www.fatesa.edu.br Volume 5n. 1 – Jan/Mar 2013 ISSN 2175-2338
Transcrição
www.fatesa.edu.br Volume 5n. 1 – Jan/Mar 2013 ISSN 2175-2338
Volume 5n. 1 – Jan/Mar 2013 ISSN 2175-2338 www.fatesa.edu.br Expediente ISSN 2175-2338 Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives - EURP Publicação oficial FATESA - EURP Faculdade de Tecnologia em Saúde Diretor Administrativo Diretor Científico Francisco Mauad Neto Wellington de Paula Martins Presidente do Departamento Científico Diretor de Pesquisa Procópio de Freitas Fernando Marum Mauad Bibliotecária Secretária Geral Adileuza Cordeiro Souza Almeida Janete Cristina Parreira de Freitas Diretor Responsável pelo Setor Gráfico Presidente Michel da Silva Francisco Mauad Filho Professores Adilson Cunha Ferreira Fernando Marum Mauad Francisco Mauad Filho Jorge Garcia Procópio de Freitas Carlos César Montesino Nogueira Gerson Claudio Crott Jorge Rene Garcia Arevalo José Augusto Sisson de Castro José Eduardo Chúfalo João Francisco Jordão Luís Guilherme Carvalho Nicolau Simone Helena Caixe Wellington de Paula Martins EURP Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives Editor Científico Wellington de Paula Martins Editor Executivo Francisco Mauad Filho Conselho Editorial Adilson Cunha Ferreira Jorge Rene Garcia Arevalo Carlos César Montesino Nogueira José Eduardo Chúfalo Carolina Oliveira Nastri Luis Guilherme Nicolau Fernando Marum Mauad Procópio de Freitas Gerson Cláudio Crott Simone Helena Caixe João Francisco Jordão Secretária Executiva Adileuza Cordeiro Souza Almeida Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2013 SUMÁRIO EURP v. 5, n. 1, p 1-39 ISSN 2175-2338 Jan - Mar 2013 Papel da ultrassonografia no diagnóstico de apendicite aguda no adulto 1 Role of ultrasound in diagnosis of acute appendicitis in adult Humberto Pereira de Souza Silva O papel do eco Doppler na doença carotídea extracraniana 4 The role of Doppler ultrasound in the extra-cranial carotid disease Patrícia de Lima San´Tana Avaliação ultrassonográfica do colo uterino e parto prematuro 8 Ultrasound evaluation of the cervix and preterm delivery Heloisa Ferrarezi Mantovan Repercussões da dilatação da pelve renal fetal após o nascimento 13 Implications of fetal renal pelvis dilatation after birth Leonam Costa Oliveira Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2013 Hidronefrose fetal: revisão da literatura 18 Antenatal hydronephrosis: literature review Taciano da Silva Redondo Hipertrofia ventricular esquerda em pacientes com hipertensão arterial sistêmica 24 Left ventricular hypertrophy in patients with arterial systemic hypertension Thiago de Avellar Pinto Avaliação ecográfica axilar em pacientes com câncer de mama 28 Axillary ultrasound evaluation in patients with breast cancer Alessandra Borba Anton de Souza O papel da ultrassonografia no diagnóstico da litíase da vesícula biliar 34 The role of ultrasonography in the diagnosis of gallstones Francisco Gomes da Silva Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2013 Artigo de Revisão Papel da ultrassonografia no diagnóstico de apendicite aguda no adulto Role of ultrasound in diagnosis of acute appendicitis in adult Humberto Pereira de Souza Silva 1 A apendicite aguda é uma condição muito frequente em nosso meio, sendo uma das principais causas de dor no quadrante inferior direito do abdome que requer procedimento cirúrgico. A ultrassonografia apresenta sensibilidade e especificidade de 78% a 86% e 83% a 93%, respectivamente, sendo um método importante no diagnóstico de apendicite quando os achados clínicos são insuficientes para se diagnosticar a patologia, assim como para o diagnóstico diferencial de outras doenças que cursam com dor abdominal. Palavras-chave: Apendicite Aguda; Ultrassonografia; Diagnóstico. Escola de Ultrassonografia e Reciclagem Médica de Ribeirão Preto (EURP) 1 Recebido em 09/01/2013, aceito para publicação em 15/03/2013. Correspondências: Humberto Pereira de Souza Silva Departamento de Pesquisa da EURP - Rua Casemiro de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP 14020-060. E-mail: [email protected] Fone: (16) 3636-0311 Fax: (16) 3625-1555 Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives Abstract Acute appendicitis is a very common condition in our country, being a major cause of pain in the right lower quadrant of the abdomen that requires surgery. The ultrasound has a sensitivity and specificity of 78% to 86% and 83% and 93% respectively as an important method for the diagnosis of appendicitis where the clinical findings are insufficient for the diagnosis. It also helps in the differential diagnosis of other diseases coursing with abdominal pain. Keywords: Acute Appendicitis; Ultrasound; Diagnosis. EURP 2013; 5(1): 1-3 2 Silva – Apendicite no adulto Introdução A apendicite aguda é uma das condições mais prevalentes de dor no quadrante inferior direito do abdome, e uma frequente causa de procedimentos cirúrgicos. Os métodos de imagem têm como finalidade contribuir para o diagnóstico precoce de apendicite quando os achados clínicos são insuficientes para definição do caso e para o diagnóstico diferencial de outras patologias que cursam com dor abdominal. Dentre eles destacase a ultrassonografia, por ser um método amplamente disponível em nosso meio, de baixo custo e que pode ser realizado rapidamente. O objetivo deste estudo é avaliar a contribuição da ultrassonografia no diagnóstico de apendicite aguda em adultos. Diagnóstico clínico O apêndice normal apresenta-se como um estrutura tubular, medindo cerca de 10cm de comprimento, ovóide em secção transversal, compressível, com diâmetro antero-posterior geralmente inferior à 6mm, originada na parede póstero-medial do ceco e localizado a cerca de 3cm abaixo da válvula íleo-cecal. A apendicite aguda é um causa comum de dor abdominal 1, 2 sendo uma emergência cirúrgica prevalente 3, 4, geralmente causada por obstrução do apêndice por hipertrofia de origem infecciosa de folículos linfonodais, obstrução mecânica ou por tumores. Em pacientes que apresentam sinais e sintomas clássicos, como dor em quadrante inferior direito do abdome, febre, vômitos, anorexia e leucocitose, cerca de 59% apresentam apendicite aguda 1, 5, e aproximadamente 36% apresentam causa inespecífica 5-7, após avaliação anatomopatológica. Como método auxiliar no diagnóstico quando apenas os sinais e sintomas são insuficientes para se chegar ao diagnóstico preciso, a ultrassonografia apresenta como vantagens o baixo custo, a ampla disponibilidade em nosso meio, a ausência de radiação, a capacidade de oferecer imagens dinâmicas em tempo real e não ser um procedimento invasivo 1, 6. Por outro lado, pacientes obesos e com grande distensão abdominal e a dependência da habilidade e da experiência do operador são desvantagens a serem consideradas 1, 8, 9. Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives Ultrassonografia na suspeita de apendicite Como método auxiliar no diagnóstico quando apenas os sinais e sintomas são insuficientes para se chegar ao diagnóstico preciso, a ultrassonografia apresenta como vantagens o baixo custo, a ampla disponibilidade em nosso meio, a ausência de radiação, a capacidade de oferecer imagens dinâmicas em tempo real e não ser um procedimento invasivo 1, 6. Por outro lado, pacientes obesos e com grande distensão abdominal e a dependência da habilidade e da experiência do operador são desvantagens a serem consideradas 1, 8, 9. Dentre os achados ultrassonográficos na apendicite aguda, podem-se citar o aumento do diâmetro anteroposterior do apêndice (> 6mm), perda da compressibilidade, alteração da ecogenicidade da gordura periapendicecal, hipervascularização ao estudo Doppler, aumento moderado do tamanho dos linfonodos, ausência de gás no interior do apêndice e espessamento de suas paredes 10. A dor à compressão graduada do abdome durante o exame ecográfico também é importante para auxiliar o diagnóstico, chegando a ocorrer em até 93% dos casos 6. Na bibliografia analisada, a especificidade do método encontra-se entre 83% e 93% 1, 11, e a sensibilidade entre 78% e 86% 1, 11-13, contribuindo sobremaneira na elucidação de casos suspeitos de apendicite aguda em adultos. Contribui, ainda, no diagnóstico de outras patologias correlacionadas à dor abdominal, tais como doenças inflamatórias e infecciosas do intestino, obstruções intestinais e doenças ginecológicas 2. Tomografia Computadorizada na suspeita de apendicite aguda A Tomografia Computadoriza é um método auxiliar importante na suspeita de apendicite aguda. Podem ser utilizados meios de contraste endovenosos, injeção retrógrada do contraste ou ainda o contraste oral. Os achados tomográficos incluem distensão do apêndice, espessamento da parede, borramento da gordura adjacente, espessamento do ceco, presença de apendicolito, líquido livre na cavidade abdominal, gás extraluminal e o sinal da ponta de seta caracterizado pela imagem de uma ponta de seta na base de inserção do apêndice. A sensibilidade do método com contraste endovenoso e oral é de cerca de 98% e a especificidade é de 83% 14. A utilização de meio EURP 2013; 5(1): 1-3 3 Silva – Apendicite no adulto de contraste via retal pode aumentar a sensibilidade e a especificidade para 98% 15. Dentre as desvantagens do método, podem-se citar o alto custo, a disponibilidade limitada em nosso meio, a utilização de radiação ionizante, o tempo de espera para realização do exame com uso de contrate e oral, e o risco de perfuração do apêndice com uso de contrataste via retal. Comparação entre Ultrassonografia e Tomografia Computadorizada A tomografia computadorizada apresenta maior acurácia no diagnóstico de apendicite aguda, comparada com a ultrassonografia. A sensibilidade e a especificidade da TC são de 95% a 98% e 83% a 98%, respectivamente, contra 78% a 86% e 83% a 93%, respectivamente, da ultrassonografia. O custo da TC é cerca de três vezes mais alto se comparado com a ultrassonografia, a disponibilidade de equipamentos em nosso meio é limitada, o tempo para realização do exame é maior por depender de preparo prévio. A utilização de radiação ionizante na TC é um fator desfavorável a ser considerado. A ultrassonografia tem sido amplamente utilizada como método diagnóstico por apresentar de baixo custo, não ser invasiva, de rápida realização, pois independe de preparo do paciente, e possuir maior disponibilidade em relação à TC. Os fatores desfavoráveis são a dependência do operador do equipamento e a limitação do método em pacientes obesos e com grande distensão abdominal. Considerações finais Os trabalhos analisados mostram que a ultrassonografia apresenta boa especificidade e sensibilidade, principalmente ao se utilizar da técnica de compressão graduada do abdome, demonstrando ser um importante método auxiliar no diagnóstico de apendicite aguda em adultos. Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives Referências 1. Doria AS, Moineddin R, Kellenberger CJ, Epelman M, Beyene J, Schuh S, et al. US or CT for Diagnosis of Appendicitis in Children and Adults? A Meta-Analysis. Radiology 2006;241:(1):83-94. 2. Rosen MP, Ding A, Blake MA, Baker ME, Cash BD, Fidler JL, et al. ACR Appropriateness Criteria(R) right lower quadrant pain--suspected appendicitis. Journal of the American College of Radiology : JACR 2011;8:(11):749-755. 3. Addiss DG, Shaffer N, Fowler BS, Tauxe RV. The epidemiology of appendicitis and appendectomy in the United States. American journal of epidemiology 1990;132:(5):910-925. 4. Federle MP. Focused appendix CT technique: a commentary. Radiology 1997;202:(1):20-21. 5. Berry J, Jr., Malt RA. Appendicitis near its centenary. Annals of surgery 1984;200:(5):567-575. 6. Puylaert JB. Acute appendicitis: US evaluation using graded compression. Radiology 1986;158:(2):355-360. 7. Puylaert JB, van der Zant FM, Rijke AM. Sonography and the acute abdomen: practical considerations. AJR. American journal of roentgenology 1997;168:(1):179-186. 8. Chen SC, Chen KM, Wang SM, Chang KJ. Abdominal sonography screening of clinically diagnosed or suspected appendicitis before surgery. World journal of surgery 1998;22:(5):449-452. 9. Lee JH, Jeong YK, Park KB, Park JK, Jeong AK, Hwang JC. Operator-dependent techniques for graded compression sonography to detect the appendix and diagnose acute appendicitis. AJR. American journal of roentgenology 2005;184:(1):91-97. 10. Rioux M. Sonographic detection of the normal and abnormal appendix. AJR. American journal of roentgenology 1992;158:(4):773-778. 11. van Randen A, Bipat S, Zwinderman AH, Ubbink DT, Stoker J, Boermeester MA. Acute appendicitis: meta-analysis of diagnostic performance of CT and graded compression US related to prevalence of disease. Radiology 2008;249:(1):97106. 12. Orr RK, Porter D, Hartman D. Ultrasonography to evaluate adults for appendicitis: decision making based on meta-analysis and probabilistic reasoning. Academic emergency medicine : official journal of the Society for Academic Emergency Medicine 1995;2:(7):644-650. 13. Terasawa T, Blackmore CC, Bent S, Kohlwes RJ. Systematic review: computed tomography and ultrasonography to detect acute appendicitis in adults and adolescents. Annals of internal medicine 2004;141:(7):537-546. 14. Balthazar EJ, Birnbaum BA, Yee J, Megibow AJ, Roshkow J, Gray C. Acute appendicitis: CT and US correlation in 100 patients. Radiology 1994;190:(1):31-35. 15. Rao PM, Rhea JT, Novelline RA, Mostafavi AA, Lawrason JN, McCabe CJ. Helical CT combined with contrast material administered only through the colon for imaging of suspected appendicitis. AJR. American journal of roentgenology 1997;169:(5):1275-1280. EURP 2013; 5(1): 1-3 Artigo de Revisão O papel do eco Doppler na doença carotídea extracraniana The role of Doppler ultrasound in the extra-cranial carotid disease Patrícia de Lima San´Tana 1 A doença da artéria carótida é a causa mais freqüentemente identificada de acidente vascular cerebral isquêmico e é principalmente devido a doença aterosclerótica. O eco Doppler é uma forma segura, precisa e de baixo custo para a avaliação destes pacientes, sendo o grau de estenose e as características da placa, o parâmetro mais utilizado para tomar decisões sobre abordagens terapêuticas Esta revisão discute o papel clínico atual do eco Doppler e compara com outros métodos diagnósticos. Palavras-chave: Doenças das Artérias Carótidas; efeito Doppler. Escola de Ultrassonografia e Reciclagem Médica de Ribeirão Preto (EURP) 1 Recebido em 10/01/2013, aceito para publicação em 19/03/2013. Correspondências: Patrícia de Lima San´Tana Departamento de Pesquisa da EURP - Rua Casemiro de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP 14020-060. E-mail: [email protected] Fone: (16) 3636-0311 Fax: (16) 3625-1555 Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives Abstract The carotid artery disease is the most frequently identified cause of stroke and is mainly due to atherosclerotic disease. Doppler echocardiography is a safe, accurate and low cost test for the evaluation of these patients, the degree of stenosis and plaque characteristics, the parameter most commonly used to make decisions about therapeutic approaches. This review discusses the current clinical role of Doppler echocardiography and compared with other diagnostic methods. Keywords: Carotid Artery Diseases; Doppler Effect. EURP 2013; 5(1): 4-7 5 San’Tana – Doença carotídea extra-craniana Introdução Hoje a ultrassonografia tem valor complementar na seleção de pacientes para endarterectomia. Não se pode negar as limitações do método como a avaliação da doença intracraniana, porém existem agentes de contraste para uso no ultrassom que futuramente, quando mais amplamente utilizadas, ajudarão a melhorar as imagens e reduzir a variabilidade do operador. Vários avanços importantes, como a caracterização da placa, o monitoramento da embolização e o rastreamento de estenose carotídea em populações de pacientes selecionados parecem oferecer um papel importante ao ultrassom na identificação e tratamento da doença extracraniana de carótida. O mais importante é levar em conta cada paciente isoladamente e escolher o melhor método diagnóstico para cada casoO acidente vascular cerebral secundário a doença aterosclerótica continua sendo uma das principais causas de morte e incapacidade neurológica nos países ocidentais 1. A isquemia por estenose grave envolvendo as artérias carótidas extracranianas é um dos determinantes mais importantes destes eventos cerebrovasculares. O eco Doppler das artérias carótidas faz parte hoje da avaliação inicial de pacientes com risco para doença vascular cerebral por ser uma técnica rápida, não invasiva, de baixo custo e onde o aparelho pode ser transportado e usado, por exemplo, a beira do leito em pacientes graves 2. Além da triagem, o eco Doppler pode ser usado para monitorar as lesões carotídeas já conhecidas, selecionar pacientes para revascularização carotídea, avaliar morfologia da placa e fazer acompanhamento pós-operatório. Esta revisão tem como objetivo analisar e comparar os dados publicados sobre o valor diagnóstico do eco Doppler e comparar com outros métodos diagnósticos para estenose da artéria carótida. Aterosclerose e acidente vascular cerebral A aterosclerose é caracterizada pelo depósito de gordura, cálcio e outros elementos na parede das artérias, reduzindo seu calibre e trazendo um déficit sanguíneo aos tecidos irrigados por elas e tem um desenvolvimento lento e progressivo. A isquemia por estenose grave envolvendo as artérias carótidas está implicada em Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives aproximadamente 20-30% dos acidentes 3 vasculares cerebrais . Um diagnóstico rápido e preciso da doença carotídea é fundamental para planejar a terapêutica. Eco Doppler na triagem da doença carotídea O eco Doppler ganhou reconhecimento como um método não invasivo para triagem da doença da artéria carótida avaliando o grau de estenose. Foi demonstrado que tem boa correlação com a angiotomografia digital, porém tem sido criticada por sua variabilidade. Em um estudo o método foi comparado com a angiografia digital em 225 pacientes, e para diagnosticar uma estenose maior que 70% teríamos uma taxa de 29% de falsos positivos e 11% de falsos negativos. Os resultados são variáveis e podem resultar em operações inadequadas ou pacientes falso-negativos podem não ser devidamente tratados 4. Como técnica isolada de imagem foi considerada adequada para investigação na presença de estenose grave sintomática. Em casos de estenose carotídea assintomática haveria a necessidade de complementação com outros métodos de imagem como angiotomografia ou angioressonância 5. Em um estudo de revisão comparando estudos de imagem não