que lhe atraíram para aquele material inicialmente.
Se A Ira de Khan é o mais popular entre todos os longas-metragens da série
Jornada nas Estrelas, isso se dá muito por causa de seu final ao mesmo tempo surpreendente e muito eficaz, em que Spock, o personagem mais marcante da série, se
sacrifica para salvar seus companheiros. A pergunta inevitável após o sucesso do
filme é: como fazer Star Trek sem a presença de Spock? Afinal, a despeito do conceito
de faroeste no espaço, de todas as múltiplas culturas alienígenas e da filosofia de
integração da Federação, na sua essência, para a maior parte do público, Jornada nas
Estrelas existe nas relações entre capitão Kirk e Spock e deste com doutor McCoy.
Mas, com a intervenção de Khan, o personagem que estava no centro dessas ligações fora removido. Diante do problema, a solução de À Procura de Spock já fica
clara no próprio título: um filme todo construído para desfazer o final do longa
anterior. É algo muito comum em séries de TV, mas raro em cinema. O terceiro
filme não propõe uma narrativa entre o segundo e o quarto longa da série. Tudo
nele gira em torno somente de resolver as pontas soltas de A Ira de Khan e posicionar a série para o futuro, uma necessidade mais do que um filme.
Não é surpresa que se trate de um dos filmes mais fracos da série, mas À
Procura de Spock é, à sua maneira, um de seus longas mais importantes. Mais do
que desfazer o final do trabalho anterior, À Procura de Spock se dedica inteiramente a suprimir os elementos novos que a série introduzira até ali, como o filho
de Kirk e o planeta Gênesis, numa espécie de reconhecimento de que a série, no
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cinema, começava a se afastar do apelo do seriado televisivo. Se os dois primeiros
longas de Jornada nas Estrelas eram, cada um à sua maneira, filmes propositivos, a
essência de À Procura de Spock é regressiva. Não à toa, o filme elege os klingons
como vilões e investe de forma pesada na mitologia da série. Mas Leonard Nimoy,
diretor do filme, e o roteirista Harve Bennett jamais conseguem garantir, a qualquer dos seus momentos individuais, um grande interesse. O filme segue vítima
de sua função, um fracasso como cinema, mas um sucesso como empreitada: a
obra seguinte é uma das melhores e mais populares da série.
Filipe Furtado é crítico de cinema, redator da Revista Cinética e ex-editor da Revista Paisà.
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Curiosidade
A grande força do seriado residia no relacionamento entre Kirk, Spock e McCoy. Os
três foram protagonistas de cenas que envolviam de tiradas hilárias a filosofia. Os
momentos característicos do trio serviram de argumento para o filme Heróis Fora de
órbita (Galaxy quest, 1999, de Dean Parisot), que é claramente uma sátira a série.
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Jornada nas Estrelas IV — A Volta Para Casa
(Star Trek IV: The Voyage Home) de leonard nimoy (Eua, 1986).
Com William Shatner, Leonard Nimoy, DeForest Kelley, James Doohan, George Takei, Walter Koenig, Nichelle Nichols, Jane Wyatt, Catherine Hicks, Mark Lenard, Robin Curtis, Brock Peters, Michael Snyder, Michael Berryman, Mike Brislane, Grace Lee Whitney, Jane Wiedlin, Majel Barrett.
Ficção científica. Sinopse: O mundo está à beira da destruição. Uma sonda desconhecida
está sugando os mares do planeta. A tripulação da Enterprise, numa pequena nave roubada
dos klingons, volta ao ano de 1986, em São Francisco, onde pretende encontrar a única coisa
capaz de impedir a destruição do mundo: uma espécie de baleia extinta no século XXIII. 119
minutos. Livre.
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O futuro do planeta Terra
por Tom Leão
Até a chegada de Jornada nas Estrelas IV: A Volta para Casa, tanto a série de TV
quanto a de cinema permaneciam restritas a um círculo de iniciados. Ao trazer os
personagens para os dias atuais — e levantar uma questão que estava em voga
no mundo na época, a preservação das baleias, ainda hoje um tema relevante —,
o filme deu, imediatamente, a Kirk, Spock e companhia, uma nova dimensão. E a
boa e original ideia se mostrou gratificante: não apenas o filme obteve êxito nas
bilheterias mundiais, como também foi bem recebido pela crítica, sempre avessa
à ficção científica.
O longa se passa alguns meses depois do término de À Procura de Spock, que,
por sua vez, estava diretamente ligado à segunda produção para cinema, A Ira de
Khan, fechando assim um arco de história, que não continuaria no quinto capítulo.
Acompanharam Kirk e Spock nesta jornada de volta à São Francisco dos anos
1980 o doutor McCoy, Uhura, Sulu, Scotty e Chekov. O que os traz para os nossos
dias é a chegada, no século XXIII, de uma sonda alienígena que tenta fazer contato com baleias corcunda (então extintas no futuro) e, enquanto não as encontram,
vão sugando os oceanos, colocando em risco a vida na Terra.
Usando o recurso do salto no tempo (time warp, ou dobra espacial), os nossos
queridos personagens voltam três séculos atrás para garantir a existência do
planeta, que vai depender do contato das baleias com a sonda. Neste regresso,
o inevitável contraste de tecnologias e comportamento humano logo aparece:
ainda existia o comunismo, não havia meios de comunicação como o telefone
celular, e o dinheiro era a mola mestra — o que coloca parte da tripulação em
sérias encrencas. Chekov, por exemplo, é logo visto como um espião russo. Spock
tem de esconder suas orelhas e se veste como um hippie (afinal, está na terra
deles). E todos precisam de dinheiro trocado para pagar uma simples viagem de
ônibus. Tudo isso conectou os personagens com as plateias, trazendo o universo
Star Trek para perto.
Driblados esses percalços, Kirk e Spock entram em contato com uma cientista e oceanógrafa e tentam convencê-la a ajudá-los a libertar duas baleias da espécie corcunda (conhecidas no Brasil como jubarte), para que sejam levadas para
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o futuro e enviem o sinal que irá salvar o planeta três séculos adiante. O roteiro
engenhoso, que teve, entre outras, a mão de Nicholas Meyer, diretor e roteirista
de A Ira de Khan, é um dos melhores da série. A Volta Para Casa foi o segundo filme dirigido por Leonard Nimoy, que, além da recepção e da boa bilheteria, ainda
foi indicado a quatro Oscar em categorias técnicas: fotografia, mixagem de som,
edição de som e trilha sonora.
Tudo isso faz deste capítulo, ainda hoje, uma agradável jornada, tanto para os
aficionados quanto para quem quer apenas uma boa diversão, com trama inteligente e personagens cativantes. E, visto agora, na distância de seus 27 anos, serve
também como painel de um tempo não muito distante, mas já bastante diferente
deste em que vivemos atualmente.
Tom Leão é jornalista, comentarista de cultura do canal Globonews, crítico de cinema e membro
da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ).
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Curiosidade
A criatividade era a solução para maquiar a precariedade nos efeitos visuais. A Enterprise entrava em batalha e a tensão se instalava, mesmo sem nenhuma tomada
externa. Toda vez que a nave era atingida, a câmera sai de eixo, explosões na ponte comando aconteciam e os tripulantes se jogavam no chão. Os planetas visitados
quase sempre eram da classe M, que possuíam uma atmosfera parecida com a Terra.
Os cenários desses planetas pareciam os mesmos, com pedras de isopor e terra. A
impressão era a de estar dentro de um estúdio. Os alienígenas eram apenas um pouco
diferentes dos terráqueos.
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Jornada nas Estrelas V — A Última fronteira
(Star Trek V: The Final Frontier) de William shatner (Eua, 1989).
Com William Shatner, Leonard Nimoy, DeForest Kelley, James Doohan, Walter Koenig, Nichelle
Nichols, George Takei, David Warner, Laurence Luckinbill, Todd Bryant, Rex Holman, George Murdock, Steve Susskind, Harve Bennett, Cynthia Blaise, Bill Quinn, Melanie Shatner.
Ficção científica. Sinopse: Interrompendo uma folga que tiravam enquanto a Enterprise
passava por reparos, capitão Kirk (William Shatner) e sua equipe são chamados para uma missão urgente: num planeta onde representantes de mundos inimigos se encontram pacificamente, vários embaixadores foram sequestrados por Sybok (Laurence Luckinbill), um renegado
do planeta Vulcano. Sybok é meio-irmão de Spock (Leonard Nimoy) e tem o dom de ajudar as
pessoas a enfrentarem seus medos. Ele rapta a Enterprise e sua tripulação, forçando-os a levá-lo para os limites da galáxia, pois acredita que lá existe um planeta onde a vida teve origem,
onde está Deus. 107 minutos. Livre.
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Capitão Kirk enfrenta desafios fora da ficção
por Eduardo Miranda
Conta o ator William Shatner que sua inspiração para o argumento deste filme,
em que ele fez sua estreia como diretor de cinema, surgiu enquanto ele assistia,
na TV, aos famigerados programas de evangelizadores que pregam ter o poder
de falar com Deus — e de falar por Ele. Shatner queria um roteiro em que a
tripulação da Enterprise, sugestionada por um desses “guias espirituais”, fosse,
literalmente, ao encontro de Deus e, consequentemente, do diabo, em um único
ser. A ideia era fazer deste filme o mais épico de todos e, audaciosamente, ir
aonde nenhum outro filme de “Star Trek” jamais esteve. Claro que não deu certo.
O tema religião nunca foi algo muito fácil de se trabalhar, principalmente
em Hollywood. E aqui não foi diferente. Shatner, com a ajuda do seu reticente
produtor, Harve Bennett, e de um bem-humorado roteirista, David Loughery, teve
que mexer e remexer na ideia original para que os executivos da Paramount e o
próprio criador da franquia, Gene Roddenberry — que, segundo as más línguas, teria ficado enciumado por ter um projeto semelhante que nunca fora aprovado —,
dessem o o.k. final para o começo da produção. Tendo restado então muito pouco
da versão original e do argumento, este quinto filme da série, que também sofreu
duramente com cortes orçamentários, greves, ataques de estrelismo, acidentes,
efeitos especiais precários e problemas com seu lançamento nos cinemas, acabou ficando muito aquém do antecessor, o leve e divertido Jornada nas Estrelas
IV: A Volta para Casa.
O malsucedido resultado serviu para consolidar o estigma de que todos os
filmes com numeração ímpar nunca eram bons. Mas nem tudo o que se vê na tela
é desencontro e caso perdido. William Shatner resolveu agir, na direção, como o
próprio capitão Kirk, apostando na emoção para salvar o longa. E, embalado pela
competente trilha sonora do mestre Jerry Goldsmith, Shatner dispara no filme
seus “feisers” e “torpedos fotônicos” diretamente no coração dos fãs mais apaixonados. Assim, o diretor concedeu a esse público momentos que conquistaram um
lugar eterno na memória dos admiradores da relação de amizade, cumplicidade
e comprometimento do trio principal: Kirk, McCoy e Spock — ou melhor, William
Shatner, DeForest Kelley e Leonard Nimoy. A relação entre tudo o que aconteceu
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nos bastidores e aquilo que o filme se tornou na tela valeria até um documentário, um inventário sobre problemas e soluções de fazer qualquer fã vibrar por
poder entrar na intimidade da série.
Eduardo Miranda é psicólogo, critico de cinema e radialista há 25 anos. Foi chefe da Divisão de
Cinema da Rede Manchete e programador de filmes da TV Globo. Atualmente, trabalha na prospecção de filmes para distribuidores nacionais.
44
Curiosidade
Os esforços eram concentrados em roteiros inteligentes que abordavam muitos dos
problemas enfrentados pela sociedade. Existia ainda a preocupação com o conteúdo
científico. A série nunca foi um sucesso segundo os índices de audiência que os executivos da TV exigiam e exigem, mas conquistou um público não só fiel, mas também
muito organizado. Clubes de ficção científica em universidades por todo o território
dos Estados Unidos faziam encontros para discutir a série depois de cada episódio.
Quando a emissora e os patrocinadores pensaram em cancelar a atração, escritores
famosos de ficção científica e fãs se manifestaram contra.
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Jornada nas Estrelas VI — A Terra Desconhecida
(Star Trek VI: The Undiscovered Country) de nicholas meyer (Eua, 1991).
Com William Shatner, Leonard Nimoy, DeForest Kelley, James Doohan, Walter Koenig, Nichelle
Nichols, George Takei, Kim Cattrall, Mark Lenard, Christopher Plummer, David Warner, Michael
Dorn, Christian Slater.
Ficção científica. Sinopse: Após a explosão da Lua Praxis, os klingons são obrigados a propor um acordo de paz para garantir a sobrevivência de sua espécie. A tripulação da Enterprise
é convocada a escoltar a missão diplomática klingoniana até o local da reunião, mas a nave
é atacada e o seu chanceler acaba sendo morto. O pior é que tudo indica que o ataque partiu
da própria Enterprise. 113 minutos. Livre.
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Alegoria do mundo real
por André Gordirro
Foram necessários seis filmes para Jornada nas Estrelas finalmente encontrar no
cinema o paralelo com a sua identidade forjada na encarnação televisiva. A Terra
Desconhecida honra a maior tradição da série: usar uma aventura de ficção científica como metáfora para acontecimentos do mundo real. Nos anos 1960, Star
Trek falou de pacifismo durante o conflito no Vietnã e mostrou uma tripulação
multirracial em pleno movimento pelos direitos civis. Porém, em cinco filmes,
passou em branco no cinema nesse quesito, até que, em A Terra Desconhecida,
o diretor Nicholas Meyer decidiu fazer uma alegoria do fim de Guerra Fria e da
abertura promovida pelo líder soviético Mikhail Gorbachev.
Responsável pelo mais elogiado capítulo da cinessérie, A Ira de Khan, Nicholas Meyer é como aquele técnico que ganhou um título inédito para um time e,
na hora do aperto, é contratado novamente como salvador da pátria, em nome do
grande feito no passado. O aperto, é claro, foi o fracasso de Jornada nas Estrelas
V — A Fronteira Final, que fez os executivos da Paramount chamarem Meyer para
conduzir o sexto filme. Foi uma decisão acertadíssima. De todas as pessoas que
já mexeram no baú de brinquedos de Gene Rodenberry — de Rick Berman a J.J.
Abrams —, Nicholas Meyer foi quem melhor capturou o elusivo espírito da coisa.
Esta é a última grande aventura com todo o elenco original, que passa o
bastão para a série A Nova Geração (no ar desde 1987). A pouco tempo da aposentadoria, o capitão Kirk é convocado para escoltar o chanceler klingon para uma
inédita negociação de paz entre a Federação e o Império Klingon, que está em
frangalhos após a destruição de uma lua (ecos de Chernobyl). O problema reside
na própria postura de Kirk, para quem klingon bom é klingon morto, e na sua
contraparte do lado inimigo, o general Chang, um belicista de carteirinha cujo
lema é “não haverá paz em nosso tempo”. O assassinato do chanceler ganha ares
de romance de Sherlock Holmes — o diretor escreveu várias aventuras do detetive — e acaba por incriminar Kirk, que corre contra o tempo para limpar o próprio
nome e salvar o processo de paz a que ele tanto se opôs.
Visto hoje, A Terra Desconhecida é um filme que vai além da alegoria datada sobre o fim da Guerra Fria e que resiste ao tempo pela atualidade do tema
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principal: mudanças, e a reação das pessoas frente a elas. Vinte e dois anos após
sua estreia, o Brasil encontra-se em ebulição ao discutir mudanças sociais como
a legalização do casamento homossexual, das drogas e do aborto. A internet está
tomada por discursos de ódio, radicalismos e posições reacionárias — exatamente
como as reações de personagens como a vulcana Valeris, o klingon Chang e o humano Cartwright, que, por medo das mudanças, reagem às inevitáveis transformações com o mesmo discurso de ódio que vemos por aí. A Terra Desconhecida é o futuro feito a partir das mudanças no presente, em que a tolerância é a fronteira final.
André Gordirro é crítico de cinema, jornalista e tradutor. Conheceu Jornada nas Estrelas na TV
Bandeirantes graças ao avô e é prova viva de que mesmo um fã de Guerra nas Estrelas pode ser
trekker também.
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Curiosidade
Em praticamente cada um dos episódios, pelo menos uma passagem ou citação se
tornava uma referência que permaneceria durante toda a franquia. Na 1ª temporada,
alguns episódios podem ser citados como os mais representativos. O quarto capítulo,
O Inimigo Interior, é considerado a pedra fundamental do relacionamento Kirk-Spock-McCoy. Também é a primeira vez em que McCoy diz a famosa frase “Está morto, Jim”,
hoje usada até pelo Google, como mensagem de seu navegador. Em órbita de Alfa 177,
a Enterprise experimenta um defeito no teletransportador. Ao trazer Kirk da superfície
do planeta, ele acaba se dividindo em duas pessoas: um Kirk “bom”, que é piedoso e inteligente, e um Kirk “mau”, que é violento, amoral e selvagem. Spock compreende o que
aconteceu com seu capitão e tenta ajudá-lo, já que as duas partes não conseguirão sobreviver separadas. O sucesso remete também ao velho tema “Doutor Jekyll e Mr. Hyde”.
Um detalhe muito interessante é que o Kirk “mau” que possui os atributos de comando
necessários ao capitão. Ali, o roteiro de Richard Matheson descuida de um importante
detalhe na personalidade do senhor Spock. No texto, é sugerido que Spock golpeie o
duplo do capitão com um phaser. O uso de violência direta iria contra os princípios do
personagem. Foi Leonard Nimoy quem deu a solução para o problema, e, com a ajuda
de William Shatner, os dois improvisaram o que viria a se transformar no primeiro
Toque de Vulcano. O toque consiste num aperto perto do pescoço que deixa o oponente
inconsciente. Além disso, Shatner usa todas as suas técnicas teatrais para diferenciar as
duas personalidades, numa de suas melhores atuações na série.
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Jornada nas Estrelas VII — a nova geração
(Star Trek: Generations) de david carson (Eua, 1994)
Com Patrick Stewart, Jonathan Frakes, Brent Spiner, LeVar Burton, Michael Dorn, Gates McFadden, Marina Sirtis, Malcolm McDowell, James Doohan, Walter Koenig, William Shatner, Alan
Ruck, Jacqueline Kim, Majel Barrett.
Ficção científica. Sinopse: Século XXIII. Com uma viagem inaugural de gala, a terceira
Enterprise (NCC-1701-B) torna-se a melhor nave espacial da Federação, que agora tem John
Harriman (Alan Ruck) como capitão. Para a inauguração, são convidadas lendas vivas como o
capitão James T. Kirk (William Shatner) e dois dos seus colaboradores, Montgomery Scott (James
Doohan) e Pavel Chekov (Walter Koenig). Mas o que era para ser uma festa torna-se uma tragédia, pois a Enterprise é forçada a resgatar duas pequenas espaçonaves que estavam presas
num misterioso cinturão de energia. Ela acaba conseguindo salvar vários passageiros de uma
das naves, mas sofre avarias e uma perda irreparável. 118 minutos. Livre.
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Um destino para dois capitães
por Filippo Pitanga
Há várias gerações de trekkers. Quem diria que a pioneira série Jornada nas Estrelas, com influências desde Flash Gordon até Julio Verne, iria contra expectativas
não muito benevolentes com a ficção científica e, após durar apenas três anos na
TV, daria à luz não só filmes com o elenco original, como também novas séries
com personagens tão queridos quanto populares. No entanto, mesmo que todas
essas novas séries tenham acumulado igualmente duração e audiência, nenhum
dos programas que se seguiram ao clássico teve o privilégio de Jornada nas Estrelas: A Nova Geração (1987-1994), único a gerar filmes além da série original.
Jornada nas Estrelas: A Nova Geração traz dois trunfos e um grande calcanhar
de Aquiles. A direção de David Carson, novato em longas, porém experiente em
capítulos das séries, trouxe as vantagens de sua origem teatral britânica, como o
posicionamento dos atores em cena, realçando-os com a iluminação e os cenários, além de colocá-los em foco para frases de efeito do roteiro, profundamente
ensaiadas. Some-se a isso o fato de que os personagens de A Nova Geração foram
mais bem trabalhados, repletos de conflitos pessoais. Um dos mais queridos, o
androide Data ganha um chip de emoções e começa a sentir como um humano,
gerando desenvolvimento individual e alívios cômicos — outra marca registrada
da série: o equilíbrio entre drama e humor.
O segundo trunfo, ou uma faca de dois gumes, é que a película ambicionou
unir as duas gerações mais famosas. Eram previstas participações de Spock e
doutor McCoy, que, por problemas contratuais, foram substituídos por Scotty e
Chekov. Assim, quando um aposentado Kirk desaparece e é dado como morto no
princípio, o roteiro passa a traçar paralelos entre Kirk e o capitão Jean-Luc Picard
— ambos nunca tiveram tempo de criar uma família, movidos por autossacrifícios.
Aliás, é por isso que são tentados por uma espécie de dimensão utópica, Nexus,
que vicia numa felicidade surreal em lugar da realidade. E, aliado aos klingons
(quase deslocados, mas responsáveis por várias das cenas de ação e humor), surge o vilão Soran (o ilustre Malcolm McDowell de Laranja Mecânica), que faria de
tudo para voltar a Nexus, inclusive destruir planetas.
O grave problema é que, a despeito do saudosismo dos fãs, os personagens
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originais não foram bem integrados à narrativa — o filme também teria dado
certo caso não tivesse a presença do elenco clássico (como mostram as continuações). E parece terem usado Kirk apenas como uma desculpa para passar o bastão
— o que, com tantas aventuras de viagem no tempo e saltos interdimensionais,
não parecia o tipo de solução necessária. O filme acaba infelizmente sendo mais
lembrado pela fatídica e mundana morte de Kirk (mais notório por escapar dela)
do que por sua herança cinematográfica.
Filippo Pitanga é advogado, crítico de cinema do Almanaque Virtual e membro da Associação de
Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ).
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Curiosidade
Em A Coleção, 15º capítulo da série, os produtores aproveitaram as cenas de A Jaula.
O ator Jefferey Hunter, que interpretava o capitão Pike em A Jaula, não estava então
disponível para fazer uma pequena participação no episódio. Todas as imagens de um
Pike saudável foram tiradas do piloto original filmado em 1964. O capitão inválido foi
interpretado pelo ator Sean Keney, que tem mais do que apenas uma leve semelhança
com Hunter. Na época, esse capítulo foi muito comentado, por ter sido a primeira
oportunidade que os fãs tiveram de ver as cenas do lendário piloto descartado. Anos
depois, foi lançado sem cortes em vídeo.
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Jornada nas Estrelas VIII — Primeiro Contato
(Star Trek: First Contact) de Jonathan frakes (Eua, 1996).
Com Patrick Stewart, Jonathan Frakes, Brent Spiner, LeVar Burton, Michael Dorn, Gates McFadden,
Marina Sirtis, Alfre Woodard, James Cromwell, Alice Krige, Michael Horton, Neal McDonough.
Ficção científica. Sinopse: O capitão Jean-Luc Picard (Patrick Stewart) e a tripulação da
Enterprise embarcam em mais uma aventura, desta vez em mais um confronto com os Borgs,
criaturas meio orgânicas, meio máquinas, que formam uma comunidade com um único objetivo: conquistar e assimilar todas as raças. Liderados por sua sedutora e sádica rainha (Alice
Krige), os Borgs seguem para a Terra com um demoníaco plano para alterar a história. O último
encontro dos Borgs com Picard quase o matou. Agora, ele quer vingança. 111 minutos. Livre.