invasivos com a angiografia digital em pacientes com sintomas isquêmicos, o eco Doppler, a angioressonância e a angiotomografia tiveram para uma estenose de 70-99% uma sensibilidade de 89%, 88% e 76% e especificidade de 84%, 84% e 94% respectivamente, sendo assim o eco Doppler poderia substituir a angiografia digital carotídea no caso de estenose entre 70-99%, porém nas estenoses entre 50-69% faltaram dados ou estes eram pouco confiáveis para uma conclusão mais apurada 6. Há poucos dados para as estenoses entre 50% 69% e houve heterogeneidade entre os estudos. Os dados foram inadequados para realizar análises de características importantes de subgrupos de paciente e para fazer comparações diretas entre os exames não-invasivos e para determinar a precisão destes exames em combinação. Esses fatores somados ao viés de publicação provavelmente levaram à superestimação da verdadeira sensibilidade e especificidade, limitando a utilização da literatura para a prática clínica 7. EURP 2013; 5(1): 4-7 6 San’Tana – Doença carotídea extra-craniana Seleção de pacientes para revascularização carotídea Ensaios tem demonstrado que a intervenção cirúrgica em casos de estenose de alto grau da carótida pode reduzir o risco de acidente vascular cerebral e a seleção cuidadosa dos pacientes é fundamental 2. O eco Doppler é uma das formas disponíveis para avaliar a doença carotídea e o grau da estenose, e é um dos parâmetros utilizados para decidir o tipo de abordagem terapêutica. A angiografia digital tem sido considerada padrão ouro para o diagnóstico da estenose carotídea, porém é uma técnica invasiva, de custo elevado e que traz riscos de complicações potencialmente graves 8. O eco Doppler das artérias carótidas tem sido defendido como único exame de imagem em candidatos a endarterectomia carotídea, porém não identifica a doença intracraniana que também traz risco elevado de isquemia e morte. Neste estudo o eco Doppler teria falhado em diagnosticar a doença intracraniana em quase um terço dos casos 9. O eco Doppler pode ser utilizado na indicação da revascularização carotídea em casos selecionados de pacientes com estenose de alto grau. Deverá ser utilizado com cautela e associado a outros métodos de imagem em estenoses menores onde a acurácia do método é discutível e onde o risco/benefício da endarterectomia carotídea é estreito. Comparação do eco Doppler com outros exames de imagem Um estudo avaliou a correlação entre a angiotomografia multicanais medindo a estenose pelo método NASCET e o eco Doppler pela medida do pico de velocidade sistólica. Os dois métodos tiveram uma boa correlação quando utilizado um limiar de 283 cm/seg. para a estenose maior que 70% 10. Estudos comparando o eco Doppler e outros métodos não invasivos utilizando a angiografia digital como referência diagnóstica demonstraram que o eco Doppler fez o diagnóstico nas estenoses maiores ou iguais a 70% com uma sensibilidade e especificidade semelhante aos outros métodos e poderia substituir a angiografia para as estenose entre 70- Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives 99% (FILLIS et al., 2002, LANDEWEHR et al., 2001 e WARDLAW et al., 2006). Resultados para as estenoses ente 50 e 69% comparando os métodos diagnósticos foram controversos e pouco confiáveis. 6, 7, 11. Morfologia das placas O eco Doppler tem sido utilizado com sucesso para identificar características de risco da placa . A morfologia da placa é fundamental para predizer o risco de acidente vascular cerebral, irregularidades na superfície da placa e placas ulceradas indicam vulnerabilidade e maior risco de acidentes tromboembólicos 1. Resultados de estudos sugerem que a irregularidade da superfície da placa é um fator preditivo para AVC isquêmico com um risco de 7,7 e 4,0 respectivamente para ter um evento isquêmico 12, 13. A determinação da morfologia da placa pelo eco Doppler não tem sido utilizada na prática clínica porém a aparência anecóica dentro da placa na bifurcação carotídea indica um maior risco de evento embólico e esta informação pode ser usada para indicar o tratamento cirúrgico em pacientes assintomáticos 14. Limitações do eco Doppler Os resultados do eco Doppler dependem do examinador. No Brasil, os exames ultrassonográficos são de responsabilidade de médicos especialistas, que além de executarem o exame, o interpretam e assinam o laudo. Diferente acontece nos EUA e na Europa, onde técnicos, chamados “vascular technologists", executam os exames para depois serem interpretados por um médico, que então assina o laudo. Isso torna o exame feito no Brasil mais confiável que os exames executados em outros países. Porém isso não muda o fato de que a experiência e dedicação do examinador são tão importantes quanto à qualidade do aparelho de Eco Doppler. Uma das dificuldades na aceitação do eco Doppler é o fato do cirurgião vascular ter que tomar decisões clínicas com base em um exame que muitas vezes não sabe interpretar e ter que confiar no laudo fornecido por outro médico. Isso perturba muitos cirurgiões vasculares que acabam solicitando outros exames para confirmar os achados do eco Doppler. EURP 2013; 5(1): 4-7 7 San’Tana – Doença carotídea extra-craniana A presença de placas calcificadas que produzem sombra acústica pode limitar a penetração do ultrassom limitando a imagem do Doppler espectral e Modo-B. Outras limitações como doentes não colaborativos ou com alteração do estado mental e a capacidade técnica do aparelho também são fatores limitantes de outros métodos como a angiotomografia e angiorressonância. Por fim o eco Doppler pode ter dificuldade em distinguir uma artéria totalmente ocluída de uma estenose critica, porque o volume do fluxo é muito baixo e produz um sinal fraco dificilmente detectado pelo Doppler espectral, mas a angiorressonância também apresenta esta dificuldade 15. Considerações finais O eco Doppler das artérias carótidas é um exame seguro, eficiente e altamente acurado e continua sendo o principal método não invasivo para investigação inicial de pacientes com suspeita de estenose das artérias carótidas. Um diagnóstico rápido e preciso é fundamental quando se planeja a terapêutica. Portanto o eco Doppler como um exame de imagem confiável oferece pouco risco e pode ser realizada a beira do leito em pacientes graves. Referências 1. Saba L, Anzidei M, Sanfilippo R, Montisci R, Lucatelli P, Catalano C, et al. Imaging of the carotid artery. Atherosclerosis 2012;220:(2):294-309. 2. Kim YJ, Tegeler CH. Indications for carotid artery surgery and stent: the role of carotid ultrasound. Current cardiology reports 2008;10:(1):17-24. 3. Mernagh JR, Fedoryshin J, Caco C. Ultrasound of the carotid arteries: a pictorial review. Computerized medical imaging and graphics : the official journal of the Computerized Medical Imaging Society 2002;26:(6):381-418. 4. New G, Roubin GS, Oetgen ME, Lawrence EJ, Iyer SS, Moussa I, et al. Validity of duplex ultrasound as a diagnostic Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives modality for internal carotid artery disease. Catheterization and cardiovascular interventions : official journal of the Society for Cardiac Angiography & Interventions 2001;52:(1):9-15. 5. Kennedy J, Quan H, Ghali WA, Feasby TE. Importance of the imaging modality in decision making about carotid endarterectomy. Neurology 2004;62:(6):901-904. 6. Wardlaw JM, Chappell FM, Best JJ, Wartolowska K, Berry E. Non-invasive imaging compared with intra-arterial angiography in the diagnosis of symptomatic carotid stenosis: a meta-analysis. Lancet 2006;367:(9521):1503-1512. 7. Chappell FM, Wardlaw JM, Young GR, Gillard JH, Roditi GH, Yip B, et al. Carotid artery stenosis: accuracy of noninvasive tests--individual patient data meta-analysis. Radiology 2009;251:(2):493-502. 8. Calliada F, Verga L, Pozza S, Bottinelli O, Campani R. Selection of patients for carotid endarterectomy: the role of ultrasound. Journal of computer assisted tomography 1999;23 Suppl 1:S75-81. 9. Lovelock C, Mitchell P, Brown J, Campbell D, Field P, Parsons M, et al. Is Doppler ultrasound sufficient as the sole investigation before carotid endarterectomy? Journal of clinical neuroscience : official journal of the Neurosurgical Society of Australasia 2003;10:(4):420-424. 10. Saba L, Sanfilippo R, Montisci R, Mallarini G. Correlation between US-PSV and MDCTA in the quantification of carotid artery stenosis. European journal of radiology 2010;74:(1):99-103. 11. Grant EG, Benson CB, Moneta GL, Alexandrov AV, Baker JD, Bluth EI, et al. Carotid artery stenosis: gray-scale and Doppler US diagnosis--Society of Radiologists in Ultrasound Consensus Conference. Radiology 2003;229:(2):340-346. 12. Kitamura A, Iso H, Imano H, Ohira T, Okada T, Sato S, et al. Carotid intima-media thickness and plaque characteristics as a risk factor for stroke in Japanese elderly men. Stroke; a journal of cerebral circulation 2004;35:(12):27882794. 13. Prabhakaran S, Rundek T, Ramas R, Elkind MS, Paik MC, Boden-Albala B, et al. Carotid plaque surface irregularity predicts ischemic stroke: the northern Manhattan study. Stroke; a journal of cerebral circulation 2006;37:(11):2696-2701. 14. Markus HS, MacKinnon A. Asymptomatic embolization detected by Doppler ultrasound predicts stroke risk in symptomatic carotid artery stenosis. Stroke; a journal of cerebral circulation 2005;36:(5):971-975. 15. Nederkoorn PJ, van der Graaf Y, Hunink MG. Duplex ultrasound and magnetic resonance angiography compared with digital subtraction angiography in carotid artery stenosis: a systematic review. Stroke; a journal of cerebral circulation 2003;34:(5):1324-1332. EURP 2013; 5(1): 4-7 Artigo de Revisão Avaliação ultrassonográfica do colo uterino e parto prematuro Ultrasound evaluation of the cervix and preterm delivery Heloisa Ferrarezi Mantovan 1 A prevenção da prematuridade é um desafio na obstetrícia. A maior dificuldade é encontrar um método eficaz para predizer quais gestantes irão evoluir para trabalho de parto prematuro. A medida ultrassonográfica do comprimento do colo uterino pela via transvaginal é um método objetivo, não invasivo e útil na avaliação do risco de parto prematuro. Existe uma relação inversa entre o comprimento do colo uterino e a chance de evoluir para trabalho de parto prematuro. Quanto maior o comprimento cervical, menor a chance de um nascimento pré-termo. O ultrassom é um exame mais preciso que o exame digital e pode ser utilizado em conjunto com o teste da fibronectina fetal. A documentação de colos longos pode reduzir tratamentos e hospitalizações desnecessárias, já gestantes de risco para parto prematuro com colos curtos, a intervenção pode ser mais rápida, com maiores chances de sucesso na prevenção da prematuridade. Palavras-chave: Comprimento Cervical; Ultrassonografia; Prematuridade. Escola de Ultrassonografia e Reciclagem Médica de Ribeirão Preto (EURP) 1 Recebido em 26/01/2013, aceito para publicação em 17/04/2013. Correspondências: Heloisa Ferrarezi Mantovan Departamento de Pesquisa da EURP - Rua Casemiro de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP 14020-060. E-mail: [email protected] Fone: (16) 3636-0311 Fax: (16) 3625-1555 Abstract The prevention of prematurity is a challenge in obstetrics. The main difficulty is to find an effective method to predict which pregnant women will develop into premature labor. The sonographic measurement of cervical length by transvaginal is an objective, non-invasive and useful in assessing the risk of preterm delivery. There is an inverse relationship between cervical length and the chance to develop into premature labor. The larger the cervical length, lower chance of evolving with preterm birth. Ultrasound is more accurate than digital exam and can be used in conjunction with fetal fibronectin testing. Documentation of a long cervical length can reduce unnecessary hospitalizations and treatments, since pregnant at risk for preterm delivery with short cervical length, intervention may be faster, with higher chances of success in the prevention of prematurity. Keywords: Prematurity. Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives Cervical Length; Ultrasonography; EURP 2013; 5(1): 8-12 9 Mantovan – Avaliação do colo uterino Introdução A prematuridade ainda hoje, mantém-se como a maior complicação da gravidez, sendo a principal causa de mortalidade neonatal e custos para os sistemas de saúde. O maior desafio seria determinar quais mulheres irão evoluir para parto prematuro e nestas a tomada de decisões poderiam impedir um nascimento prematuro com todas as suas complicações 1-3. O nascimento pré-termo, isto é antes de 37 semanas de idade gestacional, pode ser devido à rotura prematura das membranas, trabalho de parto prematuro espontâneo ou indicação médica por agravos maternos ou fetais. Vários fatores de risco têm sido identificados, porém a história prévia de parto prematuro espontâneo é o mais relevante4. Após um parto prematuro espontâneo, o risco de repetição varia de 14 a 22%; de 28 a 42% após dois partos prematuros; e de 67% após três partos prematuros 5. A avaliação ultrassonográfica da medida do colo uterino na gravidez tem se mostrado um importante método preditor de trabalho de parto prematuro, principalmente nas pacientes de alto risco. Há uma correlação inversa entre o comprimento do colo uterino e o parto pré-termo, quanto menor o comprimento cervical, maior o risco de desencadear um trabalho de parto espontâneo 6. Na prática clínica, a detecção precoce de anormalidades do comprimento do colo se torna muito importante no sentido de prevenção da prematuridade. Esta revisão se propõe a avaliar o diagnóstico de alterações cervicais pelo ultrassom que foi eleito como o melhor método de acesso ao colo uterino 1, 2, 6. Método de avaliação ultrassonográfica do colo uterino A medida ultrassonográfica do colo uterino se torna útil, pois pode promover tratamento para as mulheres passíveis de parto pré-termo e evitar ainda intervenções desnecessárias para aquelas com falso trabalho de trabalho 7. Observa-se que o colo uterino é uma estrutura dinâmica e que sofre modificações no decorrer da gravidez. Aproximadamente 4 a 8 semanas antes do parto inicia-se o apagamento, este processo também é denominado afunilamento e avança em direção ao orifício externo do colo do útero 2, 6. O exame deve ser feito com a bexiga vazia, pois a repleção vesical pode esticar o segmento Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives inferior do útero, fazendo com que o colo apresente-se mais longo. A imagem sagital do colo uterino é obtida e deve ser ampliada ocupando dois terços da tela, a espessura do lábio anterior e posterior tem que ser idênticas. Usa-se a mucosa endocervical como guia para avaliar a verdadeira localização do orifício cervical interno, evitando a inclusão do segmento inferior. Medese a distância linear entre a área triangular ecodensa no orifício cervical externo e a incisura em forma de V do orifício cervical interno. Pelo menos três medidas devem ser obtidas e a mis curta é registrada. Durante as medidas, propõe-se aguardar alguns minutos para ver se uma contração uterina ocorre, porque pode haver mudança importante no comprimento cervical com uma contração. Alguns autores recomendam uma pressão supra púbica suave e as alterações no colo podem ser consideradas. Na presença de colo encurvado, pode-se medir a distância linear entre o orifício externo e interno ou também segundo alguns autores a soma de duas linhas retas ao longo da mucosa endocervical 2, 8. Outros métodos para avaliação do colo uterino podem ser realizados como o toque vaginal, a ultrassonografia abdominal ou a transperineal. O toque vaginal, com o objetivo de verificar as características do colo (dilatação, esvaecimento e posição), revela baixa sensibilidade e baixo valor preditivo positivo para a detecção do parto prematuro 9. Em comparação com a técnica abdominal, a via vaginal é mais vantajosa, pois permite a avaliação da porção supravaginal do colo uterino com menor interferência das partes fetais no segmento inferior do útero, além de não necessitar do enchimento da bexiga materna e evitar erros na medição pelo falso alongamento do colo uterino 2, 7. Variações do colo uterino e parto prematuro O comprimento médio do colo encurta com o avanço da gravidez. Entre 22 e 30 semanas o percentil 10 da medida do colo é 25 mm, medidas menores estão associadas significantemente com parto pré-termo. Mulheres com história de trabalho de parto prematuro e comprimento cervical inferior a 25 mm tem até 4,5 vezes mais chance de experimentar nascimento pré-termo que a população em geral. Para cada aumento de 1 mm de comprimento do colo, o risco de dar à luz antes de 35 semanas diminui em cerca de 6% 2, 10. EURP 2013; 5(1): 8-12 10 Mantovan – Avaliação do colo uterino Em recente revisão sistemática, na qual foram avaliadas 2.258 gestantes assintomáticas da população geral submetidas à ultrassonografia transvaginal entre 20 e 24 semanas, verificou-se que o melhor ponto de corte foi a medida do colo inferior a 25 mm para a ocorrência de parto antes de 35 semanas. No mesmo estudo, 663 gestantes assintomáticas, porém com história de parto prematuro, os resultados foram semelhantes 4. Incompetência cervical e parto prematuro A insuficiência ou incompetência cervical pode afetar até 1% das gestações. O afunilamento, que consiste na presença de dilatação do orifício cervical interno superior a 5 mm, e que persiste por mais de três minutos durante o exame, pode ser um sinal precoce de insuficiência cervical segundo alguns autores 2. Alguns outros sinais sugestivos de incompetência cervical são a dilatação do óstio interno, o prolapso das membranas e a presença de colo curto na ausência de contrações 11. O diagnóstico de insuficiência cervical tem sido habitualmente clínico e, baseado na história prévia de perdas fetais recorrentes no segundo trimestre e início do terceiro, por incapacidade do colo em reter o feto até o termo. No entanto com o aparecimento da ultrassonografia transvaginal, a avaliação do comprimento do colo se tornou importante, podendo diagnosticar um risco aumentado de parto pré-termo em mulheres assintomáticas 8. Indicadores bioquímicos no trabalho de parto pré-termo A fibronectina fetal é uma glicoproteína que se encontra na interface entre as membranas fetais e a decídua uterina. É eliminada quando o colo uterino começa a se preparar para o trabalho de parto. Pode ser medida no conteúdo vaginal e o teste é útil entre 22 e 34 semanas quando não há rotura de membranas e a paciente não está com sangramento vaginal. Dos indicadores bioquímicos, a fibronectina é a que apresenta os melhores resultados para a predição do parto prematuro 2. Resultado negativo do teste, indica uma improbabilidade da paciente entrar em trabalho de parto nas próximas uma a duas semanas. Quando o teste é positivo, há um risco aumentado de parto pré-termo, porém muitas Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives mulheres com teste positivo não irão evoluir para parto prematuro. O teste da fibronectina pode ser utilizado em gestantes sintomáticas, em que há dúvidas em relação ao diagnóstico do trabalho de parto prematuro, ou em gestantes assintomáticas com risco para parto prematuro espontâneo. Na decisão, de quais pacientes sintomáticas necessitam serem submetidas a tratamentos como corticóide, antibioticoterapia, tocolítico e repouso a fibronectina pode ser muito útil (2, 12. Interpretação clínica e recomendações no parto prematuro Atualmente, os melhores testes de triagem para nascimento pré-termo são a medida ultrassonográfica do comprimento cervical e a dosagem da fibronectina fetal. No entanto, segundo a ACOG 2001, para pacientes de baixo risco e assintomáticas, a medida cervical ou teste da fibronectina não foram encontrados como sendo útil. Nos estudos de predição de parto pré-termo, os resultados mostraram que as pacientes com nascimentos prematuros prévios que tinham uma fibronectina positiva e um comprimento cervical inferior a 25 mm na avaliação com idade gestacional de 24 semanas, o risco de recorrência do parto prematuro foi de 64%. Quando houve fibronectina negativa e comprimento do colo acima de 35 mm, este risco foi de 7% 2, 4. Um comprimento cervical decrescente foi associado com aumento do risco de prematuridade, independente da fibronectina fetal 10. Na presença de colo curto, é recomendado repouso, investigação de infecções geniturinárias, acompanhamento seriado de contrações uterinas, do comprimento do colo e realização de testes bioquímicos. Orienta-se também o uso da progesterona pela via vaginal até a 36ª semana. Naquelas gestantes sintomáticas, ou quando o diagnóstico de parto prematuro é duvidoso, pode-se considerar de risco para o nascimento pré-termo a medida do colo inferior a 15 mm. Nestas situações deve ser realizada a prevenção terciária como internação para tocólise e corticoterapia antenatal 1-3, 13. Avaliação ultrassonográfica do colo uterino e cerclagem EURP 2013; 5(1): 8-12 11 Mantovan – Avaliação do colo uterino Um tratamento comum realizado nos casos de incompetência cervical é a cerclagem do colo uterino. O aspecto mais importante deste tema é a indicação para cerclagem com base apenas em critérios ultrassonográficos 12. Porém a avaliação do colo pelo ultrassom, com a possibilidade de detecção precoce do encurtamento assintomático parece surgir como alternativa a realização de cerclagem profilática, podendo selecionar um subgrupo de mulheres com insuficiência cervical onde este procedimento se mostra útil 8. A ausência de dilatação ou afunilamento do orifício cervical interno, a ausência de prolapso das membranas pelo canal endocervical ou de encurtamento do colo avaliados pelo ultrassom suportam um tratamento expectante ao invés da indicação de cerclagem, já que estudos atuais sugerem que a cerclagem contribui minimamente para redução da mortalidade perinatal 7, 8, 14. Considerações finais A avaliação ultrassonográfica transvaginal do comprimento do colo uterino entre 20 e 24 semanas é um método útil para caracterizar o estado do colo. Torna-se fundamental naquelas gestantes que apresentam fatores de risco para parto prematuro, especialmente a história prévia de nascimento pré-termo. É um exame rápido, de fácil avaliação e relativamente barato, mostra-se dinâmico na análise das alterações cervicais que podem existir durante o procedimento. Na população geral, a avaliação do colo pelo exame ecográfico próximo a 24 semanas, mostrase adequado para a realização de um screening das pacientes que podem apresentar risco aumentado de parto prematuro, aumentando assim o número de diagnósticos em pacientes assintomáticas. O rastreamento também pode ser útil em mulheres com risco elevado de parto prematuro espontâneo, porém, na população de baixo risco a acurácia do método pode ser limitada 1, 2, 7. Para fornecer os melhores tratamentos para colos incompetentes e pacientes com risco de entrar em trabalho de parto prematuro, é imperativo identificar estas condições de maneira oportuna e neste sentido, tanto a ultrassonografia para medida do colo quanto a complementação com o teste da fibronectina fetal tem se mostrado eficaz. Os melhores valores de predição de nascimentos prematuros são obtidos quando ambos os exames são utilizados simultaneamente, Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives tanto em gestantes sintomáticas quanto assintomáticas de baixo risco. É importante evitar tratamentos desnecessários, como a tocólise indiscriminada e a cerclagem do colo uterino sem evidências claras de insuficiência cervical. Referências 1. Mateus J. Clinical management of the short cervix. Obstetrics and gynecology clinics of North America 2011;38:(2):367-385, xi-xii. 2. Taylor BK. Sonographic assessment of cervical length and the risk of preterm birth. Journal of obstetric, gynecologic, and neonatal nursing : JOGNN / NAACOG 2011;40:(5):617-631. 3. Werner EF, Han CS, Pettker CM, Buhimschi CS, Copel JA, Funai EF, et al. Universal cervical-length screening to prevent preterm birth: a cost-effectiveness analysis. Ultrasound in obstetrics & gynecology : the official journal of the International Society of Ultrasound in Obstetrics and Gynecology 2011;38:(1):32-37. 4. Crane JM, Hutchens D. Transvaginal sonographic measurement of cervical length to predict preterm birth in asymptomatic women at increased risk: a systematic review. Ultrasound in obstetrics & gynecology : the official journal of the International Society of Ultrasound in Obstetrics and Gynecology 2008;31:(5):579-587. 5. McManemy J, Cooke E, Amon E, Leet T. Recurrence risk for preterm delivery. American journal of obstetrics and gynecology 2007;196:(6):576 e571-576; discussion 576 e576-577. 6. Hoesli I, Tercanli S, Holzgreve W. Cervical length assessment by ultrasound as a predictor of preterm labour-is there a role for routine screening? BJOG : an international journal of obstetrics and gynaecology 2003;110 Suppl 20:61-65. 7. Mella MT, Berghella V. Prediction of preterm birth: cervical sonography. Seminars in perinatology 2009;33:(5):317324. 8. Loureiro T, Cunha M, Montenegro N. [Sonographic measurement of cervical length and prediction of spontaneous preterm delivery: how useful is it?]. Acta medica portuguesa 2006;19:(5):395-404. 9. Larma JD, Iams JD. Is sonographic assessment of the cervix necessary and helpful? Clinical obstetrics and gynecology 2012;55:(1):324-335. 10. Iams JD, Goldenberg RL, Meis PJ, Mercer BM, Moawad A, Das A, et al. The length of the cervix and the risk of spontaneous premature delivery. National Institute of Child Health and Human Development Maternal Fetal Medicine Unit Network. The New England journal of medicine 1996;334:(9):567-572. 11. Rozenberg P, Gillet A, Ville Y. Transvaginal sonographic examination of the cervix in asymptomatic pregnant women: review of the literature. Ultrasound in obstetrics & gynecology : the official journal of the International Society of Ultrasound in Obstetrics and Gynecology 2002;19:(3):302-311. 12. Chao AS, Chao A, Hsieh PC. Ultrasound assessment of cervical length in pregnancy. Taiwanese journal of obstetrics & gynecology 2008;47:(3):291-295. 13. Tsoi E, Akmal S, Rane S, Otigbah C, Nicolaides KH. Ultrasound assessment of cervical length in threatened preterm labor. Ultrasound in obstetrics & gynecology : the EURP 2013; 5(1): 8-12 12 Mantovan – Avaliação do colo uterino official journal of the International Society of Ultrasound in Obstetrics and Gynecology 2003;21:(6):552-555. 14. Groom KM, Bennett PR, Golara M, Thalon A, Shennan AH. Elective cervical cerclage versus serial ultrasound Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives surveillance of cervical length in a population at high risk for preterm delivery. European journal of obstetrics, gynecology, and reproductive biology 2004;112:(2):158-161. EURP 2013; 5(1): 8-12 Artigo de Revisão Repercussões da dilatação da pelve renal fetal após o nascimento Implications of fetal renal pelvis dilatation after birth Leonam Costa Oliveira 1 A dilatação da pelve renal fetal, ou hidronefrose antenatal, é a anormalidade do trato urinário mais comum detectada nas gestações e pode ser consequência de obstrução da junção ureteropélvica, válvula de uretra posterior, refluxo vesicouretral, entre outras causas. Ela pode ser classificada em graus leve, moderada e grave de acordo com o diâmetro anteroposterior da pelve renal. Esta revisão objetivou correlacionar os graus de hidronefrose antenatal com repercussões pós-natais. Apesar de não haver consenso a respeito de um ponto de corte que indicaria anormalidades pós-natais, evidenciou-se que quanto maior o diâmetro anteroposterior da pelve renal fetal maior o risco da criança apresentar alguma alteração urológica após o nascimento e que dilatações acima de 15 milímetros tem uma maior probabilidade de intervenções cirúrgicas do que dilatação leve a moderada. Palavras-chave: Hidronefrose; Antenatal; Renal; Dilatação. Escola de Ultrassonografia e Reciclagem Médica de Ribeirão Preto (EURP) 1 Recebido em 07/01/2013, aceito para publicação em 15/04/2013. Correspondências: Leonam Costa Oliveira Departamento de Pesquisa da EURP - Rua Casemiro de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP 14020-060. E-mail: [email protected] Fone: (16) 3636-0311 Fax: (16) 3625-1555 Abstract Dilation of the fetal renal pelvis or antenatal hydronephrosis, is the abnormality of the urinary tract most commonly detected in pregnancies and may be due to ureteropelvic junction obstruction, posterior urethral valve, vesicourethral reflux, among other causes. It can be classified as mild, moderate and severe according to the anteroposterior diameter of the renal pelvis. This review aimed to correlate the degree of antenatal hydronephrosis with postnatal repercussions. Although there is no consensus on a cutoff would indicate abnormalities postnatally, it became clear that the larger the diameter the greater the risk of the child present some sort of urological after birth. One can also see that over dilation 15mm has a higher probability of surgical interventions than mild to moderate dilation. Keywords: Dilatation. Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives Hydronephrosis; Antenatal; Renal; EURP 2013; 5(1): 13-17 14 Oliveira – Dilatação da pelve renal após o nascimento Introdução A ultrassonografia durante a gestação é considerada um método seguro e não invasivo que melhora a acurácia da idade gestacional e o diagnóstico precoce de gestações múltiplas (A) 1. Por outro lado, revisões sistemáticas mostram que a sua realização de rotina após 24 semanas, em gestantes de baixo risco, não trás benéficos para as mães ou fetos (A) 2. Apesar dessas divergências, o uso rotineiro da ultrassonografia no pré-natal tem aumentado significativamente ao longo dos anos o que tem levado a detecção de alterações cuja repercussão clínica é incerta, como é o caso da dilatação do sistema coletor renal fetal 3-6. A dilatação do sistema coletor renal fetal, ou hidronefrose antenatal, é a anormalidade mais comum detectada no pré-natal, sua prevalência varia entre 0,6% e 4,3%, ocorrendo em aproximadamente 1% das gestações (B) 3. Ela pode ser um indicador de uma variedade de anormalidades do trato urinário como: dilatação transitória e fisiológica, obstrução da junção ureteropelvica (JUP), refluxo vesicoureteral (RVU), obstrução da junção ureterovesical, rins displásicos multicísticos, valva de uretra posterior, ureterocele, e menos comumente podem estar relacionadas à síndrome de prunebelly, doença policística renal, cistos renais, atresia ureteral, ureter ectópico 4, 6. A relevância clínica do achado antenatal de dilatação do sistema coletor renal é incerta 4-7. O diagnóstico desta condição pode frequentemente levar a exames seriados no pré-natal e uma variedade de exames no pós-natal, inclusive com realização de procedimentos invasivos (cistouretrografia, cintilografia, pielograma intravenoso) que expõem a criança à radiação ou anestesia que podem ser desnecessária 4-8. Tendo em vista estas incertezas realizamos uma pesquisa eletrônica nos bancos de dados Medline, Pubmed e na biblioteca Cochrane sobre as repercussões dos vários graus de hidronefrose fetal na vida pós-natal, buscando distinguir aquelas dilatações que representam patologias das que são transitórios ou sem repercussão clínica. Para tanto, foram utilizados os termos: “hydronephorosis”, “renal pelvis dilatation”, “pelviectasis”. “antenatal”, “fetal” com foco especial nas publicações dos últimos dez anos (2003-2012). Foram selecionados os artigos de Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives metanálise, grandes revisões e trabalhos com maior número de pacientes. O grau de recomendação e a força de evidência dos trabalhos citados nesta revisão foram expostos conforme classificação da Associação Médica Brasileira, em: A) Estudos experimentais ou observacionais de melhor consistência (metanálises ou ensaios clínicos randomizados). B) Estudos experimentais ou observacionais de menos consistências (outros ensaios clínicos não randomizados ou estudos observacionais ou estudos caso-controle). C) Relatos ou séries de casos (estudos não controlados) D) Opinião desprovida de avaliação crítica, baseada em consensos, estudos fisiológicos ou modelos animais. Classificação da hidronefrose antenatal Os critérios diagnósticos de hidronefrose antenatal variam amplamente entre os autores, uns baseiam-se no tamanho da pelve renal e outros na aparência do sistema coletor intrarenal 4, 6, 9. A “Society for Fetal Urology” (SFU) propôs um sistema de classificação da hidronefrose baseado no aspecto da pelve, dos cálices e do parênquima renal, graduando-a em graus de zero a quatro 9. Este sistema utiliza uma avaliação qualitativa da hidronefrose o que leva a uma variabilidade interobservador (B) 9, 10. Em uma metanálise a comparação de estudos que adotaram o mesmo sistema de graduação da SFU revelou inconsistências com alto valor da medida de heterogeneidade (I2), sugerindo uma dependência significativa do observador (B) 11. Em contraste com o sistema de classificação da SFU, a avaliação da hidronefrose antenatal utilizando o diâmetro anteroposterior da pelve renal fetal provê uma medida quantitativa e minimiza a dependência do operador (B) 11, 12. A avaliação da concordância interobservador quando se utiliza o sistema de classificação da SFU demonstra que para os graus um, dois e quatro a reprodutibilidade é moderada e para o grau três é baixa (índice Kappa = 0,20). Já quando se utiliza a medida do diâmetro anteroposterior da pelve renal há uma maior concordância interobservador com índice Kappa de 0,51 12. A medida do diâmetro anteroposterior (DAP) da pelve renal visualizada em um corte EURP 2013; 5(1): 13-17 15 Oliveira – Dilatação da pelve renal após o nascimento transversal dos rins fetais é um parâmetro objetivo, largamente adotado, de grande reprodutibilidade e com baixa variabilidade intra e interobservador (A, B) 8, 12. De acordo com essa medida e a idade gestacional do feto a severidade da dilatação pode ser graduada em leve, modera e grave (A) 4. A medida do DAP da pelve renal fetal é influenciada pela hidratação materna e pelo grau de enchimento vesical e possui a desvantagem de não haver um consenso com relação a um ponto de corte que indicaria doença no pós-natal (A) 3, 4, 8. Pontos de cortes mais baixos são mais sensíveis na detecção de patologias pósnatais, entretanto levam a altas taxas de falsos positivos (A) 3, 8, 11. Têm sido propostos outros sistemas de classificação como índice de hidronefrose (100 x (área renal – pelve ou cálices renais \ área renal), subclassificações da graduação da SFU e outros achados associados 4, 13. Mas estudos prospectivos são necessários para correlacionar tais classificações com anormalidades urológicas no pós-natal (NGUYEN, HERNDON et al., 2010; VENKATESAN, GREEN et al., 2009). Dilatação grave da pelve renal fetal (≥ 15 mm) Uma metanálise que incluiu 1308 participantes correlacionou o grau de hidronefrose antenatal com patologias pós-natais 3. Nela, 36% dos fetos com hidronefrose antenatal apresentaram alguma anormalidade após o nascimento como: obstrução da JUP, RVU, valva de uretra posterior, atresia uretral, obstrução ureteral, entre outras; e a grande maioria deles apresentava uma dilatação grave da pelve renal 3. O risco de um feto com pelve renal maior ou igual a 15 milímetros (mm) apresentar alguma patologia pós-natal foi de 88,3% (95% IC:53,7-98), de apresentar obstrução da JUP foi de 54,3%, e de válvula de uretra posterior 5,3%.3 Esta metanálise confirmou que a hidronefrose antenatal grave aumenta significativamente o risco de patologias no pósnatal (A) 3. Neste estudo também se evidenciou que quanto maior o grau de hidronefrose antenatal maior o risco de a criança apresentar alguma anormalidade urológica após o nascimento, como obstrução da JUP (A) 3. Já o risco de RVU não aumentou com o aumento da dilatação anteroposterior da pelve renal. Uma limitação deste estudo foi que fetos que apresentavam outros achados além da hidronefrose não foram Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives excluídos, como: dilatação calicial, hidroureteroneforse, dilatação vesical, dilatação uretral posterior, liquido amniótico reduzido 3. As anormalidades pós-natais apresentadas por crianças com hidronefrose antenatal podem regredir espontaneamente, estabilizar, progredir sem deteriorar a função renal ou então podem progredir e necessitar de cirurgia (A) 3, 4, 6, 8. Para determinar a relevância clínica dos achados pósnatais alguns estudos, ao acompanhar fetos com hidronefrose, consideram como variável desfecho intervenções cirúrgicas e não apenas o diagnóstico de patologias pós-natais 3, 8, 11, 14, 15. Em duas pesquisas que acompanharam 102 fetos com pelve renal ≥ 15mm, 33% deles necessitaram de intervenção cirúrgica no pós-natal 14, 15. Entre fetos com hidronefrose antenatal, estudos que comparam a média do DAP da pelve renal do grupo que necessitou de cirurgia após o nascimento com a média do grupo que não necessitou de intervenção, evidenciaram médias acima de 15 mm 16, 17. Uma analise multivariada também corrobora com estes achados ao demonstrar que a dilatação grave da pelve renal fetal é preditor de intervenção cirúrgica e está associada com uma baixa probabilidade de resolução espontânea (B) 