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O elo reencontrado
por Arnaldo Bloch
O ano é 2063. A humanidade, nas suas práticas, pouco mudou: o dinheiro impera
entre povos que guerreiam entre si. Num acampamento em Montana, oeste americano, o rocket scientist Zefram Cochrane, mamado de tequila barata e rock’n’roll,
está prestes a transformar um míssil nuclear em artefato de paz: a primeira nave
a se mover em dobra espacial, acima da velocidade da luz, ponta de lança para
o futuro.
O voo-teste é iminente. No dia seguinte, os vulcanos, atraídos pelos sinais
da nave, serão os primeiros extraterrestres a contatar o planeta Azul, fazendo
nascer uma aliança duradoura, origem, inclusive, da amizade de capitão Kirk e
senhor Spock.
Século XXIV. A Terra, Vulcano e mais uma batelada de planetas agora são
parte de uma Federação que congrega ideais de paz. O dinheiro não existe. Cochrane, o pai da Nova Era, é estudado em escolas e celebrado em museus.
Mas os inimigos da Federação estão sempre à espreita: em uma tentativa de
colonizar os terráqueos, os Borg, ciberorgânicos que vivem em colmeias e assimilam povos, são detidos pela Enterprise, sob o comando do capitão Jean-Luc Picard.
Frustrados, os Borg criam um vórtice temporal. Seu novo alvo: Montana,
2063. Em seu encalço, claro, a Enterprise, com a missão de impedir que a herança
de Cochrane seja destruída. Para triunfar, a equipe vai ter que descer à Terra em
trajes de época (a comunidade local é uma espécie de amálgama techno-hippie).
Na interpretação espetacular de James Cromwell, Cochrane descobrirá aos
poucos o que o futuro lhe reserva, mergulhando numa piração ética: seus objetivos com a invenção da dobra espacial são financeiros, ele não é um idealista, está
mais para mercenário e morre de medo de voar.
O choque cultural entre esses humanos do futuro, de sensibilidade aparentemente tão evoluída, com a civilização por eles considerada ainda primitiva da
Terra de 2063 será, a partir desse encontro, o foco central de Primeiro Contato.
Em contraste com a batalha contra os Borg, a bordo da Enterprise em órbita distante, descortina-se, no cenário terráqueo passadista, um ensaio cinematográfico sobre uma possível essência humana imutável, na qual a busca pela
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perfeição — almejada pelos Borg em sua marcha implacável de assimilação de
saberes — não cabe na amplitude da reflexão do homem. Esta conduz sempre
a um impasse quanto às noções do absoluto, e sua força reside, justamente, aí.
Tal debate, subjacente à trama e presente expressamente na maioria dos diálogos, leva a uma interessante questão sobre o título do longa: será o primeiro
contato aquele que Cochrane estaria destinado a ter com os vulcanos dias depois,
ou aquele entre humanos e humanos? Esta metadialética em paradoxo espaço-temporal seria, assim, o treino ideal para o momento em que os vulcanos, arautos
de uma lógica intolerante e teimosa, começam a confrontar as crenças daquela
pequena comunidade no seu ethos calcado no casamento entre razão e emoção.
Arnaldo Bloch é jornalista, escritor, colunista e crítico do jornal O Globo e membro da Associação
de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ).
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Curiosidade
Khan, com sua personalidade viril e magnética, é comparado na trama a Napoleão e
Julio César, entre outros conquistadores que cativaram nações independentemente de
suas intenções. Outra curiosidade é a postura de Marla diante de Khan, já que a série
sempre pregou a igualdade ente os sexos. Marla se sente atraída por Khan, aceitando
todo seu comportamento machista. É um retrato de que, mesmo no futuro e com toda
a tecnologia, o coração ainda pode interferir nas ações.
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jornada nas estrelas IX — Insurreição
(Star Trek: Insurrection) de Jonathan frakes (Eua, 1998).
Com Patrick Stewart, Jonathan Frakes, Brent Spiner, LeVar Burton, Michael Dorn, Gates McFadden, Marina Sirtis, F. Murray Abraham, Donna Murphy, Anthony Zerbe, Gregg Henry, Daniel Hugh
Kelly, Michael Welch, Mark Deakins, Stephanie Niznik, Michael Horton.
Ficção científica. Sinopse: No planeta da raça Ba’Ku vive um povo pacífico, feliz e que não
envelhece. Por interesses políticos, a Federação une-se aos inimigos deste povo para uma
manobra que pode destruí-los. Ao saber da trama, o capitão Picard (Patrick Stewart) rebela-se,
inclusive porque está apaixonado por uma das habitantes Ba’Ku. 103 minutos. Livre.
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Aproximação com a realidade
por Antonio Lucas de Oliveira Laynes
Dirigido por Jonathan Frakes, o comandante William T. Riker de A Nova Geração,
Insurreição difere de todos os longas da saga Star Trek pela ideologia e pelos
valores morais nele abordados.
A tripulação da Enterprise descobre que a Federação dos Planetas Unidos fez
uma aliança com os alienígenas Son’a, pela qual ambos pretendem remover um
gás natural que se localiza ao redor de um planeta, pois acreditam que seria um
tipo de fonte da juventude. Mas, para isso, eles devem realocar uma pequena civilização de colonos que vivem no planeta e ainda não alcançaram a tecnologia de
dobra espacial. Com a remoção do gás, o planeta se tornaria inabitável, portanto,
a ideia seria removê-lo sem que a população soubesse — ou até usando a força,
caso fosse necessário.
Ao tomar conhecimento do plano que fere a primeira diretriz da Federação, o
capitão Picard e sua tripulação questionam o almirante da frota estelar Matthew
Dougherty, envolvido politicamente na situação, pois não se pode interferir no
desenvolvimento e na cultura de outra sociedade. O argumento do almirante
é que o gás radioativo beneficiará bilhões de pessoas, e não apenas algumas
poucas centenas que vivem no planeta. Mas isso não convence Picard. Mesmo sabendo que desobedecer a uma ordem superior colocará em risco sua carreira, ele,
apoiado por sua tripulação, decide comandar uma revolta para preservar o planeta e os colonos que ali permanecem. É justamente nesse ponto que Insurreição
difere dos demais filmes da franquia. Acima de qualquer prioridade da Federação,
os valores morais e os direitos de um povo têm um peso maior. No desenrolar da
história, uma batalha entre a Enterprise e as naves Son’a é travada para assegurar
a permanência da população que habita aquele planeta. Outro fator importante,
por consequência da remoção forçada dos colonos, é uma menção ao holocausto,
ressaltando que, com o passar dos séculos, ainda são cometidas injustiças.
É com essa visão que o espectador deve mergulhar na narrativa. Questões
ideológicas, diferenças políticas e a arbitrariedade cometida na retirada forçada
de um povo de sua terra por interesses de um grupo mais poderoso — esses elementos, por si só, tornam Insurreição um dos melhores roteiros da saga Star Trek.
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Há fãs que reclamam, achando que o filme se comporta como um episódio
para TV estendido, por causa da transição da história e do desenrolar dos fatos,
mas não é nada que desmereça a qualidade de produção, direção, fotografia e a
excelente trilha sonora de Jerry Goldsmith. Para a realização de alguns efeitos
especiais exigidos pelo roteiro, o diretor Frakes e sua equipe de produção tiveram
de procurar uma nova companhia de efeitos visuais. Dividindo o trabalho, a Blue
Sky Studios e a Santa Barbara Studios foram contratadas para contribuir com
quase todos os efeitos digitais, muitos inéditos na época.
O roteiro, a produção e a interpretação dos atores fazem de Insurreição uma
aproximação com a realidade: quando a ficção toca quem está assistindo a obra,
esta se torna real.
Antonio Lucas de Oliveira Laynes é analista de sistemas, advogado especialista em Direito Digital,
membro da Federação dos Planetas Unidos (www.federacao.org) e criador do portal Jornada nas
Estrelas (www.jornadanasestrelas.com).
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Curiosidade
Na 2ª temporada, os episódios perpetuaram de vez a série. Fica difícil destacar os principais capítulos, pois quase todos se tornaram clássicos e serviram de base para diversas tramas futuras, inclusive em outros produtos da franquia. Algumas notas: o oficial
russo, senhor Checov (Walter Koenig), surgiu logo no primeiro episódio, Dia das Bruxas;
o episódio Nômade serviu de base para a trama do primeiro longa; e Tempo de Loucura apresenta o pon farr (o ciclo de acasalamento dos vulcanos), em que é possível
constatar toda a emoção reprimida no pretensamente insensível senhor Spock.
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Jornada nas Estrelas — nemesis
(Star Trek: Nemesis) de stuart Baird (Eua, 2002).
Com Patrick Stewart, Jonathan Frakes, Brent Spiner, LeVar Burton, Michael Dorn, Marina Sirtis,
Gates McFadden, Tom Hardy, Ron Perlman, Shannon Cochran, Dina Meyer, Jude Ciccolella, Alan
Dale, John Berg, Michael Owen, J. Patrick McCormack, Wil Wheaton, Majel Barrett.
Ficção científica. Sinopse: O capitão Jean-Luc Picard (Patrick Stewart) e a tripulação da
Enterprise saem em missão diplomática para assinar a paz com os romulanos. Porém, são obrigados a enfrentar uma ameaça que pode destruir a Terra. Picard se depara com o mais difícil de
seus adversários: uma réplica de si mesmo. 116 minutos. 12 anos.
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Canção de despedida
por Zeca Seabra
Quatro anos após o lançamento de Insurreição, os fãs de Star Trek exigiam um
novo filme que fizesse jus à série. Era o ano de 2002, e o cinema norte-americano
agitava-se diante do aparecimento de novas franquias, como Harry Potter (20012011) e O Senhor dos Anéis (2001-2003), que apresentavam personagens envolvidos em sagas fantásticas e efeitos especiais marcantes que revolucionaram o
gênero da fantasia e da ficção científica. Era desafiadora a responsabilidade dos
produtores em apresentar algo grandioso para o público trekkie.
No entanto, Nemesis foi considerado o pior exemplar de toda a franquia em
termos de bilheteria e recebeu críticas bem negativas por parte da imprensa e
do público em geral. Os fãs em fúria acusavam o diretor Stuart Baird de falta de
intimidade com o universo trekkie, o que transformou o longa em uma sucessão
de cenas que carecem de sentido. A acusação procede até certo ponto, pois Baird,
que tinha dirigido apenas dois longas anteriormente, nunca viu filme algum da
série e tem como sua zona de conforto a sala de montagem. O resultado dessa
relação com a edição ficou estampado nas boas sequências de perseguições de
jipes, brigas tradicionais, tiroteios e explosões elaboradas, além de um sensacional choque entre as duas gigantescas naves estelares (Enterprise e Cimitarra).
Mas a verdade é que este último exemplar de A Nova Geração foi subestimado, não por suas qualidades técnicas ou pela sua trama carregada de mensagens
enaltecedoras, mas, sim, pela necessidade de renovação de uma série que atravessou gerações, mas demonstrava visíveis sinais de desgaste.
Desta vez, o capitão Jean-Luc Picard enfrenta Shinzon, um vilão que é cópia
perfeita de Picard quando jovem — com um diabólico plano de destruição que
ameaça suas convicções. O roteirista John Logan (outro sem nenhuma familiaridade com o universo de Star Trek) aposta nos conflitos emocionais e preenche a
trama com mensagens que falam da importância da família, do sentimento de
um filho rejeitado, da influência do perdão e dos laços de amizade, colocando
os tripulantes da Enterprise em um enredo semelhante ao de Juventude Transviada (1955), de Nicholas Ray, só que ambientado no espaço sideral. Além de
tudo, o longa possui um tom obscuro e sinistro, com cenários expressionistas que
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remetem ao clássico Metrópolis (1927), de Fritz Lang, e um figurino extravagante
que mais parece uma mistura de Matrix (1999), dos irmãos Wachowski, com Hellraiser — Renascido do Inferno (1987), de Clive Barker. Essa salada de conceitos tão
díspares foi uma das causas da indignação e da revolta dos fãs.
Mas essas características não retiram do filme a sua porção sedutora. Nemesis
diz adeus ao elenco e à equipe de A Nova Geração de uma forma muito adequada,
não deixando pontas soltas e abrindo espaço para uma nova abordagem — embora haja uma leve promessa de continuação. O sacrifício do androide Data e o
desmembramento da tripulação da Enterprise (casamento do comandante Riker
com a conselheira Troi e a posterior transferência de Riker para a USS Titan) celebram esta canção de despedida de forma grandiosa, em escala galáctica, como
sugere o slogan do filme: “A última jornada de uma geração começa”.
Zeca Seabra é terapeuta com formação profissional em arteterapia e psicomotricidade, crítico de
cinema, colaborador do Almanaque Virtual (www.almanaquevirtual.com.br) e integrante da ACCRJ
(Associação dos Críticos de Cinema do Rio de Janeiro).
64
Curiosidade
Na 3ª temporada, parece que algum campo de força bloqueou as mentes dos roteiristas.
O episódio O Cérebro de Spock é exemplo da péssima qualidade das historietas —
Spock é lobotomizado sem perder um fio de cabelo. Fora isso, parecia que os tripulantes
estavam mais preocupados em olhar as mulheres em trajes espaciais. Houve alguns
raros episódios brilhantes, como Síndrome do Paraíso, Não há Beleza na verdade?, A
Teia Tholiana e Réquiem para Mathusalém. Um dos motivos para essa queda foi o roteirista Fred Freiberger passar a ser produtor da série. Apesar de antenado com a ficção
científica, Freiberger não entendia o espírito de Star Trek. O criador Gene Roddenberry
ainda se ofereceu para voltar ao cargo, mas não se chegou a um acordo. O golpe de misericórdia veio com a substituição do diretor de fotografia Gerald P. Ferry (responsável
pelo visual da série desde o 3º episódio) por Al Francis. A missão de cinco anos da U.S.S.
Enterprise chegara a um final prematuro. Os klingons festejaram.
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star trek
(Star Trek) de J.J. abrams (Eua, 2009).
Com Chris Pine, Zachary Quinto, Leonard Nimoy, Eric Bana, Bruce Greenwood, Karl Urban, Zoe
Saldana, Simon Pegg, John Cho, Anton Yelchin, Ben Cross, Winona Ryder, Chris Hemsworth,
Jennifer Morrison, Majel Barrett.
Ficção científica. Sinopse: Este 11º longa-metragem da franquia Star Trek gira em torno
dos principais personagens da série clássica, mas com um novo elenco. O filme acompanha a
admissão de James T. Kirk (Chris Pine) na Academia da Frota Estelar, seu primeiro encontro com
Spock (Zachary Quinto) e suas batalhas com romulanos provenientes do futuro, que interferem
na história. 127 minutos. 12 anos.
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O início de uma Nova Era
por Carlos Alberto Machado
Gene Roddenberry, também conhecido como Grande Pássaro da Galáxia, espantou com sua audácia, em pleno final do século XX, por imaginar um mundo utópico onde não existia mais o capitalismo, o dinheiro, a pobreza ou a fome e
onde todos trabalhavam por prazer. A igualdade de etnias já dentro da ponte de
comando daquela nave, que lembrava um enorme e lindo navio, trazia questionamentos sociais que em muitos lugares abalaram a sociedade. Não foi à toa que
o cineasta J. J. Abrams aceitou o desafio de mexer em uma franquia que já durava
décadas, mas que a essa altura já tinha demonstrado, para os padrões americanos
de audiência, um certo cansaço, e buscou refazer a série clássica de Star Trek no
cinema. Aceito o desafio, o que Abrams poderia trazer de inovação? O que poderia fazer em uma sociedade acostumada com filmes de ficção científica em que
as descrições acima já não são mais novidades? Afinal, tinha que lidar com dois
tipos de público, os antigos fãs da franquia e os novos a conquistar, para manter
a audiência necessária. Percebendo isso, resolveu mexer sem dó nem piedade em
símbolos fortes que a série costumava trazer: destruiu Vulcan (o planeta natal
dos alienígenas vulcanos); matou a mãe terrestre de Spock; aumentou consideravelmente o tamanho, a potência e o poder de fogo da USS Enterprise NCC1701,
entre muitas outras pequenas mudanças.
Em contrapartida a toda essa ruptura no cânone da série, ele encontrou atores que representam os jovens comandantes de maneira magistral, os trejeitos do
Capitão Kirk, os resmungos do doutor McCoy, a beleza de Uhura, os sotaques inesquecíveis do engenheiro Scotty e do navegador Checov. Foi estupendo ver como
James T. Kirk burlou o programa Kobayashi Maru elaborado pelo gênio de Spock.
O toque particular de Abrams com imagens em estilo videoclipe, letras metálicas
em 3D para localização geográfica e flashbacks mostrados de uma nova maneira
trouxeram um novo estilo a uma roupagem já desgastada pelo tempo.
A engenharia poderia ter sido mais futurista, mas Abrams preferiu ver os
tonéis aluminizados de uma cervejaria relacionados à nostalgia da década de
60, quando a série original foi criada. Nesse sentido, seu respeito com esses detalhes proporcionou êxtases delirantes quando o piloto Sulu acionou o manche
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“cromado” de bordo para entrar em velocidade warp — aliás, que velocidade... O
ponto alto do filme, sem dúvida, foi trazer Leonard Nimoy para interpretar de forma
magistral o tão querido e amado Spock, para passar o bastão ao ator Zachary Quinto (que não consegue fazer o sinal clássico com as mãos de vida longa e próspera).
Foi o toque de Midas para a franquia que agora promete crescer ainda mais.
Carlos Alberto Machado é articulista do portal Jornada nas Estrelas (www.jornadanasestrelas.
com), escritor de ficção científica, fundador da Federação dos Planetas Unidos, um clube de ficção
científica, ciência e tecnologia, membro fundador da Confraria de Escritores de Ficção Científica e
professor universitário na Unicentro.
68
Curiosidade
Em junho de 1971, um grupo de fãs de ficção científica fez uma modesta reunião
numa biblioteca pública de Nova Jersey para homenagear Jornada nas Estrelas. O
evento foi um sucesso e logo veio a ideia de organizar algo maior. O programa aconteceu no Auditório Gershwin, em Nova York. O local ficou pequeno para tanta gente.
Era impossível entrar no auditório. Assim, acabou nascendo a ideia de fazer uma
convenção. Ela aconteceu em 1972. E lançou moda. Camisetas, broches, adesivos, pôsteres e outros itens artesanais foram vendidos. Da noite para o dia, surgiam fãs. Com
o tempo, as convenções também passaram a contar com a presença de integrantes do
elenco da série e do criador Gene Roddenberry. Com isso, não estava longe o dia em
que a Enterprise e sua tripulação, mais uma vez, voltariam ao espaço.
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Além da escuridão — star trek
(Star Trek Into Darkness) de J.J. abrams (Eua, 2013).
Com Chris Pine, Zoe Saldana, Zachary Quinto, Alice Eve, Karl Urban, Simon Pegg, Anton
Yelchin, John Cho, Peter Weller, Nolan North, Bruce Greenwood, Nazneen Contractor, Heather
Langenkamp, Jon Lee Brody, Noel Clarke.
Ficção científica. Sinopse: Quando a tripulação da Enterprise é chamada de volta para
casa, descobre que uma força de terror incontrolável, de dentro da própria organização, detonou a frota e tudo aquilo que ela representa, deixando nosso mundo em situação de crise.
Tendo contas pessoais a ajustar, o Capitão Kirk lidera uma caçada humana num mundo em
zona de guerra para capturar um homem que é por si só uma arma de destruição em massa.
Na medida em que nossos heróis são lançados em um jogo de xadrez épico de vida ou morte,
o amor será contestado, amizades serão rompidas e sacrifícios terão de ser feitos pela única
família que Kirk ainda tem: sua tripulação.
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Onde nenhum diretor jamais esteve
por Mario Abbade
O novo Além da Escuridão – Star Trek comprova que J.J. Abrams conseguiu o que
parecia impossível: unir todo o universo da franquia sem atrair a ira dos fãs — que
levam muito a sério o assunto e não costumam ser tolerantes com o que consideram infidelidade. J.J. fez uma reciclagem de temas, conflitos e personagens. E obteve o que muitos filmes recentes não alcançaram: pegou uma mitologia incrustada
na cultura pop, fortemente associada a atores diferentes dos que dispunha e, de
alguma forma, fez com que todos se importassem como antes, colocando o entretenimento de qualidade para caminhar lado a lado com a inteligência.
No primeiro filme que assinou, o diretor alterou a linha do tempo e fez a introdução de personagens famosos da série, optando por contar de onde eles vieram e
como se tornaram cadetes, até virarem heróis. Neste, J.J. esmiúça como as relações
de respeito, amizade e carinho entre eles foram pavimentadas. O diretor usa o passado para criar algo novo. Presta uma grande homenagem à série, aos filmes e aos
personagens. Se já tinha adiantado isso em relação a Kirk e companhia, ele agora
causa impressão com outro ícone da franquia, o vilão Khan, o mais famoso de Jornada nas Estrelas, que ganhou uma roupagem completamente diferente na ótima
interpretação de Benedict Cumberbatch (o Sherlock Holmes do seriado homônimo
atualmente no ar na TV). O caso é o mesmo do Coringa de Batman, que, quando
feito por Jack Nicholson no filme de Tim Burton, em 1989, parecia imbatível, até
que Heath Ledger se apossasse do personagem na trilogia criada por Christopher
Nolan. Este, por sinal, também foi uma influencia para J.J., não só nos temas, mas
também nas belas imagens capturadas em IMAX, depois que o diretor de Star Trek
assistiu, a convite do próprio Nolan, a O Cavaleiro das Trevas Ressurge.
Apesar das várias referências que vão emocionar os fãs de primeira hora, Into
Darkness também foi concebido para entreter o público que nunca foi ligado a esse
universo. É um filme de ação feito com habilidade — um filme em que a ação está
sempre a serviço da trama. É interessante que J.J., junto com o diretor de fotografia
Dan Mindel, use o mínimo possível de truques de CGI nas cenas que envolvem
atores e movimento — e, com isso, obtenha uma boa dose de realismo, mesmo nas
sequências mais fantasiosas. Percebe-se que há uma aura de tensão constante sem
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que ela seja gratuita ou interfira na trama.
Um grande mérito é que o novo filme faz exatamente o que a série sempre fez:
usar um cenário futurista para fazer um comentário contemporâneo sobre algum
tema em voga na sociedade — no caso, o terrorismo; suas causas e consequências; a
legitimidade, ou não, de se criar uma guerra com o objetivo de eliminar uma ameaça
futura; a necessidade bélica do ser humano; os limites do militarismo; e os que servem à guerra ao terror. Into Darkness apresenta alguns conflitos morais complexos,
como os bons roteiros de Star Trek sempre fizeram. Um dos questionamentos parte
de uma intenção de se matar um homem sem um julgamento justo, sob a alegação
de que ele é terrorista. O filme é, em última instância, uma alegoria transparente de
uma reação desproporcional contra um ato de terror. Bem de acordo com as crenças
de Gene Roddenberry, a narrativa se concentra nos valores humanos e no papel do
indivíduo dentro da sociedade. E, mesmo com tudo de espinhoso que o filme retrata,
a visão otimista de Roddenberry está presente. Em Star Trek, o futuro convive bem
com o passado: naves sobrevoam a cidade de São Francisco, enquanto os nostálgicos
bondinhos continuam lá servindo a população.