13. Dilatação leve a moderada da pelve renal fetal (4-15 mm) A maioria dos fetos com hidronefrose antenatal tem dilatação leve a moderada (A) 4, 6. Uma revisão sistemática de 18 estudos de coortes com meta-regressão avaliou o risco de dilatação da pelve renal, obstrução da JUP e RVU no período pós-natal em fetos com DAP da pelve renal menor ou igual a 15 mm 8. Foi evidenciado que, em fetos com mesma idade gestacional, quanto maior o tamanho da pelve renal maior a proporção de dilatação pós-natal (a cada milímetro de aumento o risco dobra); já entre os fetos com mesmo tamanho da pelve renal o risco de apresentar dilatação após o nascimento é maior entre aqueles com menor idade gestacional (A) 8. Os resultados revelaram que quanto maior o tamanho da pelve renal maior o risco de obstrução e dilatação da pelve renal no pós-natal, no entanto, é raro se fazer o diagnóstico de obstrução em graus leve e moderada de hidronefrose (A); e entre os casos diagnosticados é alta a proporção de pacientes que não requerem cirurgia (B) 8. EURP 2013; 5(1): 13-17 16 Oliveira – Dilatação da pelve renal após o nascimento Com relação ao RVU, sua incidência também é maior entre as crianças que apresentaram hidronefrose antenatal quando comparadas a população em geral (A). No entanto ao se graduar a hidronefrose não há correlação significativa entre o aumento da pelve renal e sua ocorrência no pós-natal (A) 3, 8, 18. Outras revisões sistemáticas demonstraram que dilatações menores que 12 mm apresentam estabilização ou resolução em quase 80% dos casos e o risco de anormalidades do trato urinário no pós-natal em fetos com menos de 15 mm de DAP da pelve renal ficou abaixo de 40% (A3, 11. Esses dados sugerem que a dilatação leve é relativamente uma condição benigna, podendo ser autolimitada e, portanto necessita de investigação mínima e não invasiva (A) 3, 11. A ocorrência de intervenções cirúrgicas entre fetos com dilatação leve a moderada da pelve renal é baixa (B) 19, 20. Entre 236 fetos acompanhados por Alconcer et al e 193 acompanhados por Tombesi et al somente em dois casos, em cada estudo, houve a necessidade de cirurgia (0,8% e 1% respectivamente) 19, 20. Em um estudo indiano que acompanhou 55 casos por até quatro anos não houve nenhuma intervenção cirúrgica (BABU e SAI, 2010). Considerações finais Fetos diagnosticados com qualquer grau de hidronefrose antenatal apresentam um significativo aumento do risco de patologias após o nascimento, quando comparados a população em geral; e quanto maior o diâmetro anteroposterior da pelve renal maior o risco de obstrução da JUP (A) (LEE, CENDROM et al., 2006). Já em relação ao RVU o tamanho da pelve renal tem baixa sensibilidade e valor preditivo em predizer sua presença e severidade (B) 8. Entre fetos com dilatação leve a moderada, quanto maior o tamanho da pelve renal maior é o risco de dilatação pós-natal e obstrução, no entanto, na grande maioria dos casos há estabilização ou mesmo regressão sem a necessidade de intervenção cirúrgica (A, B) 8. A probabilidade de se detectar patologias clinicamente significativas entre fetos com dilatação leve a moderada é baixa e não justificativa procedimentos invasivos podendo-se realizar o acompanhamento ultra-sonográfico (A, B) 8. Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives Dilatações graves estão frequentemente associadas a patologias no pós-natal, mais do que as dilatações leve e moderada (A) 3. A necessidade de intervenções cirúrgicas neste grupo de pacientes também parece ser maior (B) 16, 17. Estudos prospectivos são necessários para determinar quais seriam os exames mais adequados para avaliar este grupo de fetos após o nascimento. Outros aspectos ultrassonográficos como dilatação calicial, ecogenicidade renal, espessura do parênquima renal, hidroureteronefrose, dilatação vesical, dilatação uretral posterior, ILA, sexo, lateralidade podem ajudar a melhorar a avaliação do risco de patologias pós-natal e no manejo 8. Estes parâmetros são potenciais preditores de anormalidades no pós-natal, análises futuras são necessárias para determinar o valor prognóstico destes achados ultrassonográficos 8.. Referências 1. Whitworth M, Bricker L, Neilson JP, Dowswell T. Ultrasound for fetal assessment in early pregnancy. The Cochrane database of systematic reviews 2010;(4):CD007058. 2. Bricker L, Neilson JP, Dowswell T. Routine ultrasound in late pregnancy (after 24 weeks' gestation). The Cochrane database of systematic reviews 2008;(4):CD001451. 3. Lee RS, Cendron M, Kinnamon DD, Nguyen HT. Antenatal hydronephrosis as a predictor of postnatal outcome: a meta-analysis. Pediatrics 2006;118:(2):586-593. 4. Nguyen HT, Herndon CD, Cooper C, Gatti J, Kirsch A, Kokorowski P, et al. The Society for Fetal Urology consensus statement on the evaluation and management of antenatal hydronephrosis. Journal of pediatric urology 2010;6:(3):212-231. 5. Raboei E, Abou-Seoud M, Abou-Nassef N, Mehboob F, Saggaf A, Luoma R. Prenatal ultrasound screening of the urinary tract is useful. Pediatric surgery international 2002;18:(5-6):432-434. 6. Yamacake KG, Nguyen HT. Current management of antenatal hydronephrosis. Pediatric nephrology 2013;28:(2):237-243. 7. Alconcher L, Tombesi M. Mild antenatal hydronephrosis: management controversies. Pediatric nephrology 2004;19:(7):819-820. 8. Hothi DK, Wade AS, Gilbert R, Winyard PJ. Mild fetal renal pelvis dilatation: much ado about nothing? Clinical journal of the American Society of Nephrology : CJASN 2009;4:(1):168-177. 9. Fernbach SK, Maizels M, Conway JJ. Ultrasound grading of hydronephrosis: introduction to the system used by the Society for Fetal Urology. Pediatric radiology 1993;23:(6):478480. 10. Keays MA, Guerra LA, Mihill J, Raju G, Al-Asheeri N, Geier P, et al. Reliability assessment of Society for Fetal EURP 2013; 5(1): 13-17 17 Oliveira – Dilatação da pelve renal após o nascimento Urology ultrasound grading system for hydronephrosis. The Journal of urology 2008;180:(4 Suppl):1680-1682; discussion1682-1683. 11. Sidhu G, Beyene J, Rosenblum ND. Outcome of isolated antenatal hydronephrosis: a systematic review and metaanalysis. Pediatric nephrology 2006;21:(2):218-224. 12. Pereira AK, Reis ZS, Bouzada MC, de Oliveira EA, Osanan G, Cabral AC. Antenatal ultrasonographic anteroposterior renal pelvis diameter measurement: is it a reliable way of defining fetal hydronephrosis? Obstetrics and gynecology international 2011;2011:861865. 13. Venkatesan K, Green J, Shapiro SR, Steinhardt GF. Correlation of hydronephrosis index to society of fetal urology hydronephrosis scale. Advances in urology 2009;960490. 14. Babu R, Sai V. Postnatal outcome of fetal hydronephrosis: implications for prenatal counselling. Indian journal of urology : IJU : journal of the Urological Society of India 2010;26:(1):60-62. 15. Kumar S, Walia S, Ikpeme O, Zhang E, Paramasivam G, Agarwal S, et al. Postnatal outcome of prenatally diagnosed Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives severe fetal renal pelvic dilatation. Prenatal diagnosis 2012;32:(6):519-522. 16. Coplen DE, Austin PF, Yan Y, Blanco VM, Dicke JM. The magnitude of fetal renal pelvic dilatation can identify obstructive postnatal hydronephrosis, and direct postnatal evaluation and management. The Journal of urology 2006;176:(2):724-727; discussion 727. 17. Longpre M, Nguan A, Macneily AE, Afshar K. Prediction of the outcome of antenatally diagnosed hydronephrosis: a multivariable analysis. Journal of pediatric urology 2012;8:(2):135-139. 18. Merlini L, Parvex P, Anooshiravani-Dumont M, Girardin E, Hanquinet S. Postnatal management of isolated mild pelvic dilatation detected in antenatal period. Acta paediatrica 2007;96:(8):1131-1134. 19. Alconcher LF, Tombesi MM. Natural history of bilateral mild isolated antenatal hydronephrosis conservatively managed. Pediatric nephrology 2012;27:(7):1119-1123. 20. Tombesi MM, Alconcher LF. Short-term outcome of mild isolated antenatal hydronephrosis conservatively managed. Journal of pediatric urology 2012;8:(2):129-133. EURP 2013; 5(1): 13-17 Artigo de Revisão Hidronefrose fetal: revisão da literatura Antenatal hydronephrosis: literature review Taciano da Silva Redondo 1 Hidronefrose Fetal corresponde à dilatação do sistema coletor renal fetal. É a patologia urogenital mais frequente encontrada na rotina ultrassonográfica do pré-natal sendo que a maioria dos casos tem resolução espontânea no terceiro trimestre ou pós-natal. No entanto, alguns casos demandam seguimento e intervenções com objetivo de proteger o feto. Com o desenvolvimento dos aparelhos de ultrassonografia e técnicas para avaliação fetal, houve a possibilidade da realização do diagnóstico o precoce e melhor acompanhamento. Perante a alta porcentagem de casos com resolução espontânea, o objetivo é identificar e tratar os doentes cuja função renal está em risco. Palavras-chave: Hidronefrose Fetal; Ultrassonografia. Escola de Ultrassonografia e Reciclagem Médica de Ribeirão Preto (EURP) 1 Recebido em 29/01/2013, aceito para publicação em 15/04/2013. Correspondências: Taciano da Silva Redondo Departamento de Pesquisa da EURP - Rua Casemiro de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP 14020-060. E-mail: [email protected] Fone: (16) 3636-0311 Fax: (16) 3625-1555 Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives Abstract Antenatal hydronephrosis corresponds to dilation of the fetal renal collecting system. It is the most common urogenital pathology found in routine pregnancy ultrasound and the majority of cases have spontaneous resolution in the third trimester or post-natal. However, some cases require monitoring and intervention in order to protect the fetus. With the development of devices and techniques for ultrasound fetal assessment, we have the possibility to make early diagnostic and better monitoring. Given the high percentage of cases with spontaneous resolution, the goal is to identify and treat patients whose renal function is at risk. Keywords: Ultrassonography. Antenatal hydronephrosis; EURP 2013; 5(1): 18-23 19 Redondo – Hidronefrose fetal Introdução Hidronefrose 1-13 fetal (HF) é um achado frequente nos exames ultrassonográficos do prénatal, ocorre em cerca 0,5% a 1% das gestações 1 e pode ser detectada precocemente, entre 12 e 14 semanas de gestação 12. Apesar de a Hidronefrose fetal ser na maioria dos casos uma alteração14-16 transitória sem repercussões clínicas, casos de obstrução do trato urinário e refluxo vesico-ureteral podem ser achados frequentes e nestas condições evoluir com danos renais. A realização de um diagnóstico preciso e a definição de condutas adequadas para estes pacientes é um desafio diante da preocupação do médico e ansiedade dos pais. Com o advento da rotina de ultrassonografia no pré-natal, casos de obstrução do trato urinário e refluxo estão sendo detectados antes do desenvolvimento de complicações como infecção do trato urinário, cálculos renais e insuficiência renal. Conceito e classificação A hidronefrose corresponde à dilatação do sistema coletor renal fetal. A classificação referente a esta patologia permanece subjetiva, mesmo com grandes esforços dos pesquisadores para o desenvolvimento de métodos mais objetivos. Vários sistemas foram desenvolvidos para a padronização do diagnóstico e a classificação da intensidade da hidronefrose fetal (Sidhu, Beyene et al. 2006), que são quantificados em graus e representam a possibilidade de anomalia renal proporcionalmente ao grau de hidronefrose. A Society of Fetal Urology (SFU) desenvolveu critério diagnóstico baseado no grau de dilatação pélvica, número de cálices visualizados e presença de grave atrofia do parênquima renal (Nguyen, Herndon et al. 2010). • Grau 0 – Exame normal, sem dilatação da pelve renal. • Grau 1 – Discreta dilatação da pelve renal. • Grau 2 – Moderada dilatação da pelve renal incluindo poucos cálices. • Grau 3 – Dilatação da pelve renal com visualização de todos os cálices com dilatação uniforme e parênquima renal normal. • Grau 4 – Aparência similar de dilatação da pelve renal e cálices como no grau 3 mais adelgaçamento do parênquima renal. Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives A classificação pela SFU correlaciona-se ao potencial de resolução espontânea da hidronefrose pós-natal. Grau 1 resolve-se aproximadamente em 50% dos pacientes, graus 2, 3 e 4 de hidronefrose tem resolução em 36%, 16% e 3% dos casos respectivamente (Lim, Park et al. 2003). Diâmetro da Pelve Renal (DPR) Outro sistema para avaliação de hidronefrose fetal é a medida do diâmetro da pelve renal. Esta, não reflete a extensão da hidronefrose, alterações no parênquima renal assim como alterações da ecogenicidade, adelgaçamento e ectasias. Alterando o valor de referência mínimo para DPR normal pode alterar significativamente o valor preditivo positivo da DPR como uma medida de patologia pós-natal. Quanto menor o limite de dilatação aceito mais sensível a detecção de patologia pós-natal, no entanto, implicará em maiores taxas de falsos positivos (Nguyen, Herndon et al. 2010). Atualmente o padrão aceito para significado clínico do diâmetro ântero-posterior da pelve renal utilizado ultrassonografia é baseado no estudo original de Corteville, Gray et al. 1991. Neste estudo DAP > 4 mm com 33 semanas de gestação ou > 7 mm em 40 semanas de gestação demonstra sensibilidade de 100% para identificação de paciente com função renal anormal ou que necessitam de acompanhamento e intervenção pós-natal. Epidemiologia Hidronefrose é uma patologia com maior prevalência no sexo masculino, de modo que ocorre duas vezes mais em homens do que em mulheres. É bilateral em 20 a 40% dos casos. (Gonzalez and Schimke 2001). A incidência de hidronefrose fetal situa-se entre 0,6 a 4,5% das gestações. (Ismaili, Hall et al. 2003; Dudley, Haworth et al. 1997). Esta variação pode ocorrer pelos diferentes critérios utilizados para classificação da mesma. Uma meta-análise incluindo 17 estudos de hidronefrose fetal identificou 1678 fetos em 104.572 mulheres correspondendo a 1.6 % (Lee, Cendron et al. 2006). O critério diagnóstico de hidronefrose diferiu entre os estudos incluídos. Etiologia EURP 2013; 5(1): 18-23 20 Redondo – Hidronefrose fetal Hidronefrose fetal desenvolve-se secundariamente à dilatação transitória do sistema coletor, uropatia obstrutiva alta e baixa do trato urinário e processos não obstrutivos como refluxo vesico-ureteral, megaureteres e Síndrome de PruneBelly. Uma revisão (Woodward and Frank 2002) determinou a frequência relativa de cada etiologia mencionada em seu respectivo tópico: Hidronefrose transitória (63%): pode ocorrer devido a estreitamento transitório da junção uretero-piélica no início do desenvolvimento que normaliza com amadurecimento fetal. Hidronefrose discreta com DPR menor do que 6 mm no segundo trimestre ou menor que 8 mm no terceiro trimestre está frequentemente associado com hidronefrose transitória. No entanto, a incidência é menor em casos que DPR abaixo de 10 a 12 mm são inclusos (Nguyen, Herndon et al. 2010). • Obstrução congênita da Junção Ureteropiélica (11%): é um bloqueio parcial ou total do fluxo de urina que ocorre na junção entre ureter e o rim. É a patologia mais comum causadora de hidronefrose fetal. • Refluxo vesico-ureteral (9%): consiste na passagem retrógrada de urina da bexiga para vias urinárias altas. Esta patologia predispõe a ocorrência de pielonefrite no pós-natal pelo transporte de bactéria da bexiga para ao rim. • Megaureter (4%): é definido como ureter que excede o limite de 7 mm de diâmetro baseado em medida em fetos acima de 30 semanas de gestação e crianças menores de 12 anos. Patogênese incerta, porém estipula-se que ocorre geralmente por anormalidades no desenvolvimento da camada muscular no ureter distal próximo a 20ª semana de gestação, o que resulta num seguimento sem peristaltismo que leva à obstrução funcional. Outra causa de megaureter ocorre devido à presença de válvula de uretra posterior. • Displasia Renal Multicística (2%): definido por características microscópicas, caracterizase por malformações do parênquima renal. Como resultado, o rim apresenta ductos primitivos, cistos, e outros tecidos como gorduroso e hematopoiético. • Utereterocele (2%): é uma dilatação cística do ureter terminal dentro da bexiga. Pode apresentar-se como um achado incidental em ultrassonografia pré-natal, ou após o Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives nascimento por causa de sintomas devido à infecção urinária ou obstrução. • Válvula de uretra posterior (1%): ocorre na presença de pregas membranosas no lúmen da uretra posterior que é a causa mais comum de obstrução do trato urinário em recém-nascido do sexo masculino. Ocorre em cerda de 1 em 5000 – 8000 gestações (Brown, Mandell et al. 1987). • Etiologias menos comuns: Trato urinário: Ureter ectópico, PruneBelly, atresia uretral, cisto de úraco. • Diversos: Cisto ovariano, teratoma sacrococcígeo, atresia duodenal, meningocele. Papel da ultrassonografia Detecção de hidronefrose fetal pela ultrassonografia frequentemente ocorre no segundo trimestre. Dilatações mais severas estão geralmente relacionadas a doenças do trato urinário. Na presença de Hidronefrose fetal, alguns parâmetros precisam ser avaliados no exame ultrassonográfico a fim de determinar a possível causa. É necessária avaliação do trato urinário buscando detalhar os seguintes achados: • Grau de Hidronefrose: a probabilidade de alterações congênitas dos rins e trato urinário são maiores quando DPR muito aumentado. • Acometimento uni ou bilateral: quando ocorre ambos os lados, há um risco significativo de injúria renal e insuficiência renal pós-natal. • Acometimento do ureter: dilatação do ureter pode corresponder a refluxo vesico-ureteral ou obstrução distal do trato urinário (ureterocele, megaureter ou válvula de uretra posterior). • Alterações do parênquima renal: adelgaçamento do parênquima renal associado ou não a presença de cistos indicam lesão ou anomalia do desenvolvimento do córtex renal. Um córtex ecogênico indica displasia que pode estar associado a refluxo vesico-ureteral ou obstrução. • Alterações na bexiga: anormalidades como aumento na espessura e presença de trabéculas na parede da bexiga é associado com patologia obstrutiva distal (válvula de uretra posterior); outro sinal é a dilatação da uretra proximal em fetos masculinos. Espessamento da bexiga fetal EURP 2013; 5(1): 18-23 21 Redondo – Hidronefrose fetal é considerado quando sua espessura é maior de 3 mm no segundo trimestre e 5 mm no terceiro trimestre (Callen PW et al, 2007). Outro modo para avaliação é no corte sagital a espessura é maior do que a soma da idade gestacional em semanas (mm) + 2 mm. (Maizels, Alpert