J.J. demonstra que, até a chegada desse otimismo, não foi fácil e houve uma longa
caminhada. O roteiro de Roberto Orci e Alex Kurtzman recebeu um tratamento de primeira de Damon Lindelof, parceiro de longa data do diretor e também um dos responsáveis
pelo fenômeno Lost na TV. Outra característica desse estilo de roteiro, que também esteve
presente em Os Vingadores, sucesso no ano passado, é o aprendizado de lições de vida por
parte dos personagens icônicos, como a do papel de um líder, para Kirk, e a da complexa
fronteira entre a lógica e a sensibilidade, para Spock, isso tudo entre outros temas que se
prestam ao escrutínio, como a amizade, a lealdade, a ética e as regras. Por trás da mensagem de “explorar novos mundos”, existe o descobrir a si mesmo.
A descoberta de Spock é um tema à parte. O ator e diretor Leonard Nimoy, apesar
de muito grato à sua vida profissional e de ser um entusiasta de Jornada nas Estrelas,
logo quando a série clássica foi cancelada, foi o que mais renegou seu passado a
serviço de seu personagem (inclusive, com o livro Eu Não Sou Spock). Mas é ele a
ponte para a chegada do novo elenco. Esta é sua oitava participação em um filme
da franquia feito para o cinema. São as ironias do destino — que é altamente ilógico.
O mestre de J.J., o cineasta Steven Spielberg, também recebe seu tributo, engendrado
na cena inicial — uma clara homenagem ao começo de Caçadores da Arca Perdida. Não é à
toa que a célebre revista Cahiers Du Cinéma aponta J.J. Abrams como legítimo sucessor de
Spielberg. E J.J. já deu mostras de que pode ir além: onde nenhum diretor jamais esteve.
72
Curiosidade
A Filmation Associates, empresa de animação, convidou Roddenberry para ser consultor
executivo da nova série animada que contaria com as vozes do elenco original da série.
O time de roteiristas dos episódios animados incluía pessoas que já haviam contribuído
com roteiros para a série original. Finalmente, sete anos após o dia em que Jornada
nas Estrelas fez sua estreia na NBC, o primeiro episódio da nova série animada foi ao
ar na mesma rede de televisão. Por causa da temática limitada da maioria das séries
animadas na televisão na época, os episódios foram extremamente bem executados,
tanto em termos visuais quanto no conteúdo das histórias, retratando de forma realista
a tripulação da Enterprise. A série animada teve 22 episódios exibidos de 12 de outubro
de 1974 até as reprises da NBC em setembro de 1975. E ganhou um prêmio Emmy como
melhor série para crianças da temporada televisiva de 1974-75.
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76
o maior herói do espaço
por Mario Abbade
Se Darth Vader é o maior vilão da ficção científica, com certeza o Capitão Kirk é
o maior herói. Que não fiquem chateados Flash Gordon, Buck Rogers, Paul Usul
Muad’Dib Atreides, Tenente Ripley, Rick Deckard, Sarah Connor, Luke Skywalker,
Obi-Wan Kenobi ou qualquer outro que venha à mente, mas os números comprovam: Kirk é o melhor estatisticamente em todos os campos de comparação.
O único que poderia chegar perto seria Han Solo, mas infelizmente sua única
característica em comum com Kirk é a malandragem e o jeito “pegador”. Ainda
tem alguns que procuram encontrar um substituto à altura para Kirk nos outros
produtos da franquia Jornada nas Estrelas. Mas, se a turma citada acima não consegue fazer frente, quanto mais Picard e companhia.
O capitão James Tiberius Kirk já nasceu com nome de herói. Sempre transformou a ameaça de morte numa chance de vitória, pois não acreditava em derrota. Por sinal, a palavra “derrota” nunca fez parte de seu vocabulário. No último
segundo, Kirk tomava a decisão certa e salvava a humanidade mais uma vez.
Tudo bem que ele tinha uma ajudinha e tanto de Spock, doutor McCoy e outros
de sua tripulação, mas isso todos os outros heróis do espaço também tiveram
de seus companheiros. O que diferencia Kirk do resto é a sua personalidade e a
capacidade de usar qualquer coisa para vencer. O cara chegou a reprogramar o
Kobayashi Maru — teste feito por todos que pretendem comandar uma nave estelar. Essa prova é uma forma de o oficial em treinamento enfrentar um cenário que
é impossível de se vencer — e assim enfrentar a morte. Na noite anterior ao teste,
Kirk deu um jeitinho no simulador, alterando alguns detalhes a seu favor. Assim,
venceu mais uma vez, sendo o único a ter conseguido tal proeza. Descoberta a
malandragem, em vez de ser expulso, ele foi premiado pela solução original.
Os feitos heróicos são tantos que é impossível descrevê-los. Seria necessária
uma enciclopédia inteira para registrar quantas vezes Kirk salvou a humanidade. Além de usar de forma brilhante o cérebro, toda vez que é imprescindível,
o capitão sempre usou os punhos. E cansou de vencer oponentes muito mais
fortes do que ele. Nem os klingons, povo conhecido por suas habilidades guerreiras, conseguiram derrotá-lo em combate. Não bastasse essa união perfeita entre
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inteligência e força, o sujeito tem o recorde de maior pegador da galáxia. Não importava a forma ou o jeito, se fosse uma espécie feminina, Kirk traçava sem perdão. Seres esquisitos, alienígenas e, especialmente, as mulheres não conseguiam
resistir a suas cantadas com aquele sorrisinho pilantra “à la” Nelson Rodrigues.
A única que conseguiu roubar seu coração foi a Enterprise, sua nave. Era tratada com mais carinho do que as conquistas amorosas. Fora isso, sua outra paixão
era o espaço. Diante de todas essas características, o desejo de qualquer fã de
ficção científica é ser igual ao capitão Kirk. Mas, já que isso é impossível, podemos
admirá-lo como uma espécie de pai aventureiro. Aquele pai que nunca substituirá
o de carne e osso, mas que, no mundo da imaginação, sempre estará pronto a nos
salvar dos mais diversos e misteriosos perigos do universo.
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Curiosidade
Com todo esse sucesso, a possibilidade de trazer a série verdadeira de volta estava
sendo discutida. Gene Roddenberry foi convidado pela Paramount para fazer um filme
para o cinema em 1975. O rascunho do roteiro escrito por Roddenberry partia de um
computador vivo que iria restaurar e devolver Kirk e sua tripulação à idade que tinham
quando completaram a sua missão — e foi rejeitado pela Paramount. A data de lançamento foi adiada para 1976. O projeto acabou transformado em filme para a televisão.
Mais discussões e o filme voltou para o cinema com um orçamento de US$ 8 milhões. O
estúdio ficou entusiasmado quando 400 mil cartas, recebidas em Washington, pediram
que a Nasa rebatizasse o primeiro ônibus espacial com o nome Enterprise.
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a música das esferas
por Sylvio Gonçalves
Ao assistir a Star Trek, de J. J. Abrams, muitos fãs estranharam o uso de um tema
principal inédito. Para eles, a fanfarra de Jerry Goldsmith deveria continuar como
a assinatura musical da série. O fato é que, diferentemente de Star Wars ou Indiana Jones, a franquia Star Trek possui mais de uma marca sonora, que pode variar
de tripulação em tripulação e até mesmo de filme em filme.
Tendo concebido a série Jornada nas Estrelas (1966-1968) como um faroeste
espacial, Gene Roddenberry encomendou a Alexander Courage uma música que exprimisse pioneirismo. O compositor, que admitiu ter se inspirado na canção Beyond
the Blue Horizon, lançada originalmente na trilha do filme Monte Carlo (1930), de
Ernst Lubitsch, elaborou uma melodia intimista e paradoxalmente nostálgica.
Em 1979, Goldsmith tomou a direção oposta com uma grandiloquente fanfarra wagneriana para Jornada nas Estrelas — o Filme. Engendrava uma identidade
musical para a franquia, que recorreria sempre à inspiração erudita. Curiosamente, ele entregou a orquestração a Courage, cedendo-lhe espaço para arranjar e
reger o seu tema, que sublinha as duas cenas na qual Kirk narra o diário de bordo.
A Ira de Khan abre com os primeiros acordes de Courage, cuja atmosfera
exploratória é a seguir emulada pela bela melodia composta por James Horner.
Em 1984, ao retornar para À Procura de Spock, Horner concedeu unidade a ambos
os filmes, enfatizando o arco dramático de morte e ressurreição. Já, em 1986, A
Volta para Casa buscou um público mais amplo com um enredo de tons cômicos,
amparando-se no tema de Leonard Rosenman que, leve e animado, chega a lembrar uma marcha circense.
Depois de ceder seu tema para a série A Nova Geração, Goldsmith voltou à
franquia. Ele abre A Última Fronteira com os acordes iniciais de Courage, prossegue com uma versão curta e vibrante de sua fanfarra e finaliza com The Mountain,
tema das elucubrações metafísicas do enredo.
Para A Terra Desconhecida, Cliff Eidelman compôs não um, mas dois temas
principais, a abertura tensa, moldada na suíte Os Planetas, de Gustav Holst, e
o encerramento heroico que marca a despedida dos atores originais. Em 1994,
os personagens de A Nova Geração fizeram seu début no cinema — e, com eles,
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Dennis McCarthy, compositor de episódios da série. McCarthy seguiu o exemplo de
Eidelman, compondo um tema tenso e um utópico para Generations, mas não empolgou os fãs acostumados à reutilização da fanfarra de Goldsmith. Este retornou à
franquia em 1996, com Primeiro Contato, para o qual fez uma encantadora melodia
bucólica. Mas a sua fanfarra está presente nos créditos finais, bem como na abertura de Insurreição. Em 2002, com Nemesis, o compositor encerrou sua participação na
franquia com uma das trilhas mais ricas da fase final de sua carreira.
Em 2009, para o reboot Star Trek, Michael Giacchino criou uma composição
marcial e heroica que nada fica a dever aos compositores brilhantes que o precederam. Em 2013, com Além da Escuridão, ele prossegue com a missão desse
talentoso grupo de compositores, a de provar que o universo imaginado por Roddenberry é rico e variado demais para se apoiar num único tema principal.
Sylvio Gonçalves é escritor. Autor dos livros infanto-juvenis Liberdade Virtual (Saraiva), Saci à
Solta (Saraiva) e Três Vinganças (Atual). Escreveu os filmes Sem Controle (2007), S.O.S. – Mulheres Ao Mar (2014) e seis episódios de As Brasileiras (2012). Um de seus primeiros textos,
publicado em 1991 na Isaac Asimov Magazine (Record), foi uma matéria em homenagem aos 25
anos de Jornada Nas Estrelas: A Série à Beira da Eternidade.
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Curiosidade
Em meados de 1977, o filme foi programado para a televisão de novo, com o nome
Jornada nas Estrelas — Fase II. O design do interior e do exterior da U.S.S. Enterprise
foi atualizado. O elenco original fechou o acordo — com exceção de Leonard Nimoy,
que estava em meio a uma temporada de sucesso da peça Eqqus, na Broadway. Em 11
de novembro de 1977, o filme tornou-se definitivamente cinema, com um orçamento
multimilionário e batizado de Jornada nas Estrelas – O filme. O premiado Robert
Wise foi contratado para a direção, e Leonard Nimoy, por fim, concordou em voltar a
viver Spock. Alguns dizem que o fenômeno Guerra nas Estrelas ajudou a Paramount
a abrir os cofres para o filme de Wise. O filme não fez o sucesso esperado, mas é considerado um dos mais audaciosos e importantes filmes de ficção científica do final da
década de 70, já que a maioria das outras produções do mesmo gênero estava mais
preocupada com ação e efeitos especiais.
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Universo pop: o mito Jornada nas Estrelas e seus
desdobramentos no cotidiano
por Octavio Aragão
1 • O desígnio do amanhã
A culpa é do Wah Chang. Se você não sabe quem é o humano portador desse
nome cacofônico, corra e vá fazer o dever de casa, pois Chang foi o artista plástico
responsável pela maquete usada pelos animadores de Pinocchio, da Disney, e pelo
inesquecível (e exagerado) adereço de cabeça da Cleópatra vivida por Elizabeth
Taylor. Foi ele que, num surto de criatividade, deu vida a diversos monstros e criaturas bizarras que apareceram na série A Quinta Dimensão, e, por isso, foi convidado
a participar da equipe de criação de Star Trek, como designer.
Chang é o criador de monstros como o vampiro de sal e o Gorn, aquele réptil
humanoide que deu trabalho a Kirk no episódio Arena e que agora foi redesenhado
para ser o antagonista no game baseado no novo filme. Mas seus trabalhos mais
famosos foram o tricorder, o analisador portátil de Spock, e o comunicador, aquele
aparelhinho improvável que fazia ruídos engraçados, quase nunca funcionava a
contento e, entretanto, serviu de base para boa parte dos celulares que usamos
hoje, com destaque para alguns modelos da Motorola.
Depois de Star Trek, Chang trabalhou em outra série cult dos anos 70, O Elo
Perdido, cuidando das animações em stop motion e da concepção dos diversos
dinossauros que interagiam com o elenco, porém, por causa de problemas com o
sindicato na época, ele jamais pôde ter seu nome associado à produção da série
original de Gene Roddenberry. Mesmo sendo o criador de alguns dos melhores
projetos e conceitos apresentados, da Ave de Rapina romulana aos Pingos, bichinhos bonitinhos que infestaram a nave do capitão Kirk e que não passavam de
cachorrinhos de brinquedo cobertos por uma pelagem macia, o havaiano manteve sua participação em segredo até o ano de 1970, quando foi publicado o livro
Inside Star Trek: The Real Story, de Solow e Justman, que deram o crédito a quem
realmente merecia.
A história de Wah Chang serve como alegoria da relação ideal entre os designers e o mundo. Para a maioria dos desenhistas industriais da velha guarda, a
identidade do criador não deve sobrepujar o produto final e o cliente para o qual
foi projetado. O reconhecimento pessoal é secundário e o dono da ideia deveria
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se dar por satisfeito em ter sua concepção eternizada na memória do público. É
até curioso pensar nisso, pois, como bem aponta o autor Stephen King, num comentário crítico sobre a versatilidade dos temas abordados por Roddenberry na
série, a busca pelo criador é um tema recorrente em Star Trek, que mostra diversas
representações de divindades portadoras de um ego descomunal. Talvez por isso
o tricorder e o comunicador, que perpetuaram suas formas e muitas de suas funções nos iPads e celulares, sejam hoje partes indissociáveis não apenas da cultura pop, mas de nosso mundo real. Nesse sentido, Chang pode ser considerado
tão influente quanto um Richard Starck ou os irmãos Campana, ícones do design
mundial, pois, assim como eles, ajudou a formatar uma visão de futuro possível
por intermédio de seus gadgets.
2 • Quadrinhos e filosofia
Outra mídia na qual Jornada nas Estrelas teve uma influência razoável foi a das
histórias em quadrinhos, sendo publicada por diversas editoras norte-americanas,
da Gold Key à Marvel, passando por DC, Malibu, Wildstorm e até pela japonesa
Tokyopop e a contemporânea IDW, que segue com as viagens da tripulação da
Enterprise, incluindo uma adaptação tardia do longa A Ira de Khan e do remake de
2009, dirigido por J. J. Abrams.
Nessas publicações, os roteiristas não perdem a oportunidade de desenvolver detalhes pouco explorados nas diversas produções televisivas e cinematográficas, tais como as histórias não contadas da tripulação capitaneada por Cristopher Pike, o comandante que antecedeu Kirk, na série Early Voyages, ou até da
Academia da Frota Estelar, que forma os oficiais daquele futuro. Essas prequels em
quadrinhos permitiram um maior desenvolvimento de personagens e conceitos
antes apenas sinalizados, tais como a cultura e filosofia dos alienígenas romulanos ou o desenvolvimento das carreiras militares de alguns dos coadjuvantes,
sendo Sulu o mais notável.
Todas essas revistas em quadrinhos, escritas por roteiristas de talento como
Peter David e Len Wein, veteranos do mercado americano, apesar de atingirem
uma parcela menor do público, funcionaram para reforçar o sentimento de que
Star Trek era um universo coeso e crível, maior que sua encarnação televisiva ou
cinematográfica, e sedimentando o ideal de um futuro com clara influência do
positivismo propagado pelo filósofo Auguste Comte, no qual ordem e progresso
andam de mãos dadas em prol de um futuro limpo e honesto (não é à toa que a
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saudação vulcana é “paz e prosperidade”, muito próxima do lema positivista presente na bandeira do Brasil). Filosofia, aliás, foi um elemento recorrente por toda
série, que citou Spinoza e desenvolveu à exaustão temas presentes nas obras de
Platão, Kant e Schopenhauer — nas aventuras do Capitão Pike, por exemplo, o
conceito platônico do Mito da Caverna, inicialmente apresentado no piloto A Jaula, ganha contornos mais amplos —, sem falar na perceptível base socrática, que
enfatiza a lógica acima de tudo, fundamento da personalidade de Spock.
3 • Moda, modos e mudanças
Vestir o futuro não é coisa fácil. Basta assistir a um desfile de modas contemporâneo para perceber que o termo “tendência” é um exercício especulativo que
engloba áreas tão diversas quanto economia, psicologia e história da arte. Se
um estilista contemporâneo necessita de tantos conhecimentos, imagine um figurinista de Star Trek, que tem como missão antecipar o que as pessoas vestirão
daqui a três séculos ou mais.
Os uniformes da série clássica foram projetados visando sua praticidade
cênica, pois em diversos casos eram confeccionados com diversas partes mal
cerzidas, visando criar efeitos dramáticos, como, por exemplo, rasgar a manga da
camisa de um enlouquecido capitão Kirk para injetar um anestésico. Foram esses
uniformes que fizeram sucesso quando a primeira de uma longa série de bonecos
articulados baseados nos personagens chegou às lojas, em 1974, pela empresa
Mego, reprisando a tessitura dos tecidos e até mesmo os acabamentos de costura.
As crianças, então público principal, podiam trocar as roupas dos bonecos, que
tinham cerca de 20 centímetros de altura e poucas articulações. Apesar da baixa
durabilidade dos brinquedos, que costumavam quebrar as juntas em pouco tempo, essa série foi considerada, juntamente com a de G.I. Joe, conhecida no Brasil
como Comandos em Ação, responsável pelo início da febre daquelas que viriam
a ser conhecidas como action figures, bonecos relacionados a séries de TV, desenhos animados e filmes de sucesso. Hoje, esses brinquedos geram uma receita
de milhões de dólares e se tornaram itens de colecionador. E as crianças não são
mais o único público-alvo.
Quando a série migrou para o cinema, no final dos anos 70, as roupas sofreram um upgrade conceitual, abandonaram as cores básicas e assumiram tonalidades diversas, que iam do branco ao vinho, assumindo um corte militar, com
dragonas estilizadas nos ombros e elementos em ouro e prata, que antes eram
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apenas detalhes de menor importância, distribuídos com maior regularidade pelo
figurino criado por Michael Kaplan.
No decorrer da cinessérie, os uniformes sofreram pequenas alterações, visando sedimentar uma identidade visual que fosse tão impregnante quanto as
camisetas clássicas, mas que respeitassem a idade do elenco e as patentes dos
personagens, quase todos comandantes de suas próprias naves. Esse foi um caminho difícil, pois em sua essência Jornada nas Estrelas é uma série de aventura
— algo intelectualizada, é verdade, mas dependente de muitas cenas de ação e
confrontos físicos, o que exigiria um uniforme que permitisse saltos, malabarismos e lutas.
O equilíbrio entre a sobriedade militar e a maleabilidade atlética tornou-se
cada vez mais difícil, mas a solução surgiu quando estreou a segunda série cinematográfica, A Nova Geração, que apresentou uma elegante versão dos uniformes
clássicos, agora transformados em macacões inteiriços. Infelizmente, essas vestimentas eram tão apertadas que, depois de duas temporadas, foram abandonadas
em prol de uma versão “calça-camisa”, que demonstrou ser, além de mais confortável, perfeita para cenas de ação. Os velhos uniformes, entretanto, continuaram a
aparecer na série, geralmente vestidos por figurantes, ajudando a criar um senso
de continuidade e lógica interna. Como o uniforme de A Nova Geração não tinha
cintos nem bolsos, tornou-se um ícone do desconforto na opinião do elenco, e,
em séries posteriores, principalmente em Enterprise, o cuidado com os intérpretes
tornou-se prioridade.
Um detalhe interessante a respeito do vestuário da série clássica era o cinto,
que, com o decorrer das temporadas, permitia certo despojamento da parte dos
atores em relação aos objetos de cena. Em pouco tempo, o cinto passou a ser um
“portas-treco”, carregando o comunicador, o phaser e outras bugigangas eventuais, o que tornava mais natural a interação entre os atores. Foi durante essas
interações que Leonard Nimoy desenvolveu o gestual vulcano, a começar pela
saudação que significa “paz e prosperidade”, passando pelo “toque vulcano”, que
desacordava os inimigos, e pelo “toque mental”, que permitia um tipo de telepatia
com qualquer ser vivo.
Os costumes vulcanos e seus diversos rituais táteis inventados por Nimoy
logo caíram no gosto do público e, assim como o uniforme clássico — que chegou a ser inspiração para uma coleção de camisetas na década de 90 por uma
confecção brasileira, a Ravello Modas — tornaram-se símbolos da série e de
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reconhecimento entre fãs, além de fenômenos comportamentais, sendo repetidos em convenções de quadrinhos, ficção científica e cultura pop em geral, transformando e transcendendo os modos em moda e vice-versa.
4 • Ser ou não ser, mas em idioma klingon
Em menor escala, mas exercendo algum impacto entre os fãs mais radicais, o dicionário klingon, desenvolvido por Marc Okrand e originalmente publicado em 1992,
tornou-se um fenômeno localizado, gerando até projetos de edições de clássicos
como Hamlet publicados na língua do povo alienígena que vive no universo de
Star Trek. Há também versões do dicionário em alemão, italiano e tcheco, o que
tornaria o “klingonês” um tipo de esperanto, ou seja, uma língua universal.
Por incrível que possa parecer, e talvez por causa da interpretação inspirada
de um general klingon, leitor de Shakespeare, pelo ator britânico Christopher
Plummer, no longa A Última Fronteira, fundou-se até um Instituto de Linguagem
Klingon, que tomou para si a tarefa de publicar, em 1996, uma edição limitada da
obra com o título Hamlet – Prince of Denmark: The Restored Klingon Version. Pouco
depois, em 2000, a editora Pocket Books, que lançou diversos romances baseados
na série, republicou o livro com acabamento em brochura.
5 • Desdobrando o futuro, agora
De telefones celulares a dicionários, de quadrinhos a iPads, de bonecos a games,
percebe-se que a inconfundível silhueta da astronave Enterprise paira sobre a
cultura pop com uma impregnação típica dos grandes ícones.
Kirk, Spock e McCoy tornaram-se tão próximos de nós como Sherlock Holmes,
Tarzan e James Bond, mas, enquanto os heróis de Doyle, Burroughs e Fleming dialogavam sobre o imediato, o agora, com seus contemporâneos (o.k., concordemos
que no caso de Bond o diálogo ainda acontece, graças à impressionante sobrevida cinematográfica do personagem), a trinca de heróis futuristas vai além, aciona
seus motores de dobra, analisa, influencia e transforma o que é preto e branco
em um universo multicolorido. Pensa, filosofa e inspira, acionando os motores
de dobra, projetando luzes sobre um futuro surpreendentemente pacífico que
insiste em contrariar — e desafia audaciosamente — prognósticos pessimistas.
Octavio Aragão é designer gráfico, doutor em artes visuais, professor de Jornalismo Gráfico da
ECO-UFRJ e pesquisador da UFRJ.