et al. 2004). • Ureteroceles: podem ser visualizadas na bexiga e são causa de obstrução quando situadas perto da uretra. • Volume do liquido amniótico: em caso de patologia com insuficiência renal, há diminuição da produção de urina fetal, o que resulta em oligoâmnio. • Presença de urina na cavidade abdominal: a ruptura da bexiga e de cálices renais pode ocorrer por causa espontânea ou iatrogênica devido ao aumento da pressão no interior do trato urinário por obstrução distal ou bexiga neurogênica. Acompanhamento As decisões a serem tomadas dependem de um conjunto de variáveis a serem analisadas: presença de anormalidades renais e outros tecidos, grau da hidronefrose, acometimento uni ou bilateral, idade gestacional e volume do liquido amniótico. Fetos que apresentarem discreta hidronefrose devem ser seguidos com ultrassonografia a critério do obstetra sendo realizado pelo menos um exame para controle no terceiro trimestre para avaliar progressão ou resolução. Partes significantes desses casos vão resolver-se completamente e não será necessário acompanhamento pós-natal (Feldman, DeCambre et al. 2001). Nos demais casos em que a hidronefrose persistir no terceiro trimestre é recomentado seguimento após o nascimento (Nguyen, Herndon et al. 2010). Na presença de achados suspeitos de válvula de uretra posterior, (oligoâmnio, bexiga dilatada e hidronefrose bilateral) deve ser realizada ultrassonografia criteriosa para excluir outras anormalidades. Dependendo do grau de oligoâmnio, repetir exames a cada quatro semanas pode ser necessário. No caso de oligoâmnio crescente, intervenção fetal como derivação vésico-amniótica pode ser oferecida. O período ideal para a realização é no meio do segundo trimestre. Um preditor da função renal Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives pode ser realizado através de analise bioquímica da urina fetal (Clark, Martin et al. 2003). Acompanhamento seriado ultrassonográfico está indicado para fetos com: • Moderada ou severa hidronefrose • Rim único • Acometimento bilateral • Progressão e/ou persistência da hidronefrose. • Oligoâmnio • Espessamento da parede da bexiga, ureteromegalia, presença de urinoma ou ascite urinária. Oligoâmnio severo Interrupção da gestação precoce pode ser indicada em caso de maturação pulmonar documentada e oligoâmnio severo. Apesar de não haver evidências de melhora do quadro renal com o parto precoce, este pode ser indicado por redução do risco de efeitos adversos do oligoâmnio como compressão do cordão umbilical. Volume do liquido amniótico normal Fetos com envolvimento unilateral e líquido amniótico normal deve ter seguimento com ultrassonografia entre 32 e 34 semanas de gestação para avaliação e servir como parâmetro em avaliações pós-natal. Em fetos com hidronefrose bilateral e líquido amniótico normal é necessário repetir ultrassonografia duas ou três semanas após o diagnóstico para avaliar progressão e volume do líquido amniótico. Novas avaliações serão definidas de acordo com os resultados das avaliações seriadas. Cariótipo Em fetos com discreta hidronefrose e volume normal do líquido amniótico, fatores de risco clínicos e marcadores ultrassonográficos para Síndrome de Down devem ser avaliados. Valores de DPR entre 4 e 10 mm (SFU grau 1 ou 2) podem estar associados a cromossomopatias. O cariótipo deve ser oferecido em fetos com novas anormalidades detectadas e em casos de idade materna avançada. Acompanhe na tabela 1, as recomendações para acompanhamento pré-natal segundo consenso publicado pela The Society for Fetal Urology (Nguyen, Herndon et al. 2010). EURP 2013; 5(1): 18-23 22 Redondo – Hidronefrose fetal Tabela 1. Recomendações para acompanhamento pré-natal da Hidronefrose Fetal Detecção Grau DAP Recomendações 2º trimestre Discreto <7 Considerar US no 3º trimestre. Moderado 7 – 10 USG no 3º trimestre. Grave > 10 Repetir USG em 3 a 4 semanas. <9 Avalição após nascimento. Moderado 9 – 15 Avalição após nascimento. Grave > 15 Repetir USG em 2 a 3 semanas. 3º Trimestre Discreto Considerações especiais Dificuldade na diferenciação anatômica Considerar ressonância magnética. Oligoâmnio Considerar obtenção de amostra de urina fetal. Suspeita de VUP (↑ da ecogenicidade renal) Intervenção fetal Embora existam vários estudos prospectivos e retrospectivos de cirurgia pré-natal em fetos com achados ultrassonográficos consistentes com obstrução do trato urinário inferior, não há evidências de que esta intervenção melhore o resultado renal (Morris, Ruano et al. 2011). O objetivo da intervenção é aliviar a obstrução do trato urinário para permitir o desenvolvimento renal normal e restaurar o volume de líquido amniótico necessário ao desenvolvimento pulmonar. Alternativas incluem cirurgia fetal aberta, vesicocentese com aspiração da pelve renal, derivação vésico-amniótica e mais métodos experimentais, tais como fetoscopia e laparoscopia. Infelizmente, o melhor momento para intervenção é o segundo trimestre da gestação, que é frequentemente tarde para evitar displasia renal (Holmes, Harrison et al. 2001). Recomenda-se abordagem em casos de oligoâmnio severo, suspeita de boa função renal do feto, e a ausência de sinais de outras anomalias congénitas (Herndon, Ferrer et al. 2000). Considerações finais Hidronefrose fetal trata-se de uma patologia frequentemente encontrada em exames ultrassonográficos do pré-natal. Na maioria das Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives Considerar intervenção fetal, vesicocentese seriada, antecipar parto sendo analisado caso a caso. vezes são alterações transitórias com resolução espontânea no terceiro trimestre ou pós-natal. No entanto, em casos de obstrução distal do trato urinário e refluxo vesico ureteral há risco de perdas das funções renal e pulmonar irreversíveis. A tentativa de classificar o grau de hidronefrose e o acometimento estruturas do trato urinário tem sido válidas para a definição do prognóstico fetal. Nesse contexto, a ultrassonografia tem sido fundamental para o acompanhamento e diagnóstico definitivo da etiologia, assim como auxilia na execução de novas técnicas para intervenção fetal. É necessário, porém, novos estudos prospectivos para aferição do sucesso das técnicas e protocolos que estão sendo implantados Referências 1. Dudley JA, Haworth JM, McGraw ME, Frank JD, Tizard EJ. Clinical relevance and implications of antenatal hydronephrosis. Archives of disease in childhood. Fetal and neonatal edition 1997;76:(1):F31-34. 2. Feldman DM, DeCambre M, Kong E, Borgida A, Jamil M, McKenna P, et al. Evaluation and follow-up of fetal hydronephrosis. Journal of ultrasound in medicine : official journal of the American Institute of Ultrasound in Medicine 2001;20:(10):1065-1069. EURP 2013; 5(1): 18-23 23 Redondo – Hidronefrose fetal 3. Gonzalez R, Schimke CM. Ureteropelvic junction obstruction in infants and children. Pediatric clinics of North America 2001;48:(6):1505-1518. 4. Herndon CD, Ferrer FA, Freedman A, McKenna PH. Consensus on the prenatal management of antenatally detected urological abnormalities. The Journal of urology 2000;164:(3 Pt 2):1052-1056. 5. Nguyen HT, Herndon CD, Cooper C, Gatti J, Kirsch A, Kokorowski P, et al. The Society for Fetal Urology consensus statement on the evaluation and management of antenatal hydronephrosis. Journal of pediatric urology 2010;6:(3):212-231. 6. Holmes N, Harrison MR, Baskin LS. Fetal surgery for posterior urethral valves: long-term postnatal outcomes. Pediatrics 2001;108:(1):E7. 7. Ismaili K, Hall M, Donner C, Thomas D, Vermeylen D, Avni FE. Results of systematic screening for minor degrees of fetal renal pelvis dilatation in an unselected population. American journal of obstetrics and gynecology 2003;188:(1):242246. 8. Lee RS, Cendron M, Kinnamon DD, Nguyen HT. Antenatal hydronephrosis as a predictor of postnatal outcome: a meta-analysis. Pediatrics 2006;118:(2):586-593. 9. Lim DJ, Park JY, Kim JH, Paick SH, Oh SJ, Choi H. Clinical characteristics and outcome of hydronephrosis detected by prenatal ultrasonography. Journal of Korean medical science 2003;18:(6):859-862. 10. Maizels M, Alpert SA, Houston JT, Sabbagha RE, Parilla BV, MacGregor SN. Fetal bladder sagittal length: a simple monitor to assess normal and enlarged fetal bladder size, Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives and forecast clinical outcome. The Journal of urology 2004;172:(5 Pt 1):1995-1999. 11. Morris RK, Ruano R, Kilby MD. Effectiveness of fetal cystoscopy as a diagnostic and therapeutic intervention for lower urinary tract obstruction: a systematic review. Ultrasound in obstetrics & gynecology : the official journal of the International Society of Ultrasound in Obstetrics and Gynecology 2011;37:(6):629-637. 12. Robyr R, Benachi A, Daikha-Dahmane F, Martinovich J, Dumez Y, Ville Y. Correlation between ultrasound and anatomical findings in fetuses with lower urinary tract obstruction in the first half of pregnancy. Ultrasound in obstetrics & gynecology : the official journal of the International Society of Ultrasound in Obstetrics and Gynecology 2005;25:(5):478-482. 13. Sidhu G, Beyene J, Rosenblum ND. Outcome of isolated antenatal hydronephrosis: a systematic review and metaanalysis. Pediatric nephrology 2006;21:(2):218-224. 14. Brown T, Mandell J, Lebowitz RL. Neonatal hydronephrosis in the era of sonography. AJR. American journal of roentgenology 1987;148:(5):959-963. 15. Clark TJ, Martin WL, Divakaran TG, Whittle MJ, Kilby MD, Khan KS. Prenatal bladder drainage in the management of fetal lower urinary tract obstruction: a systematic review and meta-analysis. Obstetrics and gynecology 2003;102:(2):367-382. 16. Corteville JE, Gray DL, Crane JP. Congenital hydronephrosis: correlation of fetal ultrasonographic findings with infant outcome. American journal of obstetrics and gynecology 1991;165:(2):384-388. EURP 2013; 5(1): 18-23 Artigo de Revisão Hipertrofia ventricular esquerda em pacientes com hipertensão arterial sistêmica Left ventricular hypertrophy in patients with arterial systemic hypertension Thiago de Avellar Pinto 1 A hipertrofia ventricular esquerda é considerada como resposta adaptativa do coração a hipertensão arterial e essa esta associada como incremento do risco cardiovascular em eventos. O ecocardiograma é um método superior para diagnóstico de HVE quando comparado ao ECG e RX de Tórax, no entanto esse método não esta presente e disponível para toda população. Palavras-chave: Eletrocardiografia; Ecocardiografia; Hipertrofia Ventricular Esquerda; Hipertensão. Escola de Ultrassonografia e Reciclagem Médica de Ribeirão Preto (EURP) 1 Recebido em 03/01/2013, aceito para publicação em 05/04/2013. Correspondências: Thiago de Avellar Pinto Departamento de Pesquisa da EURP - Rua Casemiro de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP 14020-060. E-mail: [email protected] Fone: (16) 3636-0311 Fax: (16) 3625-1555 Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives Abstract Left ventricular hypertrophy is considered as an adaptive response of the heart to hypertension and this is associated to increased cardiovascular risk in events. Echocardiography is a superior method for diagnosing LVH when compared to ECG and chest X-ray, however this method is not present and available to the entire population. Keywords: Electrocardiography; Echocardiography; Left Ventricular Hypertrophy; Hypertension. EURP 2013; 5(1): 24-27 25 Pinto – Hipertrofia ventricular esquerda Introdução A hipertensão arterial sistêmica é definida uma condição clínica multifatorial caracterizada por níveis elevados e sustentados de pressão arterial, esta com freqüência associada a alterações metabólicas e lesões em órgãos-alvo (coração, encéfalo, rins e vasos sanguíneos), estando associada ao incremento no risco de eventos cardiovasculares fatais e não fatais, sendo um grande problema de saúde publica. Estatísticas brasileiras apontam que entre 22,3% e 43,9%, (média de32, 5%) da população apresentam níveis pressóricos acima dos limites, com distribuição entre os gêneros; 35,8% nos homens e 30% em mulheres, semelhante à de outros países. Segundo Dib et al a prevalência é de 28,5% (33,6 milhões de indivíduos hipertensos no ano de 2005), considerando que aproximadamente 50% dos indivíduos hipertensos não estão diagnosticados98 e somente 52% encontra-se em tratamento medicamentoso. As doenças cardiovascularessão a principal causa de óbito e internação hospitalar no Brasil, sendo a hipertensão arterial sistêmica um de seus principais fatores de risco. A Hipertrofia ventricular esquerda é divida em dois tipos; concêntrica e excêntrica. Nos hipertensos a hipertrofia ventricular é considerada como uma resposta adaptava das células do miocárdio a sobrecarga de volume, sendo um fator de mal prognostico para esses pacientes. A HVE também é considerada como resposta adaptativa em outras situações como diabetes, estenose aórtica e no atleta por exemplo. Exame eletrocardiográfico No eletrocardiograma são avaliados o eixo cardíaco a duração do complexo QRS , amplitude da onda R nas derivações D1, aVL, V5 e V6, a amplitude da onda S em V1, V2 e V3, o padrão strain em V5 e V6, bem como a maior amplitude das ondas R e S nas derivações do plano horizontal. Abaixo estão listados em oito critérios diagnósticos de HVE no eletrocardiograma. Maior S + maior R no plano horizontal multiplicado pela maior duração do QRS [(S + R) X QRS]: soma da maior amplitude da onda S com a maior amplitude da onda R no plano horizontal (em mm), multiplicando-se o total pela duração do complexo QRS (em segundos), onde esse for mais largo, normalmente nas derivações V2 ou Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives V3. O escore de HVE pelo ECG é definido quando o resultado é ≥ 2,8 mm.s. Critério de Sokolow-Lyon voltagem: SV1 + RV5 ou V6 ≥ 35 mm. Critério de Cornell voltagem: RaVL + SV3 ≥ 20 mm para mulheres e ≥ 28 mm para homens. Critério de Cornell duração: (RaVL + SV3) X duração de QRS, para mulheres adicionar 8 mm, ≥ 2440 mm.ms. Escore de pontos de Romhilt-Estes: maior amplitude de R ou S ≥ 30 mm no plano horizontal ou ≥ 20 mm no plano frontal ou padrão strain em V5 ou V6 (se em uso de digital vale apenas um ponto) ou crescimento do átrio esquerdo pelo índice de Morris (três pontos); eixo elétrico de ÂQRS acima de menos 30 graus (dois pontos); duração de QRS ≥ 90 ms em V5 ou V6 ou tempo de ativação ventricular ≥ 50 ms em V5 ou V6 (um ponto). Por esse escore HVE é diagnosticada quando a soma é ≥ 5pontos. Onda R de aVL ≥ 11 mm. Escore de Perúgia: HVE é diagnosticada pela presença de um ou mais dos seguintes achados – critério de Cornell, considerando o limite para mulheres ≥ 20 mm e para homens ≥ 24 mm, escore de Romhilt-Estes e padrão strain. Presença do padrão strain: definido como uma depressão convexa do segmento ST com inversão assimétrica da onda T oposta ao complexo QRS nas derivações V5 ou V6. A análise de reprodutibilidade do método foi feita por três observadores que interpretaram, de forma independente, 100 traçados de ECG retirados aleatoriamente para análise da amplitude das ondas R e S e duração do complexo QRS. Exame Radiológico No Raio-X de tórax é identificado como sinal de HVE índice cardiotorácico superior a 0.50, arredondamento da silueta cárdica, nas incidências póstero-anterior e perfil e a medida de Ringler. Exame Ecocardiográfico As medidas lineares do ventrículo esquerdo no ecocardiograma devem ser obtidas no eixo paraesternal em modo bidimensional ou modoM, ao nível das pontas das cúspides da valva mitral. Essa medida deve ser preferencialmente realizada em modo-M devido à maior freqüência de repetição de pulsos em modo-M que assegura EURP 2013; 5(1): 24-27 26 Pinto – Hipertrofia ventricular esquerda melhor correlação temporal dos quadros obtidos em relação ao modo bidimensional, com isso, facilitando a diferenciação de estruturas como trabéculas adjacentes à parede posterior ou falsos tendões próximo ao septo interventricular. Contudo em modo-M o ângulo deve ser obtido o mais perpendicular possível em relação ao eixo maior do VE não devendo ultrapassar 30º para as medidas não ficarem obliquas e superestimadas, caso este ângulo não seja respeitado as medidas devem ser feitas preferencialmente em modo bidimensional. Tabela 1. Recomendações para ecocardiografia na avaliação do paciente hipertenso, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia. Recomendações Classe Pacientes hipertensos para detecção de hipertrofia miocárdica I Pacientes hipertensos com suspeita clínica de insuficiência cardíaca para avaliação da função sistólica e diastólica I Pacientes hipertensos com três ou mais fatores de risco cardiovascular, para avaliar se há lesão de orgão-alvo I Reavaliação de paciente hipertenso sem alteração no seu quadro clínico IIb Avaliação de familiares de 10 grau III Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretrizes das Indicações da Ecocardiografia (Arq Bras Cardiol, 2009). Essas medidas devem ser usadas para o calculo da massa ventricular esquerda, obtida por formulas matemáticas que utilizam o principio de subtração do volume total do conteúdo pericárdico do volume total da cavidade do VE a fim de se obter o volume do músculo e convertendo-o matematicamente multiplicando-o pela densidade do músculo cardíaco. Essa medida é mais fidedigna em corações sem alterações morfológicas, um vez que leva em consideração as medidas obtidas em eixo curto em região livre de alteração de contratilidade segmentar. As recomendações segundo a sociedade brasileira de cardiologia para realização de ecocardiograma em paciente com hipertensão arterial estão listadas na tabela 1, e os valores de referencia para massa miocárdica na tabela 2. Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives Tabela 2. Valores de referência para normalidade da massa miocárdica derivados do eco unidimensional, segundo a Sociedade Americana de Ecocardiografia (ASE). Fórmula de Penn Sexo MVE IMVE M ≤ 294 g ≤ 134 g/m² F ≤ 198 g ≤ 110 Fórmula de Devereux ou anatômica Sexo MVE IMVE M ≤ 224 g ≤ 115 g/m² F ≤ 162 g ≤ 95 g/m² F: feminino; M: masculino; IMVE: índice de massa ventricular esquerda; MVE: massa ventricular esquerda. Discussão Na pratica clinica diária da clinica médica e da cardiologia lidamos com fatores de risco para determinadas doenças como, hipertensão arterial, diabetes, obesidade, historia familiar, tabagismo, idade, gênero, etnia, sedentarismo, uso de drogas licitas e ilícitas. As doenças cardiovasculares são influenciadas por esses fatores sendo que alguns desses fatores podem ser controlados por condutas medicas como hipertensão arterial e diabetes, outros como sedentarismo, obesidade, tabagismo, uso de drogas podem ser modificados pelo paciente com mudança no estilo de vida. Alguns fatores não podem ser modificados como historia familiar, gênero e idade. A função do medico clinico em sua pratica diária ambulatorial é diminuir ao máximo os fatores de risco para quaisquer doença. A hipertrofia ventricular esquerda é considerada como resposta adaptava do coração a hipertensão arterial e essa esta associada como incremento do risco cardiovascular em eventos fatais ou não fatais como, IAM, AVC e morte cardíaca. O tratamento da HVE ainda não é consensual sabe-se que o uso de Beta-bloeadores, Inibidor da enzima conversora de angiotensina (IECA), bloqueador de receptor da angiotensina (BRA) e Bloqueadores de canais de cálcio além de controlares a pressão parecem ser mais eficiente no controle e reversão da HVE, no estudo LIFE (Losartan Intervention for Endpoint reduction in EURP 2013; 5(1): 24-27 27 Pinto – Hipertrofia ventricular esquerda hypertension) foi avaliada a losartana (BRA) demonstrado diminuição significativa da massa muscular cardíaca no grupo em estudo. Considerações finais A hipertensão arterial sistêmica é uma patologia de grande prevalência na população e esta associada ao aumento do risco de doenças cardiovasculares a hipertrofia ventricular esquerda é considerada uma resposta adaptativa do ventrículo esquerdo à hipertensão arterial quando presente aumenta o risco cardiovascular. Assim a redução da HVE quando presente deve vista como meta a ser atingida no tratamento dos pacientes. A VI Diretrizes Brasileira de Hipertensão considera como lesão em órgão alvo ECG com HVE (Sokolow-Lyon > 35 mm; Cornell > 28 mm para homens (H); >20 mm para mulheres (M), ecocardiograma com índice de massa de VE > 134 g/m2 em H ou 110 g/m2 em M. Ela recomenda a radiografia de tórax para pacientes com suspeita clínica de insuficiência cardíaca (Classe IIa, Nível C), quando demais exames não estão disponíveis; e para avaliação de acometimento pulmonar e de aorta. Logo a radiografia de tórax não é recomendada pela SBC em sua sexta diretrizes de hipertensão arterial o uso radiografia de tórax para avaliação de hipertrofia ventricular esquerda. O ecocardiograma é um método superior para diagnóstico de HVE quando comparado ao ECG e RX de Tórax, no entanto esse método não esta presente e disponível para toda população um estudo recente sugere que o raios-X de tórax nas medidas postero-anterior e perfil associadas ao eletrocardiograma têm sua sensibilidade e especificidade aumentada para diagnostico de HVE em relação ao eletrocardiograma sugerindo que essa dupla metodologia possa ser quando não disponível o ecocardiograma. Referências Casalle PN, Devereux RB, Alonso DR, Campo E, Kligfield P. Improved sex-specificcriteriaofleft ventricular hypertrophy for clinical and computer interpretation of electrocadiograms: validation with autopsy findings. Circulation. 1987;75(3):565-72. Cesarino CB, Cipullo JP, Martin JFV, Ciorlia LA, Godoy MRP, Cordeiro JA,Rodrigues IC. Prevalência e fatores sócio demográficos em hipertensos de São José do Rio Preto. Arq Bras Card 2008; 91(1): 31–35. Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives Dib MW, Riera R, Ferraz MB. Estimate of the annual cost of arterial hypertension treatment in Brazil. Pan American Journal of Public Health 2010(in press). Documento do Banco Mundial. Enfrentando o desafio das doenças nãotransmissíveisno Brasil. Relatório No 32576BR. 15 de novembro de 2005. Keats TE. Atlas of roentgenographic measurement. 6th ed. St Louis: MosbyYear Book; 1990. Levy D, Salomon M, D'Agostino RB, Belanger AJ, Kannel WB. Prognostic implications of baseline electrocardiographic features and their serial changes in subjects with left ventricular hypertrophy. Circulation. 1994;90(4):1786-93. Malta DC, Moura L, Souza FM, Rocha FM, Fernandes FM. Doenças crônicas não transmissíveis: mortalidade e fatores de risco no Brasil, 1990 a 2006 inSaúde Brasil 2008. Ministério da Saúde, Brasília. 2009. Pág 337–362. Mazzaro CL, Costa FA, Bombig MTN, Luna Filho B, Paola AAV, Carvalho ACC, et al. Massa ventricular e critérios eletrocardiográficos de hipertrofia: avaliação de um novo escore. Arq Bras Cardiol. 2008;90(4):227-31. Okin PM, Roman MJ, Devereux RB, Kligfield P. Electrocardiographic identification of increased left ventricular mass by simple voltage-duration products. J Am Coll Cardiol. 1995;25(2):417-23. Pereira M, Lunet N, Azevedo A, Barros H. Differences in prevalence, awareness, treatment and control of hypertension between developing and developed countries. J Hypertension 2009; 27(5): 963–975. Rayner BL, Goodman H, Opie LH. The ChestRadiograph. A useful investigation in the evaluation of hypertensive patients. Am J Hypertens 2004;17: 507–510. Romhilt DW, Estes EH. A point-score system for the ECG diagnosis of left ventricular hypertrophy. Am Heart J. 1968;75(6):752-58. Rosário TM, Scala LCNS, França GVA, Pereira MRG, Jardim PCBV.Prevalência, controle e tratamento da hipertensão arterial sistêmica emNobres, MT. ArqBrasCard 2009; 93(6): 672–678. Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretrizes das Indicações da Ecocardiografia. Arq Bras Cardiol 2009 Dez. Sociedade Brasileira de Cardiologia. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. ArqBrasCardiol 2010 Jul. Sokolow M, Lyon TP. The ventricular complex in left ventricular hypertrophy as obtained by unipolar precordial and limb leads. Am Heart J. 1949;37(2):161-86. Surawicz B, Knilans TK. (editors). Choose ectrocardiography in clinical practice: adult and pediatric. 5th ed. Philadelphia: W. B. Saunders; 2001. Tratado de medicina cardiovascular /Peter Libby... [ET.al].; [traducao Alexandre MaceriMid~ao et. al.]. – Rio de janeiro: Elsevier, 2010. 2v:Il. Vol 1: 549 – 559. Verdecchia P, Staessen JA, Angeli F, de Simone G, Achilli A, Ganau A, et al. On behalf of the Cardio-Sis investigators. Usual versus tight control of systolic blood pressure in nondiabetic patients with hypertension (Cardio-Sis): an openlabel randomized trial. Lancet 2009; 374: 525–533. Williams B. The year in hypertension. JACC 2010; 55(1): 66–73. EURP 2013; 5(1): 24-27 Artigo de Revisão Avaliação ecográfica axilar em pacientes com câncer de mama Axillary ultrasound evaluation in patients with breast cancer Alessandra Borba Anton de Souza 1 Avaliação axilar por biópsia de linfonodo sentinela (BLS) e dissecção axilar completa são uma parte inerente do tratamento atual do câncer de mama. Uma melhor compreensão da biologia do tumor mudou o impacto prognóstico e terapêutico do status linfonodal. Recentes trials publicados apontam uma possível não vantagem em realizar a dissecção axilar em pacientes selecionadas com biópsia de linfonodo sentinela positiva. Esses estudos sugerem que a cirurgia completa axilar não melhora os resultados e nem modificia prognóstico da doença. Como resultado, há um crescente interesse em estadiar com precisão a avaliação axilar com imagens pré-operatórias para facilitar o planejamento do tratamento. Atualmente, a técnica de imagem mais comum para a avaliação da axila é a ecografia. Em muitos locais, a capacidade de detectar linfonodos axilares contendo metástases com ecografia e biópsia guiada por imagem já permite que os cirurgiões possam contornar a biópsia do linfonodo sentinela e prossiga com dissecção de linfonodos axilares. No entanto, nenhuma modalidade de imagem atualmente tem um valor preditivo negativo suficiente para evitar o estadiamento cirúrgico da axila, se não forem detectados gânglios linfáticos anormais. Estudos randomizados e promissoras tecnologias de imagem avançadas têm o potencial de melhorar a precisão do estadiamento axilar e, assim, transformar a gestão da axila em pacientes recém-diagnosticados com câncer de mama. Este trabalho tem como objetivo revisar a avaliação ecográfica axilar em pacientes com câncer de mama. Palavras-chave: Ultrassonografia axilar; Linfonodos Axilares; Câncer de Mama. Escola de Ultrassonografia e Reciclagem Médica de Ribeirão Preto (EURP) 1 Recebido em 31/01/2013, aceito para publicação em 05/04/2013. Correspondências: Alessandra Borba Anton de Souza Departamento de Pesquisa da EURP - Rua Casemiro de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP 14020-060. E-mail: [email protected] Fone: (16) 3636-0311 Fax: (16) 3625-1555 Abstract Evaluation of axillary lymph node status by sentinel lymph node biopsy (SLNB) and complete axillary lymph node dissection (ALND) are an inherent part of breast cancer treatment. Increased understanding of tumor biology has changed the prognostic and therapeutic impact of lymph node status. Recents triasl showed that there is no outcome advantage in dissecting the axilla in the presence of positive SLN, meaning not only that wider surgery in the axilla is not improving outcome but also that the information achieved by removing lymph nodes does not change the prognosis of the disease. As a result, there is increasing interest to stage accurately the axilla with preoperative imaging to facilitate treatment planning. Currently, the most widespread imaging technique for the evaluation of the axilla is ultrasound. In many settings, the ability to detect axillary lymph nodes containing metastases with imaging and image-guided biopsy can allow surgeons to bypass sentinel lymph node dissection and proceed with full axillary lymph node dissection. However, no imaging modality currently has sufficient negative-predictive value to obviate surgical staging of the axilla if no abnormal lymph nodes are detected. New studies and promising advanced imaging technologies, hold the potential to improve the accuracy of axillary staging and thereby transform management of the axilla in patients newly diagnosed with breast cancer. This paper aims to review the role of axillary ultrasonography in patients with brast cancer. Keywords: Axillary Ultrasonography; Axillary Lymph Node; Breast Cancer. Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2013; 5(1): 28-33 29 Souza – Avaliação ecográfica axilar no câncer de mama Introdução Câncer de mama é o tumor maligno mais comum entre o sexo feminino, representando 31% de todos os cânceres. Até recentemente, a dissecção axilar era considerada o método de escolha para estadiamento axilar. No entanto, esta cirurgia é relatada com resultado positivo em 30% dos tumores palpáveis e em 10% dos tumores não palpáveis em pacientes com avaliação axilar clínica negativa. Portanto, as restantes 70 a 90% das pacientes seriam submetidas a dissecção axilar desnecessariamente [4]. Atualmente, o uso comum da mamografia de rastreamento tem levado a diagnóstico precoce de tumores de pequeno tamanho. A taxa de metástase axilar é muito baixa em pacientes diagnosticadas em estágios iniciais [4]. Portanto, foi desenvolvido um método chamado de biópsia linfonodo sentinela (BLS). Hoje existem 2 formas diferentes utilizadas para a determinação do linfonodo sentinela, incluindo o uso cirúrgico de uma sonda gama (gama probe) através de um mapeamento linfocintilográfico pré operatório e o uso de azul de patente durante a cirurgia [4,7]. Embora BLS tenha reduzido a morbidade associada com a dissecção axilar, ainda é um procedimento cirúrgico que geralmente necessita de anestesia geral, prolonga tempo cirúrgico e acarreta um risco de 3% -7% de linfedema crônico ela também necessita de patólogo experiente, aumenta tempo cirúrgico e necessita de recursos tecnológicos específicos (azul patente ou linfocintilografia e material de congelação transoperatória)[5]. Em alguns casos não se consegue detectar o linfonodo sentinela e em outros pode-se localizar até 3 linfonodos sentinelas. Consequentemente, têm se pesquisado o desenvolvimento de novos métodos de imagem para avaliar os linfonodos axilares antes da cirurgia de modo mais específico [4]. Também é importante selecionar adequadamente os canditados a BLS, evitando o procedimento em pacientes com alta suspeita de metástase axilar durante avaliação pré operatória. Biópsia por agulha fina guiada ecograficamente (FNA) de linfonodos axilares suspeitos, podem reduzir a necessidade de BLS entre 21% a 65% [5]. Além disso, inúmeros estudos questionam a necessidade de BLS em pacientes selecionadas com câncer de mama inicial e avaliação clínica e ecográfica axilar negativas [6, 14, 18, 19]. Como Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives resultado, uma abordagem de avaliação por imagem pré-operatória acurada para estadiamento linfonodal axilar é de grande valor clínico [1]. Uma abordagem racional e baseada em evidências para a gestão do estadiamento clínico e do auxílio da ecografia em pacientes com axila clinicamente negativa se faz necessária [7]. A exclusão de metástases linfáticas, utilizando métodos não invasivos, poderia reduzir a taxa de cirurgia axilar. No entanto, a experiência do examinador (radiologista e do citologista) e o tempo para avaliação pré-operatória são cruciais para a uma melhor precisão diagnóstica por exames de imagem [7,9]. Neste artigo de revisão, discutiremos o papel atual da imagem axilar em pacientes com câncer de mama e seu impacto sobre as terapias para carcinoma mamário.. Finalmente, destacamos a nossa opinião de imagem atual para avaliação pré-operatória da axila e futuras direções [1]. Considerações anatômicas na avaliação ecográfica axilar Atualmente, a modalidade mais aceita e útil para a imagem linfonodos axilares é a ecografia. Este método de imagem utiliza ondas sonoras de alta frequência para produzir imagens de alta resolução espacial refletindo propriedades do tecido de impedância acústica em tempo real. Sua principal vantagem em relação a outras modalidades é a sua capacidade de visualizar os linfonodos em tempo real, sem planos fixos. Isso permite imagens de um linfonodo no trajeto de seus eixos longo e curto para avaliação da morfologia. Linfonodos normais são com formato de um rim, com o córtex fina e um generoso hilo gorduroso. Classicamente, o fluxo bidirecional é identificado dentro do hilo, representando suprimento arterial e a drenagem venosa. O tamanho geral de um linfonodo normal possui uma ampla variação. Linfonodos normais de até cinco centímetros já foram relatados na axilar [1]. A principal característica ecográfica de linfonodos suspeitos é um espessamento do córtex (ou difusamente ou desorganizadamente alargado), com a substituição da gordura normal do hilo (Resumo aparência linfonodal na tabela 1, em anexo). O fluxo de sangue no hilo central e córtex pode ser hiperemiado e, também, a presença de fluxo sanguíneo não hilar (acredita-se que representa alargamento da rede vascular cortical, normalmente pequena, devido à EURP 2013; 5(1): 28-33 30 Souza – Avaliação ecográfica axilar no câncer de mama angiogênese tumoral) tem sido descrita em gânglios linfáticos contendo a doença metastática. No entanto, estes resultados não são patognomônico de metástases e também podem ser vistos em condições reativas ou inflamatórias [1, 7] Tabela 1. Aparência linfonodal na ecografia axilar (adaptada de Ojeda-Fournier, 2011 8). Normal Anormal Formato oval Formato globular Tamanho até 2 cm > 2 cm Hilo gorduroso ecóico , Assimetria. nítido e distinto. Espessamento cortical > 2mm. Irregularidade cortical. Córtex simétrico e Margens especuladas hipoecóico. Fino ou mal definidas homogêneo córtex em forma de rim. Gordura subcutânea e Hiperemia associada tecido fibroglandular com vascularização abaixo do linfonodo. tortuosa e distorcida. Achados normais bilaterais Linfonodo suspeito próximo de linfonodo normal ou pouco suspeito. A ecogenicidade do córtex de linfonodos acometidos pode ser sensivelmente diminuída comparada com a de linfonodos normais. Linfonodos que são completamente substituídos por doença metastática podem apresentar uma ecogenicidade interna quase anecóica, imitando cistos simples [1]. Por causa da sobreposição entre o aparecimento de gânglios linfáticos contendo doença metastática, linfonodos hiperplásicos normais, e linfonodos reativos, amostras de tecido pré-operatório sob orientação ecográfica muitas vezes é necessária para diagnosticar definitivamente a doença em linfonodos axilares. Amostragem pré-operatória de linfonodos suspeitos é quase sempre realizada sob orientação ecográfica através da aspirativa por agulha fina (FNA) ou biópsia com agulha grossa (CNB). Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives Embora FNA historicamente tenha sido mais comumente realizada por causa de preocupações relacionadas com a lesão neurovascular, biópsia com agulha grossa pode ser executada com segurança na maioria dos pacientes. Isto é devido, em parte, ao fato de que os linfonodos axilares anormais detectadas por exame de imagem são de nível I, na parte inferior da axila, portanto, localizados distantes de grandes vasos e nervos. Além disso, o uso de dispositivos de biópsia modernos com agulhas controláveis, incluindo a capacidade de avançar a agulha de biópsia em uma posição favorável, possibilita a amostragem de linfonodos localizados em locais mais desafiadoras. Embora FNA e CNB tenham sensibilidades comparáveis (CNB, 82%; FNA, 75%), FNA é considerado mais operador dependente do que CNB e requer citologista experiente [1]. Ecografia na avaliação axilar e Bióspia por agulha fina guiada ecograficamente Na década de 1990, a ecografia era tradicionalmente usada para caracterizar nódulos mamários como císticos ou sólidos. Com os avanços tecnológicos, as indicações ecográficas para a avaliação de mama têm aumentado significativamente. Transdutores de alta frequência, o fluxo de recursos Doppler colorido e melhoras nas descrições morfológicas culminam na caracterização avançada de vários tecidos mesenquimais, incluindo gordura, vasos sanguíneos, parênquima mamário, nervos, calcificações e tecido conjuntivo, permitindo a identificação de linfonodos, previamente indescritíveis. A aplicação clínica ecográfica evoluiu drasticamente, e a avaliação dos linfonodos loco-regionais está agora sendo rotineiramente usada em vários centros como parte do protocolo padrão na abordagem multidisciplinar para avaliação, estadiamento e seguimento de pacientes com câncer de mama [8]. Alguns estudos apontam que o uso combinando de biópsia aspirativa com agulha fina guiada ecograficamente (FNA) e ecografia para avaliação axilar fornecem uma metodologia acurada de rastreio linfonodal axialar. No entanto, FNA necessita de um radiologista e de um citologista experiente [5]. Na avaliação de pacientes com câncer de mama, a ecografia tem sido demonstrada em diferenciar com precisão linfonodos, mesmo quando não palpáveis, do tecido circundante e EURP 2013; 5(1): 28-33 31 Souza – Avaliação ecográfica axilar no câncer de mama visualizar alterações ao seu tamanho, forma, bordas e cortex. O exame físico é amplamente reconhecido como impreciso, com taxas de sensibilidade relatados perto de 32% para a detecção de metástases axilar em comparação com 73% para ecografia [8]. De acordo com as diretrizes atuais, BLS é indicada para pacientes com câncer de mama invasivo comprovado histologicamente e clinicamente e ecograficamente linfonodos axilares não suspeitos. Alvarez et al realizaram revisão sistemática de 16 estudos, em qual a avaliação ecográfica em linfonodos não palpáveis foi realizada, o tamanho do linfonodo e a morfologia foram os principais critérios de positividade [7]. Para o tamanho linfonodal, a sensibilidade variou de 48,8% (95% intervalo de confiança [CI] 39,6% - 58%) e 87,1% ( 76,1% 94,3%) e especificidade entre 55,6% ( 44,7 – 66,3%) e 97,3% (86,1% - 99,9%). Quando a morfologia linfonodal foi usada como o critério de positividade, a sensibilidade variou de 26,4 % ( 15,3 – 40, 3%) a 75,9% ( 56,4% - 89,7%) e a especificidade, de 88,4% ( 82,1 – 93,1%) a 98,1% (90,1 – 99,9%). Após biópsia de agulha fina guiada ecograficamente (US-FNA), sensibilidade variou entre 30,6% (22,5 – 39,6%) a 62,9% (49,7 – 74,8%) e a especificidade permanenceu próxima a 100% ( 94,8 % - 100%). Estudos recentes confirmam esse índice de porcentagem para USFNA mostrando sensibilidade de 53 a 59% e especificidade de 100% [7]. Portanto, ecografia axilar é moderadamente sensível e bastante específica para o diagnóstico de metástase axilar. A classificação dos linfonodos axilares baseado na espessura cortical (ponto de corte de 2,5 mm) e a aparência da gordura do hilo ecograficamente é efetivo em predizer a presença de metastases axilares em diversos recentes estudos [ 7, 20]. É importante salientar que um resultado negativo em qualquer patologia FNA ou CNB ainda não pode prevenir estadiamento cirúrgico axilar. Isto é devido a dois fatores principais: primeiro, o linfonodo ecográfico anormal pode não pode representar o linfonodo sentinela . Em segundo lugar, ecografia e FNA / CNB têm valores preditivos negativo insuficientes para evitar a estadiamento cirúrgico, nos estudos realizados até hoje. Um estudo realizado por Holwitt et al. demonstrou que a ultrassonografia axilar e FNA/ CNB guiada ecografiamente juntas têm 70% de acurácia para o estadiamento linfonodal axilar, em axila clinicamente negativa, Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives com um valor preditivo positivo de 97% e um valor preditivo negativo de 84%. Esses resultados confirmam que a ecografia juntamente com a biopsia guiada ecograficamente possuem utilidade maior com biópsias positivas, o que pode evitar avaliação axilar cirúrgica, iniciando diretamente a dissecção axilar [1, 7]. Discussão Ecografia é um método simples de avaliação pré-operatória que até hoje não é indicada para estadiamento, Segundo as diretrizes atuais. No entanto, o aumento dos conhecimentos sobre esta técnica, baixo custo, ausência de exposição à radiação e fácil aplicabilidade também em conjunto com aspiração com agulha fina e seu resultado citológico (FNAC) fazem a ecografia um método interessante para avaliação axilar antes da cirurgia. Obviamente, não é possível comparar o poder da análise histológica extensa da BLS com esta modalidade de imagem, mas novos estudos em adamento trarão informações importantes sobre a possibilidade de triagem de pacientes selecionadas para a doença axilar subclinical [9]. Atualmente, o impacto da informação prognóstico do estado do linfonodo axilar no processo de tomada de decisão terapêutica no cancer de mama é menos importante do que era no passado. O tratamento adjuvante é cada vez mais adaptado para as características biológicas da doença ao invés de sobre o risco de recorrência. No trial Amaros, no qual pacientes com linfonodo sentinela positivo são randomizadas para receber ou esvaziamento axilar ou radioterapia axilar, o tipo de tratamento adjuvante não se alterou entre os dois grupos, sugerindo que a informação detalhada sobre o estado axilar não vai mudar as recomendações de tratamento. Perspectivas futuras Com os novos estudos já citados, surgem inúmeras questões: se metástase axilar é menor do que o esperado em pacientes com BLS negativa [15], se um excelente controlo local pode ser alcançada sem a decompor a axila, mesmo em pacientes com o BLS positivo [3], e se a informação sobre a extensão do envolvimento ganglionar não muda o tipo de tratamento adjuvante [14] e ,principalmente, não altera prognóstico: será que realmente precisamos olhar para o linfonodo sentinela? Será que realmente EURP 2013; 5(1): 28-33 32 Souza – Avaliação ecográfica axilar no câncer de mama precisamos das informações obtidas através da identificação e análise da BLS [9]? Se a presença de micrometástases na SLN não precisa ser considerada ao decidir recomendações para o tratamento sistêmico [19] e se na presença de envolvimento limitado do linfonodo sentinela, o esvaziamento axilar pode ser poupado, surgem os seguintes questionamentos: nós realmente precisamos procurar um envolvimento mínimo linfonodal axilar? Se não, nós devemos tentar mudar o método de estadiamento cirúrgico para um método de imagem para estadiamento axilar capaz de diagnosticar o envolvimento linfonodal relevante? [9] Com um novo entendimento do linfonodo sentinela e do comprometimento axilar como uma informação prognóstica quando comprometimento maior,, sem alteração em sobrevida com o estadiamento cirúrgico, poderemos avaliar a axila com um exame que nos mostre as alterações importantes sem os danos cirúrgicos. Portanto, a ecografia axilar poderá fazer parte da avaliação cínica pré operatória axilar, substituindo o linfonodo sentinela naquelas pacientes com avaliação negativa para um comprometimento maior e indicando esvaziamento axilar naquelas com doença avançada. Considerações finais Há um crescente interesse em técnicas de imagem pré-operatórios para avaliar a axila em pacientes recém-diagnosticados com câncer de mama. Atualmente, não temos estudos que comprovem uma modalidade de exame de imagem com um valor preditivo negativo suficiente para substituir os métodos de preparo cirúrgicos tradicionais, como BLS e dissecção axilar. No entanto, a detecção e a amostragem de tecido dos gânglios linfáticos axilares suspeitos por avaliação ecográfica antes da cirurgia já pode, através de citologias positivas, evitar a necessidade de avaliação cirúrgica da axila em alguns pacientes, permitindo que a dissecção axilar a seja executada diretamente. A BLS ainda é o tratamento padrão para o estadiamento axilar em pacientes com câncer de mama invasivo. Recentes estudos demonstraram não haver diferença prognóstica em pacientes com BLS positiva tratadas com disseção axilar versus não cirurgias axilar [7, 9]. Estes estudos questionaram o papel do linfonodo sentinela no câncer mamário, levantando a possibilidade de Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives ser apenas um dado prognóstico e não relavante na decisão terapêutica. Com base nas perguntas surgidas com esses estudos, novos trials estão buscando a melhor abordagem para identificação das pacientes que necessitam de BLS, de dissecção axilar e, inclusive, daquelas as quais a BLS não acarretaria informação relevante no tratamento de sua doença. Necessitando responder essas perguntas e buscando qualidade no tratamento das pacientes, a ecografia axilar vem se desenvolvendo como uma etapa importante no estadiamento clínico. Melhores aparelhos, profissionais mais treinados e novos estudos randomizados apontam para um possível estadiamento axilar em pacientes com cancer de mama inicial. Portanto, a ecografia axilar, no futuro, poderá fazer parte do estadiamento clínico de pacientes com cancer de mama, influenciando diretamente na decisão terapêutica cirúrgica posterior [1]. Referências Casalle PN, Devereux RB, Alonso DR, Campo E, Kligfield P. 1. Rahbar H, Partridge SC, Javid Sara et al. Imaging Axillary Lymph Nodes in Patientes with Newly Diagnosed Breast Cancer. Curr Probl Diagn Radiol 2012; 41: 149 – 158. 2. Veronesi U, Paganelli G, Viale G, Luini A, Zurrida S, Galimberti V, et al. A randomized comparison of sentinelnode biopsy with routine axillary dissection in breast cancer. N Engl J Med 2003;349(6):546 - 53. 3. Giuliano AE, McCall L, Beitsch P, Whitworth P, Blumencranz P, Leitch AM, et al. Locoregional recurrence after sentinel lymph node dissection with or without axillary dissection in patients with sentinel lymph node metastases: the American College of Surgeons Oncology Group Z0011 randomized trial. Ann Surg 2010;252(3):426 - 32 [discussion 432 - 433]. 4. Oz Aysegul, Demirkazik BF, Akpinar MG et al. Efficiency of ultrasound and ultrasound-guided fine needle aspiration cytology preoperative assessment of axillary lymph node metastases in breast cancer. J Breast Cancer 2012; 15 (2): 211 – 217. 5. Garcia-Ortega MJ, Benito MA, Vahamonde EF et al. Pretreatment axillary ultrasonography and core biopsy in patients with suspected breast cancer: diagnostic accuracy and impact on management. European Journal of Radiology 2009; 79 (2011) 64 – 72. 6. Giuliano AE, Hunt KK, Ballman KV, Beitsch P, Whitworth P, Blumencranz P, et al. Axillary dissection vs no axillary dissection in women with invasive breast cancer and sentinel node metastasis: a randomized clinical trial. J Am Med Ass 2011; 305(6): 569 - 75. 7. Gerber B, Heintze K, Syubert J, Dieterich M, et al. Axillary lymph node dissection in early-stage invasive breast cancer: is it still standard today? Breast Cancer Res Treat 2011; 128: 613 – 624. 8. Ojeda-Founier H, Nguyen JQ; Ultrasound Evaluation of Regional Breast Lymph Nodes. Seminars in Roentgenology 2011; 46 (1):51 – 59. EURP 2013; 5(1): 28-33 33 Souza – Avaliação ecográfica axilar no câncer de mama 9. Gentilini O, Veronesi U. Abandoning sentinel lynph node biopsy in early breast cancer? A new trial in progress at the European Institue of Oncology of Milan ( SOUND: Sentinel node vc Observation after axillary Ultrasound). The Breast 2012; 21: 671 – 681. 10. Fisher B, Jong-Hyeon J, Anderson S, Bryant J, Fisher ER, Wolmark N. Twenty-␣ve- year follow-up of a randomized trial comparing radical mastectomy, total mastectomy, and total mastectomy followed by irradiation. N Engl J Med 2002;347:567 - 75. 11. International Breast Cancer Study Group. Randomized trial comparing axillary clearance versus no axillary clearance in older patients with breast cancer: first results of International Breast Cancer Study Group Trial 1093. J Clin Oncol 2006;24:337 - 44. 12. Veronesi U, Orecchia R, Zurrida S, Galimberti V, Luini A, Veronesi P, et al. Avoiding axillary dissection in breast cancer surgery: a randomized trial to assess the role of axillary radiotherapy. Ann Oncol 2005;16(3):383 - 8. 13. Goldhirsch A, Ingle JN, Gelber RD, Coates AS, Thürlimann B, Senn HJ, Panel members. Thresholds for therapies: highlights of the St Gallen International Expert Consensus on the primary therapy of early breast cancer. Ann Oncol 2009;20(8):1319 - 29. 14. Straver ME, Meijnen P, van Tienhoven G. Role of axillary clearance after a tumor-positive sentinel node in the administration of adjuvant therapy in early breast cancer. J Clin Oncol 2010;28(5):731 - 7. Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives 15. Veronesi U, Galimberti V, Paganelli G, Maissoneuve P, Viale G, Orecchia R, et al. Axillary metastases in breast cancer patients with negative sentinel nodes: a follow-up of 3548 cases. Eur J Cancer 2009;45(8):1381 - 8. 16. Wasif N, Maggard MA, Ko CY, Giuliano AE. Underuse of axillary dissection for the management of sentinel node micrometastases in breast cancer. Arch Surg 2010;145(2):161 -6. 17. Montagna E, Viale G, Rotmensz N, Maissoneuve P, Galimberti V, Luini A, et al. Minimal axillary lymph node involvement in breast cancer has different prognostic implications according to the staging procedure. Breast Cancer Res Treat 2009;118(2):385 - 94. 18. Hansen NM, Grube B, Ye X, Turner RR, Brenner RJ, Sim MS, et al. Impact of micrometastases in the sentinel node of patients with invasive breast cancer. J Clin Oncol 2009;27(28):4679 - 84. 19. Galimberti V, Botteri E, Chifu C, Gentilini O, Luini A, Intra M, et al. Can we avoid axillary dissection in the micrometastatic sentinel node in breast cancer? Breast Cancer Res Treat 2011;131(3):819 - 25. 20. Alvarez S, Anorbe E, Alcorta P et al. Role of sonography in the diagnosis of axillary lymph node metastases in breast cancer: a systematic review. AJR Am J Roentgenol 2006; 186: 1342 – 1348. EURP 2013; 5(1): 28-33 Artigo de Revisão O papel da ultrassonografia no diagnóstico da litíase da vesícula biliar The role of ultrasonography in the diagnosis of gallstones Francisco Gomes da Silva 1 Cálculos biliares e inflamação da vesícula biliar são as causas mais freqüentes de dor abdominal e estão entre as doenças gastrointestinais mais comuns que exigem hospitalização. Ocorrem, com freqüência, em indivíduos jovens e saudáveis, e as características mais comuns dos sujeitos acometidos geralmente são: sexo feminino, obesidade, gravidez, alimentos gordurosos, doença de Crohn, ressecção do íleo terminal, cirurgia gástrica, esferocitose hereditária, anemia falciforme, talassemia, entre outros. O diagnóstico da litíase biliar baseia-se na apresentação clínica e evidência de cálculos bibliares no diagnóstico por imagem, por este motivo, o ultrassom abdominal é o exame diagnóstico padrão, por proporcionar ao cirurgião importante informação anatômica, visto que, através do referido exame, é possível visualizar o espessamento da parede da vesícula biliar (>4mm), líquido pericolecístico, distensão da vesícula, cálculo impactado e sinal de Murphy sonográfico – sensibilidade focal diretamente sobre a vesícula. Para tratar, portanto, do papel da ultrassonografia no diagnóstico da litíase biliar (cálculo), o objetivo do presente trabalho é ressaltar a importância deste método. Com o intuito de corresponder ao objetivo proposto, será realizada uma revisão bibliográfica, que servirá de fundamento para descrever as vias biliares, sua anatomia e fisiopatologia; a doença – litíase, seus sintomas, diagnóstico, complicações e tratamento; o papel da ultrassonografia na colelitíase sintomática e como realizar uma investigação suplementar. Palavras-chave: Ultrassonografia; Diagnóstico; Litíase Biliar. Escola de Ultrassonografia e Reciclagem Médica de Ribeirão Preto (EURP) 1 Recebido em 04/02/2013, aceito para publicação em 20/04/2013. Correspondências: Francisco Gomes da Silva Departamento de Pesquisa da EURP - Rua Casemiro de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP 14020-060. Fone: (16) 3636-0311 Fax: (16) 3625-1555 Abstract Gallstones and gallbladder inflammation are the most common causes of abdominal pain are among the most common gastrointestinal diseases that require hospitalization. Occur frequently in young healthy subjects, and the most common features of affected subjects usually are: female gender, obesity, pregnancy, fatty foods, Crohn's disease, resection of the terminal ileum, gastric surgery, hereditary spherocytosis, sickle cell anemia, thalassemia, among others. The diagnosis of gallstone disease based on clinical presentation and evidence gallstones in diagnostic imaging, for this reason, the abdominal ultrasound is the standard diagnostic test for the surgeon to provide important anatomical information because, through this examination, You can view the thickening of the gallbladder wall (> 4 mm), net pericholecystic, distension of the gallbladder, calculus impacted and sonographic Murphy's sign - focal tenderness directly over the gallbladder. To treat, so the role of ultrasonography in the diagnosis of gallstones (calculation), the aim of this paper is to emphasize the importance of this method. In order to meet the goal set, there will be a literature review, which will serve as a foundation for describing the biliary tract, their anatomy and pathophysiology; illness - gallstones, its symptoms, diagnosis, complications and treatment: the role of ultrasonography in cholelithiasis symptomatic and how to conduct a further investigation. Keywords: Ultrasonography; Diagnosis; Biliar Lithiasis. Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2013; 5(1): 34-39 35 Silva – Litíase da vesícula biliar Introdução Os cálculos biliares são comuns nos países ocidentais e têm representado incidência substancial nos sistemas de cuidados de saúde. Nos EUA, por exemplo, os cálculos biliares representam o maior custo direto de todas as doenças digestivas (WITTENBURG, 2010 apud EVERHART, 2002). Os cálculos biliares mais freqüentemente se formam na vesícula biliar e em alguns casos torna-se evidente por causar dor ou complicações - apesar de já ter-se observado que a maioria dos cálculos da vesícula biliar permanece assintomática (WITTENBURG, 2010 apud PORTINCASA, 2006). Além disto, existem fatores como cálculos biliares grandes associados com um risco aumentado de carcinoma da vesícula biliar ou vários cálculos biliares que podem aumentar o risco de migração para o colédoco terminal, causando obstrução (WITTENBURG, 2010 apud VENNEMAN, 2006). A incidência da litíase biliar é maior nas mulheres com múltiplas gestações e está, discretamente, aumentada em pacientes obesos. O diagnóstico e tratamento de colelitíase, tanto sintomática quanto assintomática, ocorrem a partir de um ultrassom do abdome que é um método extremamente útil e acurado de identificação de cálculos biliares e alterações da vesícula biliar - tal exame apresenta alta sensibilidade para detecção de pedra e pode indicar complicações da colelitíase como colecistite ou carcinoma de vesícula e permite análise simultânea de outros órgãos que podem estar causando os sintomas (WITTENBURG, 2010 apud PORTINCASA, 2006). Deve ser parte da avaliação rotineira de pacientes com suspeita de cálculos biliares. È imprescindível para determinar o comprometimento de estruturas vasculares. O presente trabalho tem por objetivo realizar uma breve revisão bibliográfica, ressaltando a importância dos métodos diagnósticos, sobretudo, o papel da ultrassonografia no diagnóstico da litíase da vesícula biliar. Ultrassonografia na colelitíase sintomática Na história natural da litíase biliar, 40 a 60% dos portadores de colelitíase são assintomáticos. No entanto, quando ocorre a dor associada ao cálculo biliar, ela geralmente está localizada no quadrante superior direito do abdome ou região Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives epigástrica, pode irradiar para o ombro para trás ou para a direita, pode estar associada a náuseas e vômitos e normalmente dura mais do que 15-30 min (WITTENBURG, 2010 apud PORTINCASA, 2006). Para concluir que o quadro clínico de um determinado paciente se trata de litíase sintomática, deve-se observar questões como: a frequência de aparecimento de sintomas num doente até aí assintomático; frequência de aparecimento de complicações mais ou menos graves; probabilidades de a primeira manifestação da doença ser uma complicação grave; tratamentos médicos x cirúrgicos; comparação da morbilidade e mortalidade das complicações vs. as decorrentes de uma cirurgia (ANDRADE, 2007). No caso da constatação de que mesmo uma pessoa que não apresenta queixas, mas é portadora de uma patologia que pode causar complicações graves - como a pancreatite aguda litiásica severa (15%), que apresenta uma mortalidade elevada, a caso deve ser discutido e apresentado ao doente, que é parte fundamental no processo decisório em relação ao diagnóstico e tratamento. Suspeita de litíase sintomática deve pedir um exame de ultrassom. Tal exame tem uma alta sensibilidade para detecção de pedras e pode indicar complicações da colelitíase como colecistite ou carcinoma de vesícula e permite análise simultânea de outros órgãos que podem estar causando os sintomas (WITTENBURG, 2010, p. 751). A técnica é não invasiva, amplamente disponível, com excelente sensibilidade e especificidade (acima de 95%) para a detecção de cálculos biliares maiores do que 1,5 mm (PORTINCASA, 2006 apud LEOPOLD, 1976). A ultrassonografia fornece informações adicionais sobre o tamanho de pedra, carga e mobilidade no interior da vesícula biliar (PORTINCASA, 2006 apud PALASCIANO, 1992), além da espessura da parede (espessamento da parede da vesícula superior a 3 mm, pode ser encontrada na colecistite aguda ou crônica ou pós-prandiais) e o diâmetro do ducto biliar (PORTINCASA, 2006 apud JOHNSTON & KAPLAN, 1993). Durante a ultrassonografia, além disso, o estudo simultâneo de outros órgãos abdominais é possível (isto é, fígado, pâncreas, rins, baço, etc.) A ultrassonografia também é importante antes da colecistectomia laparoscópica para prever várias dificuldades técnicas que podem ocorrer durante EURP 2013; 5(1): 34-39 36 Silva – Litíase da vesícula biliar a cirurgia (PORTINCASA, 2006 apud YAU et al, 2005). Em contrapartida, a ultrassonografia abdominal torna-se menos útil para o diagnóstico de coledocolitíase: pedras pequenas de dutos biliares são mais difíceis de detectar devido à sua localização anatômica e interferência de gases intestinais (sensibilidade inferior a 50%). A visualização durante uma ultrassonografia de um canal biliar comum dilatado e aumento da bilirrubina e fosfatase alcalina, sugere o diagnóstico de coledocolitíase com colestase em curso (PORTINCASA, 2006 apud SLEISENGER & FORDTRAN, 1996). Investigação suplementar na colelitíase sintomática No que diz respeito a realização de uma investigação suplementar na colelitíase sintomática, exames como a radiografia e tomografia computadorizada abdominal raramente são úteis já que apenas 10% dos cálculos biliares são calcificados e, portanto, detectáveis como corpos radiopacos, no canto superior direito. A ressonância magnética do pâncreas (CPRM) vem recentemente conquistando importância cada vez maior para o diagnóstico de coledocolitíase (100% de especificidade, sensibilidade 89%), e a sua precisão é muito semelhante ao da ERCP. Quando há suspeita de coledocolitíase, a ressonância (CPRM) é o próximo passo, se ERCP não fornecer qualquer informação de diagnóstico ou for contra indicada. No entanto, se os cálculos biliares são pequenos (menos de 4 mm) e estão localizados próximos a Papila de Vater, a precisão é bastante insatisfatória (PORTINCASA, 2006 apud NIH, 2002). O MRCP, além disso, não é amplamente disponível e, ao contrário ERCP, não permite que a extração endoscópica de pedras (cálculos) (PORTINCASA, 2006 apud NIH, 2002). MRCP pode desempenhar um papel durante a avaliação pré-operatória de pacientes submetidos a colecistectomia laparoscópica com sinais e sintomas sugestivos de coledocolitíase. Se este for o caso, o cirurgião pode escolher a abordagem dupla, isto é, colecistectomia laparoscópica e ERCP. Ecografia endoscópica (EUS) pode desempenhar um papel na detecção de cálculos biliares demasiado pequenos para serem detectados a partir de alguns outros métodos também sugeridos para investigações, como por Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives exemplo, a ocorrência de uma microlitíase em pacientes que apresentam dor na parte abdominal superior – certamente pode-se sugerir uma ultrassonografia transabdominal comum, entretando, neste contexto, EUS mostra uma faixa de sensibilidade entre 94 e 98% (PORTINCASA, 2006 apud BUSCARINI et al, 2003). A Cintilografia biliar e, mais tarde, ultrassonografia “funcional”, têm sido empregadas no estudo das alterações da vesícula biliar (PORTINCASA, 2006 apud FESTI et al, 2000). Considerando que a cintilografia é um procedimento com um custo alto, além de não ser amplamente disponível, e submeter os pacientes a radiação, a ultrassonografia funcional permite fácil mensuração do tempo relacionado às mudanças (alterações) de volume da vesícula biliar em jejum e pós-prandial. Uma série de fatores condicionantes pode interferir na mobilidade da vesícula biliar (conforme demonstrado na tabela a seguir). Além disso, a presença de cálculos biliares de colesterol está associada com alguma distorção na mobilidade da vesícula biliar observada em jejum e pós-prandial, num subgrupo de pacientes que apresentam cálculo PORTINCASA, 2006 apud PORTINCASA et al, 1994); esta dificuldade de mobilidade da vesícula biliar é, em parte, devido tanto ao excesso de colesterol biliar PORTINCASA, 2006 apud APSTEIN & CAREY, 1996), quanto a rápida nucleação / precipitação de cristais sólidos de colesterol a partir de uma bile supersaturada (PORTINCASA, 2006 apud PORTINCASA et al, 2003), os dois fatores que contribuem sutilmente para dificultar a função contrátil do músculo da vesícula biliar (PORTINCASA, 2006 apud XU & SHAFFER, 1996; YU et al, 1996). Embora não rotineiramente, o estudo ultrassonográfico em jejum / pós-prandial para observar a mobilidade da vesícula biliar tem uma função importante na detecção de cálculos biliares, mesmo em pacientes com a função motora da vesícula biliar preservada (ou seja, pelo menos 50% de fração de ejeção pós-prandial ou um volume pequeno pós-prandial residual, ou seja, menos do que 6 ml) (PORTINCASA, 2006 apud PORTINCASA et al, 1994; SACKMAN et al, 1990; FESTI et al, 1990). Por último exame por microscopia de polarização da vesícula biliar - bile obtida por intubação duodenal ou ERCP, pode revelar a presença de cristais anidros de colesterol, que são EURP 2013; 5(1): 34-39 37 Silva – Litíase da vesícula biliar altamente sugestivos para a presença de cálculo biliar, sinais estes, que se não forem observados detalhadamente, podem resultar em cálculos indetectáveis (PORTINCASA, 2006). Diagnóstico diferencial na colelitíase sintomática Embora a presença de dor biliar contínua ser o primeiro sintoma sugestivo de cálculo biliar “sintomático” (PORTINCASA, 2006 apud DIEHL & ET TODD, 1990; PAUMGARTNER et al, 1988), tem-se discutido que pode ser arriscado distinguir entre indivíduos sintomáticos e assintomáticos, em uma população aleatória de pacientes que apresentam cálculo biliar (PORTINCASA, 2006 apud JORGENSEN, 1989). O diagnóstico pode ser ainda mais confuso no caso de pacientes descreverem inadequadamente ''sintomas'' típicos ou serem acometidos por sintomas atípicos. Diversas condições clínicas são caracterizadas por sintomas que caracterizam a dor biliar de maneira enganosa (dor epigástrica, por exemplo, infarto do miocárdio), e isso pode levar potencialmente a consequências desastrosas (conforme demonstra da tabela abaixo). O histórico deve apontar para a natureza, a intensidade, localização, duração, início, cessação, fatores atenuantes, radiação e frequência da dor. Além disso, o julgamento clínico adequado é essencial para identificar pacientes que necessitam de investigações auxiliares mais invasivas (isto é, EGDS, ECG, colonoscopia, etc.) Em alguns casos, a partir de um diagnóstico incerto ou confuso, a litíase ou colelitíase biliar sintomática talvez possa gerar certa frustração no paciente, particularmente quando a dor continua por resolver (ou piora) após colecistectomia. Deve-se considerar também que fatores psicológicos parecem estar fortemente associados ao resultado pós-colecistectomia. Considerações finais O ultrassom do abdome é considerado um exame bastante útil e determinado na identificação de cálculos biliares e outras patologias na vesícula biliar compatíveis com colecistite aguda. O referido exame tornou-se parte da avaliação rotineira de pacientes com suspeita de cálculos biliares, apresentando sensibilidade necessária para diagnóstico de colelitíase. Além disto, o ultrassom pode detalhar sinais de colecistite, Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives como espessamento da parede da vesícula biliar, líquido pericolecístico e cálculo impactado no colo da vesícula bilbiar (Sabiston, 2010, p. 1458). E ainda estimar o diâmetro do colédoco, para o caso da investigação da coledocolitíase. Pode-se dizer que, geralmente, é o exame de rastreio inicial realizado em pacientes com suspeita de obstrução biliar extra-hepática. Referências Attili AF, De Santis A, Capri R et al. The natural history of gallstones: the GREPCO experience. Hepatology 1995; 21: 656e660. Berhane T, Vetrhus M, Hausken Tet al. Pain attacks in non-complicated and complicated gallstone disease have a characteristic pattern and are accompanied by dyspepsia in most patients: the results of a prospective study. Scand J Gastroenterol 2006; 41: 93e101. Bonatsos G, Birbas K, Toutouzas K et al. Laparoscopic cholecystectomy in adults with sickle cell disease. Surg Endosc 2001; 15: 816e819. Brugge WR. The silent gallstone. In Afdhal NH (ed.). Gallbladder and Biliary Tract Diseases. New York, Basel: Marcel Dekker, Inc, 2000, pp. 447e453. Buscarini E, Tansini P, Vallisa D et al. EUS for suspected choledocholithiasis: do benefits outweigh costs? A prospective, controlled study. Gastrointest Endosc 2003; 57: 510e518. Canto MI, Chak A, Stellato T et al. Endoscopic ultrasonography versus cholangiography for the diagnosis of choledocholithiasis. Gastrointest Endosc 1998; 47: 439e448. Everson GT, Braverman DZ, Johnson ML et al. A critical evaluation of real-time ultrasonography for the study of gallbladder volume and contraction. Gastroenterology 1980; 79: 40e46. Festi D, Sottili S, Colecchia A et al. Clinical manifestations of gallstone disease: evidence from the multicenter Italian study on cholelithiasis (MICOL). Hepatology 1999; 30: 839e846. Festi D, Colecchia A, Larocca A et al. Review: low caloric intake and gall-bladder motor function. Aliment Pharmacol Ther 2000; 14(supplement 2): 51e53. Friedman GD, Raviola CA & Et Fireman B. Prognosis of gallstones with mild or no symptoms: 25 years of follow-up in a health maintenance organization. J Clin Epidemiol 1989; 42: 127e136. Graham SM, Flowers JL, Schweitzer E et al. Opportunistic upper gastrointestinal infection in transplant recipients. Surg Endosc 1995; 9: 146e150. Graham SM, Flowers JL, Schweitzer E et al. The utility of prophylactic laparoscopic cholecystectomy in transplant candidates. Am J Surg 1995; 169: 44e48. Gibney EJ. Asymptomatic gallstones. Br J Surg 1990; 77: 368e372. Grimaldi CH, Nelson RG, Pettitt DJ et al. Increased mortality with gallstone disease: results of a 20-year population-based survey in Pima Indians. Ann Intern Med 1993; 118: 185e190. Johnston DE & Kaplan MM. Pathogenesis and treatment of gallstones. N Engl J Med 1993; 328: 412e421. EURP 2013; 5(1): 34-39 38 Silva – Litíase da vesícula biliar Jorgensen T. Abdominal symptoms and gallstone disease: an epidemiological investigation. Hepatology 1989; 9: 856e860. Jungst C. [et al]. Microlithiasis and sludge. Best Pratice & Research Clinical Gastroentereology. Vol. 20. No. 6, pp. 1053 – 1062. 2006. Kalimi R, Gecelter GR, Caplin D et al. Diagnosis of acute cholecystitis: sensitivity of sonography, cholescintigraphy, and combined sonography-cholescintigraphy. J Am Coll Surg 2001; 193: 609e613. Kao LS, Kuhr CS & Et Flum DR. Should cholecystectomy be performed for asymptomatic cholelithiasis in transplant patients? J Am Coll Surg 2003; 197: 302e312. Lanzini A, Jazrawi RP & Et Northfield TC. Simultaneous quantitative measurements of absolute gallbladder storage and emptying during fasting and eating in humans. Gastroenterology 1987; 92: 852e861. Leopold GR. Diagnostic ultrasound. JAMA 1976; 236: 2394. Leopold GR, Amberg J, Gosink BB et al. Gray scale ultrasonic cholecystography: a comparison with conventional radiographic techniques. Radiology 1976; 121: 445e448. Liem RK & Niloff PH. Prophylactic cholecystectomy with open gastric bypass operation. Obes Surg 2004; 14: 763e765. Minutolo V, Gagliano G, Rinzivillo C et al. Laparoscopic cholecystectomy (LC): predictive role of preoperative ultrasounds. G Chir 2005; 26: 101e104. Mirbagheri SA, Mohamadnejad M, Nasiri J et al. Prospective evaluation of endoscopic ultrasonography in the diagnosis of biliary microlithiasis in patients with normal transabdominal ultrasonography. J Gastrointest Surg 2005; 9: 961e964. NIH state-of-the-science statement on endoscopic retrograde cholangiopancreatography (ERCP) for diagnosis and therapy. NIH Consens State Sci Statements 2002; 19: 1e26. Onders RP & Hallowell PT. The era of ultrasonography during laparoscopic cholecystectomy. Am J Surg 2005; 189: 348e351. Palasciano G, Serio G, Portincasa P et al. Gallbladder volume in adults and relationship to age, sex, body mass index and gallstones: a sonographic population study. Am J Gastroenterol 1992; 87: 493e497. Paumgartner G, Carr-Locke DL, Dubois F et al. Strategies in the treatment of gallstone disease. Working team report. Gastroenterology International 1993; 6: 65e75. Pomeranz IS & Shaffer EA. Abnormal gallbladder emptying in a subgroup of patients with gallstones. Gastroenterology 1985; 88: 787e791. Portincasa P, Di Ciaula A, Baldassarre G et al. Gallbladder motor function in gallstone patients: sonographic and in vitro studies on the role of gallstones, smooth muscle function and gallbladder wall inflammation. J Hepatol 1994; 21: 430e440. Portincasa P, Di Ciaula A, Palmieri VO et al. Sonographic evaluation of gallstone burden in humans. Ital J Gastroenterol Hepatol 1994; 26: 141e144. Portincasa P. Gallbladder and bile in health and gallstone disease. The role of motility, gallstones and bile lipid composition. PhD Thesis Utrecht University, Utrecht University, 1995. Portincasa P, Peeters TL, Berge-Henegouwen GP et al. Acute intraduodenal bile salt depletion leads to strong gallbladder contraction, altered antroduodenal motility and Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives high plasma motilin levels in humans. Neurogastroenterol Motil 2000; 12: 421e430. Portincasa P, Moschetta A, Colecchia A et al. Measurement of gallbladder motor function by ultrasonography: towards for standardization. Dig Liver Dis (Ital J Gastroenterol Hepatol) 2003; 35(supplement 3): S56eS61. Portincasa, P. [et al]. Symptoms and diagnosis of gallbladder Stones. Best Practice & Research Clinical Gastroenterology. Vol. 20, No. 6, pp. 1017e1029, 2006 Randi G, Franceschi S & Et La VC. Gallbladder cancer worldwide: geographical distribution and risk factors. Int J Cancer 2006; 118: 1591e1602. Sabiston, Courtney M. Townsend [et al]. Tratado de cirurgia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. Santos JS, Sankarankutty AK, Salgado Júnior W, kemp R, Módena JLP, Elias Júnior J, Castro e Silva Júnior O. Colecistectomia: aspectos técnicos e indicações para o tratamento da litíase biliar e das neoplasias. Medicina (Ribeirão Preto) 2008; 41 (4): 449-64. Sauerbruch T & Paumgartner G. Gallbladder stones: management. Lancet 1991; 338: 1121e1124. 23. Diehl AK, Sugarek NJ & Et Todd KH. Clinical evaluation for gallstone disease: usefulness of symptoms and signs in diagnosis. Am J Med 1990; 89: 29e33. Schoenfield LJ, Carulli N, Dowling RH et al. Asymptomatic gallstones: definition and treatment. Gastroenterology International 1989; 2: 25e29. Shiffman ML, Sugerman HJ, Kellum JH et al. Gallstones in patients with morbid obesity. Relationship to body weight, weight loss and gallbladder bile cholesterol solubility. Int J Obes 1993; 17: 153e158. Shiffman ML, Sugerman HJ, Kellum JM et al. Gallstone formation after rapid weight loss: a prospective study in patients undergoing gastric bypass surgery for treatment of morbid obesity. Am J Gastroenterol 1991; 86: 1000e1005. Sivak Jr. MV. Endoscopic management of bile duct stones. Am J Surg 1989; 158: 228e240. Sleisenger MH & Fordtran JS. Gastrointestinal Disease: Pathophysiology, Diagnosis, Management. Philadelphia: W.B. Saunders, 1993. Thistle JL, Cleary PA, Lachin JM et al. The natural history of cholelithiasis: the National Cooperative Gallstone Study. Ann Intern Med 1984; 101: 171e175. Thorboll J, Vilmann P, Jacobsen B et al. Endoscopic ultrasonography in detection of cholelithiasis in patients with biliary pain and negative transabdominal ultrasonography. Scand J Gastroenterol 2004; 39: 267e269. Tomida S, Abei M, Yamaguchi T et al. Long-term ursodeoxycholic acid therapy is associated with reduced risk of biliary pain and acute cholecystitis in patients with gallbladder stones: a cohort analysis. Hepatology 1999; 30: 6e13. van Erpecum KJ, vanBerge-Henegouwen GP, Stolk MFJ et al. Fasting gallbladder volume, postprandial emptying and cholecystokinin release in gallstone patients and normal subjects. J Hepatol 1992; 14: 194e202. van Erpecum KJ, vanBerge-Henegouwen GP, Stolk MFJ et al. Effects of ursodeoxycholic acid on gallbladder contraction and cholecystokinin release in gallstone patients and normal subjects. Gastroenterology 1990; 99: 836e842. Venneman NG, Renooij W, Rehfeld JF et al. Small gallstones, preserved gallbladder motility, and fast crystallization are associated with pancreatitis. Hepatology 2005; 41: 738e746. EURP 2013; 5(1): 34-39 Silva – Litíase da vesícula biliar 39 Venneman NG, Buskens E, Besselink MG et al. Small gallstones are associated with increased risk of acute pancreatitis: potential benefits of prophylactic cholecystectomy? Am J Gastroenterol 2005; 100: 2540e2550. Wittenburg, H. Hereditary liver disease: gallstones. Best Pratice & Research Clinical Gastroentereology. 24 (2010) 747756. Yau HM, Lee KT, Kao EL et al. Color Doppler ultrasound detection and classification of the tangential hepatic vein before laparoscopic cholecystectomy. Surg Endosc 2005; 19: 1377e1380. Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2013; 5(1): 34-39