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90
Documentários sobre Jornada nas Estrelas
por Jacqueline Farid
Viajar no tempo e no espaço é privilégio não apenas dos tripulantes da Enterprise,
mas uma prerrogativa dos documentários que, décadas após o fim da exibição da
série, prosseguem investigando os motivos do culto aos seus personagens e confirmando que o interesse por eles sobrevive à passagem dos modismos e dos anos.
Entre as dezenas de filmes do gênero documentário que foram produzidos
tendo a série como tema nos últimos anos, alguns se destacam pela criatividade
na abordagem ou importância como material de reflexão e documento. Acima de
tudo, são cruciais para que os fãs possam acompanhar a trajetória dos principais
atores dos episódios originais ou o que outros aficionados de todo o mundo são
capazes de fazer para manter vivas as histórias.
O primeiro deles, de 1997, é Trekkies. Dirigido por Roger Nygard, o longa é
um divertido e curioso apanhado de fãs de Jornada nas Estrelas espalhados pelo
mundo. O nome que dá título ao documentário refere-se ao apelido pelo qual
são conhecidos os aficionados pela série. A narrativa faz jus ao nome e reúne
desde membros do fã-clube até atores do elenco original, não deixando qualquer
dúvida sobre o poder de influência dos personagens e de suas histórias fictícias
sobre a vida real dos fiéis admiradores.
O sucesso de público e crítica de Trekkies foi grande o suficiente para justificar uma continuação. Esta foi lançada em 2004 e abrange a extensão geográfica
da abordagem, chegando até o Brasil. A sequência, também dirigida por Nygard e
apresentada novamente por Denise Crosby — que interpretou a tenente Natasha
Yar de A Nova Geração —, mostra convenções de fãs em países como França, Alemanha e Iugoslávia, passando também por São Paulo.
Antes do lançamento de Trekkies 2, os fãs de Star Trek foram regalados com
Mind Meld: Secrets Behind the Voyage of a Lifetime. Também produzido nos Estados
Unidos e dirigido por Peter Jaynes, o documentário tem um formato único distinto de todos os docs realizados sobre a série. Os dois principais astros das histórias originais, Leonard Nimoy (senhor Spock) e William Shatner (capitão Kirk) se
encontram numa conversa informal recheada de informações importantes sobre
os bastidores da ficção e as difíceis (mas verdadeiras) trajetórias de vida de cada
91
um. Um inesquecível e revelador encontro, no quintal de Nimoy, no qual os dois
amigos servem um banquete informativo para os fãs.
Já no canadense How William Shatner Changed the World, de Julian Jones, o
eterno capitão Kirk, sempre ele, mostra sua curiosa visão da influência de Jornada
nas Estrelas sobre as tecnologias de hoje, incluindo realidade virtual, propulsão
espacial e artigos amplamente usados no cotidiano, como telefones celulares,
computadores, softwares e iPods. O filme foi encomendado pelo Discovery Channel do Canadá e coproduzido pelo History Channel, nos Estados Unidos, e pelo
canal Cinco, no Reino Unido. Repleto de entrevistas, o documentário comprova a
tese a que se propõe e, apesar de longo, mantém o interesse dos espectadores por
fazer conexões até então impensadas sobre, por exemplo, a invenção do celular e
sua inspiração em um comunicador usado pelos tripulantes.
O mais recente documentário sobre a série é The Captains. Realizado em 2011
e escrito e dirigido por William Shatner, cujo interesse pelo tema parece inesgotável, tem como principal diferencial e atrativo a inclusão de várias imagens
raras da série original. Shatner não mede esforços na tentativa de compreender
o enorme poder do seriado sobre sua carreira e, para isso, viaja a várias locações
para entrevistar seus colegas. Há interessantes depoimentos dos atores Avery
Brooks (capitão Benjamin Sisko), Patrick Stewart (capitão Jean-Luc Picard), Kate
Mulgrew (capitã Kathryn Janeway), Scott Bakula (capitão Jonathan Archer) e Chris
Pine (capitão James T. Kirk, no remake Star Trek). Bem-humorado, o ator, que já
chegou aos 80 anos e, apesar de ter recebido prêmios por atuações em outros
filmes, nunca deixou de ser mais conhecido como o capitão Kirk, conta como ficou
chocado quando foi chamado de senhor Spock por um fã desavisado da série.
Um banquete para os admiradores e um bom ponto de partida para os jovens
curiosos que terão, por intermédio deste documentário, seu primeiro contato com
o universo fascinante de Jornada nas Estrelas.
Jaqueline Farid é jornalista, roteirista e pós-graduada em Cinema Documentário pela Fundação
Getúllio Vargas (FGV).
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Curiosidade
E assim a franquia ressuscitou. A partir daí vieram mais cinco longas com o elenco
clássico: A Ira de Khan (1982), À Procura de Spock (1984), A Volta para Casa (1986),
A Última Fronteira (1989) e A Terra Desconhecida (1991). Finalmente Aposentados,
os personagens clássicos deram lugar ao elenco da nova geração em mais cinco
longas: Generations (1994), Primeiro Contato (1996), Insurreição (1998) e Nemesis (2002). Coincidentemente, os filmes de número par foram os que mais fizeram
sucesso de crítica e público — tirando o 10º e último, realizado pela já conhecida
dupla malsucedida Rick Berman e Brannon Braga, que também conseguiu levar a
franquia para o buraco no cinema. Gene Roddenberry, que morreu em 1991, devia
estar se sacudindo dentro de alguma sonda espiritual com essa dupla chefiando a
sua criação, até que o cineasta J.J. Abrams foi convidado para ressuscitar a franquia
e conseguiu, com um novo elenco, o que parecia impossível: modernizar a criação de
Gene Roddenberry com novas ideias, sem deixar de respeitar os alicerces em que se
baseia todo o universo trekkiano. E, além disso, ele conseguiu reunir um elenco que
manteve a dignidade do anterior.
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William Shatner atrás das grades
por Fernando Ceylão
Eu não estava presente, mas me contaram. Disseram que, numa exibição do filme
A Noiva da Cidade (1978), de Alex Viany, o David Pinheiro apareceu em cena, todo
sério, bom ator, quando alguém gritou “Sambarilove!” na plateia e o cinema veio
abaixo. Veio abaixo junto com as possibilidades de carreira do ator. E tem o Jason
Alexander, eternamente preso ao genial George Constanza, de Seinfeld. No mesmo projeto, ainda vimos Julia Louis-Dreyfuss e Michael Richards aprisionarem
suas carreiras atrás das grades do personagem marcante. Chego a imaginar que
o Roberto Bolaños ande vestido em casa de Chaves. Interpretar um tipo icônico
pode acabar sendo o fim da carreira de um ator. O Richard Dean Anderson ainda
brilhou no seriado Stargate, o.k., mas ele é ou não é o MacGyver?! Claro que é.
Apontávamos nos espectadores de telenovela brasileira o erro de confundir o
ator e o personagem, ignorando que ninguém comete esse equívoco com mais
regularidade que nerds. Ao olhar para o coitado do Mark Hammil, você acha que
eles vêem o cidadão de 70 e poucos anos ou o Jedi Luke Skywalker? Falando em
Guerra nas Estrelas, tem o caso que foge a regra. O do Harrison Ford. Sua carreira
sobreviveu ao Han Solo, ao Indiana Jones e ao Blade Runner. Impressiona. Em
compensação, ele nunca conseguiu deixar de ser Harrison Ford.
Quando realizou o documentário Get a Life, mandando os trekkers seguirem
o conselho dado no título, William Shatner estava, na verdade, pedindo de volta
a própria vida. O pessoal de Jornada nas Estrelas sempre teve opção: eles podiam
continuar em suas obsessões cinéfilas ou cair na real e viver a existência. Ele
não. Com formação shakesperiana e um razoável leque de recursos dramáticos,
Shatner, ainda assim, ficou relegado ao papel de ator de um personagem só. Não
se vive disso. Nem se sobrevive. Mas, aí, olha que grande ideia, que saída inteligente e sutil. Ao compreender seu cárcere profissional, Shatner passou a lucrar
a partir dele. Até aí tudo bem. Nada de mais. Até a prostituta que aliviou o Hugh
Grant numa noite tensa em Hollywood conseguiu seus 15 minutos de grana no
doente entretenimento americano. Shatner transformou a própria limitação em
personagem. “O mundo só consegue me enxergar como James T. Kirk. Como eu
posso arranjar trabalho? Sendo James T. Kirk? Não. A franquia, como nós fazíamos,
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não existe mais. Bem. Então me resta fazer... o papel de mim mesmo, o papel de
ator de um personagem só. O papel de ‘William Shatner’, o cara que ficou marcado como o Kirk.” Não parece sutilmente genial? Ele não é exatamente o cara
que se ridiculariza. Não. Perspicaz, Shatner é o cara que interpreta o “cara que se
ridiculariza”, que capitaliza em cima da própria zombaria. É um pouco diferente
de se ridicularizar de fato. Ele está de fora, se observando. E se interpretando. Ele
não é o Alexandre Frota indo a um programa de televisão contar que virou ator
pornô. Ele está mais pra Sabrina Sato, que chega a ser Fernando Pessoniana de
tão genial: fingindo ser burrice a burrice que deveras tem.
Roast é um programa que só poderia mesmo existir nos Estados Unidos. Celebridades “fritando” celebridades, soltando piadas ofensivas até a medula. Algo
que só em um país que massacrou culturalmente o resto do mundo — hasteando
sua autoestima como uma bandeira de fim de filme de invasão alienígena — pode
ser feito. E, ali, sendo ofendido até a medula, Shatner, o personagem, só faz sorrir
e aceitar: não dói tanto quando se está protegido pelo conforto do entretenimento americano. E por um personagem. Um personagem de si mesmo. Mas um
personagem. Porém, o clímax dessa catarse é o filme Free Enterprise. Ali, “William
Shatner” é realmente um personagem interpretado por William Shatner. E, assistindo ao filme, eu só conseguia pensar em uma coisa: o Eric McCormack, que faz o
personagem principal, é o Will de Will and Grace. É e sempre será. Ícones...
Fernando Ceylão é humorista, autor e diretor de teatro.
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material extra
Episódios dos seriados relevantes para os filmes feitos para
o cinema:
A Jaula
(The Cage) de Robert Butler (EUA, 1964). Com Jeffrey Hunter, Leonard Nimoy,
Majel Barrett, John Hoyt, Peter Duryea, Laurel Goodwin, Susan Oliver, Meg Wyllie.
Ficção científica. Sinopse: piloto original da série de ficção científica Star Trek
e da franquia resultante. Foi completado no início de 1965, porém não foi ao ar
em sua forma completa até outubro de 1988. O episódio foi escrito pelo criador
da série Gene Roddenberry e dirigido por Robert Butler. E foi rejeitado pela NBC
em fevereiro de 1965, mas a emissora acabou ordenando um segundo piloto:
“Onde nenhum homem jamais esteve”. Muitas das imagens originais de The Cage
foram posteriormente incorporadas em duas partes da primeira temporada. Somente nesta versão há um capitão diferente, Christopher Pike, e, com a exceção
do senhor Spock, uma equipe totalmente diferente. A Enterprise recebe o que
parece ser uma mensagem de socorro. Mas, quando chega ao planeta de onde a
mensagem foi enviada, a tripulação descobre que os sobreviventes são ilusões
criadas pelos habitantes do lugar, com o objetivo de capturar um companheiro
para a humana sobrevivente, e o capitão Pike é o escolhido. Enquanto Pike tenta
lidar com os experimentos e testes que os alienígenas farão com ele, sua equipe
tenta encontrar uma maneira de salvá-lo. 64 minutos. Livre.
Semente do Espaço (episódio 24 da 1ª temporada da Série Clássica)
(Space Seed) de Marc Daniels (EUA, 1967). Com William Shatner, Leonard Nimoy, DeForest Kelley, Ricardo Montalban, Madlyn Rhue, James Doohan, Nichelle
Nichols.
Ficção científica. Sinopse: A Enterprise encontra uma nave espacial do século XX que contém dezenas de pessoas em animação suspensa. Enquanto a
tripulação investiga o fato, uma das pessoas é revivida automaticamente. Seu
nome é Khan, um sihk que encanta a historiadora da Enterprise, tenente McGivers. Enquanto se recupera, Khan lê sobre os anos, quase 300 de história que ele
perdeu. E Kirk descobre que ele é um super-homem genético que escapou após
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as Guerras Eugênicas do século XX da Terra. O episódio faz ponte para o longa
“Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan”. 50 minutos. Livre.
O Melhor de Dois Mundos, Parte I (episódio 74 da 3ª temporada de Jornada nas
Estrelas: A Nova Geração)
(The Best of Both Worlds, Part I – Star Trek: The Next Generation) de Cliff Bole
(EUA, 1990). Com Patrick Stewart, Jonathan Frakes, LeVar Burton, Michael Dorn,
Gates McFadden, Brent Spiner, Whoopi Goldberg, George Murdock.
Ficção científica. Sinopse: o almirante J.P. Hanson embarca na Enterprise para
se juntar à investigação de um planeta destruído colonizado pela Federação, suspeitando dos temidos Borgs. Uma enorme nave Borg é encontrada e se envolve
em uma batalha com a Enterprise. O capitão Jean-Luc Picard é convidado para
vir a bordo da nave alienígena para negociações e acaba sendo vítima: querem
transformá-lo num Borg. O episódio faz ponte para o longa “Jornada nas Estrelas
– Primeiro Contato”. 45 minutos. Livre.
O Melhor de Dois Mundos, Parte II (episódio 75 da 4ª temporada de Jornada
nas Estrelas: A Nova Geração)
(The Best of Both Worlds, Part II - Star Trek: The Next Generation) de Cliff Bole
(EUA, 1990). Com Patrick Stewart, Jonathan Frakes, LeVar Burton, Michael Dorn,
Gates McFadden, Brent Spiner, Whoopi Goldberg, George Murdock.
Ficção científica. Sinopse: o comandante Riker não teve escolha e atacou com
força total a nave Borg, apesar de o capitão Picard estar a bordo dela. Picard se
transformou num Borg que chama a si mesmo de Locutus. Com as duas naves danificadas, os reparos de emergência irão demorar muito, e o almirante JP Hanson
anuncia que os Klingons estão vindo para o resgate. O episódio faz ponte para o
longa “Jornada nas Estrelas – Primeiro Contato”. 45 minutos. Livre.
Unificação, Parte I (episódio 107 da 5ª temporada de Jornada nas Estrelas: A
Nova Geração)
(Unification, Part I - Star Trek: The Next Generation) de Les Landau (EUA, 1991).
Com Patrick Stewart, Jonathan Frakes, LeVar Burton, Michael Dorn, Gates McFadden, Brent Spiner, Leonard Nimoy, Stephen Root.
Ficção científica. Sinopse: Picard e Data seguem Spock no espaço romulano
numa perigosa missão. Episódio que faz ponte para o filme “Star Trek” de J.J.
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Abrams. 45 minutos. Livre
Unificação, Parte II (episódio 108 da 5ª temporada de Jornada nas Estrelas: A
Nova Geração)
(Unification, Part II — Star Trek: The Next Generation) de Cliff Bole (EUA, 1991).
Com Patrick Stewart, Jonathan Frakes, LeVar Burton, Michael Dorn, Gates McFadden, Brent Spiner, Leonard Nimoy, Stephen Root.
Ficção científica. Sinopse: Picard tenta ajudar Spock em sua investigação para
determinar o que há de sinceridade por trás dos esforços de unificação dos romulanos, especialmente no caso de um alto funcionário. Episódio que faz ponte para
o filme “Star Trek” de J.J. Abrams. 45 minutos. Livre.
Outras produções:
Trekkies
(Idem) de Roger Nygard (EUA, 1997). Com Denise Crosby, Majel Barrett, James
Doohan, DeForest Kelly, Walter Koenig, Barbara Adams, Dennis Bourguignon, David Greenstein, Gabriel Köerner.
Documentário. Sinopse: filme sobre os fãs do universo Jornada nas Estrelas. 86
minutos. Livre.
Free Enterprise
(Idem) de Robert Meyer Burnett (EUA, 1998). Com Eric Mccormack, Rafer Weigel, Audie England, William Shatner, Phil LaMarr.
Comédia. Sinopse: dois produtores malsucedidos na profissão, numa crise da
meia-idade, não conseguem se libertar de suas obsessões nerds em torno do
universo da ficção científica. De repente, conhecem William Shatner, famoso por
ter interpretado o capitão Kirk. 120 minutos. 14 anos.
Mind Meld: Secrets Behind the Voyage of a Lifetime
(Idem) de Peter Jaysen (EUA, 2001). Com Leonard Nimoy, William Shatner e
Billy West.
Documentário. Sinopse: Leonard Nimoy e William Shatner sentam-se para
conversar sobre os velhos tempos, na época que protagonizaram o seriado Jornada nas Estrelas para a televisão. Antigos ressentimentos sobre o elenco são
abordados. Os dois discutem as pressões de filmar um programa semanal e as
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dificuldades de manter a dignidade como ator. As personalidades de ambos os
homens brilham em torno dos seus personagens: Nimoy é mais ponderado e reservado, enquanto Shatner é extrovertido e vistoso. A melhor parte é testemunhar
o carinho genuíno de um com o outro. 75 minutos. Livre.
Trekkies 2
(Idem) de Roger Nygard (EUA, 2004). Com Vaughn Armstrong, Richard Arnold,
Robert Meyer Burnett, Casey Biggs, John Billingsley, Brannon Braga, Lolita Fatjo,
Leslie Fish, Michael Forest, Richard Herd, Dominic Keating, Denise Crosby.
Documentário. Sinopse: filme sobre os fãs do universo Jornada nas Estrelas, só
que desta vez ao redor do planeta. 93 minutos. Livre.
How William Shatner changed the world
(Idem) de Julian Jones (EUA, 2005). Com William Shatner, Jon Adler, Martin Cooper.
Documentário. Sinopse: William Shatner apresenta um olhar bem-humorado
sobre como o seriado televisivo “Jornada nas Estrelas” influenciou e inspirou a
tecnologia de hoje, incluindo telefones celulares, tomografia computadorizada,
ressonância magnética, computadores e softwares, SETI, MP3 players e iPods, realidade virtual e propulsão espacial a jato. 85 minutos. Livre.
Comedy Central Roast of William Shatner
(Idem) de Joel Gallen (EUA, 2006). Com William Shatner, Jason Alexander, Sandra Bullock, Andy Dick, Farrah Fawcett, Greg Giraldo, Lisa Lampanelli, Artie Lange.
Comédia. Sinopse: Comedy Central Roast são séries especiais em que as celebridades são esculachadas. O programa é exibido pelo canal Comedy Central
americano desde 10 de Agosto de 2003. Neste episódio, foi a vez de William
Shatner (o homem por trás do capitão Kirk) ser ridicularizado e insultado. 90
minutos. 16 anos.
Trek Nation
(Idem) de Scott Colthorp (EUA, 2010). Com Rod Roddenberry, Gene Roddenberry, George Lucas, J.J. Abrams, Stan Lee, Seth MacFarlane, Rob Zombie, Nichelle
Nichols, Patrick Stewart, Jonathan Frakes, Ronald D. Moore, Will Wheaton.
Documentário. Sinopse: o filme examina o impacto positivo que Star Trek e o
criador Gene Roddenberry podem ter tido na vida das pessoas, por meio dos olhos
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de seu filho, Eugene Roddenberry, Jr. (“Rod”). Inclui entrevistas com membros do
elenco e equipe de todos os cinco seriados, bem como de vários fãs e celebridades que foram marcadamente influenciados pelo seriado enquanto cresciam. Rod
Roddenberry também visita o Rancho Skywalker para entrevistar George Lucas
sobre a influência que Star Trek teve sobre ele. Lucas comenta que foi a convenções de Star Trek antes de criar Star Wars. 88 minutos. Livre.
The Captains
(Idem) de William Shatner (EUA, 2011). Com William Shatner, Patrick Stewart,
Avery Brooks, Kate Mulgrew, Scott Bakula, Chris Pine, Christopher Plummer.
Documentário. Sinopse: documentário escrito e dirigido por William Shatner,
que entrevista todos os atores que protagonizaram capitães nos seriados e filmes
da franquia Jornada nas Estrelas. 97 minutos. Livre.
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Curso Jornada nas Estrelas:
a ficção científica para as massas
Dias 11, 12 e 13 de junho, às 19h, Cinema 2
Profª Drª Rita Ribeiro
O curso tem por objetivo apresentar a série Jornada nas Estrelas pela ótica comunicacional, mostrando o diálogo que se estabelece entre o público leigo e a
ciência a partir da mediação da ficção científica.
Serão 3 encontros, com 2 horas cada assim divididos:
• A ficção científica delineia os medos do homem — as distopias;
• A utopia ganha espaço em Jornada nas Estrelas — o futuro pode ser positivo
para o ser humano;
• De Star Trek a Arquivo X e Lost: o que muda na ficção científica hoje?
Debate
Dia 20 de junho, às 19h15, Cinema 1
Com a participação do jornalista, escritor e crítico de cinema Arnaldo Bloch, e
do
jornalista e crítico de cinema André Gordirro.
Mediação do curador e jornalista Mario Abbade, presidente da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ).
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agradecimentos
Abraão Silvestre
Caio Meneses
Camila Tostes
Cavi Borges
Claudia Lima Fernandes
Felipe Trotta
Fernando Krause
Fluminense Football Club
Gabriela Giffoni
Isabella Kling
Isabella Martins
João Beltrão
Joel Gallen
Julian Jones
Leda Borges
Luciana Falcão
Luciana Fracchetta
Luciana Marques
Luiz Gennari
Marcelo Brandão
Marcio Lima
Paradise Video
Pedro Azevedo
Peter Jaysen
Rafael Monteiro
Rackel Accetti
Renato Bissa
Robert Meyer Burnett
Rod Roddenberry
Sandra Maya
Scott Colthorp
Sergio Alpendre
Suellen Felix Nascimento Tom Leão
Vladimir Alexandre
William Shatner
E toda a equipe da CAIXA Cultural RJ
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Presidenta da República
Dilma Vana Rousseff
Revisão textos
Mario Abbade
Ministro de Estado da Fazenda
Guido Mantega
Projeto gráfico
Guilherme Lopes Moura
Presidente da Caixa Econômica Federal
Jorge Fontes Hereda
Editor do site oficial & redes sociais
João Monteiro
Idealização & Curadoria
Mario Abbade
Coordenação geral
Breno Lira Gomes
Produção executiva
Cavi Borges
Assistente de produção
Ana Florença
João Monteiro
Monitoria
Gregory Baltz
Kaka Couto
Produção editorial
Leonardo Luiz Ferreira
Webdesigner
Rivello/Menta
Vinheta
Fernanda Teixeira
Assessoria de imprensa
Mais e Melhores
Registro fotográfico
Gabriela Magnani
Distribuição material promocional
Divulgart
Impressão material gráfico
Gráfica Stamppa
Transporte de produção
Paulo Rosa
11 a 23 de junho de 2013
CAIXA Cultural Rio de Janeiro — Cinema 1 e 2
Av. Almirante Barroso, 25, Centro, Rio de Janeiro
21 3980-3815
R$ 4,00 (inteira) e R$ 2,00 (meia)
www.caixa.gov.br/caixacultural
www.blgentretenimento.com.br/jornadanasestrelas
Jornada nas Estrelas – Brasil: A Fronteira Final
Crédito fotos: MPLC/Paramount
110
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111
ISBN 978-85-66110-02-9
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